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Arquivo : Valanciunas

Magnano exigiu demais de Nenê na estreia
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Giancarlo Giampietro

Nenê: 11 pts, 4-8 nos arremessos, 3-6 nos lances livres, 8 reb e 2 ast em 29min49s na estreia

Nenê: 11 pts, 4-8 nos arremessos, 3-6 nos lances livres, 8 reb e 2 ast em 29min49s na estreia

Por Rafael Uehara*

Com o desfalque de Tiago Splitter, a expectativa era a de que Nenê fosse o jogador mais importante da seleção brasileira para a partida contra a Lituânia, pela primeira rodada do basquete olímpico do #Rio2016. Afinal, do outro lado estaria Jonas Valanciunas, que teve teve uma boa temporada com o Toronto, deu mais um passo a frente em seu desenvolvimento e também foi muito bem na fase preparatória para esses Jogos.

Augusto Lima, em tese, não tem porte físico para encarar o pivô de 2,11m e 116 kg, enquanto Cristiano Felício ainda não é calejado o suficiente para uma tarefa a esse nível. Iriaa sobrar, então, para o veterano o que parecia ser o confronto mais importante da partida que abriria o duríssimo Grupo B. O Brasil acabou derrotado por 82 a 76 num jogo maluco, de dois tempos muito diferentes.

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Qual não foi a surpresa quando Valanciunas pouco importou no plano tático da partida. O lituano teve de lidar com as faltas já no primeiro tempo e esteve em quadra só um pouco mais que a metade dos primeiros dois quartos. Ainda assim, seu time abriu o dobro de vantagem sobre o time da casa. Na segunda etapa, o atleta, que geralmente é a referência de sua equipe, esteve muito apagado, e a preocupação de ter Augusto e Felício o marcarem não se materializaram tanto assim. Sim, os jovens fizeram muitas faltas, mas batalharam. Valanciunas não dominou, e a seleção brasileira conseguiu as paradas defensivas que permitiram a tentativa de virada.

Nenê participou do ótimo segundo tempo da seleção, voltando à quadra quando Augusto e Felício lidaram com problemas de faltas, mas o saldo geral foi negativo. E serviu para encapsular as limitações que o veterano enfrenta nesta que deve ser a parte final de sua carreira bastante lucrativa.

No ataque, post ups

Brasil insistiu demais com o jogo de costas para a cesta

Brasil insistiu demais com um jogo ineficiente de costas para a cesta

O ataque brasileiro foi muito focado em Nenê no primeiro tempo. Talvez tentando cavar faltas em Valanciunas. Ou simplesmente porque Rubén Magnano realmente pense que o pivô ainda é aquele tipo de jogador capaz de criar bons lances de costas para a cesta, a ponto de forçar dobras e expor o oponente a correr atrás da bola ao redor do perímetro.

Na NBA, Nenê já não é esse jogador há anos. Logo, não causou muita surpresa quando o vimos com bastante dificuldade para criar algo contra Valanciunas, que não é dos mais velozes maracadores. Mas quando o pivô do Toronto passou grande parte do segundo quarto no banco, e Magnano manteve o paulista de São Carlos em quadra para ver se ele iria se impor contra Paulius Jankunas ou Antanas Kavaliauskas, foi aí que vimos que Nenê também não foi capaz de boas situações até contra o nível Fiba.

Suas estatísticas (11 pontos em oito tiros de quadra e seis lances livres) não contam toda a história. Nenê teve mais dificuldade do que as estatísticas mostram, e o fato de a seleção ter continuado tentando forçar a bola nele foi um dos motivos pelo péssimo segundo quarto, no qual marcou apenas 12 pontos. Foi evidente que quando Marcelinho Huertas tomou controle do ataque nos últimos três minutos do primeiro tempo e tentou a criação a partir do pick-and-roll, a seleção melhorou a qualidade dos arremessos que conseguia.

E o pick-and-roll?

Nenê tem sido mais efetivo com o jogo de média distância

Nenê tem sido mais efetivo com o jogo de média distância

O problema é que Nenê também não mais é das melhores opções no pick-and-roll. Ainda tem boas mãos para receber a bola em movimento e em quadra bem espaçada, consegue ir em direção à cesta com explosão. Mas aí que está: a seleção brasileira não oferece quadra espaçada ao seus pivôs, e Nenê não tem mais o arranque de antigamente para dar a opção da ponte área – o tipo de jogada difícil para o oponente marcar mesmo quando lota o garrafão.

Nenê ainda tem, porém, o tiro de meia distância em seu arsenal. Neste domingo, caiu apenas um dos três tiros que tentou de fora do garrafão, mas seus percentuais desta zona da quadra permaneceram fortes em suas últimas três temporadas na NBA.

Neste fim de carreira, Nenê deve ser um jogador mais de pick-and-pop do que de pick-and-roll, abrindo o garrafão para seu armador atacar a cesta ou para seus alas cortarem da zona morta. Nenê permanece um excelente passador para alguém com seu tamanho e pode prestar assistência nessas triangulações. Esta é uma opção que Magnano talvez devesse explorar mais daqui pra frente do que simplesmente isolá-lo de costas para a cesta e ver se o veterano consegue voltar o relógio cinco ou seis anos no tempo.

Na defesa…

O pivô ainda pode ser valioso na defesa centralizada no garrafão. Kalnietis o respeitou

O pivô ainda pode ser valioso na defesa centralizada no garrafão. Kalnietis o respeitou

Magnano também exigiu demais de Nenê no sistema defensivo. Mantas Kalnietis deu voltas ao redor de Huertas no início da partida. O argentino fez o ajuste requisitando que seus pivôs, dentre eles Nenê, dobrassem para cima do lituano no perímetro. O veterano não tem mais agilidade pra esse tipo de tarefa e não foi muito efetivo em suas blitzes. Kalnietis não teve muita dificuldade para fazer passes ao redor dessas dobras.

No segundo tempo, a seleção foi mais ativa com trocas de marcação. Nenê se encontrou marcando Kalnietis em quatro ocasiões. O lituano, com receio da reputação de superatleta do brasileiro, sequer tentou no um-contra-um e se desfez da bola em três delas. Na quarta vez, jogando contra o tempo, Kalneitis foi pra cima e passou com facilidade. Perdeu o floater, mas forçou Marquinhos a fazer a rotação, o que permitiu a Mindaugas Kuzminskas um tapinha fácil no rebote.

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Nenê, a este ponto da carreira, precisa defender mais próximo a cesta, onde sua inteligência de posicionamento faz mais a diferença do que sua movimentação. Segundo o site NBA.com/stats/, os adversários tiveram média de tiro de apenas 50,4% com ele defendendo o aro. Na estreia olímpica, ele deu um toco e ainda contribuiu com cinco rebotes defensivos. Magnano precisava tentar algo para tentar parar Kalnietis, mas agora sabemos que caso necessário de novo no futuro, sua solução não será tirar seu principal do garrafão.

Nenê ainda será peça-chave para a seleção nesse torneio, se o time tiver grandes aspirações. Porém, suas contribuições têm de ser mais voltadas para o teor tático e técnico do que baseadas no porte físico. Resta saber se Magnano fará os ajustes necessários para que a seleção sobreviva a esse grupo da morte, sendo o principal deles usar a maior estrela desse time da forma na qual ele possa render mais.

*Rafael Uehara edita o “Basketball Scouting”. Seu trabalho também pode ser encontrado nos sites “Upside & Motor” e “RealGM”, como contribuidor regular. Vale segui-lo no Twitter @rafael_uehara.

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Guia olímpico 21: Sérvia e Lituânia, num segundo escalão
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Giancarlo Giampietro

Devido ao adiantado da hora, não dá para escrever tanto sobre cada um dos 12 participantes do torneio masculino do #Rio2016, pelo menos não da forma como foi feito com o Brasil e os Estados Unidos, comentando jogador por jogador, ou mesmo como Argentina, Espanha e França. Por que a atenção maior dada a estes times? Bem, os dois primeiros têm razões óbvias. O trio seguinte eu tento explicar assim: Espanha e França são, devido aos resultados recentes, aqueles mais cotados para subir ao pódio ao lado dos norte-americanos. A Argentina não está nesse patamar, mas tem velhos conhecidos nossos e fez parte da trajetória da seleção brasileira.

lituania-serbia-maciulis-kalinic-fiba

Lituanos levaram a melhor em dramática semifinal no ano passado

Pergunta: Vamos agrupar cada equipe olímpica em diferentes escalões, de acordo com seu potencial (na opinião de um só blogueiro enxerido)?

Reposta: Sim, vaaaaamos!

Então aqui estão:

1) EUA
2) Espanha e França
3) Sérvia e Lituânia
4) Argentina, Austrália, Brasil e Croácia
5) Nigéria e Venezuela
6) China

Que fique claro: não é que essas castas sejam imóveis e que haja um abismo de uma para outra – excluindo os Estados Unidos como óbvios indicados ao ouro. Entre os segundo, terceiro e quarto andares, a diferença não é muito grande. São todos candidatos ao pódio. Basta lembrar que a seleção brasileira venceu França e Sérvia pela última Copa do Mundo e também bateu a Espanha em Londres 2012, num jogo muito estranho, mas paciência. E talvez até mesmo a Nigéria possa subir um piso, dependendo de sua lista final.

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Festa essa ressalva, a ideia agora é publicar um post abordando os times restantes em cada um desses grupos, botando nigerianos, venezuelanos e chineses no mesmo balaio final. Aqui, chegou a vez de sérvios e lituanos:

SÉRVIA

Armadores: Milost Teodosic, Stefan Markovic, Stefan Jovic e Nemanja Nedovic.
Alas: Bogdan Bogdanovic, Nikola Kalinic e Marko Simonovic.
Pivôs: Nikola Jokic, Miroslav Raduljica, Milan Macvan, Vladimir Stimac e Stefan Bircevic.

– O grupo: Entre os elencos mais fortes dos Jogos do Rio, a Sérvia é a que tem menos jogadores de NBA. Apenas um, na verdade: o pivô Nikola Jokic, que, pela maturidade e fundamentos que mostra em quadra, jamais poderíamos supor que tenha apenas 21 anos. Poderiam ser três, com Nemanja Bjelica e Boban Marjanovic. Se tivesse montado esse trio, o técnico Aleksandar Djordjevic teria uma linha de frente assustadora. Mas diferentes motivos os tiraram do evento.

Boban virou um agente livre em julho e estava na categoria dos “restritos”, ainda vinculado de certa forma ao Spurs, que poderia cobrir qualquer oferta. O problema é que isso impediu que o gigantesco e carismático atleta resolvesse rapidamente sua situação. Estava fora de sua alçada. De modo que pediu dispensa, algo que desagradou, e muito, o durão Djordjevic. Passado o pré-olímpico mundial em Belgrado, Boban, já de contrato fechado com o Detroit Pistons, se colocou à disposição da seleção. Foi recusado, mesmo que seja 20 vezes mais jogador que o limitado Vladimir Stimac.

Já a baixa de Bjelica deixou o treinador sérvio bastante chateado e frustrado, e foi por conta da inflamação num nervo do pé direito. A previsão do departamento médico do Minnesota Timberwolves é a de que o ala-pivô só se recuperaria durante as Olimpíadas. Estaria sem ritmo nenhum de jogo. É uma perda enorme para a seleção balcânica, devido a toda a sua versatilidade. Bjelica é dos grandalhões mais flexíveis que você vai encontrar por aí. Na bem-sucedida campanha pela Copa do Mundo, nós o vimos colaborar com rebotes, chute, passe e até mesmo com a articulação da equipe e a partida em transição. Desconfio, inclusive, que, se fosse para escolher, Djordjevic até mesmo o priorizaria a Jokic, por mais que o jovem pivô tenha feito uma excepcional primeira temporada pelo Denver e tenha enorme potencial.

Jokic foi dominante no Pré-Olímpico de Belgrado

Jokic foi dominante no Pré-Olímpico de Belgrado

– Rodagem: é uma seleção bastante jovem, mas que com diversos atletas que estão acostumada a jogar junto há um bom tempo, desde a base; os jogadores também têm muita cancha de Euroliga, habituados a grandes partidas; no Pré-Olímpico em casa, atropelou, ajudada por um sorteio bastante camarada.

– Para acreditar: o conjunto de armadores sérvios é muito forte. Só perde para o espanhol neste torneio, com o genial (e genioso) Milos Teodosic sendo a referência. A presença de Stefan Markovic e Stefan Jovic lhes dão mais liberdade em quadra para olhar para a cesta, enquanto ambos também teriam a incumbência de marcar o jogador de perímetro mais agressivo do outro lado; Jokic é um jovem craque; Bogdan Bogdanovic é uma das estrelas da jovem geração europeia, sem medo nenhum de tentar o arremesso da vitória, evoluindo bastante sob a orientação do mítico Obradovic pelo Fenerbahçe – até recusou o Phoenix Suns neste ano para seguir nessa trilha; Miroslav Raduljica, um verdadeiro bisnagão, não deixará o time seguir tanta falta de Boban, ocupando já muito espaço dentro do garrafão na defesa, enquanto, no ataque, precisa converter seus semiganchos e atacar a tábua.

Questões: na Copa do Mundo, surpreendeu e conquistou a prata (digo “surpreender” pelo fato de ser uma base jovem e de o país ter vindo de resultados muito fracos nas competições). Um ano depois, já como favoritos, quando valia a vaga, sentiram a pressão na semifinal contra a Lituânia. Além disso, não há ninguém no elenco capaz de dar conta nem de 50% das tarefas que cabiam a Bjelica. Milan Macvan herdou sua vaga. Ele é um tremendo reboteiro, mas é pesadão e só acha que pode chutar de longa distância. Se o time estiver desesperado por arremesso de fora, Stefan Bircevic será chamado, a despeito de sua fragilidade física e irregularidade. Dependendo do adversário, contra equipes mais baixas, Nikola Kalinic até pode assumir suas funções.

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LITUÂNIA

Valanciunas, Valanciunas e mais Valanciunas pelos bálticos

Valanciunas, Valanciunas e mais Valanciunas pelos bálticos

Armadores: Mantas Kalnietis, Adas Juskevicius e Renaldas Seibutis.
Alas: Jonas Maciulis, Mindaugas Kuzminskas, Marius Grigonis e Edgaras Ulanovas.
Pivôs: Jonas Valanciunas, Paulius Jankunas, Domantas Sabonis, Robertas Javtokas e Antanas Kavaliauskas.

O grupo: um ano atrás, entre a elite europeia, a Lituânia poderia ser considerada aquela seleção com menos, hã, grife. Só o trator Valanciunas estava na NBA. Boa parte de seu elenco jogava em clubes locais, do país em que o basquete é uma religião. Conseguiram, ainda assim, a prata no EuroBasket e a classificação direta, evitando qualquer possível armadilha nos pré-olímpicos mundiais. Agora, eles chegam com uma trinca de profissionais da liga americana, com Sabonis, draftado por OKC, e Kuzminskas, contratdo pelo Knicks, fazendo companhia ao pivozão. E sabe do que mais? Não muda nada isso. Com ou sem este selo, a Lituânia seria o mesmo time a ser respeitado.

O técnico Jonas Kazlauskas tem um elenco muito limitado atleticamente. Um torneio de enterradas interno seria tão emocionante quanto uma partida de xadrez. Mas sua experiente base sabe muito bem dessas limitações e dá um duro danado em quadra para compensá-las com muita força física, garra, senso de posicionamento e inteligência em geral. Eles vão ralar na defesa e esperar que Valanciunas resolva as coisas no ataque.

Enquanto isso, Kazlauskas vai formando um novo núcleo em torno de Valanciunas, contando com cinco jogadores estreantes em Jogos Olímpicos, adicionando alas voluntariosos como Ulanovas e Grigonis, que não terão prioridade em termos de rotação, mas já vão viver uma grande experiência.

Entre os mais jovens, de todo modo, fica a expectativa para ver como vai se comportar o jovem Saboninhos, que soube aproveitar bem a passagem pelo basquete universitário americano para expandir seu jogo – deixando o Unicaja Málaga, clube de forte base, mas que nem sempre aproveita bem sua revelações. Ele tem tudo para formar uma grande dupla com Valanciunas por anos e anos e já deve ser produtivo no Rio.

– Rodagem: veja abaixo.

– Para acreditar: talvez não haja grupo mais entrosado que o lituano. Kalnietis, Seibutis, Maciulis, Kuzminkas, Jankunas, Valanciunas e Javtokas jogam juntos há muito tempo e estiveram presentes praticamente em todos os torneios deste ciclo olímpico. Isso lhes dá uma vantagem imensa. Se for pensar em consistência, esse é o seu time também: o jogo dos caras não empolga, como nos bons tempos, mas eles não largam o osso. A prata no último EuroBasket foi uma repetição de seu resultado em 2013. Entre um torneio continental e o outro, ficaram em quarto no Mundial. O núcleo central da equipe tem muita experiência. Mais: é difícil demais remover Valanciunas dos arredores do garrafão e da tabela, e, uma vez posicionado ali, o pivô, muito forte e técnico, vai castigar a maioria de seus adversários.

 – Questões: a Lituânia depende demais de Valanciunas. O pivô é referência para tudo. Quando o assunto é Lituânia, parece até heresia perguntar, mas lá vai: eles vão acertar o suficiente nos tiros de três pontos para seu grandalhão ter espaço no garrafão e ativar seus movimentos um tanto mecânicos?

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Paul George volta a colocar Toronto em estado de choque
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Giancarlo Giampietro

George foi o All-Star que mandou em quadra pela abertura dos playoffs

George foi o All-Star que mandou em quadra pela abertura dos playoffs

Recordar é sofrer.

O ginásio do Raptors estava novamente tomado por clima de estádio de futebol. Lá fora, uma multidão acompanhando a partida na praça. Bandeiras, cantos fortes. O time deu mais um salto durante a temporada regular, chegou a incomodar o Cleveland Cavaliers na disputa pela primeira colocação da conferência. Tudo seria diferente dessa vez.

Mas… Não. Novamente essa atmosfera festiva seria mais uma vez silenciada nos minutos finais da abertura dos #NBAPlayoffs2016 para Toronto por um ala chamado Paul. Sai Pierce, entra George como sobrenome. O ala do Pacers foi a grande estrela da primeira partida dos mata-matas. Boa parte desses times classificados pelo Leste podem até não ser muito badalados, sem as chamadas superestrelas  — mas os jogos prometem bastante, de todo modo. Só não vale incluir o Indiana nesse grupo. Seu ala camisa 13 pertence ao primeiro time de craques da liga.

Com 33 pontos e uma defesa sufocante frente no perímetro, George provou que é uma estrela de verdade, que joga dos dois lados da quadra, comandando o cabeça-de-chave número sete numa grande vitória por 100 a 90, neste sábado, que já rouba o mando de quadra para os forasteiros.

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Do outro lado, dois de seus companheiros na seleção All-Star, Kyle Lowry e DeMar DeRozan, tiveram atuações beeeem diferentes, sentindo dois tipos de pressão: a primeira, mais importante, que foi a de seus marcadores, mesmo. A segunda tem a ver com os recentes fracassos em jogos pela fase decisiva. Dava para ver na cara de Lowry. George, sozinho, anotou oito pontos a mais do que a dupla do Raptors. Pior ainda para o time canadense foi checar o aproveitamento de quadra destes caras: um abismal 8-32, ou meros 25% de acerto. Eles tiveram mais turnovers (nove) do que cestas de quadra. Nem um fominha descontrolado como Monta Ellis (5-12, um turnover, 15 pontos e 5 assistências) aprova números como esses.

A sorte de DeRozan é que o jogo foi realizado bem cedo, na hora do almoço. Diminui, assim, as chances de ele ter pesadelos com seu conterrâneo californiano. Apenas um ano os separam. Talvez tenham até se cruzado em quadras pelo circuito AAU ou colegial no imenso estado. Desde cedo, o ala do Raptors sempre foi considerado uma futura estrela, enquanto o líder do Pacers se desenvolveu mais lenta e discretamente, sendo recrutado pela tímida Universidade de California State, por exemplo. Hoje, com suas carreiras profissionais bem encaminhadas, há uma enorme distância entre um e o outro. Devido ao histórico californiano, estamos falando de dois alas que, volta e meia, estiveram associados ao Los Angeles Lakers, como possíveis reforços. Agora que Kobe Bryant se aposentou, há uma clara lacuna para ser preenchida na rotação de perímetro do time, de fato. DeRozan será agente livre ao final da campanha. É bom que Mitch Kupchak tenha assistido a esta partida, para ver quem exatamente merece um salário máximo…

George é um jogador de salário máximo. DeRozan, segundo costuma ditar o mercado, também vai se tornar. E deve ganhar ainda mais, devido ao aumento nos rendimentos da liga. Para o Lakers, não seria um bom investimento, se o objetivo é voltar ao topo da liga...

George é um jogador de salário máximo. DeRozan, segundo costuma ditar o mercado, também vai se tornar. E deve ganhar ainda mais, devido ao aumento nos rendimentos da liga. Para o Lakers, não seria um bom investimento, se o objetivo é voltar ao topo da liga…

Sendo justo, DeRozan fez a melhor temporada de sua carreira. Só James Harden foi mais vezes à linha de lance livre do que ele. Também mostrou muito mais visão de quadra, criando para os companheiros. Foi eleito pela segunda vez para o All-Star, merecidamente. Neste sábado, porém, foi barrado no baile. Não havia corredor para ele passar. Com a infiltração removida de seu repertório, teve de apelar para o arremesso de média para longa distância, sempre contestado. Por mais que tenha melhorado um pouquinho neste fundamento, ainda é o seu ponto fraco. Ainda mais quando perturbado. O jogo não foi dos mais bonitos ou emocionantes, mas vale a pena revê-lo só para conferir a atuação defensiva de George. Não basta ter capacidade atlética, com explosão e agilidade nos pés. É preciso saber o que fazer com esses recursos, e o cara foi simplesmente impecável nesse sentido, se deslocando lateralmente com precisão impressionante. Também chamaram a atenção seus botes certeiros, quase kawhi-leonardianos, para terminar com quatro roubos de bola e dois tocos em 37 minutos. Dois desses roubos foram sensacionais, para consertar bobagens de seus companheiros no ataque, freando de imediato o contragolpe dos anfitriões.

Sobre Lowry, lembremos que ele já encerrou a temporada regular em baixa. Desde o All-Star, em casa, seus números despencaram. Para comparar, em fevereiro, ele anotou 23,6 pontos com 50,3% nos arremessos e 39,7% de três. Em março, produziu 21,9 pontos, mas com 40,4% e 37%, respectivamente. Em abril, em cinco jogos, teve 17,0 pontos, com 39,5% e 41%. O número de lances livres pelo baixinho também caiu consideravelmente na reta final. O armador está sofrendo com dores e inflamação no cotovelo direito desde janeiro, na verdade, e chegou até mesmo a fazer uma drenagem semanas atrás. Uma preocupação que Casey admitiu publicamente. Enfrentando outro excelente defensor como George Hill — que é mais alto e também tem braços longos toda a vida –, as coisas ficam ainda mais complicadas.

Se Lowry, devido a esta limitação física, não vai ser eficiente como no início da temporada, aumenta a carga de responsabilidade sobre DeRozan. Talvez seja o caso de Dwane Casey rabiscar mais jogadas para que seu cestinha seja acionado em movimento, em vez das manjadas investidas em mano a mano. O problema é que, mesmo nessas situações, não é garantia que o cestinha terreno, já que George é mais alto e mais comprido, sendo um terror nas linhas de passe. Ainda assim, forçando-o a encarar corta-luzes de Valanciunas, Scola e Patterson, ao menos você pode tentar desgastar o oponente.

Para o Jogo 2, ainda não é para entrar em desespero. Você não vai jogar no lixo o trabalho que resultou em 56 vitórias na temporada regular. De toda forma, o ataque excessivamente individualizado do Raptors precisa ganhar em diversidade. Já havíamos registrado aqui: seu sistema ofensivo esteve entre os mais eficientes da liga, mas o jogo de playoff é outra história. Os adversários estão mais preparados, o scout fica muito mais detalhado. Os vícios se tornam mais evidentes em quadra. Você precisa de diversidade. Basicamente, tudo o que se cobra de Oklahoma City há anos, com a diferença de que eles atacam com Kevin Durant e Russell Westbrook. Com todo respeito aos a Lowry e DeRozan, mas os All-Stars podem até ser iguais, mas uns são mais iguais do que os outros.

No caso de Raptors, se for para apostar tão somente no repertório técnico de estrelas, é bem provável que o Pacers aceite o desafio, com Paul George ao seu lado. Se o ala puder ser dominante desta forma,  a série pode virar mais uma grande encrenca para o clube canadense, para tristeza de uma torcida que

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Batalha de Valanciunas com pivôs de Indiana promete

Batalha de Valanciunas com pivôs de Indiana promete

Jonas Valanciunas foi um leão no garrafão. Fato: pegou 19 rebotes em 21 minutos, sendo 11 ofensivos, ambos valendo como recordes para o Toronto em playoffs. Ainda anotou 12 pontos. Bacana, né? E, como assim o cara consegue números tão expressivos como esses e fica em quadra só por 21 minutos!? Dwane Casey pirou? Segue implicando com o lituano?

Não. É que ele cometeu seis faltas, mesmo. E uma consulta mais atenta à planilha estatística do pivô somada às ações que vimos em quadra nos passa um contexto mais complexo. Se Valanciunas apanhou 11 rebotes na tábua de ataque é porque ele, mesmo, desperdiçou diversas oportunidades ali embaixo. Errou 10 de 14 arremessos, tendo dificuldade para finalizar jogadas diante de dois pivôs que protegem muito bem a cesta: Ian Mahinmi  e Myles Turner. Foi um espetáculo (ou quase isso…) o embate entre os grandalhões.Juntos, cometeram 15 faltas, com cinco para o francês e quatro para o calouro.

Fisicamente, o titular do Raptors se impôs na busca pela bola. O problema era o  que fazer com ela depois. Ele obviamente tem munheca. Mas seus movimentos ficaram muito lentos e mecânicos a partir do momento que o Toronto bombou seu corpanzil. O cara se tornou um pivô sólido, competente, mas não está no primeiro escalão. Aos 23 anos, talvez possa melhorar ainda, mas isso está longe de ser uma certeza. Lembremos que ele joga em alto nível há um bom tempo já. Em 2010, já estava jogando a Euroliga. Quiçá o Raptors possa espaçar mais a quadra para que ele ganhe uns segundos preciosos para realizar suas jogadas. Mas não vejo muito para seu jogo possa se expandir agora.

Do outro lado, o contraste com Turner é gritante. O novato tem um potencial absurdo. Hoje, mesmo, já foi influente. Com ele em quadra, o Pacers teve saldo de 15 pontos. Por não tenha base para aguentar os trancos do lituano ou de Bismack Biyombo, o rapaz conseguiu causar impacto em quadra graças a sua envergadura e agilidade. Em 26 minutos, terminou com 10 pontos, 5 rebotes e, mais importante, 5 tocos. Dois foram em seu oponente direto. Mas também houve quase uma dezena de chutes que ele intimidou ou alterou, devido a sua presença bastante ativa. Logo mais, vai deixar a vida de Paul George muito mais feliz em Indiana.

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Seria Jonas Valanciunas a próxima superestrela europeia?
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Giancarlo Giampietro

Valanciunas, no quinteto ideal do EuroBasket

Valanciunas, no quinteto ideal do EuroBasket

Na NBA existe essa regra não-oficial amplamente divulgada de que, para ganhar o título, você precisa de uma superestrela. E o histórico de campeões da liga certamente corrobora a tese. O Detroit Pistons de 2004 acaba sendo a exceção que confirma a regra, embora tivesse um conjunto de excelentes jogadores, sendo que um deles tinha tudo para estar no grupo dos transcendentais (Cut that check!), não fossem os problemas de concentração. De resto, por mais que romantizemos sobre o sistema belíssimo que Gregg Popovich construiu em San Antonio, o técnico é sempre o primeiro a dizer que, sem Duncan, ele muito provavelmente seria considerado apenas mais uma besta quadrada. Isso para não falar de alguns atos heroicos de Ginóbili ou Parker.

Ok. Grandes jogadores podem até vencer partidas por conta própria, e por isso contam muito num ambiente extremamente competitivo. Mas, sozinhos, esses caras não vão conquistar um campeonato, e LeBron James e Stephen Curry podem falar algumas coisas a respeito com base no que vimos na última final da NBA. De todo modo, é isto: você precisa de talento e de um time bem preparado para chegar lá. E esse conceito ultrapassa as fronteiras da liga, como pudemos ver Copa América (hola, Luis Scola!), ainda que a Venezuela tenha sido exatamente o oposto disso. De todo modo, o time de Nestor Garcia também lembra o Pistons de Larry Brown nesse sentido, como um caso excepcional, uma vez que o torneio tinha o México de Ayón e o estrelado Canadá completando as semifinais. A tese se estende também ao EuroBasket, como o esplendoroso Pau Gasol nos mostrou.

A outra vaga olímpica ficou com a Lituânia, que prontamente apontaria para Jonas Valanciunas como um desses talentos que fazem a diferença em quadra, carregando sua seleção até a final, eleito para o quinteto ideal da competição. Seria a confirmação de uma expectativa de longa data de que o pivô seria um dos próximos grandes craques do continente. Não estou tão certo assim — pelo menos não de que vá atingir essa condição transcendental.

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Não tenham dúvida: Valanciunas já é reverenciado na Lituânia e, segundo todos os relatos em Toronto, é um rapaz muito bacana, humilde e que sente imenso prazer em jogar por sua seleção nacional. Merece todo esse carinho do retorno para casa após o EuroBasket

Não tenham dúvida: Valanciunas já é reverenciado na Lituânia e, segundo todos os relatos em Toronto, é um rapaz muito bacana, humilde e que sente imenso prazer em jogar por sua seleção nacional. Merece todo esse carinho do retorno para casa após o EuroBasket

Não há dúvidas de que Valanciunas já é muito produtivo no mais alto nível europeu: terminou o EuroBasket com 16,0 pontos, 8,4 rebotes, 1,4 toco, 59,1% nos arremessos e 85,7% nos lances livres. Em Toronto, em sua terceira temporada de NBA, também fez sua melhor campanha, atingindo seu maior índice de eficiência, somando com 12,0 pontos, 8.7 rebotes e 1,2 toco, mais 57,2% nos chutes de quadra e 78,6% na linha. Estamos falando de um jogador de apenas 23 anos. Embora já bastante rodado, o lituano é ainda  jovem, da mesma geração de Lucas Bebê, mas num estágio de desenvolvimento que nem se pode comparar. A pouca idade sugeriria que ainda há muito mais por vir. Será?

A questão é saber há muito o que desenvolver em seu jogo atual. Quer dizer: há, sim. Só não está claro se vai acontecer. Talvez o pivô possa melhorar no reconhecimento das dobras defensivas, para devolver a bola, com mais rapidez e precisão, aos companheiros de perímetro que tendem a ficar livres. Para alguém que consegue atrair marcação dupla, é alarmante que tenha apenas 143 assistências em 223 partidas pelo Raptors. No campeonato passado, apenas 3,1% das cestas de seus companheiros aconteceram depois de passes dele. Esse foi o mesmo padrão do campeonato europeu de seleções, competição em que sua presença no garrafão chama ainda mais atenção dos marcadores.

No momento, Valanciunas é estritamente um finalizador. Um ótimo finalizador, é verdade, tanto dentro do garrafão como no chute de média distância, mas que não cria tantos problemas assim para um sistema defensivo bem armado, devido a suas limitações atléticas e técnicas. Desde a ida para a NBA, parece ter seguido a trilha ‘errada’, ou ao menos a trilha menos comum do basquete de hoje. Em Toronto, passou de garotão lânguido e ágil para este massa-bruta-pancadão.

Quando enfrenta adversários peso pena ou molengas, domina. Que o diga Andrea Bargnani, contra quem se esbaldou nas quartas de final, com 26 pontos e 15 rebotes, acertando 11 de 13 arremessos. Quando a oposição é mais qualificada, seja pela força física e/ou capacidade atlética, seu jogo fica muito mais complicado. Abaixo, veja um clipe com algumas de suas jogadas contra a Itália e perceba com os números dificilmente contam toda a história. A defesa interior azzurra foi uma verdadeira piada, e o mérito de Valanciunas foi saber aproveitar tantos buracos:

Ainda assim, não salta aos olhos o quanto ele precisa batalhar para pontuar em situações de mano a mano? Bandejas livres debaixo do aro não contam. Não sei bem se “dificuldade”, na verdade, é o melhor termo, levando em conta seu aproveitamento de quadra. Mas é que parece tudo muito custoso, mesmo, para alguém que hoje tem movimentos muito robóticos, com um jogo de pés bem fundamentado, mas muito lento. É o tipo de ação que podem muito bem ser contestadas por gente de maior envergadura ou coração. Se você deixá-lo trabalhar próximo da cesta, contra um pivô lento ou mais baixo, vai ter problemas, porque ele consegue se impor fisicamente, de costas para a cesta.Se abrir um corredor para ele no pick-and-roll, dãr, é óbvio que ele vai pontuar.

Agora, se a defesa mandar dobras velozes vindas do lado da bola, para forçar que se livre dela. Se, na cobertura da jogada em dupla, você puxar um defensor do lado contrário e desviá-lo de sua rota, ele, hoje, fica em xeque, por dois fatores: a visão de quadra pouco privilegiada e a mobilidade reduzida, com deslocamentos laterais praticamente inexistentes. Um corpo qualquer em seu caminho é um tremendo obstáculo. Para os lituanos mais críticos que o acompanham há mais tempo, o sentimento é de potencial desperdiçado, ou subaproveitado.

“Gostava mais de Jonas quando o dirigia em Rytas. Ele era mais flexível, mais magro, mais rápido e mais ágil. Simplesmente me lembrava de um jovem Sabonis em sua idade. Agora na NBA ganhou massa e ficou mais forte. Pediram um jogo mais físico e de um contra um para ele”, afirmou Rimas Kurtinaitis, seu ex-treinador no Lietuvos Rytas e um dos grandes jogadores lituanos que esteve a serviço da União Soviética no começo de carreira, mas teve tempo de defender seu país novamente independente por dois ciclos olímpicos, subindo ao pódio em 1992 e 1996. Era tão talentoso como jogador que se tornou o único atleta de fora da NBA a participar do torneio de três pontos do All-Star, em 1989. Também virou um ótimo treinador. É uma opinião que pede respeito.

Ainda mais quando ele traz um nome sagrado como “Sabonis” para a discussão. Talvez seja exagero. Mas o ex-ala ao menos fala na condição de quem realmente viu o jovem Arvydas em ação. Se pegarmos os seus lances da época de Lietuvos Rytas, vamos ver um atleta de verdade, com outro biótipo (e não o de um magrelo, gente), leve, atacando a cesta de fora do garrafão, ganhando na corrida de ponta a ponta da quadra etc.

Agora, posto tudo isso, não vamos nos esquecer que um jogo se joga dois lados da quadra, né? Na defesa, a despeito de um toco aqui e ali, Valanciunas realmente deixa a desejar, se tornando uma peça muito vulnerável justamente devido à lentidão e também à confusão sobre onde está a bola e onde está o jogador que tem de frear. Não é um protetor de cesta como se esperaria de alguém de seu porte físico, pois não costuma se posicionar bem. Mas é longe da cesta, quando envolvido em jogadas de pick-and-roll ou pick-and-pop, que as coisas ficam graves. Contra a mesma Itália, abrindo para o chute, o próprio Bargnani marcou 21 pontos, e o estrago poderia ter sido muito maior se o pivô do Nets estivesse com a pontaria mais precisa, tendo errado um de sete arremessos de longa distância. Podem ter certeza: as falhas nos disparos não aconteceram por contestação do oponente.

De novo: a despeito de suas limitações, que lhe foram impostas, Valanciunas ainda é jovem e pode se desvencilhar, ou aprender a lidar com elas. Registrá-las aqui não se trata de uma sentença. Nesse ponto, vale lembrar que duas apostas brasileiras (Bruno Caboclo e Lucas Bebê) estão sendo bombadas por Toronto neste exato momento, ainda que sob gestão de Masai Ujiri, enquanto o lituano trabalhou no primeiro ano ainda com Bryan Colangelo como mandachuva. O desenvolvimento físico dos dois era necessário, mas é bom que também não se passe do ponto. Para o futuro da seleção brasileira, são dois talentos hoje estratégicos, como fazedores de diferença ou não. Afinal, a formação de talentos por estas bandas anda cada vez mais desacelerada.

O curioso é que na Lituânia existem queixas semelhantes. Mas que têm seu próprio contexto: eles estão acostumados com outros padrões de produção de jogadores qualificados, mesmo que sejam um país com população de menos de 3 milhões de habitantes. Basta ver a seleção que passou pela Itália e, surpreendentemente, pela Sérvia para assegurar mais uma participação olímpica.

Seibutis, Maciulis, Jankunas, Kuzminskas, Javtokas, Milaknis e afins podem não ter o apelo dos prospectos sérvios, mas são, ao seu modo, jogadores muito bem burilados, preparados e intensos, além de experientes e entrosados (seis jogadores da seleção jogaram pelo Zalgiris Kaunas na última temporada). Essa mesma base já havia chegado às semifinais da Copa do Mundo no ano passado. Formam um elenco de apoio e um conjunto muito forte em torno de Valanciunas, confiando que o jovem pivô vá levá-los longe. Ou pelo menos até onde seus músculos consigam carregá-los.


EuroBasket vai começar: sete apostas, a legião da NBA e os desfalques
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Giancarlo Giampietro

A França venceu as últimas duas contra a Espanha. Na Copa, doeu para Gasol

A França venceu as últimas duas contra a Espanha. Na Copa, doeu para Gasol

Existem pré-olímpicos e existe o EuroBasket.

Realizado a cada dois anos, o torneio europeu, para muitos de seus integrantes, vale talvez até mais que um Mundial, por questões de orgulho nacional e rivalidades regionais. É só ver a festa que a França fez na última edição, na Eslovênia, ao enfim derrotar a poderosa Espanha pela semifinal, num jogo daqueles mais dramáticos que se vai encontrar por aí. Para eles, foi a glória maior, ratificada, então, numa decisão bem mais tranquila contra a Lituânia.

Tem de comemorar, mesmo. Pois não é fácil chegar lá. Essa é disparada a competição continental mais dura no circuito Fiba, em que pese as loucuras que temos visto na Copa América. Ainda assim, ao avaliar o que tem acontecido nos últimos anos, é possível detectar algum padrão.

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A Espanha impressiona por sua consistência, graças a uma geração fenomenal liderada por Pau Gasol. Os ibéricos fizeram parte dos últimos quatro pódios. Ficaram entre os três primeiros em cinco de seis torneios desde 2001. Só em 2005 dançaram. Nomes importantes como Jorge Garbajosa, Carlos Jiménez, Raul López e Fran Vázquez já ficaram pelo meio do caminho. Juan Carlos Navarro e José Calderón estão no fim da linha também. Mas segue uma potência a ser temida.

Desempenho os amistosos

Desempenho os amistosos

Ainda assim, a França é a seleção do momento, o time a ser batido, com um elenco vasto, experiente, atlético, e tendo ainda a vantagem de ser a anfitriã dos mata-matas, para o qual deve passar como a primeira colocada do Grupo A. Confira aqui todas as chaves, com uma ressalva: respire fundo antes de espiar o que acontece no Grupo B.

Como disse em texto dedicado à Itália (que mais parece o Brasil), é o anúncio de uma carnificina. Pense em Walking Dead, Jogos Mortais, Game of Thrones, Kill Bill Vol 1. Um sorteio que põe Espanha, Sérvia, Itália, Turquia e Alemanha no mesmo grupo é qualquer coisa de sádico. (Só foi possível graças aos deslizes de italianos, turcos e alemães em tempos recentes – o ranking Fiba não reconhece que a Azzurra tenha hoje Gallinari & Cia, ou que a Alemanha conta com Dirk e Schröder dessa vez). Coitada da valente Islândia, que não tem nada a ver com essa história, enfrentando cinco times que chegam a Berlim com pretensões reais de vaga olímpica. E o que vai sair disso? Bem, um deles já será eliminado de cara. Outro vai passar em quarto e terá de se virar com a França logo de cara. Quem cair nas oitavas também não terá mais como vir ao Rio de Janeiro.

É assim: os dois finalistas asseguram classificação automática, enquanto as equipes que ficarem entre terceiro e sétimo ganham uma segunda chance no Pré-Olímpico mundial. Então você tem de dar um jeito de chegar às quartas, entre os oito primeiros. Mesmo os derrotados nessa fase ainda terão de encarar um torneio de consolação mais valioso que o habitual, tendo inclusive uma “final” pelo sétimo lugar.

Ignorando qualquer noção de prudência, devido ao desequilíbrio entre grupos, segue, então, meus palpites de vagas – tanto as para valer, como as alternativas:

Tony Parker quer o bicampeonato europeu. Tá na cara

Tony Parker quer o bicampeonato europeu. Tá na cara

1 – França
Os atuais campeões, e com um time que chega muito perto de sua força máxima, com o retorno de Tony Parker para fazer um trio estelar com Boris Diaw e Nicolas Batum, os dois que lideraram o time rumo ao Bronze na Copa do Mundo. Se há uma seleção que pode compensar ausências como as de um Joakim Noah e um Alexis Ajinça, é a francesa, contando com o emergente Rudy Gobert para afugentar os atacantes adversários do garrafão. Noah, a essa altura, já não parece uma peça com a qual se possa contar. Ajinça seria um reserva de luxo para Gobert.

É um elenco vasto, de capacidade atlética incrível e muita versatilidade, que pode ser medido por sua nota de corte: dois jogadores da NBA vão assistir de fora (Kevin Seraphin e Ian Mahinmi), assim como jogadores cobiçados no mercado europeu como o ala Edwin Jackson, ex-Barça, hoje no Unicaja, e o ala-pivô Adrien Moerman, do Banvit, e o armador Thomas Heurtel, tirado do Baskonia a peso de ouro pelo Anadolu Efes. Nem mesmo depois de Antoine Diot se lesionar na reta final de preparação, Heurtel conseguiu a vaga. O reserva de Tony Parker será o espichado Leo Westermann, cujos direitos pertencem ao Barcelona, que ainda não o aproveitou. Joga pelo Limoges, em casa.

Selo NBA: Tony Parker, Boris Diaw, Nicolas Batum, Rudy Gobert, Evan Fournier e Joffrey Lauvergne.
Desfalques: Joakim Noah, Alexis Ajinça, Antoine Diot e Fabien Causeur (que teria dificuldade para entrar no grupo final, de qualquer forma). 
Reforço estrangeiro? Para quê!? 

2 – Sérvia
Talento não falta aqui, obviamente. Nunca faltou. Ainda assim, nas últimas cinco edições, o país conseguiu apenas uma medalha: a prata em 2009, levando uma surra da Espanha na final. O problema é a inconstância de seus jogadores, que muitas vezes se permitem levar por intrigas extraquadra e uma ciumeira que só. O vice-campeonato na última Copa do Mundo, porém, sinalizou uma geração mais unida, guiada com firmeza e carisma pelo ex-armador Aleksandar Djordjevic.

Se essa organização for mantida, a aposta é que a combinação da categoria e jogo cerebral de Milos Teodosic, o arrojo de Bogdan-Bogdan e Nikola Kalinic e o pacote completo de Bjelica possa fazer a diferença, ainda mais escoltados por pivôs muito físicos. Não é fácil trombar com Raduljica e Nikola Milutinov, o jovem recém-contratado pelo Olympiakos e draftado pelo Spurs. Não bastassem os pesadões, Djordjevic ainda tem um Zoran Erceg com grande confiança nos disparos de longa distância e Ognjen Kuzmic, ex-Warriors, já mais atlético.

Selo NBA: Nemanja Bjelica (bem-vindo!).
Desfalques: Nenad Krstic e Boban Marjanovic.
Reforço estrangeiro: coff! coff! Foi até engraçado que, antes do Final Four da Euroliga, Milos Teodosic e Bogdan Bogdanovic foram questionados sobre a possibilidade de o país, vice-campeão mundial, naturalizar algum norte-americano para brigar pelo ouro olímpico. Responderam que, se acontecesse, não jogariam mais pela seleção. 

3 – Espanha

A dupla do Bulls - e da Espanha

A dupla do Bulls – e da Espanha

O palpite mais conservador colocaria os espanhóis entre os dois primeiros, fato. Estivesse Marc Gasol no páreo, seria difícil seguir outro rumo. Mas o pivô quis férias, para descansar a cabeça e cuidar tranquilamente da renovação com o Memphis. Desta forma, aumenta a carga sobre Pau Gasol. O já legendário pivô fez grande temporada pelo Chicago Bulls, mas vai correr um risco ao encarar a pressão do EuroBasket sendo tanto a principal referência ofensiva da seleção como sua maior esperança para se ter uma defesa consistente. Faz como? Serge Ibaka faz falta nesse sentido, mas as desavenças do passado afastaram o congolês. Suas habilidades, em tese, seriam mais relevantes que as de Nikola Mirotic nessa equipe em específico.

No papel, ainda estamos falando de um timaço. Os torcedores do Bauru vão ficar ligadaços no núcleo madridista de Sergio Rodríguez, Sergio Llull, Rudy Fernández e Felipe Reyes. Estão entrosados e revigorados pelo título da Euroliga. Mas, mesmo dentro da Espanha, a sensação é de que a transição da geração Gasol para a próxima ainda se pauta pela incerteza, a despeito do retorno de Sergio Scariolo. São muitas peças valiosas, mas que talvez não se encaixem perfeitamente.

Selo NBA: Pau Gasol, Nikola Mirotic. 
Desfalques: Marc Gasol, Juan Carlos Navarro, José Calderón, Ricky Rubio e Alejandro Abrines. 
Reforço estrangeiro? Nikola Mirotic, que assumiu a vaga de Serge Ibaka.

4 – Lituânia
Em termos de continuidade, o trabalho de Jonas Kazlauskas está à frente do que os gregos têm para oferecer, e isso pode fazer a diferença. Caras como Jankunas, Javtokas, Kalnietis, Maciulis e Seibutis estão na estrada há um tempo e sabem o que precisa ser feito. É curioso até: em termos de grife ou badalação, ninguém dá muita bola para eles. Mas estão sempre chegando. Mesmo que não tenham a armação mais segura ou elucidativa.

Se a troca de guarda ainda está demorando para acontecer, a boa notícia para esse país devoto ao basquete é que seu principal jogador hoje é justamente um dos mais jovens: Jonas Valanciunas. Pela seleção, o companheiro de Caboclo e Bebê é uma figura muito mais influente e difícil de ser barrada. Em termos de sangue novo, também vale ficar de olho em Domantas Sabonis, que tem sangue real, vem numa curva de desenvolvimento acelerada desde que se inscreveu na universidade de Gonzaga e foi o último a se estranhar com Matthew Dellavedova:

Selo NBA: Jonas Valanciunas.
Desfalques: Donas Motiejunas. (Se alguém estiver se perguntando sobre Linas Kleiza, é que o veterano foi muito mal na última temporada pelo Olimpia Milano e, depois de inúmeras lesões no joelho, não é sombra daquele jogador que já aterrorizou o mundo Fiba).
Reforço estrangeiro? Ainda não cometeram esse sacrilégio — embora as primeiras seleções lituanas da história fossem compostas quase na íntegra por norte-americanos descendentes. 

5 – Grécia
Assim como Parker retorna à França, a seleção helênica acolhe calorosamente Vassilis Spanoulis entre os 12 do EuroBasket. Em torno do craque grego também geram as mesmas questões, no entanto: qual a sua forma física? Ele terá estabilidade e pique para poder ficar em quadra nos momentos decisivos (que não o amedrontam de modo algum)? Se a resposta for positiva, a Grécia ganha um trunfo enorme para tentar retornar ao pódio pela primeira vez desde 2009.

O conjunto de Calathes, Zisis, Sloukas e Mantzaris ao menos está lá para preservar o camisa 7. Em termos de quantidade, ninguém tem uma relação de armadores que se equipare a essa, aliás. O desafio do técnico Fotis Katsikaris, que vai dirigir Augusto e Benite no Murcia, será distribuir minutos entre tantos atletas de ponta. Ou afagar aquele que eventualmente fique fora da rotação. Embora o garotão Giannis Antetokounmpo seja um Vine ambulante, este não é o time mais atlético. A expectativa aqui é de que os fundamentos, a experiência e o espírito vencedor de muitos de seus jogadores compensem isso. Para chegar à disputa por medalhas, porém, terão de derrubar muito provavelmente ou a Espanha ou a Sérvia nas quartas. Ai.

Selo NBA: Giannis Antetokounmpo, Kosta Koufos, Kostas Papanikolau (por ora).
Desfalques: Dimitris Diamantidis (ele já se aposentou da seleção, mas está em forma, caminhando para a última temporada como profissional). Sofoklis Schortsanitis não foi convocado e, creio, não deve mais jogar pela equipe. 
Reforço estrangeiro? Bem… Nick Calathes e Kosta Koufus nasceram, respectivamente, na Flórida e em Ohio. Os sobrenomes entregam a ascendência, de todo modo. 

6 – Croácia
Sim, sim… Talvez eles estejam numa posição muito baixa. Podem muito bem ser os campeões. Mas a mera possibilidade de pensar essa fornada croata como a sexta força continental só mostra o quão difícil pode ser um EuroBasket. O que sabemos é que os caras chegam muito otimistas à competição, por conta de dois fatores mais relevantes que o fato de terem vencido todos os seus amistosos preparatórios.

Saric e Hezonja, só o começo

Saric e Hezonja, só o começo

O primeiro é o progresso dos garotos, rodeados por jogadores muito rodados. Dario Saric e Mario Hezonja têm mais três ciclos olímpicos pela frente e já estão prontos para render em alto nível, sem precisar assumir obrigatoriamente o protagonismo. A prioridade em quadra ainda merece ficar com dois veteranos que estão no auge e encantam pela perfeição de seus movimentos, sem distinção entre eles: o gigante Ante Tomic, que não deve jogar na NBA, mesmo, e o classudo Bojan Bogdanovic, que se soltou um pouco ao final de sua primeira temporada pelo Brooklyn Nets e que, no mundo Fiba, é um cestinha letal. O segundo fator que os empolga é a presença de Velimir Perasovic no banco. O croata de 50 anos vem de grandes campanhas pelo Valencia e chega à seleção com estofo e moral para comandar um elenco ardiloso.

Selo NBA: Bojan Bogdanovic, Mario Hezonja e Damjan Rudez. 
Desfalque: Oliver Lafayette.
Reforço estrangeiro? Na falta de um armador norte-americano, apela-se a outro: Dontaye Draper. A Croácia cometeu a heresia que a Sérvia até o momento evita.

7 – Itália
Simone Pianigiani tem ao seu dispor a seleção que talvez tenha o maior poderio ofensivo, ao menos em termos de arremesso. Gallinari, Bargnani, Gentile, Datome, Belinelli… É artilharia pesada, que pode torturar qualquer defesa. Ainda assim, isso não é garantia de nada. Até porque são belos atacantes, mas que, do outro lado da quadra, não inspiram tanta confiança assim. Além do mais, já estamos cansados de ver seleções com muitos nomes naufragarem devido à tormenta de egos. Vamos ver se eles terão coesão e consciência para encarar um grande desafio, precisando render em alto nível logo de cara, nesse grupo dificílimo.

Selo NBA: Danilo Gallinari, Andrea Bargnani, Marco Belinelli. 
Desfalques: Luca Vitali. 
Reforço estrangeiro? Daniel Hackett nasceu na Itália, filho de ex-jogador norte-americano, e se formou como jogador na Califórnia. Mas é italiano e joga por clubes do país desde 2009. Não conta. 

Batendo à porta
Pode parecer um tremendo desrespeito a Dirk Nowitzki… Mas, aos 37 anos, o legendário cestinha precisaria fazer um de seus melhores torneios para levar a Alemanha adiante, mesmo estando acompanhado pelo sensacional Dennis Schröder e por mais uma opção ofensiva de elevada qualidade como Tibor Pleiss. Acontece que o excelente treinador Chris Flemming, americano que fez carreira no basquete alemão e agora será assistente no Denver, perdeu muitos jogadores em seu elenco de apoio, especialmente na linha de frente. Entre Maik Zirbes, Maximilian Kleber, Elias Harris e Tim Ohlbrecht, teria opções de sobra (e muito vigor físico) para dosar os minutos de Dirk.

A saideira de Nowitzki?

A saideira de Nowitzki?

É ainda mais difícil deixar a Turquia fora do grupo acima. Mas algum país terá de ser a vítima no Grupo B. É a minha escolha. Na Copa do Mundo, a seleção chegou às quartas de final. Jogando em Berlim, ao menos vai ter a vantagem de praticamente jogar em casa. É certo que o ginásio vai bombar devida à imensa colônia que está na capital alemã. Ainda assim, Omer Asik faz muita falta na proteção defensiva, com todo o respeito a Semih Erden e Oguz Savas. Olho, de todo modo, nos jovens Cedi Osman e Furkan Korkmaz. Para Tóquio 2020, devem ser dois atletas temidos em cenário internacional.

Sem chances?
A Eslovênia está sem Goran Dragic, o que equivale a 80% de sua força criativa. O país parece encarar o torneio como a chance de dar bagagem à garotada, listando  cinco atletas nascidos na década de 90. Zoran Dragic terá a oportunidade de tirar a ferrugem, de tanta piscina e praia que tenha pegado em Phoenix e Miami. Jaka Blazic, do Estrela Vermelha, é um atleta que sempre dá gosto de ver. Canhoto agressivo, inventivo rumo à cesta que me passa a impressão de ainda ter potencial ainda a ser explorado.

A Bósnia-Herzegovina poderia apresentar uma linha de frente para lá de enjoada, caso contasse com Mirza Teletovic, e Jusuf Nurkic. Teletovic costuma ser uma figura constante em torneios europeus, mas pediu folga, para cuidar de sua preparação para a NBA, entrando num ano importante pelo Phoenix Suns em busca de um contrato longo e polpudo na próxima temporada. Para o promissor pivô do Nuggets, o motivo é a recuperação de lesão e cirurgia no joelho. O tresloucado Dusko Ivanovic, todavia, vai fazer com que o time se mate em quadra a cada rodada.

A Geórgia tem um elenco interessante: Zaza Pachulia, um bom reserva para ele em Giorgi Shermadini e dois matadores de bola em Jacob Pullen e Manuchar Markoishvili, além do energético Tornike Shengelia, orientados por Igor Kokoskov. É um time com bom potencial ofensivo e que, jogando num grupo mais fraco, deve ir aos mata-matas. Mas dificilmente passarão das oitavas.

Potencial de zebra
A Finlândia não deve ser a Finlândia da vez, se é que vocês me entendem. Entre os scouts europeus, a Bélgica é apontada como uma seleção que pode surpreender, com três jogadores de ponta no continente (o armador Sam van Rossom, o ala Matt Lojeski e o ala-pivô Alex Hervelle) e um grupo que dosa juventude e experiência ao redor deles.

Velhos conhecidos da NBA
Só para constar, vai: a Polônia terá Marcin Gortat, Israel vai de Omri Casspi e Gal Mekel, a República Tcheca aposta muito em Jan Vesely (Vine sempre atentos também, por favor!).

Mais caras que fazem falta
Alexey Shved, Timofey Mozgov e Sasha Kaun (Rússia), Eugene Jeter, Serhiy Gladyr, Alex Len e Sviatoslav Mykhailiuk (Ucrânia), Maciej Lampe (Polônia), Pero Antic (Macedônia), Kristaps Porzingis e Davis Bertans (Letônia).


Toronto Raptors, dois brasileiros, nós e o Norte
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015

Oh, Canada

Oh, Canada

Em 1995, a NBA anunciou que incorporaria duas franquias canadenses ao seu campeonato. A liga ainda curtia a popularidade de um Michael Jordan, já havia se beneficiado aos montes com a empreitada do Dream Team nos Jogos de Barcelona e estava pronta para dar mais um passo importantíssimo em seu processo de internacionalização. Nasceram, então, o Toronto Raptors e o Vancouver Grizzlies.

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As duas equipes tiveram dificuldades naturais para engrenar no princípio. Eles tinham de se montar a partir do zero, a partir do Draft de Expansão, no qual os demais clubes têm o direito de proteger oito atletas de seus elencos, sobrando apenas a rebarba para os irmãos canadenses. Acontece que, sob a direção do hoje esculhambado Isiah Thomas e de Glen Grunwald, o time de Toronto garimpou melhor no mercado e no Draft, enquanto em Vancouver as coisas só pioravam.

Em seis campanhas, a equipe não conseguiu superar a marca de 28% de aproveitamento. Cinco técnicos foram contratados e demitidos. A média de público despencou de 17,1 mil na primeira temporada para 13,7 mil na sexta, com uma ajudinha de um lo(u)caute no meio do caminho, em 1998. O dólar canadense também estava desvalorizado, aumentando as dívidas da gestão. Quando o grupo Orca Bay fechou a venda da franquia para Michael Heisley, em janeiro de 2001, o bilionário de Chicago havia dito que sua intenção era mantê-la na cidade. Heisley sabia, oras, que dias antes a NBA havia vetado um negócio com Bill Laurie, que pretendia levá-la para St. Louis.  Meses depois, contudo, após uma campanha duvidosa para difamar Vancouver, já estava fazendo uma turnê pelos Estados Unidos em busca de possíveis portos para realocação. Encontrou Memphis.

A NBA toparia retornar a Vancouver?

A NBA toparia retornar a Vancouver?

Esse contexto é importante para entender o momento vivido pelo Raptors. O clube passou por mais bocados durante a década passada, saindo dos anos eufóricos de Vince Carter a uma preocupante depressão, com Rafael “Baby” Araújo, Chris Bosh, Jorge Garbajosa, Anthony Parker e outros personagens no meio do caminho. Ainda que o produto em quadra não fosse dos mais interessantes, o aspecto comercial foi bem desenvolvido, conquistando uma sólida base de torcedores e parcerias no mundo corporativo. Eles eram o time do Canadá.

Reparem, então, como, no decorrer dos anos, a cor dos uniformes, por exemplo, migrou gradativamente do roxo para o vermelho. O dinossauro do primeiro logo perdeu seu aspecto cartunesco e foi encolhendo. Hoje, o finado animal está representado por uma simples e discreta pata com três garras que, nessas coisas da semiótica, remete direta ou indiretamente, dependendo do ponto de vista, a uma folha de maple (para eles, bordo para nós), o símbolo da bandeira nacional.

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Para culminar, na temporada passada eles lançaram com estrondoso sucesso a campanha “We, The North” (Nós, o Norte), que virou coqueluche na metrópole com camisetas, cartazes, outdoors e, dãr, #hashtag. Eles, do norte, assumindo de maneira interessante, orgulhosos, sua condição geográfica austral, o que não é tão lógico assim. Quanto mais ao Norte, mais frio. Não o frio paulistano de 12ºC, e, sim, o frio gélido bem pertinho do ártico, abaixo de zero e tal. É o tipo de clima que faz com que, nas obras anglo-saxônicas de ficção, o  “povo do Norte” seja invariavelmente associado a nobres austeros – porque seria assim a vida por lá, com as condições inóspitas exigindo mais trabalho, empenho, seriedade etc., ao contrário dos folgados de um Sul mais quente. Que nos digam os inimigos Stark e Lannister de George R.R. Martin (e da HBO).

Então aí está o marketing da franquia fazendo empréstimos desse tipo de mitologia. O slogan serviu para unir ainda mais uma das bases de torcedores já considerada das mais fervorosas e fanáticas da liga. A ponto de, na abertura dos playoffs 2014, vermos milhares e milhares de pessoas reunidas do lado de fora do Air Canada Centre, no centro de Toronto, para assistir num telão ao primeiro embate de playoff da equipe depois de seis anos, contra o Brooklyn Nets. Uma cena muuuuito rara no cotidiano da liga.

Ainda mais rara – e absurdamente engraçada, vai – foi a manifestação do chefão das operações de basquete do clube, Masai Ujiri, naquele sábado histórico, diante da multidão de torcedores fora do ginásio. Provavelmente com a adrenalina a mil, sentindo aquela vibração descomunal, o dirigente nigeriano soltou logo um entusiasmado “F***-se, Brooklyn!” no microfone, de modo chocante. A galera foi ao delírio, claro. A liga, nem tanto: o dirigente acabou multado em US$ 25 mil. Ainda que daria para fazer uma boa aposta que, secretamente, os gestores tenham rachado o bico e só tenham decidido aplicar a punição por não haver outro modo, mesmo, de lidar com o causo. Além do mais, Ujiri ganha US$ 3 milhões por ano como um supercartola e, caso fizesse uma vaquinha com os torcedores, certeza que pagaria a taxa com tranquilidade e ainda sobraria um troco para um sorvete.

Ujiri foi o homem que selecionou Bruno Caboclo, para choque geral dos especialistas. O mesmo que foi atrás de Lucas Bebê um ano depois de ter falhado em sua missão de também assegurar os direitos sobre o pivô carioca no Draft. E aí que, num estalo, a metrópole canadense se tornou a capital brasileira no basquete da América do Norte. Tipo: agora são eles e ‘nós’ do Norte. O único senão aqui: para ver a dupla em quadra, vai demorar um pouco. Ambos são vistos como projetos de médio para longo prazo. Tanto o ainda adolescente Caboclo como Bebê, que, aos 22 anos e temporadas de Liga ACB nas costas,  já deveria estar num ponto mais adiantado em sua curva de aprendizado.

Bebê e Caboclo: poucas chances para vestir o uniforme canadense

Bebê e Caboclo: poucas chances para vestir o uniforme canadense

Nos primeiros jogos do Raptors, conforme o esperado, os rapazes não vêm sendo nem relacionados pelo técnico Dwane Casey, que tem optado pelos veteranos Landry Fields e Greg Stiemsma no preenchimento de seu banco. Dois caras bem mais experimentados, preparados. De modo que, por enquanto, Bruno e Lucas não terão chance de jogar nem mesmo numa surra como a deste domingo sobre o Philadelphia 76ers, o lanterninha da liga e o jogo mais provável para seu aproveitamento.

“Vai levar um tempão para caras como Bruno e Bebê (estarem prontos), então vamos ser pacientes. Ainda somos uma equipe jovem”, disse Ujiri, sobre os garotos. É o tipo de frase que o espectador brasileiro precisa ter em mente na hora de checar as fichas dos jogos do Raptors e não ver a dupla relacionada. E Ujiri tem razão nesse aspecto: o núcleo principal da equipe ainda vai crescer.

Se o plano do dirigente der certo, os promissores atletas vão se juntar a um elenco mais maduro e ainda mais forte. Futuro próximo? Dois anos? Vai saber. É uma preocupação que um scout da NBA demonstrou em entrevista para o blog, lembram? O Raptors não tem uma filial na D-League. Então toda  a evolução dos brasileiros ficará por conta do trabalho individual com os treinadores durante uma temporada corrida, na qual eles competem para já. No Leste, distante de Memphis. E pelo Canadá.

O time: na temporada passada, Casey fez um dos trabalhos mais formidáveis. O plano de Ujiri, todos sabem, era implodir seu elenco e apostar numa derrocada rumo ao Draft estelar de Andrew Wiggins, Jabari Parker e Joel Embiid. Despachou Andrea Bargnani e Rudy Gay. Deu errado: digo, de acordo com essa ideia original. Porque a equipe melhorou, e muito.

Lowry se tornou uma estrela em Toronto

Lowry se tornou uma estrela em Toronto

A bola começou a girar de um lado para o outro, Kyle Lowry, DeMar DeRozan e Terrence Ross gostaram da responsabilidade maior e cresceram. O banco de reservas foi bastante produtivo, com Patrick Patterson assessorando a entrosada dupla Jonas Valanciunas-Amir Johnson. A melhor química resultou também numa melhora do sistema defensivo, com os atletas mais conectados. Ao final da campanha, o Raptors era um dos poucos posicionados entre os dez ataques e defesas mais eficientes da liga, ao lado de gente como Spurs, Heat, Clippers e Thunder.

Para este campeonato, a base está mantida. Os reforços que chegaram são peças complementares, para deixar a segunda unidade ainda mais sólida. O ala James Johnson endireitou a cabeça, vem de bela campanha pelo Grizzlies, fez as pazes com Casey e retorna a Toronto para fortalecer a defesa no perímetro. Lou Williams pode ter perdido muitos jogos pelo Hawks devido a uma séria lesão no joelho, mas ainda é mais habilidoso e explosivo que John Salmons. Se Lowry e DeRozan mantiverem o ritmo, a estrutura ao redor deles será o suficiente para lhes posicionar bem nos mata-matas. Dependendo do progresso de Ross e Valanciunas, as metas vão crescer.

A pedida: ir longe nos playoffs e, dependendo do nível que Bulls e Cavs tiverem atingido, sonhar, talvez, com uma final?

Olho nele: Terrence Ross. Porque vale a pena observar com atenção qualquer jogador que passe da barreira dos 50 pontos numa partida, não? Foi o que o ala de 23 anos conseguiu numa derrota para o Clippers no dia 25 de janeiro, assustando a imprensa norte-americana. A quantia é emblemática, mas o mais interessante é o modo como ele a atingiu, que mostra todo o seu potencial. Veja:

Ross é um desses atletas especiais que poderia competir tanto no torneio de enterradas como no de chutes de três pontos num All-Star Weekend. Além disso, é agil e tem envergadura para dar trabalho na defesa.

Abre o jogo: “É tanto dinheiro que eu guardo logo na minha conta. Talvez algo no futuro, mas não sei”, Bruno Caboclo ao ser questionado em Toronto sobre o que faria com o seu primeiro pagamento.

Você não perguntou, mas… a grande temporada do Raptors realmente foi produto do acaso. De vários causos fortuitos, mesmo. Por exemplo: quando a franquia acertou uma troca com o Houston Rockets para receber Kyle Lowry, esse era apenas um plano B do então presidente Bryan Colangelo. A principal opção do dirigente, que acabou substituído por Ujiri, era Steve Nash – negociação que acompanhava perfeitamente a guinada canadense do time. O veterano havia se tornado um agente livre em julho de 2012 e estava disposto a conversar com a franquia de seu país natal. Quando o Lakers surgiu para atrapalhar tudo, Colangelo se viu obrigado a procurar outras alternativas. E veio Lowry, de quem o Rockets queria se livrar para limpar sua folha salarial e também por que andavam cansados da dor-de-cabeça que o armador causava, de tanto reclamar que não aceitaria ser reserva. A ironia é que, a princípio, em Toronto ele também chegaria para ficar no banco de Nash.

Damon Stoudamire, Toronto RaptorsUm card do passado: Damon Stoudamire. Além do aspecto comercial e logístico, o Raptors também teve mais sucesso que o Grizzlies na montagem de seus primeiros elencos. Para 1995-96, sua primeira temporada, enquanto Vancouver foi de Bryant Reeves, Toronto selecionou o baixinho Stoudamire, de 1,78 m, para sua armação. Vindo da Universidade do Arizona, o talentoso armador, apelidado de Mighty Mouse (Super Mouse, aqui) foi a primeira grande esperança da franquia, tendo impressionantes médias de 19 pontos e 9,3 assistências como novato. Também foi a primeira grande esperança a deixar a equipe precocemente, forçando uma troca para o Portland Trail Blazers, de sua cidade natal. O mesmo aconteceria com Vince Carter, Tracy McGrady e Chris Bosh, numa sina daquelas (os impostos em Toronto são mais caros e ainda existe uma espécie de preconceito entre os atletas contra a ideia de viver no Canadá, acreditem). A carreira armador nunca mais teve tanto brilho. Ele ainda jogou pelo Grizzlies, mas em Memphis, teve uma curta passagem pelo Spurs e se aposentou em 2008. No mesmo ano, começou a trabalhar como treinador. Em fevereiro de 2009, retornou a Memphis para integrar a comissão técnica de Lionel Hollins, tendo sido importante no desenvolvimento de Mike Conley Jr. Hoje, é um dos assistentes de Sean Miller na sua alma mater, Arizona.


As semifinais da Copa do Mundo em números
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Giancarlo Giampietro

Gente, vocês querem números? Faltam apenas quatro jogos para o sonho de uma Copa do Mundo de basquete de verão terminar. Com quatro times em disputa, sendo que um vai sair de mãos abanando, assim como aconteceu com Brasil e Espanha. Mas, isso, claro, vocês já sabiam. Vamos com outros dados, então:

No poderoso ataque americano, tem até para DeRozan. Dale, cravada

No poderoso ataque americano, tem até para DeRozan. Dale, cravada

102,3 – Os EUA têm o melhor ataque da Copa, e o restante não chega nem perto. Com 102,3 pontos por jogo, abriram quase 20 de vantagem para a Espanha, que agonizou diante da defesa sufocante dos franceses nesta quarta. Entre os que ainda estão no páreo, a Sérvia aparece em segundo, com 80,1, ajudada pela sacolada que deram no Brasil. A Lituânia anotou 76 pontos em média, enquanto a França tem 72,9 (apenas a 14ª no geral).

68,8% – Sérvia e França estão empatados com este fraco aproveitamento em seus lances livres, valendo as 17ª e 18ª posições no ranking geral. Os EUA, com 71,3%, aparecem em 13º. A Lituânia tem 75,2%, em quarto. Por curiosidade, as Filipinas lideraram o quesito, com 79,6%.

44 – Este a gente colocou no primeiro dessa texto dessa série estatística, mas, depois da tragédia espanhola, vale o reforço: foi em 1970, há 44 anos, a última vez em que o país anfitrião viu sua seleção comemorar o título: a Iugoslávia. O que, nos tempos de hoje, nem vale: eram vários países em um, sendo que três deles disputaram a atual edição: Croácia, Eslovênia e Sérvia.

A vitalidade de Jonas Valanciunas, estrela lituana de apenas 22 anos e o quinto reboteiro do Mundial, com 8,6

A vitalidade de Jonas Valanciunas, estrela lituana de apenas 22 anos e o quinto reboteiro do Mundial, com 8,6

28 – É a média de idade da Lituânia, o time mais velho entre os semifinalistas. O restante? França e Sérvia empatam com 26 anos, enquanto os Estados Unidos têm 24. Este talvez seja o dado mais relevante para colocar em perspectiva a campanha brasileira, com uma seleção de 31 anos. Todas essas quatro potências já têm uma base armada para o próximo ciclo olímpico.

23,8 – Surpreendentemente, o ala Klay Thompson é o jogador americano que mais tempo fica em quadra no Mundial, com 23,4 minutos, contra os 23 cravados de Kyrie Irving. No total, isso representa apenas três minutos a mais (164 a 161). O pivô Andre Drummond, convocado basicamente como apólice de seguro num eventual embate com a Espanha que agora jamais vai acontecer, somou 38 minutos, quase uma partida de Fiba inteira (6,3 por partida).

22,1 – O quanto a França arremessa de três pontos por jogo, o maior número entre os quatro semifinalistas, mesmo que eles tenham, de longe, o pior aproveitamento (ridículos 31,6%). EUA, Lituânia e Sérvia estão todos na casa de 19 chutes de longa distância por rodada, com os lituanos, claro, tendo a melhor pontaria: 40%. Culpa do pivô Darjus Lavrinovic, que tem acertado surreais 62,5% de seus arremessos, e do armador Adas Juskevicius (57,1%). O Brasil se despediu do torneio com 16,9 tentativas e 37,3% de acerto.

20 – Erros para a Espanha em arremessos de três pontos em sua derrota para a França, tendo tentado 22 disparos. Ok, é um número que pertence muito mais fase anterior, mas, nestes tempos de redes sociais em ebulição por conta desse processo chamado “Festa da Democracia”, todo mundo parece acreditar que jornalismo é manipulação, né? Então tomem aqui a prova mais clara. (Na verdade, o número é fundamental para explicar a classificação francesa, com uma linha defensiva assustadora, que arrepiou os espanhóis: um time desse nível acertar apenas 9,1% de seus chutes de fora? #sacrebleu).

13,9 – Dos 48 jogadores que ainda podem jogar o Mundial nesta reta final, Miroslav Raduljica, quem diria, é o cestinha, com 13,9 pontos. Logo em sua cola vem o Anthony Davis, mas pode chamar de Monocelha, com 13,7. Passaram quatro equipes que não dependem tanto assim de um jogador para carregar o ataque. Verdade seja dita: era o mesmo caso do Brasil. Entre os 20 principais pontuadores, em média, do torneio, apenas Kenneth Faried, com 13,0, se junta ao sérvio e a seu compatriota nessa. Desta forma, José Juan Barea ao menos pode acrescentar esta linha em seu currículo: “*Cestinha da Copa do Mundo de basquete 2014, com 22,0 pontos – só não perguntem, por favor, qual foi a campanha do meu time”.

Batum está com cara de que queria fazer pelo menos uns 15 pontinhos por jogo, vai...

Batum está com cara de que queria fazer pelo menos uns 15 pontinhos por jogo, vai…

9,9 – Por falar em cestinhas, esta é a média de pontos de Nicolas Batum no torneio. O ala do Blazers, acreditem, lidera a seleção francesa nesse quesito. Joffrey Lauvergne tem 9,4, Thomas Heurte, 8,4, Boris Diaw, 7,9, e por aí vamos… Incrível.

4 – A França falhou em marcar que 70 pontos em quatro de seus sete jogos na competição. Se formos descartar os dados computados contra Egito e Irã, restaria apenas uma partida, então, em que cruzaram essa… Nada fantástica marca. E foi contra quem? Justamente a Sérvia, seu adversário das semis, vencendo por 74 a 73. Mas, ‘bora lá repetir todo mundo: “Cada jooooogo é uma históooooria”.

1 – Apenas um time não tem sequer um atleta com contrato de NBA em seu elenco: a Sérvia. Raduljica jogou o campeonato passado pelo Bucks, foi trocado para o Clippers e acabou dispensado, como já foi amplamente divulgado, embora a turma em geral insista em ignorar isso. O ala Bogdan Bogdanovic foi draftado pelo Phoenis Suns neste ano, em 27º, mas vai seguir sua carreira na Europa, pelo Fenerbahçe, talvez por mais dois anos, antes de pensar numa transferência. No clube turco, terá a companhia de Nemanja Bjelica, jogador já selecionado pelo Minnesota Timberwolves. Quem sabe Flip Saunders não decide dar uma chance para o ultratalentoso ala-pivô num futuro próximo? Sem Kevin Love, há vagas. E aqui vale um destaque importante: é muito tentador escrever que a Sérvia não tem sequer um jogador de NBA. Porque, a julgar pela cobertura geral do Mundial, só importa quem joga nela, né? Só o selo de aprovação da liga atestaria a qualidade de um atleta. Aí vem a Sérvia, e… Pumba.

0 – Nenhum jogador naturalizado vai disputar as semifinais. Quem chega mais perto disso é o Kyrie Irving, que nasceu na Austrália, mas se mudou com o pai, mais um desses ciganos e jogadores americanos, aos dois anos de idade. Sábia decisão a dele, já que os Boomers têm dono: Patty Mills, e ninguém tasca. Sem contar que, em 2020, será a vez de Dante Exum. Ah, a França tem suas importações também, mas em outras circunstâncias. Tanto Florent Pietrus como Mickael Gelabale procedem de Guadalupe, que fica no Caribe, mas ainda é território francês. O ala reserva Charles Kahudi é de Kinshasa, no Congo, mas fez toda a sua carreira no país latino, algo mais que recorrente.


Semifinalista, Lituânia usou até Frankenstein pra ser o país do basquete
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Giancarlo Giampietro

Valanciunas, o futuro do país do basquete

Valanciunas, o futuro do país do basquete

O basquete comemora: a Lituânia está na semifinal da Copa do Mundo, pela segunda edição consecutiva, depois de ter batido a Turquia por 73 a 61 nesta terça-feira, num jogo que estava enroscado por três períodos, mas foi resolvido pela maior versatilidade – e talento puro, mesmo – dos bálticos no quarto final, em Barcelona.

Não foi a apresentação mais encantadora do torneio, uma que fique para a história, as a modalidade comemora, sim. Não deixa de ser gratificante testemunhar o sucesso alcançado por uma nação de estimados 3 milhões de habitantes (praticamente a mesma de Salvador) e área total de 65,300 km2 (três vezes menor que o Paraná) e que, com esses números relativamente tímidos, constitui um autêntico país do basquete.

Uma seleção com currículo de fazer inveja a qualquer país que não se chame Estados Unidos. O mesmo Team USA que bateu a Eslovênia nesta e que vão enfrentar na semifinal de quinta-feira, um adversário ao qual devem muito de seu apego religioso pela modalidade.

Frank Lubin, de jogador de time hollywoodiano a ídolo nacional na Lituânia

Frank Lubin, de jogador de time hollywoodiano a ídolo nacional na Lituânia

Sim, eu sei: direta ou indiretamente, todo basqueteiro deve reportar aos Estados Unidos, por intermédio de James Naismith. Ainda que tenha nascido no Canadá, foi em Springfield, no Estado de Massachusetts, que ele inventou essa brincadeira de bola ao cesto. Para os lituanos, porém, um dos patriarcas de fato tem outro nome: Frank Lubin.

Nascido em Los Angeles, filho de lituanos, Lubin era um pivô de pouco mais de 2,00 m de altura, que se formou pela UCLA – instituição que, nos anos 60 e 70, contaria com os jovens célebres Lew Alcindor e Bill Walton, vocês sabem. Lubin não fez nome como o futuro Kareem Abdul-Jabbar, mas pôde celebrar como campeão olímpico pelos Estados Unidos em Berlim 1936, a primeira edição do torneio olímpico – por aquele que teria sido o primeiro Dream Team, recebendo sua medalha dourada de ninguém menos que o próprio Dr. Naismith.

Depois da famigerada competição disputada no quintal de Adolf Hitler, Lubin aceitou um convite para conhecer e trabalhar como treinador na Lituânia, aonde seria como Pranas Lubinas – o que é muito mais legal, claro. Ele ainda veria, em 1937, o selecionado báltico conquistar seu primeiro EuroBasket, em Riga, na Letônia. Como jogador e técnico, ajudou a conquistar o torneio continental seguinte, em 1939, sendo MVP de uma competição em seu time fazia as vezes de anfitrião. Ele morreu aos 89 anos, de volta à Califórnia, em 1999, dois anos depois de entrar no Hall da Fama de sua universidade.

A noiva do Boris Karloff. Quer dizer, do Frankenstein. Mas não do Frank Rubin, que fique claro

A noiva do Boris Karloff. Quer dizer, do Frankenstein. Mas não do Frank Rubin, que fique claro

Se isso já não fosse instigante o bastante, saibam que Lubinas também poderia ser identificado como Frankenstein Lubin pelos seus compatriotas norte-americanos, num trocadilho óbvio com seu nome natural, mas que que também envolvia o time e o técnico pelo qual jogava nos Estados Unidos. Acreditem: ele defendia uma equipe amadora bancada pela… Universal Pictures, um dos pilares hollywoodianos. O treinador Jack Pierce fazia seus bicos como maquiador do estúdio. Quer dizer, mais provável que o basquete fosse o bico, né? Mas vamos lá: um de seus trabalhos foi a produção “The Bride of Frankenstein”, estrelada por Boris Karloff, o verdadeiro e único Frankenstein dos cinemas – Robert De Niro que nos perdoe. Segundo esse texto fantástico de Luke Winn para a Sports Illustrated, Lubin vestia fantasia e partia em direção aos torcedores antes dos jogos, em muitas das ações promocionais que faziam para os filmes da Univesal.

Sem maquiagem ou roupas estranhas, Lubinas ser um astro, mesmo, na Lituânia, aonde passou a ser conhecido como o “Avô do Basquete”. De qualquer forma, outros americanos, entre eles Konstantinas Savickas (que nasceu em Punsk, mas emigrou para a América do Norte quando criança), também foram instrumentais para ensinar e, naturalmente, popularizar o basquete por lá. Savickas, por exemplo, foi o treinador da seleção nacional até pouco antes do Europeu de 37.

Na equipe campeã naquele ano e em 1939, os grandes nomes ainda eram descendentes diretos como Juozas Jurgela,  Vytautas Budriunas,  Feliksas Kriauciunas e Pranas Talzunas, boa parte da região de Chicago. Depois do primeiro título, a Lituânia ganhou o direito de sediar a edição seguinte. Para tanto, o governo autorizou a construção do Kauno Sporto Hal (o hall dos esportes de Kaunas), que, na verdade, recebia só jogos de basquete. Teria sido o primeiro, digamos, templo construído apenas para a prática do bola ao cesto, algo que viraria realmente um culto por lá.

A esperança de sediar mais uma vez o torneio em 1941 e de lutar pelo tricampeonato acabou da pior forma, com o estouro da Segunda Guerra Mundial. A Lituânia se viu disputada por russos e alemães no início dos anos 40 e acabou anexada novamente na composição da União Soviética. Lubinas conseguiu escapar com sua família saindo de um navio da Estônia. A reconstituição desses fatos ajuda a entender bem a paixão do país pelo basquete, não? Era como se a modalidade representasse o sonho de independência, prosperidade e glórias.

Um outro Time dos Sonhos, por diversas razões

Um outro Time dos Sonhos, por diversas razões

A ponto de o time de 1992, a primeira seleção lituana constituída após a corrosão do antigo império comunista, ganhar a aura de um conjunto secular, sob a liderança do gigantesco Arvydas Sabonis. É uma grande história que envolve grandes craques de basquete, orgulho nacional, redenção e até mesmo o Grateful Dead. Virou imperdível documentário, já abordado por estas bandas.

Desde então, o mundo do basquete se habituou a dividir o pódio com os lituanos. Eles foram semifinalistas simplesmente por cinco torneios olímpicos em sequência, levando o bronze de Barcelona 1992 a Sydney 2000 – em Atenas e Pequim, terminaram em quarto. Sem contar que o ouro soviético de 1988, sabemos todos, é, no mínimo, 85% lituano, com seus jogadores atuando por um país que, de unido, só tinha o nome – se não bastasse o talento inigualável de um Saboni, com algumas cirurgias a menos, ainda contavam com Kurtinaitis, Marciulionis e Chomicius. Na Europa, também ganharam duas pratas, incluindo a do último campeonato, mais um ouro em 2003 e um bronze em 2007. Curiosamente, em termos de Mundial, têm menos sucesso que os russos, com apenas um bronze na última edição, contra duas pratas conquistadas pelos rivais.

Como eles fazem isso? Basta paixão e dedicação?

Claro que não.

No texto de Luke Winn para a SI, o secretário geral (ou: generalinis sekretorius) da federação Mindaugas Balciunas enfatiza o trabalho de formação de seus professores. “A razão para que a Lituânia seja tão forte é nosso sistema de preparação dos treinadores”, afirma o dirigente que ajudou a criar em 2010 até mesmo um programa de mestrado para técnicos, em parceria com a Universidade de Worcester, na Inglaterra (!?) e a Academia Lituana de Edudação Física, pela qual se formou. “Desde então, ele têm persuadido membros da atual seleção, incluindo o ala Linas Kleiza, a se inscreverem nesse curso”, relata Winn. Os estudos podem ser feitos  à distância. Mas o fato é que, nas escolas do país, já são diversos os bacharéis ensinando a molecada.

Acho que isso ajuda a entender um pouco, né?

A atual seleção lituana não conta com ninguém do porte de seus grandes nomes dos anos 80, ou de um Sarunas Jasikevicius, que se despediu da equipe após Londres 2012 e se aposentou nesta temporada – hoje é assistente do Zalgiris. Mas há uma combinação interessante de veteranos como os gêmeos Lavrinovic, o ala Simas Jasaitis e o pivô Paulius Jankunas com uma nova geração liderada por Jonas Valanciunas, o xodó do Toronto Raptors, que, aos 22, é um dos cinco atletas de 25 anos para baixo do elenco. A tradição vai seguindo adiante, como não pode deixar de ser.

“Nós somos um país pequeno”, admite Sabonis. “E o basquete é o melhor caminho para mostrarmos ao mundo quem nós somos.”


Duelo com a Sérvia escancara buraco na base brasileira
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Giancarlo Giampietro

Raduljica, sete anos depois, volta a enfrentar Brasil no mata-mata

Raduljica, sete anos depois, volta a enfrentar Brasil no mata-mata

Quando a bola subir na quarta-feira, pelas quartas de final da Copa do Mundo, não será a primeira vez que o armador Stefan Markovic e o pivô Miroslav Raduljica vão enfrentar o Brasil num mata-mata de torneio Fiba. Sete anos atrás, ainda adolescentes, no Mundial Sub-19 eles levaram a melhor contra em uma semifinal que acabou em vitória tranquila dos balcânicos, 89 a 74.

Para quem clicou imediatamente no link acima, já deu para ver os dois ficaram, respectivamente, 26 e 23 minutos, em quadra, contribuindo com 12 pontos, 7 assistências e 6 rebotes. Números regulares. Mas vale o destaque, mesmo, estatístico daquele jogo é a quantidade de brasileiros presentes na seleção nacional que derrubou a Argentina no domingo passado: 0. Isso mesmo: ze-ro.

José Neto está na seleção principal em 2014. Dos garotos, poucos chegaram perto

José Neto está na seleção principal em 2014. Dos garotos, poucos chegaram perto

Quer dizer, se formos considerar o assistente técnico José Neto, temos ao menos um – ele era o treinador daquele time. Daquela geração era de 1988-89, dos quais foram pinçados os 12 representantes para aquela campanha (?) histórica, hoje todos eles com 25 e 26 anos,  nenhum jogador conseguiu se desenvolver a ponto de entrar na lista final de Rubén Magnano para competir por uma medalha na Espanha.

Quem chegou mais perto disso foi o ala-pivô Rafael Mineiro, que disputou o Campeonato Sul-Americano deste ano, como peça integral da rotação, com médias de 6,2 pontos e 4,8 rebotes. Da seleção B, Raulzinho e Rafael Hettsheimeir foram chamados para compor o grupo principal.

Embora não tenha conseguido dar o grande salto, o talentoso Mineiro é um caro caso de atleta que conseguiu alguma continuidade em sua carreira internacional desde o Mundial Sub-19. Desde, então, ao menos conseguiu jogar três Sul-Americanos, mais que o grande nome daquela categoria: Paulão Prestes. O pivô participou só de um Sul-Americano – ironicamente, em 2006, anterior ao torneio de base. Os problemas físicos de Paulão estão bem documentados, guiando uma trajetória de altos e baixos. Foi muito bem cotado na Espanha, acabou draftado pelo Minnesota Timberwolves (algo muito difícil e não pode se perder de perspectiva), mas se lesionou demais e teve problemas com a balança. Chegou a ser pré-convocado por Magnano em duas ocasiões e hoje é a grande aposta do Mogi, ao lado de Shamell.

De resto, temos o ala Betinho em São José, com média de 13,6 pontos, 2,0 assistências e 32,5% nos três pontos em sua carreira no NBB, o ala-pivô Rodrigo César no Uberlândia e o pivô Romário no Macaé. Outro que chega ao NBB agora é o armador Carlos Cobos, de dupla nacionalidade (Espanha e Brasil), criado na base do Unicaja Málaga ao lado de Paulão, e que também não conseguiu se firmar na Liga ACB. Ele acabou de acertar com o Franca de Lula Ferreira, que ao menos vai fazendo esse trabalho de prospeção, tentando recuperar alguns dos garotos espalhados por aí.

Contando: foram citados, então, seis atletas daquele time sub-19, 50%. O restante, para termos uma ideia, é até difícil de rastrear. Luiz Gomes, que hoje é um dos motores por trás do Mondo Basquete – um site bem bacana para você visitar –, fez esse trabalho hercúleo no ano passado, já constando uma geração verdadeiramente perdida.

Thomas Melazzo, fora do basquete

Thomas Melazzo, fora do basquete

Cauê Freias, autor da cesta da vitória contra a Austrália de Patty Mills nas quartas de final, e Bruno Ferreira, o Biro, estão no Caxias do Sul e devem disputar a Liga Ouro, Segunda Divisão do NBB. Houve quem tenha parado e largado o esporte: o ala Thomas Melazzo, que tinha um potencial absurdo, hoje é personal trainer, aparentemente vivendo em Salt Lake City, terra do Utah Jazz. Se alguém souber do paradeiro dos demais, por favor, caixa de comentários aberta abaixo.

Dia desses, no Twitter, o mesmo Luiz Gomes estava especulando a respeito, apontando algumas promessas  de então e hoje na elite. Muitos deles classificados para os mata-matas de uma Copa do Mundo, na elite. A Sérvia já escalou o ala-pivôs Marko Keselj e Milan Macvan na fase decisiva do Mundial de 2010, para se ter uma ideia. No time de hoje, tem Markovic e Raduljica e ainda conta com mais cinco jogadores que teriam idade para disputar aquele torneio, mas só ganhariam visibilidade mais tarde.

Já a França apresenta quatro nomes de seu time sub-19 que bateu o Brasil na disputa pelo bronze: o armador Antoine Diot, o ala Edwin Jackson, o pivô Kim Tillie e um certo Nicolas Batum. O pivô Alexis Ajinça certamente estaria na Copa do Mundo, não tivesse pedido dispensa. Até mesmo os Estados Unidos, com sua produção de talentos incomparável, tem um representante de 2007 aqui: Stephen Curry! Daquele elenco, destacam-se também nomes como DeAndre Jordan (Clippers), Patrick Beverley (Rockets) e Michael Beasley (Marte).

Entre os demais quadrifinalistas da Copa, para ser justo, é preciso dizer que a Espanha só tem um atleta daquela jornada: o ala Victor Claver. Lituânia e Turquia? Nenhum. A Eslovênia não havia se classificado.Mas também é preciso dizer uma coisa sobre os lituanos: sua atual seleção conta com cinco jogadores nascidos depois de 1988 (o ano-limite para inscrição naquele Mundial): Adas Juskevicius, Sarunas Vasiliauskas, Mindaugas Kuzminskas, Donatas Motiejunas e Jonas Valanciunas – os dois últimos simplesmente as maiores apostas dessa tradicional potência. Já os turcos têm três: o caçula Cedi Osman, de apenas 19, além de Furkan Aldemir (cujos direitos na NBA pertencem ao Sixers) e Baris Hersek.

Nessa categoria, de atletas de 26 anos ou mais jovens, também se enquadram os argentinos Facundo Campazzo, Nícolas Laprovíttola, Tayavek Gallizzi, Matías Bortolín e Marcos Delía. A Austrália contou com seis: Dante Exum (19), Brock Motum, Cameron Bairstow (23), Matthew Dellavedova, Ryan Broekhoff (24) e Chris Goulding (25, este convocado para aquele Mundial Sub-19). Já os Estados Unidos possuem apenas um jogador nascido antes de 88: Rudy Gay, e só.

No Brasil, com 22 anos, Raulzinho é a figura solitária. Rafael Luz acabou preterido no último corte, enquanto Augusto Lima dançou já no Sul-Americano. Uma decisão bastante sensata poupou Bruno Caboclo dessa. Já Lucas Bebê foi deixado na geladeira, depois da escapada do ano passado. Ao menos o filho do Raul vem sendo utilizado com regularidade por Rubén Magnano, contribuindo para valer hoje – e ao mesmo tempo ganhando uma experiência extremamente valiosa para o futuro. Agora, fora isso, a seleção que joga na Espanha, a mais velha do Mundial, é apenas para agora e agora.

Obviamente que a base do elenco de Magnano é fortíssima, não sobram vagas. Como acontece com a Espanha. Agora, na periferia do plantel, será que não dava para encaixar? Depois de uma vitória contra a Argentina, na iminência de um confronto com a Sérvia, pode ter gosto de chope aguado todas essas lembranças. Nesta semana, as preocupações dos envolvidos com o jogo ficam realmente direcionadas só para a quadra. Fora dela, porém, nos escritórios da CBB, o tema já deveria estar na mesa há tempos. Sem precisar que a figura até folclórica de Raduljica, nesta quarta-feira, servisse como recado.


O 1º dia da Copa do Mundo de basquete
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Giancarlo Giampietro

Vocês se lembram daquelas jornadas triplas da Copa do Mundo da FIFA, né? Um jogão atrás do outro, dominando sua agenda. Pois bem. Pegue esse agito todo e multiplique por quatro. O resultado é a Copa do Mundo da Fiba. É muito basquete num dia só: 12 partidas! Uma tabela de estatística vai atropelando a outra, os fatos vão se acumulando, e pode ficar difícil de dar conta de tudo. Vamos dar um passada, então, sobre a rodada. Para o básico, deixe de ser preguiçoso e acesse o site oficial da competição, né? Veja lá a situação dos grupos e os todos os resultados. Sobre a vitória brasileira sobre a França, clique aqui.

O jogo do dia: Croácia x Andray Blatches (vulgo Filipinas)
Quem diria, né? O jogo de abertura da Copa do Mundo também foi aquele mais dramático, definido apenas na prorrogação, com as Filipinas dando um senhor susto na Croácia. A equipe balcânica chegou a abrir vantagem de 15 pontos. Venceu o primeiro quarto por 23 a 9, mas permitiu a reação do oponente.  No quarto período, Jeff Chan teve a bola do jogo nas mãos, mas errou um arremesso de três, desequilibrado, no estouro do cronômetro. No minuto final da prorrogação, o classudo Bojan Bogdanovic matou quatro lances livres, chegando a 26 pontos, para afastar a zebra (81 a 78) e esfriar a galera filipina, que lotou a arena em Sevilha. É deste Grupo B que sairá o adversário brasileiro nas oitavas de final.

Jeff Chan, foi quase

Jeff Chan, foi quase

A surpresa
Selem Safar. Aos 27 anos, ala argentino fez sua estreia numa competição de alto nível – sim, a esculhambada Copa América de 2013 não conta – e arrepiou a defesa porto-riquenha ao anotar 18 pontos em 29 minutos. Um terço de seus pontos vieram de tiros de longa distância, com 4/8, número fundamental para abrir a quadra para Scola, Herrmann e Nocioni operarem (50 pontos para o trio + 30 rebotes!!!). O resultado foi uma sacolada inesperada dos hermanos neste clássico latino-americano: 98 a 75. Safar é daqueles arremessadores, digamos, temperamentais. Nas últimas três temporadas da liga argentina, teve, respectivamente, 38,7%, 32,5% e 37,6% de aproveitamento. Quando pega confiança, porém, vira um terror. Raulzinho e Rafael Hettsheimeir, que o enfrentaram no Sul-Americano, sabem. No quarto período, engatou uma sequência de disparos da zona morta que culminou em virada na semifinal.

Selem Safar deu as caras contra Porto Rico

Selem Safar deu as caras contra Porto Rico

A surra
Os Estados Unidos venceram a… Finlândia. Por 114 a 55. Agora espere um pouco, por favor. Vamos fazer umas contas.

(…)

(…)

É, dá mais que o dobro.

Foi a maior contagem de uma equipe na jornada de abertura, acima dos 98 da Argentina. Klay Thompson se esbaldou, com 18 pontos em 22 minutos. Pegava na bola e fazia cesta. Mas sua média fica bem abaixo do que Anthony Davis conseguiu. O monocelha marretou 17 pontos em 14 minutos. Baita apelão. Os 12 atletas norte-americanos pontuaram.

Pau Gasol sobrou contra o Irã

Pau Gasol sobrou contra o Irã

Alguns números
100% –
O pivô Jonas Valanciunas não errou nenhuma de suas oito tentativas de cesta em vitória da Lituânia contra o México por 87 a 74. O curioso é que, com o jogador do Toronto Raptors em quadra,  sua seleção perdeu por -2 pontos.

37,7% – Das equipes que conseguiram vencer neste sábado, o Brasil teve o pior aproveitamento nos arremessos: 37,7%, bastante atrapalhado pela envergadura dos defensores franceses e também por sua própria movimentação de bola deficiente. Mesmo os sacos de pancada Egito e Irã foram superiores neste quesito, com 39% e 38,1%, respectivamente.

34 + 33 – Pau Gasol iniciou de maneira dominante aquele que talvez seja seu último torneio pela Espanha. Contra a frágil equipe do Irã, em vitória por 90 a 60, ele marcou 33 pontos em 29 minutos, acertando 60% dos seus arremessos e 90% nos lances livres. Foi o cestinha da rodada e também o atleta com o maior índice de eficiência (34, contra os 26 do senegalês Gorgui Dieng em derrota por 87 a 64 para a Grécia).

26 – minutos em que Goran Dragic foi aproveitado pela Eslovênia em vitória sobre a Austrália por 90 a 80. O jogo não foi fácil. Então por que o astro do Phoenix Suns ficou 14 minutos no banco de reservas? É que a franquia do Arizona e a federação eslovena chegaram a um acordo: existe um limite de minutos para que o armador seja aproveitado – uma situação que vale monitorar daqui para a frente. Contra os aussies, ele também cometeu quatro faltas, o que também contribui. o Quando jogou, Dragão aproveitou ao máximo, somando 21 pontos, sete rebotes e quatro assistências.

18 – Foi o número de assistências que Pablo Prigioni e Facundo Campazzo somaram. Para contextualizar, apenas dois times no geral deram mais passes para cesta do que os dois armadores argentinos: EUA (20) e Grécia (19). Esta vitória argentina rendeu, viu?

10 – Foram os limitados minutos para Omer Asik na estreia turca. Que coisa. O veterano Keren Gonlum e o jovem Furkan Aldemir começaram como titulares. Mas quem mandou bem, mesmo, no garrafão foi o gigante Ogus Savas, do Fenerbahçe, que anotou 16 pontos em 12 minutos, acertando 5/8 nos arremessos e 6/7 nos lances livres.

Um causo
A Nova Zelândia abriu sua participação na Copa do Mundo da mesma maneira de sempre: fazendo o Haka em quadra. Acontece que a Turquia não deu nem tchum para eles. Foram para o banco bater um papo com o técnico Ergin Ataman. O gesto teria sido considerado ofensivo pelos Kiwis. “A Turquia sempre nos respeitou nas outras vezes que jogamos, mas hoje, não. Eles ofenderam algo que representa nosso país, nossa cultura, nossa tradição. É uma coisa para eles falarem. Nós temos muito orgulho de fazê-lo. É algo que nos une e que seguiremos fazendo no resto do torneio”, afirmou o pivô Frank Casey, de 36 anos, que é americano naturalizado neozelandês. Ataman respondeu: “Respeitamos muito a importância do Haka para a Nova Zelândia, mas queria manter concentrada nossa equipe, porque se tratava de um jogo importante. Se todas as equipes fizerem um ritual histórico de dois minutos anes dos jogos, não nos concentraremos”. A Turquia venceu por 76 a 73. Concentração é tudo.

Dois hippies neozelandeses buscam o rebote, depois do Haka

Dois hippies neozelandeses buscam o rebote, depois do Haka

Andray Blatche: contagem de arremessos
24! – O jogador mais filipino do torneio saiu de quadra todo orgulhoso com seu esforço: tentou 24 dos 79 arremessos do time asiático, que quaaaase derrotou a Croácia. Seu aproveitamento foi de 7/20 nos tiros de dois pontos e 3/4 de longa distância (28 pontos, com mais 12 rebotes). Mas não importa: se os alas Jeff Chan e Marc Pingris não tivessem ousado combinar para 18 arremessos entre eles e feito mais passes para Blatche, quem sabe não teriam vencido o jogo!? Absurdo.

Blatche precisa da bola. Deem uma bola para Blatche

Blatche precisa da bola. Deem uma bola para Blatche

Nueva Zelanda estuvo a punto de dar la sorpresa e imponerse a Turquía en su primer partido en el Mundial. Un choque que estuvo marcado por la tradicional ‘haka’ maorí que los otomanos tuvieron a bien ver desde el banquillo creando una fuerte controversia

“Turquía nos respeto siempre otras veces pero ellos decidieron no hacerlo con nuestra Haka esta ocasión. Ellos eligieron no respetar y ofendieron algo que representa a nuestro país nuestra cultura, nuestro equipo y nuestra tradición. Es cosa de ellos. Nosotros nos sentimos muy orgullosos de ello. Es algo que nos une y seguiremos haciéndolo el resto del torneo”, señaló a MARCA Frank Casey, jugador de Nueva Zelanda.

“Turquía nos respeto siempre otras veces pero ellos decidieron no hacerlo con nuestra Haka esta ocasión. Ellos eligieron no respetar y ofendieron algo que representa a nuestro país nuestra cultura, nuestro equipo y nuestra tradición. Es cosa de ellos. Nosotros nos sentimos muy orgullosos de ello. Es algo que nos une y seguiremos haciéndolo el resto del torneo”,

“Turquía nos respeto siempre otras veces pero ellos decidieron no hacerlo con nuestra Haka esta ocasión. Ellos eligieron no respetar y ofendieron algo que representa a nuestro país nuestra cultura, nuestro equipo y nuestra tradición. Es cosa de ellos. Nosotros nos sentimos muy orgullosos de ello. Es algo que nos une y seguiremos haciéndolo el resto del torneo”,

O que o Giannis Antetokounmpo fez hoje?
Foram 11 pontos em 19 minutos para o prodígio grego, com mais cinco rebotes e três roubos de bola contra o Senegal de Gorgui Dieng. Detalhe: sete pontos saíram na linha de lance livre, numa prova da mentalidade cada vez mais agressiva do ala do Milwaukee Bucks. Agora, se sete pontos saíram desta maneira, sobram apenas quatro para cestas de quadra. Dois deles saíram assim:

   

Tuitando:

Com cinco jogos em seis dias pela primeira fase, tem de se cuidar, mesmo. E será que tem algum jogo em que Varejão não saia estrupiado?

O analista do NBA.com geralmente se apega aos números. No mundo Fiba, solta um pouco seu humor com uma performance dominante de Pau Gasol – contra ala-pivôs iranianos.


Ex-dirigente do Phoenix Suns, hoje colunista do ESPN.com, Amin Elhassan relembra a dificuldade do time em acertar o nome do finlandês Petteri Koponen durante os treinos pré-Draft. Koponen, um armador vigoroso, acabou sendo escolhido pelo Portland Trail Blazers no Draft, antes de ser repassado para o Dallas Mavericks. Mas ele nunca jogou nos Estados Unidos. Hoje defende o Kimkhi, da Rússia.