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Arquivo : Rudy Gay

Sacramento Kings complica ainda mais a conferência Oeste
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015

Boogie Cousins chegando lá, levando o Sacramento Kings junto

Boogie Cousins chegando lá, levando o Sacramento Kings junto

Era tudo de que a Conferência Oeste menos precisava, gente. Jeff Hornacek, Monty Williams, Brian Shaw e muitos técnicos estão neste exato momento chacoalhando a cabeça de um lado para o outro, batendo nervosamente os pés no avião, pensando em quão dura essa vida pode ser: “Valeu, mesmo, Sacramento. Como se já não tivéssemos problemas o bastante”.

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Em seu processo de reformulação, o clube da capital californiana vai dando um passo importante nesta temporada para se recolocar, enfim, na briga por uma vaga nos playoffs. E a gente sabe como é difícil isso nesses dias, em que times com 48 vitórias não conseguem a classificação. Só assim, mesmo para o novo proprietário Vivek Ranadivé sossegar.

Formado em escolas de ponta, fazendo fortuna com empresas de tecnologia, sendo um dos protagonistas na digitalização dos sistemas de Wall Street, o empreendedor indiano se tornou o acionista majoritário da franquia em maio de 2013 e, desde então, vem balançando suas estruturas. Trocou toda a sua diretoria e escolheu mais um nerd, Pete D’Alessandro, ex-assistente de Masai Ujiri em Denver, como seu gerente geral. Antes do cartola, porém, já havia contratado o técnico Mike Malone, com quem já havia desenvolvido um relacionamento no seu tempo de acionista do Golden State Warriors.

Ranadivivé, o agitador indiano

Ranadivivé, o agitador indiano

Montada a estrutura, essa turma começou a fuçar no elenco. O primeiro grande passo foi deixar Tyreke Evans partir para Nova Orleans. Depois veio a aquisição de Rudy Gay numa troca seriamente contestada na época – o ala não andava com a melhor cotação na liga. No Draft, selecionaram em anos consecutivos jogadores que teoricamente dividem a mesma posição: Ben McLemore e Nik Stauskas. Isaiah Thomas também foi outro que saiu, abrindo espaço para Darren Collison.

A ideia era clara, porém: apostar todas as fichas em DeMarcus Cousins, transformar o temperamental pivô no jogador indiscutível da franquia. Seus recursos técnicos nunca foram discutidos: Boogie é dos poucos grandalhões de hoje que chama a marcação dupla obrigatoriamente. Perto da tabela, sua combinação de força, habilidade e agilidade no jogo de pés é devastadora. Mais difícil era domar seu comportamento explosivo e infantil – ou infantil e explosivo, escolha a ordem que preferir.

As faltas técnicas que o pivô cometia já faziam parte do folclore da NBA. Nesse quesito, ele foi o líder por duas temporadas seguidas, cometendo 33 nas últimas duas campanhas. Em 2011-12, só foi superado por Kendrick Perkins, com 12. Em 2011, ficou em quinto, com 14. Enfim, era uma média de uma técnica a cada sete jogos. Se o descontrole fosse apenas com os árbitros, tudo bem. Mas obviamente que ele também dava trabalho no dia-a-dia, em relação variando de arredia a conflituosa com diversos treinadores.

No que Ranadivé e D’Alessandro acreditavam, todavia? Que  os problemas causados pela jovem estrela tinham muito a ver com a falta de amparo por parte do clube. Não os mimos, em si. Mas a falta de uma estrutura hierárquica respeitável, mesmo, dado o desgoverno nos últimos anos com a família Maloof. Contavam também com o amadurecimento natural de Cousins. Amadurecimento que também ajuda a colocar as coisas sob perspectiva no tratamento de jovens atletas.

Aconteceu, a ponto de Jerry Colangelo e o Coach K, mesmo, terem feito concessões e recrutado o pivô para a Copa do Mundo. Está certo que eles estavam precisando, para compensar tantos desfalques. Mas não teriam convocado o atleta se ele ainda fosse considerado uma ameaça ao entrosamento de um grupo que tinha pouco tempo para se preparar. Boogie se enquadrou e se encaixou legal e foi um dos líderes da seleção em quadra.

Ranadivivé, D'Alesandro, Ryan Hollins, Gay e Malone

Ranadivivé, D’Alesandro, Ryan Hollins, Gay e Malone

Voltou ainda melhor para Sacramento e disposto a falar sobre as coisas. “Isso me irrita mesmo. Acho que a mídia tem muito controle sobre o tipo de pessoa que você pode ser, e não importa o que a realidade seja. Já vi muitas pessoas serem elogiadas, de que seriam as mais legais, e eles são uns *****s, são as piores pessoas. E já vi pessoas que são julgados de forma ruim, seja lá por qual motivo, e que são bacanas demais. Odeio isso. Algumas das críticas que recebo eu mereço. Faço coisas bestas algumas vezes. Mas não mereço a percepção que se tem sobre mim”, afirmou em longa entrevista a Ric Bucher, do Bleacher Report.

Cousins está hoje no seleto grupo dos melhores da liga. É já um dos dez maiores talentos. O que deixa o Sacramento numa posição privilegiada. Ainda falta muito o que se acertar ao seu redor, claro. Ainda mais nessa conferência. O plano dos caras é deixar tudo isso bem mais complicada.

O time: para ganhar conjunto, química, o Sacramento precisou abrir mão de muito talento. Fizeram sacrifícios que talvez pudessem ser evitados com um melhor trabalho de preparação de terreno na gestão anterior, mas agora o estrago está feito, e não tem volta. Falo a respeito das saídas de Tyreke Evans e Isaiah Thomas, dois talentos indiscutíveis com a bola nas mãos, mas cujo santo não bateu com o de Cousins. O pivô era claramente o melhor prospecto da equipe, então não há muito o que discutir a priorização dele no ataque. Agora, talvez eles pudessem ter conseguido algo melhor pelos dois atletas que saíram.

Darren Collison volta a ser titular e agrada a Boogie

Darren Collison volta a ser titular e agrada a Boogie

O que acontece é que, hoje, o Kings  não tem muito banco. Qualquer lesão mais séria para um dos sete principais atletas da rotação vaiatrapalhar a vida do técnico Malone. O lado bom disso tudo, de todo modo, é que cada um dos reservas sabe muito bem o seu papel: Carl Landry sai para pontuar, Omri Casspi corre a quadra toda. Reggie Evans, quando for usado, será para bater e pegar rebotes. Stauksas ainda não está confortável, mas precisa matar seus arremessos. Ramon Sessions tem de fazer a bola girar e descolar seus lances livres – a não ser que perda o emprego de primeiro reserva da armação para o jovem Ray McCallum. Derrick Williams foi colocado de canto, e paciência.

Em termos de eficiência, a moçada de Sacramento hoje ocupa basicamente uma posição intermediária tanto em produção ofensiva como defensiva. A longo prazo, talvez isso não seja o suficiente para se colocar entre os oito melhores do Oeste. Cousins vai ficar cada vez mais marcado e, para sustentar seu ritmo, precisará de um Rudy Gay jogando em alto nível.

A pedida: uma vaguinha nos playoffs nem que seja no desempate na última rodada não faria mal algum.

"The Great Casspi", nas palavras de Jerry Reynolds, ex-jogador e hoje comentarista do Kings

“The Great Casspi”, nas palavras de Jerry Reynolds, ex-jogador e hoje comentarista do Kings

Olho nele: Omri Casspi. O primeiro israelense a jogar na NBA parecia uma aposta certeira da franquia em 2009, quando foi selecionado na 23ª posição do Draft. Seu ano de novato, vindo do poderoso Maccabi Tel Aviv, foi um sucesso, com 10,3 pontos em 25 minutos, além de 4,5 rebotes e 36,9% de acerto nos tiros de três. Desde então, porém, Casspi só caiu. Todas as suas estatísticas foram reduzidas ano a ano. Ele passou por Cleveland e Houston e não conseguiu reverter essa tendência. Quando virou agente livre, o mais natural era pensar que ele fosse voltar para casa, para retomar a carreira antes que fosse muito tarde – está com 26 anos. Mas Sacramento apareceu novamente em seu caminho, e o reencontro vem sendo produtivo. Casspi é um jogador útil para qualquer banco de reservas, por sua energia em quadra e versatilidade. Mais forte e preparado depois de trabalhar com David Thorpe nas férias, o ala vem causando impacto com muita correria e o basquete mais eficiente de sua carreira. Melhor: caiu nas graças de Boogie. Está garantido.

Abre o jogo: “Tem sido incrível, uma transição bem suave. A movimentação de bola está muito melhor. Ela não fica emperrada em um lugar só. Não vem sendo driblada demais por ninguém em quadra”, Cousins, sobre as mudanças na armação da equipe, com a saída de Thomas e Darren Collison. Um recado bem claro, que o próprio Thomas reconheceu a indireta.

Você não perguntou, mas… o Sacramento Kings é hoje um dos times mais irrequietos fora de quadra. Não apenas pelo apetite para fechar trocas. O agito vai além do departamento de basquete. Comercialmente, eles já anunciaram camisetas em parceria com uma rede de pizzaria – que hoje perderam sentido com a saída do garoto-propaganda –, têm aceito as chamadas bitcoins em vendas de produtos e ingressos e prometem muito mais. Para Ranadivé, a ideia é criar a chamada NBA 3.0, com muito mais interação com o público e o mundo de negócios. As operações esportivas também são afetadas. No último draft, por exemplo, o gerente geral D’Alessandro recrutou jovens estatísticos na Internet para supostamente ajudá-lo a tomar uma decisão.

kings-otis-thorpe-cardUm card do passado: Otis Thorpe. Antes da geração de Mitch Richmond e do fantástico time de Chris Webber, Divac, Bibby e Peja, o Kings jogou os playoffs pela primeira vez quando sediado em Sacramento em 1986 com um grupo que não era dos mais estrelados, cheio de veteranos. Vejam só: Mike Woodson, Larry Drew, Reggie Theus… Todos caras que virariam treinadores adiante. Só venceram, de qualquer maneira, 37 jogos, e entraram nos mata-matas somente por viverem uma rara época de vacas magras da conferência. Naqueles tempos, Thorpe era dos mais jovens, com 23 anos, com médias 9,9 pontos e 5,6 rebotes e 58,7% de aproveitamento, com 23 anos. Estava em sua segunda temporada, começando uma carreira admirável. O ala-pivô não era de fazer lances brilhantes em quadra, mas que fazia seu serviço, pontuando com eficiência, ajudando nos rebotes e defendendo. O tipo de peça em que a atual versão da equipe tem apostado, com razão. Em 1988, Thrope seria trocado para o Houston Rockets e viraria até mesmo um All-Star em 1992. Dois anos depois, ganharia o título como fiel escudeiro de Hakeem Olajuwon.


EUA definem time com a Espanha na mira
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Giancarlo Giampietro

A ascensão de Mason Plumlee também empurrou Coach K para decisão surpreendente

A ascensão de Mason Plumlee também empurrou Coach K para decisão surpreendente

LaMarcus Aldridge, Blake Griffin e Kevin Love disseram não, obrigado. LeBron e Carmelo, que também quebram um galho por lá, assim como Kevin Durant, também pularam fora. Mas quem disse que o Coach K não conseguiria montar um Team USA grande – ou gigante – para a Copa do Mundo de basquete na Espanha?

Na calada da noite, madrugada de sexta para sábado já no horário de Brasília (sacanagem!!!), o gerentão Jerry Colangelo e o técnico Mike Krzyzewski anunciaram os cortes finais – Damian Lillard, Kyle Korver, Gordon Hayward e Chandler Parsons – para definir seu elenco de 12 atletas. Com muitas surpresas, sendo o estoque de grandalhões a maior delas.

Da turma meio que exclusiva de garrafão, eles terão: Anthony Davis, Kenneth Faried (titulares), Mason Plumlee, DeMarcus Cousins e Andre Drummond. São cinco pivôs, mais o Rudy Gay que pode fazer o papel de strecht 4 pontualmente, dependendo do time que estiver do outro lado. Uma linha de frente abarrotada, , principalmente quando comparamos esta escalação com a de outras temporada. Vejam só:

– 2010: Tyson Chandler, Odom, Love (+ Gay, Granger e Durant)

-2012: Tyson Chandler, Davis, Love (+ LeBron, Carmelo e Durant)

Temos aí a mesma composição: três pivôs mais três “híbridos”, que seguravam as pontas de quando em quando para marcar lá embaixo – ainda que, no sistema promovido pelo Coach K, esse conceito de posições fosse bastante dissipado. Além do mais, caras como Odom, Love e Davis fazem muito mais em quadra do que simplesmente proteger o aro e rebotear. Você pega esses duas listas e vê um esbanjo de versatilidade. No sexteto de 2014, não é bem assim.

Claro que DeMarcus Cousins tem uma habilidade fora do comum para alguém do seu porte. Kenneth Faried é consideravelmente dinâmico e vem expandindo seu raio de ação. Mason Plumlee, que ganhou sua vaga feito um autêntico azarão nos coletivos dos “aspirantes” contra o time principal, também é um excelente passador. Mas não dá para comparar.

Então o que acontece?

Isso se chama respeito. Pela Espanha, basicamente.

Ninguém da USA Basketball vai admitir em público, até para não soar prepotente e não encher de confiança os donos da casa. Mas os americanos entram na competição com um único objetivo: alcançar a final e levar mais ouro para casa. Creem piamente que os irmãos Gasol e o contratado Serge Ibaka estarão do outro lado. Um trio de arromba, que, num jogo travado, físico (e, quiçá, com arbitragem caseira?), pode te carregar de faltas. Daí a mudança de curso.

Hermanos Gasol, estão de olho em vocês

Hermanos Gasol, estão de olho em vocês

“Não consigo reforçar o quanto foi impressionante a dedicação e o comprometimento de cada um dos finalistas”, disse Colangelo. “Desde que assumi a gerência do programa em 2005, esse foi sem dúvida o processo de seleção mais difícil pelo qual passamos. Gostaria de deixar claro que isso não tem a ver apenas com talento. Cada um desses jogadores é incrivelmente talentoso e cada um oferece habilidades únicas. No fim, o que pesou foi a formação da melhor equipe possível, selecionando os caras que sentimos que se encaixariam da melhor forma com o estilo que temos em mente para esta equipe.”

No programa que restaurou a hegemonia ianque no basquete mundial,  a explosão, a velocidade, a capacidade atlética como um todo foram elementos fundamentais em suas seleções Claro, desde que esses atletas também fossem multifundamentados. Ajuda poder contar com Westbrooks, LeBrons, Georges e tudo o mais, né? Aberrações do ponto de vista físico, mas igualmente fenomenais com a bola.

Sem esses caras do primeiro escalão, o Coach K tinha ao seu dispor a ala, digamos, branca que sobrou – Chandler Parsons e Gordon Hayward, que supostamente poderiam quebrar o galho como jogadores híbridos (simplesmente “forwards”). Após Durant pedir dispensa, não demorou, no entanto, para que a federação recorresse a Rudy Gay, um campeão mundial em 2010, mas que nem havia sido convocado para o novo ciclo olímpico que se inicia. Já era uma pista a respeito dos alas de Dallas Mavericks e Utah Jazz.

Já Kyle Korver era visto como o sniper do elenco. Aquele que seria utilizado para derrubar as defesas por zona mais coordenadas, com seu arremesso perfeito – sim, ele também tem um QI acima da média, se mexe como poucos fora da bola, ajuda na coesão defensiva e tem bom passe, mas seu chamariz, em meio a tamanha concorrência, é o chute de três. Num time que já conta com Stephen Curry, Kyrie Irving, James Harden e Klay Thompson, porém, sua especialidade pôde ser sacrificada.  Os recursos atléticos e técnicos de DeMar DeRozan se tornaram mais atraentes.

Derrick Rose: voto de confiança (em seu físico)

Derrick Rose: voto de confiança (em seu físico)

O corte inesperado, mesmo, pensando na primeira lista divulgada, foi o de Damian Lillard. Não só por ser um senhor (e destemido) arremessador, mas principalmente por todas as dúvidas que ainda vão rondar Derrick Rose por um bom tempo. O armador jogou contra o Brasil no domingo e, segundo consta, sentiu dores no corpo inteiro, e, não, apenas nos joelhos operados. Tantas dores que, na quarta-feira, não foi para a quadra para enfrentar a República Dominicana, pulando também os treinos no meio do caminho. Num Mundial com uma sequência desgastante de jogos, como fica essa equação? Não seria prudente levar Lillard? Talvez o simples fato de que Colangelo e Krzyzewski tenham pensado que não seja a melhor notícia que o torcedor do Bulls poderia receber.

Agora, numa Conferência Oeste que já é brutal, os adversários do Portland Trail Blazers que se cuidem, porque Lillard vai ter ainda mais um bom motivo para incendiar cada ginásio que visitar na próxima temporada. John Wall ganhou companhia.

Mas ainda tem chão para os Irmãos Gasol e Ibaka pensarem no quão enfezado Lillard vai estar em quadra. Antes, eles vão acompanhar com curiosidade como os Estados Unidos vão trabalhar com tantos pivôs.


Diante de armadilha americana, foi Raulzinho quem escapou
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Giancarlo Giampietro

Derrick Rose, de volta a Chicago, retomando a forma: a explosão física ainda está lá

Derrick Rose, de volta a Chicago, retomando a forma: a explosão física ainda está lá

(Obs: post atualizado domingo de manhã, com as estatísticas)

Lembramos o Mundial de 2010, em que o jogo foi decidido na última bola. Teve também o amistoso antes de Londres 2012, também no pau. Então o placar de 95 a 78 para os Estados Unidos, no quinto amistoso do Brasil rumo ao Mundial masculino, não pode ser visto como um bom sinal, algo que Splitter, mesmo, deixou claro em entrevista ao SporTV. Não dá, mesmo, para ser encarado como algo auspicioso, como um “grande teste”, e tal. Tem sempre de se tomar cuidado com a versão oficialesca da coisa.

Mas também não é o fim do mundo. Por 20 ou 25 minutos, a seleção jogou de modo competitivo. Melhor: nesses momentos, tinha em quadra o armador Raulzinho, justamente o personagem mais criticado nesta fase de preparação.

Neste sábado, foi um dos melhores em quadra (6 pontos e 4 assistências em 14 minutos). A diferença básica: o jovem atleta dessa vez usou a velocidade adequada, arrancando nos momentos certos. Teve calma com a bola, em vez de jogar com a quinta engatada o tempo todo. Isso, a despeito do convite da defesa americana para a correria e o caos, quase sempre pressionando muito a bola.

(A lição: não vale julgar um atleta por quatro ou cinco partidas. Posto isso, o corte de Rafael Luz ainda me parece inexplicável, por diversos motivos, que valem um texto particular. Só fica uma pergunta, porém: precisava definir o grupo de 12 atletas de modo tão rápido? Você economiza em passagem e hospedagem, mas talvez tire a chance de um jovem atleta provar ainda mais que merece uma vaga nos amistosos seguintes. Desde que,  claro, Magnano esteja aberto a novos nomes em sua lista e não tivesse o grupo fechado em sua cabeça desde fevereiro. De 2012, no caso…)

Agora, voltando a esse papo de pressão na bola. É um dos pontos centrais de estratégia da defesa norte-americana nesta retomada da hegemonia mundial – e algo que vai ser intensificado nesta equipe atual, visto que o garrafão está ainda mais enfraquecido. O tipo de armadilha com que Huertas, Larry, Alex e Leandrinho não souberam lidar (juntos, Huertas, Garcia e Barbosa cometeram 12 dos 21 turnovers brasileiros).

Raulzinho tenta parar Irving. Brasileiro deu trabalho ao jovem astro do Cavs

Raulzinho tenta parar Irving. Brasileiro deu trabalho ao jovem astro do Cavs

Nesse sentido, foi um desempenho bastante atípico para o armador titular da seleção e do Barcelona, cometendo muitos turnovers, cedendo muitos contra-ataques. Na metade final do primeiro período, em especial, foi um horror, ele teve dificuldade extrema para até mesmo cruzar a linha central. Algo que fugiu bem ao padrão do que havia apresentado contra os Estados Unidos nas exibições anteriores sob a orientação de Magnano, conquistando muitos fãs na imprensa de lá.

Larry, talvez empolgado demais por estar jogando em casa (ou não), não conseguiu ler o que se passava ao seu redor em quadra. Bateu para a cesta e não se cansou de levar tocos (1-4 nos arremessos de quadra, apenas 3 pontos em 12 minutos, nenhuma assistência). Ele já não está mais habituado a jogar contra seus compatriotas, a encarar esse tipo de capacidade atlética que um Anthony Davis ou um Mason Plumlee apresentam. Não há nada errado em “bater para a cesta”, mas, para alguém veterano, que teria de estar pronto, tinindo para encarar a elite mundial, bem que uma finta aqui e ali poderiam ser usadas, né? Digo: Magnano comprou a ideia de sua naturalização, o trata como pesa intocável em seu time desde 2012. Supostamente, então, é um cara para resolver, custando a outros atletas de futuro uma vaga no time. Então a cobrança também fica alta em relação a sua produção, independentemente da nacionalidade. Vamos ver. Também não vai enfrentar americanos em todos os jogos daqui para a frente.

Quem não se intimidou com os caras foi Rafael Hettsheimeir, que teve uma noite praticamente perfeita nos chutes de fora (3-4 nos tiros de três pontos, sendo que o único erro veio numa bola no estouro do cronômetro de posse; terminou o jogo com 13 pontos em 12 minutos e 5-6 no aproveitamento de quadra). Encarnou o “strecht 4” da moda na NBA – para não dizer “strecht 5” e deve ter impressionado os scouts presentes. Lembrando que o pivô, hoje fechado com o Bauru, já chegou a abrir negociações com Dallas Mavericks e outros clubes de lá há alguns anos. Mas também precisamos ter prudência aqui: se não é certo afundar Raulzinho por causa de três ou quatro partidas, não é para jogar o pivô lá para o alto por causa de uma jornada.

Hettsheimeir tem realmente trabalhado neste chute de média para longa distância. Ganhou licença para chutar, por parte de Magnano. Mas notem que em sua carreira, mesmo nas temporadas recentes, os percentuais não são tão elevados assim. Ok, ele matou 40% na última Euroliga, pelo Unicaja Málaga, marca excelente. Mas foram apenas 24 disparos no total, em 17 partidas, uma amostra bastante reduzida. Na Liga ACB, em 45 chutes, o rendimento caiu para 31,1%. No ano anterior pelo Real, 28,1%. Em 2011-2012, pelo Zaragoza, caíram 33,9%. Claro que tudo depende do contexto: quem dividia a quadra com ele, qual tipo de arremesso era gerado (contestado ou não?), os defensores etc. E outra: se os arremessos começarem a cair sem parar, as defesas vão se ajustar. E, para alguém do seu tamanho, não dá para esperar que vá colocar a bola no chão e invadir o garrafão. Enfim: é uma arma interessante para o tabuleiro de Magnano, mas precisamos entender qual o seu devido valor e a devida eficiência para saber quando usá-la na hora-hora-do-vamo-vê.

*  *  *

Marcelinho Machado e Guilherme Giovannoni tiveram tempo de quadra bastante reduzido no amistoso. Giovannoni retorna de lesão no tornozelo, registre-se. Seus minutos estarão vinculados aos de Hettsheimeir, desconfio. Se o pivô estiver convertendo as bolas de longa distância em alta frequência, seu papel no time fica seriamente ameaçado. Contra os EUA, de todo modo, a velocidade da concorrência acaba sendo um fator inibidor para os mais veteranos da equipe. Estiveram juntos no final do primeiro tempo, para executar uma defesa. Não entendi muito bem. Então fica aqui mais um ponto para se checar no giro europeu de amistosos.

*  *  *

Sobre os atletas dos Estados Unidos, nenhuma novidade. Mas não deixa de ser interessante vê-los em ação contra os brasileiros, para reforçar algumas impressões, de ambos os lados. Alguns comentários rápidos sobre mais alguns dos personagens em quadra:

James Harden: nem mesmo um defensor aplicado e enfezado como Alex consegue ler seus movimentos para prever o lado do corte. No um contra o um, driblando a bola de maneira marota, o Sr. Barba tem um ritmo todo dele e cava lances livres sem parar. Candidato a cestinha do Team USA no Mundial.

Anthony Davis: se o público espanhol foi privado de ver Kevin Durant em ação ao vivo, que se deleitem com a capacidade atlética do Monocelha. Anthony Davis tem o corpo perfeito para o basquete. A confiança cada vez mais alta, subindo junto com seus fundamentos. Jogador mais importante do time.

Stephen Curry: queimou a redinha no início do primeiro período, depois foi preservado pelo Coach K. No Mundial, é de se imaginar que vá ser muito mais utilizado. Hoje o show estava reservado para Derrick Rose, reencontrando a ansiosa e apaixonada torcida de Chicago.

– Por falar em Derrick Rose… Em espasmos, você vê que o arranque e a impulsão ainda estão lá. Excelente notícia – para o basquete. Tal como aconteceu com Larry, deu para notar a pilha que o rapaz também estava, sem contar a ferrugem de alguém que disputou apenas dez partidas desde 2012.

Mason Plumlee: atlético e inteligente, uma combinação que te leva longe. Mostrou porque ultrapassou Boogie Cousins e Andre Drummond na rotação do Coach K.

Rudy Gay: no cenário dos sonhos de Krzyzewski, ele teria Durant, LeBron e Melo. No plano B, só Durant. Na falta de tudo isso, teve de apelar a Rudy Gay, que fez 28 anos neste domingo. E aí que o treinador dos Estados Unidos gostaria muito que o ala acertasse ao menos 35% de seus chutes de três pontos.  O jogador do Sacramento Kings teria tudo para se encaixar no time, não fosse sua deficiência nos arremessos. Duro é que isso aconteça. Na defesa, ele acaba compensando com agilidade, impulsão e envergadura. Mas o ataque sofre.

– Por isso, esperem uma boa dose de Kenneth Faried no Team USA. Um homem não é apelidado de Manimal gratuitamente. O motorzinho do Denver Nuggets pode não acertar nenhum chute atrás da linha de lance livre ou fora do garrafão, mas compensa o espaçamento criando e achando buracos com sua movimentação incessante. Energia nunca é demais. Além do mais, o ala-pivô ainda pode pontuar som seus semi-ganchos (tipo os do Splitter) e chutes em flutuação, que evoluíram muito na última temporada.

*  *  *

De resto, ainda parece que o Coach K precisa fuçar um tanto em sua rotação. Klay Thompson e Chandler Parsons deixaram a pegada cair. Damian Lillard nem viu a quadra (vai de dupla e tripla armação o tempo todo, ou não?)’ precisa ver se Cousins vai ter  alguma chance quando o joelho estiver inteiro. Se Korver vai jogar mais em algum teste futuro. E tal. Obviamente não são problemas de arrancar os cabelos. Mas são ajustes necessários para o único objetivo que lhes interessa: o ouro. “Nada além do ouro é aceitável”, como disse o Monocelha na saída de quadra para a repórter Karin Duarte, do SporTV.


NBA: 10 caras que abrem o ano novo de bem com a vida
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Giancarlo Giampietro

Kevin Johnson e Jeff Hornacek... Quer dizer, Bledsoe e Dragic pelo Suns

Kevin Johnson e Jeff Hornacek… Quer dizer, Bledsoe e Dragic pelo Suns

Quem está abrindo 2014 estourando champanhe sem o menor arrependimento? Quem nas quadras da NBA está passando pela virada de ano cheio de confiança, satisfeitos com o papel em suas equipes e se valorizando no mercado?

Os LeBrons, Durants e Loves do mundo vão estar sempre bem, é sabido. Não há que se preocupar com eles. Pode ser outono, primavera, feriado, longas viagens, esses caras vão produzir sem parar. Então, por mais que eles desafiem qualquer bom senso estatístico, seria redundante gastar estas linhas aqui para falar deles.

Então vamos nos concentrar num tipo de atividade que – vocês já devem ter percebido – dá mais prazer neste espaço: fugir dos holofotes e prestar atenção nos caras que muito provavelmente poderiam dar um passeio por Manhattan passando despercebidos. Talvez a altura fosse algum indicador, mas não o suficiente para congelar toda a Times Square.

Dessa vez, não estamos falando necessariamente de gente como Jordan Crawford ou Josh McBobs, dos que buscam a sobrevivência na liga. Mas de um pelotão intermediário que jogou muito nas última semanas do ano que se foi e entram em 2014 de bem com a vida:

Thaddeus Young, ala do Sixers.

Thad Young, difícil de segurar em contra-ataques

Thad Young, difícil de segurar em contra-ataques

Michael Carter-Williams é a bola da vez em Philly, e não há muito o que se fazer a respeito. Quando entra em quadra, o armador influencia o jogo de diversas maneiras, no ataque ou na defesa. Foi um achado para Sam Hinkie no Draft, ainda mais em 11º. Tudo em seu desempenho até aqui indica que vá se tornar um craque.

Mas, na hora que o Sixers vai surpreender alguém, Thaddeus (de “Youngs” já estamos cheios, não é verdade?) também tem talento para ser uma figura decisiva.

Pegue os últimos quatro jogos da equipe, por exemplo. Depois de uma derrota vexatória contra o Nets por 130 a 94 – e, sim, apanhar desta maneira para o patético time de Jason Kidd já se arquiva aqui no blog como “vexatório” –, Young elevou seus números a um patamar de saltar aos olhos. Marcou 110 pontos, pegou 35 rebotes, , conseguiu dez roubos de bola e acertou42 de seus 76 arremessos. Em médias: 27,5 pontos, 8,75 rebotes, 2,5 roubos e 55,2% de aproveitamento*.

(*PS: assim como em todos os números citados no post, estão computados apenas jogos até 31 de dezembro de 2013, por motivos de… Lentidão de sistema, digamos.)

Está certo que a concorrência não era das mais ferrenhas: Nets de novo (vitória por 121 a 120, no troco), Bucks, Suns e Lakers. O estilo de jogo também ajuda: três desses times gostam de correr, que é o que o ala mais sabe fazer, e o time do Brooklyn ficou automaticamente mais leve com a lesão de Brook Lopez.

Mas não deixa de ser impressionante.

Em meio ao projeto de reformulação do Sixers, Thaddeus pode estar querendo uma troca, ou não, mas com esse tipo de atuação é provável que termine a temporada em outra cidade, mesmo.

(Agora um segredinho: os números se inflaram desta forma também desde o retorno de Carter-Williams de uma infecção cutânea na perna. Não é acaso.)

Kyle Lowry, armador do Raptors.
Outro jogador envolvido em rumores de troca em dezembro. Também não se trata de coincidência, é possível dizer. Desde que o time canadense despachou Rudy Gay para a capital californiana, os boatos se concentraram em Lowry: ele seria o próximo a negociado. Mas o que estava em andamento se emperrou.

O baixinho que já foi um pitbull na defesa, mas hoje se interessa muito mais pelo ataque foi cobiçado pelos trapalhões de Nova York. Mas a reputação (positiva) de rapina de Masai Ujiri acabou atrapalhando. Até James Dolan se opôs a pagar o tanto que o Raptors pedia. Uia. Isso é o mesmo que dizer que o ex-presidente Lula teve arroubos de modéstia num discurso.

Paralelamente a essa disputa entre nova-iorquinos, o Raptors acabou se acertando, para espanto de alguns, mas não de todos. Bill Simmons, o SportsGuy da ESPN, chegou a comparar o ala a um câncer. O time que se livra dele melhora instantaneamente, notou. Ouch.

Com a bola girando mais em quadra, Lowry vem se soltando. Reparem em seus números a partir do confronto de 8 de dezembro com o Lakers, o primeiro sem Gay. A quantidade de turnovers despencou, as assistências decolaram e os pontos e bolas de três vão sendo computados com muito mais frequência.

Lowry se sentiu em casa no Garden. Será que vai jogar mais vezes lá?

Lowry se sentiu em casa no Garden. Será que vai jogar mais vezes lá?

Um jogo em específico vale o destaque: a vitória sobre o Knicks, no Madison Square Garden, claro, dia 27. Não só por ele ter marcado15 pontos e 11 assistências, mas também pelo fato de a torcida dos Bockers ter gritado seu nome das arquibancadas. “Foi esse tipo de acontecimento sobre o qual você nem sabe o que dizer direito. Tipo, é muito legal”, disse o armador. “Se algo acontecer, que aconteça. Mas até que chegue esse dia, sou um jogador do Raptors e vou dar duro aqui.”

James Johnson, ala do Memphis Grizzlies.
Antes de falar sobre o que se passa no presente, aqui convém revisitar o passado desse jogador, que, até pelo nome básico, até pode ser um desconhecido do público em geral. James quem?

Bem, vocês sabiam que ele tem algumas semelhanças com Zlatan Ibrahimovic? De alguma forma, explico: se o atacante sueco é faixa preta de taekwondo, Johnson já foi (é?) um belo lutador de kickboxing. E os dois tiram proveito das habilidades desenvolvidas nas artes marciais para fazer algo de diferente em seus respectivos esportes. Jogo de cintura, agilidade nos pés, elasticidade – imagino que se ganhe tudo isso, né, Ibra?

JJ, o Kickboxer

JJ, o Kickboxer

Uma rápida olhadela nos números do ala indicam isso. É um dos que mais acumula roubos de bola e toco na liga há tempos, em médias por minuto. Pegue, por exemplo, o que ele vem somando pelo Grizzlies por aqui. Em sete partidas, com 23,1 minutos, tem 1,3 bloqueio e 1,4 roubada em média. Em 36 minutos, subiria para 2,2 e 2,0, respectivamente. Andrei Kirilenko está orgulhoso.

E por que só sete jogos pelo Grizzlies, se já estamos em janeiro? Bem, ele começou a temporada na D-League. Na verdade, antes disso, o versátil ala participou do training camp com o Atlanta Hawks, mas o gerente geral Danny Ferry não achou por bem mantê-lo no elenco – talvez por considerar que suas características se dupliquem com as de DeMarre Carroll.

Jogando pelo Rio Grande Valley Vipers, a filial do Rockets, sua produção foi a seguinte: 18,5 pontos, 9,1 rebotes, 4,7 assistências, 3,4 tocos e 1,9 roubo. É muita coisa, mesmo numa liga em que não se pratica muita defesa e num time que joga em ritmo acelerado demais da conta.

E como um talento desses vai parar na liga de desenvolvimento? Digamos que Johnson nunca foi dos jogadores mais disciplinados. Tanto fora de quadra como em ação, fardado. Ele pode pecar um pouco no posicionamento defensivo, na hora de forçar algumas infiltrações descabidas, confiante de que suas habilidades atléticas dão um jeito para tudo. Por isso não sobreviveu em Chicago (foi draftado pelo Bulls em 16º em 2009), Toronto e Sacramento.

Mas também há o outro lado da moeda: por ser um jogador de características pouco tradicionais, difíceis de ser enquadradas, para um técnico que vá querer escalar seus jogadores de 1 a 5 pode ser difícil encontrar sua pocição. Vai de 3? Ou 4? Uma bobagem, mas que em muitos casos pode influenciar demais os rumos de uma carreira.

Fato é que, para um time moribundo com o do Grizzlies, ele oferece energia muito necessária. Até o dia 5 de janeiro, o clube precisa decidir o que fazer com Johnson. Se ele passar dessa data no elenco principal, seu contrato será garantido até o final da temporada. Acho que não há muita dúvida aqui sobre o que fazer, não?

Goran Dragic, armador do Phoenix Suns.
Ele começou mal pelo Phoenix Suns, depois jogou bem como reserva do Phoenix Suns, foi trocado ainda assim pelo Phoenix Suns, jogou no Texas até que voltou para o Phoenix Suns. A relação do armador esloveno com a franquia do Vale do Sol, como já vimos, não é das mais estáveis.

Daí que, quando o time contratou Eric Bledsoe antes da atual temporada começar, não demorou para que todo o mercado da NBA tenha se preparado para a possibilidade de Dragic voltar a ficar disponível. Jeff Hornaceck, porém, não tinha nada com isso.

Dragic e Hornacek: entrosamento no renovado Phoenix Suns

Dragic e Hornacek: entrosamento no renovado Phoenix Suns

O novo surpreendente técnico da eqiupe vem justificando qual era o seu plano desde o princípio: que Dragic e Bledsoe poderiam reeditar a sensacional parceria que ele teve com Kevin Johnson na virada dos anos 80 para os anos 90. Pela mesma franquia, diga-se, que, em 1988-89, alcançou a final da Conferência Oeste, perdendo para um Los Angeles Lakers que lutava pelo tricampeonato (e seria superado pelos autênticos Bad Boys de Detroit).

“Quando Ryan (McDonough, o novo e igualmente surpreendente gerente geral do Suns) me ligou, eu disse a ele: ‘Ei, Eric parece com o Kevin Johnson, quando ele estava jogando aqui em Phoenix, e Goran é mais ou menos como eu era’. Passamos de um time com 25 vitórias para 55. Não acho que nenhum de nós pensou realmente que, quando trocamos por Eric, teríamos de nos desfazer de Goran”, afirmou Hornacek, eleito o melhor técnico do Oeste em dezembro e que vem se mostrando uma das melhores entrevistas da liga.

Vai saber se foi isso, mesmo, que passou pela cabeça do treinador, ou se ele apenas está desenvolvendo uma retórica que, ao mesmo tempo que protege o esloveno, também envolve o sucesso do time nesta temporada. O próprio Dragic ficou um pouco desconfiado.”Quando estava na Europa e descobri, pensei: ‘Ok, agora tenho competição’. No fim, falei com Jeff, ele me disse que nós provavelmente iríamos a maior parte dos minutos juntos.”

Eles estão jogando, mesmo, e o fato é que a dupla armação se encaixou muito bem, ainda mais com tantos chutadores ao redor para espaçar o ataque. Por ser mais jovem e a novidade no time, é natural que Bledsoe chame mais repórteres ao seu encalço. Ramona Shelburne, do ESPN.com, contou uma baita história a respeito.

Mas Dragic, do seu lado, vem jogando muito bem, obrigado. Segundo levantamento do estatístico John Schuhmann, do NBA.com, quando o time tem apenas o esloveno em quadra, os números ofensivos são muito melhores do que com Bledsoe sozinho com os dois em parceria, que age pela melhor defesa. (Agora precisaria checar os adversários que estão por trás dessas contas.)

Dragic está jogando sua melhor temporada na liga, com o melhor aproveitamento nos arremessos, a maior média de lances livres cobrados, a menor de desperdícios de bola. Eficiência alto padrão, e a presença de Bledsoe para ajudar a desafogar as coisas ajuda muito para isso, claro. “Está cada vez melhor com Eric, jogo após jogo. Sei o que ele vai fazer com a bola e ele sabe o que eu vou fazer”, afirma.

No Suns, vale também a menção para o ala Gerald Green, que tem aproveitado os espaços abertos por seus dois armadores. Neste período, tem médias de15 pontos e quase quatro chutes de três pontos por jogo (3,7). O jogador que já teve de apelar para Rússia e China para tentar se encontrar como jogador de basquete e regressar aos Estados Unidos,  recuperou o rendimento de sua breve passagem pelo Nets na temporada 2011-12. Mantendo essa produção, vai deixar a troca que enviou Luis Scola ao Pacers cada vez mais desequilibrada a favor do time do Arizona. Quem diria, Larry Bird, quem diria?

Tyreke Evans, ala-armador do New Orleans Pelicans.
Como novato, Evans terminou sua temporada com médias superiores a 20 pontos, 5 rebotes e 5 assistências. Em toda a história da NBA, quais os únicos jogadores que atingiram esse tipo de rendimento? Michael Jordan, LeBron James e Oscar Robertson.

Bom para você?

Evans para a cesta, de 6º homem

Evans para a cesta, de 6º homem

A galera em Sacramento acreditava ter recebido seu próprio Messias, alguém pronto para resgatar os  anos dourados de Webber, Bibby, Divac e Peja. O que aconteceu a partir de 2008-09? O Kings seguiu perdendo de todo mundo, basicamente. Uma equipe horrorosa, na qual Evans se afundou também. De repente, sua temporada de calouro passou de proeza estatística para o devaneio de um fominha.

Daí que, quando o Pelicans investiu US$ 44 milhões por quatro anos de contrato com o ala, poucos entenderam. A sensação era de que ele merecia muito menos – e que não ficava muito claro o que o clube estava pensando, uma vez que já tinha Jrue Holiday e Eric Gordon no elenco, jogadores que gostam de segurar a bola por um bom tempo também.

Se o jovem time ainda busca um melhor acerto, especialmente na defesa, apostando agora na contratação de Alexis Ajinça, no ataque o desenvolvimento é realmente positivo – eles têm a sexta melhor ofensiva. E a contribuição de Evans tem sido importante para isso, mesmo que seu desempenho na linha de três pontos seja desastroso e que sua pontaria de dois pontos também esteja muito abaixo do esperado.

Acontece que o volume de jogo que Evans tem ao sair do banco de reservas tem sido o suficiente para compensar a pontaria desacertada. Com uma projeção por 36 minutos de 18,3 pontos, 6,3 assistências e 6,7 rebotes – que basicamente supera o que fez como novato –, se firmou como um candidato ao prêmio de sexto homem da liga. Curiosamente, quando Dell Demps, ex-Spurs, conversou com o atleta, ele vendeu esse papel como uma interessante possibilidade a ser estudada pela jovem pretensa estrela. Manu Ginóbili seria o exemplo. Evans gostou da ideia – está colhendo frutos, agora, com o maior índice de eficiência de sua carreira. Podendo ser decisivo também:

Com Gordon mais uma vez afastado por contusão por cinco jogos, o ala-armador tem brilhado, com 20,2 pontos, 8,2 assistências e 5,6 rebotes. Uma dessas exibições foi especial para o atleta: no dia 23 de dezembro, ele ajudou o Pelicans a vencer por 113 a 100 o bom e velho Kings, em Sacramento. Foram 25 pontos e 12 assistências.

“Quandoe stava com a bola, ouvia o Isaiah Thomas dizendo o que ia fazer. Eu fazia a mesma coisa e ainda assim fazia a cesta. Mas você sabe: era apenas diversão”, disse Evans.

Brandon Knight, armador do Milwaukee Bucks.
O rapaz não teve dó alguma do arrebentado Los Angeles Lakers. Na última terça-feira, na despedida de 2013, usou o Staples Center como palco para o jogo de sua vida na NBA até aqui, marcando um recorde pessoal de 37 pontos –18 deles apenas num terceiro quarto devastador em que ele parava em qualquer ponto da quadra, arremessava e balançava a redinha.

Ok, considerando que um Jordan Farmar manco e o lento-quase-parando Kendall Marshall eram seus principais marcadores, a quantia pode não parecer muita coisa. Mas Knight estava batendo na pronta já. Nas sete partidas antecedentes, ele já havia estabelecido médias de 20,7 pontos, 6,0 assistências e 5,8 rebotes. O aproveitamento, está bem, foi de apenas 43% de quadra, mas já superior aos 40,1% que tem na temporada ou os 40,9% de sua carreira.

Knight: acima da média apenas na quina esquerda da quadra e na cabeça do lance livre. De resto? Aprendendo

Knight: acima da média apenas na quina esquerda da quadra e na cabeça do lance livre. De resto? Aprendendo

Sim, Knight ainda está longe de ser um grande arremessador, ou uma ameaça assustadora no ataque. Só tem 22 anos, porém, e pela primeira vez tem carta branca para criar e se virar na NBA. Vale o teste para o Bucks, um time que viu suas metas completamente despedaçadas já no primeiro mês de campanha,

Mais um do Bucks: Khris Middleton. O ala foi repassado de Detroit a Milwaukee como contrapeso na negociação de Brandon por Brandon (Jennings). O ala revelado pela universidade de Texas A&M era tido como um prospecto de potencial considerável por alguns scouts, mas não dos mais badalados. Depois de um ótimo ano como segundanista na NCAA, se recusou a entrar no Draft e viu sua cotação despencar na temporada seguinte, toda detonada por uma lesão no joelho. Dessa vez, não se importou e se inscreveu no recrutamento de 2012. Terminou selecionado pelo Pistons em 39º, já na segunda rodada.

Num elenco cheio de alas jovens, recebeu minutos mais na metade final da temporada e passou, francamente, despercebido. Ele ainda teve flashes na liga de verão de Orlando deste ano, mas Joe Dumars não se importou em cedê-lo para ter um armador que julga de ponta para comandar sua equipe.

Em meio a tantas lesões no Winsconsin – Carlos Delfino, coitado, ainda nem pisou em quadra –, Middleton teve sua chance e a agarrou firme. Agora ao lado de Giannis Antetokoumpo (que já pede há tempos um post só dele), vem formando uma dupla de alas de muito potencial. Somem aí o ala-pivô John Henson, e o senador Herb Kohl queria ver seu time vencendo agora. Mas pode ter ganhado muito mais que isso para o futuro.

Wesley Matthews, ala do Portland Trail Blazers.
Matthes ficou pê da vida quando soube do número 130 durante as férias. Era essa a sua posição no ranking  anual de melhores jogadores da liga que o ESPN.com publica.

“Meus amigos já estavam me provocando e me deixando animado para a temporada. Eu estava me preparando para voltar extremamente faminto, como se não tivesse comido um hambúrguer há várias semanas (nota do editor: : D).  Mas quando saiu o ranking da ESPN? Aquilo foi maluco. Aquilo foi puro desrespeito”, afirmou em entrevista ao The Oregonian.

Wesley Matthews, matando tudo de 3

Wesley Matthews, matando tudo de 3

Essa á frase de alguém fulo, totalmente fulo com tudo e todos. O ala levou para o pessoal. “Nunca me deram o benefício da dúvida na minha vida, então por que começariam agora?”, completou, numa pergunta retórica. Treinou individualmente com o assistente técnico Nate Tibbetts – que viajou até a cidade do jogador, diga-se –, trabalhou duro e tentou expandir seu jogo para além do rótulo de “bom arremessador de três pontos”.

O resultado a gente está vendo. É mais um que curte a temporada mais eficiente de sua carreira, matando acima da média da liga em praticamente todos os cantos da quadra – ainda que se destaque, mesmo, pela periculosidade nos tiros de longa distância, com 43,1% de suas tentativas.

Damian Lillard e LaMarcus Aldridge são os líderes da passeata ruidosa que faz o Blazers neste campeonato, mas Matthews, cheio de som e fúria, também faz valer o piquete.

Trevor Ariza, ala do Washington Wizards.
Se você for fazer um levantamento estatístico do quão eficiente o atlético Ariza foi durante a sua carreira, vai reparar que, do modo como está jogando hoje, ele só fez quando dirigido por Phil Jackson em Los Angeles, entre 2008 e 2009. Naquela época, ele também buscava um novo contrato, a primeira grande bolada de sua carreira.

Se a gente for descontar que fica difícil para Randy Wittman qualquer comparação com o Mestre Zen, sobra um paralelo para a versão 2013-14 de Ariza: sim, ele está novamente prestes a se tornar um agente livre. Tsc, tsc.

Descontadas as motivações que o ala possa ter, não dá para negar que ele esteja fazendo de tudo para ajudar o Wizards em sua tortuosa e tão aguardada trilha de volta aos playoffs do Leste. Em termos de índice de eficiência, só fica atrás do já imponente John Wall e de Nenê.

Da ocasião em que o Wizards chegou ao Rio de Janeiro, reconheço que o conselho publicado para o espectador presente na Arena HSBC era se concentrar na forma de arremesso de Martell Webster – e que para todos simplesmente ignorassem o que saísse de Ariza. Pois o ala deu um tapa na cara da sociedade crítica. Ele, que nunca havia acertado mais que 33,5% de seus chutes de três em sua carreira, elevou gradativamente seu acerto pelo time da capital aos mais que decentes 43,4% deste ano – sem diminuir a carga (são 5,8 disparos por partida).

E um rendimento desse faz toda a diferença. Pois o ala segue um personagem dinâmico em outras facetas do jogo, com sólidos números de rebote e assistências para sua posição e incomodando bastante nas linhas de passe.

Sobre o alto percentual de três pontos, o campeão da NBA em 2009 deu crédito a John Wall. “Ele sabe que estaremos correndo ao seu lado. Sabe aonde estaremos. Se a defesa se fechar, ele sabe tem a nós para recorrer e passar a bola para fora”, disse.

Por um punhado de dólares a mais, nada mal. Nada mal, mesmo.


Cultura “batalhadora” do Memphis Grizzlies fica sob ameaça após derrota no Oeste
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Giancarlo Giampietro

Tony Allen, the grit

“Grit & grind”.

Estou pensando até agora em qual seria a melhor tradução para a expressão eternizada por Tony Allen em Memphis. Virou sinônimo do basquete apresentado pelo Grizzlies nos últimos anos. Seria algo como “na raça” em português, essa coisa de “dar o sangue”, mas não sei bem se tem uma combinação desses termos que dê conta do que Allen quis dizer numa entrevista célebre em 8 fevereiro de 2011, após uma vitória na prorrogação sobre o Oklahoma City Thunder, por 105 a 101.

Nessa partida, o ala contribuiu com 27 pontos, cinco roubos de bola e três tocos, jogando por 40 minutos. Uma explosão estatística, porque era como estivesse tudo represado, mesmo. O veterano campeão pelo Boston Celtics não tinha um papel tão certo na rotação de Lionel Hollins, mas ganhou tempo de quadra considerável devido a uma lesão de Rudy Gay e uma suspensão para OJ Mayo.

“Só coração, afirmou naquelas entrevistas na saída de quadra. “Grit. Grind.”

E aqui estamos de novo. Ao pé da letra, isso poderia ser: “Grão. Moagem.” : )

Mas é claro que ele não estava falando sobre fazer café, né? Coloquialmente, tem algo a ver como “coragem, bravura” para um, “triturar, desgastar, encher o saco” para o outro. Aí as coisas começam a fazer mais sentido.

No fim, porém, a tradução exata nem importa. Basta assistir a Allen e seus companheiros em quadra, que você entende rapidinho. O ala é um dos defensores mais insuportáveis – para os atacantes, diga-se – de toda a NBA. Isso se não for o mais impertinente, mesmo. Com mãos e pés extremamente ágeis, adora colar nos componentes, fungando no cangote a toda hora, em busca da bola ou de um desequilíbrio. Um pitbull babando para todos os lados. Jogando com o coração.

Aos poucos, esse comportamento foi conquistando Memphis, uma cidade conhecida por seu espírito operário, brigador, raçudo. Saca?

Quando Allen usou essas palavras, consciente ou involuntariamente, deu o passo definitivo para se tornar uma figura cult para os torcedores do Grizzlies – sim, eles existem –, que vestem camisetas personalizadas com a face do jogador, gritam seu nome sem parar durante as partidas e se matam de rir com entrevistas malucas e tweets crípticos na conta aa000g9 –, de “Anthony Allen”  e o número 9, enquanto o excesso de zeros significariam para… Vai saber. A atitude do atleta também influenciou seus companheiros de time e se enquadrou perfeitamente com o modo como Hollins imaginava sua equipe. As coisas se encaixaram: plano tático, dedicação do elenco, apoio do público.

Uma sinergia que muitas vezes corremos o risco de ignorar, seja pelo distanciamento, de não viver exatamente o que se passa em uma determinada cidade, seja pela realidade ainda bastante incipiente do NBB, ou pela concentração apenas no que se passa em quadra. Mas não se pode ignorar de modo algum que, na liga norte-americana, há duas facetas para se avaliar, tanto o clube (esportivo), como a franquia (negócios). São raros os caros que combinam ambos com sucesso. O Memphis Grizzlies conseguiu: seu produto tem uma identidade competitiva e mercadológica.

Grit & Grind, Mephis, Grit & Grind

“Nós não blefamos”, também virou campanha durante os playoffs para o Grizzlies

Conseguiu e agora encara um período de férias que pode ser crucial para sua prosperidade.

O proprietário anterior, Michael Heisley, fazia de tudo para fingir que não era muquirana, mas cortava gastos sempre quando podia, na estrutura da franquia. O novo dono, Robert Pera, não esconde de ninguém que pretende instituir um modelo de administração rentável. Seu estafe não vai cometer nenhuma loucura financeira, confiando que, com a visão analítica de John Hollinger a alguns bons caçadores de talentos, poderá formar um time barato e, ao mesmo tempo, na ponta, sem jogar todo esse trabalho fora.

Essa visão será duramente testada agora: o xodó Tony Allen e o técnico Hollins são agentes livres; ao mesmo tempo, a diretoria do clube não tem intenção alguma de levar sua folha salarial para além do aceitável – leia-se, a folha salaria pode até exceder o teto estabelecido pela NBA, mas não pode subir tanto assim a ponto de ultrapassar a linha da chamada “luxury tax”. Se fizerem isso, não só teriam de pagar impostos, taxas para a liga, como deixariam de receber o dinheiro recolhido de outros gastões como Lakers, Nets e Knicks. Para não ter perigo, hoje bancam apenas a 25ª folha da liga – ou a sexta mais barata.

Depois da campanha que a equipe cumpriu no Oeste, com uma defesa fortíssima e um elenco que acabou enfraquecido devido a trocas para se livrar de salários, Hollins está em alta, no topo da lista de Clippers e Nets, dois times que sonham com o título e que podem inflacionar seu preço. Sabe-se que o treinador não desfruta da melhor relação com a nova administração, questionando publicamente sua fixação por estatísticas. Há quem diga também que seu estilo confrontador, contestador pode ser difícil de ser controlado internamente, criando problemas de relacionamento com seus jogadores – Zach Randolph, outro que não tem sua permanência garantida devido ao volumoso salário, já não teria tanta paciência assim. Mas a torcida (“a comunidade”) o adora. É uma situação delicada.

Keep calm como?

Vão ficar calmos como agora, com tantas incertezas?

E há o caso de Allen. O ala ganhou em média US$ 3,15 milhões nas últimas três temporadas. Uma bolada para qualquer profissional, mas bem abaixo de seu valor de mercado. Pensem que seu companheiro Tayshaun Prince levou US$ 6,7 milhões neste ano (e vai levar mais US$ 15 milhões nos próximos dois anos). Em Boston, seu ex-time, Courtney Lee foi pago com US$ 5 milhões. Caron Butler ganhou US$ 8 milhões. Rip Hamilton embolsou US$ 6 milhões. Dá para ter uma ideia. Imagina-se que ele e seus agentes estejam prontos para pedir um aumento para ele ficar no clube, que tem cerca de US$ 57 milhões comprometidos já para 2013-2014 – é o que está aqui, descontando a grana de Jerryd Bayless, que também deve se tornar agente livre, com a luxury tax prevista para algo em torno de US$ 70 milhões. Assinar com Allen e reforçar o ataque exterior com arremessadores, uma carência evidente nos mata-matas, cuidando para que os gastos no futuro também não saiam do controle.

“Eu nem entendo o lado dos negócios”, disse o ala em meio ao confronto com o Spurs. “Quando chegar julho, alguém vai ter de se sentar comigo e explicar. Tudo o que sei é que sou um Grizzly e acredito que vou ser um Grizzly no final. Eu sangro azul. Acho que eles vão me manter aqui. Se não fizerem, entendo. Mas eu nem penso sobre isso. Eu apenas jogo. Eu amo estar em Memphis. Amo a cidade. Espero ficar.”

Será que correriam o risco de desagradar aos seus torcedores permitindo a saída de Allen e Hollins? Será que o Grizzlies seria o mesmo time sem eles ou um deles? Essa seria apenas uma decisão romântica ou de negócios? Em Memphis, já temos prova de que os dois aspectos estão interligados. “

Eu já vi nosso time de dois modos. Nós éramos terríveis, e o apoio dos torcedores era bem ruim. E agora está no auge, nunca foi assim. Não quero voltar ao que era antes”, disse Mike Conley Jr., um dos preferidos e intocáveis da nova gestão – quando assumiu, Pera e alguns de seus principais dirigentes convidaram o armador, Marc Gasol e só para um jantar. “Acho que seria fantástico se pudermos estabilizar o que temos e apenas seguir em frente. Obviamente com Lionel e o que ele já fez, todos os rumores envolvendo Zach… Zach é uma parte desta cidade, Tony é uma parte da cidade. Não seria a mesma coisa sem eles aqui.”

*  *  *

Leitura imperdível para compreender em detalhes a mudança por que passou a franquia nos últimos anos: o glossário do Grizzlies (em inglês),  para aqueles que estavam chegando a Memphis de última hora nestes playoffs, assinado por Chris Herrington. É bem engraçado. O jornalista conta que ainda hoje é possível ver os torcedores usando uniformes de Allen Iverson, cara que disputou apenas (!) três partidas por lá até ser dispensado, embora ainda pudesse fazer isto:

 Tarantino e RodríguezOutros destaques são o iraniano Hamed Haddadi, que foi despachado para Toronto este ano e depois repassado para Phoenix (“I drop-step. I go around Shaq. I dunk that shit”) e o apelido que o ginásio do Memphis ganhou: The Grindhouse, apelido sugerido por um torcedor a Tony Allen no Twitter.

Grindhouse foi como se tornaram conhecidos os cinemas norte-americanos que rodavam os exploitation films em suas sessões, aqueles filmes apelativos, que nem toda família pode se reunir para ver – até por isso também foi o título do projeto nerd conduzido por Quentin Tarantino e Robert Rodríguez, que lançaram em 2007 dois-filmes-em-um, embora ao Brasil eles tenham chegado separados.

Neste caso, pensando no ginásio, a despeito da fisionomia de Haddadi ou das entrevistas bizarras de Allen, não há nada muito bizarro desta maneira, como a mulher com uma metralhadora no lugar de uma perna. Dá para voltar até mesmo ao sentido literal, de que seria a casa em que os oponentes são triturados. Certamente nenhuma equipe olhou sua tabela deste ano e acreditou que uma visita a Memphis seria tranquila e acolhedora.

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Este aqui seria o hino preferido de Tony Allen para os jogos do Grizzlies:


Técnico do Grizzlies faz apelo para clube segurar Rudy Gay e pede calma com estatísticas
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Giancarlo Giampietro

Rudy Gay decola

Nemm todos podem saltar como Rudy Gay, alerta Hollins

O Memphis Grizzlies está entre os melhores times da Conferência Oeste e de toda a liga, mas isso não impede que os rumores de possíveis trocas não rondem a franquia. Para desespero do técnico Lionel Hollins.

Na semana passada, começou uma forte especulação de que o ala Rudy Gay estaria disponível no mercado. Aí vocês sabem o que acontecem, né? Não demorou muito para que uns dez clubes demonstrassem algum tipo de interesse, desenhando então aquele ciclo vicioso: supostas propostas, supostas negações, comentários de jogadores sobre a boataria, um dirigente que fala anonimamente para colocar fogo na brasa, e lá vamos nós.

Hollins só quer que deixem seu time em paz. Pediu publicamente a sua nova diretoria que deixem o Grizzlies jogar até o final do campeonato e que tenham a chance de lutar pelo título com o que têm hoje em mãos – uma base muito sólida e entrosada, com um dos melhores quintetos titulares da liga.

O que pega é o seguinte: a franquia trocou de dono no ano passado e, aos poucos, a nova gestão vai arregaçando as mangas. O ex-agente Jason Levien assumiu o controle das operações de basquete e surpreendeu quando contratou o ex-analista da ESPN e supernerd John Hollinger como seu vice-presidente. Era de se esperar que tanto o gerente geral Chris Wallace como o treinador ficassem em uma situação desconfortável a partir daí.

Lionel Hollins

Não tirem o coach Hollins do sério

Se o time liderado por Levien está realmente empenhado em trocar Gay é uma informação que oficialmente ainda não está confirmada. A motivação por uma eventual troca se justificaria na redução de folha salarial futura – algo que, preparem-se, vai ser um tema recorrente para muitos times nos próximos dois anos, quando as punições para aqueles que extrapolam o teto salariam ficarão bem mais severas. Segundo os jornalistas locais, eles só topariam fazer uma transação caso recebessem jogadores jovens, bons e baratos em troca, com a intenção de manter o time competitivo e, ao mesmo tempo, sanar suas finanças.

O ala teria mais de US$ 50 milhões para receber nos próximos três anos e sua produção não justificaria esse salário colossal.

Só não digam isso a Hollins. Para ele, a importância de seu jogador vai muito além dos números.

Rudy Gay sempre chamou a atenção da, digamos, comunidade da NBA por seus atributos atléticos. É um ala de 2,05 m de altura, esguio e extremamente ágil, com uma impulsão de deixar muitos concorrentes com inveja. Bem dirigido, orientado, pode fazer desses atributos um pesadelo na defesa. “Não há muitos caras lá fora desse jeito. Ele pode atacar de costas para a cesta, arremessar do perímetro e pode bater de frente. Ele marca o LeBron James, ele marca o Kevin Durant e todos esses caras que são altos, fortes, rápidos e atléticos. Não temos outro jogador em nosso elenco com sua versatilidade. A maioria dos times não tem. Ponto final”, afirma Hollins.

Depois de avaliar o que o ala oferece a sua equipe, o treinador, então, desviou sua artilharia para criticar a fixação por estatísticas que vem tomando conta, no seu entender, da liga. Ele não se coloca exatamente contrário ao uso de dados complexos como suporte ao time, mas acredita que eles não são tão importantes assim para se construir um conjunto vencedor.

“Nós nos apoiamos muito em estatísticas, e acho que isso é uma tendência ruim”, diz. “Os números têm seu lugar. Só não podem ser um fim em si mesmo. Ainda estou tentando descobrir quando o Oakland Athletics venceu um campeonato com toda a análise estatística que eles têm. É preciso de talento.  Não importa o que fulano diga, há jogadores que fazem seu trabalho nos últimos seis minutos e há jogadores que fazem isso no primeiro quarto. Quando estamos falando de grandes arremessos, há apenas alguns caras que vão arriscar, que vão querer arriscar e têm a bravura e a coragem para isso. Porque você enfrenta muitas críticas quando erra o chute. Você tem de ser forte mentalmente e corajoso para arriscar esse chute.”

Opa. Certamente John Hollinger não ficou tão animado dom as declarações do treinador.

Como o dirigente novato reage a isso e o que sua trupe vai fazer com Rudy Gay pode ter um impacto decisivo na briga pelo título, em meio a uma disputa acirradíssima no Oeste.

*  *  *

Nesta temporada, para o deleite de Hollins, o Grizzlies demoliu um resumo estatístico (mas de outra natureza, ok). Foi em um confronto contra o Miami Heat, vitória por 104 a 86, em casa.

Ray Allen x Wayne Ellington

Wayne Ellington teve seus 27 minutos de fama contra o Miami Heat

O Heat havia preparado seu plano de jogo com o que apontava o scout: teoricamente, os rapazes de Memphis não matariam muitas bolas de três pontos, então que se concentrasse a defesa no jogo interior. Resultado? O time da casa encaçapou 14 chutes de fora em 24 tentativas (58,3%). Foi a maior quantia que o time teve em 345 partidas. “Eles são praticamente os últimos em cestas de três pontos ou em tentativas de três”, disse LeBron na ocasião. “Pagamos por isso hoje. Eles arremessaram muito bem.”

O ala Wayne Ellington, em especial, foi a grande surpresa daquela noite, marcando 25 pontos em apenas 27 minutos, matando sete de 11 chutes de fora. Ouch. “Acho que Ellington não vai conseguir mais entrar sem ser notado pela porta de trás”, disse Chris Bosh. “Não sabia que ele poderia chutar desta maneira. Agora sabemos.”

Tem vezes que realmente os números e o scout não vão servir para nada. 🙂

*  *  *

Agora uma estatística curiosa que Hollins certamente não vai se incomodar em ver: o Grizzlies desfruta de um sucesso incomum diante do Miami Heat, tendo batido o time da Flórida em três de quatro confrontos desde que LeBron e Bosh foram contratados em 2010. Taí um rival que os atuais campeões não querem ver nem de longe em uma eventual final.


Blake Griffin torce joelho e pode ser mais um desfalque para os EUA
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Giancarlo Giampietro

Dwyane Wade, Derrick Rose, Dwight Howard, Chris Bosh… Blake Griffin? Pode ser mais uma baixa para o Coach K.

Blake Griffin, Team USAO ala-pivô do Los Angeles Clippers torceu o joelho durante um coletivo da seleção dos Estados Unidos nesta quarta-feira, em Las Vegas, e partiu de imediato para a cidade californiana para passar por uma ressonância magnética. Não se sabe a gravidade ainda, mas a lesão aconteceu no joelho esquerdo, o mesmo que ele contundiu durante a série contra o Memphis Grizzlies pelos playoffs da NBA.

O ala-pivô Anthony Davisl, badalado calouro do New Orleans Hornets, foi convocado na hora pela direção da USA Basketball para completar o elenco norte-americano, que anda, de certo modo, carente de jogadores para o garrafão. A equipe enfrenta a República Dominicana em seu primeiro amistoso preparatório nesta quinta.

No caso de Griffin ser cortado, os outros jogadores que podem ser convocados por estarem na lista encaminhada para o COI (Comitie Olímpico Internacional) são os alas Eric Gordon e Rudy Gay.  Mas Davis seria o mais indicado no caso, apesar da inexperiência e da lesão que sofreu no tornozelo na semana passada em treino por seu clube.

De novo: não chega a abalar as chances de ouro dos EUA. Vejam o elenco dos caras.

Griffin havia assinado nesta quarta-feira sua renovação de contrato com o Clippers por cerca de US$ 100 milhões por cinco temporadas. Imagine agora o susto que levou o muquirana Donald Sterling, dono do clube, ao ouvir as más notícias.


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