Vinte Um

Arquivo : junho 2013

O Fantástico Mundo de Ron Artest: Quem quer ser estrangulado?
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Giancarlo Giampietro

Antes da criação do Vinte Um, um projeto mais modesto, mas seguramente mais divertido era criar um blog todo voltado ao ala Ron Artest, do Los Angeles Lakers.

E bancaria como? A começar pela leitura do site HoopsHype, obrigatória para qualquer fã de basquete, devido ao acúmulo absurdo de informação oferecido diariamente, com tweets e declarações dos jogadores, jornalistas, dirigentes e trechos de reportagem do mundo todo.

As novelas das negociações de LeBron James e Carmelo Anthony foram certamente as líderes em manchetes nos últimos anos desse site agregador de conteúdo. Afinal, é o tipo de assunto que rende boato, respostas a boato e os boatos que, então, brotam desse processo.  Mas há também um personagem que dia sim, dia não vai estar presente por lá, geralmente no pé dos boletins de rumores, puxando a fila dos faits divers. Ron Artest, senhoras e senhores.

Sucessor natural de Dennis Rodman na prática do lunatismo – embora com personalidades e natureza completamente diferentes, num mano-a-mano que deve ser explorado em uma ocasião futura  –, Ron-Ron vai ganhar o seu próprio quadro aqui. Nos tempos em que a ordem é racionar na vida em sustentabilidade, o jogador não nos priva de sua condição de fonte de humor inesgotável.

*  *  *

Ron-Ron não faz mais isso

O fantasma de Ron Artest Jr. ainda assombra o Metta World Peace nas ruas

Ron Artest já é a revelação da pós-temporada da NBA. Fora das quadras.

De tanto que tuitou sobre tudo e todos, evoluiu em sua retórica de 140 palavras a tal ponto que, chegaram as finais da NBA, e o cara já estava fazendo analogias sobre como se prepara um cheeseburger verdadeiramente decente e o que isso tem a ver com um time estar preparado, ou não, para ganhar um jogo rumo ao título.

Coisa de gênio, você sabe.

E esse é o tipo de coisa que não passa despercebida no mercado americano. A caça aos talentos nunca para. Por isso, acreditem, o #mettaworldpeace participou até mesmo de alguns programas ao vivo da ESPN, rede controlada pelo grupo Disney, veja só.

No final, o ala do Lakers faz um esforço legítimo e comovente para mudar sua imagem de pancada da cabeça, pinel. Mas parece que não vem dando muito certo. : (

Dia desses ele estava se lamuriando no Twitter, claro, sobre como a percepção sobre sua personalidade ainda é associada com atos de demência: “Estou tão puto porque as pessoas estão sempre pedindo para tirar fotos, mas, quando elas pedem, querem que que eu coloque meu cotovelo na cara deles. Ou pedem para que eu as estrangulem”.

(Risos.)

“Veio essa modelo uma vez e disse: ‘Metta, vamos tirar uma foto, mas você poderia me estrangular como Ron Artest Jr. faria?’ – eu, tipo: ‘É sério’?”, exemplificou.

Pode uma coisa dessas, gente? Há todo um ser humano ali, tentando ser amado, e as pessoas – sempre elas – com pedidos tão politicamente incorretos como esses?


A primeira decisão certa de Michael Jordan? Novo técnico do Bobcats é aclamado
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Giancarlo Giampietro

Steve Clifford, da irmandade

Chegou a vez de Steve Clifford em mais uma aposta de Michael Jordan

Olha, vocês podem até estranhar, ou e assustar, mas, A julgar pela reação despertada pela contratação de Steve Clifford como técnico do Charlotte Bobcats, dessa vez o melhor jogador de todos os tempos e um dos piores dirigentes da história, parece que o cartola Michael Jordan acertou uma.

É sério.

Entre jogadores que já trabalharam com o treinador e outros companheiros de prancheta, como um amigo disse, parecia a maior injustiça do basquete, para não dizer do mundo, que Clifford, assistente toda a vida, ainda não estivesse à frente de uma equipe. Qualquer equipe que fosse. Mesmo que seja o Bobcats.

MKG e Kemba

Kidd-Gilchrist e Kemba Walker são as apostas de Clifford para sonhar em Charlotte. Time que quase nunca festeja

E, bem, tomara mesmo que seja o caso, né?

Afinal, ele será o sexto treinador diferente da franquia desde a temporada 2006-2007. A lista de antecessores: Bernie Bickerstaff, Sam Vincent, Larry Brown, Paul Silas e Minke Dunlap.

Desses, quem teve o melhor rendimento foi o legendário Brown, único treinador a ter sido campeão tanto universitário como da NBA. E, por melhor rendimento, saiba que estamos falando de aproveitamento de 45,8% em duas campanhas. Abaixo da mediocridade, isto é, ainda que, no meio do caminho, tenha garantido pela única vez o Bobcats em uma edição dos playoffs, em 2010, com mais vitórias (44) do que derrotas (38).

Com as constantes trocas que pede e orquestra, ele conseguiu reunir um elenco realmente decente, com Stephen Jackson, Gerald Wallace, Raymond Felton, Boris Diaw, Tyson Chandler, Nazr Mohammed, Tyrus Thomas, Raja Bell, Gerald Henderson e DJ Augustin. Esse não lembra um time de NBA? Quer dizer, pelo menos em 2010, quando Thomas ainda estava vivo e Wallace e Jackson, sem problemas de junta, lembrava, sim.

O problema é que Brown não consegue parar sossegado. A cada mês ele se enamora por um jogador e passa a detestar o outro. E toca mandar mensagem, telefonar, beliscar, cutucar o ombro e fazer sinal de fumaça em direção ao proprietário e o gerente geral para pedir mais e mais negociações. Até que chega aquele momento em que a relação fica (ficou) insustentável.

De acordo com relatos diversos, Jordan não deve ter esse tipo de problema com Clifford. “Acho que ele tem grande habilidade com as pessoas e grande qualidade como um técnico de basquete”, afirmou Jeff Van Gundy, ex-comandante do Knicks e do Rockets, hoje comentarista da ESPN. “Steve é o tipo de cara que pode treinar times jovens em reconstrução, times que estejam beirando os playoffs e times experientes. Eu realmente acredito nisso.”

A irmandade dos técnicos

SVG e Clifford nos tempos de Orlando

Clifford trabalhou com JVG nas duas franquias. Seus laços com a família Van Gundy, então, se estenderam para Stan e o Orlando Magic, com o qual trabalhou de 2007 a 2012 – e as coisas funcionam assim, mesmo, na liga. Os cargos de técnicos são constantemente entregues, distribuídos dentro de uma irmandade. De vez em quando um ou outro escapa, como no próprio caso do novo Bobcat, que esteve com o Lakers no último campeonato, deslocado no estafe de Mike D’Antoni.

A irmandade dos Van Gundy tem Pat Riley como patrono, Erik Spoelstra como o caçula e Tom Thibodeau, outro ex-assistente do Rockets, no meio. Essa turma toda saiu estourando champanhe por aí por esses dias. Thibs mandou mensagem para SVG: “Este é um grande dia para todos nós”.

Sobre o assunto, SVG se tornou a fonte número um para os jornais de Charlotte, uma vez que chefiava a comissão com Clifford por cinco anos em Orlando. “Steve é um grande treinador. Ninguém merecia mais. Ele não tem ponto fraco. É ótimo no riscado e um tremendo professor. Vai deixar seu time preparado todas as noites”, disse.

Agora, os elogios não se resumiram só aos amigos. Diversos jogadores elogiá-lo. Entre eles: JJ Redick, Marcin Gortat, Quentin Richardson e Hidayet Turkoglu, entre eles. “Parabéns! Grande técnico e ótima pessoa! Grande contratação! Adorei trabalhar com ele”, tudo nessa linha. “O Bobcats vai vir forte no ano que vem!”, sublinhou Gortat. Isso não é nada normal, gente. De jogadores falarem em público de um treinador com o qual nem vínculo direto eles têm mais.

Fica a expectativa, então, para o trabalho que vai ser realizado em Charlotte, em sua primeira jornada como treinador principal. “Qualquer bom treinador tem uma boa e clara visão sobre como quer ver seu time treinando e jogando – e eu tenho isso. Já vi que a carga certa de trabalho e de comunicação podem fazer para um time. Sim, sou inexperiente como treinador, mas estou confiante e sei como quero fazer isso”, disse o técnico, que assina contrato de dois anos com um terceiro opcional para a franquia.

Clifford vai herdar uma equipe que venceu apenas 28 partidas e perdeu 120 nos últimas duas temporadas. Um aproveitamento de 18,9% no geral, cacilda. Quer dizer, então, que vai precisar de toda a boa fé do mundo. Quando chegou a parada do All-Star Game, já eram 12 vitórias e 40 derrotas.

*  *  *

No dia 24 de novembro de 2012, o Charlotte Bobcats tinha sete vitórias e cinco derrotas. No início de campanha, bateram Indiana Pacers (veja só!) e Dallas Mavericks. Uma nova era! Que nada: até o dia 29 de dezembro, eles perderam 18 partidas seguidas, e o sonho acabou. Foram terminar o ano com 21 triunfos e 61 reveses, graças a uma inacreditável sequência de três resultados positivos nas últimas rodadas.

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É por isso que fica qui, então, uma paródia da música “Don’t Stop Believin'”, da banda Journey, sobre as dificuldades de se jogar pelo Bobcats:

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No momento, o processo de mudança de Charlotte Bobcats para o bom e velho Hornets ainda não tem um prazo certo, mas deve acontecer. Pode ser que seja concluído apenas para 2014-2015. Pelo menos essa parte do universo se acerta, né? Se o Jazz não está nem perto de sair de Utah, voltando para New Orleans, que pelo menos a marca Hornets volte para o lugar de onde nunca deveria ter saído.


Draft: como está o status dos brasileiros que se candidatam à NBA
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Giancarlo Giampietro

Passada esta final eletrizante e memorável, é hora de nos dedicarmos ao próximo passo da NBA. Porque o show não pode parar.

É hora do Draft! Um dos meus períodos favoritos do ano, acreditem.

Não deu para comentar isso durante os últimos dias malucos – do ponto de vista pessoal –, mas as três brasileiros que se candidataram este ano decidiram manter a inscrição no processo de recrutamento de novatos da liga: Lucas Bebê, Raulzinho e até mesmo o ala Alexandre Paranhos. O que surpreende, bastante.

(Lembrando que Augusto Lima não pode ser incluído neste grupo em específico porque sua participação, devido ao ano de nascimento, já é automática. Assim como todo brasileiro que veio ao mundo em 1991.)

Lucas Bebê em Treviso

Bebê está subindo nas tabelas…

Desta forma, fazendo as contas, são pelo menos quatro os brasileiros tentando ingressar na liga efetivamente, restando agora menos de uma semana para a cerimônia do dia 27 de junho, no ginásio do Brooklyn Nets.

Agora estamos no ponto desse processo em que os prospectos vão cruzando os Estados Unidos de costa a costa para treinar em privado pelas equipes. Essas sessões podem alternar: há jogadores que se recusam a duelar com outros em quadra e são avaliados individualmente ou apenas entrevistados e examinados. Há aqueles que estão sedentos para esse tipo de batalha, para provar que têm condição de subir nos rankings de um time em específico.

Esse tipo de treinamento produz muitas vezes causos e causos.

Nunca vou me esquecer dos relatos que vieram de Memphis no ano de 2003, quando Leandrinho seguia a trilha de Nenê. Há dez anos já! Caraca.

Pois bem, o ala-armador brasileiro havia acabado de fazer toda uma preparação especial sob a tutela de Ron Harper, em Cleveland. Aos poucos, começou aquele burburinho que aumentou consideravelmente num treinamento pelo Grizzlies, ainda gerido por Jerry West naquela época. Ali, Leandro bateu de frente, literalmente, com um prospecto vindo de Marquette, um certo Dwyane Wade. Segundo consta, o pau comeu nas atividades em quadra, e o hoje superastro do Miami Heat teria reclamado para West sobre o excesso de agressividade de seu adversário. Velha Escola, o Logo teria sorrido maliciosamente, se divertindo com o que via.

Um ano depois, em 2004, quem estava em turnê pré-Draft era o Rafael “Baby” Araújo. Formado por BYU, seu jogo não era nenhum mistério para os scouts e dirigentes. “Hoffa” (nos EUA) era cotado como um dos melhores pivôs daquela safra – pensem nisso: ele foi draftado em oitavo pelo Raptors, enquanto Anderson Varejão saiu apenas em 30º, via Orlando Magic, depois trocado para o Cleveland Cavaliers. Ainda assim, precisava provar seu valor nesses testes. E, para todo lugar que ia, parece que se cruzava com outro grandalhão, David Harrison, da universidade do Colorado. Dizem que chegou um momento em que os dois já não se aturavam mais, de tanta pancada que haviam trocado em um curto período. Até que saíram no tapa, mesmo.

 É por isso que passam os brasileiros agora.

Das notícias que temos, Lucas Bebê já treinou por Utah Jazz (14ª e 21ª escolhas) e Minnesota Timberwolves (9ª e 26ª). O brasileiro é visto hoje como um candidato certeiro ao primeiro round do Draft, e há quem já o coloque entre os 20 mais bem cotados depois da ótima exibição no camp de Treviso.

Em Utah, ele duelou com Mason Plumlee, jogador formado pelo Coach K em Duke, muito mais polido e três anos mais velho. Interessante que o Jazz esteja olhando para grandalhões também, quando o mais lógico seria buscar um armador . Talvez porque saibam que dificilmente vão manter Millsap e Al Jefferson, precisando preencher a rotação em torno dos ultratalentosos Enes Kanter e Derrick Favors. Já em Minnesota o carioca competiu com outro “marmanjo”, Jeff Withey, de Kansas, também com três anos a mais de cancha.

Augusto, por sua vez, lutaria por uma vaga no segundo round. Por isso, já foi testado pelo Wolves (que tem também as 52ª e 59ª escolhas), pelo Golden State Warriors (que, curiosamente, não tem nenhuma escolha de Draft, mas sempre pode se envolver em alguma troca ou simplesmente comprar uma, algo mais fácil na segunda rodada) e pelo Indiana Pacers (23ª e 53ª). Nas duas últimas sessões, o brasileiro concorreu com o iraniano  Arsalan Kazemi, prospecto da universidade de Oregon.

Sobre Paranhos, as informações são escassas. O ala ex-Flamengo, de potencial físico incrível, mas que mal jogou pelo clube carioca nos últimos dois NBBs, está sendo promovido nos Estados Unidos por Artur Barbosa, o irmão mais velho de Leandrinho. Artur enviou um email ao jornalista Henry Abbott, do blog ThrueHoop, da ESPN, para falar sobre o garoto. Em seu texto, revela que o ala foi testado pelo Houston Rockets. O Milwaukee Bucks foi outro que o observou de perto.

*  *  *

Sobre Raulzinho, não há relatos de que esteja treinando nos Estados Unidos, mas tenho uma pequena informação: há um time da Conferência Oeste bastante interessado pelo armador. Seu estafe ficou impressionado com sua exibição em Treviso, onde foi eleito o MVP do camp.


Shane Battier reencontra o rumo no momento certo: o jogo da vida de um operário nerd
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Giancarlo Giampietro

Shane Battier

Os deuses do basquete fizeram as pazes com Shane Battier

O Shane Battier? Um cara muito chato.

Pelo menos para quem joga contra ele. Com os homens de San Antonio poderão afirmar agora, depois de o veterano de 34 anos ter reaparecido pelo Miami Heat para ser o coadjuvante de luxo de LeBron James no dramático Jogo 7 que deu o segundo título seguido ao clube da Flórida.

“Os relatos sobre meu falecimento foram um pouco prematuros. Essa é minha declaração de abertura”, foi o que disse o ala em sua coletiva pós-final, convidado para subir ao palanque, em lugar geralmente reservado para outro tipo de gente. Mas que, nesta ocasião foi merecido – e parece adequado, oras, para alguém apelidado de “Mr. President” (na China. Sério. É por causa do Yao Ming.).

Com uma retórica irônica e sagaz, que o torna um dos favoritos dos jornalistas, em quadra ele é daqueles que qualquer treinador vai amar. Por sua alta compreensão do que se passa em um jogo de basquete e sua disposição a se sacrificar em prol do time.

Domina os, digamos, fundamentos para se cavar faltas ofensivas, capacidade que vem se tornando mais e mais importante a cada temporada na medida em que as defesas apostam no congestionamento do garrafão no lado em que está a bola. Um tipo de posicionamento popularizado pelo maníaco Tom Thibodeau. No qual o deslocamento lateral é essencial, para a ocupação rápida de espaços, desencorajando as infiltrações adversárias. Assim: se vocês querem fazer a cesta, que chutem daí mesmo, de média ou longa distância, sabendo que ainda vamos contestá-lo.

Nesse sentido, Battier pode ser uma dor-de-cabeça para os atacantes mais arrojados (isso para não usar a expressão mais vulgar inglesa, que começa com “a pain” e termina com “ass”). Com instintos aguçados para ler a jogada, perspicácia e uma caixola que é um vasto banco de dados – ele devorava os relatórios estatísticos do Rockets –, ele aparece sempre na hora certa e no lugar certo.

Além das faculdades mentais, requer também para a missão a coragem e a entrega. A disposição para aceitar o contato. Trombar com um Tony Parker ou mesmo Danny Green pode não ser a pior coisa do mundo. Agora tente fazer isso quando quem vem em sua direção é um trem como Ron Artest ou… LeBron James.

Vocês acham que foi à toa que tanto o MVP da liga como Dwyane Wade recrutaram Battier dois anos atrás? Já deviam estar cansados deste nerd importuná-los em confrontos com Houston Rockets e Memphis Grizzlies. Da mesma forma, não demorou nada para que o ala aceitasse a oferta do Heat: ao menos ele tirava da sua frente dois dos jogadores mais difíceis de serem marcados também. Todos saíram ganhando. Menos as outras 29 franquias restantes.

Battier se tornou uma peça fundamental na construção do atual Miami Heat, devido a sua capacidade e disposição para marcar alas-pivôs e poupar LeBron James deste tipo de contato físico prolongado, ao mesmo tempo em que, no ataque, entra no papel de atirador, espaçando a quadra com seus chutes de três pontos.

Durante os playoffs, porém, o tiro de Battier parou de cair. Seu aproveitamento havia caído de 43% na temporada regular para apenas 25% nos mata-matas. Contra o Pacers, ele ainda não conseguiu se segurar na defesa, apanhando uma barbaridade de David West. Aí que Erik Spoelstra se viu obrigado a reduzir seus minutos – mas sem afastá-lo por completo da rotação. Havia a esperança, claro, de que uma hora ele pudesse voltar a contribuir, mesmo que continuasse mal no ataque, acertando apenas um de seus primeiros nove arremessos de longa distância. Do Jogo 1 ao Jogo 4, não atuou por mais do que nove minutos, perdendo espaço para Mike Miller.

Até que, na quinta partida, em meio ao terceiro revés diante de San Antonio, ele conseguiu fazer duas bolas de longa distância e tomou os minutos de Udonis Haslem, jogando por 18. Era um  sinal de que estava pronto para voltar? Infelizmente para o Spurs, sim. E o ala desembestou e acertou nove de seus próximos 12 arremessos de longa distância, incluindo uma atuação histórica no Jogo 7, com seis bolas convertidas em oito tentativas. Era uma bomba atrás de outra, a ponto de Spoelstra não poder mais tirá-lo (jogou por 29 minutos). “Eu acredito nos deuses do basquete e eles me deviam uma grande partida dessas”, disse Battier, para depois voltou a seu raciocínio mais terreno, analítca: “Fui muito mal na maior parte da série, então foi muito bom me recuperar de acordo com a lei das médias, do equilíbrio”.

Seus companheiros mal poderiam esperar por seu regresso. “O  Shane não acertava um arremesso desde eu não sei quando, mas hoje à noite ele estava simplesmente inconsciente”, disse Wade, rindo. “Ele é um jogador para grandes momentos. Por isso você fica muito na torcida por Shane, por tudo o que ele representa. Shane, ele é um do companheiros de equipe favoritos que já tive, tudo por causa do cara que ele é.”

Tá vendo? É um cara bacana. É só jogar com ele.


Mais um momento Mandrake para Gregg Popovich. Chocante!
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Giancarlo Giampietro

Outro dia estava falando aqui de Pelé e aposentadoria. Agora é hora de evocar outra memória dos encontros da família Giampietro, quando meu tio e padrinho, que me catequizou em histórias em quadrinhos, tirava de vez em sempre uma referência desse mundo, ao qual estava me habituando, para comentar outro, o dos esportes, que sempre segui. Pois ele adorava falar de um treinador como um “Mandrake“, em alusão ao mágico que estrelava tiras diárias nos anos 30. Apesar de toda a sua simpatia por esse ilusionista, quando – rá! – tirava da cartola esse termo, era para desancar um técnico e suas invencionices. Era a sua versão para “Professor Pardal”, digamos, embora ache que a crítica também tenha a intenção de atingir as facetas marotas dos profiessshores, quando eles querem sair da reta depois de alguma besteira.

Mandrake

Mandrake

Para comentar mais uma atitude inexplicável de Gregg Popovich, vamos nos ater ao lado pardalesco da coisa – porque o caráter do Coach Pop não se discute. Fiquemos, sim, com as engenhocas táticas que ele apresentou nos momentos finais das últimas duas partidas das finais da NBA entre o seu San Antonio Spurs e o Miami Heat.

Pois bem: depois de sacar Tim Duncan em duas  defesas no Jogo 6, agora no Jogo 7, ele me resolve tirar Tony Parker de ação no ataque, restando apenas 27 segundos (ou uma posse de bola completa e mais três segundos) no cronômetro, com o time da Flórida vencendo por 92 a 88. Depois de um pedido de tempo, veio para seu lugar o valente Gary Neal.

Nada pessoal contra Neal, vocês sabem. Mas… Hein?!

Vá lá, vá lá. Neal é um arremessador muito mais confiável que Parker. A movimentação que Popovich instruiu envolveu Manu Ginóbili e Tim Duncan pela ala direita da quadra, em direção ao garrafão – pelo menos quero crer que o argentino estava indo atrás de algo desenhado durante a parada do jogo. Então a presença do ala-armador reserva serviria para dar um maior espaçamento. Além disso, Parker vinha sendo anulado por LeBron em quadra, com uma atuação sofrida. De qualquer forma… Era hora!?

A única explicação seria o francês ter acusado qualquer tipo de problema físico. Porque… Hã…

O Spurs partiu para uma jogada de pick-and-roll ousada, a partir da cobrança de um lateral. Ginóbili passa para Duncan, recebe no give-and-go e bate para a cesta marcado por Chris Bosh. Mas o ângulo desse lance foi muito estranho, apertado. Quando o narigudo percebeu, estava encurralado no fundo da quadra, debaixo da tabela, sem muito o que fazer. Ele se girou crente de que estava escoltado por seu pivô e atirou a bola. Nas mãos de LeBon, que ficou em seu encalço, uma vez que não havia Parker para ser marcado. Bidu.

Mais uma intervenção extremamente discutível de Pop, na qual foi ousado em demasia.

Esse post não quer dizer que o técnico seja uma anta. Obviamente o Spurs não perdeu por essa substituição. Mas o lance mostra apenas o quão vulneráveis os treinadores, jogadores e protagonistas de uma final épica dessas pode se tornar.

Novamente não vamos saber. Talvez não desse em nada um ataque com o francês em quadra. Ou talvez ele aprontasse mais um milagre em Miami, assim como fez no Jogo 1. Aquele, sim, um lance de um Mandrake autêntico, falando apenas de mágico.


LeBron James se afirma em quadra após desafio mental de Popovich e ganha o 2º título
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Giancarlo Giampietro

LeBron, MVP

Agora, suponho, vão deixar o amarelão em paz

Será que LeBron James fez ioga ou imergiu em meditação nesta quinta-feira?

Pode parecer a pergunta mais besta do mundo, mas bateu na cuca em algum momento desse Jogo 7, antes de sabermos que tudo desembocaria no segundo título seguido do Miami Heat, com uma vitória por 95 a 88, e numa performance histórica do ala.

Pensei por influência de um veterano jornalista americano, Roland Lazenby, que andava biografando Michael Jordan e tem bom trâmite com o que se passa no universo do Mestre Zen – seja em Chicago, seja em Los Angeles.

Vira e mexe, e Lazenby entra no Twitter para despejar uma série de notinhas saborosas sobre o que se passou com o técnico mais vitorioso da história da NBA. Calha que, ao acessar Jackson e seus trejeitos e causos, uma hora ou outra você vai passar por esse lance espiritual. Como fez nesta quinta.

Em muitos de seus livros, P-Jax bate de modo veemente nesta tecla: a da preparação mental (espiritual?) de seus atletas. As sessões de meditação, reflexão, (des)conscientização que promovia com seus jogadores são legendárias. A ponto de não sabermos exatamente qual o alcance dessas técnicas. Há jogadores que juram que saíam do tatame num outro astral. Há aqueles que deveriam gastar toda a energia de uma noite de descanso ao se segurar tanto para não cair em risos. Pudera: imagine você se sentar ao lado Dennis Rodman ou Will Perdue, de pernas cruzadas no chão, e acreditar que tudo aquilo é sério.

Mas aí basta se lembrar de todos os títulos de Jackson como jogador e técnico, que a piada murcha que só. Deve ser sério, né?

Na visão do treinador, essas sessões ajudavam o jogador a mentalizar o jogo, a imaginar o que se passaria em quadra. Era como se, mentalmente, eles já disputassem aquela batalha horas antes de entrar nas vias de fato.

Ao ver LeBron James extremamente confortável neste Jogo 7, foi daí que me veio esse flashback. O cara simplesmente estava relaxado em quadra. Tranquilo, confiante, assertivo. Sendo que, das arapucas armadas pelo San Antonio Spurs, nada havia mudado na sua frente. Kawhi Leonard, Boris Diaw ou Danny Green continuavam recuando sem pudor algum, dando todo o espaço do mundo para LeBron chutar. Ou, principalmente, pensar se deveria chutar.

LeBron para o jump shot

Green recua e, depois, tenta em vão se aproximar de LeBron

Em primeiro momento, o mais apressado ou espírito de porco, pode querer traduzir isso num instante para “amarelar”. “Quem é craque decide” etc. Mas é preciso entender as razões por trás da hesitação.

Quando LeBron entrou na liga em 2003, o grande ponto fraco de seu jogo era o chute de longa distância. Em 2007, quando ele enfrentou Tim Duncan em uma primeira decisão, ainda era o caso (sua média de três subiu apenas de 29% no ano de novato para 31,9%). Demorou realmente um bocado até ele atingir a marca de 40,6% nesta temporada. Vejamos: 31,5% em 2008, 34,4% em 2009, 33,3% em 2010, 33% em 2011, 36,2% em 2012. Até que bateu pela primeira vez a marca de 40% agora – algo aliás que está longe de ser valorizado no ala: estamos habituados a tratar os talentos do ala como divinos, com dádivas, ignorando o quanto o adolescente já milionário trabalhou para expandir seu arsenal.

Mas, no geral, observando estes números acima, o que a gente tira disso? Que, consistentemente, LeBron nunca foi um grande atirador de fora, enquanto, lá dentro, seu aproveitamento é excepcional.

O que Gregg Popovich ordenou, então? Que seus rapazes congestionassem ao máximo o garrafão. Que fizessem o sujeito arremessar de fora, sim, senhor, a despeito de sua notória evolução nos últimos anos – acreditando que essa era ainda, sim, uma fraqueza do oponente. Ou, no mínimo, o aspecto em que ele era menos forte. E essas coisas ficam na sua cabeça. Você sabe exatamente o que geralmente dá certo em quadra. Pode acontecer até, mesmo, com o autoproclamado “Rei”, que, nos primeiros seis jogos, acertou apenas 29,2% do perímetro.

O que acontece: LeBron percebe que está sendo desafiado – ‘Estão aí esses Spurs o desafiando a meter bala de longe, e eu vou fugir da raia?’. Ao mesmo tempo, inteligentíssimo que é, sabe que tudo não passa de uma armadilha, que não pode perder de foco as cortadas vorazes rumo ao aro. Mas os espaços não estão ali para serem aproveitados. Daí que você recebe a bola e está criado um impasse – um impasse que precisa ser resolvido em segundos, e, não, em minutos ou horas que o jornalista pesadão leva para redigir um texto desses. LeBron, sim, pensa. Acabou pensando demais em quais caminhos seguir, quais decisões tomar – daí a diferença clara de fãs e fãs quando comparado a Kobe Bryant, alguém muito mais agressivo por natureza, ou fominha, mesmo. Kobe vai atacar, atacar, atacar, até romper um tendão de Aquiles não deixar mais. O craque do Heat primeiro quer entender qual a opção mais adequada.

No Jogo 7, porém, ele pareceu ter pisado em quadra já com toda essa coisa de compreensão finalizada, sem perder suas características. Deu assistências nas primeiras posses de bola do time e também aceitou a provocação do Spurs e disparou. Converteu os dois primeiros jumpers e, a partir daí, virou automático…

Cheguei a twittar – vejam lá o imediatismo… – de que talvez não fosse o melhor comportamento. Que talvez ele pudesse ficar acomodado demais com esses arremessos e que, uma hora, cedo ou tarde, começaria a dar aro. Era isso, elaiá, que Popovich esperava também. Mas o período de seca nunca veio. Acertou 5-10 de três pontos, como se fosse um Ray Allen. Matou 12 de 23 chutes no geral. E ainda bateu e converteu oito lances livres. Some tudo e chegue a 37 pontos. E, como LeBron é diferente, suas contribuições não se resumem a chuta-chuta, cesta-cesta. Coloque na planilha mais 12 rebotes, 4 assistências e 2 roubos de bola. Coisa de MVP.

Escrevo sem saber como foi a quinta-feira da estrela. Quais rituais seguiu. O que mudou em sua cabeça para que, após seis jogos em que os truques mentais de Popovich,  fosse prevalecer de tal modo nesta quinta.

O que sei é que, a essa altura, em South Beach, ioga e meditação definitivamente LeBron James e sua turma não vão fazer.

*  *  *

A noite de Battier, Tiago Splitter, mais uma bobagem bizarra de Popovich, o esforço de Tim Duncan… Vamos dividir essas coisas e outras pautas que forem sugindo em posts menores no decorrer desta sexta-feira e fim de semana, ok? Tem tempo.


Heat x Spurs, o último capítulo: o que está na mesa para o Jogo 7 das finais?
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Giancarlo Giampietro

LeBron James, tudo ao redor dele

Mais uma decisão para LeBron James

Alguém aí conseguiu dormir nas últimas 72 horas?

Miami Heat e San Antonio Spurs atingiram um nível de basquete neste histórico Jogo 6 das finais, com vitória para o time da Flórida, que é realmente complicado de discorrer a respeito. Daí um post simplório em primeiro lugar para questionar o quão imediatistas conseguimos ser, querendo comentar segundo a segundo, lance a lance uma partida que tem 48 minutos – ou 53, no caso da prorrogação que vimos na terça. Mania de julgar e martelar que não leva a lugar algum. Demora um tempo para digerir um jogo clássico destes:

Passadas seis partidas, o básico que sabemos sobre o confronto é o seguinte:

1) Não há muitos ajustes a serem feitos agora para o sétimo jogo – pelo menos aquele tipo de ajustes gerais de plano tático. Cada um já sabe o que esperar do outro, as cartas estão todas na mesa: virou um jogo de “small ball” contra “small ball”, mesmo, e vai ganhar o caneco aquele que executar com mais precisão; coisa que o Spurs fez por 40 e poucos minutos nesta terça-feira.

2) Por isso, dãr, Gregg Popovich deixou escapar uma enorme chance. Quando as equipes atingem seu ápice, o Miami é simplesmente melhor – e isso tem muito a ver com a capacidade atlética de seu elenco, mas, principalmente, pelo fato de ter LeBron James a seu favor. Difícil de imaginar como o Spurs poder ficar mais perto de uma vitória no sétimo do jogo do que já estiveram no duelo passado. Daí que…

3) O Miami Heat tem o momento psicológico todo a seu favor;

Oh, Manu, Where Art Thou?

Teria Manu mais um truque Jedi disponível?

Para o Jogo 7, a partir daí, ficam algumas outras perguntas:

– Será que o Miami pode, após tanto drama e esforço, abaixar a guarda? Levando em conta o histórico da equipe, será que o “momento psicológico” é realmente uma vantagem? Os atuais campeões se acostumaram a jogar da melhor forma nestes playoffs quando estão contra a parede, “desesperados”, como Erik Spoelstra gosta de falar. Há risco de entrarem extremamente confiantes e tomar um peteleco daqueles?

– Na bacia das almas, com muitos minutos jogados, os jogadores veteranos estão muito irregulares – com exceção de Tim Duncan; aqui estamos falando especificamente de Ginóbili e Wade. E aí, o que vai ser desses dois craques quebradiços? Qualquer atuação “para cima” de um deles pode ser o ponto decisivo para a derradeira partida.

– E o Ray Allen? Vem com tudo? O ala sofreu contra Bulls e Pacers de acordo com seus padrões, convertendo, respectivamente, apenas 23,5% e 34,5% de seus chutes de três pontos nessas séries. Contra o Spurs, porém, voltou a ser um matador implacável: 60%. Com Allen representando uma séria ameaça exterior, a defesa do Spurs fica em situação muito mais delicada. O mesmo vale para Shane Battier, que encestou cinco das suas últimas dez tentativas.

– Por falar em arremesso de três, Mike Miller vai acertar mais um descalço? : 0

– Tim Duncan ainda tem mais lenha para queimar? É meio inacreditável que o Spurs tenha desperdiçado daquela maneira um jogo de 30 pontos e 17 rebotes do pivô. Um pecado.  Num intervalo de dois dias o veterano conseguiria repetir um jogo vintage desses?

– Sabemos também que LeBron James consegue dar conta de Tony Parker, super-humano que é. E, uma vez que os ângulos de infiltração para o francês são fechados, os operários do Spurs se tornam menos eficientes. Pois não é necessária nenhuma dobra ou cobertura para conter o armador, fazendo com que a turma do perímetro fique mais grudada em seus respectivos alvos. Por isso era imperativo que Ginóbili jogasse minimamente bem, para que sua equipe tivesse outra via de escape ofensiva. Então… Para um último suspiro, por quanto tempo LeBron se dedicará a Parker?

– E a arbitragem? O padrão será mantido? O que vimos no sexto jogo foi, convenhamos, extremamente atípico: boa parte das jogadas polêmicas foram decididas a favor do time visitante e contra as superestrelas. Algo chocante até. LeBron mal podia acreditar. Foi contestado duramente em diversas infiltrações, e a juizada nem aí pra nada. Da mesma forma como aconteceu em cortes para a cesta de Duncan e Ginóbili do outro lado. Foi um jogo físico e solto. Esperemos que sigam nessa linha:  no turbilhão que cerca o próximo confronto, o emocional de todos será testado, inclusive o dos homens do apito.

– Será que esses dois timaços vão conseguir, de alguma forma, superar o que entregaram no Jogo 6?

Segura!


Quando até Gregg Popovich falha: o jogo que o técnico do Spurs deixou escapar
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Giancarlo Giampietro

Gregg Popovich

Gregg Popovich teve seu momento de Frank Vogel

A grande armadilha em que os maiores técnicos, de qualquer esporte, podem cair é pensar o jogo demais. Algo ue aconteceu até com Gregg Popovich nesta terça-feira.

Numa série tão equilibrada, com marretadas distribuídas dos dois lados, era natural que, para seu desfecho, as coisas se equilibrassem um pouco mais e fossem se decidir em pequenos detalhes, quiçá no finalzinho da partida. E, nos momentos derradeiros da partida o supostamente inabalável treinador do San Antonio Spurs deu uma senhora derrapada.

O primeiro erro: com uma vantagem de três pontos a menos de 30 segundos para o fim, não ter orientado seus jogadores a fazerem a falta, mandar o adversário para o lance livre, obrigando Erik Spoelstra e o chutador em questão a optarem por duas cestas e a tentativa de roubo de bola na pressão sobre a saída de bola, ou tentar aqueles rebotes ofensivos a partir de um erro intencional no segundo chute – algo que quase nunca dá em nada.

“Nós não fazemos isso”, afirmou Popovich em sua entrevista pós-jogo, minutos depois. Justamente ele, que nunca teve pudor de chamar o “Hack-a-Shaq” em quadra nos embates com o Los Angeles Lakers na década passada.

Ok, LeBron James não é Shaq. Mas seu aproveitamento nos lances livres na série é de apenas 74,2%. Ontem, ele desperdiçou três lances livres. Acabou jogando 50 minutos no geral, correndo atrás de Tony Parker. Pernas cansadas? Vai saber. Mas, mesmo que convertesse as duas bolas, o Spurs ainda teria um ponto de vantagem, talvez com cerca de dez segundos no cronômetro.

O grande temor nessas situações é que o defensor erre em seus cálculos e cometa a falta justamente no ato do arremesso – podendo até contribuir para uma jogada de quatro pontos. Aí, sim, seria um desastre. De qualquer modo, levando em conta toda a aplicação defensiva de Kawhi Leonard desde a primeira partida, talvez o jovem ala merecesse um voto de confiança nessa. Outra coisa que pode ter pesado: sem um pedido de tempo, o temor de se encurralar debaixo da cesta e fazer a uma reposição de bola arriscada diante de um time superatlético. Com a velocidade de Tony Parker, porém, não sei se o risco era tão assustador assim.

Popovich ficou na sua e pagou para ver se o Miami Heat conseguiria acertar o seu tiro de fora. Quando viu LeBron James optar por um tiro de três pontos forçado, quase frontal, por um instante deve ter achado que foi a decisão certa. Acontece que, naquela sequência incrível, Chris Bosh pegou o rebote ofensivo e passou para Ray Allen na zona morta. O veterano, um dos melhores arremessadores de todos os tempos, subiu e matou a bola, mesmo um pouco desequilibrado. Ka-bum. Prorrogação na cabeça.

E a coisa fica ainda pior quando nos antentamos a este trecho em específico: “Chris Bosh pegou o rebote ofensivo”.

Popovich teve seu momento de Frank Vogel também ao tirar Tim Duncan de quadra. Essa é realmente incompreensível.

A ideia era jogar com Boris Diaw, que, a despeito de seus sandubas a mais, tem um jogo de pés bastante veloz, capaz de se manter diante de seu oponente no perímetro. Isso facilitaria a contenção na linha de três pontos.  O mesmíssimo raciocínio de Vogel no Jogo 1 das finais do Leste, quando sacou Roy Hibbert – com a diferença de que, naquela partida, a cesta saiu em uma bandeja tranquila de LeBron.

Duncan não só é o melhor reboteiro da equipe, como um baita marcador, protetor. Durante toda a partida ele contestou as infiltrações do Heat de maneira impecável, usando toda sua envergadura e inteligência. Sem contar toda sua experiência. Ali pesava a seu favor, então, não só um currículo único mas o que estava fazendo naquela noite. Você realmente vai querer tirar um cara desses de quadra no momento em que o vital é impedir uma cesta?

Quando o chute de LeBron amassou o aro, a defesa interior do Spurs estava totalmente desequilibrada. Vejam aqui:

Antes de LeBron arremessar, reparem que ele faz o corta-luz para Mario Chalmers, e aí consegue se livrar de Kawhi Leonard, que teve de desloar para cobrir o armador pela esquerda. Aí já temos um cenário preocupante: com Tony Parker correndo para segurar LeBron, um tanto desorientado. Então, Chris Bosh sobe para fazer outro corta para LeBron, deixando o francês perdidinho. No fim, tanto ele como seu compatriota Diaw saíram para contestar o disparo. Aí que Bosh caminha COMPLETAMENTE livre para o garrafão, numa falha de Parker, que deveria ter ficado com ele e ao menos se intrometido em seu caminho em direção ao aro, ainda que, evidentemente, essa não fosse a melhor pedida.

Teria Duncan se posicionado de melhor forma ali? Ou será que ele estaria no mesmo lugar que Diaw na linha de três pontos, e Bosh sempre deslizaria com liberdade para apanhar o rebote? Não dá para adivinhar. Na frieza dos fatos, do que aconteceu, só dá para dizer que Popovich se meteu em uma tremenda enrascada que pode ter lhe custado o título.


Em uma partidaça, Miami Heat vence Spurs e força o sétimo jogo. Relaxe e desfrute
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Giancarlo Giampietro

LeBron, assim mesmo

LeBron, sem bandana mesmo: triple-double, defesa sobre Parker, e talvez não seja o suficiente?

Depois de um dos grandes jogos, dos maiores que já vimos, você vai dizer o quê?

Com nossa preocupação – ou despreocupação – em querer avaliar tudo a cada instante, todo detalhezinho que seja, em tempo real, gênios que somos, depois do que vimos nesta madrugada de terça para quarta-feira, vamos falar exatamente o quê?

QUEM amarelou?

QUEM é o culpado?

Há realmente espaço para esse tipo de coisa ainda?

(Ainda mais levando em conta o contexto do que se manifesta pelas ruas das capitais e capitais do país nestes últimos dias?)

Depois do espetáculo apresentado neste sexto jogo das finais da NBA, com o Miami Heat tirando forças no quarto período para forçar uma dramática-ática-ática prorrogação, garantindo a vitória por 103 a 101, e agendando sétima partida, volta a pergunta: você vai dizer o quê?

Vai julgar quem desta vez?

Diabos.

De antemão, deixem LeBron James e seu triple-double (“apenas” 32 pontos, 11 assistências, 10 rebotes e 3 roubadas) em paz – durante 36 minutos, ele já estava incluso burroneamente, novamente na lista dos fracassados históricos da liga. Aí termina o jogo e como é que fica?

Assim como Kawhi Leonard (22 pontos e 11 rebotes!!!) e seu lance livre perdido no final do tempo regular, que poderia ter feito toda a diferença na contagem final, antes da bola. Em alguma realidade alternativa seu chute de lance livre caiu. Só não foi nesta que, por acaso, seguimos. E agora temos um Jogo 7 já histórico para acompanhar.

Vale o mesmo para Pop, Spo, Wade, Parker, Splitter ou Bosh (justo ele, com seus dois tocos decisivos!)… Não pensem que estes caras todos estão de bobeira.

Antes de martelar, de julgar, de sabe-se lá o quê…

Apenas desfrutem.

*  *  *

Twitter é legal, mas é um saco ao mesmo tempo.

*  *  *

Dou um jeito de voltar aqui nesta quarta ou quinta-feira cedinho para discutir um pouco mais do Jogo 6 e falar do Jogo 7. É que a agenda tá apertada pacas. Mas só para reforçar: o que vimos nesta terça foi uma das melhores partidas da NBA – e do basquete, doa a quem doer – em muito tempo. Dois times bem armados, testados, após batalhas e batalhas. A essa altura, dá pra dizer que o mais preparado é o Spurs. Mas o talento do Heat é tamanho que deixa tudo muito imprevisível. Ray Allen não estava matando nada, nada. Mas quem duvidaria de que ele seria capaz de acertar aquele chute. naquela hora? Ninguém. E foi um petardo de chuá. Que deixa o momento psicológico da série todo voltado para o time da Flórida. Mas não dá para fazer prognóstico algum para o jogo decisivo do confronto. Quem vai reagir como? É aguardar para ver. O lance, mesmo, é esperar um grande jogo. É deixar as infantilidades de lado e embarcar nessa. Há muitos detalhes para se consumir antes: se Manu Ginóbili vai conseguir responder (de novo e de novo)?; se Dwyane Wade consegue jogar por mais de um tempo ainda; se o chute de 3 pontos de Miami vai cair com esta frequência; se Danny Green vai reagir para se manter na briga pelo prêmio de MVP; se Mario Chalmers conseguirá se manter efetivo; etc; etc; etc.


Ginóbili responde após capengar nas finais e deixa o Spurs a uma vitória do título
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Giancarlo Giampietro

Manu dessa vez parou para entrevista

Ginóbili, ufa!, fez jus a pelo menos uma entrevista para a ESPN; algo a que Green já se acostumou 🙂

Uma das discussões que sempre cercou minha, digamos, educação esportiva foi a de que se Pelé deveria ter parado, ou não, quando parou. E não estamos falando aqui de New York Cosmos, mas, sim, de sua decisão de ter se despedido do Santos antes e, principalmente, da Seleção Brasileira, alguns anos cedo demais. Um tema que, vez ou outra, era trazido à mesa da família, naquelas reuniões em que o futebol, claro, arranjava espaço, e o garoto acompanhava interessado.

Agora calma. Paciência, por favor. Antes que acredite que o sujeito aqui, depois de ter passado em branco no Jogo 4 das finais da NBA, possa ter entrado em uma espiral de loucuras e devaneios e ter perdido completamente a linha e se achado como um blogueiro boleiro, já antecipamos aqui, para acabar com a brincadeira que vamos falar sobre Manu Ginóbili – e um pouco sobre Dwyane Wade, Ray Allen e (!!!) Dany Green.

Antes, continuemos a digressão que, crê minha memória, era realmente algo recorrente na família Giampietro. Naturalmente, aquelas discussões dividiriam irmãos, tios, filhos e sobrinhos de dois lados: se enfileirariam aqueles que defendem fielmente que o seu ídolo deve largar tudo quando está no auge, enquanto outro grupo sonharia – ou exigiria – que o craque deveria ir até o limite, se testar até o fim, mesmo, para que soubesse quanto poderia ser bom.

E, aí, fica um pouco mais claro aonde queremos chegar com isso tudo, né?

Quando, alguns dias depois de Wade ter arrebentado com a defesa de sua equipe, Ginóbili, 35 anos, conseguiu dar o troco logo na partida seguinte, com sua melhor atuação em muito (muuuuuuuuito tempo), para ajudar o San Antonio Spurs a vencer o Miami Heat por 112 a 104, neste domingo. Resultado que deixa o time texano a um triunfo de conquistar o título da NBA depois de seis anos.

Como um todo, o desempenho do time de Gregg Popovich foi de embasbacar. Vejamos: foram 42 cestas de quadra em 70 tentativas, para um aproveitamento completamente inesperado de 60%. Mais 21 lances livres convertidos – dois a mais que os superatléticos adversários – e o rendimento de 40,9% de três pontos (sobre o qual falaremos mais adiante). Na defesa, limitaram essas mesmas aberrações físicas a 43% de pontaria geral. Uma discrepância de rendimento que, por si só, já poderia valer como um bom argumento para o triunfo.

Manu x LeBron

Nem LeBron conseguiu parar o craque argentino

Para entendê-la, no entanto, Ginóbili está no cerne. Pela primeira vez nestas finais o argentino conseguiu lembrar em algo aquele que foi um dos melhores jogadores da liga nos últimos dez anos. Atacando com destemor e criatividade, buscando lances que se iniciam malucos e terminam geniais (8/14 nos arremessos). Desafiando quem quer que fosse seu marcador (oito lances livres batidos). Mudando de direção, parando no meio do caminho, ou indo até o aro com sua canhotinha (24 pontos). Fazendo de suas barbaridades aceitáveis: foram três turnovers, mas dez assistências. Desta forma, ajudou a diminuir a pressão sobre Parker, Duncan e os atiradores de fora, uma vez que os defensores deveriam, enfim, voltar a se preocupar com a pimenta de seu jogo.

Comparando com os bons tempos, só uma coisa saiu do script: dessa vez ele não saiu do banco de reservas, como aquela fagulha que incendiou tantas vezes o ataque do Spurs. Numa de suas muitas cartas ­– e nada inédita, que fique claro –, Popovich puxou o narigudo para seu quinteto inicial e lhe deixou em quadra por 33 minutos. Nos últimos três jogos, ele havia atuado por 18, 23 e 26 minutos. E deu certo, minimizando o movimento anterior de Erik Spoelstra com a promoção de Mike Miller.

Mas só funcionou também porque, dessa vez, Manu conseguiu encarar a pressão da defesa do Heat sem perder a ousadia, mas nem a cabeça. Dessa vez seus passes e infiltrações foram precisos, ainda que duramente contestados. As coisas simplesmente se encaixaram para o craque em quadra. Pelo menos por uma noite que seja, voltou a ser grande e relevante.

Algo que só vai servir para estender a polêmica na família Giampietro. A do momento de os craques encararem essa grave decisão de seguir em frente com a carreira ou de mudar de vida. O torcedor do Spurs, rumo a Miami, obviamente já escolheu um lado nesta, mesmo que provisório.

*  *  *

Não é só Ginóbili que vai sofrer contra a defesa do Miami. Mas, para refutar qualquer impressão de que possa ser um exagero discutir a aposentadoria do argentino, lembremos que suas médias nos playoffs como um todo eram meio desanimadoras, com 37,7% nos arremessos e 10,6 pontos em 25,4 minutos. Quer dizer, mesmo com Pop reduzindo seu tempo de ação para quase a metade de um jogo, o ala-armador não conseguiu responder de modo eficiente.

*  *  *

A resposta de Ginóbili não poderia ter vindo em hora mais providencial. Porque Wade conseguiu seu segundo ótimo jogo consecutivo, este fato também representando por conta própria outro milagre. De sujeito que mal conseguia correr ou pular direito na final do Leste , o astro do Heat foi novamente agressivo com a bola desde o início (igualando o número de chutes de LBJ, 22) e mantendo a produtividade (25 pontos, 10 assistências).

Acabou sobrando para Tiago Splitter, a promoção de Ginóbili foi para o Spurs enfrentar a formação mais baixa proposta por Spoelstra. Depois da dificuldade que o brasileiro encontrou na partida anterior, não é de se estranhar a mudança de Popovich. O catarinense foi para o banco e jogou por apenas dez minutos, com quatro pontos, dois rebotes e um toco. Boris Diaw também ganhou mais tempo de rotação (27) e justificou a confiança do técnico ao fazer um surpreendentemente – para não dizer estarrecedor – ótimo trabalho defensivo contra LeBron. Quando o astro passou a abusar de marcadores menores perto da cesta, o francês foi acionado e segurou a bronca. O ala do Heat conseguiu apenas uma cesta em oito chutes contra sua marcação – contra os demais, ele converteu sete em 14.

*  *  *

Ray Allen também resolveu alongar os braços em San Antonio neste domingo. O ala anotou 21 pontos e quase complicou a vida dos anfitriões em alguns momentos do segundo. Esse gatilhaço histórico já havia feito só 18 pontos nos últimos dois jogos em conjunto.

*  *  *

Mas, então, estamos assim: em meio a Ginóbili, Wade e Allen, quem imaginaria que o melhor shooting guard da série seria Danny Green? Matando 25 bolas de três pontos, muitas delas marcadas, com aproveitamento de 65,7% desta distância e média de 18 pontos, talvez já esteja na hora de perguntar outra coisa já: com mais uma atuação de gala, seria ele o MVP das finais?

(!?!?!)

Pensem: Manu estava capengando até dia desses. Parker deu uma desacelerada com a lesão que sofreu no Jogo 3. Tim Duncan, com 15,6 pontos, 11,2 rebotes e 1,8 toco, vem sendo fundamental, como sempre – e isso pode pesar tanto a favor, no caso de o saudosismo for mais influente, ou contra, para aqueles que já o viram fazer coisa muito maior e não se importariam.

 Então…

Talvez o maior concorrente do ex-Cavalier por este posto seja, epa!, Kawhi Leonard, considerando o excepcional trabalho defensivo em cima de LeBron, também mereceria no mínimo sua medalha de honra ao mérito.