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Arquivo : Robert Day

A final prometia mais, mas o Fla, tricampeão, não tem nada com isso
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Giancarlo Giampietro

Flamengo, tricampeão, ainda hegemônico no NBB

Flamengo, tricampeão, ainda hegemônico no NBB

Se for pensar apenas no que vimos nas finai do NBB, o Flamengo é o melhor time do Brasil, e disparado. Neste sábado, o clube rubro-negro voltou a dominar o Bauru em quadra, vencendo por 77 a 67 e fechando a série em 2 a 0 para conquistar o tricampeonato. Na terça-feira, havia triunfado por 91 a 69.

Claro que uma avaliação mais justa, porém, deve levar em conta o que aconteceu durante toda a temporada. Os bauruenses garantiram uma vaga na decisão nacional em busca do quarto título no ano, vindo de títulos pelo Campeonato Paulista, pela Liga Sul-Americana e pela Liga das Américas – esta a maior conquista, em março. Uma pena que esses dois grandes times, com elencos estrelados, não tenham se enfrentado no auge.

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Este Flamengo foi muito mais forte que aquele que perdeu, em pleno Maracanãzinho, a semifinal do torneio continental para o Pioneros de Quintana Roo, enquanto o Bauru não lembrou em nada a equipe que bateu os mexicanos para se classificar para a Copa Intercontinental, ganhando o direito de jogar contra o Real Madrid. Entre um Flamengo voando em quadra e um Bauru trôpego, fica difícil de diferenciar onde termina o domínio de um e a derrocada do outro. Estão interligados, obviamente. Fato é que o time carioca não tem nada com isso e jogou demais. “Este ano nem foi o menor nosso, não estávamos regulares no campeonato. Pegamos o melhor time do Brasil no ano, que estava ganhando tudo, mas vencemos com duas partidas incontestáveis”, afirmou o ala-armador Vitor Benite, ao SporTV.

O Fla fez uma excepcional defesa do início ao fim, protegendo seu garrafão como se fosse uma mina de ouro. Não teve infiltração, não teve bandejas nem para os armadores, nem para os pivôs: tudo contestado. Esse foi apenas um ponto. O povoamento na zona pintada estava ligado a um forte combate no perímetro também, sem permitir que os gatilhos bauruenses tivessem liberdade, conforto para pontuar. Serviço completo. Do outro lado da quadra, os rubro-negros foram muito mais conscientes com a bola, que girava de um lado para o outro, procurando bons arremessos, fazendo uso de seu arsenal também para lá de respeitável. O aproveitamento, no final, foi inferior ao do primeiro jogo, mas serviu para confirmar o título.

Ao passo que o campeão paulista se perdeu nos mesmos erros da primeira partida, com um ataque muito individualista, sem velocidade e movimentação. Na base do bumba-meu-boi, no desespero, o time de Guerrinha ainda conseguiu tirar 13 pontos de sua desvantagem, mas era tarde demais. “Eles começaram a meter muita bola, tentando dar um susto na gente, mas nossos três quartos muito superiores fizeram a vitória”, disse Benite, que vive ótima fase, dentro de quadra e diante dos microfones, com lucidez. Ele marcou 15 pontos em 25 minutos dessa vez, com um jogo muito agressivo e consciente. Ao lado de Nícolas Laprovíttola, fez estragos. O argentino foi quem levou o prêmio de MVP das finais, colaborando com 19 pontos, 7 rebotes e 4 assistências em 34 minutos, dominando Ricardo Fischer.

Uma foto que diz muito: a dificuldade para Bauru atacar

Uma foto que diz muito: a dificuldade para Bauru atacar

Robert Day, aquele do Bolsa Atleta, comandou ataque nessa parcial, chegando a 23 pontos, com 18 nos tiros de fora. Mas não dá para esquecer que o ala americano, aquele contemplado por uma Bolsa Atleta, teve uma atuação praticamente calamitosa do outro lado da quadra. Basquete se faz lá e cá – e o igualmente veterano Larry Taylor teve um papel mais importante no esboço de reação, com sua energia (11 pontos, 7 rebotes, 6 assistências).

Nem mesmo este quarto final foi suficiente para deixar os índices ofensivos de Bauru mais palatáveis. Terminaram com 31% nos arremessos de três (9/29) e meros 36,8% de dois (14/38), com Murilo vivendo uma jornada muito infeliz (apenas 2 pontos em 23 minutos, acertando apenas uma bola debaixo da cesta em seis tentativas). Faltou perna, mas também faltou cabeça, resultando em números que não condizem com o que o time produziu durante toda a temporada – que é, de todo modo, histórica sob qualquer perspectiva, a despeito da frustração no final.

Já o Flamengo começou sua campanha batendo o Maccabi Tel Aviv pela Copa Intercontinental e a fechou com mais esta taça nacional. Entre um evento e outro, muita coisa aconteceu. “Oscilamos muito”, disse Marcelinho Machado, agora tetracampeão, que chegou a ser afastado do elenco ao reclamar do banco de reservas. José Neto e sua comissão conseguiram contornar esse momento de turbulência, com seu capitão, diga-se. Também conseguiram driblar o calendário um tanto maluco – o Flamengo já teve de disputar sua principal partida logo de cara, duelando com o campeão europeu. Depois, se mandou para os Estados Unidos para fazer amistosos em Phoenix, Orlando e Memphis. A preparação física e a montagem do time acabam abaladas, não tem como. “Mas crescemos no momento certo. Contra Bauru, uma grande equipe, fizemos dois jogos brilhantes”, diz Marcelinho.

A final prometia mais. Muito mais, é verdade. Mas isso não tira o brilho da conquista da equipe rubro-negra, ainda hegemônica quando o assunto é NBB.

Flamengo, tetracampeão, tricampeão, NBB, Marília

Marcelinho ergue a taça mais uma vez

Qualquer alegria para Herrmann é pouco: campeoníssimo e história muito sofrida

Qualquer alegria para Herrmann é pouco: campeoníssimo e história muito sofrida

Laprovíttola com o compatriota Magnano, felizmente presente no ginásio

Laprovíttola com o compatriota Magnano, felizmente presente no ginásio

* * *

O que prometia mais também era a exposição da decisão para o basquete brasileiro. Desde o início da competição, a pareceria entre a LNB e a Globo prometia a transmissão da série em rede nacional, com sinal aberto. Não foi bem assim. O confronto deste sábado, em Marília, foi transmitido pelo “Canal 5” apenas para o Rio de Janeiro e algumas praças do interior paulista (TV Tem, TV Tribuna, TV Diário e TV Vanguarda ). Para as demais regiões do país, “TV Globinho” neles – coube ao SporTV dar a cobertura esportiva.

A troca de última hora deixou muita gente frustrada. “Decepcionante: aqui em Belo Horizonte e outros estados, estarem passando a ‘abelhinha”‘ao invés da final do NBB! Massificação do esporte? Sacanagem”, lamentou o técnico Demétrius, que fez ótimo trabalho com o Minas Tênis, quinto colocado na fase de classificação. “Além de não passar na Globo a final do NBB… No SporTV, não está em HD, confere?”, indagou Gustavo de Conti, treinador vice-campeão do NBB 6 pelo Paulistano.

O ginásio Neusa Galetti estava belíssimo neste sábado, a despeito do horário ingrato. Prova de potencial do NBB

O ginásio Neuza Galetti estava belíssimo neste sábado, a despeito do horário ingrato. Prova de potencial do NBB

O aspecto logístico da final realmente esteve longe do ideal. Sim, transmissão em TV aberta para o Rio de Janeiro e cidades do interior paulista, um pólo de basquete, é melhor do que nada. Mas os pontos em que a liga precisou ceder também são relevantes. Tivemos dois jogos em horários difíceis de assimilar. A primeira partida foi marcada para 21h30 de uma terça-feira, na longínqua Arena da Barra, de difícil acesso, ainda mais para voltar para casa 23h30. O duelo derradeiro teve início às 10h da matina. Horários ingratos e datas muito espaçadas – Marília está a 105 km de Bauru, forçando a galera a cair na estrada bem cedo. Que o ginásio neste sábado estivesse cheio, belíssimo, só serve de testamento para o potencial da modalidade, que pode ser mais bem explorado.

Uma final melhor-de-três é bem melhor que a de jogo único. Mas perde para a melhor-de-cinco, não? E por que, então, este sistema não foi adotado, já que o formato já seria alterado? Por conta do acerto com a TV. A Globo poderia passar os últimos dois embates – o Jogo 2 e um eventual Jogo 3. Ficaria mais simples. Acontece que não teve terceira partida, e nem mesmo a finalíssima ganhou o alcance nacional merecido.

De qualquer forma, no âmbito esportivo, o Flamengo tratou de amenizar a polêmica. Considerando o que vimos em quadra por 70 dos 80 minutos de jogo, uma série de até cinco partidas muito provavelmente terminaria com varrida de 3 a 0.

* * *

Bom, segue o jejum paulista no NBB, né? O último campeão brasileiro vindo de São Paulo foi o Ribeirão Preto, em 2003. Continua também a bipolarização Flameng0-Brasília, os únicos campeões nacionais nesta fase. A diferença é que agora os rubro-negros se tornaram os maiores vencedores, com quatro taças. Marcelinho foi o único presente em todas essas conquistas.


Ricardo Fischer aceita a pressão de mudar e liderar o Bauru
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Giancarlo Giampietro

Fischer, bem na foto

Fischer, bem na foto

Tem vezes que, fora a festa e a congratulação de jogadores, dirigentes, técnicos e fã – o que já é muita coisa –, um Jogo das Estrelas qualquer não serve para coisas mais práticas de quadra. Digo: não define muita coisa do ponto de vista esportivo, do que acontece na temporada regular de verdade.

Em Franca, no último fim de semana, porém, o prêmio de MVP da partida entre brasileiros e estrangeiros entregue a Ricardo Fischer teve um valor realmente simbólico e para além do troféu. Serviu para confirmar a ascensão de um jovem armador que vem cumprindo seu papel de modo mais que satisfatório comandando um time dominado por veteranos que, desde o momento que foi formado, jogaria por uma e só razão: títulos.

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Aos 23 anos, Fischer se assume em quadra como líder. Mesmo que, quando olhe ao redor, veja basicamente jogadores muito mais experientes, com longa rodagem em jogos internacionais, por clubes e a seleção brasileira. Para ele, não tem problema. É sua a missão, a responsabilidade de encaixar tantas peças talentosas – e valiosas –, na tentativa de, no próximo final de semana, conquistar o terceiro troféu em três campeonatos. A Liga dos Américas, no caso, para tentar se tornar o terceiro campeão continental em três anos consecutivos.

O Bauru enfrenta no sábado, no Maracanãzinho, o Peñarol de Mar del Plata, da Argentina, enquanto o anfitrião Flamengo encara o Pioneros de Quintana Roo, do México, pelas semifinais (confira a tabela e preços de ingressos). Neste duelo, o clube paulista vai ter de se testar novamente sem o ala-pivô Jefferson William, afastado do restante da temporada devido a uma ruptura no tendão de Aquiles. Um desfalque que muda alguns planos, é verdade, mas que não tira do time de Guerrinha o favoritismo, por conta de tudo o que eles fizeram até aqui: além de liderarem o NBB, com 23 vitórias em 25 jogos, já ganharam o Campeonato Paulista e a Liga Sul-Americana.

O Bauru de Fischer já venceu o Fla 2 vezes. Podem se reencontrar na final continental

O Bauru de Fischer já venceu o Fla 2 vezes. Podem se reencontrar na final continental

“Estamos acostumados com essa pressão. É algo que anima a gente, dá vontade de mostrar para os outros nosso potencial. Até agora não está atrapalhando”, disse Fischer ao VinteUm. “Estamos mostrando o motivo pelo qual temos o rótulo de favoritos. Espero que consigamos manter essa sequência na Liga das Américas.”

Para ajudar a equipe a chegar a este patamar, o armador precisou ajustar algumas coisas em seu jogo: menos pontos, mais passes. O tipo de sacrifício, aliás, que foi pedido para todos os jogadores de um elenco estrelado. “Preciso fazer mais que eles joguem, e está correndo tudo bem. Fiz um grande trabalho, no lado mental, porque é difícil. No ano passado fazia 15, 20 pontos. Agora tem jogo que faço 2, 5, mas não me importo.”

Veja a entrevista realizada durante o final de semana do Jogo das Estrelas em Franca, antes de Fischer entrar em quadra para ganhar o prêmio de MVP e superar não apenas os estrangeiros do NBB como as vaias do torcedor fanático local, perseguindo um bauruense. Isto é: o armador ainda é jovem, mas já construiu um nome, uma reputação. Veja, então, o que ele tem a dizer:

21: O Bauru faz uma grande temporada, conquistando tudo o que conquistou, mas agora parte para a fase mais difícil, decidindo a Liga das Américas e lutando pelo título do NBB. Justo agora, o time teve seu primeiro grande desfalque, com a lesão de Jefferson William? Qual o impacto dessa lesão?
Ricardo Fischer:
O impacto foi grande. Se pegasse o vídeo do jogo depois do que aconteceu, estávamos abatidos. Além de ser um grande jogador, é um amigo nosso, que a gente sabe que, numa fase final do NBB, chegando aos playoffs, e também com o Final Four do NBB, acabou se machucando. É muito ruim. Para nós, vai mudar um pouco de característica. Provavelmente o Rafael vai jogar de 4, com o Murilo de 5, por ter um pouco disso. Mas a gente perde um pouco.

É a velocidade, não?
Sim, a velocidade a gente perde. Além disso, ele desafoga um pouco até como lateral. Mas ganhamos em outras coisas, como no jogo interno, principalmente com o Murilo e o Rafael jogando de costas. O Alex também provavelmente vai ter de fazer o pivô em alguma parte dos jogos. Agora vamos nos ajustando. Montaram um time para isso, para não sofrer com jogador fora. Acho que vamos estar bem.

Jefferson é baixa para o Bauru

Jefferson é baixa para o Bauru

E o Wesley Sena (pivô de 18 anos que compõe o elenco)? Ainda está muito cedo?
O Wesley… Assim, está treinando bastante com a gente, entrando nos jogos. Claro que no Final Four a gente não pode esperar muito dele. Mas na sequência, nessa fase final do NBB para os playoffs, acho que pode ajudar, sim Com certeza vai ganhar mais minutos.

Você é um armador jovem, em termos de idade, ainda que já venha acumulando boa experiência nos últimos anos. Quando você recebe as notícias de tantas contratações, de veteranos de Seleção… Então como faz para ser o líder desses caras em quadra? É uma curiosidade que sempre tenho, sobre como funciona essa dinâmica.
É engraçado, mesmo. Eu já era um líder antes de eles chegarem, e neste ano continuou. É estranho. Fui capitão, levantei o troféu da Liga Sul-Americana e, você vê, sendo um dos caçulas do time. Eles me respeitam muito. Acho que o armador tem de falar muito dentro da quadra, mesmo, e eles me escutam. Principalmente por ser o armador, com outra visão. Isso é fenomenal. Ao lado de tantas estrelas, que jogaram as Olimpíadas, Mundiais, têm vários títulos, poder ser um dos líderes, é muito bom.

Fischer ainda pode atacar pelo Bauru: mas provavelmente a ação vai terminar em passe, com a quadra espaçada com chutadores

Fischer ainda pode atacar pelo Bauru: mas provavelmente a ação vai terminar em passe, com a quadra espaçada com chutadores

Por outro lado, imagino que, vez ou outra, no vestiário, eles podem pegar no seu pé também, né? De falar para o ‘moleque’ maneirar…
É… (Risos). Tem vezes que eles soltam o: “Calma aí”. Mas isso tudo que aconteceu foi bem natural, nada forçado. Todo mundo respeita. Pode até vir o Wesley, que é o mais novo do time, e a gente vai escutar e conversar.

E o que você ganha com esses veteranos ao seu lado? Um cara como o Alex. O que ele mais oferece no dia a dia de treinos, fora o nome, o respeito que pede dos adversários?
Cara, costumo dizer que o Alex é um monstro, mesmo. Como pessoa e como jogador ele teve um impacto gigantesco. Um cara que já ganhou tudo, já competiu em tudo, e nesses dias fez 35 anos, mas parece que tem uns 20 ainda, pelo vigor físico dele, pela vontade que tem de ganhar. Já podia ser alguém acomodado, jogando na dele, mas quer ganhar a qualquer custo. A gente aprende muito com isso, com sua experiência e também com as histórias que conta.

Na virada de uma temporada para a outra, você já via pistas, dicas de que um grande time estava sendo formado? Ou tudo isso te pegou de surpresa?
Por ser um armador, conversava muito com os diretores. E eles tinham essa ideia de trazer esses grandes reforços. Confesso que a surpresa foi o Robert Day e o Jefferson. Tínhamos já o Faber no time, que estava fechado, mas teve um problema pessoal e saiu. O Day foi uma novidade sensacional. Hoje temos um banco com Larry, Gui e outros caras que poderiam ser titulares em qualquer time. São caras que se completam, foi um time bem montado.

Quando soube queria todos esses jogadores como companheiro, as coisas mudaram para você na preparação para a temporada?
Muda bastante, porque no ano passado tinha mais protagonismo, tinha de buscar mais a cesta e ao mesmo tempo fazer o time jogar. Não preciso mais ir tanto para a cesta, agressivo como no ano passado. Preciso fazer mais que eles joguem. Acho que está correndo tudo bem. Fiz um grande trabalho, no lado mental, porque é difícil. No ano passado fazia 15, 20 pontos. Agora tem jogo que faço 2, 5, mas não me importo. Entendo qual a mudança que precisava ter. Para este ano, também trabalhei muito fisicamente.

Ganhando força, mas mantendo a velocidade

Ganhando força, mas mantendo a velocidade

Esse tipo de sacrifício é o que seria pedido para cada jogador, mesmo, com tantas contratações. Isso foi conversado com vocês antes de a temporada começar?
Foi tudo muito natural, mesmo, e acho que por isso que nosso time está tão bem. Todos os jogadores sabem que, para ganhar, precisariam abrir mão de algumas coisas. Todos entenderam isso, e não temos vaidade nenhuma, mesmo, por mais que algumas pessoas até nem acreditem. Se vou sair para o Larry entrar, estou dando o lugar para um grande jogador. Todos se respeitam, isso é a chave.

O favoritismo incomoda? A partir do momento que Bauru juntou este elenco, o nível de expectativa ficou altíssimo. Aí o time ganha o Paulista, ganha a Sul-Americana e lidera o NBB. Ao mesmo tempo, enquanto vai cumprindo com isso, cada resultado positivo, imagino, só faz crescer do outro lado, não?
Vem mais pressão. E isso vem, mesmo, desde o momento em que começamos a treinar. Todo mundo querendo saber como vai ser esse time, se vai ganhar. Estamos acostumados com essa pressão. É algo que anima a gente, dá vontade de mostrar para os outros nosso potencial. Até agora não está atrapalhando. Estamos mostrando o motivo pelo qual temos o rótulo de favoritos. Espero que consigamos manter essa sequência na Liga das Américas.

Sobre o estilo da equipe, de buscar muito o chute de três pontos. Sabemos que esse é um ponto discutido no basquete brasileiro há muito tempo. Talvez nem tanto o volume, mas a seleção de arremessos. De qualquer forma, lá fora, há uma tendência que isso cresça, mesmo. Para o Bauru, era esse o plano desde o início?
Acho que foi pensado, mas também teve o encaixe natural. Tem jogo em que chutamos 40 bolas, mas com um aproveitamento bom. A característica dos jogadores é essa. A gente não pode tirar. O que a gente conversa bastante é que, depois de estudar o jogo, vemos que alguns arremessos estão sendo forçados. Então a gente pode jogar mais interno, mas é uma característica que não dá para perder. O Rafael, por exemplo, é um jogador 5, que joga muito bem de costas, mas é um cara que faz corta-luz e pode abrir para o arremesso. O Alex pode jogar dentro e aberto também. Temos muitas armas. A gente procura trabalhar para liberar o arremessador, deixá-lo livre para matar.

Para fechar, queria perguntar como você está se sentindo na sua curva de aprendizado. No que pensa em melhorar daqui para a frente.
Tenho mais três anos de contrato, mas com cláusula para que eventualmente possa sair para a Europa ou para a NBA. Só no Brasil que não. O aprendizado foi esse de saber abrir mão do meu jogo ofensivo em prol da equipe. E fisicamente, mesmo. Na Seleção, acabei me machucando no Sul-Americano. E me foquei este ano no físico. Se voltar para a Seleção, para o Pan de Toronto, quero estar bem. É um trabalho em cima de resistência e força. Não sou um cara alto para a armação, então preciso ser veloz e forte. São coisas que eu percebi que precisava trabalhar, e neste ano já melhorei muito, mas ainda tem muito mais para ganhar, com um trabalho específico, com uma nutricionista e um preparador físico em Bauru, que trabalham sozinhos comigo.

E os planos para o futuro? Pensa em jogar na Europa, fora do país?
Penso, sim, em ir para a Europa. Ir para uma Espanha, jogar a Euroliga, acho que é o sonho de qualquer um. Mas estou feliz em Bauru, tenho esses três anos de contrato, assim como o resto do time. Então não precisa criar expectativas. O que tiver de acontecer, vai acontecer.


A conquista sul-americana de Bauru em números
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Giancarlo Giampietro

Festa em Bauru. Já está virando recorrente

Festa em Bauru. Já está virando recorrente

Vamos com um apanhado estatístico do primeiro título continental da história de Bauru, que arrasou Mogi das Cruzes na final da #LSB2014 nesta quinta-feira, para termos uma ideia do quanto os caras sobraram nessa campanha:

281 – Os arremessos de três pontos em oito jornadas, com média assustadora de 35,1 por jogo. O aproveitamento foi de 38,1%. Para comparar, eles tentaram 23 chutes de fora a mais do que as bolas dentro do perímetro, zona em que tiveram aproveitamento de 62%. Em lances livres, foram 134 no geral, média de 16,7 por jogo.

169 – O saldo de pontos de Bauru no torneio, com média impressionante de 21,12 por partida. Avassalador. A maior diferença foi estabelecida na semifinal contra o Malvin, do Uruguai: 46 pontos. O jogo mais ‘apertado’? Triunfo sobre Brasília na abertura da segunda fase, com 95 a 87. Se for para contar apenas o Final Four, Bauru venceu os últimos dois jogos por uma média de 36 pontos. Para comparar, o vice-campeão Mogi terminou a competição com 40 pontos de saldo.

Bauru movimentou bem a bola; Larry virou sexto homem

Bauru movimentou bem a bola; Larry virou sexto homem

164 – O total de assistências da equipe em toda a campanha, em média superior a 20 por jogo. Excelente: 61,4% de suas cestas de quadra foram assistidas. Isso sem contar os passes que resultam em faltas e lances livres.

93,5 – A impressionante média de pontos por jogo. Apenas em uma ocasião o time ficou abaixo dos 80 pontos: na decisão contra Mogi, na qual também fez sua melhor defesa, limitando o adversário a 53 pontos. Mogi teve média de 78,3 pontos.

Gui, num raro momento de ataque agressivo em direção ao garrafão; Bauru priorizou o chute de fora

Gui, num raro momento de ataque agressivo em direção ao garrafão; Bauru priorizou o chute de fora

70,2% – Quando jogou perto da cesta, Rafael Hettsheimeir foi um terror para os adversários, matando 33 de 47 bolas de dois pontos. Em arremessos exteriores, ficou num 33,3% que não impressiona (12/36), mesmo sendo ele um pivô. Jefferson foi outro grandalhão que, no fim, não teve uma média tão boa assim lá fora: 32,7% (18/55).

57 – Os valiosos minutos recebidos pelo jovem pivô Wesley Sena, se aproveitando das sacoladas que sua equipe dava para entrar na festa. O promissor pivô tem apenas 18 anos e disputou sua primeira competição internacional adulta. Somou 25 pontos e sete rebotes, convertendo 10 de 19 arremessos (52,6%), com 1/3 de longa distância. O armador Carioca, de 21 anos, extremamente atlético, mas enfezado demais, ficou em quadra por 36 minutos.

56,9% – O aproveitamento de Robert Day em chutes de três no torneio. O gringo contemplado pelo Bolsa Atleta e que nada tem a declarar a respeito foi o único que, entre os que tiveram maior volume de jogo, superou sua pontaria de dois pontos com os pombos sem asa  (56,9% x 53,8%).

Murilo nem jogou direito a Sul-Americana, e Bauru atropelou mesmo assim

Murilo nem jogou direito a Sul-Americana, e Bauru atropelou mesmo assim

32 – Um jogador do calibre de Murilo disputou apenas 32 minutos no torneio, ainda limitado por problemas no joelho. Em cinco partidas no geral, ele marcou só 9 pontos, com… três arremessos de longa distância, em três tentativas. Fora isso, foram três arremessos de dois, todos errados.

5 – Todos os cinco titulares na maior parte da campanha terminaram com média de pontos superior a 10 por jogo. De cima para baixo: Robert Day (16,6), Rafael Hettsheimeir (16,5), Alex (13,3), Jefferson William (11,0) e Ricardo Fischer (10,8). Larry Taylor, que integrou o quinteto inicial na decisão contra Mogi, no lugar de seu compatriota norte-americano, terminou com 9,0. Gui Deodato teve 7,8.

2 – O atlético Gui Deodato tentou duas vezes mais arremessos de três do que de dois pontos: 30 x 15. Se levarmos em conta que ele matou módicos 30% dos disparos exteriores, é uma pena, mesmo, que ele não tenha expandido seu jogo. Ainda são raras as ocasiões em que vai por a bola no chão e partir para a cesta, sem explorar sua velocidade, agilidade e impulsão. No geral, ele cobrou apenas 14 lances livres em 163 minutos.


Ainda sobre a Bolsa Atleta de Robert Day e a conivência da CBB
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Giancarlo Giampietro

robert-day-bolsa-atleta

Já publiquei aqui a nota de esclarecimento da CBB a respeito de seu envolvimento, ou não, com a Bolsa Atleta de R$ 925,00 entregue ao ala Robert Day, norte-americano titular do time de Bauru. Mas vale retomar o caso depois de um pouco de ponderação.

A entidade afirma que não tem poder de veto ou indicação sobre os atletas beneficiados pelo programa, fornecendo apenas a documentação requisitada: “A concessão do benefício segue legislação própria, a que todos estamos submetidos, e não há como a CBB indicar, facilitar, favorecer ou ajudar de qualquer forma nenhum atleta a receber o benefício”.

Por isso, não poderia dar “uma forcinha” ao atleta, conforme escrevi no meu primeiro artigo. Talvez o termo “forcinha” tenha sido um termo propositalmente ambíguo e capcioso para abordar um tema que claramente pede um tratamento bem longe do preto e branco da lei. Afinal, o que está no papel não se discute mais? É a letra fria, e pronto?

O que temos aqui é uma situação em que a CBB simplesmente lava as mãos diante de um absurdo desses. A mesma entidade que está – ou deveria estar – ciente da penúria que ainda domina o basquete brasileiro, a despeito de um celebradíssimo sexto lugar na Copa do Mundo e dos avanços promovidos exclusivamente pela Liga Nacional do seu lado. Como prova a arrecadação de fundos virtual promovida por Franca, o basquete brasileiro não está em condições de descartar os 900 e poucos reais endereçados a Robert Day.

Obviamente que o que mais causa vergonha nessa história toda é a cara-de-pau e o jeitinho brasileiro muito bem assimilado pelo atleta, além do buraco na lei federal que permite a solicitação de recursos públicos por e para a conta de um estrangeiro já muito bem pago. Mas realmente não cabia nenhuma ação da turma de Carlos Nunes nesse caso? Não havia absolutamente nada que pudessem fazer a respeito?

Sabemos bem que há um diálogo constante entre CBB e Ministério. Até porque, se não houvesse, a entidade muito provavelmente não teria condições de operar de uma forma minimamente respeitável, considerando o aporte que recebeu da Esplanada nos últimos anos e seu amontoado de dívidas.

Sem a documentação oficial, o americano não conseguiria se candidatar ao Bolsa Atleta. Aí a confederação simplesmente diz que não pode negar um pedido que, infelizmente, é legítimo.”A CBB cumpre o que lhe é imposto”, afirma em nota. “São meras, óbvias e inegáveis informações solicitadas pelos atletas, que os enquadrarão ou não nos critérios estabelecidos para solicitação do benefício, que não proíbem a participação de estrangeiros. A solicitação do benefício somente pode ser feita por cada atleta interessado, nunca pelas entidades de administração esportiva. À CBB não cabe vetar ou indicar atletas.”

Reparem que o “infelizmente” é um termo empregado pelo próprio blogueiro. Pois, em sua nota de es-cla-re-ci-men-to, em nenhum momento a entidade lamenta ou dá sua posição sobre o episódio. “São meras, óbvias e inegáveis informações solicitadas pelos atletas, que os enquadrarão ou não nos critérios estabelecidos para solicitação do benefício, que não proíbem a participação de estrangeiros. A solicitação do benefício somente pode ser feita por cada atleta interessado, nunca pelas entidades de administração esportiva. À CBB não cabe vetar ou indicar atletas.”

Mas, espere um pouco. Vale atentar para mais um fato. O Ministério informou ao companheiro Daniel Brito, do UOL Esporte, que “o processo de divulgação dos contemplados também passa pela confederação de cada modalidade, que avaliza os nomes antes de serem divulgados no Diário Oficial da União”.

A CBB avalizou o nome de, hã, Roberto Dias? Talvez não pudesse, de acordo com a lei, dizer “não”. Talvez o avalizar aqui se trate apenas de uma última checagem para ver se o Atleta X está regular, ou não. Pode ser, mesmo. Esteve aí, porém, mais uma oportunidade para apontar o desatino.

Agora, para que criar rusga com o órgão que lhe sustenta?

Politicamente, é o movimento correto.

E eticamente, como guardiã do basquete no país?

Tirem suas próprias conclusões.


Bolsa Atleta e Bolsa 3 pontos: o dia do Robert
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Giancarlo Giampietro

O dia do Robert

O dia foi do Robert, com muito ou quase nada o que se falar

Brasileiros e brasileiras, vocês vão desculpar o trocadilho infame, mas é inevitável: o dia 11 de novembro de 2014 do basquete nacional pertenceu a Robert Day. Pela manhã, fora de quadra, o ala norte-americano do Bauru foi o protagonista de uma dessas matérias que só nosso país pode te oferecer. Ao final da tarde, em ação, também fez questão de roubar a pauta para ele em vitória sobre o Brasília pelo quadrangular semifinal da Liga Sul-Americana.

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Brasília? Opa, e veio do Distrito Federal, mesmo, a reportagem do intrépido Daniel Brito que abriu a jornada basqueteira deste blogueiro nesta terça-feira: “Bolsa Atleta do governo federal paga jogador de basquete dos Estados Unidos“. É o tipo de manchete que te faz levantar do sofá, ir ao banheiro novamente e jogar água no rosto. Para ver se despertou direito. Era o caso.

Acontece, mesmo, que Day se cadastrou no programa de beneficiários do Ministério do Esporte, foi aprovado e vem sendo agraciado com a quantia de R$ 925 mensais. Dinheiro público embolsado pelo jogador estrangeiro, que não está nos planos da seleção brasileira, nem nada perto disso.

Nascido em Portland, terra do amável Trail Blazers, há quatro anos no Brasil, o jogador teve seu nome publicado no Diário Oficial no último dia 1º de julho. Os demais detalhes você confere no texto do próprio Daniel. Só adiantamos aqui um dado importante: um dos reforços do badalado elenco de Bauru para esta temporada, o jogador está ganhando algo em torno de R$ 30 mil mensais. Ah, vá. O jeitinho brasileiro contagia.

Segundo o Ministério, a concessão para Day “segue a legislação em vigor”. Consta que o atleta tem enviar sua documentação obrigatória, mas também tem de contar com uma forcinha da CBB, a confederação (ir)responsável pelo esportista. Isto é, não se trata de uma operação ilegal – e tampouco algo sorrateiro. Day contou com a anuência da entidade e de sabe-se lá quantos burocratas. Ninguém que pudesse apelar ao bom senso. Impagável, não? Quer dizer: é pagável, sim. A cada 30 dias.

O que o jogador teria a dizer a respeito? “Nada a declarar”.

Horas depois da publicação da notícia, Day falou, sim, todo sorridente com a reportagem do SporTV. Disse qualquer coisa sobre estar feliz de ter ajudado o time numa vitória importante. Nada sobre a graninha extra. O americano havia acabado de marcar 32 pontos em uma vitória de virada, incrível, do Bauru sobre os atuais campeões sul-americanos: 95 a 87.

Day anotou 32 pontos na partida. Até aí, quase normal. O que pega é que foram 30 pontos só em arremessos de longa distância. Sim, ele matou 10 chutes de fora contra Brasília, em 12 tentativas. Sete delas aconteceram apenas no terceiro período, o da reação, em sequência. Foi como se o americano tivesse ganhado também uma Bolsa de 3 pontos.

Robert Day, e sua Bolsa de 3 pontos entregue por Brasília

Robert Day, e sua Bolsa de 3 pontos entregue por Brasília

Uma façanha, é verdade. De ambas as partes: do cestinha da partida e da defesa adversária, em desatino, perdidinha, vendo o adversário fazer uma arruaça que só na linha perimetral.  A equipe de Guerrinha como um todo acertou dez de suas 15 tentativas no período – 30 de seus 40 pontos no geral. No geral, foram 19 em 43, com 44% de rendimento e 57 pontos.

De novo: inacreditável, aproveitando-se da gritante falta de comunicação dos candangos. A defesa era a maior preocupação de José Carlos Vidal antes de o NBB7 começar e vai seguir um problema difícil de se resolver, enquanto seus gringos ainda buscam entrosamento com os novos companheiros e se adaptam ao estilo praticado aqui.

Muitas das cestas de longe aconteceram com os atletas completamente livres, seja em descida em transição ou em jogadas de pura desatenção em que os comandados de Vidal partiam para o jogo de transição quando a bola não havia nem sido recuperada  no rebote. Resultado: um paulista a tomava e encontrava um companheiro sozinho para o disparo.

O time bauruense se aproveitou: no geral, eles tentaram 43 arremessos de três, contra apenas 35 de dois pontos. Uma loucura, mas o torcedor brasileiro que se acostume. Essa é claramente a proposta de jogo da equipe para a temporada. Nas duas primeiras rodadas do NBB, foram 63 arremessos de fora, contra 62 de dois pontos. Detalhe que, na primeira rodada, já havia enfrentado Brasília, mas com números mais modestos. Foram, na ocasião, 34 bolas de três para 32 de dois e aproveitamento de 32,4%. Na Liga Sul-Americana, o placar de quatro jogos soma 130 bolas de três contra 142 de dois, com 36,2% de acerto.

É uma abordagem ofensiva que vai favorecer, e muito, as qualidades de Robert Day. O americano havia chegado a esta quarta partida do torneio continental com 8 cestas de fora em 18 chutes, um ótimo 44%. Agora elevou sua pontaria para 60% no perímetro e chegou a uma média de 17,5 pontos. São números que justificam o Bolsa Atleta, no fim, não?

Nada a declarar.

*  *  *

A CBB se pronunciou a respeito da Bolsa Atleta recebida por Robert Day. Em seu site, publica uma nota a respeito, na qual afirma que não tem poder de veto ou indicação sobre os atletas beneficiados pelo programa, fornecendo apenas a documentação requisitada: “A concessão do benefício segue legislação própria, a que todos estamos submetidos, e não há como a CBB indicar, facilitar, favorecer ou ajudar de qualquer forma nenhum atleta a receber o benefício. São meras, óbvias e inegáveis informações solicitadas pelos atletas, que os enquadrarão ou não nos critérios estabelecidos para solicitação do benefício, que não proíbem a participação de estrangeiros. A solicitação do benefício somente pode ser feita por cada atleta interessado, nunca pelas entidades de administração esportiva. À CBB não cabe vetar ou indicar atletas”.


Chega ao fim a carreira de Kammerichs, o operário argentino e xodó do Flamengo por um ano
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Giancarlo Giampietro

Pesquisando sobre a seleção alternativa da Argentina que Júlio Lamas vai trabalhar para a Copa América, me deparei com esta manchete aqui o site do diário Olé, nosso bom e velho companheiro de tiração de sarro:

La extinción del Yacaré

 

Não é possível!

O jacaré?!

Sim, o jacaré Federico Kammerichs. O bigodudo que conquistou a torcida do Flamengo por uma temporada de NBB decidiu se aposentar neste ano, precocemente aos 33 anos. Convocado por Lamas, até pensou em fazer sua saideira em Caracas, mas optou por parar já, deixando o grupo dos atuais quarto colocados das Olimpíadas – e precisava lembrar!? – ainda mais inexperiente na busca pelo título continental e por uma vaga na Copa do Mundo.

Kammerichs, barba completa

O gesto característico de um Yacaré

Sem muita velocidade ou impulsão, mas com inteligência e coração, o ala-pivô teve uma carreira formidável, ainda que não à altura de seus companheiros de geração muito mais laureados. Ficando à sombra de Nocioni, Delfino e Herrmann, não teve lá muitos momentos brilhantes pela seleção, com exceção daquele fatídico Pré-Olímpico de Las Vegas 2007 – e precisava lembrar de novo, cazzo!? –, em que fez todo o serviço sujo necessário, limpando a quadra para Scola brilhar.

De qualquer forma, quando ele ficou aqui pertinho de nós, respirando os ares cariocas, Kammerichs mostrou o quanto podia ser especial em quadra.

Segue abaixo  um texto de nossa encarnação passada, tentando compreender o sucesso que ele desfrutava pelo Flamengo – pontuando bastante, somando double-doubles–, de certa forma surpreendente, para quem o conhecia apenas como um mero operário pela seleção argentina. Para não correr o risco de autoplágio, reproduzo na íntegra, já que não haveria muita coisa para acrescentar a respeito do cara, que fez sua última temporada pelo Regatas, em casa.

Foi publicado em 10 de janeiro de 2012, o que obviamente o inviabiliza desde já a concorrer à categoria de clássico da literatura esportiva nacional, logo depois de uma derrota rubro-negra para o Uberlândia, em dia inspirado do americano Robert Day.

Vamos lá:

“Robert Day acabou roubando a cena. A pauta prévia do VinteUm era assistir ao duelo entre Flamengo e Uberlândia no sábado com olhos fixos (bem, na medida que o enquadramento da TV permitir) em Federico Kammerichs, que vem arrebentando no campeonato nacional. Desviamos um pouco a atenção, mas cá estamos com ele.

Para os que acompanham o bigodudo por anos e anos de confronto com a Argentina, não surpreende que o medalhista olímpico contribua positivamente para o clube carioca e que seja um sucesso no NBB. Só não dava para esperar tamanho êxito, che: Kammerichs vai sustentando médias de 13,9 pontos por jogo, algo que jamais contentaria um Oscar Schmidt, mas é de se destacar num clube que já reuniu na mesma quadra gatilhos como Machado, Leandrinho e David Jackson, em um contexto de salve-se-quem-puder. Nos rebotes, está ainda melhor, com 10 por partida, liderando toda a liga. Além disso, seu aproveitamento nos arremessos de dois pontos é de 69,47%, convertendo basicamente seis por jogo a cada oito ou nove tentativas. Seus números defensivos não são de outro mundo, num reflexo de seu posicionamento correto, em detrimento de  precipitações em busca de roubos de bola ou tocos. Na somatória, noves fora, temos o segundo jogador mais eficiente (estatisticamente) do campeonato.

Aquela noite inesquecível de Las Vegas 2007

Kammerichs, naquela dolorida vitória argentina em Vegas

Um quadro que não condiz, que não bate com o que aprendemos a admirar – ou lamentar, dependendo do grau de envolvimento emocional – em suas partidas pela seleção argentina, na qual é valorizado por sua atenção aos pequenos detalhes do esporte, e, não, como um carro-chefe da equipe, daqueles com volume de jogo (mucho gusto, Scola, Delfino, Nocioni, Ginóbili, Quinteros, Prigioni etc).

Em toda a sua carreira em torneios FIBA com a albiceleste, só teve duplo digíto em pontuação no Sul-Americano de 2003, lá em Campos dos Goytacazes, com 11,2 por partida – época em que sua massa capilar ia muito além do bigodón, compondo um visual setentista daqueles –, e na Copa América de Santo Domingo-2005. Fora esses dois torneios, em competições de alto nível (ou não), ele teve médias de: 3,8, 3,7, 4,4, 0,5, 2, 7,3 e 4,4 pontos. Em quatro ocasiões, teve mais rebotes do que pontos, na verdade.

(Agora uma pausa nem tão breve para rodar o relógio para trás: era 2003 em Campos de Goytacazes, e naqueles dias a cidade fluminense tinha seu próprio clube na elite do basquete brasileiro, dirigido por Guerrinha, usando um modesto ginásio, onde este palpiteiro aqui ficou enfurnado para as finais do Sul-Americano, sentado nas tímidas arquibancadas ao lado de alguns scouts perdidos da NBA – o argentino Lisandro Miranda, do Dallas Mavericks, e dois (vai entender…) do Houston Rockets, BJ alguma coisa, um gigante figuraça, e Melvin Hunt, mais calado e hoje assistente técnico preferido de George Karl no Denver Nuggets, em ascensão notável, depois de ter trabalhado no banco do Cleveland Cavaliers. O principal alvo da trupe era o então jovem Carlos Delfino, que, na decisão, saltou para uma enterrada frontal, no meio do garrafão, diante do imponente Estevam: por alguns segundos, a respiração coletiva do ginásio parou e os olheiros da liga norte-americana levaram as mãos para a cabeça; o tempo se descongelou quando o pivô brasileiro, corajoso e ainda vigoroso, acabou fazendo a falta no ala, que seria selecionado no Draft um ano mais tarde pelo Detroit Pistons. Neste mesmo jogo, num domingo bem quente, Walter Herrmann, um cracaço que fazia a bola parecer de tênis em suas mãos, só não fez chover dentro de quadra. No time brasileiro, lembro que André Bambu havia rendido algumas notas para esses deslocados visitantes da NBA).

Kammerichs e Leandrinho tipo NBB

Leandrinho disparou, e Kammerichs vem atrás de qualquer sobra

Agora voltando: estávamos falando de como Kammerichs construiu sua carreira internacional muito mais como um operário do que como chefe da companhia. E o que acontece, então, para este veterano argentino se sobressair no NBB?

O ala-pivô nunca foi um jogador conhecido por sua capacidade atlética. Mas descolou seu nicho pela capacidade de leitura de jogo. Quase sempre aparece no lugar certo na hora certa para recuperar uma bola perdida, para fazer uma cobertura defensiva, se sacrificar em corta-luzes, capturar um rebote ofensivo, bloquear um pivô por trás. Ele sabe se aproveitar de quebras no sistema, de alguma interrupção no fluxo da partida para dar o bote. E, nos jogos frenéticos e desorganizados que temos visto durante o campeonato nacional, esse tipo de lapso ocorre aos montes, e há poucos concorrentes interessados nesse tipo de ação.

Kammerichs também é daqueles que joga duro o tempo todo. Pode ser lento e não sair do chão, mas  seus rivais não se podem deixar levar pela falsa impressão de estarem diante de um molenga. Especialmente quando confrontado com jogadores pouco móveis ou atléticos, que não consigam se aproveitar de suas deficiências – como Lucas Cipolini e Luis Felipe Gruber fizeram no sábado, aliás –, seu tino pela bola e dedicação podem colocá-lo em vantagem com facilidade. Ele vai correr o contra-ataque e receber a assistência do armador velocista que disparou primeiro. Vai atacar o rebote ofensivo. Vai se posicionar em um buraco defensivo e ter toda a liberdade do mundo para matar seu arremesso de média distância, embora não seja nenhum Léo Gutiérrez em termos de precisão.

Daí o volume maior ofensivo, ainda que nenhuma jogada seja propriamente desenhada para sua prestação de serviços. A cada cesta que faz, ele tem o hábito de cerrar o punho, com o braço flexionado, vibrando consigo de um modo um tanto desengonçado. Nunca em sua vida foi tão fácil atacar assim, então é hora de comemorar e aproveitar mesmo.

Só fica registrada aqui, no fim, a expectativa de que esse esforçado operário possa exercer qualquer tipo de influência em seus concorrentes brasileiros que não pelos seus supostos dotes ofensivos.”

*  *  *

Sabia? Kammerichs também foi draftado na NBA, o Portland Trail Blazers, lá nos idos de 2002, o mesmo ano de Nenê. Ele saiu na posição 51, cinco postos acima de… Luis Scola!. O bigodudo foi testado algumas vezes pela franquia do Oregon, mas nunca assinou contrato.

Na época, ele havia acabado de sair do modesto clube Ourense, hoje na LEB Oro, para o Valencia, ex-clube de Faverani e Splitter (por umas semanas de lo(u)caute). Jogou na Espanha sem muito destaque até 2008, quando retornou para casa, pelo Regatas. Aqui, sua ficha técnica de quando jogou a Eurocup, como se fosse a Liga Europa do futebol, em 2004-2005.


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