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Arquivo : Caboclo

Raptors está eliminado, mas tem muitas decisões pela frente
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Giancarlo Giampietro

Raptors tem time competitivo para já e peças para o futuro. Como isso vai afetar os minutos de Caboclo?

Raptors tem time competitivo para já e peças para o futuro. Como isso vai afetar os minutos de Caboclo?

Enquanto o Cleveland Cavaliers espera, sossegado, a definição do Oeste e de seu adversário em mais uma decisão da NBA, o Toronto Raptors já se concentra em ooooutros tipos de decisões. Enquanto Kyle Lowry e DeMar DeRozan preparam as malas para curtir as férias e digerir a eliminação, a diretoria chefiada por Masai Ujiri começa o período mais agitado de suas profissões.

Ujiri e seus assistentes precisam decidir o futuro do técnico Dwane Casey, se aprofundar no estudo dos prospectos do Draft, que vai rolar daqui a menos de um mês, e, depois, ainda mapear todo o mercado de agentes livres, no qual seu cestinha, inclusive, será um dos atletas mais cobiçados. Você acha que é fácil a vida de cartolada? Por mais que eles tenham de pensar primordialmente a longo prazo, para o clube canadense, na condição de vice-campeão do Leste, esse tipo de questão fica muito mais interessante. Dependendo dos movimentos que coordenarem, que pode afetar diretamente o futuro de Bruno Caboclo e Lucas Bebê, podem oferecer resistência de verdade aos LeBrons na próxima temporada já.

Demorou, mas este núcleo do Toronto fez enfim uma boa campanha nos playoffs, até esbarrar em um adversário bastante inspirado. Ao confronto derradeiro, até conseguiu dar uma graça ao vencer os Jogos 3 e 4. Pela temporada regular, teve uma grande chance de desbancar este mesmo Cavs do topo da conferência, ficando a apenas uma vitória do mando de quadra. Imaginem o quanto isso poderia ter sido relevante. Mas não aconteceu. Fora de casa, perdeu todas, mas perdeu de monte, por 31, 19, 38 e 26 pontos, com média de 28,4 por jogo. As que venceu, como anfitrião, foram por 21 pontos, saldo de 10,5. No geral, o que dá para ver é que a equipe foi presa fácil para o Cleveland.

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Está claro que, para esta formação do Raptors, a distância para competir com um Cavs no auge é muito maior ainda do que o avanço que fez em relação a Miamis, Charlottes e Indianas. Mesmo que DeMarre Carroll, um jogador valioso por ser efetivo dos dois lados da quadra, estivesse em uma forma deplorável, com dores no cotovelo, pulso, quadril, tornozelo e, claro, no joelho operado. Esse deu despesa ao departamento médico e de preparação física. Se tivesse inteirão, poderia tentar incomodar mais LeBron James na marcação individual, e talvez os marcadores do Raptors pudessem ter prestado mais atenção nos companheiros do Rei, sem que tivessem liberdade para chutar tanto nas primeiras duas partidas. Ainda assim, suponho que não seria o suficiente para compensar um déficit de 28,4 pontos.

DeRozan vai ficar? Que tipo de companhia Lowry vai ter no ano que vem?

DeRozan vai ficar? Que tipo de companhia Lowry vai ter no ano que vem?

É nessas horas que me vêm à cabeça o dia 18 de fevereiro, que era o prazo para os clubes da NBA fecharem trocas nesta temporada. Na ocasião, Ujiri preferiu não fazer nada. A única alteração feita: dispensou Anthony Bennett (que simplesmente não consegue paz) para contratar Jason Thompson, o homem que o Warriors cortou para abrir espaço para Anderson Varejão. Se o brasileiro não vem produzindo muito pelos atuais campeões, Thompson também não fez quase nada pela equipe canadense. Ficou apenas 55 minutos em quadra. Segundo o que se comenta nos bastidores, o Raptors não teria recebido nenhuma oferta que tenha agradado. Por outro lado, é de se questionar se o gerente geral não poderia ter sido mais agressivo e buscado .

Em termos de reputação, o gerente geral nigeriano se tornou uma das figuras mais respeitadas — e temidas — da liga. Como principal gestor, está em seu segundo trabalho, e até agora praticamente tudo o que ele tentou deu certo. Muito certo. Em três anos em Denver, viu seu time somar 145 vitórias e 85 derrotas (63,0%). Em Toronto, também em três anos, são 153 vitórias e 93 derrotas (62,1%).

Basta checar sua lista de negocicações, para entender como se chega a um aproveitamento desses. As principais, claro, foram as trocas com o Knicks de Carmelo Anthony, na qual se viu forçado a se livrar do astro e descolou um pacote muito bom com Gallo, Chandler, Felton, Mozgov, Koufos e mais uma escolha de primeira rodada de Draft, e a de Andrea Bargnani, por uma escolha de primeira rodada, duas de segunda e alguns contratos para fechar as contas. Também levou Andre Iguodala para Denver em troca por Arron Afflalo, Al Harringston e uma escolha de primeira e outra de segunda. Se for para criticar algum negócio, foi a transação que mandou Nenê para Washington e resultou na avoada chegada de JaVale McGee ao Colorado.

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Talvez essa fama de quem rapela nas trocas possa atrapalhar agora — com os concorrentes receosos. Nem sempre dá para botar James Dolan, o proprietário do Knicks, no telefone. O que sabemos é que o Raptors está cheio de atletas jovens no elenco e ainda vai ter mais quatro escolhas de primeira rodada nos próximos dois Drafts. Neste ano, terá a sua e aquela coletada por Bargnani em uma transação inacreditável. Em 2017, a extra será a do Milwaukee Bucks, no rolo de Greivis Vasquez por Norman Powell (outra muito lucrativa). Para um clube que hoje mira o topo do Leste e pode até sonhar com o título, fica a dúvida do que fazer com tantos ativos assim e também algumas promessas que não conseguem sair do banco, entre eles os brasileiros. Isto é: moeda de troca não faltava.

A média de idade do elenco do Warriors é de 27,5 anos, segundo o Real GM. Já a de OKC é de 27,0. O Cavs é mais velho, com 29,5. O Raptors tem hoje 26,0, mas pode ficar muito mais jovem se for para inserir mais dois calouros no grupo neste Draft, se eles ocuparem vagas de alguns veteranos, para não falar da turma de 2017.  O Raptors terá a nona escolha no dia 18 de junho, com a possibilidade de se contratar, nesta faixa, segundo as projeções dos sites especializados, um pivô de futuro.

Considerando sua lista de agentes livres, é o que faria mais sentido, mesmo, desde que não feche nenhuma negociação antes. Em julho, Bismack Biyombo, ultravalorizado, vai exercer uma cláusula contratual e entrar no mercado. Os contratos de Luis Scola, James Johnson e Thompson vão acabar. Quer dizer: vão abrir quatro vagas no elenco na linha de frente, sendo que duas e meia, digamos, de rotação. Biyombo e Scola jogaram muito. Johnson, em sua relação de amor e ódio com Casey, só foi efetivado na rotação devido à lesão de DeMarre Carroll.

Ainda fica pendente a situação de DeRozan, que vai constar na lista de muitos clubes e vai custar muito. Mais de US$ 20 milhões por ano na NBA de boom nos investimentos, graças ao revigorado acordo bilionário de TV. Podem ter certeza disso, independentemente do quanto o ala-armador sofreu durante os playoffs. O ala afirmou no sábado, em sua entrevista de encerramento de temporada, que não se vê com outra camisa na próxima temporada. Nem com a do Lakers, seu time do coração, da sua cidade. Já Ujiri afirmou que sua prioridade absoluta é renovar o contrato do cestinha, e acho que não há muito o que discutir, mesmo. A não ser que Kevin Durant indique que sonhe em jogar em Toronto, o cartola assumiria um risco enorme em negociar com outros atletas do porte de Al Horford e Nicolas Batum, ouvir “não” (como o histórico da franquia indica) e ainda perder um de seus All-Stars.

Renovar com DeRozan e Biyombo seria difícil. A não ser que o mercado não se mostre tão entusiasmado assim com o pivô congolês. A expectativa de scouts e cartolas é de que ele possa assinar um contrato na faixa de US$ 12 a 15 milhões anuais, se não mais. Qualquer oferta nessa linha inviabilizaria sua permanência em Toronto, que vai ter menos de US$ 30 milhões para gastar. Ujiri teria menos de US$ 10 milhões para buscar reforços.

E aí? O que fazer? Investir pensando longe ou ‘sacrificar’ algumas dessas peças em busca de veteranos que possam fazer a diferença agora? Por melhor que possa ser seu programa de desenvolvimento de jovens atletas, qual seria o ponto de sobrecarga?

Sem Biyombo, seria a vez de Bebê?

Sem Biyombo, seria a vez de Bebê?

Procuraria um substituto para Biyombo ou confiaria no progresso de Lucas Bebê como reserva de Jonas Valanciunas? Com rodagem na Espanha e a mesma idade do lituano, já era supostamente a hora de o carioca assumir um posto no time. (Claro que isso depende do quão satisfeitos os técnicos estão com seu desenvolvimento e amadurecimento.) Peguem também o caso do armador Delon Wright. Com Kyle Lowry e Cory Joseph sob contrato, quando ele terá chances de verdade? Lembremos que ele completou sua campanha de calouro, mas já tem os mesmos 23 anos de Lucas.

Bruno Caboclo ainda não estava pronto para participar de um jogo de playoff ao final de sua segunda temporada como profissional, e pode ser que leve um pouco mais de tempo. Ainda vai pedir muita atenção dos treinadores do clube. Ele tem mais um período de férias para avançar em sua trilha, mas, depois do que Norman Powell fez nos mata-matas, o calouro, que é dois anos mais velho que o brasileiro, está à frente na fila de entrada no time. Já não sobram muitos minutos na rotação, que tem DeRozan (eventualmente), Carroll e Terrence Ross, além da dupla armação com Lowry e Joseph, algo que funcionou bem demais neste campeonato.

(Um parêntese extenso sobre Bruno, então. Em suas últimas semanas pela D-League, o caçula brasileiro deu sinais de progresso. Foram 37 jogos, uma experiência muito valiosa. Ele terminou com média de quase 14,7 pontos em 36 minutos, mas foi progredindo mês a mês. Quando o Raptors B entrou em seu melhor momento, numa sequência de 18 vitórias e 9 derrotas, ele teve 15,7 pontos e 43,9% nos arremessos. Em março, no encerramento da temporada, subiu para 18,4 pontos e 44,7%, estabelecendo seu recorde pessoal em três noites diferentes. O ano não começou bem para o ala, e os indícios de imaturidade ainda preocupavam. A oportunidade de jogar com regularidade pela liga menor fez bem, porém. O técnico Jesse Mermuys observa como seu comportamento melhorou no decorrer do campeonato quando era substituído e criticado por sua seleção de arremessos. Em vez de fechar o bico e se alienar no banco, seguia envolvido com o jogo e com seus companheiros.

“A parte mental do jogo é extremamente importante na NBA porque essa liga é muito, muito dura, com seus altos e baixos. Se você tiver força para lidar com isso, é realmente importante. Essa maturidade fora de quadra foi quase mais importante do que no jogo. Ele ainda está correndo atrás do jogo, mas os avanços que ele fez foram consideráveis e muito maiores do que seriam se não tivéssemos dado essa oportunidade (de criar uma filial)”, afirmou. “No período em que vivemos, este é o único modo de vencer e desenvolver atletas ao mesmo tempo. Se você não tem seu próprio time de D-League, é como se tivesse de fazer uma escolha entre um e outro. Mas temos essa sorte de fazer ambos e desenvolver importantes ativos para o futuro de nosso clube.”)

O Toronto Raptors está numa situação um tanto parecida com a do Boston Celtics, nesse sentido, de fazer as contas entre investir sem perder o futuro de vista, mas também pressionado a progredir de imediato, curtindo um bom momento com a torcida e de confiança no elenco. A diferença é que o Raptors venceu nove partidas a mais na temporada e foi muito mais longe nos mata-matas — e não tem oito escolhas no próximo Draft. Mas a concorrência do Leste vai prestar muita atenção no que Ujiri vai fazer nos próximos meses. Até mesmo a diretoria do Cavs, dividindo sua atenção com o que acontece pela final da NBA, claro.

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Caboclo bate recorde pessoal pela D-League. Aprecie com moderação
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Giancarlo Giampietro

Caboclo vai para a cesta: sua melhor atuação pela D-League

Caboclo vai para a cesta contra filial do Pistons: sua melhor atuação pela D-League?

É realmente muito tentador. Você assiste a uma partida dessas, vê os números e já quer sair por aí batendo o tambor, passando a mensagem: Bruno Caboclo, Bruno Caboclo e Bruno Caboclo.  Nesta segunda-feira, o jovem ala brasileiro voltou a jogar pelo Raptors B pela D-League e marcou um recorde pessoal de 31 pontos em vitória tranquila sobre o Grand Rapids Drive, a filial do Pistons, por 136 a 105.

Independentemente do contexto – nível do oponente, intensidade defensiva, estilo de jogo da liga –, foi uma atuação para se tomar nota, mesmo, com o sorriso armado. Provavelmente sua melhor nesses dois anos de profissional nos Estados Unidos, o que causa um certo frisson na internet basqueteira brasileira. Mas é aí que você tem de tirar o pé e recomendar algo básico. Não tem problema se animar com o progresso do rapaz de 20 anos. Só aprecie com moderação, no entanto:

Antes de falarmos sobre o apanhado diversificado de cestas acima, parece ser mais importante discutir as ressalvas. Não é porque Bruno anotou 31 pontos em 36 minutos em Grand Rapids que, de uma hora para a outra, está pronto para jogar uma Olimpíada. Pelo menos não daqui a pouco, no Rio de Janeiro.

Este foi o ápice do brasileiro com a camisa dos 905s, é verdade, mas que tem de ser avaliado dentro do que vem sendo sua temporada. Vejam só: em suas últimas três partidas pela equipe de Mississauga, ele havia somado exatamente… 31 pontos, amassando o aro, com apenas 10 cestas em 32 tentativas. E o que tiramos disso tudo, entre pontos e altos? A média, claro: o ala jogou outras 34 partidas neste campeonato, com de 14,4 pontos, 6,3 rebotes, 1,1 roubo, 1,6 toco e 1,7 assistência em 33,7 minutos, com 39,8% de aproveitamento nos arremessos, 33,9% nos tiros de três e 73,3% nos lances livres.

Já muda um pouco de figura, não?

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Na hora de pensar sobre Caboclo, não dá para perder de vista de que este é apenas seu segundo ano efetivo como jogador adulto, e olhe lá. Se formos mais rigorosos, é como se fosse o primeiro, na verdade, já que a temporada passada foi muito mais de aclimatação a um país diferente, ao estilo de vida de NBA, a uma realidade totalmente diferente e que tem suas armadilhas. Ele mal viu a quadra, gente. Estamos falando ainda de um projeto, não de uma realidade técnica.

Isso para não falar da pressão. Caboclo não está apenas desenvolvendo suas habilidades sob a batuta dos técnicos do Raptors. Também está em processo de amadurecimento. Hoje ele pode não travar mais na hora de dar uma entrevista, como aconteceu há três anos, para o SporTV, mas ainda é um garoto nada acostumado a grandes partidas. Quando entra em quadra em Toronto, com o ginásio bombando, o placar já está resolvido, e a torcida está pronta para aplaudir qualquer uma de suas ações.

Não sei o quanto é empolgação com o potencial evidente do garoto, ou quanto se subestima seus concorrentes de seleção brasileira e o mundo Fiba em geral. De todo jeito, bom que se diga: quando as 12 seleções olímpicas se reunirem na Barra da Tijuca, serão pouquíssimos os ‘amadores’ por lá. Até porque a grande maioria dessas equipes vai escalar justamente grandes nomes da NBA, ou de clubes do mais alto nível europeu. Outro nível, ooooooutra história.

Jogar e produzir pela D-League não é pouco. Contra o Grand Rapids, o caçulinha foi marcado em diversas posses de bola pelo veterano Dahntay Jones, um ala que sobreviveu na grande liga americana por mais de 10 temporadas graças a sua tenacidade na defesa. Aos 35 anos, seu físico não é mais o mesmo, mas ainda seria tranquilamente um cara que, se interessado, poderia descer o continente e ajudar algum time venezuelano a ir longe na Liga das Américas, tal como fez Damien Wilkins pelo Guaros de Lara. Caboclo não se importou e fez o que bem entendia. A cada jogo, o ala vai enfrentar atletas com este perfil, ou caras mais jovens que não desistem do sonho de uma promoção. A capacidade atlética da liga menor é de embasbacar, e a sede por um contrato valioso, nem que seja com o Sacramento Kings, implica em uma competitividade traiçoeira.

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Ainda assim, a D-League pode ver a grande maioria de suas partidas descambar para uma pelada, principalmente pelo prevalecimento dos interesses particulares em detrimento do sucesso coletivo de um time. Basta espiar o placar dos jogos em geral para se ter uma ideia (103 a 105…). De modo que a dinâmica dessas partidas não poderia ser mais diferente do que a que a seleção brasileira vai enfrentar no #Rio2016. Se a transição da NBA para a Fiba já pede mais concentração dos veteranos, imagine a da D-League.

Rubén Magnano até poderia chamar o ala para o período de treinos e ver o que dava para tirar dali. O escaldado argentino, porém, já deu a entender, para além das entrelinhas, que essa hipótese tem chance praticamente zero de ser aplicada – para constar, o mesmo raciocínio vale para Lucas Bebê. Difícil discordar dessa lógica, ainda mais para alguém que tem sido tão metódico na formação de seu grupo – com os mais jovens pagando pedágio em um Sul-Americano aqui, outro período de testes ali, antes de serem incluídos em torneios de expressão. Aconteceu com Raulzinho e Rafael Luz. Leo Meindl está passando por isso agora. Lucas Dias, eu ex-companheiro, ao menos já foi para uma Universíade nessa gestão. Caboclo nunca se juntou a time nenhum. (PS: se for para defender a convocação de algum atleta bem mais jovem para o grupo olímpico, estão aí, ao meu ver, as duas possibilidades mais justas. O consistente NBB que Lucas fez pelo Pinheiros vale mais do que a experiência de Bruno neste momento. Mas é pouco provável também que tenha uma chance. Se mantiver sua lógica, Magnano dificilmente convocará alguém de primeira para uma campanha destas.)

Quando selecionou o ala em 2014 na primeira rodada, para surpresa geral, o gerente geral Masai Ujiri se viu obrigado a traçar um plano de longo prazo para desenvolvê-lo. Para a avassaladora maioria dos jogadores em seus contratos de novato, o terceiro ano de NBA já seria de graduação. Eles dificilmente disputam a liga de verão e tal. Já ganham passe livre para conduzir seus treinamentos nas férias do jeito que bem entenderem. Acontece que o ala ex-Barueri e Pinheiros não é um casso corriqueiro desses. Pelo contrário: é um caso especial, com a reputação do prestigiado dirigente envolvida. Eles traçaram um plano de longo prazo, e qualquer que seja a atividade prevista para o verão (setentrional) de 2016, talvez o melhor seja deixar o garoto com eles, mesmo. Em termos de experiência, para reforçar sua confiança, é provável que mais uma liga em Las Vegas seja mais proveitosa do que duas semanas de treino com a seleção.

Enfim, com tudo o que está na mesa, uma Olimpíada não é uma competição para testes e experiência, e aqui voltamos ao jogo desta segunda e ao campeonato de Caboclo em geral. Nesta segunda, sua exibição ofensiva foi uma maravilha, consistentemente atacando o aro. Nesses movimentos, vai lembrar invariavelmente a imagem de Giannis Antetokounmpo, devido ao corpo esticado toda a vida e a uma facilidade impressionante de chegar ao aro. Mal precisa saltar, mal precisa correr. Duas passadas, braço esticado, e pumba, como vemos no vídeo acima. Segue seu quadro de arremessos na noite:

Quando chegou ao garrafão, não houve quem o impedisse de fazer a cesta. De resto, de fora, ele teve muita liberdade para matar seus arremessos, mas não conseguiu, com exceção do cantinho esquerdo da quadra

Quando chegou ao garrafão, não houve quem o impedisse de fazer a cesta. De resto, de fora, ele teve muita liberdade para matar seus arremessos, mas não conseguiu, com exceção do cantinho esquerdo da quadra, sua área preferida há um tempo. O final de sua mecânica de arremesso ainda é inconstante. Há uma ligeira tendência para que suas mãos se abram em direções opostas, alterando a direção do chute, que em diversas ocasiões apenas tocava no aro de raspão

Como fica mais evidente, dá para dizer que os técnicos do Raptors têm trabalhado com Bruno o tipo de ataque que a NBA “dos números” pede hoje: ou você chuta de três, ou vai tentar a finalização lá pertinho da tabela. As bolas “mais eficientes” segundo o cânone recente. Agora, essa opção também tem a ver com as próprias limitações do brasileiro. Vai demorar ainda que apareça um jogo de média distância para ele – este, aliás, já é um tipo de arte perdida na liga. São raros os jovens que chegam com esse tipo de repertório, como o ala TJ Warren, do Phoenix Suns. Para não deixar dúvida, este é o seu quadro de arremessos de toda a temporada:

 No geral, Caboclo ainda tenta mais de 50% de seus arremessos no perímetro (53,1%), quantia bastante elevada. Apenas 7,5% de seus pontos vêm de média distância, enquanto 31,3% saem no garrafão


No geral, Caboclo ainda tenta mais de 50% de seus arremessos no perímetro (53,1%), quantia bastante elevada. Apenas 7,5% de seus pontos vêm de média distância, enquanto 31,3% saem no garrafão, quantia que deve aumentar consideravelmente, se o plano dos técnicos for aplicado, algo que deu muito certo contra o Grand Rapids e, esperamos, passe a virar rotina

Percebem o contraste de cores, certo? O quadro de baixo dá um panorama bem mais honesto sobre o tipo de cestinha que Caboclo é. As diversas manchas vermelhas acima mostram que há muito o que ser feito ainda, e sem pressa. O Raptors 905 não se importa com isso. O que vale aqui é que, no futuro, o brasileiro tenha sido capaz de aprender com seus erros e acertos, assimilar os treinamentos, ganhar cancha e, enfim, contribuir para o time de cima.

Contra o Grand Rapids, Bruno foi quase sempre utilizado numa formação flexível (exceção feita quando a quadra era congestionada pelo imenso Sim Bhullar, que mais parece uma criação de efeitos especiais). O brasileiro era basicamente  um homem na linha de frente, em vez de nos apegarmos a definições como “3” ou “4” – no futuro, para alguém de seu biótipo, poderá marcar praticamente todos os tipos de jogadores.

Para além dos 31 pontos, um ótimo sinal dessa partida foi o fato de que, quando o Raptors B jogou bem, Caboclo foi junto. Isto é: quando a bola girou de mão para mão, com os atletas em constante deslocamento, espaços foram abertos, e o ala soube aproveitá-los com suas infiltrações, em vez de estacionar no perímetro e exagerar na dose em seus arremessos de três pontos. Ele se movimentou com leveza pela quadra e tratou de envolver seus companheiros. Precisamos sublinhar isso: diversos scouts se manifestaram com preocupação ao blog durante a última liga de verão em Las Vegas sobre a “fome” do ala em quadra. Para quem havia jogado tão pouco, achava natural que acontecesse. Durante a temporada da D-League, no entanto, isso voltou a se repetir em diversas ocasiões. Aparentemente, o brasileiro se apresentou dessa vez ao Raptors 905 disposto a atacar de outra forma, e deu muito certo. Foi uma atuação extremamente produtiva, buscando a cesta, mas serenamente, sem forçar a barra. Vamos ver se vai conseguir repetir esse padrão, mesmo sem tanta eficiência assim, nas próximas rodadas.

Apelando à prudência, todavia, um fator importante para se ter em mente é que, tanto para o Raptors, hoje um candidato ao título, como para a seleção, o raciocínio é o mesmo, por ora: o jogador não chegaria para ser cestinha. Suas prioridades mais imediatas são a defesa e a capacidade de executar pequenas tarefas.

Um parêntese estatístico, então, para alertar mais uma vez o perigo de se guiar apenas por números: a linha de Caboclo mostra apenas uma assistência e cinco roubos de bola em 36 minutos. Deduzíramos, então, o quê? Que foi um fominha e um terror na defesa, e não teve nada disso. Vários dos passes do brasileiro resultariam em assistência para um companheiro, assim como boa parte dessas bolas recuperadas vieram em passes interceptados por um seus parceiros também, com o roubo sendo computado a seu favor simplesmente por ter feito o domínio.

Em geral, Caboclo ainda se confundiu muito em posicionamento. Quando envolvido em situações de pick and roll no terceiro período, por exemplo, durante breve reação do adversário, recuou, mas não conseguiu dar conta nem de bloquear o baixinho com a bola em mãos, nem em contestar seu oponente do modo desejado. A impressão que passa é a de que Bruno ainda conta muito com sua envergadura para recuperar terreno e fazer a marcação. As ferramentas estão aí para serem usadas, mesmo, e, com braços dessa extensão, é como se estivesse perto da bola sempre. Mas, se bem posicionado, pode se tornar um defensor realmente implacável, intimidador.

Num jogo tão complexo como o basquete, em que o comprometimento de uma peça pode acabar com toda uma engrenagem. Isso ainda vai pedir um pouco de paciência ainda, e, pensando lá na frente, faz bem ver o quanto ele pode render quando joga solto e confiante como nesta segunda-feira. Sua linha de tempo, no momento, só difere daquela que vale tanto para o Toronto como para a seleção: um time destronar o Cavs no Leste, enquanto o outro sonha com o pódio. Para a temporada que vem, em relação ao seu clube, pode ser que mude, dependendo do que fizerem nos playoffs e de como vão se comportar no mercado de agentes livres. Uma hora essas linhas vão coincidir – pelo menos é o que Masai Ujiri espera. Se tudo der certo, Tóquio 2020 já chega.


A crise e o basquete brasileiro: quem está se mexendo?
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Giancarlo Giampietro

Nova parceria para a LNB. Lucas, Mineiro, Gruber e Caio reservam assentos

Nova parceria para a LNB. Lucas, Mineiro, Gruber e Caio reservam assentos

Dois blogs vizinhos aqui na rede do UOL Esporte nos trouxeram na semana passada informações que se completam perfeitamente e nos dão um bom retrato sobre o basquete brasileiro, a menos de cinco meses da disputa das Olimpíadas. No dia 8, Fábio Balassiano publicou entrevista com o presidente da CBB, Carlos Nunes. Dois dias depois, Daniel Brito deu a notícia de que a Caixa Econômica Federal vai investir R$ 32 milhões, divididos em cinco anos, nas ligas masculina (LNB) e feminina (LBF).

Quando Brito divulgou o acerto do banco com as entidades que reúnem os clubes, uma declaração de Nunes ganhou outro contexto, sobre a dificuldade de se captar patrocínios: “Tentamos, tentamos sempre. E a gente não consegue. As empresas alegam que não têm dinheiro e que a exposição da seleção brasileira é muito pequena, pois a seleção se junta em julho e deixa de estar atuando em setembro. Isso, para os patrocinadores, é muito pouco. Mas não desistimos, não”.

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Certo. O mercado está retraído, mesmo. Mas há quem possa atrair investimento – também no dia 10, a LNB ainda anunciou acordo com a Avianca, que vai cuidar do transporte dos atletas em troca de exposição, e também atraiu a parceria da NBA. Outros já têm mais dificuldade, se não for em convênios generosos e de justificativas nebulosas com o Ministério do Esporte.

Antes de prosseguir, alguns pontos:

1) sim, não haveria espaço para a Caixa fechar um contrato com a CBB, que já tem o Bradesco ao seu lado.

2) sim, a Caixa é mais uma estatal que ergue a mão para dar uma força ao esporte nacional. Qual a diferença disso para um repasse do ministério? Bem, há diversos tópicos para separar ambos, sendo o principal deles o fato de a Caixa ser uma empresa. Estatal, mas uma empresa, que espera ter retorno financeiro em sua empreitada. O ministério ajudou e só espera, quiçá, ver uma medalha como resposta. Sabemos, na verdade, que este foi o modo que a pasta encontrou para ajudar a CBB em meio a um naufrágio. É como se fosse um colete salva-vidas. Afinal, como Nunes mesmo constata: dentre tantas confederações olímpicas, só uma não foi acolhida por uma estatal. “Nós, da CBB”, diz. Obviamente que o rolo com a Eletrobrás e a matéria de Lucio de Castro sobre o uso descontrolado de cartão corporativo, entre outras, ajuda a emperrar as coisas e afugentar investidores (aqui, a nota de resposta da confederação). Sobre a disputa com a empresa, Nunes espera que será esclarecido na Justiça e poderia render mais R$ 21 milhões devidos. Ajudaria a quitar as dívidas de sua indigestão. Mas não é dinheiro garantido.

3) sim, LNB/LBF e CBB são entidades diferentes para se investir, claro. As ligas têm seus campeonatos cobrindo quase toda a temporada, enquanto a CBB é, acima de tudo, hoje em dia, uma instituição voltada à política e que sobrevive, do jeito que está, por causa de seus intrincados trâmites.  Nunes reclama também que a seleção brasileira tem “pouca exposição”. Historicamente, a equipe nacional sempre atraiu mais patrocinadores, a ponto de, por aqui, ter se desenvolvido a tese de que só com medalhas internacionais, a modalidade seguiria em frente – conquistas despertariam interesse e aí, sim, direcionaria a grana para o mercado local. Será? Não creio que o ouro do Pan de Toronto tenha motivado três acordos comerciais expressivos para a LNB. Mais: “exposição” não é algo que dependa exclusivamente do calendário de competições. E, mesmo quando reúne seu time, a confederação fracassa em promovê-la, com jogadores de NBA ou não, com um marketing praticamente inoperante, como o próprio presidente admite.

Tá. E o que mais?

Se há crise econômica no país, porém, ela atinge tudo e todos, e não somente o basquete, ou uma ou outra instituição basqueteira. Não adianta se colocar na vítima, que é o que Nunes mais faz em sua entrevista, cheia de evasivas. É um festival do “não sei”. Não sabe explicar a situação financeira e nem dizer qual o tamanho da dívida da CBB. Não quer falar sobre as denúncias de mau uso de dinheiro de patrocínio. Confunde-se ao falar sobre a ação movida pela Eletrobras. Não sabe dizer exatamente como está a preparação das equipes – no técnico ele “não mexe”. Peraí: mexe, então, exatamente no quê? OK, a entrevista não era algo que ele tinha planos. Para alguém que está há tanto tempo no cargo, todavia, esperava-se mais preparo.

É com um líder desses que as seleções masculina e feminina vão chegar ao Rio 2016. Nesse cenário, não me parece justo o presidente cogitar a hipótese de medalha entre os rapazes. Está certo que os problemas da confederação não atingem diretamente esse grupo. O ministério deu conta de suas despesas nos últimos anos, sem muito critério para assinar o cheque. Então Rubén Magnano pode trabalhar com vasta comissão técnica, incluindo excelentes preparadores físicos (é só dar uma espiada no trabalho de Paulistano e Flamengo nos últimos NBBs) e profissionais. Vão poder jogar amistosos e tal. E a base da equipe será formada por atletas que construíram carreira basicamente fora do país – não que não pudessem crescer por aqui, mas só é preciso registrar o fato.

O problema é o futuro e qual o papel da CBB nele. Quando questionado sobre o que vem por aí, com a aposentadoria inevitável de toda uma geração, Nunes também não foi capaz de se aprofundar. “Acho que trabalhando não vamos sentir tanto. Olha aí o Raulzinho indo muito bem. Há o Caboclo, o Lucas Bebê, o Hettsheimeir que é jovem. Temos munição guardada ainda. O que acho que irá pesar mesmo, para lhe ser sincero, é se teremos grana para fazer o trabalho na base. Isso aí é que estamos muito esperançosos, pois o Governo Federal está muito interessado nisso. Agora mesmo nos liberou o convênio da feminina. Já saiu o da masculina”, afirma.

Obs1: Hettsheimeir tem 29 anos, é só um ano e meio mais jovem que Splitter. Obs2: vamos ver sempre dirigentes nacionais citando os mesmos nomes de sempre (Caboclo, Bebê…), mesmo que estes jogadores ainda busquem estejam sob teste, tentando se afirmar, e que a CBB não tenha absolutamente nada com o desenvolvimento da maioria deles. Obs3: de novo, o Governo… Sendo que é a mesma administração que passa por um período de turbulência severa, e não sabemos se continuará de pé até o final do ano.  Não é a melhor fonte, no momento, para falar sobre projetos, hã, futuros. Obs4: a eleição da CBB está marcada para 2017, e não há nenhum candidato declarado que prometa grandes mudanças.

As Olimpíadas já chegaram, e vai ser pauleira. Tudo bem. O problema é pensar lá na frente, com as ligas nacionais carregando maiores responsabilidades, sem um respaldo confiável por parte de quem supostamente deveria zelar pela modalidade.


Jukebox NBA 2015-16: Raptors, Arcade Fire e um recado geral: eles existem
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “We Exist”, por Arcade Fire

Em 2011, com dez anos de estrada, os integrantes do Arcade Fire subiam ao palco do Grammy para, de modo até chocante, receber o prêmio de Álbum do Ano, superando popstars como Lady Gaga, Eminem e Katy Perry. Ninguém entendeu nada, nem a apresentadora Barbara Streisand, muito menos  mesmo o vocalista e compositor Win Butler, que, ao chegar ao microfone,  soltou: “Que diabos?!”

Aquele grupo de esquisitões, nerds e/ou eruditos reunidos em Montreal já atraía bom público em festivais e havia participado da festa antes, mas concorrendo entre os alternativos. Depois daquela façanha, com “The Suburbs”, se tornariam gigantes. Ou, vá lá, gigantes para os patamares atuais do rock. Mas chegaram lá, ganharam estofo, confiança e voltariam, dois anos depois, com um álbum bem mais ambicioso, “Reflektor”, para pista, com direito até a curta metragem dirigido por um dos Coppola e pontas de astros hollywoodianos. “We Exist” está entre essas faixas.

Ok.

Estaria o Toronto Raptors, então, preparado para dar um salto desses?

Bem, falar em título talvez seja algo impensável, mas esse, na verdade, é um discurso útil que vale para praticamente qualquer time que não se chame Golden State Warriors.

Contudo, se os objetivos forem menores, por que não?

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Ao receber o Cavs na sexta-feira, o Toronto Raptors ratificou que, sim, já existe como ameaça ao time de LeBron James ao título – da Conferência Leste, no caso, de acordo com suas atuais configurações. Cleveland, no papel, ainda é o favorito, mas, enquanto não encontra a paz interna, vai ser mais vulnerável do que a combinação de suas peças sugeriria. E aí entra o clube canadense na jogada, disposto a aprontar, seguindo o líder da conferência bem de pertinho, tendo a vantagem de um eventual desempate.

Havia diversos elementos que já serviriam para colocar Toronto como o principal candidato a azarão na conferência, posto que muitos talvez imaginassem que caberia ao Chicago Bulls no início da temporada, numa ascensão gradual da franquia, basicamente desde a partida de Rudy Gay e Andrea Bargnani. Mesmo que tivesse levado um sacode do Cavs no dia 4 de janeiro, fora por 122 a 100, haviam vencido 17 de 21 partidas incluindo antes do reencontro com os LeBrons. Ainda assim, valeu como tanto como um resultado simbólico, como para dar o troco e jogar pressão para cima dos caras, ajudando, de passagem, a tumultuar mais um pouquinho o vestiário.

(Parêntese: entre as celebridades basqueteiras, o grandão Win Butler é autêntico. No All-Star em Toronto, dominou a pelada da sexta e foi eleito MVP. Drake? Que Drake?!)

(Parêntese: entre as celebridades basqueteiras, o grandão Win Butler, que jogava no high school, é autêntico. No All-Star em Toronto, dominou a pelada da sexta e foi eleito MVP. Drake? Que Drake?!)

Será que Bargnani e Gay poderiam imaginar um cenário desses, em que o Raptors entra em março com a quinta melhor campanha da temporada? E Bryan Colangelo? Talvez todos eles quisessem, mas é improvável que acreditassem que fosse possível que ele surgisse assim tão cedo. Mas não por acaso. Em diversos frentes, o clube canadense vem num processo evidente de crescimento, especialmente no mundo dos negócios, se firmando como um dos queridinhos do Canadá (vide o sucesso do slogan #WeTheNorth). A compra de uma franquia exclusiva na liga de desenvolvimento, em uma ação bem rápida, para acolher Bruno Caboclo e os mais jovens, também mostra isso.

De nada adiantaria uma esperta campanha de marketing se o produto em quadra não tivesse substância para sustentá-la. O técnico Dwane Casey sabe que não tem um time perfeito em suas mãos. Mas também está ciente de que conseguiu formar um conjunto bem equilibrado, com uma identidade bem definida e potencial para melhora, a ponto de voltar aos mata-matas com as maiores pretensões da equipe desde os dias em que Vince Carter decolava.

Os dinos têm o quinto ataque mais eficiente da liga e a 12ª defesa. Na subtração de um pelo outro, chega ao sexto melhor saldo de pontos por 100 posses de bola, superado apenas por, veja bem, Spurs, Warriors, Thunder, Clippers e Cavs. Ficar entre os sistemas ofensivos mais fortes, para esse núcleo, não é uma novidade, tendo ficado em terceiro neste ranking na temporada passada e em nono em 2013-14. Já o sistema defensivo resgatou sua credibilidade, depois de ter sido de um décimo lugar há dois campeonatos e de um esquálido 23º na campanha anterior.

Esse uniforme já viu a 2ª rodada dos playoffs. Mas não com Lowry e DeRozan

Esse uniforme já viu a 2ª rodada dos playoffs. Mas não com Lowry e DeRozan

E há caminhos claros para apertar ainda mais a retaguarda. A prioridade seria a recuperação de DeMarre Carroll, afastado do time desde janeiro, quando sofreu uma artroscopia no joelho direito. Até a virada do ano, por exemplo, com seu caríssimo agente livre contratado, a defesa era a décima melhor, se colocando no cobiçado grupo de times top 10 dos dois lados da quadra. Mas ainda não há data para Carroll retornar, e o escritório de Masai Ujiri não deixa vazar nada. Se ele estiver pronto para os playoffs, será um tremendo reforço.

Outra possibilidade, dói dizer, seria o banimento, ou a redução significativa dos minutos de Scola na rotação. Ao consultar os 20 quintetos mais utilizados por Casey na temporada, vemos que lenda viva argentina está relacionada em nove. O duro é que, destes nove, apenas um tem saldo positivo. Os outros oito estão no vermelho, por mais que o camisa 4 tenha adicionado a seu repertório o chute da moda: tiros de três pontos pontos como um ala-pivô aberto. Scola está convertendo 38,3% de seus disparos de três pontos, e o mais interessante é que isso ocorre com um número elevado de tentativas. Ele saiu de 0,4 por 36 minutos quando defendia o Indiana Pacers para 3,0 neste ano.

A eficiência nos arremessos deixa a quadra mais alargada no ataque, facilitando as infiltrações de Kyle Lowry e DeMar DeRozan. Na defesa, porém, as coisas não funcionam. Em tese, isso poderia se explicar pela parceria com Jonas Valanciunas, com dois pivôs muito técnicos, mas extremamente lentos numa liga que tende a punir esse tipo de marcador. Acontece que, nem com Bismack Biyombo ao seu lado no garrafão, o Raptors tem resistido.

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Daí o estranhamento pela inércia de um gerente geral tão agressivo como Masai Ujiri antes do fechamento da janela de trocas. Só mesmo o nigeriano e seus confidentes sabem ao certo que tipo de negociação e proposta eram atingíveis. Talvez Brooklyn e New Orleans tenham pedido muito por Thaddeus Young e Ryan Anderson. Mas muito quanto? O Raptors está numa posição bem confortável quanto a trunfos para negociações. Tem assegurada todas as suas escolhas dos próximos Drafts, além dos direitos sobre a escolha do Knicks  deste ano (ou do Nuggets, dependendo da ordem, ficando com a mais baixa delas) e mais uma do Clippers. Além disso, o terço final do elenco de Casey é dominado por atletas mais jovens, como Bruno Caboclo e Lucas Bebê, que não serão aproveitados tão cedo.

Moedas de troca Ujiri tinha. Se os negócios oferecidos não eram tão bons, isso não impedia que fosse atrás de outros caminhos. Não dá para criticar tanto alguém que preze pela paciência nos negócios. São vários os clubes que já se colocaram em má situação com uma sequência precipitada de trocas. Mas o clube canadense poderia para assumir riscos moderados, sem o temor de comprometer a sustentabilidade do projeto. Será que Jason Thompson, marginalizado em Sacramento e Golden State e contratado para o lugar do dispensado Anthony Bennett – ô, tristeza! –, pode render no lugar de Scola? Agora não há muito o que se fazer a respeito. Também não é o fim do mundo.

Com Lowry e DeRozan, o ataque conta com dois All-Stars que ditam o ritmo da equipe. Ritmo, por sinal, que é o quinto mais lento da liga, em sintonia com Spurs e Cavs. Isso tem muito a ver com o modo como os dois atacam. São centralizadores, massageam a bola (o Raptors é o segundo que mais arremessa nos últimos quatro segundos de uma posse de bola, com 7,2 por jogo nessas condições), chamam o pick-and-roll, vão para dentro, e dá certo. Juntos, são responsáveis por 56,4% das assistências da equipe. É muito. Mas, comparando com a liga, isso não significa muito, já que o Raptors é o terceiro que menos faz cestas assistidas (14,5%). Como faz, então, para ter um ataque eficiente, sem ser solidário? Não é com o bombardeio de fora. O rendimento de 36,8% nos chutes de três é excelente, o terceiro melhor (Warriors e Spurs). Mas eles não arriscam muito, ficando em 15º em tentativa, no meio da tabela.  Por outro lado, são muitos lances livres para compensar, sendo o terceiro em conversões (Rockets e Wolves). Também se comete poucos turnovers, com 13,2.

Lowry e DeRozan fazem suas melhores temporadas. Depois de um regime durante as férias, o armador se apresentou a Casey em excelente forma, finíssimo. Bacana, certo? Só não deixa de ser engraçado que ele tenha esperado nove anos para chegar a essa conclusão, de que perder alguns quilinhos poderia fazer bem a um armador que adora bater para a cesta e se gabava, antes, de ser um pitbull na defesa. Enfim.

Antes e depois

Antes e depois

Já DeRozan passou a enxergar o jogo com muita inteligência e paciência, para se infiltrar e descolar lances livres. É o segundo que mais converteu chutes na linha nesta temporada, atrás apenas de James Harden. Em seus movimentos rumo ao aro, vem usando cada vez mais o pick-and-roll e também aprendeu a servir aos companheiros. Fica tão confortável com a bola que hoje tem uma taxa de uso maior que a de Lowry.

Além disso, o que vem funcionando muito bem é o banco de reservas. Com Lowry fazendo companhia a Cory Joseph, Terrence Ross, Patrick Patterson e Biyombo, temos um quinteto que vem sendo bastante produtivo, com um saldo de 29,4 pontos por 100 posses de bola. Essa é a quarta melhor marca do campeonato (para um mínimo de 20 jogos e 100 minutos), gente. Outro quinteto que rende bem tem Lowry-Joseph-Ross-Patterson-Valanciunas, mas com uma carga bem menor de minutos (63 contra 201 da outra equipe).

Os bons resultados, aliás, devem gerar um impasse para Casey. Se o time titular não tem rendido conforme o esperado, ao mesmo tempo seria complicado de mexer drasticamente na rotação, já que a segunda unidade tem dado tão certo. Daí que um retorno de Carroll seria providencial. Dependendo de seu estado físico, o veterano poderia ser reinserido naturalmente no lugar de Scola, e vida que seguisse. Se ele não puder jogar, porém, seria a solução estender os minutos de Patterson? Ele manteria sua eficiência com maior carga? Scola daria conta, pelo menos, dos minutos que sobram para a posição? Ou talvez você possa distribui-los entre James Johnson e Ross, com Johnson jogando mais perto do garrafão nesse caso.

Scola produz no ataque. Mas é um problema na defesa

Scola produz no ataque. Mas é um problema na defesa

Diante dessas dúvidas, o argumento por uma postura mais agressiva na busca por trocas ganha mais força. Outro  ponto a ser levado em conta, nesse raciocínio, é a entrada de DeRozan no mercado de agentes livres neste ano e a de Lowry no ano que vem. Os contratos da NBA são cada vez mais curtos, e o prazo de validade de um time competente fica reduzido na mesma medida. Qualquer elevação na produção desse time poderia empurrá-lo com tudo para cima do Cavs, independentemente do estado de espírito dos adversários.Isso, claro, se eles chegarem a esse embate. Por mais que tenham se fixado como o segundo principal time da conferência, não dá para encarar uma série com o Boston Celtics como uma barbada. Isso para não falar, de repente, de um confronto com o Atlanta Hawks logo de cara. Glup.

Num cenário ideal, supõe-se que o clube renove com DeRozan em julho, mesmo que isso os tire de ação no mercado, dando conta do teto salarial nas próximas duas temporadas. Deixar o ala-armador sair seria assumir um grande risco (estamos falando do terceiro jogador do clube em eficiência, com 23,1 pontos, 4,1 assistências, 4,3 rebotes, 6,9 lances livres por jogo e aproveitamento de 83,8%, 26 anos). Para ir atrás de Durant? É realista? Al Horford? Será concorrido. Dwight Howard? Não faz sentido. Há opções mais baratas, que poderiam atenuar uma perda e manter a flexibilidade para manobras. Mas há também como ficaria o relacionamento com a torcida? DeRozan é o Raptor mais longevo desse elenco e acabou de ser eleito All-Star.

Obviamente essas questões todas passam pela cabeça de Ujiri. Como ele mesmo disse a Zach Lowe, do ESPN.com: “Como você passa de bom para excelente na NBA? Isso é realmente muito difícil”. É complicado, mesmo. Cada negócio ou não-negócio tem uma ramificação. A diretoria preferiu apostar na continuidade do time e de seu projeto com os mais jovens. Basta mais uma série desastrada nos playoffs e nova eliminação na primeira rodada, porém, para que essa narrativa seja alterada drasticamente. Pensando no estágio em que o clube estava no início da década, esse tipo de problema não justifica lamúrias. São hipóteses também. Por enquanto, de concreto, o que temos é que o Raptors existe e precisa ser respeitado.

Torcida empolgada geral em Toronto. Querem mais nos playoffs

Torcida empolgada geral em Toronto. Querem mais nos playoffs

A pedida? Final de conferência. Ou, pelo menos, competitividade numa eventual semifinal contra Boston, Miami, Indiana etc. O certo é que chegar aos playoffs já não é o bastante mais. Uma terceira eliminação consecutiva na primeira rodada seria uma tremenda decepção e muito provavelmente poderia resultar na demissão de Dwane Casey, além de chacoalhar as estruturas superiores da franquia.

A gestão: Masai Ujiri é um dos executivos mais bem pagos da liga, por uma razão. Ou várias razões. O New York Knicks que o diga, depois de duas negociações (Carmelo vindo de Denver e Bargnani de Toronto) em que diferentes dirigentes foram rapelados pelo nigeriano. O cara  desfruta de tanta reputação na liga que seus pares deveriam ter receio de iniciar uma negociação com ele. Talvez venha daí, mesmo, a ausência de trocas por parte do Raptors. Vai saber.

O que Ujiri não nega é que, em seu projeto, houve também uma contribuição do acaso, ao tentar arrumar a bagunça deixada pelos últimos anos desesperados de Bryan Colangelo por lá – quando mandou Rudy Gay para Sacramento, jamais imaginaria que essa transação resultaria em uma (r)evolução imediata em seu time, rumo ao topo da conferência.

Claro que há uma contribuição estrutural nessa reformulação. O trabalho com os técnicos do Raptors ajudou DeRozan a virar a ameaça que representa hoje, realizando todo o seu potencial, mesmo que seu arremesso exterior ainda não desperte o horror nas defesas. Se Valanciunas e Ross vão progredir desta maneira, o time ficará em boas condições, uma vez que seus contratos foram firmados em um teto salarial muito mais baixo do que vem por aí nos próximos anos (subindo de US$ 63 milhões na temporada passada para algo em torno de US$ 110 milhões em 2018).

Caboclo: 13,8 pts, 5,8 reb, 1,6 blk, 1,6 ast e 39,1% de quadra pelo Raptors B

Caboclo: 13,8 pts, 5,8 reb, 1,6 blk, 1,6 ast e 39,1% de quadra pelo Raptors B

Ujiri foi promovido de scout gratuito do Orlando Magic no início da carreira a chefão em Toronto por conta de uma vasta rede de relacionamento, mas também pelo trabalho exaustivo na busca por talentos mundo afora, e a história da seleção de Bruno Caboclo, numa articulação (quase) confidencial, é um grande exemplo de sua visão como dirigente.

Naturalmente, o dirigente tratou de buscar atletas mais jovens e conseguiu formar um núcleo bastante homogêno. Tirando Luis Scola, de 1980, todos os outros 14 atletas da equipe nasceram entre 1986 (Lowry e Carroll) e 1995 (Caboclo). Boa parte deles tem a chance de se desenvolver lado a lado, em que pese a curta duração de seus contratos. O problema: Lowry é justamente o segundo mais velho. Agora em março, vai virar trintão. Sem o armador, como essa base se viraria?

A diretoria dos dinos tem de se perguntar o quanto isso tudo vai durar, considerando seu estilo de jogo. Lowry é hoje a grande estrela da turma, tendo se transformado no tipo de jogador que a franquia jamais conseguiu recrutar no mercado de agentes livres. Aliás, pelo contrário: a história diz que estrelas ou candidatos a estrela saem de Toronto rapidamente. Então a linha de questionamento continua: se o armador está no auge, será era a hora do ataque? É legal investir na garotada, mas quando eles serão promovidos para valer? E quantos deles?

Será que Caboclo e Bebê vão conseguir jogar para valer com Lowry no Raptors?

Será que Caboclo e Bebê vão conseguir jogar para valer com Lowry no Raptors?

O time atingiu um nível tão bom em quadra e tem uma rotação estabelecida que torna difícil o aproveitamento dos mais jovens. Ou, vamos colocar assim: mais inexperientes. O armador Delon Wright, irmão mais novo do ala Dorell, pode ser um novato, mas é dez dias mais velho que Valanciunas. Ambos chegarão aos 24 nesta temporada, assim como Lucas Bebê. O ala-armador Norman Powell vai completar 23. Bruno Caboclo é quem ainda pode ser tratado tranquilamente como o caçulinha. Só vai fazer 21 em setembro, pouco antes do próximo “training camp”.

Legal. É boa a base.

Mas com atletas que já estão, ou deveriam estar num estágio de desenvolvimento mais avançado. Preparados para assumir mais responsabilidades, exceção feita a Caboclo. Juntos, eles receberam apenas 476 minutos na temporada. Se fossem apenas um atleta, isso daria 8,2 minutos por partida, e isso só aconteceu devido a lesões de Valanciunas e Carroll, que liberaram boa parte dos 313 minutos de Bebê e Powell. Em suma: é D-League, ou fim da fila no banco de reservas. Se tudo der certo no time de cima, essa é uma condição que deve ser mantida por um bom tempo, a não ser que deem sinal de progresso nos treinos ou na liga menor.

No fim, como Ujiri vai aproveitar esses jogadores é o que pode definir seu trabalho.

Olho nele: Bismack Biyombo.

Biyombo, mas pode chamar de protetor de aro

Biyombo, mas pode chamar de protetor de aro

Se arrumar a defesa era uma prioridade do técnico Dwane Casey, a contratação do centro-africano foi uma dádiva. Se nenhum Rudy Gobert está disponível, se não havia muito espaço na folha salarial para investir pesado além de Carroll, conseguir Biyombo por menos de US$ 3 milhões foi também uma pechincha. Com baixa estatura, mas muita envergadura e força física, o pivô é uma alternativa perfeita a Valanciunas, contra pivôs mais ágeis. Sua verticalidade também funciona muito bem no novo sistema defensivo dos dinos, que tenta empurrar os atletas para o centro do garrafão, para chutes de média distância contestados pelo xerife da vez. Com Biyombo em quadra, fica mais difícil de achar a cesta: os oponentes fazem 5,6 pontos a menos por 100 posses de bola. Suas dificuldades ofensivas ainda o limitam no mercado, mas é provável que ele exerça sua cláusula – não é possível que ninguém lhe pague mais que que os US$ 2,9 milhões previstos em seu contrato. Troque Roy Hibbert por ele, e o Lakers teria um garrafão muito menos acolhedor, certamente, por exemplo.

vince-carter-dunk-elbowUm card do passado: Vince Carter. Muito óbvio? Pois é. Mas, do elenco da temporada 2000-01, a primeira e única vez em que o time venceu uma série de playoff, o então acrobático ala foi o único que sobrou na liga para contar história. Hoje não lembra em nada aquele cestinha de então, explosivo, com um conjunto de ataques enfáticos ao aro praticamente inigualável ou que, no mínimo, só permite que um Jordan, um Wilkins ou um Erving lhe façam companhia. Mas dá sua pequena, esporádica, mas honesta contribuição ao Memphis Grizzlies – o que é curioso, já que estamos falando da franquia que não teve tempo o suficiente para vingar em solo canadense, enquanto, no auge, ajudou o Raptors a se estabelecer comercialmente, enquanto ajudava o basquete a se popularizar por lá.

Para termos uma ideia do quanto valem os 15 anos que se passaram, vamos relembrar do que consistia a rotação do técnico Lenny Wilkens, então: Alvin Williams, Chris Childs, Dell Curry, Morris Peterson, Jerome Williams, Charles Oakley, Antonio Davis e Keon Clark. O último a se aposentar dessa leva toda foi Peterson, em 2011, aos 33, mas sem condições de entrar em quadra por OKC, depois de anos pouco produtivos, com muitas lesões, em New Orleans.

Naquela campanha, Carter tomou uma decisão que se tornaria extremamente controversa e, de certa forma, o empurraria anos mais tarde para fora de Toronto. Em plena semifinal de conferência com o Philadelphia 76ers de Allen Iverson, decidiu viajar para Chapel Hill para receber seu diploma universitário, por North Carolina. Precisamente no mesmo dia de um eletrizante Jogo 7, 20 de maio de 2001. A partida derradeira foi decidida apenas no último segundo, e com posse para o Raptors. Carter pediu a bola, fez a finta e foi para o chute. Deu aro, batendo na parte de trás. Tivesse acertado, seria uma jornada perfeita para qualquer marketeiro da liga: imagine só, você não só estava falando de um superastro em quadra como de um aluno comprometido. Mas não aconteceu, e, de modo inevitável no mundo esportivo, o ala passou a ser questionado com frequência. A equipe ainda voltou aos playoffs em 2002, mas caiu diante do emergente Detroit Pistons que ganharia o título dois anos depois. Seria ladeira abaixo a partir daí, e a amargura da torcida, as derrotas e um ressentimento retribuído por Carter resultaram numa troca do astro com o New Jersey Nets na temporada 2004-05.


Magnano se preocupa com panorama nebuloso para os brasileiros da NBA
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Giancarlo Giampietro

Huertas, Magnano, Felício e poucos minutos

Huertas, Magnano, Felício e poucos minutos

Não é hora para pânico. Ainda. Pois as Olimpíadas serão disputadas em agosto, daqui a menos de seis meses. Mas que é alarmante o contexto da seleção brasileira masculina, não há dúvida.

As semanas da opressora temporada regular da NBA avançam, e o panorama da volumosa legião brasileira por lá segue nebuloso. Nenhum deles é protagonista – mas isso não vem de agora. O problema é o tempo de quadra consideravelmente reduzido, pelas mais diversas razões. Raulzinho é o único que tem mais de 20 minutos em média por partida (20,5), mas menos da metade do tempo regulamentar da liga.

O que leva Rubén Magnano a coçar a cabeça, ao retornar de seu giro pelos Estados Unidos, para falar tête-à-tête com a trupe. Em conversa com Fábio Aleixo, aqui do UOL Esporte, citando Marcelinho Huertas e Anderson Varejão como “os que mais preocupam”. O argentino chegou a sugerir a eles que procurassem novos clubes, para que pudessem jogar mais, pensando na forma física no momento em que forem convocados para as Olimpíadas. O prazo para trocas na NBA se encerra no dia 18 de fevereiro, próxima quinta.

“Eles sabem disso. Vamos ver como fica esta história [de troca de times, que acontece anualmente no meio da temporada]. Seria muito bom se conseguissem algo. Dei o meu parecer e a minha ideia, tivemos uma conversa muito aberta. Mas não sou eu que vou fechar o negócio”, afirmou. “Todos sabem como funcionam as coisas na NBA.”

Magnano se encontrou com Splitter mais uma vez nos Estados Unidos. Diz que as visitas "não têm preço". Será? Com a CBB endividada, fica a dúvida sobre a real importância dessa visita. Houve um tempo em que a seleção estava distante dos atletas. Mas o constante contato nas últimas temporadas já deveria ter bastado para se criar uma cultura. Além do mais, era realmente necessário que o treinador conversasse com eles, pessoalmente, para falar sobre a importância de se jogar uma Olimpíada? E mais: do ponto de vista prático, fevereiro ainda é muito cedo para uma temporada da NBA. Um "sim" dito agora pode não ter valor nenhum daqui a quatro ou oito semanas, com muitos jogos importantes pela frente. Peguem a situação de Splitter como exemplo: se a necessidade de uma cirurgia se confirmar, muda tudo em relação ao bate-papo dos dois. São muitas variáveis em jogo. Enfim...

VALE A VISITA? – Magnano se encontrou com Splitter mais uma vez nos Estados Unidos. Diz que as visitas “não têm preço”. Será? Com a CBB endividada, fica a dúvida sobre a real importância dessa visita. Houve um tempo em que a seleção estava distante dos atletas. Mas o constante contato nas últimas temporadas já deveria ter bastado para se criar uma cultura. Além do mais, era realmente necessário que o treinador conversasse com eles, pessoalmente, para falar sobre a importância de se jogar uma Olimpíada? E mais: do ponto de vista prático, fevereiro ainda é muito cedo para uma temporada da NBA. Um “sim” dito agora pode não ter valor nenhum daqui a quatro ou oito semanas, com muitos jogos importantes pela frente. Peguem a situação de Splitter como exemplo: se a necessidade de uma cirurgia se confirmar, muda tudo em relação ao bate-papo dos dois. São muitas variáveis em jogo. Enfim…

Sim, o desejo de Magnano não conta quase nada perante o plano de cada uma das 30 franquias da liga americana, ou de Lakers e Cavaliers, no caso. Os rumores pelos bastidores indicam que o Cavs até vem sondando o quanto Varejão desperta de interesse do mercado. Mas o assunto não está pegando fogo.

De qualquer forma, na frase do técnico da seleção, acho que a ênfase deve ficar em “mais”: aqueles que mais preocupam. Não quer dizer que a situação dos demais brasileiros seja tranquila. Aliás, pelo contrário. As notícias envolvendo Tiago Splitter são ainda alarmantes. Como o Atlanta acaba de admitir, o catarinense pode passar por uma cirurgia no quadril. Nenê teve sua campanha sabotada, desta vez, por conta da panturrilha. Enquanto isso, em Toronto, Lucas Bebê voltou a sumir de quadra com o retorno de Jonas Valanciunas, enquanto Bruno Caboclo segue como um projeto de longo prazo, com a D-League servindo como laboratório. Cristiano Felício tampouco joga pelo Bulls.

E aí?

Bem, antes de julgar, é importante entender o que se passa com eles – pois já dá para ver por aí os comentários oportunistas – ou, digamos, bastante “desapegados aos fatos” –, prontos para desqualificar esses atletas, sem entender diferentes particularidades que os cercam. O fato de essa galera não estar jogando muito agora não significa de modo algum que não sirvam. Antes de abordar cada situação especificamente, há um ponto em comum que une Splitter, Varejão e Nenê e outro para Felício, Bebê e Caboclo.

O primeiro trio é composto por trintões, não podemos nos esquecer. Isso não quer dizer que estejam acabados. Eles têm muita lenha para queimar ainda. Só não são os mesmos jogadores de quatro ou cinco anos atrás, principalmente do ponto de vista atlético. Não há como brigar contra isso, e até um Kobe Bryant se mostra mortal.

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Já a segunda trinca está do outro lado do espectro: jovens talentos garimpados pelos scouts da liga, ainda em formação. O leitor mais crítico pode observar que, ao 23, Felício e Bebê são três anos mais velhos que calouros superprodutivos como Karl-Anthony Towns, Kristaps Porzingis e Jahil Okafor. Ou que têm a mesma idade de Kyrie Irving, Victor Oladipo, Harrison Barnes, Jordan Clarkson, Jared Sullinger, Valanciunas, entre outros. Mas é injusto comparar. Cada um caminha no seu ritmo. Bebê saiu cedo para a Europa, perdeu quase um ano entre negociações com Atlanta, problemas no joelho e o retorno ao Estudiantes. Na temporada passada, também só treinou. Felício passou pelo Oregon por um ano e, no Flamengo, mal tinha a bola para atacar. E por aí vai. São crus para o jogo em alto nível, mas ainda vistos como atletas de potencial por suas franquias.

“Temos jogadores jogando muito pouco e que são muito importantes. Pode ser que isso mude a partir de agora. Quero que os atletas cheguem com uma boa minutagem, e isso é o que mais preocupa. Não é tão fácil trocar o chip de uma hora para outra. Temos de colocar todos na mesma sintonia”, diz.

Contra o LAkers, na quarta, Varejão recebeu 19 minutos e somou oito pontos e seis rebotes, cometendo quatro faltas. Kevin Love saiu de quadra com uma contusão no ombro, e aí abriu-se espaço na rotação. Chance para os olheiros das outras equipes verem o que Anderson ainda tem para vender

Contra o Lakers, Varejão recebeu 19 minutos e somou oito pontos e seis rebotes, cometendo quatro faltas. Love saiu de quadra com uma contusão no ombro, e aí abriu-se espaço na rotação. Chance para os olheiros das outras equipes verem o que Anderson ainda tem para vender

Essas questões interferem na convocação do time de Magnano, ou deveriam interferir, se me permitem opinar. Lesões, falta de ritmo… Você não tem garantia de que, em 40 dias de treinos e testes, vai superar isso. Talvez o mais prudente, então, na hora de elaborar a lista, seja pensar em mais nomes, algo mais amplo. Em sua rotina extremamente exigente de treinos, o técnico tem de botar esses caras para correr, mas sem quebrá-los. Desenferrujar não é a única questão. Tem mais: você precisa de alternativas e de competição para definir os 12 olímpicos.

Do seu lado, contudo, o argentino não parece tão inclinado a isso. Não dá para esperar novidades. “Agora não vou fechar nomes ou possibilidades. Mas claro que hoje tenho bem definido um grupo de jogadores que posso chamar pensando não apenas na seleção do Brasil neste momento, mas também o que podem representar no futuro”, analisou.

É um dilema, sem dúvida. Convocar por currículo, por nome, ignorando temporada pouco produtiva, não deveria ser a regra. Mas, a essa altura, também pode soar como loucura advogar por mudanças drásticas na relação, pensando na experiência acumulada pelo núcleo usual de Magnano. Só é preciso respeitar as condições de jogo de cada um, do ponto de vista físico, médico.

Em sua entrevista, o treinador fala que quer o Brasil jogando sempre no mesmo horário durante as Olimpíadas, que já assegurou a presença de uma comitiva de familiares nas arquibancadas e um pouco mais sobre o planejamento até o #Rio2016. Pode conferir lá. Abaixo, vamos tentar entender o que se passa com os brasileiros da NBA:

Anderson Varejão
Vai chegar ao torneio olímpico beirando os 34 anos
Na temporada:
31 jogos, 10,0 minutos, 2,6 ppj e 2,9 rpj
Projeção por 36 min: 9,3 ppj, 10,6 rpj, 2,3 apj, 1,3 roubo
O capixaba está numa das rotações interiores mais congestionadas da NBA, em tempos em que os pivôs vão perdendo espaço para jogadores mais flexíveis. Quer dizer: não só tem de brigar por espaço com Kevin Love, Tristan Thompson e Timofey Mozgov, como verá LeBron James ocupar minutos por ali, assim como o veterano Richard Jefferson. Se você for pegar os números projetados, Anderson tem entregue, em tempo limitado, mais ou menos aquilo que apresentou durante toda a sua carreira. A dúvida que fica, mais séria, é sobre sua mobilidade, que sempre foi um de seus grandes diferenciais, assim como o instinto e a inteligência. O pivô se recuperou de uma cirurgia no tendão de Aquiles no ano passado, o que é um desafio (independentemente do que Kobe Bryant e Wesley Matthews façam em Los Angeles ou Dallas). Fica difícil. Conforme já dito, o Cavs faz sondagens de mercado para se há um negócio interessante pelo brasileiro. Caso fique em Cleveland, é grande a chance de que esteja envolvido com a liga até o início de junho, época das finais. http://www.basketball-reference.com/players/v/varejan01.html#per_minute::none

Leandrinho
Fez 33 anos em novembro passado
Na temporada:
39 jogos, 14,9 minutos 6,6 ppj, 1,4 apj, 1,4 rpj, 36,5% de 3pt
Projeção por 36 min: 15,9 ppj, 3,4 apj e 3,8 rpj

Leandro, e seu novo visual. Mas o papel no time é o mesmo do ano passado

Leandro, e seu novo visual. Mas o papel no time é o mesmo do ano passado

O ligeirinho está toda hora na TV e até os marcianos sabem que ele é uma peça complementar num dos melhores times da história do basquete, tendo a confiança dos treinadores e um respaldo imenso no vestiário. Não é o foco no ataque da segunda unidade, como em seu auge pelo Phoenix Suns, mas ainda põe fogo em quadra e se encaixa perfeitamente numa proposta intensa de jogo. A dúvida aqui é saber até quando vai se estender a jornada do Warriors. Ao que tudo indica, estarão jogando no início de junho, sendo que as Olimpíadas começam no dia 6 de agosto. A despeito da ascensão de Brandon Rush e de uma torção no ombro, ele tem hoje a mesma média de minutos da temporada passada. Seus números por 36 minutos também são muito semelhantes aos que produz desde que entrou na liga em 2003.

Marcelinho Huertas
Completará 33 anos em maio
Na temporada: 29 js, 11,4 mpj, 2,7 ppj, 2,4 apj, 1,1 turnover, 29,6% de 3 pts
Projeção por 36 minutos: 8,5 ppj, 7,7 apj, 1,4 roubo, 3,6 turnovers
O Lakers tem um elenco fraco. Está na cara isso. Mas as posições perimetrais contam com um certo sr. Bryant e dois garotos que são as grandes apostas para logo mais. E ainda tem o Lou Williams, fominha que só, mas um cestinha oportuno. O brasileiro foi contratado, em tese, para ajudar Russell e Clarkson e, eventualmente, colaborar com a organização da segunda unidade. Durante a pré-temporada, Byron Scott se empolgou com sua capacidade de liderança em quadra. Essa empolgação não durou muito… Mesmo com o time totalmente desfragmentado, o brasileiro vem sendo utilizado de maneira esporádica. (E, por favor, essa história de toco, roubo de bola, drible… Torcida pode gostar disso, mas, em discussões mais sérias, não cabe.)

Nenê é relevante para o Wizards. Mas está limitado pelo corpo

Nenê é relevante para o Wizards. Mas está limitado pelo corpo

Nenê
Completará 34 anos em setembro
Na temporada: 28 js, 18,8 mpj, 8,8 ppj, 4,4 rpj, 1,4 apj, 53,6% nos arremessos
Projeção por 36 minutos: 16 ppj, 8,3 rpj, 2,7 apj, 1,8 roubo e 1,0 toco
Como podemos ver, o são-carlense ainda segue muito eficiente, fazendo um pouco de tudo em quadra. Suas estatísticas, por 36 minutos, são praticamente idênticas ao que produziu na carreira. O grande problema é que o técnico Randy Wittman simplesmente não sabe quando pode contar com os seus serviços, e aqui acho que nem vale citar uma ou outra lesão específica – a panturrilha é o que mais incomoda neste campeonato. Nenê já enfrentou tantos problemas físicos nos últimos anos, que o baque pode ter um foco ou outro numa semana, mas o baque é geral. Por isso, tem seus minutos controlados e é poupado em ocasiões de duas partidas em duas noites. Não obstante, a ideia para o time neste ano era adotar uma formação mais baixa, com três alas ao redor de Marcin Gortat. Outro ponto: Nenê vai ser agente livre ao final do campeonato. A questão de seguro ficará ainda mais cara e complicada.

Raulzinho
Vai fazer 24 anos em maio
Na temporada: 51 js, 20,5 mpj, 6,2 ppj, 2,5 apj, 1,5 rpj, 39,6% de 3 pts
Projeção por 36 minutos: 10,9 ppj, 4,3 apj, 2,7 rpj, 1,5 roubo.
Vamos deixar Magnano falar um pouco a respeito? “Com certeza em seis anos que estou na seleção você nunca me escutou falar de titulares. Tem jogadores que abrem o jogo, outros que terminam. Eu não tenho nenhuma preocupação quanto a isso. A minha única preocupação é que o cara renda na hora do jogar. Tenho exemplos muito claros disso e um deles é o próprio Raulzinho, que contra a Argentina, na Copa do Mundo, entrou e teve ótima atuação”, afirmou o argentino, a Aleixo, quando questionado sobre um quinteto inicial.

Tudo isso para dizer que, sim, é surpreendente e bacana que Raul tenha conseguido o posto de titular em sua campanha de calouro, com um papel bem definido na rotação, fazendo a bola girar, abrindo para o chute. Mas o brasileiro, que vem se soltando nas últimas rodadas, também está ciente de que a criação de jogadas do Utah cabe, na verdade, a Gordon Hayward, Rodney Hood, Alec Burks (quando retornar) e até mesmo a Trey Burke, seu suplente, que foi para o banco para ganhar mais liberdade na segunda unidade. Mesmo tendo disputado duas partidas a menos, Burke recebeu mais de 100 minutos de jogo na temporada. E não podemos nos esquecer da lesão de Dante Exum.

Raul, o único titular. Mas por circunstâncias

Raul, o único titular. Mas por circunstâncias

Tiago Splitter
Fez 31 anos há pouco, em janeiro
Na temporada: 36 js, 16,1 mpj, 5,6 ppj, 3,3 rpj
Projeção por 36 minutos: 12,5 ppj, 7,5 rpj, 2,2 apj, 1,1 roubo e 1,1 toco
O início mais tímido de Splitter em Atlanta, com poucos minutos, poderia sugerir as dificuldades normais de adaptação a um novo time e elenco, mesmo que houvesse uma lacuna clara no garrafão. Em tese, o encaixe com Horford e Millsap era perfeito. Mas não era só isso. Ele perdeu sete jogos entre novembro e dezembro. Mais quatro entre dezembro e janeiro. Agora, em fevereiro, aí que a coisa ficou mais séria, com mais seis jogos fora. Finalmente, o clube revelou o que se passava com o catarinense, e a notícia não é boa: as dores no quadril são tão fortes que podem pedir até uma cirurgia. Ao final deste período prolongado de descanso e tratamento, será reavaliado. Mike Budenholzer e Magnano, claro, esperam que não seja necessário. Pois, limitado nos movimentos, o pivô ainda foi útil ao Hawks, causando ótimo impacto defensivo.

Caboclo, Bebê e Felício
Os mais inexperientes até agora não somaram nem 160 minutos de jogo. Desta cota passageira, Bebê é responsável por 85,3%, e, nas poucas chances que teve, foi bem. Desde a virada do ano, porém, só foi acionado sete vezes por Dwane Casey. Só contra Denver, em 1º de fevereiro, que ganhou 14 minutos, quando seus companheiros foram destroçados por Nikola Jokic no primeiro tempo, e o treinador se viu obrigado a buscar novas opções.

Para Caboclo, isso já representaria um recorde, ainda assim. A maior rodagem que o ala ganhou até agora foi, conforme o esperado, na D-League. Entre idas e vindas entre o Raptors A e o B, acumula 797 minutos em 24 partidas,com 32,5 por rodada. Médias de 13,6 pontos, 5,8 rebotes, 1,5 assistência e 1,8 toco, matando 34,4% de três pontos e apenas 38% dos arremessos no geral. É preciso cuidado na hora de avaliar esses números, já que as estatísticas da liga são infladas pela natureza peladeira de 95% de seus jogos. Além disso, no caso do ala brasileiro, é difícil encontrar o equilíbrio entre prepará-lo para um eventual papel reduzido que possa ter na NBA o quanto antes e, ao mesmo tempo, lhe dar liberdade para expandir seus talentos ofensivos, aprendendo com erros e acertos em quadra. Lucas, por seu lado, teve mais 179 minutos com a equipe de baixo em sete partidas.

Em Chicago, Felício entrou em um vestiário lotado de ótimos pivôs. Por isso, mais treinava do que qualquer outra coisa. Sem uma franquia na D-League, o Bulls demorou um pouco para enviá-lo. Quando a chance chegou, a revelação do Minas Tênis se esbaldou, mostrando que os treinos ao menos foram proveitosos. A lesão sofrida por Joakim Noah e a cirurgia complicada por que passou Nikola Mirotic deixam o time enfraquecido e a perigo. Será que, em um momento complicado, o brasileiro vai para quadra? Não é tão simples assim. Cameron Bairstow e Bobby Portis ainda estão na fila.


Como foi a estreia de Caboclo e Bebê pelo Raptors “B”? Vídeo e observações
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Giancarlo Giampietro

Luas e Bruno retornam a Fort Wayne, mas agora com garantia de minutos

Luas e Bruno retornam a Fort Wayne, mas agora com garantia de minutos

Galera, antes de mais nada, fica o aviso: os jogos da Liga de Desenvolvimento da NBA estão todos disponíveis, gratuitamente, no YouTube e no site oficial do campeonato. Dá para assisti-los ao vivo ou on demand. Agora, isso não fez dessa missão algo fácil: pois o nível do basquete ali pode ser uma dureza de se aturar.

Mas, se é na D-League que Bruno Caboclo e Lucas Bebê vão realmente jogar, com largo tempo de quadra e a liberdade para criar e errar, este é um sacrifício que vamos ter de fazer, né? Analistas, torcedores e, claro, Rubén Magnano.

Pois, lembremos. Todas as notas colocadas aqui, para falar sobre a primeira aventura de Bruno por essas bandas, ainda valem: por mais que a liga caminhe numa direção saudável, para que cada uma das franquias da NBA tenha sua filial, resultando em maior controle sobre o produto apresentado, a grande maioria de suas partidas ainda vai parecer um confronto de bandoleiros.

>> As anotações de um scout da NBA sobre Caboclo, Bebê e Felício
>> Nada de férias! Análise sobre a liga de verão de Bruno Caboclo
>> Nada de férias! Análise sobre a liga de verão de Lucas Nogueira
>> Problemas dentro e fora de quadra: desenvolvimento intrincado

São diversas razões para se compreender esse cenário, e a questão financeira talvez seja a principal delas. Os jogadores que frequentam esse universo ainda ganham em geral muito mal. Seth Curry, por exemplo, que botou fogo na temporada passada, recebeu menos de US$ 50 mil por contrato, até ser chamado por alguns clubes como Grizzlies e Suns e faturar um troco a mais. Por isso, é natural que muitos dos atletas ali em atividade estejam desesperados para receber uma promoção. O que pode gerar uma vibração um tanto individualista em quadra, com gente perseguindo números e façanhas, sem se importar muito com o sucesso da equipe como um tudo.

(Se isso funciona? Claro que não. Os scouts da NBA não estão avaliando estas partidas para descobrir o próximo Michael Jordan. É muito mais provável que seus times estejam precisando mais de um Jud Buechler ou de um Bill Wennington. Ou isso, ou vão atrás de caras mais jovens com potencial atlético de primeiro nível, com a esperança de que seus treinadores possam transformá-los em jogadores efetivos de rotação. Algo que o Warriors fez muito de uns tempos para cá.)

Por mais que os dirigentes do Raptors 905 – ou, o Raptors “B” – se esforcem para montar o melhor elenco possível, a verdade é que, nesse contexto, a mão-de-obra mais qualificada que não tenha deslocado um contrato garantido com a grande liga tende a procurar mercados no exterior, de olho na Europa ou na China. Não sobram taaaaantos jogadores assim para se formar um belo time.

Tudo ainda é um trabalho em progresso para Bruno e o Raptors B

Tudo ainda é um trabalho em progresso para Bruno e o Raptors B

De qualquer forma, no caso do clube fundado em Mississauga, a 22 km de Toronto, a prioridade indiscutível é o progresso da dupla brasileira. O clube comprou sua filial basicamente para que eles possam se testar e serem testados. Claro que não é de uso exclusivo dos brasileiros, mas todo o processo foi acelerado para que Caboclo e Bebê tenham onde jogar. Basicamente isso, ainda mais depois das frustrações encaradas na temporada passada, quando o Fort Wayne Mad Ants não se mostrou tão receptivo assim para utilizar o caçulinha, assim como o jogador deu trabalho nos bastidores, incomodado tanto pela falta de tempo de quadra como pela diferente realidade que encontraria na D-League, em termos de logística, digamos.

Neste ano, com o time de Dwane Casey entrando no páreo novamente com aspirações elevadas, é muito pouco provável que eles deem as caras no time principal. Com DeMarre Carroll, Luis Scola, Bismack Biyombo, Anthony Bennett e mais dois calouros (Norman Powell e Delon Wright), a rotação ficou muito mais forte. Para que eles sejam utilizados, só no caso de excesso de lesões ou de um progresso a passo largo da dupla.

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A diferença agora é que não há mais desculpas. Todo o estafe comandado por Jesse Mermuys, ex-Raptors e Rockets, vai operar sob diretrizes diretas de Masai Ujiri e Casey. O objetivo, aqui, não é vencer e vencer. Mas, sim, desenvolver seus jovens talentos e, aí, sim, se tudo der certo, fazer uma boa campanha.

A jornada começou neste sábado, ironicamente em Fort Wayne, contra o Mad Ants, clube que agora pertence ao Pacers, mas que, na temporada passada, era dividido por mais de uma dezena de franquias, e daí a confusão na hora de se aproveitar os prospectos para lá enviados.

O time da casa venceu por 83 a 80, em partida definida num buzzer-beater. Já deu para ver que Caboclo e Bebê terão espaço para expandirem seu repertório e colocar em prática os trabalhos de fundamento especializados que fizeram com os técnicos do Raptors na temporada passada e também durante as férias. Por exemplo, já tem jogada desenhada para que Bruno finalizasse a partir de uma reposição de bola, envolvendo seu compatriota, por sinal. Vejam:

De qualquer forma, para que os rapazes rendam bem, é preciso que o time esteja organizado – se é que isso vai acontecer, dada a natureza volátil dos elencos e da liga. E, sim, não dá para pedir química de um grupo que foi reunido há menos de um mês e com o qual os dois jovens brasileiros nem treinam em tempo integral. Nessa estreia, o time acertou apenas 40% de seus arremessos de quadra, com 27% de longa distância, conseguiu apenas 14 lances livres e teve o mesmo número de assistências e turnovers (19). De todo modo, tanto Bruno como Lucas foram bem, deram um primeiro passo positivo, com detalhes importantes para serem corrigidos com o tempo.

Do que deu para ver nessa primeira amostra, dá para entender que seus biótipos são aqueles que Ujiri mais valoriza: o time “B” canadense está povoado de atletas longilíneos e ágeis. O ala Michael Kyser, por exemplo, lembra muito Caboclo, que, por sinal, já deve ter batido a casa dos 2,08m de altura.

Seguem, então, alguns clipes e observações sobre a dupla:

Bruno Caboclo
Quanto melhor o time estiver se entendendo, é de se esperar que mais chances ele tenha para atacar em movimentações coordenadas. Por ora, Caboclo ainda não vai pegar a bola, colocá-la no chão e atacar por conta própria. Foram raras as situações em que esse tipo de investida aconteceu neste sábado. A boa notícia é que, quando conseguiu partir para o garrafão, em geral teve sucesso. Vejam essas duas bolas ainda no primeiro período. A primeira veio com direito a giro e finalização em conversão:

Nesta segunda, ele improvisa e consegue converter um arremesso de grau elevado de dificuldade. Não foi a melhor decisão com a bola, mas funcionou – se formos descontar o fato de que ele dá uma passada a mais com a bola, o que aconteceu por ter parado de driblar muito cedo, mesmo que C.J. Fair tenha oferecido um corredor:

E por que deu certo? Além da conivência da arbitragem, repare que em ambas as situações a passada extensa e a envergadura de Bruno o ajudam muito. Especialmente na segunda bola, em que se vê pressionado por Fair e pela cobertura de Rakeem Christmas vindo do lado contrário. Espremido na quina esquerda tabela, consegue soltar a bola por cima de dois defensores bastante atléticos (e muito bem treinados por Jim Boeheim, de Syracuse).

Tomara que não tarde a acontecer que o caçula brasileiro pratique o desapego em relação aos chutes forçados, ainda mais de longa distância. Ainda que, realisticamente, o chute da zona morta seja aquele de maior probabilidade que terá a serviço do time principal, no nível da D-League não faz sentido que ele fique estacionado na linha perimetral, por seguidas e seguidas posses de bola, como mero espectador. Dada a sua ansiedade, quando entrou na linha de passe, o ala se precipitou em diversas ocasiões para dispará-la. Aqui, as únicas duas ocasiões em que o chute rápido, com mecânica elevada e arco fluido, foi certeiro:

No geral, porém, o brasileiro converteu apenas duas em nove tentativas (22,2%), e não por não saber arremessar, mas, sim, por ter se perdido na seleção de disparos. Seja de primeira, com a bola pegando fogo na mão, ou a partir do drible, com direito até a um ousado passo para trás que resultou numa falha feia:

Nem todo mundo é Stephen Curry, Kevin Durant, James Harden ou Carmelo Anthony nesta vida. É aquela bola que pode valer highlight quando cai, mas em geral resulta em pedradas, mesmo. Pois não é fácil. Naaaaada fácil.

Esse tipo de gana pela cesta deve ser dosado aos poucos por Mermuys. Dá para entender de onde vem isso. Estamos falando de um jogador que mal entrou em quadra na temporada passada e que tem apenas 20 anos e pouca ou quase nenhuma rodagem em competições de alto nível. Ainda assim, foi escolhido pelo Raptors numa primeira rodada de Draft e encara, ao seu modo, alguma pressão. Quer provar que é jogador, que o que está fazendo nos treinos já rende frutos, que isso e aquilo. Por outro lado, a comissão técnica e a diretoria têm de cuidar para que o atleta não adquira maus hábitos, que não lhe ajudarão em nada na liga. Uma coisa é tentar ser assertivo, outra, inconsequente.

E não é que Bruno não estivesse olhando seus companheiros. Terminou a partida com quatro assistências, o que o torna basicamente um Magic Johnson quando comparado ao ala Scott Suggs – esse, sim, um fominha profissional.  O ala de 26 anos, revelado pela Universidade de Washington, passou pelo basquete francês na temporada passada e foi testado por Orlando e Miami durante as ligas de verão. Se for para julgar por uma só partida, dá para entender o porquê de não ter ficado. Suggs tratou a bola como se ela fizesse parte de seu corpo e só pudesse ser desencaixada se fosse para um arremesso. Para o volume de jogo, de 20 disparos em 39 minutos e muitos, mas muitos dribles, que ele tenha acabado o duelo sem nenhuma assistência é algo cômico. Ou doentio, escolham.

O mais interessante foi que Caboclo deu duas belas assistências quando também estava em progressão para a cesta, mostrando que, aos poucos, o jogo começa a desacelerar em sua cabeça, e novas perspectivas vão se abrindo, até mesmo como coordenador de um pick-and-roll:

Os números finais de Caboclo: 16 pontos, 13 rebotes, 4 assistências, 3 roubos, 2 turnovers e 6-16 nos arremessos de quadra. Para um jogador que por vezes só corria em quadra de um lado para o outro e, quando recebia a bola, poderia se precipitar com ela, sua linha estatística não saiu nada mal e dá suculentas dicas sobre o seu potencial.

Um parêntese sobre os rebotes: o brasileiro se posicionou bem, salta do chão rapidamente, tem braços enormes, mas em muitas ocasiões simplesmente não estava disputando com ninguém perto de sua cesta (foram 10 defensivos).  Vamos acompanhar a temporada para ver o qual será o nível de produção nesse sentido. Sobre a defesa, em geral, ele se mostrou desatento, dando muita distância para seu oponente, confiando que iria se aproximar devido aos braços e pernas compridas. Nem sempre aconteceu. Fato é que alguém com sua envergadura, mãos e mobilidade precisa flutuar mais próximo ao aro, para coisas como esta acontecerem:

Lucas Bebê
O jogo teve uma dinâmica diferente para o pirulão, que esteve limitado a 21 minutos de ação devido ao excesso de faltas (cinco). Foram duas no primeiro período, com pouco mais de cinco minutos de jogo, e uma terceira logo que ele voltou para a quadra no segundo período, com menos de dois minutos disputados. Para piorar, a quarta saiu quando restavam 9min58s para o fim do terceiro. Quer dizer, ele perdeu basicamente dois quartos de ação. Isso, depois de ter começado muito bem a partida, aprontando coisas assim:

 

Que tenha se perdido com faltas e refreado uma arrancada foi uma pena. O que isso indica? Ferrugem, claro. Falta de ritmo e também sua própria ansiedade, quando ia um pouco além na tentativa de fazer um desarme ou quando saltava antes do tempo para buscar o toco – para alguém de sua envergadura, a verticalidade da qual Roy Hibbert virou símbolo na época de Pacers talvez já fosse o bastante para impedir a cesta ou até mesmo um arremesso. Mais: o carioca ainda sofre com os trancos de jogadores mais fortes e físicos, como Rakeem Christmas, draftado por Cleveland e repassado a Indiana. Ao tentar compensar, pode se ver punido com o apito.

Bebê parte para a bandeja: acionado sempre de frente para o aro

Bebê parte para a bandeja: acionado sempre de frente para o aro

Bebê, ao que parece, nunca vai ser uma fortaleza de jogador, como contraponto a outras figuras recentes que construíram um corpanzil que contradizia o apelido infantil, como Nenê e Baby. Fazer a defesa pela frente, tentando tirar a linha de passe para seu oponente, é o melhor caminho, então, ainda mais com sua agilidade e seus braços compridos. Mas ainda lhe falta força na base para ao menos se proteger de atletas que buscam o contato. Depois das seguidas lesões dos últimos anos, e tão jovem, fica a dúvida também sobre seu condicionamento físico para encarar longas viagens, jogos corridos e pancadaria.

Por que uma coisa está clara, desde a sua breve passagem pelo Mad Ants na temporada passada: se não tiver problemas com faltas, o pivô vai ser candidato ao prêmio de defensor do ano neste nível de jogo. Christmas, que tem sua idade, foi um adversário desafiador, com 24 pontos e 7 rebotes em 32 minutos, com 11-19 nos arremessos. Mas tem sete centímetros a menos e não é tão rápido ou veloz como o brasileiro.

Lucas intimida quando bem posicionado no garrafão. Mesmo quando foi muito além em uma cobertura ou no deslocamento para fechar espaços ao redor do garrafão, tem o pacote atlético que lhe permite a recuperação e a proteção do aro. Mas não é só uma questão de biótipo. Quando concentrado, o pivô apresenta timing excepcional e ainda tem uma capacidade admirável e muito valiosa para dar tocos com as duas mãos, dependendo do lado e do ângulo de ataque. Que tal dois bloqueios com a canhota?

O legal também é notar como o cabeleira sai em disparada uma vez executada a ação na defesa. Bebê acelerou sempre que pôde, como deve fazer. Imagino que seja algo planejado, sugerido por Mermuys, e faz muito sentido. Poucos vão poder apostar corrida com ele.   O que não significa que Lucas seja um jogador de uma nota só. Ou melhor, de um pique só.

Em meia quadra, sendo acionado sempre de frente para a cesta e bem longe de movimentos de post up, ele já tem habilidades muito interessantes, sendo a principal dela a habilidade para concluir o pick-and-roll com elevado índice de acerto. A outra é a visão de quadra. Desde os tempos de Estudiantes que ele se mostra capaz de servir aos companheiros na cabeça do garrafão. Neste primeiro jogo da nova temporada, deu para perceber um novo elemento: ele está autorizado para por a bola no chão e atacar. E aí que lances lindos como este podem surgir:

Tenham em mente que esta infiltração terminada em passe foi feita por um jogador de 2,13m de altura, em meio ao tráfego. Joakim Noah teria ficado orgulhoso, convenhamos. Não foi um lance isolado. Tanto na saída em transição como no ataque em meia quadra, o espigão ganhou liberdade para avançar. Saibam que, quando mais jovem, no Estudiantes, isso seria algo impensável, e talvez muito mais pelo conservadorismo de seus treinadores do que por limitações suas.

Não é que sempre tenha dado certo. Os dois turnovers de Lucas no jogo vieram justamente em situações nas quais foi para o drible. O primeiro foi uma falta ofensiva, quando atropelou um adversário no limiar do semicírculo (por outro lado, foi mais uma jogada em que foi capaz de bater a primeira linha defensiva e ganhar o garrafão, faltando aí a percepção do que estava literalmente a sua frente). O segundo foi na última posse de bola do Raptors 905, a 3s9 do fim, quando a partida estava empatada em 80 a 80, e eles tinham a chance de definir a parada:

A jogada estava desenhada para Caboclo, novamente, como se percebe. Acontece que o Mad Ants estava preparado para isso. Christmas e Shane Whittington, também do Pacers, dobraram para cima do ala, tendo o pivô falhado em tirar Whittington da jogada, aliás. Bebê, então, recebe o passe numa posição complicada e tenta avançar pelo fundo da quadra. Acaba desarmado. O time da casa pediu tempo, e…

Dói, né? Mas faz parte do desenvolvimento de um jogador. Em sua estreia pela D-League na temporada passada, Caboclo errou uma reposição de bola pelo Mad Ants que também lhes custou caro. Acontece. O bom é que, nesta campanha 2015-16, eles realmente terão a chance de compensar essa frustração. A segunda chance, por exemplo, já veio neste domingo, quando este artigo estava prestes a ser publicado.

Seus números finais: 11 ponto, 9 rebotes, 4 assistências, 3 tocos, 2 turnovers em 21 minutos, com 4-6 nos arremessos.

Para Caboclo, a lista de tarefas ainda é ampla e o progresso será bem gradativo, sendo que alguns dos ajustes dependem diretamente de seus treinadores e companheiros. Mais movimentações em direção ao aro, menos chutes tresloucados, mais atenção defensiva, o refinamento do drible etc. Terá espaço para isso. Para Bebê, a questão das faltas é fundamental. Se não conseguir ficar em quadra num jogo da liga menor, dificilmente vai ganhar a confiança de Casey para competir por minutos com Bismack Biyombo. Caso jogue com energia elevada, foco e deixar seus instintos o guiarem em quadra, pode fazer estragos. Nada disso é garantido, e a dupla vai ter de trabalhar duro por mais um ano mesmo que a condição de “jogador de NBA” ainda não seja ratificada para valer neste ano.

Atualização
Deu tempo de assistir ao segundo duelo entre o Raptors 905 e o Mad Ants, em Fort Wayne. Caboclo aparentemente assimilou num estalo as instruções de seus técnicos. Sua seleção de arremessos foi muito melhor, sabendo a hora de atacar e arriscar, deixando que o jogo chegasse até a ele. Ainda que seu time tenha feito uma péssima apresentação, ele foi para o jogo e marcou 25 pontos em 18 arremessos e 34 minutos, com 3-8 para longa distância. Já Bebê se atrapalhou novamente com as faltas, cometendo três no primeiro tempo. Pior: permitiu que isso entrasse em sua cabeça e passou a vagar pela quadra, reclamando de árbitros, companheiros e de si mesmo, numa frustração exagerada. Terminou com 8 pontos e 9 rebotes em 26 minutos. Imagino que vá levar um bom puxão de orelha no retorno ao Canadá.

Que Caboclo tenha feito uma bela partida neste domingo só pode pegar bem para o seu currículo. Pois havia um espectador ilustre em Fort Wayne: Larry Bird. Sim:

Larry, the Legend

Larry, the Legend

O chefão do Pacers provavelmente estava mais interessado em observar Christmas e Whittington, mas certamente tomou novas notas sobre Caboclo. Novas? É, pois é. Rumo ao Draft de 2014, posso afirmar que o Indiana era um dos clubes mais interessados no jovem brasileiro. Talvez só atrás mesmo do Raptors.


Seria Jonas Valanciunas a próxima superestrela europeia?
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Giancarlo Giampietro

Valanciunas, no quinteto ideal do EuroBasket

Valanciunas, no quinteto ideal do EuroBasket

Na NBA existe essa regra não-oficial amplamente divulgada de que, para ganhar o título, você precisa de uma superestrela. E o histórico de campeões da liga certamente corrobora a tese. O Detroit Pistons de 2004 acaba sendo a exceção que confirma a regra, embora tivesse um conjunto de excelentes jogadores, sendo que um deles tinha tudo para estar no grupo dos transcendentais (Cut that check!), não fossem os problemas de concentração. De resto, por mais que romantizemos sobre o sistema belíssimo que Gregg Popovich construiu em San Antonio, o técnico é sempre o primeiro a dizer que, sem Duncan, ele muito provavelmente seria considerado apenas mais uma besta quadrada. Isso para não falar de alguns atos heroicos de Ginóbili ou Parker.

Ok. Grandes jogadores podem até vencer partidas por conta própria, e por isso contam muito num ambiente extremamente competitivo. Mas, sozinhos, esses caras não vão conquistar um campeonato, e LeBron James e Stephen Curry podem falar algumas coisas a respeito com base no que vimos na última final da NBA. De todo modo, é isto: você precisa de talento e de um time bem preparado para chegar lá. E esse conceito ultrapassa as fronteiras da liga, como pudemos ver Copa América (hola, Luis Scola!), ainda que a Venezuela tenha sido exatamente o oposto disso. De todo modo, o time de Nestor Garcia também lembra o Pistons de Larry Brown nesse sentido, como um caso excepcional, uma vez que o torneio tinha o México de Ayón e o estrelado Canadá completando as semifinais. A tese se estende também ao EuroBasket, como o esplendoroso Pau Gasol nos mostrou.

A outra vaga olímpica ficou com a Lituânia, que prontamente apontaria para Jonas Valanciunas como um desses talentos que fazem a diferença em quadra, carregando sua seleção até a final, eleito para o quinteto ideal da competição. Seria a confirmação de uma expectativa de longa data de que o pivô seria um dos próximos grandes craques do continente. Não estou tão certo assim — pelo menos não de que vá atingir essa condição transcendental.

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Não tenham dúvida: Valanciunas já é reverenciado na Lituânia e, segundo todos os relatos em Toronto, é um rapaz muito bacana, humilde e que sente imenso prazer em jogar por sua seleção nacional. Merece todo esse carinho do retorno para casa após o EuroBasket

Não tenham dúvida: Valanciunas já é reverenciado na Lituânia e, segundo todos os relatos em Toronto, é um rapaz muito bacana, humilde e que sente imenso prazer em jogar por sua seleção nacional. Merece todo esse carinho do retorno para casa após o EuroBasket

Não há dúvidas de que Valanciunas já é muito produtivo no mais alto nível europeu: terminou o EuroBasket com 16,0 pontos, 8,4 rebotes, 1,4 toco, 59,1% nos arremessos e 85,7% nos lances livres. Em Toronto, em sua terceira temporada de NBA, também fez sua melhor campanha, atingindo seu maior índice de eficiência, somando com 12,0 pontos, 8.7 rebotes e 1,2 toco, mais 57,2% nos chutes de quadra e 78,6% na linha. Estamos falando de um jogador de apenas 23 anos. Embora já bastante rodado, o lituano é ainda  jovem, da mesma geração de Lucas Bebê, mas num estágio de desenvolvimento que nem se pode comparar. A pouca idade sugeriria que ainda há muito mais por vir. Será?

A questão é saber há muito o que desenvolver em seu jogo atual. Quer dizer: há, sim. Só não está claro se vai acontecer. Talvez o pivô possa melhorar no reconhecimento das dobras defensivas, para devolver a bola, com mais rapidez e precisão, aos companheiros de perímetro que tendem a ficar livres. Para alguém que consegue atrair marcação dupla, é alarmante que tenha apenas 143 assistências em 223 partidas pelo Raptors. No campeonato passado, apenas 3,1% das cestas de seus companheiros aconteceram depois de passes dele. Esse foi o mesmo padrão do campeonato europeu de seleções, competição em que sua presença no garrafão chama ainda mais atenção dos marcadores.

No momento, Valanciunas é estritamente um finalizador. Um ótimo finalizador, é verdade, tanto dentro do garrafão como no chute de média distância, mas que não cria tantos problemas assim para um sistema defensivo bem armado, devido a suas limitações atléticas e técnicas. Desde a ida para a NBA, parece ter seguido a trilha ‘errada’, ou ao menos a trilha menos comum do basquete de hoje. Em Toronto, passou de garotão lânguido e ágil para este massa-bruta-pancadão.

Quando enfrenta adversários peso pena ou molengas, domina. Que o diga Andrea Bargnani, contra quem se esbaldou nas quartas de final, com 26 pontos e 15 rebotes, acertando 11 de 13 arremessos. Quando a oposição é mais qualificada, seja pela força física e/ou capacidade atlética, seu jogo fica muito mais complicado. Abaixo, veja um clipe com algumas de suas jogadas contra a Itália e perceba com os números dificilmente contam toda a história. A defesa interior azzurra foi uma verdadeira piada, e o mérito de Valanciunas foi saber aproveitar tantos buracos:

Ainda assim, não salta aos olhos o quanto ele precisa batalhar para pontuar em situações de mano a mano? Bandejas livres debaixo do aro não contam. Não sei bem se “dificuldade”, na verdade, é o melhor termo, levando em conta seu aproveitamento de quadra. Mas é que parece tudo muito custoso, mesmo, para alguém que hoje tem movimentos muito robóticos, com um jogo de pés bem fundamentado, mas muito lento. É o tipo de ação que podem muito bem ser contestadas por gente de maior envergadura ou coração. Se você deixá-lo trabalhar próximo da cesta, contra um pivô lento ou mais baixo, vai ter problemas, porque ele consegue se impor fisicamente, de costas para a cesta.Se abrir um corredor para ele no pick-and-roll, dãr, é óbvio que ele vai pontuar.

Agora, se a defesa mandar dobras velozes vindas do lado da bola, para forçar que se livre dela. Se, na cobertura da jogada em dupla, você puxar um defensor do lado contrário e desviá-lo de sua rota, ele, hoje, fica em xeque, por dois fatores: a visão de quadra pouco privilegiada e a mobilidade reduzida, com deslocamentos laterais praticamente inexistentes. Um corpo qualquer em seu caminho é um tremendo obstáculo. Para os lituanos mais críticos que o acompanham há mais tempo, o sentimento é de potencial desperdiçado, ou subaproveitado.

“Gostava mais de Jonas quando o dirigia em Rytas. Ele era mais flexível, mais magro, mais rápido e mais ágil. Simplesmente me lembrava de um jovem Sabonis em sua idade. Agora na NBA ganhou massa e ficou mais forte. Pediram um jogo mais físico e de um contra um para ele”, afirmou Rimas Kurtinaitis, seu ex-treinador no Lietuvos Rytas e um dos grandes jogadores lituanos que esteve a serviço da União Soviética no começo de carreira, mas teve tempo de defender seu país novamente independente por dois ciclos olímpicos, subindo ao pódio em 1992 e 1996. Era tão talentoso como jogador que se tornou o único atleta de fora da NBA a participar do torneio de três pontos do All-Star, em 1989. Também virou um ótimo treinador. É uma opinião que pede respeito.

Ainda mais quando ele traz um nome sagrado como “Sabonis” para a discussão. Talvez seja exagero. Mas o ex-ala ao menos fala na condição de quem realmente viu o jovem Arvydas em ação. Se pegarmos os seus lances da época de Lietuvos Rytas, vamos ver um atleta de verdade, com outro biótipo (e não o de um magrelo, gente), leve, atacando a cesta de fora do garrafão, ganhando na corrida de ponta a ponta da quadra etc.

Agora, posto tudo isso, não vamos nos esquecer que um jogo se joga dois lados da quadra, né? Na defesa, a despeito de um toco aqui e ali, Valanciunas realmente deixa a desejar, se tornando uma peça muito vulnerável justamente devido à lentidão e também à confusão sobre onde está a bola e onde está o jogador que tem de frear. Não é um protetor de cesta como se esperaria de alguém de seu porte físico, pois não costuma se posicionar bem. Mas é longe da cesta, quando envolvido em jogadas de pick-and-roll ou pick-and-pop, que as coisas ficam graves. Contra a mesma Itália, abrindo para o chute, o próprio Bargnani marcou 21 pontos, e o estrago poderia ter sido muito maior se o pivô do Nets estivesse com a pontaria mais precisa, tendo errado um de sete arremessos de longa distância. Podem ter certeza: as falhas nos disparos não aconteceram por contestação do oponente.

De novo: a despeito de suas limitações, que lhe foram impostas, Valanciunas ainda é jovem e pode se desvencilhar, ou aprender a lidar com elas. Registrá-las aqui não se trata de uma sentença. Nesse ponto, vale lembrar que duas apostas brasileiras (Bruno Caboclo e Lucas Bebê) estão sendo bombadas por Toronto neste exato momento, ainda que sob gestão de Masai Ujiri, enquanto o lituano trabalhou no primeiro ano ainda com Bryan Colangelo como mandachuva. O desenvolvimento físico dos dois era necessário, mas é bom que também não se passe do ponto. Para o futuro da seleção brasileira, são dois talentos hoje estratégicos, como fazedores de diferença ou não. Afinal, a formação de talentos por estas bandas anda cada vez mais desacelerada.

O curioso é que na Lituânia existem queixas semelhantes. Mas que têm seu próprio contexto: eles estão acostumados com outros padrões de produção de jogadores qualificados, mesmo que sejam um país com população de menos de 3 milhões de habitantes. Basta ver a seleção que passou pela Itália e, surpreendentemente, pela Sérvia para assegurar mais uma participação olímpica.

Seibutis, Maciulis, Jankunas, Kuzminskas, Javtokas, Milaknis e afins podem não ter o apelo dos prospectos sérvios, mas são, ao seu modo, jogadores muito bem burilados, preparados e intensos, além de experientes e entrosados (seis jogadores da seleção jogaram pelo Zalgiris Kaunas na última temporada). Essa mesma base já havia chegado às semifinais da Copa do Mundo no ano passado. Formam um elenco de apoio e um conjunto muito forte em torno de Valanciunas, confiando que o jovem pivô vá levá-los longe. Ou pelo menos até onde seus músculos consigam carregá-los.


Temporada brasileira começa com urgência no desenvolvimento de talentos
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Giancarlo Giampietro

Georginho já está de volta à LDB e agora ao time adulto do Pinheiros

Georginho já está de volta à LDB e agora ao time adulto do Pinheiros

Antes de embarcar para os Estados Unidos e iniciar seus treinamentos para os Estados Unidos, aquele veloz garoto estava impressionando a todos aqui no Brasil. Leandro Mateus Barbosa ralava de igual para igual com veteranos da seleção. Ralava? Esqueça: aos 20 anos, o armador já era um dos melhores jogadores do país, com média de 28,2 pontos por partida, abaixo apenas de um Mão Santa e acima de Charles Byrd, Rogério, Vanderlei e outros da velha guarda. Isso foi em 2003, ano em que o ligeirinho se candidatou ao Draft da NBA.

Era uma época diferente. Hoje, a partir do momento em que um jogador se declara para a liga americana, entra forçosamente no radar de todos os clubes (sérios). Ainda é possível que aconteça um caso como o de Bruno Caboclo, que foi tratado até mesmo com certo desdém no momento de sua inscrição no ano passado para, depois, a menos de um mês antes do evento, gerar um pandemônio na busca por informações. Acho que nunca telefonaram tanto para o Brasil. Há 12 anos, Leandrinho precisou usar o circuito de treinos privados com os clubes para fazer seu nome nos Estados Unidos, jogando duro para valer, a ponto de tirar Dwyane Wade do sério em um teste pelo Memphis Grizzlies, para deleite de Jerry West.

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Agora isso já é quase impossível. Estar no radar da NBA significa ser escrutinado pelos olheiros. Esses caras querem assistir ao garoto máximo que puderem, seja na ‘fita’, ou, de preferência, in loco. Neste ano, a revelação mais estudada foi o armador Georginho, do Pinheiros, que, sob muitos aspectos, remete a Caboclo como prospecto: muito jovem (nascido em 1996), atributos físicos impressionantes e o tanto de projeção que se pode fazer a partir daí. Os olheiros vieram para cá para conferi-lo de perto, para que não se repetisse a loucura do ano passado, para que seus clubes não fossem pegos desprevenidos. Foram pelo menos dez franquias na área. Desta forma, passaram a conviver com outras dezenas de garotos daqui e com a LDB como um todo. Os que não cruzaram a linha do Equador tiveram a oportunidade de ver George em quatro cenários diferentes: o Nike Hoop Summit, o Draft Combine, o adidas Eurocamp e workouts particulares. Lucas Dias, Humberto Gomes e Danilo Siqueira foram os outros que se inscreveram e também passaram pela lupa, mas com menos exposição lá fora.

O Leandrinho de 20 anos: segundo cestinha brasileiro e pouco avaliado pelos scouts

O Leandrinho de 20 anos: segundo cestinha brasileiro e pouco avaliado pelos scouts

Todos eles foram avaliados, no fim, mas preferiram adiar o sonho de encarar o Draft, retirando o nome da lista. Qual o veredicto? Bem, a opinião de um ou outro scout ouvidos pelo VinteUm varia em relação ao futuro dos jogadores. Natural. De qualquer forma, houve um tópico que era consenso entre as vozes divergentes: para os olhos da NBA, os garotos deveriam sair do Brasil o quanto antes em busca de melhor desenvolvimento.

“Não me parece um caminho muito bom”, diz o vice-presidente de um clube da Conferência Oeste ao blog, ao ser questionado sobre a decisão do quarteto de retornar ao país. “Deixar o Draft não é uma decisão ruim. George muito provavelmente seria selecionado. Mas não é essa a questão. Esperava que eles levassem a carreira adiante em outro cenário.”

Esse vice-presidente acreditava que o melhor caminho era tentar uma vaga em um clube na Europa. A opinião foi compartilhada por um scout de um time da Divisão Sudoeste, no que se refere ao armador. “Acho que o ajudaria ficar no Draft e deixar o Brasil. O time da NBA que o escolhesse encontraria para ele uma boa situação na Europa, onde ele pudesse dominar o inglês. Depois, teria a D-League. E aí a NBA.”

Pessoalmente, não acho que a transição para o basquete europeu fosse tão simples assim: na idade deles, os técnicos, sempre pressionados por resultados, já esperam contar com um atleta mais preparado para render em alto nível. A busca por um clube mais paciente não seria tão simples. Com o que concorda um olheiro de um time da Divisão Noroeste, em declaração já publicada aqui. “Jogar na Europa não faz sentido para ele. Afinal, precisa de um programa de desenvolvimento e de jogar aprendendo com seus erros. Os clubes na Europa têm a mentalidade de vencer para já. Seria uma perda de tempo para ele, na minha honesta opinião”, disse. “Em primeiro lugar, a prioridade geral, para mim, era sair do Brasil. O mais rápido possível.”

Quando você lê esse tipo de declaração, o que vai pensar? Pode bater um certo desespero, não?

Lucas vem novamente dominando a LDB: é o bastante?

Lucas vem novamente dominando a LDB: é o bastante?

Mas elas precisam ser relativizadas também: os scouts da NBA estão, na grande maioria, procurando produtos prontos ou semiprontos, para chegar aos Estados Unidos (ou Canadá) agora e já oferecer algo. O nível de exigência dos dirigentes e treinadores é, em geral, elevado. A aposta do Toronto Raptors em Caboclo no ano passado foi algo raro. O clube estava consciente de que, ao contratá-lo, cru toda a vida, deveria preparar um projeto de longo prazo, sem se importar em trabalhar com o caçula por um ano inteiro em que o principal objetivo era deixá-lo mais forte e fluente em inglês. Era este o tipo de comprometimento que os agentes Eduardo Resende e Alex Saratsis, que trabalhavam com o ala até este ano, esperavam para George ou Lucas, para que eles ficassem no Draft. Não aconteceu.

Por outro lado, os scouts internacionais assistem centenas de jogos de todos os países, algo cada vez mais fácil devido a softwares como o Synergy, hoje presente no cotidiano do NBB. Provavelmente não haja público mais bem informado do que essa classe na hora de falar sobre garotos mundo afora. Em suma, eles têm um ponto de vista que não pode ser ignorado.

Além do mais, a despeito de termos reunido duas seleções neste ano, cheias de jovens, para o Pan e a Universíade, não acho que seja necessário aparecer um empregado da liga americana para afirmar que a produção de base como um todo é duvidosa, especialmente quando se leva em conta o potencial atlético do país. Nas declarações dos olheiros, o que preocupa, mesmo, é o tom alarmista das respostas.

 O que acontece?

Uma chance
Existe, claro, um problema de origem macro. A massificação parece uma utopia, sem contribuição estratégica alguma da CBB e com o investimento federal imediatista. Gasta-se muito, hoje. São bilhões. Mas os programas são massivamente direcionados ao Rio 2016, com pouco impacto a longo prazo. Além disso, mesmo a grana que sai diretamente do Ministério do Esporte para a confederação acaba sendo aproveitada da forma mais bizarra possível. Seus convênios milagrosos recentes, como os R$ 7 milhões cedidos este ano, tinham como finalidade tão somente que uma ou outra seleção pudesse treinar para uma competição específica.

A LDB dá a um jogador como Arthur Pecos a chance de assumir maior protagonismo, é verdade

A LDB dá a um jogador como Arthur Pecos a chance de assumir maior protagonismo, é verdade

Para ser justo, também não dá para esquecer que a pasta também libera a grana da LDB, uma das poucas iniciativas realmente promissoras e consistentes que temos em termos de base no país, graças à administração da liga nacional. A competição, que já iniciou sua nova edição, tem boa repercussão. Em março, em viagem para Mogi das Cruzes para assistir a jogos da quarta etapa da LDB, tive a oportunidade de rever Lisandro Miranda, um argentino que trabalha para o Dallas Mavericks há mais de dez anos. Entre os que já tive contato, é hoje o único scout sul-americano oficial da liga e está mais que habituado a visitar as quadras brasileiras. Numa conversa informal, elogiou muito o progresso que nossa principal competição para jovens vinha apresentando. Em termos de estrutura, deixava claro, para que os garotos pudessem jogar e deslanchar.

Que o campeonato representa um avanço enorme, não há dúvidas. É uma competição que ajuda a dar rodagem aos atletas que estão na iminência de sair do juvenil, ou que já estouraram a categoria. Acontece que, em termos de evolução técnica, a liga não oferece tantos desafios aos talentos de ponta do país. Eles dominam nesse nível, mas a tradução desse rendimento para um nível maior de competitividade não é tão simples assim, até pelo desnível técnico que se testemunha entre algumas equipes da primeira fase.

Está claro que, tecnicamente, é preciso mais que a LDB para fomentar uma modalidade. Para sustentar todos os clubes, porém, não há verba do governo que dê conta. É preciso que o setor privado entre em quadra. Com crise ou estagnação econômica (como preferirem…), o dinheiro, que já não era tão volumoso assim, voltou a encurtar. Qualquer real investido tende a vir, então, com uma cobrança forte por vitórias, empurrando dirigentes e técnicos para estratégias conservadoras. Neste cenário, o desenvolvimento de jovens atletas fica bem complicado. Pode treinar o quanto e com quem for, mas nada substitui a experiência em quadra em jogos para valer. A questão não é exatamente de infraestrutura. Até porque, com um jovem jogador, o quanto mais é preciso do que uma bola, duas tabelas e uma boa cabeça para aplicar treinos? Com a palavra, Tiago Splitter, que saiu do país muito cedo e se formou como jogador na Espanha: “Tinha o preparador físico, nutrição, mas nada que não vá ter no Brasil num clube de ponta. A grande diferença foi a competição. Cheguei com 15 anos lá e já comecei a jogar adulto, na terceira divisão. Fui subindo, até a primeira. Foi essa competição que me ajudou a ser um bom jogador”.

Yuri Sena, Tiago Splitter e Guilherme Santos em NYC

Yuri Sena, Tiago Splitter e Guilherme Santos em NYC

No NBB 7, apenas dez atletas sub-22 (nascidos a partir de 1993) tiveram um mínimo de 20 partidas com média de minutos superior a 10 por jogo. Dez! Ou dois quintetos, entre 16 equipes inscritas. Se for para filtrar por 20 partidas e 20 minutos em média, apenas quatro passariam no corte: Danilo, Leo Meindl, Deryk Ramos e Henrique Coelho, todos, não por coincidência, convocados por Magnano ou Gustavo de Conti. Eles eram os únicos jogadores de fato preparados para encarar o NBB? Não jogam mais por que não estão preparados, ou não estão preparados por que não jogam mais? A resposta para essa pergunta seria a mais fácil: sim e não. Aí não tem como errar, né? Na verdade, a combinação de um assentimento e negativa indica que ela é bem mais complicada.

Fundamentalismo
Rumo ao Draft, Georginho, Lucas e Danilo saíram do país para passar por curtos períodos de treinamento nos Estados Unidos, em academias prestigiadas como a IMG, da Flórida, e a Impact, de Las Vegas. Mesmo que não tenham ficado na lista final de recrutamento da NBA, esse tipo de experiência foi valiosa para abrir os olhos dos garotos em relação ao tipo de preparação que existe lá fora. Os três rapazes foram uníssonos ao comentar os diferentes treinamentos que receberam: nunca haviam visto nada parecido.

Um ponto em comum atentava à “intensidade”. Que saíam esgotados de quadra e, quando achavam que havia acabado, eram chamados para mais uma sessão. E mais uma. E mais uma. O regime espartano, de todo modo, serve mais para prepará-los aeróbica e emocionalmente para os testes que os desgastantes treinos que eventualmente pudessem fazer pelos clubes americanos. Pensando longe, o legado maior está no refinamento de habilidades.

Em meio a treinos puxados, ainda pode rolar um mimo ou outro para George e Lucas

Em meio a treinos puxados, ainda pode rolar um mimo ou outro para George e Lucas

Quando estava em Vegas, Danilo disse o seguinte ao blog: “Estou treinando bem forte, para ver se consigo esse objetivo. É um treino muito mais puxado em termos de fundamento, algo que não fazemos muito no Brasil. Já sinto que melhorei em menos de uma semana. Só tive treinamento de contato, um contra um, uma vez só. O resto foi muito de fundamento, bandejas, floaters e outras, com intensidade”.

Na volta a São Paulo, Lucas afirmou em longa entrevista: “Foi pauleira. Você aprende umas coisas diferentes, uns detalhes que nunca percebe de movimento de perna, em seu arremesso, seu corte, bloqueio, tomar posição no pivô, jogar lá dentro etc. Uns detalhezinhos que você acha que já estão certos, mas que podem ser corrigidos. Ali aprendi muito. Que preciso melhorar demais, mas que posso chegar a um nível alto, que tenho capacidade, o talento e o físico. Você não pára nunca, é o tempo inteiro com eles cutucando. Na primeira noite nem consegui levantar da cama direito, algo que nunca havia sentido. A intensidade muito alta. Se treinar com aquela intensidade, sei que posso melhorar muito. Acho que minha cabeça voltou diferente nesse sentido: posso pegar o treino que aprendi lá e fazer aqui. Não preciso que alguém me coloque no colo e leve para treinar. Só preciso fazer”.

Os comentários coincidem, não? E estamos falando de dois jovens talentos brasileiros de ponta, que trabalharam nos últimos anos em dois clubes que realmente investiram no trabalho de base, com o Minas Tênis colhendo antes do Pinheiros os frutos por projeto, com um grupo que soube mesclar revelações e veteranos para fazer sucesso no NBB. Neste ano, por diversas circunstâncias, o clube de São Paulo tenta repetir essa trajetória. Vamos falar mais a respeito na semana que vem.

A Copa América Sub-16 pôs EUA, Canadá, Argentina, Rep. Dominicana e Porto Rico à frente do Brasil

A Copa América Sub-16 pôs EUA, Canadá, Argentina, República Dominicana e Porto Rico à frente do Brasil

Mas temos aí Lucas e Danilo maravilhados pelos exercícios de fundamentos básicos que fizeram em um curto período. O que tirar dessa avaliação? É por essas e outras que causa admiração geral o fato de o Brasil ainda encontrar um jeito de produzir mão-de-obra, mesmo que as estruturas do esporte no país não sejam das mais confiáveis. Como Splitter disse durante sua visita ao Basketball without Borders, camp conduzido pela NBA e pela Fiba, em sua edição global, realizada em fevereiro deste ano em Nova York: “Nós vemos jogadores surgindo, mas não por sermos bem organizados. Eles simplesmente aparecem”.

Nem sempre depende-se do acaso ou da sorte. Se Lucas e Danilo chegam a flertar com a NBA hoje, é porque seus clubes também lhes permitiram isso. Mas é inegável que, no processo atual de formação do basquete brasileiro, há uma lacuna muito grande entre projeções e realizações. Durante o mesmo camp nova-iorquino, em nota já dada aqui no blog, me lembro de ter sido questionado por um importante dirigente de um clube da Conferência Oeste, sobre a discrepância que se nota entre o nível de potencial atlético das revelações brasileiras e os seus fundamentos básicos. A mesma tecla. Se ela for batida muitas vezes, complica demais.

Peguem o fiasco da Copa América sub-16 deste ano. Mais um desastre: o Brasil agora terminou em quinto, ficando muito longe de brigar por uma vaga no Mundial sub-17 desta temporada. Na primeira fase, três derrotas em três jogos. Depois, pelo torneio de consolação, saíram dois triunfos para evitar a fossa geral da molecada. É complicado entender de longe o que aconteceu. Afinal, o técnico do time, Cristiano Grama, foi um personagem fundamental para a composição justamente do Minas, a jovial sensação do último NBB. É um cara antenado, bem conectado, envolvido com a base brasileira. Sem ter assistido aos jogos, fica difícil avaliar, mas os resultados estão aí para comprovar ques as coisas não saíram nada bem. Um dado que chamou a atenção, antes mesmo do torneio, era que, talvez pela primeira vez na história, a equipe brasileira tinha média de altura mais baixa que a da Argentina. Nossos vizinhos comemoravam isso, para se ter uma ideia. Conversando com agentes, creiam: no país de Nenê, Splitter, Augusto, Varejão, Bebê, Faverani, Felício, Morro, Caio, Mariano, Paulão, Murilo, Hettsheimeir, parece que anda realmente difícil de encontrar pirulões promissores nas competições de base vigentes. Ao que parece, a safra para daqui mais alguns anos não deve oferecer tantos “surgimentos”.

E aí o que fazer quando a fonte seca? O basquete feminino, infelizmente, está aí para contar essa história. É nessa hora que entra a autocrítica. E, nesse sentido, ao menos faz bem ler uma carta de Alexandre Póvoa, vice-presidente de esportes olímpicos do Flamengo, o tricampeão do NBB, na qual ele escreve: “Somos totalmente conscientes que estamos longe da plena satisfação acerca do que alcançamos até agora. Por exemplo, precisamos melhorar MUITO o nosso trabalho nas categorias de base, atualmente muito aquém da história do Flamengo formador de atletas (aliás, situação comum em todos os esportes olímpicos do clube e que estamos lutando dia-a-dia para ajustar)”. O rubro-negro foi vice-campeão da última LDB, mas é honesto ao assumir suas deficiências de formação. Até porque a principal figura do time, Felício, é produto da base do Minas.

Sem fazer muito alarde, em termos de mídia, uma potência nacional que tem investido muito na base é o Bauru, estruturando seu departamento e fazendo a rapa na coleta de talentos, até mesmo em países vizinhos. Diversos jogadores talentosos têm sido recrutados recentemente, como o ala-pivô Gabriel Galvanini, o pivô Michael Uchendu (brasileiro filho de nigerianos), o armador Guilherme Santos, entre outros.  Com um patrocinador forte, o clube montou um timaço que ganhou o Paulista, a Liga Sul-Americana e a Liga das Américas na temporada passada. Poderia se dar por satisfeito com esses resultados, mas, em tempos de vacas gordas, é melhor preparar o terreno para o que vem pela frente e de um modo muito mais razoável e sustentável. É um projeto para se monitorar de perto.

Curiosamente, é o mesmo Bauru que escalava Leandrinho nos idos de 2003, quando o Nacional ainda era organizado pela CBB, muito antes da grave crise com os clubes que quase levou tudo para o buraco. Não seria prudente esperar que, dos garotos garimpados pelo clube, alguém vá chegar em breve ao estágio de competir com David Jackson, Marquinhos ou Shamell pelo título de cestinha do NBB, como, lá atrás, fez o armador, um caso excepcional de quem que já fez mais de 18 pontos em média nos Estados Unidos. O que dá para cobrar, mesmo, é que ao menos tentem, ainda mais para um clube em que o dinheiro não é problema. Entre esses jovens atletas, é natural que o sonho seja a NBA. Pode ser que alguns deles até se veja com condições de, no futuro, inscrever no Draft, tentar a sorte. Se vai dar certo ou não, impossível dizer agora. Só esperemos que, em caso de retirada e retorno ao país, a resposta dos olheiros norte-americanos seja mais amena.


As anotações de um scout da NBA sobre Caboclo, Bebê e Felício
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Giancarlo Giampietro

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Caboclo e a envergadura interminável: ansiedade do jogador e dos olheiros

Numa citação gratuita do Kid Abelha, assim do nada, eu tinha um plano. Vou te contar: era viajar para Las Vegas neste mês de julho e me enfurnar em cassinos e baladas no ginásio Thomas & Mack center, da Universidade de Nevada-Las Vegas, para assistir a dezenas de peladas de basquete e, mais importante, entrar em contato com praticamente qualquer clube da NBA, grandes equipes da Europa, jornalistas, free-lancers e qualquer outro personagem disponível. No verão (setentrional), a Cidade do Pecado vira uma capital do mundo, com direito até mesmo a um draft da (mais rica do que você esperava) liga sul-coreana. Obviamente não deu certo a viagem, por motivos de bufunfa e as chamadas *oportunidades profissionais* cada vez mais escassas no jornalismo brasileiro, e vida que segue.

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Mas isso não quer dizer que o blog não tivesse olhos por lá. O Rafael Uehara já nos trouxe aqui uma avaliação sobre como andam Bruno Caboclo e Lucas Bebê em sua curva de desenvolvimento após um ano de treinos, tédio, treinos, escapulidas, poucos minutos em jogos oficiais e mais treinos em Toronto. Até que neste fim de semana entrei em contato com um scout veterano da NBA para colher mais impressões sobre os promissores brasileiros que tiveram uma semana importante na solidificação (ou não) como prospecto para a liga. Talento não falta para os dois jogadores do Raptors e para o pivô Cristiano Felício, recém-contratado pelo Chicago Bulls. Ainda assim, talento não faltava ao redor deles em Las Vegas também. No sentido de que a liga está abarrotada de jovens promessas de todos os cantos do mundo, cada uma sendo considerada bastante especial por jornalistas e torcedores de seu lugar de origem. Para sobreviver lá, você tem de evoluir. Do contrário, a fila anda, mesmo quando falamos de garotos de 20, 22 anos.

A boa notícia? Os três deixaram boas impressões, segundo o ponto de vista desse scout da Conferência Oeste, que esteve aqui no Brasil para assistir a jogos da LDB na temporada passada. Obviamente não posso identificá-lo, mas ele trabalha por seu clube há mais de oito anos e tem cargo de diretor. Veja abaixo o que ele escreveu em seu caderno de anotações sobre cada um deles.

Bruno Caboclo: “Ainda cru e talentoso, com muito potencial para ser explorado… A mecânica de arremesso para três pontos na linha da NBA parece boa, e ele arremessou com confiança… Por enquanto, é um arremessador sujeito a altos e baixos, precisando ainda trabalhar em sua consistência… Tem de continuar trabalhando para melhorar sua habilidade em por a bola no chão e criar para si e para os outros… Sólido na tabela, mas poderia ser ainda melhor… Melhorou em termos de força e jogo físico, mas ainda há o que fazer nessas áreas… Tem tamanho de NBA e ferramentas, mas precisa continuar desenvolvendo seu jogo de modo geral e melhorar principalmente em termos de consistência… Por exemplo, na defesa, suas ferramentas atléticas e físicas chamam ainda mais a atenção, mas o impacto que ele causa é inconsistente… A envergadura é um destaque, é só questão de aprender a usá-la em seu proveito: já poderia ser um cara muito melhor na hora de bloquear ou intimidar os arremessadores… Precisa aprender a jogar duro e permanecer engajado no jogo o tempo todo”.

Caboclo, e o penteado diferente. E o jogo?

Caboclo, e o penteado diferente. E o jogo?

(Um bônus: sobre Caboclo, também consegui conversar com um vice-presidente de uma franquia do Oeste, que bateu na mesma tecla sobre “esforço e energia em nível baixo” durante as partidas. Para este dirigente, Bruno pareceu também um pouco egoísta em quadra, olhando apenas para a cesta e para seus pontos. “Ele era uma página em branco para muita gente, e os primeiros capítulos não foram tão bons como esperava”, disse. Durante a conversa, todavia, o executivo amainou as críticas, lembrando o contexto em torno do caçula brasileiro. “Um ano sem jogar numa idade tão jovem, tendo ele já vindo de uma situação em que estava correndo atrás dos garotos de sua geração, não é fácil. Vai levar um pouco de tempo para ele se ajustar”, completou.

A combinação das notas acima e desse comentário nos dá um bom panorama sobre o ponto em que está Caboclo. Ele ainda é muito jovem e, realmente, o primeiro ano com o Raptors foi como se fosse o ensino primário. Se a franquia canadense acertou em seu planejamento, ainda está cedo para avaliar. Eles preferiram trabalhar com o ala em termos de porte físico e no aprendizado do inglês. A pergunta: não era possível fazer isso e mais um pouco? Esse dirigente acredita que sim. Mas Masai Ujiri estava de mãos atadas, sem ter um clube da D-League pelo qual o garoto pudesse jogar à vontade e sem poder exigir que Dwane Casey o usasse num time que pretendia ir longe nos playoffs. Foi exatamente esse o alerta que outro scout da NBA havia dado ao blog no ano passado, se vocês por acaso se recordam. Era mais um que havia se apaixonado pelos vídeos de Bruno no período pré-Draft, mas que enfatizava o quão era importante que ele fosse para a quadra para evoluir. O Raptors agora, enfim, tem sua própria filial. Vamos ver como eles se saem.)

Bebê já mostrou que tem habilidades para além da capacidade atlética

Bebê já mostrou que tem habilidades para além da capacidade atlética

Lucas Bebê: “Ainda impressiona também por suas ferramentas físicas e potencial, mesmo aos 22 anos… Suas atuações também foram um pouco irregulares, com altos e baixos, mas seu desempenho nos rebotes e na proteção da cesta se destacaram… De um modo geral, ele tem um jogo que pende para a finesse, tendo dificuldade ao enfrentar um estilo mais físico… Pode correr a quadra e tem mobilidade impressionante, podendo perseguir adversários em busca de tocos… Acaba sendo mais efetivo em movimento em direção ao garrafão… Em termos de jogo de costas para a cesta, existe uma carência clara… Por isso, dependia que os companheiros criassem oportunidades para ele… Ainda precisa ficar mais forte (mas não mais pesado). É algo que o ajudaria a se estabelecer no jogo interior… Mais um caso de atleta que precisa manter a concentração e a intensidade durante uma partida”.

(Aqui, uma reflexão da minha parte: durante a conversa com o executivo mencionado acima, argumentei que um ano inteiro praticamente fora de quadra, em termos de jogos para valer, pode pedir um tempo de “reabilitação” para os atletas, não? Os atletas muito provavelmente vão ficar ansiosos, querendo mostrar qualquer coisa em que tenham trabalhado durante os longos treinos. Daí a fixação de Bruno pelos arremessos em Vegas? Além disso, eles não têm mais ritmo de jogo algum. Mesmo que as ligas de verão não apresentem de modo algum um padrão, uma cadência que lembre a de um jogo de NBA de verdade, ainda estamos falando de partidas com cronômetro, arbitragem, adversários empenhados do outro lado e uma estrutura mínima de cinco contra cinco, bem diferente de rachões ou de um treino de mano a mano contra James Johnson. Daí a inconsistência? Não saber exatamente como dosar a energia em quadra? Pode ser, e melhor que as respostas sejam nessa linha. Como disse: há dezenas e dezenas de jogadores querendo uma vaga na linha. Vamos conferir isso com atenção durante a temporada da D-League.)

Felício não teve muito tempo como reserva de Bobby Portis e Cameron Bairstow

Felício não teve muito tempo como reserva de Bobby Portis e Cameron Bairstow

Cristiano Felício: “Teve minutos limitados, mas tem bom tamanho e é forte… Inicialmente, o jogo pareceu um pouco rápido demais para ele, mas o pivô se ajustou de modo admirável e conseguiu jogar de acordo com seus principais recursos… Ele é um reboteiro muito bom em um espaço, quando posicionado… Correu a quadra toda com muita energia… Não teve muitas oportunidades para mostrar seu jogo de garrafão, mas foi capaz de finalizar quando acionado no jogo interno em passes próximos de companheiros… Nesse tempo limitado, também mostrou bons sinais de habilidade para proteger a cesta e bloquear os adversários, embora nota-se que ele usa mais a sua força para combater lá dentro do que sua capacidade atlética”.

 (Sobre Felício, estou preparando um artigo maior, recuperando sua última temporada pelo Flamengo. Tem um talento enorme, e espero que os treinadores em Chicago o encarem da mesma forma. Acredito que ele pode ser muito mais do que o pivô do importante, mas básico pacote de “corta-luz + rebote + retaguarda defensiva + uma ou outra enterrada e bandeja”.)

Nada de férias! Como foi a liga de verão de Bruno Caboclo?
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Giancarlo Giampietro

É verão!

No Hemisfério Norte, digo. A estação do ano mais comemorada pelos caras lá de cima, que tanto sofrem durante inverno e outono com temperaturas abaixo de zero, e tal. Se aqui no Brasil estamos bastante mal acostumados com temperaturas calorosas durante boa parte do ano, em terras austrais a chegada das férias e do sol ganha proporções milagrosas. Eles arrumam as malas e vão para a estrada, mesmo, para curtir até o último dia que der. Que o diga Chevy Chase.

Para Bruno Caboclo, porém, depois de tanto frio que passaram em Toronto, andando pelos subterrâneo, e tudo mais, não tem coisa nenhuma de férias. O ala foi para Las Vegas, mas a trabalho, em uma das três summer leagues que a NBA promove neste ano. Pela primeira vez em muito tempo, teve a chance de jogar bons minutos, dia após dia, para tentar mostrar serviço ao técnico Dwane Casey e ao gerente geral Masai Ujiri. Mostrar que, a despeito de uma temporada um tanto conturbada, aproveitou o trabalho individual com os técnicos do time. Então dá para entender a ansiedade de muita gente aguardando suas atuações em sua segunda participação na Liga de Verão de Las Vegas. Que tipo de novas artimanhas ele poderia exibir? Como estaria sua fluência ofensiva? Sua curva de desenvolvimento?  Vamos examinar.

Por Rafael Uehara, especial para o VinteUm

Caboclo, e o penteado diferente. E o jogo?

Caboclo, e o penteado diferente. E o jogo?

O contexto: Bruno Caboclo esteve em quadra por apenas 87 minutos oficiais na temporada passada; 23 com o Toronto Raptors na NBA e 64 com o Fort Wayne Mad Ants da liga de desenvolvimento.

Quando a franquia canadense surpreendeu a todos ao escolhê-lo com a 20ª escolha da primeira rodada do draft, o comentarista da ESPN Fran Fraschilla classicamente opinou “he is two years away from being two years away”. Já se tinha mais ou menos uma ideia que Bruno veria pouco tempo de quadra entre os melhores do mundo.

Mas o fato de ele também ter jogado muito pouco na liga de desenvolvimento foi bastante decepcionante. A razão é porque o Toronto era um dos times que não tinha franquia própria na liga de desenvolvimento e dependia de um acordo com a franquia de Fort Wayne. Diferente das franquias que pertencem a times da NBA e são usadas com o principal foco em desenvolver jogadores, técnicos e estratégias para a matriz, Fort Wayne se mantém viva atraindo o público e patrocínio da região e o faz tentando competir pelo título. Logo, põe em quadra quem acha que o ajuda a ganhar e o brasileiro de 19 anos que mal tinha experiência na liga brasileira não se encaixava nesse critério.

Afundado no banco de reservas em sua primeira temporada. Era o esperado, porém

Afundado no banco de reservas em sua primeira temporada. Era o esperado, porém

A boa notícia é que o Toronto acaba de comprar uma franquia para disputar a liga de desenvolvimento na próxima temporada, o que vai proporcionar ao Bruno todo o tempo de quadra que ele precisa para começar a tentar alcançar o potencial que todos veem nele, o que é vital porque é muito provável que ele mais uma vez não faça parte dos planos de Dwane Casey neste próximo ano ainda.

Os Raptors acabaram de contratar DeMarre Carroll e ainda contam com DeMar DeRozan, Terrence Ross, James Johnson e Norman Powell no elenco. Mesmo com as saídas de Lou Williams, Greivis Vasquez (Casey gostava de ter dois armadores em quadra em algumas situações) e rumores de que o time será mais agressivo usando um de seus alas como ala-pivô em formações menores, ainda é difícil ver o Bruno como parte da rotação.

Especialmente considerando que ele não impressionou muito na liga de verão de Las Vegas na semana passada. Geralmente se espera um salto de produção das escolhas do primeiro round indo do primeiro para o segundo ano, possível de se ver logo na liga de verão. Giannis Adetokunbo ainda não é grande coisa, mas foi de qualquer forma uma peça importante em um time que se classificou para os playoffs no Leste, e mostrou já na liga de verão do ano passado o que estava por vir. Mas esse não foi bem o caso com Bruno, que não foi eficiente com seus tiros e não teve oportunidades de mostrar habilidades a mais do que aquelas esperadas.

De longa distância: no momento, o que Bruno faz com maior freqüência em quadra é o tiro de longa de distância. É um atleta com bom porte físico, mas não se apresentou para contra-ataques muito. Tocou na bola mais na meia-quadra mesmo e sempre se posicionava no lado oposto à bola, sem participação na criação de jogadas contra a defesa armada — isso ficava por conta do armador Delon Wright e do ala-armador Norman Powell, calouros recém-draftados, mas muito mais experientes e habilidosos que o brasileiro. Sua função era de atirador e como resultado, 63% de suas tentativas foram tiros de três pontos.

Caboclo conseguiu descolar um bom número de lances livres, mesmo não sendo muito criativo com ab ola

Caboclo conseguiu descolar um bom número de lances livres, mesmo não sendo muito criativo com ab ola

Bruno tem boa mecânica em seus lançamentos, mas dispara de maneira um pouco metódica, pouco fluida, e essa fração de segundo que ele perde para acionar o arremesso faz bastante diferença contra os atletas do melhor basquete do mundo – mesmo aqueles da liga de verão que estão sofrendo para arranjar emprego como 15º homem de um elenco. Por ora, Bruno tem muito mais capacidade para acertar tiros sem contestação do que lidando com qualquer tipo de defesa. No geral, converteu apenas 10 dos seus 36 tiros de três pontos nos cinco jogos que disputou.

Trabalho com a bola: Bruno teve algumas oportunidades de criar em situações em que o armador penetrava e o achava em posição de tiro ao redor do perímetro. Marcadores dão o pique para contestar o tiro, e, com uma ameaça de chute, cria-se a chance de partir para dentro.

O caçula ainda não tem muita explosão com a posse da bola e dificilmente criou a separação necessária para agredir. De todo modo, o ala consegue chegar ao aro ou arranjar lances livres devido ao seu porte físico. Tem longas passadas e vai da linha dos três pontos até o aro em dois dribles e dois passos. Também não é qualquer aala que consegue parar o impulso de alguém que mede 2,06 metros e pesa 96 quilos.

Bruno converteu 10 cestas de dois pontos em 21 tentativas e cavou em média 4,6 lances livres a cada 36 minutos em quadra, ambas as marcas bem promissoras. Porém, por outro lado, seu controle de posse é bem mediano e ele ainda tem muito pouco reconhecimento do jogo ao seu redor, sofrendo ao tentar criar para seus companheiros de time – registrando apenas quatro assistências nas cinco partidas e 11 perdas de posse.

Defesa: devido a seu porte físico e envergadura, espera-se que Bruno se desenvolva em bom defensor. Mas no momento ele ainda não é grande coisa. Individualmente, ele até consegue impedir a penetração de jogadores do seu próprio tamanho, mas não se mostrou capaz de permanecer na frente de jogadores menores.

Marcando o pick-and-roll, Bruno teve dificuldade de ir por cima do corta-luz e se recuperar com velocidade. Talvez seja possível que ele seja grande demais para esse tipo de estratégia, sendo melhor ir por baixo e usar sua envergadura para contestar tiros de longa distância.

Bruno também teve alguns lapsos que lhe custariam tempo de quadra em qualquer outro ambiente que não fosse a liga de verão. Em determinado lance de jogo contra o Chicago Bulls de Cristiano Felício, resolveu deixar um arremessador do nível de Doug McDermott completamente livre no canto e partiu para dentro do garrafão sem a menor razão. A bola eventualmente chegou às mãos de McDermott, que acabou errando, mas que não se deve deixar de modo algum sozinho nesse tipo de situação. Um lapso que realmente não seria perdoado em um ambiente mais exigente como a temporada regular nos playoffs, em que as vitórias valem (e custam) tanto, especialmente para um time com ambições de ir longe nos playoffs.

Conclusões, por Giancarlo Giampietro: durante toda a  temporada passada, os dirigentes e técnicos do Toronto Raptors afirmaram que o principal objetivo com Caboclo era aclimatá-lo à América do Norte, à cultura da NBA. Como este blog já reportou, talvez o garoto tenha se sentido até bem demais fora de quadra, com algumas questões disciplinares que deixaram o clube preocupado.  e que, do ponto de vista esportivo, iriam se concentrar no desenvolvimento de seu corpo. Ele já aparece mais forte, mesmo. Ainda assim, isso não quer dizer que não tenham trabalhado em quadra, especialmente com o técnico Jama Mahlalela. Em Las Vegas, então tivemos a chance de ver como está seu progresso dentro das quatro linhas. O que se nota é que ele ainda não está pronto para fazer parte da rotação do Raptors, mesmo que o plano fosse que ele jogasse mais já no segundo ano. Isso só deve acontecer pela franquia da Liga de Desenvolvimento, mesmo, o Raptors 905, hospedado em Mississauga. Caso o ala aceite essa situação, sem se ver desprestigiado por estar jogando na liga menor, terá uma boa oportunidade de expandir seu jogo para além da dinâmica de “correr e se posicionar no lado contrário à espera do chute de três”. É de se esperar que, depois de tanto reclamarem da dinâmica do Fort Wayne Mad Ants, vão deixar o brasileiro agora à vontade para arriscar e errar, até que os acertos se tornem mais frequentes. Cabe ao brasileiro abraçar essa situação e tentar tirar o melhor dela, para adicionar mais elementos ao seu jogo e mostrar potencial para além dos atributos físicos.

Rafael Uehara é paulistano e colaborador de diversos sites estrangeiros. Você pode acompanhar mais de seu trabalho no Bball Breakdown  e no Upside Motor. Ou, se preferir, em seu próprio blog, o Baskerball Scouting. Pode segui-lo no Twitter.

PS: um contrato de freelancer que começou neste mês deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos. Análises sobre os jogos da seleção brasileira durante o Pan só no Twitter, ok?