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Argentina acelerou mais que o Brasil na 1ª fase. E neste domingo?
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Giancarlo Giampietro

Alex é um dos veteranos do Mundial. Mas ainda acelera como poucos

Alex é um dos veteranos do Mundial. Mas ainda acelera como poucos

Na onda de medição de estatísticas ditas avançadas do basquete, uma das mais interessantes á de “pace”. Ao pé da letra, mesmo: ritmo. O ritmo de jogo de cada time, o número de posses de bola que cada equipe usa durante os 40 minutos.

Em sua prévia sobre os confrontos de oitavas de final da Copa do Mundo, o jornalista John Schuhmann, do NBA.com, apresentou o ritmo de ataque de cada uma das 16 seleções que seguem na disputa pelo título. Para minha surpresa, a Argentina teve uma proposta mais acelerada do que o Brasil na primeira fase.

Justo a Argentina que, em sua rotação, tem um dos conjuntos mais lentos de todos os 24 elencos inscritos. Nos cálculos do analista, nossos vizinhos usaram 74 posses de bola em média nas cinco primeiras partidas, contra 72,6 da seleção brasileira. Pode não parecer muito numa primeira piscadela, mas é o suficiente para separar cinco equipes (é a diferença entre o 11º colocado e o 16º).

Para comparar, a Espanha tem 75,8 (em quinto), enquanto os Estados Unidos deixam todos os concorrentes comendo poeira, com 85,8 (em primeiro). Run, baby, run! Tendo em vista o ritmo empregado pelo Team USA, os dois rivais sul-americanos parecem tartarugas. O que não chega a ser uma surpresa, do ponto de vista deles. Agora, ver o Brasil abaixo da Argentina nesta relação só comprova a grande influência de Rubén Magnano sob seus comandados.

Quem se lembra do tempo em que esta geração brasileira, mesmo, era julgada por suas precipitações com a bola e os ataques tresloucados? Essas assertivas ficaram no passado já. Todavia, diante dessa 16ª posição brasileira no ranking – ainda mais com fracos adversários como Egito e Irã, com uma transição defensiva esburacada pesando positivamente na conta –, será que não é o caso de pensar se o time não poderia arrancar um pouco mais?

Huertas, em contragolpe, pode ser classificado na categoria de "mago"

Huertas, em contragolpe, pode ser classificado na categoria de ''mago''

(E, tá certo, aqui abro espaço para todo os que queiram reclamar: “Caceta, mas não está bom nunca?! Vai ser do contra assim lá em Buenos Aires, meu irmão!” )

(…)

(Agora voltamos.)

Acho que a pergunta é justa se formos considerar as características dos atletas brasileiros convocados – ou do basquete brasileiro em geral. Mesmo que seja o time mais veterano do torneio, a característica geral do plantel é de velocidade, mesmo entre os grandalhões. Varejão, Nenê e Splitter são muito mais rápidos que a média de gente de seu tamanho. Inteligentes, ágeis, experientes, também rendem bem em situações de meia-quadra por seus respectivos clubes, mas, em quadra aberta, acho são bem produtivos, sim.

Leandrinho Barbosa, o Vulto Brasileiro, representa um contragolpe de um jogador só – Marquinhos, com suas passadas largas, também é difícil de ser pego. Huertas dificilmente corre com o brasileiro, mas, quando recebe sinal verde, encanta com seu controle de bola em disparada. Raulzinho e Larry também têm boa “largada”, assim como o incansável Alex. Enfim, já passamos aqui por grande parte da seleção. Deste grupo, diria que apenas Rafael Hettsheimeir não se beneficia diretamente de uma proposta de jogo mais arrojada.

Magnano obviamente pode apresentar os resultados da primeira fase para dizer que a cadência recomendada é a correta – o time foi o segundo que menos cometeu desperdícios de bola, por exemplo, com 11,4 por jogo (contra 14,7 dos norte-americanos). De fato, com essa abordagem, foram quatro vitórias e uma derrota pelo Grupo A.

Agora, qual foi justamente o melhor momento de sua equipe no Grupo A? Acho que não há dúvidas de que tenha sido o primeiro quarto contra os sérvios, não? Justamente um dos períodos em que a equipe mais golpeou em velocidade, para alcançar os seguintes números: 5 assistências para 9 cestas de quadra, 9/14 nos arremessos (64%). Uma execução de primeira.

As dificuldades do ataque brasileiro em situações de meia quadra já estão bem documentadas. Contra um garrafão poderoso como o da Espanha ou uma defesa extremamente atlética como a da França, o aproveitamento dos arremessos de quadra despencou. Diante dos franceses, talvez o convite para a corrida não fosse uma boa ideia. Agora, contra os irmãos Gasol? Ainda que eles estejam assessorados por quatro armadores de alto nível, é muito melhor do que desafiá-los no mano-a-mano na zona pintada.

A Argentina não tem, claro, nenhum Gasol ao seu lado. Por mais que Luis Scola seja um dos melhores pivôs do mundo Fiba, seu impacto num jogo está praticamente direcionado todo para o ataque. O craque é muito mais vulnerável na defesa, podendo ser atacado com frequência. Desde que com bom movimento de bola. Do contrário, seu time tende a fazer boas rotações defensivas, com dobras vindo de ambos os lados, variadas, para atrapalhar os pivôs brasileiros.

Se o Brasil tentar acelerar, no entanto, há pouca gente do outro lado que consiga se manter no páreo. Facundo Campazzo, Nicolás Laprovíttola? Sim, tranquilamente. Pablo Prigioni? Talvez. Agora, por mais que deem um duro danado em quadra, Andrés Nocioni, Marcos Mata, Walter Herrmann e Léo Gutiérrez teriam muita dificuldade. Para não falar de Scola.

Influente Magnano se vê novamente na posição de enfrentar seus compatriotas

Influente Magnano se vê novamente na posição de enfrentar seus compatriotas

Não que Magnano deva jogar todo o seu planejamento para o alto, orientando que seus atletas virem todos aríetes em quadra. Aliás, correr não significa precipitar. Não são sinônimos, se e a movimentação dos jogadores estiver bem esboçada. Num basquete cada vez mais competitivo, estudado e de atletas imensos, uma definição rápida tende a ser jogada mais eficiente, propensa a menos erros.

É de se esperar que, durante a fase de preparação, o argentino também tenha coordenado muitas ações de transição mais oportunistas, de acordo com as situações apresentadas numa partida. Talvez seja a hora empregá-las um pouco mais neste confronto específico?

Historicamente, o Brasil é o que acelera, e a Argentina, administra. Se os papéis não estão exatamente invertidos neste Mundial, percebe-se uma alteração significativa em suas dinâmicas. Se esse padrão do Mundial for mantido no jogo deste domingo, temos aí mais um componente tático bastante interessante no tabuleiro de Magnano e Lamas, que vai além do emocional.


Ayón se despede em alta do Mundial, mas sem contrato
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Giancarlo Giampietro

Ayón, orgulho mexicano, desempregado na elite do basquete

Ayón, orgulho mexicano, desempregado na elite do basquete

Gustavo Ayón já fez tanto pela seleção mexicana nos últimos anos, levando o time a uma sequência histórica de façanhas, que, num jogo perdido, não era mal algum que seus companheiros jogassem em sua função por 40 minutos neste sábado.

Na abertura das oitavas de final da Copa do Mundo, todo mundo sabia que os Estados Unidos iriam atropelar o México (86 a 63, nem foi tão feio assim). Mas a partida do mata-mata tinha um valor especial para o craque do time, o pivô camisa 8 que, inexplicavelmente, está desempregado no momento. De modo que 25 pontos, 8 rebotes e 11/19 nos arremessos não faz mal nenhum, mesmo que numa sacolada. Ele se despede do Mundial com médias de 17,6 pontos e 7,6 rebotes.

Ayón foi explorado ao máximo. Trombou com uma infinidade de pivôs americanos em 36min53s de partida, aproveitando ao máximo a oportunidade de mostrar serviço. Nos minutos finais, estava visivelmente exausto, tendo de segurar Andre Drummond e Mason Plumlee correndo que nem malucos. Coitado. Mas foi por uma boa causa.

Ayón x Monocelha no Mundial

Ayón x Monocelha no Mundial

Ele não é o único protagonista do Mundial nessa situação – temos Aron Baynes na Austrália e Miroslav Raduljica na Sérvia, por exemplo. Mas, pelo que vimos hoje no embate com os norte-americanos, é de se perguntar como é possível que alguém com os talentos de Ayón tenha sido menosprezado desta maneira. Até o momento, seus agentes asseguram que não receberam sequer uma proposta oficial da NBA, depois de seu cliente concluir um contrato de três temporadas.

Segundo o extremamente confiável Marc Stein, do ESPN.com, o San Antonio Spurs passou a manifestar interesse no jogador, mas ainda tem como prioridade a renovação com Baynes. O ídolo mexicano seria, então, um plano B – estar na lisa de atletas monitorados por Gregg Popovich e RC Buford é, de qualquer modo, um bom sinal para qualquer empresário. A mídia mexicana fala em negociações com o Real Madrid, para o qual foi oferecido. O Baskonia também teria sido sondado.

É muito estranho. Ayón não pode ser confundido com um craque, alguém que mudaria o destino de uma franquia da NBA a partir do momento em que assinasse. Mas é, por outro lado, um pivô bastante versátil, pau-pra-toda-obra.

No ataque, é capaz de pontuar com eficiência próximo da cesta, com o jovem Anthony Davis pôde atestar neste duelo, sendo fintado em diversas ocasiões em mano-a-mano. Com um jogo de pés bastante criativo, girando para os dois lados com facilidade, conseguiu se desvencilhar da interminável envergadura do Monocelha. Veja os australianos entrando na dança:

Na liga americana, embora não tenha um bom chute de média distância (seu lance livre, por exemplo, é um horror – média de 50% na carreira), ele pode ser bastante útil de outra forma no poste alto: tem visão de jogo e roda a bola com precisão (2,8 assistências por 36 minutos, para um pivô). Reparem como ele está sempre com a bola erguida, os braços alertas para fazer o passe – isto é, não basta inteligência, tem de ter fundamento também. Aqui:

Do outro lado, tem capacidade atlética para segurar a onda na disputa dos rebotes e também está disposto a trombar, bater e fazer o necessário para proteger a cesta. Numa projeção de 36 minutos, tem médias de 1,6 roubo de bola e 1,2 bloqueio, além de 9,4 rebotes e 10,2 pontos.

De novo: são habilidades em que ele está acima da média, mas não quer dizer que ele seria dominante: a concorrência na liga é grande, independentemente da posição. Vejam o caso de Francisco Garcia. Esquenta-banco em Houston, cestinha de 20 pontos pelos dominicanos nesta Copa. Ninguém pediria que Ayón arrebentasse. Mas é meio triste ver um jogador talentoso dele vagar pela liga.

Vagar, mesmo: foi contratado em 2011 pelo New Orleans, de modo até emergencial, já no meio da temporada. Ele havia se estabelecido como um dos melhores pivôs da Liga ACB, na dianteira de diversas tabelas estatísticas, incluindo a de eficiência – o que é sempre um bom sinal, considerando que Tiago Splitter, Marc Gasol e Luis Scola estiveram por lá nas temporadas anteriores.

Para quem chegou de última hora, se ajustando, Ayón mandou bem nos ex-Hornets-hoje-Pelicans. Quando o time se interessou por Ryan Anderson, porém, no mercado de agentes livres, foi despachado para Orlando num sign-and-trade. O clube solicitou o mexicano, mas não o usou muito. O elenco estava em processo de reconstrução após a saída de Dwight Howard e tinha pivôs “próprios”, mais jovens para desenvolver. Não demorou muito para repassar o atleta, então, para o Milwaukee, que vivia fase de transição semelhante (aliás, como sempre). No lugar errado, na hora errada, ou seja.

Agente livre em 2013, fora do radar, o pivô não conseguiu dar o salto pelo qual todo estrangeiro espera ao migrar para NBA: receber um senhor aumento na hora de fechar o segundo contrato. Teve de se contentar com um salário mínimo para preencher a rotação de pivôs do Atlanta Hawks, pelo qual quebrou um galho quando Al Horford se lesionou, mas não tão foi aproveitado. O técnico Mike Budenholzer priorizava o arremesso de fora, mesmo para seus grandalhões, e o macedônio Pero Antic ganhou espaço.

Aqui estamos, então. A central de negociações da liga americana está em clima de fim de feira, na real, e Ayón, sem clube. Ao menos ele pôde bater uma bolinha neste sábado contra seus (ex-)adversários de NBA e mandar um último recado.

*  *  *
Independentemente do clube com o qual assinar, Ayón seguirá um orgulho mexicano:


Contido, mas intenso, Leandrinho se reinventa na seleção
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Giancarlo Giampietro

Leandrinho: 13,6 pontos, 55,3% nos arremessos em 23 minutos

Leandrinho: 13,6 pontos, 55,3% nos arremessos em 23 minutos

Leandrinho já passou por alguns momentos difíceis com a camisa da seleção brasileira. Pessoalmente, me lembro do desfecho da Copa América de 2007, em que teve a bola da semifinal contra a Argentina em mãos e acabou forçando um disparo de três pontos, que não foi dos melhores. Valia uma vaga olímpica, e o deixou o ginásio sozinho, bastante chateado.

Ele havia acabo de fazer uma temporada espetacular na NBA, na qual foi eleito o melhor sexto homem. Antes que os mais sarcásticos façam alguma piadinha a respeito (re-ser-va!!!), é bom lembrar que um certo Manu Ginóbili ganhou o mesmo troféu no ano seguinte. Toni Kukoc e Detlef Schrempf também são outros estrangeiros que entram nessa lista. Nada mal. E foi um prêmio merecido: o ''Vulto Brasileiro'' havia contribuído com 18,1 pontos e 4 assistências por partida para um Phoenix Suns de artilharia pesada.

A derrota mais dolorida, em 2007

A derrota mais dolorida, em 2007

Não importando que jogasse ao lado de Steve Nash, Amar'e Stoudemire, Shawn Marion, num time extremamente entrosado e completamente heterodoxo, depois de uma campanha dessas, a expectativa em torno do atleta era imensa rumo ao Pré-Olímpico de Las Vegas. Aos 24 anos, tentou assumir essa responsabilidade, com média de 21,i pontos, mas com 16,1 arremessos por partida (6,1 de três, com 37,7% de aproveitamento), e 23 turnovers no total para 28 assistências. Na partida específica pela semifinal, contra os argentinos, vejamos, ele até maneirou: 12 chutes, seis conversões, e 16 pontos, mas com quatro desperdícios de posse de bola.

O que ficou na cabeça, de todo modo, foi aquele chute. Tomou chumbo de tudo que é lado, incluindo deste que aqui escreve. Desde então, a relação do público brasileiro com o ala, na hora de falar exclusivamente de seleção, tem sido um tanto abalada, uma desconfiança que tem com base a propensão para decisões descontroladas com a bola.

Agora, se for para falar do Leandrinho desta Copa do Mundo de basquete, essas críticas já não colam mais. É algo que já se manifestava nos amistosos e que se confirmou nos jogos para valer: passadas cinco rodadas, temos um jogador de perfil bem diferente em quadra.

Mesmo com Magnano, seu volume nos disparos de fora ainda era elevado: tanto no Mundial 2010 como em Londres 2012, ele sustentou média de cinco por partida, com um aproveitamento apenas razoável  (36,6%). A questão não é demonizar meramente o arremesso de longa distância. Mas é difícil imaginar que um atleta vá ficar livre o suficiente no ataque para praticar um volume tão elevado. Além do mais, para alguém com num dos primeiros passos mais acelerados do basquete mundial, acabava sendo desperdício estacionar no perímetro em busca dos chutes.

Neste Mundial, a mentalidade é completamente oposta. Vemos um Leandro Barbosa muito mais concentrado em atacar seu marcador, em sistematicamente explodir em direção ao garrafão. Algo muito bem-vindo, pois são raríssimos os adversários que vão conseguir parar em sua frente. Para atrapalhá-lo, só mesmo de modo coletivo, uma segunda linha atenta, bem postada, para lhe fechar a porta nas infiltrações. Em tráfego, o paulistano já tende a perder rendimento.

Por ora, o brasileiro tem executado suas investidas com muita eficiência, no tempo certo, sem exagerar na dose. É o cestinha do time com 13,6 pontos, mas cometeu apenas três turnovers em cinco jogos e vem convertendo 54,8% de suas bolas de dois pontos (obviamente que nesta conta também entram as bandejas isoladas de um vulto em contra-ataque, mas o número já é expressivo o bastante).

Em geral, ele tentou quase o dobro de chutes de dois em relação aos de três (31 a 16 – e são 9,4 tentativas por jogo, no geral). Porque, sim, as bolas de longa distância ainda estão lá: 3,2 por jogo. Para o mais purista, pode parecer muito, mas basta notar que Marcelinho tem chutado 3,5 por jogo, com metade dos minutos (11,8 contra 23,2), para relativizar. De qualquer forma, basta ver seu aproveitamento neste fundamento, de espetacular 56,2%, pare perceber que a seleção só pode estar mais adequada. Se quiser descontar as três bolas convertidas em três tentativas contra o Egito, tudo bem também: ficaríamos em 6/13 (46,1%). Incluindo esta aqui, que não é a ideal, mas sobrou para ele:

Além da redescoberta eficiência ofensiva, outro fator do jogo de Leandrinho que tem impressionado na competição é sua vitalidade, sua energia. Não que antes não acontecesse. Podem acusar o novo jogador do Golden State Warriors de tudo, menos de alguém que fuja da raia. Pelo contrário. Mas nota-se um atleta muito mais intenso e compenetrado em quadra, fazendo sua envergadura e sua agilidade surtirem mais efeito no campo defensivo, na briga pela bola. Admito que me foge da cabeça agora o jogo em que foi brigar pelo rebote de ataque, talvez tentando uma enterrada de cara e que acabou tomando um tombo feio no meio do garrafão. Foi na estreia contra a França? Enfim, o tipo de lance que influencia uma partida para muito além da bolinha de três ou a do que o ''beep-beep'' no contra-ataque.

Enfim, é um competidor distinto, mais sereno com a bola em mãos, mas também dedicado a pormenores do jogo, que estava enferrujado nos primeiros amistosos – não jogava desde o dia 4 de março, devido a fratura na mão seguida por cirurgia. Essa parada, aliás, pode também ajudar explicar sua forma física atual, talvez um ou dois degraus acima de muita gente, uma vez que sua ''pré-temporada'' começou bem antes.

Leandrinho, atacando lá dentro

Leandrinho, atacando lá dentro

A intenção aqui não é eleger o ligeirinho como o ''Destaque Oficial da Seleção''. O legal é tentar realmente assimilar as ações de uma equipe que vai ganhar ou perder como conjunto. Não é questão de apelar a um clichê corporativo, que  em muitas ocasiões vira uma blindagem conveniente. Mas verdade é que o na equipe nacional não há um Pau Gasol, um Dirk Nowitzki, um craque que assuma, ou esteja bem preparado para assumir o protagonismo – e são bem poucos os que têm, registre-se. Isso pode fazer falta aqui e ali, em momentos decisivos principalmente, mas também abre as mais diversas perspectivas. Dá liberdade. Na hora de falar sobre os argentinos, obviamente que você tem de pensar em ''parar ou atrapalhar Scola''. Para a seleção brasileira, como faz? A ameaça está dissipada. Em teoria, o time pode surpreender nesse sentido, dependendo da criatividade de Magnano e seus atletas.

Acho que, depois de um longo convívio com essa geração, já chegou a hora de maneirar com rótulos, né? De parar com essa busca incessante por heróis – e que, se der errado, viram vilões rapidamente. Jogadores, torcedores e críticos já caíram todos nessa armadilha. Em mais um confronto decisivo com a Argentina, sete anos depois de Las Vegas, com cobranças bem mais comedidas e diante de defensores muito mais lentos, o Leandrinho deste Mundial pode ser ainda mais eficiente para tentar vencer este clássico. Sem alarde e sem forçar a barra.

Histórico de Leandrinho em torneios Fiba após a NBA

Histórico de Leandrinho em torneios Fiba após a NBA


Brasil é o 3º pior nos lances livres na Copa. O que acontece?
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Giancarlo Giampietro

Splitter matou 71,8% de seus lances livres nos últimos playoffs

Splitter matou 71,8% de seus lances livres nos últimos playoffs. Fotos de Gaspar Nóbrega/Inovafoto/Divulgação

Ao atualizar o retrospecto do clássico Brasil x Argentina de 2002 para cá, os confrontos que envolvem personagens da atual geração, foi preciso relembrar o que se passou em quadra no último embate – e triunfo dos nossos vizinhos ao Sul: o jogo válido pelas quartas de final das Olimpíadas de Londres 2012. Fuçando em relatos do jogo, o que aparece de familiar?

Trechos como este: ''A seleção penava para alcançar a marca da mediocridade: 50%, nos lances livres. Foram 12 desperdiçados em 24 batidos. Se pelo menos seis amais tivessem caído…''.

Os números do embate estão aqui, mas vale nos concentrarmos neste fundamento. Naquele duelo decisivo, os brasileiros acertaram apenas 12 em 24 tentativas. Não é que os argentinos tenham cumprido uma jornada exemplar: erraram nove de 28 arremessos da linha (68% de rendimento). Mas 68%, convenhamos, é algo bem melhor do que 50%, numa conta que lhes valeu sete pontos preciosos numa vitória por 82 a 77.

Não sejamos simplistas, porém: numa conta óbvia, se o Brasil tivesse convertido seis chutes a mais, teria vencido, claro. Mas o mesmo poderia ser dito para duas bolas de três pontos, três de dois ou, quem sabe, dois turnovers ou três faltas a menos. Lance livre perde e ganha jogo. Assim como um rebote ofensivo cedido ou caputrado, um passe a mais no ataque etc. O basquete é um jogo de detalhes – mas são muitos os detalhes para se observar.

Ao final da fase de grupos da Copa do Mundo, fui dar uma espiada nas estatísticas gerais das equipes. Até me dar conta de uma coisa. Fazer qualquer comparação generalizada sobre as seleções caba sendo um exercício um tanto fútil. Como julgar quem tem o melhor o ataque, ou a melhor defesa, se os adversários não foram os mesmos?

O Brasil, por exemplo, enfrentou três pedreiras em seu caminho (Espanha, França e Sérvia), passou por um adversário inexpressivo (Irã) e atropelou o time mais fracote da competição (Egito). No Grupo C, a Turquia lidou com os Estados Unidos e não tiveram nenhum sparring (baaaaaaaba de verdade) para esbofetear. E aí? O que é mais difícil? O que influencia mais os dados computados? A única avaliação justa a ser feita seria entre os concorrentes de uma mesma chave, que tiveram a mesma tabela.

Posto isso, há um dado, sim, que pode ser avaliado de maneira universal, pois independe de quem está do outro lado a quadra, pois a ação do jogo está parada. Já sabe qual? Claro que sabe: o lance livre, justo aquele em que o Brasil surge com sua pior cotação. Com sofrível 61,1% de acerto, dentre os 24 times da primeira fase, a equipe de Rubén Magnano superou apenas duas: República Dominicana e Egito. Quer dizer: dos oito times eliminados, apenas os egípcios – que tomaram nesta quinta-feira a maior lavada brasileira na história dos Mundiais – ficaram abaixo.

''Tivemos um denominador comum no torneio: O baixo aproveitamento de tiros livres. Precisamos treinar, mas não em 45 dias de concentração, em 365 dias do ano'', afirma Magnano. Mas sabe quando ele soltou essa declaração? No dia 8 de agosto de 2012, após a derrota para seus compatriotas. Esse é o problema: as aflições de dois anos atrás ainda estão aqui vivinhas da silva.

Naquele jogo – mais uma vez – fatídico, Tiago Splitter errou seis de seus oito arremessos. De todas as qualidades excepcionais que o pivô oferece num jogo de basquete, certamente o lance livre não era uma delas. O que não quer dizer que não tivesse salvação. Trabalhando com Chip Engelland em San Antonio, o catarinense conseguiu elevar seu rendimento de 54,3% em sua primeira temporada (2010-11) de NBA para 69,9% no último campeonato, tendo chegado a 73% em 2012-13. Não é o ideal ainda, mas representa um progresso notável. Como explicar, então, que, no Mundial, ele esteja convertendo apenas 44%?

Varejão: 68,1% pelo Cavs neste ano e 53,8% pela seleção no Mundial

Varejão: 68,1% pelo Cavs neste ano e 53,8% pela seleção no Mundial

Não pára por aí. Ocorre que Anderson Varejão (53,8%) e Nenê (60%) também estão abaixo do que costumam produzir.

O capixaba acertou 62,7% em sua carreira de NBA, nunca ficando abaixo dos 51,3% de seu segundo ano em Cleveland. Desde então, só evoluiu, a ponto de converter 70,4% nos últimos três campeonatos. De novo: dá para melhorar, mas já é algo bem decente comparando com a maioria de seus pares. Já o paulista acertou 67,4% desde que entrou na liga americana em 2002. Em seu pior ano, foram 57,8%, também a sua primeira campanha por lá (excluindo 2007-08, em que disputou apenas 16 jogos, de modo atípico).

Então, de novo, qué pasa?

É a bola diferente? Menos carga de treinamento? Pressão?

Pode acontecer, claro, mas também não é que os pivôs não estejam habituados a situação de maior tensão.

Entre os três, apenas Nenê cai de modo significativo neste fundamento se formos comparar seus números de temporada regular com os playoffs da NBA (de 67,4% para 59,9%). Mas é preciso dizer que esse dado foi bastante abalado por sua última campanha nos mata-matas, a primeira com a camisa do Washington Wizards, neste ano, no qual ficou ficou abaixo da linha da calamidade: 34,6%, acertando apenas 9 em 26. Por outro lado, pelo Denver Nuggets, numa amostra bem maior (sete anos!), o rendimento foi de 63% – 3% a mais do que neste Mundial. De qualquer forma, temos no mínimo um ''empate técnico''.

Splitter também despencaria de 68% para 62% nos mata-matas, mas ficar limitado a esta queda seria sacanagem. O que torpedeia seus números foram os horripilantes 37,2% de 2012, ano em que foi até mesmo atacado propositalmente em confronto com o Oklahoma City Thunder (o ''hack-a-Splitter'').  Nos anos posteriores,  saltou drasticamente para 78,8% e 71,8% – com o San Antonio Spurs alcançando as finais em ambas ocasiões. Varejão, por sua vez, repete nos playoffs a mesma média dos jogos ''que não valem nada'': 62,9%. De novo: todos superiores ao que temos visto nos últimos dias.E aí?

Ginásio cheio, jogos importantes: brasileiros estão habituados

Ginásio cheio, jogos importantes: brasileiros estão habituados

Bem, em jogos internacionais, levando em conta a falta de resultados, e a suposta ''maior responsabilidade'' de servir à pátria (argh), alguém poderia levantar a tese de que esse seria um bom motivo para entender o intervalo que existe entre o que produzem por seus clubes e pela seleção. Mas isso seria realmente mera especulação. Apenas aqueles que estão mais próximos dos atletas podem avançar neste campo com mais propriedade.

Outro ponto importante que não pode ser relevado: se estamos falando aqui apenas dos pivôs, é porque os lances livres batidos pela seleção se concentram nesta trinca. Algo recorrente num jogo de basquete, claro, já que os grandalhões estão trombando muito mais sujeitos a trombadas e tudo o mais.  Dos 95 cobrados em cinco jogos, 51 foram deles (53%). Os alas Marquinhos, Alex e Leandrinho chutaram 27 (28%). Huertas, 11, Raulzinho, apenas um e Larry, nenhum (12%). Um jogo mais agressivo dessa turma em direção ao aro também poderia balancear as coisas e elevar o percentual geral do time. Quando se fala em jogo interior, perto da cesta, isso não quer dizer ações exclusivas com os pivôs. Agora, independentemente de seus tropeços, os três talentosos atletas não podem deixar de ser abastecidos e explorados.

De qualquer forma, temos aqui um mistério que comissão técnica brasileira ainda não resolveu e que se arrasta de modo preocupante para enfrentar um adversário que tem mais essa vantagem no aspecto emocional: terminaram a primeira fase com a terceira melhor média do torneio (76%), abaixo de Espanha e Filipinas. Mantida essa média, temos aí um detalhe que já estaria no papo para a Argentina. Restaria, então, aos brasileiros vencerem as outras pequenas e igualmente importantes batalhas de um jogo de basquete.


O 6º dia da Copa do Mundo: Tudo conspira para Brasil x Argentina
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Giancarlo Giampietro

Vocês se lembram daquelas jornadas triplas da Copa do Mundo da FIFA, né? Um jogão atrás do outro, dominando sua agenda. Pois bem. Pegue esse agito todo e multiplique por quatro. O resultado é a Copa do Mundo da Fiba. É muito basquete num dia só: 12 partidas! Uma tabela de estatística vai atropelando a outra, os fatos vão se acumulando, e pode ficar difícil de dar conta de tudo. Vamos dar um passada, então, pela última rodada da 1ª fase, depois de uma semi-overdose. Para o básico, deixe de ser preguiçoso e acesse o site oficial da competição, né? Veja lá a classificação final dos grupos e os todos os resultados. Sobre a vitória brasileira sobre o Egito, clique aqui.

Sim, o universo basqueteiro conspirou para isso: que Brasil e Argentina se enfrentem pelo terceiro torneio intercontinental seguido num mata-mata, tal como ocorreu no último Mundial e nas Olimpíadas de 2012. É um longo retrospecto, que precisou da combinação de três resultados nesta quinta-feira: derrota de Senegal para Filipinas, vitória da Croácia contra Porto Rico e o derradeiro revés dos argentinos contra a Grécia. hermanos terminaram, assim, com o terceiro lugar do Grupo B, encarando o segundo do A. O Brasil, claro. Nenhum desses três jogos terminou com uma surpresa, mas não deixa de ser notável que os três desfechos necessários para levar ao clássico tenham ocorrido. Veja abaixo os demais confrontos (nesta sexta, dia de folga geral, vamos abordar cada embate):

Os mata-matas: Parte superior da tabela é sensivelmente mais fraca que a de baixo. EUA têm caminho teoricamente tranquilo até a final

Os mata-matas: parte superior da tabela é sensivelmente mais fraca que a de baixo. EUA têm caminho tranquilo até a final

O jogo do dia: Pode passar?
Falando sério, é muito difícil escolher.

Os Tall Blacks, com Isaac Fotu, eliminam a Finlândia e sua empolgada torcida na #Espanha2014

Os Tall Blacks, com Isaac Fotu, eliminam a Finlândia e sua empolgada torcida na #Espanha2014

Em termos de emoção – e justiça histórica : ) –, poderíamos escolher Filipinas 81  x 79 Senegal. A equipe asiática merecia uma vitóriazinha que fosse, depois de amedrontar Argentina, Croácia e Porto Rico. Ela saiu em sua despedida, na segunda prorrogação que disputaram em cinco partidas. Melhor: nos minutos finais do tempo extra, o pivô contratado naturalizado foi excluído com cinco faltas, e seus nanicos tiveram de se virar contra os africanos, que já estavam classificados, mas tentavam sair do quarto para o terceiro lugar do grupo e escapar da Espanha nas oitavas. Não deu certo. E esta acabou sendo a primeira pedra a cair para levar a este grande Brasil x Argentina.

Mas teve outros tantos momentos intensos e mais relevantes para a continuidade do evento: a Nova Zelândia suou, mas venceu a Finlândia num confronto direto que lhe rendeu a classificação para os mata-matas, em jogo decidido realmente nos últimos segundos. E o que mais? O Irã quase apronta uma para cima da França, sonhando discretamente com a quarta posição do Grupo A. Os campeões europeus venceram por cinco pontos apenas.

A (quase) surpresa: Angola 91 x 83 Austrália
O placar em si foi inesperado. Mas a forma como ele foi construído não chega a surpreender, embora ainda possa deixar indignado quem leve a sério de mais o espírito esportivo. A gente conta essa história com mais detalhe em outro post: a Austrália não vai admitir nunca, mas entregou um jogo para a Angola, manipulando a tabela do Grupo D: terminou com o terceiro lugar. O motivo? Se passar para as quartas de final, não terá os Estados Unidos pela frente. Goran Dragic ficou uma arara, uma vez que sua Eslovênia se deu mal nessa.

Um causo
De manhã, bem cedo, estourou o rumor: os jogadores croatas teriam se rebelado contra o técnico Jasmin Repesa e ameaçavam boicotar o jogo contra Porto Rico se ele não fosse afastado, passando o comando para um de seus assistentes: o ex-pivô Zan Tabak. Depois de uma chocante derrota para Senegal, lembremos, Repesa havia detonado sua equipe: disse que, se pudesse escolher, não teria nascido nos Bálcãs, para não ter de lidar com o tipo de mentalidade que permite uma zebra dessas acontecerem. Antes de a partida começar, Tabak foi o primeiro a se pronunciar a respeito, negando de modo veemente o suposto motim. ''Em toda a minha vida no basquete, nunca vou entender essas pessoas que gostam de inventar esse tipo de coisa. Estou surpreso que alguém precise mentir desse jeito''. Mas a maior resposta, mesmo, veio da própria seleção croata em quadra: uma exibição primorosa do início ao fim para eliminar os porto-riquenhos por 103 a 82, com aproveitamento de 57,9% nos arremessos no geral, 45,8% de três. Com Repesa dirigindo o time normalmente e dando bronca: eram 24 pontos de vantagem no segundo tempo e ele esbravejava: ''Quem acha que este jogo já acabou? Quem?'' – mas, bem, eventualmente acabou , mesmo, e a Croácia asseguraria a segunda colocação do Grupo B.

Uma curiosidade foi a presença na plateia, em Sevilha, do trio Michael Carter-Williams, Nerlens Noel e Joel Embiid, jovens talentos do Philadelphia 76ers que foram ver de perto seu futuro companheiro: Dario Saric, sensação croata que não decepcionou, com 15 pontos, 4 rebotes, 3 assistências e 100% nos arremessos de quadra, em apenas 14 minutos de muita eficiência.

MCW, Noel e Embiid foram bater um papo com Saric em Sevilha

MCW, Noel e Embiid foram bater um papo com Saric em Sevilha

Alguns números
564 –
Luis Scola marcou 17 pontos em derrota para a Grécia e alcançou a terceira colocação na lista histórica de cestinhas da competição, com 564. Acima dele, só Oscar Schmidt (843) e o australiano Andrew Gaze (594). Nesta jornada, o mítico ala-pivô argentino deixou três lendas para trás, entre eles o ala Marcel, agora o quinto nessa relação, com 551 pontos.

Olho na Grécia de Printezis e Bourousis: time está com excelente química e uma linha de frente em forma, assessorada pelo cerebral Nick Calathes. Time não sente ausência de Vasilis Spanoulis e pinta como forte candidato ao pódio, guiado pelo técnico Fotis Katsikaris, nome em alta no mercado europeu

Olho na Grécia de Printezis e Bourousis: time está com excelente química e uma linha de frente em forma, assessorada pelo cerebral Nick Calathes. Time não sente ausência de Vasilis Spanoulis e pinta como forte candidato ao pódio, guiado pelo técnico Fotis Katsikaris, nome em alta no mercado europeu

100% – Três seleções venceram todos os seus compromissos na primeira fase: Estados Unidos, Espanha e Grécia. A melhor campanha foi dos norte-americanos, com 166 pontos de saldo, acima dos 126 dos espanhóis. Os gregos tiveram +63. O Brasil aparece em quarto na tabela geral, acima de Lituânia, Eslovênia e Argentina, vejam só, com saldo de +83. Graças a…

63 – Já destacamos durante o dia, mas não custa alardear novamente: nesta quinta, o Brasil deu sua maior lavada na história dos Mundiais ao vencer o Egito por 63 pontos de vantagem.

45 – Foi o índice de eficiência atingido pelo angolano Yanick Moreira, de 23 anos, contra uma Austrália não muito motivada. O pivô marcou 38 pontos e apanhou 15 rebotes, acertando 17 de 24 arremessos. Uma linha estatística que certamente ganhará destaque em seu currículo, na hora de sair do basquete universitário americano em busca de uma carreira profissional.

2 – A Eslovênia entrou em colapso em seu confronto direto com a Lituânia, de olho na primeira posição do Grupo D. A equipe de Dragic venceu o jogo praticamente de ponta a ponta, mas tomou a virada num quarto período desastroso, em que anotou apenas dois pontos, contra 12 do adversário, numa parcial bastante travada. A equipe caiu deste modo para o segundo lugar, sendo posicionada na chave dos Estados Unidos.

Andray Blatche: contagem de arremessos
86! – O pivô mais filipino da Copa do Mundo se despede do torneio – e, quiçá, do mundo Fiba –, com média de 17,2 arremessos por partida, num esforço comovente.  Scola tentou 75 arremessos na primeira fase e foi aquele que mais chegou perto do grandalhão. O argentino, afinal, não tem o apetite suficiente para competir com Blatche, que efetuou 4,4 disparos de três por confronto, a despeito do aproveitamento de 27,3%. Outra estatística que ele liderou foi a de rebotes: 13,8, acima dos 11,4 de Gorgui Dieng e Hamed Haddadi. Seria realmente o fim de uma era? Esperemos que não. Tomara que não.

O que o Giannis Antetokounmpo fez hoje?

Giannis tentou uma enterrada em rebote ofensivo, mas errou a mira. Seria highlight, na certa

Giannis tentou uma enterrada em rebote ofensivo, mas errou a mira. Seria highlight, na certa

Num jogo valendo a liderança da chave, o ala foi limitado novamente a 12 minutos, saindo zerado de quadra. Poxa. De qualquer forma, pegou seis rebotes e deu um toco em Facundo Campazzo sem nem precisar sair do chão. A linha estatística é fraca, mas você precisa vê-lo em ação para acreditar em seu potencial. O garoto de 19 anos ajuda a levar a bola, fecha espaço na defesa e corta linhas de passe com braços muito longos e agilidade e joga com muita energia. A inexperiência ainda custa alguns erros de fundamentos e a perda de posição . Em geral, porém, ele injeta vitalidade a um time muito bem equilibrado.

Tuitando:

Joel Embiid pode nem jogar na próxima temporada, mas já é disparado o favorito a MVP do Twitter na NBA 2014-15. Depois de flertar com a popstar Rihanna em público, mas virtualmente, o pivô camaronês agora corteja o ala-pivô croata, que foi escolhido pelo Philadelphia 76ers no mesmo Draft e fez bela partida contra Porto Rico. O prodígio, porém, só vai se apresentar ao time provavelmente em 2016, após cumprir dois anos de um robusto contrato com o Anadolu Efes, da Turquia.  

O armador finlandês poderia ter definido a vitória sobre a Turquia na terceira rodada. Teve novamente a chance de matar o jogo contra a Nova Zelândia nesta quinta. Passou em branco em ambas as oportunidades, acabando com a festa da torcida mais animada do Mundia. Vai para casa pouco deprimido o rapaz.

O armador soltou os cachorros para cima dos compatriotas durante a amalucada derrota para o Brasil na quarta-feira. Assistam.

Enquanto isso, na Croácia, o jovem Saric desce o porrete na apresentação da equipe, derrotada na véspera pelos gregos por 76 a 65.


O jornalista espanhol resume tudo isso. Viva os basqueteiros balcânicos!

Relembre o Mundial até aqui: 1º dia, , , e 5º.


Como não? Brasil reencontra Argentina; veja o retrospecto
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Giancarlo Giampietro

Flamenguista Laprovíttola e a duplinha Scola e Prigioni. De novo

Flamenguista Laprovíttola e a duplinha Scola e Prigioni. De novo

Sí, sí. É isso, mesmo. Deu Brasil x Argentina novamente.

Para que o clássico sul-americano se repetisse logo de cara nos mata-matas da Copa do Mundo de basquete, era necessária pelo menos uma combinação de três resultados no Grupo B: que as Filipinas lavassem a alma com pelo menos uma vitória sobre a outra zebra do torneio, Senegal; que a Croácia afastasse os rumores sobre autocombustão (mais uma!?) e vencesse Porto Rico; e que a Grécia provasse sua consistência redescoberta para derrotar nossos vizinhos do Sul, para que  eles terminassem em terceiro. Check, check, check. Confere, e cá estamos em mais um jogo decisivo entre os dois rivais.

Em competições intercontinentais, o confronto acontece pelo terceiro evento consecutivo. Sem brincadeira: rolou no Mundial passado, em 2010, e também nas Olimpíadas de Londres 2012. Vocês me deem licença, então, para resgatar e editar um texto de dois anos atrás, recuperando o retrospecto – já nem mais tão recente assim – entre as duas gerações que vão se reencontrar no domingo (17h, horário de Brasília). Uma experiência dolorosa para muita gente, eu sei. Mas esse histórico, que vem de 2002 para cá, é um componente emocional inegável, que tem de ser enfrentado nas próximas 40 e poucas horas.

Desde o torneio de Indianápolis, 12 anos atrás, muitas figuras fundamentais se despediram das quadras. Deu tempo de Marcelinho Machado, por exemplo, anunciar em duas ocasiões que não jogaria mais pela seleção brasileira, para reconsiderar prontamente. Do outro lado, Walter Herrmann também alternou bastante: foi, voltou, foi, voltou. De constantes, mesmo, temos Luis Scola e seu vasto arsenal ofensivo, que continua superprodutivo e eficiente (21,6 pontos por jogo no atual campeonato, mais 8,8 rebotes, 2,2 assistências e 52% nos arremessos).

Splitter, Leandrinho, Huertas e muito mais: Brasil dessa vez é quem tem força máxima

Splitter, Leandrinho, Huertas e muito mais: Brasil dessa vez é quem tem força máxima

A diferença é que dessa vez são os argentinos que entram com desfalques. Manu Ginóbili e Carlos Delfino fazem uma falta danada no perímetro: não só como pontuadores, mas também como criadores e defensores. Já o Brasil surge com força máxima. A primeira vez em muito, muito tempo, com todos os seus atletas apresentados, fisicamente bem (ao menos segundo as aparências e os relatos oficiais). Esse é um fator que deve passar obrigatoriamente mais confiança para os rapazes de Rubén Magnano – algo que compense de alguma forma o desequilíbrio emocional gerado por tantas derrotas no decorrer da última década (pensando apenas em grandes competições, ok? Sul-Americano, isto é, excluído). Vamos lá, passo a passo:

Varejão x Oberto

O jovem Anderson Varejão disputa rebote com Fabricio Oberto – Rogério Klafke também estava lá

– Os argentinos conseguiram sua primeira grande vitória em clássico pelo Mundial de 2002, em Indianápolis, onde seriam vice-campeões. A seleção ainda era treinada por Hélio Rubens, havia dois irmãos Varejão no garrafão, Tiago Splitter estreava com 17 anos, Nenê já estava fora (havia acabado de ser draftado pelo Nuggets), e a armação era dividida por Helinho e Demétrius, hoje assistente de Rubén Magnano. Que, na época, trabalhava para seu país natal. O primeiro tempo terminou empatado em 29, mas os caras abriram boa vantagem no terceiro quarto e triunfaram por 78 a 67.

– Eles repetiram a dose no Pré-Olímpico de 2003. Um ano depois, se consagrariam como campeões olímpicos em Atenas. Em San Juan, Porto Rico, ajudaram a empurrar ladeira abaixo a seleção braileira, agora com Lula Ferreira no comando e bastante renovada. Os ainda garotos brasileiros sofreriam mais três reveses – até para o México de Nájera! – e seriam eliminados. Aquele foi um jogo feio, arrastado e equilibrado do início ao fim, com 35 (!!!) desperdícios de posse de bola.

– Avançamos no tempo consideravelmente agora, ignorando a esvaziada Copa América de 2005, e chegamos a Las Vegas, 2007. Só jogatina e ressaca: o Brasil sem Anderson Varejão, mas com Splitter já bem crescido na Europa e Nenê retornando após quatro anos, e a Argentina sem: 1) Ginóbili, 2) Nocioni, 3) Oberto e 4) Herrmann. Foram duas derrotas para os campeões olímpicos: uma pela segunda fase e a outra, valendo vaga nos Jogos de Pequim, pelas semifinais. Este blogueiro aqui estava lá, ganhou muitos pontos na escala de animosidade com boa parte do atual grupo, em uma cobertura de ambiente tumultuado, extremamente tenso. Luis Scola jogou uma barbaridade, Delfino acertava tudo de fora, Kammerichs tinha o bigodão mais legal do basquete, e foram duas pauladas bem doloridas que custaram a demissão de Lula. What happens in Vegas, stays in Vegas, baby!

Marcelinho x Delfino

Em Las Vegas-2007, Marcelinho viu a Argentina de Delfino vencer mais uma vez

– Agora estamos em 2009, com o tiozão Moncho Monsalve no comando, bem piradão, e voltamos a San Juan, pela Copa América, para enfim derrotar uma Argentina que tenha escalado o tal do Scola. Foi pela primeira fase, não tinha vaga em jogo, nem nada. Das principais peças, eles tinham apenas o ala-pivô número 4 e Prigioni, enquanto o Brasil jogou com Varejão, Splitter, Huertas, Leandrinho, Alex e, sim, Duda. Injusto? O trauma era tão grande, que não importava.

– Em 2010, Mundial de Istambul, ainda ouvindo instruções em espanhol, mas com um sotaque argentino: Magnano foi contratado para o lugar de Moncho. A seleção apresenta uma defesa combativa de um modo nunca visto nesta geração, quase derrota os Estados Unidos, mas é eliminada pelos caras nas oitavas de final. Foram 37 pontos de Scola, santamãe, com um quarto período, infelizmente, inesquecível. Para completar, Delfino e Jasen (lembra dele!?) mataram juntos 21 pontos de longa distância. Nocaute.

– Que tal lavar, um pouco, da alma, então, derrotando os arquirrivais logo na casa deles, em Mar del Plata-2011? Foi o que fez a seleção de um Marcelinho Huertas dominante na armação e de um Hettsheimeir surpreendente, não importando que os grandes ícones da Geração Dourada estivessem reunidos por ali. Foi um triunfo que encaminhou a equipe nacional para a primeira vaga olímpica desde Atlanta-1996. Já classificados, os dois times se enfrentaram, então, na final: de moicano, e ressaca das brabas, a trupe tupiniquim perdeu por cinco pontos.

– Em Londres 2012, depois de a Espanha supostamente manipular a tabela, o Brasil terminou em segundo em seu Grupo A. E quem estava em terceiro no B? Sim, a Argentina, numa repetição do atual cenário. As duas equipes contavam com seus grandes nomes, e isso pesou a favor do time que já tinha duas medalhas olímpicas (o ouro de Atenas e um Bronze em Pequim). Os argentinos abriram vantagem de até 15 pontos, viram os brasileiros reagirem, mas ganharam no final. Um drama particular daquele jogo? Os lances livres…

Passando por tantas derrotas assim, não dá para dizer, mais uma vez, que o jogo deste domingo sirva de tira-teima, né? Apenas valeria se nos limitássemos aos confrontos deste ano, em que já se enfrentaram em dois amistosos, com uma vitória para cada lado, cada um vencendo em casa. Mas eram apenas amistosos, bem no início da fase de preparação. No primeiro, no Rio, o Brasil venceu bem, explorando seus pivôs, mas Luis Scola não estava do outro lado. No segundo, em Buenos Aires, um bombardeio de três pontos desarmou a defesa de Magnano. Dois jogos que provavelmente não dizem nada.

Agora, com tanta história envolvendo os rivais, é impossível relevar o retrospecto geral. Os brasileiros vão precisar de toda a maturidade que puderem acessar para encarar esses diversos tropeços, erguerem a cabeça e partirem para mais um clássico para se acrescentar neste relato. Em 2016, vai ter mais?


O acusado de entrega-entrega da vez é… a Austrália!
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Giancarlo Giampietro

A Austrália de Lemanis leva o troféu pragmatismo do torneio. Entregou e "ganhou"

A Austrália de Lemanis leva o troféu pragmatismo do torneio. Entregou e ''ganhou''

Um torneio Fiba sem a acusação de que alguma seleção tenha feito marmelada e entregado um jogo não teria validade histórica nenhuma. Vocês se lembram do bafafá envolvendo os espanhóis em confronto com o Brasil, nas Olimpíadas de 2012, não? Sempre acontece dessas, mesmo que nunca se comprove. É quando um time dá uma boa espiada na tabela e acaba mexendo seus pauzinhos para pegar o caminho supostamente mais fácil. Na ocasião, os espanhóis, depois de terem sido surpreendidos pela Rússia, teriam feito uma forcinha para cair para a terceira posição do Grupo B, atrás também do Brasil, para escapar de um confronto com os Estados Unidos na semifinal.

Pois bem. Agora é a vez de a Austrália assumir essa bronca, e com sucesso. Nesta quinta-feira, última rodada da primeira fase da Copa do Mundo, os Boomers foram derrotados por Angola por 91 a 83, se posicionaram no terceiro lugar do Grupo D, abrindo mão de brigar pela ponta, e incentivaram um zum-zum-zum que só. Num torneio cheio de jogos parelhos com Filipinas, Senegal e até mesmo a Coreia do Sul, uma zebra dessas não seria de se estranhar tanto assim. O problema, meus amigos, é que hoje é possível ver todas as partidas do torneio nesta Internet. Tem repórter e dedo-duro para tudo que é lado, né? Então, se você vai adotar procedimentos, digamos, estranhos, a chance é de 100% de que alguém vá perceber. Como o irado Goran Dragic. O armador esloveno, cujo time está envolvido na disputa de posições com os australianos, disparou no Twitter:

(Traduzindo: o basquete é um esporte bonito, e esses australianos de uma figa não deveriam estar fazendo corpo mole contra Angola! A Fiba deveria tomar providências e mandar esses caras para as cucuias, isso se não for o caso de mandar para um lugar muito mais quente e um pouco mais abaixo!)

Mexer com os nervos do Goran Dragic desse jeito não é uma coisa legal, gente. Podem perguntar para o Leandrinho o quão simpático é o armador do Phoenix Suns. Eleito para o terceiro quinteto da NBA na temporada passada, na melhor fase da carreira, ele foi um dos poucos jogadores top da liga que se apresentou para bater uma bola no Mundial, e aprontam uma dessas com ele?

Mas, epa, pera lá! ''Aprontam''. Dá para insinuar, mesmo, que a Austrália tenha brincado de entrega-entrega hoje?

É, dá. Infelizmente. Vamos a alguns fatos curiosos.

Começa que o ala Joe Ingles (11,8 pontos e 3,5 assistências) e o pivô Aron Baynes (17,2 pontos e 7 rebotes), suas principais figuras uma vez que a formiguinha Patty Mills se lesionou, foram poupados e nem pisaram em quadra. O armador Matthew Dellavedova e o pivô David Andersen, outros dois importantes atletas, também titulares, jogaram quatro minutos cada. Nenhum deles declarou sentir alguma lesão.

O caçulinha – e maior aposta do país – Dante Exum jogou por 31 minutos. Nas quatro partidas anteriores, havia somado 34 (8min30s por confronto). O ala Chris Goulding, que já chegou a marcar 50 pontos na liga australiana e só havia participado de um jogo até aqui, com dez minutos, também encarou os angolanos por 30 minutos. O pivô Nathan Jawai, afastado durante praticamente toda a temporada europeia por conta de dores de uma lesão na coluna, foi outro a jogar 30 minutos cravados, após 26 no total. E por aí vamos, né?

Exum leva a bola, Jawai tenta acompanhar

Exum leva a bola, Jawai tenta acompanhar

São três atletas de talento, que contribuiriam para muitas seleções. Goulding, por exemplo, já foi logo marcando 22 pontos para cima dos angolanos, provavelmente dando um susto – nos seus compatriotas. Mas ele simplesmente não parecia fazer mais parte dos planos do técnico Andrej Lemanis até esta quinta-feira. O mesmo treinador que havia deixado claro também, antes do tapinha inicial do torneio, que Exum ficaria no banco, sem muitas responsabilidades. Foi titular hoje e teve a bola em mãos por longas sequências. A Austrália tinha a chance de assumir a primeira colocação do grupo, e reagiria desta forma?

Ainda assim, os Boomers venceram o primeiro tempo por 42 a 29. Será… Será, então, que todas as contas estavam erradas? Será que, no fim, não haveria risco de eles terminarem com a segunda posição do Grupo D, entre Eslovênia e Lituânia, caindo desta forma na mesma chave dos Estados Unidos (pensando nas quartas de final)? Será que, oras, resolveram adotar a humildade no meio do confronto, pensando que de nada valia fazer planos pelas quartas, se não se concentrassem antes nas oitavas?

Muitas ponderações poderiam ter sido feitas nessa linha, mas não deve ter sido o caso. Na volta do intervalo, tomaram 62 pontos em 20 minutos, com direito a 34 no terceiro período e acabaram perdendo por 91 a 83. Pode parecer prepotência australiana, não? Quem seriam eles para pensar matematicamente, para fugir dos Estados Unidos, sem se importar com a Turquia (seu próximo rival) no meio do caminho? O que pega é o seguinte, porém: abaixo do Team USA e da Espanha,

Quem se consagrou nessa foi o jovem pivô Yanick Moreira, que somou o double-double mais volumoso do torneio até aqui, com 38 pontos e 15 rebotes. Malemolência do adversário  à parte, olho no angolano, hein? Ele vem sendo trabalhado pelo consagrado Larry Brown na South Methodist University e fez também bons jogos contra eslovenos e mexicanos. Só não dá para esperar que seja o futuro superpivô africano, como seus oponentes permitiram acontecer.

Yanick Moreira, nome para acompanhar na NCAA, com Larry Brown

Yanick Moreira, nome para acompanhar na NCAA, com Larry Brown

E por que interessaria aos Aussies a derrapada? Porque, segundo o pragmatismo deles, era mais fácil tentar cair para o terceiro lugar do que tentar o primeiro. Se a Lituânia derrotasse a Eslovênia e, no caso de um triunfo sobre a Angola, os australianos se meteriam num empate tríplice com os europeus, mas com provável desvantagem no saldo de cestas. Então decidiram trucar: assimilaram a segunda derrota e, depois, ficaram na torcida para os lituanos. Deu certo: os bálticos venceram por 67 a 64 e desbancaram os eslovenos da primeira posição com base justamente no confronto direto. Os ex-iugoslavos, com quatro triunfos e um revés, escorregaram para segundo. Caso passem pelas oitavas – em duelo com a República Dominicana –, terão os Estados Unidos pela frente nas quartas. E adeus briga por medalhas.

Agora imaginem Dragic espumando, com dificuldade para dormir até? No seu hotel, os Boomers, todavia, podem sorrir sarcasticamente. Certamente viram o duelo que fechou o grupo. Mas e vocês, rapaziada, como explicar aquele quarto período?'', poderão questionar. É que no quarto período, a Eslovênia marcou míseros dois pontos com seu armador, permitindo a virada. Uma baita entregada. Mas de outro tipo.


Brasil consegue vitória mais larga de sua história nos Mundiais
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Giancarlo Giampietro

04/09/2014: Brasil 128 x 65 Egito, Splitter sobe para mais dois pontos

04/09/2014: Brasil 128 x 65 Egito, Splitter sobe para mais dois pontos

Serve para nada um jogo contra o Egito?

Serve, sim: valeu para o Brasil conseguir, nesta quinta-feira, a sua vitória mais larga (lavada, surra, atropelo, esculacho, escolhaí) de sua história nos Mundiais 128 a 65, com inacreditáveis 63 pontos de diferença. Até então, os maiores placares haviam acontecido nos anos 70. Em 1978, a seleção que conquistou o bronze nas Filipinas derrotou a China por 154 a 97 (57 pontos) – essa ainda é sua maior contagem num só jogo. Em 1970, aquele que era o segundo placar mais elástico: 112 a 59 contra o Canadá (53 pontos), na Iugoslávia (hoje território esloveno).

Aqui, não vamos nem ser insanos de querer comparar o nível dos adversários, ou mesmo o dos representantes brasileiros em cada uma dessas surras, né? Não faria sentido. Uma ressalva importante para se fazer é que os resultados prévios não contaram com a interferência dos arremessos de três pontos. Aconteceram antes do estabelecimento da linha perimetral, introduzida pela Fiba em 1984.

De qualquer forma, contando os chutes de longa distância, o Egito levou até a melhor nessa: os africanos acertaram 11 disparos de fora, contra 10 da seleção brasileira, equipe que disputou todas as edições da competição, hoje chamada de Copa do Mundo. Isto é: tiraram um pontinho do saldo neste disparo – fossem as regras de quatro décadas atrás, ingorando as bombas de três, a diferença teria sido de 58 pontos.

Na mesma campanha de 1978, o Brasil também atropelou as Filipinas por 119 a 72 (42 pontos), e neste aspecto superariam a atual geração, cuja segunda maior surra foi contra o Irã, nessa primeira fase, por 29 pontos (79 a 50).

Os egípcios entram, de alguma forma, na história do basquete brasileiro

Os egípcios entram, de alguma forma, na história do basquete brasileiro

Voltando ao presente, então, alguns dados desta vitória que se torna histórica:

– A maior vantagem chegou a ser de 65 pontos, descontada no último segundo.

– Todos os 12 jogadores brasileiros fizeram pelo menos quatro pontos. Variaram dessa quantia (Marquinhos, Giovannoni e Larry) para os 22 de Leandrinho.

– Leandrinho anotou seus 22 pontos em apenas 23 minutos, acertando 8 de 9 arremessos (89%).

– Três atletas brasileiros terminaram com 100%, acertando todos os seus arremessos: Raulzinho (7!), Huertas (5) e Hettsheimeir (3).

–  No geral, a seleção matou 75% de seus arremessos, sendo 40 de 47 de dois pontos (85%) e 10/20 de três (50%). Nos temidos lances livres, 18/26 (69%).

75 pontos foram anotados por reservas.

68 pontos foram convertidos no garrafão.

35 pontos saíram no contra-ataque.

– O Egito bateu apenas 4 lances livres e não converteu nenhum, todos com o ala Amr Gendy

– O cestinha egípcio foi Ibrahim El Gammal, com 16 pontos, acertando 7 em 19 arremessos.

Todos esses números podem parecer redundantes, considerando a fragilidade do adversário, mas não há relativização que diminua o escore. Pelo contrário. Para comparar, no último Mundial, o Brasil havia batido o Irã por ''apenas'' 16 pontos e a Tunísia, eliminada no último AfroBasket justamente pelos egípcios, por 15.

*   *   *

A campanha do Egito nas primeiras quatro rodada, todas derrotas: 85 a 64 para Sérvia, 91 a 54 para Espanha, 94 a 55 para França e 88 a 73 para Irã.

*   *   *

Atualização: O Brasil fecha a primeira fase com a segunda colocação do Grupo A, tendo quatro triunfos e um revés. Seu saldo de pontos até esta quinta era de +20. O adversário nas oitavas de final será o terceiro colocado do Grupo B: Argentina ou Croácia, dependendo da combinação de resultados desta última rodada. Os croatas venceram Porto rico por 103 a 82 e eliminaram os caribenhos em bela exibição. Agora esperamos Argentina x Grécia. Se os hermanos perderem, serão os adversários nas oitavas. Se vencerem, é Brasil x Croácia.


O 5º dia da Copa do Mundo: Agora afunilou
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Giancarlo Giampietro

Vocês se lembram daquelas jornadas triplas da Copa do Mundo da FIFA, né? Um jogão atrás do outro, dominando sua agenda. Pois bem. Pegue esse agito todo e multiplique por quatro. O resultado é a Copa do Mundo da Fiba. É muito basquete num dia só: 12 partidas! Uma tabela de estatística vai atropelando a outra, os fatos vão se acumulando, e pode ficar difícil de dar conta de tudo. Vamos dar um passada, então, pela rodada. Para o básico, deixe de ser preguiçoso e acesse o site oficial da competição, né? Veja lá a situação dos grupos e os todos os resultados. Sobre a vitória brasileira sobre a Sérvia, clique aqui.

Luis Scola (22 pontos, 14 rebotes, 29 minutos) não se importunou com os atletas senegaleses. E agora?

Luis Scola (22 pontos, 14 rebotes, 29 minutos) não se importunou com os atletas senegaleses. E agora?

Quatro de cinco rodadas da fase de grupos já foram disputadas. Muitos sustos, poucas sacoladas, e sete vagas ainda abertas para que a chave do mata-mata seja preenchida. Foi um dia cheio de jogos, com todas as seleções novamente em quadra, resultando em 12 partidas, muitas delas simultâneas, para tornar qualquer resumo insuficiente. Fazemos aqui nosso melhor (humilde) esforço. Depois de ter chorado com os filipinos.

As contas
A essa altura do campeonato, todo mundo quer saber, mesmo, de quem vai enfrentar quem nas oitavas de final. Bom, conforme dito na croniqueta da vitória brasileira sobre a Sérvia, o time de Magnano assegurou a segunda posição do Grupo A, atrás da Espanha. O que quer dizer que vai enfrentar o terceiro do Grupo B. A partir daí, a segunda pergunta que – dá para sentir – muita gente está fazendo é: vai dar Argentina, ou não? Olha, pode acontecer, mas precisa de uma combinação tripla de resultados: que Luis Scola & Cial percam para a Grécia + vitória da Croácia sobre Porto Rico + vitória das Filipinas contra Senegal. Hoje, o adversário seria o time africano, mesmo. Os senegaleses assegurariam o terceiro lugar com uma vitória sobre os filipinos, ou se Porto Rico superar a Croácia.  Pode dar Croácia, se eles vencerem Porto Rico e… a) a Argentina vencer a Grécia e as Filipinas, Senegal ou b) a Grécia derrotar a Argentina e Senegal, as Filipinas. A Fiba mostra os cenários, mas o site Eurohoops vai além.

O jogo da rodada: Turquia 77 x 73 Finlândia
Com 15 segundos no relógio, o armador Petteri Koponen tinha dois lances livres para bater, com a chance de garantir mais uma vitória histórica – lideravam por 68 a 65, afinal. O líder do time escandinavo, porém, errou os dois arremessos. Tempo pedido. Na reposição de bola, a Finlândia decidiu pagar para ver o que os turcos podiam, sem fazer a falta e jogar um adversário para a linha de lance livre – talvez abalados pelas falhas de seu atleta. Aí que o ala Cenk Akyol, que já foi tido como uma grande promessa do basquete europeu, foi draftado pelo Atlanta Hawks e hoje é um medíocre ala do Galatasaray, acabou matando uma bomba de longa distância, aproveitando passe de Emir Preldzic, a quatro segundos do fim, forçando a prorrogação (Koponen ainda erraria uma bola de dois antes do estouro do cronômetro). No tempo extra, Preldzic passou de organizador a definidor, anotando cinco de seus 13 pontos, incluindo suas únicas duas cestas de quadra, para garantir a vitória. Ele ainda contribuiu com 8 rebotes e 5 assistências. Destaque também para os incríveis 22 pontos (com oito lances livres desperdiçados) de Omer Asik, que virou, de uma hora para a outra, uma força ofensiva no Mundial. O resultado ainda não garante a classificação turca, mas praticamente elimina os finlandeses: para eles avançarem ao mata-mata, precisam derrotar a Nova Zelândia (plausível) e torcer para que a Ucrânia vença… os EUA (atchim!).

Asik e Gonlum consolam Koponen. Coisa linda

Asik e Gönlum consolam Koponen. Coisa linda

A surpresa: Manimal!!!
Vamos lá: ninguém ganha esse apelido de bobeira. Ele é o Manimal simplesmente por fazer coisas que valham o nome. O pivô mexe com um jogo de diversas maneiras. Em sua linha estatística, deveriam constar também itens como: ''bolas perdidas recuperadas sem ninguém perceber'', ''atropelamentos sem falta'', ''saltos'', ''chicotadas com o cabelo'', entre outras. Isso tudo o torcedor do Denver Nuggets sabia. Agora, o alcance de sua influência era desconhecido até mesmo pelo público geral americano.  Após quatro jogos, ele aparece como o segundo cestinha do time, com média de 14,8 pontos por jogo e aproveitamento de 78,4% nas tentativas de cesta. Afe.. Por mais que tenha refinado seu arremesso, com os pés plantados ou em progressão, por mais energia que leve para a quadra, ninguém contava com isso. ''Espere o inesperado'', ele mesmo resume, após liderar o ataque americano com 16 pontos em controlados 17 minutos, tendo errado três de seus 11 chutes. Credo.

Alguns números
1.000 – O confronto entre EUA e República Dominicana foi o milésimo na história dos Mundiais.

17 – Foram os reduzidos minutos de Goran Dragic contra a Angola nesta quarta, não importando que os africanos tenham feito um jogo parelho por mais de três quartos. Quando a parcial final começou, aliás, os eslovenos perdiam por um ponto (66 a 65). Ainda assim os eslovenos maneiraram no tempo de quadra de sua estrela, que marcou 14 pontos e cometeu 3 faltas. Nenhum jogador do time, na verdade, passou  da marca de 25 pontos (Dormen Lorbek, cestinha com 17 pontos).  Aí tem coisa? Não sei: não faria sentido entrega-entrega, uma vez que o líder do Grupo D escaparia de um duelo com Estados Unidos e Espanha nas semifinais.

14 – Contra a enchouriçada linha de frente de Senegal, Scola apanhou 14 rebotes, seu recorde nesta competição. Mesmo sem mal sair do chão, o pivô argentino é o quarto em média nesse fundamento, com 9,8 por jogo. Acima dele aparece justamente um adversário com quem lidou durante o dia: o pivô Gorgui Dieng (média de 10,8, a segunda), mas que não conseguiu se destacar contra os hermanos. Marcado por Nocioni no início, teve seu pior jogo, disparado: 11 pontos, 8 rebotes e 5 turnovers, com 4/11 nos arremessos. Dessa vez não deu para os supreendentes africanos, atropelados por 81 a 46.

2 – No duelo dos sacos de pancada do Grupo A, o Irã venceu o Egito por 88 a 73, com 23 pontos, 15 rebotes e 4 assistências de Hamed Haddadi. Foi apenas seu segundo triunfo em um Mundial, novamente contra uma seleção do norte africano. Em 2010, eles haviam batido a Tunísia, arquirrival egípcia, por 71 a 58.

O Irã de Haddadi ainda tem chances remotas no grupo do Brasil: precisam vencer a França e torcer para uma vitória da Sérvia contra a Espanha. Qual é a mais difícil de acontecer?

O Irã de Haddadi ainda tem chances remotas no grupo do Brasil: precisam vencer a França e torcer para uma vitória da Sérvia contra a Espanha. Qual é a mais difícil de acontecer? Se vencerem a França por mais de 8 pontos, não importaria se a Espanha derrotasse a Sérvia. Tenha fé!

0 – A Lituânia arrasou a Coreia do Sul: 79 a 49. E aí que você pode tentar matar a charada: ''Dãr, chance zero de os sul-coreanos vencerem''. Sim, a resposta se sustenta. Mas o mais curioso e bizarro, mesmo, é que a vitória aconteceu sem nenhum lance livre convertido – ou batido!!! – pelos bálticos. Sim, todos os 79 pontos lituanos aconteceram em chutes com a bola em jogo (26 de dois pontos, 9 de três). Fair play dos coreanos, né? Donatas Motiejunas, pivô do Houston Rockets, foi o nome do jogo, com 18 pontos, 7 rebotes e 5 assistências em 29 minutos. Depois de sofrer com a forte marcação australiana na véspera, o armador Adas Juskevicius sorriu com 20 pontos em 21 minutos.

Andray Blatche: contagem de arremessos
67! – Em um jogo de matar ou morrer contra Porto Rico, Blatche ficou no meio do caminho. Não varou a casa dos 20 arremessos, mas ultrapassou os 10. Terminou com 16 – 10 de dois pontso e 6 de longa distância. Para quem viu a partida, porém, sabe que poderia ter sido mais. O pivô, na verdade, enxergou A Luz e passou a respeitar de verdade seus companheiros, fazendo a bola girar do jeito que dava (com um ou meia dúzia de turnovers no meio do caminho), em vez de encarar a marcação por vezes tripla dos porto-riquenhos. Ele terminou com duas assistências, mas buscou muito mais passes decisivos do que os estatísticos puderam computar. O basquete enobrece, uma coisa linda. Além do mais, ele ainda mantém uma distância confortável para a concorrência no quesito: Luis Scola é quem chega mais perto, com 57 tentativas de cesta.

O que o Giannis Antetokounmpo fez hoje?
Hoje foi dos dias em que o treinador grego não deu muita bola para o menino – com a vitória sobre a Croácia por 76 a 65, assegurou a primeira ou segunda posição do Grupo B, dependendo do confronto desta quinta com a Argentina. Giannis ficou em quadra por 12 minutos, como se fosse um quarto de NBA, anotando dois pontos na sua única investida próxima da cesta. Uma enterrada cortando por trás da defesa, que a Fiba gravou e exibe no vídeo abaixo. Coisa pouca para os padrões dele, né? Fora isso, o futuro craque do Bucks errou dois arremessos de três e pegou quatro rebotes. Amanhã, ele vai ter Andrés Nocioni pelo caminho. Cuidado!

Tuitando:

Nove das 16 vagas nas oitavas de final estão preenchidas.


A galera do Mondo Basquete tem publicado as estatísticas avançadas de cada jogo do Brasil no Mundial. Leia-se: os números que vão além dos números divulgados nas tabelas mais simples, medindo o impacto qualitativo – que nem sempre é reproduzido fielmente pelo quantitativo – do desempenho de cada jogador. Tiago Splitter foi destaque contra os sérvios.

 

Sem um miniclipe do Vine, não tem graça. Lá vai o companheiro de Bruno Caboclo e Lucas Bebê para a enterrada: DeRozan jogou 18 minutos contra os dominicanos e anotou 11 pontos (mas cometeu cinco desperdícios de bola).


Brasil vence 75% de um jogo de xadrez e se posiciona bem para playoffs
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Giancarlo Giampietro

Marquinhos, o cestinha, Krstic, o inoperante: dois personagens da vitória brasileira

Marquinhos, o cestinha, Krstic, o inoperante: dois personagens da vitória brasileira

OK, vamos estourar de cara: o fato e o nome do jogo foi Marquinhos. O ala se sentiu como se estivesse no ginásio da Gávea, tranquilão para matar 21 pontos e liderar o ataque brasileiro numa dura e importantíssima vitória sobre a Sérvia pela Copa do Mundo.

Foi 81 a 73, mas poderia ter sido mais. Ou pior, com triunfo para os próprios sérvios, dependendo de uma série de detalhes, que vamos destrinchar logo mais. Antes, explica-se o valor deste triunfo.

Não só significa que os brasileiros venceram dois times europeus nesta primeira fase, como também garante o segundo lugar e assegura um posicionamento, digamos, confortável nos playoffs, pensando longe. Basicamente: evita que eles se deparem com a poderosa Espanha numa eventual quartas de final. Isto é, se chegarem a esta etapa, vão ter, em teoria, um adversário mais fraco para entrar na disputa por medalhas.

Para garantir esse posto, foi preciso passar por um jogo de xadrez. Ou, num populacho, o jogo de gato-e-rato. Partidas de basquete no mais alto nível tendem a ser encaradas deste modo – a não ser no caso em que o adversário é tão superior, que não há artimanhas para desbancá-los. Não era o caso nesta quarta-feira.

Nenê complica a vida de Krstic: pivô sérvio, antes uma estrela no mundo Sérvio, foi limitado a 7 pontos (2/9 nos tiros de quadra) pelos pivôs brasileiros, excelentes marcadores

Nenê complica a vida de Krstic: pivô sérvio, antes uma estrela no mundo Sérvio, foi limitado a 7 pontos (2/9 nos tiros de quadra) pelos pivôs brasileiros, excelentes marcadores

A Sérvia, vejam só, veio para a quadra com uma formação monstruosa de grande. Três pivôs de 2,08m para cima, dois deles pesos pesados, procurando minar o garrafão brasileiro: o inigualável Miroslav Raduljica e o esforçado, mas limitado Vladimir Stimac. Quis descer a marreta no jogo interior e mastigar o aro. No primeiro tempo, deu certo: 9 rebotes ofensivos e 13 lances livres descolados!

Sucesso, né?

Necas. Nada disso: o Brasil venceu por 48 a 32 antes do intervalo. Seria o suficiente para dizer que o jogo estava ganho? Como vocês podem perceber pelo placar final, também não.

Para a segunda etapa, os adversários voltaram do intervalo com uma formação bem mais baixa, leve e técnica, com três armadores – em vez de três armários. Esse time fez a vantagem brasileira se evaporar em cinco minutos (foi 16 a 6 de cara). Rubén Magnano não intercedeu, eles foram pontuando, pontuando, pontuando, até que viraram o placar e chegaram a abrir sete. Os balcânicos começaram a se movimentar muito bem sem a bola, exigindo atenção e agilidade dos brasileiros – o que não acontecia. Foram quebras e quebras defensivas sucessivas, com Huertas envolvido em muitas dessas. É um problema constante no jogo do brasileiro, sabemos.

E o que acontece? Aparentemente senhora de si, a Sérvia voltou a concentrar, canalizar o ataque em seus pivôs. Foi um ajuste bem camarada do técnico Sasha Djordjevic, um dos grandes armadores dos anos 90, mas que priorizou as bolas previsíveis no mano-a-mano para um ancião o trombador Raduljica e um Nenad Krstic irreconhecível de tão lerdo.

Splitter, por conta própria, colocou no bolso o gigante Raduljica. O pivô, que vinha atacando com eficiência nesta Copa, com média de 15 pontos e 59,4% nos arremessos, produziu bem pouco (11 pontos e 5 rebotes, mais quatro turnovers). Seu repertório é feito basicamente de tranco, intimidação físicos e semi-ganchos lentos e mecânicos que só.

O único problema que essas investidas forçaram foi o acúmulo de faltas por parte dos pivôs brasileiros. Nenê ficou pendurado com quatro. Splitter chegou a cometer duas no primeiro período, mas teve sua situação muito bem monitorada pelo técnico argentino. Quando voltou para a quadra no quarto final, estava suficientemente resguardado para contestar o sérvio com vigor, coragem e, muito mais relevante, inteligência. Guardou posição, sem partir para o roubo ou o toco, cavou duas faltas ofensivas e deixou que o oponente se atrapalhasse sozinho. A retaguarda estava resolvida, também com boa participação de Larry para fiscalizar Milos Teodosic (14 pontos e 5 assistências em 25 minutos, saindo do banco).

O figuraça Raduljica não foi efetivo contra os grandalhões brasileiros

O figuraça Raduljica não foi efetivo contra os grandalhões brasileiros

Do outro lado, Marquinhos estava em tarde inspirada. Ele já havia matado suas duas primeiras bolas de longa distância no quarto inicial e carregou essa confiança para os momentos decisivos. Puniu a defesa sérvia nos instantes em que ficou desmarcado e teve a melhor pontuação individual de um brasileiro neste torneio.

O ala foi bem assessorado por Leandrinho no primeiro tempo (11 pontos em 16 minutos, terminando com 16 em 28, sem jogar nos minutos derradeiros) e pelo próprio Splitter no quarto final (10 pontos, 7 rebotes e 6 assistências, com seus deslocamentos irrevogáveis fora da bola e muita visão de quadra – foram deles os dois passes para bombas de três de Marquinhos que diminuiriam o placar de 67 a 60 para 67 a 66). É o tipo de rendimento que o Brasil vai precisar nessa campanha e muito mais sustentável que os tiros de fora de Marquinhos (não dá para esperar que ele vá desafogar o jogo com 6 acertos a cada 9 tentativas, convenhamos).

A combinação dos tiros de fora com o jogo interior é sempre a mais adequada para o jogo de meia quadra e funcionou muito bem, enfim, no quarto período. Se der para atacar em velocidade, em transição, tanto melhor, como aconteceu no primeiro tempo impecável.

O desafio agora é atingir a consistência. Dessa vez o que descambou foi a defesa numa parcial. Somando os primeiro, segundo e quarto períodos, o Brasil teria permitido apenas 41 pontos ao adversário. Excelente. Mas acabou tomando 32 no terceiro, com falhas que não vinham acontecendo.

De qualquer forma, o Brasil, que foi mais time em 75% do jogo, escapou com sua preciosa vitória. Nesta quinta, vai treinar contra o Egito. Depois, é hora de voltar jogar xadrez, mas com a pressão de que cada jogada em falso pode valer a eliminação.