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CBB divulga time do Pan, rodeada por questões financeiras e políticas
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Giancarlo Giampietro

Um dos treinadores da seleção no Pan está na foto

Um dos treinadores da seleção no Pan está na foto

Começou, e daquele jeito.

ACBB divulgou nesta segunda-feira a primeira lista de Rubén Magnano para a temporada 2015 da seleção brasileira. Foram 12 atletas relacionados para a disputa do Pan de Toronto, a partir do dia 21 de julho. Não consta nenhum  nome da NBA. Em relação ao time da Copa América do ano passado, são apenas três caras. Até aí tudo normal, compreensível. O inacreditável, mesmo, é que, a menos de dois meses para a competição, o argentino não sabe se vai para o Canadá, ou não, já que a Fiba ainda não se posicionou de modo definitivo a respeito de uma vaga para o Brasil no torneio olímpico do Rio 2016.

Para quem está por fora do ba-fa-fá, é isso aí: a federação internacional faz jogo duro e ameaça acabar com essa história de posto automático para o país-anfitrião nos Jogos. Algo com que até mesmo a Grã-Bretanha, sem tradição alguma, com um catado de jogadores, foi agraciada em 2012. Por quê? Pelo simples fato de a CBB enfrentar problemas para pagar uma dívida com a entidade, conforme relatam Fabio Balassiano e Fabio Aleixo. Dívida que decorre do pagamento de US$ 1 milhão por um humilhante convite para a disputa da Copa, depois de um fracasso na Copa América de 2013, no qual a seleção saiu sem nenhuma vitória e com derrotas até para Jamaica e Uruguai. Lembrando que faz tempo que a confederação nacional está no vermelho e hoje faz um apelo em Brasília por algum patrocínio estatal para complemento de renda.

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Quer dizer: nos bastidores, o Brasil já está sendo derrotado, e isso não ajuda em nada a vida de um técnico. Seja um campeão olímpico que nem Magnano ou um bicampeão do NBB, como José Neto, a quem caberia o comando da seleção pan-americana caso o argentino precise concentrar esforços na equipe da Copa América, o torneio que classifica as equipes do continente para as Olimpíadas. Ambos os técnicos trabalham juntos há anos, e, numa eventual divisão de esforços, supõe-se que não haverá problema de choque de gestão. Mas, claro, não é um cenário ideal.

Escritório de Carlos Nunes ainda aguarda o fax da Fiba

Escritório de Carlos Nunes ainda aguarda o fax da Fiba

Há dois meses, assistindo a embate entre Flamengo e Mogi, numa de suas raras aparições públicas durante a temporada 2014-15, o treinador principal da CBB  julgou que havia “muita possibilidade” de que não iria para o Pan.  O torneio de basquete dos Jogos de Toronto vai ser disputado entre os dias 21 e 25 de julho. Já a Copa América vai ser realizada no México a partir de 31 de agosto. “As datas de preparação batem e não posso me descuidar. O foco está na classificação para os Jogos Olímpicos”, afirmou.

Caçulas da NBA estão fora
Outro conflito de agenda ligado à metrópole canadense resultou na exclusão de dois nomes da lista pan-americana: Bruno Caboclo e Lucas Bebê. No caso, a restrição é da parte do Raptors, a única franquia canadense da NBA, que solicita a presença do ala e do pivô no time que vai disputar a Liga de Verão de Las Vegas de 10 a 20 de julho. Os dois estavam nos planos para esse time mais jovem, mas nem foram convocados. Ao menos este foi um avanço, para se evitar o desgaste de uma convocação que certamente resultaria num pedido de dispensa.

“Quero agradecer ao Magnano por ter sido compreensivo e continuar acreditando em mim. É uma decisão difícil, deixar de disputar um campeonato como o Pan, especialmente na cidade em que eu moro atualmente, mas é um investimento que estou fazendo na minha carreira, preciso me dedicar ao Toronto nesse verão”, disse Bebê, em comunicado. “Ele entendeu meus motivos e agradeço. Deixei claro que pode contar comigo, mas que esse era um momento de mostrar meu basquete e buscar meu lugar no Raptors para a próxima temporada. Quero que o meu futuro seja na Seleção Brasileira, ter a minha história com a camisa do Brasil, e vou fazer o meu máximo para que isso aconteça”, completou Caboclo, no mesmo despacho.

Temporada teve mais atividades extraquadra do que em jogos oficiais

Temporada teve mais atividades extraquadra do que em jogos oficiais

Aqui vale uma observação: o Raptors investiu muito para contratar os brasileiros, e a liga de verão é encarada pela diretoria como um evento importantíssimo para o estabelecimento de ambos os jogadores, que tiveram pouquíssimo tempo de jogo em uma temporada cheia de percalços na liga americana. Ambos precisam mostrar serviço, ainda mais depois do frustrante desempenho que o time teve nos últimos meses, até ser varrido pelo Washington Wizards nos playoffs. Mais: se os dois mal jogaram durante o ano, não dá para dizer que mereciam um lugar automático na seleção. Devido ao potencial, poderiam ser chamados, mas o  justo era que lutassem por uma vaga durante o período de treinos.

Os caras do Pan
Até porque a lista divulgada sob a capitania por Magnano é forte, com alguns nomes jovens, mas já de boa rodagem internacional. O destaque da convocação fica por conta do pivô Augusto Lima, um dos atletas que mais se valorizou na temporada europeia, arrebentando pelo Murcia, da Liga ACB. Raulzinho, seu companheiro de clube, e Rafa Luz, também muito elogiado pelo campeonato que fez pelo Obradoiro, são os demais estrangeiros. De resto, nove caras do NBB, divididos entre os finalistas Bauru (três) e Flamengo (dois), além de Franca, Limeira, Mogi e Pinheiros, com um cada. São eles: Ricardo Fischer, Larry Taylor, Vitor Benite, Leo Meindl, Marcus Toledo, Olivinha, Rafael Mineiro, Rafael Hettsheimeir e Gerson do Espírito Santo.

Rafael, Augusto e Raul: boa temporada na Espanha e entrosamento

Rafael, Augusto e Raul: boa temporada na Espanha e entrosamento

Oito desses atletas disputaram o Sul-Americano de 2014, em Isla Margarita, na Venezuela: os três ‘espanhóis’, Benite, Meindl, Olivinha, Mineiro e Hettsheimeir – ficaram fora Gegê, Arthur, Jefferson William e Cristiano Felício. O que supõe uma continuidade de trabalho. Sob a orientação de José Neto, terminaram u com a medalha de bronze, derrotados pela Argentina na primeira fase e pelos anfitriões na semifinal. Foram partidas equilibradas e inconsistentes de um time com potencial para ser campeão. Fischer estava na lista preliminar, mas foi cortado por lesão. Gerson, uma das boas novidades do NBB, é estreante de tudo. Marcus retorna a uma lista oficial pela primeira vez desde a era Moncho, se não falha a memória. Embora, no meu entender, não tenha feito um grande NBB, Larry aparece como uma espécie de homem de confiança da seleção, tendo participado de todas as principais competições desde 2012.

É um grupo com muito talento, de qualquer forma, com jogadores versáteis e um bom equilíbrio entre velocidade, força física e capacidade atlética. “Formamos um grupo de trabalho que mescla jogadores experientes e jovens que vão atuar pela primeira vez na seleção adulta. O importante é que temos um bom tempo de preparação. Posso garantir que é uma equipe bastante sólida e alguns atletas poderão ser convocados para a Copa América”, disse Magnano, que começará a trabalhar com os atletas no dia 14 de junho, em São Paulo, tanto no Paulistano como no Sírio. Resta saber apenas se ele vai estar no Canadá, ou não. Era para ser uma reposta simples, mas, quando o assunto é a confederação nacional, isso tem se tornado cada vez mais raro.

Boi na linha
Se Magnano não compareceu ao fim de semana do Jogo das Estrelas do NBB, em Franca, em março, o presidente da CBB, Carlos Nunes, ao menos esteve por lá. Em entrevista à repórter Karla Torralba, o dirigente já havia descartado a presença do argentino no Pan. Bom, parece que ele se antecipou um tanto, né? Na ocasião, afirmara que um problema relacionado à mudança do treinador para o Rio de Janeiro seria uma barreira para tanto. Não fazia o menor sentido a declaração. Agora, como vemos, a questão era mais complicada. No mesmo texto, para constar, tivemos mais esta frase aqui: “Vamos ter todos os melhores jogadores. Ainda temos que conversar a liberação dos atletas da NBA, mas a intenção é mandar todos”. Também não foi bem isso o que aconteceu. Havia uma preocupação política: agradar ao COB, lutando por medalha no Pan, para fortalecer o currículo desportivo brasileiro às vésperas de uma Olimpíada em casa. Ainda não sabemos qual o nível das equipes que vai para o torneio. O Canadá promete ser forte – Andrew Wiggins e Kelly Olynyk já sinalizaram que vão participar. Os Estados Unidos, por outro lado, vão com um time alternativo. Mark Few, técnico de Gonzaga, deve mesclar universitários e profissionais, mas não gente da NBA. Talvez atletas da D-League ou do mercado europeu.


Com resultados e rusgas, Paco García e Mogi ameçam Bauru
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Giancarlo Giampietro

Só sorrisos no media day. Humor azedou em duas partidas

Só sorrisos no media day

Na cerimônia de lançamento do NBB 7 no clube Paulistano, o clima era de empolgação geral. Numa reunião com tantas personalidades e reencontros, era difícil que se escapasse, mesmo, do otimismo. Afinal, era um campeonato que estava para começar. Apenas o princípio de temporada, com planos e visões para serem testados. No caso de Paco García e seu Mogi, o sorriso era dos mais animados

Afinal, o espanhol estava no comando de um clube que foi uma das grandes surpresas da temporada passada, fazendo seu melhor campeonato nacional no formato recente, ao avançar nos mata-matas para desafiar o poderoso Flamengo nas semifinais. Sua maior conquista foi ter trazido de volta aos ginásios o torcedor da cidade. “O grande objetivo de todos nós é assentar as coisas boas que fizemos e conseguimos no ano passado. Sempre falo que não é tão difícil de chegar, mas, sim, de se manter nesse nível. Isso se faz assentando toda a nossa administração, a evolução que conseguimos como clube. A partir daí, é melhorar. E não melhorar apenas a classificação, mas também a estrutura em quadra”, afirmou ao VinteUm, na ocasião.

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Apenas duas semanas depois, porém, o treinador se via numa situação delicada,  tendo de contornar a insatisfação de parte seu elenco, um descontentamento que veio a público, às portas de um quadrangular duríssimo pela Liga Sul-Americana. Quer dizer: contornar não faz muito o estilo do espanhol. Ele prefere bater de frente, ir direto ao ponto, doa a quem doer. Um estilo que vem empurrando o clube na direção certa desde que assumiu o cargo em outubro de 2012, mesmo que tenha pisado em muitos calos e irritado muita gente no caminho. Enquanto ele ainda é o chefe, todavia, o Mogi vai acumulando resultados expressivos, com direito agora a uma impressionante vitória sobre o Bauru, fora de casa, para roubar o mando de quadra dos favoritos ao título do NBB, pela fase semifinal.

Mais sorrisos após a primeira vitória sobre Bauru, após 6 derrotas no duelo

Mais sorrisos após a primeira vitória sobre Bauru, após 6 derrotas no duelo

Trocas necessárias
O Mogi foi a grande surpresa do NBB 6, ao se colocar no grupo dos quatro melhores do campeonato, eliminando Pinheiros e Limeira em sequência, depois de terminar a classificação geral apenas em 12º. Uma arrancada que fez a diferença para o fortalecimento do projeto. O público abraçou a causa, e o investimento recebeu um bom aumento para o atual campeonato, com um patrocínio sólido. Com dinheiro, Paco promoveu uma reformulação no elenco. Saíram jogadores de extenso tempo de quadra nos playoffs, como os alas Marcus Toledo, Ted Simões, Jeff Agba e Sidão, mas chegaram outros nomes “importantes”, como o espanhol gosta de dizer.

Entre os reforços, os destaques foram o ala Shamell e o pivô Paulão, de fato atletas mais renomados no cenário brasileiro, se comparados com os atletas que colocaram a equipe na quarta posição geral do NBB. Mas o técnico também mostrava entusiasmo com o jovem pivô Gerson do Espírito Santo, de 23 anos, e do ala Tyrone Curmell, ex-Palmeiras – duas apostas que se provaram certeiras. Na sua concepção, o time saía mais forte dessa troca, para se mostrar competitivo em outro patamar. Desde que, claro, aceitando os preceitos estabelecidos. “Acho que melhoramos já em termos de qualidade individual, com contratações de jogadores que já mostraram na liga sua importância, mas sabem que têm de trabalhar não somente para eles, mas também para toda a equipe”, afirmou. “A verdade é que o padrão do time tem de vir com uma mesma ideia: que a equipe fique acima de qualquer individualidade. Chegaram muitos atletas novos, e eles têm de aceitar nossa filosofia.”

Veterano Shamell: aposta de melhor individualidade dentro de um coletivo?

Veterano Shamell: aposta de melhor individualidade dentro de um coletivo

Independentemente do nome dos jogadores, uma coisa não muda no trabalho de Mogi em quadra: é o treinador quem vai dar as cartas, com uma abordagem detalhista, incisiva, bastante exigente no dia a dia de treinos. Nos bastidores, fontes distintas indicaram ao blog um desgaste na relação entre o comandante e alguns de seus atletas mais experientes influenciou na troca de jogadores para esta temporada, independentemente do aumento do orçamento. Alguns atletas simplesmente não queriam pensar em renovação. As cobranças são incisivas, incessantes e podem incomodar (ou assustar) os atletas que não estejam tão acostumados com esse comportamento.

“No começo, foi um pouquinho difícil”, admite Shamell, durante o final de semana do Jogos das Estrelas em Franca, ao VinteUm. “Ele é uma pessoa que leva o trabalho bem a sério. E tem um tipo de cobrança diferente. Quando cheguei,  eu não o conhecia, ele não me conhecia. Mas agora está tranquilo, a comunicação sai natural, e esse tem de ser o principal ponto, como em qualquer empresa. Entendo o que ele espera de mim para ajudar a equipe.  Você toma bronca e, depois, conversa o que tiver de conversar.”

Já com dez anos de residência no Brasil, divididos em duas passagens, Shamell é uma fonte muito interessante para abordar um tema que me intriga e que vai muito além das quatro linhas. A tese: o brasileiro não está tão acostumado assim a lidar com críticas, observações diretas, preferindo mais um rodeio, comentários que primeiro tateiam, para depois se expor o objetivo da conversa. Longe demais? Ou isso teria a ver com o desconforto que o estilo do treinador espanhol pode causar? “A reação inicial do brasileiro é de achar que o cara está te atacando, faltando com o respeito (quando se faz a crítica”, diz o americano. “É normal também. Há coisas que deixa você mal, bravo. Mas tem técnico que é assim, faz o que acha, e ponto. Há jogadores que aceitam, outros que não.”

Segundo Alemão, o clima é ruim só do lado do técnico

Mogi comemora lá no início da temporada, ainda com Alemão no elenco

Mas e o que pensa o jogador nacional a respeito? “Não sei se o brasileiro não está acostumado. Acho que poderia ser mais natural receber uma cobrança. Tem hora que você fica louco e pode extravasar, não tem problema, sem perder a educação. No nervosismo do jogo, é normal esse embate. O jogador talvez tenha de achar isso mais natural e, não, ficar tão incomodado”, diz o armador Gustavinho ao VinteUm, em conversa antes do início dos playoffs.

Gustavo é um dos remanescentes da campanha do ano passado e alguém que fala abertamente sobre a influência positiva do treinador em sua carreira e na equipe como um tudo. “Meu jogo melhorou muito com ele, principalmente na defesa. Tenho ajudado muito mais, estou mais bem colocado. Acabo me identificando com ele, por pregar esse início do jogo pela defesa”, explica.”Ele é um cara durão, uma filosofia do basquete europeu, onde se tem de respeitar as regras. Isso pode acabar incomodando outras pessoas. Tem de se adaptar a isso. Ao meu ver, é o diferencial, foi o que levou nossa equipe longe no ano passado. “

A crise
A temporada do Mogi, até aqui, pode ser considerada um sucesso. No Campeonato Paulista, sofrendo com algumas lesões e desentrosamento natural, o time caiu nas quartas de final, contra o Paulistano. Na próxima competição, veio um vice-campeonato inédito de Liga Sul-Americana, com derrota para o poderoso Bauru, e 21 vitórias pela temporada regular do NBB – sete a mais do que na sexta edição, com um aproveitamento muito superior, subindo de 43,7% para 70%, com o triunfos consecutivos. Nos mata-matas, depois de penarem contra Macaé, agora reencontram os bauruenses prontos para uma revanche, jogando de igual para a igual. Venceram o primeiro jogo fora (81 a 73) e tiveram o placar favorável no segundo até que Ricardo Fischer converteu um arremesso de longa distância a três segundos do fim (84 a 81).

O time apresentou um plano de jogo que deu certo. Desacelerou o ritmo da partida, para diminuir o volume do adversário, gastando o relógio com trocas de passe pacientes, acreditando no poder de definição de suas peças, com Shamell especificamente em uma jornada inspirada, anotando 16 de seus 27 pontos no quarto. As posses de bola bem trabalhadas também geraram maior equilíbrio defensivo, contendo, no Jogo 1, a artilharia perimetral do cabeça-de-chave número um. “Ele é muito detalhista”, diz Gustavinho. “Exige padrão defensivo, posicionamento. No ataque, um basquete mais solidário, com pelo menos três passes. Se não sai ninguém livre, aí é a hora de buscar uma definição em algum lance individual como do Shamell ou do Filipin.”

Ginásio Hugo Ramos cheio, um ganho para Mogi

Ginásio Hugo Ramos cheio, um ganho para Mogi

Essa visão de jogo se concretizou nas duas primeiras partidas da semi, mas não dá para dizer que tenha sido irrevogável durante toda a jornada. Especialmente no início do NBB. Após uma vitória sobre Uberlândia e uma derrota contra o Minas, a equipe foi cheia de dúvidas para as quartas de final da Liga Sul-Americana, envolvendo Bauru, Brasília e o Comunikt, do Equador, jogando como anfitriã. García havia jogado lenha na fogueira com críticas pesadas ao elenco, em público – um tipo de atitude também bastante citada para justificar o descontentamento de atletas com o treinador, que seriam eles que perdiam, enquanto todos ganhavam.

Na primeira rodada, sua equipe venceu o Uberlândia por 90 a 80. Se o placar parece bom, esqueça. Os anfitriões chegaram a abrir 20 pontos no terceiro quarto, relaxaram e acabaram permitindo que os mineiros fizessem 35 pontos na parcial final. O que despertou a ira do técnico. Disse que era inadmissível. “Fico preocupado por que parece faltar ambição. Se você está ganhando por 20 pontos, tem de buscar ganhar por 30, e não relaxar. Não quero um time medíocre, quero um time com ambição”, disse ainda no ginásio, aos repórteres do Globo Esporte.com, da região de Mogi e Suzano. Era apenas a estreia. Na segunda rodada, para piorar, derrota por 61 a 60 para o Minas, novamente em casa. “Se não aceitam jogar como equipe e fazer sacrifício em quadra, fica difícil. O basquete não é um jogo de nomes, é um jogo de homens. O time não jogou nada. Eu passei vergonha pelo jogo que fez meu time”, disparou. Ficou tenso o negócio.

Alemão abriu fogo contra seu técnico

Alemão abriu fogo contra o técnico

O pivô Daniel Alemão, que também havia sido peça valiosa durante o NBB 6, não aguentou. “O clima não está nada agradável por parte dele (o técnico) e das coisas que faz. Infelizmente ele tem esse jeito e somos ainda obrigados a acatar essa ideia. A gente está focado em trabalhar e melhorar a nossa parte, a parte dos jogadores, para tentar resolver entre a gente dentro da quadra. Somos nós que jogamos, então somos nós que ganhamos e perdemos”, disse à TV Diário.

Bem, o veterano não teve pudor algum, né? Bota “infelizmente” nisso. Do seu lado, Paulão procurou contemporizar. “Entre os jogadores, o clima é o melhor possível. O técnico tem a forma de trabalhar, e como jogador a gente tem que pelo menos entender o que ele está pedindo. Temos que jogar e fazer o que ele pedir, já que ele é o comandante do time”, diss à TV Diário.

Contra-ataque
Ao tomar nota das declarações do pivô, Paco não fez questão alguma de botar panos quentes no assunto e só fez a previsão do tempo piorar. “O clima não está muito bom porque o técnico fala quando as derrotas vêm. Eu falo claramente, e gostaria que todo mundo ao meu redor falasse claro também. Não acredito que um atleta possa não ter 100% de vontade e 100% de intensidade. Sei como eu estou, mas não sei como estão os atletas, pois isso é uma coisa de cada um.”

Durante a crise, o espanhol usou seu blog para prosseguir no ataque. Disse que não sabia mais o que esperar de sua equipe em quadra, tendo a exibição contra o Minas em mente. “Falta de intensidade, defesa nula (apesar do placar reduzido, não nos equivoquemos), muito lentos no ataque, caminhando sobre o piso e, além disso, entregando a partida quando a tínhamos em mãos, com quatro pontos acima e quatro lances livres errados, bola perdida e duas faltas tão absurdas como desnecessárias, tudo em apenas 40 segundos”, escreveu. “A atitude de alguns jogadores me preocupa, e muito. As desculpas e mais desculpas apontando sempre o mesmo: o treinador. Quase ninguém reconhece seus próprios erros, e assim é difícil progredir.”

No final, o time conseguiu se classificar para a semifinal, eliminando o Brasília. Ufa. De volta ao NBB, enfrentou um período de instabilidade, com seis vitórias e quatro derrotas nos próximos dez jogos. Em 2015, embalou, sofrendo apenas mais três derrotas até os playoffs. Alemão foi dispensado no início de dezembro.  “Foi um desgaste das duas partes, uma pena, mas a relação estava muito desgastado. O Alemão um grande jogador e faz falta até hoje”, afirma Gustavinho.

Diário de bordo
Paco trabalhou no basquete espanhol por mais de dez anos como assistente de técnicos renomados, entre eles o falecido Manel Comás, apelidado de Xerife, um dos técnicos mais vitoriosos da Liga ACB – e que chegou a ser cotado como técnico da seleção brasileira em 2007, antes do acerto com Moncho Monsalve. Em 1995-96, começou a carreira como treinador principal, nas divisões menores espanhola. Em 1998, pelo Breogán, conseguiu aquele que talvez seja seu maior feito: subir à primeira divisão com o título da hoje LEB Oro, um campeonato muito difícil. Trabalhou também com o Valladolid e o Lleida na elite. Em 2011, deixou o país para dirigir a seleção da República Centro-Africana.

Um dos trechos cândidos e ácidos do blog de Paco, sobre sua demissão cogitada (25/01)

Um dos muitos trechos cândidos e ácidos do blog de Paco, sobre sua demissão cogitada. “Não sei o tempo que me resta em Mogi…” Texto publicado em 25/01. Algo raro de ver/ler por estas bandas desde o afastamento de Paulo Murilo

Foi a serviço do país africano, que não tem muita tradição no mundo Fiba, mas revela bons jogadores como o ala Romain Sato, que o espanhol começou a abastecer seu blog. “Era uma boa forma de manter o contato com os amigos e com a família. De contar o que estava fazendo, o que estava acontecendo.  Quando retornei da África, parei. E foi muita gente me ligando, me mandando mensagens dizendo: ‘Cara, tem de continuar’. Quando cheguei ao Brasil em 2012, esse interesse me motivou a retomá-lo. Falamos de tudo um pouco”, diz.

De tudo mesmo: só em 2015 já são 43 posts publicados, com análises de partidas, elogios e críticas a adversários, protestos contra a liga e lembrando sempre todos os percalços que a equipe enfrentou durante a temporada, em especial suas lesões. Foi para os playoffs num astral bem melhor que o de novembro, quando encerrou aquele mesmo post de ataque e defesa contra críticos sem pisar no freio,  para ficar numa metáfora que dialoga com seu texto: “É uma fase exigente, como eu quero ser.  É evidente que, como já escrevi em mais ocasiões, às vezes tenho a sensação de caminhar em uma velocidade distinta de meus jogadores e do meu próprio clube”, afirmou. “O que conseguimos na temporada passada não pode ser repetido com boas palavras, mas apenas com exigência, trabalho e feitos. É nisso que estamos. Até que possa, até que me deixem.”

Esse tempo difícil ficou para trás, mas, como diz Gustavinho, não significa que tudo tenha ficado tranquilo desde então. Esse é um termo que não faz parte da linha de conduta do treinador. “Mas não foi depois disso que as coisas normalizaram. Continuam (assim). Eu já briguei várias vezes com ele e brigo até hoje. Mas a gente se respeita. O Paco gosta de falar que aperta o treinamento, que não deixa ganhar duas, três seguidas e se acomodar. Está sempre cobrando, querendo sempre mais, querendo melhorar, o que às vezes pode até deixar todo mundo nervoso, achando que não é possível. Mas é o jeito dele, e você percebe que o time se acostuma”, afirma o jogador. “Com a vitória.”

 


Vitória sobre Mogi: mais uma prova de como será duro derrubar o Bauru
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Giancarlo Giampietro

Alex barbarizou contra o Mogi no segundo tempo e passou da marca de 4 mil pontos no NBB

Alex barbarizou contra o Mogi no segundo tempo e passou da marca de 4 mil pontos no NBB

Não tem como baixar a guarda: mesmo que um ou outro direto tenha passado em meio ao combate, quem estiver do outro lado vai precisar assimilar o golpe com rapidez. Vai ter de, literalmente, manter a cabeça no lugar, e a cuca pensando naquilo que mais importa em sua estratégia. Não dá para esquecer o que foi combinado na sala de vídeo.

Do contrário, se você decidir partir para o confronto franco, a troca de sopapos no muque, mesmo, a tendência é que o esquadrão do Bauru o leve a nocaute. Foi o que o Mogi das Cruzes percebeu nesta quarta-feira, no Panela de Pressão, na reta final da temporada regular do NBB. Por 24 minutos, o time de Paco García estava plenamente ciente do que fazer em quadra. Quando o cronômetro apontava 6min19s para o fim, os visitantes tinham vantagem de seis pontos (47 a 41). A partir daí, perderam as estribeiras, permitindo uma chuva de bolas de três pontos. Tentaram reagir na mesma moeda muitas vezes. E um jogo que se desenhava bastante equilibrado foi terminar com o placar de 97 a 75.

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Isto é: nos últimos 16 minutos de partida, deu 56 a 34 para os líderes do campeonato nacional, que alcançaram agora a marca de 24 triunfos consecutivos apenas pela competição – igualando recorde do Flamengo na campanha 2008-2009. Se você for por nessa conta as vitórias para a conquista da Liga das Américas, aí chegará a 32 rodadas de invencibilidade. Algo realmente especial, que faz a confiança subir a um nível estratosférico já.

Nesse embate com Mogi, o terceiro quarto terminaria em 65 a 54. Já uma vantagem considerável, mas não impossível de se tirar. O problema foi como aconteceu a virada bauruense. Daquela marca de 6min19s até o estouro da buzina, foram seis bolas de três convertidas pelo time da casa. Sabe quantas haviam caído nessa mesma parcial até então? Nenhuma.

Alex, com 46% nos chutes de 3? Pois é

Alex, com 46% nos chutes de 3? Pois é

Pior: quem foi o cara que fez o maior estrago nesse momento de reviravolta? O veterano Alex. O ala-armador que, convenhamos, nunca foi notório por seu aproveitamento nos tiros exteriores – a média de sua trajetória pelo NBB neste fundamento é de apenas 32,8%. Acontece que, num ataque bem espaçado como o da equipe paulista, com múltiplas armas ofensivas, o Brabo nunca teve tanta facilidade assim para arremessar, tendo, disparado, o melhor aproveitamento da carreira, com elevadíssimos 46,2%. Então, no scout de qualquer oponente, se faz necessária a observação de que ele precisa ser vigiado de perto. Nesta terça, acertou absurdos 7-10, igualando sua melhor marca individual.

No caso específico do Mogi, porém, não dá para espernear muito sobre uma desatenção defensiva em relação a Alex. Duas das quatro bolas que ele converteu nesse terceiro quarto foram de trás da linha da NBA, a partir do drible, com uma confiança desmedida. Os chutes caíram que nem uma bomba psicológica para cima dos forasteiros, que errariam três arremessos de longa distância e nove de quadra no geral, além de cometer um turnover. As coisas descambaram.

No quarto período, foi a vez de Rafael Hettsheimeir queimar a redinha com as conversões do perímetro. E aqui, sim, o sistema defensivo adversário falhou bastante. O pivô é outro que está embalado no fundamento e acabou tendo muita liberdade para chutar de longe – seja com Paulão em quadra (conforme o esperado, neste caso), ou com uma dupla mais ágil como Gerson e Tyrone. Estava tão tranquilo lá fora que chegou a arriscar impensáveis 14 bolas, matando seis delas.

Quer dizer, juntos, os companheiros de seleção garantiram ao Bauru 39 pontos na linha perimetral. Baixou o santo para a dupla, é verdade. Não será todo dia assim. Mas aí Guerrinha pode dizer que, no seu time, sempre vai ter um podendo desembestar, na mais pura verdade. No total, foram 31 pontos para Alex e 28 para Rafael.

Agora: este foi o terceiro duelo entre os dois clubes na temporada, contando aí também a final da Liga Sul-Americana. Coincidentemente, nas três partidas Bauru tentou 38 bolas de fora. Um volume exagerado, mas que também não enfrentou resistência dos oponentes, tendo convertido 50 no geral, com um rendimento de mais de 16 por partida e 43,8%. Então já estamos falando mais de acaso. Se voltarem a se cruzar no mata-mata do NBB, Garcia vai ter de rever sua cobertura e/ou fixá-la na cabeça de seus atletas. Foi mais uma sacolada daquelas.

Potencial para o Mogi não falta, pensando numa eventual semifinal contra um rival que já garantiu a condição de cabeça-de-chave número nos mata-matas. O espanhol tem ao seu dispor um elenco que, em teoria, pode funcionar tão bem num jogo acelerado, com uma formação mais atlética e dinâmica – explorando  Tyrone ao lado de Gerson, mantendo o vigor físico ainda assim –, como num ritmo mais cadenciado, compondo uma linha de frente pesada, talvez com Tyrone, Gerson e Paulão juntos. Essa versatilidade pode ser mais explorada nos playoffs, no jogo de gato-e-rato, ainda que não tenha surtido efeito nesses primeiros três embates. Também não será todo dia que Shamell vai ficar limitado a 9 pontos, com 4/12 nos arremessos. Guilherme Filipin, com 23 pontos em 21 minutos, foi quem assumiu o papel de cestinha. Foi o único a pontuar em dois dígitos, o que é muito pouco, mas não necessariamente algo essencial para se remediar.

Pois não será num tiroteio, num jogo de ataques livres, que a equipe conseguiria fazer frente ao Bauru. Essa é uma mensagem, aliás, que fica mais e mais clara para os concorrentes a meros dias do início dos mata-matas. Ainda mais numa série melhor-de-três: invariavelmente, você vai ficar grogue após ataques fulminantes bauruenses. Vai acontecer, não tem muito jeito. Resta saber apenas qual o seu nível de resistência.


Gerson, a novidade intensa do Mogi no NBB 7
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Giancarlo Giampietro

Gerson, Mogi das Cruzes

As cravadas que se tornaram rotina. Mas tem muito mais no jogo do pivô

Sabe aquela do coisa faça o que eu digo, só não faça o que eu faço, né? Pois bem. Para qualquer atleta é fácil olhar para o jornalista, para o técnico, ou para o torcedor, antes ou depois de um jogo, e falar sobre a importância da de jogar duro numa quadra de basquete, pregar o jogo com energia máxima como o caminho viável para as vitórias.

Em sua primeira temporada como profissional no basquete brasileiro após se formar em quadras universitárias norte-americanas, o pivô Gerson do Espírito Santo bateu muito nessa tecla: da “intensidade” de como defende o Mogi das Cruzes a cada rodada. Mas, se esse termo corre o risco de ficar banalizado em meio a tanta gente que o emprega, o discurso do jovem de 23 anos talvez não faça justiça ao que tem feito pela equipe paulista, terceira colocada no NBB 7, para se tornar uma das revelações da temporada.

“O Gersão é um monstro. É um cara que dá a vida pelo time, no rebote ofensivo, na ajuda em bloqueio, na execução do bloqueio, que são coisas que as vezes podem passar desapercebidas. Esse trabalho sujo que ele faz, essa entrega dele não tem preço”, afirma o armador Gustavinho ao VinteUm. “Ele é um cara que chega a ser até bitolado no basquete. Treina mais que todo mundo, ama jogar, mesmo.”

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Quando você vê o jogador descendo a quadra, não tem como desviar a atenção. Trata-se de um pivô de 2,05 m de altura com agilidade e explosão física fora do comum para alguém de sua estatura. Vai ser difícil encontrar um grandalhão tão atlético por estas bandas: um baita achado no mercado para o Mogi, uma das melhores contratações, em termos de custo-benefício da sétima edição do campeonato nacional. Para quem já estava familiarizado com o estilo do pivô, todavia, não chega a ser uma surpresa.

“Já havia jogado com ele aqui no Pinheiros, quando ele era mais novo, de categoria de base. Ele já tinha essa raça quando treinava com a gente no adulto. Sempre botou disposição para caramba, e os técnicos acreditavam nele, vislumbraram o potencial”, disse Gustavinho, olhando para trás, em 2009, antes de o pivô ir para os Estados Unidos.

A vibração de Gerson se encaixou perfeitamente em Mogi

A vibração de Gerson se encaixou perfeitamente em Mogi

Na estrada
Foi com a mesma velocidade que tem em quadra que Gérson despontou no basquete brasileiro e saiu de cena, deixando as categorias de base do Pinheiros para tentar uma rota seguida por muitos brasileiros: entrar em um Junior College dos Estados Unidos para, depois, tentar voos mais altos. O fato de Rafael “Baby” Araújo e João Paulo Batista terem conseguido não quer dizer que seja algo fácil: sem dominar a língua, você se embrenha em pequenas cidades e vai se virar como pode. Por outro lado, o atleta já estava habituado a viver longe de casa.

O pivô começou a jogar quando garoto em sua cidade natal de Valença, no Rio. Não era federado, porém, disputando apenas competições no interior do estado. O próximo passo, então, foi se transferir para o América de Três Rios e, aí, sim, se registrar como jogador de basquete. Não demorou muito para que pegasse uma seleção fluminense e, num Campeonato Brasileiro em Santa Catarina, ganhasse os olhares de Zé Luiz Marcondes, da base do Pinheiros. Nem chegou a se apresentar direito pelo clube adulto quando se mandou para os Estados Unidos em 2010.

O que pesava mais nessa decisão? A vontade de estudar ou de se formar como jogador de basquete? “Eu fui para jogar, mesmo, e aproveitei para poder me formar (em artes liberais, pela Colorado State). Mas meu principal objetivo era tentar aprender o máximo sobre o jogo de basquete, sim. Foi o que me levou para lá”, diz Gerson ao VinteUm.

Em Colorado State, experiência de ter disputado o torneio nacional da NCAA em 2013: venceram Missouri na primeira rodada e foram eliminados pela eventual campeã Louisville na segunda etapa; o time teve a segunda melhor campanha da Mountain West Conference, atrás de New Mexico, acima da UNLV e de San Diego State

Em Colorado State, experiência de ter disputado o torneio nacional da NCAA em 2013: venceram Missouri na primeira rodada e foram eliminados pela eventual campeã Louisville na segunda etapa; o time teve a segunda melhor campanha da Mountain West Conference, atrás de New Mexico, acima da UNLV e de San Diego State

O sonho, claro, era a grande liga americana. “Com certeza que, para qualquer jogador, quando você é novo, a NBA é uma meta. Eu queria saber até onde conseguiria ir com o meu jogo”, diz. Mas o caminho até lá certamente não seria fácil, dando largada no College de Southern Idaho. Considerando o amplo universo de atletas que começam suas carreiras universitárias nos chamados JuCos, escolas de transição, que ajudam no desenvolvimento de estudantes que não tenham as notas necessárias para saltar do high school para a faculdade. Sonny Weems, Qyntel Woods e o próprio Baby são alguns exemplos que me ocorrem agora, de gente que tiveram sucesso nessa escalada.

Gerson ao menos conseguiu se mudar para a região das Montanhas Rochosas, ao sair de Southern Idaho para a Universidade de Colorado State. Os Rams não são necessariamente o conjunto mais tradicional para formar jogadores profissionais, mas ultimamente têm tido mais sucesso nessa empreitada. O pivô Jason Smith, do New York Knicks, saiu de lá, assim como o armador Milt Palacio, ex-um-monte-de-time, e o pivô Colton Iverson, draftado em 2013 pelo Boston Celtics e hoje jogador do Baskonia, vulgo Laboral Kutxa, clube de Euroliga.

“Meu jogo melhorou muito, mas acho que minha cabeça foi o que fez o diferencial para poder chegar até aqui. Maturidade, crescendo, aprendendo mais fora de quadra, tendo a cabeça de ir lá e trabalhar todos os dias foi a melhor coisa para mim. Sempre treinei da melhor maneira possível para tentar conseguir esse meu objetivo (de NBA)”, diz. “Mas sabia que qualquer coisa era possível e, se não desse, poderia voltar ao Brasil.”

Em casa
Gerson começaria, então, sua jornada de profissional num campeonato com outra sigla de três letras, o NBB, embora não soubesse exatamente o que o aguardava. “Acompanhei muito pouco. Comecei a seguir mais quando cheguei ao meu último ano na universidade, pois sabia que provavelmente voltaria para cá”, afirma, com franqueza.

Por outro lado, o Mogi das Cruzes estava mais atento ao que o jogador vinha fazendo nos Estados Unidos. “É um jogador que no ano passado já estávamos seguindo, vendo toda a sua trajetória por lá”, diz o técnico Paco Garcia ao VinteUm. “Seus agentes buscavam um lugar em que ele não perdesse nada daquilo que havia aprendido nos Estados Unidos. A intensidade, a seriedade do trabalho, a disciplina. Aí acharam que Mogi era um bom lugar para que ele retornasse.”

A briga incessante pela bola

Vejam só: de novo a tal da “intensidade”.  Justamente aquilo que o pivô aprendeu nos Estados Unidos. “A intensidade do jogo, o jeito que se corre pela quadra, como as coisas são bem rápidas, a intensidade da defesa. A gente fala muito em quadra, tanto na defesa como no ataque. Isso é uma das características do jogo americano que tento trazer para o Brasil”, conta.

Desta forma, o trabalho com Paco Garcia não lhe parece estranho. O técnico já construiu uma reputação de exigente e detalhista ao extremo em suas cobranças, muitas vezes em rompantes que podem ferir o ego de jogadores. Aqui, não é o caso. “Olha, eu gosto muito, porque no universitário eu tinha um treinador (Larry Eustachy) que era tão exigente e detalhista quanto o Paco. Acho que isso até ajudou o meu jogo na hora de voltar ao Brasil. Se conseguisse mostrar meu trabalho e o tanto que tento entregar aquilo que me pedem para colocar em quadra, ia me destacar.”

O espanhol conferiu isso rapidamente. “Ele buscou seu espaço. No Paulista, já ganhou muitos minutos e passou a jogar também na Sul-Americana. Acho que ele pode ser um jogador importante no Brasil em muito pouco tempo. Ele salta muito, vai bem nos rebotes, tem muita intensidade para marcar. Tinha certeza de que seria um jogador valioso para nós”, afirma o treinador. “O Gerson sempre teve esse potencial”, destaca Gustavinho. A gente o chamava de mini Garnett. Agora ele está com muito mais base, mais força e mais atlético.”

Jogando de frente para a cesta: sua preferência no ataque

Jogando de frente para a cesta: sua preferência no ataque

Subindo
Esse tipo de postura somada a seus atributos físicos e atléticos o tornaram um sucesso imediato em Mogi, formado com o americano Tyrone Curnell uma dupla que aterroriza os adversários pelo fuzuê que podem armar em quadra. Foram duas contratações que, se não tão badaladas como as de Shamell e Paulão, acabaram se tornando tão ou mais fundamental para que o clube elevasse seu jogo. O time passou de grande surpresa dos mata-matas da sexta edição do NBB para candidato ao título, ocupando hoje a quarta posição na classificação geral, a uma vitória de se igualar ao atual bicampeão Flamengo. Nos últimos dez jogos, foram nove triunfos.

Na Liga Sul-Americana, mesmo que ainda buscasse melhor entrosamento e lidasse com algumas distrações no vestiário, a equipe conseguiu alcançar uma inédita decisão. Acabou levando uma surra de Bauru, é verdade. Mas estariam prontos, agora, para tentar dar o troco e desafiar o poderoso elenco de Guerrinha?

“Nosso time foi reunido há seis, sete meses. Vieram muitos jogadores novos. Só agora que a gente está conseguindo ter a melhor química, como gosto de falar. Está todo mundo unido, com o mesmo foco, independentemente de quem vai bem em um jogo ou outro, de quem vai chutar a última bola, de quem vai fazer o quê. Todo mundo sabe mais ou menos a sua função dentro da quadra. Todo mundo quer colocar seu companheiro para a frente, e acho que estamos na melhor fase por causa disso”, diz Gerson.

Esse ambiente foi muito benéfico e acolhedor para suas próprias características.  “Na posição dele, temos o Paulão, que foi o melhor pivô do NBB passado”, diz Gustavinho. “E o Gerson não se importa se vai jogar 15, 20 ou 30 minutos. Quando sai de quadra, vai sempre dar a mão para os caras, parabenizar. Ter um cara desses no time… Pelo amor de Deus, sem palavras. É a mesma alegria de sempre.”

O jovem atleta tem médias de 8,5 pontos e 7,0 rebotes em 23 minutos, com aproveitamento de 56,6% nos arremessos de quadra e mais que saudáveis 74,2% nos lances livres. É o quarto principal reboteiro do NBB, atrás de Shilton, do Minas Tênis, Caio Torres, do São José, e Steven Toyloy, do Palmeiras – todos jogadores muito mais experientes. Também aparece entre os 30 melhores da competição em índice de eficiência, sendo o terceiro mais jovem nesse grupo, depois de Léo Meindl, do Franca, e Ricardo Fischer, do Bauru.

Não causa espanto. Basta ver o modo como Gerson se movimenta em quadra e a voracidade com a qual ataca as tábuas defensiva e ofensiva, além de sua excelente técnica para finalizar as jogadas no pick and roll, cortando para a cesta. E tem isso: como Gustavinho já nos contou, a relevância deste fluminense em quadra vai muito além dos números. Um desempenho que, para mim, valeria uma convocação para o Jogo das Estrelas da competição, algo que não aconteceu.

Num ano em que a seleção tem duas competições para disputar – Copa América e Pan-Americano –, é de esperar que um certo argentino esteja tomando nota. “Olha, acabei de voltar ao Brasil e esse é meu primeiro ano de profissionOal. Penso em trabalhar forte, a cada dia melhorar meu jogo, aprender mais com os jogadores que tenho aqui no time, como o Shamell e o Paulão.  O que acontecer fora do que faço dentro do Mogi vai ser por mérito. Claro que seria bacana, mas tento não pensar na frente, e só pensar um dia de cada vez, trabalhando”, diz.

E trabalhando como?

“Tendo cada vez mais intensidade em quadra”, diz, naturalmente.


20 votos para o Jogo das Estrelas do NBB 2015
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Giancarlo Giampietro

Cabem quantos do Bauru no Jogo das Estrelas?

Cabem quantos do Bauru no Jogo das Estrelas?

A assessoria de comunicação da Liga Nacional de Basquete cometeu a loucura de me estender um convite para participar da votação para o Jogo das Estrelas do NBB7, que vai ser disputado entre os dias 6 e 7 de março, com sede ainda para ser anunciada.

Ao menos essa responsabilidade foi divida entre diversos companheiros de imprensa, assim como os técnicos – e seus assistentes –, capitães e (!) árbitros envolvidos com a competição, além de outras “personalidades” da modalidade. Cada um dos eleitores teve a chance de escolher dez nomes para o time brasileiro e outros dez para a equipe estrangeira. Você precisa dividir cada grupo entre titulares e reservas, e os votos dedicados aos titulares ganham peso maior.  Essa é uma novidade no processo que, creio, ajuda a diminuir a chance de injustiças.

Mas, prepare-se, elas podem acontecer. Veja a repercussão, na NBA, para a exclusão de um enfezado Damian Lillard, que não conseguiu nem mesmo a 13ª vaga e foi ao Instagram protestar, lembrando que havia sido ignorado por torcedores, técnicos e até pelo comissário Adam Silver. Ele merecia a vaga de Kevin Durant? Para mim, sim, levando em conta o fato de que o ala de OKC perdeu metade da temporada norte-americana.

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Esse tipo de polêmica certamente vai aparecer aqui neste espaço, agora que abro minhas 20 escolhas. Inevitável. Mas boa parte das discussões depende de quais critérios cada um vai adotar para escolher sua seleção. Pesa mais o sucesso da equipe ou o rendimento individual de cada atleta? Na dúvida, preferi a solução mais fácil: dosar um pouco de cada caminho. Privilegiei os destaques das melhores campanhas, mas também tentei abrir espaço para caras que estejam numa ótima temporada, ainda que seus clubes decepcionem. Só procurei pensar apenas no que acontece neste ano, e, não, ignorando o conjunto da obra – se o cara é o cestinha histórico do NBB, se é medalhista olímpico, se já passou pela NBA etc.

Mais: você vai segmentar, estratificar os jogadores por posição? Na planilha encaminhada pela LNB, era preciso escolher um armador, dois alas e dois pivôs. Esses conceitos são todos meio relativos, não? Pegue um time como Limeira, uma das gratas notícias do campeonato. Nezinho, Ronald Ramon e Deryk estão revezando constantemente, dividindo a quadra, escoltados pelo gatilho de David Jackson, do jeito que o Paulo Murilo pregou sempre em seu Basquete Brasil – e quando dirigiu o Saldanha da Gama. Tentei ir um pouco além da nomenclatura clássica.

Vamos aos votos do VinteUm, então, seguidos por breves explicações. Os quintetos titulares vão ser escolhidos pelos torcedores:

NBB – Brasil
Titulares
Nezinho (Limeira)
Alex Garcia (Bauru)
Marquinhos (Flamengo)
Jefferson William (Bauru)
Rafael Hettsheimeir

Reservas
Coelho (Minas)
Leo Meindl (Franca)
Giovannoni (Brasília)
Gerson (Mogi das Cruzes)
Caio Torres (reservas)

Jefferson merece o posto de titular: influência tática e técnica

Jefferson merece o posto de titular: influência tática e técnica

O desafio aqui foi evitar de escalar todo o elenco do Bauru, né? Tendo apenas 10 vagas em cada seleção, achei o mais correta a distribuição entre mais clubes, impondo um limite de três atletas para cada agremiação. E aí Ricardo Fischer acabou sendo sacrificado, em detrimento de seus companheiros bauruenses escalados entre os titulares (Alex segue influenciando o jogo dos dois lados da quadra, resistindo ao tempo, Jefferson William é fundamental no sistema de Guerrinha por sua mobilidade e poder de execução, além de um bem-vindo nível de atividade na briga por rebotes e na defesa, e Rafael Hettsheimeir, ainda que deveras enamorado pelo chute de fora, vem sendo bastante produtivo em seu retorno ao país). Nezinho assume a vaga de Fischer, sendo um dos líderes do Limeira, pontuando com muito mais eficiência do que na temporada passada, ainda que frequente menos a linha de lance livre. Para completar, Marquinhos, que ainda não recuperou o ritmo de seu sensacional NBB5, mas tem números que igualam ou superam sua última campanha, em menos minutos, e ainda é um pesadelo para qualquer defesa nacional conter. O Flamengo também não tem sido o mesmo, mas, da mesma forma, continua sendo um time de respeito

Marquinhos: os números não são os do auge, mas a ameaça é a mesma

Marquinhos: os números não são os do auge, mas a ameaça é a mesma

No banco, o jovem Coelho merece reconhecimento: ganhou autonomia em Belo Horizonte e respondeu muito bem, obrigado. Em termos de produção, é o jogador mais eficiente de sua posição entre os brasileiros, com 14,59 por jogo, mais que o dobro de sua carreira – e o mais interessante pode melhorar muito ainda como um armador forte, veloz e agressivo. Confesso: foi uma dúvida brutal optar entre ele e Nezinho na vaga de titular, mas pesou a maior propensão ao passe e o recorde da equipe do veterano. Leo Meindl vem numa curva ascendente em sua carreira, ajudando o Franca a se manter entre os seis primeiros, a despeito dos problemas financeiros. Talvez não no ritmo esperado, mas está subindo enquanto se distancia de uma complicada lesão no joelho. Seu arremesso de três pontos o abandonou nesse campeonato, e talvez fosse mais interessante que ele usasse sua habilidade no drible e o jogo de média distância para buscar a cesta. Giovannoni faz uma temporada que o colocaria na discussão para MVP, mas o fato de o Brasília ser a grande decepção da temporada impede que isso aconteça.  Foi cruel deixar Lucas Cipolini fora, mas não havia como eleger dois atletas do time candango, a despeito de seu ótimo rendimento estatístico. No garrafão, temos então o jovem e hiperatlético Gérson, que faz Mogi crescer cada vez que vai para quadra com seu energia e dedicação extrema, e Caio Torres, em boa forma, vai fazendo a melhor temporada de sua carreira nos rebotes e como referência interior do time que menos arremessa de três no campeonato. Entre ele e Rafael, a dúvida também é grande. Seus números são superiores, mas o bauruense divide a bola com mais gente. A campanha abaixo de 50% do São José também não ajuda.

NBB – Mundo
Titulares
Jamaal Smith (Macaé)
David Jackson (Limeira)
Marcos Mata (Franca)
Tyrone Curnell (Mogi das Cruzes)
Jerome Meyinsse (Flamengo)

Reservas
Kenny Dawkins (Paulistano)
Ronald Ramón (Limeira)
Jimmy Baxter (São José)
Shamell (Mogi das Cruzes)
Steven Toyloy (Palmeiras)

Jamaal, decisivo nas poucas vitórias do Macaé

Jamaal, decisivo nas poucas vitórias do Macaé

A posição de armador estrangeiro, gente, é a mais concorrida de todo o campeonato. Não encontrei lugar aqui para Caleb Brown, limitado a apenas oito jogos em Uberlândia devido a dores lombares), para o jogo clássico do baixinho Maxi Stanic, do Palmeiras, e nem para Nícolas Laprovíttola, que anda muito inconstante. David Jackson, creio, é uma unanimidade como um arremessador letal de todos os cantos da quadra. Já Mata e Tyrone servem como influência mais que positiva para os jovens companheiros devido ao tino para cuidar de pequenas coisas e a conduta exemplar em quadra. Curiosamente, de tanto fundamento que tem, o argentino vira uma arma ofensiva em quadras brasileiras, assim como aconteceu com seu compatriota Frederico Kammerichs. Curnell pode não ser o jogaodor mais refinado, mas seu vigor físico e seu empenho contagiam. Quando faz dupla com Gérson, é melhor sair da frente – uma dupla que representa bem a identidade vibrante do Mogi. Meyinsse é hoje o pivô mais completo em atividade no país, dosando força física e agilidade acima da média.

Toyloy, uma fortaleza difícil de se combater no garrafão

Toyloy, uma fortaleza difícil de se combater no garrafão

Ramón ganha uma vaga pela consistência que dá ao trio de armadores de Limeira, clube cujo rendimento pede também três indicados. Seus números caíram em quantidade, mas subiram em qualidade, ocupando uma vaga que, em nome e números poderia ser do jovem Desmond Holloway. O Paulistano, porém, insere o explosivo Dawkins no quinteto reserva, mesmo que não repita a química obtida no campeonato passado. Baxter tem números inferiores aos de Robbie Collum (em menos minutos também), uma figura importante para o Minas, mas se sobressai pela postura defensiva. Shamell tem passado bem menos a bola, mas ainda se sustenta como um cestinha decisivo nas quadras brasileiras, enquanto Steven Toyloy voltou a ser uma rocha no garrafão depois de um ano em que foi subaproveitado pelo Pinheiros, levando um Palmeiras a uma honrosa sétima posição.
Estão aí. Se for para xingar, que seja com educação, tá?


Bauru e Mogi agendam final de modo bem diferente
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Giancarlo Giampietro

Enquanto o Mogi sofreu (e comemorou) muito em sua semifinal...

Enquanto o Mogi sofreu (e comemorou) muito em sua semifinal…

A final da Liga Sul-Americana é toda brasileira, depois que Mogi das Cruzes e os anfitriões de Bauru venceram nesta terça-feira suas semifinais. Pois a classificação de ambos não poderia ter acontecido do modo mais diferente possível.

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Equanto o time de Mogi precisou de uma prorrogação num jogo extremamente tenso contra o Boca Juniors (87 a 85), daqueles do oficial “sofreu-mas-venceu”, com direito a 16 trocas de liderança e sete empates, a equipe da casa deu uma surra incontestável nos uruguaios do Malvin no jogo de fundo: 103 a 57.

Esta será a terceira final brasileira na Liga Sul-Americana, depois de Uberlândia x Ajax em 2005 e Brasília x Flamengo, em 2010, com títulos para  os mineiros e os brasilienses. A diferença dos placares e do desenvolvimento das partidas confirma, sim, o Bauru como o grande favorito ao título na quinta-feira.

Mas cada jogo é uma história, né?

(De modo que nem vale analisar o que se passou no último duelo entre ambos, pela segunda fase da competição, uma vez que ambos os treinadores usaram rotações muito mais relaxadas.)

O que Mogi precisa fazer de diferente em relação ao que apresentou nesta semifinal), e urgentemente, é melhorar sua defesa exterior, que foi um horror no segundo tempo (especialmente no quarto período) contra os argentinos. Se repetirem a dose diante dos bauruenses, a coisa vai ficar bem feia. De modo que, a despeito de todo o sufoco passado, não só a vitória dá um pouco mais de confiança para o time de Paco Garcia, como também serviu como um treino para o que vem por aí.

O Bauru de Alex sobrou em quadra, num massacre

O Bauru de Alex sobrou em quadra…

O Boca se sentiu confortável pacas no interior paulista e, vejam só, tal como o Bauru vem fazendo em toda a temporada, arremessou mais de três pontos do que de dois: 35 x 30. Nos tiros de longa distância, converteu 37%, o que não chega a impressionar tanto assim, olhando friamente. Mas os adversários conseguiram uma reação na parcial final justamente com um festival de chutes de fora, quando passaram a jogar em tempo integral com cinco homens abertos. O pivô Pedro Calderón, velho conhecido do basquete brasileiro, inclusive ex-jogador de Mogi, estava entre eles, matando duas em quatro tentativas, a caminho de um double-double surpreendente de 18 pontos e 12 rebotes.

Do lado mogiano, Shamell foi o, hã, herói do dia, do jeito que ele gosta, anotando 29 pontos, “chamando a responsabilidade”, mas também alienando muitos de seus companheiros no processo (10-23 nos arremessos em 39 minutos). Por outro lado, diga-se, muitos de seus parceiros também o procuravam desesperadamente nos momentos decisivos – e ele teve duas chances de matar o jogo no tempo regular, mas falhou em tiros forçados. Já Tyrone Curnell estava novamente por todos os lados, com 16 pontos, 15 rebotes e 3 assistências.

Quer dizer, sozinhos, os americanos foram responsáveis por mais de 50% dos pontos da equipe, contra um rival que não tinha nenhum estrangeiro. Mas, se for para deixar o patriotismo assumir o controle aqui, vale destacar também a atuação do pivô Gerson, com seus 11 pontos e 8 rebotes em 25 minutos, com um impacto na partida que vai além das estatísticas. Muito, mas muito, muito, muito mais ágil que Paulão, ajudou mais nas coberturas defensivas e também foi uma arma muito mais eficiente no ataque com seus deslocamentos de pick-and-roll, ferindo a defesa argentina perto da cesta. Olho nesse jovem pivô, formado pela Universidade de Colorado State. Prometo mais a respeito dele daqui para a frente.

Com sua velocidade e capacidade atlética, estava mais capacitado para lidar com um time mais baixo. De qualquer forma, a despeito das broncas pesadas do espanhol no banco de reservas, sua equipe não conseguiu se ajustar nos minutos finais e falhava demais na contestação dos arremessos longos. Faltou coordenação, comunicação, perna e tudo o mais que você poderia pedir. O desarranjo era tanto que, mesmo quando os oponentes erravam, conseguiam coletar rebotes ofensivos, se aproveitando do mal posicionamento defensivo.

Se o mesmo acontecer contra Bauru, não terão chances na decisão. A equipe de Guerrinha está jogando em casa e tem jogadores/arremessadores melhores, ainda que contra o Malvin tenha terminado com aproveitamento praticamente idêntico (13-34, para 38%). Com uma parcial de 28 a 12 no segundo período, os anfitriões tinham quase o dobro de vantagem (59 a 30) e a partida resolvida, num massacre. Normal que no segundo tempo tenham relaxado e desacelerado. Um luxo de que Mogi adoraria ter desfrutado nesta terça.

 


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