Vinte Um

Arquivo : Warriors

Augusto derruba o Real, Splitter decola e mais: um giro com os brasileiros
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Os playoffs estão chegando, em todos os lugares — no Fantasy, aliás, o bicho já está pegando. Então vale gastar alguns minutos nesta segunda-feira para checar como andam os brasileiros espalhados por aí, levantando como têm sido seus últimos dias, de preparação para a hora que importa, mesmo:

– Começamos pela Espanha. Não só para quebrar a rotina, mas também pelo fato de a maior vitória ‘brasileira’ ter acontecido por lá. Augusto Lima, em sua temporada sensacional, liderou o modesto Murcia em um triunfo histórico sobre o Real Madrid, pela Liga ACB. Há 20 anos que seu clube não derrotava a potência merengue em casa. O pivô teve dificuldade para finalizar no garrafão (3/11 nos arremessos), mas não deixou a confiança esmorecer. Como de costume, batalhou pelas próprias sobras e terminou com um double-double de 13 pontos e 11 rebotes. Foram 5 na tábua ofensiva, buscando contato (6/7 nos lances livres).

Augusto rege a torcida: vitória muito comemorada

Augusto rege a torcida: vitória muito comemorada

Ao menos neste ano vem sendo acompanhado por Magnano, que o elogiou recentemente, depois de ter sido ignorado na convocação passada. Até porque Augusto tem ao seu lado Raulzinho, que foi titular no domingo. Em 24 minutos, somou 7 pontos, 2 assistências e 2 rebotes. Durante a campanha, o jovem armador vem dividindo a condução da equipe com o veteraníssimo Carlos Cabezas, sendo observado pelo Utah Jazz.

Em termos de classificação, o resultado devolve a esperança ao Murcia de chegar aos playoffs. Mas não vai ser fácil. O time está na décima posição, com 11 vitórias e 13 derrotas, empatado com o Gran Canaria. O oitavo Zaragoza é o Zaragoza, com 14 e 11, respectivamente, também empatado com o Baskonia e o Valencia. Restam 9 rodadas na temporada.

De acordo qualquer forma, tem de comemorar, mesmo. Não só quebraram um tabu — chamado de “maldição” por lá –, como derrubaram o Real da liderança. O Málaga volta a se isolar na ponta. Mais: para se ter uma noção do quão difícil é derrotar o gigante espanhol, saibam que, de 2012 até esse domingo, os caras haviam ganhado 82 de 92 partidas pela temporada regular.  Aproveitamento de 89,1%. Só.

Augusto e Raul na rodinha animada

Augusto e Raul na rodinha animada

Ainda na Espanha, outro que está numa crescente é o armador Rafael Luz, titular na vitória do Obradoiro sobre o Fuenlabrada por 88 a 82, no sábado. O brasileiro marcou 9 pontos e deu 9 assistências em 29 minutos arredondados. Nos últimos quatro jogos, ele tem médias de 10,7 pontos, 5,2 assistências e 3,2 roubos de bola, números elevados para a a liga, ainda mais em 25 minutos.

– Ok, agora a NBA. A julgar pela desenvoltura com a qual se movimentou em quadra neste domingo, parece não haver incômodo algum na panturrilha de Tiago Splitter. O pivô fez uma grande partida contra o Atlanta Hawks, em surra dada pelo Spurs (114 a 95). O catarinense jogou por 27  minutos e terminou com 23 pontos e 8 rebotes, convertendo impressionantes10/14 chutes.

Não é segredo que o Spurs rende seu melhor basquete, há duas temporadas, com Splitter entre os titulares — ainda que um Boris Diaw com bom ritmo seja muito valioso contra times mais ágeis. Tim Duncan, mesmo, já disse ao VinteUm que prefere a formação de duas torres. Os números vão comprovando a tese novamente: desde que o ilustre cidadão de Blumenau recuperou o posto, o quinteto inicial do time texano vem esmagando a oposição.

Taí a dupla

Taí a dupla

Antes, porém, que vocês queiram descer o cacete no Coach Pop, favor considerar os seguintes fatores: 1) Splitter teve sua pré-temporada prejudicada pelas lesões; 2) Pop não ia desgastá-lo, ciente de sua importância; 3) Diaw ainda é um que está atrás da curva, e a equipe vai precisar dele mais para a frente; 4) Aron Baynes meio que jogou bem, mas não conte para ninguém; 5) mais importante de todos: demorou para o quinteto inteiro ficar em forma, na mesma época.

O Spurs, assim como Splitter torcia, está chegando. Se o jogo no Madison Square Garden foi uma desgraça, praguejado com veemência por Popovich, a verdade é que ultimamente os campeões têm dado muito mais sinais de grandeza. Mike Budenholzer viu de perto, num primeiro quarto arrasador: eles voltaram. O que é salutar. Quando o Spurs está em seu melhor nível, difícil encontrar jogo mais bonito e atordoante. A bola cruza a quadra com máxima velocidade, de mão em mão, para frente e para trás, até a defesa rival se despedaçar. E o legal foi ver Splitter totalmente envolvido nessa. Dos raros pivôs com quem a bola não morre. No defesa, as rotações são uma belezura. Green e Kawhi agridem no perímetro, os pivôs cobrem, e a intensidade é plena.

Está tudo enrolado na tabela, mas, mantendo esse ritmo, San Antonio vai ter mando de quadra na primeira rodada, independentemente de ficar com a quarta posição. Tivessem batido os Bockers, já registraram melhor aproveitamento hoje que Blazers e Clippers.

Bruno Caboclo volta a entrar em quadra. Por dois minutos

Bruno Caboclo volta a entrar em quadra. Por dois minutos

– O Toronto Raptors não está jogando tão bem assim, mas tem sua classificação para os mata-matas assegurada, vai. Ao time canadense, o que resta é tentar recuperar o basquete dos dois primeiros meses da temporada. Essa conjuntura não favorece os dois brasileiros do elenco – se o mando de quadra também estivesse garantido, as perspectivas de tempo de quadra aumentariam. De qualquer forma, neste domingo, depois de um looongo inverno e de problemas fora de quadra, pela primeira vez desde 4 de fevereiro, o técnico Dwane Casey colocou o ala em quadra. Foram apenas dois minutinhos contra o Knicks, uma baba.  Isso só foi possível pelo fato de Kyle Lowry estar afastado por lesão, abrindo uma vaga para Caboclo trocar o terno pelo uniforme.

Lucas Bebê não estava presente para ver. O carioca está cedido ao Fort Wayne Mad Ants, da D-League. Ao contrário do que aconteceu com o caçulinha brasileiro por lá, Lucas chegou para jogar – foram três partidas até agora, com médias de 11,0 pontos, 13,0 rebotes e 2,6 rebotes, em imporantes 25,7 minutos – para comparar, Bruno teve apenas 8,9 minutos em sete compromissos. Quer dizer: o pivô produziu bem. Mas não dá para se levar perdidamente pelos números da Liga de Desenvolvimento da NBA. Os jogos são acelerados, a bagunça costuma imperar. Tem de pegar os VTs no YouTube para avaliar com cuidado o que o pivô anda fazendo. O Mad Ants não é a franquia mais aberta da D-League aos jogadores de cima, mas segue como a melhor oportunidade para a dupla ser aproveitada.

Leandrinho, ao ataque. Briga por minutos relevantes

Leandrinho, ao ataque. Briga por minutos relevantes

– Leandrinho foi outro que ganhou espaço devido a uma lesão de um dos titulares. Klay Thompson está fora de ação pelo Warriors, e o ligeirinho tem sido mais acionado por Steve Kerr, dividindo os minutos do jovem astro com Andre Iguodala e Justin Holiday. O ala-armador recebeu 80 minutos em três jogos (26,6) e marcou 44 pontos (14,6). É um momento importante para mostrar serviço: uma hora Kerr vai ter de definir sua rotação para os playoffs, e ainda não está clara a ordem de chamada no banco. Andre Iguodala, Shaun Livingston e Marreese Speights vão para a quadra. É de se imaginar que David Lee também. Restaria uma vaga, pela qual duelam as habilidades ofensivas do brasileiro e as defensivas de Holiday, irmão do Jrue.

– Depois de um mês de fevereiro tenebroso, o Washington Wizards tenta se recuperar, mas vem de duas derrotas (Clippers e Kings, no domingo). Nenê volta a viver sua rotina de entra-e-sai do plantel de relacionados de Randy Wittman, devido aos constantes problemas físicos. O técnico precisa do pivô na briga por mando de quadra, mas a produção do paulista sofreu uma boa queda neste mês, tendo acertado apenas 42,9% de seus arremessos de quadra (na temporada, a média é de 51,5%; na carreira, 54,5%). É uma situação para se monitorar, ainda mais se a seleção brasileira tiver de jogar por uma vaga olímpica neste ano.


Tal pai, tal filho? Segunda geração invade as quadras da NBA
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Não é um fenômeno recente. Digo, um fenômeno de agora. Mas é algo que vem ficando mais e mais recorrente. A cada temporada da NBA, temos a chance de revisitar alguns sobrenomes bastante familiares – ao menos para a minha geração, a dos trintões desse Brasil profundo. Acho que começou com o Patrick Ewing Jr., ou algo assim. Mas aí veio muito mais: Hardaway, Robinson, Rice… Até chegarmos a um STOCKTON no mês passado. É uma segunda geração cara-de-pau, que não viu problema algum em seguir os passos de seus pais famosos. “Encaramos isso como se você o nosso tempo agora”, afirma Tim Hardaway Jr., o ala do Knicks. “Eles já tiveram o deles.”

Vamos recuperar alguns desses nomes, então? Escrevo “alguns” pois me parece meio que impossível dar conta de todos os caras espalhados por aí. Se você se lembrar de mais um, favor entrar em contato com a secretaria, que anda ocupada, mas é atenciosa. Serviço de utilidade pública, gente. Por favor.

Para não virar uma bagunça, vamos dividi-los por categorias – incluindo alguns universitários que podem aumentar a legião nos próximos anos. Aqui, vamos agrupar os atletas cujos pais jogaram na liga pelo menos em alguma temporada dos anos 90, tá? Porque, acho, deixa a coisa mais legal, devido à maior chance de familiaridade com eles. Desta forma, que nos desculpem Kobe/Joe “Jellybean” Bryant, Kevin/Stan Love (o parente mais famoso do ala-pivô, na real, é o tio Mike Love, vocalista dos Beach Boys) e Joakim/Yannick Noah (do tênis, dãr):

>> Difícil de superar
A molecada vai ter de suar e melhorar muito para poder fazer cócegas no currículo paterno.

David/John Stockton

David e John fizeram nome por Gonzaga. Na NBA? Outra história

David e John fizeram nome por Gonzaga. Na NBA? Outra história

Se você é o filho do Pelé e quer jogar futebol de qualquer jeito, o cenário menos exigente talvez fosse virar goleiro, mesmo, como no caso de Edinho. Agora, se o seu pai se chama Stockton, você vai topar ser armador, mesmo? David, convenhamos, é um garoto determinado, para dizer o mínimo. Ainda assim, se formos pegar suas médias na universidade de Gonzaga, a mesma de John, temos modestos 4,8 pontos e 3,1 assistências em 20 minutos. No último ano, antes de se formar, somou 7,4 pontos e 4,2 assistências: nada de outro mundo. Então não há como negar também que o sobrenome deu uma boa ajuda na hora de o rapaz assinar um contrato de training camp com o Washington Wizards no ano passado. Dispensado, entrou na D-League, pela qual foi selecionado pelo Reno Bighorns, a franquia conveniada com o Sacramento Kings. Foi pelo time da capital californiana, com um contrato de 10 dias, se aproveitando da lesão de Darren Collison, que ele fez sua estreia, no dia 21 de fevereiro, ao receber sete minutinhos contra o Los Angeles Clippers. A primeira assistência – e, por ora, a única – de sua carreira foi para o israelense Omri Casspi, num tiro de três pontos no Staples Center. Agora, está de volta a Reno. Uma curiosidade? David, na verdade, não foi o primeiro descendente direto de Stockton a se associar a um clube da NBA. Seu filho mais velho, Michael, profissional na Alemanha, já havia defendido o Utah Jazz numa liga de verão em 2012.

O que o pai fez? Só é o líder no ranking histórico de assistências e roubos de bola da NBA, membro do Dream Team original, duas vezes campeão da Conferência Oeste e jogou a vida toda com shorts bem pequenos, mesmo num mundo pós-Iverson.
Quando o pai se aposentou? Em 2003, tendo vestido uma só camisa, a do Utah Jazz.
Por onde anda? Com muito custo, o Utah consegue tirá-lo de casa para alguma cerimônia. Só atende a ligações de Karl Malone e Jerry Sloan.

Tim Hardaway Jr./Sr.

Quando jogavaa, Hardaway Sr. peitou o Knicks. Agora vê o filho por lá

Quando jogavaa, Hardaway Sr. peitou o Knicks. Agora vê o filho por lá

Ala do Knicks, mas vai saber até quando. Eleito para a seleção da Big Ten quando defendeu a Universidade de Michigan, pela qual foi vice-campeão da NCAA em 2013. Foi selecionado na 24ª posição do Draft daquele ano. Em duas temporadas pelo Knicks, alternou bons e maus momentos. No geral, não tem o rendimento dos mais eficientes como cestinha, convertendo apenas 41,2% dos arremessos na carreira e 34,9% de três pontos, com menos de 2 lances livres por jogo. No geral, sua média é de 10,7 pontos por jogo, ou de 16,4 pontos por 36 minutos. Aos 22 anos, poderia ser visto como uma peça de futuro do clube nova-iorquino, mas a verdade é que já foi incluído como moeda de troca em diversas propostas de Phil Jackson, a última delas buscando Goran Dragic.

O que o pai fez? No auge, tinha um dos crossovers mais mortais da NBA, sendo integrante do aclamado trio Run TMC do Golden State Warriors. Em 1993, porém, sofreu uma grave lesão no joelho que lhe roubou a explosão e obrigou a se reinventar como um arremessador em Miami ao lado de Alonzo Mourning. Foi eleito cinco vezes para o All-Star Game e teve médias de 17,7 pontos e 8,2 assistências.
Quando o pai se aposentou? Em 2003, aos 36, como reserva do Indiana Pacers, e paciência.
Por onde anda? É assistente de Stan van Gundy em Detroit.

Glenn Robinson III/II

Glenn Robinson para tudo que é lado

Glenn Robinson para tudo que é lado

Uma dinastia de Glenn Alan Robinsons, vejam só! O terceiro da linhagem foi draftado Minnesota Timberwolves no ano passado, na 40ª posição. Acompanhou Hardaway Jr. (além de Trey Burke e Mitch McGary) em Michigan, mas esticou sua permanência por lá com a expectativa de que um ano a mais na NCAA serveria para aprimorar sua técnica. Não aconteceu: o ala ainda é tido como um superatleta, mas bastante limitado com a bola em mãos. Sob o comando de Flip Saunders, jogou 108 minutos em 25 partidas em sua primeira temporada, até ser dispensado para a contratação do pivô Justin Hamilton. Foi recolhido pelo Philadelphia 76ers. Tem 21 anos.

O que o pai fez? Foi o primeiro num Draft que tinha Jason Kidd e Grant Hill. Anotou mais de 20 pontos em média por oito temporadas – a média da carreira foi de 20,7. Duas vezes All-Star. Na sua saideira da liga, ainda descolou um título pelo Spurs. Ah, mas claro: ganhou e adotou o apelido de Cachorrão. Aí, sim.
Quando o pai se aposentou? Em 2005, jogando 8,7 minutos em média pelo Spurs nos playoffs.
Por onde anda? Está curtindo por aí. Ganhou mais de US$ 80 milhões em salário.

Glen Rice Jr./Sr.

Rice Jr. primeiro tem de voltar para a NBA

Rice Jr. primeiro tem de voltar para a NBA

Aqui, roubamos um pouco, já que o ala foi dispensado pelo Washington Wizards, perdendo a concorrência por minutos na rotação de Randy Wittman para o veterano Rasual Butler. A princípio, isso poderia parecer humilhante, mas Butler jogou bem o suficiente este campeonato para entendermos a decisão. Rice Jr. agora está de volta ao Rio Grande Valley Vipers, da D-League, aos 24 anos, em busca de uma nova chamada. Sua primeira passagem pela liga de desenvolvimento aconteceu em 2013, quando foi dispensado pela Universidade de Georgia Tech, de tanto que aprontava fora de quadra. Na capital americana, pelo que tudo indica, se comportou bem, mas não teve muitas chances para se provar. Em duas temporadas, ganhou apenas 152 minutos de Wittman, pouco mais de três partidas inteiras.

O que o pai fez? All-Star em três temporadas pelo Charlotte Hornets. Naqueles tempos, tinha um respeito considerável na liga, a ponto de ser incluído como peça principal num pacote de Pat Riley por Alonzo Mourning. Acertou 40% de seus arremessos de três e marcou mais de 18 mil pontos, com média de 18,3. Em 2000, ganhou um título pelo Lakers, sendo titular no timaço de Shaq e Kobe. MVP do All-Star Game de 1997.
Quando se aposentou? Em 2004, como reserva do Clippers.
Por onde anda? Rice reapareceu nos noticiários – políticos! – quando revelou que passou uma noite amorosa com a ex-governadora do Alasca, Sarah Palin, quando universitários. Hoje, é dono da GForce Promotions, que aspira a ser uma liga de desenvolvimento do MMA nos EUA. Sério.

Austin/Doc Rivers

Técnico e jogador, pai e filho

Técnico e jogador, pai e filho

Austin já foi considerado o melhor prospecto de sua geração quando estava no High School. Passou um ano por Duke, trabalhando com o Coach K. Durante sua única temporada como universitário, porém, viu seu status e encanto diminuir com os scouts. Já em seu terceiro ano como profissional, talvez restem poucos que acreditem que ele possa virar ao menos um jogador decente para a NBA. A vida é dura: o rapaz tem apenas 22 anos. Sua passagem pelo Clippers, clube no qual se tornou o primeiro filho a jogar por seu pai treinador na liga, também não anima tanto.

O que o pai fez? Foi um ótimo armador, eleito All-Star em 1988, quando era um dos escudeiros de Dominique Wilkins pelo Atlanta Hawks, no auge. Ao todo, jogou os playoffs por 10 temporadas, sendo vice-campeão do Leste pelo Knicks em 1993 e vice-campeão do Oeste pelo Spurs em 1995.
Quando se aposentou? Em 1996, pelo Spurs, que tinha Bob Hill como técnico e um então anônimo Gregg Popovich como gerente geral.
Por onde anda? Sabemos bem.

Phil/Paul Pressey

Tamanhos diferentes, organizadores de jogo

Tamanhos diferentes, organizadores de jogo

Phil quem? Talvez só o torcedor do Boston Celtics mais fanático possa dissertar a respeito do armador que fez sucesso pela Universidade de Missouri entre 2010 e 2013, ganhando vários prêmios por lá. Se a fama por lá não foi o suficiente para lhe render uma posição no Draft, ao menos o ajudou para fechar contrato com o Boston Celtics. Danny Ainge o adora e confia que, aos 24 anos e em sua segunda temporada, ainda pode se desenvolver e se tornar uma boa opção de armador reserva. Tem velocidade e visão de quadra, mas o arremesso é falho – tem aproveitamento de apenas 32,8% em 115 partidas, com média de aproximadamente 14 minutos. Acontece que, baixinho por baixinho, acaba de chegar Isaiah Thomas, alguém muito mais qualificado, deixando o futuro de Pressey na Beantown bastante nebuloso.

O que o pai fez? Paul Pressey também teve uma carreira universitária de destaque, em Tulsa, a ponto de ser escolhido um All-American em 1982, quandol também seria selecionado pelo Milwaukee Bucks na 20ª posição do Draft. Jogou pelos Bucks por sete anos, com sucesso, participando de equipes que desafiavam gigantes como o Celtics e o Sixers nos playoffs, sob o comando de Don Nelson. O heterodoxo treinador, aliás, enxergou no ala de 1,96 m a habilidade necessária para torná-lo o condutor do time. Pressey se tornou, então, um dos primeiros “point forwards” da liga, ao estilo de Grant Hill e LeBron James – se é que não foi, de fato, o pioneiro da posição na NBA. Bastante atlético, também competiu em torneio de enterradas e foi eleito duas vezes para a seleção dos melhores defensores da liga.
Quando se aposentou? Em 1993, disputando 18 partidas pelo Golden State Warriors, novamente com Nelson, de quem já era assistente.
Por onde anda? Integra a comissão técnica de Byron Scott no Lakers.

>> Já viraram a referência
Quando os caras dos anos 80/90 passam a ser conhecidos como pais de fulano.

Stephen/Dell Curry

Três grandes arremessadores

Três grandes arremessadores

Aqui nem precisamos elaborar muito, né? Stephen deixou as lesões de tornozelo no passado e se fixou como uma das figuras mais populares da nova NBA. Para ele, não existe sequer um arremesso que pareça impossível de acertar. Além disso, tem um dos dribles mais vistosos e efetivos da liga e vem melhorando sensivelmente como defensor. Candidato a MVP da temporada. E chega.

O que o pai fez? Transferiu geneticamente sua habilidade de grande chutador para dois filhos – Stephen e Seth, hoje num contrato de 10 dias com o Phoenix Suns. Maior cestinha da franquia Hornets, Dell entrou na liga em 1986, escolhido em 15º pelo Utah Jazz, passou pelo Cleveland Cavaliers, mas fez seu nome, mesmo, em Charlotte, como um exímio arremessador de média para longa distância. Melhor sexto homem em 1994, era um verdadeiro especialista, tendo convertido mais de 40% de seus disparos de longa distância (foram 1.245 no total, número tímido para os padrões do filho pródigo, que já soma 1.121 na carreira, com aproveitamento de 43,6%).
Quando se aposentou? Aos 37, em 2002, ainda como uma peça importante no Toronto Raptors de Vince Carter.
Por onde anda? É comentarista de TV nas transmissões locais do Hornets.

Wesley/Wes Matthews

O pai foi bicampeão. Mas Wesley Jr. é mais relevante em seu tempo

O pai foi bicampeão. Mas Wesley Jr. é mais relevante em seu tempo

O ala do Blazers já falou muito a respeito da difícil relação que tem com o pai, de quem herdou o nome, mas com o qual não teve convívio algum durante toda sua infância e adolescência. Admite, inclusive, que esse distanciamento – ele e sua mãe foram, basicamente, abandonados pelo ex-jogador – o fez tornar a pessoa e o atleta que é hoje, um cara que deu um duro danado para se profissionalizar e, acima de tudo, virar um dos melhores em sua posição, com mais de US$ 30 milhões já ganhos em seis anos de carreira. Uma pena, porém, que, na melhor temporada recente do clube de Portland, o ala, excelente defensor e arremessador, tenha sofrido uma ruptura no tendão de Aquiles que encerrou sua campanha. Vai virar agente livre ao final do campeonato, numa das situações mais curiosas do mercado.

O que o pai fez? Foi selecionado pelo Washington Bullets na 14ª posição do Draft de 1980, mas não teve uma carreira produtiva, muito menos estável. O cara se tornou um andarilho, na verdade, passando por San Antonio, Chicago, Philadelphia, Atlanta e Los Angeles. Por sorte, quando estava na Califórnia, caiu nas graças de Magic Johnson e fez parte do elenco bicampeão em 1987-88. O Hawks, em uma segunda passagem em 1990, foi seu último time de NBA. Depois, jogou na Itália, nas Filipinas, em ligas menores americanas e afins. Até que…
Quando se aposentou? Em 1998, como jogador do… COC-Ribeirão Preto! Ele foi dispensado do clube paulista depois de trocar socos com o dominicano José Vargas, que teve passagem marcante por Franca, e de o time ter perdido a final do Paulista.
Por onde anda? Mora em Chicago. De vez em quando, comparece a jogos do filho, dá conselhos e tenta desenvolver a relação.

Al/Tito Horford

Os Horfords: bandeira dominicana na NBA

Os Horfords: bandeira dominicana na NBA

Também não precisa gastar muito tempo para falar sobre Al Horford, a principal peça da melhor equipe da Conferência Leste no momento. Multitalentoso, dedicado, excelente figura de vestiário, bicampeão universitário por Florida, mais de US$ 67 milhões em salário etc. etc. etc.

O que o pai fez? Foi o primeiro jogador dominicano a atuar na NBA. Tinha 2,16 m, gigante que só, e se formou pela Universidade de Miami. Pelo que consegui levantar de seu início de carreira, dá para dizer que não era dos atletas mais empenhados nos treinos. Ainda assim, pelo tamanho e pela habilidade, foi recrutado pelo Milwaukee Bucks na segunda rodada do Draft de 1988, em 39º. Ficou em Milwaukee por dois anos apenas, jogando com Paul Pressey. Em 1993, assinou um contrato de 10 dias com o Bullets. Na Europa, jogou na Itália e na França. Em suas andanças, também jogou no Brasil, no final da década de 90, defendendo Sírio e Suzano. Teve uma filha por aqui, Maíra Fernanda, hoje atleta do São José, da LBF.
Quando se aposentou? Em 2004, pelo San Carlos, da fraca liga dominicana.
Por onde anda? Vive nos Estados Unidos e acompanha mais um filho tentando a sorte no basquete: Jon Horford, ala que se transferiu da Universidade de Michigan para a da Florida e andou aprontando por lá.

Andrew/Mitchell Wiggins

Andrew, uma das maiores promessas da NBA. Pai tem história para contar

Andrew, uma das maiores promessas da NBA. Pai tem história para contar

Sim, ainda está muito cedo para julgar a carreira de Andrew, 20 anos e apenas 66 jogos disputados pelo Timberwolves, como um sucesso. Mas o fato é que, em termos de divulgação/hype/popularidade, o menino já superou o pai. Além do mais, sua primeira temporada na liga dá todos os indícios de que a badalação que recebeu desde os tempos de colegial em Toronto era justificada.

O que o pai fez? Mitchell foi selecionado pelo Indiana Pacers em 23º no Draft de 1983, mas jogou sua primeira temporada pelo Chicago Bulls. Um ala-armador talentoso, foi vice-campeão da NBA pelo Houston Rockets em 1986, derrotado ao lado de Hakeem Olajuwon e Ralph Sampson por um histórico Boston Celtics. Naquele mesmo ano, porém, seria flagrado num exame antidoping, por uso de cocaína. Foi suspenso por dois anos, e só voltou a jogar na liga em 1989, ainda pelo Rockets. Fez sua melhor temporada, com média de 15,5 pontos por jogo, aos 30, até ser novamente suspenso e dispensado. Ainda defendeu o Philadelphia 76ers em 1991-92, com 11 minutos em média em 49 partidas. De todo modo, conseguiu prolongar sua vida de atleta na Europa, ficando um bom tempo na Grécia. Foi mais um a passar pelas Filipinas e ainda defendeu o Limoges, time tradicional francês. Vice-campeão mundial em 1982 pela seleção norte-americana.
Quando se aposentou? Em 2003, jogando em ligas menores dos Estados Unidos.
Por onde anda? Mora no Canadá, casado com a medalhista olímpica Marita Payne-Wiggins.

>> Júri em aberto
Os mais jovens têm boas chances para assumirem o protagonismo em família.

Klay/Mychal Thompson

Mychal vê o filho o progredir a passos largos na NBA. Vai ficar para trás?

Mychal vê o filho o progredir a passos largos na NBA. Vai ficar para trás?

Talvez Klay já tenha invertido a dinâmica, com um status de astro emergente. Mas o fato é que seu pai teve uma carreira muito mais duradoura e expressiva que a de Mitchell Wiggins. Então o ala do Warriors, aquele dos 37 pontos em um só período, ainda fica nessa categoria. Por enquanto.

O que o pai fez? Nativo das Bahamas, Mychal foi o calouro número do Draft de 1978, como um ala-pivô muito forte, de envergadura considerável, saindo da Universidade de Minnesota. Dá para dizer que, nos primeiros anos de carreira, era muito mais badalado que o filho. Seguindo a trágica tradição de pivôs do Portland Trail Blazers, perdeu a segunda temporada pela franquia devido a uma fratura na perna. De qualquer maneira, quando retornou, fez sua melhor temporada em termos estatísticos, com médias de 20,8 pontos, 11,7 rebotes, 4,0 assistências e 1,4 toco, em 1981-82. O Blazers, no entanto, não conseguiu ir tão longe nos playoffs sob sua liderança, nem mesmo quando o grandalhão fez parceria com o jovem Clyde Drexler. Em 1986, foi trocado para o San Antonio Spurs. Um ano depois, seria repassado ao Los Angeles Lakers, numa típica transação que irritaria a NBA até hoje: daquelas em que o clube californiano claramente levava a melhor. Em Los Angeles, chegou para ser bicampeão logo nas duas primeiras campanhas, como um reserva de luxo para Kareem-Abdul Jabbar.
Quando se aposentou? Em 1991, após derrota do Lakers para o Bulls na final.
Por onde anda? Comentarista. Talvez seja a fonte mais consultada pelos jornalistas envolvidos na cobertura do Warriors – especialmente durante os meio que turbulentos dias em que seu filho era especulado como possível moeda de troca por Kevin Love. Mychal fala mais até que Dell Curry.

Ed/Terry Davis

Ed tem mais potencial. Mas vive momento incerto na carreira

Ed tem mais potencial. Mas vive momento incerto na carreira

Um dos maiores enigmas da temporada perdida do Los Angeles Lakers gira em torno dos minutos de Ed. Por que diabos Byron Scott não daria mais tempo de quadra para o pivô de 25 anos? Ainda mais depois da lesão do calouro Julius Randle. Para que gastar oportunidades com Carlos Boozer? E o Robert Sacre (um bom defensor no garrafão, admitamos, mas que não passará de um quinto homem de rotação num time minimamente competente)? Mesmo que não seja mais tão jovem assim, Davis claramente tem potencial a ser explorado. Ficou apenas 23,9 minutos em quadra neste campeonato e foi titular em 24 jogos, com médias de 8,3 pontos, 7,5 rebotes e 1,3 toco. Em uma projeção por 36 minutos, teria 12,5, 11,3 e 2,0, respectivamente. É a temporada mais eficiente de sua carreira, tendo já defendido o Toronto Raptors e o Memphis Grizzlies.

O que o pai fez? Terry não foi draftado ao sair da Universidade de Virginia Union, bem menos expressiva que a UNC – mas a mesma que revelou gente casca grossa como Charles Oakley e Ben Wallace. Com abordagem semelhante em quadra, conseguiu jogar na liga por 10 temporadas, vivendo seus melhores anos pelo Dallas Mavericks de 1991 a 93, beirando um double-double de média. Importante dizer, todavia, que o Mavs era um saco de pancadas nessa época. Desde então, foi basicamente relegado ao banco e nunca foi aos playoffs, seja pelo Washington Bullets ou pelo Denver Nuggets. Ed é um jogador superior, mas, em termos de longevidade, ainda não está garantido – sem encontrar um nicho de mercado, fechou um contrato baixo e de curta duração com o Lakers nesta temporada. Seu agente, Rob Pelinka, é o mesmo de Kobe Bryant.
Quando se aposentou? Em 2001, pelo Nuggets, aos 33.
Por onde anda?  Hm… Não tenho ideia.

Jerami/Harvey Grant

Jerami é mais alto e mais atlético que o pai

Jerami é mais alto e mais atlético que o pai

Jerami foi companheiro de Fabrício Melo em Syracuse e exultava potencial. Na defesa por zona comandada por Jim Boeheim, foi um terror para seus adversários, devido a sua envergadura e agilidade. Na hora de entrar no Draft, viu sua cotação despencar, porém. Supostamente por não ter uma “posição” definida, flutuando entre 3 e 4. O Philadelphia 76ers agradeceu, podendo acolhê-lo na 39ª colocação, oferecendo um contrato de quatro anos, baratíssimo. O ala perdeu as primeiras semanas devido a uma lesão no tornozelo, mas conseguiu seu espaço aos poucos. Aos 20 anos, seu talento é indiscutível, a ponto de o clube não se incomodar em ceder KJ McDaniels ao Houston Rockets. Pode ser dos raros casos que flerte com 2 tocos e roubos de bola por partida.

O que o pai fez? Harvey esteve sempre um degrau abaixo do irmão gêmeo, Horace. Aliás, estamos falando de um verdadeiro clã do basquete. Horace, vocês conhecem dos títulos com o Bulls e da parceria com Shaq em Orlando e Los Angeles, com direito a visita a Franca neste mês. E ainda vem por aí o Jerian Grant, irmão de Jerami que vem fazendo uma grande temporada pela Universidade de Notre Dame e muito provavelmente vai ser escolhido entre os 30 primeiros  do próximo recrutamento. Enfim, voltando a Harvey: ele entrou na liga um ano depois do irmão, em 1988, via Washington Bullets. Ficou na capital americana até 1993, tendo média superior a 18,0 pontos por jogo nos últimos três campeonatos por lá, com bom tiro de média distância e boa presença na tábua ofensiva. Foi mandado para Portland em troca de Kevin Duckworth. Depois, voltou a Washington em 1996, ao lado de Rod Strickland, em negociação envolvendo Rasheed Wallace.
Quando se aposentou? Em 1999, pelo Sixers. Ele chegou a ser trocado ainda com o Orlando Magic, mas nunca disputou um jogo pelo clube da Flórida.

>> Na fila

Dois Paytons em Oregon State

Dois Paytons em Oregon State

Prepare-se, aliás, que pode ter mais: na Universidade de Oregon State, há um armador em seu terceiro ano de estudos que, aos poucos, vem ganhando fama entre os scouts. Ele se chama Gary Payton II., que conseguiu no final de 2014 o primeiro triple-double (10 pontos, 10 assistências e 12 rebotes, fora as seis roubadas) de sua equipe desde… o seu pai, 27 anos atrás. Já podem chamá-lo de Luvinha, por favor. Pouco badalado no início do ano, o rapaz já começa a ser especulado como um possível candidato ao Draft deste ano. Seu pai faz de tudo para a NBA voltar a Seattle – e, enquanto não volta, também não pára de mandar mensagens para os ex-companheiros, em busca de um empreguinho na liga.

Na Universidade de Detroit, temos o ala Juwan Howard Jr., que, segundo consta, não desfruta de muito prestígio com os olheiros, não. Com 1,95 m, pelo menos dez centímetros mais baixo que o pai, joga mais no perímetro e tem média de 17,8 pontos nesta temporada, sua terceira, com aproveitamento de 42,3% nos arremessos de três pontos. O paizão se aposentou há pouco e hoje é assistente do Miami Heat.

Jogando por uma universidade bem mais tradicional, a de Winsconsin, o armador Traevon Jackson é filho do ala Jim Jackson, aquele nômade que defendeu 12 clubes entre 1992 e 2006 e já disputou o coração de Toni Braxton com Jason Kidd quando eram jovens apostas do Mavs. O Jackson filho está afastado das quadras no momento, se recuperando de uma fratura no pé direito – pode ser que nem jogue os mata-matas da NCAA, aliás. O sênior é comentarista de basquete universitário, da conferência Big Ten, ao lado de Kendall Gill e de seu xará Jimmy King, ex-Bad Boy.

A Universidade de Wyoming conta com os serviços de Larry Nance Jr. para fazer uma boa campanha no torneio da NCAA, enfrentando Northern Iowa na primeira rodada, em Seattle. O ala de 2,03 m de altura tem médias de 16,1 pontos, 7,2 rebotes e 2,5 assistências em seu último ano como atleta-estudante. Sonhando com o Draft da NBA, Nance já orgulha a família pelo simples fato de estar competindo em alto nível com sua idade. Aos 22, ele tem de combater no dia-a-dia a Doença de Crohn, que pode resultar, entre tantos efeitos colaterais, a perda de peso, fadiga, ou mesmo artrite. Larry Nance, o pai, jogou por 13 anos na liga, passando os primeiros seis anos e meio em Phoenix, até ser trocado pelo armador Kevin Johnson, mudando-se para Cleveland. Na Conferência Leste, foi vítima constante de Michael Jordan nos playoffs, acompanhado de Mark Price e Brad Daugherty. Foi eleito para três All-Stars, ganhou o torneio de enterradas de 1985 e teve médias de 17,1 pontos, 8,0 rebotes e 2,2 tocos, sendo um ala-pivô extremamente atlético.

*   *   *

Para fechar, então, uma boa musiquinha, né?

O quê? “Pais e Filhos”? Ah, vamos ser um tico mais originais, né? Vamos voltar aos anos 70 com o antigo Cat Stevens, hoje Yusuf Islam:


Leandrinho faz a alegria do vestiário, diz técnico do Warriors
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Alvin Gentry é uma das figuras mais simpáticas que você vai encontrar no universo da NBA. Fala sério, sim, mas invariavelmente vai soltar um sorriso na entrevista, no contato com seus atletas e, ok, no contato com árbitros, mas de modo irônico. Talvez seja sua principal qualidade e aquela que o faz prosperar na liga, já com 25 anos de experiência no banco de equipes profissionais.

Foi com essa simpatia que o principal assistente técnico do Golden State Warriors parou por alguns minutinhos preciosos para falar com um anônimo repórter brasileiro, depois de ter falado em link ao vivo com o elegante Rick Fox, o ex-campeão do Lakers, hoje a serviço da NBA TV. No fim de semana das estrelas em Nova York, ele faz o papel de treinador do time dos americanos.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa
>> O VinteUm está no All-Star Game

Segundo fez questão de enfatizar ao VinteUm, o ala-armador Leandrinho poderia ser considerado uma versão sua mais jovem – 32 anos mais jovem, para ser mais preciso –, conquistando quem estiver por sua frente.

Esse é um fator muito valorizado no campeonato, tanto ou mais que os números. É o tipo de comportamento que garante ao hoje veterano brasileiro uma oferta atrás da outra no mercado de agentes livres, mesmo que de ano em ano. Desde que viu seu segundo e grande contrato expirar, o ala-armador tem assinado por vínculos de uma temporada. Com o Golden State, foi a mesma coisa, e com um agravante: seu contrato não era garantido.

Golden State Warriors v Utah Jazz

Mas Leandrinho ficou, mesmo que, em determinado momento, tivesse visto o ala Justin Holiday (irmão do Jrue) lhe tomar praticamente todo o tempo de quadra disponível para a reserva, ao lado de Andre Iguodala e Shaun Livingston. Em janeiro, o brasileiro teve média de apenas 8,6 minutos e 4,7 pontos.

Só não deixou a peteca despencar nessa fase de maré baixa. Quando foi chamado de volta por Steve Kerr, estava pronto para render. Em seis jogos em março, suas médias já são: 10,5 pontos e 16,5 minutos, com 45% de aproveitamento nos tiros de três pontos. Em seis dos últimos oito jogos, teve duplos dígitos na pontuação. Quer dizer: não é só de tapinha no ombro e piadas que um jogador sobrevive. Vejamos:

21: Sendo de um site brasileiro, você já pode supor que a primeira pergunta é sobre o Leandro Barbosa, né? Houve umas semanas em que ele perdeu seu espaço no time, vendo o Justin Holiday jogar bem mais. Agora, porém, está fazendo parte da rotação novamente e contribuindo. Qual a importância dele nos seus planos?
Eu gosto de chamá-lo de LB. E o que vejo e digo sempre sobre o LB é que ele é um cara tão bom de grupo e muito profissional. Então teve essa sequência, mesmo, em que ele ficou fora da rotação, mas ia todo o dia para o treino e dava um duro danado para retornar. E nos últimos jogos, sério, ele jogou muito, muito bem e nos salvou em algumas ocasiões, pelo modo como saiu do banco, pontuando.

threequestions_barbosa

Você tem uma relação de longa data com ele, desde os tempos como assistente do Mike D’Antoni. Vendo esse Leandro de hoje e o Leandrinho de antes, que paralelos podemos fazer?
Ele está muito mais tranquilo em quadra, claro. Entende muito mais o jogo, fazendo coisas bastante inteligentes durante uma partida de basquete. Ao mesmo tempo, não perdeu quase nada de sua rapidez, o que é incrível. Para um cara que está há anos na liga, há 12 anos, e passou por uma cirurgia no joelho, e ainda é um dos caras mais rápidos que você vai encontrar na liga. Reforço que ele realmente é um companheiro muito querido por todos.

Já li sobre isso. Sobre como ele é festejado no vestiário quando encontra antigos companheiros? Qual tipo de coisa ele faz para ser tão popular assim?
Acho que se fôssemos fazer uma eleição no nosso time sobre quem seria o atleta mais popular, ele ganharia. É um cara divertido e que está sempre dando atenção a todos. Ele proporciona muita energia para o nosso time, energia no dia a dia para o vestiário, o que é sempre muito bom e importante.

Sobre a equipe como um todo, foi um sucesso nessa primeira metade do campeonato. Você já esteve envolvido com grupos nos mais diversos estágios. Qual a avaliação que tem sobre este grupo?
Para nós, o que interessa é estar jogando um basquete excelente quando chegarmos a abril e maio. Temos o potencial de fazer isso. Mas não dá para esquecer da conferência na qual estamos jogando, a Oeste, que tem um monte de times excelentes.

Correndo o risco de ver um Oklahoma City Thunder pela frente…
Pois é, não quero que eles se classifiquem como oitavo, ok? (Risos)

Talvez sétimo, então? (Risos)
Agora que eles estão saudáveis, vão alcançar um nível muito alto de jogo e terão a chance de subir… Mas a verdade é que são todos times muito bons e vamos encarar um deles, independentemente de quem seja. Vai ser complicado, de qualquer forma.

Golden State Warriors v Utah Jazz

Bom, para fechar: você já havia trabalhado com o Steve Kerr em Phoenix também, com ele no escritório de gerente geral. Estamos falando de um cara que já venceu seus campeonatos como jogador, foi um comentarista popular e agora tem um dos melhores times da liga sob seu comando. Qual o segredo desse cara?
É… Acho que o primeiro fator é que ele é um comunicador excelente e tem um relacionamento excelente com todos, incluindo aí os jogadores. Além disso, obviamente se dedica bastante ao que faz. Ele sempre quis ser um treinador, tinha esse plano de virar um treinador um dia e se preparou para isso. Talvez até por cinco ou seis anos tenha se preparado. Você pega isso e adiciona seu conhecimento de causa, seu conhecimento sobre o jogo, e não vejo como ele não se tornasse um treinador muito bom, assim como fez nos outros cargos que ocupou.


Prêmios! Prêmios! Os melhores do Oeste antes do All-Star
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Estamos na fase de premiação, né? Logo mais o Boyhood deve, precisa, merece ganhar os prêmios mais importantes na cerimônia do Oscar. Bem longe do glamour de Hollywood, aqui na base do conglomerado 21, sediado na Vila Bugrão paulistana, é hora de olhar para o que aconteceu em mais de metade da temporada da NBA e distribuir elogios. Claro que elogios totalmente irrelevantes para os astros da NBA, mas tudo bem.

Fizemos o paupérrimo Leste nesta terça. Agora é a vez das enchentes do Oeste, no qual o Golden State Warriors aparece com chances de fazer a rapa:

Uma foto já com ar de clássica para um jogador que ainda vai dar muito o que falar

Uma foto já com ar de clássica para um jogador que ainda vai dar muito o que falar

MVP do Oeste Selvagem: Anthony Davis
Enquanto ainda vivemos o suspense em torno do New Orleans Pelicans – se eles vão conseguir, ou não, uma vaga nos playoffs –, não consigo apontar em outra direção que não para a espetacular monocelha de Anthony Davis. Existem aqueles que só toleram a ideia de eleger um Jogador Mais Valioso que defenda um clubes vitorioso, não? Pois nem mesmo estes podem virar a cara para o garoto de apenas 21 anos (sim, podem se assustar!), que barbarizou na temporada até aqui. Afinal, o Pelicans ainda está na briga por uma vaga nos mata-matas. Só não está garantido por jogar nessa conferência infernal. Isso já diz muito sobre seu talento.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa
>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Davis pode fazer quase tudo em quadra (proteger o aro, finalizar com maestria, chutar de média distância, atacar os rebotes, atropelar quem acha que pode bloqueá-lo etc.). E ele executa de modo impressionante, com plástica, inteligência e aproveitamento altíssimo – aliás, sustenta o maior índice de eficiência da história.  De qualquer forma, entendo: Stephen Curry e James Harden são opções absolutamente viáveis. Não precisa falar muito sobre eles, né? Curry lidera a melhor equipe da conferência, sendo um pesadelo no ataque (a partir do momento que cruza a linha central, as defesas precisam grudar nele) e também apresentando significativa melhora na marcação. Sem ele, o Warriors seria bem mais fraco. Porém, não dá para ignorar o baita elenco ao seu redor. Já o Sr. Barba está jogando o melhor basquete de sua vida, inclusive, acreditem, pressionando os adversários. Sem Dwight Howard, o Rockets tem campanha de 13-4. É um número impressionante que faz de Harden o vice nessa lista e que valeria, admito, como excelente argumento para destronar Davis. Howard vai ficar afastado por um mês, no mínimo. Dependendo dos acontecimentos, ao final do campeonato esse voto pode mudar.

steve-kerr-golden-state-coach-year

Escapou de Nova York

Melhor técnico: Steve Kerr
Terry Stotts, coitado, acaba ofuscado novamente, mesmo que ele tenha elevado o padrão de seu Portland. Dave Joerger conseguiu adicionar elementos interessantes para o ataque do Memphis Grizzlies, sem perder a intensidade defensiva, deixando a equipe muito mais equilibrada. O Doc Rivers executivo atrapalha a vida do Doc Rivers técnico, que faz ótimo trabalho mesmo sem ter um banco de reservas. São todos candidatos sólidos. Mas o impacto que Steve Kerr causou no Golden State Warriors supera tudo isso.

Sob sua direção, o time tem a defesa mais eficiente, o segundo melhor ataque. O que resulta no maior saldo de pontos (disparado, com 11,6 por partida, contra 6,9 do Atlanta e 5,3 do Memphis) e um aproveitamento sempre acima dos 80% no campeonato. Se compararmos o elenco do ano passado com o deste ano, as novidades são Leandrinho – que recuperou seu lugar na rotação e vem jogando muito bem, por sinal – e Shaun Livingston. Quer dizer: não foi no mercado de jogadores que o time se reforçou para dar esse salto. Mark Jackson fez um trabalho até que competente em elevar o senso competitivo do clube. Mas Kerr os colocou em outro patamar. Se fosse para se pautar exclusivamente pelos números, este é o grande favorito ao título.

Melhor defensor: Draymond Green
Green foi um baita achado para o Warriors no Draft e é uma das grandes forças por trás dessa maravilhosa campanha. Curry e Thompson ganham os holofotes com razão, mas este curinga, um verdadeiro pau-pra-toda-obra, é o cara que ajuda a dar a liga. No ataque, mesmo que converta apenas 33% de seus arremessos de três, ele conseguiu desenvolver a reputação de ser uma ameaça a ponto de abrir as defesas. Mas é do outro lado da quadra, mesmo, que ele causa para valer, marcando quem quer que Steve Kerr peça, incluindo os pivôs pesos pesados para as ocasiões em que Andrew Bogut estiver de molho. Com o australiano ao seu lado, fica mais solto para romper linhas de passe e brecar os oponentes no mano a mano, com a rara combinação de mais de um toco e um roubo de bola por partida.

O mais legal: Green faz isso tudo sem ser o jogador mais alto (listado oficialmente com 2,01 m), ou o mais ágil, ou quem mais salte. É tudo energia, força e, principalmente, visão de quadra. Sua ascensão cria um problema até: o passe já se valorizou bastante, e o Warriors pode ter dificuldades financeiras para segurá-lo. De modo que Andre Iguodala e David Lee se tornam descartáveis. Mas essas discussões ficam para depois: o time sonha com o título primeiro, e tem em Green um jogador vital para as batalhas dos playoffs. Outras alternativas: Marc Gasol (o de sempre em Memphis), Tim Duncan (idem em San Antonio), Tyson Chandler (ibidem em Dallas), Rudy Gobert (um freak) e Patrick Beverley (uma peste em Houston).

Green e Speights dão profundidade ao elenco do Warriors

Green e Speights dão profundidade ao elenco do Warriors

Melhor sexto homem: Marreese Speights
É, amigos, eu avisei: corria o risco de dar só Golden State. Entre todos os jogadores do Oeste que começaram um máximo de 15 partidas como titular, Isaiah Thomas e Jamal Crawford despontam como os cestinhas no Oeste, respectivamente com 15,7 e 15,4 pontos no momento em que fechei esse texto (sexta-feira). Não é nenhuma surpresa. Enquanto Spencer Haweks não encontra seu lugar em L.A., Crawford é o banco do Clippers. Já Thomas, com sua velocidade, ignora qualquer um que esteja em seu caminho para a cesta. Até mesmo os companheiros. Speights tem 12,3 pontos – mas com seis minutos e três arremessos a menos de quadra em média. O pivô também supera a dupla em índice de eficiência, ainda que Thomas o siga de perto que Rudy Gobert e Brandan Wright estejam acima na tabela.  Entre volume e eficiência, ele está no meio do caminho, ajudando a dar um descanso salutar a Andrew Bogut e mantendo o banco de reservas do Warriors com alto volume ofensivo, compensando também a baixa de David Lee por um bom tempo. Gobert, pelo modo como altera a retaguarda do Utah Jazz (mesmo com a ótima presença defensiva de Derrick Favors no time titular), e os dois arremessadores de Seattle são os principais concorrentes, além de um revigorado Beno Udrih em Memphis. Agora, um comentário que não acrescenta em nada: Speights pode fazer o que for em quadra, mas sua profissão, com esse nome, com aquela cara, deveria ser boxeador. E pronto.

Gobert, Wiggins (e Dieng entre eles): novíssima geração

Gobert, Wiggins (e Dieng entre eles): novíssima geração

Jogador que mais evoluiu: Rudy Gobert
Acho que, desde a Copa do Mundo, já deu para perceber o mais espigão dos franceses ganhou muitos pontos aqui no VinteUm, né? O pivô melhorou demais em Salt Lake City e forçou sua escalação pelo técnico Quin Snyder. Enes Kanter vai dançar nessa. Ainda em Utah, Gordon Hayward se tornou o líder e a referência ofensiva com que os torcedores e as meninas da cidade tanto sonhavam. Shabazz Muhammad reinventou seu corpo e virou uma máquina de fazer cesta dentro do garrafão com seus ganchinhos de canhota. Há um ano, muitos acreditavam que ele estaria na China a essa altura do campeonato.

Melhor novato: Andrew Wiggins
Não muito o que discutir aqui. O mais engraçado, mesmo, é que havia gente bem dividida antes de o canadense ir para a quadra: os que apostavam piamente em seus atributos atléticos, imaginando que seu amadurecimento técnico chegaria prontamente, enquanto, do outro lado, os avaliadores estatísticos questionavam bastante o potencial do ala, devido aos números que produziu em sua única temporada em Kansas. E como ele tem se saído até agora? Um pouco no meio do caminho, claro. Wiggins jogou dois primeiros meses de certo modo preocupantes, cometendo mais turnovers do que qualquer outra coisa e tendo dificuldade para acertar a cesta. Aí veio janeiro, e o ala alcançou a marca de 20 pontos em sete partidas, incluindo um recorde pessoal de 33 contra o Cleveland Cavaliers, o time que lhe virou as costas. Nesse mês, ele teve médias de 19,8 pontos, 4,6 rebotes, 2,5 assistências e 47,1% nos arremessos, contrariando qualquer previsão numérica. O suficiente para lhe colocar acima de Jusuf Nurkic, que vem sendo o calouro mais eficiente, mas não carrega responsabilidade similar em Denver. Porque é o seguinte: com adolescentes nunca é cedo demais para ser precavido. Se o que Wiggins produziu em Kansas ficou aquém ou acima, por exemplo, do que Tyreke Evans fez em Memphis, por exemplo, não quer dizer que seja um deles seja um fiasco. Cada um se desenvolve ao seu tempo.

Primeiro time
Chris Paul
Stephen Curry
James Harden
Anthony Davis
Marc Gasol

Segundo time
Damian Lillard
Russell Westbrook
Klay Thompson
Blake Griffin
LaMarcus Aldridge

Terceiro time
Mike Conley
Gordon Hayward
Kawhi Leonard
Tim Duncan
DeMarcus Cousins

Observações: Kevin Durant jogou muito pouco para entrar no primeiro time, embora ele seja do primeiro time de todo O Universo; a linha de frente no Oeste é ridícula a ponto de Zach Randolph ficar fora – posso ‘roubar’ um pouco ao escalar CP3 e Curry na mesma backcourt, mas mandar Z-Bo, Timmy e Boogie juntos na terceira equipe seria exagerar na dose, e a campanha do Spurs com Kawhi mostra o quanto o ala se tornou relevante por lá. DeAndre Jordan também fica fora, mas isso não quer dizer que não tenha seja um grande pivô, assim como Tyson Chandler. Monta Ellis é o motor do excepcional ataque do Dallas, mas prefiro optar por Hayward, que se transformou em tudo o que a torcida do Utah Jazz sonhava e acaba sendo o único atleta selecionado aqui cujo time perdeu (muito) mais do que ganhou.


Mitch Richmond e a vida de scout: no Brasil, para ver garotos do Pinheiros
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa
>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Mitch Richmond, Kings, Front Office, scout

Estava devidamente posicionado nas tribunas do ginásio do Pinheiros, batendo um papo com o armador Paulinho, recém-operado no joelho esquerdo, quando, de repente, surge neste setor uma figura imponente, grande, com mala e tudo. Chama a atenção de imediato, vestindo uma camiseta com o símbolo do Batman. Depois de observá-lo com mais cuidado, era a hora de botar a memória para funcionar: acessar o drive interno e tentar lembrar quem era.

(Toc-toc-toc.)

O Mitch Richmond, pô!

Pela foto acima, vejamos, dá para entender que tenha demorado um pouco para clicar a cuca, né? O ex-astro do Sacramento Kings ganhou alguns quilinhos de experiência. E tudo bem: hoje ele não precisa mais carregar o ataque do seu time – marcou mais de 21,9 pontos por jogo nas primeiras dez temporadas de uma carreira coroada com a nomeação para o Hall da Fama do Basquete nos EUA em agosto passado.

Aos 49, dono – ou ex-dono – de mansão cotada em US$ 9,4 milhões no Sul da Califórnia, com mais de US$ 50 milhões recebidos na carreira e um dos acionistas minoritários do grupo liderado pelo indiano Vivek Ranadive, Richmond não consegue ficar longe do jogo. É um dos diretores do time, trabalhando abaixo do gerente geral Pede D’Alessandro, ao lado do ex-companheiro dos tempos de Golden State Warriors, Chris Mullin.

Humberto é um dos atletas do Pinheiros com idade para inscrição no Draft

O explosivo armador Humberto é um dos atletas do Pinheiros com idade para inscrição no Draft

Aí toca embarcar para o Brasil para uma viagem curtíssima, de apenas três dias, com alguns alvos que não podem ser declarados. Mas sabemos quais são: o ala Lucas Dias e os armadores Humberto e Georginho – o caçula, aliás, é o prospecto nacional mais bem cotado entre os cartolas de lá, diga-se. São os garotos pinheirenses listados pelo técnico Marcel de Souza para ambos os jogos, elegíveis para o Draft (elegíveis, mas sobre os quais não se pode fazer comentários on the record, por não terem declarado seus nomes ainda, algo que pode acontecer até o fim de abril).

Richmond já havia assistido ao triunfo do time paulistano sobre o São José, na terça-feira. Nesta quinta, o Mogi saiu vencedor. Entre um jogo e outro, também conseguiu acompanhar treinamentos da equipe. Não foi uma viagem em vão. Mas poderia ter sido muito mais produtiva.

Num Pinheiros de rotação volátil, o scout pôde ver 10 minutos de Humberto e 8 minutos de Lucas na primeira partida. No segundo duelo, Lucas ganhou 12 minutos e Humberto, 6. Mas sabe da pior parte? Richmond teve de sair do ginásio mais cedo, direto para o aeroporto de Guarulhos, e perdeu a exibição do ala no quarto final. Justo quando ele marcou dez pontos e foi fundamental na tentativa de virada da equipe da casa. Assim é a vida de quem está na estrada. (Suspiro. Resignação. Risos.)

Lucas terminou o jogo com 13 pontos, 3 rebotes, 1 assistência e 1 roubo de bola. Humberto anotou um ponto, mas fez boa defesa nos poucos minutos que recebeu, encarando até mesmo Shamell, o cestinha do jogo contra sua ex-equipe, com 31 pontos. Georginho não saiu do banco.

Abaixo, segue um bate-papo rápido com o cara do Hall da Fama, no intervalo de jogo. Obviamente, o ideal era ter sentado com calma, mas, no jornalismo, assim como na atividade de scout, as coisas nem sempre funcionam conforme o planejado:

21: Você está no Brasil quanto tempo? É a sua primeira viagem durante a temporada para fora dos Estados Unidos, ou já passou pela Europa, China etc.? O que achou do nível de jogo até agora?
Vim para ficar três dias. Esse tipo de viagem vai variando de acordo com a nossa programação. Tem vezes que passa de uma semana. Tem hora que a viagem é curta assim. Nesta temporada, é a primeira vez que saio do país, sim. O nível está bom. Dá para ver que os jogos são competitivos. Sei que (o Pinheiros) está enfrentando uma equipe muito boa hoje (o Mogi), depois de ter vencido o primeiro jogo.

Obviamente você não pode mencionar nomes, mas conseguiu identificar algumas revelações que mereçam consideração em termos de Draft?
Há prospectos, sim, jogadores com talento. Mas preciso ver um pouco mais. Espero que possam ficar um pouco mais em quadra.

Apesar de curta, foi uma viagem que rendeu? Além de jogadores para o Draft, observa também os mais velhos, de repente pensando no time de Summer League?
Bom, nos Estados Unidos a gente não pode observar os atletas de High School. Fora do país, porém, temos essa oportunidade de ver jogadores mais jovens, de 18 anos, por exemplo. Isso é valioso, para vê-los contra atletas veteranos, experimentados e checar como já se comportam. No geral, porém, a gente acompanha e observa tudo o que for possível, para garantir que estejamos presentes aonde possa ter um possível talento de NBA.

Não dá para ver, mas pode confiar: Richmond está atrás do cotovelo de esquerdo do armador Jéfferson ; )

Não dá para ver, mas pode confiar: Richmond está atrás do cotovelo de esquerdo do armador Jéfferson ; )

E, a partir daí, é acompanhar o desenvolvimento? Algo difícil também, imagino. Mesmo que peça uma viagem da Califórnia para o Brasil.
É difícil, mas esse é o nosso negócio, né? É o que amamos fazer. A cada ano vão surgir prospectos. Quando vem a notícia sobre jovens jogadores surgindo, aí temos de garantir que pelo menos uma pessoa de nossa equipe de scouts vá conferi-lo. Precisamos saber quem é esse cara para o Draft. Se ele se candidatar, pelo menos alguém da nossa equipe já o conhece.

Aqui do Pinheiros saiu o ala Bruno Caboclo, que tomou de surpresa a liga no ano passado ao ser selecionado em 20º pelo Raptors. A partir dele, acha que o jogador brasileiro vai se acostumar a ver mais profissionais da NBA nos ginásios por aqui? Não era algo tão fácil de acontecer.
Acho que sim, é algo que chama a atenção, e também acho que a ida do Bruno acaba influenciando os jovens jogadores também, que veem um de seus companheiros, ou adversários, conseguindo entrar na NBA e acabam tomando-o como exemplo. Eles vão querer ser como esse cara, ou melhores que esse cara. É algo que faz o olho brilhar e mostra que, se derem duro em quadra, é possível.

O que você ouviu a respeito da parceria entre a NBA e a LNB? Aqui, foi uma grande surpresa. Para a liga americana, é algo inédito também.
Acho que é uma ótima notícia, algo diferente, mesmo. Mas as duas ligas podem aprender uma com a outra, e, para a liga brasileira, a NBA pode ajudar a conseguir patrocínios e aumentar a divulgação, sendo a marca número um do mundo. Além disso, ela também tem o produto número do mundo, que são seus jogadores, suas estrelas, que podem vir para cá e plantar algumas sementes no jogo brasileiro.

*   *   *

Richmond foi um dos principais jogadores da história do Sacramento Kings. Só não dá para cravar como o melhor. Afinal, a franquia vem de longa data e já escalou muita gente boa. Contou, inclusive, com um certo Oscar Robertson em seu elenco, na fase de Cincinnati Royals. O baixinho Nate Archibald também fez misérias no passado. O pivô Jerry Lucas depois se consagraria pelo mítico Knicks do início dos anos 70. Mesmo na fase de Sacramento um cara como Chris Webber acaba sendo mais relevante.

Richmond e Webber bem que poderiam ter jogado juntos em Sacramento

Richmond e Webber bem que poderiam ter jogado juntos em Sacramento

Aliás, é uma baita ironia: em seus sete anos na capital californiana, só foi aos playoffs uma vez, em 1996, perdendo na primeira fase para o Seattle SuperSonics, o eventual campeão do Oeste. Precisou o ala-armador sair para o clube encontrar o caminho das vitórias. De alguma forma, o Kings convenceu o Washington Wizards a trocar um franchise player que nem C-Webb por Richmond, já aos 33 anos, e um ancião Otis Thorpe. Divac, Peja, Williams/Bibby, Christie e outros chegaram para formar um timaço sob o comando de Rick Adelman, dando um trabalho absurdo a Shaq e Kobe durante o tricampeonato do Lakers. Em 2001, como reserva de Bryant, Richmond ao menos ganhou um título.

*   *   *

Mitch Richmond, All-Star MVP 1995, SacramentoNão deu tempo de perguntar, mas imagino que, pelas circunstâncias, o anel de campeão da NBA não seja a principal memória da carreira do astro. Acho que ele deve ter muito mais orgulho de ter sido selecionado para seis All-Star Games em sequência, de 1993 a 98. Em 1995, foi eleito o MVP do jogo, disputado em Phoenix. Foi um banho de bola do time do Oeste. O ala-armador marcou 23 pontos em 22 minutos, saindo do banco, convertendo 10 de 13 arremessos. Encarou Reggie Miller, Joe Dumars, Penny Hardaway, Grant Hill e Scottie Pippen.

*   *   *

O titular da seleção do Oeste na ocasião foi Latrell Sprewell. Justamente o jogador que assumiu seu posto como parceiro de Tim Hardaway e Chris Mullin no divertidíssimo Golden State Warriors de Don Nelson, no início da década de 90. Quando Richmond jogou por lá, formaram o espetacular trio Run-TMC, com contra-ataques sem parar, marcando até 116,6 pontos por partida na temporada 1990-91, caindo nas semifinais do Oeste.

Na temporada seguinte, todavia, Richmond seria envolvido na primeira troca bizarra de sua carreira. Difícil de entender o que o Warriors pretendia ao mandá-lo para Sacramento, recebendo o ala novato Billy Owens, um jogador versátil, que também podia correr bem pela quadra, mas que não representava ameaça alguma no jogo interior, a principal carência do time.

Owens ficou apenas três temporadas no Golden State, até ser enviado para Miami, acompanhado de Hardaway, em troca de Bimbo Coles e Kevin Willis (afe). Curiosamente, em 1996, ele enfim vestiria a camisa do time que o draftou, o Kings, indo para os playoffs ao lado de Richmond. Ele se aposentou em 2001, com médias de 11,7 pontos, 6,7 rebotes e 2,8 assistências. Hoje, Mullin e Richmond estão reunidos em Sacramento. Hardaway é assistente de Stan Van Gundy em Detroit.

Run TMC

Run TMC

*   *   *

Richmond disputou duas edições dos Jogos Olímpicos, ganhando o ouro em Atlanta 1996. Em Seul 1988, teve de se contentar com o bronze, depois de os Estados Unidos terem perdido para arquirrival União Soviética pelas semifinais. Em ambos os torneios, os americanos enfrentaram a seleção brasileira.

Na Coreia do Sul, ainda universitário, o ala-armador marcou 9 pontos em 19 minutos, em vitória por 102 a 87, por um time que tinha David Robinson como grande figura, mas também contava com Danny Manning, Dan Majerle e Hersey Hawkins. O Brasil tinha, claro, Oscar e Marcel, o atual técnico do Pinheiros. Além do armador Cadum, outro que estava no ginásio nesta quinta-feira, como comentarista da transmissão oficial da LNB, como bem lembrou o gerente de comunicação da entidade, Guilherme Buso.


Derrick Rose, o heroísmo e as boas e más notícias de Chicago
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Derrick Rose: não estava fácil. Assim como o jogo todo

Derrick Rose: não estava fácil. Assim como o jogo todo

Se tem um velho recurso narrativo, usado pelo vovô, pela vovó, pelo padre e até pelo delegado, um recurso de que não abro mão, que, creio, jamais vai perder a graça, é a quela história da boa e da má notícia. Qual você quer primeiro?

Depois do jogaço transmitido pelo Sports+ na madrugada desta quarta-feira, com a edificante vitória do Bulls sobre o Golden State Warriors por 113 a 111, na prorrogação, essa pergunta funciona perfeitamente para os torcedores do Chicago – e, por isso, admiradores irredutíveis de Derrick Rose. O armador teve uma das atuações mais estranhas, malucas e polarizadoras da temporada.

Primeiro vamos com a boa? Tá, tudo bem: Rose marcou 30 pontos e marcou a cesta decisiva no tempo extra. A má: ele precisou de 33 arremessos para chegar a essa contagem, acertando apenas 13 desses chutes. Também cometeu 11 turnovers e deu apenas uma assistência. É ou não é uma linha estatística bizarra – e imaginem se fosse Russell Westbrook a praticá-la?

Essa combinação suscitou um debate inflamado durante a madrugada, o que me admira muito.  Acho incrível que, a essa altura do campeonato, em 2015, o hero ball ainda seja considerado tão importante assim, a ponto de uma cesta ser considerada brilhante o bastante para ofuscar 20 tentativas de cesta em vão e 11 desperdícios de posse de bola. Da minha parte, acho que a melhor notícia, na real, foi o simples fato de o atleta estar em quadra, passando da marca de 43 minutos numa partida pela primeira vez em quase três anos, considerando tudo que ele já enfrentou. Ou que, juntos, os pivôs titulares somaram 36 pontos, 31 rebotes e 14 assistências, mataram 14-24 nos arremessos e terminaram o jogo 100% nos lances livres, dominando o garrafão do Warriors sem Andrew Bogut.

Tom Thibodeau obviamente se colocou entre os defensores do heroísmo – afinal, foi seu jogador e esperança de superestrela a protagonizar a discussão toda. O técnico usou aquele argumento de sempre: “Ele não permitiu que os arremessos perdidos… o afastassem da confiança de que ainda poderia tentar e acertar um chute decisivo”.

Mesmo que o chute não caia, Derrick Rose segue arremessando. A torcida do Bulls na expectativa

Mesmo que o chute não caia, Derrick Rose segue arremessando. A torcida do Bulls na expectativa

Olha, se fosse para ler a frase sem nenhum contexto, não há como contestá-la. A força mental para não se abalar pelos erros e tentar a vitória é uma grande virtude. Agora, depois de o cara desperdiçar 31 posses de bola (entre bicos e tropeços), certeza de que um arremesso como o que ele tentou era a melhor decisão?

A jogada de Rose no último ataque do Bulls, diante dos braços compridos e da boa marcação de Klay Thompson não é nada fácil de se fazer, especialmente quando você dá o passo para trás e tem um defensor equilibrado na sua cola. Requer habilidade atlética. Mas não vá me dizer que, além da confiança, também não tem sorte envolvida nesse tipo de jogada, especialmente quando estamos falando de um armador jamais elogiado pelo poder do arremesso de média para longa distância, e que não alterou tanto assim o seu desempenho na atual temporada. Thibs – sobre quem os rumores andam bem intensos, mesmo – não se importa: “Isso é um sinal de sua grandeza e de que ele está trabalhando para voltar a ser o jogador que todos sabemos que pode ser”, afirmou.

Dá para dizer que, além do técnico, 99,5% das pessoas envolvidas com o Bulls estavam aguardando com ansiedade um lance como esse por parte do armador, algo que justificasse toda a expectativa pelo retorno. Digo: um lance que comprovasse seu retorno. Até mesmo os repórteres dedicados a cobertura do clube não viam a hora de escrever a respeito. Nick Friedell, setorista do ESPN.com, listou todas as falhas de Rose no embate com o Warriors, mas diz que a cesta final supera tudo isso, mesmo que os 11 turnovers tenham sido um recorde pessoal.

“Esta terça-feira ofereceu mais um aviso de que o Bulls só vai chegar aonde Rose e seus joelhos reconstruídos possam levá-los”, cravou o jornalista. “Joakim Noah, Pau Gasol e Butler são importantes, mas Rose ainda é o cara que pode fazer mais diferença devido a sua habilidade de dominar os jogos no final e responder nas situações de maior pressão. Ele tem o tipo de habilidade de uma superestrela da qual seus companheiros podem se alimentar a cada noite. Quando o jogo está na mesa, eles tentam encontrar o antigo MVP em quadra, não importando o quão pobre tenha sido seu jogo até então.”

Certamente Friedell não foi o único que saiu com essa linha de argumentação. Suas frases saem diretamente da teoria de que só os times com craques transcendentais podem lutar por títulos na NBA. A mesma teoria que impede muita gente de aceitar o Atlanta Hawks como favorito. Concordar ou discordar dela é uma coisa. Outra, bem diferente, é incluir Rose nesse grupo só por causa de um arremesso certeiro, não?  Nada contra o armador ou o repórteres, mas, se já esperamos todos por um longo tempo, mais de dois anos, que custa dar mais algumas semanas de jogo para ver se a estrela está realmente na trilha para reassumir a velha forma?

Vamos descontar a temporada 2013-2014 aqui, já que ela rendeu apenas 10 partidas para ele, totalmente fora de ritmo. Então, se formos comparar a atual campanha do armador com o restante de sua carreira, nota-se que ele jamais cometeu tantos turnovers por jogo (seja na média por minutos ou por posse de bola). Seu aproveitamento nos arremessos, de 41,6%, também é a pior marca. Isso poderia se explicar pelo fato de ele nunca ter chutado tantas bolas de longa distância assim. Mas mesmo as medições que englobam tanto o rendimento nos tiros de fora e até dão mais valor para eles comprovam a dificuldade que vem tendo para pontuar. Em termos de eficiência, apenas seu ano de novato fica para trás. Que tal um pouco de calma?

A temporada de Rose em arremessos

A temporada de Rose em arremessos

Muita coisa já passou e ainda passa pela cabeça de Rose, claro. A cesta da vitória contra o Warriors pode ser um passo importante para a recuperação de seu jogo – uma vez que confiança nunca foi um problema para o atleta, que, por exemplo, se recusava a recrutar agentes livres no mercado. “Como jogador, eu quero esse tipo de momento”, disse Rose, sobre a chance de matar uma partida. “Quero este arremesso. Meus companheiros me deram a bola para assumir a responsabilidade, e não vou fugir disso, não vou abrir mão disso. Se meus companheiros vão me dar a bola para isso, é algo que me faz sentir muito bem.”

De novo: é bacana ele enfrentar esse tipo de situação e sair bem com ela. Cabe uma pergunta, porém: o Bulls realmente depende de um Rose a 90, 100% para sonhar alto na Conferência Leste? Dizer que Rose é o único talento que realmente faça a diferença neste elenco não é menosprezar o quanto Noah batalhou enquanto o camisa 1 estava fora? O que dizer de Pau Gasol, um dos maiores pivôs de sua geração? E a ascensão fantástica de Jimmy Butler?

Bem, o torcedor mais atento vai poder apresentar alguns contrapontos para cada uma dessas alternativas: há jogos em que Noah está se arrastando pela quadra; Gasol tem números fantásticos, mas, aos 34 anos, é perigoso depender dele, mesmo que tenha números que se equivalem aos de cinco anos atrás; Butler caiu muito de rendimento neste mês. Check, check, check. De qualquer forma, qual a diferença entre apostar neles e esperar que Rose volte de forma messiânica? O que parece mais implausível hoje? E mais: o clube precisa, mesmo, desse salvador?

A contratação de Gasol e de Nikola Mirotic já tornava, em teoria, este elenco do Bulls como o mais talentoso da era Thibodeau. Ninguém jamais poderia prever tamanha evolução de Butler, o que supera qualquer decepção gerada pelas lesões e péssimas partidas do badalado calouro Doug McDermott. Essa guinada em recursos técnicos se traduziu num ataque bem mais respeitável: o nono mais eficiente da NBA, acima de Spurs, Blazers e Rockets, por exemplo. Na temporada passada, você precisava usar bastante o scroll para encontrá-los nessa relação (antepenúltimo lugar). Em 2013, terminaram em 24º.

Mesmo que não tenha muitos arremessadores, Thibs consegue desenhar jogadas criativas que espalha bem os jogadores pela quadra e abre boas oportunidades para os pivôs trabalharem em dupla e para que Butler (e Rose) descolem bons ângulos para atacar o aro. Neste mês, mesmo sem os 41,7% de Mike Dunleavy Jr nos arremessos., o Bulls ainda aparece com o décimo ataque mais eficiente.

O problema é que os ganhos no ataque coincidem com perdas do outro lado da quadra. Se a temporada terminasse hoje, a equipe teria apenas a 12ª melhor defesa e terminaria fora do top 10 pela primeira vez desde… 2009! Ano em que tinham John Salmons, Ben Gordon, Tyrus Thomas, Brad Miller e Tim Thomas. Faz tempo, mesmo.

Aaron Brooks, arma nem tão secreta assim

Aaron Brooks, arma nem tão secreta assim

O Bulls precisa, quem diria, melhorar na hora de proteger sua cesta. Para entender isso, o desgaste de alguns atletas tanto do ponto de vista psicológico como físico não deve ser relevado – as rotações pesadas de Thibs geram calafrios em Chicago. Resgatar a intensidade, tapar os buracos não seja tão simples assim. Gasol não era uma figura comprometedora em Los Angeles só pelo fato de que estava pê da vida com os Mikes. Butler ataca mais hoje, então vai sentir um pouco as pernas na hora de tentar parar LeBron ou seja lá qual cestinha. Noah é fundamental no sistema e não é nem sombra do jogador da temporada passada. Gibson ficou um tempo fora. Mirotic está se adaptando. Kirk Hinrich ainda luta ferozmente na marcação fora da bola, mas está um ano mais velho. Etc. Etc. Etc. Há vários pontos individuais que possam explicar isso. Mas é só

Thibodeau ainda tem tempo para fazer alguns ajustes na rotação. Seu quinteto mais utilizado até o momento (Rose-Butler-Dunleavy-Gasol-Noah) tem saldo de 5,6 pontos em média por 100 posses de bola, em 271 minutos. O segundo, porém, trocando Rose por Hinrich, despenca para -7,0, em 118 minutos. O terceiro, com Hinrich no lugar de Dunleavy e Gibson na vaga de Noah, sobe para 3,7, em 116 minutos.  Uma curiosidade é que, das seis melhores combinações, cinco têm o baixinho Aaron Brooks em quadra, perdendo apenas para um quinteto com Rose-Hinrich-Butler-Mirotic-Gasol. Todas essas formações, no entanto, ganharam muito pouco tempo de quadra e apresentam um saldo de cestas irreal. Outro padrão detectado: Hinrich teria de jogar ao lado de Mirotic e/ou Brooks, para compensar no ataque.

Vale a pena prestar a atenção em Brooks, de todo modo. É engraçado isso, mas ele está repetindo, mesmo, aquilo que aconteceu com DJ Augustin e Nate Robinson, fazendo a melhor temporada da sua vida como reserva do Bulls, seja em eficiência como em produção por minuto. Com o ligeirinho em quadra, o Bulls vence seus adversários por +6,2 pontos/100, quase o dobro de sua média na temporada. Apenas três dos dez quintetos em que ele aparece dão saldo negativo. Por outro lado, ele só ficou ao lado de Rose por 35 minutos. Tiveram tremendo sucesso juntos. Talvez pelo fato de Brooks aliviar a pressão em Rose como força criadora. Outro que merece mais minutos: Mirotic.

São diversas as opções de troca para o técnico fazer o time decolar, enquanto Rose vai se redescobrindo em quadra. Para o armador se consagrar, é preciso primeiro que o time esteja pronto, posicionado para realizar grandes façanhas, como aconteceu contra Golden State – e que ele renda muito mais do que fez na metade inicial do campeonato, claro. Num cenário ideal, com muito território para ocupar e um grande potencial a ser explorado, o Bulls não precisaria de atos salvadores do astro: venceria os jogos antes disso. Agora, se for preciso e ele entregar, seria, sem dúvida, a notícia mais empolgante para a torcida Chicago.


Em números e frases: o jogo insano e flamejante de Klay Thompson
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Você acorda no meio da madrugada – e dessa vez o calor nem foi desculpa, deve ser coisa da idade, mesmo –, e acaba pegando o celular para ver que horas são. Aí abre o aplicativo Game Time da NBA para ver como havia terminado a rodada que acontecia depois de Mavs x Bulls. Na hora de conferir o último resultado do dia, mais uma lavada do Golden State Warriors em que eles passam dos 120 pontos, pumba: 52 saíram só na conta de Klay Thompson!

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa
>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Daí você abre o Twitter, e os Estados Unidos da América estão inteiros em ebulição: afinal, o que a box score não contava é que, de 52 pontos, 37 o ala do Warriors marcou num só quarto, o terceiro. Foi um recorde da liga – nem Wilt, nem MJ chegaram perto disso. Ixemaria. E para dormir novamente, como fica? Demorou um pouco, mas consegui. Postar blog 4h01 da madruga também não ajudaria ninguém, né? De todo modo, com algumas horas de atraso, seguem alguns dados sobre a estarrecedora noite do cestinha:

52 – Mo Williams não está mais sozinho nessa luta, amigos. Thompson igualou o igualmente especial recorde da temporada estabelecido pelo armador do Timberwolves contra o Indiana Pacers na semana passada. O Indiana Pacers, por outro lado, precisou de todo o primeiro tempo para marcar 37 pontos contra o Miami Heat.

Klay Thompson põe fogo na folha de estatísticas

Klay Thompson põe fogo na folha de estatísticas

42 – Tirando o Golden State, dãr, apenas o Cleveland Cavaliers conseguiu marcar mais que 37 pontos num quarto na rodada desta sexta-feira: foram 42 contra o Charlotte Hornets, no segundo período. O Lakers fez 38 contra o Spurs na primeira etapa.

38 – O recorde pessoal de Mychal Thompson, ex-pivô do Blazers e do Lakers, bicampeão pela franquia angelina, foi de 38 pontos pelo Portland, justamente contra sua futura equipe, em 1981. Também pelo Blazers, ele marcou 37 pontos em outras três partidas.

33 – Esse era o recorde de pontos em um só período até, então, obtido por Carmelo Anthony com a camisa do Denver Nuggets em 2008 e por George “Iceman” Gervin, o primeiro grande ídolo do Spurs. David Thompson, o ala-armador explosivo do Denver Nuggets e que inspirou Jordan muito mais que você imagina, já fez 32 pontos em uma parcial.

32 – Thompson chegou aos 52 pontos em 32 ou menos minutos, se juntando a Kobe Bryant como o único atleta da liga a conseguir tamanha produção em tão pouco tempo de quadra. Kobe anotou 62 pontos em três períodos contra o Dallas Mavericks em 2005, pouco antes de alcançar 81 contra o Toronto Raptors. Vocês lembram, né? Phil Jackson manteve o ala sentado durante todo o quarto final contra os texanos e nem deu bola. A diferença é que ao seu lado, no time titular, ele tinha Smush Parker, Brian Cook, Chris Mihm e, ufa, Lamar Odom.

26 – Foi o total de pontos de todos os outros atletas, de Warriors e Kings, em quadra durante o terceiro período. Perderam de Klay por 11.

As estatísticas do terceiro período

As estatísticas do terceiro período

25 – Klay Thompson precisou de apenas 25 arremessos para marcar 52 pontos. Média de 2,08 para cada chute de quadra. Ele converteu 64% de seus chutes de quadra. Em três pontos, ficou em 73,3%. Nos lances livres, 90%.

11 – O ala foi selecionado no Draft de 2011 na 11ª colocação. Em décimo, o… Sacramento Kings, claro, escolheu Jimmer Fredette, hoje reserva do New Orleans Pelicans. Jornalistas da capital californiana juram que havia muita gente na diretoria do clube que preferia Thompson naquela ocasião.

9 – Foram nove chutes de longa distância para Thompson apenas no terceiro período, sendo que oito deles estavam marcados. Em quatro desses arremessos ele saiu de corta-luz, enquanto outros três vieram em transição. No geral, ele matou 11 tiros de fora, ficando a um do recorde individual em uma partida (compartilhado por Kobe e Donyell Marshall).

O quadro de arremessos de KT no terceiro período

O quadro de arremessos de KT no terceiro período

5 – Thompson ainda encontrou espaço no jogo para dar cinco assistências.

2 – Excluindo James Michael-McAdoo, que acabou de vir da D-League, dois companheiros de time de Thompson não conseguiram fazer nem 37 pontos durante toda a temproada: Brandon Rush, que tem 18 pontos em 21 jogos, e o pivô sérvio Ognjen Kuzmic, que soma 20 pontos em 15 jogos. Ao menos, juntos, os dois conseguem superar o ala, né?

-48 – Thompson, todavia, ainda ficou devendo 48 pontos para o recorde individual da franquia: os 100 pontos de Wilt Chamberlain, claro, como jogador do Warriors, mas ainda na Philadelphia. A segunda maior contagem do clube foi de Stephen Curry, que fez 54 contra os Knicks em 2013.

No vestiário, Stephen Curry assiste aos 37 pontos de Thompson no terceiro quarto

No vestiário, Stephen Curry assiste aos 37 pontos de Thompson no terceiro quarto

* * *

Klay Thompson é pop. A NBA mal dormiu de sexta para sábado. Seguem, então, algumas das declarações mais legais sobre a tempestade promovida pelo ala do Golden State:

“Foi meio que um vulto. Gostaria de poder voltar no tempo e curtir isso um pouco mais, pois em momentos como esse passam realmente muito rapido. Foi maluco, eu nem sei o que aconteceu”, Thompson, o próprio.

“Fui um dos jogadores sortudos por ter atuado ao lado de Michael Jordan, Tim Duncan, David Robinson e alguns dos maiores da história. Mesmo com tantas coisas espetaculares que Michael fez, e ele fazia noite a noite, nunca o vi fazer algo assim”, Steve Kerr, técnico do Warriors. Demais.

“Vocês (repórteres) estão todos me fazendo parecer como se não soubesse, mesmo, o que dizer para a mídia. Eu honestamente não sei o que dizer para vocês”, Draymond Green, o faz-tudo do Warriors.

“Isso é lixo. Se não acreditávamos nisso antes, agora todos acreditamos”, Green novamente, quando questionado sobre a ideia de que não existe o conceito de mão “quente”, confiante no basquete.

“Você não esquenta dessa maneira nem no NBA 2K. Aquele videogame agora já é real. O que Klay fez não foi real”, Green, definitivamente o melhor entrevistado desse timaço do Golden State.

“Cheguei agora depois de ter visto um filme chamado Klay Thompson. Pegou fogo!”, Shaun Livingston, armador reserva do Warriors.

“Foi o melhor filme que já assisti! Obrigado pelo show, Klay”, Marreese Speiths, o sexto homem da equipe, seguindo na mesma temática de Livingston.

“Voando de volta a Chicago e acompanhando Klay Thompson surtando contra o Kings… 37 pontos no terceiro período é algo insano!”, Pau Gasol, no Twitter.

“Se o Klay Thompson não for um All-Star, desisto do basquete de vez”, Anthony Tolliver, ala do Detroit Pistons.


Chegou a hora de aceitar o Atlanta Hawks como sério candidato
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Estão aí para ficar

Estão aí para ficar

Há alguns caminhos básicos para aceitar um time qualquer como favorito, ou forte candidato ao título. Cada vez mais se valoriza números e números, dentre os quais o saldo de pontos acumulado durante a campanha se destaca como um grande indicador para além da óbvia comparação entre vitórias e derrotas. O seguidor mais conservador pode se apegar a outros fatores como a quantidade de superestrelas em um elenco e o retrospecto, histórico recente dessa equipe nos mata-matas. Ainda assim, essa abordagem também tem uma base empírica, já que são raríssimos os casos de clubes que conquistaram a NBA sem contar com um craque transcendental em sua formação.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa
>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Tanto que o Detroit Pistons virou a menção obrigatória de exceção dessa regra, com os Wallace que não eram irmãos e a dupla entrosadíssima de Billups e Hamilton. Todos All-Stars, bem acima da média, que se entenderam muito bem e entraram para os livros históricos. Mas nenhum deles vai entrar no panteão. O Spurs de 2014 poderia até entrar nessa lista também, mas vai depender de como você avalia o fato de a equipe contar com Parker, Duncan e Ginóbili, que já não estavam no auge mais, mas cujo currículos causam, de qualquer forma, inveja em muita gente.

Deixemos os atuais campeões de lado, todavia. Ou melhor: nem tanto, já que, para falar sobre o Atlanta Hawks, não dá para ignorar o fator #SpursDoLeste, com um time armado sob os mesmos princípios saudáveis que Gregg Popovich consolidou em San Antonio. Em seu segundo ano de trabalho na Geórgia, Mike Budenholzer vai obtendo resultados incríveis. Nesta quarta, por exemplo, ele já se assegurou como o técnico da seleção do Leste no All-Star Game, com a melhor campanha da conferência, por ora inatingível. Seus atletas venceram 28 das últimas 30 partidas que disputaram, vindo de 14 vitórias seguidas, igualando o recorde da temporada 1993-94. Os falcões estão voando, mesmo, como nunca antes na história da franquia. Ainda assim, guiada por princípios históricos – resumidos na marcante frase de Jordan sobre crianças, homens e playoffs –, a crítica demorou a reconhecê-los como séria ameaça na liga americana. Pode incluir esta besta quadrada aqui nesse pacote. Pode, também, esquecer qualquer preconceito. O Atlanta veio para ficar.

Não quer dizer que o título é deles já, de modo antecipado. Que seja impossível de perder. Qualquer lesão de Al Horford, Jeff Teague, Kyle Korver e Paul Millsap já os deixariam em maus lençóis. O Washington segue jogando de igual para igual com a maioria dos grandes. Mesmo em espiral, Toronto não pode ser desrespeitado. Para não falar de Chicago e Cleveland, esses, sim, os conjuntos estelares, que vão chegar aos mata-matas, independentemente da histeria ao redor de ambos. Importante dizer que todos esses times já foram surrados pelo Hawks. De qualquer modo, muita coisa pode acontecer em 40 partidas, em três meses de temporada regular até a chegada aos mata-matas.

Se tivéssemos, no entanto, a chance de congelar o tempo e deslocar esse Hawks de hoje, 22 de janeiro de 2014, e descolá-lo para os primeiros dias de abril, teríamos no páreo um favorito, e tanto. Favorito e encantador, ainda que sem o sex appeal de um Golden State Warriors comandado por um técnico tão carismático e vitorioso e liderado em quadra por um talento precioso como o de Stephen Curry.

O irônico é que o gerente geral Danny Ferry, ainda afastado por uma gafe-ou-comentário racista, fez de tudo para contratar a chamada superestrela. Alguém da estirpe de Curry – ou do ala-pivô Bob Pettit, que guiou a equipe nos tempos de St. Louis ao título em 1958, desbancando Bill Russell, Red Auerbach e o Celtics. Foi atrás de Chris Paul e Dwight Howard, nativos da Geórgia, quis também se reunir com Carmelo e LeBron. Dikembe Mutombo, Joe Johnson e Isaiah Rider (risos) que nos desculpem, mas o clube não conta com ninguém desse porte desde as cravadas inigualáveis de Dominique Wilkins nos anos 80.

Sefolosha não tem nem 5% do apelo de um LeBron, mas se encaixou bem no banco de reservas, para dar um descanso a Carroll. Ele e Bazemore fortalaceram a rotação de Budenholzer com energia e pegada defensiva

Sefolosha não tem nem 5% do apelo de um LeBron, mas se encaixou bem no banco de reservas, para dar um descanso a Carroll. Ele e Bazemore fortalaceram a rotação de Budenholzer com energia e pegada defensiva

Não rolou, claro. Fechou, então, com Millsap, Korver, DeMarre Carroll, Mike Scott, Pero Antic, Thabo Sefolosha e Kent Bazemore. E não é que deu certo? Com um basquete eficiente, consistente, de movimentação de bola totalmente solidária e arremessadores perigosos para quebrar qualquer sistema defensivo, de Thibs a marcação por zona, a turma de Al Horford está arrebentando. Ênfase em solidariedade, por favor. É um conceito que pode ser banalizado se usado a cada crônica de jogo, a cada análise de uma equipe. Neste caso, contudo, não precisa se preocupar, pois o termo cabe ferfeitamente.

O Atlanta é o segundo time em assistências por jogo, atrás do Golden State. Mas acho que já aprendemos que se basear apenas em números absolutos não cola mais, né? Cada equipe joga num ritmo, produzindo mais ou menos números. O melhor, sempre, é saber o quão eficiente o conjunto se apresenta. Então que tal conferir o ranking de assistências por posse de bola e ver que, nessa medição, eles aparecem em primeiro? Lideram também a coluna de percentual de cestas de quadra que são assistidas – o Spurs, observem, está em terceiro. Esse padrão se mantém para seus chutes de três pontos: apenas 7,1% dos tiros de longa distância decorrem de jogadas individuais, em vez de um passe, contra 9,2% do Spurs. Istoé, Jamal Crawford, Nick Young e JR Smith não teriamm espaço por lá. Nas bolas de dois pontos sem assistências, o percentual sem assistências é maior (39,9%, e aqui entram as infiltrações de Jeff Teague e Dennis Schröder), mas ainda é o menor da liga.  Por fim, na média de assistências para cada turnover, estão em terceiro. Nas últimas sete vitórias, em seis ocasiões eles bateram a marca de 30 assistências. Vamos todos juntos, então, repetir: jo-go so-li-dá-rio. Pode soletrar também, se achar necessário.

A excelente visão de quadra e a predisposição para passar a bola resultam, obviamente, numa bola seleção de arremessos. A equipe é a terceira no aproveitamento efetivo de arremessos, a medição que dá um pouco mais de valor para os arremessos de três pontos, já que… segundo minhas contas, três é maior que dois. Sim, Budenholzer também é um adepto dos arremessos de três como peça integral de uma ofensiva, tendo o segundo melhor aproveitamento da liga nesse quesito (atrás apenas do Golden State). O sistema do ex-assistente do Coach Pop enfatiza o chute de fora, mas não chega a ser obcecado como o Houston Rockets, sendo o nono que mais arrisca, mas com oito tentativas a menos que os texanos). Por ter um excelente rendimento, no entanto, é o quarto time que mais depende da bola de longa distância para gerar pontos.

Parêntese obrigatório aqui para o Sr. Kyle Elliot Korver, nascido no dia 17 de março de 1981, natural de Lakewood, na Califórnia. O que ele está fazendo nesta temporada não existe. Quer dizer: existe, mas é inédito – nunca um atleta terminou a temporada regular com mais de 50% tanto nos arremessos de dois como de dois e 90% nos lances livres. Seus números, respectivamente: 51,8%, 53,5% e 92,2%. Ele lidera a liga no aproveitamento do perímetro pelo segundo campeonato seguido. Sua habilidade neste fundamento faz com que seus companheiros ataquem com 4 contra 4, já que ele não pode ficar livre de modo algum. Ele transformou um chute de três em bandeja, gente. E aí que foi engraçado ver o cara enterrar nesta quarta contra o Indiana Pacers, em transição. Foi sua primeira cravada desde desde 16 de novembro de 2012, contra o Kings! No meio do caminho, ele matou 484 chutes de fora em 198 jogos. Vejam abaixo e, logo depois, seu esmeraldino gráfico de arremessos:

É de se lamentar o péssimo aproveitamento na zona de média distância pela direita do ataque. Tsc, tsc

É de se lamentar o péssimo aproveitamento na zona de média distância pela direita do ataque. Tsc, tsc

Korver merece estar no All-Star. Mas este também é o caso de Teague, jogando seu melhor basquete, Millsap, que vai receber uma bolada no mercado de agentes livres, e Horford, o faz-tudo perfilado por Zach Lowe com a maestria de sempre e que só não tem o status de superestrela por jogar em Atlanta e pelas lesões peitorais bizarras. Dificilmente os técnicos vão encontrar espaço no banco da seleção do Leste para fazer justiça a todos eles.

Ao menos eles não dão a mínima para isso. Millsap ficou todo orgulhoso ao ser selecionado no ano passado, mas vai sobreviver se a façanha não se repetir. O mesmo vale para os outros. Afinal, numa unidade dessas, é muito complicado separar o sucesso de um e o do outro. “Sentimos que temos peças realmente boas que combinam bem, e entendemos que temos de jogar juntos para ter sucesso”, diz o atirador de elite.

Korver e seu arremesso perfeito

Korver e seu arremesso perfeito

Depois de longa consulta nos números, são poucos os pontos fracos a serem apontados para um raro caso de time que está entre os dez melhores no ranking de eficiência ofensiva e defensiva (Golden State, soberano, e Portland são os outros). O máximo que dá para falar é de uma fragilidade nos rebotes. Na tábua defensiva, ocupa apenas a 18ª posição na coleta de rebotes disponíveis, situação da qual Greg Monroe e Andre Drummond tiraram proveito na segunda-feira (juntos, somaram 12 rebotes ofensivos). Além disso, o Hawks é o 19º em contra-ataques: apenas 11,6% de seus pontos saem em transição, contra 18,6% do Warriors, e também o 18º em lances livres (17,1%). Esses pontos, porém, não preocupam tanto, devido a sua excelência na execução em meia quadra. Para os mata-matas, porém, podem fazer falta.

Ah, claro, se for para falar de números, o pior de todos é o de público, o sétimo pior da liga, com 16.327 espectadores em média – 2.500 a mais que o lanterna Timberwolves. O torcedor de Atlanta tem demorado para se interessar pela excelente fase. A despeito do incidente com Ferry, passar os dias sem prestigiar essa equipe é um pecado. Contra o Pistons, no feriado em homenagem a Martlin Luther King, a arena teve capacidade esgotada (19.108). Contra o modorrento time do Pacers, nesta quarta, só 15.045 foram ao ginásio. A baixa audiência só não impede que o valor da franquia tenha subido quase 100% no último ranking divulgado pela Forbes.

Vale mencionar também que o Hawks encarou até o momento a quinta tabela mais fraca da liga. Juntos, seus adversários têm aproveitamento de 48,9,%. Por outro lado, estão empatados com o Bulls nesse quesito. O Wizards, concorrente direto, teve a segunda jornada mais fácil, com 48%. O time de Budenholzer também fez mais jogos fora do que em casa (22 x 21, é verdade).

Então é isso: você precisa se esforçar para encontrar algum senão nessa jornada do Hawks, que se tornou apenas o terceiro time da história do Leste a somar 28 vitórias em um intervalo de 30 jogos. Os outros dois? Miami em 2012-2013 e Chicago em 1995-96, e ambos levaram o título.  Bastam mais três triunfos para que eles igualem as 38 da temporada passada (38). Com aproveitamento de 81,3% na atual campanha, a equipe cresceu até o momento 34,7%, o maior salto.

Recordes? All-Star? Favoritismo? Não que isso tudo valha algo para eles. “Todos nós sabemos de verdade que ainda não conquistamos nada”, disse Korver. “Eu amo quando a melhor equipe vence os melhores jogadores. Foi o que aconteceu nas finais do ano passado para mim.”

A final vencida pelo Spurs. Vocês sabem, o Hawks do Oeste.


O malucão Nick Nolte de volta a um ginásio de basquete
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

A D-League da NBA reúne seus melhores talentos neste fim de semana em Santa Cruz, na Califórnia, para o seu chamado “showcase “. Os times se enfrentam em formato de copa, mata-mata mesmo, no ginásio da filial do Golden State.

Fora uma dúzia de gerentes gerais da grande liga e de uma banca de scouts de times do mundo todo, sabe quem deu as caras por lá?

Nolte, cabeleira, retomando o contato com o basquete 21 anos depois de Blue Chips

Nolte, cabeleira, retomando o contato com o basquete 21 anos depois de Blue Chips

O ator Nick Nolte, um verdadeiro maluco e que anda sumido, provavelmente de saco cheio de Hollywood (na verdade, tem filmado regularmente, mas nenhum papel que lhe renda muito destaque) e da sociedade contemporânea ocidental como um todo. Reparem bem no visual do cara na em foto do jornalista Ken Berger, do site da CBS: está pronto para se tornar um quarto integrante do ZZ Top. Obviamente ele está se lixando para o que um blogueiro brasileiro ou qualquer chupim americano pense.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa
>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

São várias as histórias hilárias, as lendas em torno da jornada de Nolte, hoje com 73 anos. Tem aquela sobre cachorros, que Barcinski já lembrou em seu blog no R7, segundo palavras do grande escritor (não só de literatura policial) James Ellroy. O ator vivia em mansão daquelas na capital do cinema e adotou um vira-lata. Gostou tanto da experiência que saiu recolhendo qualquer cãozinho que visse pelo caminho. Agora, perguntem se ele tinha alguma paciência para dar um belo jeito nos animais? Claro que não. Mas não que maltratasse também. Servia comida da boa e da melhor. Só não ia pegar pra dar banho, nem limpar o que aparecesse de m. pela frente. Mais fácil, então, era instalar uma barraca no quintal e deixar a casa para cachorrada.

O cara obviamente bate em outra rotação. Natural que sua estelar carreira estelar também seja irregular. Já foi indicado três vezes ao Oscar, mas provavelmente seu trabalho mais popular tenha sido “48 Horas“, de 1982, ao lado de Eddie Murphy. Já viram, né? Um clássico.  Para o basquteiro, porém, o vínculo com Nolte se direciona para a década de 90, com “Blue Chips“, um dos filmes estrelados por Shaquille O’Neal, então com 22 anos, completando sua segunda temporada pelo Orlando Magic, pronto para dominar o marketing da NBA.

Em vez de um gênio da lâmpada ou de um super-herói de aço, nessa (ainda) película o pivô faz um papel de… Jogador de basquete. Bem, dãr, vocês sabem. Não sou que vou ficar falando aqui sobre o enredo de uma peça obrigatória em sua coleção, discutindo os percalços éticos da vida de um treinador de basquete universitário, na caça por talentos mundo afora, tentando seduzi-los, mas sem deixar que alguém saiba que passou dos passar dos limites. Nolte faz o treinador Pete Bell, fictício, que recruta o gigante imperdível que atende simplesmente pelo nome de Neon. Ô, loco. Duas décadas depois, a “denúncia” de Blue Chips continua válida. As regras da NCAA só são duras, mesmo, com os jogadores… Enquanto os programas seguem lucrando sem parar.

Confesso que realmente não me recordava de o filme ter sido dirigido por um figurão como William Friedkin (“Operação França”, “O Exorcista” e, mais recentemente, “Killer Joe”, um filme completamente demente com uma performance estarrecedora do bola-da-vez Matthew McConaughey, rodado em 2011). O que só deixa um basqueteiro cinéfilo mais contente e orgulhoso. Já o roteiro tem a assinatura de Ron Shelton, o que faz tudo ganhar mais sentido, já que ele é o cara por trás da história de “Homens Brancos Não Sabem Enterrar”. Curiosamente, Shelton chegou a jogar beisebol profissionalmente, em times filiados ao Baltimore Orioles.

Pete Bell e Neon discutem algumas coisinhas que não podem ser publicadas

Pete Bell e Neon discutem algumas coisinhas que não podem ser publicadas

Em Blue Chips – o termo vem do mercado de ações, do tipo em que você pode investir sua grana sem estressar, traduzido para o mundo do esporte como os prospectos mais badalados com Wiggins, Shaq, LeBron etc. –, temos também a participação de outros atletas como Penny Hardaway (“Butch McRae”, antes da briga em Orlando), Calbert Cheaney (formado em Indiana, jogando por Indiana), Bobby Hurley (o armador de Duke que sofreu um acidente que acabou com sua carreira), Geert Hammink (um holandês cult), Rodney Rogers (eleito melhor sexto homem da liga pelo Suns) e muitos, muuuuitos outros jogadores que estavam entrando na NBA naqueles tempos. Há também papel para Bob Cousy (interpretando!) e outras lendas como Larry Bird, Bobby Knight e Rick Pitino, como eles mesmo.

Fiz uma pesquisa aqui para saber de algum interesse especial de Nick Nolte pelo basquete. Não achei. Então a gente pode fingir que essa foi a primeira vez que ele voltou a um ginásio de basquete desde que gravou o filme com Shaq, 21 anos depois, né?

Foi para ver estes jogos aqui.

Aê.

Valeu, pelo menos, para relembrar o filme e este post aqui: Abdul-Jabbar e Wilt Chamberlain curtindo horrores em Hollywood.


Com mercado em polvorosa, até OKC se mexe; Brook Lopez é o alvo
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Brook Lopez em OKC? Seria uma referência ofensiva e transferência inédita para o clube

Brook Lopez em OKC? Seria uma referência ofensiva e transferência inédita para o clube

Tem artigos nos quais você bate o olho e, de cara, já concede: “O cara mandou muito bem nessa”. Belo gancho (uma pauta que procede), bela sacada, texto preciso. Aconteceu comigo ao ver este texto de Paul Flannery, do SB Nation: “Esperança incentiva trocas na nova era de paridade da NBA”.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa
>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Se você pegar os últimos acontecimentos, com uma temporada cheia de trocas, várias delas com a participação de times da Conferência Oeste – e o Boston Celtics, claro –, vai ver que o título é perfeito. Acerta na mosca. No momento em que escrevo isso aqui, temos mais um rumor quente de negociações, agora com o Brooklyn Nets e seu pivô Brook Lopez no centro do furacão. Estariam muito perto de negociá-lo, com o envolvimento de Charlotte Hornets e, surpreendentemente, Oklahoma City. Ou só de OKC, mesmo.

Por que surpreende?

Bem, é só ver o histórico de Sam Presti na gestão do Thunder. Ele fechou, sim negociações e alterou seu elenco aqui e ali, como quando mandou Jeff Green e Nenad Kristic para o Boston Celtics, recebendo Kendrick Perkins e Nate Robinson, em 24 de fevereiro de 2011. Em geral, porém, o dirigente é muito, mas muito mais conservador na hora de lidar com suas peças. A construção do plantel, para ele, acontece muito mais pelo Draft e com contratações no mercado de agentes livres, geralmente buscando veteranos para completar a rotação e ajudar com o vestiário (Derek Fisher, Caron Butler, Royal Ivey). De negociações durante o campeonato, só coisas bem pontuais, como na aquisição de Nazr Mohammed e Ronnie Brewer.

Quando James Harden saiu para o Houston, foi antes de a temporada regular começar para valer e por força das circunstâncias especiais – o Mr. Barba estava para renovar o contrato, pronto para receber uma bolada, e, pensando no teto salarial, Presti não estava disposto a pagar o necessário.

Pois bem. Nesta campanha 2014-15, o cartola já buscou Dion Waiters em transação com Cavs e Knicks. Tá certo que só precisou abrir mão de Lance Thomas nessa, mas, ainda assim, assumiu um certo risco, já que o ala-armador ex-Cleveland não é das figuras mais tranquilas de se lidar no dia a dia, e, em OKC, valoriza-se demais a química do time.

Jeff Green: a aposta do Memphis, que se torna mais atlético e mais alto no perímetro

Jeff Green: a aposta do Memphis, que se torna mais atlético e mais alto no perímetro

Agora, Presti volta aos noticiários numa tentativa de importar Brook Lopez, podendo ceder Kendrick Perkins, Jeremy Lamb e Grant Jarrett, segundo nomes cogitados. O que está pegando? Justamente o ponto levantado por Flannery: todos os times de ponta do Oeste (e hoje essa lista chega a oito, nove integrantes, dependendo do quanto você confia no Phoenix Suns, ou não) acreditam que este pode ser o ano do título. No caso do Thunder, pesa também, primeiro, o fato de estarem fora da zona de classificação.

O Spurs, bicampeão da conferência, se mostra vulnerável, enquanto Kawhi Leonard não retorna e Tony Parker não retoma a melhor forma. O Golden State Warriors, pelos números apresentados, resultados e consistência, ganha o direito de se considerar o favorito. Porém, pelo fato de nunca terem ido longe nos mata-matas com o atual núcleo, vai caber sempre uma desconfiança. A concorrência sente que as portas estão abertas. Então o que temos é uma corrida para ver quem pode chegar lá primeiro.

O Dallas foi atrás de Rondo. O Rockets foi oportunista ao coletar Josh Smith e tirar Corey Brewer do Minnesota. O Phoenix Suns pagou uma escolha de primeira rodada, que pode virar duas de segunda, para ter Brandan Wright, talvez, por apenas meia temporada. O Memphis adicionou Jeff Green, um ala alto, atlético e verdadeiramente efetivo, que lhe faltava. O Clippers tenta se mexer com os poucos recursos que tem ao seu dispor, apostando em Austin Rivers, o filho do homem (mais a respeito disso no fim de semana, mas adianto: valeria a aposta em Austin para qualquer time, menos LAC). O Pelicans tinha problemas nas alas e buscou Dante Cunningham e Quincy Pondexter (nomes de pouca expressão, mas com perfil defensivo para suprir uma carência clamorosa). Enfim, só nesse parágrafo foram citados seis dos 11 primeiros do Oeste. Com OKC, são sete.

Até mesmo o Denver Nuggets entra nessa história, aliás. Embora a franquia tenha cedido Timofey Mozgov ao Cavs e pareça disposta a transferir mais veteranos, dias depois foi atrás de um cara como Jameer Nelson para a reserva de Ty Lawson, em vez de simplesmente abrir mão de Nate Robinson por nada. Então são oito de 11, estando apenas Golden State, Portland e San Antonio fora da brincadeira.

E agora temos novamente o Thunder se ouriçando. Depois de reforçar a segunda unidade com o talento de Waiters, está atrás de um pivô que lhe ofereceria uma dimensão totalmente diferente no jogo interno. Hoje, o time conta com Perk e Steven Adams, dois jogadores que seguram as pontas na defesa, mas não tiram o sono de ninguém na tábua de ataque. Lopez seria uma referência ofensiva inédita na era Durant-Westbrook: alguém que tem ótimo chute de média distância, mas tamém joga de costas para a cesta. Ocupa espaço no garrafão (podendo esbarrar com seus dois superastros, na hora que infiltrarem) e tem dificuldade para passar a bola. Para inserir um atleta desses no ataque, tende a demorar um pouco.

Foge do seu padrão, mas as oportunidades estão aí para serem aproveitadas. Pode ser que não dê em nada neste final de semana e que Lopez fique em Brooklyn. De qualquer forma, já diz muito o simples fato de Presti ter se e embrenhado em negociações. Está disposto, enfim, a assumir essa bronca, confiando que Scott Brooks daria um jeito e que a grande elevação no talento não só colocaria sua equipe entre os oito melhores, mas em condições muito mais favoráveis para buscar o título.

Nunca é demais lembrar que Durant e Wess vão se tornar agentes livres em 2016. Ainda que declarem amor ao clube publicamente, passar mais dois anos sem chegar lá poderia alterar um panorama hoje favorável para a renovação. Ir atrás de um pivô com o prestígio de Lopez seria um claro sinal de ambição, afastando a fama de sovinas. Mas essa é uma discussão para o futuro. Para hoje, temos uma central de rumores em polvorosa já, a mais de um mês do prazo para a realização das trocas nesta temporada.

Quem dá mais?