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Arquivo : LeBron

As tramas que podem decidir a revanche Spurs x Heat
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Giancarlo Giampietro

Como está o tornozelo de Tony Parker?
O armador revelou durante a semana que já estava com o pé comprometido na semifinal contra o Blazers e que, por isso, acabou machucando os músculos da perna, para tentar compensar as dores nos movimentos. Ainda que venha na sua melhor de fase no que se refere a chutes de longa distância, acertando 35,3% e 37,3% nas últimas duas campanhas, o carro-chefe do francês são as infiltrações, mesmo. Partir para a cesta, com uma ajuda ou outra de corta-luzes, ou usando suas fintas hesitantes, que podem deixar até mesmo LeBron na saudade. Machucar a defesa lá dentro e aí explorar os tiros de fora (com o melhor aproveitamento da temporada). Vale lembrar que, no ano passado, Parker já havia sofrido uma lesão muscular na coxa e que seu time sentiu bastante. É algo que podemos esquecer com facilidade, considerando todo o drama que aconteceu nos jogos finais. Mas, estivesse o armador 100%, será que teria Jogo 7 para entrar na história? Bem, o se não vale para nada, mesmo. Agora, uma temporada depois, o Spurs chega novamente a uma decisão sem que seu principal jogador esteja 100%. arranque de seu armador e suas bandejas, o Spurs vai depender de sua movimentação de bola. E os passes devem ser precisos para lidar com uma defesa hiperatlética – do contrário, o contra-ataque a partir do turnover é mortal. Vimos há pouco, em OKC, como pode funcionar essa gangorra. A diferença é que o Miami tende a adiantar sua primeira linha defensiva muito mais, abafando o armador em situações de pick-and-roll, enquanto o Thunder joga mais recuado, com uma formação mais compacta. Outro diferencial é que Chris Andersen, caso jogue, salta muito, se posiciona bem vindo do lado contrário, mas não é nenhum Serge Ibaka.

No caso de um desastre, Popovich vai confiar, mesmo, em Patty Mills e Cory Joseph? Eles estão preparados?
O desastre: Parker simplesmente não aguentar e ser afastado de quadra, tal como aconteceu no Jogo 6 em Oklahoma City. O Spurs sobreviveu a esse desafio. Mas uma coisa é levar 24 minutos sem o francês, ainda que num ambiente hostil. Outra é conduzir uma ou mais partidas, com o adversário tendo o tempo necessário para fazer seus ajustes e mudar o plano de jogo. Aí o caldo engrossa. No próprio desfecho da série contra o Thunder, o treinador jogou o quarto período e a prorrogação com Ginóbili na armação. O argentino é craque e fez o dele. Em tempo integral, contudo, o desgaste seria muito maior, ainda mais com Cole, Chalmers, Wade e LeBron voando como abutres por cima de sua careca. No ano passado, armando o time nos minutos de descanso de Parker, Manu já sentiu o baque. Nos últimos três jogos, cometeu 15 turnovers, por exemplo. Quinze! Via as jogadas, com o brilhantismo de sempre, mas não conseguia completar o passe. Agora, está melhor fisicamente, é verdade. Mas vai precisar da ajuda dos garotões que o Spurs vem pacientemente desenvolvendo. Mills tem o chute e a experiência – já foi cestinha, em média, de Olimpíada, oras. Joseph é mais explosivo e marca melhor. A combinação ideal seria a fusão dos dois armadores em um, claro. O que não vai rolar. Nesse sentido, a substituição de Gary Neal por Marco Belinelli representa um avanço. Por mais que a torcida do Spurs culpe o italiano para tudo, o ala0armador é tão ou o mais ameaçador no chute de três pontos, podendo esquentar rapidamente e matar diversas bolas seguidas, como tem mais altura e habilidade com a bola, qualidades necessárias para enfrentar a constante blitz de seu adversário. Resta saber se vai recuperar sua confiança, tendo perdido rendimento e tempo de quadra nos mata-matas.

Tiago Splitter pode se impor? Ou: será que ele vai ter a chance de se impor?
O Miami tem sérias dificuldades de lidar com pivôs infiltrados no centro de sua defesa. Desde que, claro, esse grandalhão X consiga ser abastecido. O catarinense tem, então, na teoria boas chances para se estabelecer. Agora… Essa mesma teoria valia para o ano passado, quando ele estava ainda mais confiante, e em nenhum momento conseguiu se estabelecer como força no jogo interior. Há um problema aqui: se for usar alguém como referência interna, o Spurs vai de Tim Duncan. E como seria diferente? Estamos falando de um dos jogadores mais bem fundamentados da história. Se Duncan for estacionar para o post up, não sobra espaço para Splitter agir da maneira que gosta, em cortes no pick and roll. Se essa bola não estiver disponível para o brasileiro, a verdade é que ele fica praticamente sem função no ataque. E o Miami adoraria que o Spurs buscassem a cesta com apenas quatro armas disponíveis. E aí que Tiago paga o preço da concentração total que  os técnicos do Baskonia tiveram em moldá-lo como um pivô de jogo exclusivo próximo ao aro. Ok, não dá para ser tão ingrato assim: obviamente o catarinense se desenvolveu num baita jogador, muito inteligente e eficiente. Mas houve um dia em que o adolescente saído de Blumenau era visto como um possível prospecto na linha de Dirk Nowitzki. Talvez fosse um baita exagero. Talvez ele nunca fosse capaz de acertar nem 35% de seus chutes de fora. Fato é que hoje não há resquício técnico nenhum, nem mesmo a vocação em seu jogo para pontuar distante da cesta: em sua carreira nos playoffs, 67,8% de seus arremessos são executados a menos de um metro do aro. De um metro para três, 29,6% (dos quais ele acertou apenas 29,4%). Sobram, então, 2,6% dos arremessos para tudo o que estiver a mais de três metros de distância.

Rashard Lewis tem mais garrafas para vender?
O outro lado da moeda. Desde a temporada passada que Popovich descobriu que, com a dupla Duncan-Splitter, sua defesa fica muito mais robusta. São mais de 150 partidas já computadas para comprovar isso. Então tem isso: saber como compensar as situações oferecidas pelo jogo dos dois lados da quadra. Perde um pouco ali, ganha um pouco lá, fazendo as contas para ver qual o saldo. Mas tenhamos em mente sempre que, nos playoffs, com tanto estudo e tempo de preparo entre um jogo e outro, alguns segredos ficam mais expostos. E também vale o asterisco: o Miami não é um time como outro qualquer, e não só por ter LeBron, mas, antes de tudo, por sua disposição tática. Aqui não tem um alvo mais declarado e fixo como Dirk, Z-Bo ou LaMarcus para Tiago marcar (o que não quer dizer que freá-los seja fácil). Chris Bosh só joga de frente para a cesta e afastado (nestes playoffs, ele mais chuta de três pontos do que enterra ou faz bandejas). Spoelstra abre seus jogadores e deixa a quadra espaçada para seus dois astros pregarem o horror. No ano passado, quando o técnico foi de Mike Miller em seu quinteto inicial (ignorando qualquer ameaça que Splitter pudesse representar do outro lado), Popovich teve de se dobrar e conceder esta pequena e importante vitória para seu rival. Com um elenco versátil, também adotou o small ball. A tendência é que a série deste ano caia nesta mesma vala – ainda que o gatilhaço já não esteja mais na Flórida. Podemos esperar muito mais Ray Allen em quadra, além de Chalmers e Cole. Mas ainda sobram minutos, que Spoelstra adoraria dar a um esgotado Battier.  Aí que entra Rashard Lewis. Qual versão vai jogar a final? O moribundo de toda a temporada, ou aquele que ressurgiu no desfecho contra o Pacers? Se os tiros do veterano estiverem caindo, e obviamente que nem precisa ser numa escala Miller de 50%, o Spurs vai ter de sambar um pouco mais em suas coberturas.

– Boris Diaw vai ser agressivo?
Esperem, então, para ver muito Boris Diaw nos confrontos, e não tem nada de errado com isso. O francês joga demais. Sempre vamos ficar com uma pulga atrás da orelha, pensando sobre como seria seu basquete se ele se dedicasse um pouquinho a mais na esteira. Mas esse preconceito também por vezes pode inibir que apreciemos adequadamente seus talentos únicos. Para esta temporada, aliás, monsieur Riffiod se apresenta em melhor forma, confiante e produtivo, além de mais eficiente, mesmo com a terceira maior “taxa de uso” de sua carreira – isto é, seu jogo não sentiu o peso de mais responsabilidades. Conquistou, desta forma, o coração de Popovich. “Ainda estou aprendendo como usá-lo”, diz o técnico. Tem muito o que se aproveitar, mesmo: Diaw está acertando mais de 41% de seus arremessos de três pontos nos playoffs, mantendo o alto aproveitamento que teve durante toda a temporada. Além disso, virou uma ameaça séria no jogo de costas para cesta,  cada vez mais concentrado também em pontuar, em vez de apenas passar, passar e passar. Atende, enfim, aos clamores de dúzias de técnicos com que já trabalhou. Claro que o jogo fica mais bonito com atletas solidários interagindo, mas chega uma hora que a bola tem de cair na cesta, e o francês já não parece mais tanto avesso a esse simples conceito. Dependendo da saúde de Parker e Ginóbili, pode ser que o Spurs precise ainda mais do ala-pivô e seus serviços de playmaker, facilitando, servindo e, sim, atacando. Quem vai marcá-lo? Battier tem um último sopro? Lewis? LeBron?

– Por falar em LeBron, ele vai tentar/matar seus chutes de média e longa distância com qual frequência?
Deu certo por um bom tempo no ano passado, então podemos esperar que Pop mantenha a estratégia. Com Kawhi e, especialmente, com Diaw, a ordem deve ser para que recuem e tentem colocar a dúvida na cabeça do craque: vai para o chute, mesmo, ou tentará buscar um companheiro? Vai atacar a cesta e correr o risco de fazer a carga? Mas será que não há espaços, mesmo, para a infiltração? LeBron está habituado a ler o jogo num estalo. Contra o Mavericks em 2011 e contra o Spurs em 2013, porém, foi hesitante, diante das “facilidades” sugeridas pela defesa adversária. Se isso acontecer novamente, de o astro perder alguns segundos para tomar suas decisões e sair de ritmo, a defesa do Spurs já vai se dar por agradecida. Agora, o craque já sabe o que está por vir. Nos Jogos 6 e 7 da final do ano passado, partiu para o ataque e cobrou 21 lances livres, depois de ter somado apenas 19 nos cinco primeiros. A armadilha estava desfeita. Ficamos no aguardo, então, para ver como vai se comportar.

E dá para apostar contra LeBron James?
Kawhi Leonard já se virou contra Kevin Durant e Russell Westbrook na final do Oeste. Encarar LeBron, porém, é algo bem diferente. Durant é um cestinha mortal, mas fisicamente não representa o desafio que é segurar um tanque de guerra em movimento. Com KD, você pode contestar os arremessos e torcer para que não caia – bloquear alguém tão veloz e alto fica difícil. Mas você pode afastá-lo da cesta, você pode incomodá-lo fisicamente. Atletas como Leonard, Matt Barnes e até mesmo o diminuto Tony Allen podem persegui-lo no perímetro e atrapalhar sua movimentação fora da bola. No fim do jogo, o cara pode terminar com 30 pontos, tá certo. Mas os caminhos são mais claros. Contra LeBron, quando ele desembesta a atacar o aro, a combinação de técnica, explosão e força é brutal. Não há como Leonard absorver esse tipo de contato. Na verdade, Kawhi está em quadra apenas como um primeiro obstáculo de uma estratégia coletiva que precisa ser empregada para congestionar a vida do craque. Esse recuo e o convite ao chute é um dos ardis. Mas haja cobertura e ajuda para desencorajar o melhor jogador do mundo. Ele quer mais um anel.

E mais: Danny Green consegue dar conta de um Dwyane Wade que não esteja mancando? Chris Bosh vai se permitir ser alienado no ataque? O preparo físico, a essa altura, faz a diferença? Ou o emocional supera tudo? Porque o Spurs chega bem mais descansado. Spoelstra vai tentar mais uma vez alargar sua rotação, ou jogar com sete, oito caras? Se (ou quando) Ray Allen acertar mais uma bomba de três, como evitar o soluço coletivo de San Antonio? Pode Tim Duncan repetir ou superar os 18,8 pontos e 12,1 rebotes das finais do ano passado?

São muitas questões, e ainda bem que a pressão está em Pop ou Spo para respondê-las. Nós só precisamos nos acomodar no sofá e ver o o desenvolvimento dessas tramas todas, muitas delas interligadas. É um novelo difícil de se desembaraçar, e fica impossível dar um palpite.

PS: por motivos de Copa do Mundo da FIFA, na qual estarei envolvido, cobrindo, não sei bem se vai dar para comentar a série jogo a jogo, infelizmente.


Heat x Spurs: confira a cronologia dos protagonistas da final
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Giancarlo Giampietro

Quando Pat Riley ganhou seu primeiro anel de campeão da NBA, em 1972, dividindo o vestiário com Wilt Chamberlain e Jerry West (treme a terra quando se fala sobre estes nomes, não?), Gregg Popovich estava competindo, ou em vias de competir na peneira que formaria  seleção norte-americana que amargaria a prata olímpica em Munique. Sim, aquela final que se tornou o jogo mais controverso da história da modalidade. Uma temporada depois, Popovich retornaria à academia da Aeronáutica dos Estados Unidos como assistente técnico. Erik Spoelstra não tinha nem dois anos de idade.

Timmy Duncan, promessa das piscinas

Timmy Duncan, promessa das piscinas

Quando Pat Riley assumiu o Los Angeles Lakers pela primeira vez como treinador profissional, em 1981, cinco anos depois de aposentado das quadras, Tim Duncan tinha cinco anos de idade e vivia em Christiansted, uma das cidades da ilha de St. Croix, das Ilhas Virgens americanas. Popovich estava em sua segunda temporada como treinador da universidade de Pomona-Pitzer, na terceira divisão da NCAA, a qual dirigiu entre 1979 e 87. Mais um dos andarilhos do basquete norte-americano, Tony Parker Sr. tocava sua carreira na Bélgica.

Quando Tim Duncan praticamente desistiu de se tornar um nadador olímpico dos Estados Unidos, em 1989, e, aos 13 anos, começou suas aventuras numa quadra de basquete, Spoelstra era eleito o calouro do ano na West Coast Conference pela universidade de Portland, vindo de uma prestigiada carreira de colegial. Era armador. Riley estava em vias de deixar o Lakers, com mais quatro anéis de campeão. Nas finais daquela temporada, o time foi varrido pelos Bad Boys de Detroit. LeBron James tinha cinco anos e vivia uma infância difícil em Akron, com sua mãe de 21 anos procurando um emprego e um apartamento atrás do outro. Com quatro anos, Tiago Splitter brincava com qualquer coisa em Blumenau.

Tim Duncan em 1995, longe das piscinas

Tim Duncan em 1995, longe das piscinas

Quando Manu Ginóbili iniciou sua carreira profissional pelo Andino Sport Club, em 1995, sendo eleito o melhor novato da liga argentina, Duncan estava em seu terceiro ano de universidade, em Wake Forest, construindo sua reputação como um prospecto imperdível. Riley deixou a cabine de transmissão da NBC para assumir o Miami Heat como técnico e cartola – foi um ano de reformulação, no qual seu time somou 42 vitórias e 40 derrotas, o suficiente para chegar aos playoffs e ser varrido pelo Chicago Bulls de Michael Jordan. Spoelstra havia acabado de ser contratado como coordenador de vídeo do clube, indicado por Chris Wallace (hoje o gerente geral interino do Memphis Grizzlies)  e conseguiu se segurar no cargo, mesmo com a chegada de um novo chefe. Popovich era o gerente geral do Spurs, contratado pelo novo proprietário da franquia, Peter Holt, três anos depois de ser demitido pela gestão anterior.

Spoelstra, um nerd que fez carreira em Miami

Spoelstra, um nerd que fez carreira em Miami

LeBron, calouro no high school

LeBron, calouro no high school

Quando Tim Duncan ganhou seu primeiro título da NBA, em 1999, já sob a batuta de Popovich, LeBron estava se preparando para começar uma das mais badaladas carreiras de um jogador de high school no basquete norte-americano, na St. Vincent–St. Mary High School. Aquela era a primeira de-ci-são polêmica do adolescente. Ele e seus amigos do circuito AAU optaram por uma escola particular,  elitista, em vez de seguir a rota mais usual do colégio público – e dos “manos”.  Dwyane Wade já era uma estrela do prestigiado basquete colegial de Chicago, mas, devido a problemas com suas notas, só tinha ofertas de três universidades: as locais Illinois State, e DePaul, ou Marquette, do estado vizinho de Winsconsin. O Miami de Pat Riley foi mais uma vez eliminado pelo (eventual vice-campeão) Knicks nos playoffs do Leste – Spoelstra dividia seu tempo entre coordenador de vídeo e assistente técnico do figurão. Ginóbili encerrou sua primeira temporada na Itália, jogando pelo Reggio Calabria, na segunda divisão. Tony Parker assinou seu primeiro contrato de profissional com o Paris Basket Racing. Um ano depois, com 15, Tiago Splitter deixaria Santa Catarina rumo ao País Basco, para jogar na base do Baskonia.

Quando Tim Duncan ganhou seu segundo título da NBA, em 2003, já acompanhando por Tony Parker e Manu Ginóbili e ainda ao lado de David Robinson, LeBron James já sabia que sua jornada como profissional começaria justamente na franquia de seu estado, Ohio, em Cleveland. O Draft daquele ano, com LeBron sendo a maior barbada, foi realizado 13 dias depois de o Spurs vencer Jason Kidd e o New Jersey Nets na decisão, 4-2. Com 29 pontos, 11 rebotes, and 11 assistências, Dwyane Wade fazia o quarto triple-double da história dos mata-matas da NCAA por Marquette, entrando de vez na lista dos prospectos de elite. Splitter, aos 18, já disputava seu segundo torneio com a seleção principal, revezando com Nenê e Anderson Varejão no garrafão de um time que sofreu horrores no Pré-Olímpico em Porto Rico.

Splitter no Mundial de 2006: a boa nota numa campanha fraquíssima do Brasil

Splitter no Mundial de 2006: a boa nota numa campanha fraquíssima do Brasil

Quando Dwyane Wade ganhou seu primeiro título da NBA, em 2006, Shaquille O’Neal jogava ao seu lado, assim como Gary Payton, Jason Williams, Antoine Walker, Alonzo Mourning e Udonis Haslem. Pat Riley havia deixado os escritórios e voltado a dirigir o time, depois da demissão de Stan Van Gundy. O Cleveland de LeBron foi eliminado na semifinal da Conferência Leste pelo Detroit Pistons de Billups, Sheed e Ben Wallace, depois de ter vencido o Washington Wizards de Gilbert Arenas, na primeira rodada. O Spurs perdeu para o Dallas Mavericks no Jogo 7 das semifinais do Oeste, levando uma virada daquelas. Splitter teve médias de 16,4 pontos e 6,6 rebotes no Mundial do Japão, com o Brasil caindo na primeira fase.

Quando LeBron James chegou a sua primeira final de NBA, em 2007, o adversário foi o San Antonio Spurs de Duncan, e seu Cleveland Cavaliers, com Eric Snow, Larry Hughes, Drew Gooden e Zydrunas Ilgauskas no time titular, foi varrido. Em Miami, o Miami Heat também seria varrido pelo Chicago Bulls na primeira rodada da Conferência Leste, vendo seu sonho de bicampeonato atropelado por Andrés Nocioni, Ben Gordon, Luol Deng, Kirk Hinrich e Ben Wallace. Riley ainda era o técnico. Spoelstra, seu assistente. Splitter foi o MVP da Supercopa espanhola e iniciaria uma belíssima temporada na Europa, aos 22 anos, sendo eleito para o quinteto ideal da Euroliga ao final.

Em 2012, LeBron ganhou seu primeiro título, com o Spurs perdendo a final do Oeste para o Thunder. Em 2013, reencontrou Duncan na decisão e deu aquele toco em Splitter, já sabemos. Agora, a partir de quinta-feira, essas diversas trilhas voltam a se cruzar. Mal posso esperar.


Final da NBA tem revanche em 2014; veja números históricos
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Giancarlo Giampietro

Oi, lembra da gente?

Oi, lembra da gente?

Para os que sobreviveram a mais um thriller daqueles nos playoffs da NBA, com o San Antonio Spurs enfim conseguindo uma vitória em Oklahoma City, segue um post mais curto com alguns números históricos envolvendo os dois finalistas deste ano. Que são os mesmos do ano passado. É hora de revanche para o time texano contra os LeBrons, numa rara ocasião, nos tempos recentes, que a decisão é duplicada em anos consecutivos. No decorrer da semana, até quinta-feira, quando a festa começa, vamos abordar outros temas, como o desafio de Tiago Splitter de se impor em quadra contra um time que foge do padrão, a ressurreição de Rashard Lewis (por dois jogos, que seja…) e qualquer outra coisa que dê na telha. Mas, antes, alguns dados históricos para tentar dimensionar este reencontro:

– As temporadas em que a NBA teve sua final repetida em dois anos, em contagem regressiva: 1997 e 98, com Chicago Bulls x Utah Jazz; 1988 e 89, com Detroit Pistons x Los Angeles Lakers; 1984 e 85, com Boston Celtics e Lakers; 1982 e 83, com Lakers e Philadelphia 76ers; 1978 e 79, com Seattle SuperSonics x Washingotn Bullets;1972 e 73, com Lakers x New York Knicks; e aí, claro, nos anos 60, tivemos 479 confrontos entre Lakers e Celtics. Notem que, de 1990 para cá é apenas a segunda vez que isso acontece.

– No Leste, o Miami consegue sua quarta final seguida, algo que apenas três times haviam conseguido na história: o Lakers, de 1982 a 1985, com Magic, Kareem e um certo Riley (duas vitórias e duas derrotas), o Celtics de Bird de 1984 a 1987 (também com dois canecos e dois vices) e o mítico Celtics nos anos 60, que emendaram apenas dez finais, de 1957 a 1966, perdendo apenas o campeonato de 1958 para o St. Louis Hawks.

– Entre os repetecos de decisões, tirando os amigos apelões de Bill Russell, apenas o Chicago Bulls de Michael Jordan conseguiu vencer ambos os duelos, para amargura de John Stockton e Karl Malone. De resto, todo time que perdeu o primeiro ano, saiu vencedor no segundo.

– Times que chegaram por dois anos seguidos a uma decisão e não conseguiram o título: New Jersey Nets em 2002 e 2003, Jazz, os diversos Lakers de Jerry West e Elgin Baylor dos anos 60, o St. Louis Hawks de 1960 e 61, o Fort Wayne Pistons de 1955 e 56 e o glorioso Knicks de 1951 a 53! O Lakers de 1983 e 84 não conta, já que foi campeão 82 e 85.

– Esta é a décima final com adversários que se reencontram. A maior rivalidade? Dãr. Lakers x Celtics, que jogaram 12 vezes pelo título, com 9 triunfos para os verdes.

– É a sexta decisão para o San Antonio desde 1999, sempre com Duncan e Popovich envolvidos. Para o Miami, a quinta desde 2006, sempre com Wade, Haslem e Riley.

– Desde o Pistons em 1988 e 89, o Spurs foi o primeiro time a retornar a uma final depois de ter perdido o Jogo 7 no ano anterior.

– O Chicago Bulls tem o melhor aproveitamento em jogos valendo pelas finais, com 68,6%, ou 24 vitórias e 11 derrotas dividias entre as trilogias lideradas por MJ e o Mestre Zen. O Spurs é o terceiro da lista, com 65,5% (19-10), enquanto o Heat aparece em sexto, com 58,3% (14-10).

– O primeiro troféu da NBA foi chamado Walter A. Brown Trophy, em homenagem ao primeiro proprietário do Boston Celtics, tido como figura fundamental para a criação da liga que hoje conhecemos. A partir de 1984, Larry O’Brien, comissário entre 1975 e 83, assumiu a bronca. Vai levar quanto tempo para David Stern ser relembrado?


O que fazer com Lance Stephenson? É o dilema do Pacers
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Giancarlo Giampietro

Podemos tratar o confronto como algo ainda em aberto. Afinal, sempre existe a chance de o Indiana Pacers vencer mais um joguinho em casa, forçar o sexto jogo, e aí um cataclisma floridiano acontece, e aí… Jogo 7 em Indianápolis.

Ok, fica o registro.

Depois do que vimos nesta segunda-feira, difícil acreditar num desfecho desses, não?

Nunca diga nunca, mas, a essa altura, até mesmo um deprimido Larry Bird já deve estar pensando longe, no que fazer com o elenco para a próxima temporada, quais mudanças serão necessárias para que seu clube desbanque o Miami Heat, enfim, depois de falhar em três tentativas (já contando com essa). Dentre as muita questões que vão entrar em pauta em suas conversas com Donnie Walsh e o gerente geral Kevin Pritchard, a mais instigante e mais complicada tem dono. “O que diabos fazer com Lance Stephenson?”, terão de ruminar.

Dwyane Wade já sofreu com Stephenson, mas também já aprontou com ele

Dwyane Wade já sofreu com Stephenson, mas também já aprontou com ele

Estamos tratando de um cara cheio de surpresas e que, em uma temporada e meia, se transformou numa figura-chave do Indiana Pacers, e, ao mesmo tempo, uma das mais controversas da NBA. Ele foi de fenômeno no high school, a garoto problemático, a uma transição frustrada para o universitário, a aposta de Bird no segundo round do Draft, a reserva-no-fim-do-banco, a contribuidor, a titular depois da lesão de Granger, a candidato barrado do All-Star, a brigão com Evan Turner, a desafiador de LeBron James, a saco de pancada de LeBron James, a… Agente livre, aos 23 anos.

Pois é. O primeiro contrato do jogador está expirando em mais um momento de encruzilhada para aquele que afirma que já “nasceu pronto”.

O talento de Stephenson não se discute. O ala-armador é forte para burro, veloz, atlético, que corta para a cesta, assimila o tranco e consegue finalizar. Tem muita capacidade no drible, atuando como um facilitador no perímetro em jogo de meia quadra e rasgando a defesa em contragolpes. Essa habilidade se alia a uma visão de jogo acima da média – é quem melhor coordena o pick-and-roll no ataque do Pacers, isso se não for o único. Seu chute de três pontos ainda não tem o aproveitamento ideal, mas vem melhorando a cada ano. Bela combinação para alguém em evolução.

Agora, tem o outro lado da moeda. Stephenson tem números muito interessantes à primeira vista, tendo terminado a temporada regular com 13,9 pontos, 7,2 rebotes e 4,6 assistências – isso, jogando por um time que apenas trota pela quadra, ao contrário de um Philadelphia 76ers que infla as estatísticas com tanta correria. Nas métricas mais avançadas, que avaliam a eficiência do atleta, seu rendimento já não é tão formidável assim, estando apenas 0,7 pontos acima da média da liga.

Um tanto errático, ele pode exagerar em suas aventuras rumo ao garrafão, atirando a bola por cima da tabela. Tem uma tendência a se enamorar por seu arremesso de média distância ou com seus dribles marotos, sambando na frente do oponente até forçar o chute, não importando que esteja bem marcado. Pode por vezes tentar enxergar demais em quadra, passar a bola para o árbitro e cometer mais um turnover. E por aí vamos. São coisas que podem ser limadas. Afinal, é jovem e tende a melhorar com tudo isso, com o acúmulo de experiência.

Mas aí que chegamos ao grande problema. Vai melhorar, mesmo? Com Stephenson e seu temperamento ao mesmo tempo abrasivo e avoado, nada é garantido. Considerando os problemas que teve como adolescente, o nova-iorquno já deu uma boa acalmada fora de quadra, embora possamos imaginar que ele exija mais atenção dos treinadores e dirigentes aqui e ali – nem tudo o que rola nos bastidores vira público. De todo modo, com as questões do jogo,  já sabemos que ele ainda tende a se perder facilmente em imaturidade. Seu histórico diante dos astros do Miami Heat é uma prova disso.

Episódio 1: 2012, semifinais do Leste, quando Stephenson, então um reservão, faz sinais de que LeBron estaria amarelando depois de errar um lance livre. Juwan Howard dá um pito no rapaz no treino do dia seguinte, e o gigantão Dexter Pittman o acerta de maneira extremamente bruta no retorno a Miami.

Episódio 2: Stephenson conclui uma linda infiltração em duelo da temporada regular deste ano, se enrosca debaixo da tabela, sai fazendo pose e fala alguma bobagem na cara de Dwyane Wade, este, sim, malandro de tudo. Toma falta técnica e acaba excluído do final do jogo. O Pacers acabou vencendo, mas David West ficou pê da vida. “Ele precisa amadurecer. Ele tem de vestir calça de gente grande”, afirmou.

Episódio 3: seu time perde dois jogos seguidos para o Miami Heat pela primeira vez em dois anos, mas isso não impede Stephenson de sair por aí dizendo que havia entrado na cabeça de LeBron, que o fato de o Rei descer do pedestal para rebater suas provocações em quadra era “um sinal de fraqueza”. Nesta segunda, o ala terminou a partida com 9 pontos, 5 rebotes e  4 assistências. LeBron mandou uma linha de 32 pontos, 10 rebotes e 5 assistências para a galera, afirmando depois que achou graça e soltou um “tsc, tsc” esnobe daqueles, quando ouviu aquilo que pareceu uma piada do adversário.

Vejam. Nenhum crime foi cometido, não é é nada causar para espanto na comunidade. É bem normal que um bafafá desses aconteça. Stephenson não foi o primeiro, nem será o último a mexer com James. Os caras tentam de tudo, porque em quadra está difícil de segurar o homem.

Porém, levando em conta sua própria experiência contra os atuais bicampeões e o simples fato de seu time estar perdendo o confronto, seus comentários já foram arquivados imediatamente na pasta de tremendas bobagens. “Já enfrentamos Boston um monte de vezes, e eles sempre fizeram questão de ir além do basquete, sempre nos superando em jogos mentais e no jogo físico. Aprendemos que o único modo que os derrubaríamos seria na dedicação ao jogo de basquete”, afirma Dwyane Wade.

É, Stephenson, tem o Cole para provocar antes do LBJ

É, Stephenson, tem o Cole para provocar antes do LBJ

E, aliás, na hora de jogar basquete, o ala-armador por enquanto tem de se preocupar muito mais com Norris Cole e Ray Allen do que com LeBron. O armador topetudo do Heat infernizou a vida do titular do Pacers nas últimas duas partidas, atacando seu drible com ferocidade. E aí que está: Stephenson tem habilidade para seu tamanho, é um diferencial que ele oferece para a armação do time, mas, individualmente, não é nenhum Allen Iverson ou Carlos Arroyo, enfrentando percalços quando pressionado por alguém mais ágil. Em Miami, com o baixinho grudado a seus braços, seu rendimento despencou, comparando com o que apresentou em Indianápolis. Do outro lado, não é sempre que consegue perseguir um veterano 15 anos mais velho.

Sim, conforme dito: Stephenson ainda é um produto em formação. Com muito potencia, mas ainda com buracos em seu jogo que podem ser explorados por oponentes que não se perturbem com suas fintas e infantilidades.

Da sua parte, orgulhoso, o ala-armador afirmou que não se arrepende de nada do que tenha dito. “Tentei jogar bola, tentei irritá-lo, e acho que ele decidiu e conseguiu a vitória. Eu aguento as críticas, não tem problema”, afirmou. Para seus companheiros de equipe, contudo, as coisas não ficam desse jeito –  em mais uma manifestação pública de discórdia, com a preciosa química do início da temporada escoando sem parar pelo ralo.

Antes da terceira derrota na série, Paul George já havia se pronunciado de maneira ressabiada. “Ele está falando para o cara errado, latindo para a árvore errada. LeBron é desse jeito, se motiva a partir dessas coisas”, disse. “O Lance é um cara genuíno. Ele poderia às vezes ser mais modesto e manter as coisas entre nós.”

Depois do jogo, o ala já não foi tão dócil assim. “Sabe, o Lance é jovem, e essa foi uma lição. Tem hora que você apenas tem de controlar o que fala. Você está num palco grande. Tudo o que você diz vai ganhar um significado mais forte. Temos de ser mais espertos nessas situações, na hora de expressar nossas opiniões. Quando você provoca e se vê em um duelo, você tem de corresponder, tem de se garantir. Tenho certeza de que um monte de gente ia ficar ligado para ver o que Lance faria devido ao que ele disse.”

O armador George Hill, por outro lado, disparou: “Quanto mais a gente puder ficar quietos e apenas jogar bola, será melhor para nós”.

Momento de reflexão, Stephenson

Momento de reflexão, Lance. Sem arrependimentos

A cotação de Stephenson já vinha caindo – junto com a produção coletiva da equipe. Na final do Leste, ele escolheu a pior hora para relembrar o mercado sobre suas extravagâncias.

Ao final da temporada, pelo menos dez franquias estarão mais de US$ 12 milhões abaixo do teto salarial – o que não é o caso de Indiana, que terá algo em torno de US$ 66 milhões comprometidos para o ano que vem, caso decidam manter Luis Scola, enquanto as projeções de para a aplicação da temida luxury tax são para cada dólar gasto a partir dos US$ 77 milhões. Além disso, o time estaria obrigado a completar seu elenco com pelo menos mais dois contratos mínimos, o que elevaria a folha a US$ 70 milhões. Isto é, caso o versátil atleta aceitar uma proposta acima de US$ 7 milhões, o Pacers, uma franquia num dos menores mercados da liga, teria de arcar com as consequências financeiras para mantê-lo em sua base.

Dependendo do que LeBron, Wade e Bosh decidirem, a classe de agentes livres de 2014 não será das mais generosas. Temos Eric Bledsoe e Kyle Lowry como opções mais jovens entre aqueles que não têm restrição nenhuma, enquanto Pau Gasol e Paul Pierce puxam a fila dos velhinhos, e aqui, nem vale incluir Dirk Nowitzki, tá? Outros nomes: Greg Monroe, Rudy Gay, Zach Randolph, Gordon Hayward, Chandler Parsons, sendo que alguns deles são restritos, com seus respectivos times tendo a palavra final sobre qualquer negócio, e outros precisam exercer cláusulas contratuais para entrar na roda.

Quando muitos clubes têm grana para gastar e poucos craques estão ao seu dispor, é quando somos brindados com aqueles contratos atrozes, em que os agentes extorquem os dirigentes com sadismo. Nesse contexto, o ala-armador do Pacers aparece como uma opção intrigante, ainda que de risco.

A cada bandeja espetacular, alternada com uma presepada no Jogo 5, é para se pensar bem sobre o que vem por aí com Stephenson. O Pacers já apostou no atleta uma vez e, no custo x benefício, saiu ganhando. Até aí, era fácil, já que ele recebeu apenas US$ 980 mil de salário neste ano. Para seu próximo contrato, no entanto, a expectativa é de um valor muito maior que essa… Hmm… Mixaria.

Alguém vai se candidatar a tentar domar a fera, a refinar seu talento, torcendo para que seu comportamento se amanse a cada página de calendário dispensada? Segundo os setoristas norte-americanos, há diversos clubes realmente preocupados com isso. Até que ponto a franquia está disposta a pagar para ver?

Bem que Larry Bird gostaria de adiar essa decisão. O presidente do clube preferiria fazer projeções sobre sua equipe, sobre como os Pacers se comportaria contra Spurs, ou Thunder – mas isso já parece muito distante. Em sua curva ascendente e sinuosa, ainda não chegou a hora de Stephenson encarar LeBron.


Nova arrancada do Miami coloca Indiana contra a parede
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Giancarlo Giampietro

É LeBron, é defesa, é pressão, é muito mais para o Miami no momento

É LeBron, é defesa, é pressão, é muito mais para o Miami no momento

Por três jogos seguidos, o Indiana Pacers abriu uma boa vantagem no placar, mas só conseguiu protegê-la na partida inicial da série. Por um lado, pode ficar a sensação de que o time de Frank Vogel vacilou geral e que entregou a série de bandeja para o Miami Heat. Mas seria injusto dizer isso. Injusto com os atuais bicampeões.

Estamos falando de um time que perdeu o primeiro período deste sábado por sete pontos, mas que venceu o restante do jogo por 19. O time que anotou apenas 14 pontos em 12 minutos, mas que acumulou 85 nos 36 restantes. Mesmo contra uma defesa como a do Indiana Pacers, que, durante o campeonato, chegou a atingir níveis históricos de eficiência.

“É uma dura derrota para nossos caras”, diz o comandante do Pacers, Frank Vogel. “Acho que competimos muito bem, viemos para a quadra de modo bastante forte, tivemos um bom início e, então, não soubemos controlar nossas faltas e não conseguimos também reagir ao aumento de intensidade defensiva deles.”

O técnico faz um bom resumo, mas as coisas não são tão simples assim, né?

Com cinco faltas, George Hill foi limitado a apenas 21 minutos de ação, e isso de fato interferiu demais com seus planos para a equipe. O quinteto inicial de Indiana ainda tem um saldo positivo quando reunido em quadra, a despeito de duas derrotas em três jogos. No entanto, qualquer outra formação usada pelo treinador tem saldo negativo. Dureza, hein?

Sem Hill, Vogel perde um de seus poucos dribladores minimamente competentes, sobrecarregando Lance Stephenson e Paul George – especialmente quando consideramos as responsabilidades que ambos têm na defesa. Evan Turner poderia ajudar nesse sentido, mas como ficaria, aí, o espaçamento de quadra? Ainda mais comprometido, algo grave para um time que acertou apenas 28,6% de seus chutes de fora na primeira partida em Miami. E dá para confiar no ala marcando algum dos astros adversários ou mesmo Chalmers ou Cole? Nem.

Luis Scola dessa vez mostrou sinais de vida, terminando, vejam só, com o melhor saldo de cestas do Pacers (+9 em 13 minutos). Com a cabeça fresca, o argentinou reagiu e marcou oito pontos em algo como três minutos no primeiro tempo. Mas isso de nada adiantou no segundo tempo quando a bola mal chegou ao pivô – ao contrário do que se passou em Indianápolis, diga-se, em que foi acionado e não correspondeu.

Da mesma forma que DJ Augustin no ano passado, o armador reserva CJ Watson vem enfrentando imensa dificuldade contra o abafa constantemente promovido por Erik Spoelstra, que pediu a seus atletas para que não se esquecessem da identidade de sua equipe. Valeu, professor. Se a pressão defensiva do Miami desestabiliza até mesmo ataques bem coordenados como o do San Antonio Spurs, contra o Pacers, quando as coisas encaixam, vira massacre, mesmo.

Depois de 13 jogos com os rivais alternando vitórias, o Heat colocou o Pacers contra a parede ao conseguir, enfim, dois triunfos seguidos. Restam mais dois para que o time volte a uma decisão da NBA pela quarta vez consecutiva, para repetir algo que não acontece há quase 30 anos, desde o Los Angeles Lakers de 1982 a 1985 (uma vitória e uma derrota contra Celtics e Sixers).

A julgar pelo que vimos nos três primeiros confrontos, é difícil apostar numa derrapada, por conta desses e outros motivos – bastante óbvios, mas que voltam à tona na final do Leste de maneira impositiva:

Poder de fogo
Para plantéis que contam com figuras como LeBron e Durant, parece que nenhuma vantagem está plenamente segura – em dois ou três minutos de mão quente, a liderança se evapora. Se ao lado deles se apresentam talentos como Wade e Westbrook, então? Todo o cuidado é pouco: 15 pontos não são nada. Ainda mais para uma equipe com problemas ofensivos como o Pacers.

No segundo tempo do Jogo 3, o Miami Heat deslanchou. Mas não se esqueçam do que já haviam feito no final da primeira etapa. Juntos, LeBron e Wade anotaram 14 dos últimos 18 pontos antes do intervalo, reduzindo a diferença de 15 (37 a 22) para apenas quatro (42 a 38, praticamente um 0 a 0). É difícil se intrometer no caminho dos dois, quando estão determinados a atacar o aro.

Daí que a inteligência na montagem do elenco de suporte aos astros também nunca pode ser ignorada. Os craques estão em quadra para resolver, mas a diretoria chefiada por Pat Riley conseguiu armar uma estrutura exemplar ao redor dos dois. Os cartolas deram a Erik Spoelstra não só um conjunto formidável de atletas, mas também uma porção de bons chutadores para aliviar a pressão em cima dos cestinhas – a contratação de Ray Allen, neste caso, se prova mais e mais mortal. O veterano de 38 anos segue em forma refinada, graças a uma das rotinas mais abnegadas da liga.

O ex-chapa de Garnett e Pierce matou quatro bolas de três no quarto final, se aproveitando de algumas cochiladas de Lance Stephenson. Mas é difícil também manter a concentração o tempo todo, ainda mais com Wade e LeBron ao lado de um dos maiores arremessadores da história do basquete. Por conta própria, o trio marcou mais pontos que todo o time do Pacers no segundo tempo: 47 a 45. Veja no gráfico abaixo, da ESPN, a anatomia de um baita estrago:

Os tiros de três que arrebentam com o Pacers, time que melhor defende este fundamento. Reparem também no baixo volume de tiros de média distância e o jogo lá dentro, na combinação ideal dos analistas estatísticos da vez: jogo interno + chutes de fora com alto rendimento

Os tiros de três que arrebentam com o Pacers, time que melhor defende este fundamento. Reparem também no baixo volume de tiros de média distância e o jogo lá dentro, na combinação ideal sugerida pelos analistas estatísticos da vez: jogo interno + lances livres + chutes de fora com altíssimo rendimento

Foi a segunda vez na temporada em que os rapazes eleitos por Larry Bird abriram 15 no placar e perderam. A primeira havia acontecido no dia 18 de dezembro. Coincidentemente, elas se equiparam como as maiores viradas na campanha da equipe da Flórida. Tem a ver com a artilharia pesada da equipe.

Em pormenores…

LeBron James, essa aberração
“Temos de jogar nosso tipo de basquete. Temos de ser disruptivos. Acelerar o time que estamos enfrentando, e tentar voar por todos os lados na defesa… Somos um time que ataca. Quando encaixamos nosso jogo, muitas coisas acontecem ao nosso favor, e até conseguimos cobrir alguns dos erros que fazemos tanto ofensiva como defensivamente”, afirmou o superastro nos vestiários neste sábado. Hmm… Na mosca.

E como é que faz, LeBron?

Ah, tá. Fácil assim.

É impressionante sua consistência em um nível altíssimo, coisa de panteão. A cada jogo, seguimos acompanhando a história. Que bom que todos tenham aprendido a conviver com isso.  Nos três primeiros jogos, LeBron tem 24,3 pontos de média, 7,3 rebotes e 6 assistências, com 58% nos arremessos de quadra, em 123 de 144 minutos possíveis.

Mas… Vem cá: esse cara não se cansa nunca?

Nas últimas quatro temporadas, apenas dois atletas beiram os 14.700 minutos de jogo: LeBron e Kevin Durant. Isso equivale a algo como 300 partidas inteiras. Para muitos, esse seria o principal empecilho para um tricampeonato. Fadiga física e mental, especialmente de seu principal astro. Era o que muitos esperavam. Por enquanto, nada. E como apostar contra esse cara?

Ainda mais quando ele vem tendo uma certa ajudinha de…

Dwyane Wade, valeu o descanso
Neste mesmo período de quatro temporadas de parceria na Flórida, Wade não bateu os 12 mil minutos. Ele soma algo como 240 partidas na íntegra – ou 73% de uma temporada regular. Faz diferença. Spoelstra teve ainda mais precaução em administrar os minutos do ala-armador durante a temporada, na qual ele foi para quadra em 54 partidas, a menor quantidade desde 2008 – descontando, claro, o ano do lo(u)caute. O resultado é um Wade cheio de gás contra o Pacers, sem permitir que Lance Stephenson o maltrate. Aliás, pelo contrário. Suas médias são de 24,3 pontos, 4,3 assistências e 62% nos arremessos na série, em 36,7 minutos. Se ele mantiver esse rendimento, fica difícil até mesmo para o Spurs, gente. Dois jogadores de capacidade atlética de primeiro nível, experientes, entrosados, com fôlego para sustentar grande volume de jogo.

“Não sei porque as pessoas ficam agindo como se ele tivesse jogando aos 47 anos. Até parece que é o Bob McAdoo jogando”, disse Chris Bosh, em defesa do amigo. Ok, Christopher. Wade tem apenas 32 anos. Mas é inegável o esforço do clube para preservar sua saúde, pensando nos momentos de decisão da temporada. Algo, aliás, que até livra a sua pele…

Chris Bosh nem tchum. E daí?
Em termos de minutagem, Chris Bosh também já foi longe. O ala-pivô admitiu publicamente é o terceiro jogador que mais ficou em quadra nos últimos quatro anos, superando a marca de 12 mil jogados. São 2.500 a menos que o grande craque do time,  verdade. Mas lembrem que não é todo jogo que o camisa 6 tem de encarar brutamontes como Hibbert, Tyson Chandler e Al Jefferson. Bosh até conta com a escolta de Birdman e Haslem (e, de vez em quando, de Greg Oden). Mas teve de digladiar com esse tipo de gigante por muito tempo, admitindo estar cansado pacas no momento. E jogar contra o Indiana é uma dureza. Em especial para ele, que, nos últimos sete confrontos de mata-mata com seus arquirrivais, sustenta médias de 7,9 pontos e 4,6 rebotes, com 29,9% de aproveitamento nos arremessos. O Ian Mahinmi conseguiria estes números? Talvez não. Para um cara com o status de Bosh, porém, o caso é de bombar no exame. Mesmo com seu terceiro principal atleta rendendo pouco, o Heat está na frente.

Mando de quadra
O arranque do Pacers no início da temporada e todo o sofrimento na reta final para manter a primeira colocação no Leste, ter mando de quadra…Foi tudo para o espaço. A turma de LeBron conseguiu uma vitória em Indianápolis e confirmou, neste sábado, a “quebra de saque”. Acabou? Ainda não. Vamos ver se essa intensidade do Miami será mantida no Jogo 4, agora que estão liderando a série. A ver também se o Indiana segue confiante em completar a missão para a qual foi especificamente preparado.  Naturalmente, os visitantes têm mais uma chance na segunda-feira de recuperar a vantagem de decidir em casa. Basicamente, está em jogo sua sobrevivência na temporada. Se os visitantes não triunfarem no Jogo 4, aí, sim, bau-bau.


Perguntas para Miami Heat x Charlotte Bobcats
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Giancarlo Giampietro

Vamos tentar abordar neste fim de semana cada uma das oito séries que abrem os playoffs da NBA. Até segunda-feira, pelo menos. A ver:

LeBron x Bobcats=61 pontos

LeBron x Bobcats = 61 pontos

– O que o Bobcats vai fazer com aquele número 6?
Charlotte viu Carmelo e, principalmente, LeBron se esbaldarem durante a temporada regular. O que talvez pouco saibam: o time de Steve Clifford terminou o campeonato como a sexta melhor defesa (atrás dos suspeitos de sempre: Indiana, Chicago, San Antonio e Oklahoma City Thunder e outra presença inesperada, o Golden State, em quarto). Agora, contra os atuais bicampeões, o futuro (e novo) Hornets vai precisar encontrar algum meio de frear a força da natureza #LBJ. LeBron teve média de 38 pontos por jogo nos confrontos, contando a jornada incrível dos 61 pontos. Não há quem possa criticar a dedicação, o empenho do ainda jovem Michael Kidd-Gilchrist, mas ele precisa de ajuda.

 – Oi, Dwyane, tudo bem? Como vai a vida?
Desde o dia 18 de março, o veterano co-piloto do Miami Heat ficou fora de 12 dos 16 jogos do time. Haja precaução com seus combalidos joelhos. Para o sujeito desenferrujar, foi escalado nas últimas três partidas, somando apenas 64 minutos no total. Foi contra Hawks, Wizards e Sixers, em três derrotas, com o time abrindo mão da luta pelo mando de quadra nos playoffs. Aliás, se formos comparar, o clube terminou com a mesma campanha do Houston Rockets e do Portland Trail Blazers. Por essa poucos esperavam. Muito tem a ver com o joga-ou-não-joga de Wade. LeBron ficou sobrecarregado durante a jornada, sem fôlego para ser, ao mesmo tempo, o grande cestinha e o grande defensor noite após noite – de acordo, claro, com os padrões altíssimos estabelecidos pelo superastro. Em fevereiro, no mês em que Wade ficou fora de quadra por apenas duas rodadas, a campanha foi de 10 vitórias em 11 jogos (a única derrota foi o, glup!, Utah Jazz), com o ala-armador somando 21 pontos, 5,6 rebotes, 5,5 assistências e 60,9% de aproveitamento de quadra, em 34 minutos. Spoelstra precisa de um rendimento desses para ter sucesso nos mata-matas. Mas vai ser logo de cara? Ou, contra o Bobcats, o técnico ainda conseguirá preservá-lo?

– Estaria o mundo preparado para se divertir com Josh McRoberts?
Ele já esteve iluminado pelos holofotes. Jogou por Duke. Vestiu a camisa do Los Angeles Lakers. Mas agora deu a sorte de estar do outro lado da quadra em uma série melhor-de-sete-que-precisa-ser-televisionada-por-motivos-de-LeBron. Melhor ainda: talvez calhe de o próprio LeBron ficar na sua cobertura, dependendo da rotação de pivôs que Spoelstra vai usar. Sucesso. Aqui, não conta só o visual, mas principalmente a habilidade do passe do ala-pivô, que caiu como uma luva como o parceiro de Al Jefferson. O Baby Al foi um estrondo durante o campeonato, com 21,8 pontos, 10,8 rebotes e double-doubles que te fazem engasgar na cadeira, mas fiquemos todos de olho no McBob.

– E, por falar, em pivôs, qual vai ser, Spo? Aliás, qual o time?
Em suas duas campanhas de título, o Miami Heat contou com contribuições significativas de Shane Battier, o Sr. Presidente, inteligente que só, alguém que casa bem com o sistema que gira em torno de LeBron, ajudando na defesa e espaçando o ataque. Os minutos do ala têm sido completamente irregulares. Em abril: 6, 0, 31, 20, 24, 3, 0, 15 e 40. Em março: 19, 21, 20, 16, 9, 16, 28, 11, 21, 15, 14, 9, 18, 8, 0, 24, 27, 0. Para comparar, em fevereiro, oscilou entre 17 e 35 (sim, algo ainda discrepante, mas com um tempo mínimo de quadra bem mais razoável). Em janeiro, foi desfalque por cinco noites, mas, quando jogou, ficou entre 19 e 31 minutos (num só jogo isolado, acima de 30, com o restante situado entre 19 e 21). Tudo isso para dizer que, com Battier, o Miami adota seu formato small ball. É o time que dominou a liga. Com Haslem ou Oden, alguns parâmetros mudam sensivelmente. Resta saber se Batier foi outro a ser resguardado, ou se despencou da rotação, mesmo. Rashard Lewis está no aguardo – credo. Mas é isso: foram diversos afastamentos/lesões durante a jornada. O entrosamento, a essa altura, já é algo natural, para quem convive há tanto tempo. Mas, de qualquer forma, fica a observação.

– Gary Neal, recordar é viver?
Ou melhor: longe da máquina azeitada que é o Spurs, será que esse temperamental cestinha tem a manha de marcar 24 pontos em 25 minutos contra o Miami Heat. O torcedor mais fanático da turma de San Antonio, aquele que realmente se preze, obviamente vai conectar o League Pass nos momentos em que Neal sair do banco de reservas, para conferir. Quem não se lembra da erupção do arremessador naquele espancamento que o time texano promoveu no Jogo 3 das históricas finais do ano passado? Na temporada regular, mudando de Milwaukee para Charlotte, Neal sustentou seus números (nada espetaculares, diga-se).

– Por fim, Kembinha, preparado?
É difícil melhorar quando se chama Kemba. Mas “Kembinha” dá conta do recado, né? Um amigão fanático por Fantasy se refere assim ao rapaz. Campeão universitário por Uconn, ele comemorou este ano as estripulias de Shabazzzzzzzz, tirou um sarro do MKG, descansou um pouco na reta final, tudo legal. Agora, vai ter de respirar fundo: nunca é legal para um armador enfrentar a blitz do Heat. Para alguém que fica tanto tempo com a bola, o subestimado armador do Bobcats comete poucos erros. Mas que se prepare, porque lá vem abafa em sua direção.

A diversão acabou, Kembinha. MKG não merecia isso

A diversão acabou, Kembinha. MKG não merecia isso


Heat e Cavs vêm ao Brasil! Mas e o LeBron?
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Giancarlo Giampietro

Oficial, por enquanto

Oficial, por enquanto

Cleveland Cavaliers e Miami Heat vão jogar no Rio de Janeiro no dia 11 de outubro. A NBA vai voltar ao Brasil, com dois amistosos de pré-temporada em dois anos consecutivos. Isto está certo, legal demais.

Agora…

Obviamente este post sai como água no chope, bastante impopular, mas é preciso ponderar: cravar que teremos LeBron James por estas bandas na véspera do feriado é, no mínimo, prematuro.

É complicado falar do outubro de qualquer clube da NBA quando se está em abril. Sobre o mês 10 dos atuais bicampeões já beira o impossível. Tudo por causa dos nomes pintados de azulzinho na coluna 2014-2015 desta página aqui.

Vejam a legenda: azulzinho quer dizer “opção do jogador”. No sentido de que eles decidem o que vão fazer da vida: se vão manter o contrato ou se vão revogá-lo, para entrar no mercado de agentes livres. E lá aparecem: LeBron James, Dwyane Wade e Chris Bosh. Ah, e o Udonis Haslem também.

Sim, para quem não se lembra (“Alô, McFly, tem alguém em casa!?”), existe a possibilidade de o trio parada dura de o Heat dizer adeus ao clube. Não só eles, como praticamente todo o elenco formado por Pat Riley – de contratos garantidos para a próxima temporada, só constam Chris Andersen e Norris Cole.

Vai acontecer?

Ninguém sabe. Nem Riley, David Stern, Adam Silver, Erik Spoelstra, Jim Buss, Phil Jackson e Barack Obama. É duro, sinto muito, mesmo, mas nem você, muito menos eu podemos dizer, prever.

Porque, daqui até lá, existe esta coisa chamada mata-mata, ou playoff, no meio do caminho. Os caras vão em busca do tricampeonato.

É algo tão difícil, que o Steve Kerr, no início deste campeonato, simplesmente não conseguia apostar na equipe como seu principal candidato ao título. Ele, parte integral daquele mítico Chicago Bulls, falava sobre o desgaste mental e físico que as consecutivas participações nas finais da NBA causam. Mas cá estamos na reta final da temporada regular, com o clube bem posicionado na disputa. Não são necessariamente favoritos, mas estão bem no páreo. Que a bola suba para vermos o que acontece.

A configuração do Miami Heat que vem ao Brasil vai depender, obviamente, do desfecho dessas batalhas. Quão sangrentas serão? Quem vai vencer? Se forem campeões, se darão por satisfeitos? Ou vão pensar num tetracampeonato histórico, que não ocorre desde o Celtics de Russell? Se perderem, ficarão mordidos, em busca de revanche? Ou vai cada um procurar sua turma?

O Cavs, mesmo, vai acompanhar isso com muita atenção. Imagine: LeBron vindo ao Brasil, legal!!!, mas com a camisa de sua ex-equipe. É possível? Sim, embora muito improvável.

Para que isso aconteça, pode ser que sobre até mesmo para Anderson Varejão. O pivô capixaba, saibam, vai estar em seu último ano de vínculo com a franquia, mas com um detalhe importante: seu contrato é parcialmente garantido. Não tenho aqui de cabeça os detalhes, mas o Cavs pode rescindir seu vínculo até um dia X e economizar boa parte de seu salário – ou mesmo trocá-lo para um time que esteja interessado, mesmo, em poupar. Ainda está cedo para fazer esse tipo de conta, mesmo.

O mais importante aqui não seria um mero corte de gastos, mas, sim, a possibilidade de abrir espaço em uma folha de pagamento já esvaziada para investir em outros agentes livres. Mesmo que o autoproclamado Rei ignore os clamores pelo seu retorno.

Vão fazer? Também acho difícil, considerando a popularidade do brasileiro e as diversas e raras habilidades que o pivô tem, que vão muito além de sua cabeleira. Mas, na hora da reformulação de um elenco, uma das frases que mais se houve é que fulano de tal “preferiu seguir uma outra direção”. Raios, no momento nem o gerente geral David Griffin sabe se vai continuar no emprego ou não. Seu cargo ainda carrega a etiqueta de “in-te-ri-no”.

No fim, é isso. Atletas, dirigentes, agentes, jornalistas, torcedores. Não importa: em abril, estão todos sujeitos a reviravoltas.

De concreto fica: Miami e Cleveland jogarão no Rio de Janeiro. Mas quem exatamente? Os playoffs que vão nos contar. Enquanto isso, não faz mal usar os verbos de modo condicional.


Do contra, Kobe renova por valor alto. E o futuro do Lakers?
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Giancarlo Giampietro

Fala, Kobe

Você aprende a gostar de um Kobe Bryant por tudo aquilo que ele faz de diferente.

Para começar, são poucos os que podem igualar seus talentos em quadra. Desde que entrou na NBA como um colegial em 1996, sua capacidade atlética já deixava claro que tinha tudo para ser um dos grandes. Ágil, maleável, explosivo, saltitante, já conseguia competir com os grandalhões, ainda que o Los Angeles Lakers tenha controlado direitinho sua decolagem. Foi sendo solto aos poucos. Quanto mais jogou, mais óbvias ficavam outras características que o carregariam ao topo. De atletas de alto nível a liga estava cheia. Que o diga Harold Miner. Mas o ala tinha muito mais que isso. Visão para o passe e dos diferentes ângulos para se infiltrar, chute de média distância e, talvez ainda mais importante, propensão para se ralar na defesa no mano a mano. Sem contar as horas sem fim de internação no ginásio para refinar essas habilidades. Sim, era um craque, distante dos outros.

Com o tempo, foi moldando sua personalidade em uma liga dominada por dinheiro, ególatras e muita gente competitiva, o ala teve diversas fases. Primeiro, tentou se enturmar como um dos manos do hip-hop, tentando combater a imagem de “fresquinho” que tinha, pelo período longo de educação que teve na Europa, acompanhando a carreira do pai. Não deu muito certo, e viu que o negócio era, mesmo, se concentrar dentro de quadra. Já foi o queridinho jovial e exuberante, virou o vilão introspectivo e intratável – os anos entre 2003 e 2006 foram especialmente complicados, com os constantes entreveros com Shaq, a acusação de estupro no Colorado a roupa suja lavada de Phil Jackson etc. –, perdeu, ganhou, retomou a coroa e, hoje, é talvez a melhor entrevista de toda a liga. Consagrado, com um currículo quase imbatível, confiante, inteligente, veterano, faz a alegria de quem consegue gravá-lo. Bem distante do usual.

Como esperar, então, que, na hora de definir algo tão importante como os próximos e últimos anos de uma carreira dessas, ele fosse seguir o convencional, aquilo estabelecido como padrão? No caso, renovar seu contrato com o Lakers com um desconto camarada para a franquia, com a ideia de que, desta forma, poderia ter mais ajuda para buscar o (supostamente) tão sonhado sexto anel? Oras, isso é coisa para Tim Duncan, Kevin Garnett, LeBron James e outros fazerem.

Quer dizer, não que Kobe não os respeite, de um jeito ou de outro. Mas, na cabeça de um sujeito desses, não há quem possa se colocar em seu patamar – e por trás dessa lógica há muito mais coisa que a simples habilidade de jogar basquete.

“Você não pode apenas entender seu esporte. Tem de entender a indústria dos esportes”, afirmou, no Twitter, o astro, depois de ser malhado por 99,5% da internet americana pela extensão contratual que assinou, por mais duas temporadas além da atual, com média salarial superior a US$ 24 milhões. “As regras do teto salarial forçam que os jogadores sejam ‘altruístas’ para ajudar proprietários BILIONÁRIOS. E são as mesmas regras que os proprietários nos obrigaram a aceitar. #Pense”, completou.

Ciente disso, do tipo de coisa que circunda a mente de seu principal pilar, a diretoria do Lakers apostou alto ao já resolver a negociação prontamente. Se cada centavo desse contrato não importasse para o que vai ser da equipe até 2016 (mais abaixo), a definição mais correta para o acordo selado seria a da repórter Ramona Shelbourne, do ESPN.com americano. “É só pensar que ele vai ganhar qualquer coisa a mais que o segundo jogador mais bem pago da liga”.

Saca? Para Kobe, parece realmente importante encabeçar a lista dos holerites emitidos na liga. É uma questão de status, reconhecimento por serviços prestados e relevância para o jogo – e a indústria, como deixou claro no seu tweet. Algo que Jim Buss e Mitch Kupchak sabem muito bem. Além disso, pega bem para a franquia, diante de jogadores e agentes, essa demonstração de “lealdade” e, ao mesmo tempo, agradecimento.

“Sou muito afortunado de estar em uma organização que entende como cuidar de seus jogadores e colocar um grande time na quadra. Eles descobriram como fazer isso. A maioria dos jogadores na liga não tem isso. Eles ficam presos a uma situação difícil, algo provavelmente algo feito intencionalmente pelos times para forçá-los a ganhar menos dinheiro”, disse, depois, o jogador ao Yahoo! Sports em entrevista imperdível. “Enquanto isso, o valor da organização cresce até o teto, graças ao sacrifício de seus jogadores altruístas. É a coisa mais ridícula que já ouvi.”

É difícil fazer frente aos argumentos do Sr. Bryant, não? Os jogadores da NBA vivem em um mundo no qual a ridicularizada franquia do Sacramento Kings é vendida pela quantia recorde de U$ 534 milhões. Se os Maloof conseguiram fazer uma bolada dessas, seria certo que Peja Stojakovic, Mike Bibby ou Chris Webber, no auge do clube, aceitassem ganhar menos para facilitar a vida de empresários que, no fim, se mostraram gestores incompetentes?

Além do mais, a situação de Kobe ainda tem outro aspecto especial. Por mais que o atleto já tenha engordado seu cofre sem parar na última década, a ponto de garantir um vidão para seus eventuais bisnetos ou tataranetos, um atleta desse calibre nunca é devidamente pago. Não dá para dimensionar sua importância para a marca do time. Certamente vale mais que os US$ 30 milhões a serem embolsados apenas por este campeonato.

Ainda não está muito claro o caminho que levou a esse relativamente rápido acerto. Se Rob Pelinka, o homem que negocia por Bryant, já estava forçando a barra nos bastidores. Se a diretoria que resolveu se apressar, mesmo, independentemente da forma física do astro em recuperação de uma cirurgia no tendão de Aquiles ou do quanto a concorrência estaria disposta a oferecer pelo ala, se ele eventualmente viesse a se tornar um agente livre. De qualquer forma, antes de bater o martelo, cartolas e jogador tiveram a chance de ponderar o que faziam. E, justa ou não a remuneração do camisa 24, fato é que, se a prioridade nessa renovação de vínculo fosse realmente esportiva, tentar fazer do Lakers novamente um candidato ao título, os valores divulgados são, mesmo, incompreensíveis.

Sem entrar tanto assim na matemática – há quem faça muito melhor –, a franquia basicamente só poderá contratar um craque de ponta, alguém que faça a diferença, nos próximos dois anos, enquanto durar o novo contrato de Kobe. E, para fazer isso, ainda teria de se despedir de Pau Gasol, se livrar da carcaça de Steve Nash, dos rebotes de Jordan Hill e de qualquer outro “achado” da campanha 2013-2014. As novas regras do acordo trabalhista da NBA basicamente sufocam qualquer time que gaste (mais de) US$ 40 milhões em dois atletas. A ideia era realmente atar as mãos de clubes mais poderosos financeiramente como o Lakers e o Knicks – mbora a ironia das ironia seja que essas regras também detonam com as equipes menores que consigam formar grandes elencos, como o Thunder, que se viu obrigado de escolher entre Ibaka e Harden.

Na atual configuração de negócios da liga, pensando na próxima temporada, o Lakers caminharia para ter Kobe, Astro X, um jogador mediano Y e uma banca de Shawne Williams e Robert Sacres para preencher as lacunas restantes no elenco. Isso é muito pouco, mesmo para o caso de o craque retornar de uma lesão devastadora em plena forma. É possível? Claro, nunca é bom desconfiar de alguém tão obstinado como o ala. Mas já será um desafio e tanto – e, a propósito, ele afirma ainda faltar algumas semanas para que possa retornar. “Tentei me isolar (das negociações de renovação), bloquear isso. Precisava me concentrar na minha recuperação em levar meu traseiro de volta para quadra.”

Kobe afirma também que confia na habilidade de Kupchak em formar uma equipe competitiva. Mas ele talvez simplesmente esteja ignorando as minúcias da nova NBA. Ao defender seus interesses, o ala acabou por deixar os cartolas em uma posição mais difícil, embora esteja pê da vida com quem entenda desta maneira. “Não dá para ficar pensando isso: ‘Bem, vou ganhar substancialmente menos porque existe uma pressão pública para isso’. De uma hora para outra, se você não aceitar ganhar menos, é como se você não desse a mínima para vencer. Isso é pura bobagem.”

Antes dessa frase, porém, ele fez a seguinte colocação: “Muitos de nós (jogadores) temos aspirações para virarem homens de negócio quando nossa carreira chegar ao fim. Mas isso começa agora. Você precisa ser capaz de pensar ambas as coisas”.

Dessa vez, Kobe acabou pensando mais em seus futuros negócios.

(PS: Uma explicação. Não tem sido um final de ano fácil para o blog. Perdi minha última avó, uma semana depois tive de embarcar para uma longa viagem profissional para o outro lado do mundo. Na volta, tinha uma coisa beeeem gostosa para coordenar: simplesmente uma mudança de casa me aguardava, junto com outras obrigações no trabalho, e aí as coisas fugiram de controle. Era melhor parar por um tempo, sentir falta do VinteUm e voltar com alguma coisa que preste para escrever. Espero que este post já sirva de algo. Amanhã de manhã tem mais, sobre os problemas de um ex-armador genial em comandar um timaço numa das vizinhanças de Nova York. As coisas parecem ter voltado ao lugar aqui. Abs, até mais.)


Projeto Beasley: Riley aposta na reabilitação de seu próprio refugo
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Giancarlo Giampietro

B-easy? Não mais

Poderia Michael Beasley colocar a cabeça em ordem e deixar o Miami ainda mais forte? NBA aguarda

Garoto-propaganda da Armani por não sei quanto tempo, Pat Riley só pode ser um homem seguro de si. Ajuda também, imagino, o fato de já ter sido campeão da NBA como jogador, técnico e dirigente.

Pois, rumo ao campeonato 2013-2014, em busca do tricampeonato pelo Miami Heat, o presidente da equipe esbanja confiança de um jeito que até assustaria. Daria medo, sim, não contasse existisse no mesmo grupo com um certo LeBron James. Primeiro foi Greg Oden, o lesionado. Depois Michael Beasley, o desmiolado e um refugo da própria franquia da Flórida.

Não dá para dizer qual é o negócio mais arriscado. Para termos uma ideia da fama que o ala construiu com esmero, uma vez que o pivô não pisa em quadra desde 2009. É como se ele tivesse comprado, na loja online da Acme, um manual com o passo-a-passo de como se arranhar a imagem pública de alguém que, em 2008, estava envolvido em um ferrenho debate sobre a escolha número um do Draft, concorrendo com aquele tal de Derrick Rose. Até mesmo o armador sabia disso.

E, acreditem, para muitos olheiros não era nenhum absurdo essa proposição. Beasley, talento puro, fez uma temporada excepcional como calouro na NCAA, segundo qualquer perspectiva. Compare os seguintes números, num exercício de adivinhação que adoram fazer lá fora, especialmente o Sports Guy:

Jogador A: 35,9 min, 25,8 pts, 11, 1 reb, 1,9 blk, 1,9 st, 47,3% FG, 40,4% 3pt.

Jogador B: 31,5 min, 26,2 pts, 12,4 reb, 1,6 blk, 1,3 st, 53,2% FG, 37,9% 3pt.

Em 2013, fica difícil aceitar isso, mas o Jogador A é Kevin Durant, e o B, Michael Beasley. E não é que isso seja uma fraude estatística: um jogando contra as Dukes da vida e o outro, no circuito do Telecurso 2000 Nebraska. Ainda que em anos diferentes, Beasley, por Kansas State, na sequência de Durant, por Texas, os dois produziram essas estatísticas na mesma conferência, a Big 12.

Era esse tipo de craque que muitos esperavam quando o já rodado ala entrou na liga em 2008, com o aval de Riley. Aos poucos, contudo, o alarme foi tocando. Já no primeiro encontro dos calouros, numa semana, digamos, educativa promovida pela equipe de Stern e pelo sindicato dos atletas, Beasley foi multado em US$ 50 mil dólares por violar alguns protocolos ao lado do companheiro Mario Chalmers (e de Darrell Arthur, eternamente coadjuvante). O incidente teria envolvido “mulheres” e “odor de maconha”. A droga apareceria em reportagens de outras três ocorrências policias envolvendo o jogador, tendo a última delas resultado em sua dispensa pelo Phoenix Suns, depois de ser preso em Scottsdale.

“O Suns se dedicou muito pelo sucesso de Michael Beasley em Phoenix,” disse o presidente do clube, Lon Babby, em comunicado. “No entanto, é essencial que exijamos os mais altos padrões de conduta pessoal e profissional à medida que desenvolvemos uma cultura de campeão. A ação de hoje (a dispensa) reflete nosso compromisso com essas normas. O tempo e a natureza desta decisão e de todas as nossas transações recentes são baseadas no julgamento da nossas metas de basquete, assim como na melhor forma de alcançar o nosso objetivo singular de reconstruir e formar uma equipe de elite. “

Pegou?

E a questão aqui não é nem apelar para princípios moralistas. Os problemas vão muito além das questões legais. Em quadra, o jogador ainda não encontrou seu nicho – é um jogador que trabalha melhor do perímetro para dentro, ou do jogo interior para fora? Em meio a essa discussão, promovida pelos diversos técnicos com quem já trabalhou, o ala regrediu em diversos quesitos estatísticos desde seu ano de novato. As quedas mais sensíveis são detectadas no aproveitamento de arremessos de quadra: 47,2% em 2008-2009, 40,5% em 2012-2013 – e se refletem também nas métricas mais avançadas. Em Phoenix, o plano era que ele pudesse expandir seu jogo no ataque, ficando mais com a bola, desde que procurando passá-la um pouco mais, para variar. Meio que deu certo, com o jogador assistindo em 12,5% das cestas que os companheiros (a média de sua carreira é de 9,7%). O efeito colateral? Sua média de turnovers subiu, claro.

De tudo o que já se falou sobre Beasley, um discurso o acompanhou em  uníssono: a de que o jogo parece muito fácil – e parece, mesmo –, mas que ele não faria sua parte, entrando com o mantra do basquete (e do sonho) americano. De que tem de ralar a poupança, respeitando os adversários e o grande jogo, enquanto, ao mesmo tempo, deveria entender as limitações e trabalhar duro em cima delas. Antes de ser demitido, Lance Blanks, ex-gerente geral do Suns, confiava em tudo isso: que seria possível guiar o jogador rumo ao Éden e, com ele, iria o time junto. Nenhum dos dois durou mais de uma temporada a partir da assinatura do contrato. Mesmo com a franquia ainda precisando pagar US$ 12 milhões em salário.

Fim da linha?

Não. Pat Riley resolveu fazer a aposta. Justo ele, o primeiro a abrir mão do atleta em uma negociação com o Minnesota Timberwolves – recebeu, em contrapartida, uma quantia não especificada de dinheiro e duas escolhas de segunda rodada no Draft, pacote conhecido também por “troco de pinga” na NBA. Naquela época, precisava se livrar de qualquer centavo que julgasse supérfluo em sua folha de pagamento, para abrir espaço para a contratação de LeBron e Bosh, além da renovação de Wade. O ala ganharia US$ 4,9 milhões. Então foi “rua!” para ele.

“Estou feliz que ele esteja de volta, e acho que ele é a vela de ignição de que este time precisava do ponto de vista de talento”, afirmou Wade, que acompanhou de perto os altos e baixos do atleta entre 2008 e 2010. “Sempre digo que a grandeza de Michael depende só dele. O quão bom ele quer ser. Agora vamos nós todos ver no que dá.”

Três anos depois, o ala retorna para South Beach. “Todo mundo me acolheu. D-Wade ficou no meu ouvido o tempo todo”, disse Beasley após seu primeiro treino com o time, num início de pré-temporada… Nas Bahamas! Vamos ver se a turma se comporta.

Será que o Miami Heat andava tão entediado assim? Conquistar a NBA estava muito fácil? Era preciso mais emoção? Não, brincadeira. Aí seria muito sádico de sua parte – e não vão se esquecer tão cedo do sufoco que passaram perante Tim Duncan e Tony Parker.

A verdade é que Riley não tinha muito o que fazer, mesmo. Já tinha sido obrigado a anistiar Mike Miller para economizar e evitar as multas pesadas de gestão da liga. De novo foi uma questão de economia. Desta vez Beasley chega com desconto, recebendo o salário mínimo, e ão havia ninguém disponível no mercado com o “potencial” (sempre ele) deste problemático jogador para se adequar a essa mixaria. “Michael teve os melhores anos de sua carreira conosco. Sentimos que ele pode ajudar”, disse o presidente do clube.

Para fechar, porém, só um adendo: o contrato  de Beasley não tem garantia para toda a temporada. Aprontou, dançou. Aí não tem terno bem cortado e currículo vitorioso que passe tanta confiança assim.


Ranking põe 2 pivôs brasileiros entre os 20 piores jogadores da NBA, mas qual deles deve se preocupar?
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Giancarlo Giampietro

Fab Melo, o Fabrício

Fabrício não pôde mostrar muita coisa como novato, e seu status despencou em um ano

O melhor da NBA já sabemos quem é. Começa com K, quer dizer, com L. Com “L”, tá, pra ficar claro? Todos sabemos.

E que tal brincar de falar sobre os 5oo (5 x 100) melhores jogadores da NBA? Foi o que o ESPN.com decidiu fazer mais uma vez, a partir desta semana, e o início desta insanidade afetou diretamente os pivôs Fabrício Melo e Vitor Faverani, listados supostamente entre os piores jogadores da liga. O impacto deste ranking para os dois deveria ser nulo – para um deles, contudo, acaba sendo muito preocupante.

Antes de comentar a parte que os atinge, vale gastar algumas linhas sobre o projeto em si.

Empilhar 500 jogadores é algo tão maluco, mas tão maluco – e absurdo, e apelativo, e… Interessante? –, que, se quisessem adotar uma prática sadomasoquista, poderiam divulgar o resultado com um nome por dia, e assim passaríamos quase um ano e meio acompanhando o projeto.

Mas o site americano não precisa disso. O que eles vão fazer é pegar as cinco centenas de jogadores que seu imenso estafe ranqueou e dividi-las em blocos, de modo que a coisa dure apenas umas duas semanas, se tanto. A ideia, claro, é que acabe quando os training camps estiverem prestes a começar. Matam, assim, dois coelhos, dois pobres coelhos de uma vez: não só cobrem um período no qual, para eles, a notícia mais interessante pode ser a próxima briga que um Goran Dragic vá descolar na Europa, como arrumam um jeito de levar sua polêmica para dentro da cobertura geral da liga. Kobe e Dwyane Wade já reclamaram, por exemplo. Kobe, que começa com K, assim como Kevin, de Durant.

Faverani para el mate

Faverani nem jogou na NBA ainda e já se vê metido em lista de polêmicas, ou quase-polêmicas

Aí começa aquela bagunça que só, agitando bares, escritórios, condomínios, sem contar a paróquia. Isso gera tráfego, audiência, e pode até para o jornalista brasileiro oportunista: “Cara, você não vai acreditar, mas o idiota do Vinte Um chegou a pensar em colocar o Kobe ou o Durant na frente do LeBron como o bambambam da NBA? Tem noção?!”, reclama um. E do outro lado do Skype o outro responde: “Afe, vôclicá, caramótoupeira”, e pronto. Talvez percam alguns segundos digitando algum comentário bombástico. Habemus cliques e cliques, e assunto pra conversa.

Mas não é de Kobes e LeBrons que vamos falar, não. Do ponto de vista tupinambá, o ranking mal começou e já atingiu dois brasileiros: Fabrício, ex-Boston Celtics, e Victor Faverani, um novíssimo Boston Celtic.

Para Vitor, que ficou na posição 481 da lista, isso não representa nada. Coisa alguma. Bulhufas.

Como você vai ranquear um jogador que nunca pisou numa quadra de NBA? E, por mais amplo que seja o painel de eleitores, com mais de 200, é de se duvidar que 5% (dez, no caso) tenham gastado mais do que cinco minutos do pivô em ação pelo Valencia. Mas nem no YouTube. Então… Como exatamente eles vão dar para o paulista uma nota  maior ou menor do que a de DeSagana Diop, o veterano pivô que está logo acima na tabela, como o número 480? Diop, que somou 0,7 pontos e 1,9 rebote em 10,3 minutos pelo Charlotte Bobcats no campeonato passado – e que em sua carreira nunca teve média de mais de 20 minutos. Não faz sentido.

Ainda assim, Diop, selecionado em 2001 pelo Cleveland Cavaliers num histórico Draft – o mesmo de Tyson Chandler, Eddy Curry e Kwame Brown –, conseguiu dar um jeito de permanecer na liga até hoje, acumulando 13 temporadas de experiência. Nada como os 2,13 m de altura. A mesma de Fabrício Melo, que ficou na… Tipo… Em… 499º, também conhecido como penúltimo lugar. Atrás dele? Apenas Royce White. O que, aliás, parece até piada – e não se enganem, os jogadores reparam, sim, nesse tipo de “produto editorial”.

White é um ala-pivô cujas habilidades intrigantes nunca puderam ser testadas pelo Houston Rockets em seu ano de novato, tornando-se muito mais famoso por sua luta/campanha a favor do reconhecimento de doenças mentais como algo sério e relevante e que deveria ser enquadrado na política da NBA da mesma forma que lesões em articulações etc.  Não é nenhum absurdo, mas o modo como ele conduziu a campanha foi desastroso, para dizer o mínimo, virando chacota entre dirigentes e torcedores e uma anedota durante a boa campanha do Rockets. Acabou trocado para o Philadelphia 76ers. Sixers, que na verdade estava mais interessado em obter os direitos sobre o pivô turco Furkan Aldemir como contrapartida.

Fabríco Melo no ataque, ou quase

Fabrício, marcado por Steve Novak. Diz muito?

Pois é. Esse figura recebeu uma nota 1,50, contra 1,55 de Melo. Para constar: a pontuação ia de 0 a 10, com o intuito de avaliar a expectativa em torno do “nível geral de cada jogador para a próxima temporada da NBA”. Fabrício caiu de 389 para penúltimo. E aqui o ranking se torna relevante porque confirma uma percepção negativa em torno do jovem brasileiro ao redor da liga. Seu status não poderia estar mais baixo no momento.

De certa forma, poucos viram o brasileiro jogar no último ano também. Vestido de Celtic, ele ficou em quadra por apenas 36 minutos em toda a campanha 2012-2013. Não dá nem uma partida inteira de Fiba. Como avaliá-lo, então, de uma forma justa? Muito difícil. Daí que o fato de ele ter sido dispensado pelo Celtics não pegou nada bem e o empurrou ladeira abaixo. Afinal, era o clube que estaria mais interessado em seu desenvolvimento e, principalmente, mais informado a seu respeito, não? E, se Danny Ainge desistiu tão rápido, que tipo de mensagem isso passa para seus concorrentes e para quem cobre o assunto?

E há mais ingredientes: depois de apenas uma campanha, o pivô foi trocado pelo Boston Celtics para o Memphis Grizzlies. De imediato, a franquia gerida por fanáticos por estatísticas decidiu por dispensá-lo – isto é, estavam mais interessados nas possibilidades estratégicas que a negociação proporcionava, do que em adotá-lo como um novo projeto. E o que aconteceu depois? Nenhuma franquia sequer se candidatou a recolhê-lo durante o período de waiver. Nenhuma, nem mesmo aquelas abaixo do teto salarial que ainda precisam preencher seu elenco. Mesmo sendo ele ainda jovem, com apenas um ano na liga e um gigante que não se encontra todo dia por aí. Até que, por fim, o Dallas Mavericks decidiu convidá-lo para seu training camp, mas sem nenhuma obrigação contratual.

Vamos discutir mais sobre o pivô e sua curiosa trajetória no basquete norte-americano em breve, reunindo material desde seus tempos como um badalado colegial na Flórida. Na cabeça do mineiro de Juiz de Fora, porém, estes tempos já não podem contar para mais nada. É hora de engolir a seco essa cotação baixíssima, encarar o duro e reformular sua reputação para ontem. Não se trata mais de brincadeira.

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Scott Machado, ainda sem clube, mas flertando com um retorno ao time do Warriors na D-League, ficou com a 463ª posição, grudado em… Lamar Odom. Os dois tiveram a mesma nota: 2,05, assim como, ironicamente, Ian Clark, ala-armador que roubou tempo de quadra do brasileiro nova-iorquino durante a liga de verão de Las Vegas e acabou descolando um contrato garantido do Utah Jazz. Um arremessador excepcional.

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A ideia era publicar na quinta-feira um artigo sobre a influência dos jogadores norte-americanos no EuroBasket, mas um problema técnico me fez perder… Hã… Basicamente todos os números que levantei dos “gringos”. Daqueles momentos em que você perde a fé na tecnologia. Vamos ver se dá ânimo de fazer de novo.