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Brasileiros do Warriors estavam prontos no Jogo 7. Mas e as finais?
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Giancarlo Giampietro

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Quando Steve Kerr se mostra disposto a iniciar com os reservas um quarto período de um jogo que pode resultar na eliminação e no fim da luta pelo bicampeonato, o recado para o elenco do Golden State Warriors é simples: estejam prontos. Uma hora pode ser que chegue a sua vez.

Na pedreira que foi a final do Oeste, os brasileiros do time californiano tiveram de se apegar a esse mantra. Tenha fé. Com o passar do duro confronto com o Oklahoma City Thunder, o técnico foi enxugando sua rotação, e os minutos de Leandrinho e Anderson Varejão ficaram mais escassos.

O ala foi para a quadra nos sete confrontos e teve 2,0 pontos, em 6,1 minutos, com 46,2% de aproveitamento em 1,9 chute. pivô participou das últimas seis partidas, mas foram apenas 21 minutos, ou 3,5 em média, com seis pontos e seis rebotes no total. Ele pôde tentar três arremessos e converteu dois deles.

Até que, num Jogo 7, mesmo depois de a tática dar errado na partida anterior, Kerr voltou a arriscar, ainda que numa posição mais confortável e com um certo ajuste. Bem, em vez de correr atrás do placar, o Warriors estava liderando por sete pontos. Além disso, o técnico procurou antecipar a entrada dos reservas. Em vez de abrir o quarto final, entraram para fechar o terceiro período no qual a equipe da casa estava esmagando o rival. Com 2min34s, Anderson Varejão foi para o lugar de Festus Ezeli. Menos de 20 segundos depois, Leandrinho substituiu Andre Iguodala.

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Acompanhando o jogo também por Twitter, a reação da mídia americana foi de surpresa geral. Que o treinador estaria ousando demais. Num instante, porém, foram obrigados a rir de si mesmos. A vantagem pulou de seis para 13 pontos, com sete anotados em sequência pelo quinteto alternativo de Kerr.

Varejão cavou uma falta ofensiva, fez uma bela bandeja e ainda deu duas assistências, sendo uma delas para Leandrinho. Isso não é coisa de outro mundo, claro. São jogadores de NBA, afinal, nã? Mas, para quem estava jogando e entregando tão pouco, foi como uma tempestade perfeita, mesmo.

O que dá para tirar de positivo dessa história é que Leandro e Anderson estavam prontos e animados para contribuir. Isto é, se comportaram como profissionais, sem se deixar levar pela frustração de ver alguns jogaços daqueles pelo banco, depois de terem vivido, os dois, grandes momentos pelos playoffs. Há coisa de seis, sete anos, que seja. Essa reação é parte da explicação para que a dupla esteja há tanto tempo na liga já — o ala desde 2003 e o pivô, 2004.

Se eles serão aproveitados durante a decisão contra o Cavs? Provavelmente não terão muitos minutos, não. Vai depender do andamento do confronto. Na cabeça de Kerr, o ideal é que Stephen Curry e Klay Thompson não beirem os 40 minutos de ação. Shaun Livingston não foi nada bem contra OKC. A brecha para Leandrinho vai vir daí. Ajuda muito o fato de o Cleveland não ter nenhum ala tão alto no perímetro em seu elenco de apoio. Pelo contrário. O ligeirinho costuma jogar ao lado de Iguodala e Livingston, que seriam os condutores de bola primários. Se as inserções de Iggy mudarem drasticamente, devido à missão LeBron, isso também poderia afetar a situação do companheiro.

Já Varejão vai ficar basicamente à espera das faltas de Andrew Bogut, Festus Ezeli e Draymond Green. Marreese Speights só vai interferir aqui se o Warriors estiver precisando de espaçamento no ataque. Também precisa ver qual o plano de Tyronn Lue. Mozgov será reativado? Ou ele vai manter sua rotação de pivôs com Love, Thompson, Frye e LeBron/Jefferson? Quanto mais alto o time, melhor. Para o capixaba, a ansiedade deve ser imensa, por razões óbvias. É uma revanche toda distorcida.

Sobre a situação inédita que vive o pivô: conforme vocês já devem ter lido umas 400 vezes já nesta terça, segundo pesquisa do salvador Elias Sports Bureau, o veterano é o primeiro a ter jogado na mesma temporada pelos dois finalistas da liga. Por isso, em tese, já pode ser considerado o primeiro campeão, antes mesmo de a bola subir nesta quinta-feira.

Varejão cava falta de ataque no Jogo 7. Passou confiança para Kerr?

Varejão cava falta de ataque no Jogo 7. Passou confiança para Kerr?

Mas não é exatamente assim. Pelo menos não por enquanto. Na eventualidade de o Cavs se vingar, o clube teria de decidir se presentearia seu ídolo (é tão recente a saída dele, que não dá nem para escrever “antigo” ou “ex”). O regulamento da liga não determina, nem sugere um caminho. Teria de ser um gesto de cortesia por parte do proprietário Dan Gilbert. Levando em conta o prestígio do veterano por lá, é de se supor que não se recusariam. Mas vai saber. Eles têm ainda uma série toda pela frente, e obviamente que o brasileiro preferiria ganhar um por conta própria, pelo que vai fazer agora, não pelo que fez até fevereiro.

Imagine, na próxima semana, quando voltar a Cleveland às vésperas do Jogo 3, o tanto de microfones que não estarão à sua frente. “Como foi entrar no vestiário de visitantes? Como é se ver novamente como adversário de LeBron? Gostaria de voltar ao clube? Ainda fala regularmente com os companheiros? Vai comemorar se fizer gol?”…

Em 12 anos de estadia na cidade, se tornou o jogador mais popular da franquia que não se chame LeBron. Fazendo as coisas que o Brasil, país em que a imagem do cestinha (ainda) é cultuada, demorou para apreciar. Do tipo: se atirar por cima da primeira fileira de cadeiras para resgatar uma bola, brigar desesperadamente por rebotes, correr a quadra feito um louco, e a cabeleira sacudindo, aceitar sacrificar o corpo para receber a carga de alguém de mais de 120kg. Por aí.

Após período vencedor em Cleveland, Varejão volta a ser oposição a LBJ

Após período vencedor em Cleveland, Varejão volta a ser oposição a LBJ

Quem não vai querer, sinceramente, contar com um jogador desses? O cara que não só está predisposto a fazer o serviço sujo, como faz isso muito bem.  Cavs concordou em lhe pagar mais de US$ 70 milhões em contratos.

Mas por que ele não está mais lá? Justamente por estes 12 anos se serviços prestados, que cobram seu preço. Outro preço, como as constantes lesões. Torções, fraturas, e por aí vamos. Quando LeBron retornou em 2014, trouxe Kevin Love de carona e ainda tinha um Tristan Thompson para agenciar. O brasileiro não teve nem tempo para se adaptar ao novo elenco. Em dezembro, sofreu uma ruptura no tendão de Aquiles que encerrou sua temporada.

Quando o Cavs, já com Timofey Mozgov no garrafão, se peparava para enfrentar o Warriors pelas finais, o pivô tinha esperança de ser liberado pelos médicos, mas foi convencido a se resguardar. Para a atual temporada, se apresentou em forma, mas não conseguiu entrar na rotação. Em fevereiro, então, foi envolvido em troca tripla, indo para Portland. Como eles dizem lá: nada pessoal, são apenas os negócios. Sua vaga foi assumida por Channing Frye, que deu boa contribuição nos playoffs e terá um papel relevante na revanche. Dificilmente poderíamos escrever o mesmo sobre Anderson se ele tivesse continuado no primeiro clube americano.

Como vimos, porém, Varejão também não vem sendo aproveitado em Oakland. A questão é ter paciência, aguardar o chamado e fazer o máximo, muito mais o que se viu pelo Jogo 7 do que no restante da série contra OKC, mesmo que em um minuto e meio. Para o torcedor do Cavs, certamente seria uma experiência bastante estranha.

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Bombardeio continua, e Warriors completa virada contra OKC
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Giancarlo Giampietro

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Você se mata na defesa. Faz uma dobra, vem a ajuda, e um terceiro atleta encontra um jeito de se aproximar e pressionar o adversário após mais um passe. Esse ciclo ia se repetindo a cada posse de bola. Se não houvesse interceptação nesse processo, era provável que saísse um chute de três pontos marcado. Mas esse chute caía. Sem parar. Os Splash Brothers e o ataque do Golden State Warriors voltaram a castigar os marcadores do Oklahoma City Thunder nesta segunda-feira, e os atuais campeões completaram uma inesquecível virada, agora com um triunfo por 96 a 88. Avançam à final da NBA para uma revanche contra o Cleveland Cavaliers.

De todos os 47 arremessos no perímetro interno que o time da casa tentou neste Jogo 7, só 20 foram certeiros (42,5%). Tamanha a intensidade, a coordenação, a capacidade atlética e a envergadura de seus oponentes. Quase não houve bandeja ou enterrada inconteste. OKC fez tudo o que a cartilha mandava e protegeu seu garrafão com ferocidade.

Mas Stephen Curry e Klay Thompson subvertem o jogo com seus disparos de longa distância. Para comandar a virada dentro da virada — a reação num jogão em que os oponentes voltaram a abrir diferença de dígitos duplos no placar –, os atiradores acertaram 13 bolas de três. No geral, lutando contra a eliminação, os dois converteram inacreditáveis 30 arremessos de fora. São 90 pontos neste fundamento. Sabe quantos todo o time do Thunder marcou nestes 96 minutos? Três vezes menos: 10. (No total, seu time acertou 17 de 37 tentativas exteriores, para 45,9%, contando só o jogo desta segunda.)

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E não é que tenham sido disparos completamente livres, gente. Tinha um Serge Ibaka pondo a mão na cara. Tinha um Kevin Durant correndo e saltando para tentar dar o toco. Seguidas vezes, e não importava. Trocando a marcação, fazendo o abafa em dupla, mudando estratégias e defensores. Billy Donovan tentou de tudo e não encontrou uma resposta eficaz. Talvez porque não houvesse, mesmo. Você joga com a matemática, mas os cálculos que funcionam para 99,9% das equipes não batem com aqueles propostos pelos astros do Warriors. Poucas foram fáceis com a última bomba, para demolir de vez as pretensões de um adversário que os levou às cordas:

Curry foi o cara do jogo, num desempenho adequado para uma campanha histórica. Foram 36 pontos e 8 assistências para ele em 40 minutos e 24 arremessos. Klay Thompson dessa vez parou nas seis bolas de três, marcando 21 pontos em 19 arremessos. Seu desempenho despencou em relação ao Jogo 6 (pudera…), mas o ala foi novamente muito importante para frear uma das típicas arrancadas do Thunder no segundo período da série, quando esquentou a mão depois de um primeiro quarto nulo.

Agora, para ao menos acalmar os mais tradicionalistas, naturalistas ou conservadores, não vamos aqui dizer que a quarta e derradeira vitória do Warriors se limitou apenas aos chutes de fora. Não foi um tiroteio. Muito pelo contrário. Foi um jogo duro, físico, enroscado, como o placar abaixo da marca centenária não deixa mentir. E os vencedores também se garantiram do outro lado, cuidando dos rebotes e da proteção de sua cesta mesmo que Andrew Bogut não tenha feito uma boa partida. Foi um esforço coletivo que levou os visitantes a apenas 38,2% de acerto nos arremessos como um todo e a 25,9% de três e que equiparou a disputa nas duas tábuas, concedendo vantagem mínima a OKC (47 a 46). Foram cinco jogadores com pelo menos cinco rebotes, liderados pelos nove de Draymond Green, e sete com pelo menos quatro. Para fechar, se o Warriors só marcou 34 pontos no garrafão de um lado, concedeu ainda menos do outro: 32.

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O terceiro período foi mais um grande exemplo de como Golden State pode ser um time opressor na defesa, uma tecla que tem de ser constantemente batida, até os céticos inveterados assimilarem. O Thunder acertiou apenas 5 de 19 arremessos nesta parcial e zerou em sete disparos de longa distância. A parcial foi vencida por 29 a 12, abrindo caminho para a vitória. Foi nos minutos finais desse período, aliás, que a dupla brasileira enfim conseguiu influenciar o confronto de modo bastante positivo o rumo do confronto. Com 2min34s, Anderson Varejão foi chamado para o lugar de Festus Ezeli. Menos de 20 segundos depois, Leandrinho substituiu Andre Iguodala. Os dois participaram ativamente de uma sequência de sete pontos sem resposta que levaram o placar de 6 para 13 pontos de vantagem.

Bogut estava mal, Draymond, pendurado com faltas e Ezeli, fugindo dos lances livres, enquanto Marreese Speights não era garantia nenhuma de rebote e defesa. Então Kerr chamou Varejão novamente, sem desistir do capixaba. O pivô respondeu com lances de seus bons tempos. Cavou uma falta na defesa. Atirou-se em quadra. E, de bônus, fez uma bela bandeja, partindo com a bola da cabeça do garrafão para finalizar sobre Enes Kanter e deu ainda duas assistências, sendo uma delas para Leandrinho. Os dois jogaram dois minutos apenas, mas roubaram a cena neste limitado tempo. Como fator mais importante, ajudou seu técnico a preservar alguns de seus protagonistas para a batalha que ainda viria no quarto período.

Aqueles que se limitaram a taxar a derrota de OKC pelo Jogo 6 como simples e tosca amarelada talvez possam rever o discurso. Como pode um time com nervos em frangalhos eliminar o Spurs e, depois de uma tremenda decepção, pressionar os atuais campeões até o limite menos de 48 horas depois? Durant e seus companheiros não se renderam e até mesmo tentaram uma reação nos três minutos finais que seria mais espetacular que a do Warriors na partida anterior. A defasagem era de 11 pontos de folga no placar, mas Durant, praticamente sozinho, baixou para quatro, forçando pedido de tempo de Kerr e muito nervosismo da torcida de Oakland. A 1min39s do fim, estava 90 a 86. Mesmo depois de receber instruções de seu treinador, os anfitriões se atrapalharam no ataque, e Draymond teve de mergulhar em quadra para evitar um turnover. Chamou mais um tempo, apenas 17 segundos depois. Aí, na reposição, Ibaka salvou os caras. Com a posse de bola por estourar, o pivô congolês fez uma falta de Curry quando o armador elevava para o arremesso de três. O MVP converteu todos eles.

Falta inegável, da pior maneira possível, mas de certa forma compreensível: não só Ibaka estava completamente fora de seu habitat como havia sido torturado por Curry nas últimas duas partidas, quando Golden State forçava a troca defensiva e deixava o grandalhão no mano a mano com um dos esportistas mais habilidosos do mundo. Essa mesma estratégia fez com que Billy Donovan abrisse mão de Steven Adams nos minutos decisivos, comprando a ideia de um duelo de ‘small ball’ (sendo que o Thunder nunca fica tão baixo assim) com a Ressurrecta Escalação da Morte de Kerr. Houve muitas críticas a respeito, como se a equipe visitante estivesse se adaptando e fugindo de suas principais características. Não dá para esquecer, porém, que o quinteto com Ibaka e Durant na linha de frente havia rendido muito bem até o Jogo 6 e que, oras, colaborou para esta mesma reação nos minutos finais. Não completaram a virada, mas assustaram os campeões uma última vez.

Ao final da partida, Russel Westbrook saiu em disparada para o vestiário sem cumprimentar ninguém, nem mesmo seus chapas. Já Durant se movimentou com calma e classe, abraçando Curry e o saudando, para, depois, abraçar seus companheiros, o gerente geral Sam Presti e até mesmo o proprietário do clube, Clay Bennett. Se foi de despedida, nós e todos os outros 29 clubes da NBA, incluindo o próprio Warriors, vamos ter de esperar para saber. Era a sombra que pairava sobre a equipe nesta temporada. Por ora, jura que não pensou no assunto. A diferença de postura de um astro para a do outro traduz bem seus estilos contrastantes, mas que elevaram o Thunder à condição de superpotência numa conferência absurdamente competitiva.

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Juntos, Durant e Wess aterrorizam qualquer defesa. Teria sido a saideira? Se foi, não de uma forma que os fãs do armador esperavam. O ala ficou em quadra por 46 minutos e ainda teve fôlego para apertar o jogo no final, fechando sua jornada com 27 pontos em 19 arremessos, além de sete pontos e três assistências. No primeiro tempo, o cestinha se esforçou admiravelmente em envolver os demais titulares da equipe no ataque, ciente das críticas que recebeu pelas besteiras que fez pelo Jogo 6. Tentou apenas cinco arremessos e anotou nove pontos antes do intervalo. Funcionou muito bem: cinco atletas tinham cinco ou mais pontos, e fazia todo o sentido: era como se estivesse preparando terreno para uma eventual explosão na segunda etapa. Só que a defesa do Warriors estava preparada e ainda decidida a ignorar os demais se fosse para atrapalhar os astros. KD dessa vez contra-atacou bem. O mesmo não pode ser dito de seu parceiro.

Westbrook jogou por 45 minutos e flertou com novo triple-double, com 19 pontos, 13 assistências e 7 rebotes. Foram poucos turnovers na sua conta (três), mas, no geral, o que dá para dizer é que ele voltou a se perder em quadra, com uma seleção de arremessos terrível e aproveitamento baixíssimo (33,3%, via 7-21). Na real, boa parte de seus chutes equivocados poderia ser considerada até mesmo como desperdício de bola, dada a improbabilidade do acerto. O craque falhou em controlar o tempo de jogo e se descontrolou na pior hora, no terceiro período, quando o Warriors ameaçava deslanchar. Com ele em quadra, sua equipe teve saldo negativo de 14 pontos. Seus números gerais na série foram de 26,7 pontos, 11,3 assistências, 7,0 rebotes e 39,5% nos arremessos, com 31,7% nos tiros de fora em 5,9 tentativas. Você põe aí os 8,7 lances livres, as 3,7 roubadas e os 4,4 turnovers, e tem um resumo absolutamente perfeito do que ele entrega e tira em quadra, negando a evolução que havia demonstrado durante a temporada.

Estamos falando de uma força da natureza, de um dos atletas mais incríveis do mundo, mas que ainda não encontrou a saída, um modo de controlar seus instintos, vá lá, mais selvagens em momentos mais críticos. A gana de vencer a qualquer custo aliada a seus atributos atléticos nos proporcionam um jogador de basquete único e dominante. O cara deve se sentir invencível. E se perde em arroubos. Perde também para Stephen Curry, que jamais vai tirar a respiração de ninguém por piques ou decolagens em quadra. O MVP, na verdade, prefere encantar, com seu drible manhoso que lhe tira de enrascadas e com seu arremesso espetacular. No decorrer do confronto, foi constantemente desrespeitado pelo seu oponente, que inclusive riu em coletiva quando jornalistas perguntavam se o ídolo do Warriors seria subestimado como defensor. Obviamente que isso tudo não passou despercebido. Muito pelo contrário…

Pelas entrevistas e sua postura em quadra, Westbrook parece ter certeza de sua superioridade neste hipotético duelo. Que, se fossem dois pistoleiros do Velho Oeste, não daria a menor chance ao desafiante. Pode até ser, embora, nas últimas três partidas, com três vitórias, Curry tenha dado boa resposta, com 32,6 pontos, 7,6 assistências, 7,3 rebotes e 16 chutes de fora. O que ele precisa entender é que os grandes talentos geralmente predominam em quadra, nos playoffs, mas quase nunca vão ganhar nada sozinhos. E, mesmo tendo um Kevin Durant ao seu lado, agora sem que estivesse atrapalhado por nenhuma lesão inoportuna, seu OKC fica pelo caminho, mesmo tendo três chances para fechar a série, enquanto o Warriors busca o bi.

Essa questão de desrespeito a Curry não é uma novidade, aliás, mesmo que escrever isso não pareça ter nenhum sentido. São vários os veteranos aposentados que dão voz a um grupo ainda aparentemente grande de críticos que não digerem bem o que Curry apronta. “Porque ele parece ter 12 anos”, respondeu Steve Kerr, na coletiva pós-jogo, dando de ombros. O descrédito ao genial armador também se estende ao time como um todo, aliás. Doc Rivers disse que eles tiveram sorte no ano passado rumo ao título, devido a lesões e eliminações inesperadas. As 73 vitórias desta temporada, recorde que vai demorar para ser incomodado, seriam fruto de uma liga esvaziada, sem o talento de 20, 30 ou sabe-se lá quantos anos atrás.

Agora que derrotaram Durant e Westbrook em uma virada marcante, pode ser que tenham um pouco de sossego. Para eles, essa percepção incomoda um pouco, mas não é nada que os atrapalhe em quadra. Eles seguem em frente e buscam o bicampeonato agora novamente contra os LeBrons. Cientes de que, se a coisa ficar feia, entre tantos recursos, têm justamente a arma que mais incomoda essa turma do contra — ou dos descrentes de suas habilidades, talvez seja o melhor termo. Que é essa capacidade de bombardeio que, contra o Thunder, fez toda a diferença.

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Vai ter Jogo 7. Como Durant e Westbrook vão responder?
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Giancarlo Giampietro

Durant e Westbrook: o último jogo da dupla em OKC? Ou só um deslize?

Durant e Westbrook: o último jogo da dupla em OKC? Ou só um deslize?

O Oklahoma City Thunder teve tudo para fechar a série. Agora, até chegar segunda-feira e o Jogo 7 das finais do Oeste, vai ter de conviver com a ameaça da autoflagelação.

O ginásio estava caótico, estridente. Os jogadores do Golden State Warriors tinham mãos inseguras, com exceção de Klay Thompson, consistente do início ao fim. Estavam mais uma vez vulneráveis. Mas desta vez não teve massacre — o máximo que abriu de vantagem foi de 13 pontos. O time da casa e sua infernal torcida não conseguiram degolar seu oponente na primeira chance que tiveram, tal como havia acontecido nas terceira e quarta partidas. O jogo se estendeu nervoso, então, com Thompson e, depois, Stephen Curry mantendo os atuais campeões a uma distância plenamente alcançável para os Splash Brothers, aqueles dos 70 pontos somados e 17 bolas de três convertidas.

A virada aconteceu, em mais um clássico instantâneo estrelado por essas duas equipes. A chamada “Escalação da Morte” de Golden State reviveu (é realmente um trocadilho irresistível, gente). Os caras mostraram do que são capazes, técnica, tática e mentalmente. Quando se confronta um desempenho desses com o colapso de Kevin Durant, Russell Westbrook e companheiros, a coisa fica muito feia para OKC.

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E aí qual o jargão que o torcedor brasileiro vai usar, então? Claro que é a famigerada “amarelada”. Acho curiosa essa mania. Do ponto de vista tupiniquim, parece não existir a possibilidade de falha. Se um atleta ou uma equipe perdem, só a tremedeira explica. Para quem viu o jogo, não dá para dizer que Durant e Westbrook se omitiram. O problema da duplinha é justamente o contrário: eles pecam por excesso. Não foi a primeira vez. Nem a segunda, se vocês me entendem.

Pode-se argumentar preconceito aqui?  Pois Curry e Thompson centralizaram o ataque do Warriors praticamente da mesma forma, com 52 de 87 arremessos (59,7%), contra 58 de 90 (64,4%). “Temos de viver com alguns arremessos malucos, alguns arremessos errados malucos, porque eles os fazem muito mais do que a média”, disse Steve Kerr, em defesa de seus cestinhas. A diferença é o modo como cada time ataca. Quando acossados, Durant e Wess não souberam jogar com o time e nem mesmo como parceiros. Voltou o bumba-meu-boi de cinco anos atrás, o ataque do cada um por si.


Segundo o departamento de estatísticas da ESPN, o Thunder teve 13 posses de bola nos últimos cinco minutos do jogo — o que a NBA considera oficialmente como “crunch time”. Sabe em quantos desses ataques o time da casa fez mais do que um passe? Em apenas UMA oportunidade. No quarto período como um todo, foram seis assistências para Golden State e nenhuma para Oklahoma City. Estarrecedor.

De tão talentosos e atléticos, aberrações ao seu modo, Durant e Westbrook estão acostumados a se impor contra qualquer mortal. Não tomam conhecimento dos marcadores e, ao mesmo tempo, também podem não reconhecer o que está rolando em quadra. Como ocorreu nesse quarto período desastroso.

A cinco minutos do fim, OKC tinha sete pontos de vantagem. Mas perdeu a partir dali por 19 a 5, quando os dois All-Stars fizeram 12 pontos juntos, erraram 11 de 14 arremessos e ainda cometeram cometeram todos os 6 turnovers da equipe. Não dá para ficar muito mais grave que isso. Klay Thompson, sozinho, teve 19 pontos, 6-9 nos chutes, perdendo a bola apenas duas vezes.

Em sua coletiva, então, Westbrook foi obrigado a engolir o riso, ou gargalhada até, das últimas sessões de perguntas e respostas. Se antes fazia questão de manifestar seu desdém até pelo MVP dos últimos dois campeonatos, nesta madrugada só lhe restou a fala monossilábica e o murmúrio.

Westbrook provocou bastante. Agora tem um Jogo 7 para encarar Curry novamente

Westbrook provocou bastante. Agora tem um Jogo 7 para encarar Curry novamente

Está certo que não foi Curry seu principal marcador primário. Thompson foi quem o perseguiu mais vezes. (Mas a verdade, comprovada pelos números, é que, diante do armador do Warriors, Wess não teve tanto sucesso assim quanto supunha, a despeito do placar geral da série.) E não foi só um defensor que cuidou do cara.

Se alguém quiser rever a partida, reparem o tanto de armadilhas que os campeões armaram. Se passava pela primeira linha defensiva, Andrew Bogut não fazia questão nenhuma de se aproximar. Wess se via então com espaço para chutar. Foi o que fez, com uma infinidade de tiros em flutuação. Ponto para Golden State, que não o deixava chegar ao aro. Além disso, nos dois minutos finais, com o Warriors já à frente, o armador se perdeu numa torrente. Se nos confrontos anteriores, o jogo corrido estava favorecendo totalmente OKC, a coisa virou na pior hora. Draymond Green se redimiu de diversas bobagens e forçou dois turnovers de Russell. Dois dos quatro que ele cometeu nesse curto intervalo.

Acontece que Durant nem pôde reclamar muito, já que também falhou muito. Com mais de 2,10m (Dwight Howard jura que se trata de um ‘seven footer’, de 2,13m), o ala pode chutar por cima de qualquer defensor de perímetro da liga. Um recurso vital para que seja esse cestinha. Mas não o único, claro. Tem sua mecânica rápida, sua habilidade no drible superior à de Klay, sua agilidade etc. Iguodala, todavia, e Harrison Barnes fizeram o que podiam para atrapalhá-lo, contando também com seu desgaste, forçado também pelo empenho louvável que vem tendo na defesa. A última cesta de quadra de KD saiu a 5min09s do fim, depois de recuperar a bola ao ser desarmado pelas mãos ágeis de Iggy. Se foi o seu último jogo pela equipe em Oklahoma, foi a pior despedida possível.

A sucessão de erros levou a dupla de estrelas ao descontrole. Pela primeira vez desde o Jogo 2, então, o Warriors virou o agressor em quadra, levando a melhor até mesmo em transição depois de forçar os turnovers. Foi uma inversão do que havia acontecido na última visita a OKC. Vejam esta cena aqui:

Em uma rara investida em que houve interatividade entre os dois astros locais. Durant fez o corta-luz para Westbrook. O problema é que isso deixou o armador com Iguodala… Que roubou a bola.Como bom passador,  tinha duas excelentes opções: Thompson pela direita, Curry pela esquerda. Na retaguarda, Durant, sozinho, vai fazer o quê? Ficou dividido e chegou atrasado para contestar o 11o chute certeiro de Thompson no perímetro. Splash. Foi uma ação (errada) e uma reação (inclemente), para deixar o Warriors três pontos à frente.

Na bola seguinte, ao menos OKC fez uma jogada com corta-luz fora da bola para KD. O ala se afobou, no entanto, em seu movimento e subiu para o chute com Iguodala pronto para contestar. Por aí fomos. Foi uma decisão equivocada sucedida por outra.

Na hora de dissecar a partida, Billy Donovan vai sofrer. Seu discurso no ano todo era o de que o time precisava de paciência, de movimento e, acima de tudo, confiança mútua. Nada disso aconteceu no momento em que seus atletas passaram por dificuldade. Serge Ibaka anotou 12 pontos no primeiro tempo e só um no segundo. Dion Waiters anotou três pontos em 36 minutos. Não teve pick-and-roll com Steven Adams ou Andre Roberson. Enes Kanter era o mais produtivo, mas não teria ninguém para marcar do outro lado. Como o velho Thunder.

O time vai ser capaz de superar isso? O que pesa mais: o ressurgimento desse trauma do passado ou a memória bem mais positiva do início da semana? Ainda tem um jogo pela frente, em que pese a enorme decepção pelo que aconteceu em casa. Ao rever com o elenco o que se passou nos últimos cinco, seis minutos desse histórico Jogo 6, é provável que seu técnico nem precise dizer muita coisa. Durant e Westbrook já ouviram essa fita trezentas vezes. Como vão reagir é o que mais importa. A dupla tem todas as ferramentas para vencer mais uma em Oakland. Resta saber se vão tentar do jeito mais fácil ou do mais difícil.

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Klay Thompson e o Warriors deixam OKC em desespero
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Giancarlo Giampietro

Klay fez mais pontos que Durant e todo o OKC no quarto período

Klay fez mais pontos que Durant e todo o OKC no quarto período

Andrew Bogut saiu exausto de quadra, sem conseguir combater Steven Adams desta vez. Faltam seis minutos, e o Oklahoma City Thunder vencia por seis pontos também. Pouco depois, Draymond Green cometeria sua quinta falta, nesses rompantes dele. Situação delicada para Steve Kerr. Na hora de encerrar ou prolongar sua temporada, o técnico do Golden State Warriors então decidiu ativar sua badalada “Escalação da Morte”, que não vinha sendo efetiva na série. Talvez fizesse todo sentido, mesmo. É a marca registrada do time. Era viver ou morrer com eles, de todo modo.

Eles sobreviveram. O quinteto composto por Steph Curry, Klay Thompson, Andre Iguodala, Harrison Barnes e Draymond Green venceu esta última parcial por 21 a 8 e conseguiu uma virada histórica, por uma vitória por 108 a 101 em OKC, para forçar o Jogo 7 em Oakland, segunda-feira.

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Os Splash Brothers somaram 70 pontos, ou absurdos 64,8% do total da equipe. O show dessa vez ficou por conta de Klay, que teve um desempenho digno de Hall da Fama ao anotar 41 pontos em 30 arremessos e 39 minutos. Nesse processo de fritura, também quebrou o recorde de bolas de três dos playoffs, encaçapando 11 tentativas. Fez mais chutes de fora do que Kevin Durant e Russell Westbrook no geral. Sozinho, o ala também fez mais pontos que o Thunder em todo o quarto período: 19 a 18 (risos). Veja todas as suas cestas de longe:

Ele não fiou satisfeito, claro. “Poderiam ter sido pelo menos 13, já que errei alguns chutes completamente livre”, disse o ala.  Steve Kerr achou tudo isso bobagem: “O que ele fez foi ridículo, uma das melhores atuações arremessando a bola já vistas”, afirmou o técnico, que sabe uma coisa ou outra do fundamento. 

Depois de um primeiro quarto hesitante, nervoso, Curry foi entrando aos poucos no jogo e terminou com 29 pontos – que devem virar 31 pontos, com uma correção dos mesários –, 10 rebotes e 9 assistências, em 41 minutos. Antes da tempestade Thompson, ele manteve o time vivo no duelo com um terceiro período. E o placar de três pontos da noite foi o seguinte: GSW com 47,7% (21-43), OKC com 13% (3-23). Saldo de 54 pontos para os californianos. É viver e vencer com os Splash Brothers.

Mas não foi só de splash que o Warriors viveu. A defesa também apareceu e permitiu ao poderoso sistema ofensivo dos anfitriões apenas quatro pontos nos últimos 4min48s, liderada pelo eternamente subestimado Iguodala. O cara é o atual MVP das finais, mas a gente pode esquecer facilmente o quanto ele joga. O veterano desarmou, sem ajuda nenhuma, Durant e Westbrook em posses de bola nos últimos três minutos. Fez um trabalho fantástico contra KD no geral, ajudando a limitar o cestinha a 29 pontos.

Opa, peraí: o cara fez os mesmos 29 pontos de Curry, e foi pouco? É que o que contou mais aqui foram os 21 arremessos errados por Durant, oito a mais que o armador. Westbrook também teve dificuldade para fazer cestas. Foram 28 pontos em 27 arremessos, com 17 falhas. Ele somou 11 assistências e 9 rebotes, mas também cometeu cinco turnovers em 43 minutos. E quer saber? Quatro desses desperdícios de bola aconteceram nos últimos dois minutos. O pior de Wess voltou a aparecer na pior hora.

Tudo isso configura uma crueldade, na real, já que pode ter sido o último jogo de Durant como atleta do OKC. Por mais que tenha errado na mira e que Barkley e Shaq já o tenham detonado no intervalo, é preciso entender o contexto. O ala talvez nunca tenha se esforçado tanto na defesa também (com muito sucesso, registre-se), e isso vai interferir do outro lado. O mesmo vale para Curry, aliás, que vem fazendo bom papel contra Westbrook na série. Só nesta partida especificamente que não ficou muito tempo como responsável pela contenção do cara.

Um clássico

Um clássico

Não dá para ignorar que esses números todos foram produzidos num jogo tenso demais. Ou eletrizante. Pode escolher seu adjetivo preferido. Os visitantes fizeram um primeiro tempo fraco, no qual a bola parecia estar pegando fogo (no mau sentido, digo). Cometeram nove turnovers, não acertaram 37% se seus arremessos e ainda viam Curry contido, errando até mesmo dois lances livres seguidos (algo que só havia acontecido duas vezes em toda a temporada). Que tenham ido para o intervalo com apenas cinco pontos de desvantagem, foi praticamente uma vitória. Bem diferente do cenário de terra arrasada dos Jogos 3 e 4. A impressão que fica é que OKC deixou sua grande chance escapar aí. Golden State ao menos compensou com defesa e rebote, vencendo essa disputa. Aí, no segundo tempo, os Splash Brothers fizeram mágica.

Foi uma partidaça. Só temos a agradecer a Warriors e Thunder. Quem se lembra daquele jogo de temporada regular, em fevereiro, por acaso?  Com reação de Golden State novamente e bomba do meio da quadra com Curry?  Foi um clássico instantâneo, obviamente. Mas o que dizer deste Jogo 6, então?

Agora que segunda-feira chegue o quanto antes. A dúvida fica toda direcionada para o emocional de OKC. Deve doer demais essa derrota, e eles têm 48 horas para se recompor. O Warriors já deu sua resposta e mostrou do que seu elenco é feito, com uma formação mortal sem pivôs tradicionais, com seus arremessadores incríveis e uma determinação, um senso de urgência impressionantes. Jogaram como campeões. Aquela confiança, aquele status que são tudo o que Durant e Westbrook buscam.

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Com reservas, Kerr dá cartada de Jackson e Popovich em momento crítico
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Giancarlo Giampietro

Barnes era o único titular em quadra em arrancada pelo quarto período

Barnes era o único titular em quadra em arrancada pelo quarto período

Os astros de Oklahoma City não estavam tão bem assim, mas a vantagem do Golden State Warriors era de apenas quatro pontos ao final do terceiro período. Quando Steve Kerr terminou de conversar com seu grupo, antes dos 12 minutos que poderiam ser os últimos de uma temporada já histórica.

Daí que mesmo o torcedor mais fanático de Oakland pode ter engasgado quando viu o quinteto que o treinador havia mandado para quadra: Shaun Livingston, Andre Iguodala, Harrison Barnes e Marreese Speights faziam companhia ao brasileiro Leandrinho. Nada de Steph Curry, Klay Thompson ou Draymond Green. Barnes, um fracasso durante a série, era o único titular presente.

Kerr havia pirado?

Não, só havia seguido uma página de tantas lições que anotou nos tempos de jogador de Phil Jackson e Gregg Popovich, dois dos treinadores mais vitoriosos da NBA. Talvez tivesse se lembrado até mesmo daquela noite de 3 de junho de 2003, quando ele estava do outro lado: como um jogador sentado na ponta do banco, mais como espectador.

Quando o San Antonio Spurs se viu em situação complicada pelo Jogo 6 da final do Oeste de 13 anos atrás, Gregg Popovich recorreu ao veterano tetracampeão da liga. O Dallas Mavericks vencia por 13 pontos. Fez a diferença com seus chutes de três e viu o Spurs reagir e acabar com a série para ir à final da liga e conquistar o quinto título de sua carreira.

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Assim relatou a Associated Press: “Steve Kerr foi um homem esquecido pela maior parte dos playoffs. ‘Tenho 37 anos. Sou lento. Não sou um defensor muito bom’, disse Kerr, explicando por que o técnico o havia mantido na ponta do banco. Kerr entrou no jogo com apenas 17 minutos pelas finais e um total de zero cestas.”

Tony Parker estava doente. Speedy Claxton não estava jogando bem. Pop recorreu a Kerr e disse para que o veterano chutasse sem dó. Foi um bombardeio, no qual acertou quatro bolas de longa distância, somando 12 pontos em 13 minutos. “Foi só atirar para cima para ver o que acontecia. Esta é uma das melhores noites da minha carreira, bem ao lado de tudo o que aconteceu em Chicago”, disse, pouco antes de se aposentar.

Numa série de playoff, cabe às comissões técnicas reagirem rapidamente, em menos de 48 horas, para tentar ajudar seus atletas. Encontrarem respostas, os chamados ajustes. No caso do Warriors, era pela sobrevivência pela final do Oeste.

Dente tantas opções discutidas e executadas, um maior papel para a segunda unidade foi surpreendente, quando nem mesmo seus All-Stars estavam conseguindo resistir ao poderio atlético e defensivo de OKC. Então não dava para segurar ao menos Thompson como referência ofensiva no lugar de Barnes? Kerr entendeu que não. Que precisava dar um descanso maior aos seus principais atletas e ao mesmo tempo tentar ganhar algo de novo.

Não dá para saber se o Mestre Zen ou Pop fariam o mesmo, nessa situação específica. Mas suponho que tenham ficado no mínimo positivamente surpresos pela coragem de seu antigo discípulo, para não dizer orgulhosos, depois do que se passou em quadra.

O time com Leandrinho e mais três reservas anotou oiro pontos em sequência. Quando o brasileiro foi substituído a 9min01s do fim, dando enfim lugar a Thompson, a vantagem era de dez pontos. Levou mais um minuto para que Curry e Draymond voltassem, no lugar de Livingston e Barnes, e aí eles tinham de proteger uma liderança de 12 pontos (95 a 83). Isso mostrou confiança de Kerr em seu sistema, mesmo enfrentando tanta dificuldade na série contra um adversário que vem causando muito desconforto.

“Se o sistema dos triângulos estivesse funcionando, o Tex (Winter, mentor, amigo, guru) costumava dizer que a equipe deveria jogar junto, como se fossem os cinco dedos da mão. Nos primeiros anos, eu usava uma rotação de dez jogadores, sendo cinco titulares e cinco reservas, para garantir que os suplentes tivessem tempo suficiente para entrar em sintonia com o resto da equipe. Na reta final da temporada, eu reduzia a rotação para sete ou oito jogadores, mas tentava usar outros reservas sempre que possível. Às vezes os reservas podem ter um impacto surpreendente”, escreveu Jackson em seu último livro, “Onze Anéis”.

O torcedor do Bulls vai se lembrar sobre como Phil, se descontente ou inquieto, não hesitava em mandar para o jogo um quinteto como John Paxson, Trent Tucker, Scottie Pippen, Scott Williams e Stacey King, segurando-os até que Jordan desse uma boa respirada.

Popovich já foi muito mais drástico, e não faltam casos nesta era dourada interminável de San Antonio em que o técnico apostou/prestigiou/premiou quintetos alternativos. Quantos não foram os jogos em que os reservas do Spurs conseguiram uma reação improvável, encostaram no placar e, quando todo mundo poderia supor que a cavalaria retornaria, o técnico mantinha os Cory Josephs e Beno Urihs em quadra?

Na sua cabeça, servia não só como lição para os titulares, por estarem ‘fazendo o certo’, como também dava rodagem e confiança a atletas que eventualmente seriam exigidos em situação de pressão nos playoffs.

“Um dos trabalhos mais difíceis de um treinador é impedir que os operários enfraqueçam a química da equipe. O técnico Casey Stengel, do New York Yankees, costumava dizer: ‘O segredo é manter os caras que te odeiam longe daqueles que estão indecisos’. No basquete geralmente quem te odeia são aqueles que não estão recebendo tanto tempo de quadra como acham que mereciam. Tendo sido um reserva, sei o quanto grave pode ser se você está definhando no banco durante um jogo crucial. Minha estratégia era manter o pessoal do banco o mais engajado possível”, escreveu Jackson.

É um desafio, mesmo, que vale também para Billy Donovan com o Thunder. Na derrota desta quarta-feira, Dion Waiters saiu zerado, Enes Kanter fez apenas um pontinho em seis minutos, mas I técnico ao menos ‘ganhou’ um empolgado Anthony Morrow, que acertou todos os seus quatro arremessos e terminou com 10 pontos em sete minutos.

Para OKC, porém, é sabido que Durant e Westbrook vão concentrar a pontuação. Pelo Golden State, porém, a despeito da capacidade incrível de chute de Curry e Thompson têm, uma distribuição mais igualitária sempre foi vista como ideal. Tanto que na temporada regular nenhum titular de Kerr teve mais de 35 minutos em média.

Em entrevista a Sekou Smith, do NBA.com, Klay Thompson exagerou e disse que os reservas  teriam nível para formar um time de playoff até. “Há várias noites em que os titulares não estão produzindo, e nossa segunda unidade é boa o bastante para reagir. Eles são bons o bastante para ir aos playoffs para mim”, afirmou. Em Washington, depois de o Wizards fazer duas partidas equilibradas com o Warriors, John Wall deu o braço a torcer e afirmou que “esta segunda unidade pode te matar”. Nesta final de conferência, todavia, não estava rolando. “Não estávamos conseguindo render na série”,  disse Speights, cestinha da segunda unidade com 14 pontos. “Mas fomos bem desta vez e agora temos muito dessa confiança para o próximo jogo.”

Os astros comemorando no banco feito torcedores

Os astros comemorando no banco feito torcedores

Que Speights esteja se sentindo bem, é uma ótima cartada para Kerr, para espaçamento de quadra ou ataque dentro do garrafão. Entre os demais suplentes, pensando no Jogo 6, o técnico poderia encontrar uma forma de reativar Shaun Livingston, que até agora só anotou 22 pontos e 11 assistências em cinco partidas, acertando 39,2% dos arremessos. O mais importante é que, se forem utilizados novamente, que rendam bem como grupo, a começar pela defesa. Se Enes Kanter estiver em quadra, melhor. Poderiam correr mais.

E quanto aos brasileiros? Bem, foi o que o chapa Renan Prates perguntou durante a vitória desta quarta. Leandrinho saiu zerado em sete minutos, mas fez boa partida, dando energia à equipe, especialmente na defesa. Esforço sempre bem-vindo por parte de um atleta que fez carreira na liga muito mais pelo talento como cestinha. Não por acaso, o único registro estatístico feito em seu nome foi o de duas roubadas de bola. Do ponto de vista do ligeirinho, o importante foi ter jogado quando havia partida ainda por ser disputada.

Quanto a Anderson Varejão, a situação é a mesma de Cleveland. Complicada e para Ruben Magnano refletir. Seria injusto avaliá-lo em seus minutos limitados. Em Oakland, o pivô capixaba foi o único jogador do Warriors que saiu de quadra com saldo negativo. Kerr tinha esperança de que o veterano, de carreira excelente, seria útil, valioso no garrafão. A resposta até agora ficou aquém do que diretoria e técnicos imaginavam. Difícil que seja acionado novamente, até pelo cenário ainda crítico.

O Warriors está numa final de conferência, lutando contra a eliminação. Kerr chamou a galera do banco, assumiu riscos. No início do quarto período, teve sucesso, por três minutinhos, conseguindo uma vantagem que fez a diferença. Ao contrário do que aconteceu há 13 anos, quando o Spurs contou com um veterano enferrujado para fechar a série, a equipe californiana ainda precisa de mais duas vitórias. Não é sempre que os reservas vão conseguir encarar um quinteto que tenha Durant como adversário. Ainda mais fora de casa.

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Warriors faz o jogo sujo com Bogut para sobreviver na final do Oeste
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Giancarlo Giampietro

Stephen Curry foi aquele que finalizou o serviço, não sem o Oklahoma City Thunder incomodar e assustar mais uma vez — ah, se aquele arremesso de Kevin Durant caísse…

Mas não caiu. E aí a imagem que ficou foi a dos gritos do armador do Golden State Warriors para a sua torcida, avisando que eles não estavam prontos para voltar para casa. Depois de sucessivos malabarismos com a bola. Manobras perigosas no drible em meio aos braços enormes de seus oponentes, mas que, ufa, resultaram em bandejas com o aro escancarado, em vez de turnovers.

Curry provou que é muito mais que um mero (?) chutador, e terminou com 31 pontos em 20 arremessos e 37 minutos e comandou a vitória sofrida pela sobrevivência dos atuais campeões. Vamos ao Jogo 6, sábado. A bola agora está com OKC.

Antes das estripolias do bi-MVP, o que teve de fundamental para o Warriors foi a briga ali embaixo do aro, a de quem faria melhor o serviço sujo e prepararia o terreno para os astros brilharem e ganharem suas manchetes. Dessa vez, Andrew Bogut conseguiu, enfim, fazer se notar seu corpanzil. “Ele foi fenomenal”, disse Steve Kerr. “Pegou os rebotes, pontuou, foi agressivo. Foi fantástico. Pegou 14 rebotes, e obviamente a questão do rebote tem sido um problema para todos que enfrentam Oklahoma City.”

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Sim, o gigante australiano apanhou 14 rebotes, tão relevantes quanto os 15 pontos que anotou, um recorde pessoal em jogos de playoffs, acreditem. Além disso, deu dois tocos e conseguiu três roubadas. Ainda assim, talvez o número mais relevante de sua linha estatística tenha sido o de faltas: apenas três, atendendo a uma cobrança prévia de seu técnico. Se continuasse cometendo faltas sem parar, o pivô não pararia em quadra. Dessa vez, conseguiu se aproximar dos 30 minutos. Antes sua média estava em 13 minutos por rodada.

Bogut deu as caras

Bogut deu as caras

“Quando ele está jogando, melhoramos no rebote e ganhamos um passador a partir do garrafão. Queremos jogar mais com Bogut, mas ele precisa ficar em quadra”, clamou Kerr. O pivô atendeu. “Tive quatro jogos de lixo, então tentei ao menos fazer uma boa quinta partida.  Não queria que a temporada terminasse nesta noite”, afirmou Bogut, que adora a autodepreciação. Coisa rara nesses dias.

Sozinho, o australiano não daria conta de trombar com Steven Adams, Serge Ibaka ou Enes Kanter. Draymond Green, ainda desequilibrado no ataque e flertando com uma suspensão (basta mais uma falta flagrante 2 ou mais duas técnicas) se juntou ao combate. Com 13 rebotes e quatro tocos, cuidou daquelas coisas que primeiro lhe garantiram um emprego na NBA e minutos nesse timaço de Oakland, muito antes dos constantes triple-doubles e arremessos de três pontos. Terminou com 11 pontos em 10 arremessos.

No geral, o placar de rebotes terminou com 45 a 45. Adams e Ibaka somaram 18, mas a força atlética de OKC deu um jeito de compensar: Durant, Westbrook e Roberson somaram 20. Para o Warriors, de qualquer forma, esse empate já vale como uma vitória. Até então, a vantagem do Thunder nesse fundamento era impressionante: 196 a 167. Dividido por quatro partidas, era uma média de mais de 7,0.

Quem também contribuiu nessa batalha interna foi Marreese Speights, mas do outro lado da quadra, com 14 pontos. Se o seu repertório tem se limitado cada vez mais a chutes de média para longa distância, neste Jogo 5 ele atacou a zona pintada e pôs pressão na defesa de OKC, pouco incomodada ali dentro até então. Juntos, Bogut, Draymond e Speights somaram 40 pontos e 29 rebotes. Em pontos no garrafão, a vantagem foi enorme também: 48 a 30.

E claro que na NBA de 2016 essa coisa de pontuar perto da tabela não se restringe aos grandalhões, por mais que os nove rebotes ofensivos de Bogut e Draymond tenham ajudado. O maior volume de cestas do Warriors ali veio com Steph Curry, desfilando para bandejinhas. De seus 31 pontos, dessa vez só nove vieram em chutes de fora. Acreditem. Mesmo Klay Thompson foi machucar a defesa de OKC um pouco mais perto da cesta. Para o ala, apenas 6 de 27 pontos saíram em bolas de longa distância. Interessante.

Curry fez splash mais de pertinho pelo Jogo 5

Curry fez splash mais de pertinho pelo Jogo 5

Agora, estamos aqui enumerando alguns fatores positivos e surpreendentes a favor do Warriors, e, para quem não viu o jogo e nem foi ao Google para checar o placar, pode passar a impressão de que foi uma surra. Não foi (120 a 111). Só acabou quando terminou, mesmo, com o Thunder lutando até mesmo quando o time da casa tinha vantagem de 11 pontos (114 a 103) a 55 segundos do fim.

A torcida já fazia festa, os jogadores perderam um tico de concentração, e isso não se faz quando dois cestinhas amedrontadores como Durant e Westbrook são seus oponentes.  Harrison Barnes, numa série pavorosa, cometeu uma falta ao contestar um chute exterior de KD. Caíram os três. Aí Curry se atrapalhou e foi desarmado por Wess. Cesta e falta de Klay. E o que o furacão de OKC fez? Atirou a bola com força no bico do aro, confiante para apanhar o rebote ofensivo. Aberração que é, naturalmente conseguiu, e o placar era de 114 a 108.  Aí Durant teve a chance de fazer uma cesta se três, live, e não conseguiu, quando o relógio marcava 35 segundos. Se tivesse sucesso, a diferença se reduziria a uma posse de bola. Imagine o soluço coletivo num ginásio bastante barulhento.

Os dois All-Stars do Thunder combinaram para 71 pontos, 14 rebotes e 12 assistências. Só não tiveram a jornada mais eficiente em meio a tanto volume de jogo, errando 36 de 59 arremessos (38,9%). Westbrook cometeu ainda sete turnovers, numa jornada desastrosa até o quarto final. Dessa vez, porém, Roberson foi Roberson no ataque (6 pontos em 34 minutos) e Dion Waiters evaporou (zerado em 27 minutos e quatro arremessos). Serge Ibaka, por outro lado, teve uma noite inspirada nos chutes de longe, com 13 pontos em 10 tentativas de mecânica idêntica, no piloto automático até.

Então temos isso. Num jogo em que muita coisa aconteceu a favor do Warriors, os caras ainda tiveram muita dificuldade. Não conseguiram devolver na mesma moeda, e OKC ainda mandou seu recado no final. Por outro lado, para quem não queria ir embora para casa de jeito nenhum, até uma vitória por meio ponto valeria. Só precisavam sobreviver.

Desde a virada em 2012 contra o Spurs que não víamos o Thunder com tanta confiança, firmeza em quadra. Eles acreditam que são o melhor time e mentalmente parecem prontos para o Jogo 6. A ver. Se a pressão não arrastar Durant e Westbrook com força, Golden State vai ter de se desdobrar no sábado para forçar a sétima partida em Oakland. Vão precisar dos cotovelos de Bogut, dos tiros de fora de Curry e muito mais.

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Por que o time de 73 vitórias está a uma derrota da eliminação?
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Giancarlo Giampietro

Durant surge como força defensiva em escalações (nada) pequenas de OKC

Durant, de quase 2,13m, surge como força defensiva em escalações (nada) pequenas de OKC. Enquanto isso, Draymond entra em crise

Nesta terça-feira, pela primeira vez na temporada, o Golden State Warriors perdeu duas partidas seguidas, se vendo em desvantagem de 3 a 1 contra o Oklahoma City Thunder, pela final da Conferência Oeste. O que quer dizer que o  time recordista de 73 vitórias, atual campeão, está a apenas uma derrota da eliminação. Como chegamos até aqui? Após quatro jogos, com desfecho de certa forma surpreendente, dá para fazer uma boa lista. Seguem sete destes fatores:

1) Este não é o mesmo OKC da temporada regular
Acontece. LeBron James sabe muito bem disso, assim como Tim Duncan e Shaquille O’Neal. Todos esses superastros já participaram de grandes equipes que, ao iniciar sua longa jornada em outubro, estavam cientes de que o que valeria, mesmo, seria aquilo que se apresentasse a partir de abril. Nessa linha, as famosas “rodeo trips” do Spurs acabaram se tornando um símbolo deste longevo período vencedor da franquia. Era quando seu ginásio era fechado para as esporas de verdade fazerem uma bagunça, forçando que o time de Gregg Popovich caísse na estrada, já na reta final de temporada, servindo geralmente como um marco na campanha, ligando o turbo.

Nas últimas duas semanas, os rapazes do Thunder estão com seis vitórias e uma derrota, tendo enfrentado nada menos que Golden State Warriors e San Antonio Spurs, os melhores times da temporada. Conseguiram uma vitória em Oakland e duas em San Antonio, cidades que, durante 82 partidas pelo campeonato, viram suas equipes saírem derrotadas de quadra em apenas três ocasiões.Vai dizer que não é uma surpresa?

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Em termos, sim. Ninguém questiona o talento de Kevin Durant e Russell Westbrook. Na maioria dos confrontos, a equipe teria em quadra pelo menos dois dos três melhores jogadores. Com estes dois no elenco, deveriam ser incluídos obviamente em qualquer lista de candidatos ao título. O que pega é que, no início da campanha – ou até mesmo na chegada aos playoffs –, havia dúvidas quanto aos atletas que o cercavam. Além disso, havia a inconsistência, como o próprio Durant reclamava. Estamos falando ainda de um time que perdeu 27 vezes no campeonato, três a mais do que Warriors e Spurs juntos. Que não se colocou nem mesmo entre as 12 melhores defesas da liga. E que agora virou um rolo compressor.

Neste Jogo 3, eles somaram 16 roubos de bola e 8 tocos. Também venceram a disputa de rebotes por 56 a 40 (isso aqui está de acordo com o normal, por terem dominado a estatística durante toda a jornada). Isso joga muita pressão para cima dos oponentes e, assim como aconteceu com o Spurs, em determinados momentos parece que os jogadores do Warriors estão receosos de atacar, de buscar a cesta, intimidados. Podemos falar de um desgaste mental por parte de Golden State, que é dessas coisas muito difíceis de se quantificar. Mas não dá para tirar o papel de seus oponentes nessa equação. Neste vídeo do Coach Nick, do Basketball Breakdown, vemos alguns lances estranhos dos caras:

2) A aclimatação de Billy Donovan
No caso do Thunder, parece claro não estava planejado que isso acontecesse. Digo, não é que eles tenham entrado relaxados nos primeiros meses de campanha, confiantes de que, chegada a hora mais importante, elevariam seu jogo. Os caras nunca haviam ganhado nada para se permitir esse comportamento. Pelo contrário: se as coisas saíssem mal, isso poderia resultar na despedida de Durant – uma sombra que pairou pelo vestiário o tempo todo, aliás, e pode ajudar a explicar seus tropeços. Por melhor que fosse seu elenco, em uma situação de pressão dessas, o técnico Billy Donovan também não poderia se dar ao luxo, em seu ano de estreia na liga, de dosar esforços, poupar atletas e esconder o jogo para os playoffs. (O torcedor dos Gators, porém, pode argumentar que, entre os moleques, o técnico tinha a fama de fazer suas equipes crescerem nos mata-matas. Então vai saber.)

O fato de Donovan ser um, hã, calouro de NBA pode ajudar a entender esta ascensão, de todo modo. Bicampeão universitário, o técnico tem currículo que não pode ser questionado. Sob sua supervisão, o programa do Florida Gators enviou 19 atletas para a grande liga, sendo que dez ainda estão em atividade. Agora, entre o basquete universitário e o profissional, há uma grande diferença. Por isso, em seu estafe estão dois antigos “head coaches” como Maurice Cheeks e Monty Williams. Precisava de ajuda, mesmo, pois essa transição pede um ajuste para qualquer cabeça basqueteira, mesmo a de um vencedor como esse. E aí vale lembrar que, durante a campanha, Cheeks ficou longe por um mês e meio, devido a uma cirurgia no quadril, enquanto Williams se afastou do time depois de perder a mulher em um acidente de carro. Foi um período obviamente muito difícil, no qual um irmão de Dion Waiters e um dos proprietários do clube também morreram, mas no qual o poder de liderança do treinador se manifestou e se fortaleceu.

O treinador vem fazendo agora um trabalho excepcional contra os gigantes da liga e concorrentes formidáveis como Gregg Popovich e Steve Kerr. Peguem a situação de Enes Kanter, por exemplo. O pivô turco foi fundamental no triunfo sobre o Spurs e recebeu 26,3 minutos em média nas últimas três partidas da série, ajudando a equipe a dominar o garrafão. Contra o Warriors, o que Donovan decidiu? Optar por uma formação mais baixa (supostamente) e jogar menos com Kanter, que ficou apenas nove minutos em quadra nesta terça e está com média de 15,0 pela final de conferência. Está dando certo. A rotação também ficou mais enxuta. Nada de Nick Collison, Kyle Singler (inexplicável a queda de rendimento) e do calouro Cameron Payne, que ainda vai dar o que falar, mas não agora.

Donovan, ex-armador do Knicks, assume o controle em OKC

Donovan, ex-armador do Knicks, assume o controle em OKC

3) A “Escalação da Morte” do Warriors não está matando ninguém
Stephen Curry, Klay Thompson, Andre Iguodala, Harrison Barnes e Draymond Green. Vocês sabem, né? Esse quinteto sem pivôs tradicionais se tornou um terror para toda a liga. Nesta temporada, quando o Golden State usou essa formação, conseguiu um incrível saldo de 47,0 pontos por 100 posses de bola. Entre os quintetos que foram utilizados ao menos por 100 minutos, foi disparado o de melhor rendimento, superando, por sinal, outros dois do Warriors. Pois, nos últimos dois jogos em OKC, este time saiu com saldo negativo de 39 pontos em 19 minutos.

É aí que entra a redução no papel de Kanter, ou até mesmo de Steven Adams, que não passou dos 25 minutos pelos Jogos 3 e 4, depois de brilhar na abertura da série em Oakland. Em vez de marretar os campeões com um time mais alto, Donovan vem optando, com muito sucesso, por um quinteto mais flexível (mas que não pode nem a pau ser chamada de “baixa”), com Ibaka e Durant na linha de frente, acompanhados de Andre Roberson, Dion Waiters e Russell Westbrook. Juntos por 14 minutos nesta terça, eles fizeram um saldo de 26 pontos para os anfitriões, com parcial de 46 a 20. Se for para medir também por 100 posses de bola, essa escalação descoberta por Donovan tem vencido por 68,5 pontos (gah!). De novo: sessenta-e-oito-vírgula-cinco-pontos.

4) Draymond Green, caçando borboletas
Se a “Escalação da Morte” não está fazendo efeito, isso tem a ver com a efetividade de seus marcadores, mas também envolve seus próprios integrantes, que não estão produzindo conforme o esperado. Um deles é Draymond Green, que, ao final da partida, deu licença aos jornalistas que cobrem o time a criticá-lo sem dó. Que a coisa foi feia, mesmo. O líder emocional do Warriors até pegou 11 rebotes, mas terminou com o mesmo número de pontos e turnovers: seis. Também errou seis de seus sete arremessos.

Geralmente uma das figuras mais assertivas da NBA, dentro e fora de quadra, daqueles que nunca passa despercebido. Dessa vez ele foi notado desde o início por seus passes desgovernados e a indecisão em geral com a bola, num comportamento bastante estranho, de quem até parecia constrangido pelo fato de não ter sido suspenso após seu entrevero com Steven Adams. Nas duas derrotas em OKC, seu time teve um saldo negativo de 73 pontos nos minutos em que esteve em quadra. Algo totalmente bizarro para o jogador que, na temporada, liderou a liga em plus-minus, com 1.070 pontos de saldo. Pense nesse contraste. “No final das contas, sei que tenho de ir muito melhor no Jogo 5. É tudo ou nada. Trabalhamos muito para sermos eliminado desta forma. Não seria capaz de conviver comigo mesmo durante todo o verão se formos perder assim”, disse. Draymond vai lutar, vai se impor? Ele nos acostumou a isso. No momento, estão todos com dificuldade para entender a apatia da equipe. “Sou a fonte de energia desta equipe, e não tenho feito isso. Acho que nossa energia vai de acordo com a minha, e tenho sido horrível.”

5) Stephen Curry está bem, segundo Kerr. Mas, não
O MVP dos últimos dois campeonatos voltou de uma torção no joelho e deu um show em Portland. Depois, para igualar a série em Oakland, anotou 15 pontos em dois minutos do segundo quarto pelo Jogo 2, numa dessas exibições que não fazem o menor sentido. Então é difícil realmente apontar para sua contusão e dizer que o fraco desempenho nos últimos dois jogos seja resultado daquilo. Afinal, ele já teve seus momentos de brilhantismo nestes playoffs. Segundo Steve Kerr, o armador não está sentindo nada fisicamente. “Ele não está machucado. Está voltando depois do susto, mas não está lesionado. Ele teve apenas uma noite péssima. Acontece, mesmo para os melhores jogadores do mundo”, disse o técnico.

No geral, porém, percebe-se um Curry relativamente fora de sintonia, de acordo com o alto padrão apresentado nos últimos anos. O que mais chama a atenção é o elevado número de turnovers. Desde que retornou ao time, já foram 24 turnovers em seis partidas, ou quatro por jogo. Contra OKC, essa tem sido praticamente a mesma média em assistências (4,5). Depois, é só ver que ele acertou *apenas* 37,1% de seus arremessos de três e que, no geral, seu aproveitamento de quadra é de 41,9%, coisa para Allen Iverson. Nesta terça, ele matou apenas 2-10 de fora, e cinco de seus oito erros foram sem marcação. Não tem sido o melhor Curry contra uma defesa que está fazendo do seu melhor para atrapalhá-lo. Está difícil para agir em meio ao caos que os superatletas do Thunder causam, algo inesperado para um time que adora jogar em alta velocidade. Seus oponentes só são mais rápidos e fortes. O Warriors levou mais de 70 pontos em dois jogos seguidos, e essa hemorragia vem de momentos de descontrole dos atuais campeões, que não conseguiram 1) correr de modo organizado e 2) mudar o ritmo da partida. Isso fica sob responsabilidade de seu armador. “Tenho de melhorar nisso e entender o momento, as situações em que o jogo pode pender de um lado para o outro”, disse. “Nas últimas duas partidas, o jogo fugiu de nós. Muito disso fica sobre meus ombros.”

Pensando nisso, com Curry já pressionado no ataque, é estranha a decisão de Kerr de colocá-lo para marcar uma força da natureza como Westbrook. Por ora, o condutor do Thunder tem sobrado.

6) Andre Roberson não é mais um cone
Steve Kerr fez isso no ano passado com Tony Allen e estava preparadíssimo para repetir a estratégia contra o ala do Thunder: simplesmente ignorá-lo na defesa, para tentar usar cinco defensores contra quatro atacantes. Para quem não se lembra, foi o grande ajuste realizado pelo técnico na série contra o Memphis Grizzlies, colocando Andrew Bogut para ‘marcar’ Allen. Na verdade, o pivô ficava o mais distante possível do ala, ciente de que ele não representava ameaça nenhuma como chutador, ao passo que poderia congestionar o garrafão e oferecer mais resistência a Zach Randolph e Marc Gasol. Para alguém que acertou apenas 31,1% de seus arremessos de três na temporada, Roberson parecia um ótimo candidato a receber o mesmo tratamento. A diferença é que Draymond Green seria o hipotético marcador – na verdade, o ala-pivô ganhou liberdade total para flutuar pelo perímetro interno e tentar se intrometer entre os All-Stars do Thunder e a cesta.

Funcionou apenas no Jogo 2. Desde então, vem sendo uma furada, e a razão não é porque Wess e Durant são muito bons e não se atrapalham com uma dobra, tampouco pelo fato de Roberson ter acertado seis chutes em 11 tentativas na série (54,5% de aproveitamento, mas com volume muito baixo). O maior problema aqui foi a resposta que Donovan deu a essa ousada cartada de Kerr. Em vez de deixar seu titular estacionado na zona morta – como aconteceu contra o San Antonio, em série na qual ele estrangulou o ataque do time –, o técnico agora o envolveu mais no ataque, como verdadeira arma. Sinceramente, foi genial.

O SB Nation publicou um artigo que explica tudo em detalhes, com ótimos vídeos. Mas, basicamente, é o seguinte: o ala tem feito corta-luzes na cabeça do garrafão e mergulhado para ser acionado no pick-and-roll. Quando está do lado contrário, ele corta para a cesta pelo fundo, nas costas da defesa, toda concentrada no que Durant ou Wess vão fazer. O importante é que ele continue se movimentando e que seus companheiros estejam atentos para aproveitar as brechas. Roberson pode não ser um exímio atirador de longa distância, mas é atlético e rápido para ir para a cravada ou uma bandejinha. Fez 17 pontos, seu recorde pessoal, e ainda apanhou 12 rebotes  no Jogo 4, e Donovan se divertiu: “É engraçado. Depois do Jogo 2, as pessoas estavam perguntando se este cara iria até mesmo jogar no restante da série. Mas o Andre é um bom jogador, e acho que por vezes podem ignorar que ele faz jogadas vencedoras”. Aqui está o ala recebendo um passe de beisebol de Adams, sozinho debaixo da tabela:

7) A lobotomia de Dion Waiters
O ala-armador exigiu muita paciência de diretores, técnicos e jogadores em Cleveland. Até que chegou o momento em que ninguém aguentava mais, muito menos LeBron e Kyrie. O gerente geral David Griffin percebeu que precisava chacoalhar as coisas, que David Blatt precisava de reforços, e aí sobrou para o talentoso, mas problemático Waiters, que ainda despertava um pouco de interesse ao redor da liga. Antes tarde, do que nunca, para tirar algum lucro da quarta escolha do Draft de 2012.  O cara é talentoso. A questão sempre foi que ele entendesse quais seus limites em quadra e quem está ao seu redor. Aceitar um papel de coadjuvante sem resmungar pelos cantos, sem perder a intensidade, mantendo uma postura positiva em quadra.

O Thunder já conta com dois cestinhas fantásticos. Ao lado de Durant e Westbrook (como era o caso com o Big 3 de Cleveland…), uma terceira opção ofensiva não precisa carregar muita carga, mas tem de saber o momento certo de atacar e criar. Depois de muito custo, com uma temporada regular nada impressionante, Waiters encontrou seu espaço nestes playoffs. Na defesa, está combatendo quem quer que lhe caiba, depois de pegar gosto pela coisa em sua batalha com Manu Ginóbili. No ataque, parou de forçar a mão, arremessando com eficiência (46,2% de três) e, mais positivo ainda, tem feito a bola girar, dando 3,3 assistências por partida, contra apenas 1,0 turnover.

Essa produção de Waiters, confesso, não estava nas minhas contas. Jamais imaginaria vê-lo render mais que Shaun Livingston na série, por exemplo. Com ele e Roberson desempenhando papéis além da conta, Donovan viu sua rotação se fortalecer para fazer frente a dois timaços. Só KD e Wess não dariam conta.

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OKC atropela Warriors. Tudo dentro da normalidade?
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Giancarlo Giampietro

Chega uma hora em que a graça acaba

Chega uma hora em que a graça acaba

Em público, aconteceu em todos os níveis:

– No banco, os titulares do Golden State Warriors davam risada sabe-se lá do quê.

– Enquanto isso, em sua conta no Twitter, a assessoria de imprensa do time nos informava sobre recordes pessoais de Ira Clark e Brandon Rush no quarto período.

– Pouco depois, já com o placar definido em 133 a 105 definido a favor do Oklahoma City Thunder, Steve Kerr usava seu hilário tom sarcástico para dizer que, com um pouquinho mais de sorte, seu time poderia ter vencido.

Depois de sofrer a pior derrota desta fase mágica, os atuais campeões deram a entender que encaravam a surra levada pelo Jogo 3 da final do Oeste com a maior naturalidade possível. Se foi forçado, ou não, só eles vão saber dizer, intimamente. Como equipe que já se viu nesta situação antes, normal que tenham reagido desta maneira. Até para não deixar seu perigoso oponente ainda mais confiante.

Nesta temporada, o Warriors ainda não perdeu duas partidas consecutivas. Mais: no ano passado, contra Memphis e Cleveland, o time também esteve atrás do placar geral da série por 2 a 1, só para sacar tudo sobre seu adversário, vencer os próximos três jogos e fechar ambas as séries rumo ao título. Além do mais, bastará que superem OKC por meio ponto de diferença para que empatem tudo e recuperem a vantagem do mando de quadra.

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Agora, em nenhum momento destes confrontos do ano passado, eles levaram uma pancada destas, a mais severa que este núcleo já tomou. Em números, a derrota para o Portland Trail Blazers por 32 pontos, em fevereiro, foi maior. Mas, pois então: era fevereiro, na volta do All-Star. Quem se importa com isso na última semana de maio? Nem Damian Lillard.

O que interessa para Steve Kerr é tentar entender o que aconteceu em quadra a partir da marca de 8min10s do segundo período, quando os times estavam empatados por 40 a 40. Nos próximos 20 minutos, OKC venceria por 77 a 40, chegando ao final do terceiro quarto com 117 a 80. Russell Westbrook e Kevin Durant não precisariam jogar mais, e por isso os 28 pontos finais nem valem para nada. Em 36 minutos, a vantagem era de 37 pontos, algo inacreditável. Né, Waiters? “Nem tinha me tocado do que estava acontecendo no placar. Vocêf fica tão envolvido com o jogo. A atmosfera estava incrível. Cara, isso é uma loucura. Nem sabia”, afirmou o ala reserva. Os 117 pontos foram a terceira maior quantia de um jogo de playoffs em 36 minutos, após os 124 feitos pelo Milwaukee contra o Philadelphia em 1970 e os 120 do Dallas contra o Seattle (antigo OKC) em 1987. É coisa para rever o jogo com mais paciência nesta segunda-feira e voltar aqui para explicar melhor. A defesa do time reagiu muito bem a essa formação, caprichando nas trocas, por exemplo, sendo que no ataque não houve problema de espaçamento pelo fato de Roberson não estar ao lado de Adams.

Em 81 posses de bola nos três primeiros quartos, os donos da casa tiveram um índice ofensivo de 144 (uma projeção de 144 pontos por 100 posses, no caso; para dimensionar isso, basta saber que o índice do Warriors pela temporada regular foi de 112,5). No terceiro período especificamente, foram 45 pontos em 26 posses. Índice ofensivo de 173 pontos.

O pior, para Kerr, será constatar que esse placar todo foi construído com Andre Roberson em quadra. O homem que sua defesa supostamente deveria ignorar para se concentrar em gente como Durant e Wess, sabe? Com o ala e os dois astros acompanhados por Dion Waiters e Serge Ibaka, o saldo do Thunder foi de 30 pontos. Diante desses caras, veja como ficou o saldo dos principais integrantes da chamada escalação da morte de Golden State:

Que paulada. Isso é um problema enorme para se resolver,  pois como você certamente já reparou, nem Steven Adams, nem Enes Kanter foram mencionados no trecho acima. O que quer dizer que OKC levou a melhor com uma formação mais baixa, algo inesperado no tabuleiro desta série, depois do que haviam feito contra San Antonio e contra o próprio Warriors pelo Jogo 1 da série. Billy Donovan e seus atletas vão mostrando suas diversas facetas.

Tudo fica bem mais fácil de funcionar quando Durant e Westbrook fazem seu melhor simultaneamente, claro. Em três quartos, eles tinham 63 pontos, 16 rebotes e 14 assistências juntos, com 20 arremessos certos em 34. Dos 117 pontos do time, eles haviam participado de 83 direta ou indiretamente, com cestas e assistências.

O desempenho de Westbrook, aliás, é uma tremenda notícia para Donovan. Se no terceiro período do Jogo 1, o armador foi preponderante para a vitória, no geral, contra este Warriors, o mais normal foi vê-lo amassar o aro. Em oito partidas contra o time dirigido por Kerr até este domingo, segundo levantamento do setorista Ethan Sherwood Strauss, do ESPN.com, ele havia convertido apenas 34% de seus arremessos (61-180).

Se já não fosse dor-de-cabeça demais, Kerr e sua comissão técnica ainda vão precisar esperar pela decisão do comitê disciplinar da liga quanto a Draymond Green, que, enfim, cedeu às tentações de agredir Steven Adams. Ou pelo menos é isso que diretoria, torcida e o pivô do Thunder vão tentar vender após, digamos, o pé do All-Star atingir as partes baixas do neozelandês. Uma falta flagrante foi marcada. “Já havia acontecido antes, cara. Ele é bastante preciso”, disse Adams. Esta imagem:

A enrascada e armadilha maior aqui é que a NBA acabou de suspender Dahntay Jones, o 15o homem da rotação do Cavs, por lance teoricamente parecido contra Bismack Biyombo, no sábado. Vai depender da interpretação, claro, além do aspecto político, inevitável. Uma coisa é dar um gancho em um veterano que nem deveria ter saído da D-League este ano. Outra é num dos melhores jogadores da atualidade.

O técnico do Warriors diz que nem pensa em eventual punição, completando ainda que o certo seria até anular a falta flagrante. Da sua parte, ainda em missão diplomática, Draymond afirmou que à procura de Adams após a partida para pedir desculpas e dizer que não havia sido intencional. Se for suspenso, será o maior toco que o pivô neozelandês poderia ter dado em sua controversa e jovem carreira.

Assim, foi um jogo de impacto, independentemente da condição de Green. O Warriors vai realmente se empenhar em dizer que está tudo bem, conforme seu poder de reação sugere. Passado o furacão, ou melhor, o trovão, vai poder lembrar, inclusive, que o Jogo 2 foi 118 a 91 a seu favor, e que nem faz tanto tempo assim, mesmo para quem vive intensamente o ciclo de 60 segundos por minuto de notícias.

Ah, só para não deixar passar batido: Clark e Rush conseguiram suas melhores marcas de rebotes pelos playoffs, com, respectivamente, sete e quatro cada. Está registrado.

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Steven Adams emerge para causar alvoroço no Oeste
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Giancarlo Giampietro

Não há nem sangramento que segure Adams contra os melhores do Oeste?

Não há nem sangramento que segure Adams contra os melhores do Oeste?

Quando o San Antonio Spurs contratou LaMarcus Aldridge, renovou com Tim Duncan, manteve Boris Diaw e ainda fez questão de fechar com David West e Boban Marjanovic, ficou claro: Gregg Popovich queria voltar aos tempos de jogo pesado no garrafão, para tentar fazer paçoca dos adversários e, ao mesmo, se preparar para um eventual embate com o Golden State Warriors. Não dava para correr, duelar em tiros de três pontos ou flexibilizar com eles, acreditava.

Bom, acontece que sua linha de frente envelhecida não conseguiu lidar com a do Oklahoma City Thunder pelas semifinais da conferência. E o duelo como os veteranos do time texano serviu como um bom aquecimento para Steven Adams e amigos. Ao lado de Serge Ibaka e Enes Kanter, o neozelandês saiu de quadra nesta terça-feira mais uma vez dominante, para conduzir seu time a uma intrigante vitória por 108 a 102, para roubar o mando pela final do Oeste.

O emergente pivô combinou 16 pontos com 12 rebotes e 2 tocos em raríssimos 37 minutos de ação por Billy Donovan, 12 acima de sua média nas últimas duas temporadas. Se o técnico mal tirou o folclórico gigante de quadra, é porque não dava, mesmo. A produção de Adams não o permite: com ele patrulhando o garrafão e finalizando com propriedade, seu time teve saldo favorável de 19 pontos.

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Foi o quarto double-double seguido pata o bigodudo nestes playoffs. Nestes quatro jogos, ele anotou surpreendentes 59 pontos, ou, podemos arredondar, 15,0 por rodada. Em termos de rebotes, se formos levar em conta as seis últimas partidas, foram 73, ou 12,1. Chegou a hora de treinadores adversários se prepararem melhor para marcar o kiwi em seus mergulhos no garrafão. Como se lidar com Kevin Durant e Russell Westbrook não fosse o suficiente.

Depois de bater Tim Duncan com vigorosa facilidade, pelo Jogo 1 da final de conferência foi a vez de fazer Andrew Bogut parecer bem velho, mesmo (só 3 rebotes, 2 tocos e nenhum arremesso tentado em 17 minutos). Quer dizer: Duncan e Bogut estão travadões, mesmo. Para ajudar, besta batalha de monstrengos da Oceania, o gigante australiano está se recuperando de um estiramento no adutor direito, ficando ainda mais limitado em seus deslocamentos.

Adams tenta segurar Curry no perímetro. Antes de declaração infeliz

Adams tenta segurar Curry no perímetro. Antes de declaração infeliz

Adams está se esbaldando em jogadas de pick-and-roll e nos rebotes ofensivos, prevalecendo atleticamente, mas também mostrando mais agressividade e habilidade para pontuar ao redor da cesta. Está claramente mais confiante, desenvolto, ganhando o respeito de seus companheiros. Isso aumenta muito sua cotação, para ir além da imagem de grandalhão atlético, enérgico, bom no rebote, mas marreteiro. De repente, a dupla Durant-Wess ganhou a companhia de um terceiro cestinha, e melhor: alguém cujo estilo se molda adequadamente ao que costumam fazer no ataque. Ao contrário de James Harden, que precisa criar com a bola em mãos.

Sempre o Harden, né? Até porque é difícil apagar uma transação dessas dos registros. Mas a menção aqui não é tão gratuita. O pivô neozelandês é justamente a única peça que veio naquela troca que ainda jogando para valer por OKC — Mitch McGary ficou para depois. Obviamente que Adams não é mais valioso, um jogador superior ao Sr. Barba. E também resta saber como o Warriors vai fazer para marcá-lo daqui para a frente. A série só começou. Mas o gerente geral Sam Presti deve estar se sentindo bem ao ver o desempenho recente do atleta.

Que Adams e Kanter tenham conseguido jogar juntos até contra a “escalação da morte”  dos atuais campeões, sem sofrer na defesa, então, é para fazer o chefinho de OKC pedir aumento. Isso muda tudo no tabuleiro.

No final do primeiro,.Donovan tentou usar Durant e Ibaka em sua linha de frente, numa formação mais leve. De imediato, Steve Kerr também rebaixou seu time, lançando a temível formação com Draymond Green como pivô solitário. Restando 4min04s, os anfitriões ampliaram sua vantagem de seis para 13 pontos.

No segundo tempo, não teve dupla light na zona pintada para Donovan, que voltou a apostar na parceria que deu tão certo pelos períodos finais contra o Spurs: Adams e Kanter. Juntos, os dois jogos pivôs deram saldo de 14 pontos para OKC em 7min45s. No geral, nos 24 minutos após o intervalo, a defesa do time forçou muitos turnovers, soube marcar os arremessos de fora e, completando o serviço, ainda contestou ou amedrontou os perigosos cestinhas do Golden State, que acertaram 8 de 19 arremessos de curta distância, aquela que vão se tornando uma especialidade de Adams. Dominando os rebotes a partir dos erros, tiraram velocidade da partida. No quarto período, o quinteto mortal da casa apanhou, sendo superado por -19,5 pontos por 100 posses, marca que ficaria bem abaixo até mesmo do Philadelphia 76rs no decorrer do campeonato.

Esse tipo de desempenho defensivo, consistente, não deixa de ser surpreendente. Durante a temporada regular, o Thunder intimidava poucos quando tinha de proteger sua cesta. Era o time que nunca tinha uma vantagem absolutamente segura. Como quando perdeu para o Los Angeles Clippers com folga aparentemente inapelável de 17 pontos no Staples Center. À época, Durant reclamou: “Eles tiveram disciplina, nós, não. Se quisermos virar um grande time, do modo como estamos jogando, estamos nos enganando”.

Contra o Warriors, na hora decisiva, foram muito mais sólidos marcando. Foi dessa forma que OKC venceu um jogo em que Durant e Westbrook converteram apenas 17 de 51 arremessos e no qual o time como um todo fez apenas uma cesta em oito tentativas durante o “crunch time”, fora de casa, contra um adversário que teve mais descanso (mas com Steph Curry também à procura de seu melhor ritmo, a despeito do show que havia dado em Portland — 26 pontos em 22 arremessos e sete assistências para sete turnovers).

A defesa fica mais forte com Adams em quadra. Se ele não representasse uma ameaça no ataque, seria muito difícil mantê-lo em um jogo de playoff, por comprometer o espaçamento. Como este terror, que tudo crava, pode, na verdade, contribuir para seus companheiros, puxando a marcação para dentro, como Tyson Chandler fazia por Dallas. Quando questionado durante a série contra o Spurs sobre esse paralelo, o neozelandês se surpreendeu.

À distância, parece natural o desenvolvimento de um pivô de 22 anos que passou a jogar em um grande centro apenas aos 19, quando recrutado pela Universidade de Pittsburgh. “Tudo isso (de progresso) acontece muito devagar. Vai levar um bom tempo ainda para eu chegar ao nível que quero. Estou bem distante, mas estou me esforçando. Estou acostumado com longas jornadas”, afirmou ao jornalista Brian Windhorst, do ESPN.com. “Eu me tornei um viciado em melhorar.”

Vigor de Adams foi importantíssimo para OKC eliminar San Antonio

Vigor de Adams foi importantíssimo para OKC eliminar San Antonio

Foi mais um desses perfis em somos lembrados sobre como Adams tem 17 irmãos e uma deles é bicampeã olímpica como lançadora de peso e sobre como ele vem de uma cidade ao Norte da Nova Zelândia, Rotorua, de 60 mil habitantes que atrai turistas devido a suas atrações termais, com direito a geysers que liberam enxofre. O que, nas palavras do rapaz, faz o local cheirar a… Precisa completar? Sim, infelizmente, para entendemos outra declaração mais polêmica desta terça. “Parece que alguém peida em sua cara o tempo todo”, diz

Quem acompanha o noticiário de OKC sabe que Adams é deste jeito. Não é dos mais recatados, digamos. Então é preciso cuidado antes de julgá-lo racista quando se referiu aos cestinhas do Warriors como “rápidos macaquinhos”. Obviamente que gerou polêmica, e, mais tarde, em entrevista ao USA Today, teve de pedir desculpas. Disse que a frase vinha de um dialeto de sua cidade natal. “Foi uma escolha infeliz de palavras. Não estava pensando direito. Estava tentando apenas expressar o quão difícil é perseguir estes caras. No dialeto, é diferente. Palavras diferentes, expressões diferentes, coisas do tipo. Estou assimilando, cara, ainda tentando descobrir quais os limites, mas eu definitivamente os ultrapassei hoje.”

Então. É o mesmo Adams que, na entrevista a Windhorst, comenta sobre uma refeição que experimentou em Taiwan. “Teve um prato que comi lá cuja tradução do nome é ‘O Monge Pula a Cerca’. É um prato de peixe com todos esses temperos. Era lindo, cara, era poesia. Tinha toda uma história”, disse.

Nem todo mundo está acostumado a pensar ou mesmo ouvir coisas dessas. Mas fique preparado. Quanto mais exibições de alto nível Adams tiver por OKC, maiores as chances de sair frases do tipo. Bem diferente de um Duncan ou de Aldridge. Mas esses caras não passaram. O problema do Golden State ainda é grande do mesmo jeito.

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Quando o prêmio da NBA vem na hora certa. Ou não
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Giancarlo Giampietro

Duas vezes Chef Curry

Duas vezes Chef Curry

Stephen Curry foi aclamado nesta terça-feira como o MVP da NBA 2015-16 de modo unânime. Foi a primeira vez na história que isso aconteceu. Ao receber todos os 131 votos dos jornalistas americanos que participaram da eleição, o astro do Golden State Warriors sobrou mais que o dobro de pontos do segundo colocado, Kawhi Leonard. Michael Jordan, em 1995-96, não por coincidência o ano das 72 vitórias, foi quem mais chegou perto dos 100% de votos: 96,5%.

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Curry também foi o MVP que mais aumentou seu índice de eficiência de uma temporada para a outra, subindo em 3,5 pontos, para alcançar a marca de 31,56 — para comparar, Kevin Durant foi o segundo nesse quesito, com 28,25. Até este ano, o legendário Larry Bird foi quem havia mais crescido, entre 1984 e 85, no auge, quando ganhou 2,3 pontos de eficiência. Quer dizer: não teve título ou fama que fizesse o astro do Warriors se acomodar. Não é tudo o que se espera de um jogador profissional e tal? Nem cabe polêmica aqui, gente. Deixemos de chatice, por mais que aquela célebre frase de Nelson Rodrigues seja engraçada e instigadora.

Dito isso, então não houve melhor data para que Steph tivesse seu prêmio confirmado pela liga americana, já que isso aconteceu apenas algumas horas depois de mais uma exibição incrível do armador. Voltando de uma contusão no joelho e de um baita susto, ele retornou em Portland para livrar o Golden State de um aperto desnecessário antes da final do Oeste. Depois de levar uma bronca de Steve Kerr pelo empenho abaixo do nível pelo Jogo 3, o time surpreendentemente não deu a resposta de imediato na partida seguinte, tomando uma surra do Trail Blazers nos primeiros minutos. E aí que o técnico se viu obrigado a lançar seu principal atleta um pouco mais cedo do que esperava.

Inicialmente, o plano era que Curry ficasse em quadra aproximadamente por 25 minutos. Mas aí aconteceram o péssimo início de partida e, pior, a exclusão de Shaun Livingston (quem diria?!) ao final do primeiro tempo, se o Warriors quisesse fazer frente aos anfitriões e retornar a Oakland em condição confortável, não teria como limitar os minutos d’O Cara assim. Jogou por 37 minutos e, vocês sabem, anotou 40 pontos, 17 dos quais na prorrogação. Foi um soco no estômago dos jovens valentes do Blazers e mais uma atuação mágica do armador nesta temporada. Mais uma na lista encabeçada por aquela exibição inacreditável em OKC.

Acontece que, por alguns minutos, a cerimônia de entrega do prêmio poderia ter ficado um pouco estranha. Não que uma derrota em Portland fosse desmerecer o conjunto da obra. Claro que não. Mas é que o armador estava encontrando dificuldade em seu retorno às quadras, em busca de ritmo de jogo. Ele chegou a errar nove arremessos de três pontos consecutivos, algo impensável neste ano em condições normais, mas muito natural para quem havia parado por tanto tempo. Então imagine se ele não tivesse reencontrado o rumo? Imagine se não houvesse aquela prorrogação incrível? Enfim. Curry ainda seria o MVP unânime, merecidamente. Mas seria chato, ainda assim.

Muito pior, sem dúvida, foi a experiência que Dirk Nowitzki viveu em 2007, quando seu Dallas Mavericks fez a melhor campanha da temporada regular, liderado pelo craque alemão em seu auge técnico-atlético, atingindo invejável marca de 67 vitórias. Só para, durante os playoffs, se tornar um dos casos raros de cabeça-de-chave número um a cair logo na primeira rodada, eliminado pelo Golden State Warriors por 4 a 2. O Mavs foi derrotado por um elenco de atletas explosivos (em todos os sentidos) como Baron Davis, Monta Ellis, Stephen Jackson, Jason Richardson, liderados pelas traquinagens de Don Nelson, seu antigo mentor.

Quando a NBA programou a entrega do troféu para Dirk, o time texano já havia sido eliminado, e a repercussão da época foi humilhante. Lembremos que isso foi quatro anos antes de chegarem ao título. Até 2011, a verdade é que o ala-pivô era visto por muitos como um tremendo de um amarelão (argh!!!), leão de temporada regular que morria sempre na praia. Acho que LeBron James e Dwyane Wade não concordariam com essa versão hoje. De qualquer forma, esta lenda viva do basquete estava simplesmente desmoralizada na hora de dar a coletiva. Foi um episódio deprimente.

*   *   *

O prêmio de MVP é aquele que recebe mais atenção em uma temporada. Muito mais que o de Executivo do Ano, que R.C. Buford recebeu este ano, claro. O gerente geral do San Antonio Spurs, que trabalha em parceria com Gregg Popovich (o presidente do clube) ganhou seu troféu na segunda-feira, um dia antes de Curry e um dia depois da derrota de sua equipe para o Oklahoma City Thunder pelo Jogo 4 das semifinais. A série estava empatada naquele momento. Hoje, depois de mais um jogo muito equilibrado e nervoso, Russell Westbrook e Kevin Durant conseguiram a virada e voltam para casa com a chance de fechar o confronto nesta quinta.

A ameaça da derrota perante OKC não tira o brilho das operações que Buford conseguiu realizar em julho do ano passado, arrumando espaço em sua folha salarial para contratar LaMarcus Aldridge, o principal agente livre no mercado. Ao fechar o negócio, Buford não só deu a Tim Duncan a chance de reeditar essa história de Torres Gêmeas em San Antonio, fazendo do time um candidato ainda mais forte ao título, como também já garantiu ao clube a composição de um núcleo para o futuro, emparelhando o pivô e Kawhi Leonard. A visão de futuro, aliás, é algo que diferencia a celebração do Executivo do Ano das demais votações, que avaliam estritamente a relevância mais urgente dos fatos.

Na temporada regular, em termos imediatistas, o novo San Antonio já foi um sucesso, conseguindo 67 vitórias. Dá para dizer que só não atingiram a marca de 70 triunfos porque, na cabeça de Gregg Popovich, há coisas mais importantes que um números simbólico. Em termos de estatísticas, valoriza-se mais o fato de terem combinado a melhor defesa com o terceiro melhor ataque. Em casa, a equipe sofreu apenas uma derrota em 41 partidas. Tudo redondinho, e não seria o combalido Esquadrão Suicida do Memphis Grizzlies que os incomodaria na primeira rodada dos playoffs. Até que chegou a hora de mais um duelo com o Okalhoma City Thunder…

Negócio surte efeito de curto a longo prazo

Negócio surte efeito de curto a longo prazo

Não tem o que apagar aqui: admito que não imaginava chegar ao dia 11 de maio com o Spurs a uma derrota da eliminação. Um time foi uma máquina e fez uma campanha memorável. O outro tinha dois dos melhores atletas da liga, mas foi bastante inconsistente na temporada, especialmente na hora de proteger sua cesta. Com atletas de alto nível como Serge Ibaka, Steven Adams, Andre Roberson, Kevin Durant, Russell Westbrook e Dion Waiters, Billy Donovan não conseguiu forjar mais do que o 12o. sistema defensivo mais eficiente da liga. O mesmo sistema que deu ao Dallas algumas chances pela primeira rodada.

Acontece que o Thunder apertou os ponteiros. Pensando assim, a vitória arrasadora do Spurs pode ter sido um divisor para este elenco. Basta recuperar as declarações de Durant e Westbrook para ver o impacto. Foi vergonhoso, ainda mais pensando em todo o histórico recente compartilhado por estes núcleos. Excluindo este primeiro resultado, temos um saldo geral de 15 pontos para o Thunder. Está muito parelho, e que OKC tenha vencido três dessas quatro partidas é algo inesperado, mas que nos diz muito sobre a virada de uma equipe, já que, pela primeira fase, esses caras se notabilizaram pela derrocada nos minutos finais. É verdade que a arbitragem cometeu erros absurdos na segunda partida e também nesta terça-feira, ao deixar dr marcar falta de Kawhi Leonard em Russell Westbrook na última posse do adversário. Mas San Antonio teve chances em ambos os casos para triunfar antes e depois dos deslizes e não as aproveitou.

Dos Jogos 2 ao 5, tivemos partidas com dinâmica bastante parecida. O Spurs abrindo alguma vantagem mas primeiras parciais, e o Thunder zerando consistentemente esse prejuízo, e não só por ter dois cestinhas que aterrorizam qualquer marcador. Até o momento, o elenco de apoio a Durant e Wess tem sido determinante. Steven Adams e Enes Kanter têm trucidado seus oponentes na disputa por rebotes. Dion Waiters também está acabando com Manu Ginóbili, a despeito da barbaridade que cometeu no Jogo 2. Randy Foye também pode incomodar quando aberto na zona morta e compete muito mais que Anthony Morrow.

A novidade aqui é o ganho coletivo de OKC. Demorou, precisou que levassem uma sova, mas o time se encaixou. Quando a química funciona, jogadores tendem a se soltar e crescer. Do lado de San Antonio, porém, Buford e Popovich não podem se declarar inteiramente surpreendidos. À parte de LaMarcus, a dupla formou um elenco bastante velho, e o risco de que pudessem penar física e atleticamente, contra o Thunder — ou Warriors, Clippers, Rockets etc. Até o caçula de San Antonio, o ala Kyle Anderson, de apenas 22 anos, fica devendo, por ironia.

Não está fácil a vida de West contra OKC

Não está fácil a vida de West contra OKC

Para diminuir essa possibilidade, Pop administrou mais uma vez muito bem seus minutos. Beirando os 40 anos, Duncan ficou fora de 21 jogos e não poderia passar dos 25 minutos em média, mesmo. LaMarcus tromba mais, mas ficou em 30,6 minutos. Diaw e West receberam 18 minutos. Tony Parker, 27. Danny Green, 26. Eles chegaram descansados, gente. Mas nem isso foi o bastante para que possam equilibrar a disputa com o Thunder. Uma hora a idade poderia pesar, e infelizmente, para Duncan e West, isso parece ter acontecido na pior hora. O resultado: o time tem simplesmente uma enorme defasagem em termos de capacidade atlética, e isso tem interferido diretamente na técnica também. Por vezes parece que Kawhi está lutando sozinho em quadra — que ele, ainda assim, consiga incomodar os caras, só mostra o quanto é excepcional.

Peguem o Jogo 5 novamente. Juntos, Duncan, Diaw e West somaram míseros nove pontos e sete rebotes. Três jogadores para isso. Steven Adams saiu de quadra com 12 pontos e 11 rebotes. Enes Kanter teve 8 pontos e 13 rebotes. Westbrook pegou mais rebotes que Duncan, West e Kawhi juntos, ou mais que LaMarcus e West. Em 19 minutos, Ginóbili só tentou quatro arremessos e anotou três pontos. Waiters anotou o triplo. Por aí vai, saca? Num estalo, tudo o que San Antonio construiu na temporada vai ruindo.  O torcedor e os treinadores da fantástica franquia texana sabem que seu time não vai rejuvenescer em dois dias. Podem sempre jogar mais animados, concentrados, preparados. Mas está complicado.

Se o que vimos até aqui é tudo o que seus veteranos podem oferecer, mesmo, talvez seja a hora de Popovich tentar uma cartada mais ousada nesta quinta-feira. Mesmo que não tenha tantas opções assim. Daí que não dava para entender bem a contratação de Andre Miller durante o campeonato. O que um armador de 39 anos poderia acrescentar a este time de diferente? Kevin Martin ao menos representava uma apólice de seguro para Ginóbili. Miller não teria condições de fazer nada se Tony Parker se lesionasse. Seria improvável que um jogador de D-League pudesse fazer a diferença neste nível. Mas tivemos vários casos recentes de atletas que conseguiram ajudar os times que os valorizaram, nem que tenha sido de modo pontual. Troy Daniels, ex-Rockets, hoje do Hornets, foi um. Tyler Johnson, do Heat, é outro. Mesmo James Michael McAdoo, pelo Golden State, oferece algo de diferente a Steve Kerr.

Quem sabe Boban Marjanovic? Por mais que o gigante tenha ficado mais famoso em seu primeiro ano de NBA como figura cult, ou até uma mascote, não dá para esquecer que ele que ele foi muito produtivo nos poucos minutos que recebeu. Também é um calouro só por nomenclatura. Obviamente que não seria o caso de por o sérvio de titular e para jogar por 40 minutos. Mas vindo do banco no lugar de um dos veteranos?  Por que não? Com 2,22m de altura, pesado, ficará vulnerável em situações de pick-and-roll, e não é que os pivôs utilizados possam impedir infiltrações de Westbrook e Durant, mesmo. Mas Boban pode ao menos bloquear Enes Kanter nos rebotes. Em caso de problema de faltas para Danny Green, talvez valha tentar Jonathon Simmons na vaga de Anderson?  Você abre mão de chute de média distância e passe, mas ganha muito em vigor e explosão.

Seriam as alterações possíveis em relação ao que Pop vem tentando. O fato de todos os últimos quatro jogos terem sido equilibrados talvez pese na cabeça do técnico. De não é momento para chacoalhar a rotação, nem necessário. Pode muito bem ser isso, mesmo. Decisão difícil.

Pelo fato de ter assegurado contrato de LaMarcus para os próximos três anos, perder agora não seria um desastre para o Spurs. Porém, com a possível aposentadoria de Duncan e Ginóbili, o envelhecimento também de Parker e a campanha que fizeram até aqui seria uma dura derrota, maior que qualquer prêmio individual.

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