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Arquivo : Fridzon

Equipe sensação da Euroliga encara seu maior desafio: a luta contra a falência
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Giancarlo Giampietro

Paul Davis enterra

Paul Davis, MVP da quarta semana do Top 16, mas sem salários

Um dos melhores times da Euroliga corre o risco de se declarar falido, ou algo perto disso, nos próximos dias ou semanas. Uma pena, pois estamos falando justamente da maior surpresa do torneio até aqui, o Khimki Moscou.

Quer dizer, vamos relativizar essa história de surpresa. Talvez seja melhor trocar por sensação. Porque uma equipe que pode escalar Zoran Planinic, Vitaly Fridzon, Sergei Monya, Matt Nielsen, Paul Davis, James Augustine, Kresimir Loncar e, ufa!, Petteri Koponen tem de ser cotada para brigar de igual para igual com qualquer um.

De todo modo, em termos de nome e porte, de fato não há como colocar “Khimki” na mesma sentença de Barcelona, Olympiakos, Maccabi ou Montepaschi. E, ao tomarmos nota do que se passa com o clube nesta temporada, realmente não tem como comparar o clube com essas instituições, mesmo: o time moscovita está devendo salários aos seus jogadores há três meses.

Calma, que dá para piorar. Segundo informações passadas de dentro do vestiário para diversos veículos russos há casos de jogadores que não recebem, tipo, desde outubro. O que equivale a “desde-o-início-do-campeonato”.

Literalmente uma dureza.

Durante a semana, cansados de promessas não cumpridas pelo presidente Andrey Nechaev, os atletas anunciaram uma greve. Para o bem do torneio e até para evitar um vexame do basquete russo, decidiram ir para quadra na sexta para receber – e aniquilar – o Maccabi. Mas se recusaram a treinar nas dependências do clube e prometeram que não jogam neste fim de semana pelo campeonato russo. O que aconteceu é que a diretoria montou um elenco bem caro, mas sem ter os patrocínios e recursos necessários para bancá-lo. Uma situação bizarra para um clube que esteja disputando a Euroliga.

No confronto com o Maccabi, houve uma tensão no ar. Os jogadores demoraram para ir para a quadra, atrasando o início da partida em mais de dez minutos. Foi um recado claro para o clube e, neste caso, também para a direção da liga, de que as coisas não estão bem por lá. Que providências serão tomadas não está claro ainda.

KC Rivers sobe para a bandeja

KC Rivers, cestinha que sai do banco para o Khimki

Em jogo, naturalmente o Khimki começou mais devagar, um tanto desligado, permitindo muitos contra-ataques para a equipe israelense (destaque para o ala Lior Eliyahu, cujos direitos na NBA pertencem ao Minnesota Timberwolves). Do segundo quarto em diante, porém, tomado pela adrenalina da partida, o time da casa foi avassalador 69 pontos contra apenas 42 do oponente, vencendo de lavada: 88 a 67.

Paul Davis, veterano americano com bastante experiência no basquete espanhol e que já foi uma aposta do Clippers, teve uma atuação completamente dominante no segundo tempo, terminando com 16 pontos, 9 rebotes e 5 tocos, anulando o talentoso compatriota Shawn James, do Maccabi. De tão bem que jogou o jovem finlandês Koponen (direitos na NBA pertencem ao Mavs), Planinic, que é o craque do time e vive uma fase excpecional, nem precisou ficar em quadra por tanto tempo, limitado a 25 minutos.

“Falando francamente, não esperava que conseguiríamos jogar juntos de um modo tão perfeito como esse. Estou muito feliz pelo trabalho que fizemos em quadra hoje”, afirmou o técnico Rimas Kurtinaits, legendária figura do basquete lituano e ex-soviético e um dos integrantes das poderosas e históricas seleções da URSS formadas nos anos 80. Arremessava tão bem, aliás, que em 1989 foi convidado para participar do torneio de três pontos do All-Star Weekend da NBA em 1989.

O lituano realmente tem do que se orgulhar. Essa foi a 18ª vitória seguida do Khimki jogando em Moscou, contando partidas do torneio continental, da liga russa e da Liga VTB, que reúne equipes do Leste europeu e da Escandinávia (nota: é muito legal escrever e ler Escandinávia, não?). No Top 16 da Euroliga, estão em terceiro no Grupo F, com três vitórias em quatro rodadas, atrás dos invictos Caja Laboral e Montepaschi Siena, mas acima de Barça, Olympiakos e do próprio Maccabi.

Nada mal, e jogar isso fora seria realmente um baita desperdício.

*  *  *

Algumas notas sobre a Euroliga:

– Com sete vitórias seguidas, o Caja Laboral (ou Baskonia) é o time do momento. Com um jogo muito solidário e um elenco recheado de jovens peças emergentes na Europa, o time joga muito mais solto  desde a saída do cerebral, mas quase tirano Dusko Ivanovic, que foi substituído pelo croata Zan Tabak, ex-pivô que já foi um sparring de Hakeem Olajuwon no Houston Rockets campeão da NBA nos anos 90. A linha de frente formada por nosso amigão Andrés Nocioni, Nemanja Bjelica e Maciej Lampe, com o suporte de Tibor Pleiss (alemão draftado pelo Thunder) e Milko Bjelica é muito forte e versátil.

– No Grupo E, os lanternas são dois clubes alemãos: Alba Berlin, cujo plantel está num patamar abaixo, e Bamberg, excessivamente dependente do talentosíssimo cestinha Bostjan Nachbar. Ambos perderam seus quatro jogos no Top 16. Na chave F, são dois trucos na lanterna, também com quatro reveses: Besiktas e Fenerbahçe.

– A campanha do Fener é a maior decepção desta fase, aliás. Eles pensavam em título. Agora já correm sério risco de nem conseguir a classificação para as quartas de final. Com um elenco estelar, mas sem liga alguma, a pressão é enorme para cima do técnico Simone Pianigiani – mentor de campanhas arrebatadoras do Siena nos últimos anos. Bo McCalebb não lembra em nada o jogador das últimas temporadas, David Andersen já não consegue apanhar mais nenhum rebote, e os promissores Bojan Bodanovic (croata) e Emir Preldzic (turco) ainda não têm cancha suficiente para liderar a equipe. O técnico italiano precisa encontrar alguma forma de fazer esse time jogar.

PS: encontre o Vinte Um no Twitter: @vinteum21.


Uma derrota dolorida no fim para acelerar a educação olímpica da seleção
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Giancarlo Giampietro

Vitaly Fridzon faz acontecer

Vitaly Fridzon se contorce para acertar de três pontos com Leandrinho ao chão

Sendo o mais direto possível: se era para perder um jogo desta maneira, que seja para a Rússia na fase de grupos, mesmo. No fim, é mais um capítulo na educação olímpica da seleção brasileira, batendo de frente com uma grande equipe que também é candidata a pódio.

Para efeitos práticos, isso deve significar um confronto com a França nas quartas de final, em vez dos nossos amigos da Argentina. Numa eventual semifinal, evitaríamos o duelo com os Estados Unidos.

(A não ser que aconteça alguma zebra, entre as alternativas abaixo:

a)    Brasil perde para a China

b)   Brasil vence a Espanha

c)    Rússia vence a Espanha

d)   Rússia perde para a Austrália)

Vai ver que estava tudo planejado por Rúben Magnano, né?

(Brincadeira.)

E aquela bomba? Bem, a bola de Vitaly Fridzon – que tem fama de doido no basquete europeu, mesmo, e jura ser “especialista nessa bola” – foi milagrosa, certeira, daquelas que vai entrar em todos os compactos do torneio. E como fica? Você sente o baque na hora, perdeu o jogo, mas não pode deixar que esse impacto seja duradouro.

Os técnicos se reúnem no quarto, reveem a partida – haja tortura –, anotam o que deu errado, o que saiu de acordo com o esperado e preparam a equipe para a próxima partida. Para eles, não há muito o que prolongar na discussão dessa cesta incrível de Fridzon.

Ao tentar fugir do corta-luz de Sasha Kaun, evitar o contato, Leandrinho acabou perdendo um segundo precioso. Para compensar, ao ver o rival escapar, acabou se desequilibrando e escorregou. Ele falhou em sua missão, mas não vejo como um erro clamoroso, desastroso, que valha a cruz nos próximos dias. Foi a bola do jogo, mas teve coisa muito mais feia no decorrer dos 40 minutos.

Como o segundo quarto desastrado, em que a seleção novamente se atrapalhou toda no ataque, parou de mover a bola e anotou apenas quatro cestas de quadra em dez minutos, cometeu violações, passou a depender dos chutes erráticos de fora (cinco erros).

Nesse período, Magnano também foi muito mal da sua parte, fazendo trocas frenéticas em suas rotações, quebrando o ritmo de sua equipe, que acabou permitindo um passeio de Andrei Kirilenko por dez minutos.

E como eles voltaram no jogo?

Bem, depois de tantas substituições, Magnano enfim (re)encontrou um quinteto com boa química em quadra, especialmente na defesa, com atletas bem postados, contestando o ataque adversário agressivamente. Até converter seus dois disparos de três pontos derradeiros, a Rússia havia errado oito de seus 11 arremessos e cometido quatro desperdícios de bola. “Defesa ganha jogo”, pode dizer o técnico argentino.

Melhor ainda foi ver combinar essa forte defesa – que virou nosso padrão, uma evolução enorme – com um ataque muito mais inteligente. E melhor: sem Marcelinho Huertas em quadra, creiam. Larry respirou ares de Bauru, colocou a bola debaixo do braço e comandou uma ofensiva muito mais incisiva, buscando a infiltração, atacando os gigantes russos na corrida, deixando Mozgov e Kaun pendurados de faltas. As bolas em flutuação caíram, assim como as bandejas do norte-americano e de Leandrinho, que seguiu o exemplo e buscou as cestas mais fáceis. É mais gratificante acertar uma bandejinha do que errar o chute de três, gente.

Defesa ganha jogo, sim, mas precisa fazer cesta também.

A equipe tem agora um ótimo exemplo a seguir daqui para frente.  Vão ter o sangue frio e executar desta forma? Esperemos que sim. Neste caso, as chances de viver um drama destes nos segundos finais novamente se reúnem drasticamente.

Por que de decepções no último segundo já chega, né?

Mama mia!

*  *  *

O chapa Bruno Freitas, imerso no basquete olímpico, já nos traz três repercussões quentinhas direto de Londres:

– Marcelinho Huertas destaca falha da seleção em defender sua vantagem de cinco pontos nos minutos finais

– Rúben Magnano fala sobre pontos positivos na recuperação brasileira no quarto período

– Técnico da Rússia coloca o Brasil – e sua seleção, claro – no páreo pelo pódio nas Olimpíadas. AK elogia Larry

*  *  *

E o que escrever sobre a atuação de Timofey Mozgov? O gigantão russ, que já foi protagonista de muitas e muitas piadas na rede, fez uma partida excepcional, engoliu Splitter e Nenê em alguns momentos e mostrou um arsenal ofensivo que dificilmente apareceu na temporada passada da NBA. George Karl e a diretoria do Nuggets só pode ficar contente com esse progresso, e imagino que ele estivesse provando isso nos treinos de sua equipe.


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