Vinte Um

Arquivo : agosto 2014

EUA definem time com a Espanha na mira
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Giancarlo Giampietro

A ascensão de Mason Plumlee também empurrou Coach K para decisão surpreendente

A ascensão de Mason Plumlee também empurrou Coach K para decisão surpreendente

LaMarcus Aldridge, Blake Griffin e Kevin Love disseram não, obrigado. LeBron e Carmelo, que também quebram um galho por lá, assim como Kevin Durant, também pularam fora. Mas quem disse que o Coach K não conseguiria montar um Team USA grande – ou gigante – para a Copa do Mundo de basquete na Espanha?

Na calada da noite, madrugada de sexta para sábado já no horário de Brasília (sacanagem!!!), o gerentão Jerry Colangelo e o técnico Mike Krzyzewski anunciaram os cortes finais – Damian Lillard, Kyle Korver, Gordon Hayward e Chandler Parsons – para definir seu elenco de 12 atletas. Com muitas surpresas, sendo o estoque de grandalhões a maior delas.

Da turma meio que exclusiva de garrafão, eles terão: Anthony Davis, Kenneth Faried (titulares), Mason Plumlee, DeMarcus Cousins e Andre Drummond. São cinco pivôs, mais o Rudy Gay que pode fazer o papel de strecht 4 pontualmente, dependendo do time que estiver do outro lado. Uma linha de frente abarrotada, , principalmente quando comparamos esta escalação com a de outras temporada. Vejam só:

– 2010: Tyson Chandler, Odom, Love (+ Gay, Granger e Durant)

-2012: Tyson Chandler, Davis, Love (+ LeBron, Carmelo e Durant)

Temos aí a mesma composição: três pivôs mais três “híbridos”, que seguravam as pontas de quando em quando para marcar lá embaixo – ainda que, no sistema promovido pelo Coach K, esse conceito de posições fosse bastante dissipado. Além do mais, caras como Odom, Love e Davis fazem muito mais em quadra do que simplesmente proteger o aro e rebotear. Você pega esses duas listas e vê um esbanjo de versatilidade. No sexteto de 2014, não é bem assim.

Claro que DeMarcus Cousins tem uma habilidade fora do comum para alguém do seu porte. Kenneth Faried é consideravelmente dinâmico e vem expandindo seu raio de ação. Mason Plumlee, que ganhou sua vaga feito um autêntico azarão nos coletivos dos “aspirantes” contra o time principal, também é um excelente passador. Mas não dá para comparar.

Então o que acontece?

Isso se chama respeito. Pela Espanha, basicamente.

Ninguém da USA Basketball vai admitir em público, até para não soar prepotente e não encher de confiança os donos da casa. Mas os americanos entram na competição com um único objetivo: alcançar a final e levar mais ouro para casa. Creem piamente que os irmãos Gasol e o contratado Serge Ibaka estarão do outro lado. Um trio de arromba, que, num jogo travado, físico (e, quiçá, com arbitragem caseira?), pode te carregar de faltas. Daí a mudança de curso.

Hermanos Gasol, estão de olho em vocês

Hermanos Gasol, estão de olho em vocês

“Não consigo reforçar o quanto foi impressionante a dedicação e o comprometimento de cada um dos finalistas”, disse Colangelo. “Desde que assumi a gerência do programa em 2005, esse foi sem dúvida o processo de seleção mais difícil pelo qual passamos. Gostaria de deixar claro que isso não tem a ver apenas com talento. Cada um desses jogadores é incrivelmente talentoso e cada um oferece habilidades únicas. No fim, o que pesou foi a formação da melhor equipe possível, selecionando os caras que sentimos que se encaixariam da melhor forma com o estilo que temos em mente para esta equipe.”

No programa que restaurou a hegemonia ianque no basquete mundial,  a explosão, a velocidade, a capacidade atlética como um todo foram elementos fundamentais em suas seleções Claro, desde que esses atletas também fossem multifundamentados. Ajuda poder contar com Westbrooks, LeBrons, Georges e tudo o mais, né? Aberrações do ponto de vista físico, mas igualmente fenomenais com a bola.

Sem esses caras do primeiro escalão, o Coach K tinha ao seu dispor a ala, digamos, branca que sobrou – Chandler Parsons e Gordon Hayward, que supostamente poderiam quebrar o galho como jogadores híbridos (simplesmente “forwards”). Após Durant pedir dispensa, não demorou, no entanto, para que a federação recorresse a Rudy Gay, um campeão mundial em 2010, mas que nem havia sido convocado para o novo ciclo olímpico que se inicia. Já era uma pista a respeito dos alas de Dallas Mavericks e Utah Jazz.

Já Kyle Korver era visto como o sniper do elenco. Aquele que seria utilizado para derrubar as defesas por zona mais coordenadas, com seu arremesso perfeito – sim, ele também tem um QI acima da média, se mexe como poucos fora da bola, ajuda na coesão defensiva e tem bom passe, mas seu chamariz, em meio a tamanha concorrência, é o chute de três. Num time que já conta com Stephen Curry, Kyrie Irving, James Harden e Klay Thompson, porém, sua especialidade pôde ser sacrificada.  Os recursos atléticos e técnicos de DeMar DeRozan se tornaram mais atraentes.

Derrick Rose: voto de confiança (em seu físico)

Derrick Rose: voto de confiança (em seu físico)

O corte inesperado, mesmo, pensando na primeira lista divulgada, foi o de Damian Lillard. Não só por ser um senhor (e destemido) arremessador, mas principalmente por todas as dúvidas que ainda vão rondar Derrick Rose por um bom tempo. O armador jogou contra o Brasil no domingo e, segundo consta, sentiu dores no corpo inteiro, e, não, apenas nos joelhos operados. Tantas dores que, na quarta-feira, não foi para a quadra para enfrentar a República Dominicana, pulando também os treinos no meio do caminho. Num Mundial com uma sequência desgastante de jogos, como fica essa equação? Não seria prudente levar Lillard? Talvez o simples fato de que Colangelo e Krzyzewski tenham pensado que não seja a melhor notícia que o torcedor do Bulls poderia receber.

Agora, numa Conferência Oeste que já é brutal, os adversários do Portland Trail Blazers que se cuidem, porque Lillard vai ter ainda mais um bom motivo para incendiar cada ginásio que visitar na próxima temporada. John Wall ganhou companhia.

Mas ainda tem chão para os Irmãos Gasol e Ibaka pensarem no quão enfezado Lillard vai estar em quadra. Antes, eles vão acompanhar com curiosidade como os Estados Unidos vão trabalhar com tantos pivôs.


Brasil anula gigante e trucida o Irã; Huertas de luto
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Giancarlo Giampietro

Sim, era o Irã.

O mesmo Irã que, nas duas primeiras rodadas do quadrangular, havia perdido por apenas oito pontos (77 a 69) para a Eslovênia e por 13 para a Lituânia (80 a 67).

Obviamente, o time mais fraco do torneio amistoso. Mas não tão frágil assim com o Brasil fez parecer neste sábado numa vitória massacrante por 92 a 52. Fazendo uma subtração, temos 40 pontos de vantagem, ou cinco vezes mais o que os eslovenos fizeram.

Jogo tranquilo, até nos lances livres. Splitter: 5/5

Jogo tranquilo, até nos lances livres. Splitter: 5/5

Cada jogo é uma história, claro. Tem muito a ver também com o modo como os estilos dos oponentes se encaixam. Para falar em tática, técnica, proposta e prancheta do Irã, não tem como fugir do grandalhão Hammed Haddadi. Tudo nessa seleção gira em torno do pivô ex-Memphis Grizzlies.

Contra os eslovenos, por exemplo, ele foi um estrondo: 18 pontos, 9 rebotes e 6 assistências em 35 minutos de ação (haja fôlego!). Contra os lituanos, 12 pontos, 10 rebotes e 2 assistências em 27 minutos, sendo limitado por quatro faltas cometidas.

A bola vai para o poste (no sentido mais amplo possível), e dali ele trabalha com ela, Girando lentamente de costas para a cesta, mas com sólido jogo de pés, munheca e boa visão para o passe. Até mesmo o Brasil já tido certa dificuldade contra o cara, no Mundial de 2010 – ainda que tenha vencido por 15 pontos, só o primeiro quarto foi vencido com autoridade, e o time estava desfalcado de Nenê e Varejão.

Acontece que a seleção dessa vez fez um trabalho mais forte, até por ter quem o marque no mano a mano, sem precisar de ajuda: Nenê, que o anulou no primeiro tempo. Na etapa inicial, Haddadi teve de se contentar com 2 pontos, 3 rebotes e apenas uma cestinha de quadra em cinco tentativas. Nem o MVP do último campeonato asiático, nem sua equipe estão acostumados com números paupérrimos desses.

Com Haddadi fora de combate, caminho aberto para uma lavada de 48 a 24. Após o intervalo, as coisas não ficaram muito mais fáceis para ele. Sai Nenê, entra Splitter. Sai Splitter, entra Varejão, numa ciranda de ótimos defensores. Não passou, mesmo dos 2 pontos na partida e 4 rebotes em 24 minutos arredondados.

Se você contem o gigante, tem mais condições de contestar os chutes de fora, forçando 14 erros em 17 tentativas do perímetro (18%). Nas duas partidas anteriores, haviam matado 11 em 27 (40%).

De resto, soltinho da silva em quadra, o Brasil converteu seus lances livres (miraculosos 77% de aproveitamento, com 20/26, incluindo 4/5 de Nenê e 5/5 de Splitter!!!) e matou também as confortáveis e saudosas bolas de três pontos (49%, 10/21, com 4/6 de Marquinhos).

Muita emoção.

Marquinhos, inclusive, foi o cestinha do time, com 24 pontos em 21 minutos, na sua melhor atuação, disparada, neste ano.

As duas equipes agora vão se reencontrar em Granada, na Espanha, já com um Mundial valendo: dia 31/08, segunda rodada. Até lá, o Brasil ainda faz mais um jogo-teste contra o México, na quarta.

*  *  *

Sobre Huertas, uma nota triste: seu avô, Américo, de quem o armador era muito próximo, morreu na noite desta sexta-feira. Ele já estava internado em estado grave durante toda essa fase de amistosos da seleção brasileira. Obviamente é difícil se concentrar no trabalho – qualquer trabalho que seja – num momento delicado desses, e todas as suas recentes atuações precisam ser encaradas sob outro prisma. Ainda assim, foi para o jogo hoje, com um minuto de silêncio antes do tapinha inicial. Fica aqui uma saudação ao atleta e sua família.

*  *  *

Sobre Giovannoni: recuperado de torção no tornozelo, o ala-pivô foi para quadra pela primeira vez nestes amistosos na Eslovênia – e pela segunda em toda a fase preparatória. Depois de ter jogado por apenas três minutos contra os Estados Unidos, ele foi chamado por Magnano com 3min13s restando no primeiro quarto, para entrar no lugar de Hettsheimeir (titular ao lado de Splitter) –Varejão foi acionado apenas no segundo tempo. Ficou em quadra por 16 minutos dessa vez e terminou com 3 pontos, 4 assistências e 1 rebote, acertando 1 de 6 arremessos de quadra (1/3 de longa distância). Enferrujado.

Leandrinho foi poupado mais uma vez, se recuperando de uma inflamação na garganta.


Brasil escapa com vitória na prorrogação contra Eslovênia. E aí?
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Giancarlo Giampietro

Splitter arrebentou novamente: 18 pontos, 6 rebotes e 3 assistências em 26 minutos

Splitter arrebentou novamente: 18 pontos, 6 rebotes e 3 assistências em 26 minutos

Em termos de dinâmica de placar, as coisas foram bem parecidas. Brasil abre baita vantagem no primeiro tempo e perde o controle da situação no segundo. Foi assim contra a Lituânia na véspera e contra a Eslovênia nesta sexta-feira.

Dessa vez, porém, a seleção brasileira escapou de quadra com uma vitória por 88 a 84, na prorrogação. Na casa do adversário, diga-se.

Os rapazes de Magnano chegaram a ter 19 pontos de vantagem no princípio do terceiro período, mais precisamente com 49 segundos jogados na parcial, com uma cesta de Anderson Varejão (48 a 29). Com 2min33s jogados, o placar era de 48 a 32. Ao final do período, a diferença já havia praticamente evaporado: 52 a 47.

A história, nesse sentido, foi praticamente a mesma. Mas o modo como chegamos a esse drama todo.

Contra lituanos, o Brasil construiu uma boa vantagem com base num ataque balanceado e nos disparos de longa distância de Rafael Hettsheimeir. Contra eslovenos, foi a vez da blitz. Aquela marcação bastante pressionada que Magnano instaurou na equipe há uns dois Carnavais e que, estranhamente, não vinha sendo muito aplicada neste giro de amistosos.

Larry Taylor foi o destaque aqui, infernizando a vida dos reservas anfitriões e até mesmo de Goran Dragic. O norte-americano forçou uma série de turnovers dos adversários, fez desarmes e desvios que certamente não lhe foram computados na tábua de estatísticas, mas que desestabilizaram o rival. Diversas cestas fáceis em contra-ataque resultaram deste abafa.

Raulzinho também teve um papel importante nesse abafa – e aqui cabe uma destaque: os melhores momentos brasileiros em Ljubljana até agora vieram com a dupla de armadores em quadra.

Nenê foi dominante na primeira etapa, fazendo um pouco de tudo em quadra no ataque e na defesa

Nenê foi dominante na primeira etapa, fazendo um pouco de tudo em quadra no ataque e na defesa

Os dois baixinhos mordiam, mais adiantados, e Nenê se movimentava de modo excepcional na cobertura, fechando corredores. Foram computados três tocos para o pivô no jogo, mas sua influência também foi muito além do que mostra a linha estatística. No primeiro tempo, sua atuação foi verdadeiramente primorosa.

No segundo, contudo, essa pegada não viria a se repetir – e também nem dá para esperar/cobrar que ela se sustente por uma longa sequência. O que é bom também. Para mostrar que mais e mais ajustes são necessários a pouco mais de uma semana da estreia no Mundial.

Dessa vez, a defesa brasileira permitiu que a Eslovênia trovejasse em quadra com suas cestas de três pontos. Depois de anular os donos da casa no primeiro tempo neste quesito, levando apenas um disparo em 11 tentativas, no segundo tempo foi permitido uma farra daquelas.

A Eslovênia terminou a partida com 13/28 (43%), que, por si só, já é um número bastante elevado. Descontadas as falhas dos primeiros 20 minutos, os caras mataram 12/17 nos 25 minutos restantes, para um 70% de embasbacar e atormentar – algo diferente do que aconteceu contra a Lituânia também, que usou muito mais os movimentos interiores.

Algumas bolas foram contestas, é verdade. Outras foram para trás da linha da NBA. Mas em geral a marcação chegou muito atrasada, isso quando chegou. Os esloveno se liberavam com corta-luzes simples em cima da bola ou com movimentação no lado contrário. Destaque para Klemen Prepelic (21 anos e espevitado que só), que converteu por conta própria 6 em 8 para liderar a remontada. Prepelic é uma figura emergente no basquete europeu, mas já vem chamando a atenção por sua seleção. Parece que os brasileiros não o conheciam muito bem.

E o mais preocupante, na verdade, foi a demora para tirar o ala de ação – e a demora em geral para a equipe reagir ao que se passava em quadra. Foi apenas na prorrogação que ele passou a ser vigiado de modo adequado, a ponto de ser sacado da partida.

Nesse ponto, vale aprofundar:

– Foi o segundo jogo consecutivo em que o Brasil tomou um vareio a partir do intervalo; isto é, a partir do momento em que o treinador adversário teve a chance de conversar com seus atletas e refazer sua estratégia diante do que viu na etapa inicial;

– Magnano simplesmente não conseguiu estancar as coisas a partir daí; a Eslovênia venceu o terceiro período por 21 a 9. Num intervalo de nove minutos, o time local marcou 21 pontos e levou apenas quatro. Se estendermos a contagem até os primeiros quatro minutos do quarto final, a contagem ficaria em 33 a 8, quando os eslovenos abriram oito pontos de vantagem no marcador (62 a 54). O ataque era sofrível, novamente sem inventividade nenhuma, num problema recorrente;

– o time brasileiro é um dos mais experientes daqueles que vão entrar no Mundial; vai estar muito provavelmente entre os cinco, ou talvez até entre os três mais velhos do torneio.

Pois bem: se os eslovenos abriram oito pontos e ainda perderam, quer dizer ao menos que o Brasil não se perdeu por completo no sentido emocional e soube batalhar de volta a partida. E como?

Fazendo aquilo que nunca deve perder de vista: explorar seu jogo de pivôs. Esse é o ponto forte de um time que pode revezar Splitter, Varejão e Nenê (aquele que saiu do banco desta feita). E não adianta usá-los em abordagens simples de costas para a cesta. Tem de se usar sua mobilidade e inteligência, aproveitá-los em movimento para fazer estragos. Ainda mais contra um time que definitivamente não tem pivôs de ponta.

Juntos, nos seis minutos finais, Splitter e Varejão fizeram 13 dos 18 pontos da seleção. Os últimos deles num tapinha salvador do capixaba a um segundo do fim.

Aliás, uma cesta merecida em diversos sentidos: não só premiar o jogo interno, como também para premiar um o basquete de Varejão, daqueles caras que fazem de tudo para levar um time ao triunfo, mesmo que não brilhe tanto assim para as câmeras. O pivô havia desperdiçado dois lances livres com 19 segundos para o fim, mas deu um jeito de recuperar a bola duas vezes e garantir a porrogação.

No tempo extra, o time soube proteger sua cesta de maneira coesa e abriu seis pontos em 1min27s de ação (80 a 74). Marcelinho Machado foi para a linha de lances livres em diversas ocasiões e ainda acertou um raríssimo chute de longe para anotar seis pontos.

O Brasil tem agora quatro vitórias em sete jogos preparatórios. Neste sábado, vai testar sua inconstância contra o Irã, ainda na Eslovênia.

*  *  *

A Eslovênia é um time de respeito, mas, sinceramente, corre muito por fora no Mundial se formos falar em medalha. Desfalcado (para variar…), o time está uns dois degraus abaixo da Lituânia, por exemplo. Depende muito da criatividade e agressividade de Goran Dragic e dos disparos de três. Sem Erazem Lorbek e Gasper Vidmar, seu jogo de pivôs inexiste. Splitter e Varejão os esculhambaram com 34 pontos e 14 rebotes. Ponha os números de Nenê aí, e os três pivôs brasileiros tiveram 42 pontos e 17 rebotes.

*   *  *

Dragic, aliás, vem sendo poupado em alguns amistosos. Entrou em quadra com uma comprida proteção no braço esquerdo. Em determinado momento, depois de ser desarmado em seguidas ocasiões por Larry e após um pedido de tempo, voltou para quadra sem a braçadeira. No segundo tempo, foi muito melhor. Não parece estar 100% indo para o Mundial. O que não tira os méritos da pressão estabelecida pelo armador bauruense.

*  *  *

Ah, Leandrinho não jogou, por conta de uma inflamação na garganta. Sem o ligeirinho, a relevância de Machado na rotação de perímetro de Magnano cresceu. É algo para o qual a seleção está preparada para o Mundial, numa eventualidade? O veterano flamenguista não teve a tarde dos sonhos nos arremessos mais uma vez (4/11, só 2/7 para três), mas terminou com 13 pontos, sendo importante na prorrogação. O tipo de atuação que deve justificar, na cabeça do argentino, sua convocação. Giovannoni estava “fardado”, mas não foi utilizado novamente.

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Huertas elevou um pouco seu padrão, comparando com a péssima partida da véspera, mas ainda está aquém do que se espera, da segurança que ele oferecia em temporadas anteriores. Foram 6 pontos, 6 assistências e mais 3 turnovers para o armador, em 32 minutos.


A 11ª vitória seguida da Lituânia. E uma dúvida sobre o Brasil
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Giancarlo Giampietro

Naquele que foi seu melhor jogo, Larry mal foi usado no segundo tempo. E aí?

Naquele que foi seu melhor jogo, Larry mal foi usado no segundo tempo. E aí?

Por 18 minutos, o Brasil foi soberano em quadra com sua defesa, mas também aproveitando bem seus ataques. Restando precisamente 1min57s no cronômetro do primeiro tempo, o time vencia por 38 a 21, numa exibição verdadeiramente impressionante contra uma fortíssima Lituânia. Um rival que havia vencido seus dez primeiros amistosos rumo ao Mundial.

Acontece que, dali para a frente, os vice-campeões europeus foram paulatinamente entrando no jogo. Do instante em que Tiago Splitter anotou dois pontos em uma bandeja em diante, os caras venceram por 43 a 23 e chegaram a uma poderosa marca de 11 vitórias em 11 partidas-teste. Foi 64 a 61 o placar final.

São só amistosos, é verdade. Mas vá falar isso para os lituanos. Com 100% de aproveitamento – tendo batido Austrália, Eslovênia, Grécia e Finlândia (duas vezes) –, caminham para lá de confiantes em suas possibilidades.

Para a seleção de Magnano?

Há o que se pensar, sem poder tirar muitas conclusões. Sinto dizer.

Essa derrota poderia muito bem entrar na lista daquelas do “como” – em “Como diabos eles perderam (também) esse jogo?!”, numa pergunta já um tanto disseminada por estas bandas.

Seria uma conclusão fácil, mas um tanto precipitada.

Antes de se concentrar no que se passou em quadra, é preciso entender que a Lituânia deve aparecer acima do Brasil em cada oito ou nove listas de favoritos ao pódio desta Copa do Mundo. Na minha está, e isso apenas quer dizer que é uma seleção forte pacas, com uma rotação robusta, cheia de gente que atua nas grandes ligas europeias há muito, muito tempo, com extensa rodagem experiência e fundamentos excelentes.

Além do mais, não foi um jogo típico da fase do bumba-meu-boi brasileiro, com altos e baixos alternados a cada cinco minutos. Não sei se serve de consolo, mas o Brasil teve nesta quinta 18 grandes minutos e outros 22 não muito bons, mas sem oscilações dentro desses períodos.

Então o que acontece, para levar uma virada dessas?

Acredito que ela ocorreu por dois motivos (fora o fato de eles, do “1 ao 11” – ou, do 4 a 15, pra ficar na numeração Fiba, são tecnicamente superiores):

1) sinceramente, parece que a Lituânia foi pega de modo desprevenido pela intensidade do Brasil na primeira etapa. Não quer dizer que estavam de corpo mole. Mas talvez não estivessem exatamente preparados para o adversário. E aí a gente pode ir longe também: os jogadores brasileiros não são nada desconhecidos. A base é a mesma de Londres 2012. E foram os rapazes tupiniquins que tiveram de viajar para a Europa, se adaptando ao fuso. Então que história é essa de ser pego de calça curta? São pontos todos válidos. Mas, bem, por outro lado, se tratava de um amistoso, né? Neste caso, para um time que já disputara dez partidas – o dobro de seu adversário. Poderiam não estar cansados, mas talvez relaxados? E que talvez nem conheçam tão bem assim, em detalhes, o funcionamento da seleção nacional, embora saibam muito bem como um Tiago Splitter, por exemplo, gosta de atuar? Enfim, foi essa minha impressão. Que, após o intervalo, eles entraram prontos para responder – e conseguiram.

2) O próprio conceito de amistosos e fase de testes em si: até que comecem os jogos para valer, você nunca sabe ao certo quem está escondendo cartas e, ao mesmo tempo, experimentando, ou não. Acreditar nesse tipo de situação também depende de algumas questões levantadas acima: o quanto times tão em evidência como Brasil e Lituânia têm para esconder? Uma ou outra jogada marota? Propostas inteiras de jogo? Não sei bem. Mas o Brasil, por exemplo, não acelerou muito seu ataque em transição, mesmo sendo um time mais veloz em basicamente todas os confrontos particulares, de jogador com jogador. Além disso, Magnano em nenhum momento do segundo tempo repetiu a formação que havia dado mais certo no segundo quarto, justamente quando sua equipe abriu larga vantagem. Ao passo que, do outro lado, a Lituânia também só colocou um quinteto efetivamente fortíssimo nos chutes de três pontos, com Simas Jasaitis, Jonas Maciulis e Ksystof Lavrinovic (ou “Lavrinovic-K”, daqui para a frente) no terceiro quarto – e, vejam só, foi quando cortaram a diferença para mais da metade. Mesmo que as bombas não tenham vindo, eles já representavam uma ameaça a ponto de espaçar a defesa interior brasileira.

Magnano, segurando cartas, ou jogando tudo de uma vez?

Magnano, segurando cartas, ou jogando tudo de uma vez?

Do ponto de vista brasileiro, é uma dúvida que já julgo crucial. O técnico segue rodando bastante seus atletas, com diversas combinações aplicadas no decorrer dos quatro períodos. Não chega a ser absurdo, pois ainda vivem uma fase preliminar. Mas, por tudo que já li e ouvi sobre construção de rotações, um time geralmente responde com muito mais eficiência quando os atletas passam a saber exatamente seu papel em quadra, o que se espera deles. Da mesma forma que a repetição dos exercícios, da prática desenvolve melhor coesão, entrosamento entre eles, para, aí, sim, se transformarem em unidades. Com o rodízio intenso, vamos atingir esse ponto? Estaria o argentino confiante o bastante com o resultado dos treinos para mexer, mexer, e mexer mais um pouco sem o temor de perder consistência?

Contra a Lituânia, Magnano começou com Huertas, Leandro, Alex, Nenê e Splitter. Aos poucos, foi inserindo os reservas, para iniciar o segundo período com aquela que seria a segunda “unidade”, formada por Raul, Larry, Machado, Hettsheimeir e Varejão. Talvez seja esse o esboço de rotação que vá ser oficializado no Mundial, com a perspectiva de uma troca entre Marquinhos e Machado. Nesse sexto jogo, Marcus foi o último reserva a entrar em quadra. Giovannoni ficou fora o tempo todo.

Fato é que, no segundo tempo, Marquinhos já começava ao lado de Huertas, Leandro, Hettsheimeir e Splitter, num misto do que havia sido utilizado até então. Larry, que havia jogado tão bem o segundo período, foi chamado de volta apenas a quatro minutos do fim. Machado nem foi mais acionado. Isso quer dizer que o comandante ainda está avaliando as suas possibilidades? Provavelmente. Mas não custa lembrar: restam apenas dois amistosos antes do Mundial. E, de tanto que já trabalhou com esse núcleo desde que assinou com a CBB, é de se perguntar o que falta para firmar terreno? O temor: que, na verdade, o padrão no Mundial será não ter padrão, um problema (ao menos aqui na base 21, lê-se como “problema”, sim) que já ocorreu em outras campanhas.

Obviamente você não vai ser rígido ao extremo com seu elenco. Cada adversário pede, ou no mínimo sugere ajustes. Você desenvolve um plano tático, tenta se impor com ele, mas precisa ter jogo de cintura para se adaptar. Agora, esperava mesmo ver um pouco mais de estabilidade nessa perna europeia de amistosos. Perder um jogo não é o fim do mundo, ainda que o time agora tenha 50% de aproveitamento em seis testes. Jogar de igual para igual com a Lituânia é bom sinal, na verdade. Dependendo da sua expectativa – e de quais são os planos concretos de Magnano.

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Esse quinteto (?) reserva do qual Larry fez parte executou uma defesa que foi de deixar qualquer um orgulhoso – mesmo com alguém lento como Machado na formação. Compensa aqui a agilidade e inteligência de um pivô como Varejão, para fazer as dobras e recompor e a explosão física de Larry, que entrou em quadra ligado no 220 V. Mesmo Hettsheimeir movimentou seus pés como raramente se vê, bloqueando armadores que vinham em sua direção, desviando vários passes. A porta estava fechada na cara dos lituanos, que demoraram 4min26s para anotarem os três primeiros pontos na parcial, com um chute de te Maciulis. Esses seguiram os três únicos pontos até a marca de 18min03s. No geral, a parcial foi vencida por 16 a 7.

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Um parêntese sobre Machado, contudo. E, sim, vai parecer um contrasenso, uma vez que ele esteve em quadra no melhor momento da seleção. Mas… há de se tomar cuidado com a forma como ele será usado. No reencontro com algum chapa de Zalgiris Kaunas, não demorou um minuto para que ele fosse atacado no mano a mano por Maciulis, com o lituano usando sua força física para dominar o veterano brasileiro de costas para a cesta, sofrendo a falta para dois lances livres. Foi automático. De modo que ficou difícil de entender porque esse tipo de movimento não foi repetido. Talvez tenha a ver com pressão que Larry colocou em cima da bola e o pandemônio de sempre que Varejão apronta. De qualquer forma, o que temos é o seguinte: contra times que façam bem seu scout, o ala tende a ser atacado. Seja por oponentes mais altos/fortes ou mais baixos/rápidos. Se ele não estiver convertendo as bolinhas de fora (0/3 desta feita…), imagino que será muito difícil mantê-lo em quadra com o jogo valendo classificação.

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Sobre Rafael Hettsheimeir: ele foi o cestinha brasileiro, com 14 pontos em 21 minutos. Depois da badalada exibição contra os Estados Unidos, ele repetiu a dose na Eslovênia ao acertar 4 de seus 7 disparos do perímetro, incluindo os três primeiros. Foi com essas bombas de três, consecutivas, que o Brasil saiu de um placar de 19 a 18 com 9min18s de jogo para 28 a 18 com 11min20s. O oponente não estava realmente pronto para lidar com isso. O assunto já ganhou proporção que pede um texto próprio a respeito. Mas registre-se que, no segundo tempo, os lituanos cuidaram para que o pivô não lhes causasse mais tantos estragos.

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Leandrinho, entrando em forma

Leandrinho, entrando em forma

Os números de Leandrinho não saltam aos olhos: 6 pontos (com 2/7 nos arremessos), 3 assistências, 3 rebotes, 1 roubo de bola. Ainda mais em 25min33s, sendo o brasileiro que mais ficou em quadra neste amistoso. Mas o ala-armador fez uma boa partida, colocando sua capacidade atlética a serviço da defesa, sendo bastante competitivo, recuperando bolas eventualmente perdidas e tudo o mais que leva um time adiante.

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Um lance em especial do segundo período chamou a atenção no ataque brasileiro: Huertas driblava pela zona morta, na direita. Marquinhos cortou em parábola por baixo da cesta, rente ao fundo da quadra e recebeu um passe por trás das costas do armador. Em vez de girar com a bola e partir para o chutinho usual – e a munheca deve ter coçado… –, o ala teve paciência e visão de jogo para ver Anderson, cortando no garrafão, completamente livre. Dois pontos para o pivô, que abriria 15 no marcador (36 a 21), num momento em que o adversário parecia grogue em quadra. Foi o tipo de jogada que evidencia a importância dos deslocamentos sem a bola que tanto se cobra no time.

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Por falar em Huertas… O condutor da seleção fez mais uma partida fraca, no mínimo. Já chegamos a um estágio que é para se preocupar? O titular do Barcelona hoje somou, em 25 minutos, 4 pontos, 4 assistências e 4 desperdícios de posse de bola e a pior marca no saldo de cestas da seleção: 11 pontos negativos. Mais do que os números, chamou a atenção seu desempenho um tanto aerado. De seus quatro turnovers, três foram cometidos de forma incrível, com o experiente atleta saltando com a bola sem ter um destino claro (não sabia bem se passava ou arremessava, entregando-a nas mãos dos adversários). O terceiro erro dessa linha foi no quarto período, em momento crucial. Chegou a reclamar da arbitragem, mas sem muita convicção. Estranho, bem estranho.

* * *

A arbitragem, aliás, foi bastante confusa e, vamos lá, nada mesquinha. Interferiu demais no andamento de um amistoso, apitando 44 faltas. Quem levou a pior nessa foi Splitter, o melhor jogador brasileiro e o único a ficar pendurado com cinco infrações. Em 18 minutos, o catarinense terminou com 11 pontos, 6 rebotes e 2 assistências.


Diante de armadilha americana, foi Raulzinho quem escapou
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Giancarlo Giampietro

Derrick Rose, de volta a Chicago, retomando a forma: a explosão física ainda está lá

Derrick Rose, de volta a Chicago, retomando a forma: a explosão física ainda está lá

(Obs: post atualizado domingo de manhã, com as estatísticas)

Lembramos o Mundial de 2010, em que o jogo foi decidido na última bola. Teve também o amistoso antes de Londres 2012, também no pau. Então o placar de 95 a 78 para os Estados Unidos, no quinto amistoso do Brasil rumo ao Mundial masculino, não pode ser visto como um bom sinal, algo que Splitter, mesmo, deixou claro em entrevista ao SporTV. Não dá, mesmo, para ser encarado como algo auspicioso, como um “grande teste”, e tal. Tem sempre de se tomar cuidado com a versão oficialesca da coisa.

Mas também não é o fim do mundo. Por 20 ou 25 minutos, a seleção jogou de modo competitivo. Melhor: nesses momentos, tinha em quadra o armador Raulzinho, justamente o personagem mais criticado nesta fase de preparação.

Neste sábado, foi um dos melhores em quadra (6 pontos e 4 assistências em 14 minutos). A diferença básica: o jovem atleta dessa vez usou a velocidade adequada, arrancando nos momentos certos. Teve calma com a bola, em vez de jogar com a quinta engatada o tempo todo. Isso, a despeito do convite da defesa americana para a correria e o caos, quase sempre pressionando muito a bola.

(A lição: não vale julgar um atleta por quatro ou cinco partidas. Posto isso, o corte de Rafael Luz ainda me parece inexplicável, por diversos motivos, que valem um texto particular. Só fica uma pergunta, porém: precisava definir o grupo de 12 atletas de modo tão rápido? Você economiza em passagem e hospedagem, mas talvez tire a chance de um jovem atleta provar ainda mais que merece uma vaga nos amistosos seguintes. Desde que,  claro, Magnano esteja aberto a novos nomes em sua lista e não tivesse o grupo fechado em sua cabeça desde fevereiro. De 2012, no caso…)

Agora, voltando a esse papo de pressão na bola. É um dos pontos centrais de estratégia da defesa norte-americana nesta retomada da hegemonia mundial – e algo que vai ser intensificado nesta equipe atual, visto que o garrafão está ainda mais enfraquecido. O tipo de armadilha com que Huertas, Larry, Alex e Leandrinho não souberam lidar (juntos, Huertas, Garcia e Barbosa cometeram 12 dos 21 turnovers brasileiros).

Raulzinho tenta parar Irving. Brasileiro deu trabalho ao jovem astro do Cavs

Raulzinho tenta parar Irving. Brasileiro deu trabalho ao jovem astro do Cavs

Nesse sentido, foi um desempenho bastante atípico para o armador titular da seleção e do Barcelona, cometendo muitos turnovers, cedendo muitos contra-ataques. Na metade final do primeiro período, em especial, foi um horror, ele teve dificuldade extrema para até mesmo cruzar a linha central. Algo que fugiu bem ao padrão do que havia apresentado contra os Estados Unidos nas exibições anteriores sob a orientação de Magnano, conquistando muitos fãs na imprensa de lá.

Larry, talvez empolgado demais por estar jogando em casa (ou não), não conseguiu ler o que se passava ao seu redor em quadra. Bateu para a cesta e não se cansou de levar tocos (1-4 nos arremessos de quadra, apenas 3 pontos em 12 minutos, nenhuma assistência). Ele já não está mais habituado a jogar contra seus compatriotas, a encarar esse tipo de capacidade atlética que um Anthony Davis ou um Mason Plumlee apresentam. Não há nada errado em “bater para a cesta”, mas, para alguém veterano, que teria de estar pronto, tinindo para encarar a elite mundial, bem que uma finta aqui e ali poderiam ser usadas, né? Digo: Magnano comprou a ideia de sua naturalização, o trata como pesa intocável em seu time desde 2012. Supostamente, então, é um cara para resolver, custando a outros atletas de futuro uma vaga no time. Então a cobrança também fica alta em relação a sua produção, independentemente da nacionalidade. Vamos ver. Também não vai enfrentar americanos em todos os jogos daqui para a frente.

Quem não se intimidou com os caras foi Rafael Hettsheimeir, que teve uma noite praticamente perfeita nos chutes de fora (3-4 nos tiros de três pontos, sendo que o único erro veio numa bola no estouro do cronômetro de posse; terminou o jogo com 13 pontos em 12 minutos e 5-6 no aproveitamento de quadra). Encarnou o “strecht 4” da moda na NBA – para não dizer “strecht 5” e deve ter impressionado os scouts presentes. Lembrando que o pivô, hoje fechado com o Bauru, já chegou a abrir negociações com Dallas Mavericks e outros clubes de lá há alguns anos. Mas também precisamos ter prudência aqui: se não é certo afundar Raulzinho por causa de três ou quatro partidas, não é para jogar o pivô lá para o alto por causa de uma jornada.

Hettsheimeir tem realmente trabalhado neste chute de média para longa distância. Ganhou licença para chutar, por parte de Magnano. Mas notem que em sua carreira, mesmo nas temporadas recentes, os percentuais não são tão elevados assim. Ok, ele matou 40% na última Euroliga, pelo Unicaja Málaga, marca excelente. Mas foram apenas 24 disparos no total, em 17 partidas, uma amostra bastante reduzida. Na Liga ACB, em 45 chutes, o rendimento caiu para 31,1%. No ano anterior pelo Real, 28,1%. Em 2011-2012, pelo Zaragoza, caíram 33,9%. Claro que tudo depende do contexto: quem dividia a quadra com ele, qual tipo de arremesso era gerado (contestado ou não?), os defensores etc. E outra: se os arremessos começarem a cair sem parar, as defesas vão se ajustar. E, para alguém do seu tamanho, não dá para esperar que vá colocar a bola no chão e invadir o garrafão. Enfim: é uma arma interessante para o tabuleiro de Magnano, mas precisamos entender qual o seu devido valor e a devida eficiência para saber quando usá-la na hora-hora-do-vamo-vê.

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Marcelinho Machado e Guilherme Giovannoni tiveram tempo de quadra bastante reduzido no amistoso. Giovannoni retorna de lesão no tornozelo, registre-se. Seus minutos estarão vinculados aos de Hettsheimeir, desconfio. Se o pivô estiver convertendo as bolas de longa distância em alta frequência, seu papel no time fica seriamente ameaçado. Contra os EUA, de todo modo, a velocidade da concorrência acaba sendo um fator inibidor para os mais veteranos da equipe. Estiveram juntos no final do primeiro tempo, para executar uma defesa. Não entendi muito bem. Então fica aqui mais um ponto para se checar no giro europeu de amistosos.

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Sobre os atletas dos Estados Unidos, nenhuma novidade. Mas não deixa de ser interessante vê-los em ação contra os brasileiros, para reforçar algumas impressões, de ambos os lados. Alguns comentários rápidos sobre mais alguns dos personagens em quadra:

James Harden: nem mesmo um defensor aplicado e enfezado como Alex consegue ler seus movimentos para prever o lado do corte. No um contra o um, driblando a bola de maneira marota, o Sr. Barba tem um ritmo todo dele e cava lances livres sem parar. Candidato a cestinha do Team USA no Mundial.

Anthony Davis: se o público espanhol foi privado de ver Kevin Durant em ação ao vivo, que se deleitem com a capacidade atlética do Monocelha. Anthony Davis tem o corpo perfeito para o basquete. A confiança cada vez mais alta, subindo junto com seus fundamentos. Jogador mais importante do time.

Stephen Curry: queimou a redinha no início do primeiro período, depois foi preservado pelo Coach K. No Mundial, é de se imaginar que vá ser muito mais utilizado. Hoje o show estava reservado para Derrick Rose, reencontrando a ansiosa e apaixonada torcida de Chicago.

– Por falar em Derrick Rose… Em espasmos, você vê que o arranque e a impulsão ainda estão lá. Excelente notícia – para o basquete. Tal como aconteceu com Larry, deu para notar a pilha que o rapaz também estava, sem contar a ferrugem de alguém que disputou apenas dez partidas desde 2012.

Mason Plumlee: atlético e inteligente, uma combinação que te leva longe. Mostrou porque ultrapassou Boogie Cousins e Andre Drummond na rotação do Coach K.

Rudy Gay: no cenário dos sonhos de Krzyzewski, ele teria Durant, LeBron e Melo. No plano B, só Durant. Na falta de tudo isso, teve de apelar a Rudy Gay, que fez 28 anos neste domingo. E aí que o treinador dos Estados Unidos gostaria muito que o ala acertasse ao menos 35% de seus chutes de três pontos.  O jogador do Sacramento Kings teria tudo para se encaixar no time, não fosse sua deficiência nos arremessos. Duro é que isso aconteça. Na defesa, ele acaba compensando com agilidade, impulsão e envergadura. Mas o ataque sofre.

– Por isso, esperem uma boa dose de Kenneth Faried no Team USA. Um homem não é apelidado de Manimal gratuitamente. O motorzinho do Denver Nuggets pode não acertar nenhum chute atrás da linha de lance livre ou fora do garrafão, mas compensa o espaçamento criando e achando buracos com sua movimentação incessante. Energia nunca é demais. Além do mais, o ala-pivô ainda pode pontuar som seus semi-ganchos (tipo os do Splitter) e chutes em flutuação, que evoluíram muito na última temporada.

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De resto, ainda parece que o Coach K precisa fuçar um tanto em sua rotação. Klay Thompson e Chandler Parsons deixaram a pegada cair. Damian Lillard nem viu a quadra (vai de dupla e tripla armação o tempo todo, ou não?)’ precisa ver se Cousins vai ter  alguma chance quando o joelho estiver inteiro. Se Korver vai jogar mais em algum teste futuro. E tal. Obviamente não são problemas de arrancar os cabelos. Mas são ajustes necessários para o único objetivo que lhes interessa: o ouro. “Nada além do ouro é aceitável”, como disse o Monocelha na saída de quadra para a repórter Karin Duarte, do SporTV.


Argentina dá o troco em casa, mas à base do chute de três
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Giancarlo Giampietro

Nocioni: 9 pontos em 14 minutos na vitória argentina

Nocioni: 9 pontos em 14 minutos na vitória argentina

O que vale cá também conta para lá. No sentido de que tanto Brasil como Argentina ainda estão em fase de preparação, de entendimento e tudo o mais. Passada uma semana do primeiro confronto no Rio, porém, as coisas já começam afunilar rumo ao Mundial que se inicia no finalzinho do mês.

Nesta sexta, na vitória dos hermanos por 85 a 80, alguns jogadores-chave já ficaram em quadra na casa de 30 minutos. Luis Scola, em seu primeiro amistoso do ano, foi um deles, com 30min25s. No Brasil, como deve acontecer durante todo o Mundial – caso não haja problema de faltas –, Alex foi quem mais jogou, com 31min50s. Tiago Splitter, aquele que, ao que tudo indica, será o carro-chefe do time, atuou por 27min38s. (Obs: isso, claro, se os números divulgados estiverem corretos, uma vez que Cristiano Felício, que nem o agasalho tirou, aparece com 32min13s na tabela. Se o Brasil tivesse ganhado, era o caso de cobrar o bicho também, né?)

Então, a cada teste, as coisas tendem a ficar mais sérias, e nem estamos falando de nada de rivalidade sul-americana aqui? Mas, sim, de que, naturalmente, o plano de cada treinador segue – e tem de ir – em frente. Ninguém vai mostrar tudo o que tem tão cedo assim (Nocioni foi muito bem no primeiro tempo, ficou em quadra apenas por 14 minutos, enquanto Huertas foi o terceiro armador na rotação brasileira), mas já vai soltando, aplicando mais coisas.

Posto isso, pelo que vimos na terceira partida brasileira, a tendência dos jogos no Rio de Janeiro foi mantida: um volume mais baixo nos tiros de três. Apenas 14 foram tentados pelos homens de Rubén Magnano em Buenos Aires, contra 47 bolas de dois. Aqui é importante ressaltar uma coisa: não quer dizer, claro, que tenham sido 47 arremessos no garrafão, próximos da cesta. De qualquer forma, considerando o que já vimos da seleção em outros carnavais, essa simples contraposição de 47 x 14 já precisa ser festejada. Até porque a mira do perímetro segue ruim pacas, com apenas quatro conversões, num aproveitamento de 29%. De qualquer forma, a volúpia diminuiu, e aí não adianta ignorar esse simples fato e falar que tudo é ruim, que tudo é um desastre, e tudo mais.

Nos arremessos de quadra, a despeito das falhas de três, o aproveitamento desta noite foi bem superior ao do clássico do sábado passado, com 52% (contra 30%). E o que mais? Dos 61 chutes de quadra, 27 foram de pivôs (44,2%). Esse volume ainda pode aumentar tranquilamente, mas não dá para repetir o bordão famigerado de que “nossos grandalhões são ignorados pelos baixinhos”. Os poucos arroubos também resultam em melhor controle de bola, com apenas oito desperdícios durante os 40 minutos.

Esses são os dados positivos. Agora, ficamos realmente no aguardo por uma movimentação de bola mais leve e imprevisível. Mais trocas de passes entre os pivôs. Corta-luzes e passes de entrada no garrafão com ângulos variados e também mais velocidade na execução de meia-quadra – ainda mais contra um adversário tão lento e de baixíssima capacidade atlética como a Argentina. Correr não é um verbo praticado apenas em contra-ataque. Por vezes, a seleção aceita um jogo muito estagnado, um tanto manjado, que facilita a contestação mesmo por parte de uma defesa sem grandes bloqueadores. Para constar: esse é um problema do time de Magnano desde 2010 – assim como os lances livres, aliás (12-26, 46%). Vai mudar agora? Esperemos. Os três principais homens da rotação interior passam muito bem a bola e precisam ser explorados de modo incessante nesse sentido.

Na defesa, o time não soube reagir aos chutes de Nicolas Laprovittola e Leo Gutiérrez, que, juntos, acertaram 7-12 de três pontos. Nenhum deles é desconhecido dos nossos atletas. Ainda assim, tiveram liberdade para receber e disparar. Por outro lado, algumas dessas bolas foram bem de longe, de baixa probabilidade. Caíram dessa vez, mas isso em geral não é algo que se traduz para uma competição de alto nível. O jogo dos nossos vizinhos ao Sul depende hoje muito desse tipo de fundamento. Mesmo Luis Scola joga cada vez mais distante do aro. Nos dois amistosos, eles tentaram um total de 45 arremessos de fora. Muita coisa. No Rio, a diferença é que haviam amassado o aro. No geral, a média ficou em 31%. Abaixo da mediocridade.

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Rafael Luz, em teste contra Prigioni: armador vem bem desde o Sul-Americano

Rafael Luz, em teste contra Prigioni: armador vem bem desde o Sul-Americano

Momento por momento, é bom verificar se o Rafael Luz está com o passaporte em dia, né? Força de expressão, claro, já que o Mundial será jogado na Espanha, aonde ele vive há anos. Disputando uma das vagas da seleção, o armador começou o terceiro amistoso como titular, de frente com Pablo Prigioni, para ser testado, mesmo. Seu melhor momento, contudo, veio no quarto período, quando voltou para a quadra para render Huertas depois dos chutes de Laprovittola. Rafael controlou bem a situação. Dá mais estabilidade ao time e tem mais pegada defensiva.

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Fabrício Melo é de 1990. Augusto Lima, 1991. Lucas Bebê e Cristiano Felício, 1992. Matías Bortolín e Tayavek Gallizzi, pivôs estreantes na rotação argentina, nasceram em 1993. Então, da próxima vez que ouvirem alguém falar que a “Argentina vai sofrer”, que eles “não têm renovação”, melhor recorrer ao Google e checar mais uma vez.

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Para a torcida do Flamengo: se já não notaram, reparem no tamanho das mãos de Walter Herrmann. Absurdas. A bola fica muito pequena com ele. Algum dia desses, o cabeleira, um jogadoraço – e bastante singular também – vai pegar o Facundo Campazzo pela cabeça e cravá-lo no reverse. Podem esperar.


Brasil mantém proposta com pivôs e vence a Argentina em fase de testes
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Giancarlo Giampietro

Splitter começa muito bem a preparação para o Mundial

Splitter começa muito bem a preparação para o Mundial. Crédito das fotos: Gaspar Nóbrega/Inovafoto

Pelo segundo amistoso, o Brasil manteve sua proposta de jogo interno, e saiu de quadra com mais uma vitória, agora sobre a Argentina, por 68 a 59, no Maracanãzinho.

Essa é a primeira boa notícia. A segunda foi a transmissão da TV Globo, com um narrador muito bem informado e sem ficar preso em dar aula sobre o jogo, tratando o esporte com naturalidade e, não, com uma aberração que tenha inanido a grade da emissora. Voltamos a isso depois.

Pensando na preparação para o Mundial, o mais importante mesmo é se concentrar no uso dos pivôs no ataque, algo que toda a torcida do Flamengo, do Vasco, do Corinthians, do Palmeiras, do Londrina, do XV de Campo Bom… Enfim, algo que todos pediam, esperavam, e que a seleção vem fazendo em 80 minutos de jogos-teste.

Contra uma Angola desprevenida – conforme seus próprios jogadores admitiram ontem no Rio –, o aproveitamento foi muito superior. Contra a mesma Argentina enjoada de sempre, os números caíram sensivelmente (só 16/44 nas bolas de dois, 36,4%). Mas isso não significa que o time deva fugir dessa trilha.

Lá dentro, agora com Nenê (cercado por argentinos)

Lá dentro, agora com Nenê (cercado por argentinos)

O que faltou hoje foi um maior espaçamento e velocidade no uso dos pivôs. As jogadas de costas para a cesta diretas, sem nenhuma movimentação prévia, nem sempre são as mais eficientes, ainda mais quando a ajuda está atenta. Depois de passes previsíveis, os grandalhões brasileiros não tiveram liberdade para atuar desta forma, resultando em chutes contestados e desarmes.

Mas é bom que aconteça agora, para Magnano ter tempo de fazer seus ajustes. Corta-luzes em cima dos pivôs, falsas entradas e movimentação do lado do contrário podem ajudar em linhas mais claras de passe e melhores ângulos para partir para a cesta. De toda forma, a insistência em pingar a bola lá dentro resulta em acúmulo de faltas, lances livres e pontos fáceis. Juntos, Splitter, Nenê e Varejão somaram 32 pontos e 31 rebotes.

(O detalhe valioso aqui: a Argentina executou uma boa defesa interna mesmo sem contar com postes de 2,13 m de altura. Posicionamento, empenho e instrução dão conta do ceado. E nem para a zona eles apelaram muito. Tem jogo.)

Outros reparos: a turma que vem do banco por enquanto precisa mexer a bola. Larry e Leandrinho têm a mania de massageá-la demais. Perde-se tempo com dribles desnecessários. Com menos segundos para girar o time, acabam que caem na armadilha das infiltrações com arroubo. Legal que batam para o garrafão, especialmente o 10 brasileiro, mas tem hora para tudo. Magnano chamou a atenção num pedido de tempo, com razão. E essa vai ser uma luta do argentino durante todo o mês de amistosos.

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Você tira lições dos amistosos, mas não conclusões absolutas, definitivas sobre o destino das equipes. Foi apenas o segundo jogo de duas equipes que vão para o Mundial com bastante ambição. A Argentina não fez uso de muita defesa por zona. As rotações de ambos ainda estão em fase de experimento. Luis Scola, oras, nem estava em quadra.

Nessa linha, Sérgio Hernández, ex-treinador dos caras no ciclo olímpico de Pequim 2008 e de breve passagem pelo Brasília, postou no Twitter: “A veces cuando ganás, perdés, y cuando perdés, ganás. Es así. Bien Argentina.”

Ô, lôco.

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O que precisa ficar de olho: não temos grandes arremessadores de três pontos. Isso é um fato. Sem Guilherme, a carência fica ainda mais clara. Livres, a turma do perímetro até mata. Vigiados, a coisa despenca, como vimos hoje (3/19, horripilante 15,7,%). Acho que vem daí a convocação de Machado. Mas o veterano tem ainda mais dificuldade hoje para se desmarcar em sua movimentação ora da bola. Na defesa, está ainda mais vulnerável. Esse, sim, é um ponto preocupante para o Mundial, ainda mais com a defesa agressiva de Alex, sempre correndo o risco de ficar pendurado em faltas. Daí que a presença de Rafael Luz, mais forte e atlético que Raulzinho (aquele que foi testado hoje), se faz mais necessária. Em dupla armação, o jogador do Obradoiro está mais equipado para a defesa, creio.

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Individualmente, já notamos um Tiago Splitter em excelente fase. Hoje foram 15 pontos e 12 rebotes para eles, em 25 minutos. Nada como um título de NBA para curar qualquer desgaste, cansaço.

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O Campazzo, de apenas 23 anos, a gente conhece de outros Carnavais. Agora foi a vez de tomar nota a respeito de Matías Bortolín, um pivô de 21 anos, que joga no Regatas Corrientes e sobre o qual, confesso, não tinha informação alguma até o Sul-Americano. (Na temporada retrasada, ele estava na… Áustria!?) Muito talentoso. Jogo de pés criativo, que deu um trabalho danado para os pivôs brasileiros, todos eles grandes marcadores no mano a mano. Terminou com 12 pontos e 8 rebotes em apenas 24 minutos, matando 4 de 5 chutes de quadra e todos os seus seis lances livres. Então… Até quando vamos repetir o discurso de que a Argentina sofre em sua renovação? Não é todo dia que se revela Ginóbilis e Scolas. Mas a produção de talentos segue em curso.

Bortolín, um pivô muito promissor para a Argentina. Agradável surpresa

Bortolín, um pivô muito promissor para a Argentina. Agradável surpresa

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Sobre a transmissão excelente de Luis Roberto. O talento na condução dos narradores tops da Globo é indiscutível. Mas o que chamou a atenção, mesmo, foi o preparo. Ficou claro desde o primeiro período o quanto o profissional estudou para o jogo. Não fazia basquete há quantos anos? Só me lembro dele  nos tempos de ESPN – mas sei que adora basquete. Seja bem-vindo, muito bem-vindo.