Vinte Um

A sete meses dos Jogos, CBB apela ao autoritarismo e constrange jogadoras
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

representantes-da-liga-de-basquete-feminino-lbf-se-reunem-em-sao-paulo-1449156383147_615x300

Post atualizado às 12h15.

Vocês já devem ter visto aqui no UOL Esporte, creio: a CBB (Confederação Brasileira de Basquete) extrapolou qualquer limite de bom senso e lucidez ao dar um jeito para que a Justiça Desportiva intime as sete jogadoras – e seus clubes – que se recusaram a participar de evento-teste olímpico no Rio de Janeiro no final de semana passado. Por que a negativa? É que as atletas (em tese) e suas equipes defendem uma reformulação no departamento técnico da entidade.  O mesmo que não conseguiu conduzir nenhuma seleção feminina sequer ao grupo das oito melhores nas últimas duas Oimpíadas e Copas. Chocante, não?

Quer dizer: a (indi)gestão de Carlos Nunes agora não se mostra intransigente apenas para defender sua incompetência. Também deu para ser opressiva e autoritária, adotando medidas de um regime ditatorial que caça aqueles que manifestam descontentamento com o que acontece por aí.

Exagero?

Só se seus dirigentes realmente acreditarem que a recusa de uma convocação merece ser tratada como questão judicial. Por que diabos uma jogadora de basquete precisa ir ao tapetão para justificar que não quer defender a seleção brasileira? Os motivos independem. Isso não é guerra, caceta.

(Aos reacionários de plantão, não me venham dizer que se trata de um ''dever''. Pelo contrário: deveria ser um prazer jogar basquete, ainda mais pela seleção. Mas chega uma hora em que alguém precisa bater o pé e peitar uma entidade que só pratica desmandos.)

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

''A CBB vai seguir dentro das leis, respeitar todos os regulamentos e fazê-los cumprir. Existe uma hierarquia na modalidade como em todo o esporte e essa hierarquia será respeitada'', afirmou a entidade em nota endereçada ao UOL Esporte.

Um inquérito aberto

Um inquérito aberto

Leis? Uma convocação agora é lei?

Hierarquia? Que hierarquia respeitável é essa a de uma entidade que depende desesperadamente da coleta de dinheiro público ano a ano para sobreviver? Que autoridade tem um órgão desses para querer se impor com truculência, constrangendo ''rebeldes'' com uma intimação absurda para depoimento?

Além de truculenta, é uma atitude covarde a da CBB, que, aparentemente, só se enerva contra os mais fracos. E, por ''fraqueza'', só escrevo aqui no sentido político:  Adrianinha, Tainá Paixão e Tati Pacheco (América de Recife), Gilmara e Joice (Americana/Corinthians), Jaqueline e Tássia (Santo André).

Vamos voltar um pouquinho no tempo só, para 2013.

Fico aqui pensando se Vanderlei – que é chapinha de muitos dos selecionáveis e, mais importante, muito próximo a alguns de seus agentes – chegou a cogitar o mesmo tipo de ação contra aqueles que pediram dispensa e tanto frustraram Rubén Magnano, o argentino que é seu principal e talvez único trunfo dentro do departamento técnico.

Veja bem: não é que os jogadores que não se apresentaram para jogar a Copa América merecessem a intimação. Evidentemente que não. Mas a ideologia da CBB teria mudado tanto assim em dois anos e meio? Ah, mas eles estavam cansados, lesionados ou sem contrato. Não importa: ninguém é obrigado a aceitar uma convocação. Cada um tem seus motivos. E, no caso das sete que ficaram fora, fato é que a causa é maior: elas estão dizendo ''não'' agora para poderem sorrir (''sim, sim, sim'') lá na frente. É um posicionamento político – algo que, em nosso país, infelizmente, ainda pode ser encarado por muita gente como crime ou baderna.

''Existem leis a serem cumpridas e vamos até o fim para que as jogadoras se apresentem. Caso contrário, imagino até que possam sofrer punições. Este é um evento que é tratado com prioridade pela CBB. Não vamos aceitar que não se apresentem por causa de um movimento político'', afirmou Vanderlei ao UOL Esporte.

Sinceramente, não há como responder a uma declaração destas. Pelo menos não quando confrontada com os pedidos da oposição. Mas é o modo que o diretor e seu presidente encontram para se defender de problemas conhecidos por qualquer pessoa ligada ao basquete nacional. Se você não tem resultados práticos para apresentar, vai na porrada, mesmo.

''Tudo está pronto para a Olimpíada'', diz Carlos Nunes, beirando a insanidade. ''Esta situação (de manifestação dos clubes) não deveria existir. Deveríamos nos preocupar com outras coisas. Seleção é seleção. Se os clubes querem fazer movimento político, que alguém se candidate à presidência da CBB em 2017'', completou.

Também imagino que a turma do ''deixa disso, pelo menos por enquanto, pois Olimpíada é Olimpíada'' também tenha muitos integrantes, defendendo a tese de que os descontentes demoraram muito para se organizar e que não é hora para discutir.

Eu diria que é o contrário também: que aqueles que decidiram boicotar o evento-teste estão se preocupando exatamente com aquilo que deve ser discutido. Que um quinto lugar ou um pódio no Rio 2016 não significam nada diante da crise alarmante que vive sua entidade. E que, pela iminência do grande evento em que a CBB fará as vezes de anfitriã para a elite mundial da modalidade, a pressão está em cima deles, e, não, das jogadoras. A proximidade dos Jogos tende a deixar a entidade encurralada. É a hora exata para pressionar e exigir, tal como fizeram os argentinos.

A primeira pergunta que fica agora é até onde as partes estão dispostas a ir. As jogadoras estão mesmo dispostas a abrir mão de um sonho carioca olímpico? Elas teriam apoio de mais compatriotas? Atualização: Pelo visto, a julgar pelas declarações de Ricardo Molina, presidente do Corinthians/Americana, não é bem o caso. Um dos líderes do movimento de oposição, ele diz que a ''CBB ganhou o jogo''. Existe a sensação de que as jogadoras estarão todas disponíveis para a próxima e cobiçada convocação de Barbosa. E a melhor jogadora do país não está nem aí também.

A segunda dizia respeito aos rapazes. Os jogadores da seleção masculina poderiam se solidarizar? Só se tivesse uma causa consistente e que durasse até o Rio 2016. Ministério e patrocinadores, que pagam a conta, também estão convidados a opinar…

Na temporada em que a LBF (Liga de Basquete Feminino) ganhou o apoio e parceria da LNB (Liga Nacional de Basquete), a CBB, em vez de dar seu apoio – se não financeiro, já que está virtualmente falida, mas ao menos institucional – se distancia. Agora se vê em guerra justamente com a modalidade que lhe deu as últimas glórias em competições de primeira linha, aquela que era candidata perene por mais de uma década ao pódio olímpico e  já foi motivo de orgulho e politicagem da cartolada nacional. Algo que não surpreende, convenhamos. Mas que deixa essa intimação judicial ainda mais repugnante.

Atualização: a assessoria da CBB entrou em contato com este blogueiro para esclarecer que a entidade não tem ligação alguma com a intimação e que o STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) tem total independência em sua tomada de decisões. O tribunal simplesmente teria acolhido denúncias – ou dicas, digamos – de ''pessoas ligadas ao basquete'' para convocar as jogadoras para prestar depoimento. Os clubes, que teriam ''coagido'' as atletas a encampar o boicote,  também estão notificados. E a CBB também assegura que nenhuma jogadora será punida – pudera, também: desde quando a seleção feminina dispõe de mão-de-obra volumosa para descartar atletas?

Sobre a alegada independência do tribunal, melhor ler esta matéria aqui assinada por Lúcio de Castro: Paulo Schmitt, procurador-geral do STJD do Futebol, também é consultor jurídico da (indi)gestão de Carlos Nunes. Ele ganha milhões com o basquete brasileiro.


Jukebox NBA 2015-2016: Skiles, Orlando e o Pearl Jam
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

orlando-magic-nbaVamos lá: a temporada da NBA já está quase na metade, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: ''The Fixer'', por Pearl Jam.

O ''fixer'' é aquele cara que dá um jeito nas coisas. Não só um quebra-galho, mas alguém que realmente soluciona seus problemas, e de modo profissional, direto e reto. Como na letra: se está muito escuro, ele vai jogar um pouco de luz. Se algo já passou ou está perdido, ele vai brigar para recuperar.  Pensem em Pulp Fiction e Winston Wolf, com Harvey Keitel controlando tudo. Na NBA, Scott Skiles desenvolveu essa reputação em sua carreira como treinador. Aos 51 anos, assumindo seu quarto time diferente, 0 ex-armador parecia ser o cara mais indicado para lidar com uma equipe que não venceu mais do que 25 partidas nas últimas três temporadas e teve aproveitamento de 27,6% nesse ínterim. Ainda mais tendo vínculos históricos com a franquia.

OK, Jacque Vaughn merece um desconto: ele foi contratado quando a franquia havia passado por um processo de implosão, ainda procurando um rumo depois de aturar tanta choradeira (e flatulência…) por parte de Dwight Howard. Não era das tarefas mais fáceis de modo nenhum, ainda mais com o time carente de escolhas altas de Draft para uso imediato.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Acontece que, com o acúmulo de campanhas fracas, as oportunidades para se garimpar jovens talentos de ponta vieram. Não sabemos ainda o que vai ser de Victor Oladipo, Aaron Gordon e Elfrid Payton, mas o potencial do trio é inegável. Ao mesmo tempo, Nikola Vucevic se firmou como uma grande surpresa no garrafão, enquanto Tobias Harris foi surrupiado de Milwaukee, alguns bons cidadãos foram contratados.

Nos últimos três campeonatos, o Orlando estagnou na hora de atacar, com 98,6, 99,3 e 99,5 pontos a cada 100 posses de bola, o que lhe valeu apenas as 27ª, 29ª e 25ª colocações no ranking de eficiência ofensiva. De nada adiantaram os reforços ou o ganho de experiência dos jogadores já presentes para que o time decolasse. Além disso, não é que do outro lado da quadra as coisas fossem tão diferentes assim. O time teve as sexta e sétima piores defesas da liga com Vaughn e só apresentou um certo grau de evolução na campanha 2013-14, na qual terminou em 18º nesse quesito, para, depois, regredir. Muito pouco, ou quase nada.

A solução, por ora, tem sido separar Payton e Oladipo ao máximo, enquanto nenhum deles se torna uma arma perimetral. Segunda unidade do Orlando cresceu com o deslocamento de Oladipo, que fica muito tempo com a bola em mãos

A solução, por ora, tem sido separar Payton e Oladipo ao máximo, enquanto nenhum deles se torna uma arma perimetral. Segunda unidade do Orlando cresceu com o deslocamento de Oladipo, que fica muito tempo com a bola em mãos

E aí entra em cena o ranzinza Skiles, com suas sobrancelhas (ou o que restam delas) pesadas e uma abordagem detalhista e implacável. Alguém cujas equipes melhoraram consistentemente depois de sua chegada. O Phoenix Suns saltou de 54% de aproveitamento para 64,5% com ele, em 1999-2000. O Chicago Bulls sofreu um pouco em 2003-04, com 28,8%, vindo de 36,6% no ano anterior, mas, em sua segunda campanha, já ganhava mais do que perdia (57,3%). Depois foi a vez do Milwaukee Bucks, que pulou de 41,5% para 56,1%. Em 13 anos, foi para os playoffs seis vezes.

O ganho, em geral, acontece na defesa. Em sete de suas 13 campanhas como treinador, Skiles gerenciou uma retaguarda que se colocou entre as dez mais eficientes da liga. Em seis dessas jornadas, na real, elas estavam entre as quatro mais duras de serem batidas. Sob sua orientação e a nova parceria com Monte Mathis, ex-coordenador defensivo de Rick Carlisle em Dallas, o Orlando ainda não chegou a este patamar, mas já deu um salto dramático, ocupando hoje a 14ª posição, sofrendo 101,5 pontos a cada 100 posses de bola.

Como faz isso? Para Skiles, não tem muito segredo: é preciso trabalhar. Sim, com alguns conceitos básicos para vedar o garrafão. Mas aí não basta um sistema: os jogadores têm de saber aplicá-lo. E, para isso, precisam de fundamentos. Sim, gente, todo jogador ainda tem o que aprender ou, pelo menos, aprimorar. Mesmo os de NBA, especialmente com elencos tão jovens. Você faz de tudo: como contestar um arremesso do lado contrário, como manter a bola em um lado da quadra, comunicação, bloqueio de rebote, como se comportar marcando em cima da bola, ou longe dela. Muitos e muitos exercícios de repetição em cima disso. Um processo enfático. Melhor que ele fale a respeito.

''Você tem de estabelecer sua fundação cedo e repetidas vezes durante os treinos. Tem de tirar toda e qualquer dúvida que os jogadores possam ter, em termos de suas responsabilidades em quadra. Eventualmente, eles tiram conforto disso. Sabem que, com o tempo, não vão precisar ficar pensando sobre o que deve ser feito, sobre quando trocar a marcação etc'', contou Skiles, em sua apresentação. ''Quando você elimina essas dúvidas todas, é a hora em que eles sabem suas responsabilidades e começam a fiscalizar as coisas por conta própria. Cada jogador sabe exatamente 1000% o que deve ser feito, a cada dia. Mas isso precisa ser ensinado: o simples posicionamento dos pés, do corpo, das mãos, como para qualquer criança mais jovem. Vamos ser um bom time defensivo, só não sei quando. Mas sei que vamos conseguir isso.''

Skiles e Andrew Bogut montaram uma forte defesa em Milwaukee

Skiles e Andrew Bogut montaram uma forte defesa em Milwaukee

Um bom trabalho de um lado leva quase que invariavelmente a um melhor rendimento do outro. Os grandes treinadores conduzem defesa e ataque juntos. Uma coisa não deve funcionar separada da outra. São simbióticas. Na hora de buscar a cesta, então, o Magic tem agora é o 17º em eficiência. Curiosamente, o time faz os mesmos 101,5 pontos que toma a cada 100 posses de bola. Estão zerados, nesse sentido, e a tendência é de subida para os próximos meses e, principalmente, para 2016-17.

Agora… Tem uma coisa. Qualquer clube que contrate Skiles sabe qual o restante da história, do pacote. Não é alguém que, a despeito dos bons trabalhos, consiga ficar muito tempo em um lugar, até pelo estilo ranheta. Acho que 98,5% das relações humanas se desgastam com o tempo. A diferença é que, com este treinador, esse desgaste acontece em ritmo mais acelerado. Em Phoenix, depois de dois anos como assistente, só ficou uma temporada regular completa como técnico principal, tendo assumido durante um campeonato e sendo demitido no meio do outro. Em Chicago, ficou quatro anos. Em Milwaukee, foram três anos e meio. Em todos os seus empregos anteriores, foi demitido durante a temporada. Se for para fazer um paralelo com o futebol, seria José Mourinho, com a diferença de que o enjoado português tem muito mais sucesso em termos de troféus.

A pedida? Playoffs, quem sabe? Mas não vai ser fácil. Com poucos meses de instruções, Skiles já colocou o Orlando a briga por uma vaga no Leste, mas teve o azar de ver boa parte do pelotão intermediário da conferência despertar e sair da hibernação na mesma hora. Com o atual rendimento de 52,6%, teriam terminado em sétimo na temporada 2013-14 e em sexto em 2014-15. Agora, neste ano, ao meu ver, são quatro vagas a serem disputadas por sete times: Magic, mais Heat, Pistons, Celtics, Knicks, Wizards e Hornets.

(Não vou me estender sobre cada um desses times, pois tudo tem sua hora. Mas imagino que colocar o Miami nesse pelotão possa causar surpresa. Então vamos lá: no papel, é o elenco de mais cancha e mais qualificado, sim. Mas é fato que Wade e Dragic ainda não se entenderam em quadra e que Erik Spoelstra também não tem ajudado muito a vida dos dois. Você também não pode contar tanto assim com 80 jogos de Wade numa temporada. Neste momento, o time também se vê  no meio de uma sequência duríssima de jogos até o All-Star Game, com 14 jogos na estrada e duelos em casa com San Antonio, LA Clippers, Atlanta e Milwaukee. Ao final desta série, vamos ver qual será a campanha. Por fim, a situação contratual de Hassan Whiteside pode virar um problema.)

A gestão: o gerente geral Rob Hennigan parece entregar aquilo que a trilhardária família DeVos esperava: um Sam Presti light, tendo seu contrato renovado e prolongado até 2018 (o que não está tão longe assim, mas, ainda assim, significa algo de valioso depois das campanhas penosas dos últimos anos).

Rob Hennigan, quatro anos mais jovem que Kobe

Rob Hennigan, quatro anos mais jovem que Kobe

Hennigan tem, acreditem, apenas 33 anos de idade, sendo o dirigente mais jovem da liga, e, até o momento, vem fazendo um trabalho competente e paciente na coleta de jovens peças, sem apelar tanto como Sam Hinkie. Se o seu retrospecto no Draft ainda não é nenhum estrondo, também não dá para dizer que seja um fiasco, e isso só poderá ser avaliado de maneira mais razoável daqui a uns dois, três anos. O que dá para perceber é sua perspicácia em pequenas trocas que acabaram se tornando grandes para o time, como quando obteve os jovens e talentosos Harris e Evan Fournier ao despachar futuros agentes livres veteranos como JJ Redick e Arron Afflalo.

É o tipo de negócio que deixou Orlando numa posição interessante: o clube tem uma série de jogadores que podem amadurecer juntos e formar um núcleo fortíssimo, ao passo que também podem ser combinados em um superpacote para buscar uma troca por um All-Star, sem que a terra fique tão arrasada assim em uma transação de quatro-por-um, ou algo do gênero. A folha salarial também está sob controle, com espaço para adição de mais talentos nos próximos mercados de agente livre, ou para absorver eventuais extensões contratuais de Oladipo, Gordon e que tais. É a tal da ''flexibilidade'', tão valorizada na condução de uma franquia e não muito simples de ser atingida.

Olho nele: Aaron Gordon. Se nenhuma lesão de última hora atrapalhar as coisas, muito provavelmente o ala estará no torneio de enterradas em Toronto. Aí é a hora em que você, leitor mais chato e consciente, pode dizer: e daí? Desde quando isso vale alguma coisa? No que deu o Harold Miner?! Sim, sim, sim, está certinho: por mais exuberante Gordon seja como atleta, sua impulsão e elasticidade não valem de nada se ele não souber o que fazer com a bola. E, hoje, a quarta escolha do badalado Draft de 2014 ainda não faz muito com ela. É um projeto em desenvolvimento e mais uma prova clara de que a formação de base dos Estados Unidos já têm alguns grandes buracos para serem tapados. Entre fraldinhas e juvenis, alguém que seja tão vigoroso e saltitante se impõe por conta própria. Aconteceu o mesmo quando o americano foi enviado ao Mundial Sub-19 de 2013, devorando a concorrência no garrafão. Entre profissionais, ele manteve a agressividade e produtividade, concluindo 69,2% de suas finalizações nas imediações da cesta.

Mas Gordon tem muita mobilidade para ser limitado a um jogador de uma bola só no ataque (cravadas e cravadas). Aos poucos, com apenas um ano pela Universidade do Arizona e uma campanha de calouro acidentada, novos elementos vão surgir. E aí tem de ser um trabalho de formiguinha, de longo prazo, adicionando um a um. A prioridade no momento é seu chute de três pontos, com os pés plantados, chegando agora a 34,7% de rendimento. Não é o ideal, mas já é um começo. Jogadas a partir do drible vindo do perímetro, arremessos em movimento, criação para os companheiros… Há muito o que ser desenvolvido no ataque. No momento, ele não representa ameaça alguma se não estiver equilibrado na linha perimetral ou atacando o aro. Ainda assim, o ala já merece seus quase 20 minutos por jogo pelo que é capaz de fazer na defesa, com uma presença física e vitalidade incômodas, imponentes e multiuso.

Scott Skiles, Orlando Magic, 1990Um card do passado: Scott Skiles, dãr. essa é das anedotas mais batidas de qualquer transmissão da NBA, mas não tem como deixar passar. Na temporada 1990-91, em seu segundo ano como um dos pioneiros do Orlando Magic, o armador aproveitou que estava enfrentando uma das defesas mais patéticas da história (a do Denver Nuggets no início daquela década) e, no dia 30 de dezembro, ainda inspirado pelo espírito natalino, distribuiu 30 assistências em quadra no antigo . Até hoje é o recorde em uma partida de temporada regular, e duvido que alguém um dia supere essa marca.

O Orlando venceu aquela partida por inacreditáveis 155 a 116, e Skiles esteve envolvido em 60,6% das 61 cestas de quadra que o clube da Flórida anotou, terminando com um double-double (marcou ainda 22 pontos, numa linha estatística para lá de absurda). E não é que ele tivesse Shaquille O'Neal ao seu lado para desviar atenção da defesa e completar pontes – o gigantão só viraria vizinho do Pateta dois anos depois.O ala reserva Jerry Reynolds, que viveu seus únicos anos produtivos na liga como opção de um time de expansão, foi o cestinha, com 27 pontos em 26 minutos. No quinteto titular, ainda estavam os alas Dennis Scott e Nick Anderson, que fariam parte do time memorável de 1993 a 1996, além de Terry Catledge e do pivô Greg Kite, que era um horror.

Um armador de espírito enfezado, astro nos tempos de High School em Indiana e que aprontou das suas na época de universitário, sendo inclusive preso por dirigir embriagado e com posse de *entorpecentes*, Skiles era um armador cerebral no ataque e se tornou, com o passar dos anos, um ótimo arremessador, mas, curiosamente, entregava o ouro como defensor.


Duas promessas brasileiras seguem trilha de desenvolvimento na Espanha
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Felipe, ao centro, eleito MVP. Títulos sem parar pelo Real

Felipe, ao centro, eleito MVP. Títulos sem parar pelo Real

Escrever sobre garotos sub-18 é uma tarefa complicada no jornalismo esportivo. O registro do surgimento e evolução de novos talentos já faz parte da indústria. Ao mesmo tempo você tem de tomar todo o cuidado do mundo para não armar arapucas, tanto para si, como, principalmente, para os jovens atletas. Que o diga Lucas Dias, agora uma realidade produtiva pelo Pinheiros, mas um caso emblemático de jogador que já foi incensado como salvador aos 16 anos, para, duas temporadas depois, ser avaliado como um fiasco, mesmo antes de chegar aos 20, até dar a volta por cima, superando alguns testes traiçoeiros.

Então, vamos deixar uma coisa bem clara?

Aqui não é para pensar de modo algum no Rio de Janeiro 2016, mais conhecido como ''logo-mais''. Talvez nem mesmo Tóquio 2020 esteja em jogo.  Também faz bem tomar nota de que ''promissor'' definitivamente não significa ''futuro certo'' e evitar mais adjetivos.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Mas, sim, há dois garotos *promissores* encaminhando seu desenvolvimento em clubes tradicionais da Espanha e que também mandaram boas notícias para o basquete nacional, disputando o prestigiado torneio de L'Hospitalet, que foi inteligentemente integrado ao circuito juvenil da Euroliga (adidas Next Generation Torunament, #AdidasNGT): Felipe dos Anjos, pivô do Real Madrid, e Pedro Nunes, armador do Joventut Badalona. Ambos constam na lista de tarefa dos scouts internacionais para os próximos anos de viagens.

Alguém já viu foto parecida antes? Real papa-tudo

Alguém já viu foto parecida antes? Real papa-tudo

Sobre Felipe, 17, já contamos um pouco de sua trajetória. Ele faz parte de um esquadrão Sub-18 do Real que ganha tudo sem parar no basquete europeu e faturou o bicampeonato da competição na semana passada, mesmo sem o prodígio Luka Doncic, agora peça integral do time adulto, aprontando das suas. A novidade é que o pivô de 2,18m ganhou o prêmio de MVP do torneio.

Os números foram de 9,8 pontos, 6,6 rebotes e 1,6 toco, mais 76,9% no aproveitamento de quadra, em apenas 21 minutos. A projeção por minuto já é bacana, mas o que contou mais foi o impacto defensivo que ele causou com sua envergadura para liderar a garotada merengue a uma campanha invicta em cinco partidas, com o bônus de terem batido o Barcelona na final. Também se comportou como um líder do grupo.

''Ele estava um pouco melhor em relação ao último torneio em que o vi. Ele, na verdade, está melhorando a cada vez que o vejo. Mas ainda tem um longo caminho pela frente. São passos de bebê. Ainda é muito cedo para saber que tipo de jogador ele vai virar'', afirmou um scout internacional da NBA (''A''), que esteve por lá. Outro olheiro (''B'') da liga americana in loco disse ao blog que gosta do potencial a longo prazo do jogador, destacando que ele é ''atlético e coordenado'' para o seu tamanho, identificando o cabo-verdiano Walter Tavares, gigantão do Atlanta Hawks, como um possível paralelo.

Aqui, um clipe editado pela equipe da Euroliga, que mostra a quantas anda seus reflexos e mobilidade nas imediações do garrafão:

Sobre Pedro, ou Pedrinho, capixaba de Vitória que saiu muito cedo do país, assim como Felipe, o que temos a dizer? Simplesmente que nasceu em 2000 e só vai fazer 16 anos no próximo dia 23 de agosto. Ah, e tem 1,96m de altura. Glup. Ele era o mais jovem em todo o torneio e, ainda assim, foi colocado em quadra pelo Joventut para competir com rapazes até dois anos e meio mais velhos, numa fase em que qualquer bimestre deveria fazer a diferença.

A tenra idade obviamente já chamou a atenção dos olheiros. Que, quando iniciado o torneio, ficariam surpresos pelo simples fato de ele ter sido acionado constantemente pelo seu treinado, começando inclusive como titular em dois dois quatro jogos do time catalão (foram três derrotas e uma vitória). O armador ficou em quadra em média por 21 minutos, somando 9,5 pontos, 5,3 rebotes, 1,8 assistência e 2,5 turnovers, com 35,1% nos arremessos de quadra, 52,9% nos lances livres e apenas duas bolas de três tentadas.

Pedro Barros, de Vitória para Badalona, precocemente

Pedro Barros, de Vitória para Badalona, precocemente

Para quem estava no ginásio, Pedro impressionou pela maturidade física e pela confiança demonstrada, mesmo sendo o caçula. ''Para alguém tão jovem, foi bacana de ver. Ele tem bom tamanho para um armador'', disse o scout ''A''. O scout ''B'' o vê como um ala no futuro. ''Ele jogou como armador em alguns momentos, mas não me pareceu alguém natural da posição. Mas realmente gostei dele. Ele teve alguns momentos impressionantes, mas também foi inconsistente, o que é mais que normal por ser dois anos mais jovens'', disse.

Em sua categoria, o brasileiro, que participou de maaaais uma campanha malfadada da base nacional na Copa América Sub-16 no ano passado, está acostumado a se impor fisicamente, ganhando o garrafão com facilidade, e também encanta por sua visão de quadra. Para o futuro, todavia, vai precisar desenvolver, e muito, seu arremesso. Um pouco na linha do que já foi – e ainda é – dito sobre o precoce Doncic. Com 15 anos, todavia, ele tem todo o tempo do mundo para aprimorar sua técnica. Alguns belos lances dele:

Está feito aqui o registro, e vale conferir o progresso de ambos aos poucos. Não esperem atualizações constantes a respeito, já que é o tipo de história que só faz sentido a longo prazo, mesmo.


Com repertório expandido, Felício causa boa impressão geral pela D-League
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Felíco x Jeff Ayres, ex-Spurs

Felíco x Jeff Ayres, ex-Spurs

Quando um time de NBA perde um pivô com todas as habilidades de Joakim Noah, tende a se enrascar. Mas não o Chicago Bulls. Para Fred Hoiberg, isso significa dar mais minutos para Taj Gibson mostrar seu confiável arremesso de média distância e cobrir terreno com movimentação lateral invejável. Pau Gasol também vai ganhar mais espaço para fazer das suas no garrafão, enquanto Nikola Mirotic tem mais chances para encontrar o rumo da cesta. Ah, e claro, para não falar do hiperprodutivo Bobby Portis, o calouro número 22 do Draft que parece ter sido escolhido, no mínimo, 12 posições mais cedo. Estamos falando já de quatro caras mais que competentes para compor uma linha de frente, e o quinto homem seria um grandalhão pouco ágil ou atlético, mas que faz parte da seleção australiana, é grande, forte, adora uma pancadaria e tem bons fundamentos para ajudar no andamento de um treino e tal.

Pensando nesse mundaréu de gente, não deixava de ser uma grata surpresa que o escritório gerenciado por John Paxson, operando sob as ordens do quase sempre avarento Jerry Reinsdorf, tenha, num primeiro momento, contratado Cristiano Felício e, agora, nesta semana, garantido seu contrato até o final a temporada. Lembremos que, numa decisão rara, o proprietário do clube já havia topado ultrapassar a temida ''luxury tax'' em US$ 5 milhões neste ano e ainda não viu problema em pagar mais US$ 500 mil para o pivô brasileiro.

Agora, ao vê-lo em ação nesta semana pelo Canton Charge, da D-League, jogando com desenvoltura, energia e repertório expandido, após ter disputado apenas duas partidas pela temporada regular, sem que tivesse entrado em quadra desde o dia 27 de novembro, o voto de confiança e a aposta no mineiro de Pouso Alegre parecem mais do que justificado. Parecem certeiros.

>> Como foi a estreia de Caboclo e Bebê pela filial do Raptors?
>> As anotações de um scout da NBA sobre Caboclo, Bebê e Felício

>> Nada de férias! Análise sobre a liga de verão de Bruno Caboclo
>> Nada de férias! Análise sobre a liga de verão de Lucas Nogueira
>> Problemas dentro e fora de quadra: desenvolvimento intrincado

Ok, não vamos julgar nada com base em duas partidas e 50 minutos pela liga de desenvolvimento. Mas é que, como brasileiros, temos uma vantagem sobre os americanos, né? Pelo menos em relação aos scouts que não tenham feito o dever de casa ao acompanhar o pivô que despontou em cenário internacional na mesma turma de Raulzinho e Lucas Bebê, o tendo se exibido para os olheiros mais atentos em 2011.

Não que os Bulls fossem os únicos antenados. Sei de dois clubes da Conferência Oeste que ao menos colocaram o nome de Felício em pauta para a composição de seus elencos de verão, mas nenhuma oferta foi feita. Um desses clubes esteve no Brasil para avaliar a garotada do Pinheiros e também inseriu seu nome no caderno de notas. Outro adorou o que viu de seus amistosos pelo Flamengo no giro de pré-temporada em 2014. Além disso, claro, pôde ser observado no adidas Eurocamp de Treviso no ano retrasado, seu bom desempenho não foi o suficiente para lhe valer uma vaga no Draft.

Como vemos agora, um ano e meio depois, não era o fim do mundo. Nesta semana, depois de cerca de um semestre de treinos com a comissão técnica de Hoiberg, pudemos ver um atleta com truques novos, enfrentando jogadores de NBA, ou que tentam voltar para lá, além de veteranos aspirantes e universitários recém-formados de sua idade, angariando mais fãs.

''Felício desenvolveu um arremesso de três pontos. Se ele puder sustentar isso, estamos falando de um cara que vai ficar muito tempo na liga'', avaliou um scout presente no ginásio do Santa Cruz Warriors, que recebe o chamado ''Showcase'' da D-League, com todos os clubes menores reunidos para uma série de partidas da temporada regular, agrupadas, em sequência.

Agressão
Um pouco do que Felício fez na primeira partida do Charge por estes jogos valem mais que uma exibição está aqui:

E aí já dá para reparar em como o arsenal do pivô revelado pelo Minas Tênis apresenta uma surpresinha ou outra. A começar pelos arremessos confiantes de longa distância, devidamente destacados pelo olheiro acima, e um diferencial que, sabemos bem, mais da metade da liga está buscando em seus grandalhões. Contra o Idaho Stampede, ele matou duas em quatro tentativas, sendo que a quarta foi desequilibrada, no estouro do cronômetro ofensivo. Os ataques a partir do perímetro também envolvem arremessos de média distância, do tipo que arriscava pelo Flamengo.

Mas há algo mais interessante aqui. Não é que o brasileiro tenha dado 'apenas' um ou dois passos para trás e expandido seu alcance no chute. Ele não parou por aí, literalmente, pois também vem apresentando movimentos calculados e inteligentes em direção ao garrafão quando não está em posição confortável para atacar o aro. Um lance no segundo tempo exibido no clipe acima mostra o jogador buscando a infiltração e finalizando de canhota com muita categoria. Da mesma forma que fez aqui na primeira partida pelo Charge contra o Oklahoma City Blue:

É uma bolaça, hein? Convenhamos. O que chama a atenção é novamente a conclusão com a mão trocada e a paciência que ele teve para iniciar a jogada, cortando da direita para a esquerda, sob controle. Alguém se lembra de ver uma ação semelhante por sua parte durante os títulos do Flamengo pelo NBB? Não me bate na telha, não. Felício esteve sempre em calmo no ataque, sem se precipitar para nada, tomando decisões corretas. Cometeu dois turnovers na primeira partida, mas não foi nada de alarmante. Em um deles, a arbitragem viu o uso indevido do braço na hora de se proteger e buscar a cesta cortando pelo fundo de quadra.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Também não forçou a barra para buscar números e glória, mesmo que não jogasse há tempos. A diferença é que, comparando com Caboclo e Bebê, Felício ao menos teve muito mais tempo de quadra nas últimas duas temporadas pelo Flamengo, ainda que, em muitos momentos, a impressão era a de que ele pudesse ser muito mais utilizado, e seus lances pela D-League americana assim como a dominância na LDB brasileira comprovam isso. Felício pode ser muito mais do que um jogador de corta-luz e rebote no ataque. Sua habilidade como passador é bastante subestimada.

Em meia quadra:

Ou mesmo em transição:

Importante notar que o brasileiro nunca havia jogado com nenhum de seus companheiros antes. O Canton Charge é a filial do Cleveland Cavaliers, que curiosamente quebrou um galho para o rival de Divisão Central. Então na hora de fazer o corta-luz para seus armadores, abrir para o chute, ou mergulhar em direção ao garrafão, as coisas não saíam muito naturais. Falta química, claro. O entrosamento é mínimo. A despeito dessa limitação séria, se saiu bem. É preciso dizer também que ele tem bons jogadores ao seu redor, como os armadores Quinn Cook, campeão universitário por Duke e Coach K, e Jorge Gutiérrez, o mexicano ex-Bucks e Nets, o ala-pivô Nick Minnerath, versátil demais e que estaria ganhando uma boa grana na Europa, o ala John Holland, que joga por Porto Rico, e o ala CJ Wilcox, chutador cedido pelo Clippers. Ajuda ter gente qualificada ao lado, com instruções do técnico espanhol Jordi Fernandez, que trabalhava com academia Impact nos EUA.

Felício conquistou o respeito desses caras. Não basta ter o selo de NBA se não for para justificá-lo. Em termos de atitude, o brasileiro também se mostrou motivado, vibrando com as cestas dos parceiros. Essa atitude positiva se traduziu em energia em quadra, algo que nem sempre acontece no caso de enviados da liga de cima, que podem encarar a passagem pela D-League como um rebaixamento e algo de se envergonhar. Bobagem e egocentrismo exagerado, claro, em vez de se aproveitar a chance. Pois o pivô correu muito bem a quadra toda, com muita disposição e, contra a filial do Thunder, bateu seus adversários consistentemente. Veja esta sequência em que ele ganha o rebote num tapinha e já inicia o contra-ataque para concluí-lo de forma enfática:

Que tal a agressividade? Em detalhe:

Está aí outra abordagem que não era lá tão comum nos dias rubro-negros. Felício está buscando a cravada e o toco, está jogando acima do aro, e isso, no seu caso, vale muito mais como termômetro de intensidade e conforto em quadra do que pelo show:

Então temos isso hoje: um pivô que desenvolveu seu arremesso, sabe quando utilizá-lo, pode por a bola no chão e finalizar com autoridade ou categoria perto da cesta, podendo marcar 35 pontos em 50 minutos, com aproveitamento de 65,2% de quadra. Sai jogo daí, pelo menos no nível da D-League, por ora, aos 23 anos.

Agora, pensando em NBA, todas essas informações são bem relevantes, mas não necessariamente essenciais. Pois, num primeiro momento, tanto o Bulls como a concorrência não vai procurar neste showcase um jogador de referência, para carregar o ataque titular ou da segunda unidade. A prioridade dos scouts é encontrar peças complementares, para ajeitar a rotação. Que possam produzir algo no ataque, mas que, essencialmente, cuide bem das coisas do outro lado. ''Rebotes, defesa, jogar duro e de forma inteligente: são essas as chaves para ele'', afirma outro scout ao blog.

Contenção
Contra o OKC B, Felício pegou apenas três rebotes em 27 minutos. Um problema? Não, pelo menos não para que tenha visto o jogo. Este é mais um caso de como se precisa muita calma na hora de falar sobre os números que sejam computados numa súmula de jogo. Foram várias as ocasiões em que o brasileiro simplesmente limpou terreno para que seus companheiros pudessem fazer a captura da bola. Como no vine abaixo, em que consegue conter o corpanzil de Dakari Johnson, um pivô muito promissor vindo da fornalha produtiva de John Calipari em Kentucky:

Felício é um bom reboteiro, com uma base forte nas pernas para guardar posição, excelentes mãos para fazer o controle e tino para se posicionar bem, compensando a impulsão reduzida quando tem os dois pés no chão. Número por número, já foram oito em 22 minutos contra o Stampede.

Na hora de proteger a cesta, uma característica pôde ser notada: Felício se saiu muito melhor contra pivôs mais pesados, que gostem de jogar perto da cesta, do que contra alas-pivôs ágeis e flexíveis que pudessem atacar usando o drible frontal, fora do garrafão. Abaixo, ele consegue segurar Dakari Johnson no tranco. Depois, vê Talib Zanna, mais baixo e leve, lhe contornar. Primeiro, a brecada:

Deu Cesta:

Em quadras brasileiras, Felício já mostrou mais agilidade em seu deslocamento lateral, sendo o tipo de pivô que consegue brecar armadores. Nessas últimas duas partidas, pareceu um pouco mais pesado e lento. Ou talvez seja apenas a relativização de suas habilidades atléticas diante de atletas de primeiro nível, tal como aconteceu em pelo menos três investidas de jogadores do Stampede, deixando o brasileiro para trás. É algo para se acompanhar. Pensando na NBA, é muito mais provável hoje que ele tenha que lidar com Zannas do que Johnsons. É algo que os scouts vão analisar com cuidado.

De toda forma, a impressão em geral no momento é de surpresa e otimismo. Em Chicago, num time que sonha com o título,  com tantos pivôs qualificados acima na rotação, Felício não vai ter muitas chances nesta temporada. Mal vai jogar. Ainda assim, teve seu contrato renovado, o que para ele, no câmbio de hoje, também rende uma gratificante bolada, além da satisfação de (primeiro) dever cumprido. Ao mesmo tempo, Paxson, o gerente geral Gar Norman e o técnico Fred Hoiberg sabem de que tipo de talento estão cuidando. Estão pensando mais longe, pedindo um investimento de Reinsdorf para o futuro. E, assim como aconteceu com Portis, para o restante da liga a capacidade de se seu outro pivô talentoso e novato não é mais segredo nenhum.


Como foi a estreia de Caboclo e Bebê pelo Raptors “B”? Vídeo e observações
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Luas e Bruno retornam a Fort Wayne, mas agora com garantia de minutos

Luas e Bruno retornam a Fort Wayne, mas agora com garantia de minutos

Galera, antes de mais nada, fica o aviso: os jogos da Liga de Desenvolvimento da NBA estão todos disponíveis, gratuitamente, no YouTube e no site oficial do campeonato. Dá para assisti-los ao vivo ou on demand. Agora, isso não fez dessa missão algo fácil: pois o nível do basquete ali pode ser uma dureza de se aturar.

Mas, se é na D-League que Bruno Caboclo e Lucas Bebê vão realmente jogar, com largo tempo de quadra e a liberdade para criar e errar, este é um sacrifício que vamos ter de fazer, né? Analistas, torcedores e, claro, Rubén Magnano.

Pois, lembremos. Todas as notas colocadas aqui, para falar sobre a primeira aventura de Bruno por essas bandas, ainda valem: por mais que a liga caminhe numa direção saudável, para que cada uma das franquias da NBA tenha sua filial, resultando em maior controle sobre o produto apresentado, a grande maioria de suas partidas ainda vai parecer um confronto de bandoleiros.

>> As anotações de um scout da NBA sobre Caboclo, Bebê e Felício
>> Nada de férias! Análise sobre a liga de verão de Bruno Caboclo
>> Nada de férias! Análise sobre a liga de verão de Lucas Nogueira
>> Problemas dentro e fora de quadra: desenvolvimento intrincado

São diversas razões para se compreender esse cenário, e a questão financeira talvez seja a principal delas. Os jogadores que frequentam esse universo ainda ganham em geral muito mal. Seth Curry, por exemplo, que botou fogo na temporada passada, recebeu menos de US$ 50 mil por contrato, até ser chamado por alguns clubes como Grizzlies e Suns e faturar um troco a mais. Por isso, é natural que muitos dos atletas ali em atividade estejam desesperados para receber uma promoção. O que pode gerar uma vibração um tanto individualista em quadra, com gente perseguindo números e façanhas, sem se importar muito com o sucesso da equipe como um tudo.

(Se isso funciona? Claro que não. Os scouts da NBA não estão avaliando estas partidas para descobrir o próximo Michael Jordan. É muito mais provável que seus times estejam precisando mais de um Jud Buechler ou de um Bill Wennington. Ou isso, ou vão atrás de caras mais jovens com potencial atlético de primeiro nível, com a esperança de que seus treinadores possam transformá-los em jogadores efetivos de rotação. Algo que o Warriors fez muito de uns tempos para cá.)

Por mais que os dirigentes do Raptors 905 – ou, o Raptors ''B'' – se esforcem para montar o melhor elenco possível, a verdade é que, nesse contexto, a mão-de-obra mais qualificada que não tenha deslocado um contrato garantido com a grande liga tende a procurar mercados no exterior, de olho na Europa ou na China. Não sobram taaaaantos jogadores assim para se formar um belo time.

Tudo ainda é um trabalho em progresso para Bruno e o Raptors B

Tudo ainda é um trabalho em progresso para Bruno e o Raptors B

De qualquer forma, no caso do clube fundado em Mississauga, a 22 km de Toronto, a prioridade indiscutível é o progresso da dupla brasileira. O clube comprou sua filial basicamente para que eles possam se testar e serem testados. Claro que não é de uso exclusivo dos brasileiros, mas todo o processo foi acelerado para que Caboclo e Bebê tenham onde jogar. Basicamente isso, ainda mais depois das frustrações encaradas na temporada passada, quando o Fort Wayne Mad Ants não se mostrou tão receptivo assim para utilizar o caçulinha, assim como o jogador deu trabalho nos bastidores, incomodado tanto pela falta de tempo de quadra como pela diferente realidade que encontraria na D-League, em termos de logística, digamos.

Neste ano, com o time de Dwane Casey entrando no páreo novamente com aspirações elevadas, é muito pouco provável que eles deem as caras no time principal. Com DeMarre Carroll, Luis Scola, Bismack Biyombo, Anthony Bennett e mais dois calouros (Norman Powell e Delon Wright), a rotação ficou muito mais forte. Para que eles sejam utilizados, só no caso de excesso de lesões ou de um progresso a passo largo da dupla.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

A diferença agora é que não há mais desculpas. Todo o estafe comandado por Jesse Mermuys, ex-Raptors e Rockets, vai operar sob diretrizes diretas de Masai Ujiri e Casey. O objetivo, aqui, não é vencer e vencer. Mas, sim, desenvolver seus jovens talentos e, aí, sim, se tudo der certo, fazer uma boa campanha.

A jornada começou neste sábado, ironicamente em Fort Wayne, contra o Mad Ants, clube que agora pertence ao Pacers, mas que, na temporada passada, era dividido por mais de uma dezena de franquias, e daí a confusão na hora de se aproveitar os prospectos para lá enviados.

O time da casa venceu por 83 a 80, em partida definida num buzzer-beater. Já deu para ver que Caboclo e Bebê terão espaço para expandirem seu repertório e colocar em prática os trabalhos de fundamento especializados que fizeram com os técnicos do Raptors na temporada passada e também durante as férias. Por exemplo, já tem jogada desenhada para que Bruno finalizasse a partir de uma reposição de bola, envolvendo seu compatriota, por sinal. Vejam:

De qualquer forma, para que os rapazes rendam bem, é preciso que o time esteja organizado – se é que isso vai acontecer, dada a natureza volátil dos elencos e da liga. E, sim, não dá para pedir química de um grupo que foi reunido há menos de um mês e com o qual os dois jovens brasileiros nem treinam em tempo integral. Nessa estreia, o time acertou apenas 40% de seus arremessos de quadra, com 27% de longa distância, conseguiu apenas 14 lances livres e teve o mesmo número de assistências e turnovers (19). De todo modo, tanto Bruno como Lucas foram bem, deram um primeiro passo positivo, com detalhes importantes para serem corrigidos com o tempo.

Do que deu para ver nessa primeira amostra, dá para entender que seus biótipos são aqueles que Ujiri mais valoriza: o time ''B'' canadense está povoado de atletas longilíneos e ágeis. O ala Michael Kyser, por exemplo, lembra muito Caboclo, que, por sinal, já deve ter batido a casa dos 2,08m de altura.

Seguem, então, alguns clipes e observações sobre a dupla:

Bruno Caboclo
Quanto melhor o time estiver se entendendo, é de se esperar que mais chances ele tenha para atacar em movimentações coordenadas. Por ora, Caboclo ainda não vai pegar a bola, colocá-la no chão e atacar por conta própria. Foram raras as situações em que esse tipo de investida aconteceu neste sábado. A boa notícia é que, quando conseguiu partir para o garrafão, em geral teve sucesso. Vejam essas duas bolas ainda no primeiro período. A primeira veio com direito a giro e finalização em conversão:

Nesta segunda, ele improvisa e consegue converter um arremesso de grau elevado de dificuldade. Não foi a melhor decisão com a bola, mas funcionou – se formos descontar o fato de que ele dá uma passada a mais com a bola, o que aconteceu por ter parado de driblar muito cedo, mesmo que C.J. Fair tenha oferecido um corredor:

E por que deu certo? Além da conivência da arbitragem, repare que em ambas as situações a passada extensa e a envergadura de Bruno o ajudam muito. Especialmente na segunda bola, em que se vê pressionado por Fair e pela cobertura de Rakeem Christmas vindo do lado contrário. Espremido na quina esquerda tabela, consegue soltar a bola por cima de dois defensores bastante atléticos (e muito bem treinados por Jim Boeheim, de Syracuse).

Tomara que não tarde a acontecer que o caçula brasileiro pratique o desapego em relação aos chutes forçados, ainda mais de longa distância. Ainda que, realisticamente, o chute da zona morta seja aquele de maior probabilidade que terá a serviço do time principal, no nível da D-League não faz sentido que ele fique estacionado na linha perimetral, por seguidas e seguidas posses de bola, como mero espectador. Dada a sua ansiedade, quando entrou na linha de passe, o ala se precipitou em diversas ocasiões para dispará-la. Aqui, as únicas duas ocasiões em que o chute rápido, com mecânica elevada e arco fluido, foi certeiro:

No geral, porém, o brasileiro converteu apenas duas em nove tentativas (22,2%), e não por não saber arremessar, mas, sim, por ter se perdido na seleção de disparos. Seja de primeira, com a bola pegando fogo na mão, ou a partir do drible, com direito até a um ousado passo para trás que resultou numa falha feia:

Nem todo mundo é Stephen Curry, Kevin Durant, James Harden ou Carmelo Anthony nesta vida. É aquela bola que pode valer highlight quando cai, mas em geral resulta em pedradas, mesmo. Pois não é fácil. Naaaaada fácil.

Esse tipo de gana pela cesta deve ser dosado aos poucos por Mermuys. Dá para entender de onde vem isso. Estamos falando de um jogador que mal entrou em quadra na temporada passada e que tem apenas 20 anos e pouca ou quase nenhuma rodagem em competições de alto nível. Ainda assim, foi escolhido pelo Raptors numa primeira rodada de Draft e encara, ao seu modo, alguma pressão. Quer provar que é jogador, que o que está fazendo nos treinos já rende frutos, que isso e aquilo. Por outro lado, a comissão técnica e a diretoria têm de cuidar para que o atleta não adquira maus hábitos, que não lhe ajudarão em nada na liga. Uma coisa é tentar ser assertivo, outra, inconsequente.

E não é que Bruno não estivesse olhando seus companheiros. Terminou a partida com quatro assistências, o que o torna basicamente um Magic Johnson quando comparado ao ala Scott Suggs – esse, sim, um fominha profissional.  O ala de 26 anos, revelado pela Universidade de Washington, passou pelo basquete francês na temporada passada e foi testado por Orlando e Miami durante as ligas de verão. Se for para julgar por uma só partida, dá para entender o porquê de não ter ficado. Suggs tratou a bola como se ela fizesse parte de seu corpo e só pudesse ser desencaixada se fosse para um arremesso. Para o volume de jogo, de 20 disparos em 39 minutos e muitos, mas muitos dribles, que ele tenha acabado o duelo sem nenhuma assistência é algo cômico. Ou doentio, escolham.

O mais interessante foi que Caboclo deu duas belas assistências quando também estava em progressão para a cesta, mostrando que, aos poucos, o jogo começa a desacelerar em sua cabeça, e novas perspectivas vão se abrindo, até mesmo como coordenador de um pick-and-roll:

Os números finais de Caboclo: 16 pontos, 13 rebotes, 4 assistências, 3 roubos, 2 turnovers e 6-16 nos arremessos de quadra. Para um jogador que por vezes só corria em quadra de um lado para o outro e, quando recebia a bola, poderia se precipitar com ela, sua linha estatística não saiu nada mal e dá suculentas dicas sobre o seu potencial.

Um parêntese sobre os rebotes: o brasileiro se posicionou bem, salta do chão rapidamente, tem braços enormes, mas em muitas ocasiões simplesmente não estava disputando com ninguém perto de sua cesta (foram 10 defensivos).  Vamos acompanhar a temporada para ver o qual será o nível de produção nesse sentido. Sobre a defesa, em geral, ele se mostrou desatento, dando muita distância para seu oponente, confiando que iria se aproximar devido aos braços e pernas compridas. Nem sempre aconteceu. Fato é que alguém com sua envergadura, mãos e mobilidade precisa flutuar mais próximo ao aro, para coisas como esta acontecerem:

Lucas Bebê
O jogo teve uma dinâmica diferente para o pirulão, que esteve limitado a 21 minutos de ação devido ao excesso de faltas (cinco). Foram duas no primeiro período, com pouco mais de cinco minutos de jogo, e uma terceira logo que ele voltou para a quadra no segundo período, com menos de dois minutos disputados. Para piorar, a quarta saiu quando restavam 9min58s para o fim do terceiro. Quer dizer, ele perdeu basicamente dois quartos de ação. Isso, depois de ter começado muito bem a partida, aprontando coisas assim:

 

Que tenha se perdido com faltas e refreado uma arrancada foi uma pena. O que isso indica? Ferrugem, claro. Falta de ritmo e também sua própria ansiedade, quando ia um pouco além na tentativa de fazer um desarme ou quando saltava antes do tempo para buscar o toco – para alguém de sua envergadura, a verticalidade da qual Roy Hibbert virou símbolo na época de Pacers talvez já fosse o bastante para impedir a cesta ou até mesmo um arremesso. Mais: o carioca ainda sofre com os trancos de jogadores mais fortes e físicos, como Rakeem Christmas, draftado por Cleveland e repassado a Indiana. Ao tentar compensar, pode se ver punido com o apito.

Bebê parte para a bandeja: acionado sempre de frente para o aro

Bebê parte para a bandeja: acionado sempre de frente para o aro

Bebê, ao que parece, nunca vai ser uma fortaleza de jogador, como contraponto a outras figuras recentes que construíram um corpanzil que contradizia o apelido infantil, como Nenê e Baby. Fazer a defesa pela frente, tentando tirar a linha de passe para seu oponente, é o melhor caminho, então, ainda mais com sua agilidade e seus braços compridos. Mas ainda lhe falta força na base para ao menos se proteger de atletas que buscam o contato. Depois das seguidas lesões dos últimos anos, e tão jovem, fica a dúvida também sobre seu condicionamento físico para encarar longas viagens, jogos corridos e pancadaria.

Por que uma coisa está clara, desde a sua breve passagem pelo Mad Ants na temporada passada: se não tiver problemas com faltas, o pivô vai ser candidato ao prêmio de defensor do ano neste nível de jogo. Christmas, que tem sua idade, foi um adversário desafiador, com 24 pontos e 7 rebotes em 32 minutos, com 11-19 nos arremessos. Mas tem sete centímetros a menos e não é tão rápido ou veloz como o brasileiro.

Lucas intimida quando bem posicionado no garrafão. Mesmo quando foi muito além em uma cobertura ou no deslocamento para fechar espaços ao redor do garrafão, tem o pacote atlético que lhe permite a recuperação e a proteção do aro. Mas não é só uma questão de biótipo. Quando concentrado, o pivô apresenta timing excepcional e ainda tem uma capacidade admirável e muito valiosa para dar tocos com as duas mãos, dependendo do lado e do ângulo de ataque. Que tal dois bloqueios com a canhota?

O legal também é notar como o cabeleira sai em disparada uma vez executada a ação na defesa. Bebê acelerou sempre que pôde, como deve fazer. Imagino que seja algo planejado, sugerido por Mermuys, e faz muito sentido. Poucos vão poder apostar corrida com ele.   O que não significa que Lucas seja um jogador de uma nota só. Ou melhor, de um pique só.

Em meia quadra, sendo acionado sempre de frente para a cesta e bem longe de movimentos de post up, ele já tem habilidades muito interessantes, sendo a principal dela a habilidade para concluir o pick-and-roll com elevado índice de acerto. A outra é a visão de quadra. Desde os tempos de Estudiantes que ele se mostra capaz de servir aos companheiros na cabeça do garrafão. Neste primeiro jogo da nova temporada, deu para perceber um novo elemento: ele está autorizado para por a bola no chão e atacar. E aí que lances lindos como este podem surgir:

Tenham em mente que esta infiltração terminada em passe foi feita por um jogador de 2,13m de altura, em meio ao tráfego. Joakim Noah teria ficado orgulhoso, convenhamos. Não foi um lance isolado. Tanto na saída em transição como no ataque em meia quadra, o espigão ganhou liberdade para avançar. Saibam que, quando mais jovem, no Estudiantes, isso seria algo impensável, e talvez muito mais pelo conservadorismo de seus treinadores do que por limitações suas.

Não é que sempre tenha dado certo. Os dois turnovers de Lucas no jogo vieram justamente em situações nas quais foi para o drible. O primeiro foi uma falta ofensiva, quando atropelou um adversário no limiar do semicírculo (por outro lado, foi mais uma jogada em que foi capaz de bater a primeira linha defensiva e ganhar o garrafão, faltando aí a percepção do que estava literalmente a sua frente). O segundo foi na última posse de bola do Raptors 905, a 3s9 do fim, quando a partida estava empatada em 80 a 80, e eles tinham a chance de definir a parada:

A jogada estava desenhada para Caboclo, novamente, como se percebe. Acontece que o Mad Ants estava preparado para isso. Christmas e Shane Whittington, também do Pacers, dobraram para cima do ala, tendo o pivô falhado em tirar Whittington da jogada, aliás. Bebê, então, recebe o passe numa posição complicada e tenta avançar pelo fundo da quadra. Acaba desarmado. O time da casa pediu tempo, e…

Dói, né? Mas faz parte do desenvolvimento de um jogador. Em sua estreia pela D-League na temporada passada, Caboclo errou uma reposição de bola pelo Mad Ants que também lhes custou caro. Acontece. O bom é que, nesta campanha 2015-16, eles realmente terão a chance de compensar essa frustração. A segunda chance, por exemplo, já veio neste domingo, quando este artigo estava prestes a ser publicado.

Seus números finais: 11 ponto, 9 rebotes, 4 assistências, 3 tocos, 2 turnovers em 21 minutos, com 4-6 nos arremessos.

Para Caboclo, a lista de tarefas ainda é ampla e o progresso será bem gradativo, sendo que alguns dos ajustes dependem diretamente de seus treinadores e companheiros. Mais movimentações em direção ao aro, menos chutes tresloucados, mais atenção defensiva, o refinamento do drible etc. Terá espaço para isso. Para Bebê, a questão das faltas é fundamental. Se não conseguir ficar em quadra num jogo da liga menor, dificilmente vai ganhar a confiança de Casey para competir por minutos com Bismack Biyombo. Caso jogue com energia elevada, foco e deixar seus instintos o guiarem em quadra, pode fazer estragos. Nada disso é garantido, e a dupla vai ter de trabalhar duro por mais um ano mesmo que a condição de ''jogador de NBA'' ainda não seja ratificada para valer neste ano.

Atualização
Deu tempo de assistir ao segundo duelo entre o Raptors 905 e o Mad Ants, em Fort Wayne. Caboclo aparentemente assimilou num estalo as instruções de seus técnicos. Sua seleção de arremessos foi muito melhor, sabendo a hora de atacar e arriscar, deixando que o jogo chegasse até a ele. Ainda que seu time tenha feito uma péssima apresentação, ele foi para o jogo e marcou 25 pontos em 18 arremessos e 34 minutos, com 3-8 para longa distância. Já Bebê se atrapalhou novamente com as faltas, cometendo três no primeiro tempo. Pior: permitiu que isso entrasse em sua cabeça e passou a vagar pela quadra, reclamando de árbitros, companheiros e de si mesmo, numa frustração exagerada. Terminou com 8 pontos e 9 rebotes em 26 minutos. Imagino que vá levar um bom puxão de orelha no retorno ao Canadá.

Que Caboclo tenha feito uma bela partida neste domingo só pode pegar bem para o seu currículo. Pois havia um espectador ilustre em Fort Wayne: Larry Bird. Sim:

Larry, the Legend

Larry, the Legend

O chefão do Pacers provavelmente estava mais interessado em observar Christmas e Whittington, mas certamente tomou novas notas sobre Caboclo. Novas? É, pois é. Rumo ao Draft de 2014, posso afirmar que o Indiana era um dos clubes mais interessados no jovem brasileiro. Talvez só atrás mesmo do Raptors.


Jukebox NBA 2015-16: “Kiss from a Rose” só poderia ser do Bulls
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

jukebox-rose-bulls

Vamos lá: a temporada da NBA já está em curso, e o blog inicia sua série de prévias que já não são exatamente prévias sobre o que esperar das 30 franquias da liga. O pacote invadiu o calendário oficial de jogos, mas paciência, né? Afinal, já aconteceu no ano passado. Para este campeonato, me esbaldo com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: ''Kiss from a Rose'', por Seal

Por quê? Acho que aqui temos o título de música mais óbvio. O beijo de uma rosa. Ops, quer dizer: o beijo de Derrick Rose. De despedida para Tom Thibodeau, de recepção para Fred Hoiberg e um salve geral para Jimmy Butler e a torcida do Bulls.

A relação do clube e seus fãs com o armador uma relação que já beirou a deificação quando o garoto humilde da cidade venceu na vida e foi eleito o MVP da liga. Acontece que uma sucessão de lesões (algo que ele não pode controlar) seguidas por uma fase de declarações um tanto deslocadas e absurdas (algo que vem totalmente de sua iniciativa) acabaram arranhando sua imagem, especialmente quando os resultados em quadra são bem limitados.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

A última delas aconteceu na apresentação do novo elenco, quando ele basicamente disse que, chocado com os altos valores pagos a atletas que julga inferiores, não via a hora de se tornar um agente livre novamente em 2017 para faturar o seu. Isso vindo de um cara que, nas últimas quatro temporadas, por azar, disputou apenas 100 partidas de 328 possíveis e ganhou aproximadamente US$ 60 milhões para tanto, tendo ainda mais US$ 41 milhões para receber neste ano e no próximo. Aí pegou mal. Hoje, então, a relação da cidade com o astro já segue o padrão atual obrigatório de qualquer discussão online – de amor ou ódio.

Essa história ficou ainda mais apimentada quando Jimmy Butler retornou das férias dizendo que era hora de assumir a liderança do time, que era uma lacuna que precisava ser preenchida e que, inclusive, ele poderia até mesmo jogar como armador, e tal. O ataque de Fred Hoiberg tem espaço para dois, três armadores. Butler expandiu seu jogo a cada ano, com uma dedicação impressionante. Ainda assim, não há como ouvir essas declarações e não pensar que elas digam algo sobre Rose. Ao Chicago Sun-Times, um ex-integrante do Bulls (algum técnico? um jogador?), afirmou que o ala não respeita ''profissionalmente'' o armador e que questiona seu empenho no dia a dia. ''Nós todos sabíamos que ia acontecer'', disse a fonte anônima. Publicamente, ambas as partes agora negam qualquer tensão, mas o fato é que, por alguns meses, os jogadores deram entrevistas ambíguas a respeito, fazendo muita fumaça.

rose-butler-bulls

Rose e Butler, mais uma novela da NBA

De modo que o clipe dessa música, lançada em 1994 e reaproveitada no ano seguinte pela trilha do primeiro Batman de Joel Schumacher (com a então presença mais que gratificante de Nicole Kidman), tem um valor simbólico maior, já que está retratando um super-herói. É como o torcedor do Bulls enxergava seu armador e que, intimamente, ainda espera ver nesta temporada. Ou que essa figura já tenha sido assumida por Butler. Mas é preciso ter um herói?

E aí temos um jogo deste de quinta-feira contra o Oklahoma City Thunder, no qual Rose anotou dez pontos nos últimos 3min30s para frear a reação de um rival poderoso, candidato ao título, garantindo a vitória. É o tipo de fato que Chicago inteira quer ver associado ao jogador. Mas que não pode ser avaliado de maneira simplista – nem tão para cima, nem tão para baixo.

Excelente que Rose tenha produzido no crunch time, mas lembremos que estava basicamente atacando um cone em Enes Kanter, um dos piores defensores da NBA, com o qual ficou isolado em quadra por diversas posses de bola, forçando a troca de marcação no jogo de dupla com Gasol. E, ainda assim, a maioria dos pontos veio em chutes de média distância, sem os ataques frenéticos rumo ao aro que construíram sua reputação. Em linhas gerais, já que uma partida de basquete tem 48 minutos, e, não, apenas os três minutos finais, também não dá para relevar que ele precisou de 25 arremessos para chegar aos 29 pontos. No primeiro tempo, Butler marcou 20 pontos.

Hoiberg, o anti-Thibs em diversas maneiras, encara a pressão

Hoiberg, o anti-Thibs em diversas maneiras, encara a pressão

De qualquer forma, por outro lado, é preciso dizer que Rose perdeu boa parte da pré-temporada devido a uma fratura no rosto, que pediu uma cirurgia da qual ele ainda não se recuperou plenamente. Seu olho esquerdo ainda está com a visão embaralhada. Ao contrário da postura que adotou em anos anteriores, de se recusar a ir para a quadra mesmo depois do sinal verde do departamento médico, enquanto não se sentisse confiante o bastante em seu joelho, agora joga em situação longe do ideal. Sem contar o fato de que todo o time ainda está assimilando um novo sistema. Que deveria ser a principal história aqui, ao meu ver.

A pedida? No mínimo, campeão do Leste. No mínimo. Por mais louvável que tenha sido o trabalho de Thibodeau, forjando uma defesa que virou padrão na NBA, desenvolvendo seus jogadores, avançando aos playoffs como cabeça-de-chave todos os anos, a frieza dos resultados diz o seguinte: o Phoenix Suns de Steve Nash e Mike D'Antoni, aquele que não defendia nada, chegou mais perto do título do que o seu Chicago Bulls, alcançando duas finais de conferência. Os dois times tinham grandes talentos na armação, um bom elenco de apoio, foram atrapalhados por lesões na pior hora e esbarraram em grandes oponentes – Tim Duncan de um lado, LeBron James do outro.

A menção a D'Antoni é uma provocação, claro, mas não gratuita, já que o ataque imaginado por Fred Hoiberg lembra muito o do contestado Sr. Pringles. Se as manchetes em torno de Chicago vão se concentrar na verdadeira ou suposta crise entre Rose e Butler, ou mesmo no rendimento individual do armador, o tópico que me parece verdadeiramente fascinante é a transição tática que a equipe vai fazer.

Em termos de filosofia de jogo e condução de grupo, os técnicos não poderiam ser mais diferentes. O controlava o time com pulso firme, cantando jogadas em meia quadra, cuidando dos mínimos detalhes em quadra, dando treinos exaustivos. Seu sucessor dá autonomia aos atletas na tomada de decisão no ataque, incentiva sua criatividade e é conhecido como um profissional que conquista pelo diálogo, pelo trato pouco impositivo.

Vamos descobrir, então, qual o impacto de se proporcionar liberdade para um elenco que venceu muitas partidas, mas não chegou ao título e se arrebentou durante o regime mais rígido da liga nos últimos cinco anos.

Gasol chegou, e o Bulls perdeu novamente para LeBron

Gasol chegou, e o Bulls perdeu novamente para LeBron

Nesse período, Thibs venceu 64,7% de suas partidas, que vale como a 14ª melhor marca da história – ou a 12ª, se descontarmos os registros de Steve Kerr e Davis Blatt, que só trabalharam em uma temporada. Passou a ser reconhecido, justamente, como um dos grandes técnicos da liga. Nos playoffs, porém, o rendimento foi de 45,1%, apenas a marca de número 66, um pouco acima dos 44,1% de Mike D'Antoni.

Ainda está muito cedo para avaliar o trabalho do novo técnico (e essa vai ser uma frase obrigatória nos próximos textos desta série). Os jogadores estão assimilando os novos conceitos de espaçamento e ritmo ofensivo, enquanto a defesa  tem sentido bastante. Só lembremos que, na temporada passada, a retaguarda do Bulls já ficou fora do grupo das dez mais eficientes da liga, pela primeira vez na década.

A gestão: claro que não foi apenas pelo produto apresentado em quadra que Thibodeau foi demitido. O relacionamento pouco amistoso com o vice-presidente John Paxson e o gerente geral Gar Forman foi ainda mais relevante. Ironicamente, o desfecho foi o mesmo dos tempos de Jerry Krause e Phil Jackson nos anos 90, com a diferença de que aquela parceria resultou em seis títulos. A causa é a mesma e básica: disputa por poder e reconhecimento.

Para a formação de uma equipe, quem é mais importante? O homem que junta as peças, ou aquele que as coordena e desenvolve em quadra? Na verdade, essa pergunta nem precisa ser respondida: o certo, claro, é que um não vive sem ou outro e que ambos deveriam trabalhar em harmonia. A diretoria do Bulls, nos últimos dois anos basicamente, não fez questão nenhuma de esconder sua insatisfação com o modus operandi de Thibodeau, um cara centralizador, que, segundo consta, ignorava ou até mesmo repudiava sugestões, recomendações ou qualquer estudo ou ferramenta que para pudesse ajudá-lo na condução do time. O ponto de discórdia que se tornou mais proeminente diz respeito ao condicionamento dos jogadores, levando em conta o desgaste físico alarmante de gente como Luol Deng e Joakim Noah.

Deng evoluiu e passou por maus bocados fisicamente com Thibodeau

Deng evoluiu e passou por maus bocados fisicamente com Thibodeau

Agora, é muito fácil culpar um personagem até folclórico como Thibs por desmoronamento e esquecer que Paxson, responsável pela visão mais ampla do clube, não é dos dirigentes mais centrados e calmos que você vai ver por aí. Estamos falando do mesmo sujeito que chegou a esganar Vinny Del Negro, o técnico antecessor, e que, ao admitir o incidente e pedir desculpas, não se mostrou tãaaaaao arrependido assim. ''Não deveria ter acontecido, eu jamais deveria ter feito isso. Foi uma coisa do calor do momento, e estava muito frustrado com o modo como estávamos jogando. O que me decepcionou também que é ele nunca assumia um erro. Isso diz mais sobre ele do que sobre mim'', afirmou ao Sun-Times. (O episódio também foi originado por sobreuso de um atleta, Noah, que estava retornando de lesão e tinha um limite de minutos para jogar.)

Gar Forman está abaixo de Paxson na hierarquia e cuida das operações diárias, da negociação com atletas e concorrentes. É amigo íntimo de Hoiberg, com uma relação de longa data, e foi fundamental na mudança, trazendo o ex-jogador de volta ao clube. Espera-se uma relação muito mais harmoniosa agora.

Nikola Mirotic, ícone da NBA hipster

Nikola Mirotic, ícone da NBA hipster

Olho nele: Nikola Mirotic. No plano tático de Hoiberg, o montenegrino-espanhol é um jogador fundamental, devido a sua versatilidade e a ameaça que pode representar como um ala-pivô flexível, habilidoso, que pode atacar de diversos pontos da quadra, como fez em março da temporada passada, com médias de 20,8 pontos e 7,6 rebotes em 30,8 minutos.  A questão é que, mesmo neste mês de alta produtividade, Mirotic acertou apenas 26,3% de seus tiros de longa distância. No total, matou apenas 31,6%. Se o seu aproveitamento flutuar em torno disso, vai chegar uma hora em que as defesas adversárias simplesmente vão prestar atenção nos números em detrimento da reputação, e a ideia é que ele abra a quadra para as infiltrações de Rose, Butler e Brooks. Seria sua tarefa primária em quadra, ainda que pensar no barbudo apenas como um chutador seria besteira. Ele pode colocar a bola no chão, consegue atacar a cesta e não faz tão feio assim na defesa. Só desconfio que a dupla com Gasol não seja a melhor combinação para a linha de frente de Chicago. Não seria melhor algo como Mirotic-Noah e Gibson-Gasol? Intercambiar as atuais duplas mais usadas? É algo que Hoiberg vai testar e ponderar com o tempo.

fred-hoiberg-bulls-playerUm card do passado: Fred Hoiberg. Essa era fácil também, ainda que, como jogador, Hoiberg não traga de modo algum boas lembranças ao torcedor do Chicago. Nada contra suas (poucas) qualidades. Mas é que o período que ele jogou pelo Bulls, dos 27 as 30, entre 1999 e 2003, coincide perfeitamente com os anos de trevas pós-Jordan, fazendo companhia a Toni Kukoc, Randy Brown, Corey Benjamin, Dalibor Bagaric, Dragan Tarlac, Marcus Fizer, Khalid El-Amin, Elton Brand, Ron Artest e, depois, os Baby Bulls que hoje são veteranos. A fase em que Krause deve ter contratado uns 97 jogadores.

Entre tantas mudanças, Hoiberg era uma figura estabilizadora, ao menos. Daqueles jogadores que todo técnico adora e que é fácil de se encaixar devido a sua habilidade no chute de longa distância (39,6% na carreira), sua inteligência tática e o empenho para defender, mesmo que fisicamente não fosse capaz de perseguir alas mais altos ou armadores mais velozes.

A verdade é que ele teria sido uma peça complementar perfeita para os triângulos de Phil Jackson, tal como Steve Kerr, com quem duelou com o qual chegou a duelar nos playoffs de 1998 por 17 minutos, vestindo a camisa do Indiana Pacers numa emocionante final da Conferência Leste. Estava em seu terceiro ano na liga e entrava na rotação depois de Reggie Miller, Chris Mullin e Jalen Rose.

 

 

 


Quais perguntas podem separar os clubes da NBA de suas metas? Parte II
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

carmelo-anthony-lebron-james-nba-new-york-knicks-cleveland-cavaliers2-850x560

É regra geral: todo gerente geral de um clube da NBA entra em uma nova temporada cheio de otimismo, com a expectativa de ver os planos das férias colocados em prática, se transformando em vitórias, ginásio cheio, vendas lá no alto e o tapinha nas costas do chefão. Quer dizer: todos, menos Sam Hinkie e o Philadelphia 76ers.

Acontece que não há trabalhos perfeitos, não existe ciência exata na hora de compor os elencos, de imaginar e sugerir uma tática e executá-la. Há casos de jogadores que não vão se entender como se imaginava. Lesões podem atrapalhar tudo logo no primeiro mês de campanha. Um técnico pode ter perdido o controle do vestiário. A concorrência talvez esteja mais forte. Sorte e azar estão sempre rondando por aí. Os dirigentes sabem disso – até a hora de confrontar os problemas mais graves, porém, não custa sonhar que tudo esteja bem encaminhado.

Entre o sucesso e o fracasso numa temporada, muitas questões precisam ser respondidas, como numa lista de afazeres. Não dá para colocar todas elas aqui, até porque há tópicos que vão aparecer no meio do caminho e que não estavam previstas, interna ou externamente. Com um belo atraso, o blog vai retomar sua série de, hã, 'prévias' (na falta de um termo mais atualizado) sobre cada franquia e tentar se aprofundar nessa lista. Para compensar o tempo perdido, porém, seguem as indagações que julgo mais importantes para cada time, ponderando quais suas ambições mais realistas e o que pode separá-los de suas metas.

Coferência Leste, lá vamos nós:

(E clique aqui para ler sobre o Oeste)

CENTRAL

Hoiberg dá liberdade ao Bulls. Como os jogadores vão aproveitá-la?

Hoiberg dá liberdade ao Bulls. Como os jogadores vão aproveitá-la?

– Bulls: vamos descobrir qual o impacto de se proporcionar liberdade, criatividade e poder de decisão para um elenco que venceu muitas partidas (e suou e se arrebentou) sob o pulso firme de Thibs. Essa, para mim, é a questão mais interessante, do ponto de vista de cultura esportiva, de toda a temporada. É uma questão até mesmo humanista. (Sim, gente, é nesse momento que você pode entrar com a referência básica na linha de ''o esporte enquanto reflexo/espelho/laboratório da sociedade.)

– Bucks: é o time mais enigmático do Leste, ao meu ver. Essa molecada pode tanto avançar consistentemente rumo ao topo da conferência como pode engasgar com seu ritmo frenético, fazendo uma pausa para uma avaliação mais cuidadosa de quem é quem no elenco para saber exatamente o que eles têm no elenco. É o tipo de questão que qualquer jovem equipe tem de enfrentar depois de um primeiro ano com sucesso acima do esperado.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

– Cavaliers: se o time chegar pelo menos com 80% de sua capacidade técnica aos playoffs, acho que não vai ter desculpa: será o suficiente para brigar de igual para igual com qualquer rival, mesmo aquele que venha do Oeste. E aí vamos saber se o plano mirabolante de LeBron James de assumir o controle de uma franquia ainda como jogador pode vingar. Dependendo dos resultados, pode ser outro marco histórico da indústria esportiva (mais e mais astros exigindo poder pleno no futuro), ou o supercraque terá muito o que explicar sem apontar para uma ou outra falha de técnicos, dirigentes e companheiros que deveriam ter autonomia, mas, hoje, são basicamente seus subordinados

O remodelado Pacers vai pedir mais de Paul George. Mas e o que está ao seu redor?

O remodelado Pacers vai pedir mais de Paul George. Mas e o que está ao seu redor?

Pacers: Larry Bird arrefeceu e decidiu mudar o curso do time em 180º, e Paul George não sabe exatamente como reagir e o que fazer com as novas instruções. Qualquer alteração drástica a esse ponto pede paciência para se avaliar. Em Chicago, Hoiberg ao menos tem as peças para fazer o jogo aberto e bonito. Já Frank Vogel vai ter de se virar com Monta Ellis, Rodney Stuckey e George Hill. Esse trio pode conviver em paz, ainda mais sabendo que a bola vai ficar mais com seu astro? Esses caras vão atacar de modo integrado ou vão adotar o sistema de ''uma-vez-de-cada-um''? Com tantos possíveis tijolos forçados atirados rumo ao aro, o duvidoso novo conjunto de pivôs vai estar preparado para apanhar os rebotes? Vogel será deveras exigido.

Pistons: de certa forma, está tudo aqui, finalmente. SVG mexeu, remexeu e conseguiu formar um time com peças bem similares ao que tinha em Orlando. Andre Drummond pode não ser um Dwight Howard defensivamente, mas, no ataque, vai atrair ajuda de marcação sem parar, liberando a quadra para os alas chutadores e para os ataques de Reggie Jackson. Só falta aqui um segundo playmaker como era Turkoglu. Então… será que agora vai!?!? Será que o Pistons voltará a ser um time digno de NBA (o que, no Leste, equivale basicamente a time de playoff)?

NORDESTE

– Celtics: Ainge está tentando, cavucando e, aos poucos, encontrando. Um Jae Crowder aqui, outro Amir Johnson ali, e Brad Stevens vai ganhando peças. Será que eles têm pique e fôlego para desafiar Toronto no topo da divisão?

Greg Monroe não quis saber de Phil Jackson. Entra Robin Lopez

Greg Monroe não quis saber de Phil Jackson. Entra Robin Lopez

– Knicks: muita gente, mas muita gente mesmo simplesmente acredita que Phil Jackson foi um tremendo de um sortudo em sua carreira de técnico por ter em mãos grandes lendas do basquete. O que é ridículo, uma vez que nenhum desses craques havia ganhado um título antes de conhecê-lo. Bem, de qualquer forma, agora como presidente do Knicks, o Mestre Zen ainda não conseguiu uma superestrela para fazer companhia a Carmelo. Então, para que o Knicks volte a ser competitivo, o que vai pesar é sua visão geral e seu olho de scout, confiando que os alvos alternativos que escolheu são os corretos. Vai dar triângulo? Ou melhor, vai dar jogo?

– Nets: sério… qual é a graça aqui? O que tem de divertido nesse time, agora que Brook Lopez nem visita mais a Comic Con!? Além de uma eventual troca pelo cada vez mais lento Joe Johnson, da estabilidade física de seu talentoso pivô e da histeria de Lionel Hollins, não sei bem o que pode gerar interesse em torno da franquia. O que é alarmante, considerando que Billy King vai ceder uma escolha alta de Draft ao Celtics antes de tentar seduzir algum agente livre com os cacos de um projeto estilhaçado.

DeMarre Carroll chega ao Raptors com propósitos claros

DeMarre Carroll chega ao Raptors com propósitos claros

– Raptors: depois da tremenda decepção dos últimos playoffs, Masai Ujiri tinha uma chance de implodir tudo e resgatar a ideia de repaginação do clube, abortada em meio a uma inesperada guinada. Ou, poderia fazer uma análise fria do que faltava ao seu time, acreditando que, com essa base, é possível, sim, chegar ao título do Leste. Ao dar US$ 15 milhões a DeMarre Carroll, fica claro o caminho que preferiu seguir, de modo que não há muitas dúvidas aqui. É preciso saber se, com um novo estafe e reforços de mentalidade cascuda, Dwane Casey vai conseguir montar uma defesa forte e sustentável.

– 76ers: entre os que pregam a frieza de cálculos e experimentos e a necessidade natural de se querer competir. qual o limite? Pelo bem de Brett Brown, qual o limite para se estender esse dilema? Não há a menor possibilidade de prolongar este Processo por mais um ano, certo? CERTO!?

SUDESTE

Não é exatamente para cravar que Splitter foi contratado por Budenholzer

Não é exatamente para cravar que Splitter foi contratado por Budenholzer

– Hawks: se até o Bulls e o Pacers quiseram ficar mais leves e velozes, será que o Hawks já estava light demais? Entra em cena Tiago Splitter, com seu impacto nos pormenores do jogo e da defesa, para fazer uma rotação, em teoria, perfeita com Millsap e Horford. Só é preciso checar se Bazemore, Sefolosha e Holiday conseguem segurar as pontas no perímetro para que o catarinense não seja exigido demais para compactar a defesa.

– Hornets: a lesão de Kidd-Gilchrist dói demais, a concorrência parece mais ajeitada, mas o Leste ainda é o pálido Leste, e algum clube precisa se dar bem por aqui. Caberá a Steve Clifford chegar a um total que valha mais que a soma de suas peças, remediando a defesa e confiando que o sofrível ataque será animado pela chegada de Batum, Lin, Kaminsky e, quiçá, Jeremy Lamb, em sua última chamada.

– Heat: não vejo meio termo aqui: ou esse time vai arrebentar, ou vai se arrebentar. Qual alternativa será a correta, então? a) todos jogam (Wade e Bosh especialmente), Dragic e Wade dialogam, Whiteside é de verdade, e Spoelstra terá condição de preparar um bom menu. Ou… b) com um monte de peças de durabilidade suspeita, as lesões não cessam, o time não consegue ganhar um conjunto, e, em tempos de dificuldade, os egos tomam conta da bola?

O Orlando precisa de Hezonja. Mas, para jogar com Skiles, ele precisa defender

O Orlando precisa de Hezonja. Mas, para jogar com Skiles, ele precisa defender

– Magic: os jovens de cabeça boa agora têm um mentor com histórico positivo nos primeiros anos de trabalho, podendo tirar o máximo de sua ética de trabalho. Ainda assim, sabe do que esse time vai precisar, se quiser entrar na briga pelos playoffs? Justamente de seu jogador com temperamento mais volátil. Sim, Mario Hezonja! O jovem croata será um desafio para Skiles durante a jornada, uma vez que, suponho, Fournier não será o bastante para desafogar o ataque.

– Wizards: tudo parece muito bem encaminhado aqui. Wittman está decidido a aplicar na temporada regular o ritmo acelerado bem-sucedido de algumas semanas de playoffs. Quando o Wizards voltar ao mata-mata, só não terá aquele tal de Paul Pierce para chamar a bronca. E aí será a vez de John Wall e Bradley Beal darem mais um passo, na tentativa de conquistar Kevin Durant.


Quais perguntas podem separar os clubes da NBA de suas metas? Parte I
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

curry-cp3-paul-point-guard-best-nba-warriors-clippers

É regra geral: todo gerente geral de um clube da NBA entra em uma nova temporada cheio de otimismo, com a expectativa de ver os planos das férias colocados em prática, se transformando em vitórias, ginásio cheio, vendas lá no alto e o tapinha nas costas do chefão. Quer dizer: todos, menos Sam Hinkie e o Philadelphia 76ers.

Acontece que não há trabalhos perfeitos, não existe ciência exata na hora de compor os elencos, de imaginar e sugerir uma tática e executá-la. Há casos de jogadores que não vão se entender como se imaginava. Lesões podem atrapalhar tudo logo no primeiro mês de campanha. Um técnico pode ter perdido o controle do vestiário. A concorrência talvez esteja mais forte. Sorte e azar estão sempre rondando por aí. Os dirigentes sabem disso – até a hora de confrontar os problemas mais graves, porém, não custa sonhar que tudo esteja bem encaminhado.

Entre o sucesso e o fracasso numa temporada, muitas questões precisam ser respondidas, como numa lista de afazeres. Não dá para colocar todas elas aqui, até porque há tópicos que vão aparecer no meio do caminho e que não estavam previstas, interna ou externamente. Com um belo atraso, o blog vai retomar sua série de, hã, 'prévias' (na falta de um termo mais atualizado) sobre cada franquia e tentar se aprofundar nessa lista. Para compensar o tempo perdido, porém, seguem as indagações que julgo mais importantes para cada time, ponderando quais suas ambições mais realistas e o que pode separá-los de suas metas.

Coferência Oeste, lá vamos nós:

PACIFICO

Lance Stephenson é um dos talentos cheios de personalidade que Doc vai monitorar

Lance Stephenson é um dos talentos cheios de personalidade que Doc terá de monitorar

Clippers: no papel, o banco melhorou consideravelmente, e foi algo que faltou no ano passado. Do ponto de vista técnico, não se discute. O que pega é saber se eles poderão se transformar num conjunto que possa dar minutos significativos de descanso aos principais caras do time. Nesse sentido, a balança aqui se inverte: caberá ao técnico Doc honrar as contratações do executivo  Rivers e comprovar que a segunda unidade melhorou, sim, o suficiente para enfim ajudar a dupla CP3-Griffin a conseguir os resultados que ainda não chegaram (leia-se: vencer mais que duas rodadas de playoff). Doc Rivers é reconhecido como um mago de vestiário, e suas habilidades devem ser testadas diante de tantas *personalidades* reunidas.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Kings: em meio ao caos geral da franquia, a cordialidade e malandragem de Vlade Divac ou o estilo oposto e confrontativo de George Karl pode amainar e dar um jeito nas coisas? Talento aqui não se discute, e há espaço para crescer no Oeste, independentemente de o Rajon Rondo de hoje ser a figura deprimente de Dallas ou a maravilha de Boston.

O que importa, mesmo, para o Lakers, a partir de agora, é o desenvolvimento de D'Angelo Russell e não os números de Kobe

O que importa para o Lakers, a partir de agora, é o desenvolvimento de D'Angelo Russell e não os números de Kobe

Lakers: pode Kobe ser uma figura grandiosa, quando não são suas glórias, números e façanhas o que mais importa? Isto é, pode o Laker mais adorado de todos os tempos, aos 37 anos, 20 de NBA, e após uma série de graves lesões, entender suas limitações, ser paciente e dar suporte no desenvolvimento das jovens apostas do elenco? Para o clube, pensando em resultados, a era Bryant já é passado. Se o astro, porém, relutar, já está comprovado que Byron Scott não vai comprar briga e fazer o que precisa ser feito para frear uma poderosa locomotiva que avança rapidamente em direção o precipício. (Há quem diga, na verdade, que ela já saltou sobre o trilho rompido e, neste exato momento, está  poucos segundos de se espatifar de vez lá em baixo. Favor imaginar aqui aquela cena de blockbuster hollywoodiano, com a câmera em slow, e o trem em chamas sendo engolido pelo breu de um penhasco.)

Markieff Morris ainda não sabe o que é jogar um playoff

Markieff Morris ainda não sabe o que é jogar um playoff em meio ao hiato do Suns

Suns: dois times dos playoffs do ano passado estão estão bem mais fracos e, dependendo da enfermaria de New Orleans, a lista sobe para três. Se não for este o momento para Jeff Hornacek enfim chegar com sua equipe aos mata-matas, quando vai ser? Especialmente com Tyson Chandler ainda em forma para tentar fortalecer a defesa. É um ano de presão para o técnico e o gerente geral Ryan McDonough.

– Warriors: são o alvo, não mais a novidade. Internamente, não há dúvidas sobre a motivação em busca do bi. Mas em que ponto o time ainda pode ainda crescer para o momento em que, supostamente, terão de enfrentar um concorrente de peso e 100% saudável (em tese, Clippers e Spurs chegam fortalecidos para um eventual embate)? Com Kerr afastado, esse crescimento pode ser simplesmente natural, orgânico, fruto de uma estrutura e cultura plenamente estabelecidas? Ou eles nem precisam crescer? (Olha, na real, é difícil encontrar qualquer preocupação para além da saúde de seu adorado e aclamado técnico. Esses caras são demais, e o início de campanha de Steph Curry provoca uma comoção geral na liga. No mata-mata passado, eles já enfrentaram algumas situações críticas e souberam contorná-las. Não parece haver qualquer tipo de crise numa temporada regular que possa desestabilizá-los.)

NOROESTE

Blazers: há um núcleo jovem aqui para se trabalhar em cima, mas vai levar quanto tempo, num Oeste duríssimo, para o Portland voltar para a briga? O caso do Phoenix Suns serve como exemplo de como pode ser difícil reconstruir o clube nesta conferência, sem que se apele a extremos. Tal como no Arizona há dois anos, o Blazers tem dois jovens armadores fogosos para conduzir a reformulação e uma série de atletas promissores, mas do mesmo nível técnico em seu elenco. Escolhas terão de ser feitas e precisarão ser certeiras, caso Paul Allen não queira assistir aos playoffs de seu luxuosíssimo iate, longe do eterno Rose Garden. (Moda Center? Não.)

Raulzinho mal chegou e já está cheio de responsabilidades em Salt Lake City

Raulzinho mal chegou e já está cheio de responsabilidades em Salt Lake City

– Jazz: Quinn Snyder tem formações flexíveis para empregar, mas é o quinteto mais alto, com Favors e Gobert ao centro, que faz estragos, que é o diferencial da equipe. Mas podem Raulzinho, Burke e Burks jogar consistentemente bem para dar suporte a Hayward e municiar esses pivôs para que ataque não zere tamanho potencial defensivo?

Nuggets: Mike Malone vai colocá-los para jogar preparados e bem mais combativos do que nos anos de Brian Shaw. Mas, por mais que seus pirulões europeus sejam bastante instigantes, que Mudiay tenha seus flashes e que Gallo esteja em forma, a sensação é de que eles ainda estão num estágio abaixo de Portland no que se refere a jovem coleção de talentos e na curva de retomada. Então fica a dúvida: como lidar com essa situação incômoda de que talvez estejam no limbo sem perspectivas reais para ascensão num futuro breve? Vão precisar ser ainda mais pacientes e eficientes no Draft, ou agressivos em busca de uma troca redentora.

Pontos e rebotes não são problema para Kanter. E o resto?

Pontos e rebotes não são problema para Kanter. E o resto?

– Thunder: aqui são duas perguntas em uma, pois não tem jeito de evitá-las: a tempestade de lesões, enfim, acabou? Se a resposta for positiva, podem Kanter e Waiters se endireitar e fortalecer as pretensões de título de uma franquia que bate na trave há tempos, na hora mais providencial, antes que Durant vire efetivamente um agente livre?

Timberwolves: depois da lamentável notícia que comoveu toda a liga (R.I.P. Flip), quem vai assumir o controle do departamento de basquete? Que direção tomar com um elenco abarrotado de peças extremamente atraentes – seguir com a reconstrução passo a passo ou, dependendo do ritmo de Towns, já acelerar o processo?

SUDOESTE (A CARNIFICINA)

Matt Barnes muito provavelmente não é a solução para os problemas de ataque do Grizzlies

Matt Barnes muito provavelmente não é a solução para os problemas de ataque do Grizzlies

Grizzlies: remando contra a maré até quando com os dois pivôs batedores de bife? Ou: o quão difícil é, de verdade, encontrar na NBA de hoje um ala que possa jogar bem dos dois lados da quadra, ou que, no ataque, pelo menos saiba arremessar? A julgar pelo investimento feito em Jeff Green, parece que é complicado, mesmo. E o viajado, mas sempre útil Matt Barnes já não foi esse cara em Los Angeles…

Mavericks: quantos truques a mais poderia ter a mente brilhante de Rick Carlisle? Cabe ao técnico, ano após ano depois de 2011, dar um jeito e tirar de seu elenco um rendimento acima do previsto, relevando as seguidas tentativas frustradas de mercado de Mark Cuban.

– Pelicans: pode um só Monocelha compensar tantas lesões já de cara? Isso, claro, se ele, mesmo, ficar intacto na temporada, coisa que ainda não rolou em sua breve carreira.

– Rockets: Daryl Morey conseguiu formar um elenco com duas grandes estrelas (uma produtiva de verdade, a outra já com alguns asteriscos) e, ao redor deles, reuniu um bando de atletas um tanto subestimados, mas cuidadosamente garimpados para turbinar o sistema idealizado pelas mais complexas planilhas estatísticas. Até que chega, quase de graça, um Ty Lawson. Posto isso, supondo que uma hora as lesões vão acalmar, fica para o tampinha e o Sr. Barba um questionamento simples: e aí? Eles vão conseguir conviver, cada um fazendo sacrifício em termos de números com um único objetivo em comum?

Ty Lawson está de volta a um time de ponta, com um contrato de risco

Ty Lawson está de volta a um time de ponta, com um contrato de risco (para ele). Precisa dar certo

– Spurs: numa liga que abraçou de vez a velocidade e o espaçamento, pensando no curto prazo, vai adiantar ter tantos pivôs excelentes se a bola não chegar redonda para eles? LaMarcus é um bastião para o futuro pós-Duncan, mas, para o presente, o que vai contar, mesmo, é o estado físico e atlético de Tony Parker (e Manu Ginóbili).


Demétrius, e a difícil missão de substituir Guerrinha. Mais uma vez
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Demétrius volta a Bauru. Jogou pela cidade quando garoto de base

Demétrius volta a Bauru. Jogou pela cidade quando garoto de base

Depois de muitas conversas Bauru afora, o que dá para se dizer sobre a demissão de Guerrinha: ele não caiu exatamente pelo volume de três pontos em seu ataque. O problema tinha muito mais a ver com relações fora de quadra – algo que, pela enésima vez, repetimos: vale tanto ou mais do que rabisco em prancheta e currículo de jogadores. É a famosa química, gente. “Desgaste” e “oxigenada” foram alguns dos termos mais ouvidos e discutidos. O clube acreditava que, mantido o rumo das coisas, não conseguiria o que pretende no NBB. Que é o título, ou o título.

Demétrius não teve nem dez dias de trabalho com seu estrelado grupo antes de estrear contra o Flamengo, e não vai ser num período desses em que a equipe ganhará nova cara. Pede-se um tempo para tanto. Por isso, natural que nesse primeiro confronto, o time ainda tenha, por exemplo, feito mais disparos de longa distância do que dois pontos (31 a 28), por exemplo. Se esse é um hábito que o técnico queira revisitar – e parece que é o caso, dadas as inúmeras vezes em que ele pedia calma na lateral da quadra, enquanto um atleta atirava –, ainda vai demorar um tico para acontecer. O que já vimos foi um Rafael Hettsheimeir operando mais próximo da cesta, tentando apenas três bolas de três.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

O jovem treinador agora encara o maior desafio de sua carreira. É como suceder Lula Ferreira em Ribeirão Preto (algo que nunca aconteceu, com o encerramento das atividades do clube local) ou Hélio Rubens em Franca. Guerrinha se tornou um ícone na cidade. A gritaria depois de sua surpreendente demissão foi impressionante, e se justifica pelos resultados que obteve em tempos recentes e pelo projeto que ajudou a edificar. O curioso é que não é a primeira vez que isso acontece, de herdar um time das mãos de Jorge Guerra. A diferença é que, antes, foi em quadra.

De qualquer forma, aqui está o novo treinador bauruense, assumindo uma empreitada imensa, mas que ao mesmo tempo se mostrava irrecusável. Se há pressão em Bauru, é porque ele assume um time de potencial imenso:

21: Estava pensando: não é a primeira vez que você substitui o Guerrinha, não? Já havia acontecido quando vocês jogavam, herdando a armação de Franca e da seleção, não? Como é encarar essa missão agora?
Demétrius: Nós jogamos juntos em Franca. Acho que a última vez que ele defendeu a seleção foi na Olimpíada de Barcelona, em 1992, e eu cheguei em 1993. É um técnico vencedor, respeito muito o que ele conseguiu aqui. Quando soube que ele saiu, liguei para para conversar, para dar uma força, e também porque meu nome estava sendo envolvido em especulações. Mas foi algo que sempre fiz, pois somos amigos, então ligava seja nas vitórias ou nas derrotas. Quando saí de Limeira, foi numa situação muito semelhante e que foi muito difícil para mim e inesperada. Foi uma dessas ironias do destino que tenha chegado a isso. Ao aceitar a proposta, falei com ele, sempre num sentido de lealdade e amizade, e ele entendeu que eu não tinha participação naquela decisão e desejou sorte. Para mim, aumenta mais a responsabilidade, mas sempre fui de assumir desafios, e o mais importante é você estar preparado para enfrentá-los.

É o maior desafio de sua carreira?
Sem dúvida, o maior. É um time que está num ciclo vencedor, e chego para tentar novas conquistas, defendendo o título da Liga das Américas e buscando também o NBB. Não é simples, mas temos condição de fazer.

>> Alguém pode impedir uma final entre Bauru e Flamengo?
>> As primeiras impressões sobre o Flamengo 2015-2016

Foi um convite que te surpreendeu?
Fiquei surpreso, sim, já estava praticamente tudo acertado aqui em Bauru, enquanto eu tinha minha situação em Minas consolidada. Acabou sendo uma surpresa grande, mas é uma oportunidade incrível para a minha carreira.

Ao mesmo tempo, como é deixar o trabalho que começou tão bem no ano passado?
Minha conversa com o Minas foi muito aberta. O Victinho (Victor Jacob, gestor do Bauru) me ligou, perguntou se eu tinha interesse, eu disse que sim, mas que ele precisaria falar com meu clube primeiro. Ele falou com a diretoria, que abriu as portas, entendeu que era uma grande oportunidade para mim, e que, se eu quisesse conversar, não teria problema nenhum. Foi uma conversa muito sincera. Agradeço muito o entendimento da parte do Minas. Depois fiz uma reunião com os jogadores e expus minha situação. Eles entenderam o quanto essa oportunidade pode ser importante e que isso pode acontecer com eles no futuro.

Em Minas, você tinha um clube majoritariamente jovem, com alguns veteranos. Aqui, em Bauru, é o contrário. O quanto isso muda a abordagem do treinador no trato diário?
Minha filosofia segue a mesma. A maneira de trabalhar é a mesma: temos de treinar o mais próximo possível do modo como jogamos. É fazer uma defesa com intensidade, sair em transição, procurar as melhores escolhas no ataque. Mas o trato é o mesmo. Vamos procurar encaixar os mais jovens no time também, dar chances a todos, sabendo que a caminhada é loga. Para nós, o importante é chegar bem aos playoffs.

O Bauru venceu quase tudo que disputou no ano passado. Teve momentos em que passou por cima dos adversários, mas acabou perdendo fôlego no final. Essa é uma preocupação, então? Mais: em relação ao que você viu do time, quais os pontos que acha que pode melhorar no time?
Foi pouco tempo de trabalho até aqui, mas já estou passando o que espero, aos poucos. O importante é preciso chegar bem aos playoffs. Por dois anos consecutivos  minha equipe teve a melhor defesa do campeonato, e espero colocar essa filosofia aqui, com chegada forte de transição. Tomar só 73 pontos de uma equipe como a do Flamengo já foi um passo importante. A meta vai ser esta (defesa perto dos 70 pontos). Se conseguirmos isso, vamos ficar em boa condição, por termos um volume de jogo alto. Acredito também que vamos ter muitas opções tática, diversidade.

Quanto ao ataque, um tópico obrigatório é a questão dos arremessos de três pontos. Bauru teve o chute de fora como arma que foi marcante em sua campanha, com um volume difícil de se ver por aqui. É algo que divide muita gente: jogadores de gerações passadas a defendem, estatísticos da NBA também a abraçam com fé. A outra corrente entende que é um desperdício de energia, que se ignora bolas mais fáceis e que apela-se um pouco para a sorte. Como você encara toda essa discussão e o que espera do time nesse sentido?
É lógico que temos muitos jogadores no time com essa característica, e não se pode pedir para que eles mudem isso. Precisamos analisar como foram chutadas essas bolas. Se de 30 bolas, 25 foram livres, porque o sistema deu isso, nós temos de chutar. Como vai falar para jogadores como Robert Day não chutar, se estiver livre? Acho que o mais importante não é a quantidade, mas a qualidade da decisão e como criamos essa oportunidade de decisão. Se estiver livre, tem de chutar, é o que a defesa está te proporcionando. Lógico que temos de ter a inteligência de variar o jogo, de jogar no poste baixo, de buscar a infiltração e variar. Com isso, a gente ganha um domínio maior do jogo.


As primeiras impressões sobre o Flamengo 2015-2016
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Marquinhos já está voando pelo Fla. Nova configuração do time exige isso

Marquinhos já se candidata a MVP pelo Fla. Nova configuração do time exige isso

Algumas notas com base do que vi dos jogos contra o Orlando Magic e Bauru. Vamos lá:

Quem já está acelerando, voando em quadra? Marquinhos. Entre o basquete que pôde apresentar pela seleção pela Copa América e o que já ofereceu nesta segunda em Bauru, são dois mundos completamente diferentes. Descendo a ladeira da Panela (veja só as frases absurdas que alguém pode construir…), o veterano ala lembrou novamente a força que pode ser em quadras nacionais.

Contra Bauru, mesmo que seu aproveitamento de quadra não tenha sido o mais eficiente, com 17 pontos em 16 arremessos (2/7 de três), a notícia que fica é a volta de seu arranque com a bola, batendo até mesmo os armadores que tentavam cercá-lo. A defesa bauruense, em geral, só conseguiu pará-lo com faltas (foram cinco recebidas). Também deu oito passes para a cesta e apanhou sete rebotes. Acreditem: nos grandes jogos, a atual configuração do Flamengo vai precisar dessa agressividade e desse tipo de rendimento.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Ao blog, o ala disse que durante as férias fez um trabalho específico com personal trainer e ganhou mais massa muscular, com a ideia de chegar na melhor forma na reta final da competição. Que será a hora de brigar por troféus e, além disso, principalmente, se apresentar a Magnano tinindo.

*    *    *

José Neto não quis dizer que sim, nem que não após a derrota para o Bauru. Na verdade, o técnico não estava com cara de quem topava discutir muita coisa com nenhum jornalista na segunda-feira, apelando a respostas cada vez mais evasivas, seja por esconder o jogo, para preservar seus atletas ou por entender que o interlocutor não está preparado para assimilar sua carga tática. Vai saber.

Então, diante de um silêncio efetivo, nos resta fazer deduções, que já vêm desde o fechamento do elenco rubro-negro para a temporada 2015-2016. Ainda que o comandante seja o mesmo, o time tende a mudar bastante.

O treinador rubro-negro talvez tenha de rever conceitos neste ano

O treinador rubro-negro talvez tenha de rever conceitos neste ano

É claro que eles ainda vão pontuar em transição. As cestas no contragolpe são em geral aquelas mais visadas, mais fáceis, depois dos lances livres.  Mas suas peças novas sugerem que essas escapadas serão mais esporádicas e só na boa, na certa, especialmente contra adversários mais qualificados.

A saída de Laprovíttola, Benite, Felício e até mesmo de Herrmann (versão ala-pivô) resultou numa grande perda de velocidade e arrojo. Dos quatro novos protagonistas, apenas Rafael Mineiro tem velocidade e/ou predisposição para correr quadra inteira e atacar. Rafael Luz, jovem, obviamente também daria conta, mas sua vocação é para um jogo mais controlado, pelo que pudemos ver em seus jogos pelo Obradoiro e pela seleção brasileira pan-americana. Também oriundo do basquete espanhol, Jason Robinson, por ora, está no mesmo ritmo. Sobre João Paulo Batista, nem precisamos nos estender.

>> Alguém pode impedir uma final entre Bauru e Flamengo?

Sobraria, então, para Marquinhos ser esse propulsor. Agora: se correr é uma forma de evitar o choque físico, gera tanto ou mais desgaste, e não sei bem se você vai querer sobrecarregar seu melhor jogador, por mais que ele se apresente em excelente forma e que a preparação física do flamenguista seja a melhor do país.

De volta ao país após mais de 10 anos, JP vai chamar constantes marcações duplas

De volta ao país após mais de 10 anos, JP vai chamar constantes marcações duplas

Se o Flamengo não vai correr tanto, precisa compensar na execução de meia quadra, com um basquete mais bem engendrado e de imposição técnica e física. E eles têm jogadores inteligentes e talentosos para tanto. Cabeça por cabeça, talvez seja o coletivo de maior QI do NBB.

O jogo interior tem tudo para ser o mais poderoso do liga, e de longe. JP é um dos cestinhas mais eficientes e oportunistas da liga, podendo render tanto com o chute de média distância como de costas para a cesta em isolamento, bem como em deslocamentos sorrateiros a partir do corta-luz. Rafael Mineiro é elástico e ágil demais para alguém de sua estatura e, se ganhar a confiança da comissão técnica e dos companheiros, pode render em diversos pontos de ataque. Meyinsse ainda é uma dor-de-cabeça (e de costelas, baço, rim e tudo o mais) perto da cesta, enquanto Olivinha vai trazer a energia e o faro de bola de sempre. Ao redor deles, Marquinhos, Robinson e Marcelinho vão arremessar de três pontos com prazer. É de se esperar que Mineiro e Olivinha também subam para chutar.

*   *   *

Rafael Luz vai botar esses caras para jogar. Para lidar com o armador, é preciso entender as diferenças entre seu jogo e toda a criatividade de Laprovíttola. O novo armador não vai entrar em quadra pensando em marcar 20, 15 ou mesmo dez pontos. Mas talvez termine com sete assistências, seis rebotes e quatro roubos de bola. Poderia olhar mais para a cesta, certamente. Houve um lance no segundo tempo contra Bauru em que ele pegou o rebote ofensivo a dois passos do garrafão, pela direita, no fundo da quadra, e, se o pensamento de arremessar passou por sua cabeça, foi bem rápido, pois ele virou a cabeça automaticamente para a direção contrária e fez o passe para fora. O técnico Neto, figura sempre agitada ao lado da quadra, não conseguiu esconder sua frustração com o lance. O mesmo aconteceu quando Rafael errou um passe bobo para um desatento Marquinhos a 3min52s do fim, resultando em turnover e sua quarta falta, para cima de Fischer, brecando o contra-ataque, quando a partida pegava fogo (foi uma das tantas chances de empate que o Flamengo desperdiçou no quarto período, diga-se).

Parece sem confiança na hora de finalizar, no momento. Mas há muito o que ele pode oferecer a um time com sua pegada defensiva (é um armador alto, forte e combativo) e senso de organização. Um passe pode fazer mais bem que o arremesso. Quanto mais entrosado estiver com os novos companheiros, mais influência positiva ele vai exercer sobre eles. Só é preciso um pouco de paciência e que se evite comparações entre jogadores completamente diferentes.

*   *   *

Sósia de Iguodala, Robinson é um veterano de 35 anos reforçando o Flamengo

Sósia de Iguodala, Robinson é um veterano de 35 anos reforçando o Flamengo

Jason Robinson é uma incógnita.O americano tem 35 anos e, em 2013, chegou a pensar em se aposentar. Quanto estendeu a carreira, viveu talvez sua melhor temporada em 2013-2014, pelo San Sebastián, sendo o segundo principal cestinha da Liga ACB. Isso não é para qualquer um, mas foi um tanto bizarro para um jogador que por grande parte de sua trajetória frequentou as divisões menores da Espanha ou até mesmo de Portugal. Pelo Zaragoza, no ano passado, seu rendimento já não foi mais o mesmo. Ainda assim, é um cara experiente, rodado para compor a rotação flamenguista no perímetro. Mas também alguém beeeeeeem diferente de Vitor Benite.

Está claro que o jogo de transição não é para ele. No segundo tempo, durante a reação flamenguista, ele abriu mão de várias chances de contra-ataque, preferindo ir com calma. Está muito cedo para avaliar o ala. Em um primeiro momento, parece um atleta complementar, que sabe fazer um pouco de tudo no ataque e está respeitando e conhecendo os companheiros, enquanto assimila aquilo que o cerca. Na defesa, fez um bom papel contra Alex nas ocasiões em que estiveram duelando.

*   *   *

É por isso que não estranharia se, no decorrer da temporada, o mundo desse mais uma volta, e Marcelinho Machado, aos 40 anos, se torne uma peça fundamental para o Fla mais uma vez, como um parceiro de Marquinhos na agressão e criação de jogadas.

*   *   *

Mineiro causa impacto na defesa com sua mobilidade

Mineiro causa impacto na defesa com sua mobilidade

Rafael Mineiro saiu de reforço do Mundial para inimigo público em Bauru, sendo o jogador mais *homenageado* pela torcida legal. Claro que, na esportiva, dá para entender, já que ele saiu de um clube para o outro. A verdade é que o pivô flamenguista passou por uma sequência de trocas de camisa que dificilmente vai ser replicada por algum jogador brasileiro. Vejamos: em agosto, ele estava a serviço da seleção. Quando voltou do México para casa, defendeu o Limeira brevemente pelo Paulista, até o time ser eliminado e o clube anunciar que estava fora da temporada, mesmo. Aí ele encontrou no Bauru um lar temporário, reforçando a rotação interior que trombaria com astros de Real Madrid, New York Knicks e Washington Wizards. Foram duas semaninhas de treino, jogos e viagens até que, por fim, assinasse com o Fla. Pura loucura. Mas é um jogador de fácil encaixe, devido a sua versatilidade e habilidade defensiva.