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Porto Rico vence Brasil: notas sobre o amistoso
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Giancarlo Giampietro

Balkman, sempre dando trabalho à defesa brasileira

Balkman, sempre dando trabalho à defesa brasileira

A Copa Tuto Marchand é um evento meio estranho. Tem estatísticas da Fiba, nome de torneio, banca de oficial, mas não passa de um conjunto de amistosos que serve para seus participantes dar uma espiada nos adversários às vésperas de uma Copa América, embora todos saibam que nem tudo está sendo mostrado. Só uma coisa ou outra. Pegue a partida entre Brasil e Porto Rico pela primeira rodada desta edição 2015, neste domingo. Em um pedido de tempo no quarto período, com o jogo praticamente descarrilado já, Rubén Magnano abriu espaço para Gustavo de Conti passar uma jogada. Planejaram uma conexão direta em ponte aérea. O tipo de jogada para buscar uma cesta decisiva ao final da partida. Não deu certo, mas era uma cartada ali.

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Esse é um exemplo de situação que mostra como essas partidas em San Juan não devem ser levadas muito a sério, e não só pelo fato de a seleção ter sido derrotada pelo time da casa por 79 a 66. De qualquer forma, os jogos apresentam alguns indícios. Sem TV para registrar os acontecimentos, o canal oficial para se acompanhar o torneio é a LiveBasketball.TV, pagando por assinatura. Com base no que pudemos ver contra os porto-riquenhos, seguem algumas notas.

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Foi uma partida beeeem diferente em relação ao que aconteceu no Pan-Americano. Porto Rico jogou com muito mais pegada e estrutura, já devidamente influenciado por Rick Pitino. Imagino o célebre técnico da Universidade de Louisville tenha usado a surra histórica que a equipe tomou em Toronto a seu favor para pilhar seus atletas — e também para amainar um pouco o orgulho ferido. Os brasileiros conseguiram fazer apenas três pontos de contra-ataque, diante de uma defesa em transição muito atenta. Foi claramente uma prioridade para o treinador que é um mestre nesse tipo de lance.

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É preciso dizer que, a despeito do desfalque de José Juan Barea, John Holland e Maurice Harkless — supostamente o trio titular no perímetro –, esta já era uma seleção porto-riquenha também distinta daquela de semanas atrás, especialmente pela presença sempre energética de Renaldo Balkman no quinteto titular. O cabeleira é uma figura muito influente quando o basquete Fiba está em quadra.

Balkman deu muito trabalho a qualquer defensor que estivesse à sua frente. Com agilidade e vigor, passou facilmente por Giovannoni e Olivinha, para acumular 16 pontos, 4 rebotes, 3 assistências, 2 roubos de bola e 2 tocos em 26 minutos, batendo seis lances livres. Ele basicamente fez o que quis em quadra, iludindo os brasileiros com fintas para um chute suspeito do perímetro. Botava a bola no chão, e aí era um abraço, com ataques rápidos em direção à cesta. Fora da rotação, Marcus Toledo não teve a chance de bater de frente com o veterano. Seria um duelo muito interessante.

Esse aspecto de rapidez e velocidade chamou a atenção: mesmo quando o ala-pivô ex-Knicks e Nuggets estava no banco, os caribenhos em geral tiveram o time mais leve em ação, com Devon Collier e Ramon Clemente também prevalecendo em seus movimentos. Concentrando-se em propósitos defensivos, é provável que Rafael Mineiro tenha de ficar mais tempo em quadra durante a Copa América, ao lado de Augusto.

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Augusto Lima, do outro lado da quadra, fez das suas. Sem Daniel Santiago e Peter John Ramos, Porto Rico tem alas-pivôs móveis, mas pode enfrentar dificuldade na hora de proteger a cesta na busca por uma vaga olímpica, pelo menos a julgar por esta partida. Tanto o pivô do Murcia, extremamente atlético e voluntarioso, como JP Batista, mais lento, mas inteligente em seus cortes e com excelente munheca, se deslocaram muito bem pela área pintada e pontuaram com eficiência perto da tabela, enfrentando pouca resistência na cobertura. Foram 14 pontos e 4 rebotes ofensivos para Augusto, em 17 minutos (6-11 de FG) e 18 pontos em 20 minutos para João Paulo (com 8-12). Foram os dois jogadores mais lúcidos do Brasil.

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Os dois pivôs brasileiros tiveram atuação eficiente e arriscaram juntos 35% dos arremessos da seleção e tiveram boa assessoria da turma de fora.  No geral, porém, o time não movimentou bem a bola. Foi um nível bem abaixo de rapidez em relação ao que vimos em Toronto, isso é certo. E aqui não estamos falando só de contra-ataque, de transição. Mas de ritmo de jogo, mesmo, de movimentação de bola. É nesses detalhes — e, não, nos números — que vocês devem notar a diferença que um armador com a cancha e vocação de passe de Rafael Luz pode fazer, gente.

Parte disso se justifica pela postura mais combativa dos caribenhos, claro. Outra parte da resposta vem do fato de Magnano ter promovido uma rotação claramente alternativa, na qual Rafael jogou apenas oito minutos, Benite ficou com 17, enquanto os caçulas Deryk Ramos e Danilo Siqueira jogaram, respectivamente, 15 e 16 minutos. Mas por vezes os atletas parecem muito acomodados e confiantes em dar a bola para Marquinhos e deixar o veterano ala resolver as coisas em jogadas individuais. Isso já havia acontecido bastante nos amistosos em Brasília e não é saudável.

Não que o ala flamenguista não tenha bola para isso. É difícil encontrar um marcador no mundo Fiba que consiga freá-lo quando ataca a cesta. De toda forma, quando servido em movimento, em progressão em direção ao aro, ele fica ainda mais perigoso. Essa é uma opção para finais de jogada, lances mais apertados, claro. Talvez a preocupação aqui seja dar mais ritmo a Marquinhos, que está voltando de férias. Não à toa, foi o brasileiro que mais jogou, com 27 minutos (sete a mais que JP). Quando o torneio para valer começar, espera-se que o ala esteja mais entrosado e afiado. Com seu pacote de mobilidade, altura, visão de quadra e habilidade, é uma peça mais que bem-vinda, que cai como uma luva, caso a equipe repita o padrão de jogo que a levou à conquista do ouro na metrópole canadense.

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Outro ponto a ser considerado no ataque: , Giovannoni, Olivinha e Marquinhos vão precisar acertar seus disparos ou ao menos representar alguma ameaça nesse sentido. Do contrário, o espaçamento de quadra vai para o buraco, e os ângulos de infiltração serão tapados. De modo que as defesas poderão se dedicar muito mais à fiscalização de Benite, deslocando adversários para cobrir sua trilha longe da bola. Goste-se ou não de ver Rafael Hettsheimeir chutando de três pontos, o fato é que um pivô com chute hoje faz parte integral do plano tático de Magnano.

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Entre os mais jovens, Danilo teve seus momentos. Sua primeira passada é algo que pode ser explorado mais em movimentações fora da bola, ou em ataques após as tradicionais parábolas pelo fundo da quadra. Pode render bem como reserva de Benite, mostrando visão de jogo para distribuir a bola. Deryk foi um pouco mais comedido. Melhorou bem no segundo tempo, procurou buscar a bola em rebotes longos para tentar dar um pouco mais de velocidade à transição ofensiva, mas não conseguiu quebrar a primeira linha defensiva de Porto Rico, terminando com quatro assistências e quatro turnovers. Merece mais chances, de qualquer forma, contra Canadá e Argentina.

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No primeiro jogo da noite, a jovem seleção canadense, cercada de imensa expectativa, venceu os argentinos por por 85 a 80. Foi também um duelo de altos e baixos. Facundo Campazzo  ficou fora de um lado e Corey Joseph do outro. Sem o tampinha, a equipe de Sergio Hernández perde em velocidade e criatividade, dependendo ainda mais dos veteranos e infalíveis Scola e Nocioni. Os campeões olímpicos marcaram 23 pontos cada, em 57 minutos. Nicolás Laprovíttola anotou 16 pontos e deu 4 assistências, em 31 minutos. O caminho para os hermanos é ter o barbudo ex-Fla, agora no Lietuvos Rytas, ao lado de Campazzo. Do lado do Canadá, a linha de frente titular teve Anthony Bennett, que fez ótimo Pan, ao lado de Kelly Olynyk, o jogador de NBA deles mais experiente em competições Fiba. Andrew Wiggins marcou 18 pontos em 26 minutos.


O sonho filipino (quase) acabou
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Giancarlo Giampietro

Você abre o Twitter, e a Fiba já te brinda com o cardápio do dia. Um menu salivante, de modo que é impossível escolher o melhor jogo do dia. Mas, de entrada, você já sabe exatamente o que quer: Filipinas x Porto Rico! Diversão! E drama! Como podemos notar:

porto-rico-filipinas

Nada contra México x Austrália, um jogo bastante intrigante ao seu jeito, algo que não deve acontecer num torneio internacional desde os anos 70, se é que não tenha sido inédito. Mas como desperdiçar a chance de ver José Juan Barea partir contra seus irmãos distantes, seus clones perdidos desta nação asiática.

Em tempo: já cabe a referência geopolíticonômica (e esse free-style, hein? Acha que é só a turma da Marina que sabe falar difícil? Basqueteiro também inventa das duas). Mas, bem, aqui estamos falando de dois países de colonização hispânica, cujos territórios são arquipélagos, que estão no raio de algumas milhas náuticas de duas superpotências globais (EUA e China) e que, por fim, são apaixonados por basquete.

Barea pareceu mais alto contra as Filipinas: partidaça do armador do Wolves

Barea pareceu mais alto contra as Filipinas: partidaça do armador do Wolves

Com o Sérgio Hernández colocou no Twitter: são dois dos cinco países em que o ato de jogar uma bola numa cesta é o esporte número um. (Aí perguntaram pro técnico qual seriam os outros três. Ele foi de China e Lituânia. “Em breve te passo o outro… Acho que a Letônia”, disse o Oveja, com humor talvez involuntário.)

Os filipinos têm comprovado durante todo o torneio essa paixão, com uma das torcidas mais entusiasmastes do torneio, perdendo apenas para os finlandeses, que estão em outro patamar no momento – nem torcida de vôlei Banco do Brasil atinge. Contra os porto-riquenhos, os asiáticos mandaram na arquibancada.

Daqui do sofá confortabilíssimo de casa, a adrenalina também corria solta. Começar o dia com Barea contra um exército de tampinhas é o outro extremo de ver um Turquia x Ucrânia, como aconteceu na terça. É um tapa na cara.

A seleção filipina começou o jogo como gosta. Acelerando tudo. Seus baixinhos ficam o tempo todo juntos em quadr, já que não há alternativas. Para entender: na escalação deles, são apenas três caras acima de 2,00 m – e um deles não sabe jogar (Japeth Aguilar, superatlético, mas ruim demais). Acima de 1,90 m, são mais três, embora o 1,98 m atribuído a Gabe Norwood (jogador interessante, subutilizado) e Marc Pingris seja deveras generoso. De qualquer forma, temos, oficialmente, seis atletas de 1,87m para baixo. Esta foto diz tudo:

Jim Alapag, Andray Blatche e Jayson William: dois de 1,77 m e um de 2,10 m de altura

Jim Alapag, Andray Blatche e Jayson William: dois de 1,77 m e um de 2,10 m de altura

O do meio, vocês sabem, é uma das estrelas da Copa do Mundo. Andray Blatche, o pivô mais filipino da competição, direto de Syracuse, Nova York. Blatche, odiado em Washington, bastante produtivo em Brooklyn nas últimas duas temporadas da NBA, foi naturalizado neste ano. Diz que tem pai filipino, e ninguém acredita. Nem a família dele.

Blatche tentou 52 arremessos nas três primeiras partidas do Mundial. Na última, contra a Argentina, se pendurou em faltas e abaixou sua média. Era para ele ter passado da casa dos 60 chutes tranquilamente. Ficando mais tempo no banco, contudo, ele viu que seus companheiros sabem jogar. Os baixinhos fizeram frente aos argentinos e quase aprontaram uma tremenda zebra.

E aí a gente percebe como o esporte pode ser bonito, edificante. O grandalhão veio transformado para a quadra nesta quarta, confiando nos seus, hã, compatriotas, distribuindo a bola feito John Stockton. Inspirador, tocante, uma coisa linda. Snif.

Com o maestro Blatche, as Filipinas abriram 14 pontos de vantagem no início do segundo quarto, partindo de um placar empatado em 13 a 13 na primeira parcial. Estavam no seu melhor momento: bombardeando de três pontos, atacando com velocidade, movimentando a bola, buscando bons chutes.

Aos poucos, porém, Porto Rico (desfalcado de Arroyo) soube o que fazer em quadra. O técnico Paco Olmos mexeu bem em seu time, sem hesitar em por Renaldo Balkman no banco. O time começou a alternar sua defesa, muitas vezes pressionando a saída filipina. Desaceleraram os oponentes e passaram a rodar na defesa com muito mais empenho e precisão, cortando os arremessos de fora (permitiram apenas 6/28, 21%), coisa que a Argentina havia sido incapaz de fazer.

Arremesso muito bem contestado no perímetro. Filipinos não tiveram espaço para torpedear o aro porto-riquenho, graças a uma defesa exemplar, que deve ter feito o treinador Paco Olmos (ali no canto da foto) se perguntar: onde estava esse tipo de esforço antes?!

Arremesso muito bem contestado no perímetro. Filipinos não tiveram espaço para torpedear o aro porto-riquenho, graças a uma defesa exemplar, que deve ter feito o treinador espanhol Paco Olmos (ali no cantinho da foto) se perguntar: onde estava esse tipo de esforço antes?!

Acontece que o elenco porto-riquenho é muito mais veloz, no geral. Bastou uma boa coordenação – e que eles aceitassem essas ordens –, para que fizessem excelente defesa até o final da partida e conseguido a virada já ao final do terceiro período. No bom e velho jogo de gato-e-rato, também fizeram os asiáticos pagarem pela baixa estatura, coletando uma série de rebotes ofensivos (12 no total, com destaque para o a ala Alex Franlkin e o jovem pivô Jorge Díaz). Esses rebotes ofensivos também eram outra forma de anular o contra-ataque.

Com 30 pontos – 11deles em lances livres –, José Juan Barea também fez um partidaço para enfim liderar sua equipe em um jogo digno neste Mundial. Aliás, fica o registro sobre como tudo é realmente relativo nesta vida: perto dos filipinos, Barea nem parecia tão diminuto assim (5 rebotes pra ele, incluindo um ofensivo!).

No quarto final, os dois times trocaram golpes, mas os caribenhos estavam muito mais inteiros em quadra – física, tática e psicologicamente. Andray Blatche pagou o preço por sua forma física questionável. Terminou o jogo com os números fantásticos de sempre (26 pontos e 14 rebotes), mas estava completamente esgotado, tomando decisões ruins no ataque, chegando a seis turnovers. Crédito também para o limitado, porém aguerrido Ramón Clemente, pivô reserva que desgastou o adversário durante o jogo de tanto brigar pela bola.

Blatche em versão armador. Exaurido, puxa o jogo pro mano-a-mano, no meio da quadra, inexplicavelmente. Ele partiria para a cesta bem marcado e seria forçado a fazer o passe: o sexto e derradeiro turnover, com o jogo no fim. "De onde saiu essa ideia?", perguntou o comentarista Alvaro Martín, em excelente transmissão da Fiba TV. Um salve para a Fiba TV

Blatche em versão armador. Exaurido, puxa o jogo pro mano-a-mano, no meio da quadra, inexplicavelmente. Ele partiria para a cesta bem marcado e seria forçado a fazer o passe: o sexto e derradeiro turnover, com o jogo no fim. “De onde saiu essa ideia?”, perguntou o comentarista Alvaro Martín, em transmissão excelente, detalhista muito bem informada da Fiba TV – era para ser o básico, mas infelizmente nem sempre acontece. Um salve para a Fiba TV!

Porto Rico venceu por 77 a 73, ganhando sobrevida no torneio. Para se classificarem neste equilibradíssimo Grupo B, precisam primeiro torcer para uma vitória da Grécia sobre a Croácia. Depois, na última rodada, têm de vencer os balcânicos.

As Filipinas estão eliminadas, com quatro derrotas, mas não deixam de ser a sensação do torneio. Sem Blatche eles teriam alguma chance? Provavelmente não, ainda que tenham encarado a Argentina muito bem, obrigado. Com um elenco de pouca experiência internacional, sem envergadura ou estatura, mas muita velocidade, habilidade nos arremessos e uma filosofia de jogo definida, levaram os croatas para a prorrogação e exigiram ao máximo de times latino-americanos muito mais tarimbados. Contra Senegal, eles ainda têm a chance de conquistar uma honrada e merecida vitória. Como Julio Lamas disse: é um dos times mais estranhos que já vimos. E estranho é diferente. Diferenças são boas, bem-vindas.

Mais Filipinas! Se for contra Porto Rico, melhor.

Os baixinhos

Os baixinhos

O talento, a empolgação e a contratação de Blatche

O talento, a empolgação e a contratação de Blatche

Sim, mais Filipinas!

Sim, mais Filipinas!


A (outra) esquadra americana no Mundial
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Giancarlo Giampietro

Blatche, versão Smart Gilas

Blatche, versão Smart Gilas

No dia 26 de maio, ao final de uma sessão do Senado na capital Manila, o senador filipino Juan Edgardo “Sonny” Angara estava exultante. O projeto de Lei nº 2108 havia sido aprovado de modo unânime, e a seleção nacional de basquete estava muito perto de garantir os serviços de Andray Blatche na Copa do Mundo deste ano. Bastava apenas uma aprovação final do gabinete presidencial. O famoso carimbo.

“Blatche é possivelmente o melhor pivô da NBA que podemos conseguir, que esteja disposto a evitar algumas ofertas mais lucrativas agora e no futuro apenas para integrar nossa equipe”, disse Angara, chefe da comissão de Jogos, Esportes e Lazer do Congresso filipino. “Ter jogadores naturalizados é a regra nas competições internacionais em vez da exceção. É algo bastante aceito. Apenas vamos tirar vantagem dessa regra”, completou.

Pragmaticamente, o digníssimo senador Angara está correto. É a esse o ponto que a Fiba permitiu o jogo de seleções chegasse. Os torneios de seleção viraram, também, uma extensão do balcão de negócios do mercado da bola. Até ganhar um passaporte, Blatche nunca havia pisado por lá, embora jure que tenha sangue filipino.

A regra atual da federação permite que cada seleção conte com um jogador estrangeiro em seu plantel, sem exigência de vínculo algum desse atleta com o país adotivo. Não precisa ter morado por lá, não precisa ter um tio avô do cunhado, nem nada dessas besteiras. A justificativa: aumentar o poder de competitividade. E algo mais.

“O processo de naturalização é permitido pela Fiba para dar a outros países a chance de se igualar em termos de altura e talento. Não há nada errado com isso”, afirma o agente Danny Espiritu nesta matéria aqui, que advoga pela naturalização – haja propaganda. Mas veja bem: se equiparar não só em talento, como em… Altura! Não precisa nem fazer piada a respeito. Para constar: Blatche tem algo em torno de 2,10 m de altura (a gente nunca sabe a medida exata, então ficamos nessa generalização).

Daí que Filipinas, equipe que não joga o Mundial desde 1978, saiu de modo agressivo em busca de um reforço. JaVale McGee chegou a se candidatar publicamente a esta vaga, mas sua temporada avariada por lesões no joelho o tirou do páreo. Então, optaram (ou aceitaram uma oferta?), por Blatche, que fez uma bela campanha pelo Brooklyn Nets.

Marcus Douthit deu para o gasto e agora é substituído por Blatche

Marcus Douthit deu para o gasto e agora é substituído por Blatche

Ele ficou fora dos Jogos Asiáticos, uma vez que a autoridade olímpica do vasto continente exige que, para um atletas naturalizados ser inscrito, ele precisaria ter passado um mínimo de três anos seguidos eu seu novo país. Não que fosse um grande problema, pois o time já contava com outro pivô gringo, Marcus Douthit, que já foi escolhido pelo Lakers na década passada e teve, por exemplo, um double-double de 10 pontos e 22 rebotes em confronto com a China.

Superado o empecilho regional – ainda que no torneio FIBA local, o impacto de gringos também seja descarado –, durante a fase de treinos e amistosos, o pivô filipino norte-americano assumiu o controle de uns 90% dos ataques da equipe. Virou cada Blatche por si, e um Blatche contra todos, basicamente. O cara tem movimentos de costas para a cesta, agilidade para bater os grandalhões no ataque frontal e bom chute de média distância, além de ser bom passador. Fosse um pouco mais dedicado ao condicionamento físico e aos treinos em geral – em Washington, é persona non grata –, teria recursos de sobra para ser um protagonista na NBA. No Mundial, porém, já faz o necessário para brilhar.

Em sua estreia contra a França, em derrota por 75 a 68, ainda fora de sintonia, ele tentou 17 arremessos e 2 lances livres em 26 minutos, acertando cinco. Somou 12 pontos e 7 rebotes. Contra a Austrália, derrota por 97 a 75, no dia seguinte, foram 17 arremessos (sete de três pontos!) e 3 lances livres em 28 minutos, com rendimento superior: 20 pontos e 10 rebotes.

(Para constar: no terceiro dia do quadrangular, foi poupado contra a Ucrânia, e seu time tomou uma sacolada de 114 a 64. Sabe quando será a próxima vez que a Ucrânia vai superar a marca de 100 pontos? Quando colarem aqui na Vila Guarani e enfrentarem o time do bairro. Só assim: no restante dos amistosos, o máximo que conseguiram foram os 73 pontos contra o México. Contra Lituânia e Eslovênia, não chegaram nem a 65 pontos.)

Depois, voltou a jogar contra Angola, em mais uma derrota pro 83 a 74, a despeito de seus 33 pontos e 17 rebotes. Há amistosos contra Egito, País Basco e tudo o mais, mas já deu para sacar, né? Se houvesse uma competição de Fantasy no Mundial, dá para dizer que o passe de Blatche estaria bem cotado.

Não é a primeira vez que os Gilas apelam para jogadores naturalizados. Douthit está aí como prova. Nos anos 80, eles contaram com alguns norte-americanos em seu time, incluindo um nome surpreendente: Chip Engelland, hoje um dos assistentes técnicos mais cobiçados da NBA, devido ao seu trabalho com o San Antonio Spurs. Foi ele que reinventou a mecânica de lance livre de Splitter.

Eles não são os únicos, claro. Um dos maiores ídolos do basquete grego é natural de Union City, Nova Jersey. Estamos falando de Nick/Nikos Galis, já nomeado para o Hall da Fama da Fiba em sua primeira classe, apontado também como um dos 50 melhores da história e da Euroliga. O cestinha se formou por Seton Hall, foi selecionado no Draft de 1979 pelo Boston Celtics, mas foi pelo Aris BC, ao lado de Panagiotis Giannakis, que entraria para o panteão. Ele é dos poucos que realmente merece o apelido de “mito”, ainda mais na Grécia.

Mais recentemente, tivemos um armador americano liderando, oras, a Rússia. JR Holden conseguiu algo que, nos anos 80, pareceria menos provável do que Arvydas Sabonis recusar um copo de cerveja. JR Holden teve seu passaporte providenciado diretamente por Vladimir Putin e ajudou o país a ganhar o Eurobasket de 2007, com David Blatt de técnico.

Importar armadores, aliás, virou uma prática realmente de se abrir os olhos na Europa. No Eurobasket 2013, sete países diferentes, incluindo Croácia e Itália, tiveram de usar essa cartada extra.

Por aí vamos. Em 2008, Chris Kaman resolveu ativar sua cidadania alemã, por conta de seus avós paternos. Nem seu pai, já nascido nos Estados Unidos, aprovou a ideia. “Mas eu não me importo”, disse o pivô, agora do Blazers. “Faço o que quiser, não tenho de agradar a ninguém. Ainda sou um americano. Ainda jogo na NBA. Ainda sou de Michigan. Apenas escolhi seguir minha ascendência de um pouco mais atrás e ver se eles me permitiram jogar pela Alemanha.”

Chris Kaman, neto de alemão com muito orgulho e muito amor, jogou as Olimpíadas de 2008

Chris Kaman, neto de alemão com muito orgulho e muito amor

Simples assim. Num país como os Estados Unidos, de imigração incessante, a fonte se torna praticamente inexaurível. Se a Alemanha já conseguiu que um neto se prontificasse a ajudar Dirk Nowitzki, imagine a facilidade que Porto Rico (território americano, aliás), República Dominicana e outros países caribenhos têm para procurar reforços.

Foi assim com Renaldo Balkman. O ala-pivô jamais poderia sonhar em defender os Estados Unidos. Então sorriu e topou na hora quando a federação “rival” foi procurá-lo. Melhor: sua mãe (cujo ramo familiar era porto-riquenho), diferentemente do caso de Kaman, aprovou tudo. “Ela sempre me disse que eu deveria visitar aqui, e eu finalmente vim. E veja no que deu. Agora estou na seleção. Na primeira vez que vim, achei as coisas diferentes. Agora é por nosso país, pelo nosso orgulho.”

O ala-pivô defende Porto Rico desde 2010 e se tornou uma peça-chave de uma equipe que promete dar um trabalho danado nesta Copa do Mundo. Entre dominicanos, o escolta nova-iorquino James Feldeine foi recrutado mais recentemente, iniciando sua trajetória pela seleção no ano passado. Para o futuro, a aposta fica no jovem ala-pivô Karl Towns, ainda um adolescente, considerado um dos dez melhores recrutados da NCAA este ano, por Kentucky.

Por aí vamos, sem nos esquecermos do bauruense Larry Taylor. Claro que cada caso é um caso. O armador natural de Chicago já passou muitos Carnavais por aqui para contar história.

Começando por ele, então, aqui vão os americanos que defenderão outras nações, com os mais diferentes contextos. Comparando com os torneios de Europa e Ásia do ano passado, até que o povo maneirou:

Larry Taylor (Brasil)
O que para Shamell não aconteceu, para Larry foi até rápido: a naturalização e sua convocação intrínseca para defender o Brasil. Obviamente, Rubén Magnano adora o atleta: desde que foi liberado burocraticamente, o astro do Bauru, um tremendo boa praça, está no grupo de intocáveis do técnico.

Na Espanha, Larry vai ter papel integral na rotação, revezando com Huertas e com os alas, dependendo do adversário. Tal como fez com Goran Dragic em amistoso na semana passada, esperam que ele seja usado para atazanar os armadores oponentes com forte pressão em cima da bola, usando sua velocidade e tenacidade. É algo que consegue executar muito bem, mesmo.

O problema está do outro lado da quadra. Na hora de atacar, não está nada acostumado a jogar sem a bola, por vezes fincando os pés em um lado da quadra, isolado. Rende melhor quando parte no drible, um contra um – algo que na seleção vai acontecer bem menos do que em Bauru. Como arremessador de três pontos, somando Olimpíadas e a última Copa América, acertou apenas duas de 21 tentativas. Ai.

Eugene “Pooh” Jeter (Ucrânia)
A primeira referência que acompanha o armador de 30 anos é o fato de ele ser irmão da velocista Carmelita Jeter, uma das estrelas do atletismo dos Estados Unidos. É um bom dado para qualquer enquete, sem dúvida. Mas o americano já construiu uma respeitável carreira no exterior a ponto de ter reconhecimento próprio.

Vamos colocar desta maneira: se Jeter não tivesse comprado a ideia, os ucranianos jamais teriam se classificado para o Mundia. No Eurobasket passado, era um dos poucos atletas dessa seleção capazes de produzir a partir do drible. Num time que adora gastar a posse de bola, cabia ao baixinho muitas vezes desafiar os oponentes e o relógio para pontuar. Teve médias de 13,5 pontos e 4,1 assistências, com 47,6% nos arremessos de 2 pontos e 35,7% de três. Considerando toda a carga sobre seus ombros, é um desempenho sensacional.

Pooh jogou na China no ano passado e reclama de que nunca teve uma chance real para mostrar seus talentos na NBA, depois de passar apenas um ano como reserva do caótico Sacramento Kings de 2010-11. Ao menos, em seu currículo tem uma passagem pelo basquete ucraniano, tendo defendido o BC Kyiv em 2007-08.

– Oliver Lafayette (Croácia)
Depois de usar Dontaye Draper no Eurobasket, a Croácia agora decidiu investir em Lafayette para compor sua armação no Mundia. Sim, deus do basquete, até a Croácia enfrenta séria dificuldade para produzir um armador local que lhe deixe confortável em competições de ponta.

O convite aconteceu de úuuultima hora. Vejam só: em junho. Dito o sim, o passaporte saiu rapidamente. Assim que se faz. Aos 30 anos, então, o veterano, ainda muito rápido e forte, entra no mundo das seleções, ajudando Roko Ukic, em busca de qualquer entrosamento possível com os novos companheiros.

Lafayette, mais um pontuador do que um organizador, se formou na universidade de Houston em 2005 e vagou pela D-League até assinar com o Boston Celtics em 2010 para fazer precisamente um jogo pelo clube. E não é que foi bem? Anotou sete pontos, um recorde para um atleta nessas condições.

Dali para a frente, com a NBA inscrita em seu currículo, migrou para a Europa e rodou por grandes clubes como Partizan Belgrado, Zalgiris Kaunas e Valencia, na temporada passada – mas nunca por uma agremiação croata. Agora, vai se juntar ao Olympiakos, vindo de boa campanha na Espanha.

Nick Calathes (Grécia)
Com avô grego, Calathes foi um jogador de ponta na NCAA, como estrela de Florida, mas se concentrou em defender os helênicos desde cedo, tal como seu xará Galis. Ele se vestiu de azul e branco já no Eurobasket sub-20 de 2008. Um ano depois, faria sua estreia pela seleção.

Alto, forte, de excelente visão de jogo, o armador se beneficiou da dupla cidadania para assinar um acordo generoso com o Panathinaikos, ignorando, num primeiro momento, a NBA. Seu contrato foi assinado em maio de 2009, antes mesmo do Draft, valendo nada menos que 2,4 milhões de euros limpos por três anos. Sem contar o fato de que tinha residência e carro pagos pelo clube, mais a grana dos patrocínios. Uma bolada.

Quando questionado se a decisão de jogar pela seleção grega estava incluída neste mesmo pacote, Calathes foi enfático em negar, em 2011: “Não, não. Nada disso. É uma honra jogar pela Grécia, por minha ascendência, minha família. Espero poder jogar muito mais pela equipe”.

E aqui está Calathes, como um dos protagonistas da seleção grega – algo que seu irmão mais velho, Pat Calathes, uma vez cotado como um belo prospecto, não realizou. Já liberado depois de cumprir gancho de quatro meses por dar positivo em exame antidoping, vai para o Mundial e cheio de responsabilidades para guiar a seleção que sente a falta de Vassilis Spanoulis.

Renaldo Balkman e Alex Franklin (Porto Rico)
Já escrevi até que bastante sobre o ala-pivô no ano passado, antes da Copa América, e suas encrencas por aí. Para atualizar, vale a menção de que ele arrebentou no torneio continental, com médias de 18,7 pontos e 8,9 rebotes pelos vice-campeões. Com seu vigor físico e mais liberdade no ataque, pode fazer diferença, ainda que contra concorrência mais dura.

Já Franklin, natural da Pensilvânia, faz a sua segunda campanha pela seleção porto-riquenha, herdando a vaga que seria de John Holland. Um ala hiperatlético, Holland havia se tornado peça fundamental da equipe, mas virou desfalque este ano devido a uma lesão. Aprovado no Centrobasket, seu substituto tenta segurar o rojão no perímetro ao lado de Barea e Arroyo. Um ala de 26 anos, jogou pela universidade de Siena, pela qual foi uma estrela. Depois, virou profissional na Espanha e no México, até chegar aos Indios de Mayagüez.

James Feldeine e(República Dominicana)
Feldeine vem de uma vizinhança barra-pesada de Nova York, ao norte de Manhattan. “Washington Heights me fez virar o homem que sou hoje. Foi muito duro crescer em um lugar tão difícil. Havia muita violência por parte das gangues”, conta. Você já imagina todo o cenário, né? E que o basquete, como em diversos casos, serviu de refúgio para o garoto de mãe dominicana.

Dos playgrounds nova-iorquinos, o ala-armador foi para a modestíssima universidade de Quninnipiac, de Hamden. O sonho de NBA ficou longe, mas ele se tornou um jogador de ponta na Espanha, jogando a Liga ACB pelo Fuenlabrada, com médias de 15,9 e 13,9 pontos por jogo em duas temporadas. Nada mal. Agora, tem contrato com o Cantú, da Itália.

Explosivo em suas infiltrações, um bandejeiro de primeira, Feldeine estreou pela República Dominicana no ano passado, na Copa América, com 14 pontos por partida. Seu estilo casa bem com o de Francisco Garcia.

O país ainda poderia contar com Karl Towns, de 18 aninhos,  uma das maiores promessas do basquete universitário americano deste ano. Ao mesmo tempo que o recrutou para Kentucky, John Calipari também o pôs para jogar na seleção caribenha – uma opção surpreendente para um garoto tão badalado desde cedo. Do alto de seus 2,13 m, com envergadura e leveza impressionantes, o pivô ainda está nos primeiros passos de seu desenvolvimento como jogador, mas não jogará na Espanha, vetado por sua universidade.  Pena.

­- Erik Murphy (Finlândia)
Esse o torcedor do Bulls conhece. Pelo menos um pouco. O ala-pivô foi selecionado pela equipe no Draft passado, na onda do stretch 4 da NBA. Graduado pela universidade de Florida, subiu de cotação devido ao seu potencial no arremesso de três pontos. Frágil fisicamente, porém, foi pouco aproveitado por Tom Thibodeau em seu ano de novato. Rapidamente, viu como funcionam os negócios da liga rapidamente.

Para limpar espaço em sua folha salarial e evitar o pagamento de multas, a franquia de Chicago o dispensou antes mesmo de sua temporada de calouro se encerrar. O Utah Jazz aceitou seu contrato, mas nunca chegou a escalá-lo. Em julho deste ano, foi repassado para o Cleveland Cavaliers. Não se sabe se há realmente um interesse em aproveitá-lo ao lado de LeBron James.

Pensando nisso, a Copa do Mundo vem bem a calhar para o atleta de 23 anos – hora de mostrar serviço, com todos observando, afinal. Erik tem passaporte finlandês por parte da mãe, Päivi, que foi jogadora da seleção do país. Aqui, estamos falando, na verdade, de uma família só de basqueteiros: seu pai, Jay Murphy, fez carreira na Europa. O irmão caçula, Alex, começou na NCAA sob o comando do Coach K em Duke, mas pediu transferência para Florida.

“Os garotos vão para a Finlândia a cada verão. Meu irmão ainda está lá, meus sobrinhos. Falamos sobre como seria divertido ele jogar pela seleção. Mas o mais importante é algo que serve de inspiração, e eles estão orgulhosos disso”, conta a mãe em entrevista ao site do Bulls.

Curiosidade: quem também tentou entrar na festa foi o veteranaço Drew Gooden, do Washington Wizards – sua mãe também tem ascendência escandinava. A papelada não foi regularizada a tempo, porém. “Mesmo que não seja possível este ano, ainda vou para a Espanha apoiar o time e os jogadores e começar a construir uma relação para os próximos anos. De qualquer forma, vou conseguir minha dupla cidadania e vou me tornar um cidadão finlandês”, assegurou.

Reggie Moore (Angola)
É, até nossos irmãos entraram na onda. Formado na universidade de Oral Roberts em 2003, Moore jogou em Portugal, Israel e Espanha até migrar para Angola em 2009. Está lá desde então, defendendo hoje o Primeiro de Agosto. Em suma: como se fosse o Larry Taylor angolano.

Sua naturalização gerou um burburinho, mas, em maio de 2013, o presidente da federação do país, Paulo Madeira, simplesmente se defendeu dizendo que a seleção precisava de um pivô, e que Moore havia se oferecido. “O atleta manifestou publicamente interesse em representar a seleção, como fruto dos vínculos familiares que está a criar. E a nós interessa ter um jogador como ele”, disse o dirigente.

Reggie Moore, da Califórnia para Angola

Reggie Moore, da Califórnia para Angola

Moore correspondeu em sua estreia por Angola no Afrobasket do ano passado, com 10,1 pontos e 3,6 rebotes em média, sendo bastante regular na campanha do título. Baixo, com 1,98 m, e forte, com bom arremesso, gosta de atacar a cesta de frente.


Jogadores americanos descendentes causam impacto e ajudam a explicar surpresas no continente
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Giancarlo Giampietro

Holland x Feldeine

John Holland e James Feldeine: duas novidades norte-americanas no Caribe

Os Estados Unidos nem jogaram a Copa América de basquete neste ano, mas o talento de seus jogadores ainda deu o jeito de fazer a diferença. Do campeão México à surpreendente Jamaica, passando até mesmo pelo Brasil com Larry Taylor, muitas das seleções que disputaram o torneio continental contaram com uma ajudinha da mão-de-obra dos atuais bicampeões olímpicos. O grau de sucesso variou de time para time, mas a presença deles foi impactante de um modo geral, para atestar, ainda que por vias tortas, a influência do país no esporte.

Aí você pode pensar: “Dãr. Quanta novidade, hein?”

Bem, acreditem. Antes de Jerry Colangelo, Coach K, LeBron & Cia. conseguirem restaurar um certo grau de normalidade para as competições masculinas da Fiba, essa aura, essa influência estava sendo esculhambada em praça pública. Voltemos.

Muito se falou sobre o Pan de 1987 nestes últimos dias de Oscar Schmidt no Hall da Fama, então esta vocês já sabem responder direitinho no vestibular: que, no basquete masculino, o Brasil foi o primeiro time a vencer os Estados Unidos na casa dos caras, em Indianápolis. Que os norte-americanos perderam para a União Soviética nas Olimpíadas de 1988 também vem por esteira, e que esses acontecimentos somados a uma boa dose de interesses econômicos dos dois lados, Fiba e NBA, levaram ao ingresso do Dream Team em Barcelona 1992, e o resto foi história.

Uma história que, se for pensar bem, não durou taaaaaaaaaanto assim, não. Em Sydney 2000, lá estavam os EUA penando contra a Lituânia na semifinal, a um chute de três pontos de Sarunas Jasikevicius de ver o império ruir.

Não tardou muito, mesmo: no Mundial de 2002, de novo no solo sagrado amaldiçoado de Indianápolis, veio o maior vexame da história (para eles): derrotas para Argentina na segunda fase, Iugoslávia nas quartas e, como se não bastasse, Espanha na disputa pelo sexto lugar. Os jogadores utilizados nesta? Andre Miller, Baron Davis, Jay Williams, Reggie Miller, Michael Finley, Paul Pierce, Shawn Marion, Raef LaFrentz, Elton Brand, Jermaine O’Neal, Antonio Davis e Ben Wallace. Um timaço em qualquer circunstância. Todos All-Stars ou futuros All-Stars, ultramilionários, estrelas de seus times, alguns que seriam campeões mais adiante. Mas nem todos eram maduros o suficiente para a empreitada e, além disso, não eram necessariamente os maiorais da liga na época (nada de Kobe Bryant e Shaquille O’Neal, por exemplo).

Conclusão da época? Nós, ianques, não podemos mais nos dar ao luxo de não levar o que temos de melhor.

Dois anos depois, Atenas 2004, Jogos em que a seleção norte-americana sofreu mais uma humilhação daquelas com a derrota para Porto Rico na primeira fase e a assinatura da caderneta de freguesia para a Argentina, nas semifinais. Ao menos bateram os lituanos novamente e ganharam o bronze. Quem estava lá? Allen Iverson, Stephon Marbury, Dwyane Wade, LeBron James, Carmelo Anthony, Richard Jefferson, Shawn Marion, Lamar Odom, Amar’e Stoudemire, Carlos Boozer, Emeka Okafor e Tim Duncan. Reparem: grandessíssimos nomes, mas uma combinação de talentos que não faz o menor sentido, com nenhum chutador de primeira linha – e lembrem-se que Wade, Melo e LeBron eram apenas novatos na liga e saíram da capital grega odiando Larry Brown. Além do mais, com Iverson e Marbury, era como se eles tivessem a versão deluxe de Arroyo e Ayuso, sobrando tiros pra tudo que é lado.

Conclusão? No, we can’t. Não dava para jogar sem ter os melhores em quadra – e sem passar o mínimo possível de espírito de equipe.

Aí que o resto se fez de história também, com a reformulação completa da confederação. Antes disso, os fiascos seguidos botaram em dúvida o tipo de basquete praticado por lá. E até mesmo a qualidade do “jogador americano X” foi questionada. O orgulho todo foi embrulhado num jornal velho e atirado na lata de lixo. Compreensível a reação e exagerada da mesma forma.

Ainda numa digressão, temos o caso de uma campanha na qual eles não levaram o ouro, mas em que o talento abundante no país ficou em evidência. Antes da “derrocada” em Indianápolis, vale quebrar a linearidade e voltar quatro anos no tempo para edição 1998 do Mundial, também em Atenas. Abalada pela instauração do primeiro lo(u)caute na NBA, USA Basketball teve de se virar com um catadão de universitários, jogadores que na época estariam na D-League, caso ela existisse, ou de alguns veteranos em atividade na Europa. Destaque para o pivô Brad Miller, que remaria bastante e viraria um dos melhores de sua posição na grande liga, e o ala Trajan Langdon, um ídolo para os torcedores do CSKA Moscou. Treinados por Rudy Tomjanovich, com a assistência de Del Harris, esses atletas foram valentes o suficiente para conquistar o bronze, somando 7 vitórias (incluindo um placar de 83 a 59 contra o Brasil…) e 2 derrotas (Lituânia e, na semi, contra a Rússia, por um total de quatro pontos) – leia aqui o relato comovido da federação deles.

Jimmy King, um dos quase-anônimos do bronze

O ala Jimmy King, companheiro de Webber, Rose e Howard no histórico time dos “Fab Five” da univesidade de Michigan, foi um dos que conquistou o bronze no Mundial da Grécia em 1998

Nesse campeonato, os Estados Unidos foram obrigados a se alimentar com a rebarba, jogadores que não teriam a menor chance de entrar num elenco final de 12 atletas caso estivessem todos os de ponta disponíveis, mas ainda assim deram um jeito de brigar por um lugar ao pódio, lutando contra cachorros grandes. Com o tanto de jogadores que o país produz, algo semelhante apenas ao que o Brasil faz no futebol, não é impossível formar uma equipe competitiva.

Ao mesmo tempo, sem muita margem de erro, podem ficar em quarto num torneio continental como na Copa América de 2005, atrás de Brasil, Argentina e Venezuela, algo impensável para sua grife, ou, só com jogadores da D-League, ficar com um bronze no Pan de Guadalajara 2011, com um elenco que contou com três atletas hoje inscritos na NBA (Greg Stiemsma, Donald Sloan e Lance Thomas).

Tudo depende de preparação, seriedade, química e – por que não? – um pouco de sorte. De qualquer forma, passando por essas diferentes equipes citadas, algo fica muito claro: não é qualquer grupo que vai sair triunfante de uma competição oficial, independentemente de quem estiver jogando. Isso Paul Pierce e Tim Duncan poderão confirmar. Mas também não dá para negar o talento disponível.

E é a partir dessa fonte inesgotável de talento que o cenário da Copa América, hoje, se vê drasticamente alterado. Foram diversos os jogadores nascidos nos Estados Unidos inscritos no torneio disputado em Caracas, espalhados por vários elencos, como o ala Donta Smith, que se naturalizou venezuelano a menos de dez dias do torneio. Mas nem todos são descaradamente mercenários como o jogador ex-Atlanta Hawks: muitos entregam já em seus sobrenomes a ascendência latino-americana. A diferença é que, depois de passarem pelo High School, se formarem, ou não, nas universidades de lá, se beneficiando de toda a estrutura de seu país, na hora de jogar por uma seleção, eles simplesmente não teriam espaço se não na de seus familiares – como Scott Machado.

No México, temos, por exemplo, o pivô Lorenzo Mata, nascido na Califórnia, formado na UCLA. Combativo, disposto a trombar e fazer o serviço sujo, também um bom passador, inteligente, ele se apresentou como um sólido companheiro de garrafão para o astro Gustavo Ayón no México. Os inéditos campeões continentais também contaram com mais dois californianos em sua rotação, com papel importante: Jovan Harris, cestinha na final contra Porto Rico, com 23 pontos, e Orlando Méndez, além do baixinho catimbeiro que é o tal do Paul Stoll, esse natural do estado de Michigan.

O marrentinho Stoll

Paul Stoll, o tampinha e marrento armador reserva do México, direto de Michigan

Mais uma equipe a ser surpreendida pelos mexicanos, Porto Rico não teria muito do que reclamar, não, já que Renaldo Balkman, um dos melhores do torneio, veio de Nova York. Assim como John Holland, encontrou um ótimo ala para complementar seus armadores talentosos. Ele é um nova-iorquino de 24 anos, muito atlético, aguerrido na defesa, que vem evoluindo consideravelmente nas últimas duas temporadas. Neste campeonato, eles ganharam a companhia de outro conterrâneo, Ramon Clemente, ala-pivô estreante, da mesma forma que o ala Ricky Chaney, de Los Angeles. (E tenham em mente que Carmelo Anthony também seria uma possibilidade não fosse tão badalado e cobiçado desde a adolescência, de modo que a USA Basketball não o deixaria escapar de modo algum.)

O mesmo aconteceu na República Dominicana, com outro jogador de ponta: o ala-armador James Feldeine, de Nova York e uma ótima opção para pontuação a partir do perímetro, com suas infiltrações que desafogam a pressão pra cima dos, aí, sim, dominicanos naturais como Francisco Garcia e Jack Martínez. Outros nova-iorquinos: Edgar Sosa, Ricardo Greer e até mesmo o Ronald Ramon, de Limeira. Já o promissor Karl Towns Jr., de 17 aninhos, é de Nova Jersey.

E a Jamaica? Bem, Samardo Samuels nasceu realmente na ilha, vindo de Trelawny. De resto, temos cinco americanos e até um canadense, o jovem armador Dylan Howell, que saiu de Toronto. (Outro “gringo” que pode reforçar a seleção é o gigante Roy Hibbert, do Indiana Pacers, que já defendeu a equipe num torneio regional, mas se arrependeu e nutria esperanças de que pudesse ser liberado para defender os Estados Unidos de volta – sendo que já havia jogado pelo Team USA no Pan do Rio de Janeiro… –, até que seu pedido estapafúrdio foi recusado pela Fiba. Tá vendo? Acha que a federação vai dizer “sim” pra tudo?!)

Mas deu para sacar, né?

Os jogadores “importados” não chegam a ser Os Craques de suas seleções, mas se tornaram peças complementares importantes para a formação de sólidas e competitivas bases. Se fosse para subtrair todos esses caras, provavelmente nenhum dos três países teria beliscado a vaga – ou, no mínimo, teriam sofrido muito mais para assegurar a vaga. O “se” não entra em quadra, no entanto.

A única condição que se espera é que esses reforços tenham realmente alguma relação direta com os países que adotaram, algo que vá além de uma eventual valorização econômica pela vitrine que é disputar um torneio internacional de seleções.

Bem diferente do que vem acontecendo na Europa… Mas esta história fica para amanhã.

 


Talento porto-riquenho pesa na estreia. Mas a derrota deixa lição coletiva importante para a seleção
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Giancarlo Giampietro

Renaldo x JP Batista

Renaldo Balkman, de novo, acabou com o jogo a favor de Porto Rico

“EQUIPO!!! EQUIPO!!”, era o que berrava, com a voz estridente, mesmo, Rubén Magnano num pedido de tempo no segundo período. Num raro flagra televisivo,  provavelmente equipada com um microfone “boom” daqueles que captam tudo ao seu redor, até pensamento, a equipe de TV da Fiba conseguiu registrar um pedido de tempo da seleção brasileira, para ouvir o argentino.

E o técnico reclamava daquilo que era evidente: a seleção brasileira insistindo de modo irritante nas jogadas individuais, com um ataque novamente estagnado, pouco criativo. A partir da chamada, se não testemunhamos uma revolução, ao menos o padrão mudou o suficiente para mudar o ritmo do embate. Aos poucos, seus comandados foram voltando ao jogo. Só não foi o suficiente na derrota para Porto Rico por 72 a 65, pela rodada de abertura da Copa América em Caracas.

Era o que faltava ao time brasileiro, mesmo. Um mínimo de organização, de cabeça erguida e altruísmo, mas um pouquinho mesmo para fazer a diferença contra os bons e velhos parceiros de Porto Rico. Ah, Porto Rico! Os sabores porto-riquenhos, a leveza, a cultura caribenha. Individualmente muito mais talentosos nesta competição, mas ainda indisciplinados o bastante para fazer de qualquer partida uma emoção.

Também pesou na recuperação, como o próprio Wlamir alertou durante a transmissão da ESPN, uma ajudinha do técnico Paco Olmos. O espanhol não só tirou seus melhores nomes de quadra como chamar jogadas em sequência para o decadente já totalmente caído Larry Ayuso, o eterno nêmesis de Marcelinho Machado. Bem coberto por Vitor Benite, forçou seus chutes e investidas e, num piscar, o Brasil diminuiu uma desvantagem de dez pontos para dois ao final do primeiro tempo (31 a 29).

Do seu lado, além da bronca, Magnano também pôde consertar um próprio erro. Em vez de capengar com a dupla Caio e João Paulo, lançouum quinteto muito mais coeso por ser beeeeeem mais leve, com Larry-Benite-Arthur-Giovannoni-Hettsheimeir. Na volta do intervalo, eram Huertas e Alex no lugar de Benite e Arthur, mantendo a agilidade. Com esse tipo de formação, conseguiram pular cinco pontos à frente. O terceiro quarto foi vencido por 22 a 17 – isto é, dois pivôs pesados ao mesmo tempo em quadra não pode.

No quarto período, porém, Porto Rico enfim se acertou em quadra, lendo melhor o que se passava na partida. Diminuíram o bumbameuboi, aproveitando inclusive uma falha estratégica do técnico da seleção brasileira.

Ok, o velhaco Daniel Santiago estava dando um trabalhão danado, de modo que o técnico tirou Caio Torres de seu banco para combatê-lo. Deu certo por algumas posses de bola. Daí que Olmos tirou, então, seu grandalhão, e o argentino não o acompanhou nesse jogo de xadrez. Sem tem com quem trombar em seus custosos minutos a mais em quadra, no sacrifício e, por isso, com a mobilidade ainda mais comprometida,  sobrou para o novo pivô de São José perseguir sem a menor chance o hiperativo Renaldo Balkman.

Uma das figuras desta Copa América, o ala-pivô andava quieto ofensivamente, mas foi muito bem acionado por Barea nessa ocasião e acabou com o jogo, no fim. Operário toda a vida, terminou o duelo com os brasileiros novamente com uma linha estatística de superestrela: 24 pontos, oito rebotes e quatro tocos, com 70% de acerto nos arremessos. Uma ou duas posses de bola de sucesso para o cabeludo, e os adversários abriram uma vantagem mínima. Conta cada detalhe, não?

A essa altura, ao menos a seleção ao menos tinha uma abordagem mais razoável, menos egoísta – ainda que, no ímpeto de querer resolver jogo rapidamente, os alas brasileiros tenham novamente se precipitado a arremessar com muitos segundos no cronômetro, achando que aquela era A HORA de matar os caribenhos.

Se tivessem trabalhado um pouco mais o ataque durante os primeiros 15 minutos do primeiro tempo, quando Porto Rico estava todo atrapalhado, perdido em seus devaneios, talvez o desfecho pude ser diferente? Pode ser. De qualquer forma, ficou evidente que as investidas no mano-a-mano não são o que apregoam Magnano. O técnico agora tem de dar um jeito de passar a mensagem de maneira ainda mais clara para as próximas rodadas. Com muitos desfalques e uma convocação deficiente, seu time não tem margem de erro alguma. Cada minutinho de um jogo coletivo que possa amplificar as qualidades de seus atletas.

Precisa-se, realmente, de uma equipe.

*  *  *

O Brasil teve chance. A derrota incomoda, claro. Mas era um resultado, digamos, que já poderia entrar na conta. Não muda muito o planejamento da equipe na busca de uma das quatro vagas do torneio. Depois da folga neste sábado, voltam aí, sim, para um confronto direto com o Canadá no domingo, ao meio-dia (horário de Brasília). Os canadenses venceram a Jamaica com facilidade na primeira partida do torneio: 85 a 64, com excepcional partida de Cory Joseph (17  pontos, 9 assistências e 8 rebotes).

*  *  *

Marcar Barea é complicado. Explosivo, maroto, tende a conseguir aquilo que pretende fazer no ataque. Larry bem que tentou, num esforço louvável, mas seu oponente tende a levar a melhor mesmo no um contra um ou no uso de pick-and-rolls. E o que fazer, então, para amenizar essa situação? Atacar, literalmente, sua deficiência. Leia-se: sua defesa. Ele só joga de um lado da quadra. Então Huertas adotou uma estratégia correta: antes de serem agredidos, foi ele para cima. O brasileiro terminou o jogo com 16 pontos, contra 12 de seu oponente. E o saldo positivo não se resume apenas aos quatro pontos de uma conta básica, mas, antes de tudo, na grande conta tática do jogo, minimizando o impacto gerado pelo tampinha.

*  *  *

Situação hipotética: se Magnano fosse o treinador de Arroyo e Ayuso, precisaria muito mais de uma equipe de paramédicos ao seu lado do que de Fernando Duró liderando um grupo de escudeiros. As chances de um piripaque seriam altíssimas. De acompanhar os caras há anos, sabemos bem, né? Mas não deixa de impressionar a cada confronto: os dois são talentosos, obviamente, mas, juntos, têm uma malemolência incontrolável. Agem como se fossem matar o jogo a cada momento.

É até engraçado, no caso de Arroyo, comparar sua postura quando serve ao time nacional com a que tem em clubes. Duas figuras completamente diferentes. Em Porto Rico, é como se ele fosse o chefão, um scarface prestes a dominar a situação. Daí o seu orgulho ferido pela ascensão de um Barea igualmente tinhoso, mas muito mais produtivo. Não que o armador não consiga mais perturbar uma defesa ou seu marcador em específico. Tem ginga, drible e chute para isso. Mas, em geral, o modo como enxerga o jogo e como se comporta não é nada saudável para nenhuma equipe.

*  *  *

Tão eficiente na fase de amistosos, o tiro de três pontos foi uma lástima no jogo de estreia: os brasileiros converteram apenas 24% de seus arremessos de fora, com 13 erros em 17 tentativas. Ai. No geral, porém, a coisa foi ainda mais feia: 36% no aproveitamento de quadra, contra 41% dos porto-riquenhos, num jogo feio de doer.

*  *  *

 Rafael Hettsheimeir: completamente enferrujado. Na hora de avaliar o pivô brasileiro, favor não esquecer a temporada perdida que ele teve na Espanha. Ele ficou muito tempo no banco de reservas do Real Madrid, e isso atrapalha demais, para qualquer um. Ou não lembramos mais das dificuldades que até mesmo um Tiago Splitter teve ao se apresentar em 2011 após um ano de banco pelo Spurs também?

*  *  *

Raulzinho e Rafael Luz nem jogaram. Passaram a partida inteira com camisa de manga comprida no banco. Nem um minutinho sequer? A ver se a situação se mantém para o decorrer do torneio.


Caras da Copa América: Renaldo Balkman, o homem banido das Filipinas
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Giancarlo Giampietro

Balkman no rebote

O pogobol Balkman na disputa por rebote – enquanto não faz nenhuma besteira em quadra

LeBron James ministrou uma clínica de basquete em Manila para 15 mil pessoas. Clínica nada, claro. Era mais um evento de adulação ao superastro do Miami Heat, com direito a show pirotécnico. Kobe Bryant também se divertiu um bocado por lá, como vemos nessa galeria, depois de ter enfrentado uma tempestade durante seu voo. JaVale McGee? Quase se naturalizou filipino.

As Filipinas amam a NBA e o basquete. Eles estão abertos a tudo. Só não querem saber mais de ver Renaldo Balkman nem pintado de ouro

Em março deste ano, o ala-pivô da seleção de Porto Rico aprontou um fuzuê inacreditável durante sua breeeeve passagem jogando na liga local. Vestindo a camisa do Petron Blaze Boosters (!?), num confronto com o Alaska Aces (!?!?), o rapaz  perdeu por completo as estribeiras em quadra após discordar de uma decisão da arbitragem.

Num episódio que rodou o mundo, Balkman começa a berrar na direção de um dos juízes. Quando um dos assistentes de sua equipe tenta chegar no clima de “deixa-disso”, levou um “chega-pra-lá”. Depois foi a vez de encarar um companheiro de time, com aquela postura de “tira-a-mão-di-mim”. E segue com sua insanidade. Dedos em riste, cabeça tombada, gritos e gritos, enquanto os adversários estão cobrando lances livres. Até que sobrou para Arwind Santos, outro parceiro de time, que… Acaba estrangulado! E não para nisso. Se acha impossível, veja aqui:

O episódio naturalmente deixou muita gente perplexa, incluindo o comissário da liga, Chito Salud, que optou por banir o porto-riquenho do basquete filipino para toda a eternidade. Além disso, só para deixá-lo sem o dinheiro do busão, também aplicou uma multa de 250 mil pesos filipinos, que dava na época algo como US$ 6 mil.

Depois, arrependido que só, Balkman usou o Twitter para tentar se redimir. “Gostaria de pedir desculpas a Arwind Santos como pessoa, alguém que respeito verdadeiramente (a-hã) e alguém que não iria machucar intencionalmente. Minhas ações foram irresponsáveis (ah, vá)”, disse o cabeludo, que falou que foi levado pelas emoções de um jogo intenso e que curtiu sua estadia nas Filipinas. “Todo mundo faz uma vez na vida algo que não era para se fazer e me deu branco naquela hora.”

Foi bom enquanto durou – ele tinha médias de 25 pontos, 13,4 rebotes, 2,4 assistências e 2,7 tocos por jogo na temporada, enfrentando uma concorrência bem fraca. Chito Salud não se sensibilizou com a resposta, mantendo a decisão da liga. Até porque ele citou este episódio aqui para julgar o atleta como reincidente:

Aqui, vemos Balkman “encarando” o venezuelano Greivis Vasquez, durante a Copa América/Pré-Olímpico de 2011, em Mar del Plata. Ele não gostou de uma falta dura do hoje armador do Sacramento Kings. Acabou suspenso por um jogo, ao lado de Nestor Colmenares, que chega para o empurrão em defesa de seu companheiro.

Sabemos também que o ala-pivô também já teve problemas disciplinares com a seleção porto-riquenha, abandonando o time por considerar que não estava sendo aproveitado de modo adequado.

Mas, tudo bem. Paramos por aqui, porque a ideia nem é pintar Balkman assim como o maior bandido do planeta. Só é preciso tomar cuidado com ele em quadra. Porque isso faz parte de todo um pacote de um dos jogadores realmente mais intensos que você pode encarar em quadra.

Ele definitivamente não é dos mais talentosos. Mas foi abençoado com uma capacidade atlética incrível – acho que consegue dar uns quatro ou cinco pulos em sequência na busca de um rebote, sem peder um centímetro na impulsão de pogobol – e muita determinação, correndo sem parar pela quadra. Incomoda mesmo, com os brasileiros puderam atestar na disputa da Copa Tuto Marchand, em que ele se aproveitou da lentidão dos adversários para revier seus tempos de astro filipino, com 24 pontos, 15 rebotes e quatro roubos de bola.

Renaldo Balkman

Balkman matou o garrafão brasileiro no último amistoso

Só com muito esforço e garra, mesmo, para que pudesse encaminhar sua carreira adiante. Quando estava no colegial, Balkman mal podia sonhar com alguma bolsa de estudos até que foi descoberto pelo técnico da Universidade da Carolina do Sul, Dave Odom, durante uma partida de eu Laurinburg Institute, em Orlando. “Eu me lembro da primeira vez que o vi. Estava sentado neste ginásio, com (o assistente) Barry Sanderson, e perguntei: ‘Quem é aquele garoto com os dreadlocks? É deste cara que precisamos’. Barry foi atrás, voltou e ninguém sabia seu nome”, afirmou o técnico.

É isso. De um jeito ou de outro, o jogador sempre esteve correndo – e por fora. Até que, de última hora, aparece alguém para acreditar. Quando, no Draft de 2006, o New York Knicks o escolheu na posição número 20, poucos puderam acreditar. Poucos, menos Isiah Thomas, então o chefão da franquia nova-iorquina, um dos piores gestores que a NBA já viu, mas um sujeito de grande reputação na hora de identificar talentos. Seria esse mais um diamante bruto descoberto pelo ex-genial armador?

Hoje, sabemos que não foi o caso. Balkman até desfrutou de algum sucesso em sua primeira pela temporada como um Knick, mas em nenhum momento justificou uma escolha tão alta, ainda mais quando gente como Rajon Rondo e Kyle Lowry estava disponível. (Embora, um parêntese: Cedric Simmons Rodney Carney, Shawne Williams, Oleksiy Pecherov e Quincy Douby foram os cinco jogadores selecionados antes de Thomas tomar sua decisão… Então não é que Rondo ou Lowry fossem tão amados assim naquele Draft.)

Não demorou muito, então, para que o atleta fosse chutado para fora de Nova York, trocado por um saco de batatas do Denver Nuggets, durante o expurgo do legado de Thomas que Donnie Walsh promoveu, numa reconstrução de elenco que depois resultaria na contratação de Amar’e Stoudemire e Carmelo Anthony. Alías, bem lembrado: quando Melo conseguiu forçar a barra para deixar as Montanhas Rochosas rumo a Manhattan, ironicamente Balkman foi incluído no mesmo pacote, de volta ao Knicks. Neste retorno, porém, jogou muito pouco até ser dispensado em fevereiro de 2012.

Foi aí que Balkman caiu na vida de andarilho do basquete e chegou a Manila. Para lá, no entanto, ele nunca mais pode voltar.


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