Chris Paul, o poderoso chefinho, assume a presidência do sindicato de jogadores da NBA
Giancarlo Giampietro
O repórter Lee Jenkins, da Sports Illustrated, relata que Chris Paul foi presidente de sua classe nas sétima, oitava, décima, 11ª e 12ª séries, durante sua adolescência. “Para os que estão perguntando, na nona série ele não concorreu”, completa.
Aí você fica até em dúvida: estamos diante de uma piada?
Os jogadores da NBA vão responder, hoje, que não. Afinal, acabaram de eleger o astro do Los Angeles Clippers como o novo presidente de seu sindicato. E, de acordo com as histórias que lemos sobre o #CP3, não é de se estranhar, mesmo: ele está acostumado a liderar, ou, no seu caso, mandar.
Estamos falando de um armador, afinal. Mas daqueles que ditam as coisas.
Por exemplo, podemos afirmar que Steve Nash tem tendências socialistas em quadra, falando sempre de como gostaria de ver suas equipes compartilhando, em plena comunhão. Vejam o que ele diz a Zach Lowe, do Grantland, aqui: “Em Phoenix, eu pensava sempre, que poderia jogar e fazer mais de 20 pontos, arremessar mais, mas talvez minha efetividade fosse diminuir. Talvez o equilíbrio do time fosse abaixo. Talvez nós não tivéssemos aquele diferencial, aquela coisa especial que tínhamos porque os outros estão recebendo mais a bola e sentem que vão recebê-la. Não é minha natureza arremessar”.
Não pensem que isso não passa pela cabeça de Paul. Não se trata definitivamente de alguém egoísta – estima-se que, em sua carreira, 46,3% das cestas feitas por seus parceiros vieram de assistências do craque. A diferença é que para o impetuoso baixinho as coisas são mais práticas. Seu ideal é jogar para vencer, não obrigatoriamente para deixar quem está ao seu lado feliz. Se isso significa que ele tem de ir para a cesta, jogar para fazer 40 pontos, que assim seja. E que não entrem em seu caminho. Do contrário, você vai ouvir pacas.
Dizem que, no Clippers, Blake Griffin e DeAndre Jordan, mais espirituosos, já teriam problemas sérios quanto a isso, muita dificuldade para suportar toda a pressão que o armador faz – feito Kobe, ele é daqueles que colocam o dedo na cara, mesmo, apontam erros e não toleram “desculpas”. Além disso, após a saída de Neil Olshey para o Portland Trail Blazers, em Los Angeles virou ponto passivo de que o jogador seria o gerente geral informal do clube, opinando em todas as decisões esportivas da franquia. Doc Rivers que se enquadre!
Também dizem que, quando a turma bicampeã olímpica se reúne – Wade, LeBron, Bosh, Carmelo etc. –, é ele quem dá as cartas e não para de falar, na quadra, no vestiário, em festa de casamento, na mesa do bar, no busão ou no metrô (lembram!?), em qualquer lugar. E que, se não for ele a falar, que abram espaço para o “Little Chris”, seu filhinho, mandar brasa. : )
Muito bem.
Agora Chris Paul tem muito sobre o que falar, mesmo. Uma série de reuniões, vice-presidentes (Steve Blake e Anthony Tolliver entre eles), secretário do tesouro (James Jones!) e muito mais para comandar, num mandato inicialmente previsto de um ano e meio, sucedendo Derek Fisher. Dessa vez os operários não tiveram chance, com uma estrela subindo ao poder pela primeira vez desde Patrick Ewing, cuja presidência se encerrou em 2001. LeBron James chegou a cogitar sua candidatura, mas foi dissuadido numa conversa com, e quem mais?, o próprio Paul.
A agenda do novo presidente requer tempo, e talvez alguém da estatura de LeBron não tivesse tanto tempo assim – ou talvez fosse importante preservar a imagem do maior jogador da atualidade, guardando qualquer intervenção do ala para momentos mais críticos. Por ora, parece que há muito o que arrumar, mesmo, dentro de um combalido sindicato, que anda envolvido em em batalha judicial contra o ex-diretor executivo Billy Hunter, demitido em março, tendo empregado até filhos, cunhados, tios, sobrinhos e, se bobear, até o cachorro na administração da entidade.
Hunter, todavia, já é passado. O maior desafio de Paul é se sentar à mesa com o próximo comissário da NBA, Adam Silver, que assume em fevereiro e fechar as diversas pontas pendentes no acordo trabalhista (não tão) definido (assim) em 2011, com duração prevista por dez anos, mas que pode ser refeito em 2017, caso jogadores ou os donos dos clubes optem. Entre os tópicos mais espinhosos, está a pra-lá-de-urgente regulamentação de um controle antidoping mais adequado na liga. Exames de sangue detalhados vão ser liberados? Serão feitos testes de supetão? Em que período do ano? O limite de idade para inscrição no Draft – hoje de 19 anos, com os proprietários tentando elevar para 20 –, a criação de uma terceira rodada no processo de recrutamento de novatos – que permitira aos clubes um controle sobre maior gama de jogadores –, o relacionamento com a D-League e o número mínimo de jogadores contratados por cada franquia são outras questões em pauta para serem acertadas.
Barra pesada? Preocupante? Nada disso. “Foi algo que vi como um desafio, algo que sabia que seria capaz de conduzir. Foi uma oportunidade incrível, e muita responsabilidade vem com este cargo”, disse Paul. Oportunidade incrível? Eu, hein? Haja confiança para o poderoso chefinho da liga.