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Patrícia atinge maior pontuação da seleção após 2010
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Giancarlo Giampietro

Patrícia se soltou contra o Japão

Patrícia se soltou contra o Japão

A ala-armadora Patrícia Teixeira atingiu nesta terça-feira não só a melhor pontuação, de longe, na Copa do Mundo feminina de basquete. A jogadora também conseguiu a maior contagem de toda a sua temporada 2014 ao marcar 27 pontos e liderar o ataque brasileiro numa bela vitória contra o Japão, em Ankara, Turquia, que valeu para classificar a equipe para os mata-matas do torneio.

Nas duas primeiras rodadas do Mundial, a jogadora do São José, de 24 anos, havia anotado apenas três pontos. Todos eles contra a Espanha, depois de ter zerado na estreia contra a República Tcheca. Detalhe: os três pontos aconteceram na linha de lance livre. São números que ficavam bem aquém para uma titular de seleção brasileira, mas a verdade é que a jogadora, nada confortável em quadra, havia tentado apenas seis arremessos em 30 minutos no geral, errando todos eles. Até que triplicou sua média.

Os 27 pontos de Patty valem como a maior marca da seleção nesta Copa do Mundo, assim como a maior contagem desde os 32 que Érika anotou curiosamente também contra o Japão, pelo Mundial 2010. Ela igualou a quantia que Iziane somou contra a República Tcheca naquele esmo torneio, contra a República Tcheca, uma rodada depois da jornada excepcional da superpivô.

Contra as nipônicas, um time bastante ágil, mas física e atleticamente inferior, a brasileira se soltou, deslanchando especialmente no segundo tempo. Buscou a cesta em 17 ocasiões, com 11 acertos, para um aproveitamento mais que formidável de 64,7%, atacando tanto em infiltrações, com chutes em flutuação, jumpers ou bandejas (8-11, 72,7%), como convertendo 50% de seus disparos de fora (3-6), em 33 minutos. Sua pontuação se equivale a quase metade do que as asiáticas marcaram (48,2%). É uma das maiores atuações de sua jovem carreira, se não a mais importante.

Enfrentar a República Tcheca definitivamente não é a mesma coisa que uma defesa da LBF

Enfrentar a República Tcheca definitivamente não é a mesma coisa que uma defesa da LBF

Até, então, neste ano, sua melhor marca havia sido de 20 pontos que anotou pelo Ourinhos em vitória sobre o Brasília, no dia 8 de fevereiro, em casa. Embora tenha atingido esta soma ema penas 24 minutos e ela tenha valido por 48,7% da soma das suas adversárias, não há como traçar qualquer paralelo entre uma realidade a outra. Aqui, estamos falando de uma Copa do Mundo, a primeira vez em que a atleta atua em jogos oficiais pela seleção adulta fora das Américas. Sete meses atrás, estava em casa, no Monstrinho, enfrentando o time mais fraco da LBF, a liga nacional.

Em quadras brasileiras, Patrícia, que está de volta ao São José, clube que defendeu entre 2011 e 2013, vem tentando se inserir entre as principais atacantes. Em sua única temporada por Ourinhos – tradicional clube que, alegando falta de grana, congelou suas atividades na modalidade –, sua média foi de 11,06 pontos, em 29 minutos, sendo a 14ª da tabela geral do torneio. Sua segunda melhor marca individual foram os 19 pontos contra Americana, no returno, logo na rodada seguinte aos 20 contra as candangas.

(Aqui, um parêntese: foi uma aventura descobrir sua média e checar seus recordes pessoais, uma vez que o site oficial da LBF não oferece ao público fichas individuais de cada atleta, nem da temporada 2013-14, muito menos de edições passadas. Aí você consulta a lista de de cestinhas do torneio, e encontra duas Patrícias, ambas de Ourinhos, com médias de 11,06 e 10,94 pontos. Acontece que uma delas é a veterana Chuca. A outra, a Patty. E aí? Faz como? Bem, você primeiro consulta o Google para checar se a Patrícia número 7 é mesmo, a mais jovem. Confere. Aí, acessa jogo por jogo do clube no campeonato para tirar a limpo essa história. Em 16 partidas, a camisa 7 anotou 177 pontos. Divide na calculadora e chega aos 11,06. Eureka. Para constar: na temporada regular, em 14 confrontos, ela somou 159, com 11,38.)

Jogando no Vale do Paraíba, vinda do São Caetano, ela teve médias de 12,8 em 2012-13 (10ª), em 27 minutos, e 14,1 pontos em 2011-12 (11ª), em 31 minutos. Foi em 2013 que ela conseguiu seus recordes pessoais pela LBF. No dia 5 de março, foram 31 pontos em 35 minutos contra Araçatuba, numa vitória por 77 a 62, com 3-5 nos três pontos, 7-12 de dois pontos e 8-11 nos lances livres. No dia 18 de fevereiro, em derrota por 64 a 61 no Maranhão, igualou os 27 pontos que fez contra  japonesas, com 4-8 de três, 5-10 de dois e 5-6 nos lances livres. Os adversários eram os dois piores da temporada. Em 2012, ela também anotou 27 pontos contra São Caetano, no dia 28 de janeiro, em vitória por 71  a 55, com 2-4 de três pontos, 7-15 de dois pontos e 7-7 nos lances livres, em 31 minutos.

Patrícia tenta de longa distância, com mecânica estranha

Patrícia tenta de longa distância, com mecânica estranha

De novo: não dá para comparar esses picos em sua trajetória com o ela fez pelo encerramento da primeira fase da Copa do Mundo. Ainda assim, em declaração divulgada pela CBB, Patty não demonstrou tanta empolgação assim, dividindo o brilho da atuação com suas companheiras. “A vitória foi construída com nosso jogo coletivo e todas as jogadoras se ajudaram do início ao fim. Cada detalhe foi importante para conseguirmos esse resultado positivo. Entrei para ajudar o grupo, a defesa encaixou bem e com isso o ataque fluiu normalmente”, afirmou. “Fico feliz por ter contribuído com 27 pontos, mas divido esse momento com toda a equipe. Estamos confiantes e muito concentradas para as próximas partidas, decisivas.”

De fato, a ala-armadora desequilibrou o jogo em seu momento mais crítico, quando as japonesas reduziram uma diferença de 20 pontos para apenas seis na metade do terceiro período, mas o Brasil ganhou o jogo graças ao seu empenho defensivo, mesmo. Para tanto, além de plano de jogo e execução, contou claramente com seu maior vigor físico para oprimir o adversário. A própria Patty era, em geral, de 1,78m, era mais alta e rápida que as atletas com as quais duelou em quadra. Em sua primeira competição desse porte, vai se testando, assim como muitas de suas companheiras. Nas oitavas de final, contra as francesas, vice-líderes do Gruop B, é pedir demais que ela repita uma atuação dessas. Por outro lado, ela agora sabe que pode fazer muito mais do que havia apresentado nas duas primeiras partidas.

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Além de Érika e Iziane, confira as outras atletas brasileiras que chegaram aos 20 pontos seja na edição passada da Copa do Mundo ou nos Jogos Olímpicos de 2012: Clarissa marcou 21 pontos contra o Canadá em Londres;  a ala Karla fez 22 contra a Austrália em Londres; a armadora Helen chegou a 20 contra Mali em 2010; por fim, a pivô Alessandra marcou 21 pontos num segundo confronto com o Japão naquele Mundial. A jovem Damiris tem os 22 pontos contra o Chile como sua partida mais produtiva, mas pelo Sul-Americano.

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Em dados fornecidos pela CBB, confira os números de Patrícia na base:

Mundial Sub-19 Eslováquia 2007: 71pts/8 jogos (8,8).

Copa América Sub-18 Argentina 2008: 73pts/5 jogos (14,6)

Sul-Americano Sub-17 Equador 2007: 66pts/5 jogos (13,2)

Sul-Americano Sub-15 Equador – 2006: 99pts/6 jogos (16,4)


Brasileiras se impõem fisicamente contra Japão e avançam
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Giancarlo Giampietro

Clarissa e Érika vibram: domínio físico no garrafão – e na quadra toda

Clarissa e Érika vibram: domínio físico no garrafão – e na quadra toda

O Brasil primeiro se impôs fisicamente nesta terça-feira contra o Japão, com uma defesa bastante combativa e eficiente. Quando a coisa apertou a partir dos ajustes de seu adversário, a ala Patrícia explodiu no ataque, para chegar a incríveis 27 pontos e liderar uma vitória por 79 a 56 pela Copa do Mundo feminina de basquete, em Ankara, na Turquia. Foi o primeiro triunfo no torneio, pelo Grupo A, valendo às garotas a classificação para a fase de mata-matas.

Desde o início, a equipe de Zanon oprimiu o ataque nipônico, com jogadoras que são tão velozes como suas adversárias e muito mais vigorosas e atléticas. Claro que nada disso adiantaria se essas atletas não estivessem dispostas e atentas na defesa, para contestar os perigosos arremessos de fora e forçar uma avalanche de turnovers. As asiáticas cometeram 22 desperdícios de posse de bola, sendo que quase a metade deles aconteceu antes mesmo do final do primeiro tempo. “Hoje foi um jogo de muita concentração e esse foi um dos fatores que nos levou a vitória. Nós não vamos desistir”, afirmou a pivô Clarissa.

Muitos desses erros aconteceram devido ao reflexo e à antecipação das brasileiras, para cortar linhas de passe pressionadas ou em simples desarmes em situações de mano-a-mano que as adversárias atacavam a partir do drible – foram 16 recuperações, contra apenas quatro –, com destaque para a veterana e ainda extremamente ágil Adrianinha (4) e as pivôs titulares Clarissa e Érika (3) cada, sem contar as 3 recuperações da jovem Isabela Ramona em apenas nove minutos de ação. Nos rebotes, as pivôs brasileiras sobraram, com 13 na tábua ofensiva e 41 no total (contra 28), dando ainda mais volume de jogo ao ataque quando necessário.

Érika dessa vez não enfrentou resistência alguma, chegando ao double-double com 12 pontos e 11 rebotes, mais 4 tocos, em 31 minutos

Érika dessa vez não enfrentou resistência alguma, chegando ao double-double com 12 pontos e 11 rebotes, mais 4 tocos, em 31 minutos

Desta maneira, a seleção chegou a abrir 20 pontos ainda no primeiro tempo, num estalo de dedos, se aproveitando de uma decisão no mínimo curiosa, para não dizer misteriosa, de o Japão partir para a marcação individual logo de cara, demorando para acionar um sistema por zona que lhe ajudaria a atenuar sua defasagem física.

As nipônicas só alternaram sua defesa na metade do segundo período, já bem atrás no marcador. Ainda assim, tiveram sucesso, vendo o ataque brasileiro se perder em arremessos de três pontos tortos, que pouco assustavam. De pouco em pouco, conseguindo produzir mais em situações de transição, o time asiático foi diminuindo a diferença. Na metade do terceiro período, chegou a abaixá-la para meros seis pontos. Mas não passou mais disso.

O ataque brasileiro precisou de uns bons dez minutos, ou mais, para que se reencontrasse no jogo, e aí, sim, com participação sensacional da ala-armadora Patrícia. A jogadora de 24 anos havia marcado apenas três pontos nas duas primeiras rodadas, tendo zerado contra a República Tcheca na estreia. Hoje, multiplicou essa quantia por nove, elevando sua média para 10 pontos por jogo na fase inicial. Engraçado como as estatísticas nunca vão dizer tudo, né?

Patrícia soube dosar o ímpeto pelos disparos de fora com a busca de arremessos mais seguros de dois pontos e acabou com o sistema defensivo japonês. Ela guardou as bolas de longa distância com eficiência até então inédita para o Brasil no torneio (3-6), mas foi causar estrago mesmo em bolas de flutuação e bandejas, usando um primeiro passo bem ágil.

Foi uma contribuição inesperada, é verdade, que ajudou a completar o jogo interior que enfim prevaleceu. Juntas, Érika e Clarissa acumularam 25 pontos e 19 rebotes, além de 12 cestas de quadra em 23 tentativas. Na defasa, Érika ainda deu quatro tocos em 31 minutos. Damiris também conseguiu se soltar um pouco, chegando a seis pontos e seis rebotes em 23 minutos.

O próximo adversário da seleção será a França, que derrotou o Canadá em jogo apertado nesta terça, por 63 a 59, pela terceira rodada do Grupo B. Ambos os times tinham uma vitória e uma derrota (perderam da Turquia e ganharam de Moçambique). As francesas  ficaram, então, com a segunda posição do grupo e serão páreo duríssimo para o time de Zanon nas oitavas de final.

Fica a expectativa também de que a convincente vitória eleve a confiança de um elenco que vinha de derrotas desanimadoras. Resta saber, no entanto, se isso será o suficiente para que o time eleve seu padrão de jogo técnico ou tático como um todo para duelar com um adversário contra o qual definitivamente não vai ser tão superior física ou atleticamente.


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