Vinte Um

Arquivo : Magnano

Campeonato Paulista faz de tudo para afastar o torcedor mesmo durante as finais
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Giancarlo Giampietro

De todos os campeonatos estaduais de basquete do Brasil, o Paulista é o único que se sustenta com diversos clubes de elite na disputa. É hoje basicamente o único vendável para a TV, sendo disputado em sua grande maioria por jogadores profissionais, atletas com passagens por seleção brasileira e muitos, mas muitos estrangeiros mesmo.

Posto isso, o que testemunhamos nesta temporada foi preocupante. Ainda mais quando nos concentramos apenas nos mata-matas, sua fase de definição e, por isso, sua fase mais importante. Se isso é o melhor que podemos fazer no momento, imagine…

Vamos lá. As duas primeiras partidas da final tiveram um nível técnico muito abaixo, algo desencorajador. Não tem como aliviar muito depois de considerar estes dados aqui: em 80 minutos de basquete, tivemos 65 desperdícios de posse de bola e 94 arremessos de três pontos por parte de Pinheiros e São José. E, tal como a série empatada por 1 a 1, a divisão desses quesitos também foi bem equilibrada entre as partes.

São números estarrecedores, gente: 0,8 erro e 1,15 chute de longa distância por minuto de jogo.

Aí chega a hora de assumir um desafio imenso, aquela hora de botar a cuca (do blogueiro) para funcionar. Tentem me acompanhar enquanto a máquina não funde. 🙂

Se, hipoteticamente, toda posse de bola fosse usada até o fim, usando os 24 segundos na íntegra, teríamos a média de duas posses e meia por minuto ou cinco a cada dois minutos. Mas claro que não é desta maneira que acontece. Existem contra-ataques que não levam nem dez segundos para ter sua conclusão, há aquelas investidas abreviadas por uma falta mais cedo resultando em lances livres e muitas outras variáveis. Então demos um desconto: que cada minuto tenha quatro posses de bola, num ritmo frenético (cada posse, aqui, levaria 15 segundos). Mesmo com esse ritmo acelerado, chegaríamos a uma conclusão de que metade delas (1,95) terminaria de modo previsível – ou com um chute de três, ou com a bola nas mãos do árbitro/torcedor/gandula/treinador/mesário/locutor… Em qualquer lugar, menos na cesta.

Pode procurar, mas vai ser difícil encontrar uma liga ou um torneio de elite em que esses números sejam um padrão. Ainda mais quando sabemos que, dos 94 disparos efetuados de fora, apenas 33 foram convertidos (35,1%). E nem importa: o padrão de jogo não muda, ganha quem erra um pouco menos, quem for um pouco menos tresloucado, e segue a vida.

*  *  *

Não só como supervisora do estado em que hoje é mais profícuo na produção de clubes e, por consequência, jogadores, a FPB também tem uma boa parecela de responsabilidade nisso com seu calendário completamente desregulado. Estamos no dia 24, e sabe quantos jogos dos playoffs foram realizados em novembro? Quatro. Contando o terceiro jogo deste domingo, serão cinco partidas no mês. Que ritmo as equipes podem adquirir desta forma? E, mais importante, como educar e/ou cativar o torcedor quando você assiste a um jogo que já não é o melhor e você não sabe nem quando é o próximo?

*  *  *

O presidente da CBB, Carlos Nunes, estava, digamos, escoltado por Rubén Magnano nesta segunda partida em São Paulo. Nada mais coerente.

 


Arrancada de Raulzinho é destaque entre os brasileiros da Liga ACB
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Giancarlo Giampietro

Raulzinho de roupa nova no País Basco

Raulzinho para o ataque: armador brasileiro vai mostrando evolução na liga

Para um esportista, a maioridade pode tardar um bocado pra chegar.

Veja o caso de Raulzinho, por exemplo, em que ela parece ter dado as caras aos 20 anos. O jovem armador vem sendo uma grata surpresa no início na temporada 2012-2013 da Liga ACB, ainda que seu Lagun Aro GBC venha com uma campanha decepcionante, depois de ter feito os playoffs na edição passada.

Em cinco rodadas até aqui, o armador vem com médias de 13,4 pontos, 4,2 assistências, 3,8 rebotes e 1,8 roubada de bola. No aproveitamento de arremessos, 50% de três pontos, 46% de dois e 75% nos lances livres. Para quem estiver mais habituado a ler os números produzidos na NBA, pode não parecer muita coisa. Mas é preciso ponderar aqui alguns fatores importantes, como: a) o ritmo mais cadenciado da liga espanhola; b) a menor duração das partidas (40, contra 48); c) a idade do jogador, que também tem pouca experiência  no basquete espanhol.

Raulzinho aponta

Cadenciar o jogo é algo que Raulzinho ainda vai aperfeiçoar em seu jogo na Espanha

No elenco da equipe basca, o brasileiro é o líder em minutos jogados, pontos (de longe, com 2,4 de média a mais que o experiente Qyntel Woods, ex-Jailblazer), assistências, bolas recuperadas, mira de três pontos e, por fim, no índice de eficiência. Além de ser o terceiro em (!) rebotes.

Um desempenho que serve como testemunho de seu trabalho com Rubén Magnano durante os meses de junho e julho, quando se preparou com o argentino e a seleção olímpica. Se não recebeu os minutos mais consistentes no torneio, ao menos os treinamento lhe ajudaram a ficar na ponta dos cascos

Por enquanto,  porém, o sucesso individual de Raulzinho não vem sendo traduzido para o coletivo e para a classificação do campeonato. O que não quer dizer que o garoto venha afundando o time, que demorou para reunir todas suas peças, mas ainda tem tempo para se arrumar.

Neste domingo, em derrota do Lagun Aro para o Fuenlabrada por 86 a 75, o brasileiro somou 13 pontos, 4 assistências, 5 rebotes e três roubos de bola em 26 minutos. Ele só não conseguiu um bom aproveitamento nos arremessos de dois pontos, errando sete de suas dez tentativas. Nos tiros de fora, foram duas cestas em quatro.

Um detalhe interessante: o brasileiro saiu do banco nesta jornada e foi responsável pelos dois primeiros pontos de sua equipe no confronto. Sabe com quanto tempo de jogo? Cinco minutos. Até então, os visitantes haviam marcado dez pontos sem resposta. O que dá praticamente a vantagem final no placar.

*  *  *

Na temporada passada, numa prova de seu jogo explosivo, Raulzinho anotou 13 pontos em menos de oito minutos de jogo em vitória sobre o Obradoria, vendo seu tempo de ação reduzido apenas devido ao acúmulo de faltas. Foram, mais precisamente, 8min54s de jogo para o rapaz, que se inseriu num ranking bem maluco que o site da liga espanhola tratou de mantar: o de maior número de pontos no menor período de tempo de jogo. Por curiosidade, o brasileiro ficou em quarto. O ex-armador José Luis Ferreira conseguiu 5min18s  na temporada 1992-93 16 pontos pelo OAR Ferrol e é o líder, seguido pelos 13 pontos em 6min35s do pivô Germán Gabriel pelo Estudiantes em 2001-02 e pelos 13 pontos em 6min49s de Xavi Crespo pelo Barcelona em 1993-94.


Nas quartas de final, Argentina e o carma. E dava para ser diferente?
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Giancarlo Giampietro

Deu Brasil x Argentina nas quartas de final de Londres-2012. Mesmo.

E… Dava para ser de outro jeito?

Se é para conseguir sua redenção olímpica, para tentar redimir uma geração esculhambada durante toda a década passada, talvez todo o carma do mundo exigisse que tivéssemos esse clássico sul-americano pela frente, como vamos relembrar agora.

Não curto muito escrever em primeira pessoa: nós (nós quem, cara pálida?) contra eles. Mas vocês deem um passe-livre nesta ocasião, por favor:

Varejão x Oberto

O jovem Anderson Varejão disputa rebote com Fabricio Oberto – Rogério Klafke também estava lá

– Eles nos derrotaram no Mundial de 2002, em Indianápolis, onde seriam vice-campeões. A seleção ainda era treinada por Hélio Rubens, havia dois irmãos Varejão no garrafão, Tiago Splitter estreava com 17 anos, Nenê já estava fora, e dividiam a armação Helinho e Demétrius, hoje assistente do técnico, então deles, Rubén Magnano. O primeiro tempo terminou empatado em 29, mas os caras abriram boa vantagem no terceiro quarto e triunfaram por 78 a 67.

– Eles repetiram a dose no Pré-Olímpico de 2003. Um ano depois, se consagrariam como campeões olímpicos em Atenas. Em San Juan, Porto Rico, ajudaram a empurrar ladeira abaixo a seleção, agora com Lula Ferreira e renovada. Os ainda garotos brasileiros sofreriam mais três reveses – até para o México de Nájera! – e seriam eliminados. Aquele foi um jogo feio, arrastado e equilibrado do início ao fim, com 35 (!!!) desperdícios de posse de bola.

– Avançamos no tempo consideravelmente agora, ignorando a esvaziada Copa América de 2005, e chegamos a Las Vegas, 2007. Só jogatina e ressaca: nós sem Anderson Varejão, mas com Splitter já bem crescido na Europa e Nenê retornando após quatro anos, e eles sem: 1) Ginóbili, 2) Nocioni, 3) Oberto e 4) Herrmann, mas foram duas derrotas: uma pela segunda fase e a outra, valendo vaga olímpica, pelas semifinais. Este blogueiro aqui estava lá, ganhou muitos pontos na escala de animosidade com boa parte do atual grupo, num ambiente tumultuado e extremamente tenso. Luis Scola jogou demais, Delfino acertava tudo de fora, Kammerichs tinha o bigodão mais legal do basquete, e foram duas pauladas bem doloridas que custaram a demissão de Lula. What happens in Vegas, stays in Vegas, baby!

Marcelinho x Delfino

Em Las Vegas-2007, Marcelinho viu a Argentina de Delfino vencer mais uma vez

(- Agora estamos em 2009, com o tiozão Moncho Monsalve no comando, bem piradão, e voltamos a San Juan, pela Copa América, para enfim derrotar uma Argentina que tenha escalado o tal do Scola. Foi pela primeira fase, não tinha vaga em jogo, nem nada. Eles tinham apenas o ala-pivô número 4 e Prigioni de suas principais peças, enquanto jogamos com Varejão, Splitter, Huertas, Leandrinho, Alex e, sim, Duda! Injusto? O trauma era tão grande, que não importava.)

– Em 2010, Mundial de Istambul, ainda ouvindo instruções em espanhol, mas com um sotaque argentino: Magnano foi contratado para o lugar de Moncho. A seleção apresenta uma defesa combativa de um modo nunca visto nesta geração, quase derrota os Estados Unidos, mas é eliminada pelos caras nas oitavas de final. Foram 37 pontos de Scola, santamãe, com um quarto período, infelizmente, inesquecível. Para completar, Delfino e Jasen mataram juntos 21 pontos de longa distância. Nocaute.

–  Que tal lavar, um pouco, da alma, então, derrotando nossos arquirrivais logo na casa deles, em Mar del Plata-2011? Foi o que a seleção de um Marcelinho Huertas dominante na armação e de um Hettsheimeir surpreendente fez, não importando que os ícones da Geração Dourada estivessem reunidos por ali. Um triunfo que encaminhou nossa equipe para a primeira vaga olímpica desde Atlanta-1996. Já classificados, os dois times se enfrentaram, então, na final: de moicano, e ressaca das boas, a trupe perdeu por cinco pontos.

Não dá para dizer que é um tira-teima, né? Não depois de tantas derrotas assim. Apenas valeria se nos limitássemos aos confrontos do ano passado para cá, incluindo os dois (nada) amistosos deste ano, com acusação de roubalheira em Buenos Aires, mãos no vácuo na hora de cumprimentar por lá, empurra-empurra e dedos em riste em Foz do Iguaçu. Foram duas vitórias para cada lado.

Neste confronto, não precisa nem de análise de vídeo: nossos pivôs já estão cansados de enfrentar Scola. Ginóbili sabe muito bem como Alex é um pé na sacola na marcação. E por aí vai. São personagens que se enfrentam há dez anos – Marcelinho Machado, por exemplo, estava em todos os jogos listados acima.

Desta vez os times se enfrentam com o que têm de melhor, ou quase. Prigioni ainda não se recuperou de cólicas renais. Nenê sofre com dores crônicas no pé e, segundo Magnano, é dúvida.  Quem perde mais nesta? O Brasil perde um ótimo defensor contra Scola. A Argentina fica sem seu jogador mais cerebral.

Nas próximas horas, esses protagonistas todos podem tentar minimizar qualquer noção de rancor e tal. Splitter e Scola são muito amigos, por exemplo. O catarinense se dá bem pacas com Ginóbili em San Antonio. Magnano tem o respeito de todos do outro lado. Quando a bola subir, porém, lembre que há fortes recordações em jogo.


Uma derrota dolorida no fim para acelerar a educação olímpica da seleção
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Giancarlo Giampietro

Vitaly Fridzon faz acontecer

Vitaly Fridzon se contorce para acertar de três pontos com Leandrinho ao chão

Sendo o mais direto possível: se era para perder um jogo desta maneira, que seja para a Rússia na fase de grupos, mesmo. No fim, é mais um capítulo na educação olímpica da seleção brasileira, batendo de frente com uma grande equipe que também é candidata a pódio.

Para efeitos práticos, isso deve significar um confronto com a França nas quartas de final, em vez dos nossos amigos da Argentina. Numa eventual semifinal, evitaríamos o duelo com os Estados Unidos.

(A não ser que aconteça alguma zebra, entre as alternativas abaixo:

a)    Brasil perde para a China

b)   Brasil vence a Espanha

c)    Rússia vence a Espanha

d)   Rússia perde para a Austrália)

Vai ver que estava tudo planejado por Rúben Magnano, né?

(Brincadeira.)

E aquela bomba? Bem, a bola de Vitaly Fridzon – que tem fama de doido no basquete europeu, mesmo, e jura ser “especialista nessa bola” – foi milagrosa, certeira, daquelas que vai entrar em todos os compactos do torneio. E como fica? Você sente o baque na hora, perdeu o jogo, mas não pode deixar que esse impacto seja duradouro.

Os técnicos se reúnem no quarto, reveem a partida – haja tortura –, anotam o que deu errado, o que saiu de acordo com o esperado e preparam a equipe para a próxima partida. Para eles, não há muito o que prolongar na discussão dessa cesta incrível de Fridzon.

Ao tentar fugir do corta-luz de Sasha Kaun, evitar o contato, Leandrinho acabou perdendo um segundo precioso. Para compensar, ao ver o rival escapar, acabou se desequilibrando e escorregou. Ele falhou em sua missão, mas não vejo como um erro clamoroso, desastroso, que valha a cruz nos próximos dias. Foi a bola do jogo, mas teve coisa muito mais feia no decorrer dos 40 minutos.

Como o segundo quarto desastrado, em que a seleção novamente se atrapalhou toda no ataque, parou de mover a bola e anotou apenas quatro cestas de quadra em dez minutos, cometeu violações, passou a depender dos chutes erráticos de fora (cinco erros).

Nesse período, Magnano também foi muito mal da sua parte, fazendo trocas frenéticas em suas rotações, quebrando o ritmo de sua equipe, que acabou permitindo um passeio de Andrei Kirilenko por dez minutos.

E como eles voltaram no jogo?

Bem, depois de tantas substituições, Magnano enfim (re)encontrou um quinteto com boa química em quadra, especialmente na defesa, com atletas bem postados, contestando o ataque adversário agressivamente. Até converter seus dois disparos de três pontos derradeiros, a Rússia havia errado oito de seus 11 arremessos e cometido quatro desperdícios de bola. “Defesa ganha jogo”, pode dizer o técnico argentino.

Melhor ainda foi ver combinar essa forte defesa – que virou nosso padrão, uma evolução enorme – com um ataque muito mais inteligente. E melhor: sem Marcelinho Huertas em quadra, creiam. Larry respirou ares de Bauru, colocou a bola debaixo do braço e comandou uma ofensiva muito mais incisiva, buscando a infiltração, atacando os gigantes russos na corrida, deixando Mozgov e Kaun pendurados de faltas. As bolas em flutuação caíram, assim como as bandejas do norte-americano e de Leandrinho, que seguiu o exemplo e buscou as cestas mais fáceis. É mais gratificante acertar uma bandejinha do que errar o chute de três, gente.

Defesa ganha jogo, sim, mas precisa fazer cesta também.

A equipe tem agora um ótimo exemplo a seguir daqui para frente.  Vão ter o sangue frio e executar desta forma? Esperemos que sim. Neste caso, as chances de viver um drama destes nos segundos finais novamente se reúnem drasticamente.

Por que de decepções no último segundo já chega, né?

Mama mia!

*  *  *

O chapa Bruno Freitas, imerso no basquete olímpico, já nos traz três repercussões quentinhas direto de Londres:

– Marcelinho Huertas destaca falha da seleção em defender sua vantagem de cinco pontos nos minutos finais

– Rúben Magnano fala sobre pontos positivos na recuperação brasileira no quarto período

– Técnico da Rússia coloca o Brasil – e sua seleção, claro – no páreo pelo pódio nas Olimpíadas. AK elogia Larry

*  *  *

E o que escrever sobre a atuação de Timofey Mozgov? O gigantão russ, que já foi protagonista de muitas e muitas piadas na rede, fez uma partida excepcional, engoliu Splitter e Nenê em alguns momentos e mostrou um arsenal ofensivo que dificilmente apareceu na temporada passada da NBA. George Karl e a diretoria do Nuggets só pode ficar contente com esse progresso, e imagino que ele estivesse provando isso nos treinos de sua equipe.


Vitória importantíssima para a seleção na estreia. E por que acharam que seria fácil?
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Giancarlo Giampietro

Seleção vence a Austrália na estreia olímpica

15 pontos e 10 assistências para Huertas na estreia sofrida

Quem falou que ia ser fácil?

Compreensível que se demonstre confiança em torno da seleção e era difícil, mesmo, segurar a euforia. Afinal, o time voltava a uma Olimpíada após 16 anos e vinha bem nos amistosos.

Mas… Daí a menosprezar a Austrália? Não se justifica.

Eles têm gente de NBA, atletas na elite da Europa há tempos – David Andersen é um dos jogadores mais bem remunerados no nível Euroliga por cinco ou seis anos já –, pivôs fortes, um técnico muito competente e um cestinha tão ou mais qualificado do que qualquer jogador brasileiro (Mills hoje tem muito mais facilidade para pontuar em jogadas individuais do que Leandrinho e Splitter, inegável).

O Brasil pode estar muito bem, ser considerado um favorito ao pódio, mas isso não servia para desqualificar nosso adversário de estreia.

Tivemos de ganhar o jogo, por  75 a 71. Não entramos com a partida já liquidada.

*  *  *

E, para quem perdeu a hora, como foi?

Bem, um primeiro quarto tenso. Huertas pressionado, chutes forçados, transição australiana funcionando, mas conseguimos apertar as coisas no final do primeiro quarto, ficando um pontinho atrás apenas. O segundo quarto seguiu travado, com os brasileiros dessa vez terminando com o pontinho na frente.

No terceiro quarto, por cinco, seis minutos, a seleção enfim apresentou um basquete de acordo com o que havia praticando nas últimas duas semanas. Em vez de atuar como presa, foi o time que optou por caçar os adversários, forçando sete desperdícios de posse de bola, enfim conseguindo sair de modo organizado no contra-ataque. Abriu 13 pontos de vantagem.

E aí veio algo inesperado: podemos esperar algumas bobagens aqui e ali de Leandrinho com a bola, uma falta de ataque mal marcada pelo árbitro, 300 chutes forçados de Machado, mas não estávamos preparados, não, para um equívoco sério de… Magnano!

O argentino fez um favorzão aos Aussies ao sacar o quinteto brasileiro em sua íntegra, justamente quando o time estava em alta. Em três minutos, a diferença já estava na casa  de cinco pontos. Não era hora para colocar o Caio, che.

Entendeu, Leandro?!?!?

Magnano dá aquela bronca em Leandrinho, mas dois cometeram erros graves na partida

Uma vez com o núcleo Huertas-Leandrinho-Nenê em quadra para iniciar o quarto final, voltou o respiro no placar. Não que tenha de ser obrigatoriamente desta forma daqui até o final do torneio. Não vai ser necessariamente com esses que o Brasil vai render seu melhor – quer dizer, no caso do armador, sim. Mas cada jogo tem sua história e, contra os australianos, o físico e a disciplina de Nenê foram muito mais eficazes.

Na metade do quarto final, porém, duas bolas de três convertidas por David Andersen voltaram a mexer com a partida. De repente, o placar voltava para a casa de cinco pontos, caminhando para o os minutos decisivos daquele jeito que cardíaco não gosta.

Um jogo parelho, dois minutos no cronômetro, e o que fez a seleção? Colocou a bola nas mãos de Leandrinho. No primeiro ataque, o ala fez tudo direitinho: gastou a posse de bola, encontrou uma brecha na defesa, bateu para dentro e descolou a falta de Andersen e dois lances livres. Tudo de acordo com o script, levando o placar para 73 a 67.

Muito bom para ser verdade?

Parece que sim.

Nas duas posses de bola seguintes, Leandrinho tentou uma descabida e egoísta bola de três pontos (com 52 segundos no relógio e vantagem de quatro pontos…) que a gente já viu acontecer diversas vezes. Inexplicável, mesmo.

Do outro lado, Mills errou seu disparo de longa distância, e o ala brasileiro voltou a se precipitar. Tentou acelerar para um contra-ataque, foi de ombro em direção a Joe Ingles e cometeu a falta de ataque. O lance até pode ser discutível, mas não haveria bate-boca se o brasileiro não tivesse se colocado naquela posição. Faltavam 44 segundos, não era hora de correr com a bola.

Leandrinho acabou excluído, e Machado entrou em seu lugar. O veterano ala, em sua primeira Olimpíada, ficou caçando borboletas na defesa e permitiu que um Ingles livrinho da silva, cortando pela porta dos fundos :), fizesse a bandeja e diminuísse para dois pontos o placar.

Foi aí que a sorte deu uma ajudinha.

Huertas controlava o jogo, gastando tempo até chamar um corta-luz impecável de Splitter, desmarcando o companheiro. O armador entrou no perímetro interno e faria um perigoso passe quicado para a zona morta. No meio do caminho, porém, a bola bateu no pé de um australiano e morreu, com nove segundos no relógio. Resultado: os brasileiro ganharam alguns segundinhos preciosos para atacar, exigindo que os oponentes fizessem a falta.

E, gasp!

Foi por um triz que Mills não roubou a bola, antes de cometer a falta em Huertas. O armador acertou os dois lances livres.

Vitória na estreia? Sim, e ufa. Mas, de novo: com o jogo jogado.


Analista da ESPN compara Huertas a astro da NFL e, claro, Steve Nash
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Giancarlo Giampietro

Armadores da Seleção duelam

É algo que vemos de modo recorrente por aqui: um técnico que se torna comentarista de TV. Foi o caminho que seguiu Fran Fraschilla, que trabalhou em diversas universidades de primeira linha na NCAA, mas que há anos vem atuando mais como analista da ESPN americana (TV e site) em jogos internacionais, enquanto quebra um galho aqui e ali como treinador. Ele participa regularmente dos camps de LeBron James e da adidas em Treviso,respectivamente  com m revelações norte-americanas e de todo o mundo.

Fraschilla, que, no caso, não se cansa de admirar por Marcelinho Huertas.

Eu sei. Os elogios públicos ao armador da seleção não são mais aquela novidade ou de empolgar nem mesmo para o mais provinciano dos brasileiros, né? Mas a gente vai reproduzir aqui o último deles de qualquer jeito, pois dessa vez quem falou foi looonge. Lá vai:

“Leandro Barbosa oferece a Rubén Magnano um cestinha que ataca o aro do perímetro, mas o cara que se mostrou um trabalho de mão cheia para os americanos é Marcelo Huertas, o Steve Nash da Liga ACB.”

E aí você poderia achar que era o suficiente? Nada disso:

“Ele é um dos melhores armadores da Europa e usa as jogadas de pick-and-roll de modo tão eficiente como Drews Brees controla os últimos dois minutos de um jogo.”

Drew Brees: quarterback do New Orleans Saints, MVP do Super Bowl da NFL de 2009 e recordista de uma pancada de estatísticas de sua posição na liga de futebol americano. Um dos caras mais badalados do esporte nos Estados Unidos. Agora chega, né?

Chega. Ou quase. No mesmo artigo, Fraschilla intui que Coach K não tenha apresentado a Huertas todos os tipos de cobertura que ele deve ver em Londres (no caso, claro, de um confronto eventual entre os dois times, que não necessariamente vão se enfrentar). A ver.

Sobraram elogios também para Magnano: “arquiteto da geração dourada da Argentina” e “tão bom estrategista como o possível nas Olimpíadas e vai colocar sua equipe em posição de causar uma surpresa”.

Bem, vai por aí: o comentarista acredita que o Brasil é a segunda maior ameaça aos EUA, atrás apenas da Espanha, acima de Argentina (terceiro), França (quarto), Rússia (quinto) e Lituânia (sexto).


Prévia olímpica: “Voltamos a falar de basquete”
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Giancarlo Giampietro

Era sábado passado, uma galera reunida no clube Ipê de São Paulo para comemorar as primaveras do Fernando Gavini, repórter da ESPN Brasil: à parte das rodinhas de futebol e daqueles que esmiuçavam as tramas envolvendo a tal da Carminha e a dupla atuação de Débora Falabella, tinha muita gente instigada com a seleção brasileira masculina de basquete.

Juro!

Claro que o blogueiro aqui, nessas ocasiões, parece andar feito aquele nerd com o papel colado nas costas, no qual estaria escrito “o tonto do basquete”. Talvez o basquete só fosse inevitável, mesmo, no lero em que o tonto estivesse presente. Bem mais provável.

Huertas de moicano

O pessoal quer falar sobre basquete

Mas chega de digressão: é fato que o assunto está aí fora para um monte de gente, né? Vemos os jornais dando bastante espaço, as mesas redondas essencialmente boleiras dos canais fechados abrindo concessões e o interesse aumentando.

Por anos e anos, a pauta era a lamentação pela ausência do time, algo que vinha desde Atlanta-1996. Hoje, podemos discutir que tipo de adversário se encaixa com o estilo da seleção, se Magnano deve escalar este ou aquele, se temos chance de medalha etc. No sábado, até mesmo uma derrota em amistoso para a França suscitava algumas dúvidas e debates. Estava no grupo daqueles que não importava o resultado, mas tinha muita gente que dizendo que não podia perder.

No fim, o consenso que realmente importava, naquela ocasião, foi destacado pelo chapa Thiago Mantovani, editor também da ESPN Brasil: “Pelo menos voltamos a falar de basquete!”, definiu o nosso cincão dos tempos de Cásper Líbero, que, nestes tempos de revolução do Coach K, poderia ficar para trás na quadra.

Então estamos assim: o Brasil de volta no masculino, com chances, e todo mundo falando a respeito. Já é um enorme avanço.

E o tem chance mesmo. A seleção chega para brigar, sim. Se não houver nenhuma lesão desagradável daqui para a frente. Caso a defesa se mostre com a vontade e empenho apresentados desde Mar del Plata. Com um Marcelinho Huertas muito exigido, para não dizer sobrecarregado. Se souberem a hora certa para atirar de três pontos, ouvindo bem os assovios de Rubén Magnano de fora da quadra.

Eles são não são obrigados a chegar ao pódio. Num degrau abaixo de Estados Unidos e Espanha, está tudo muito nivelado entre um punhado de seleções, incluindo aqui a brasileira, a russa, a argentina, a francesa e a lituana. Fazendo as contas, já estamos falando em sete times aqui para três vagas. Não dá para exigir nada em termos de pódio, então. Agora, uma eliminação na primeira fase seria uma tremenda decepção – um cenário muito difícil pelo que vimos do time até aqui, mas, sinceramente, não dá para ignorar. Uma derrota na estreia para a Austrália colocaria muita pressão na equipe.

Quando chegar a hora – tipo daqui a dois dias –, falaremos mais a respeito.

E o bacana é isto: chegaram as Olimpíadas, e podemos discutir, suar, passar mal e falar de basquete.

Prévias olímpicas no Vinte Um:

Coach K promove revolução tática. Mais ou menos como o Barcelona

Mais tradicional, Espanha espera oferecer grande resistência aos EUA

No torneio feminino, as meninas têm a chance de priorizar o time

E mais:

Confira os horários dos jogos do Brasil e o calendário completo da modalidade

O noticiário do basquete olímpico e o histórico de medalhas em página especial

Conheça os 24 atletas olímpicos do basquete brasileiro em Londres-2012


Brasil bate Austrália e agora faz últimos ajustes para enfrentar a… Austrália?
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Giancarlo Giampietro

Então é assim: em seu último amistoso antes das Olimpíadas, a seleção brasileira derrotou a Austrália por 87 a 71, neste domingo, e agora entra em sua semana decisiva, para fazer os últimos preparos e ajustes para enfrentar… a Austrália!

Tiago Splitter

SplitteR: 17 pontos e 2 rebotes neste domingo

Não é erro de digitação. Acabou sendo bastante estranho o timing dessa partida em Estrasburgo, na França, não?

O jogou não passou aqui no QG 21, que estava esvaziado devido a uma expedição providencial a um restaurante mineiro, recanto que  já se tornal tradicional aqui na Vila Guarani. A fome falou mais alto.

Mas, bem, estávamos falando que não vimos o jogo, então não dá para comentar nada de maneira muito apropriado. Se o time só desperdiçou a bola sete bolas e forçou o triplo de turnovers dos adversários, essa parece ter sido uma atuação bastante centrada, que manda aquele alô para os australianos, dominados do segundo quarto ao fim.

Em declaração ao site da CBB, Rubén Magnano fez questão de ressaltar que “não mostramos tudo o que temos”. Vai entregar o ouro para o bandido assim? Mas como fazer para ganhar a partida, de modo dominante assim, sem se expor demais? “A essência do jogo é uma só e não pode ser mudada, não há muito o que esconder”, comentou o técnico argentino.

Ontem escrevemos que não existe uma derrota que possa ser considerada legal. Da mesma forma que não há vitória que não venha em boa hora. Bacana, e tal, mas o que vale, mesmo, é o jogo do dia 29, né? Esperamos agora que os australianos tenham se impressionando com o recado dado, mas sem ter aprendido muito com ele.

*  *  *

Nenê terminou o confronto com os Aussies com seu primeiro duplo-duplo dessa série de amistosos: 12 pontos e dez rebotes. Varejão apanhou outros 13 rebotes. E Splitter anotou 17 pontos. A trinca botou para quebrar, pelo visto, somando 37 pontos e 25 rebotes.

*  *  *

Magnano colocou em quadra dessa vez todos seus 12 jogadores, depois de deixar Raulzinho no banco durante todos os 40 minutos do revés diante da França. O armador deu quatro assistências em 14 minutos. Caio jogou por oito minutos. Alex foi quem ficou mais tempo em quadra: 31 minutos. Huertas conseguiu um respiro, com apenas 18 minutos. Pelos australianos, ninguém jogou mais que os 27 minutos do talentoso ala Joe Ingles. Patty Mills jogou por 20 minutos, com 14 pontos e duas assistências. David Andersen por 22, com 16 pontos e 10 rebotes.

*  *  *

Marcelinho Machado jogou por 20 minutos, arriscou nove arremeso, sendo seis deles de três pontos (para dois convertidos). Os australianos chutaram 26 vezes de longa distância, acertando apenas 31%.


Liberdade para Varejão
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Giancarlo Giampietro

Já faz tempo também, estávamos em agosto de 2005, mas ainda me lembro da surpresa que causou informação de que Tiago Splitter se arriscava na linha de três pontos em amistosos da seleção brasileira por cá nos trópicos. Os olheiros europeus e norte-americanos não estavam nem um pouco familiarizados com essa faceta do jogo do catarinense que, na época, aos 20 anos, começa a ser enfurnado no garrafão do TAU Cerámica, jogando de costas para a cesta e só.

Anderson Varejão treina o chuteBem, tendo em vista o Splitter de hoje, sabemos o fim que levou essa aventura no perímetro – e pensar que houve um dia em que ele, ainda adolescente, era visto como um futuro Dirk Nowitzki na NBA, na época da efervescência de scouts na Europa.

Mas o ponto aqui é sobre Anderson Varejão, na verdade.

Essa estava guardada na manga há um tempo, mas, depois de sua exibição na derrota contra os Estados Unidos, chegou a hora.

Quem reparou nos chutes de média para longa distância que ele converteu? Em sequência. O capixaba estava aberto no ataque, provavelmente numa suposta armadilha do staff do Coach K. Oras, o Varejao (sem acento mesmo) ou Varejo, como escreveu Shaq no Twitter, não mata essa bola pelo Cavs. De jeito nenhum.

Agora imagino que o scout seja atualizado. Ô, se mata.

Talvez a trupe de Jerry Colangelo não estivesse tão ligada assim durante a Copa América de 2009, que eles não precisaram jogar por já estarem garantidos no Mundial da Turquia. Naquele torneio, sob o comando de Moncho Monsalve, ainda que numa amostra pequena, Anderson acertou 44% de seus chutes de três pontos e também mostrou predisposição a atacar o aro após fazer a finta no perímetro. Algo impensável no time em que a bola, então, ficava 90% do tempo, no mínimo, nas mãos de LeBron James.

Na seleção, ainda que saibamos que os pivôs mereçam mais carinho, é inegável o contraste de mundos para o cabeleira. Ele joga com muito mais confiança e liberdade para criar no ataque, se recusando a ser apenas um cara que viva de rebotes e sobras, trombadas por posicionamento defensivo preciso e cotovelos ralados.

Deixando bem claro: todas essas virtudes quase nunca são devidamente valorizadas por aqui e ainda compõem o que Varejão faz de melhor numa quadra. É por isso que ele ganha o que ganha em Cleveland e é idolatrado pela torcida de lá. Justo, bem justo.

Mas se tem alguma coisa que frustra o Vinte Um é ver jogador amarrado, algemado. E a liberdade da qual ele desfruta de verde e amarelo só aponta mais um sinal da mente inteligente que tem Rubén Magnano, por mais exigente e controlador que o argentino pareça ser.


O corte de Augusto e os pivôs das Olimpíadas
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Giancarlo Giampietro

Tá, vocês já sabem: Augusto Lima foi o último cortado da seleção brasileira masculina para as Olimpíadas de Londres-2012. No fim, o que isso pode significar?

Caio Torres, seleção brasileira

Caio Torres, um dos 12 olímpicos

Vamos tentar entender. Mas deixando bem claro: o que vem aqui abaixo é o produto de especulações internas do QG 21, sem informações que venham diretamente de Foz do Iguaçu, muito menos de Córdoba, na Argentina, ok? E outra: o post está imenso, sim, mas com informações que julgo interessante compartilhar e discutir de modo um pouco mais prolongado do que o normal.

Adelante, então:

– Começando pelo mais simples, algo que muitas vezes pode ser ignorado em favor de teses mais mirabolantes. Magnano pode realmente achar que Caio é o melhor jogador entre os dois pivôs ou pelo menos considerar que era o que estava em melhores condições para ir aos Jogos.

– Além disso, de informação, mesmo, dá para dizer que Magnano conhece Caio há tempos e sempre o admirou. Para justificar essa afirmação, resgatamos uma passagem que o blogueiro testemunhou lá atrás em 2004 (caceta, já são quase dez anos atrás!), na distante ilha de Chiloé, cidade de Ancud, no Chile. A anedota já foi contada em nossa encarnação passada, mas nem todo mundo aqui nessa nova casa tem ligações com o sobrenatural para saber disso, né? Então segue o que já foi publicado no VinteUm do além-vida, na ocasião da divulgação da primeira lista de Magnano: “Sabemos que Magnano adora Caio desde os tempos de base. Em 2004, em Ancud, cidadezinha a mil quilômetros de Santiago, lá embaixo no continente, o treinador já via o pivôzão fazer estragos, mesmo sendo dois anos mais novo que a concorrência num Sul-Americano. Estava lá e via o quanto ele se divertia em falar “The Big Man”, de boca cheia, subindo as escadas, em minha direção depois de ver o brasileiro atropelar os adversários no garrafão. Ao ver seu nome novamente incluído na relação principal, não tem como esquecer a cena.”

Faltou dizer que fazia um frio danado, e Magnano só estava virando as costas para o jogo para buscar um copo de café na tendinha bem tímida armada dentro daquele inesquecível ginásio, que precisava de uma calefação daquelas.

– Sabendo dos problemas físicos de Nenê, a convocação de Caio, também não deixa de ser um movimento de precaução do argentino, não? Mesmo na melhor forma física de sua vida, o pivô do Flamengo ainda é uma fortaleza.

David Andersen x Andrei Kirilenko

Andersen e Kirilenko: força bruta?

– Se ignorarmos as dores no pé de Nenê, talvez o argentino esteja se preparando para batalhas físicas de garrafão em Londres-2012. Esse é um mantra constantemente evocado aqui, ali e em todo lugar. Será, mesmo? Convém aqui, então, um resumo não tão breve sobre o que nos aguarda na primeira fase olímpica, pelo Grupo B, em termos de pivôs:

1) a Austrália tem um garrafão de respeito, com David Andersen, Aleks Maric e Matt Nielsen, todos beeeem rodados em alto nível na Europa. Desses, contudo, apenas Maric é alguém que investe muita energia de costas para a cesta, dando suas pancadas – algo que só fez em treino nas últimas duas temporadas, diga-se, já que estava enterrado no banco do Panathinaikos depois de um a Euroliga imponente pelo Partizan. Andersen também pode fazer isso, mas faz tempo que sua preferência é flutuar com frequência para o perímetro, dada sua habilidade no chute de média distância. Nielsen opera basicamente da cabeça do garrafão, fazendo bons corta-luzes, arremessando e orientando os companheiros;

2) a Rússia tem Timofey Mozgov e Sasha Kaun, um NBA e outro CSKA, dois grandalhões, mas nenhum deles é uma grande arma ofensiva. Varejão não teria problema com nenhum deles, por exemplo. O restante são alas-pivôs versáteis, que chegam na zona pintada com velocidade e, não, força;

Pau Gasol x Yi Jianlian

Há uma boa diferença entre um Pau Gasol e um Yi Jianlian

3) a China joga com Yi Jianlian e o imortal Wang Zhizhi, que são da categoria pena, né? Mais chutadores do que tudo. Tem também um sujeito de 2,21 m inscrito, Zhang Zhaoxu. Se ele fosse minimamente ameaçador, com essa altura e 24 anos, já teríamos ouvido a alguém mencioná-lo, creio;

4) a Grã-Bretanha está mais ou menos no mesmo patamar dos australianos, com gente bem experiente e pesada em Robert Archibald e Joel Freeland. Agora, são dois que Splitter cansou de enfrentar na Espanha, quase sempre com resultados mais que positivos. Já Pops Mensah-Bonsu tem um dos melhores nomes do torneio olímpico e é um ótimo atleta, mas não alguém para Caio marcar. Daniel Clark e Eric Boateng também podem apresentar um currículo razoável, mas ninguém pode temê-los.

(Nota de rodapé? Clark jogou com Caio no Estudiantes espanhol anos atrás e seguiu no clube, enquanto o brasileiro foi dispensado e/ou decidiu se desligar. Dava pra desenvolver mais aqui, mas iríamos nos estender demais, né? Tem a ver com jogador comunitário, imaturidade, muitas apostas no clube etc.)

5) Espanha: aí, sim. Os irmãos Gasol, o atlético Ibaka e o chatíssimo Felipe Reyes, daqueles que parece lento, baixo, mas é forte e técnico pra burro e nunca desiste. Aqui é pedreira para qualquer time do mundo.

6) Se quisermos já prospectar sobre as oitavas, os EUA vão apenas com um pivô tradicional para Londres, mesmo caso da Nigéria; a Argentina tem Juan Pablo Gutiérrez, a Lituânia leva o jovem Jonas Valanciunas e o robótico Javtokas; na França, os três pivôs listados são Ronny Turiaf, Kevin Seraphin e Ali Traoré, gente. São jogadores que podem render bem em determinadas situações, mas esse trio não intimida nem a China ofensivamente.

Façam as contas. A era dos gigantes, a era do “cincão” já acabou faz tempo, galera. Mesmo um Dwight Howard não representa exatamente o mesmo tipo de problema que era lidar com um Patrick Ewing, ou Arvydas Sabonis. O jogo vai mudando.

– Essa conclusão nos inclinaria para a convocação de Augusto? Teoricamente, sim. Seu jogo realmente se encaixa melhor com o que vamos ver pela frente: um pivô ágil, determinado, que corre toda a quadra. Não se iludam com algo: força física nem sempre quer dizer mais intensidade e melhor presença defensiva. E esse não é um ataque contra Caio, de modo algum. Aqui estou mirando, na real, os mantras, dogmas repetidos a esmo e que adotamos como a verdade mais pura e absoluta, sem muitas vezes nem parar para pensar a respeito, mesmo. Agora, não dá, necessariamente, para cravar que Augusto era a melhor escolha. Ele é mais jovem, mais cru e teve de superar uma série de questões físicas e médicas durante a última temporada.

– Questionar se não era o caso de cortar Raulzinho me parece algo bem inadequado. Ainda mais vendo Magnano usar Larry como um ala sem receio algum, nos últimos amistosos sem Leandrinho e/ou Marquinhos. E, quanto ao ligeirinho, não dá mais para considerar Leandrinho alguém que “joga, quebra o galho de 1”. Mesmo, e por favor. Na NBA, ele não executa mais esse tipo de bico há umas quatro temporadas, no mínimo. E a função de armador é muito importante para se falar em “quebra-galho”.

PS: Veja o que o blogueiro já publicou sobre Caio Torres e Augusto Lima em sua encarnação passada.