Mogi se destaca entre gringos do Hoop Summit. O que os scouts acharam?
Giancarlo Giampietro
Imagine o cenário. Você vai para a quadra, depois de ter contundido o pé logo no primeiro treino, algo que o atrapalhou um pouco nos treinos. Não domina o inglês e demora um pouco para se soltar, física e emocionalmente. Na hora do jogo, sua equipe, muito mal convocada, estava absolutamente controlada pelo adversário. Quando o técnico o chama, o resultado já está praticamente definido. Na plateia, para ver o resultado de tudo isso, estão dezenas de avaliadores da NBA.
Não era o contexto mais fácil para Wesley Mogi mostrar seu talento pelo Nike Hoop Summit, em Portland. Ainda assim, ao final de uma semana de atividades, com jogo no sábado, enfrentando todas essas limitações que o cercavam, o ala brasileiro fez quase tudo que estava ao seu alcance para deixar uma rara lembrança positiva em meio aos jovens talentos.
Se a seleção de prospectos internacionais foi muito criticada e não teve chance nenhuma contra um forte combinado americano (101 a 67), a promessa de 19 anos do Paulistano ao menos conseguiu se distanciar desse fiasco. Mesmo que, na opinião de dois scouts da NBA consultados pelo blog, ainda não tenha inserido seu nome na pauta mais imediata do Draft da liga.
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Para ambos os olheiros, experientes e designados para avaliar talentos de fora dos EUA durante a temporada, trabalhando para clubes que têm investido nesse tipo de jogador, foi a primeira chance de ver Mogi ao vivo.
É importante ter isso em mente, primeiro. Não se trata de uma avaliação definitiva sobre o jogador, mas sim algumas observações sobre uma semana de exercícios e 22 minutos de ação. Além disso, estamos falando de um garoto que, mesmo sendo o mais velho deste evento, tem uma carreira extremamente curta, que só conheceu uma bola de basquete aos 16 anos de idade e que mal joga pelo NBB.
Ok?
(Mais detalhes sobre sua trajetória estão aqui.)
Então vamos lá. A partir daqui, vamos identificar as fontes como Scout 1 e 2. A opinião de ambos sobre o brasileiro divergiu ligeiramente. O consenso é de que o time que o cercava era muito fraco e que isso o atrapalhou de forma considerável. Mogi hoje precisa de um time bem organizado para mostrar os melhores aspectos de seu jogo ofensivo.
“A seleção internacional era realmente ruim. É difícil você se dar bem num ambiente desses”, disse o Scout 1. “Mogi deixou uma boa impressão. Provavelmente foi o melhor jogador da equipe. Nos dias em que estive lá porém, eles não fizeram nenhum coletivo durante os treinos, então é uma amostra reduzida.”
Para o Scout 2, a recepção foi um pouco mais morna. “Ele mostrou um arremesso não muito confiável e sua habilidade para o drible é mediana. O que gostei mais foi sua valentia. Ele joga duro. Na defesa, gostei mais desse aspecto, de encarar, do que por seus atributos físicos. Ele tem bom corpo. Pode marcar na ala. Os LeBrons? Não. Mas num nível mais abaixo? Deve ter uma chance”, disse.
Uma terceira opinião que registramos aqui é a da dupla Jonathan Givony e Mike Schmitz, do DraftExpress. Ambos, que já o haviam assistido ao vivo antes, notaram como a seleção mundial respondeu positivamente quando Mogi foi para a quadra, devido à sua intensidade na defesa, dando energia ao quinteto.
Em seu texto de avaliação sobre o brasileiro, Givony também apontou o empenho defensivo como seu ponto mais forte no momento: “Sua envergadura de 2,08m ajuda a compensar a altura mediana. Ele sua seus atributos físicos, seu nível alto de intensidade e instintos sólidos para movimentar seus pés e atacar consistentemente as linhas de passe, a tabela e até mesmo bloqueando alguns arremessos ocasionalmente”. Sobre o ataque, na avaliação não é tão positiva ainda. O analista ainda registra que, durante a semana, a mecânica de arremesso do brasileiro mostrou “um vislumbre de esperança”, sendo mais consistente com em situação de recepção do passe, com os pés plantados, e subida para o chute (o catch-and-shoot). “Foi muito mais consistente do que você poderia pensar considerando sua reputação”, escreveu. Em movimento, porém, a história ainda é outra. Além disso, o drible e o entendimento do jogo foram questionados: “Não estão tão desenvolvidos como você poderia esperar”, especialmente quando o ataque vem em meia quadra.
É legal que Wesley tenha se sobressaído na hora mais importante, a do jogo, em meio aos seus companheiros estrangeiros. Só não dá para esconder que a garotada que o acompanhava deixou os espectadores bastante decepcionados. Bastante mesmo.
Como pode acontecer isso? É que, amigos, o dinheiro começa a falar mais alto. A Nike patrocina este evento, a academia de LeBron, entre outros. Já a adidas conta com o EuroCamp em Treviso e também o adidas Nations, torneio que ajudou bastante na cotação do ala do Paulistano, por sinal. Na hora de lidar com esses eventos, as companhias têm duas escolhas: se concentrar em reunir os melhores prospectos, independentemente de seus patrocinadores ou apoiadores, ou se limitar a atletas que já estejam sob seu guarda-chuva. Foi o que aconteceu este ano. “Eles não chamaram nem mesmo atletas que tivessem um contrato só de 5 mil pelo ano todo”, disse o Scout 2. “Eles poderiam certamente ter feito um trabalho melhor. A política interferiu.”
Não é fácil montar essa equipe, vale pontuar. Para monitorar o progresso de adolescentes mundo afora, você precisa de uma rede extensa de contatos bem treinados. E outra: alguns dos melhores jogadores já estão envolvidos com times profissionais em momentos decisivos da temporada. Por fim, existe uma preocupação de distribuição regional de vagas. Se você vai levar em conta a marca que os meninos usam, aí é uma tremenda furada. “Várias convocações foram questionáveis”, sinalizou Givony.
Esses equívocos ficaram ainda mais graves quando a molecada estrangeira teve de enfrentar uma seleção norte-americana muito forte, com uma geração que promete muito para a próxima temporada do basquete universitário. “No ano em que os EUA estão abarrotados e organizados, a seleção mundial precisava reunir o melhor grupo para poder competir, e não foi o que aconteceu.”
Schmitz afirma que não havia “nenhum jogador criativo, capaz de atacar a cesta ou servir”. “E eles enfrentaram excelentes marcadores no perímetro. Não era uma receita vencedora para a seleção mundial”, completou. Os armadores William McDowell-White, australiano de 17 anos, e o dominicano Andrés Feliz, que só vai chegar ao College em 2017, sentiram muito a pressão imposta por uma defesa agressiva e atlética. Cometeram juntos 13 turnovers.
Para alguém que ainda não consegue criar muito por conta própria, Mogi precisava de um time mais ajeitado, com parceiros que possam acioná-lo a partir de sua movimentação distante da bola. Claro que, para um elenco reunido em apenas uma semana, com atletas de culturas diferentes, esse é sempre um baita desafio para o técnico Roy Rana. Dessa vez, porém, nem o talento individual compensou,.como no ano passado, quando tinha Jamal Murray, Ben Simmons e outros.
Como fica Mogi agora? Seu agente, Eduardo Fonseca, em parceria com o grupo Wasserman, tem de decidir se a resposta que tiveram das cabeças da NBA são positivas o suficiente para lhe inscrever no Draft. Lembrando sempre que os atletas estrangeiros podem se candidatar e retirar o nome se acharem melhor. E têm até o ano que vão completar 22 para participar desse processo. No caso de Wesley, até 2018. “Não seria uma surpresa se ele decidir colocar seu nome neste Draft para ver qual a sua cotação entre os times fã NBA depois de uma semana sólida em Portland”, escreveu Givony. “Encontrar um lugar em que ele possa continuar trabalhando em suas habilidades vai ajudá-lo a compensar o tempo que ele perdeu no Brasil.”
Qual seria a cotação do brasileiro no momento para as duas fontes consultadas? O Scout 1 acredita que Wesley pode estar nas conversas para um top 100, embora “ainda seja cedo”. “Depende de quais jogadores internacionais vão manter seus nomes. Gostaria de vê-lo mais, em treinos privados ou no EuroCamp.”
O Scout 2 afirmou que “não acha que ele teria muita chance”. “Você só precisa de um time para gostar de você, então tudo é possível. Mas não estou certo sobre ele”, disse, citando uma das máximas sobre a qual o namoro entre Toronto e Caboclo é o maior exemplo recente.
Eu os questionei se o viam, hoje, ao menos com chances de ser escolhido na segunda rodada. Para o Scout 1, “a diferença entre ser escolhido entre as posições 50-60 são bem grossas, então todo mundo pode ter uma diferente opinião”.
O Scout 2 completou: “O que pega este ano é que a leva para a casa de 50 a 60 não é boa. Se você tem uma escolha nessa faixa e quer usá-la em um ‘stash’ (um atleta que possa ficar sob contrato com um clube do exterior, se desenvolvendo por conta), não há muitas opções”.
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