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Prepare-se para uma noite insana de NBA. A temporada chega ao fim
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Giancarlo Giampietro

Não vai rolar de ter o Monocelha e o Wess nos playoffs

Não vai rolar de ter o Monocelha e o Wess nos playoffs

É raro, mas a NBA chega a sua última rodada nesta quarta-feira com uma boa carga de emoção para ser despejada na sua televisão – ou computador. Temos duas vagas de playoffs em aberto, uma em cada conferência, e também todo um estratégico posicionamento dos oito primeiros colocados para ser definido. Segue aqui, então, um guia básico do que esperar na saideira e mais algumas notinhas sobre esse desfecho de temporada. Se der tempo, e tem de dar, atualizo isso aqui mais tarde.

Critérios, critérios
Com tantas disputas equilibradas e a possibilidade de empate na classificação geral, o mais importante talvez seja ter em mente quais são os fatores que ordenam a tabela em caso de campanhas iguais. Preparado para copiar e colar?

1) Um campeão da divisão fica acima de outro time que não esteja no topo da sua divisão.
2) Confronto direto entre os envolvidos no empate.
3) Melhor campanha contra times de sua própria divisão (desde que os times sejam da mesma divisão).
4) Melhor campanha contra times da própria conferência.
5) Melhor campanha contra times dos playoffs da própria conferência.
6) Melhor campanha contra times dos playoffs da outra conferência.
7) Melhor saldo de pontos em toda a temporada

PS: no caso de empate tríplice ou quádruplo – e, glup, até isso foi possível um dia! –, os critérios são os mesmos, excluindo apenas o sexto.

O que tem de mais dramático?
A disputa pelo oitavo lugar tanto do Oeste quanto do Leste, claro.

Paul George tenta retornar aos playoffs, de última hora. Revanche contra Atlanta?

Paul George tenta retornar aos playoffs, de última hora. Revanche contra Atlanta?

Do lado do Atlântico, o Boston Celtics já tinha sua vaga certa desde segunda-feira. Nesta terça, ao vencer o Toronto Raptors com uma cesta no fim de Jae Crowder, assegurou que vai ficar em sétimo, agendando encontro com os LeBrons de Cleveland. Na terça, também tivemos o emocionante (ou quase) duelo entre Indiana Pacers e Washington Wizards, com triunfo do Pacers. Um triunfo que eliminou de vez o Miami Heat, atual tetracampeão da conferência. É apenas a segunda vez que Dwyane Wade não participa dos mata-matas em toda a sua carreira. Desde 2003.

O valente Pacers, então, está no páreo contra o Brooklyn Nets, tendo uma vitória a mais. Ambos vão para a quadra nesta quarta. Os rapazes eleitos por Larry Bird vão enfrentar o combalido Memphis Grizzlies, que ainda tentam uma boa posição para os mata-matas. Já o Brooklyn Basketball tem pela frente a garotada do Orlando Magic. Supostamente, a vida dos Nyets é mais fácil, né? Lembrem-se apenas que estamos falando de um time com 37 vitórias e 44 derrotas. Nada é fácil para esses caras.

Quer saber da ironia aqui? Lionel Hollins depende de uma vitória de sua ex-equipe, o Grizzlies, e de seu ex-assistente, Dave Joerger, com quem hoje não mantém das melhores relações. Caso o Indiana vença, está dentro. Se perder, precisa torcer para Elfrid Payton, Nik Vucevic etc., uma vez que o time nova-iorquino conta com a vantagem no desempate por confronto direto.

(Sobre a vitória do Pacers em dupla prorrogação contra o Wizards? Nas palavras de Charles Barkley, foi “o jogo mais entediante sob essas condições na história da NBA”. O placar? Um singelo 99 a 97. Segundo Ben Golliver, da Sports Illustrated, o mínimo que uma equipe havia marcado até esta terça-feira em 58 minutos de basquete eram 107 pontos. Afe. Então tem isso: a briga de Indy está sendo bonita, considerando tudo o que  os caras enfrentaram na temporada, mas ainda estamos falando de um time bastante limitado, que, numa conferência minimamente mais competitiva, estaria fora há tempos.)

Do outro lado do país, temos a briga de foice entre New Orleans Pelicas (hoje em vantagem também devido ao retrospecto no duelo) e Oklahoma City Thunder. Quer dizer: a NBA vai ficar sem Anthony Davis ou Russell Westbrook nos mata-matas para classificar um time capenga do Leste. Detalhe: estivessem na conferência concorrente, tanto Monocelha como Wess veriam seus times posicionados no sexto lugar. Mesmo um Phoenix Suns em plena decadência e o emergente Utah Jazz levariam a melhor. É demais.

O Pelicans é aquele que tem a missão mais difícil da noite, precisando se virar contra o San Antonio Spurs. Ao que tudo indica, Gregg Popovich não vai poupar ninguém, querendo garantir a segunda posição do Oeste – o que não só rende mando de quadra nas duas primeiras rodadas como serve para evitar o Golden State Warriors até uma eventual final de conferência. Já OKC enfrenta a versão fraldinha e D-Leaguer do Minnesota Timberwolves, com Andrew Wiggins e Zach LaVine dominando a bola, escoltados por Justin Hamilton, Lorenzo Brown e afins.

Westbrook depende de uma vitória própria e um triunfo do Spurs. Só não perguntem a ele se ele vai torcer por San Antonio:

E o que mais?
Falta definir o emparelhamento dos playoffs. De garantido, no Oeste, temos: Golden State Warriors primeiro, Portland Trail Blazers quarto e Dallas Mavericks sétimo. E só.

(Dando um tempo para você rir, enquanto assimila a informação…)

Pronto, deu, né?

Faça chuva ou faça sol, o Blazers de LaMarcus entrará nos playoffs em quarto – mas sem mando de quadra

Faça chuva ou faça sol, o Blazers de LaMarcus entrará nos playoffs em quarto – mas sem mando de quadra

O Los Angeles Clippers ocupa hoje a segunda posição da conferência, tendo concluído sua campanha já com 56 vitórias e 26 derrotas, mas precisa esperar o desfecho da rodada. O certo é que, no mínimo, o novo primo rico angelino fica em terceiro. Caso o San Antonio Spurs vença, assume a vice-liderança. Se ambos os texanos vencerem, o Rockets fica em quarto, com o Memphis Grizzlies em quinto. O Rockets pode, porém, passar seu rival texano, dependendo de um tropeço deles contra o Pelicans, subindo para segundo – superando o Clippers por ser campeão de Divisão. Já o Grizzlies torce contra a dupla texana, mesmo, por levar a melhor no desempate contra ambos, podendo subir para terceiro, abaixo de LAC.

Isso, claro, desde que todos esses times pretendam realmente ficar o mais alto possível na tabela. Com tantas lesões que abalam a rotação de Stotts em Portland, de McHale em Houston e de Joerger em Memphis, não duvido que um time ou outro “escolha” o adversário. Enfim. É tudo muito complicado e talvez nem dê para optar por nada. Peguem o Spurs por exemplo: o time cai para terceiro se perder e o Rockets também. Fica em quinto se perder, Rockets vencer e Grizzlies perder. E termina em sexto se perder e os outros dois triunfarem. Vai arriscar o quê?

O posicionamento do Blazers em quarto volta a levantar a discussão em torno da importância dos títulos de Divisão. A organização ainda procura dar valor para isso – jogadores, técnicos, dirigentes e a comunidade em geral parecem que não. E aí temos o único representante do Noroeste garantido nos playoffs em uma situação confortável. Se fosse ranqueado apenas por seus resultados, o time estaria em sexto. Ainda com uma bela campanha de 51 ou 52 vitórias, mas abaixo dos demais concorrentes. Por ter faturado sua Divisão, se posiciona obrigatoriamente entre os quatro cabeças-de-chave – mesmo que não tenha mando de quadra na primeira rodada, já que tem aproveitamento pior que o de Spurs, Rockets e Grizzlies, independentemente do desfecho nesta quarta. Dá para entender? Claro que não. Sua única vantagem é escapar de um confronto logo de cara com os dois primeiros da conferência. Que puxa.

No Leste, as coisas são mais simples: Atlanta em primeiro, Cleveland em segundo, Washington em quinto, Milwaukee em sexto, Boston em sétimo. A terceira posição fica entre Chicago ou Toronto, com o Bulls dependendo apenas de seus esforços – ou de uma derrota do clube canadense. Se perderem, o Raptors garante o terceiro lugar no desempate por ter vencido a Divisão Atlântico desde o início de dezembro. Mas também fica a dúvida: para o Bulls, que se julga candidato ao título, qual caminho é o menos desagradável: ficar na chave de Hawks ou Cavs? Para o Raptors, a impressão é que eles adorariam enfrentar o Wizards, um time que conseguiu domar durante a temporada.

Intocáveis, ou quase
Sim, foi uma conferência novamente brutal. No geral, os times do Oeste tiveram aproveitamento de 58,4% contra os do Leste, com 262 vitórias e 187 derrotas. Por outro lado, muitos de seus supertimes perderam um pouco de fôlego nessa reta final de temporada devido ao excesso de lesões.

Wesley Matthews, Patrick Beverley e Donatas Motiejunas estão definitivamente fora da temporada. Arron Afflalo pode perder uma semana de playoff, ou até mais, dependendo da recuperação. LaMarcus Aldridge já deveria ter feito uma cirurgia por conta de uma ruptura de tendão na mão direita. Se OKC passar, não terá Kevin Durant, enquanto um eventual retorno de Serge Ibaka ainda é um mistério. Fosse início de temporada, com dores no tornozelo e no pulso, Mike Conley Jr. não estaria jogando. Marc Gasol torceu o tornozelo há duas partidas. Tiago Splitter voltou a sentir a panturrilha, ainda que, segundo o Spurs, não é nada grave. Chandler Parsos está novamente fora de ação, com problemas no joelho – também há gente que assegura que o vestiário do Mavs está, hã, fraturado. Do Clippers a gente nem fala, pois é como se Doc Rivers tivesse um banco inteiro de gente lesionada – “só que não”. Apenas o Golden State Warriors parece intactos (ao menos oficialmente intactos).

(Sud)Oeste selvagem
Agora, se a gente for usar uma lupa para observar o desfecho da temporada e o desequilíbrio interconferências, é para notar na hora que a grande responsável pelo desnível na balança é a pesadíssima Divisão Sudoeste. Se os Monocelhas vencerem nesta quarta, os cinco times dessa divisão estarão nos playoffs. Algo que não acontece desde 2006 (Divisão Central), restando duas vaguinhas para a do Pacífico (Warriors, Clippers) e uma para a do Noroeste. Coisa de louco.  No geral, contra o Leste, os times quinteto sustentou um aproveitamento de 68,5% – e 60,5% contra os irmãos do Oeste.


Lucas Bebê dá as caras na D-League. Como foi a experiência?
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Giancarlo Giampietro

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Depois de passar nove dias com o Fort Wayne Mad Ants, nos confins da D-League, Lucas Bebê foi chamado de volta pelo Toronto Raptors nesta quinta-feira. O problema é que o brasileiro retorna ao Canadá com um problema muscular na perna direita, sofrido em duelo com o Bakersfield Jam em seu último compromisso durante a semana. Segundo sua assessoria, o pivô deve passar por um exame detalhado ainda nesta sexta, para saber qual a gravidade da contusão (ou lesão, dependendo do que a ressonância mostrar).

Certamente não era a notícia que o gerente geral Masai Ujiri queria ouvir, esperando apenas que não seja nada muito grave. De qualquer forma, a primeira passabem do brasileiro pela liga de desenvolvimento da NBA foi muito mais produtiva do que as duas de seu compatriota, Bruno Caboclo, que, depois de uma estreia produtiva, mal viu a cor da bola por lá, dando trabalho fora de quadra.

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Oficialmente, foram quatro jogos para Bebê, com médias de 8,3 pontos, 10,0 rebotes, 2,0 tocos, em 20,1 minutos, com 42,9% no aproveitamento dos arremessos de quadra e 50% nos lances livres. O mais correto, no entanto, é falar em apenas três partidas, uma vez que foi na quarta que ele sentiu uma fisgada na coxa, com apenas dois minutos de ação. Se formos excluir essa, aí as médias sobem para 11,0 pontos, 13,0 rebotes, 2,6 tocos, em 25,6 minutos. Um belo rendimento, ainda que tenha sido pouco eficiente no sistema ofensivo.

Antes de soltar fogos pela vizinhança, porém, é bom lembrar que os números da D-League tendem a ser extremamente inflados, devido ao ritmo acelerado das partidas. A coisa pode descambar para uma pelada facilmente, com uma chuva de arremessos. Se chovem bolas para a cesta, rebote não vai faltar, vai? É preciso dar um desconto a qualquer análise superficial estatística aqui, pois foi exatamente este tipo de basquete que predominou durante as três aparições de Lucas por lá, mesmo que ele não tenha enfrentado os malucos do Reno Bighorns. Para quem não sabe, a liga disponibiliza o VT de todos os seus jogos no YouTube, na íntegra, além de transmiti-los ao vivo.

Em Toronto, pouquíssimos minutos

Em Toronto, pouquíssimos minutos

É isto: depois de um looooooooooongo inverno, podemos avaliar como anda o pivô, que só havia feito seis partidas pelos Raptors na temporada, entrando invariavelmente com os duelos decididos, em clima de garbage time – um cenário que, francamente, anula qualquer possibilidade de avaliação mais séria sobre um jogador. Antes de avançar com o pivô, é importante ressaltar alguns pontos, para que fique bem claro o que representa sua experiência com as Formigas Malucas:

1) O Toronto não está penalizando um jogador ao enviá-lo para a D-League. Faz parte do plano de desenvolvimento.

2) A queda de rendimento do time canadense neste ano só dificulta as coisas. Acabaram as sacoladas, diminuíram as chances de aproveitamento. Em um momento difícil, o técnico Dwane Casey não vai, mesmo, chamar os calouros brasileiros. No entendimento da comissão técnica, não estão nada preparados para enfrentar uma situação dessas. Então a D-League acaba sendo a melhor via para eles mostrarem serviço. Uma pena que Bruno a tenha desperdiçado, por ora.

3) Na D-League, basicamente todo atleta cedido pela NBA encontra um ambiente meio que, ou totalmente hostil. A posição deles é invejada, é o sonho de todos os jogadores que estão ali, abrindo mão de melhores propostas da Europa para ganhar muito pouco – os salários variam de US$ 13 mil a US$ 25,5 mil… por temporada. Confiam que, estando literalmente mais próximos da grande liga, terão mais facilidade de convencer scouts e dirigentes a contratá-los.

4) No caso do Fort Wayne Mad Ants, a complicação ainda é maior: estamos falando do único clube da liga que não tem afiliação exclusiva, abrindo suas portas para 13 equipes da NBA. Isso bagunça o coreto. E outra: o clube não deve satisfações a nenhuma outra entidade. Toca seu projeto, e obrigado. No caso, entram em quadra para vencer e vencer – como se jogassem uma W(in)-League, ao contrário da maioria de seus concorrentes. Então, ok: se vocês querem mandar a molecada, não há problema. Mas ele serão usados nos nossos termos. É o que discurso que vem de lá.

Precisa decorar os quatro tópicos acima antes de se empolgar ou chiar diante do que a duplinha faz nas viagens entre Fort Wayne, no estado de Indiana, e Toronto.  Não obstante, também termos de levar em conta outros dois fatores para diferenciar Bebê e Caboclo, para que não se compare a produção de quadra dos dois brasileiros. (Quer dizer, nem tem muito o que comparar, já que o ala de 19 anos nem bem jogou. Mas isso vale para uma eventual terceira chamada.)

Lucas pode ser um novato na NBA, mas já é profissional há um bom tempo, e encarando competição de alto nível na liga espanhola – o campeonato nacional mais forte da Europa. Também é três anos mais velho. Além disso, sendo um pivô de 2,13 m de altura, o carioca não é dos tipos mais fáceis que se encontra por aí, né? Alto, ágil, comprido. Um biótipo que se encaixa em qualquer elenco, ainda mais num time como o Mad Ants que tem carência no jogo interno. No perímetro, Caboclo enfrenta concorrência mais volumosa e, também, apetitosa.

Aliás, nada melhor do que falar sobre apetite. O ponto mais positivo que percebi nas atuações de Bebê foi sua disposição em quadra. Não teve bico, nem nada. Quando acionado pelo técnico Connor Henry, o pivô mostrou muita energia em quadra. Não chega a ser uma novidade para quem o acompanha desde os tempos de Liga ACB, mas é bom conferir que ele segue correndo a quadra tanto na transição defensiva como na ofensiva, pedindo sempre a bola, ou brigando por ela:

Quando estava no banco, manteve uma atitude positiva cumprimentando um por um de seus novos companheiros na apresentação, em lances livres errados, levantando-se para aplaudir cestas de três etc. Na sua estreia, contra o Delaware 87ers, filial do Philadelphia 76ers (waka-waka-waka), chegou até mesmo a invadir a quadra após uma falta dura do pivô Drew Gordon em cima do ala CJ Fair. Queria tirar satisfações, falando bastante. Foi retirado na manha pelo assistente Jaren Jackson, aquele ex-Spurs.

Os sprints são importantíssimos para um pivô em ação na D-League. Pois, para seguir nas metáforas alimentícias, a turma do perímetro tende a ser um pouco fominha. Ainda mais quando você tem o imortal Jordan Crawford – sim, ele, mesmo, de volta da China – como seu companheiro. Os grandalhões podem ter dificuldade para receber a bola – então é melhor acelerar mesmo no contra-ataque com a esperança de que alguma boa alma enxergue seu empenho e o recompense. No caso de um pirulão de 2,13 m, mais 50 centímetros de afro, descendo a ladeira? Difícil não notar. Diversos pontos do brasileiro saíram nesse tipo de jogada:


Só assim, mesmo. No jogo em que se machucou, contei sete posses de bola para o Mad Ants. Sabe em quantas ele recebeu ao menos um mísero passe? Somente em duas, sendo que, na segunda, foi apenas na reposição lateral, estando o armador da vez bem marcado. Curiosamente, na primeira vez em que foi devidamente envolvido no ataque, ele mostrou uma de suas habilidades mais subestimadas: o passe a partir do poste alto. Está certo que o defensor deu uma boa viajada, mas aí vai uma assistência para Trey McKinney-Jones, que esteve no Brasil com o Miami Heat, durante a pré-temporada:

Até porque, fora o saco sem fundo que é Crawford e alguns outros atletas ansiosos para o arremesso, como Xavier Thames e Fair, em situações de meia quadra há todo o desentrosamento de Lucas com os demais atletas. O cara mal tem tempo de treinar, chegando da metrópole canadense e já precisa jogar, com muita responsabilidade: impressionar seus chefes de verdade e, ao mesmo tempo, justificar o carimbo de NBA diante de gente cheia de desconfiança no vestiário. Por isso, por vezes, apenas vagava de um lado para o outro, indo e voltando. Em algumas ocasiões, nem bem havia chegado ao garrafão, e um tiro de três já havia sido tentado.

Nesse contexto, contei apenas uma bola – uma! – em que o pivô foi municiado no ataque de costas para a cesta. E não deu para saber o que ele faria nessa ocasião, já que sofreu a falta de imediato. Ou seja: não dá para saber se os treinos com os técnicos do Raptors resultaram em evolução no seu arsenal ofensivo. Sem jogadas desenhadas especificamente para ele, o carioca usou os rebotes ofensivos e algumas poucas combinações bem-sucedidas de pick-and-roll para encestar. A jogada pode parecer simples, mas requer química e um armador disposto e/ou capaz de enxergar a quadra – não foi o caso de Gary Talton, infelizmente; posso ter dado azar, mas peguei três jogos bem fracos do cara.

Ainda assim, sua capacidade no corte para a cesta sem a bola segue valiosa. Em duas passadas, Bebê consegue chegar ao aro. Isso chama a atenção da defesa. Se não vier o passe, pode acabar abrindo a quadra para um chute de três, chamando a ajuda lá dentro. Se a defesa se desequilibrar, ele ainda tem grandes chances de coletar o rebote ofensivo, devido a sua envergadura e agilidade e também a sua capacidade de saltar seguidas vezes.

Esses atributos são obviamente o carro-chefe do brasileiro. Habilidades naturais que precisam ser mais e mais refinadas em Toronto. Em compensação, o atleta ainda segue com dificuldade para absorver o contato físico no garrafão ou debaixo da tabela. Os duelos com o Iowa Energy mostraram isso, com Jarnell Stokes, do Memphis Grizzlies, e o já rodado Willie Reed levando a melhor no corpo a corpo com o brasileiro – em duas partidas, os dois somaram 80 pontos e 66 rebotes abusando de todos que encontravam pela frente. Do outro lado, a fragilidade também atrapalhou na hora de finalizar em meio ao tráfego, com contato (como vemos acima). Isso também ajuda a explicar aproveitamento bem baixo nos chutes de quadra, especialmente para alguém da sua estatura. Na NBA, as coisas ficam ainda mais difíceis.

Devido a essa desvantagem em termos de força, é meio que imperativo que Lucas se posicione bem no garrafão na hora de marcar individualmente ou de lutar pelos rebotes. Se não tem a base muito forte para aguentar o tranco de gente mais parruda, deve fazer a defesa pela frente, para cortar a linha de passe, aproveitando-se até mesmo de sua envergadura. O problema é que, justamente por ser longo toda a vida, o pivô acredita que pode bloquear todo e qualquer arremesso num raio de cinco ou mais metros. Por isso, tende a caçar os jogadores que estejam com a bola. Mesmo que chegue no tempo certo, se falhar em atingir a bola, vai deixar um rival livre logo atrás.

Agora, é aqui que lembramos que Bebê mal jogou neste ano. Então não dá para saber exatamente o quanto essas recorrentes questões seriam (ou estão sendo) corrigidas e desapareceriam com mais tempo de quadra, com mais rodagem. Pois é inevitável que ele entre em quadra sedento pela bola, propenso a cometer um ou outro deslize tático. Nesse sentido, atrapalha bastante o fato de o Raptors não ter o seu próprio time na D-League, podendo conduzir esse processo de modo muito mais cuidadoso e acelerado.

Da sua parte, de todo modo, o pivô precisa se manter concentrado, com objetivos a longo prazo, evitando as distrações que o mundo em torno da NBA pode oferecer. O mesmo vale para Caboclo. Chegando aos 23 anos, Lucas ainda é um jogador jovem, mas que já deixou de ser o caçula da turma há tempos e ainda tem muito o que trabalhar para virar um jogador de ponta. O potencial é indiscutível e está aí para ser realizado, para que os números vultuosos não precisem de asterisco nenhum no futuro.


Augusto derruba o Real, Splitter decola e mais: um giro com os brasileiros
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Giancarlo Giampietro

Os playoffs estão chegando, em todos os lugares — no Fantasy, aliás, o bicho já está pegando. Então vale gastar alguns minutos nesta segunda-feira para checar como andam os brasileiros espalhados por aí, levantando como têm sido seus últimos dias, de preparação para a hora que importa, mesmo:

– Começamos pela Espanha. Não só para quebrar a rotina, mas também pelo fato de a maior vitória ‘brasileira’ ter acontecido por lá. Augusto Lima, em sua temporada sensacional, liderou o modesto Murcia em um triunfo histórico sobre o Real Madrid, pela Liga ACB. Há 20 anos que seu clube não derrotava a potência merengue em casa. O pivô teve dificuldade para finalizar no garrafão (3/11 nos arremessos), mas não deixou a confiança esmorecer. Como de costume, batalhou pelas próprias sobras e terminou com um double-double de 13 pontos e 11 rebotes. Foram 5 na tábua ofensiva, buscando contato (6/7 nos lances livres).

Augusto rege a torcida: vitória muito comemorada

Augusto rege a torcida: vitória muito comemorada

Ao menos neste ano vem sendo acompanhado por Magnano, que o elogiou recentemente, depois de ter sido ignorado na convocação passada. Até porque Augusto tem ao seu lado Raulzinho, que foi titular no domingo. Em 24 minutos, somou 7 pontos, 2 assistências e 2 rebotes. Durante a campanha, o jovem armador vem dividindo a condução da equipe com o veteraníssimo Carlos Cabezas, sendo observado pelo Utah Jazz.

Em termos de classificação, o resultado devolve a esperança ao Murcia de chegar aos playoffs. Mas não vai ser fácil. O time está na décima posição, com 11 vitórias e 13 derrotas, empatado com o Gran Canaria. O oitavo Zaragoza é o Zaragoza, com 14 e 11, respectivamente, também empatado com o Baskonia e o Valencia. Restam 9 rodadas na temporada.

De acordo qualquer forma, tem de comemorar, mesmo. Não só quebraram um tabu — chamado de “maldição” por lá –, como derrubaram o Real da liderança. O Málaga volta a se isolar na ponta. Mais: para se ter uma noção do quão difícil é derrotar o gigante espanhol, saibam que, de 2012 até esse domingo, os caras haviam ganhado 82 de 92 partidas pela temporada regular.  Aproveitamento de 89,1%. Só.

Augusto e Raul na rodinha animada

Augusto e Raul na rodinha animada

Ainda na Espanha, outro que está numa crescente é o armador Rafael Luz, titular na vitória do Obradoiro sobre o Fuenlabrada por 88 a 82, no sábado. O brasileiro marcou 9 pontos e deu 9 assistências em 29 minutos arredondados. Nos últimos quatro jogos, ele tem médias de 10,7 pontos, 5,2 assistências e 3,2 roubos de bola, números elevados para a a liga, ainda mais em 25 minutos.

– Ok, agora a NBA. A julgar pela desenvoltura com a qual se movimentou em quadra neste domingo, parece não haver incômodo algum na panturrilha de Tiago Splitter. O pivô fez uma grande partida contra o Atlanta Hawks, em surra dada pelo Spurs (114 a 95). O catarinense jogou por 27  minutos e terminou com 23 pontos e 8 rebotes, convertendo impressionantes10/14 chutes.

Não é segredo que o Spurs rende seu melhor basquete, há duas temporadas, com Splitter entre os titulares — ainda que um Boris Diaw com bom ritmo seja muito valioso contra times mais ágeis. Tim Duncan, mesmo, já disse ao VinteUm que prefere a formação de duas torres. Os números vão comprovando a tese novamente: desde que o ilustre cidadão de Blumenau recuperou o posto, o quinteto inicial do time texano vem esmagando a oposição.

Taí a dupla

Taí a dupla

Antes, porém, que vocês queiram descer o cacete no Coach Pop, favor considerar os seguintes fatores: 1) Splitter teve sua pré-temporada prejudicada pelas lesões; 2) Pop não ia desgastá-lo, ciente de sua importância; 3) Diaw ainda é um que está atrás da curva, e a equipe vai precisar dele mais para a frente; 4) Aron Baynes meio que jogou bem, mas não conte para ninguém; 5) mais importante de todos: demorou para o quinteto inteiro ficar em forma, na mesma época.

O Spurs, assim como Splitter torcia, está chegando. Se o jogo no Madison Square Garden foi uma desgraça, praguejado com veemência por Popovich, a verdade é que ultimamente os campeões têm dado muito mais sinais de grandeza. Mike Budenholzer viu de perto, num primeiro quarto arrasador: eles voltaram. O que é salutar. Quando o Spurs está em seu melhor nível, difícil encontrar jogo mais bonito e atordoante. A bola cruza a quadra com máxima velocidade, de mão em mão, para frente e para trás, até a defesa rival se despedaçar. E o legal foi ver Splitter totalmente envolvido nessa. Dos raros pivôs com quem a bola não morre. No defesa, as rotações são uma belezura. Green e Kawhi agridem no perímetro, os pivôs cobrem, e a intensidade é plena.

Está tudo enrolado na tabela, mas, mantendo esse ritmo, San Antonio vai ter mando de quadra na primeira rodada, independentemente de ficar com a quarta posição. Tivessem batido os Bockers, já registraram melhor aproveitamento hoje que Blazers e Clippers.

Bruno Caboclo volta a entrar em quadra. Por dois minutos

Bruno Caboclo volta a entrar em quadra. Por dois minutos

– O Toronto Raptors não está jogando tão bem assim, mas tem sua classificação para os mata-matas assegurada, vai. Ao time canadense, o que resta é tentar recuperar o basquete dos dois primeiros meses da temporada. Essa conjuntura não favorece os dois brasileiros do elenco – se o mando de quadra também estivesse garantido, as perspectivas de tempo de quadra aumentariam. De qualquer forma, neste domingo, depois de um looongo inverno e de problemas fora de quadra, pela primeira vez desde 4 de fevereiro, o técnico Dwane Casey colocou o ala em quadra. Foram apenas dois minutinhos contra o Knicks, uma baba.  Isso só foi possível pelo fato de Kyle Lowry estar afastado por lesão, abrindo uma vaga para Caboclo trocar o terno pelo uniforme.

Lucas Bebê não estava presente para ver. O carioca está cedido ao Fort Wayne Mad Ants, da D-League. Ao contrário do que aconteceu com o caçulinha brasileiro por lá, Lucas chegou para jogar – foram três partidas até agora, com médias de 11,0 pontos, 13,0 rebotes e 2,6 rebotes, em imporantes 25,7 minutos – para comparar, Bruno teve apenas 8,9 minutos em sete compromissos. Quer dizer: o pivô produziu bem. Mas não dá para se levar perdidamente pelos números da Liga de Desenvolvimento da NBA. Os jogos são acelerados, a bagunça costuma imperar. Tem de pegar os VTs no YouTube para avaliar com cuidado o que o pivô anda fazendo. O Mad Ants não é a franquia mais aberta da D-League aos jogadores de cima, mas segue como a melhor oportunidade para a dupla ser aproveitada.

Leandrinho, ao ataque. Briga por minutos relevantes

Leandrinho, ao ataque. Briga por minutos relevantes

– Leandrinho foi outro que ganhou espaço devido a uma lesão de um dos titulares. Klay Thompson está fora de ação pelo Warriors, e o ligeirinho tem sido mais acionado por Steve Kerr, dividindo os minutos do jovem astro com Andre Iguodala e Justin Holiday. O ala-armador recebeu 80 minutos em três jogos (26,6) e marcou 44 pontos (14,6). É um momento importante para mostrar serviço: uma hora Kerr vai ter de definir sua rotação para os playoffs, e ainda não está clara a ordem de chamada no banco. Andre Iguodala, Shaun Livingston e Marreese Speights vão para a quadra. É de se imaginar que David Lee também. Restaria uma vaga, pela qual duelam as habilidades ofensivas do brasileiro e as defensivas de Holiday, irmão do Jrue.

– Depois de um mês de fevereiro tenebroso, o Washington Wizards tenta se recuperar, mas vem de duas derrotas (Clippers e Kings, no domingo). Nenê volta a viver sua rotina de entra-e-sai do plantel de relacionados de Randy Wittman, devido aos constantes problemas físicos. O técnico precisa do pivô na briga por mando de quadra, mas a produção do paulista sofreu uma boa queda neste mês, tendo acertado apenas 42,9% de seus arremessos de quadra (na temporada, a média é de 51,5%; na carreira, 54,5%). É uma situação para se monitorar, ainda mais se a seleção brasileira tiver de jogar por uma vaga olímpica neste ano.


O intrincado caminho para o desenvolvimento de Caboclo e Bebê
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Giancarlo Giampietro

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O Toronto Raptors já surrava o Milwaukee Bucks, em casa, quando Lou Williams recebeu a bola no meio da quadra e viu Bruno Caboclo bem posicionado para o passe, já cruzando a linha de três pontos. O passe foi na medida, e o ala partiu direto para a enterrada. A essa altura, princípio de quarto período, o Air Canada Centre já estava agitado. Depois do lance, entrou em polvorosa, para celebrar o calouro que adotaram prontamente como um xodó. Foi uma estreia perfeita, talvez o momento mais especial da temporada, do ponto de vista brasileiro. Era 21 de novembro, ainda muito cedo no campeonato, mas tudo se encaixava como um conto de fadas para um garoto que nem bem havia jogado como profissional no Brasil e já estava lá na NBA querendo mandar seu recado.

Acontece que aquele seria um episódio isolado, quase um espasmo. O ala mal jogaria depois. De acordo com os planos do time, não há nada de errado com isso. Desde o momento em que anunciou a seleção de Caboclo na 20ª posição do Draft, o Toronto Raptors, representado pela figura de seu gerente geral Masai Ujiri, pregou paciência. O jogador seria lançado aos poucos. Beeem aos poucos. Para o pivô Lucas Bebê, mesmo três anos mais velho, o panorama era o mesmo. Tudo muito calculado.

O difícil, porém, é fazer que as revelações brasileiras, que tanto querem jogar, entenderem e abraçar a causa, o projeto: já se circula pelos bastidores da NBA que o clube canadense tem vivido algumas das semanas mais complicados no processo de desenvolvimento dos dois. Múltiplas fontes da liga americana – de outros clubes, frise-se –, passaram ao VinteUm relatos de uma turbulência em Toronto envolvendo Bruno e Lucas.

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Os dirigentes do Raptors, com o gravador ligado, se concentram em fatos positivos – algo mais que natural, considerando que, em termos práticos, qualquer cartola, quando fala de seus jogadores, está se referindo a patrimônio do clube, seja para o uso na quadra ou como bem de valor.

Conversei em Nova York com quatro fontes diferentes ligadas ao time: Ujiri, o chefão; o treinador Jama Mahlalela, quem mais passa tempo em quadra com o brasileiro; o chefe do departamento de scouting internacional Patrick Engelbrecht, o homem que ‘descobriu’ Caboclo; e Kyle Lowry. Eles discorreram sobre o trabalho com os jovens brasileiros. São aqueles que mais os veem em ação no dia a dia de treinos, uma vez que jogos, para valer, são escassos. As declarações, no entanto, ganharam um contexto muito diferente dias depois do All-Star Weekend, a partir da notícia sobre a visita-surpresa dos jogadores aos camarotes do Carnaval do Rio de Janeiro, na Marquês de Sapucaí.

Bruno Caboclo, Lucas Bebê, carnaval, Toronto, Rio

Caboclo e Bebê mal têm jogado pelo time canadense. Depois do furor da estreia, o ala só seria utilizado em mais três jogos, com um total de 16 minutos. Seria na D-League em que ele ganharia mais tempo para botar em prática aquilo que tem treinado diariamente com a comissão técnica. Bebê não foi enviado para a liga de desenvolvimento da NBA, mas também foi pouco acionado pelo técnico Dwane Casey (menos de 24 minutos em seis partidas). De novo: nada ao acaso.

Por tudo o que o blog ouviu, tanto empenho nos treinos e as poucas oportunidades para jogar levaram os atletas a um nível de frustração alarmante, sucedida por atitudes questionáveis fora de quadra. “Muita exposição, muito cedo”, “não há como negar que coisas ruins aconteceram”, “há problemas em Toronto com os dois”… Esses foram alguns dos comentários endereçados. O que se sabe, nos corredores da liga, é de atos indisciplinares, que não precisam ser publicados. São uma mistura de imaturidade e um certo deslumbre com todas as armadilhas que podem cercar a vida de qualquer jogador da liga norte-americana, quanto mais de dois jovens estrangeiros.

A ida ao Rio de Janeiro para o Carnaval não pegou bem. Pessoalmente, ao ver as fotos da Sapucaí, de início não achei crime algum naquilo. Não foram os primeiros, nem serão os últimos atletas da NBA a sair pela noite, e, além do mais, eles estavam em meio a uma semana de folga. Aliás, não custa lembrar que a ATP (Associação dos Tenistas Profissionais) usou o desfile das escolas de samba para promover o Rio Open, levando Rafael Nadal, David Ferrer e Guga Kuerten para a avenida. Antes da estreia dos espanhóis no torneio – Ferrer seria o campeão.

Por outro lado, os brasileiros viajaram um tanto tarde, já perto da data de retorno aos treinos. Além disso, dá para entender perfeitamente a linha crítica a esse passeio, uma vez que, se eles mal jogam pelo time, precisariam aproveitar qualquer dia disponível de treino para tentar melhorar e buscar espaço no time. Não sei se existe certo ou errado aqui. E, de qualquer forma, já há dois problemas nessa divagação: 1) a opinião de um blogueiro não vale de nada comparada com a de quem trabalha com os jogadores diariamente; 2) a escapada veio nesse contexto já tenso.

A primeira passagem de Bruno pela D-League, por exemplo, terminou bem antes do esperado, depois de apenas três jogos, e não foi devido aos seus altos e baixos em quadra – o que era esperado. “É o que acontece com o jogador jovem. Vai ter esses altos e baixos, jogos de um ou três pontos, vai fazer 20 pontos em outro dia. Ele tem de passar por essa curva de aprendizado. Não acho que possamos esperar muito de seus jogos”, diz o gerente geral Ujiri. O problema não foi a quadra. O brasileiro deu trabalho ao Fort Wayne Mad Ants fora dela e teve de ser resgatado às pressas pelo Toronto.

bruno-caboclo-d-league-mad-ants-loss

Agora, o ala está de volta ao clube de Indiana, com temperaturas gélidas, literalmente ou não. Tem novamente jogado muito pouco: foram 14 minutos totais nos dias 19 e 20 de fevereiro, com um aproveitamento melhor na segunda, contra o Westchester Knicks, na qual fezoito pontos em 10 minutos, com a equipe conquistando sua única vitória em todas as cinco partidas em que escalou o paulista de Osaco. No dia 22, ele nem mesmo entrou em quadra – por decisão do treinador Conner Henry. Independentemente do que acontece atrás das cortinas, este já está longe de ser um cenário ideal para o progresso do ala como jogador.

Em sua estreia pelo Fort Wayne, detalhada aqui, Caboclo fez um primeiro tempo excepcional, mas depois se atrapalhou bastante na volta do intervalo, cometendo muitas faltas e um turnover crucial em uma derrota para o Iowa Energy. No jogo seguinte, sem remorso algum, o técnico Henry deu apenas cinco minutos para o brasileiro, que não escondeu seu descontentamento. Esse tipo de situação jamais aconteceria num clube que fosse exclusivamente controlado pelo Raptors. Nesse sentido, o modelo conduzido por Miami Heat, Houston Rockets, San Antonio Spurs e Golden State Warriors, entre outros, é visto como o ideal.

“Bruno vai ter momentos em que vai parecer muito bom e outros em que vai parecer muito ruim. Vai ser assim. Ele precisa jogar, ganhar experiência. Podemos fazer os exercícios, os treinos a cada dia, mas precisamos que ele jogue mais. Vamos mandá-lo para a D-League para isso”, diz Jama Mahlalela, o assistente do Raptoras, que também ressalta a importância da próxima liga de verão para o brasileiro, a segunda de sua carreira. “Aí será com o nosso sistema, nossos treinadores e minutos prolongados para ele mostrar o que pode”, explica.

Toronto, todavia, não pode depender apenas de um punhado de jogos em julho para desenvolver seus jovens talentos. Por isso, está sondando seriamente o mercado da liga de desenvolvimento em busca de uma filial de seu uso exclusivo. Desta maneira, teriam mais autonomia para botar em prática o que têm de planejado não só para os brasileiros, como para qualquer prospecto no futuro. Esse é um ponto crucial que um scout já havia destacado ao blog, ao término da liga de verão de Las Vegas no ano passado.

Bruno Caboclo, Summer League, Toronto

Duas fontes independentes também disseram ao VinteUm que a franquia busca um time no estado de Nova York, bem próximo de sua base. A cidade de Rochester seria uma possibilidade, estando a apenas 140 km de distância. Por que não no Canadá? Para evitar dificuldades com visto de trabalho e outras burocracias que podem ser facilmente resolvidas num ambiente mais estável como o da NBA, mas seriam muito maiores numa competição bem mais volátil como a D-League. Só não é, de forma alguma, um processo simples de se executar. A criação de mais um time depende de uma série de avaliações, técnicas e comerciais, por parte de ambas as ligas, além da viabilização de toda uma estrutura paralela para o Raptors gerir.

A relação entre a franquia canadense e o Fort Wayne Mad Ants é amistosa, profissional, mas não pode ser aprofundada pelo fato de o clube da liga menor ter total autonomia em suas operações – é o único que não desfruta de um relacionamento direto com um time da NBA. Quando o técnico Conner Henry recebe um talento vindo de cima, de qualquer uma das 13 agremiações com as quais têm convênio, não tem a obrigação de usá-lo, independentemente das necessidades ou do currículo do jogador. Além do mais, o Mad Ants também joga hoje para vencer e vencer, sendo o atual campeão, inclusive. Sua prioridade difere muito em relação ao restante de seus concorrentes.

“É uma situação difícil, acaba sendo complicado manter qualquer tipo de continuidade. Mas existe um diálogo, sim, e podemos expressar o que pretendemos quando mandamos nossos calouros e a melhor maneira de acomodar isso”, diz Mahlalela. “Não é uma situação perfeita, mas você trabalha com as condições que tem e parte daí.”

Caboclo, Ujiri, Toronto

Mesmo com os momentos difíceis nos bastidores, segundo o que VinteUm apurou, o Raptors em nenhum momento envolveu ou ofereceu os brasileiros em negociações na semana passada, antes do encerramento da janela para trocas na NBA, na quinta-feira. Quatro clubes diferentes foram consultados a respeito. Nenhum ouviu sequer um pio de qualquer rumor em torno de Bruno ou Lucas. O consenso é que Ujiri investiu muito – tanto do ponto de vista financeiro, como esportivo – nos dois jogadores e ainda confia no desenvolvimento de seu imenso talento.

É bom lembrar que o contrato de calouros da NBA tem apenas dois anos garantidos – os terceiro e quarto anos são opcionais para as equipes. No caso de arrependimento, os times têm, então, menos compromissos assumidos, menos dinheiro comprometido, e podem facilmente seguir em outra direção. Vide o caso de Fabrício Melo e o Boston Celtics: após um só campeonato, o pivô mineiro foi trocado por Danny Ainge para o Memphis Grizzlies, que o dispensou de imediato, consumindo seu salário final de mais de US$ 1 milhão. Melo ainda tentou assinar com o Dallas Mavericks, mas não passou no corte do training camp. Hoje está afastado do basquete, após ter contrato rescindido com o Paulistano, por conta de graves problemas particulares.

Mas, em Toronto, estamos falando de um conjunto de dirigentes que se encantou há pouco tempo com Caboclo. Gente que sabia que não seria uma transição simples para um adolescente. “Sim, o que se pede é paciência, mesmo. Ele é um garoto muito jovem, tentando se desenvolver. Sabíamos que levaria um tempo para isso acontecer. Mas está tudo bem para nós também. Ele vai ter de passar por esse processo, vai levar alguns anos, mas vamos ser pacientes”, diz Masai Ujiri.

O jovem ala com o qual tiveram contato no período pré-Draft inspira a confiança de que, independentemente dos percalços, o Raptors ainda pode colher bons frutos adiante. “Temos de lembrar: estamos falando de um garoto. Sabemos que é uma peça para o futuro de nosso clube e não para amanhã. Para nós, o que conta é o progresso contínuo, dia após dia”, afirma Engelbrecht. “Ele é um desses caras que se sente em casa no ginásio. É seu ambiente natural, no qual ele fica realmente confortável, quando está treinando. Para nós, esse foi um dos pontos principais para apostar. Pensamos que, não importasse o nível de talento que tivesse, sua dedicação o levaria adiante. Isso nos deu a segurança para realmente considerá-lo naquela escolha.”

Bruno Caboclo, Toronto Raptors, treino, workout

Houve momentos, nas primeiras semanas de convívio em Toronto, em que o clube precisou até mesmo pedir para o ala maneirar em suas idas ao ginásio. Houve dias em que estava ultrapassando a casa de quatro horas de treino, usando estagiários para ajudá-los em séries de arremesso etc. Para a comissão técnica, o ideal é trabalhar por menos horas, mas com muita intensidade.

Em termos práticos, o Raptors vem trabalhando em duas frentes com Caboclo. “Estamos tentando deixá-lo mais forte agora. Estamos nos concentrando em deixar sua base mais forte, mesmo. É para isso que este ano vai servir. Além disso, vamos desenvolvendo também algumas habilidades individuais de NBA, um trabalho extenso em cima disso”, diz Ujiri. Bebê também passa pelo mesmo processo, embora com menos ênfase – já está num ponto diferente de aprimoramento.

O que se mais trabalhou até agora foi realmente o aspecto físico, com a supervisão do renomado Alex McKechnie, escocês que é o diretor de ciência esportiva do clube e que trabalhou pelo Lakers de 2003 a 2011. Durante as ‘férias’, Caboclo e Lucas passaram por um período intenso em um centro de treinamento de Vancouver que tem McKechnie como um dos proprietários. “Foi uma ótima oportunidade para o Alex realmente avaliar o corpo deles, encontrar os pontos fortes e fracos em seus corpos e, a partir daí, elaborar um plano para atacar essas fraquezas”, afirma Engelbrecht.

Agora em Toronto, os brasileiros se dedicam a exercícios diários, específicos antes ou depois dos treinos oficiais comandados por Dwane Casey. É aí que entram Mahlalela e outro assistente, Bill Bayno. Bebê, mais velho e bem mais experiente, vindo de três temporadas na Liga ACB espanhola, o principal campeonato nacional da Europa, estaria mais perto de ser aproveitado. “Esperamos que nessa segunda metade da temporada ele possa ter oportunidades. Não necessariamente ganhando um papel definido no time, mas uns cinco minutos aqui e ali. Em jogos que tenhamos uma vantagem confortável, talvez ele possa entrar no segundo quarto para se testar, para provar um pouco e dar mais motivos para que ele possa continuar treinando forte”, diz Engelbrecht. “Ele tem feito um ótimo trabalho. Esperamos que a comissão técnica se sinta confortável com o nosso time caminhando para o fim da temporada e possa dar a ele alguns minutos. Mas essa é uma decisão dos treinadores. Masai e os técnicos conversam sobre o que querem em termos de desenvolvimento.”

A palavra, então, passa a Mahlalela, um dos técnicos: “Acho que é mais provável, sim, que encontremos minutos primeiro para Lucas do que para o Bruno, mas acho que ele tem de fazer por merecer e, se for chamado, tem de estar pronto para jogar. Ele tem um feeling natural para o jogo, o que nos deixa mais à vontade em colocá-lo em quadra para ver o que pode fazer”. O técnico, porém, relembra: “Ele é mais velho, mais maduro, mas também ainda é um novato na NBA, está tentando encontrar seu caminho e ainda é um trabalho em andamento”.

Em termos de habilidades como atleta, não há dúvida de que há muito potencial para ser explorado pela dupla. Aquela estreia incrível de Caboclo contra o Bucks ainda está na memória, como prova clara e irrefutável disso. Só é necessária a consciência de que aquela euforia passou e o caminho para o sucesso vai passar por semanas e semanas de treino, mesmo, sem muito glamour, sem os holofotes. “Ele vai poder olhar para aquele momento no futuro e perceber o quão especial foi”, diz Mahlalela. “Mas ele tem de continuar trabalhando. Foi um momento único, mas que não vai acontecer o tempo todo.”


Ratificado All-Star, líder do Raptors destaca empenho de Caboclo
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Giancarlo Giampietro

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Experimente falar para o Kyle Lowry que o All-Star Game é apenas uma festa, que não deveria para validar grandes currículos e diferenciar jogadores na NBA. Aos 28 anos e nove temporadas – “Nem tão velho assim”, como gosta de frisar –, o armador foi eleito pela primeira vez para a partida que marca a metade da temporada regular e reúne um PIB per capita impressionante em quadra. Está curtindo a experiência.

O jogador chegou a ganhar a fama nos bastidores da liga de ser um dos jogadores mais complicados de se lidar no dia a dia. Aquela coisa de reclamar de treinador, reclamar dos erros dos companheiros, empurrando por um senso competitivo extrapolado, daqueles que ultrapassa os limites do razoável. Desde que o gerente geral Masai Ujiri chegou a Toronto, dando respaldo ao técnico Dwane Casey, mais presente nas operações do time, Lowry foi amansando. Mesmo naqueles tempos em que todos cotavam o Raptors como candidato a primeiro no Draft de Andrew Wiggins – e não a grande surpresa da Conferência Leste.

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>> O VinteUm está no All-Star Game

Rudy Gay e Andrea Bargnani saíram, o Raptors decolou, e a figura de Lowry passou a ser reconhecida, enfim, pelo seu talento com a bola, e não pelas intrigas ou brigaiada. Na temporada passada, não deu tempo de ele ser premiado. Neste ano, não escapu. Chegou a hora de carimbar o selo de All-Star em seu currículo, algo que lhe vale bastante, não importando o fato de já ser considerado um dos melhores de sua posição. Coisa de orgulho pessoal, de ver oficializada uma conquista. Tem de entender.

A surpresa fica por conta de sua presença no time titular. Rolou no Canadá uma campanha nacional estrondosa, com apoio de Justin Bieber, Drake e qualquer outro embaixador disponível para garantir a convocação do astro. Deu tanto certo que, na reta final, ele ultrapassou ninguém menos que Dwyane Wade para ficar entre os cinco iniciais.

De modo que, durante o Media Day da NBA nesta sexta-feira, ao contrário de Tim Duncan, o armador subiu todo disposto e falante a seu palanque na sala de conferências do Hotel Sheraton, em Nova York, para ser rodeado por essa gentalha qualificada de jornalistas. Entre os zombeteiros, estava o VinteUm, também num cenário bem diferente daquele que cercava Duncan: acesso mais tranquilo.

(Aliás, parêntese: a despeito da presença de LeBron James e Carmelo Anthony no Leste, a movimentação de jornalistas em torno da galera do Oeste foi bem maior. Muito maior, mesmo, num reflexo claro do desnível de talento de uma conferência para a outra.)

Com menos gente ao redor, deu para fazer algumas perguntinhas ao All-Star Lowry. Vamos nessa, então:

21: Você já era sabidamente um dos melhores jogadores de sua posição. Então o que acontece quando chega a notícia da convocação? O quão importante era ter essa validação?
As coisas são diferentes, malucas, mas é empolgante. Quando a oportunidade vem, você tem de aproveitar. Nos anos em que não vim para cá, o que precisava era continuar trabalhando, fazendo o meu. Era continuar a crescer, mesmo achando que eu já era bom o bastante para estar no evento. Mas já chego sendo titular. Aí não dava para ser melhor.

Pensando nisso, temos o apoio dos torcedores de Toronto, que formaram um grupo fanático, bem diferente do que estamos acostumados a ver por aí na liga. O que pode falar sobre eles e sobre como conduziram sua eleição?
Nossa base de torcedores é maluca. Eles sempre agitam o ginásio, mostrando a paixão deles, fazendo barulho, colocando fogo. É algo sensacional, mesmo. Em Toronto, não estamos jogando mais por uma cidade. Mas, sim, por um país. De Montreal a Toronto. O país todo.

E essa história de vermos torcedores do Raptors por todas as partes agora? Até em Portland?
É, são vários os canadenses espalhados por aí, e eles aproveitam a chance para dar apoio ao time para o qual amam. E a gente, claro, curte muito isso de vê-los torcendo na estrada.

Bom, esse aspecto de ter uma torcida sensacional e um país, digamos, por trás do clube, não faz do Raptors agora um mercado mais atraente? Não muda a imagem?
Acho que o que muda mais a imagem é o fato de estarmos vencendo, acima de tudo. De estarmos jogando bem e vencendo. Se continuarmos num bom ritmo, vamos ter mais chance de conseguir bons reforços, ainda que nosso time já tenha uma boa formação.

Para fechar, sendo do Brasil, é obrigatória a menção a Bruno Caboclo, mais um que sente o carinho do torcedor. Não tivemos muitas chances de vê-lo jogar nos últimos meses, por razões óbvias. O que você vê nos treinos diários?
O processo para ele agora é o de continuar melhorando. Ele é ainda tão jovem e cru, que não dá para falar sobre o que ele vai se tornar. Mas posso falar sobre seu empenho para trabalhar, que é inacreditável. Ele vai para o ginásio todas as noites, treina duas vezes por dia. Ele tem essa dedicação que precisa para se tornar um bom jogador.


Mo Williams e o clube improvável dos 50
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Giancarlo Giampietro

Mo Williams acertou tudo contra o Pacers. Aberração?

Mo Williams acertou tudo contra o Pacers. Aberração?

Wilt Chamberlain era uma aberração tamanha que, com a camisa do Philadelphia Warriors, marcou 100 pontos numa só partida, contra o New York Knicks, no dia 2 de março de 1962. Ninguém jamais chegou perto dessa quantia centenária – a não ser que dê para considerar o déficit de 19 pontos do recorde pessoal de Kobe Bryant, atingido contra o Toronto Raptors em 22 de janeiro de 2006, como algo mínimo.

Aspirar a 100 pontos num jogo de NBA hoje, sabemos, é algo quimérico. Se for para atingir a metade disso, porém, muda o cenário, não? OK: ninguém vai falar que é fácil terminar um jogo com cinquentinha. Mas em diversas ocasiões a marca já foi batida, a ponto de ter se tornado uma “meta clássica”. Uma soma que define um clube famoso, do qual participam grandes cestinhas como Wilt, Jordan, Baylor, Kobe, Iverson, Wilkins, Malone, Carmelo, entre outros.

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>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Mas, de acordo com a lei do randômico, do sonhar-é-possível, numa liga que filtra os melhores atletas do mundo, recursos não faltam para um ou outro penetra entrar nesse grupo. Como acabou de fazer o armador Mo Williams, ao anotar 52 pontos na tão esperada vitória do Minnesota Timberwolves sobre o Indiana Pacers, terça-feira.  Quem poderia esperar por um evento desses? Ricky Rubio certamente, não. Muito menos LeBron, que teve em Williams seu principal parceiro de ataque em sua primeira passagem por Cleveland.

Quebrando um galho no revezamento com o jovem Zach Lavine desde a lesão de Rubio, Williams tinha média de 11 pontos por partida na temporada. Hoje tem 12,4. Aos 32, ele se tornou o quarto mais velho da história a se tornar um outro tipo de cinquentão.

O mais legal: a maior fonte de pontos para o armador na partida contra o Pacers foi justamente aquela bola que é julgada como a mais ineficiente da NBA nestes tempos, o tiro de média distância. Para deixar claro, no jargão da liga, o arremesso de média é todo aquele que não sai dentro do garrafão ou além da linha de três pontos. Nesta zona intermediária expandida, ele converteu 11 de 19 arremessos. Foi o máximo que um jogador conseguiu converter durante todo o campeonato, e bem acima de sua própria média de apenas dois cestas dali por partida.

O jogador natural de Jackson, no Mississipi, viveu seu auge entre 2005 e 2009, ano no qual, escoltando LeBron, foi eleito para o All-Star Game. Nas três campanhas, teve média superior a 17 pontos por partida (naquela temporada, chegou a marcar 44 e 43 pontos em vitórias, respectivamente, sobre Phoenix e Sacramento). Desde então, porém, sua cotação só caiu, lhe restando um papel que realmente é o mais indicado para suas características: um armador fogoso vindo do banco de reserva. Função que executou tão bem pelo Blazers no campeonato passado. Em Minnesota, numa jovem equipe, parece deslocado. Ao menos sua jornada inesquecível valeu para encerrar uma sequência de 15 reveses do time de Andrew Wiggins.

No geral, Maurice converteu 19 de 33 arremessos de quadra. Quando viu que era dia, brincou com os orgulhosos defensores de Indiana de que não adiantaria marcá-lo, já que ele estava com a sensação de que a cesta tinha a largura do Oceano Pacífico. Com essa confiança toda, não só ele estabeleceu seu recorde pessoal e o recorde de pontos da temporada 2014-2015, como também garantiu ingresso no clubinho alternativo dos 50 pontos, se juntando a mais algumas figuras que jamais apareceriam como favoritos numa casa de apostas.

Vejamos:

Terrence Ross, 51 pontos, 2014: o ala do Raptors foi a referência automática para completar as notas sobre Mo Williams, já que havia sido o caso improvável mais recente, depois de ter marcado 51 pontos contra o Los Angeles Clippers na temporada passada, igualando o recorde da franquia, antes pertencente a Vince Carter. Ele era o jogador com a menor média de pontos até se tornar um cinquentão, com 9,3 pontos  – sendo que sua principal marca havia sido de 26 pontos. Muitos consideram a explosão de Ross como a mais bizarra, por isso. Abaixo, vejo casos mais estranhos, especialmente pelo fato de Ross ser tão jovem (hoje tem 23, mas eram 22 anos quando realizou a melhor partida de sua vida). Ainda não sabemos aonde vai parar a carreira do talentoso ala, desses raros caras que poderia vencer tanto um torneio de 3 pontos como de enterradas. Ah, uma coisa: seu time perdeu mesmo assim, por 126 a 118. Ao final da partida, ele ouviu de Jamal Crawford: “Bem-vindo ao clube dos 50 pontos”. O ala-armador chegou a fazer 52 contra o Miami Heat em 2007 – mas não entra nessa lista, já que é um cestinha prestigiado em toda a liga.

Andre Miller, 52 pontos, 2010: o armador é um baita jogador, não há dúvida. Mas nunca foi reconhecido como um perigoso pontuador de mão cheia, né? Sua fama é muito maior como a de organizador de jogadas (chegou a liderar a NBA em assistências em 2001-02, com 10,9), o que, aos 38, ainda lhe rende um bom emprego como reserva de John Wall em Washington. Pois com a camisa do Portland Trail Blazers, clube no qual não agradou tanto assim, aliás, aos 33 anos, ele destroçou a defesa do Dallas Mavericks, aproveitando seu tamanho, força e inteligência no jogo de pés de costas para a cesta, para liderar uma vitória bastante apertada: 114 a 112, com prorrogação. Foram 25 pontos entre o quarto final e o tempo extra, para ele ficar a dois pontos do recorde da franquia estabelecido por Damon Stoudamire. Sua média era de 12,6 pontos até então. No duelo com os texanos, Miller deu apenas duas assistências.

Brandon Jennings, 55 pontos, 2009: o armador já havia causado sensação nos Estados Unidos ao abrir mão do basquete universitário para jogar uma temporada na Itália, antes de entrar na NBA. Quando chegou ao Milwaukee Bucks, empolgado e tentando mostrar serviço (já era muito questionado pelos scouts naquela época…), causou estragos imediatos, marcando um mínimo de 24 pontos em sete de seus primeiros 11 jogos. O melhor deles foi contra o Golden State Warriors em 14 de novembro de 2009, na mesma temporada de Miller. Foram 21 cestas de quadra em 34 tentativas, incluindo 7-8 nas bolas de longa distância. Ele também deu cinco assistências. Em sua carreira, porém, ele nunca passou da média de 40% nos arremessos de quadra numa temporada e converte 35,1% nos tiros de três. Agora é Stan Van Gundy quem tenta canalizar o potencial do irregular armador em sua arrancada em busca dos playoffs com o Detroit Pistons.

Tony Delk, 53 pontos, 2001: num Phoenix Suns dirigido por Scott Skiles, com Jason Kidd e Penny Hardaway no elenco, foi Tony Delk, de 27 anos e campeão universitário por Kentucky nos anos 90, quem arrebentou com a boca no balão contra o emergente Sacramento Kings no dia 2 de janeiro, começando o ano novo com tudo. Dos 27 arremessos que tentou, errou apenas sete  (74% de aproveitamento) – e nenhum deles foi de longa distância. Matou também 13 de 15 lances livres, para compensar. Ainda assim, o Suns foi derrotado na capital californiana, na prorrogação, com ótima atuação da dupla sérvia Stojakovic e Divac, que somaram 77 pontos. Um ano depois, ainda com a fama de cestinha vindo do banco, Delk seria trocado para um impaciente Boston Celtics, que mandou um jovem ala chamado Joe Johnson para o Arizona… O veterano deixaria a histórica franquia em 2003, tendo ao menos ajudado o time de Paul Pierce e Antoine Walker a alcançar dois playoffs – em 2002, perderam a final do Leste para o Nets. Aos 32, ele viu sua carreira se encerrar, pelo Detroit Pistons, anotando 182 pontos, no total, na campanha 2005-06.

Clifford Robinson, 50, 2000: Robinson comandou o Phoenix Suns num triunfo sobre o Denver Nuggets, por 113 a 100, convertendo 17 de 26 arremessos em 43 minutos. Isto é, sozinho, anotou metade dos pontos do time adversário, que contava com Antonio McDyess em seu auge atlético, mais Raef LaFrentz, Popey Jones e Keon Clark na sua rotação de grandalhões. Robinson fez uma grande campanha em 1999-2000, passando da casa de 20 pontos em 28 ocasiões. Não foi uma jornada isolada: numa carreira que durou 17 anos, ele teve médias de 14,2 pontos por jogo e foi eleito para o All-Star e ganhou o prêmio de 6º homem da liga em 1993, com a camisa do Blazers, clube pelo qual foi vice-campeão da NBA em duas ocasiões. Nessa época, teve média superior a 20 pontos por quatro temporadas. E o que está fazendo aqui, então? É que, pelo Suns, o ala-pivô já estava bem longe de seu auge e se tornou o segundo jogador mais velho na história a marcar 50 pontos num jogo, aos 33 anos e 31 dias, atrás apenas de Andre Miller. Quando se aposentou em 2007, tinha 1.380 partidas de temporada regular em seu currículo, a nona maior rodagem da liga.

Tracy Murray, 50, 1998: com um nome comum desses, é bem capaz de Murray ter passado despercebido para o fã casual de NBA na década de 90. Até se esbaldar contra a fraquíssima defesa do Golden State Warriors em fevereiro de 1998, o arremessador talvez fosse mais famoso por ter sido incluído numa troca entre Blazers e Rockets que o mandou, em fevereiro de 1995, para Houston ao lado de Clyde Drexler, para ser campeão pela franquia texana. Reservão na turma de Tomjanovich, se tornou na temporada seguinte um membro fundador do Toronto Raptors. Num time fraco, conseguiu a maior média de sua carreira, com 16,2 pontos por partida. Com moral, assinou com o Washington Bullets em 1997, como agente livre. Aproveitando-se da ausência de Chris Webber e Juwan Howard, chamou a responsabilidade no ataque do técnico Bernie Bickerstaff e, em 43 minutos, converteu 18 de 29 arremessos contra um Warriors – que, vejam só, tinha Tony Delk no time titular. Murray jogou sua última partida de NBA em 2003, de volta ao Blazers, aos 32 anos, se despedindo com aproveitamento de 38,8% nas bolas de três e 9,0 pontos.

Dana Barros, 50 pontos, 1995: num decadente Philadelphia 76ers, o baixinho de 1,80 m (oficialmente, claro), viveu, de longe, seu melhor campeonato em 1994-95, sendo eleito de modo surpreendente até mesmo para um All-Star Game, com médias de 20,6 pontos e 7,5 assistências. Era seu segundo ano na Filadélfia, depois de ter passado quatro anos como reserva de Gary Payton e Nate McMillan no Seattle SuperSonics. Sua grande atuação aconteceu contra o Houston Rockets, justamente o campeão, torturando Kenny Smith e Sam Cassell –  e de nada adiantou, já que seu time foi surrado por 136 a 107. Outro que se valorizou bastante com a marca clássica em seu currículo, integrante da comunidade de ascendência cabo-verdiana de forte presença em Massachusetts, assinou, então, um belo contrato com o Boston Celtics, clube no qual ficou até 2000, sem, no entanto, repetir o sucesso. Depois de duas temporada pelo Pistons, voltou ao Celtics em 2003 para se aposentar da liga americana aos 36, com um único jogo.

– Willie Burton, 53 pontos, 1994:  o ala foi mais um a se aproveitar do elenco fraquíssimo do Sixers naquela temporada, ganhando um volume ofensivo impensável. Quando foi selecionado pelo Miami Heat na nona colocação do Draft de 1990, vindo da Universidade de Minnesota, prometia mais, mas acabou jogando por apenas oito temporadas na NBA, com média de 10,3 pontos e 42,4% de aproveitamento nos arremessos, em 21,1 minutos. Como segundo cestinha da equipe de Philly, terminou o campeonato 1994-95 com 15,3 pontos por jogo, sendo o auge os 53 que anotou justamente numa vitória contra sua ex-equipe, com 12 de 19 nos arremessos (5 de 8 em três pontos) e absurdos 24 de 28 nos lances livres, em 43 minutos, dando um banho em Glen Rice. O curioso é que, enquanto Barros conseguiu um megacontrato do Boston, Burton não recebeu nem mesmo uma proposta do 76ers. O máximo que o time lhe propôs foi um contrato sem garantias. O ala decidiu, então, jogar na Itália. Retornou em 1996 aos EUA, via Atlanta Hawks, mas com pouco prestígio. No dia 8 de março de 1999, foi dispensado pelo Charlotte Hornets, sendo obrigado a deixar o país novamente para estender sua carreira. Passou por Grécia, Rússia, em ligas menores americanas e se aposentou em 2004 no Líbano.


Tem Caboclo na D-League: hora de botar na prática
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Giancarlo Giampietro

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Passada a euforia por conta daquela estreia inesquecível, deixando de lado um pouco a empolgação e carinho incrível demonstrados pelos torcedores do Toronto Raptors, é hora de avaliar como andam as coisas para Bruno Caboclo dentro de quadra. Hora de ver como anda seu progresso como jogador. Em meio a um trecho complicadíssimo de sua tabela, a franquia canadense achou por bem mandar o brasileiro para a D-League. Fez certo. Depois de tanto treinamento durante a pré-temporada – e foi muito treino, mesmo –, mas com parcos minutos em jogos oficiais, o jovem ala fez neste sábado sua estreia pelo Fort Wayne Mad Ants, em derrota para o Iowa Energy por 111 a 106.

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Marcou 13 pontos em 20 minutos, acertando cinco de seus 14 arremessos (1 de 5 nos tiros de três pontos). Além disso, cometeu cinco faltas e quatro turnovers e deu dois tocos. Avaliar os números isolados assim, porém, não serve para muita coisa, não. O mais prudente é assistir ao que se passou em quadra, e a liga de desenvolvimento da NBA neste ponto é nossa melhor camarada: todos os jogos do campeonato estão disponíveis na íntegra no YouTube (veja abaixo). Antes, porém, de ver o VT, precisa-se primeiro entender que tipo de competição ele está encarando.

Entre os 18 times da D-League, o Fort Wayne Mad Ants, nos confins de Indiana, é o único que não desfruta de uma parceria/sociedade/afiliação exclusiva com um clube da liga grande. O que significa ter convênio com outras 12 franquias: Hawks, Nets, Hornets, Bulls, Nuggets, Pacers, Clippers, ucks,  Timberwolves, Pelicans, Trail Blazers e Wizards. É muita coisa. É também um modelo bem diferente, por exemplo, daquele que Houston Rockets e Oklahoma City praticam, com filiados muito mais próximos. O Rockets tem no italiano Gianluca Pascucci seu vice-presidente no departamento de basquete e, ao mesmo tempo, o gerente geral do Rio Grande Valley Vipers. Chris Finch, assistente de Kevin McHale, já foi o treinador principal dessas víboras do vale do Rio Grande. A integração é muito maior por lá, assim como nas demais equipes.

No cenário quase perfeito que Bruno encontrou em Toronto – um time em ascensão dentro e fora de quadra, de bem com a torcida, e uma torcida fanática e ferverosa –, este é realmente o único senão, conforme um scout de um dos times da Conferência Oeste já havia me apontado. Se o Raptors tivesse um parceiro só seu, exerceria controle pleno sobre o modo como sua grande aposta  será aproveitada.

Em Des Moines, em sua estreia o caçulinha dividiu a quadra com Glen Rice Jr., do Washington Wizards. Os dois eram os únicos atletas enviados da NBA. Mas, durante a temporada, dependendo das circunstâncias, a conta pode ser muito maior. E aí a concorrência por minutos fica mais intensa, enquanto as oportunidades em quadra podem se reduzir na mesma proporção. O técnico do time, Conner Henry (51 anos, ex-jogador de NBA e longa carreira na Europa), ao menos se mostra disposto a aproveitar os reforços pontuais, vendo nisso uma oportunidade para dar um respiro a suas principais peças regulares.

Glen Rice Jr. é o companheiro de NBA de Caboclo no momento; em Iowa, anotou 10 pontos em 18 minutos, com 3-10 nos arremessos e 4-6 nos lances livres

Glen Rice Jr. é o companheiro de NBA de Caboclo no momento; em Iowa, anotou 10 pontos em 18 minutos, com 3-10 nos arremessos e 4-6 nos lances livres

De qualquer forma, é o que Toronto e Caboclo têm para hoje, e já vale como um ótimo teste. Se a D-League apresenta um nível de jogo consideravelmente inferior ao da Association, por outro lado também está a anos-luz de distância da liga de desenvolvimento nacional, a LDB, campeonato que ele efetivamente disputou na temporada passada pelo Pinheiros.

Além de Rice Jr., alguns nomes de destaque do Mad Ants são veteranos como os alas Danthay Jones (aquele mesmo, ex-Denver, Utah, Memphis e tantos outros), Andre Emmet, draftado por Memphis em 2005 e que rodou o mundo, passando pelo Nets também, e Chris Porter, de 36 anos e que jogou pelo Golden State lá nos idos de 2000 e também já conheceu diversas praças. Do outro lado, o imortal Damien Wilkins foi o cestinha, com 29 pontos. O campeonato vai reunir esse tipo de andarilho e jovens atletas badalados no basquete universitário em busca de afirmação como profissionais, como o ala CJ Fair, revelado por Syracuse, e o armador Kalin Lucas, Michigan State.

Essa combinação pode resultar em jogos excessivamente individualistas, com os jogadores tentando mostrar serviço de qualquer jeito em busca de uma promoção. Caboclo, sendo um atleta de NBA, com contrato garantido, vai certamente se tornar um alvo dos concorrentes (internos e externos). Vocês se lembram da surpresa que foi sua escolha pelo Raptors na 20ª posição do Draft. Obviamente diversos prospectos americanos se sentiram “injustiçados” por isso. Aquele tipo de raciocínio asqueroso: “Quem é esse fedelho brasileiro de que nunca ouvimos falar, roubando nosso emprego?”

Outros pontos para serem levados em conta: o brasileiro está enferrujado. Por mais que tenha praticamente morado dentro do Air Canada Center, varando a noite em quadra – aliás, chegou um momento em que os dirigentes se viram obrigados a proibir o garoto de ir para o ginásio para uma sessão extra de treinos, sozinho, por conta própria. Só foi liberado depois num acordo: ao menos teria de ser acompanhado por um integrante da comissão técnica.

Mas tem aquela frase famosa: treino é treino. Jogo? Outra história. Mesmo se estivesse em plena atividade, não dá para esquecer que o atleta ainda é um produto em fase (inicial) de refinamento. Um produto longe de estar acabado. Na D-League, ele vai ganhar minutos para mostrar o que aprendeu, e, ao mesmo tempo, testar suas novas ferramentas – movimentos trabalhados no dia-a-dia com os técnicos do Raptors.

Nos poucos minutos que vimos de Bruno na liga principal, contando aí a pré-temporada, deu para notar o quão cru ainda é o seu jogo no ataque. É por isso que Dwane Casey vai mandá-lo para a zona morta. Não apenas para espaçar a quadra, mas também pelo fato de que ainda não pode confiar em envolver o garoto em tramas mais complexas. Seu arremesso de longa distância, segundo consta, está rendendo muito bem nos treinamentos. Sua capacidade atlética também não se discute – ele pode pontuar em rebarbas ofensivas sem problema. Mas tudo aquilo que está no meio do caminho, o jogo de média distância que DeMar DeRozan faz tão bem, praticamente inexistia até a chegada a Toronto.

Contra o Bucks, a estreia especial. Agora, sem burburinho da torcida, hora de praticar

Contra o Bucks, a estreia especial. Agora, sem burburinho da torcida, hora de praticar

A oportunidade de expandir e praticar contra profissionais, então, é essencial. E outra: num ambiente completamente diferente, com ginásio e público mais acanhados – eram 4.091 espectadores na Wells Fargo Arena nesta sexta-feira. Mais importante ainda talvez seja a ausência do frenesi dos torcedores do Raptors ao seu redor. Isso é importante para deixá-lo relaxado e concentrado apenas no que tem para fazer em quadra.

Contra o Iowa Energy, filial do Memphis Grizzlies, Bruno foi para o jogo no final do primeiro quarto, para marcar o experimentado herdeiro da família Wilkins, de 34 anos e mais de 10 mil minutos em sua carreira de NBA, único titular do time adversário em ação. Com sua envergadura assustadora e movimentação lateral atenta, fez um bom papel e não permitiu que o ala ex-Sonics efetuasse sequer um arremesso.

A primeira tentativa de cesta do brasileiro foi bem sucedida. Com um minuto de jogo no segundo quarto, ele recebeu um passe do canadense Myck Kabongo na ala esquerda, encarou o armador Diante Garrett (ex-Suns, Jazz) e o deixou para trás com facilidade para bater pelo fundo e fazer a bandeja após dois esticados dribles – o tipo de ação que os técnicos do Raptors vêm insistindo com ele. Seu time vencia por 34 a 30, então.

Duas posses depois, ele se viu diante do pivô Josh Warren, e, confiante, também partiu para a cesta, dessa vez cortando pelo meio. Chegou ao aro com a maior tranquilidade.  Ainda que o adversário fosse muito mais pesado, facilitando sua arrancada, foi interessante notar a inteligência do ala ao identificar o buraco no centro da quadra e e atacar por ali. Na NBA isso dificilmente vai acontecer, mas cada um aproveita o que tem ao seu dispor no calor do jogo:

Instantes depois, bem confortável em quadra, ele forçou um arremesso de média distância, desequilibrado, na cabeça do garrafão, ao se chocar com a linha defensiva. O Mad Ants, porém, manteve a bola com mais um rebote ofensivo. Caboclo foi, então, acionado na zona morta, partindo para uma tentativa de enterrada daquelas. Acabou sofrendo falta do pivô Pierre Henderson-Niles. Vejam:

Nem tudo foi perfeito, obviamente, como suas estatísticas lá em cima mostram. Empolgado, acabou errando de modo feio um chute da zona morta, por exemplo, num tipo de movimentação ofensiva em que vai ser aproveitado de modo mais realista quando com a camisa do Raptors:

Por outro lado, e este chute aqui, a partir do drible?

Aqui, vemos como lhe ainda falta força para aguentar o contato depois de uma combinação de pick and roll com Kabongo. O passe do canadense poderia ter sido mais rápido e baixo (o arco elevado dá mais tempo de o defensor se recuperar na cobertura de garrafão), mas o ala também não percebeu isso. Ao receber a bola, poderia ter estacionado e buscado outra solução:

Na defesa, o ala alternou momentos de posicionamento avoado, se afastando muito de seu homem para fazer a ajuda. No quarto período, acabou se atrapalhando todo ao cometer nada menos que quatro faltas em 45 segundos. Sim, isso mesmo, uma sequência inacreditável: a segunda pessoal com 11min43s (tentando bloquear Wilkins, embora o contato não seja claro); a terceira com 11min30s, depois de um péssimo passe em sua direção, tentando recuperar a bola; a quarta com 11min22s, já evidentemente frustrado, empurrando Wilkins no centro da defesa, sem necessidade; e a quinta com 11min15s, novamente em cima de Wilkins, caindo na finta do veterano. Mas houve momentos em que conseguiu incomodar bastante devido a sua envergadura. Nesta posse de bola, ele em duas ocasiões intimida o ala-armador Chris Allen, forçando um estouro de cronômetro:

Quando retornou no quarto final, devido ao excesso de faltas e turnovers, acabou sacado em menos de quatro minutos. O Iowa vencia, então, por quatro pontos (90 a 86), segundo que a recuperação havia acontecido na terceira parcial. Voltou a ser chamado pelo treinador com 2min50s para o fim, quando o placar era de 103 a 95 para os anfitriões. E aí teve uma ótima sequência entre 1min33s e 1min11s, quando deu um toco no pivô Jerrid Famous, perdeu um tiro de três, mas pegou dois rebote ofensivos em sequência e converteu um chute de curta distância para fazer o Mad Ants encostar (103 a 102). Com 15s no relógio, contudo, errou um passe em reposição lateral, que resultou em recuperação de Diante Garrett e um contra-ataque para bandeja (109 a 104). Um turnover crucial:

O nome da liga já diz tudo: é para o desenvolvimento. Conforme o esperado, o garoto mostrou que há muito o que se ajustar, o que treinar, como podemos notar por sua participação acidentada no quarto final. Por outro lado, também apresentou muitas coisas boas. Jogou todo o segundo período, sem timidez alguma em quadra. Teve volume de jogo e coragem para assumi-lo. Além disso, seu time lucrou, venceu quando esteve em quadra, terminando o primeiro tempo com sete pontos de vantagem (58 a 51). Sério e competitivo, Bruno muito provavelmente não se perdoa  pela falha na reposição de bola. Mas é esse tipo de situação que vai fazê-lo crescer, muito mais do que ficar no final do banco de reservas apenas ouvindo os gritos entusiasmados de seus fãs em Toronto.


Quais presentes os times da NBA mais querem? Lado Leste
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Giancarlo Giampietro

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Pode espinafrar, tudo bem. O gancho não é nadica original: o que cada equipe da NBA quer de Natal? Mas, poxa, gente, vamos olhar por outro lado: ao menos ele oferece a chance para uma zapeada rápida por cada um dos 30 clubes, além do fato de dar um descanso para essa cuca aqui, que é mais que lerda. Alguns pedidos são praticamente impossíveis, outros mais viáveis. Vamos lá, então:

Dá para o armador alemão do Hawks melhorar, e muito, seu arremesso

Dá para o armador alemão do Hawks melhorar, e muito, seu arremesso

ATLANTA HAWKS
– Que Al Horford, por favor, não tenha mais nenhuma lesão muscular bizarra no peito?

– Um pouco mais de carinho por parte do público local? A equipe hoje ocupa apenas a 25ª posição no ranking de público. Uma evolução em relação ao campeonato passado (28º), é verdade, mas é muito pouco para um clube de campanha tão bacana.

– Dennis Schröder bem que poderia subir mais um degrau ainda neste campeonato. O time só vai ganhar com isso. E a gente, se divertir.

– Kyle Korver terminando um ano com um lindão 50%-40%-90%.

BOSTON CELTICS
– Danny Ainge quer muito, mas muito mesmo uma nova superestrela. Via Draft, ou troca.

– Um bom Draft em 2015, com muitos pivôs bem cotados.

– Se Rondo sair, o show será de Marcus Smart. Para tanto, o novato precisa se distanciar da enfermaria.

– Consistência por parte de Kelly Olynyk e Jared Sullinger.

BROOKLYN NETS
– Alguém que veja algum apelo nas caríssimas peças que Billy King juntou, sendo que seu elenco em nada se assemelha a um candidato a título.

– Adaptação mais acelerada para Bojan Bogdanovic, que tem um jogo muito vistoso para ficar escondido no banco de reservas. Uma hora o chute de três vai cair, assim como o de Teletovic.

Está acabando para KG

Está acabando para KG

– Um fim digno de carreira para Kevin Garnett, que vê Duncan e Nowitzki, mesmo no brutal Oeste, em situações muito melhores.

– Uma retratação por parte daqueles que alopraram a convocação de Mason Plumlee para a Copa do Mundo.

CHARLOTTE HORNETS
– Um novo endereço para Lance Stephenson, e para já. Ele e Kemba Walker simplesmente não combinam.

– 40% de aproveitamento nos chutes de longa distância para Michael Kidd-Gilchrist.

– Uma sequência de seis, sete vitórias que ponha o time na zona de classificação dos playoffs. Com o nome Hornets de volta no pedaço, esses uniformes sensacionais e a quadra mais bonita da liga, a cidade precisa disso.

– Agora que está liberado, uma caixa com os melhores charutos cubanos disponíveis para Michael Jordan.

CHICAGO BULLS
– Um Derrick Rose 100%. Ou 87%, vai.

– Que tenhamos a dupla Noah-Gasol saudável nos playoffs.

– Um jogo de 50 pontos para Aaron Brooks.

– Tá, este aqui é meu: mais Nikola Mirotic, muito mais, Thibs. A defesa se acerta.

CLEVELAND CAVALIERS

Anderson Varejão, Cavaliers, Cavs
– Um novo endereço para Dion Waiters, ou ao menos que o rapaz se dê conta de que, no momento, está muito mais para Jordan Crawford do que Dwyane Wade.

– Um contrato novinho e folha acertado informalmente por Kevin Love. Mas sem a liga saber, claro.

– Mais atenção de Kyrie Irving na defesa. A velocidade já está lá.

– 75 partidas + os playoffs para Anderson Varejão.

DETROIT PISTONS
– Dúzias e dúzias de comprimidos de calmante para Stan Van Gundy, o chefão.

– 65% de aproveitamento nos lances livres para Andre Drummond.

– A reconciliação com Greg Monroe.

– Qualquer poema altruísta que convença Brandon Jennings a soltar a bola.

Topa um Lance aí?

Topa um Lance aí?

INDIANA PACERS
– Mais nenhum susto, mais nada que dê mais trabalho para os médicos. A hora extra vai custar caro.

– Recuperação segura para Paul George.

– Vogel quer os playoffs, mas o melhor para Larry Bird e para o clube seja uma boa escolha de Draft.

– Lance Stephenson!?

MIAMI HEAT
– Dwyane Wade inteirão para os playoffs.

– Chris Bosh retornando da lesão muscular no mesmo nível de antes.

– Que Shawne Williams consiga sustentar seu ritmo nos chutes de longa distância.

– Mais minutos para Shabazz Napier, desde que a defesa não sofra ainda mais.

MILWAUKEE BUCKS
– Um contrato assinado para a nova arena. Para ontem.

– Sem Jabari, a manutenção desta campanha surpreendente que faz o passe de Jason Kidd inflacionar bastante.

Brandon Knight e o Bucks vão continuar em Milwaukee?

Brandon Knight e o Bucks vão continuar em Milwaukee?

– Média de ‘só’ 3 faltas por jogo para Larry Sanders.

– John Henson realizando seu potencial efetivamente.

NEW YORK KNICKS
– Marc. Gasol.

– Um novo endereço para JR Smith.

– Um arremesso para Iman Shumpert.

– Que Phil Jackson seja tão bom de Draft quanto Isiah Thomas.

ORLANDO MAGIC
– O retorno de Aaron Gordon o quanto antes.

– Um contrato razoável para Tobias Harris (a essa altura, depois de vários buzzer beaters, um pouco abaixo do máximo permitido para ele).

– 44% nos arremessos para o calouro Elfrid Payton, que já cuida do resto muito bem.

– Victor Oladipo deslocado mais para a finalização de jogadas.

PHILADELPHIA 76ERS
– 10 vitórias para evitar um vexame histórico e muita paz de espírito para Brett Brown.

– Menos turnovers para Michael Carter-Williams e Tony Wroten.

Robert Covington e o Sixers chutam para evitar pior campanha da história

Robert Covington e o Sixers chutam para evitar pior campanha da história

– Uma boa relação com o agente de KJ McDaniels, que vai virar agente livre.

– Uma palhinha de Joel Embiid nas últimas semanas da temporada?

TORONTO RAPTORS
– Mando de quadra nos playoffs, como cabeça-de-chave número 1.

– Muito mais Jonas Valanciunas no quarto período. É um pivô que bate bem lances livres.

– “Let’s Go, Bru-No!”, sabendo que todos precisam de paciência.

– De resto, não tem muito o que melhorar aqui, né? Que DeRozan volte bem.

bruno-caboclo-toronto-workout

WASHINGTON WIZARDS
– O sumiço definitivo dessa coisa chata que é a fascite plantar de Nenê.

– Que não expire a poção mágica do incrível Rasual Butler.

– Sequência de jogo constante para Bradley Beal.

– 59 horas de entrevistas com Marcin Gortat.

E qual presente você quer para seu time? Amanhã, sai uma listinha do Oeste.

PS: Para quem não viu, uma abordagem bem mais detalhada sobre os clubes está aqui: 30 times, 30 fichas sobre a temporada


NBA vê abismo crescer entre as conferências. Ou: o dia-dia brutal do Oeste
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Giancarlo Giampietro

Desfalcado, Spurs perde duas seguidas. Mais uma semana no Oeste

Desfalcado, Spurs perde duas seguidas. Mais uma semana no Oeste

A discrepância de talento entre o lado do Atlântico e do Pacífico na NBA já vem de longa data. A cada temporada, porém, a distância parece mais acentuada, com a Conferência Oeste se tornando mais brutal mês a mês – o oitavo colocado, no momento, pode estar abaixo dos 50%, algo raro, mas os sete primeiros têm um aproveitamento assustador; além disso, é questão de tempo para OKC estar no azul.

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>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Vamos fazer aqui, então, um apanhado de episódios e dados para ver como é dolorosa a vida dos bandoleiros do Velho Oeste. As últimas rodadas serviram para evidenciar as dificuldades enfrentadas por seus integrantes. Que nos digam Z-Bo, Marc Gasol e o torcedor do Memphis Grizzlies em geral:

– Qualquer sequência de dois jogos em duas noites já castiga. Agora imagine a cabeça do técnico Dave Joerger e dos preparadores físicos da equipe quando se deram conta de que teriam pela frente o Golden State Warriors na terça-feira e o San Antonio Spurs na quarta? E se dissessem a eles que, na segunda partida, precisariam encarar tripla prorrogação? Eles estariam cansados só de pensar. Pois o Memphis batalhou e conseguiu duas vitórias seguidas impressionantes.

Claro que tudo poderia ser menos sofrido se eles não tivessem cedido o empate ao Spurs depois de aberta uma diferença de 23 pontos. Ao final da partida, o armador Mike Conley ria no vestiário em San Antonio dizendo que tinha dificuldade até mesmo para se vestir. “Estou tão cansado que não consigo nem abotoar minha camisa”, afirmou.

Ao menos ele estava sorrindo, né? Passando por esses testes, o Grizzlies tem hoje a melhor campanha se formos levar em conta apenas os confrontos internos do Oeste, com 14-2, contra 13-3 do Golden State?E o que dizer dos atuais campeões? Na véspera, eles haviam tomado uma surra do Portland Trail Blazers, também numa dobradinha para lá de ingrata – ainda mais considerando a viagem de volta de Portland para casa.

Por essas e outras que, apesar dos reveses nessa ocasião, não há como contestar a estratégia precavida de Gregg Popovich comDuncan, Manu e seja lá mais quem for. Seu time, que preservou os dois veteranos e Splitter em Portland e não contou ainda com Parker e Kawhi na volta, perdeu ambas? Paciência. Ao menos exigiram do Grizzlies – que não tinha Tony Allen, é verdade – ao máximo que puderam, e os adversários já tiveram de disputar seis prorrogações desde sexta-feira..

A corrida é longa demais e desgastante. Ainda mais para quem está no Oeste. Ao conferir a tabela, raríssimos jogos parecem fáceis. Daí a quantidade de cartões de Natal que as diretorias de Wolves e Lakers têm para receber, com carinho, nesse Natal que se aproxima. Só foi mais uma semana no Oeste Selvagem, gente.

– Já não faz mais sentido falar em “topo da Conferência Oeste”. Com as duas derrotas, o Spurs caiu para sétimo. Mas com 17 vitórias e 9 derrotas. Juntos, os sete primeiros colocados têm um recorde de 128 triunfos e 42 reveses. Isso dá absurdos 75,9% de aproveitamento. É uma outra classe de competidores, e com muita gente nessa briga. Ter mando de quadra será importante. Por outro lado, parece já não haver mais diferença entre ficar em sétimo ou oitavo. Vem pedreira de todo jeito. O importante é apenas se classificar para os playoffs.

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Klay x Gasol e Z-Bo: os melhores no Oeste e contra o Oeste

– Seis equipes do Oeste sustentam aproveitamento superior a 70%. Golden State e Memphis estão na casa de 87,5 e 84%. No Leste, são três acima de 70%. O aproveitamento geral dos oito primeiros do Leste é de 120-79, ou apenas 60,3%. Phoenix (9º), Oklahoma City (10º) e Sacramento (11º) estariam hoje na zona de classificação para os mata-matas no Leste. Os dois primeiros teriam o suficiente para ocupar a sétima posição. O Kings seria o oitavo Líder do Leste, o Raptors seria o quarto no Oeste, empatado com o Portland Trail Blazers. Oitavo colocado, fechando a zona de classificação para os playoffs, o Brooklyn Nets seria o 12º do outro lado.

E nem mesmo essas classificações hipotéticas seriam justas, uma vez que não podemos esquecer a composição da tabela da liga. No geral, numa tabela de 82 partidas, 52 delas são intraconferência. Em ascensão, o New Orleans, por exemplo, enfrenta quatro vezes na temporada os quatro rivais duríssimos da Divisão Sudoeste. O Nets só vai jogar duas vezes contra cada um deles – são oito complicadas partidas a menos em sua contagem, no final.

– Por isso, o mais correto é se concentrar nos números interconferências. E aí o que temos? Por ora, 91 vitórias e 48 derrotas para o Oeste.  Um aproveitamento de 65%). Essa é a maior disparidade da história da NBA, superando os 60% a favor do Leste no longínquo 1960, com o qual não se pode comparar nada, na verdade. Desde a fusão com a ABA, a maior diferença nesse embate foi de 56,7% para o Oeste. Adivinhe quando? No ano passado. Nos últimos três campeonatos, aliás, o hiato só cresceu.

– Apenas dois times do Leste têm mais vitórias do que derrotas contra o Oeste, justamente os primeiros colocados Toronto (7-2) e Washington (6-1). Por outro lado, Philadelphia (em 11 jogos), New York (10 jogos) e Charlotte (12 jogos) venceram apenas uma vez. O Warriors está invicto contra o Leste, com oito triunfos, assim como o Rockets, com seis. Só três times ocidentais mais perderam do que ganharam contra os orientais. Um deles é o Sacramento Kings, com 2-3. Seus três tropeços, no entanto, aconteceram sem a presença de DeMarcus Cousins.

Raptors de Valanciunas precisou de prorrogação para vencer o Denver, em casa

Raptors de Valanciunas precisou de prorrogação para vencer o Denver, em casa

– Aliás, o Kings… Ah, o Kings… Que acabou de demitir mais um treinador, mesmo ainda estando no páreo por uma vaguinha nos playoffs, sem contar com Boogie pelas últimas dez partidas. Claro que a queda de Mike Malone teve muito mais a ver com uma insatisfação interna do magnata Vivek Ranadive e seu gerente geral Pete D’Alessandro com o estilo de jogo da equipe. Mesmo assim: se Sacramento fosse digamos, a capital do Maine, e, não, da Califórnia, provavelmente Malone ainda estaria empregado hoje, com resultados bem melhores, independentemente do basquete praticado.

– Até o Lakers, minha gente, ganhou mais do que perdeu nessa história. Em sete partidas contra rivais do Leste, somou quatro vitórias. Nas demais 18? Perdeu 14. Em rendimento, isso dá uma diferença de 57,1% para 22,2%. Byron Scott vai muito bem se apegar a este número para dizer que faz, sim, um bom trabalho.

– A diferença entre Oeste e Leste se acentuou, mesmo, na década passada. Nesse período, o último ano que a turma oriental venceu mais foi em 2009, e no sufoco : 50,5% x 49,5%. Isso está dentro da margem de erro, não?  Piora: desde 1990, o Leste saiu com mais vitórias em apenas seis temporadas (1993, 96, 97, 98, 99 e 2009), com uma bela forcinha do Chicago Bulls de Jordan, Pippen e Mestre Zen.

– Segundo levantamento do bíblico Zach Lowe, do Grantland, pelo menos um time de loteria do Oeste (fora dos playoffs, isto é) teve sempre uma campanha melhor que a do oitavo do Leste em média. Ou: o nono colocado do Oeste terminou com campanha melhor que 2,5 dos times do Leste desde 2003.

É... perder para um time do Leste, em casa, causa esse tipo de dor. Bucks bate Suns no último chute

É… perder para um time do Leste, em casa, causa esse tipo de dor. Bucks bate Suns no último chute

– Por essas e outras que, quando um Phoenix Suns perde para Detroit e Milwaukee em casa, está praticamente dizendo adeus aos mata-matas, ainda que se tenha um extenso caminho pela frente. Para complicar, o time do Arizona também venceu apenas um de seus seis jogos decididos por três ou menos pontos. Hoje, parece que só mesmo uma nova grave lesão vá impedir que o Oeste repita os oito melhores da campanha passada. Desta forma, há um crescente clamor nos Estados Unidos para que a NBA revise seu sistema de emparelhamento nos playoffs. Que saia de cena o sistema de oito-para-cada-lado e entrem os 16 melhores times, independentemente da localização geográfica.

“Isso precisa ser estudado. Estou chegando a um ponto bem próximo de achar que simplesmente precisamos de uma mudança. Já está na tela do radar da liga agora”, afirmou Robert Sarver, proprietário, claro, do Suns. A declaração aparece em uma bela análise de Lowe sobre essa situação. Seu time é aquele que foi eliminado no campeonato passado com 48 vitórias.

Essa ideia de posicionar os 16 melhores seria a mais simples de se efetuar, mesmo, embora não corrija as “injustiças” do calendário, por ora, bem mais fácil de que a rapaziada do Leste desfruta. Mas as mudanças são sempre complicadas de se fazer num sistema que está em operação há mais de duas décadas. Quaisquer que sejam.Isso envolve dinheiro (o faturamento dos playoffs), meus amigos, e aí a gente já sabe… E não só isso: as regras em prática na liga estão todas interligadas, como Lowe sempre faz questão de nos lembrar. “Todo item do ecossistema da NBA está ligado os outros: se você mudar uma parte, estará mudando todas, às vezes por acidente”, escreveu.

Se for para ter mudança, não será com o campeonato em andamento. As regras continuam, o que representa um tremendo desafio para a fração ocidental da liga.  Como já escrevi na ficha de apresentação do Suns para esta temporada: no Oeste, não basta ser bom. Precisa ser excelente. E que os jogadores e treinadores se preparem para mais prorrogações, drama e eventuais decepções. Vai ser difícil de abotoar camisa, mesmo.


A conquista de Toronto por Bruno Caboclo
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Giancarlo Giampietro

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“Toronto, 21 de novembro de 2014.

Galera, jamais vou esquecer o que aconteceu hoje. Vocês sabem, entrei num jogo oficial de NBA pela primeira vez e marquei oito pontos. O jogo tava decidido já, mas foi tudo muito especial. Sonho realizado, não tem o que dizer! A torcida pirou comigo e deixou tudo ainda mais incrível. Nessas horas a memória recupera um monte de coisa, tudo passando muito rápido. Importante registrar aqui o que rolou, apesar que da minha cabeça nunca mais vai sair!

Tudo começou quando o professor ficou sabendo que não ia poder usar mesmo o James Johnson, o cara do kickbox, que tá com o tornozelo machucado. Aí ele acabou me relacionando para a partida ao lado do amigão Lucas Bebê. Se a gente fosse olhar pra tabela lá atrás, o jogo contra o Milwaukee Bucks era para ser fácil, uma boa chance para estrear, como contra o Philadelphia 76ers. Acontece que o Bucks vem jogando bem e tá até mesmo na briga por playoff nesse comecinho de temporada. Então não dava para saber. O legal é que, se fosse para acontecer, eu pelo menos evitaria de entrar em quadra com aquela roupa bem ridícula de estampa militar. No fim, escapei daquela!

O curioso é que minha estreia  acabou acontecendo justamente contra o Giannis, o grego com o qual eu já fui muito comparado. Sabe aquela coisa de Kevin Durant brasileiro, né? Pois é, também ouvi por aí que eu seria o Giannis Antetkompo… Como escreve mesmo? Enfim, vocês entendem, que eu seria o grego brasileiro. Só porque viemos de uma liga pouco assistida no mundo todo e por termos entrado na NBA muito jovens, ainda no final de nossa adolescência. Ah, e também por termos o agente. Enfim, acaba sendo meio que irônico.

Claro que, quando o quarto período chegou e meu time tava dando uma sova no Milwaukee, essa coincidência nem passava pela minha cabeça. E pela barriga? Vixe, na minha barriga era como se tivessem borboletas. Já tava batendo aquele nervosismo, que poderia ser a hora de jogar, mesmo. A galera não ajudou, gritando meu nome sem parar. Eu enterrei a cabeça no meio da toalha, mas eles não pararam. Foi emocionante. E brincadeira. Claro que eu queria jogar e eles deram uma baita força. Mas dava meio que vergonha. Quando acabou o terceiro período, a gente tava vencendo por 101 a 57, e aí o treinador Casey me chamou e disse que tinha chegado a hora. Vi até gente na galera que ficou de pé pra aplaudir. Putz! Não tinha mais volta, vamo que vamo. 

No primeiro ataque, o Loui Williams errou um chute de dois de longe. Depois, aquele turco do Milwaukee fez uma cesta. Então chegou minha vez, né? Tentei um arremesso de três pontos, que venho treinando bastante. Na pré-temporada e na liga de verão os técnicos meio que já tinham me dito para trabalhar isso e, na hora dos jogos, deu pra ver que ali na zona morta é onde eles querem que eu fique. A linha de três fica mais curta dali, então tudo bem. Acabei errando, mas não perdi a confiança, não. Tanto que aquele minuto ali passou rapidão. Depois que um armador do Bucks perdeu um arremesso de média distância, saí correndo que nem um maluco pro ataque. Aí o Lou foi bem camarada e inteligente. No meio da quadra, viu que eu tava lá sozinho, na banheira. Ele acabou passando a bola ainda um pouco mais na frente pra mim. Doido! Ainda bem que sou atlético, né? Porque consegui pegar o passe na pinta, direitinho mesmo e fui pro aro com tudo. Cravei!

  

Se eu escrevo aqui que o Lou Williams foi doido de mandar um passe daquele, loucura mesmo aconteceu depois da cravada! Caraca, o ginásio ficou descontrolado. Era Bru-no, Bru-no sem parar no canto! Eles ficavam falando meu nome até mesmo naquela hora de gritar “defesa”. Eles queriam ficar falando de mim o tempo todo, eita. Só sei que a adrenalina foi a mil e nem dá muito tempo de pensar. O turcão errou um arremesso de fora, e peguei o rebote. Trabalhamos a posse de bola, e com dois segundos ainda no relógio, eu meti minha primeira de três. Foi mais uma assistência do Greivis Vasquez, que tem me ajudado bastante no dia-a-dia também. Mandei pro aro sem pensar, no automático, na cara do turco. Quando correu mais de três minutos de quarto, teve tempo na quadra. Foi o tempo da TV. E funcionou direitinho, porque aí o técnico falou pro Lucas Bebê entrar na quadra também. Aí era festa completa! Saiu o Patterson. Pena que no primeiro ataque acabei perdendo a bola. Seria legal  se o Bebê já desse uma cravada dele.

Aqui nessa foto acho que tou tentando pegar um rebote, mas ficou meio estranha. Tá valendo!

Aqui nessa foto acho que tou tentando pegar um rebote, mas ficou meio estranha. Tá valendo!

O jogo foi rolando, e ficamos um tempo sem mexer no placar quando o Bebê sofreu falta. Ele errou os dois lances livres, uma pena. Mas de repente era para ele pontuar pela primeira vez com mais estilo, né? Nem sempre vai rolar uma ponte de primeira, que nem pra mim, mas no lance livre não dá nem graça. O engraçado foi que, no segundo erro do Lucas, o Landry Fields veio do nada para socar a bola direto no aro. Tipo Michael Jordan. Afe!!! A galera pirava. Era festa, mesmo, no ginásio. Nunca vi nada parecido na minha vida. E eles curtiram ainda mais quando larguei outra bola de três! Raptors 116 a 64! #WeTheNorth!!!! Kkkkk.

Pois é, esses foram meus oito primeiros pontos na NBA.  Dava o friozinho na barriga, mas não era medo. Vocês me entendem, né? Tinha mais era de curtir esse momento e foi o que fiz. A torcida aproveitou bem mais, e isso foi bem legal. Não vou esquecer isso nunca mais. Nem do toco que eu dei no alemãozinho do Bucks – Wolters tava na camisa dele –, nem da primeira cesta do Bebê, em outro passe do Vasquez, já mais pro finalzinho. A torcida não parava e me matava. Agora cantavam “Vamos, Bruno”. Acho que eles gostam do meu nome.

No final do jogo, na hora que liberaram a entrada da mídia no vestiário, nem acreditei: vieram todos aqueles caras falar comigo. O Lou Williams, aquele mesmo que deu o passe para minha p.a., tirou foto e sarro da minha cara, dizendo que minha mãe iria adorar. E aí vem o Bebê e me alopra! Disse que todo mundo me amava porque eu era que nem o Justin Bieber! Sai fora!

 

Aí fiquei sabendo que meu nome virou assunto comentado no Twitter! Isso aí é mais doideira ainda. De tanta coisa para falar de NBA numa noite de sexta-feira, tava lá meu nome no TT mundial!??!?!!? Valeu, galera, pelo apoio! Fico muito feliz, vocês todos aí acordados até tardão.

Agora tá tarde aqui também, hora de voltar pra casa. Vai ser duro dormir, porque meu coração tá batendo forte até agora, mas não tem essa de balada, não. Os veteranos com certeza tinham algum plano pra mim, mas sou desses moleques sérios, e tem de descansar porque amanhã tem o LeBron por aí! Acho bem difícil que eu possa jogar essa. Tá todo mundo esperando um jogo mais difícil, porque o Cleveland tá   estrela, mas mais perdem que ganham por enquanto.

E não pode esquecer que só entrei no banco porque meu timaço tinha desfalque. A gente tá brigando pela liderança da conferência, e não vai ser sempre que o técnico vai me por pra jogar. Lembrem que o jogo tava com mais de 30 pontos de vantagem quando entrei, e os caras do Milwaukee ainda venceram o quarto período, chatões. Vou esperar pra ver. Já disse pros jornalistas aqui: quando estou no banco, o que mais fica forte em mim é minha cabeça. Tou aprendendo. Vai ser bacana demais de qualquer jeito poder ver o Anderson Varejão. Ah, e ver o LeBron de perto também!

Fui!”

*Vocês devem imaginar, mas não custa avisar que não teve depoimento nenhum, ok? Apenas uma brincadeira, um texto fictício com base em relatos colhidos por aí na rede www, nesta madruga.