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Arquivo : Damiris

Celtics está fora. Mas tem cenário otimista para voltar a lutar pelo Leste
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Giancarlo Giampietro

Brad Stevens ainda não sabe qual equipe terá em mãos em 2017. Mas é uma boa incerteza

Brad Stevens ainda não sabe qual equipe terá em mãos em 2017. Mas é uma boa incerteza

De todos os times que poderiam se despedir dos playoffs do Leste logo pela primeira rodada, o Boston Celtics é o que teria uma saída mais confortável. Ninguém gosta de perder. Isaiah Thomas estava com os olhos marejados no vestiário da equipe após a dura derrota sofrida contra o Atlanta Hawks nesta quinta-feira, para definir o segundo classificado às semifinais da conferência, para enfrentar o Cavs. Brad Stevens certamente esperava estender a bela série que fizeram contra o Hawks para um Jogo 7 em Atlanta. Com cara de bom moço, sempre calmo na lateral da quadra, o técnico é na verdade mais uma dessas figuras supercompetitivas, que não lida muito bem com as derrotas. Ainda assim, ele se sentiu obrigado a dizer como essa eliminação estava bem longe de significar o fim do mundo.

“É difícil pensar nisso agora por causa da emoção do momento e por termos perdido do modo como perdemos estes últimos dois jogos, mas acho que, olhando a longo prazo, tendo isso em mente, me sinto bem sobre nosso progresso. E também temos ótimas oportunidades para seguir adiante com nossa flexibilidade”, afirmou.

Esse termo já apareceu em diversos artigos aqui no blog: fle-xi-bi-li-da-de. É a palavrinha-chave para a gestão moderna da NBA, enquanto as atuais regras trabalhistas vigentes, de contratos mais curtos firmados nos últimos anos e que se tornarão bem baratos quando confrontados com os acordos que estão prestes a serem assinados em julho, quando o teto salarial será elevado consideravelmente.

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É difícil vasculhar a liga e encontrar uma situação mais promissora que a do Celtics, num trabalho impecável de Danny Ainge. O chefão do departamento de basquete do clube conseguiu conduzir um trabalho de reformulação após a era Pierce-Garnett sem chafurdar como um Philadelphia 76ers. Foi um ano de mergulho, no primeiro ano de Brad Stevens, carregando um Gerald Wallace. Nas últimas duas temporadas, já voltaram aos playoffs. Com o brinde: o direito de projetar uma escolha alta no próximo Draft justamente por causa da troca de PP e KG ao Brooklyn Nets, sem proteção alguma.

Okafor já foi especulado como alvo de Ainge. É mais promissor que Smart? Mesmo vencendo, Celtics se reconstruiu com muito mais rapidez que o Sixers

Okafor já foi especulado como alvo. Mais promissor que Smart? Mesmo vencendo, Celtics se remontou com muito mais rapidez

Hoje, voltando a cabeça exclusivamente para o recrutamento de novatos, com o time nova-iorquino tendo terminado com a terceira pior campanha, o Celtics tem 15,6% de chances de ganhar a primeira posição. Na pior das hipóteses, fica em sexto. O Philadelphia 76ersm que escapou novamente por pouco de registrar a pior campanha da história, tem 25%. Quase 10% a mais, algo significativo, mas qual caminho você preferiria: vencer dez jogos e ter 25% de chances para a escolha número um, ou ganhar 48 jogos e ter 15,6%? Para ser justo, quando Sam Hinkie assumiu o Sixers, ele não tinha veteranos do gabarito de Garnett e Pierce para seduzir e surrupiar um time desesperado por luzes, com o Brooklyn Nets. Tá certo. Mas que o Celtics tenha conseguido aproveitá-los desta forma e já veja o Boston beirando a marca de 50 vitórias, diz muito sobre a visão de Ainge. Não é sorte isso.

Hoje, o cartola olha para o seu elenco, anota o que tem de salários garantidos para a próxima temporada e todos os trunfos em termos de Draft que tem em mãos e sabe que tem diversas trilhas para seguir daqui para a frente. É incrível até:

1) se o teto salarial for de US$ 90 milhões, o Boston vai ter um mínimo de US$ 23,7 milhões para investir em agentes livres. Se decidir renunciar aos direitos de Amir Johnson, Jonas Jerebeko e Tyler Zeller, pode chegar a US$ 49,4 milhões, permitindo a contratação, por exemplo, de dois salários máximos para atletas de até seis anos de experiência, sobrando um troco, ou um contrato máximo para alguém de sete a nove anos (Kevin Durant, por exemplo) e mais US$ 24 milhões para propor a um alvo ou diversos alvos.

(Quer saber a situação de seu time? Vale checar o estudo de Eric Pincus, do Basketball Insiders, referência no assunto.)

Thomas, Jae Crowder, Marcus Smart, Avery Bradley, Kelly Olynyk, Terry Rozier, ames Young, RJ Hunter e Jordan Mickey são os atletas com salário garantido. O detalhe: Thomas, Crowder e Bradley vão ganhar, juntos, pouco mais de US$ 20 milhões. Na economia da NBA, isso é mixaria, especialmente para três veteranos tão produtivos. Para comparar, David Lee, sozinho, embolsou US$ 15 milhões do time.

Amir Johnson e Jonas Jerebko, contratados no ano passado, têm cláusulas que Ainge pode ativar, ou, não valendo US$ 12 milhões e US$ 5 milhões, respectivamente. Zeller e Sullinger dão agentes livres restritos. Evan Turner estará disponível, tendo se valorizado nesta campanha, e não estranhe se receber oferta de Phil Jackson.

Thomas vai receber ajuda de alto nível, cedo ou tarde

Thomas vai receber ajuda de alto nível, cedo ou tarde

2) em termos de Draft, chega a ser ridículo: só neste ano, o Celtics tem três escolhas de primeira rodada e cinco (!?) de segunda. São oito no total. Uma das escolhas de segunda, na real, vale como uma de primeira, por ser a 31a.

A mais valiosa é a do Nets. Além disso, o time tem a do Dallas (número 16! Numa cortesia de Rajon Rondo) e sua própria (número 23). Obviamente, não há espaço para oito novos calouros na equipe. No mínimo, Ainge vai escolher diversos atletas que não façam questão de jogar na liga de imediato, os chamados stash picks. Gringos ou universitários que topem jogar na D-League, na Europa, na Austrália (como o ala-armador Marcus Thornton neste ano) ou em qualquer lugar. O mais provável, porém, é que ele faça pacotes. Que acumule escolhas e tente subir no Draft a partir de uma posição mais avantajada. Por exemplo: três escolhas de segunda e a 16a. pela 10a. Coisa do tipo. Ou trocar por escolhas futuras também.

A cesta, de todo modo, não vai ficar vazia após 23 de junho, data do recrutamento. Em 2017, o clube tem o dirigente de trocar sua escolha com a do Brooklyn e possui mais três escolhas extra de segunda rodada. Em 2018, nova escolha do Brooklyn. Em 2019, tem uma escolha de primeira do Memphis (valeu, Jeff Green). É muita munição: todas essas seleções podem ser envolvidas em negociações.

Com tudo isso na mesa — imagine um jogador de poker que até some atrás de seu monte de fichas –, Ainge certamente vai ser agressivo, mas podendo agir com paciência. Como tem feito. Dependendo do que acontecer com Cleveland nestes mata-matas, voltará à carga por Kevin Love. Outros nomes aos quais o clube já foi vinculado: Boogie Cousins e Jimmy Butler. E será que Blake Griffin vai estar disponível? Carmelo Anthony toparia? Por aí vai.

Danny Ainge: conjugando agressividade e paciência ao mesmo tempo

Danny Ainge: conjugando agressividade e paciência ao mesmo tempo

A opinião geral da NBA é de que, para o Celtics conseguir uma superestrela, uma troca seria a via mais provável. Historicamente, seja pelo clima frio ou, infelizmente, por questões raciais da cidade (válidas ou não), a franquia não tem muito sucesso na contratação de agentes livres. Dominique Wilkins topou uma oferta em 1994, mas já aos 35  e ficou apenas uma temporada por lá. No ano passado, Amir Johnson foi o grande prêmio. O prestígio crescente de Stevens e a competitividade da equipe seriam fatores para ajudar nessa empreitada.

Mas aí voltamos à flexibilidade. Ainge pode tentar de tudo em trocas, com jogadores valiosos e baratos e múltiplas possibilidades de Draft, com um escritório de excelente aproveitamento no assunto. Ao mesmo tempo, tem espaço salarial para insistir em reforços de mercado. Não precisa se precipitar.

O cenário ideal seria receber uma das duas primeiras escolhas deste ano, aguardando a loteria do dia 17 de maio. Isso valeria um dos pródigos mais elogiados pelos scouts: os alas Ben Simmons ou Brandon Ingram. Qualquer um dos dois seria sensacional para Stevens: Simmons poderia ser o armador do time, ou no mínimo aliviar a pressão em cima de Thomas. Dá para imaginar facilmente um quarteto com Thomas, Smart/Bradley, Crowder e Simmons correndo pela quadra. Já Ingram ofereceria aquilo que é uma carência: arremesso de fora e a capacidade para criar suas próprias situações de pontuação.

Ou isso, ou seriam moedas de troca muito atraentes. Entre os oito times do Leste classificados para os playoffs neste ano, o Celtics tem o segundo elenco mais jovem, ficando acima apenas do Pistons. Vale adicionar mais um garoto à rotação?  Ou é melhor buscar veteranos? O objetivo é voltar à briga pelo topo da conferência, algo que não acontece desde aquela grande série contra o Miami em 2012, quando chegaram a abrir 3-2. O último título do Leste, para lembrar, saiu só em 2010. Claro que seus fanáticos torcedores e Ainge estão cientes disso. Chega uma hora que esses trunfos futuros têm de ser traduzidos em realidade, em algo concreto. Parece que chegou a hora de capitalizar, mas nem sempre é tão fácil assim. No ano passado, por mais que tenha tentado, o clube não viu cenário algum que lhe favorecesse.

Simmons cairia como uma luva no sistema de Stevens, acelerando e passando

Simmons cairia como uma luva no sistema de Stevens, acelerando e passando

“Amo o que Boston tem feito na sua reconstrução: acumular ativos que podem um dia gerar um ‘home-run’, enquanto, simultaneamente, construíram uma equipe competitiva, disciplinada. Eles têm um dos baús de tesouro mãos ricos da liga para investir (qualquer combinação de escolhas de Draft e bons jogadores jovens com contratos amigáveis)”, disse Amin Elhassan, analista do ESPN.com e ex-dirigente do Phoenix Suns. “Mas é aí que reside a piada cruel da NBA: todos esses ativos não significam nada se você não pode comvertê-los em um negócio valha a pena. Então, basicamente o Celtics tem duas possíveis armadilhas para contornar: fechar uma troca por um jogador que não necessariamente vá fazer o programa avançar, ou não fechar nada, ficar estagnado e ver o valor desses ativos eventualmente cair. Recomendo uma atuação agressiva, que assuma riscos quando apropriado, mas o presidente Ainge tem de fazer seus ativos valer.”

Ainge é daqueles cartolas que sabendo manipular a mídia como bem entende, para plantar informações, mandar recados e tal. Só não abre o jogo ao falar sobre seus principais alvos e intenções. Ninguém sabe se ele prefere um dos calouros top ou uma jovem estrela. O fato se ter passado por julho e, agora, em fevereiro sem fechar grandes negócios indica que ele tem sido exigente em suas investidas. Nesse sentido, a evolução apresentada neste ano lhe dá mais segurança, amparo, esperando o negócio certo. Boa parte da liga adoraria estar nessa posição. Pensando longe, talvez até mesmo o Atlanta Hawks, que acabou de passar à semi do Leste.

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Jukebox NBA 2015-16: Celtics, David Bowie e as constantes mudanças
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Giancarlo Giampietro

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Vamos lá: a temporada da NBA se aproxima rapidamente, e o blog inicia sua série prévia sobre o que esperar das 30 franquias da liga. É provável que o pacote invada o calendário oficial de jogos, mas tudo bem, né? Afinal, já aconteceu no ano passado. Para este campeonato, me esbaldo com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que sempre acho divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Changes”, por David Bowie

Por quê? David Bowie foi um dos maiores camaleões da história da indústria pop. Um torcedor do Boston Celtics regular teria dificuldade em listar ao menos 10 jogadores do elenco do clube nas últimas duas temporadas. Simples assim. “Mudanças (vire e encare o desconhecido)… Mudanças, você apenas vai ter de ser um homem diferente”, canta Bowie no refrão. A diferença aqui é que o técnico Brad Stevens é o mesmo, a princípio. O que está mudando é o cenário ao seu redor, forçando adaptações táticas do personagem principal.

Bowie mudava constantemente para seguir na vanguarda, e aí que a gagueira do refrão “ch-ch-ch-ch-chaaanges” faz ainda mais sentido, retratando uma cabeça no mínimo agitada, pensando nas mais diferentes personalidades e formas que poderia assumir. Ainge não vai pintar a cara, obviamente, nem mexer muito no cabelo para chegar ao topo, como fazia o artista em 1971, quando essa compôs a música. Mas, no que depender dele, vai sacodir seu plantel sem parar.

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Já brincamos no ano passado, e a piada continua: Danny Ainge não larga o telefone, né? Deve ser cliente platinum de sua operadora. Desde que percebeu que o núcleo formado por Pierce, Garnett, Rondo e Allen não seria mais o suficiente para dar a Boston um novo título, seu gerente geral tem perturbado a concorrência com ligações, vasculhado todo e qualquer software que analise atletas e visitado ginásios para tentar identificar algum prospecto que caia bem em seu time. Ainge vai fazer troca atrás de troca em busca de uma combinação ideal de jogadores que devolva a Boston o status a que seu torcedor mais velho está habituado.

E, bem, em meio a tantas mudanças, que Stevens cuide do resto.

Veja este gráfico aqui, elaborado pelo Basketball Reference:

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Continuidade dos elencos: o percentual equivale ao total de minutos replicados por um time entre duas temporadas. Por exemplo: o Hawks aparece com 88% na campanha passada, todo verdinho. Isso quer dizer que 88% de seus minutos foram distribuídos a jogadores que já estavam no elenco da temporada anterior (2013-2014). Avaliando só pelas cores, você vai perceber que apenas Dallas, Lakers e Philly tiveram três anos mais avermelhados do que Boston. Dois desses times foram para a loteria, enquanto o Mavs deu um jeito de se manter nos playoffs, no Oeste, graças a Rick Carlisle (e Dirk Nowitzki). Brad Stevens fez esse tipo de mágica no campeonato passado para por o Celtics no mata-mata

O censo extraoficial da NBA comprova o fluxo constante no elenco do Celtics desde a última campanha de Doc Rivers e a chegada de Stevens em 2013. De um campeonato para o outro, Ainge montou equipes em que ao menos metade dos minutos utilizados eram endereçados a caras novas.  Mas tem mais que isso.

Na temporada passada especificamente, 22 jogadores diferentes vestiram a camisa do Boston Celtics. Dá mais que quatro times. Para contextualizar, o New York Knicks, que passou por um expurgo promovido por Phil Jackson e “brigou” pela lanterna do início ao fim, escalou 20 atletas. O Los Angeles Lakers, todo despedaçado, teve 18 caras. Oklahoma City Thunder teve uma lesão atrás de outra, também realizou trocas e, ainda assim, ficou em 21. Para bater esse número de Ainge, só mesmo apelando a Sam Hinkie, que botou 25 jogadores em quadra pelo Sixers. O Phoenix Suns, depois de seu saldão pós-All-Star Game, chegou a 23, e, não por acaso, seu gerente geral é discípulo do poderoso chefão de Boston.

Para a campanha 2015-2016, o Celtics já conta com cinco novos jogadores: os calouros Terry Rozier, RJ Hunter e Jordan Mickey e os veteranos David Lee e Amir Johnson. Perry Jones III pode ser outra novidade, mas tende a ser dispensado antes de a temporada começar. Mas é bom que o torcedor do Boston não se apegue tanto assim a esses caras. Em questão de meses, a caixa postal de todos eles pode ser outra, algo que Ainge não se dá ao trabalho de negar, pois seria a mentira mais deslavada.

David Lee pode ajudar o Celtics, mas não era um alvo prioritário

David Lee pode ajudar o Celtics, mas não era um alvo prioritário

A pedida? Uma superestrela, por favor. Pelo menos uma!  Sim, pensando na quadra, nos resultados imediatos, qualquer coisa que não seja o playoff significaria um retrocesso para Stevens e sua cabeça de técnico. Ainda mais porque, no papel, seu time tem tudo para ser melhor que o do ano passado.

O pequenino Isaiah Thomas, líder da arrancada na metade final da temporada, agora trabalha desde o training camp, livre de lesões. Lee (100% ataque) e Johnson (um jogador especial para cuidar das pequenas coisas) chegam para reforçar a rotação anterior, com habilidades que casam perfeitamente, dando, com Tyler Zeller, Kelly Olynyk e Jared Sullinger, uma infinidade de combinações para um treinador evidentemente criativo. Além disso, a expectativa é que Marcus Smart se acalme um pouco em quadra, passada a adrenalina de calouro, e possa dar uma contribuição mais consistente.

Mas nenhum desses caras aqui teria presença garantida numa seleção de All-Star, nem mesmo no Leste. Como conjunto, creio que eles podem até mesmo desafiar o Toronto Raptors pelo título da Divisão do Atlântico. Pensar em algo maior que isso, porém, pediria muito mais boa vontade.

Ainge confia que a credibilidade crescente de Stevens seja um atrativo

Ainge confia que a credibilidade crescente de Stevens seja um atrativo

A gestão: Danny Ainge tem o quinto mandato mais longo da liga americana quando o assunto é o controle sobre as operações de basquete. As quatro administrações mais longevas que a dele: Heat (Riley), Spurs (Popovich/RC Buford), Mavs (Cuban/Nelson) e Lakers (Kupchak/família Buss). Só isso. Para se manter no cargo, o ex-armador alia diversos fatores, a começar por sua popularidade por lá. Isso não adiantaria nada, porém, se não tivesse conquistado o título em 2008, o primeiro desde 1986, quando Larry Bird ainda era um dos maiorais. O título saiu justamente por seu arrojo, pela predisposição a assumir riscos, fechar trocas, até que reuniu Garnett e Allen em torno de Pierce e Rondo. Essas negociações também lhe dão fôlego, independentemente do produto apresentado em quadra: ninguém pode dizer que ele não esteja tentando.

Uma tacada certeira de Ainge foi a escolha de Stevens como substituto de Doc Rivers, algo que não parecia tão óbvio assim na época. Quando contratado, o técnico tinha apenas 36 anos. Era mais jovem que Garnett e um pouco mais velho que Pierce. Vindo da Universidade de Butler, pela qual desempenhou um trabalho incrível, desafiando grandes equipes da NCAA para alcançar a final do torneio nacional em duas temporadas seguidas, o gêniozinho era cotado para suceder o Coach K em Duke ou qualquer outra potência da categoria. Bastava enrolar um pouco mais em seu emprego, que uma dessas ofertas certamente chegaria. Foi convencido, porém, a assumir um Celtics em reconstrução, com a segurança de um contrato de seis anos, valendo muito (US$ 22 milhões). Com vasta cultura de jogo, a cabeça aberta e ótimo trato com os atletas, construiu sua reputação rapidamente. Hoje, é visto como um dos trunfos do time para atrair o tão esperado astro.

Além disso, o escritório do Celtics é reconhecido como um dos pioneiros no uso das estatísticas avançadas e de qualquer ferramenta tecnológica que tenha surgido desde a década passada e que possa por o Boston em posição de vantagem. Antes de assumir o Houston Rockets, Daryl Morey passou três anos por lá.

Olho nele: Amir Johnson. Na falta de Kevin Love ou LaMarcus Aldridge, Ainge foi atrás de uma contratação pontual que cobre uma das deficiências de seu atual elenco: um pivô atlético para reforçar a última linha defensiva. As medições de saldo de pontos tendem a apontar o jogador ex-Raptors como um marcador de elite, com agilidade, impulsão e bom senso de colocação para oferecer cobertura a Lee, Sullinger, Zeller ou Olynyk, todos vulneráveis na proteção de cesta. Seu contrato é de US$ 24 milhões por dois anos, mas o segundo é opcional para o Celtics, dando ao time flexibilidade na busca por novos alvos.

card-avery-bradleyUm card do passado: Avery Bradley. Aqui, nem precisamos viajar tanto no tempo assim. O card ao lado é da coleção 2010-2011, quando o armador havia acabado de trocar a Universidade do Texas pelo Boston Celtics. Sabe o que isso significa? Que ele é o jogador que há mais tempo veste a camisa alviverde. Está indo apenas para sua sexta temporada pelo clube, sem ainda ter completado 25 anos.

Ao lado de Jared Sullinger, Bradley é o único atleta que Stevens herdou de Rivers ao assumir o time em 2013.  Seu papel pode ser reduzido neste campeonato, dependendo do grau de evolução de Marcus Smart. De qualquer forma, ainda vai compor uma rotação interessante com o segundanista e com Thomas, com três atletas que colocam muita pressão no drible dos oponentes. No ataque, seu papel é um pouco mais simples: nunca vai ser confundido com um maestro, ficando preferencialmente de canto, ainda que possa forçar a barra em alguns chutes de média distância.

Desde que se profissionalizou, Bradley melhorou sensivelmente seu arremesso, que era considerado uma atrocidade. Em sua primeira campanha, ele arriscou apenas cinco chutes de longa distância em 162 minutos, sem acertar nenhum. Na campanha passada, foram, respectivamente, 352 em mais de 2.400, convertendo 35,2% deles. Não estamos falando de um atirador de elite, mas é algo relevante para quem veio literalmente do zero. Foi algo que não aconteceu com Rajon Rondo, por exemplo.


O basquete feminino e o que não se pode ignorar
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Giancarlo Giampietro

Damiris e Clarissa: dois talentos numa campanha fraca

Damiris e Clarissa: dois talentos numa campanha fraca

Os heróis que acompanham o blog e os abnegados do basquete feminino sabem que o jogo disputado pelas mulheres não ganha a devida atenção durante a temporada. Dava para fazer aqui um depoimento todo lacrimoso a respeito, mas vamos dizer simplesmente que a agenda andava bastante apertada, por conta de outros compromissos profissionais e que, no tempo que sobrava, acabava me dedicando àquilo que me é mais familiar e que, sinceramente, me diverte mais. A NBA, no caso. Isso definitivamente não é a coisa mais correta de se dizer, admitir – pode soar até mesmo como um atestado de incompetência –, mas vai fazer o quê? Os arquivos do blog não deixam mentir. Só posso garantir que não é questão de preconceito besta (“esporte feminino blablabla”). Existe um conjunto de circunstâncias que levam a isso, algumas das quais vão ser exploradas logo mais. Ponto.

Daí que chega a Copa do Mundo feminina, e faz como? Você ignora, a título de se manter a coerência? Acho que ainda seria até pior. Então que se tente fazer o melhor possível, pelo menos se concentrando na seleção brasileira, se atendo ao que se passa em quadra e estudando o que está se passando ao redor dela, tentando ser o mais honesto e observador possível. Mas, sem, também, pagar uma de especialista, né? Não vai chegar um intrometido que mal viu a Patty jogar em sua ainda breve carreira e julgá-la – para o bem ou para o mal –, depois de 20 e poucos minutos. Há quem se sinta confortável em fazê-lo, sem nem mesmo ter visto um jogo sequer do objeto de ‘estudo’. Você coleta uma ou outra informação, constrói um texto com frases de efeito e já acredita ter feito sua parte, riscando o assunto em um checklist básico.

Mas, bem, esse post não tem o propósito de se inscrever no observatório de imprensa, muito menos de ativar o egocentrismo. A pauta é a queda da seleção já nas oitavas de final do Mundial. O lance é que, antes de avaliar a participação da equipe nacional, esses fatores precisam ser considerados e expostos ao leitor, seja ele de primeira ou de algumas outras viagens. Levando isso em conta, levantamos aqui alguns pitacos, com a ajuda (involuntária) do Painel do Basquete Feminino, o @PBF, referência obrigatória no assunto, tentando reconstruir a derrota para a França, tentando entender o que mais uma campanha frustrada em um torneio relevante significa:

Temos, acima, algumas personalidades que dispensam apresentação. Outros jornalistas – ex-colegas de profissão, outros não –, um técnico brasileiro trabalhando nos Estados Unidos e, antes de tudo, dos poucos apaixonados e interessados que restam por aí dispostos assimilar mais um duro golpe. Não é só a derrota para a França, mas o saldo negativo geral do torneio, mesmo. O Brasil disputou quatro jogos e perdeu três, tendo vencido apenas o Japão. Os três reveses foram por 13, 27 e 13 pontos, jogos nos quais o adversário europeu sempre esteve no controle. O ataque foi uma calamidade. Excluindo a partida contra as nipônicas, a equipe não conseguiu passar dos 60 pontos em nenhuma ocasião, terminando com meros 48 contra as franceses, sua pior pontuação no basquete moderno.

Diante desses números, primeiro se registra a decepção. Ninguém gosta de perder, ainda mais tão cedo assim num torneio e numa modalidade em que, não muito tempo atrás, o país era uma potência. Só não dá para desconsiderar, no entanto, o quão incomum também foi aquela geração dourada, na qual uma atleta do calibre de Janeth era apenas a terceira principal figura da seleção. Absurdo. Era como se fosse um Scottie Pippen num hipotético time que escalasse Magic Johnson e Larry Bird ao seu lado. Acho que dá para dizer que isso não vai acontecer sempre.

Outros tempos. Impossível de repetir

Outros tempos. Impossível de repetir

Por outro lado, mesmo depois da aposentadoria de duas seminais jogadoras como Paula e Hortência, com Janeth assumindo mais responsabilidades e um elenco ainda bastante forte, a equipe seguiu competitiva. Ainda beliscou um bronze em Sydney 2000 e alcançou as semifinais do Mundial 2006 – em casa, é verdade –, nas quais acabou tomando uma dolorida virada da Austrália e ainda teve o azar de ver os Estados Unidos perderem para a Rússia na outra semi, para complicar, e muito, suas aspirações por mais um terceiro lugar. Foram 15 anos brigando pelo topo.

Ficamos mal-acostumados. E a CBB, acomodada. Escorado pelos presidentes de federações estaduais, o poder central tratou/trata o esporte como se os deuses estivessem sempre sorrindo para os trópicos. Como se a exuberância atlética brasileira fosse o suficiente para formar equipes competitivas, ano após ano, sem que uma estrutura minimamente decente fosse necessária. Os clubes foram fechando portas e portas. O mais recente a desistir da liga nacional foi o time de Brasília, enquanto o Paulista tem apenas quatro clubes em disputa. O volume de atletas ‘profissionais’ diminuiu, e a coisa degringolou de forma geral.

O interesse de público é cada vez mais reduzido, assim como o das grandes corporações de mídia em sua cobertura – e, sim, isso pesa também: sem grana, meus amigos, o esporte e o jornalismo ficam para trás, a despeito de qualquer vocação cívica, patriótica, ou bisbilhoteira. Não adianta apelar ao romantismo de escrivaninha e ignorar isso. Vira um ciclo vicioso muito mais grave, difícil de se quebrar. Temos escrito, comentado e ouvido há uns bons seis, sete anos já sobre como é “triste” o produto dos campeonatos locais e, consequentemente, o que se apresenta em competições internacionais.  Esse contexto obviamente pede parcimônia na hora de encarar a seleção brasileira que entrou em quadra na Turquia.

Só é preciso, me parece, tomar cuidado para não se vitimizar tudo e todos. E aí a opinião das irmãs Paula e Branca, uma bem independente da outra, chama a atenção. Estamos falando de duas protagonistas daqueles tempos vitoriosos. Que poderiam estar sendo “duronas” demais com a atual geração. Mas sabemos que estão longe de representarem a figura de carrascas, que ignorem o que está ao redor delas e deleitem com isso. Paula é uma gestora exemplar. Branca, treinadora. As duas sabem, claro, o que se passa. Ambas apenas esperavam – e torciam por – mais.

Em entrevista ao Lance!, Paula explicou seus tweets. “Ficamos nesse discurso eterno de renovação. Então, vamos renovar de vez. Nossa geração também teve participações ruins, com 11º, 12º lugares, mas brigávamos, reclamávamos, por treinador, treinamentos, convocação, lutávamos por mudanças. Não podemos ficar nessa passividade de achar que não vai dar certo por algum motivo ou outro.  Se é para reclamar, vamos tentar fazer alguma coisa. Principalmente quem faz parte disso. Não pode ser porque Deus quis, tem que ser pela diferença. Mas não fazemos nada para essa mudança. Ficamos numa situação confortável, dizendo: ‘não esperem nada de nós, pois estamos renovando’. Coloca uma Seleção permanente para jogar a liga, tragam alguém de fora para evoluir o basquete, não sei, vamos fazer alguma coisa”, afirmou.

Clarissa é uma das jogadoras que parece evoluir a cada torneio, a despeito das dificuldades

Clarissa e toda a sua energia: a pivô é uma das jogadoras brasileiras que se apresenta melhor a cada torneio, evoluindo em seu canto, a despeito de todas as dificuldades estruturais sabidas do basquete brasileiro, especialmente o feminino

Você percebe o tom alarmante da ex-armadora, que é mais que compreensível. Até porque ela mesmo diz: considerando o que vimos no Mundial, era possível para o Brasil sonhar com mais, independentemente de uma liga nacional fraca e da renovação liderada por Zanon. Algo, aliás, que também pede um devido contexto: a) com a presença de veteranas como Adrianinha (agora oficialmente aposentada) e Érika, a média brasileira foi de 25 anos de idade (contra 26 da Espanha, 27 da França, por exemplo); b) no elenco da França, constavam apenas quatro vice-campeãs olímpicas, contra três brasileiras dos Jogos de 2012.

Mas, vá lá: se você descontar as duas mais experientes, a média cairia drasticamente, mesmo, e a juventude não se mede apenas em tempo de vida, mas, muito, mais por tempo de quadra. São atletas que nem são protagonistas em seus clubes. Se mal jogam em quadras nacionais, o que dizer de sua rodagem internacional? Inexistente, especialmente na hora de lidar contra as equipes europeias, muito mais fortes que a freguesia sul-americana. O nervosismo foi evidente durante diversos trechos da Copa do Mundo. Ainda assim, a impressão geral foi de que dava para fazer mais.

Zanon, como técnico da equipe, tem suas responsabilidades. De modo geral, pôs uma equipe que era no mínimo combativa em quadra, brigando sem desistir. Ok, esse é um lado. Mas não pode, de modo algum, ser o todo. A ineficiência do ataque da seleção assustou. A média final de 59,5 pontos supera apenas a da Turquia (57,8) entre os classificados para os mata-matas – energizadas, as anfitriãs, porém, estão nas semifinais. A seleção foi a terceira pior da competição no aproveitamento de seus arremessos, acertando apenas 35,4% de suas tentativas, acima dos representantes africanos somente: Moçambique e Angola. Em assistências, superaram só nossas irmãs angolanas.

Tudo isso para um time que conta com pivôs claramente talentosas (Damiris, diga-se, sofrendo com problemas particulares), mas que raramente eram colocadas em posição favoráveis para fazer valer suas qualidades. É angustiante o modo como em muitas ocasiões uma jogadora como Érika pode se ver alienada. Contra a França, no momento em que o Brasil passou a marcar com pressão, o jogo mudou de forma instigante, mas já era tarde. E se tivessem adotado esse expediente um pouco antes? Por aí vamos. Fato é que a equipe não jogou tudo o que podia, não jogou no limite – e não estamos falando em comprometimento, amor ao país etc. Decorre também disso a sensação de incômodo de muitos – e não só de uma fonte indiscutível como Paula. Até porque o nível da competição não vem sendo dos mais altos, não.

Érika: o destaque brasileiro, mas que se atrapalhou com faltas precoces contra as francesas; em geral, porém, foi a equipe brasileira que a deixou na mão durante toda a Copa, sem saber aproveitar uma das pivôs mais dominantes do mundo Fiba

Érika: o destaque brasileiro, mas que se atrapalhou com faltas precoces contra as francesas; em geral, porém, foi a equipe brasileira que a deixou na mão durante toda a Copa, sem saber aproveitar uma das pivôs mais dominantes do mundo Fiba

Agora, se formos nos conformar em dizer que o basquete praticado no Mundial era o máximo que a seleção tinha, que todo o potencial disponível foi explorado… Olha, melhor esquecer essa coisa de Rio 2016 e tal. Porque aí seria muito, mas muito trabalho pela frente, e obviamente que um só treinador, independentemente de quem seja, não daria conta. Seria tarefa mais para milagreiro. Não parece razoável pensar que, com uma comissão técnica bem mais reduzida que a do masculino, Zanon ou qualquer outro profissional vá refinar uma dúzia de atletas em poucas semanas e compensar a defasagem de toda uma temporada.

Nesse sentido, a diretoria liderada por Vanderlei Mazzuchini não foi nada camarada. Se você tem em mãos um time com limitação técnica e pouca experiência, então o que fazer? Não precisa ser biduzão para responder que essa combinação pede treino e amistosos, treinos e amistosos, treinos e amistosos. Que mais? Treinos e amistosos, ué. São coisas práticas. Ou melhor: coisas de prática.

E aí vem o espanto: conforme Fábio Balassiano, companheiro aqui de UOL Esporte, destacou, a seleção ficou cerca de um mês paradinha da silva, sem treinar, sem jogar, sem nada. Justamente o time “cru”, aquele grupo jovem conscientemente formado pensando lá na frente. Mas pensando exatamente no quê? Se você abre mão de semanas de treinamento, a troco de nada, o que isso quer dizer? É algo que ultrapassa qualquer limite do aceitável e que não tem nada a ver com os problemas mais amplos que a modalidade enfrenta. Isso não pode ser considerado planejamento – é puro descaso, e de gente muito mais relevante para o esporte do que qualquer blog relapso. Isso, sim, é algo que não pode ser ignorado.


Nádia: a dificuldade para se reconhecer e trabalhar um talento
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Giancarlo Giampietro

Nádia Colhado e Clarissa: características que se combinam em forte garrafão

Nádia e Clarissa: características que se combinam em forte garrafão. Crédito: Divulgação/Inovafoto/Wagner Carmo

Você navega pelo Painel do Basquete Feminino e outros fóruns, e vê uma penca de comentaristas prontos para destilar qualquer veneno que esteja disponível naquela hora, naquele dia. No conforto do anonimato, estão dispostos a atacar qualquer coisa. Quando a pivô Nádia Colhado foi convidada para participar de um training camp pelo Atlanta Dream, da WNBA, essa turma ficou ouriçada.

Como pode? Não sabe jogar. Etc.

Porque o que essa turma mais sabe fazer é atacar, mesmo, embora não tenham 1,93 m de altura e agilidade fora do comum para alguém desse porte. Qualidades naturalmente raras, e o que o técnico Michael Cooper enxergou de cara, mas que a galerinha do contra jamais poderia ver ou perceber. A oferta do Atlanta Dream e a provação a que se submeteu, vencendo uma série de cortes para oficializar sua passagem pela liga norte-americana só servem para confirmar o potencial ainda a ser explorado.

Sonhando e aprendendo em Atlanta

Sonhando e aprendendo em Atlanta

Aí ficou difícil para os mais raivosos, que parecem não entender que esta é uma história recorrente no basquete brasileiro, ainda mais no feminino, em que os clubes minguam, a gama de talentos e treinadores vai se reduzindo, compondo um cenário não muito favorável ao desenvolvimento de seus prospectos. Tal qual Nádia, que, aos 25 anos, neste cenário, ainda deve se assumir “muito jovem”. Ela sabe que ainda não está plenamente formada. Aliás, quem está? Os grandes não nos cansam de dar exemplos sobre como há sempre algo a ser melhorado. Kobe Bryant que o diga.

De modo que, na temporada regular de 2014, a pivô da seleção participou apenas de 16 jogos de 34 possíveis, com média de 7,9 minutos por jogo. Neste tempo limitado de ação, o próprio Atlanta Dream reconhece sua produtividade ao apontar que, numa projeção por 30 minutos, suas médias seriam de 10,4 pontos e 6,9 rebotes. Para comparar, a estrela Érika terminou o ano com 13,9 e 8,7, respectivamente, em 29,6 minutos.

Na Copa do Mundo, ela ainda vai seguindo em frente em sua curva de aprendizado, novamente como reserva de Érika, num garrafão que merece respeito e poderia ser mais bem aproveitado, com jogadoras que se complementam bastante, com Clarissa e Damiris fechando a rotação. Um grupo de atletas que complementam muito bem uma a outra: a defesa interior e o chute de média distância de Nádia, por exemplo, além dos recursos de Damiris de frente para a cesta, da vitalidade e energia da Clarissa e da força da natureza que atende pelo nome de Érika.

Crédito: Divulgação/Inovafoto

Crédito: Wagner Carmo/Divulgação/Inovafoto

O blog enviou algumas perguntas para a pivô para que ela contasse mais sobre a experiência nos Estados Unidos, trabalhando sob a orientação do técnico Michael Cooper (um marcador implacável nos tempos de jogador e um dos companheiros prediletos de Magic Johnson no mítico Los Angeles Lakers dos anos 80), a expectativa de se manter no elenco do Atlanta Dream e as perspectivas de uma seleção ainda mais jovem que ela no geral. A entrevista foi feita antes do Mundial e viabilizada pelo Bradesco, patrocinador da CBB e das seleções brasileiras:

21: Qual foi o saldo de sua primeira temporada na WNBA? Você participou de 16 jogos de 34 possíveis na temporada regular, com tempo de quadra limitado. Mas imagino que o fato de estar rodeada pelas melhores do mundo, de treinar contra atletas de ponta já faça diferença. Existe a perspectiva de retornar para o próximo campeonato?
Nádia: Eles fizeram uma reunião após o final da temporada e se mostraram interessados, já que haviam gostado bastante do meu trabalho. Realmente tive pouco tempo de quadra, mas cheguei a atuar mais do que 20 min em alguns. Independentemente disso, qualquer minuto de quadra foi proveitoso. Tive um aprendizado muito grande em tão pouco tempo.  Treinei com a Érika, Sancho (Lyttle, pivô espanhola, estrela europeia) e Aneika (Henry, pivô americana) e aproveitei muito esse tempo que estive ao lado delas. Espero ter a oportunidade de voltar e aprender ainda mais.

Como é a rotina de treinos durante uma temporada da WNBA? Há tempo para fazer um trabalho individualizado com os técnicos? Seria mais com as assistentes Teresa Edwards e Karleen Thompson, ou também com o treinador Michael Cooper? Você acha que voltou à Seleção como uma jogadora melhor?
A rotina foi pesada. Os três sempre me puxavam para o treinamento especifico da posição, mas quem mais ficava ao meu lado era a Teresa. Os três são ótimos. Durante o camp, treinei oito horas por dia, e a maioria dos exercícios era especifica para pivô. Fiz um progresso muito grande em todos os fundamentos específicos, mas sou muito jovem e com certeza ainda tenho muita coisa a melhorar.

Foi uma surpresa o convite para participar do training camp ou algo já discutido com a Érika durante a liga nacional? E a satisfação de passar por tantos cortes e ter a WNBA no currículo? Era uma coisa mais de “aproveitar a experiência o máximo que pudesse”, ou estava confiante, determinada mesmo a entrar no time? 
Fiquei muito feliz. Lembro que quando acabou o jogo contra o Maranhão, o Michael Cooper (que estava no Brasil para observar Érika, sua atleta, e outros possíveis prospectos) me chamou para conversar. E foi aí que surgiu o convite para o camp. A Érika já havia me falado que ele estava vindo ao Brasil e da possibilidade de um convite. Mas, quando cheguei lá, me deparei com muitas jogadoras que também estavam participando desse camp, e todos os dias acreditava que  seria meu último dia lá. Mas o tempo foi passando, muitas, saindo, e eu ia ficando. Isso me deu muita força para dar ainda mais de mim e conquistar minha vaga ao lado de mais duas apenas. Uma delas foi a Shoni (Schimmel, armadora de 22 anos), que já havia sido draftada, então era uma vaga certa.

Para o Mundial, o Brasil levou um conjunto de pivôs muito sólido e versátil. Vocês são atletas cujas características combinam muito bem. É um ponto forte a ser explorado insistentemente?  Com um jogo de dentro para fora, mesmo?
Acho que principal ponto forte do Brasil é o jogo coletivo. As alas e armadoras são muito novas e muito rápidas. Claro que o setor das pivôs está muito bem estruturado e com certeza o treinador (Zanon) vai explorar isso muito bem. Algumas jogadas do Brasil são especificas com o trabalho de pivôs.

O Zanon vem conduzindo uma renovação no grupo. Até onde essa jovem seleção pode chegar? É mais realista pensar em um resultado expressivo no Rio 2016?
Estamos nesse momento focadas no Mundial e é aqui vamos buscar um resultado positivo hoje, claro que não será um trabalho fácil, mas é o que queremos. Em 2016, esse grupo deverá estar bem acima do nível atual e é uma situação natural de evolução e crescimento de um grupo que vem sendo muito bem preparado desde que esse processo de renovação iniciou. Vamos dar o máximo para chegarmos o mais longe possível.


Brasileiras se impõem fisicamente contra Japão e avançam
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Giancarlo Giampietro

Clarissa e Érika vibram: domínio físico no garrafão – e na quadra toda

Clarissa e Érika vibram: domínio físico no garrafão – e na quadra toda

O Brasil primeiro se impôs fisicamente nesta terça-feira contra o Japão, com uma defesa bastante combativa e eficiente. Quando a coisa apertou a partir dos ajustes de seu adversário, a ala Patrícia explodiu no ataque, para chegar a incríveis 27 pontos e liderar uma vitória por 79 a 56 pela Copa do Mundo feminina de basquete, em Ankara, na Turquia. Foi o primeiro triunfo no torneio, pelo Grupo A, valendo às garotas a classificação para a fase de mata-matas.

Desde o início, a equipe de Zanon oprimiu o ataque nipônico, com jogadoras que são tão velozes como suas adversárias e muito mais vigorosas e atléticas. Claro que nada disso adiantaria se essas atletas não estivessem dispostas e atentas na defesa, para contestar os perigosos arremessos de fora e forçar uma avalanche de turnovers. As asiáticas cometeram 22 desperdícios de posse de bola, sendo que quase a metade deles aconteceu antes mesmo do final do primeiro tempo. “Hoje foi um jogo de muita concentração e esse foi um dos fatores que nos levou a vitória. Nós não vamos desistir”, afirmou a pivô Clarissa.

Muitos desses erros aconteceram devido ao reflexo e à antecipação das brasileiras, para cortar linhas de passe pressionadas ou em simples desarmes em situações de mano-a-mano que as adversárias atacavam a partir do drible – foram 16 recuperações, contra apenas quatro –, com destaque para a veterana e ainda extremamente ágil Adrianinha (4) e as pivôs titulares Clarissa e Érika (3) cada, sem contar as 3 recuperações da jovem Isabela Ramona em apenas nove minutos de ação. Nos rebotes, as pivôs brasileiras sobraram, com 13 na tábua ofensiva e 41 no total (contra 28), dando ainda mais volume de jogo ao ataque quando necessário.

Érika dessa vez não enfrentou resistência alguma, chegando ao double-double com 12 pontos e 11 rebotes, mais 4 tocos, em 31 minutos

Érika dessa vez não enfrentou resistência alguma, chegando ao double-double com 12 pontos e 11 rebotes, mais 4 tocos, em 31 minutos

Desta maneira, a seleção chegou a abrir 20 pontos ainda no primeiro tempo, num estalo de dedos, se aproveitando de uma decisão no mínimo curiosa, para não dizer misteriosa, de o Japão partir para a marcação individual logo de cara, demorando para acionar um sistema por zona que lhe ajudaria a atenuar sua defasagem física.

As nipônicas só alternaram sua defesa na metade do segundo período, já bem atrás no marcador. Ainda assim, tiveram sucesso, vendo o ataque brasileiro se perder em arremessos de três pontos tortos, que pouco assustavam. De pouco em pouco, conseguindo produzir mais em situações de transição, o time asiático foi diminuindo a diferença. Na metade do terceiro período, chegou a abaixá-la para meros seis pontos. Mas não passou mais disso.

O ataque brasileiro precisou de uns bons dez minutos, ou mais, para que se reencontrasse no jogo, e aí, sim, com participação sensacional da ala-armadora Patrícia. A jogadora de 24 anos havia marcado apenas três pontos nas duas primeiras rodadas, tendo zerado contra a República Tcheca na estreia. Hoje, multiplicou essa quantia por nove, elevando sua média para 10 pontos por jogo na fase inicial. Engraçado como as estatísticas nunca vão dizer tudo, né?

Patrícia soube dosar o ímpeto pelos disparos de fora com a busca de arremessos mais seguros de dois pontos e acabou com o sistema defensivo japonês. Ela guardou as bolas de longa distância com eficiência até então inédita para o Brasil no torneio (3-6), mas foi causar estrago mesmo em bolas de flutuação e bandejas, usando um primeiro passo bem ágil.

Foi uma contribuição inesperada, é verdade, que ajudou a completar o jogo interior que enfim prevaleceu. Juntas, Érika e Clarissa acumularam 25 pontos e 19 rebotes, além de 12 cestas de quadra em 23 tentativas. Na defasa, Érika ainda deu quatro tocos em 31 minutos. Damiris também conseguiu se soltar um pouco, chegando a seis pontos e seis rebotes em 23 minutos.

O próximo adversário da seleção será a França, que derrotou o Canadá em jogo apertado nesta terça, por 63 a 59, pela terceira rodada do Grupo B. Ambos os times tinham uma vitória e uma derrota (perderam da Turquia e ganharam de Moçambique). As francesas  ficaram, então, com a segunda posição do grupo e serão páreo duríssimo para o time de Zanon nas oitavas de final.

Fica a expectativa também de que a convincente vitória eleve a confiança de um elenco que vinha de derrotas desanimadoras. Resta saber, no entanto, se isso será o suficiente para que o time eleve seu padrão de jogo técnico ou tático como um todo para duelar com um adversário contra o qual definitivamente não vai ser tão superior física ou atleticamente.


Com Érika bloqueada, Brasil perde para tchecas na estreia
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Giancarlo Giampietro

Érika, num raro momento em que não estava completamente cercada

Érika, num raro momento em que não estava completamente cercada

O Brasil escala uma das melhores pivôs do mundo, uma comodidade daquelas que toda equipe sonha em ter. Claro que estamos falando de Érika. O problema é que, ao mesmo tempo que possui um luxo desses, a equipe, independentemente do técnico e do elenco de apoio ao redor da jogadora, segue sem usá-la de modo apropriado ou eficiente.  Neste sábado, na rodada de abertura da Copa do Mundo feminina, a República Tcheca praticamente tirou a estrela do Atlanta Dream de jogo e caminhou para uma vitória segura por 68 a 55, pelo Grupo A, em Ankara.

Essa coisa de acionar a pivô é uma questão crônica da seleção nos últimos torneios, independentemente de quem a está acompanhando e orientando. É verdade que as adversárias da estreia marcaram muito bem a linha de passe, diversas vezes posicionando suas pivôs frontalmente, conseguindo a proeza de “esconder” a gigante brasileira. Mas aí é o caso de procurar alternativas e não se conformar com a contestação inicial. Poderia se tentar fazer passes rápidos para o lado contrário, colocando a pivô, após um giro, de frente para a cesta. Ou um corta-luz entre as próprias pivôs para liberá-la por instantes preciosos para a recepção do passe. Qualquer truque que possa dar uma folga para a excelente jogadora que foi limitada a apenas oito arremessos em 29 minutos, convertendo três deles. Ela terminou com 8 pontos e 10 rebotes (cinco ofensivos e cinco defensivos. Impensável uma coisa dessas.

Falta chute de longa distância também ao redor de Érika, que acaba ficando muito visada. Nas ocasiões em que a seleção conseguiu ativá-la – seja em descidas mais rápidas para o ataque ou em situações que a grandalhona conseguiu estabelecer posição, as tchecas não titubeavam em mandar uma dupla ou até mesmo tripla marcação. É algo a que a jogadora está habituada, em torneios de Fiba, já que é uma verdadeira força no garrafão, internacionalmente reconhecida. Os oponentes vão fazer de tudo para segurá-la, e o Brasil ainda não encontrou formas de ajudá-la. Angustia.

O arremesso de fora poderia dar um alívio para Érika, mas não funcionou bem na estreia

O arremesso de fora poderia dar um alívio para Érika, mas não funcionou bem na estreia

Nesse ponto, também chama a atenção o modo como Damiris vagou pela quadra, sem muito propósito no jogo. Para um talento desses, alguém que pode realmente efetivamente atacar de dentro para fora, ou de fora para dentro, é um desperdício enorme. O quanto isso tem a ver com alienação tática ou de passividade da jogadora? Uma combinação das duas? Fato é que a ala-pivô poderia interagir muito mais com sua companheira de WNBA – e não necessária ou obrigatoriamente com o high-low que Barbosa tanto adorava, com a famosa conexão Tuiu-Alessandra. Damiris jogou por praticamente 25 minutos e estava zerada até o finalzinho, quando anotou seus dois únicos pontos num tiro de média distância na cabeça do garrafão.

Sem que as duas pivôs, suas jogadoras mais renomadas e qualificadas, produzissem, o ataque basicamente entrou em colapso, convertendo baixíssimos 26% nos arremessos de quadra (18-69), com 13-53 nas bolas de dois pontos. Coletivamente, o time realmente não rendeu, e até mesmo a transição foi inexistente, com apenas sete pontos de contra-ataque, contra dez das adversárias. Pode falar de nervosismo, juventude etc., mas isso não explica tantas falhas. O plano de jogo também deixou a desejar.

Em termos individuais, Tatiane Pacheco chamou a atenção. Embora não tenha terminado com números excepcionais (3-10, 8 pontos e 2 assistências),  talvez também pudesse ser mais explorada. A ala de 23 anos foi das poucas em que se mostrou confortável em atacar a partir do drible, com boa envergadura, controle de bola. Depois de substituída no primeiro quarto, demorou para voltar para a quadra. Dá para entender por um lado, já que as alas Jaqueline e a caçula Isabela Ramona foram muito bem na defesa, colocando mais pressão em cima da bola, ajudando a desestabilizar a articulação de jogadas das tchecas, forçando turnovers, que estavam muito tranquilas no primeiro quarto. Mas a ideia seria combinar, equilibrar essa energia com a técnica de Tatiane.

A equipe europeia tem muito mais rodagem, mas não era só isso. Sua linha de frente titular, com Vesela, Burgrova e Viteckova, é muito homogênea, com atletas espichadas e leves, que jogam flutuando com naturalidade. Um simples corta-luz fora da bola era o suficiente para liberar uma dessas atletas para o chute. Já seria um pouco difícil marcar essa bola devido à maior estatura de duas delas comparada com as brasileiras, e a retaguarda ainda falhou em algumas situações de troca, permitindo o arremesso de média distância livre. O jeito foi atacar quem estivesse driblando, mesmo, com as duas alas reservas fazendo bom papel nesse quesito.

Por falar em reservas, o técnico Lubor Blazek pouco usou seu banco. Quatro atletas não ganharam nem um segundinho sequer de ação, enquanto, das oito utilizadas, apenas seis ganharam mais de 10 minutos de jogo – a armadora Sedlakova ficou em 9min54s, enquanto Hejdova recebeu apenas 5min40s. A rotação dificilmente poderia ser mais enxuta que essa. Do outroo lado, Zanon colocou todas as suas 12 jogadoras em quadra, e apenas três delas ficaram abaixo dos dez minutos, numa situação reversa.

Esses números levam a crer que um ritmo mais intenso das brasileiras, com mais pressão quadra inteira, com uma defesa mais adiantada, mesmo, pudesse ter surtido mais efeito, para tentar cansar as oponentes. Claro que o jogo corrido não favorece o basquete de Érika. Mas, se em situações de meia quadra, a seleção não sabia explorá-la, o que fazer?

Faltou mais diálogo entre Érika e Damiris para a seleção

Faltou mais diálogo entre Érika e Damiris para a seleção

No jogo cadenciado, a República Tcheca sobrou. Não que seu time fosse lento, arrastado. Pelo contrário. Considerando a estatura de seu núcleo forte, elas eram bem ágeis, e isso surtiu todo o efeito para sua produção ofensiva, com 50% nos tiros de dois (23/46) e 45% de três (5/11). Isto é, quando não desperdiçavam a posse de bola (foram 19 no jogo),  concluíam com categoria. Percebe-se um melhor preparo técnico das adversárias e a resultante coesão que se ganha com isso. O ataque sai com muito mais fluidez devido à maior versatilidade.

Nem mesmo uma torção de tornozelo que Burgrova atrapalhou essa movimentação, já que a ala-pivô Alena Hanusova, de apenas 23 anos, executou ainda melhor  fazendo um belo terceiro período em seu lugar. Com 15 pontos, 6/8 nos arremessos em 26 minutos. Viteckova marcou 13 pontos, sendo nove deles em disparos de fora, num grande diferencial. Burgrova terminou com 12, enquanto Vesela teve 11. Quer dizer, foram 41 pontos distribuídos para esse quarteto.

*   *   *

Sei que existe uma espécie de celeuma a respeito da pivô Clarissa, se ela só serve para o basquete nacional Etc. Sinceramente, não vejo razão para discussão. Claro que, pela baixa estatura, ela acaba tendo dificuldade para pontuar próxima do aro, especialmente contra um time tão espichado como o da República Tcheca. Mas sua dedicação e energia em quadra são qualidades indispensáveis. Nesta estreia, ela conseguiu simplesmente oito rebotes ofensivos. Além disso, quando pôde atacar a cesta de frente no segundo tempo, teve sucesso, usando sua velocidade em investidas de dribles curtos, com trilhas bem pensadas. Somou 10 pontos e 10 rebotes em 21 minutos.

*   *   *

Próximos jogos: Espanha, neste domingo (15h15 de Brasília), e Japão, na segunda-feira (8h). Se derrubar as espanholas é mais complicado, a missão é derrotar as japonesas para conseguir uma vaga nos mata-matas. Com menor número de participantes que a masculina, a Copa feminina tem um formato diferente. Os primeiros colocados de cada grupo se classificam diretamente para as quartas de final, enquanto os segundo e terceiro lugares dão vaga em uma fase que vamos chamar de oitavas de final, mas não é necessariamente isso.


Presidente da CBB questiona metas do governo, mas se perde ao falar da seleção feminina
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Giancarlo Giampietro

 Ontem foi dia de rebater o candidato da oposição à presidência da CBB, o presente de grego que tivemos, durante anos e anos e que agora quer voltar. Foram tantos pontos de questionamento que parece que pior que aquilo não dava para ficar. Mas dá, sim. Dá quando sabemos que a confederação ou ficará com Bozikis, ou com o candidato da situação, que também tropeçar nas próprias palavras em entrevista ao R7. Carlos Nunes, Carlos Nunes… Ele quer a reeleição. Ai.

Carlos Nunes, presidente da CBB

Carlos Nunes, ex-aliado do presente de grego, agora tropeça por conta própria

A pergunta é direta e vital para aquele que já preside a entidade. A resposta vem murchinha e com um cinismo que impressiona: “Mais resultados, trabalhar mais com a base, mais ajuda do governo, saber o que ele quer realmente no esporte…”.

Sempre o governo. A grana do governo.  O mesmo governo que já cedeu a Eletrobrás como patrocinadora? Ah, tá. A mesma desculpa de sempre.

Em termos gerais, claro, quanto mais sólidos os investimentos em educação, escola pública, parques, centros olímpicos etc., maior a chance de termos um craque. Mas em qualquer modalidade, né? Não especificamente o basquete. Tirando a Lituânia, que governo trabalharia especificamente para o basquete?

E, se não falha a memória, a presidenta não acabou de assinar um cheque trilhardário há alguns dias para todo o esporte? Mas, antes de o governo saber o que espera do esporte, será que e a CBB sabe o que quer do basquete?

Quer mais ajuda, mesmo! Porque tá precisando.

Ainda mais porque os R$ 22 milhões orçamentários não servem pra tocar uma confederação de ponta, explicando então os empréstimos, o saldo negativo, o balanço que flerta com a falência da entidade nos últimos anos. Se quiserem discutir que o valor é pouco para sustentar as operações, que mandou assinar e topar esse tipo de valor? Num quadriênio rumo a uma Olimpíada em casa, não dava para barganhar mais?

Aí, quem sabe, com mais dinheiro, talvez ele consiga coordenar dois departamentos de uma vez. Porque sua gestão foi totalmente incompetente no que diz respeito ao feminino. “Para a feminina foi mais difícil, pelas dificuldades que tivemos e que todo mundo sabe”, afirmou.

Clarissa x Seimone Augustus

Fatou citar também a surra que as meninas levaram dos EUA em jornada dupla em Washington

Se todo mundo sabe, então é de se supor que ele, Hortência e asseclas sabiam também em 2009, não? Das duas uma: ou não sabiam, ou falharam em se preparar. Não tem desculpa. “A preparação é diferente da masculina. Foi difícil conseguir adversárias para ter uma preparação mais adequada. E ainda temos o cancelamento dos Sul-Americanos… Não tivemos países para jogar. A feminina, só teve o Chile para amistoso.”

Quer dizer, então, que o Brasil se deu mal nas Olimpíadas porque simplesmente não conseguiu jogar contra times de ponta. Como se elas não tivessem ido para a Austrália, né? Ou que não tivessem enfrentado a França, naquele fim de semana inesquecível do corte de Iziane. Por que o presidente, então, diria que só enfrentamos o Chile? E, realmente, um ou dois amistosos preparatórios fariam tanta diferença assim no resultado final? Ese foi o ponto mais importante? Ou será que mais relevante não era ter mantido uma linha técnico-tática durante todo o ciclo? Em vez de trocar a cada temporada?

Deve ser bobagem isso. Já que tínhamos um projeto bem claro: chegar a Londres para um torneio ritualístico, de passagem, de experiência para as meninas rumo ao Rio, com as jovens Karla, Chuca, Adrianinha e Silvia todas escaladas na rotação de Tarallo. Tássia, Nádia e Franciele, das mais experientes, ficaram entre as que menos jogaram. Damiris, grande aposta, foi limitada a menos de 20 minutos por partida. Isso tem tenome: planejamento. “A masculina tem mais condições que a feminina, já tem base pronta. A feminina vai passar por renovação”, disse Nunes. Ué, mas o ciclo anterior, nas palavras de Hortência, não era justamente para isso?

A julgar por essa entrevista, com tantas imprecisões, choradeira e palavras vagas, não dá para se animar muito para uma reviravolta no cenário feminino. “Queremos ganhar o Sul-Americano, nos classificar para a Copa América, para o Mundial, e no Mundial ficarmos entre as quatro, pelo menos. Queremos ser semifinalistas no Mundial da Turquia 2014”, assegurou.

Percebem a incoerência? Primeiro diz que a preparação do time feminino é mais difícil. Que vem renovação, blablabla. Depois, diz que espera uma semifinal de Mundial daqui a dois anos! Depois-depois, volta a se desdizer ao falar sobre Olimpíadas: ” Queremos o ouro, no masculino. No feminino, claro que também queremos o ouro, mas se ficarmos entre as quatro…  (estaria bom)”. Então é assim: no Mundial, que é daqui a dois anos, ele quer “pelo menos” ficar entre as quatro – isto é, brigar por medalha. No Rio de Janeiro, daqui a quatro anos, jogando em casa, a casa de Érika e Clarissa, por exemplo, a demanda seria menor. Faz todo sentido do mundo.

Então fica a pergunta reforçada: o que a CBB realmente espera do basquete brasileiro?

 


Ao menos uma vitória para fechar a campanha melancólica das meninas. E agora?
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Giancarlo Giampietro

Érika tentou de tudo no torneio, mas ataque não funcionou

Bem, o placar de 78 a 66 sobre a Grã-Bretanha valeu realmente como uma vitória de honra. Ao menos uma vitoriazinha que seja para evitar o vexame de cinco derrotas em cinco rodadas em Londres. A seleção brasileira feminina deixou para fazer sua melhor partida no torneio, quando era muito tarde para qualquer coisa.

E agora?

Bem, vamos tentar juntar alguns cacos:

– Nunca vi uma seleção brasileira com um ataque tão pobre, mas tão mal arquitetado numa Olimpíada, mesmo com a presença de Érika no elenco, uma das forças ofensivas mais irresistíveis do basquete internacional (16,2 pontos na primeira fase, 56% nos arremessos e 75% nos lances livres). Com um dínamo desses ao seu lado, que pediu marcação dupla e muita ajuda durante toda a campanha, a equipe terminou com uma média de 38% de acerto nos chutes, ganhando apenas de Rússia (37%!?), Grã-Bretanha e  Angola nesse quesito. Indesculpável, ainda acrescentando na conta os 16,6 erros por jogo, quinta pior marca da competição.  Isto é: não conseguimos nem cuidar bem da bola, para retardar o ritmo da partida, nem atacar a cesta com eficiência e rapidez. Faltou movimentação, criatividade, inteligência e controle emocional. Direção, em suma.

– A defesa brasileira se comportou bem muitas vezes no torneio, mas em geral seu desempenho oscilou demais, ainda mais quando Érika se complicava com o excesso de faltas. Terminou com média contrária de 70,8 pontos (sendo que no ataque converteram apenas 65,8). Foi a quinta pior retaguarda do torneio, acima de Angola, China, Croácia e Grã-Bretanha. Vale uma ressalva, no entanto: chinesas e croatas tiveram de encarar os Estados Unidos na primeira fase. Descontando as sacoladas que tomaram neste confronto, suas médias seriam bem inferiores.

– As rotações foram muito confusas: o Brasil não sabia se queria jogar com uma equipe mais alto ou um quinteto mais baixo. Rendeu bem melhor quando apostava em velocidade em vez de tamanho, uma vez que os talentos de Damiris foram desperdiçados: a jovem ala-pivô ficou extremamente deslocada no perímetro exterior. Seu chute pode cair dali, mas essa é apenas uma faceta de seu basquete, que acabou estrangulado.

– Apostar em Joice como a substituta de Adrianinha não foi a melhor cartada. Por outro lado, quando as duas jogaram juntas, o time rendeu bem melhor, ganhando em velocidade e pegada. Essa combinação, no entanto, foi pouco  repetida durante a competição. Começar com Karla e Chuca nas alas teoricamente daria ao time um chute mais confiável, para abrir a quadra para Érika, mas não deu certo: acertaram muito mais aro do que redinha, não tinham poderio de rebote e cobriam pouco terreno na defesa.

– Para um país que ficou bem-acostumado por anos e anos de Paula, Janeth, Hortência, Alessandra, Leila, Branca e outras, normal considerar que esta seleção londrina estivesse muito aquém em termos de talento. De 1 a 11, a média não era alta realmente, mas ainda havia possibilidades a serem exploradas. Tinha talento ali, sim. De Érika é melhor nem comentar mais nada. Clarissa complementou bem sua parceira de garrafão, não se intimidando contra as diversas adversárias mais altas que encarou. Terminou com 12,6 pontos e 9,0 rebotes (mais até que a grandalhona). Jogadora de muito vigor físico, energética, tino para os rebotes que ainda toma algumas decisões equivocadas no ataque, pode ficar exposta na defesa em determinados duelos, mas, no geral, oferece muito mais do que tira. Damiris não é uma escolha de Draft da WNBA de graça. Franciele pareceu sem confiança alguma, mas ainda é uma atleta de primeiro nível. Quando não tinha a obrigação de conduzir a equipe, Joice jogou muito mais solta e causou impacto com sua velocidade e explosão.

– Não era nossa melhor fornada, ok, mas o que dizer do restante da concorrência? Austrália e Rússia não detonaram ninguém na competição. A França veio forte, mas também não pode ser considerado um rival realmente dominante. Apenas os Estados Unidos jogaram como superpotência. Então não me venham falar de grupo forte, que deu azar, que sei lá o quê.

– Por fim, a última desculpa, aquela básica: a de que formamos um time pensando  longe, no Rio-2016. Pelamor. A presença de Karla e Chuca, ambas de 33 anos, na lista final nos remete a esta pergunta: vamos tentar realmente emplacar o discurso de que este ciclo olímpico era apenas uma fase de experiência? Quatro anos de preparação exatamente para quê?

As duas alas tiveram, respectivamente, médias de 23min39s e 20min07s de quadra, posicionadas entre as cinco que mais jogaram pela Seleção, ao lado de Érika, Clarissa e Adrianinha, que se despediu da equipe, enquanto Tássia (3 jogos com 3min58s), Nádia (4 jogos com 8min24s), Franciele (4 jogos com 5min10s) e Damiris (5 jogos com 19min32s, a única efetiva na rotação), as mais jovens, ficaram entre as cinco que mais ficaram no banco, junto de Silvia. Desse grupo londrino, apenas essas quatro e Clarissa chegarão ao Rio abaixo dos 30 anos. Érika vai ter de 33 para 34. Que renovação foi essa?

 


Prévia olímpica: a chance de as meninas jogarem como um time
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Giancarlo Giampietro

Hortência e Érika

Hortência entra em quadra, mas não pode ser a 12ª jogadora infelizmente

A Iziane vai falar aqui e ali, mas, pelo menos nas próximas duas semanas, a ala maranhense é passado em termos de seleção brasileira. Esperemos que os colegas em Londres não atormentem as outras 11 legitimamente olímpicas com isso.

A aposta de Hortência na cestinha não deu em nada – ou melhor, só deu em mais polêmica –, e agora as meninas têm a chance de provar em Londres que talvez não valesse tanto esforço assim pela imprevisível jogadora.

Que elas possam se unir e fazer a melhor Olimpíada possível. E aqui não dizemos meramente no sentido de “grupo fechado”, “família Tarallo” e nhe-nhe-nhém. Vale isso, ok, mas valeria muito mais uma equipe unida em quadra em torno de um jogo coletivo, bem disputado, com defesa e ataque solidários.

Tem gente de peso que acredita nisso: alguém cujo apelido “Magic” de nenhum modo parecia heresia, mesmo que tivesse de sustentá-lo em tempos em que a memória de Earvin Johnson Jr., aquele camisa 32 do Lakers, ainda era bem viva. Enfim, Paula escreveu em seu blog no R7: “O jogo da Iziane jamais me encheu os olhos. Não gosto de quem joga por jogar, quem não sabe escolher a melhor opção, quem não lê o jogo, que não joga para equipe. Enfim, não faz minha cabeça”.

Continua a genial armadora e agora empreendedora: “Estou mais convencida de que está na hora de apostar em jogadoras que tenham em mente a importância de um TIME, e que o individual jamais pode se sobrepor ao trabalho do grupo”.

Estrela por estrela ainda temos uma pivô como Érika, uma força natural absurda. A jovem Damiris também está em ascensão e tem muitos recursos. Elas têm talento para desequilibrar, ainda que a ala-pivô, bem jovem, não precise desse tipo de responsabilidade por ora.

Mas, com a despedida de Iziane, o técnico Tarallo tem agora nos Jogos uma ótima oportunidade para envolver essas atletas de enorme talento em benefício de um conjunto, ao mesmo tempo em que pode armar esse conjunto, essa equipe de um modo que potencialize as qualidades e virtudes de suas atletas.

Se o time jogar bem, fazendo as coisas certas, as estrelas e o talento tendem a fluir naturalmente.

Nesse contexto, realmente não faria sentido algum impor qualquer medida forçosamente.

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Iziane volta a trair as companheiras de seleção
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Giancarlo Giampietro

Iziane, pela seleção

Iziane jogou o Pan, mas está fora das Olimpíadas

O Bala deu o furo ontem (vizinho taí pra isso!), Iziane está fora de Londres-2012, e imagino que a vontade de boa parte da galera era levantar a placa básica: “Eu já sabia!”

Nos últimos meses, Hortência, que apostou tudo na jogadora, e Iziane contaram com a sorte em termos do tabuleiro específico para “astros que vão, ou não, se apresentar, se comportar e jogar as Olimpíadas pelo basquete brasileiro”. A dupla Nenê e Leandrinho chamou muito mais atenção nesse caso, e a maranhense ia tocando sua vida com a seleção feminina com um pouco mais de sossego.

Ou melhor: certamente “sossego” não é o termo mais apropriado.

Não foi divulgado o motivo exato para o corte da cestinha. A CBB apenas cita “razões disciplinares”. Segundo consta, não houve briga, bate-boca com a diretora ou com o técnico. Então que tipo de episódio poderia acontecer para uma atitude tão drástica assim?

Ao que parece, não foi necessariamente um só ato abusivo que tenha motivado essa decisão. Nesta quinta-feira, teria acontecido apenas a gota d’água após “uma reincidência de erros”, como relatou Hortência ao Bala. Agora, se foi assim mesmo, a dúvida que fica: desde quando a ala vem aprontando (o time já está treinando há dois meses…)? A segunda: por quantas vezes as regras foram quebradas a ponto de o Brasil jogar apenas com 11 jogadoras um torneio tão ‘insignificante’?

São duas perguntas importantes para se responder uma terceira crucial: precisava o problema chegar a Estrasburgo, na França? Tão tardiamente assim?

Quais foram os erros anteriores que foram sonegados de modo que o time não jogará com força máxima uma Olimpíada?  E, no caso, nem por ter desfalque por lesão de última hora: o time simplesmente não vai conseguir escalar nem mesmo 12 atletas por causa de uma indisciplina que já havia sido detectada antes e não foi corrigida.

Isso deixa qualquer um envolvido com o processo pê da vida, para lá de chateado.

Antes de pensarmos em pátria e blababla maior, o fato é que Iziane deixou suas companheiras na mão. Se houve uma sucessão de deslizes por parte da jogadora, a ponto de ser inevitável o corte, dá para dizer que Adrianinha, Karla, Chuca, Joice, Franciele, Silvia, Clarissa, Damiris, Nádia, Érika e Tássia – respectivamente, do 4 a ao 15, pulando um número – foram traídas pela jogadora 8. Mais uma vez. E a CBB falhou em protegê-las.

*  *  *

Ao UOL Esporte, Iziane se recusou a comentar, informar ou falar qualquer coisa a respeito do(s) ato(s) que tenham motivado seu corte. “Não posso falar sobre isso. Minha assessoria publicou uma nota. Não posso falar com a imprensa”, afirmou. Justamente uma das atletas mais desbocadas do esporte brasileiro. Para a ESPN Brasil, teria falado em tom de indignação de que “sempre sobra” para ela”, segundo relatou José Trajano após conversa com o excepcional José Roberto Salim, que conversou com a jogadora durante o dia. Francamente: o que ela poderia dizer além disso? Sai técnico, entra técnico, e só há um denominador comum na história toda.

– Atualização (20h15): Mais tarde, em pronunciamento ainda na França, a ala abriu o jogo: passou algumas noites no quarto do hotel da seleção com seu namorado. “Sei que a atitude foi inadequada e que esta sanção não pune só a mim como todo o trabalho que realizamos”, disse. Pediu desculpas ao grupo e a Hortência.

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O Vinte Um espera que as 11 jogadoras restantes consigam superar essa e tentar, de algum modo, reverter a situação, juntando os cacos. Mas é difícil, claro. Por outro lado, não sei exatamente o quanto a seleção perde neste caso em quadra.

Antes que me acusem a ignorância, calma.

O talento da maranhense é inegável, é a pontuadora mais natural da equipe, ainda explosiva (infelizmente, em muitos sentidos). Mas, durante os amistosos, ela vinha muito mal, destrambelhada no ataque, um problema de longa reincidência também. Agora o foco, imagino, precisa ir para Érika no garrafão, nem que seja na marra – só não dá para esperar que a superpivô faça milagres. Damiris também deve ganhar mais oportunidades, a despeito de seu jogo deslocado para o perímetro.

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Faz tempo que não abordamos o basquete feminino por aqui – havia acompanhado bem mais de perto a versão anterior da seleção, o time de 2006 a 2008, com algumas meninas que já não fazem parte do grupo (a simpatia de Karen e Micaela era um destaque). Abrindo o jogo, fica difícil de dar conta de tudo, e por vezes é melhor não falar muito para não correr o risco de se passar por leviano.  Então para muitos a intervenção aqui pode parecer estranha. Mas é impossível evitar o caso Iziane. Vamos acompanhar todo o torneio olímpico e, na medida do possível, falar das meninas também no decorrer da temporada.


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