Vinte Um

Arquivo : junho 2013

O Fantástico Mundo de Ron Artest: Histórias para ninar
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Giancarlo Giampietro

Antes da criação do Vinte Um, um projeto mais modesto, mas seguramente mais divertido era criar um blog todo voltado ao ala Ron Artest, do Los Angeles Lakers.

E bancaria como? A começar pela leitura do site HoopsHype, obrigatória para qualquer fã de basquete, devido ao acúmulo absurdo de informação oferecido diariamente, com tweets e declarações dos jogadores, jornalistas, dirigentes e trechos de reportagem do mundo todo.

As novelas das negociações de LeBron James e Carmelo Anthony foram certamente as líderes em manchetes nos últimos anos desse site agregador de conteúdo. Afinal, é o tipo de assunto que rende boato, respostas a boato e os boatos que, então, brotam desse processo.  Mas há também um personagem que dia sim, dia não vai estar presente por lá, geralmente no pé dos boletins de rumores, puxando a fila dos faits divers. Ron Artest, senhoras e senhores.

Sucessor natural de Dennis Rodman na prática do lunatismo – embora com personalidades e natureza completamente diferentes, num mano-a-mano que deve ser explorado em uma ocasião futura  –, Ron-Ron vai ganhar o seu próprio quadro aqui. Nos tempos em que a ordem é racionar na vida em sustentabilidade, o jogador não nos priva de sua condição de fonte de humor inesgotável.

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Sir Ron Artest

Este é mais um daqueles casos que não adianta se fazer piada em cima, que não vai melhorar nada. O simples e puro fato já vale mais que tudo. Que seria: “O mercurial Ron Artest, também conhecido como #mettaworldpeace, usou o tempo livre após a eliminação de seu Los Angeles Lakers nos playoffs da Conferência Oeste e acabou de publicar nos Estados Unidos um livro de histórias infantis”.

Sim, existe uma editora lá fora que acredite que a melhor forma de se colocar uma criança para ninar seria lendo histórias elaboradas em conjunto por Artest e Kendrick McBride. Se você estiver disposto a fazer o seu neném viajar pelo subconsciente de um dos atletas mais… Mais… Mais marcantes da história da NBA, a obra-prima custa apenas US$ 12,95 na Amazon. Sai mais barato que o último lançamento de Phil Jackson, vejam só.

Bem, ao menos a gente sabe que a cuca de nosso anti-herói pode ir lá loooonge de vez em sempre, né? Então que ele possa defenestrar 34 pagininhas, ilustradinhas não deveria surpreender ninguém. Façam cara de sério, por favor, e enfrentem a seguinte pergunta: não é totalmente plausível?

; )

A descrição do livro diz o seguinte: “Essas histórias foram escritas para ajudar as crianças a pensar sobre as coisas que acontecem com elas no dia a dia. As crianças vão ficar com a mente aberta e aprender uma nova lição a cada página. Elas vão aprender a aceitar os bons e maus dias. Este livro vai mostrar aos leitores como se ter um bom futuro com um coração esperançoso e pensamentos positivos”. Bonito, né?

Vejamos, então, os títulos de cada uma das cinco histórias: “Tenho medo do Escuro”, “Barro na Minha Cama”, “Um Desejo”, “Alcançar o Céu” e “Amanhã”.

Ok, freudianos do meu Brasil, agora é com vocês…

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É algo totalmente idiossincrático, levando em conta o histórico do Metta em quadra. Parte do dinheiro arrecadado nas vendas será direcionado para uma instituição de caridade que dedicada ao tratamento de doenças mentais, assim com a Fundação Artest, que promove campanhas contra a violência em atividades com jovens. Os diversos trabalhos fora de quadra nessas questões já deu ao ala um prêmio de cidadania da NBA, em 2011. Acreditem. Lembrem-se que o cara também já levantou mais de US$ 500 mil com o leilão de um de seus anéis de campeão pelo Lakers.


Cada jogo é uma história: Spurs devolve marretada contra Heat e volta a liderar as finais
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Giancarlo Giampietro

Danny Green on fire

Green matou 14 de 17 chutes de fora em 3 jogos de série (70,8%);  galera vibra

“Seven Nation Army”, do White Stripes. A música é boa demais, uma das melhores dos anos 00’s. O melhor riff, provavelmente. Mas, no esporte, já estava popularizada pelas torcidas de futebol europeias. Quem começou primeiro a gente não sabe. Provavelmente algum grupo de fanáticos ingleses, também afeitos ao rock. Daí que, quando o Miami Heat decide incorporá-la ao seu ritual de introdução das partidas dos playoffs, fica uma sensação meio contraditória: por um lado, continua sendo uma sonzeira; por outro… Ficou batido, né? Por isso, brotar agora desta cultura “oba-oba-viva-Miami” não era de se estranhar.

Daí que, no finalzinho do Jogo 3, a ironia não podia passar despercebida: o inspirado DJ do AT&T Center mandou ver com o superhit de Jack White, e os torcedores fizeram o coro. Mas muito mais por ironia do que qualquer outra coisa: a farra do Jogo 2 promovida pelos jogadores em quadra e levada adiante pelo público não iria passar batida para um grupo de torcedores tão acostumados a playoffs e decisões como os do Spurs.

Nesta terça-feira, então, quando a marretada no jogo foi devolvida, sobrou espaço para a tiração de sarro. San Antonio 113, Miami 77, e os texanos novamente liderando a série final da NBA 2012-2013.

O desafio para a tropa de Gregg Popovich, agora, é de fugir do mesmo clima de euforia em que os astros do Miami embarcam facilmente. Cada jogo num confronto de mata-mata tende a ser uma história. O placar geral está apenas em 2 a 1 – e, não, 120 a 70.

Até porque o Heat ainda não perdeu duas partidas seguidas nesta fase decisiva. Em geral, depois de uma derrota, se acostumaram a responder com autoridade. Tal como fizeram no segundo embate em casa.

Reservas do Spurs também comemoram

O banco do Spurs dessa vez pôde jogar pelos motivos certos, com seu time aplicando a surra

Há diferenças para serem destacadas, contudo. Entre eles o fato de os atuais campeões serem agora os forasteiros, jogando numa terra que parece ensandecida por conta do retorno de seus cowboys aos grandes duelos, aqueles que importam, que valem título. E, talvez mais importante, do outro lado está Gregg Popovich, que sabe administrar muito bem o ego de seus atletas.

Claro que o Coach Pop não entra em quadra para fazer o serviço, e por vezes é muito difícil jogar contra o Miami Heat, como ficou comprovado no terceiro período do Jogo 2 – quando eles criaram o caos em quadra e atropelaram os oponentes no contra-ataque. Acontece que, neste Jogo 3, a turma de LeBron se viu do outro lado da surra, e uma surra aplicada de modo diferente, na mesma terceira parcial.

O Spurs, com a participação consciente  de Tiago Splitter, voltou a ser uma das melhores defesas da liga, mas seu modo de proteger a cesta vem sendo muito mais cerebral do que físico, especialmente nesta série. Eles não investir necessariamente em abafar as linhas de passe, ou em acuar os armadores  com dobras assustadoras – ainda que os turnovers  do Heat tenham ocorrido – 16 no total, permitindo 20 pontos no contragolpe.

Muitos desses desperdícios, porém, aconteceram com os visitantes já grogues, desestabilizados diante de um time que estava muito mais aplicado taticamente e empenhado em fazer as pequenas coisas vitoriosas. Os anfitriões apanharam 19 rebotes ofensivos, salvaram inúmeras bolas que não estavam tão perdidas assim e não pararam de se mexer no ataque buscando o melhor espaçamento e a melhor posição para o chute.

E como esses chutes caíram. Foram 43 cestas de quadra (com aproveitamento de 48,9%), com 16 delas de três pontos (50% na mira, incrível). O estrago maior no ataque ficou por conta novamente do ala Danny Green, que somou 27 pontos, com sete chutes de longa distância, e do ala-armador Gary Neal, que marcou 24 pontos, com seis tiros de fora. Neal, na verdade, merece muito mais destaque por ter aprontado muito mais quando a partida ainda estava em aberto, anotando alguns arremessos com pura confiança, a mais de um passo da linha de três, enquanto Green acertou quatro dessas já no período final, quando Erik Spoelstra ainda teimava em manter seus titulares em ação por muitos minutos desnecessários, sem preservá-los como fez Pop no confronto anterior.

Ao menos eles já estavam sentados quando a música começou…

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O Spurs aniquilou o Heat com apenas seis pontos e oito assistências de Tony Parker em  27 minutos. Só não dá para imaginar que a equipe de Popovich vá ter vida fácil assim em caso de o armador virar desfalque para a continuidade da série, por mais que Neal venha de uma noite mágica e que Manu Ginóbili tenha mais acertado que errado,. Mais do que entender o que acontece com LeBron James, o fato mais urgente da decisão se tornou a ressonância magnética pela qual ele vai passar nesta quarta de manhã em San Antonio. O armador francês foi retirado de quadra por um breve período para ser examinado no vestiário, sentindo dores na coxa e afirmou que sua presença no Jogo 4, na quinta-feira, ainda é incerta.

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A essa altura, a pergunta já é válida: estaria LeBron James exausto fisicamente ou realmente tão incomodado assim com a defesa do Spurs e a postura de sempre-alerta de Kawhi Leonard? Acabou o gás ou talvez ele simplesmente ainda não tenha encontrado a melhor forma de lidar com a formação de barricadas promovida por Popovich para desencorajá-lo que a vá para a cesta? De modo que o cara perdeu toda a agressividade e ritmo no ataque, pensando demais no que fazer com a bola, hesitando. E, por favor, não confunda isso com “amarelar”: esse tipo de polêmica pela polêmica não vai ter espaço aqui.  No primeiro jogo em San Antonio, o superastro somou 15 pontos, 11 rebotes e 5 assistências, em 39 minutos de esforço em vão, acertando apenas 7 de 21 arremessos (33%). Quer dizer, novamente conseguiu números que seriam uma dádiva para qualquer jogador medíocre. Mas o pior é que estes números não contam muita coisa do que foi sua história no jogo, especialmente antes de marcar 9 pontos em sequência no terceiro período, quando tinha apenas quatro anotados até, então. O esforço de Kawhi Leonard e o apego ao plano  tático dos demais companheiros co Spurs é louvável, mas chegou a hora de o craque e Spo repensarem o modo como reutilizar seus diversos talentos.


Lucas Bebê usa evento na Itália para melhorar sua cotação e fica mais perto da NBA
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Giancarlo Giampietro

Lucas Bebê no ataqueUm post de atualização do fim de semana: Lucas Bebê deixou uma excelente marca no adidas EuroCampo em Treviso e, segundo todos os relatos, melhorou consideravelmente seu status visando o Draft da NBA deste ano. Inicialmente cotado como um prospecto para a primeira rodada, estaria agora na briga para ser selecionado entre os 20 melhores, quem sabe até sonhando com um lugar entre os 15 primeiros.

O pivô participou apenas do primeiro dia de atividades na cidade italiana, o sábado, e de tão satisfeito com seu desempenho, abriu mão dos jogos de domingo e desta segunda-feira – na ciranda do Draft, quando você consegue dar uma bela cartada, melhor não arriscar mais: que fique a primeira impressão.

Bebê precisava ir para quadra ao menos um dia para confirmar diante dos gerentes gerais e outros dirigentes da liga norte-americana aquilo que provavelmente a maioria dos scouts europeus já vinha falando: que ele havia melhorado consideravelmente durante a temporada 2012-2013 na Espanha. Conseguiu, sendo dominante na tábua ofensiva e defensiva, enterrando com facilidade e distribuindo tocos como quem jogava vôlei.

O simples fato de também ter topado o desafio, de se exibir nesse contexto,  sujeito a elogios e, claro críticas, também pegou bem para os dirigentes, numa prova de coragem e maturidade. Por outro lado, o pivô ainda não se sente plenamente confortável com seu inglês, um detalhe que pode afastar um cartola mais exigente.

RaulzinhoPara causar sensação, o carioca também teve um pouco de sorte, convenhamos: pôde jogar no mesmo time de seu velho (ok, “velho”) companheiro das seleções de base, Raulzinho. Os dois combinaram com sucesso em diversas jogadas de pick-and-roll, numa ajuda providencial para o grandalhão, que pôde enterrar à vontade, atacar o aro como gosta, contando com os passes precisos do parceiro.

E, nesse evento, não importa muito o quanto você produz (as estatísticas, no caso), mas, sim, o modo como você conseguiu esses números. Para as dezenas de avaliadores da liga americana,  vale mais  o potencial vislumbrado nos atletas. E de potencial sabemos que Lucas está muito bem servido. Veja o vídeo:

Raul e Augusto? Os dois também foram bem, ganharam elogios, mas ainda seguem bem distantes de Bebê em termos de cotação. Para Augusto, não há muito o que fazer: por ter nascido em 1991, neste ano ele participa automaticamente do processo de recrutamento de calouros da NBA. Já Raulzinho tem a chance de retirar o seu nome da lista de inscritos, caso não goste do que tem ouvido, para tentar novamente no ano que vem.

Augusto Lima


Chalmers (!) lidera ataque balanceado do Miami, que estoura no 2º tempo e empata final contra Spurs
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Giancarlo Giampietro

RIIIIO!

Tem noite que os jornalistas esperando do lado de fora do vestiário do Miami Heat só ouvem uma coisa: RIO!

É “Rio” pra cá, “Rio” pra lá, aos berros.

E, por mais que a maravilhosa que seja a cidade, não se trata de nenhuma fixação específica sobre a capital carioca: mas, sim, a rotineira sessão de esculacho para cima de Mario Chalmers. Pouco maduro com a bola, ele era afeito a alguns lances destrambelhados, que deixavam seus companheiros atônitos.

Além das pontes aéreas em contra-ataque, da admiração com as loucuras de Chris Andersen e de andar de bicicleta por South Beach, o esporte favorito de LeBron James e Dwyane Wade era avacalhar com seu armador.

Imagino que nesta noite de domingo os gritos tenham sido os mesmos. Mas dessa vez com uma ternura nos gritos, elogiosos, celebrando o companheiro que conseguiu, ao menos por uma noite, superar Tony Parker.

Chalmers marcou 19 pontos e foi o cestinha do Jogo 2 contra o San Antonio Spurs, liderando um ataque superbalanceado para uma vitória por 103 a 84. Não é uma quantia de outro mundo, mas não é todo dia que você consegue ser o cestinha num time com LeBron, Wade, Chris Bosh e Ray Allen. E o mais importante: a pontuação de Chalmers aconteceu quando o jogo estava no pau ainda, com o Spurs ameaçando triunfar pela segunda vez na Flórida.

Depois da noite impecável de Parker na primeira partida, dessa vez foi Chalmers a completar uma atuação sem nenhum desperdício de posse de bola. Além disso, ele matou 6 de 12 arremessos no geral, duas em quatro de três pontos e todos os seus cinco lances livres. Pegou ainda quatro rebotes e deu duas assistências. Com ele em quadra, seu time venceu por 30 pontos de diferença.

Porque de “armador”, na verdade, Chalmers tem pouco em um time que já conta com dois excelentes condutores em outras posições no quinteto inicial. Para o jogador, o fundamental é aproveitar as chances que tem a partir da marcação dobrada que seus companheiros mais célebres atraem. Nesta partida, ele executou o que lhe cabe com agressividade e muita eficiência.

Na final da Conferência Leste, o jogador já havia feito a sua parte, diante de uma defesa fortíssima como a do Indiana Pacers, atacando George Hill com ousadia, sem se deixar intimidar por nada.

E esse é um traço do caráter do atleta – o destemor. Algo que vem desde os tempos de Kansas, pelo qual foi campeão universitário com direito a uma participação decisiva na final contra Memphis, encarando Derrick Rose, com direito a cesta de três pontos desequilibrada quase no estouro do cronômetro para forçar uma prorrogação.

Não percam de vista o seguinte: a final da NCAA é um dos maiores eventos esportivos de todos os Estados Unidos. Nível absurdo de pressão, e pra Chalmers aquilo parecia não dizer nada. Esse tipo de personalidade foi vital para sua sobrevivência num vestiário complicado e exigente.

Se os astros gritavam “RIO!”, talvez ele, sim, estivesse pensando em Copacabana ou algo do tipo.

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Bosh x Manu

Bosh deixou as coisas um pouco mais difíceis para o Spurs no Jogo 2, ainda mais para Manu Ginóbili, em uma atuação horrível e destrambelhada

Tony Parker foi limitado a apenas 13 pontos e cinco assistências, com nove erros em 14 arremessos tentados, cometendo cinco turnovers. Seu marcador primário foi Chalmers, depois dos rumores de que LeBron talvez assumisse esse papel. Mas o crédito não pode ser todo dele, neste caso.

Erik Spoelstra dessa vez ordenou que seus jogadores fossem para baixo dos corta-luzes em cima do francês e que eles também fizessem a troca, com Haslem, LeBron ou Bosh recuando. Melhor que Parker arrisque seu arremesso melhorado de média distância, do que vá para a cesta com suas belas e velozes bandejas.

Bosh também foi muito melhor na proteção da cesta, atuando enfim como um pivô de força, protetor. Não terminou com nenhum toco, mas alterou diversos arremessos por parte do armador e outros. Tim Duncan (3-13 de quadra, nove pontos, irco!) surpreendentemente teve dificuldades ali debaixo, assim como Tiago Splitter.

(Em tempo: sobre o toco de LeBron para cima do catarinense? Digno de pôster e o tipo de jogada que, sinceramente, esperávamos acontecer aqui e ali: o catarinense nunca foi de saltar muito e acabou dando o azar de se deparar com o jogador errado na hora errada. Bom saber, contudo, que o brasileiro é daqueles que não dá a menor bola para isso. É do jogo, acontece. Sem criancices.

“Eu tentei fazer uma boa jogada. Fui para a enterrada e ele foi ainda melhor. Bloqueou. Tentei partir forte e ele estava bem ali. Ótima jogada para ele”, afirmou Splitter. Segue a vida.)

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A sequência de 33 pontos contra 5 do Miami dos minutos finais do terceiro período em frente mostrou todo o potencial físico, atlético dessa equipe. Quando eles conseguem atingir essa quinta marca, fica praticamente impossível de se enfrentar. Foi o mesmo ritmo que usaram no Jogo 7 contra o Indiana Pacers. Nestas horas, as dobras defensivas se tornam sufocantes, com muitos desvios de direção e uma rotação e recuperações frenéticas.

MM e LBJ vibram

Baita vitória para o Miami, mas apenas uma vitória. Responderam bem, mas série só está 1 a 1. Não é que o placar geral tenha sido virado

Por isso é tão crucial para o Spurs cuidar da bola (foram 16 dessa vez, cinco no terceiro período), impedir ao máximo que eles entrem no contra-ataque, em quadra aberta. Porque, a partir daí, não só LeBron James se torna a arma mais letal do planeta, como seus arremessadores ganham espaço para atirar. E, se esses disparos começam a acertar o alvo, a coisa pode desandar rapidamente – o time da casa acertou 52,6% no perímetro, com destaque para as 3 em 3 de Mike Miller e as 3 em 5 de Ray Allen. Game. Set. Match.

Lembrando: com 3min49s restando no terceiro quarto, os texanos venciam por 62 a 61, após uma chute de Danny Green em flutuação. A partir dali, só deu Heat.  Não só a parcial terminou com dez pontos de vantagem 75 a 65, como, com menos de quatro minutos jogados do quarto período, o placar já era de 91 a 67, com uma cravada de LeBron.

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Perder um jogo, aliás, em que LeBron tinha menos de dez pontos com quase três quartos disputados pode tirar o sono de alguns integrantes da comissão técnica do Spurs – menos o Popovich, que é não se abala com essas coisas, né?

Era uma atuação um tanto… Hã… Bizarra por parte do astro. Por um lado, dava para entender que ele não queria se precipitar perante aas armadilhas preparadas pelo Spurs. A tática de povoar o garrafão ou qualquer trecho de quadra à frente do supercraque foi mantida. O ala tinha, então, de decidir com sobriedade o que fazer diante dessa situação. Até aí tudo bem. Mas LeBron vinha com parcimônia demaaaaais. Era um pouco assustador.

Talvez por cansaço? Talvez por ter colocado na cabeça que era vital envolver todos os seus companheiros, a todo custo? De modo que se preservaria energia para arrebentar no quarto? Vai saber. Fato é que a arrancada de sua equipe no finalzinho do terceiro e início do quarto período nos poupou de mais uma daquelas discussões tipo Arquivo X para entender o que se passaria na cabeça do cara, que terminou com 17 pontos, 8 rebotes e 7 assistências, flertando com mais um triple-double.

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Foram dez rebotes  para Bosh, um milagre em 31 minutos. Wade também deu sua contribuição. Por mais que sua linha final tenha sido de míseros dez pontos e seis assistências em 30 minutos, o ala-armador foi muito bem no primeiro tempo, atacando com agressividade, impedindo que o Spurs abrisse com as bombas de três de Danny Green. Na segunda etapa, sumiu do mapa novamente – e parece que será esse o seu papel na série, mesmo, uma vez que o joelho não permite muito mais.

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Para fechar, algo típico sobre este Miami Heat. Quando saem as decolagens de contragolpe, quando as bolas de três caem, quando sua torcida deixa os coquetéis de lado para, enfim, gritarem, a postura que o time adota em quadra beira o inaturável. São poses e poses, como a de LeBron após o toco em cima de Splitter. Com a bola em jogo, ele para no centro do garrafão e se petrifica como uma estátua. E não deveria haver time mais atento a esse tipo de infantilidade do que o próprio Heat.

Ou será que eles já se esqueceram de uma provocação de Dwyane Wade bem na fuça dos reservas do Dallas Mavericks nas finais de 2011 e a reação que aquela exibição de soberba desencadeou? A estrela acertou um chute da zona morta e ficou com o braço erguido por uma eternidade, matutando provavelmente se havia, ou não, desferido a adaga final naquele Jogo 2. Sofreram uma virada incrível, perderam por 95 a 92, e a história do confronto se alternaria por completo.

Está documentado aqui, a 9min55s, com seu chute abrindo 15 pontos de vantagem:


Site espanhol levanta informações importantes sobre os planos de Lucas Bebê no Draft
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Giancarlo Giampietro

Bebê, Gui, Raulzinho e Mariano

Ao avaliar o que está em jogo para o Estudiantes na próxima temporada espanhola, não haveria como o site Encestando não passar pelo futuro do pivô Lucas Bebê, inscrito no Draft da NBA, ponderando se é a hora, ou não, de fazer essa transição. Em sua nota, o site traz duas informações importantes sobre, digamos, a candidatura do brasileiro, duas peças importantes para um quebra-cabeça que começa a se montar.

1) Lucas teria uma multa rescisória de US$ 2 milhões para sair do seu atual clube.

2) Talvez por isso só fique no Draft se for escolhido entre os 15 primeiros, tendo aí a garantia de que receberia um bom salário, podendo arcar com essa multa.

Por enquanto há uma boa vontade geral em torno do nome do pivô, bastante elogiado nos bastidores. Ele aparece hoje em terreno firme em todas as principais projeções dos sites especializados na primeira rodada do Draft. O problema é que, tirando o NBADraft.net, que o coloca como o 17º, ele aparece bem distante da área em que espera ser selecionado – o DraftExpress o tem como 27º, enquanto o ESPN.com, como 28º.

Lucas Bebê cá, Lucas Nogueira lá

Lucas Bebê em situação confortável rumo ao Draft da NBA: não há pressa

Conforme explicamos aqui, ainda é cedo, porém, para levar essas estimativas a ferro e fogo. E, a partir deste sábado, em Treviso, Lucas tem sua grande cartada para tentar melhorar sua cotação, na disputa do adidas Euro Camp, com duração de três dias, reunindo alguns dos principais prospectos espalhados pelo mundo, observados por técnicos, dirigentes e scouts. Raulzinho e Augusto também vão jogar lá, assim como o promissor Lucas Mariano, revelação do Franca, que não está inscrito no Draft, mas pode se inserir no radar da NBA com uma boa apresentação.

Em termos de competição direta, seu principal concorrente durante os treinos e jogos na simpática cidade italiana é o francês Rudy Gobert, que é ainda mais alto e comprido que Bebê, mas menos atlético (salta menos e é mais lento, por exemplo). Os dois são crus fundamentos e um tanto inexperientes em grandes partidas – na verdade, o brasileiro levaria vantagem aqui, por jogar em uma liga ACB muito, mas muito mais competitiva que a francesa.

Mas o mais importante pra o pivô carioca é mostrar serviço em geral, de provar a evolução em seu jogo e, principalmente, demonstrar que hoje encara o basquete de outra forma,  com ganho de maturidade – algo que ele vem reforçado sistematicamente a cada entrevista que dá – e que sua comissão técnica e diretoria em Madri garantem ser verdadeiro. Depois de algum estranhamento nos primeiros anos do adolescente na capita espanhola, hoje eles adoram o garoto e bancam seu futuro.

Neste ponto, Lucas fica, então, numa posição confortável. Ele não é obrigado a passar pelo Draft da NBA neste ano. Pode retirar seu nome, esperar por mais um ano, e aproveitar mais um ano de ACB pelo Estudiantes, clube com o qual tem contrato até 2014, mesmo. Com publica o Encestando: “Salvo que saia entre os 15 primeiros, algo improvável, deseja seguir um ano a mais no ‘Estu’ para completar sua formação e ter garantidos minutos importantes”.

Aliás, sobre a extensão de seu vínculo, esse é outro detalhe relevante: no ano que vem, o brasileiro poderia migrar para a NBA sem ter de desembolsar nada, algo que preocupa os espanhóis, que têm interesse em uma renovação contratual para não correr o risco de ficar de mãos abanando. “O clube primeiro quer que ele renova até 2015 para que não saia de graça em 2014”, diz o site. “O pivô brasileiro parece disposto (a renovar) se abaixarem sua cláusula de saída atual.”

Vejam só: seria um movimento bom para ambas as partes, não? Lucas seguiria progredindo na Espanha, com um contrato de mais dois anos, ganhando mais segurança também. E o clube poderia levar algum trocado na próxima temporada – isso, no caso, de o pivô realmente ser selecionado, né? Se está cedo para falar de 27 de junho de 2013, imagine, então, pensar em junho de 2014?

Antes de confabular sobre essas alternativas, contudo, esse Bebê tem é que entrar em quadra em Treviso e arrebentar. O basquete fica sempre mais divertido em quadra, mesmo.

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Você não está familiarizado com o jogo de Lucas Bebê? O DraftExpress resolve seu problema. A infalível dupla Jonathan Givony-Mike Schmitz disseca neste link aqui os pontos fortes e fracos do pivô. Um trabalho admirável e competentíssimo. Aliás, cada um dos principais prospectos deste ano passou pela mesma rigorosa avaliação. Veja a lista completa: para os draftmaníacos ou mesmo para aqueles interessados em como se prepara um scout, um material indispensável. Pena que Augusto e Raulzinho não estejam nessa ainda.

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Bebê, Raul, Augusto e Mariano, acompanhados também pelo ala Guilherme Deodato, o Gui, de Bauru, passaram alguns dias em Los Angeles, enfurnados no ginásio e academia da Proactive Sports Performance. Em seu site, a companhia mostra dezenas de atletas de futebol americano que trabalharam em suas instalações e nenhum de basquete. Imaginamos, então, que o quinteto tenha se matado por lá em trabalhos físicos. Em quadra, tiveram a companhia de Gilbert Arenas e Yi Jianlian, entre outras figuras desta lista aqui, o elenco da Relativity Sports, empresa que os agencia. Nesta aqui, eles parecem ter a companhia de JJ Barea, na cabeça do garrafão:

Batendo uma bolinha


Spurs cuida da bola com paciência, evita o caos de Miami e vence a primeira nas finais
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Giancarlo Giampietro

Valeu, TP, valeu o chute

Miami espera uma bola de Parker e uma revisão certeira a 0s1 do estouro do cronômetro

Geralmente é o talento dos jogadores que define tudo em quadra. Mas ajuda ter um bom plano de jogo, né?

Se uma coisa que a sequência de 27 vitórias do Miami Heat mostrou durante a temporada regular, algo que foi confirmado no Jogo 7 na final do Leste contra o Indiana Pacers, é que os atuais campeões rendem melhor quando conseguem promover o caos na quadra. Caos total, mesmo. Com frenesi da torcida, dos técnicos, de todo mundo. Seus jogadores dobram, dobram, dobram em cima da bola sem cansar. Eles voltam para seus jogadores. Quando não dá, é porque um companheiro já estava lá na cobertura. E a bola vai ficando quente, bem quente na mão do adversário. Saem arremessos precipitados. Passes tortos, passes na mão dos juízes. Contra-ataques, enterradas, LeBron e Wade arrepiando.

O que o San Antonio Spurs fez, então?

Tomou conta da bola com o bem mais valioso em todo o ginásio, em toda a Flórida, em toda a Costa Leste americana. E a bola era tudo isso, mesmo. Em 48 minutos, eles a desperdiçaram sem nenhum arremesso por apenas quatro vezes. Com o maior zelo possível. Não cederam cestas fáceis para os oponentes e venceram o Jogo 1, fora de casa, por 92 a 88, com uma virada no quarto período.

Em certo momento, Tiago Splitter ou Tim Duncan podiam até estar decepcionados. Uma das regras básicas e não escritas do basquete é a de que, quando seu pivô faz o trabalho defensivo e corre a quadra com velocidade e suor, ele deve ser recompensado por seus companheiros com uma tentativa de cesta do outro lado. Em diversas ocasiões, o catarinense e um dos melhores jogadores da história cumpriram sua parte no script e foram ignorados quando cortavam em direção ao aro. As mãos erguidas na altura do peito, bem espalmadas, prontinhas para receber o passe que não vinha. Davam de ombro, giravam a cabeça e, por vezes, davam aquele tapinha leve no quadril para expressar certa frustração – mas nem tanta, claro, pois Spur que é Spur, não pode reclamar tanto.

Não é questão de que os alas ou os armadores estivessem esfomeando. Eles apenas respeitavam demais o poder de recuperação de seus oponentes. Talvez aquele corredor não estivesse tão aberto assim. Talvez eles imaginassem que ali havia uma linha de passe que poderia ser prontamente interrompida por aqueles freaks de Miami. Desta forma, então, seguraram, tiraram o tempo da bola e marcaram apenas quatro pontos de contragolpe, mesmo que Tony Parker seja excelente nesse quesito.

E, o sujeito é tão rápido, que, mesmo um ataque em meia-quadra pode resultar numa bandeja tranquila, bastando um corta-luz centralizado de Duncan:

Os jogadores de perímetro do Spurs simplesmente seguiram adiante, confiantes no plano, sem se importar que o Heat vencia a partida praticamente de ponta a ponta. Até que veio o quarto período e, com seus jogadores bastante descansados – seja pelo maior período de descanso entre a final do Oeste para a do Leste, seja pela rotação magistral de Gregg Popovich –, apertaram a defesa e forçaram por conta cinco turnovers por parte do Heat. Mais do que cometeram na partida inteira.

Parker somou 40 minutos, mas foi um desses preservados por Pop durante o jogo, ganhando descanso providencial no decorrer da partida. Chegou ao quarto final tinindo e passou a ser mais agressivo com a bola, junto com seus companheiros. Assumiram o controle do placar pela primeira vez desde um distante 9 a 8 na primeira parcial e nunca mais perderam o comando.

Parker, de olho na cesta

Parker escapa do quase-toco de LeBron, de outro ângulo

O armador francês, quietinho, quietinho, teve um jogo sensacional com 21 pontos, seis assistências e nenhum desperdício de bola. E o destaque, claro, fica para sua última bola, com apenas 0s1 no cronômetro de ataque – e  5s2 no geral. A arbitragem acertou por instinto, mas o lance só foi validado depois de longa conferência de vídeo. Pior, enquanto uma câmera de frente para Parker indicava uma coisa, a de trás indicava outra – mas, no fim, essa era melhor imagem, e a bola realmente saiu da mão do cestinha do Spurs por uma fração de décimo do milésimo de alguma coisa temporal (0s1, na verdade).

Foi um lance espetacular e de tirar o fôlego, em que Parker foi contestado múltiplas vezes com a bola, conseguiu manter o drible vivo de algum jeito e, na hora de subir para o chute de média distância ainda se desvencilhou de um quase-toco de LeBron para guardar um arremesso chorado, chorado, definindo o placar. Já uma jogada para a história, para clipes e clipes de YouTube ou comerciais “BIG”.

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O Spurs segue tanto seu plano de jogo que por vezes podem ser um pouco teimosos demais. Como na chuva de arremessos de três pontos errados da zona morta no início do quarto período. O Miami dava todas as chances do mundo para a reação, mas Danny Green e Kawhi Leonard desembestaram a chutar dali sem sucesso, adiando a virada. Esses disparos da zona morta são o arremesso da moda – quer dizer, uma moda que já vem de sete ou oito anos já, mas vá lá. Por ser a bola que abre as defesas e, ao mesmo tempo, vale mais do que dois pontos numa distância menor para a cesta, o chamado corner three, coqueluche da comunidade estatística. O que não quer dizer que seja sempre o melhor arremesso disponível.

Pior que essas bolas apenas a de Manu Ginóbili com 1min37s no cronômetro e vantagem de 88 a 83 para o Spurs. O argentino manda um pombo sem asa a 7,6m da cesta, sem o menor cabimento, se candidatando a herói sem sucesso. Já vimos o narigudo fazer isso diversas vezes, até mesmo contra a Seleção, e tem vezes que dá certo. Mas esse é o tipo de jogada que vale a morte de algumas células de Popovich.

Mesmo convertendo apenas 30,4% de longa distância, o Spurs venceu – fraquíssimo rendimento para uma equipe que converte 36,2% nos playoffs, a segunda melhor marca no geral (atrás apenas do Golden State Stephen Curries). Seria um sinal terrível para o Miami Heat, não fossem os próprios erros da equipe da casa. Depois de um primeiro tempo excepcional no fundamento, terminaram também com percentual reduzido: 32%, abaixo de sua média de 35,6%

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LeBron cozinhou o jogo por um bom tempo. Rodou a bola, fez alguns corta-luzes monstruosos para liberar seus arremessadores. Reboteou como nunca. Acumulou estatísticas (finalizando o jogo com 18 pontos, 18 rebotes e 10 assistências). E decidiu assumir a parada nos quatro, três minutos finais.  Marcou quatro pontos seguidos no ataque e tentou segurar Tony Parker na defesa. Mas já era muito tarde. Foi um grave erro de cálculo do astro e do técnico. Não que fosse fácil a missão de parar Parker. Não dá para colocar o astro correndo atrás do francês o tempo todo. Mas, se eles imaginavam desde o princípio que James teria essa função nos momentos derradeiros da partida, demoraram demais para fazer o ajuste. É de se esperar que ele assuma esse desafio bem mais cedo no Jogo 2.

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Splitter x Bosh

Splitter teve problemas com Bosh no 1º tempo, mas fez bem seu papel cobrindo por Leonard

Wade e Bosh não têm do que reclamar. LeBron trabalhou para sua equipe por mais de três quartos, envolvendo todo mundo em quadra.  E não foi dessa vez que os chorões retribuíram. Wade se mostrou muito mais explosivo com a bola (embora não tenha contribuído em outras facetas) e marcou 17 pontos com 7/15 nos arremessos, mas sumiu no segundo tempo. Bosh marcou 13 pontos com algumas belas jogadas, mas seu basquete hoje está privado de qualquer consistência ou energia  (apenas cinco rebotes em 35 minutos, ridículo) – se bem que, para o catarinense, macaco velho de era esperado

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Kawhi Leonard, Danny Green, Splitter… Os operários do Spurs não sentiram em nenhum momento a pressão de jogar uma final de NBA pela primeira vez na carreira – se bem que, para o catarinense, macaco velho de profissionalismo, não dava para esperar outra coisa. O destaque aqui fica para a compostura de Leonard, que deixou evidente o porquê de Popovich amá-lo tanto. Fez o máximo que dá para segurar James, se deslocando com agilidade, estendendo aqueles braços e mãos enormes para mantê-lo por perto, sempre numa postura ameaçadora. Além disso, terminou com um double-double de 10 pontos e 10 rebotes.

Mas o ala não marcou o superastro sozinho. Como Splitter havia adiantado, foi um esforço coletivo, com os grandalhões da equipe ou os armadores sempre numa posição de ajuda, dependendo do setor da quadra em que LeBron fosse acionado e esboçasse uma arrancada com a bola. Nesse ponto, o pivô brasileiro foi importante. Uma relevância que, novamente, vai bem além de seus números (sete pontos, dois rebotes e um toco em 25 minutos, com 3/6 nos chutes de quadra). Não é por acaso que, entre os grandalhões de Popovich, foi o segundo que mais tempo ficou em ação. Aliás, juntos, Boris Diaw e Matt Bonner, os caras do banco, tiveram apenas 16 minutos.

Tim Duncan jogou por 37 minutos, incansável. Correu feito um doido de um lado para o outro e terminou com 20 pontos, 14 rebotes, 4 assistências e 3 tocos. Vejam o vovô em ação no segundo período:


Quais os desafios que aguardam Tiago Splitter nas finais contra o Miami Heat?
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Giancarlo Giampietro

Splitter pra mais dois pontos

Dificilmente Tiago vai encontrar um caminho tão livre assim para fazer a bandeja

Ele pode ser o primeiro brasileiro campeão da NBA. É o nosso melhor e mais consistente jogador na Seleção há anos. Decidiu tudo que é título na Espanha e na Europa em geral. Agora está no palco mais brilhante, chamativo, com um papel muito importante, encarando talvez seu maior desafio. Dá um frio na barriga intenso só de pensar. O que esperar de Tiago Splitter na decisão contra o Miami Heat? Vamos respirar fundo e tentar entender/projetar o que vem pela frente.

Ataque
A característica mais marcante do Miami Heat é sua capacidade atlética coletiva. São aqueles que representam, na prática, aquilo que se idealiza sobre a liga norte-americana em termos de exuberância física.  Erik Spoelstra pode mandar para quadra jogadores de muita velocidade e agilidade, impulsão e invariavelmente empenhados em fazer o serviço sujo. Quando levam isso ao máximo, se torna um inferno atacar contra esses caras – como Paul George descobriu no Jogo 7 das finais do Leste.

Um páreo duro, ainda mais para um jogador como Tiago, que gosta de produzir se esgueirando pelos mínimos espaços oferecidos por uma defesa, a despeito de seu corpanzil.

Além de muito inteligente, enxergando os diversos ângulos para se cortar para a cesta, o catarinense corre bem e se desloca por toda a quadra e também é bastante coordenado para um cara de seu tamanho, podendo receber o passe nas redondezas do garrafão em velocidade e, tal como o carteiro Karl Malone, entregar a carta no destino certo (sua  média na carreira é de 57,2% nos arremessos, sensacional).

Contra os mutantes de Miami, porém, essa habilidade para finalização será testada ao máximo. É preciso cuidado com a defesa que virá do lado contrário em seus pick-and-rols com Parker e Manu, especialmente quando LeBron tiver Dwyane Wade e Chris Andersen ao seu lado. Os três têm ótimo tempo de cobertura.

Só não dá para confundir precaução com receio, temor, mesmo que estejamos falando desses atletas de primeiríssimo time – e aqui, literalmente, já que são os atuais campeões.

Splitter nunca  teve o jogo mais vertical. É difícil, por exemplo, lembrar a última cravada, ou até mesmo um grande highlight de sua carreira nessa linha. E não teve problema nenhum para o pivô prosperar e se tornar um dos melhores do mundo (Fiba) em sua posição. Ele desenvolveu uma série de movimentos, digamos, criativos, para não escrever estranhos, mas que obviamente são úteis e eficientes.

Splitter se vira

Splitter vai precisar finalizar com autoridade, ao seu modo, contra uma defesa hiperatlética

Colocar isso em prática na NBA, envolto por jogo mais veloz, explosivo e aéreo que o da Liga ACB ou Euroliga, sempre foi visto como o grande desafio para o catarinense, alguém que foi analisado pelos scouts das franquias norte-americanas desde a adolescência na Espanha, uns bons deeeeez anos atrás.

“A evolução foi lenta, mas consistente. Claro que todo mundo quer chegar e jogar, se adaptar o mais rápido possível. Demorou um pouco, mas agora estou bem, com mais protagonismo tanto no ataque quanto na defesa”, disse o pivô em entrevista completinha a Daniel Neves, companheiro aqui do UOL Esporte.

Demora um pouco, mesmo, para captar o que se passa ao seu redor. Talvez Gregg Popovich o tenha segurado um tico demais da conta. Ou talvez ele só estivesse realmente esperando a plena adaptação de seu jogador. Mas o fato é que hoje o brasileiro está confortável e perfeitamente integrado ao plano de um dos maiores treinadores da história. Enfrentando quem quer que seja, com suas bolas heterodoxas, mesmo.

Dentre essas jogadas, aliás, o arremesso em flutuação pode lhe ser muito útil no confronto. É um chute que ele converte com boa frequência e pode ser utilizado quando o tráfego rumo ao aro estiver intenso. Além disso, como destacamos em outro post quando o rival ainda era o Golden State Warriors, é muito incomum que um pivô tenha esse tipo de bola, que até hoje surpreende os narradores e comentaristas da liga e, imagino, também os seus oponentes.

Veja aqui a sequência a partir de 1min01s, com seu floater em pleno funcionamento e os comentários de Jeff Van Gundy na sequência:

Um Splitter eficiente em quadra será fundamental para o Spurs. Se o pivô conseguir incomodar a defesa interior de Miami, estará criando um senhor problema para Spoelstra, que poderá ter dificuldade para decidir o que fazer na hora em que ele e Tony Parker jogarem em dupla.  “Vamos continuar fazendo nosso jogo. Todos os times têm brechas e vamos aproveitar tudo o que está à nossa disposição”, disse ao Daniel.

Fica a dúvida sobre que marcador seria designado para o brasileiro de cara. Muito provavelmente Chris Bosh nos primeiros minutos, com o técnico do Heat tentando preservar o jogador de um embate direto com Tim Duncan.  Além disso, resta saber se Spo vai optar por ficar com dois pivôs em quadra como fez contra o Indiana Pacers, ou se vai voltar com Shane Battier para sua rotação, confiando no ala para segurá-lo. Se esse duelo realmente acontecer, Splitter precisaria fazer de tudo para se impor em quadra no mano-a-mano, fazendo o oponente pagar pela estratégia de small ball, seguindo o exemplo dado por  David West.

Defesa
Vocês podem não acreditar, mas o mesmo time que é superveloz e atlético na defesa, também leva esse mesmo pacote para o ataque. :  )

A diferença que os percalços para Tiago aqui estão distantes da cesta, independentemente de quem estiver em quadra do outro lado – Haslem, Bosh, Battier, LeBron, Mike Miller ou Rashard Lewis. Ops, esqueçam o Lewis. Apenas Chris Andersen não fica posicionado desse jeito.

A ideia é espaçar bastante a quadra, abrindo trilhas para os cortes de LeBron e Wade. Por isso, os “pivôs” do Miami se afastam costumeiramente da área pintada, preparados para receber o passe e matar os chutes de média e longa distância. Splitter vai ter de persegui-los em muitas ocasiões no perímetro, mesmo Haslem, que, do nada, recuperou sua confiança e voltou a representar uma ameaça nesse quesito.

Foi algo que David West fez excepcionalmente bem pelo Pacers, contestando os chutes de longa distância até de Ray Allen – Shane Battier, então, nem se fala: foi reduzido a pó, a ponto de se tornar uma peça inútil para o Heat. O catarinense tem velocidade e movimentação lateral para dar conta disso, ainda que não esteja tão habituado a correr atrás de alas. Como o chapa Rafael Uehara mostra nesta edição aqui, com ações focadas na contenção de pick-and-roll:

Ao mesmo tempo que tem de vigiar essa turma, o brasileiro vai ter de ajudar, e muito, Kawhi Leonard na inglória missão para tentar incomodar LeBron James de algum jeito. A ideia é que ele ou Duncan se posicionem atrás de Leonard, centralizados, para desencorajar as infiltrações os atropelos do superastro. Uma ação que requer uma baita organização tática e sintonia fina com os companheiros.  “Não existe uma pessoa no nosso time que possa pará-lo [LeBron]. A única forma é adotar uma defesa forte no coletivo. Só assim conseguiremos enfrentar os astros do time deles”, afirmou o brasileiro ao Daniel.

Splitter x Z-Bo

Splitter lidou bem com Z-Bo na final do Oeste; Miami apresenta desafio bem diferente

Muitas vezes é quase como uma defesa por zona, com a limitação dos três segundos imposta pela NBA. Para alguém criado na Europa, não é problema algum. A verdade é que a promoção e efetivação de Splitter no quinteto titular do Spurs foi capital para a solidificação de uma defesa que andava estranhamente mambembe sob a orientação de Popovich. Sua mera presença física ao lado de Duncan ajuda a congestionar tudo.

De todo modo, poucos são tão grandes como um Roy Hibbert, dos raros casos capazes de intimidar LeBron. Nesse confronto, para o brasileiro vai contar muito mais sua aplicação e desenvoltura tática.

E aí?
Esses são apenas alguns dos pontos que envolvem Tiago Splitter num grande  e promissor jogo de tabuleiro que começa nesta quinta-feira e se estenderá para os próximos dias. Lembrando que o brasileiro se tornará um agente livre ao final da temporada. Dependendo do quão bem ele executar seu papel, o Spurs pode ter problemas para segurá-lo em seu elenco. Agora, se isso for ajudá-los a conquistar um título depois de seis anos, Popovich e Duncan aceitarão de bom grado. Vamos ver no que dá.


LeBron espera por mais ajuda de Wade e Bosh para bater Spurs sem heroísmo nas finais
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Giancarlo Giampietro

Quinto jogo da série entre Miami Heat e Indiana Pacers, na Flórida. O time da casa joga pressionado para defender seu mando de quadra, depois de os visitantes já terem vencido uma vez lá, no Jogo 2, e, para tanto, conta com o esforço supremo de LeBron James. Até que, durante a transmissão da TNT, o comentarista Reggie Miller não se aguenta diante do que vê e dispara de longa distância: “Esse time do Miami vai parecendo mais e mais o Cleveland do LeBron James”.

Depois, no Jogo 6, soltou logo que estavam assistindo ao “Miami Cavaliers”:

Pow!

Acho que Dwyane Wade já não teria gostado muito dessa, né? Mas a coisa piorou significativamente quando o próprio LeBron, na entrevista que sucedeu uma preocupante derrota, falou por conta própria algo na mesma linha: “Eu meio que voltei aos meus dias de Cleveland e apenas pensei: ‘Ei, hora de tentar fazer mais jogadas, de ser uma ameaça maior no ataque também’; era para ver apenas se os caras iriam me seguir, só para eu liderá-los da melhor maneira que poderia”.

Sok!

LeBron, Dwyane, e aí?

Não há crise entre os astros, mas o fotógrafo foi muito feliz neste corte, não?

O que vimos nesses dois embates foi isso, mesmo, especialmente na quinta partida. Com o Miami mais uma vez atrás do Indiana no placar ao final do primeiro tempo, o melhor jogador da liga se viu obrigado a carregar sua equipe a qualquer custo. A valente tropa comandada por Frank Vogel pagou o preço: ele anotou 16 pontos no terceiro período, e a parcial foi vencida por 30 a 13. Game over.

A defesa da equipe também voltou muito mais forte – mais sobre isso no tópico abaixo – e Udonis Haslem voltou a matar seus chutes de média distância. Mas o triunfo que começou suado e terminou tranquilo para o Heat aconteceu pela força da natureza chamada LeBron James. Ele deixou a quadra com 30 pontos, oito rebotes, seis assistências, essas linhas fantásticas que para o ala não passam de corriqueiras.

Só desta maneira para eles vencerem? Bem, no sétimo jogo, vimos que não necessariamente. Mas, em meio a esta briga de foice que se mostrou a série contra o Pacers, foi preciso. Porque, de uma hora para outra, o fanfarreado, famigerado e invejado Big 3 – que, para mim, sempre foi Big 2 + Bosh, aliás – havia se reduzido ao esquema de LeBron contra a rapa, com uma ou outra ajudinha de operários.

Há quem jure que, quando o desertor de Cleveland falou sobre os “maus e velhos” dias na cidade, não tinha a intenção de lançar uma indireta para seus companheiros. Que teria apenas achado graça da dinâmica do jogo e tal. Vai saber. Mas que foi merecido, não se discute.

Big 3?

Big 2 + Chris Bosh?

Entre Wade e Bosh, o (?) pivô foi o pior.

Naquele Jogo 5, somou sete pontos e cinco rebotes em 33 minutos. No geral, ele falhou em superar a marca de dez pontos nas últimas quatro partidas da série, vivendo noites miseráveis no ataque, com um aproveitamento de apenas 37,7% nos arremessos em sete jogos (contra 53,5% na temporada). De qualquer forma, talvez estivesse apenas em má fase? Ou talvez fosse muito difícil mesmo pontuar contra a defesa entrosada e combativa do Pacers? Talvez seu próprio time o estivesse ignorando, ou simplesmente não conseguiam encontrá-lo. De qualquer modo, para um sujeito de 2,11 m e ágil, haveria outras maneiras de contribuir se o jump shot não estava caindo, e não há desculpa para sua pífia média de rebotes: apenas 4,3 por partida. Inacreditável e inaceitável, embora não tão chocante, uma vez que apanhou apenas 6,8 no ano. Roy Hibbert meteu tanto medo assim?

“Não vou tentar dar nenhuma desculpa.Não me apresentei para meus companheiros hoje, e não vou deixar isso acontecer novamente. Estou realmente decepcionado comigo”, disse CB, que estaria incomodado por uma torção no tornozelo e não conseguiu evitar a derrapada.

Já Wade fechou o confronto com 15,4 pontos, 5,1 rebotes, 4,3 assistências, 1,1 toco e 1,3 roubo de bola. Não são números nada desprezíveis. O problema foi a inconstância durante o confronto – especialmente no intervalo entre os Jogos 4 6, em que matou apenas 11 de 34 tentativas de quadra, cometeu oito turnovers para apenas 11 assistências, com média de 12 pontos. Era um jogador que vinha vagando pela quadra nas últimas partidas e não parecia em nada com um dos melhores da história na sua posição.  Obviamente incomodado por um joelho estourado, perdeu muito de sua explosão e acabou mostrando como seu jogo depende ofensivo muito mais do físico do que técnica – já que lhe falta o fundamento mais básico do esporte, o arremesso. O Indiana ficava mais do que contente quando o veterano parava a sete, dez passos da cesta e soltava uma pedrada – foi facilmente contido por Lance Stephenson e/ou Paul George, facilitando a vida da defesa adversária como um todo, uma vez que a pressão só vem de LeBron. Nos Jogos 4 e 5, Mario Chalmers agrediu muito mais.

Ok, na hora de a onça beber água, a dupla reagiu, de certa maneira. Bosh teve nove pontos e oito rebotes (números medíocres), mas, epalelê!, somou três tocos, mostrando ao menos alguma garra defensiva, depois de conseguir apenas quatro bloqueios nas seis partidas anteriores. Já Wade teve um jogo muito mais enérgico, com 21 pontos e 9 rebotes (superando o “pivô”, reparem), seis deles na tábua ofensiva.

O esforço do ala-armador em especial foi valorizado, mas ainda não estava de acordo com suas capacidades. Ainda assim, tentou reforçar em quadra o apelo ao amigo de número 23. “Temos caras que individualmente querem jogar melhor. Mas nós temos de tentar ajudar um ao outro neste vestiário, sem deixar que o indivíduo se imponha por vontade própria”, disse. Nenhum nome foi citado, mas não precisa de dica nenhuma para entender quem seria o “indivíduo”, né? Especialmente depois de o supercraque ter feito suas controversas observações a respeito de como, de repente, tudo parecia com Cleveland.

Wade continuou com seu clamor (que também pode ser lido como “mi-mi-mi”, ficando a seu critério): “Nós temos de fazer um trabalho melhor para garantir que eu e Chris tenhamos nossas oportunidades para ter sucesso no decorrer dos jogos. É algo que temos de olhar como um time”.

Não há razão alguma para esse choro todo. Spoelstra cantou jogadas de pick-and-roll entre Wade e Bosh para o início das partidas contra o Pacers. Desde os tempos de Cavaliers, LeBron sempre foi conhecido como uma figura altruísta em quadra. Quem se lembra do lance em que ele foi avacalhado por ter passado uma bola decisiva nas mãos do ala Donyell Marshall num duelo com o Pistons nos playoffs? Aqui, a 1min25s:

É claro que ele está disposto a acionar seus companheiros de hoje, sempre esteve e vai continuar fazendo. Só precisa que cumpram sua parte no trato. A defesa do Spurs não é tão física, opressora como a do Pacers, mas funciona muito bem taticamente e foi a terceira melhora da temporada regular, com o brasileiro Tiago Splitter sendo fundamental aqui, inteligente que é na ocupação de espaços. Para derrubar os campeões do Oeste, também será uma batalha, e o Miami vai precisar da dupla que anda em baixa.

É isso, ou, apesar de todo o orgulho, que abram espaço para os atos de heroísmo de LeBron James. Talvez seja o bastante pelo bicampeonato. Talvez não.


Tim Duncan destoa de velhinhos e pode igualar marca histórica de Abdul-Jabbar nas finais
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Giancarlo Giampietro

O eterno Duncan

Duncan eterno: a chance de ser MVP de uma final 14 anos depois

Muitos velhinhos começaram a temporada da NBA beirando ou ultrapassando a casa de 40 anos. Poucos deles chegaram aos playoffs inteiros e com relevância em suas equipes. Enquanto isso, Tim Duncan, de alguma forma, segue arrebentando pelo San Antonio Spurs, desafiando qualquer lógica, ou, pelo menos, o padrão apresentado por seus contemporâneos.

O torcedor do New York Knicks sabe muito bem do que estamos falando, né? Durante o ano, Jason Kidd, Rasheed Wallace, Kurt Thomas e Pablo Prigioni deram sua contribuição para a primeira campanha decente da equipe desde a saída de Jeff Van Gundy no início da década passada. Chegaram os playoffs, e Sheed e Thomas estavam fora de ação, assim como Marcus Camby, que mal foi para quadra no campeonato. Jason Kidd terminou os mata-matas com dez jogos seguidos sem fazer nenhuma cesta, tendo marcado apenas 11 pontos no total em duas séries – não à toa resolveu encerrar sua carreira no fim de semana passado. Prigioni, vai saber, talvez só tenha aguentado o tranco por ter sido guardado por um bom tempo à sombra do recém-aposentado. Melancólico.

Ainda assim, o Knicks passou na primeira rodada pelo Boston Celtics de Paul Pierce e Kevin Garnett, que alternaram bons e maus momentos no confronto, sendo muito mais relevantes que os adversários anciões, mas não tiveram forças para abrir mais uma longa campanha na fase decisiva. Assim como seu arquirrival Los Angeles Lakers, que mal pôde usar um Steve Nash todo arrebentado e teve de assimilar uma varrida pelo Spurs, sendo que Kobe Bryant acompanhava tudo de casa.

Tim Dunk, dãr

Duncan dá suas machadadas ainda

No Miami Heat, Ray Allen, que era aparentemente incansável, viu seu aproveitamento de três pontos despencar desde o confronto com o Chicago Bulls, acertando apenas 30,8% contra o Indiana Pacers, uma heresia considerando seu currículo. Rashard Lewis só sai do banco quando o jogo está decidido. Juwan Howard é mais um assistente técnico do que um pivô da equipe.

Enfim, tudo isso poderia servir como bom argumento para um artigo que discutiria o quanto vale, hoje, investir seriamente nesses quarentões ou quase na NBA superatlética de hoje, com um calendário ainda muito desgastante, não importando muito os voos fretados e mimos oferecidos pelos clubes. São jogadores que te ajudam no começo, mas, se forem muito exigidos durante a campanha, te deixam na mão na hora do vamos ver. Há uma tese a ser defendida aí, não?

Pois é.

Não fosse Duncan e seu San Antonio Spurs.

“Estou muito focado em mais uma oportunidade de conquistar outro campeonato, tentando vencer”, afirma o nativo das Ilhas Virgens. “Não estou preocupado sobre o quão velho eu sou ou qualquer coisa perto disso.”

E por que Duncan deveria estar preocupado com seus 37 anos?

Quando você olha para o pivô em quadra, é claro que tem diferença para aquele que entrou na liga em 1997 já destinado a entrar no Hall da Fama. Embora Duncan nunca tenha sido celebrado como uma aberração física como Kevin Garnett (mais veloz e explosivo), sempre foi um jogador com uma coordenação absurda para alguém de seu tamanho, o que já é uma capacidade atlética em si. Esse controle motor ainda está lá, mas com algumas limitações em seus movimentos. Tudo sai de modo um pouco mais custoso perto da cesta. Na verdade, hoje ele opera muito mais de média distância, na cabeça do garrafão, do que no auge, quando dominava com facilidade os adversários de costas para a cesta, ainda que pudesse atacar frontalmente sem problema algum.

Duncan light

Um Tim Duncan mais light em 2013

Sua vantagem, no entanto, é que seu basquete sempre pendeu mais para seus recursos técnicos e seu domínio tático do jogo. O cara não ganha o apelido de Big Fundamental por qualquer bobagem. Arremessos de média distância buscando o quadradinho em ângulos improváveis. Os ganchos de esquerda e direita, o jogo de pés criativo e eficiente, girando para todos os lados. O tempo perfeito para tocos e rebotes, a capacidade de recolher a bola fora de seu espaço – e sua loooonga envergadura não faz mal nenhum aqui. A capacidade tanto para executar como para receber os passes picados, de costas ou os passes mais simples e ainda mais importantes, devido a suas mãos gigantes e maleáveis. Enfim, o pacote completo, de modo que até poderia parecer injusto.

Mas essas coisas você não conquista apenas por talento natural. Tem de trabalhar bastante para atingir um determinado nível e flertar com ou, no seu caso, atingir a excelência. E Duncan segue dando duro, sem se importar com todas as suas condecorações: melhor jogador universitário em 1997, novato do ano da NBA em 1998, 14 vezes no All-Star Game, MVP das finais da NBA em 1999, 2003 e 2005, MVP da NBA em 2002 e 2003. Tetracampeão. “Ele é o maior ala-pivô de todos os tempos”, diz Chauncey Billups. “Seu retrospecto só mostra como o basquete de verdade prevalece. O basquete de fundamentos, eficiente, cerebral ainda é o jeito certo para se jogar.”

Para se manter relevante, Duncan afirma ter perdido cerca de 12 kg durante as férias, para ganhar agilidade. “Eu meio que mudei minha dieta no verão mais do que tudo. Nos últimos anos, meu jogo caiu um pouco e mudou. Mas eu não estava pronto para permitir isso, para deixar rolar. Pensei que se eu me tornasse mais leve, poderia diminuir a dor no meu corpo e ter uma temporada melhor”, afirmou.

As Torres Gêmeas do Spurs

Torres Gêmeas com Robinson enfim campeão e Duncan MVP lá em 1999

Parece que deu certo. Eleito para o primeiro quinteto da temporada, com um desempenho incrível, o veterano tem agora médias de 17,8 pontos e 9,2 rebotes 2,1 assistências, 1,7 toco. “Ele está jogando de modo incrível. Não sei se muitas pessoas na sua idade já fizeram isso na história da NBA”, disse Tony Parker. É difícil encontrar algo parecido, mesmo. Fazendo uma breve pesquisa, chegamos a um certo Kareem Abdul-Jabbar, que, aos 37, teve médias de 21,9 pontos, 8,1 rebotes, 4 assistências e 1,9 toco. Afe. Mas olha o nível sobre o qual estamos falando, né?

Abdul-Jabbar, aliás, evoca uma façanha que Duncan pode repetir neste ano. Ainda que LeBron esteja do outro lado, que Parker seja hoje a principal arma do Spurs, seu companheiro tem chances de ser o MVP das finais novamente, não? O mítico pivô do Bucks e Lakers conseguiu ser eleito melhor jogador de duas decisões separadas por 14 anos (1971 e 1985). Duncan ganhou esse troféu em 1999. De lá para cá, são precisamente 14 anos de intervalo.

Não que ele se importe com qualquer coisa nessa linha. “Estou muito concentrado em outra oportunidade de conquistar outro campeonato. Já fomos descartados por muitos anos, e hoje parece que não jogamos as finais há uma eternidade”, afirma o jogador.

Na verdade, são apenas seis anos desde que eles disputaram e ganharam o título de 2007, quando seu time superou o Cavs de um jovem LeBron James. De eterno, mesmo, para Duncan, apenas o seu jogo.


Miami, enfim, iguala intensidade do Indiana, se livra de zebra e está na final da NBA
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Giancarlo Giampietro

Chris Bosh vive na defesa!

Até o Chris Bosh marcou bem nesta segunda. Aí complicou para o Indiana de David West

De tanto que se fala, pode parecer o discurso mais automático de todos, uma falácia, o clichê dos clichês. E nem sempre esse discurso explica tudo, mesmo. Mas que pode fazer diferença? Ô se pode.

Tudo isso para falar de “energia”, “intensidade”, “vontade”, “raça”. São quesitos que supostamente seriam obrigatórios para jogadores que ganham milhões e milhões por seus contratos – só de salário. Mas nem sempre é fácil, assim, de se explicar. Nem sempre estamos falando exatamente de coração: “cabeça” pode explicar isso muito bem: a concentração para executar aquilo que é necessário em quadra.

Paremos por aqui, contudo. Independem as razões para as oscilações de empenho na análise deste Jogo 7: uma vez que o Miami Heat enfim pôde fazer frente, mesmo, consistentemente, frente ao Indiana Pacers  nas pequenas coisas, na briga pelos rebotes, na aplicação defensiva, seu talento fez a diferença. Vitória por 99 a 76 e a vaga nas finais da NBA para enfrentar o San Antonio Spurs.

Comecemos pelos rebotes, a batalha que todos julgaram ser impossível para os atuais campeões desde o começo da série. Nesta segunda-feira, o time da casa dominou as coletas (43 a 36), em especial na tábua ofensiva (15 a 8).

LeBron, rumo ao aro

LeBron e o Miami agrediram muito mais o aro no Jogo 7, sem ajuda dos juízes

Destaque aqui para Chris Bosh. Sim, é possível! No caso, consegue pegar mais de cinco rebotes num jogo! Vocês podem não acreditar, mas ele apanhou nove nesta partida decisiva, um recorde pessoal na final do Leste. Mas a ovação fica por conta, mesmo, de Dwyane Wade. O ala-armador orgulhoso e quebradiço que  até mesmo superou Bosh no garrafão com nove rebotes – seis deles ofensivos! Spoelstra chorou ao checar as estatísticas finais, certeza.

Além disso, temos o caminhão de 21 desperdícios de posse de bola cometidos pelo oponente. Mesmo quando venceram o primeiro tempo período por dois pontos, os jogadores do Pacers não tiveram a chance de se sentirem confortáveis em quadra. Cometeram nos 12 minutos iniciais 9turnovers. Eram 15 ao final do primeiro tempo. Reparem, então: cometeram apenas seis na segunda etapa, mas, francamente, o confronto já estava decidido. Uma vez que o time da casa abriu 15 pontos antes de ir ao intervalo, a fatura estava praticamente liquidada.

Pois o Pacers depende em demasia de seu quinteto titular (mais a respeito em um artigo sobre o fechamento de temporada deles). Significava, basicamente, que seus cinco principais jogadores precisariam fazer um trabalho tão impecável a ponto de tirar uma desvantagem dessas em 24 minutos de jogo contra um time que tem LeBron James. Muito difícil.

Mas mais difícil ainda quando esse mesmo time está jogando com uma defesa dessas. É impossível jogar com esse tipo de suor o tempo todo, 48 minutos por partida. Quando eles conseguem, todavia, entregar por alguns – ou muitos – minutos uma defesa com um nível de pressão acima da média dentro das quatro linhas, fica muito difícil. E só assim, mesmo, para inverter o tabuleiro apresentado apresentado na série.

Penando por todo o confronto com Roy Hibbert debaixo da cesta, resolveram cortar, de uma vez por todas, seu acesso ofensivo. Em vez de parar o poste com a bola dominada, melhor evitar que ele a receba de vez, não? E taca Mike Miller flutuando para a cabeça do garrafão, Bosh (aleluia!) marcando de modo antecipado, nem que fosse com um posicionamento 3/4 consistente, Chris Andersen, Udonis Haslem, Wade, Chalmers, todos eles esticando bem os braços, procurando o passe, acotovelando, cutucando, incomodando, sufocando, desgastando. Sem contar a defesa exemplar de LeBron para cima de George: colado em seu jovem e emergente rival (só 7 pontos em 2/9 de quadra, com 4 assistências e três turnovers), sem perder a pose ou o foco. Impressiona demais mesmo quando não faz cesta.

Como se ele também não tivesse arrebentado no ataque, ué: foram 32 pontos em 40 minutos, 15 deles na linha de lances livres (traduzindo: agressividade ao extremo e sem a ajuda da arbitragem geralmente caseira da liga). Perdeu o medo de encarar Hibbert? Sim. Mas também enfrentou  menos o paredão do Indiana rumo ao aro, uma vez que o gigantão teve um raríssimo problema com faltas no duelo. Além disso, o astro desta vez contou com a ajuda de Wade (19 pontos, 7/15, 5 lances livres) e Ray Allen (10 pontos, todos no segundo quarto decisivo). Quem é vivo aparece, gente. Wade definitivamente não jogou como o craque de sempre, mas ao menos compensou a explosão reduzida com um pouco mais de coragem.

Com a vitória, o Miami se insere num grupo seleto de equipes a jogar a final da NBA por, no mínimo, três anos seguidos: apenas o Los Angeles Lakers (em seis ocasiões), o Boston Celtics (duas), Chicago Bulls (duas), Detroit Pistons (uma) e Knicks (uma, nos anos 50) deram conta disso.

Só mesmo, os elencos mais talentosos para se estabelecer desta maneira.

Desde que a habilidade natural esteja acompanhada por tudo aquilo que os técnicos imploram nessas gravações registradas em discursos inflamados durante paradas de tempo. Súplicas que podem parecer as mais banais. Mas que, no calor de uma decisão, podem fazer toda a diferença.

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Pequenos detalhes. Dentro e fora de quadra. Como Erik Spoelstra  comprovou neste jogo ao limar Shane Battier de sua rotação e inserir Mike Miller. Para os técnicos conscientes, metódicos, é algo MUITO difícil de se fazer. Pense o seguinte: você ficou com um padrão de equipe por mais de 90 partidas no ano. Chega uma hora, porém, em que fica de frente para a parede. As coisas estão difíceis, tem de fazer algo. Mas primeiro você se sente obrigado a tentar até o último instante a reabilitação de um de seus homens de confiança. Até que chega a hora em que diz chega. E, para Battier, ao menos no duelo com o Pacers, chegou o fim. Toca botar Mike Miller, que estava afundado no banco de reservas, em quadra.

Mike Miller x Paul George

Mike Miller, mais do que um chutador e peça quase esquecida no banco do Miami. Talento

Miller foi muito bem em pouco tempo no Jogo 6 e mostrou que estava pronto. Na volta a Miami, não contribuiu em nada no ataque naquele fundamento que basicamente paga seu salário – o chute de longa distância –, mas mostrou por que já foi um agente livre cortejado por James e Wade para se juntar ao time. Porque ele pode fazer, sim, mais do que arremessar. Ótimo reboteador para sua posição, bom passador e um jogador inteligente que cobre bem os espaços dos dois lados da quadra. Fez a diferença em diversas posses de bola dessa maneira: ajudou muito nas dobras defensivas do segundo período derradeiro e conseguiu várias interceptações. Não por acaso, em sua linha estatística, o número mais elevado foi de roubos de bola: três. Parece nada, mas é muito mais do que o esperado e, ao mesmo tempo, descreve muito pouco o que ele fez em quadra.

E ter um Mike Miller como solução de última hora diz muito a respeito do desnível de talento nos dois grupos. O cabeludinho certamente seria o sexto homem do Pacers se estivesse do outro lado.

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Frank Vogel foi duramente criticado por sua decisão de sentar Roy Hibbert na posse de bola final da prorrogação do primeiro jogo. Uma pane que acabou sendo custosa demais, e ele mesmo assumiu o erro. Neste Jogo 7, seu erro foi um o pouco mais sutil, mas também valeu como uma senhora derrapada. Ele falhou feio em sua rotação. Depois de vencer o primeiro período por dois pontos, abaixou a guarda muito rapidamente, ao descansar três titulares de uma vez (DJ Augustin, Sam Young e Tyler Hansbrough), permitindo a reação imediata – e a escapada dos adversários no placar. Uma coisa as estatísticas mais avançadas mostraram claramente na série: quando o Indiana tinha seus cinco titulares, juntinhos, ao mesmo tempo em ação, a equipe venceu o Miami Heat. Qualquer outra formação, porém, mesmo que fosse apenas um reserva acompanhando quatro titulares, deu Miami. Numa partida dessas, era hora de segurar um pouco mais as mudanças, mesmo que se corresse o risco de esgotar o quinteto inicial. Era a hora de ver como o oponente viria para quadra e, aí, tomar uma decisão. Mas tudo bem também: o que o treinador tirou de um plantel limitado desses é incrível, e, apenas em sua terceira temporada como o comandante, está crescendo junto com seus atletas.

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Depois do jogo de cartas e blefes entre Popovich e Spoelstra durante a temporada regular – nos dois confrontos diretos entre dois candidatos ao título, pelo menos um dos times poupou alguns de seus principais jogadores –, agora chegou a hora de eles e suas equipes se enfrentarem para valer em quadra. As finais começam no dia dia 6, quinta-feira, em San Antonio Miami, claro. Expectativa de um grande embate.