Vinte Um

Arquivo : Valanciunas

As estranhas relações entre duas atrações imperdíveis do Lollapalooza e a NBA
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Giancarlo Giampietro

Shaq Fu

Shaq Fu! Aaaargh

É muito mais fácil ligar o basquete ao rap, ainda mais depois da geração gansta. Existem até mesmo aqueles cestinhas que se meteram a besta como artistas fora de quadra também, e a gente sabe que quase nunca isso vai dar certo. Shaquille O’Neal, Allen Iverson e o nosso lunático anti-herói Ron Artest, justo ele, podem rimar alguma coisa a respeito.

Por outro lado, tem gente que, em outro estilo, mandou muito bem, como o finado Wayman Tisdale, que talvez tenha sido um melhor baixista de funk/jazz do que ala-pivô, embora fosse um habilidoso jogador para pontuar no garrafão – e não muito mais que isso.

Agora, com o festival Lollapalooza chegando a São Paulo com sua edição 2013 neste fim de semana de Páscoa, o blogueiro tem a chance de roubar um pouquinho e falar sobre outra coisa que lhe apetece. Mas, ok, para não soar ofensivo ao batalhador leitor que já podia reclamar do cansaço e da  perda tempo neste espaço, a gente dá um jeito de jogar o basquete no meio dessa história.

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OS PIONEIROS CULTS DE OKLAHOMA CITY

Wayne Coyne

Flaming Lips, de Wayne Coyne, e seu ritual estão prestes a voltar ao Brasil

Kobe Bryant deve ter feito das suas. Alguma bandeja reversa por baixo do aro. Alguma mudança brusca de direção seguida de enterrada. Um arremesso em flutuação na zona morta, com o corpo já atrás da linha da tabela. Qualquer coisa desse tipo que tenha feito o esquisitão Wayne Coyne vibrar na plateia. Atitude que foi imediatamente repreendida.

“Mas aquilo foi maluco! Quem é aquele?”, perguntou o músico. Explicaram de quem se tratava e completaram que ali, na cidade deles, meu chapa, ninguém vai aplaudir alguém que jogue do outro lado, não importa quem ou o que o sujeito tenha feito.

Wayne Coyne, o líder do Flaming Lips, atração do festival paulistano na sexta-feira, é do tipo de pessoa que realmente não sabe quem seja esse tal de Kobe. Sua cabeça já anda bastante ocupada com muita coisa: as trezentas parcerias musicais que podem ser engatilhadas nas próximas semanas, com robôs que aterrorizem a pequena Yoshimi, sobre como os efeitos do ácido podem ser positivos para um ser-humano antes do almoço e de como poderia usar a próxima representação de vagina e/ou bichos de pelúcia em um palco, galeria ou kit para imprensa. É maluco, mas, no universo criado pela banda, acontece tudo de modo muito pueril, acreditem.

(Já entrei nessa isso em duas ocasiões, em 2005 aqui em Sampa, em 2011 em Santiago. É um ritual especial. O sujeito vai entrar em uma bolha de plástico e andar/rolar por cima de centenas no público. O telão sempre trazendo algo surpreendente para a apresentação. Eles vão estourar muitos confetes, serpentinas e balões de plástico. A banda emenda alguns refrões cativantes em sequência. O plano é fazer de tudo para que o show de sexta-feira seja inesquecível. Lendo assim, pode parecer apenas uma festinha tonta para a criançada mal-crescida, e talvez seja isso mesmo. Mas só vendo ao vivo para saber.)

Calha que a banda tem como base a mesma Oklahoma City do Thunder. Muito antes de Kevin Durant tomar conta dos outdoors e ser cultuado – junto com Westbrook e a barba de James Harden –,  Coyne, de 51 anos, e seu grupo eram os que mais chegavam perto de celebridades locais.

"Thunder Up", Coyne!

Wayne Coyne comemora. Resta saber apenas se foi cesta do Thunder

Ao contrário do Thunder com seus jovens superastros, o Flaming Lips nunca foi necessariamente um arrasa-quarteirão de vendas, embora tenham ganhado fama mundial no mesmo período em que sua cidade floresceu. Eles deram uma piscadela para o estrelado com a trilogia “The Soft Bulletin”(1999), “Yoshimi Battles the Pink Robots” (2002) e “At War with the Mystics” (2006), ganhando três Grammys, mas não tardaram em recuar para suas trincheiras obscuras.

Antes desse flerte com o mainstream, por exemplo, haviam gravado um disco quádruplo – “Zaireeka”, de 1997 – cujas partes deveriam ser tocadas simultaneamente numa orquestra do barulho (leiam com a voz do locutor global na cabeça, por favor, anunciando a próxima atração da “Sessão da Tarde”). Você pode entender como uma “coisa-de-lôco”, um lixo irrecuperável, mas eles sinceramente não se importam. Em um projeto mais recente, lançado no ano passado, fizeram um álbum coletivo – “The Flaming Lips and Heady Fwends” –, trocando arquivos de músicas com colaboradores espalhados pelo mundo todo, apresentando gente como Chris Martin, do Coldplay, e Bon Iver, para depois costurar tudo.

Enfim, antes da migração do Supersonics para Okahoma City, quais as referências possíveis da cidade para aqueles fora dos Estados Unidos? Para a maioria, provavelmente apenas o lamentável atendado de 1995,  que resultou na morte de 168 pessoas e em outras 684 feridas. Mas, pelas razões citadas acima, para um pequeno grupo de seguidores, havia também os Lábios Flamejantes.

Hoje, a coisa mudou. Quando o líder do grupo é abordado em turnês pela Europa, Austrália e, de repente, aqui no Brasil, o que ele mais ouve é sobre os fedelhos do Thunder, como as pessoas gostam de assistir aos jogos deles. Durant, Westbrook e, snif! snif!, James Harden haviam ultrapassado sua popularidade.

O time se tornou o símbolo perfeito para a revitalização por qual passou Oklahoma City da década de 90 para cá. De uma terra perdida no meio dos Estados Unidos, onde se encontram diversas formações vegetais, uma área de confluência climática e também de diversas culturas das diferentes regiões que a rodeiam, a cidade se tornou um pólo econômico e criativo.

Embora o grupo de Coyne tenha feito uma música que virou o hino oficial de rock da cidade – a encantadora “Do You Realize???”, do vídeo acima –, o Flaming Lips, com sua psicodelia e provações constantes, nunca seria mesmo um símbolo de nada institucional, muito menos em um território ainda bastante conservador. Um nativo que nunca deixou o local, por mais que Nova York ou Los Angeles pudessem ser muito mais convidativas e cômodas para sua carreira, Coyne reconhece a importância do clube nesse sentido, diante do ressurgimento de Oklahoma City. “Acho que as pessoas gostam da ideia de que, seja o roqueiro malucão ou o jogador de basquete, nós todos temos este espírito da cidade. É algo que eu realmente não acho que existe. Mas o Thunder provavelmente conseguiu unir isso mais do que qualquer um”, disse em entrevista ao New York Times, em abrangente reportagem sobre a relação da equipe e a cidade.

No ano passado, durante os playoffs, o Flaming Lips até regravou um de seus hits – acho que dá para ser classificado como um hit –, “Race for the Prize” como um hino para o time: “Thunder Up!”, sendo tocado minutos antes dos jogos. ‘”Kevin Durant / don’t say he can’t!”, diz um trecho da letra. Veja abaixo a versão atualizada, seguida pela original ao vivo:


Só não peçam que Wayne Coyne entenda alguma coisa de basquete. “Quando você está lá, não é que um jogo seja um evento que siga um script de Steven Spielberg. Fico meio confuso. Será que nós vencemos? Eles venceram? E, quando você olha para o placar, bem, será que o jogo acabou?”, disse ao NYT, se autodescrevendo como o torcedor mais perdido do ginásio e do planeta.

O negócio deles é no palco mesmo, território em que consegue encontrar as similaridades entre o jogo e um show. “É aquela ideia de que está todo mundo focado na mesma coisa, ao mesmo tempo, ficando juntos e fazendo da experiência algo maior. É uma tolice, mas todas as coisas são tolas assim.”

Com o Flaming Lips, é isso aí.

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OS RENEGADOS DO GRUNGE

Fundada em meados dos anos 80, mapeada pela indústria musical americana apenas em 1993 com a entrada de “Transmissions from the Satellite Heart” nas paradas, o Flaming Lips poderia ter embarcado na onda grunge que dominava as rádios naqueles tempos, mas seguiram por um caminho absurdo, completamente distante do chamado “som de Seattle”. Ironicamente, Kevin Durant poderia ter sido uma figura totalmente ligada a essa cidade do Noroeste dos Estados Unidos, mas acabou jogando lá por apenas um ano, antes do polêmico deslocamento de sua franquia para Oklahoma City.

Shawn Kemp x Jeff Ament

Jeff Ament em peça publicitária com Shawn Kemp, seu ídolo em Seattle

Foi um movimento amaldiçoado por Jeff Ament, baixista do Pearl Jam e fanático pelo Supersonics, daqueles que compravam carnês de ingressos temporada após temporada junto com o guitarrista Stone Gossard. Os dois são outros que tocam no Lollapalooza, mas no domingo.

Muito antes de conhecer Chris Cornell ou Eddie Vedder, Ament era um armador talentoso no colegial em Montana, interiorzão da América profunda. Foi eleito para seleções estaduais e tudo, a ponto de ser recrutado pela universidade de… Montana (dãr!) como jogador. Entrou para a equipe dirigida por Mike Montgomery, futuro técnico de Stanford, do Golden State Warriors e hoje da universidade de California e, rapidamente, descobriu que, como aspirante a uma carreira no basquete universitário, ele provavelmente tinha mais jeito, mesmo, para o rock. “Os mundos de esportes e música não combinavam, realmente. Onde eu cresci, eu podia ser um esportista e um punk rocker. Quando fui para a universidade, ficou aparente que eu tinha de pertencer somente a um desses grupos”, disse em entrevista interessante à ESPN americana.

Bem, a gente já sabe hoje no que deu isso tudo. O cara se mudou para Seattle, conheceu certas pessoas, as coisas demoraram para se encaixarem, mas de repente ele fazia parte de uma das bandas que se tornaria das mais populares do mundo. No início, na condição de estrela emergente do rock, Ament era obrigado a esconder do público sua outra metade. Afinal, tinha sempre quem importunasse. “Kurt Cobain e Coutrney Love sempre zoaram o fato de que eu jogava basquete. Uma vez eu parei para dizer oi antes de um show e, quando estava indo embora, Courtney gritou: ‘Vá jogar basquete com Dave Grohl!'”, recordou o baixista. Os roqueiros que foram etiquetados como grunge já eram aqueles que a sociedade não queria. Ament conseguiu ser um rejeitado dentro desse universo. 🙂

Jeff Ament, versão basqueteiro

Jeff Ament não tinha a maior pinta de basqueteiro do mundo, de todo modo

Nas turnês, porém, ele confessa que sempre havia uma bola de basquete ou futebol americano por perto. Vedder, segundo seu companheiro, era mais ligado ao beisebol. Hoje, mais maduro e consagrado, não há restrição alguma, claro, em se assumir um basqueteiro – que realmente acompanha a NBA em detalhes, ainda que em Seattle ele não tenha mais nenhum clube profissional pelo qual torcer. “(Se um novo time chegasse,) Acho que teria de namorá-lo por um tempo. Se as coisas dessem certo, poderia checar se alguém gostaria de dividir o carnê de ingressos por alguns anos”, afirma.

Avaliando a possível transferência do Sacramento Kings para Seattle, fica difícil de avaliar qual o comportamento adequado. “Seria a melhor e a pior opção ao mesmo tempo. É a melhor porque eles têm provavelmente o melhor potencial como time de playoff, se o DeMarcus Cousins conseguir entender seu cérebro de alguma forma, ou se eles conseguirem um técnico que possa treiná-lo, ou se o Tyreke Evans der as caras. Mas Sacramento é uma cidade pequena. Se você tira o Kings deles, vão ficar com o quê? Só um time menor de beisebol, algo assim”, diz.

A ligação do Pearl Jam com o basquete, desta forma, é muito mais intensa do que o normal entre os roqueiros, certamente maior que a do Flaming Lips com o Thuder. Desse vínculo, se  destacam duas histórias:

– Ament já escreveu uma canção para citando Kareem Abdul-Jabbar, chamada “Sweet Lew”, do álbum “Lost Dogs” (2003), em referência ao nome de batismo do legendário pivô, Lew Alcindor. Não foi bem uma homenagem: Jabbar foi seu técnico em um jogo de celebridades e o teria ignorado quando foi tentou puxar um papo – a propósito, ele identifica os bateristas Chad Smith, do Red Hot Chilli Peppers, e Steve Gordon, do Black Crowes, como os melhores músicos-jogadores que conheceu.

Mookie Blaylock, ex-Pearl Jam

Mookie Blaylock, ex-armador do Nets e ex-Pearl Jam. Seu número? Dez, ou “Ten”, primeiro álbum da banda que vendeu mais que água nos anos 90

– Um dos primeiros nomes da banda foi “Mookie Blaylock”, aquele armador que defendeu New Jersey Nets, Golden State Warriors, mas teve seu  melhor momento pelo Atlanta Hawks nos anos 90. Como isso aconteceu? O grupo estava em uma lanchonete para fazer sua primeira gravação em um estúdio, com uma diária de uns US$ 10. Ainda assim, conseguiam comprar alguns pacotes de cards. Em um deles, saiu o armador. Ainda não haviam decidido um um nome para o conjunto e colocaram a “figurinha” de Blaylock na capa da fita que gravaram. Depois, saíram em uma turnê de dez dias com o Alice in Chains usando esse nome. Só mais tarde que veio a combinação a ser consagrada.

Há diversas explicações para “Pearl Jam”. Uma fictícia, inventada por Vedder em uma entrevista é de que ele teria uma avó chamada Pearl, que fazia uma geleia inigualável. Outra teoria, que tem seus defensores entre biógrafos e velhos amigos, é de que “Pearl” seria uma referência ao apelido de Earl “The Pearl” Monroe, craque do Knicks e do Bullets nos anos 70, e fantástico nas enterradas. O “Jam” também teria sido unido a “Pearl” depois que os amigos compareceram a um show de Neil Young, e o figurão canadense não parava de esticar suas músicas, em “jam sessions” com os companheiros de palco.

 Por mais fanáticos que sejam, música para o Sonics Jeff Ament e Stone Gossard nunca fizeram. 🙁

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Atração do Lollapalooza paulistano de 2012, a Band of Horses, também de Seattle, chegou a gravar uma música intitulada “Detelf Schrempf”. Mas eles juram que não tem inspiração alguma no ex-craque alemão. Investigamos isso na encarnação passada.

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#NBAbands

De vez em quando tem dessas brincadeiras no Twitter que divertem, né? Demora, mas acontece. Ótima oportunidade, então, para resgatar alguns dos trocadilhos na fusão de nomes de bandas com jogadores da NBA, a #NBAbands, que foi trending topic há algumas semanas.

– “Durant Durant” = para ficar no tema.

– “Garret Temple of Dog” = o Temple of Dog uniu os integrantes de Pearl Jam e Soundgarden, vizinhos de Seattle. Garret Temple ainda busca se firmar na NBA, fazendo dupla armação com John Wall no Wizards.

– “Rajon Against the Machine” = A fama de esquentadinho de Rajon Rondo poderia ser direcionada contra o sistema, como fez nos anos 90 os revolucionários do Rage Against?

– “30 Seconds Dumars” = Quando Joe Dumars contratou Charlie Villanueva e Ben Gordon de uma só vez, quebranco a banca, muitos torcedores do Pistons se perguntaram certamente se ele estava com a cabeça a “30 Seconds to Mars”, banda do ator Jared Leto.

– “John, Paul George, and Ringo” = Eu realmente nunca havia pensado que o prodígio do Indiana Pacers reunia dois daquele quarteto de Liverpool em um só nome.

– “The Jimmer Fredette Experience” = A experiência de Jimi Hendrix não durou muito, mas deixou um baita legado para a música. Jimmer Fredette, fenômeno univeristário, ainda batalha para deixar sua marca na liga.

– “Bryant Adams” = uma combinação insólita de um dos maiores assassinos em quadra, Kobe Bryant, com um astro pop canadense de letras bem melosas, Bryan Adams.

– “My Darnell Valentine”, “My Bloody Valanciunas” = a banda shoegaze viajandona My Bloody Valentine voltou a lancar um álbum neste ano e serviu de inspiração para dois dos melhores nomes, seja com o ex-armador de Portland Trail Blazers, Cleveland Cavaliers e que terminou a carreira na Itália, ou com o jovem pivô lituano Jonas Valanciunas, aposta do Raptors.

– “Lillard Skynyrd” = Damien Lillard pode ter vindo do interior dos Estados Unidos, mas imagino ser pouco provável que a sensação do Blazers toque em seu iPod algum sucesso setentista do Lynyrd Skynyrd.

–  “Simon & Garnett” = Se Paul Simon já brigava com alguém de voz tão bonita como Art Garfunkel, o que aconteceria se ele fizesse dupla com um psicopata feito Kevin Garnett?

– “The Artist Formally Known as Tayshaun Prince” = hoje no Grizzlies, Tayshaun ao menos quer provar que ainda pode ser uma peça útil nos playoffs, enquanto Prince pirou por completo.

– “Bon Iverson” = Iverson chegou tarde. Bon Iver já tem em Kanye West seu rapper preferido.

– “Ol’ Dirk Bastard” = Nowitzki já é praticamente um texano de Dallas, mas parece estar longe do rap nervoso (e dos pileques) de Ol’ Dirty Bastard, um dos integrantes do histórico grupo de rap Wu Tang Clan.

– “Al Jefferson Airplane” = Os movimentos de costas para a cesta de Al Jefferson são tão criativos como o som psicodélico do Jefferson Airplane? Não chega a tanto.

– “Earth, Wind & Fire Isiah” = nesta versão, a banda favorita de qualquer torcedor radical do New York Knicks que tenha vivido um pesadelo na era Isiah Thomas em Manhattan.

– “Brad Lohaus of Pain” = É do House of Pain uma das músicas mais tocadas na história dos jogos de basquete, “Jump Around”. Para Brad Lohaus, um branquelo pouco atlético, ficar saltando muito por aí, apenas na primeira versão do NBA Jam, pelo Milwaukee Bucks, mesmo.


Houston Rockets manda Scott Machado e mais dois para liga de desenvolvimento
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Giancarlo Giampietro

Scott Machado vai ter de arrumar as malas e cair na estrada. Ele tem uma viagem de cerca de 500 km para fazer entre Houston e Hidalgo, pequena cidade localizada ainda no Texas. Passadas duas semanas de temporada regular na NBA, o Rockets decidiu, enfim, enviar o jovem armador para sua filial na D-League, o Rio Grande Valley Vipers.

Scott Machado pelo Rockets em Las Vegas

Scott vai ter tempo de quadra pela primeira vez desde a pré-temporada

Sem ser aproveitado no elenco, ficando fora até mesmo do banco de reservas, o movimento por parte da franquia não pode ser encarado como um rebaixamento para o nova-iorquino brasileiro. Em meio a dezenas de viagens, um corre-corre danado, é mais fácil que ele mostre serviço para sua diretoria e comissão técnica e diretoria jogando com regularidade, em vez de depender dos minutos escassos de coletivos.

Aliás, em sua mudança, Scott vai acompanhado de dois companheiros do Rockets, o ala Royce White e o ala-pivô Donatas Motiejunas, duas escolhas de primeira rodada do clube nos últimos anos e que também mal vinham sendo aproveitados pelo técnico Kevin McHale – ele tem dado prioridade a seus jogadores mais experientes. Dos novatos, apenas Terrence Jones fica, então, em Houston, embora tenha minutos esporádicos nas partidas.

O salário do armador não muda. Ele continua sendo pago pelo clube surpreendeu ao contratá-lo este ano, torrando mais de US$ 5 milhões em salários de jogadores dispensados, e pode ser chamado de volta para a qualquer momento por McHale para o time principal. O que muda é sua rotina: as instalações, as viagens, a rotina de um atleta da D-League são bem mais modestas do que os luxos que rodeiam os astros do primeiro escalão.

O nível de competitividade também é intenso. Cada um dos jogadores inscritos no campeonato de desenvolvimento sonha com uma contratação por parte dos primos ricos. Atletas como Scott, Motiejunas e White são vistos como alvos preferenciais dos concorrentes – é a chance de competir com caras que desfrutam da “mamata” e mostrar que são melhores ou que pelo menos têm nível para voos mais altos. Mas não que isso vá assustar o armador, que teve de batalhar bastante para entrar no radar da NBA jogando pela pequena universidade de Iona. Depois de ser ignorado no Draft, suou um pouco mais para garantir seu contrato. Então não tem nada de novo para o rapaz.

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Veja alguns jogadores que o Houston Rockets já mandou para Hidalgo: o armador Aaron Brooks, o ala Steve Novak, o pivô Joey Dorsey, o ala-armador Jermaine Taylor, o armador Ish Smith, além do pivô Greg Smith, do ala-pivô Patrick Patterson e do ala Marcus Morris (os três ainda no Rockets). Desses, apenas Dorsey e Taylor estão fora da NBA hoje, sendo que o primeiro por opção – foi campeão europeu pelo Olympiacos na temporada passada e recusou propostas que considerou baixas por parte da liga. Taylor acabou de acertar com o Lagun Aro na Liga ACB espanhola e vai fazer companhia ao nosso Raulzinho.

Outros atletas passaram pelo Vipers e ainda têm contratos: o ala Terrell Harris, reserva de Dwyane Wade e Ray Allen no Miami Heat, o ala Ivan Johnson, duro-na-queda do Atlanta Hawks, e o armador Will Conroy, que conseguiu neste ano uma vaga no Minnesota Timberwolves.

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Quem não reagiu nada bem ao comunicado sobre a decisão do Rockets foi o ex-técnico de Motiejunas na Euroliga, Tomas Pacesas, com quem trabalhou no Asseco Prokom. Na real, o cara ficou furioso. “Não fiquei só surpreso, mas nervoso com esse tipo de decisão. Na minha opinião, Donatas é um dos melhores pivôs não só da Europa, mas no mundo também. Suas capacidades físicas e técnicas deixariam jogá-lo bem mesmo na piada que é essa liga” disse. “Para mim, Donatas é tão bom quanto Jonas Valanciunas e poderia jogar tão bem ou talvez melhor que ele na NBA.”

O treinador teria sugerido, então, que seu ex-pupilo – paparicado pelos olheiros europeus há anos e anos, isso é fato – se daria melhor num time como o Toronto Raptors ou o San Antonio Spurs, duas franquias historicamente ricas em seus relacionamentos com jogadores vindos da Europa. Mal sabe ele o que anda acontecendo com Tiago Splitter…


Geração lituana ganha seu próprio documentário: “The Other Dream Team”
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Giancarlo Giampietro

 

A seleção lituana de 1992 - "O Outro Dream Team"

Olha o visual de gente livre que eram os lituanos em 1992

Vamos deixar as coisas bem claras, pela ordem:

– o blogueiro não é filiado ao PCdoB, nem ao PCB – até porque os personagens do post queriam distância do regime nos anos 90;

– blogueiro nunca participou de um comício comunista (nem liberalista, diga-se) – idem;

– o blogueiro não está envolvido com os produtores do documentário abaixo – apesar de ter escrito recentemente sobre o Sabonis pai e o Sabonis caçulinha por uma coincidência dessas que até irritam, sabe?

Feito o esclarecimento, nos sentimos livres, então, para falar mais um pouco sobre o basquete lituano. Sim, eles mais uma vez. Mas agora vamos muito além do clã Sabonis e lembrar um pouco sobre a segunda grande história das Olimpíadas de Barcelona-1992. Se fazem 20 anos da aparição daquele “Dream Team” de que todos ouvimos falar, também dá para comemorar as duas décadas da seleção báltica que conquistou o bronze naqueles Jogos, uma medalha histórica.

The Other Dream Team, poster

Cartaz do documentário

Sabonis era acompanhado pelo brilhante armador Sarunas Marciulionis e pelo ala Arturas Karnisovas, belo cestinha, entre outras grandes figuras que são tratadas feito deuses em solo lituano. Foi a primeira grande competição em que o país pôde disputar como uma nação autônoma, fora da alçada soviética. Era um torneio para celebração, especialmente para o basquete, seu esporte de maior tradição. E a festa terminou com um final digno de cinema mesmo: uma vitória por 82 a 78 contra a CEI (Comunidade dos Estados Independentes, que reuniu os cacos do império da URSS). Foi a chance para eles provarem que as glórias soviéticas no basquete passavam muito pelo talento daqueles lituanos forçados a defender outras cores. É célebre a ausência do superpivô no pódio devido a sua bebedeira nos vestiários depois do jogo.

Essa história toda está, claro, muito mais bem contada no documentário “The Other Dream Team”, veiculado no Festival de Sudance deste ano, de autoria de Marius A. Markevičius. David Stern, Yao Ming, Bill Walton, Donnie Nelson, Pau Gasol e outras grandes personalidades do basquete estão entre os entrevistados estrangeiros, além das estrelas do filme.

 Entre os causos detalhados está o apadrinhamento da seleção lituana pelo grupo cult-hiponga californiano Grateful Dead, que ajudou sua preparação financeiramente e providenciou as tresloucadas camisetas que os atletas usaram em Barcelona, com a caveira que enterra, desenhada pelo artista plástico Greg Speirs. Veja mais no trailer abaixo.

Para o basqueteiro de plantão, a Lituânia deve ser realmente o país dos sonhos, em que o bola ao cesto é tratado como religião. Um país que sempre dá um jeito de produzir craques atrás de craques, embora não tenha a economia mais poderosa e nem a maior população da Europa. O jovem pivô Jonas Valanciunas, do Toronto Raptors, é hoje quem tem a missão de conduzir essa tradição. Independentemente do sucesso que obter com as novas gerações, com o lançamento desse promissor documentário, ao menos os grandes talentos produzidos em sua terra já têm memória garantida por um bom tempo.

 


Rússia e Lituânia se garantem em Londres-2012
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Giancarlo Giampietro

Um tempo atrás elas, juntas, compunham uma força dominante mundial. Hoje, com duas repúblicas independentes, Rússia e Lituânia ainda impõem muito respeito, e certamente Rubén Magnano não gostaria de ver nenhum desses países da Europa oriental perfilados no Grupo C. Pois eles conseguiram mais uma classificação olímpica neste sábado.

A Rússia controlou a Nigéria por três quartos e, assim como os gregos fizeram na véspera, teve problemas na parcial final. No fim, porém, conseguiu resistir a forte pressão dos africanos para vencer por 85 a 77 e garantir seu lugar na final do Pré-Olímpico mundial em Caracas e a consequente vaga em Londres-2012.

Alexey Shved, Rússia

Alexey Shved, da Rússia, joga barbaridade

O talentoso ala-armador Alexey Shved jogou barbaridade e encantou Wlamir Marques com 22 pontos, seis assistências e quatro rebotes e um estilo que faz o basquete parecer muito fácil. Deve ir para a NBA após os Jogos, campeonato ao qual pertence. Muito talentoso. O time europeu teve um ótimo aproveitamento na linha de três pontos, com 14 cestas em 27 arremessos (51,9%) e movimentou a bola muito bem no perímetro tambeem, computando 26 assistências. Em meio a tudo isso, Andrei Kirilenko estufou a tabela de estatísticas novamente, com 19 pontos, 8 rebotes, quatro roubos de bola e três assistências.

Pela Nigéria, o ala-armador Ade Dagunduro teve mais um brilhante quarto período, comandando uma nova reação, com 16 pontos e 5 assistências. Ike Diogu foi mais uma vez uma arma poderosa no garrafão, com 16 pontos e 14 rebotes.

Já a Lituânia teve uma noite muito mais fácil na capital venezuelana ao atropelar a República Dominicana por 109 a 83, tendo vencido o primeiro tempo já por 16 pontos para se tranquilizar, com uma exibição impecável do armador Mantas Kalnietis (nove assistências). Ele comandou simples jogadas de pick-and-roll muito bem tramadas, fazendo o nome do jovem Jonas Valanciunas, que terminou com 17 pontos e 7 rebotes em apenas 25 minutos, lidando novamente com problemas de falta. Do lado caribenho, Al Horford teve uma jornada para esquecer, somando apenas 12 pontos e 4 rebotes, errando dez de seus 14 arremessos.

Neste domingo, dominicanos e nigerianos  lutam pela terceira e derradeira vaga olímpica.


Vásquez, Kleiza e o selo NBA no mundo Fiba
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Giancarlo Giampietro

Há diversas percepções por aí fora de como se encarar os jogadores – e o jogo em si – da NBA. Tem gente que considera todos superatletas, capazes de tudo a qualquer hora, outros que vão falar que não muitos deles passam de fraudes, mãos-de-pau, produtos de marketing. Durante o Pré-Olímpico mundial, temos a possibilidade de fazer algumas observações e arriscar algumas considerações. Dá para navegar entre os  dois grupos com facilidade. E não precisa de extremismo, precisa?

Greivis Vasquez, superastro na Venezuela

Greivis Vasquez, superastro na Venezuela

Peguemos, então, a vitória da Lituânia sobre a Venezuela, transmitido direto de Caracas nesta terça-feira, como exemplo.

(E pensar que houve um tempo que esse tipo de jogo só chegava por cá em informações mastigadas via despachos de agências internacionais ou microprogramas produzidos pela federação internacional, e olhe lá. Mas avancemos.)

O garotão Jonas Valanciunas, grande aposta do Toronto Raptors para a próxima temporada – embora ainda sem contrato assinado –, teve dificuldades em se enturmar com a arbitragem e enfrentar a pressão e os anfitriões. Acontece: ficou carregado de faltas.

Os outros dois mais veteranos de NBA, Linas Kleiza e Greivis Vasquez, não tiveram problema com isso e se sobressaíram. Cada um ao seu modo.

O ala lituano, do Raptors, estava num dia de máquina mortífera. No sentido de que matava tudo e o que aparecia em sua frente com facilidade, rapidez e eficiência. Caixa, caixa e caixa, jogando fora da bola, se movimentando subitamente para aparecer livre, receber o passe e convertê-lo em assistência. Também brigou nos rebotes e deu um ou outro chega-pra-lá em quadra para devolver a agressividade com a qual jogavam os donos da casa. Terminou com 28 pontos, cinco rebotes e 11 chutes convertidos em 16 tentados (68,8%, uau).

O ala-armador venzuelano, do Hornets, também teve uma linha estatística chamativa: 24 pontos, sete assistências, cinco bolas de três convertidas em nove que chutou. A diferença foi o modo como chegou a esse montante. Dominando a bola, batendo para os dois lados, procurando espaço muitas vezes onde não tinha – e ainda assim os encontrando, numa prova de seu talento, mas também forçando uma porção de arremessos bicados.

Linas Kleiza, Lituânia

Linas Kleiza, máquina mortífera lituana

O quanto disso ocorre porque assim é Vásquez ou porque é desse jeito que a Venezuela precisa vê-lo jogando, teríamos de perguntar para o agitado Eric Musselman para saber. Do outro lado, Kleiza tem uma função bem definida e dois ótimos armadores para lhe servir (olho em Mantas Kalnietis, que a cada torneio aparece em evolução pelo time báltico), e fica de bom tamanho assim mesmo, já que não possui muitos recursos no drible e também não tem a vocação mais atirada para o passe.

Na NBA, estamos falando de dois meros coadjuvantes, com um ou outro lampejo – Kleiza consegue matar seus chutes aqui e ali, Vásquez se concentra mais na distribuição de jogo e vai bem nas assistências. Mas pouco do que eles produzem pode realmente mudar a cotação do dólar.

Mãos-de-pau? Bem, se a gente realmente for adotar tudo da “cultura de futebol” de que Magnano fala e reclama, com razão, essa acepção faria sentido.

Mas não somos sempre assim, né? O que não nos empurra a dizer que são dois gênios. Não vão ser dominantes assim a toda rodada.

Podemos ver, no entanto, que suas habilidades estão em acima da média naquele microcosmo de 24 jogadores convocados entre lituanos e venezuelanos. E isso diz muito sobre o tipo de jogador que a NBA mantém e, sim, desenvolve em seus clubes.

PS: Veja o que o blogueiro já publicou sobre Lituânia e Venezuela em sua encarnação passada