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Arquivo : Ricardo Fischer

Ricardo Fischer aceita a pressão de mudar e liderar o Bauru
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Giancarlo Giampietro

Fischer, bem na foto

Fischer, bem na foto

Tem vezes que, fora a festa e a congratulação de jogadores, dirigentes, técnicos e fã – o que já é muita coisa –, um Jogo das Estrelas qualquer não serve para coisas mais práticas de quadra. Digo: não define muita coisa do ponto de vista esportivo, do que acontece na temporada regular de verdade.

Em Franca, no último fim de semana, porém, o prêmio de MVP da partida entre brasileiros e estrangeiros entregue a Ricardo Fischer teve um valor realmente simbólico e para além do troféu. Serviu para confirmar a ascensão de um jovem armador que vem cumprindo seu papel de modo mais que satisfatório comandando um time dominado por veteranos que, desde o momento que foi formado, jogaria por uma e só razão: títulos.

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Aos 23 anos, Fischer se assume em quadra como líder. Mesmo que, quando olhe ao redor, veja basicamente jogadores muito mais experientes, com longa rodagem em jogos internacionais, por clubes e a seleção brasileira. Para ele, não tem problema. É sua a missão, a responsabilidade de encaixar tantas peças talentosas – e valiosas –, na tentativa de, no próximo final de semana, conquistar o terceiro troféu em três campeonatos. A Liga dos Américas, no caso, para tentar se tornar o terceiro campeão continental em três anos consecutivos.

O Bauru enfrenta no sábado, no Maracanãzinho, o Peñarol de Mar del Plata, da Argentina, enquanto o anfitrião Flamengo encara o Pioneros de Quintana Roo, do México, pelas semifinais (confira a tabela e preços de ingressos). Neste duelo, o clube paulista vai ter de se testar novamente sem o ala-pivô Jefferson William, afastado do restante da temporada devido a uma ruptura no tendão de Aquiles. Um desfalque que muda alguns planos, é verdade, mas que não tira do time de Guerrinha o favoritismo, por conta de tudo o que eles fizeram até aqui: além de liderarem o NBB, com 23 vitórias em 25 jogos, já ganharam o Campeonato Paulista e a Liga Sul-Americana.

O Bauru de Fischer já venceu o Fla 2 vezes. Podem se reencontrar na final continental

O Bauru de Fischer já venceu o Fla 2 vezes. Podem se reencontrar na final continental

“Estamos acostumados com essa pressão. É algo que anima a gente, dá vontade de mostrar para os outros nosso potencial. Até agora não está atrapalhando”, disse Fischer ao VinteUm. “Estamos mostrando o motivo pelo qual temos o rótulo de favoritos. Espero que consigamos manter essa sequência na Liga das Américas.”

Para ajudar a equipe a chegar a este patamar, o armador precisou ajustar algumas coisas em seu jogo: menos pontos, mais passes. O tipo de sacrifício, aliás, que foi pedido para todos os jogadores de um elenco estrelado. “Preciso fazer mais que eles joguem, e está correndo tudo bem. Fiz um grande trabalho, no lado mental, porque é difícil. No ano passado fazia 15, 20 pontos. Agora tem jogo que faço 2, 5, mas não me importo.”

Veja a entrevista realizada durante o final de semana do Jogo das Estrelas em Franca, antes de Fischer entrar em quadra para ganhar o prêmio de MVP e superar não apenas os estrangeiros do NBB como as vaias do torcedor fanático local, perseguindo um bauruense. Isto é: o armador ainda é jovem, mas já construiu um nome, uma reputação. Veja, então, o que ele tem a dizer:

21: O Bauru faz uma grande temporada, conquistando tudo o que conquistou, mas agora parte para a fase mais difícil, decidindo a Liga das Américas e lutando pelo título do NBB. Justo agora, o time teve seu primeiro grande desfalque, com a lesão de Jefferson William? Qual o impacto dessa lesão?
Ricardo Fischer:
O impacto foi grande. Se pegasse o vídeo do jogo depois do que aconteceu, estávamos abatidos. Além de ser um grande jogador, é um amigo nosso, que a gente sabe que, numa fase final do NBB, chegando aos playoffs, e também com o Final Four do NBB, acabou se machucando. É muito ruim. Para nós, vai mudar um pouco de característica. Provavelmente o Rafael vai jogar de 4, com o Murilo de 5, por ter um pouco disso. Mas a gente perde um pouco.

É a velocidade, não?
Sim, a velocidade a gente perde. Além disso, ele desafoga um pouco até como lateral. Mas ganhamos em outras coisas, como no jogo interno, principalmente com o Murilo e o Rafael jogando de costas. O Alex também provavelmente vai ter de fazer o pivô em alguma parte dos jogos. Agora vamos nos ajustando. Montaram um time para isso, para não sofrer com jogador fora. Acho que vamos estar bem.

Jefferson é baixa para o Bauru

Jefferson é baixa para o Bauru

E o Wesley Sena (pivô de 18 anos que compõe o elenco)? Ainda está muito cedo?
O Wesley… Assim, está treinando bastante com a gente, entrando nos jogos. Claro que no Final Four a gente não pode esperar muito dele. Mas na sequência, nessa fase final do NBB para os playoffs, acho que pode ajudar, sim Com certeza vai ganhar mais minutos.

Você é um armador jovem, em termos de idade, ainda que já venha acumulando boa experiência nos últimos anos. Quando você recebe as notícias de tantas contratações, de veteranos de Seleção… Então como faz para ser o líder desses caras em quadra? É uma curiosidade que sempre tenho, sobre como funciona essa dinâmica.
É engraçado, mesmo. Eu já era um líder antes de eles chegarem, e neste ano continuou. É estranho. Fui capitão, levantei o troféu da Liga Sul-Americana e, você vê, sendo um dos caçulas do time. Eles me respeitam muito. Acho que o armador tem de falar muito dentro da quadra, mesmo, e eles me escutam. Principalmente por ser o armador, com outra visão. Isso é fenomenal. Ao lado de tantas estrelas, que jogaram as Olimpíadas, Mundiais, têm vários títulos, poder ser um dos líderes, é muito bom.

Fischer ainda pode atacar pelo Bauru: mas provavelmente a ação vai terminar em passe, com a quadra espaçada com chutadores

Fischer ainda pode atacar pelo Bauru: mas provavelmente a ação vai terminar em passe, com a quadra espaçada com chutadores

Por outro lado, imagino que, vez ou outra, no vestiário, eles podem pegar no seu pé também, né? De falar para o ‘moleque’ maneirar…
É… (Risos). Tem vezes que eles soltam o: “Calma aí”. Mas isso tudo que aconteceu foi bem natural, nada forçado. Todo mundo respeita. Pode até vir o Wesley, que é o mais novo do time, e a gente vai escutar e conversar.

E o que você ganha com esses veteranos ao seu lado? Um cara como o Alex. O que ele mais oferece no dia a dia de treinos, fora o nome, o respeito que pede dos adversários?
Cara, costumo dizer que o Alex é um monstro, mesmo. Como pessoa e como jogador ele teve um impacto gigantesco. Um cara que já ganhou tudo, já competiu em tudo, e nesses dias fez 35 anos, mas parece que tem uns 20 ainda, pelo vigor físico dele, pela vontade que tem de ganhar. Já podia ser alguém acomodado, jogando na dele, mas quer ganhar a qualquer custo. A gente aprende muito com isso, com sua experiência e também com as histórias que conta.

Na virada de uma temporada para a outra, você já via pistas, dicas de que um grande time estava sendo formado? Ou tudo isso te pegou de surpresa?
Por ser um armador, conversava muito com os diretores. E eles tinham essa ideia de trazer esses grandes reforços. Confesso que a surpresa foi o Robert Day e o Jefferson. Tínhamos já o Faber no time, que estava fechado, mas teve um problema pessoal e saiu. O Day foi uma novidade sensacional. Hoje temos um banco com Larry, Gui e outros caras que poderiam ser titulares em qualquer time. São caras que se completam, foi um time bem montado.

Quando soube queria todos esses jogadores como companheiro, as coisas mudaram para você na preparação para a temporada?
Muda bastante, porque no ano passado tinha mais protagonismo, tinha de buscar mais a cesta e ao mesmo tempo fazer o time jogar. Não preciso mais ir tanto para a cesta, agressivo como no ano passado. Preciso fazer mais que eles joguem. Acho que está correndo tudo bem. Fiz um grande trabalho, no lado mental, porque é difícil. No ano passado fazia 15, 20 pontos. Agora tem jogo que faço 2, 5, mas não me importo. Entendo qual a mudança que precisava ter. Para este ano, também trabalhei muito fisicamente.

Ganhando força, mas mantendo a velocidade

Ganhando força, mas mantendo a velocidade

Esse tipo de sacrifício é o que seria pedido para cada jogador, mesmo, com tantas contratações. Isso foi conversado com vocês antes de a temporada começar?
Foi tudo muito natural, mesmo, e acho que por isso que nosso time está tão bem. Todos os jogadores sabem que, para ganhar, precisariam abrir mão de algumas coisas. Todos entenderam isso, e não temos vaidade nenhuma, mesmo, por mais que algumas pessoas até nem acreditem. Se vou sair para o Larry entrar, estou dando o lugar para um grande jogador. Todos se respeitam, isso é a chave.

O favoritismo incomoda? A partir do momento que Bauru juntou este elenco, o nível de expectativa ficou altíssimo. Aí o time ganha o Paulista, ganha a Sul-Americana e lidera o NBB. Ao mesmo tempo, enquanto vai cumprindo com isso, cada resultado positivo, imagino, só faz crescer do outro lado, não?
Vem mais pressão. E isso vem, mesmo, desde o momento em que começamos a treinar. Todo mundo querendo saber como vai ser esse time, se vai ganhar. Estamos acostumados com essa pressão. É algo que anima a gente, dá vontade de mostrar para os outros nosso potencial. Até agora não está atrapalhando. Estamos mostrando o motivo pelo qual temos o rótulo de favoritos. Espero que consigamos manter essa sequência na Liga das Américas.

Sobre o estilo da equipe, de buscar muito o chute de três pontos. Sabemos que esse é um ponto discutido no basquete brasileiro há muito tempo. Talvez nem tanto o volume, mas a seleção de arremessos. De qualquer forma, lá fora, há uma tendência que isso cresça, mesmo. Para o Bauru, era esse o plano desde o início?
Acho que foi pensado, mas também teve o encaixe natural. Tem jogo em que chutamos 40 bolas, mas com um aproveitamento bom. A característica dos jogadores é essa. A gente não pode tirar. O que a gente conversa bastante é que, depois de estudar o jogo, vemos que alguns arremessos estão sendo forçados. Então a gente pode jogar mais interno, mas é uma característica que não dá para perder. O Rafael, por exemplo, é um jogador 5, que joga muito bem de costas, mas é um cara que faz corta-luz e pode abrir para o arremesso. O Alex pode jogar dentro e aberto também. Temos muitas armas. A gente procura trabalhar para liberar o arremessador, deixá-lo livre para matar.

Para fechar, queria perguntar como você está se sentindo na sua curva de aprendizado. No que pensa em melhorar daqui para a frente.
Tenho mais três anos de contrato, mas com cláusula para que eventualmente possa sair para a Europa ou para a NBA. Só no Brasil que não. O aprendizado foi esse de saber abrir mão do meu jogo ofensivo em prol da equipe. E fisicamente, mesmo. Na Seleção, acabei me machucando no Sul-Americano. E me foquei este ano no físico. Se voltar para a Seleção, para o Pan de Toronto, quero estar bem. É um trabalho em cima de resistência e força. Não sou um cara alto para a armação, então preciso ser veloz e forte. São coisas que eu percebi que precisava trabalhar, e neste ano já melhorei muito, mas ainda tem muito mais para ganhar, com um trabalho específico, com uma nutricionista e um preparador físico em Bauru, que trabalham sozinhos comigo.

E os planos para o futuro? Pensa em jogar na Europa, fora do país?
Penso, sim, em ir para a Europa. Ir para uma Espanha, jogar a Euroliga, acho que é o sonho de qualquer um. Mas estou feliz em Bauru, tenho esses três anos de contrato, assim como o resto do time. Então não precisa criar expectativas. O que tiver de acontecer, vai acontecer.


Na capital do basquete, duas ligas unidas
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Giancarlo Giampietro

Todo mundo junto em quadra

Todo mundo junto em quadra

Mais que qualquer enterrada ou arremesso do meio da quadra convertido – e, veja, bem, não há naaaada de errado com eles –, o fato mais positivo do fim de semana de Jogo das Estrelas do basquete brasileiro, em Franca, precede o evento em si: a mera união entre as duas ligas nacionais, a LNB e a LBF.

Alguém já deve ter dito por aí que as ideias mais proveitosas geralmente são as mais simples, né? Não é preciso inventar a roda todo dia. Aproximar as meninas dos rapazes poderia parecer meio óbvio, mas era algo que não havia sido feito antes. Até porque não se trata de uma  logística tão fácil. Requer um calendário coincidente, viabilização comercial, bufunfa etc. Mas que bom que eles tenham conseguido, e parabéns para quem teve a ideia.

A união das ligas obviamente contribuiu para que um dos maiores bancos brasileiros, o Bradesco, que já ajuda a CBB a pagar as suas contas, assumisse a condição de patrocinador master do evento, numa movimento bastante instigante. O Pedrocão foi envelopado com suas cores. A ver se o investimento pode realmente se expandir pela modalidade – e se, mais relevante, vai durar mais que um ciclo olímpico no qual o país é a sede do grande evento.

A parceria com a NBA também já rendeu mais três patrocinadores para a festa, registre-se – sem contar aqueles que já tinham vínculo com os dois campeonatos brasileiros. Essas marcas estavam expostas em telas de LED ao redor da quadra, em vez daquelas estruturas metálicas de sempre. A liga americana também enviou a Franca o ex-pivô Horace Grant, tetracampeão, para ser um dos jurados do concurso de enterradas. É de se esperar mais ações nessa linha. Aos poucos, esse acordo, vigente há menos de cinco meses, vai propiciando frutos.

*   *   *

Nesta sexta-feira, foi bacana levar para a quadra ídolos do passado de Franca – Fausto Gianecchini, Chuí, Edu Mineiro, Paulão e Robertão. Assim como levar Hélio Rubens como jurado, para aclamação popular. Em termos de apelo com a galera, porém, parece que Helinho ganharia eleição para presidente na cidade.

*   *   *

Nos eventos, quem roubou a cena no Pedrocão foi o ala Maxwell, do Brasília. O jogador de 23 anos era o único, hã, baixinho (1,97 m de altura) no torneio de enterradas, concorrendo com três pivôs: Gerson, do Mogi, Mims, de Uberlândia, e o carismático André Coimbra, figurão aparentemente com status cult na capital brasileira do basquete. Coimbra venceu a disputa após cinco enterradas – mas dá para dizer que tenha sido uma decisão caseira do corpo de jurados. Normal, pelo clima do ginásio.

No torneio de três pontos, Marcelinho Machado mandou ver, a despeito das vaias que ouviu – os demais homenageados foram Ricardo Fischer, Robert Day e, claro, Nezinho. Acho que a torcida deu uma exagerada nessa. O veterano tem ainda mecânica muito rápida, além da facilidade para entrar em ritmo. E dá para dizer que ele curte uma plateia hostil.

*   *   *

Jay Jay é claramente um  prospecto de NBA enquanto mascote. Ele bem que poderia ter assumido a vaga aberta no Philadelphia 76ers nesta temporada – se fosse Sam Hinkie, teria até mesmo gastado uma escolha de segunda rodada no Draft por ele. Jay Jay é profissa.


Bauru também sabe vencer um jogo de nervos
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Giancarlo Giampietro

O Bauru de Ricardo Fischer comandou o placar em mais um jogo tenso no Rio

O Bauru de Ricardo Fischer comandou o placar em mais um jogo tenso no Rio

Como parece acontecer em todo anunciado grande jogo do NBB, aquele que gera expectativa por parte de todos os envolvidos com o campeonato – e, não, apenas de duas torcidas –, o duelo entre Flamengo e Bauru desta terça-feira foi nervoso.

Bastante equilibrado, e nervoso, no qual o clube paulista saiu vencedor por 84 a 77, mostrando que pode render nas mais diversas situações, chegando a nove triunfos consecutivos.

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Sim, essa coisa da chiadeira não é a perspectiva mais original para se abordar um confronto tão interessante como esse, com os atuais bicampeões encarando o time que se reforçou tanto, mas tanto, que se tornou obrigatoriamente o principal candidato a derrubá-los. Jajá coloco um pouco mais de colher aqui. Antes, se faz necessário bater na mesma tecla. Muito já se escreveu a respeito disso, mas, enquanto a medição da reclamação dos técnicos e jogadores – principalmente o dos técnicos – se manter em altos decibéis, não tem como não registrá-la. É demais, gente.

Os árbitros cometem erros?!

Esperem um pouco aí, enquanto dou uma pausa para me restabelecer depois de bombástica informação.

(…)

Pronto: água com açúcar tomada. Qualquer coisa, a maracugina já está a postos também.

A arbitragem no Rio de Janeiro deixou passar muitos lances. Teve, por exemplo, um ataque em que Gui (acho) levou o toco de Benite na zona morta, no primeiro tempo, num ação que pareceu limpa, na bola. No segundo tempo, Jerome Meyinsse foi subir para um bloqueio e tocou no aro, impedindo uma bandeja. Interferência clara, e nada foi marcado.

Alex: 17 pontos, 10 lances livres e 8 lances livres batidos... O empenho de sempre em grandes jogos para o veterano

Alex: 17 pontos, 10 lances livres e 8 lances livres batidos… O empenho de sempre em grandes jogos para o veterano

Percebam que nem citei o time dos atletas acima. Porque não importa: os erros acontecem naturalmente, contra e para ambos os lados, de modo que se nivelam ao estouro do cronômetro. Nessa partida em específico, não sei bem se houve uma atrocidade, ou uma conduta tendenciosa que justificasse tanta pirraça. A não ser que a pressão seja algo consciente, para tentar ganhar o benefício da dúvida mais para a frente, num momento de decisão.  Não seria de forma alguma algo aceitável, mas sabemos que faz parte do jogo. A relatada alta temperatura na Arena da Barra também poderia ser um fator para esquentar a cuca, claro. Mas esse costuma ser o padrão de tensão das partidas por aqui, independentemente do funcionamento do ar-condicionado.

Além do mais, cobrar tanto os homens do apito pode ser mero escapismo. Afinal, ninguém aqui, aí ou ali acredita piamente que Bauru e Flamengo tenham feito um jogo perfeito*, né? Não quando temos 29 turnovers somados e um aproveitamento nos arremessos bem abaixo dos 50%. O Fla, por exemplo, fez um ataque para 183 pontos e terminou com 77 (42,1%).

(*PS: Ninguém é perfeito. Jornalista, jogador, torcedor, técnico e juiz. Será impossível conviver com uma realidade dessas?)

Atrás no placar o tempo todo, os rubro-negros, naturalmente, foram aqueles que mais reclamaram – creio, aliás, que muito mais. Obviamente não ajudou em nada o fato de o time de José Neto ter perdido dois dos últimos três jogos, situação com a qual não estão nada habituados. “Não estávamos tão concentrados e isso nos prejudicou. Bauru soube controlar o jogo e é muito difícil você virar uma partida atuando diante de uma equipe tão qualificada. Não estamos em um bom momento na competição, mas temos que botar a cabeça no lugar e tentar consertar os erros para os próximos jogos”, disse Gegê.

Nas entrevistas pós-jogo, ainda mais depois de tanta tensão em quadra, é difícil colher uma declaração tão boa como essa, via site oficial da LNB. O jovem armador flamenguista resumiu objetiva e precisamente o que se passou (ou o que se passa) em quadra com sua equipe. Se a cabeça não está no lugar, as coisas ficam mais complicadas, mesmo, especialmente contra o único rival do NBB que lhe pode fazer frente no número de atletas “selecionáveis” – ao menos levando em conta os nomes constantes nas listas de Rubén Magnano e sua comissão.

E aí, nesse jogo de nervos, o clube paulista encontrou mais uma oportunidade para comprovar sua força. O Limeira de Dedé e seu batalhão de armadores é o líder do NBB no momento, com apenas um revés, e vem de mais uma grande vitória. Mas é muito difícil apontar outro favorito ao título que não Bauru.

A forma como a partida se desenvolveu só reforça essa impressão. No papel e também pela abordagem que resultou nos títulos do Paulista e da Liga Sul-Americana, sabemos que a equipe de Guerrinha está construída para vencer pelo ataque. O potencial ofensivo em seu elenco é absurdo, com oito atletas que podem bater a marca de 20 pontos com tranquilidade. Caras que, colocados num time de menor orçamento, poderiam ser a principal referência.

Contra os rubro-negros, porém, qual era a preocupação? Ricardo Fischer conta: “Era um confronto direto e sabemos o quanto é difícil bater o Flamengo fora de casa. Viemos com uma proposta de baixar a pontuação deles e conseguimos. Empurramos o Flamengo para baixo”. Objetivo alcançado – o que, ironicamente, rendeu ao seu time uma folguinha como melhor ataque do NBB, superando os cariocas em casas decimais.

O Bauru tem em seu perímetro atletas ainda mais ágeis que que os do Fla – ainda mais quando estão juntos Alex, Larry e Gui (num excelente segundo tempo). Velocidade e agilidade: é para isso que o basquete se voltou, e os quatro líderes do campeonato nacional têm esse ponto em comum. A presença de Jefferson William na rotação de pivôs também dá mais leveza ao conjunto paulista. O ala-pivô, aliás, fez uma grande atuação, mexendo bem a bola, correndo para valer, enfrentando um páreo duríssimo contra Herrmann e Olivinha.

Jefferson jogou muito contra sua ex-equipe, dominando Herrmann

Jefferson jogou muito contra sua ex-equipe, dominando Herrmann

No Rio, Jefferson e seus companheiros não promoveram exatamente um abafa, não executaram uma defesa massacrante, mas conseguiram limitar as infiltrações de Nicolás Laprovíttola, algo essencial. Marquinhos, é verdade, conseguiu jogar lá dentro, mas as linhas de passe estavam mais apertadas. E aí temos arremessos de longe bem fiscalizados (7/30, 23,3%).

Do outro lado, o volume nos tiros de fora bauruenses seguiu elevado, com 29 tentativas, contra 30 de dois pontos. Seu aproveitamento foi bem maior (37,9%, rendendo 12 pontos a mais também) neste fundamento. Mas não se pode ignorar a vantagem dos visitantes nos lances livres, com nove pontos a mais (21 a 12), em cestas preciosas conseguidas depois de infiltrações de Fischer, Alex e da busca do jogo interior com Hettsheimeir, consistentemente mais efetivo em seu retorno ao Brasil quando mais perto da cesta.

Não foi um banho de basquete. O Flamengo se aproximou do placar de modo perigoso em diversas ocasiões no segundo tempo, inclusive nos minutos finais. Faltou, no entanto, na hora de concluir a virada, a lucidez e a frieza que Gegê mencionou. É algo obrigatório para enfrentar um time do porte de Bauru: concentração, mais na bola, muito menos no apito.


A conquista sul-americana de Bauru em números
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Giancarlo Giampietro

Festa em Bauru. Já está virando recorrente

Festa em Bauru. Já está virando recorrente

Vamos com um apanhado estatístico do primeiro título continental da história de Bauru, que arrasou Mogi das Cruzes na final da #LSB2014 nesta quinta-feira, para termos uma ideia do quanto os caras sobraram nessa campanha:

281 – Os arremessos de três pontos em oito jornadas, com média assustadora de 35,1 por jogo. O aproveitamento foi de 38,1%. Para comparar, eles tentaram 23 chutes de fora a mais do que as bolas dentro do perímetro, zona em que tiveram aproveitamento de 62%. Em lances livres, foram 134 no geral, média de 16,7 por jogo.

169 – O saldo de pontos de Bauru no torneio, com média impressionante de 21,12 por partida. Avassalador. A maior diferença foi estabelecida na semifinal contra o Malvin, do Uruguai: 46 pontos. O jogo mais ‘apertado’? Triunfo sobre Brasília na abertura da segunda fase, com 95 a 87. Se for para contar apenas o Final Four, Bauru venceu os últimos dois jogos por uma média de 36 pontos. Para comparar, o vice-campeão Mogi terminou a competição com 40 pontos de saldo.

Bauru movimentou bem a bola; Larry virou sexto homem

Bauru movimentou bem a bola; Larry virou sexto homem

164 – O total de assistências da equipe em toda a campanha, em média superior a 20 por jogo. Excelente: 61,4% de suas cestas de quadra foram assistidas. Isso sem contar os passes que resultam em faltas e lances livres.

93,5 – A impressionante média de pontos por jogo. Apenas em uma ocasião o time ficou abaixo dos 80 pontos: na decisão contra Mogi, na qual também fez sua melhor defesa, limitando o adversário a 53 pontos. Mogi teve média de 78,3 pontos.

Gui, num raro momento de ataque agressivo em direção ao garrafão; Bauru priorizou o chute de fora

Gui, num raro momento de ataque agressivo em direção ao garrafão; Bauru priorizou o chute de fora

70,2% – Quando jogou perto da cesta, Rafael Hettsheimeir foi um terror para os adversários, matando 33 de 47 bolas de dois pontos. Em arremessos exteriores, ficou num 33,3% que não impressiona (12/36), mesmo sendo ele um pivô. Jefferson foi outro grandalhão que, no fim, não teve uma média tão boa assim lá fora: 32,7% (18/55).

57 – Os valiosos minutos recebidos pelo jovem pivô Wesley Sena, se aproveitando das sacoladas que sua equipe dava para entrar na festa. O promissor pivô tem apenas 18 anos e disputou sua primeira competição internacional adulta. Somou 25 pontos e sete rebotes, convertendo 10 de 19 arremessos (52,6%), com 1/3 de longa distância. O armador Carioca, de 21 anos, extremamente atlético, mas enfezado demais, ficou em quadra por 36 minutos.

56,9% – O aproveitamento de Robert Day em chutes de três no torneio. O gringo contemplado pelo Bolsa Atleta e que nada tem a declarar a respeito foi o único que, entre os que tiveram maior volume de jogo, superou sua pontaria de dois pontos com os pombos sem asa  (56,9% x 53,8%).

Murilo nem jogou direito a Sul-Americana, e Bauru atropelou mesmo assim

Murilo nem jogou direito a Sul-Americana, e Bauru atropelou mesmo assim

32 – Um jogador do calibre de Murilo disputou apenas 32 minutos no torneio, ainda limitado por problemas no joelho. Em cinco partidas no geral, ele marcou só 9 pontos, com… três arremessos de longa distância, em três tentativas. Fora isso, foram três arremessos de dois, todos errados.

5 – Todos os cinco titulares na maior parte da campanha terminaram com média de pontos superior a 10 por jogo. De cima para baixo: Robert Day (16,6), Rafael Hettsheimeir (16,5), Alex (13,3), Jefferson William (11,0) e Ricardo Fischer (10,8). Larry Taylor, que integrou o quinteto inicial na decisão contra Mogi, no lugar de seu compatriota norte-americano, terminou com 9,0. Gui Deodato teve 7,8.

2 – O atlético Gui Deodato tentou duas vezes mais arremessos de três do que de dois pontos: 30 x 15. Se levarmos em conta que ele matou módicos 30% dos disparos exteriores, é uma pena, mesmo, que ele não tenha expandido seu jogo. Ainda são raras as ocasiões em que vai por a bola no chão e partir para a cesta, sem explorar sua velocidade, agilidade e impulsão. No geral, ele cobrou apenas 14 lances livres em 163 minutos.


Tyrone para todo lado, e Mogi elimina campeão Brasília
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Giancarlo Giampietro

Acelera, Tyrone. Seja no NBB, ou na Sul-Americana. Ou no rahttps://vinteum.blogosfera.uol.com.br/wp-admin/post.php?post=7819&action=edit#chão no parque...

Acelera, Tyrone. Seja no NBB, ou na Sul-Americana. Ou no rachão no parque…

É comum aqui no blog convidar o leitor para respirar um pouco antes de se eleger o destaque de uma partida, já que a tradição nacional é correr sempre em direção ao cestinha. Na vitória do Mogi sobre o Brasília, por 92 a 70, nesta quarta-feira, para definir a classificação da equipe da casa e também do Bauru à fase final da Liga Sul-Americana, porém, isso certamente não foi necessário.

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Para quem viu o jogo, não há como apontar outra figura que não o norte-americano Tyrone Curnell, um ala-pivô que botou fogo na partida, para deixar a torcida mogiana ainda mais empolgada. É aquilo: eles animam os jogadores, mas os atletas também podem fazer sua parte neste ciclo e fazer as coisas pegarem fogo de vez.

Ao ataque, mais uma vez

Ao ataque, mais uma vez

Foi Tyrone para todo lado. Ele fez tudo o que era esportivamente possível para isso, como suas estatísticas comprovam. Mais do que os 19 pontos (mesma quantia de Filipin, quatro abaixo de Shamell), o que impressiona são os sete roubos de bola, os cinco rebotes e as cinco assistências. Foram 33 minutos de pura energia para o nova-iorquino.

Diante de um Brasília sem pernas, com rotação novamente enxuta devido aos problemas físicos, foi quase injusto o quanto o camisa 88, ex-queridinho da torcida do Palmeiras, correu e incomodou demais seus adversários. Nas suas recuperações, chegou a desarmá-los em embate frontal, mano a mano, mesmo, atacando o drible de um Guilherme Giovannoni ou de um Darington Hobson com voracidade, impulsionando o o jogo em transição. Em outras ocasiões, ele saía em disparada para evitar o contragolpe.

Na imprensa americana, eles costumam usar um termo bem legal para definir esse tipo de comportamento: “motor”. Quando o atleta se empenha tanto em quadra, tem o motor potente. Nesta quarta, Tyrone jogou com um V8 bem barulhento, arrancando com tudo mesmo em meia quadra, para apanhar rebotes ofensivos e forçar muitas faltas (nove lances livres no total foram batidos).

Acelera, Tyrone. Seja no NBB, ou na Sul-Americana. Ou no rachão no parque...

No NBB, correria de Tyrone agora é de Mogi

O que não quer dizer também que ele seja o melhor dos carros, um Mustang em quadra. Tanta dedicação serve também para compensar a falta de refinamento em seu jogo. A mão esquerda é praticamente inexistente. O arremesso de longa distância tem mecânica estranha e não é dos mais confiáveis, ainda que ele esteja trabalhando em cima disso. Entre suas primeira e segunda temporadas pelo Palmeiras, subiu de 58,1% nos lances livres para 79,4% e de 27,2% nos arremessos de três para 36,9%. Em duas rodadas pelo Mogi no NBB7, tem respectivamente 80% e 50% – mas é muito cedo ainda para constatar um novo e significativo salto desses. No Paulista, por exemplo, em 14 partidas, teve 73,7% e 37,5%.

Para ficar em números do estadual, porém, o que mais chama a atenção são os 6 rebotes por jogo e as 2,14 roubadas. Que seguem, vá lá, o padrão de sua carreira no NBB: 5 e 1,5, respectivamente. Esses são dados que reforçam o estilo do americano, uma pegada que vai conquistar sua nova torcida claramente.

Essa entrega e sua capacidade atlética propiciam ao técnico Paco García também uma bem-vinda versatilidade. “Gosto muito assim”, disse ao VinteUm, durante a cerimônia de apresentação do campeonato nacional. “No ano passado, já construímos o time desta forma. Com exceção do Gustavinho, que é um armador-armador, e do Paulão, que é um cinco-cinco, o resto são todos jogadores polivalentes. O Filipin, o Tyrone, o Alemão, o Gerson e outros… São jogadores que nos dão muitas opções. Se você quer um time grande e forte, pode jogar com atletas de mais de 2,00 m. Se quer um time pequeno e rápido, dá para jogar com o Tyrone como 4. Pois cada jogo é um jogo, e você tem de se adaptar à situação. Se vai pedir mais pressão, mais posse e acho que o nosso time  pode ser forte desse jeito.”

O interessante é que, com Tyrone em quadra, num time mais baixo ou alto, o espanhol sabe que aceleração não vai faltar.

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Shamell: e o joelho não era o que mais doía

Shamell: e o joelho não era o que mais doía

O cestinha do Mogi, de todo modo, também mereceria uma atenção especial pelo que aconteceu em quadra também além de seus 23 pontos. O veterano ex-Pinheiros deu um susto danado na torcida quando caiu em quadra com seu pé esquerdo em cima de um adversário, virando a perna num ângulo preocupante. Ficou estendido sobre o tablado por um tempinho, recebeu atendimento e saiu mancando. A equipe médica detectou uma hiperextensão no joelho, mas nada grave. Quando voltou do vestiário, o ala subiu, então, numa bicicleta, para se manter quente. Voltou a jogar no quarto período.

Já seria o suficiente para render manchetes. Aí que, ao final da partida, em entrevista ao SporTV, Shamell se mostrava bastante emocionado. Mas não tinha nada a ver com a questão médica que havia acabado de superar. Ele revelou que, na noite anterior, havia perdido seu sogro, falecido. “Fiquei com meus filhos chorando a noite toda. Mas nessas horas tem de vir para cá, jogar”, disse. No fim, o jogo era para extravasar. Com a vaga assegurada.

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Mais cedo, o Bauru venceu o Comunikt, do Equador, por 110 a 83. Foi uma partida relativamente equilibrada até o início do terceiro período, quando a equipe paulista desgarrou, assim como havia acontecido na véspera, fazendo 27 a 10. A equipe de Guerrinha apostou novamente num volume altíssimo nos arremessos de longa distância, com 37 de 69 tentativas. Novamente mais do que a metade do total (53,6%). O aproveitamento foi de 54% no geral, com 20 cestas.

O pivô Rafael Hettsheimeir marcou 34 pontos em 32 minutos, na sua melhor atuação desde que retornou da Espanha, com 13-19 (68%) nos arremessos de quadra, sendo que, nas bolas de dois pontos foi praticamente impecável, com 10-12. Todos os cinco titulares anotaram um mínimo de 12 pontos. Outro dado: para as 38 cestas de quadra bauruenses, ocorreram 31 assistências – 13 na conta de Ricardo Fischer.


Garotos do Bauru assumem o comando em vitória sobre o Flamengo
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Giancarlo Giampietro

Bauru campeão

Garotada do Bauru, campeão da LDB 2013, pede passagem

Há um aspecto interessante na vitória do Bauru sobre o Flamengo por 89 a 74 neste sábado pelo NBB 5: o rubro-negro perdeu definitivamente sua aura de imbatível construída durante um primeiro turno memorável. Isso não quer dizer também que não seja um dos favoritos ao título, como sempre foi. Significa apenas que, nos playoffs, um adversário mais confiante poderá acreditar em chance de vitória.

Mas o principal ponto, pensando no basquete brasileiro de um modo geral, além do campeonato, é o modo como se desenvolveu a divisão de tarefas na equipe paulista. Acomodados em demasia durante boa parte da temporada em torno de sua tropa de veteranos americanos, ela dessa vez venceu liderada por dois de seus jovens talentos nacionais, o ala Gui Deodato e o armador Ricardo Fischer, dois campeões da Liga de Desenvolvimento, nosso campeonato de aspirantes como avaliou dia desses o Guilherme Tadeu, do Basketeria.

Vamos abordar em breve com muito mais profundidade essa questão, levantando alguns dados interessantes, mas, de supetão assim, é claro que os times de elite no país não vêm se esforçando muito em integrar jovens talentos em elencos com a necessidade de acumular uma vitória depois da outra – exceção, clara, feita a Franca, ao progresso do menino Lucas Dias no Pinheiros e… Bem, aguardem.

Contra o Fla,  foi a vez de a molecada virar protagonista, ainda que, talvez, de modo involuntário, uma vez que Jeff Agba e o Fischer mais velho foram desfalques. “Foi uma vitória diferenciada por todo potencial do time do Flamengo e pelas nossas dificuldades por não contarmos com alguns jogadores”, disse Guerrinha.

Gui anotou 21 pontos, seguido pelos 20 de Ricardo. Melhor ainda: os dois descansaram pouco mais de 1min30s, numa prova de sua relevância na partida, castigando a defesa adversária do perímetro. Juntos, converteram 9 de 15 disparos de três pontos, sendo responsáveis apenas neste fundamento por 30% da pontuação total de sua equipe.

(Agora pausa para um longo parêntese…

O quanto isso é saudável, entretanto? Vale matutar: Guilherme é um dos jogadores mais explosivos que você vai encontrar no campeonato e não pode ficar tão estacionado assim na linha de três pontos. Em 38min25s de ação, ele arremessou dez vezes de fora e não cobrou sequer UM lance livre, num saldo lamentável. Um jogador atlético feito ele deveria ser – e usado de modo – muito mais agressivo, em vez de se tornar apenas um spot up shooter. Lembrem-se de que estamos falando do bicampeão do torneio de enterradas!

É preciso saber o que acontece: se o plano de jogo não proporciona jogadas de maior eficiência para o garoto, se o ala ainda se sente inibido, desconfortável em usar o drible em direção ao aro, ao garrafão… Uma não necessariamente exclui a outra. Mas é uma situação que pede um reparo urgente. Imaginem se Bauru entrasse em quadra com um Guilherme atuante em infiltrações? O quão difícil seria para os oponentes estabelecer uma defesa equilibrada diante de Larry, Ricardo, Pilar e Gui levando a bola, atacando de todos os lados?

Em entrevista ao Fernando Hawad Lopes, do Bala na Cesta, para constar, Guerrinha disse o seguinte: “Quanto ao Gui, com certeza vai ser um dos grandes jogadores do Brasil. Estamos fazendo um trabalho progressivo com ele e ele está crescendo muito”.

Enfim, chega de digressão. As bolas de três pontos dessa vez caíram de montão, os garotos brilharam, e segue o texto…)

Ricardo, atuando em dupla armação ao lado de Larry, ainda contribuiu em outros aspectos, com seis rebotes e três assistências, sendo o jogador mais eficiente de seu time, com 22 de índice, um a mais que o sempre subestimado Henrique Pilar (13 pontos, 6 rebotes, 4 assistências e 4 roubos de bola).

Legal também ver Andrezão, outro campeão de nossa D-League, herdando alguns minutos de Agba. Com média de apenas 8,4 no campeonato, o jovem pivô dessa vez passou quase 22 minutos em quadra, com sete pontos e seis rebotes, quatro deles preciosamente ofensivos, e acertou três dos quatro arremessos  que lhe delegaram. Ativo na defesa, também tomou a bola duas vezes de seus oponentes.

É claro que, quando voltar, Agba tem de ser explorado – ele causa estragos por aqui. Claro que o principal homem do time ainda é Larry, seu jogador mais completo e qualificado. Mas vencer o Flamengo no Rio de Janeiro com atuações expressivas da trinca do “Expressinho” mostra que o momento de se abrir passagem para os rapazes esteja bem próximo.

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Podem ter certeza de que tanto Gui como Ricardo estão nos planos de Rubén Magnano para esta temporada. Resta saber para qual grupo: o da seleção de novos que será formada para a disputa de amistosos na temporada, ou o principal, que vai encarar a Copa América. Tudo vai depender de quem se apresenta da NBA e da Europa, além do grau de confiança do argentino especificamente nesses dois garotos. Gui jogou o Sul-Americano ano passado, enquanto Ricardo foi pinçado para treinar diariamente com os pesos pesados.


Desfalcado, São José vence 5º jogo em Bauru, vira e repete final do Paulista contra Pinheiros
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Giancarlo Giampietro

Algumas notas depois da vitória do São José por 100 a 88 sobre o Bauru, nesta quinta-feira, fora de casa, fechando as semifinais do Campeonato Paulista masculino. O clube do Vale do Paraíba repete a final de 2011 contra o Pinheiros. No ano passado, o clube da capital venceu por 3 a 1 a série decisiva, comemorando o título na casa do adversário.

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Para se classificar, São José venceu três partidas consecutivas contra a equipe que teve a melhor campanha da primeira fase. Foi também a segundo confronto consecutivo em que o time precisou ir ao quinto jogo para passar de fase – jogando agora sem seu principal atleta, o pivô Murilo, e sem contar também com os alas Dedé e Chico. Todos lesionados.

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Um fato bem notado pelo chapa Fernando Gavini: Jefferson William não jogava desde a série contra Franca, na qual fez a cesta da classificação a dois segundos do fim. Voltou neste quinto jogo como se não tivesse parado e esfriado em nenhum momento. Afirmou na entrevista ao repórter da ESPN Brasil que está se sentindo bastante confiante, bem. Pela pontaria na partida, não havia dúvida sobre isso: anotou 25 pontos, contando também com uma generosa contribuição de seus marcadores. O ala-pivô ficou livrinho da silva em diversas ocasiões no perímetro para arremessar com muita tranquilidade.

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O armador Fúlvio jogou muita bola nesta quinta. Foram 24 pontos e sete assistências, assumindo mais responsabilidades ofensivas devido aos desfalques do time. Quando marcou sete pontos em menos de três minutos aproximadamente, estava claro que mandava um recado aos seus companheiros e também aos torcedores e jogadores adversários: sua equipe, aliás, não ficou atrás no placar em nenhum instante, salvo engano. O norte-americano Andre Laws e o jovem Ícaro também foram importantes para dar suporte ao armador principal, ajudando na condução de bola, permitindo que ele arremessasse bem posicionado, com precisão. Em algumas posses de bola, empolgado até demais, acabou forçando a munheca. Mas, no geral, foi muito superior ao olímpico Larry, que fez uma partida muito fraca.

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A equipe de Régis Marrelli repetiu novamente sua estratégia nada convencional: investir muito, mas muito mesmo nos chutes de longa distância. Em Bauru, realmente forçaram a barra, tentando mais bolas de três pontos (29) do que de dois (24), segundo estatísticas online fornecidas pela federação.  Dessa vez, porém, as bolinhas caíram: excepcional aproveitamento de 48% – algo muito difícil de se sustentar, porém, em longo prazo. Algo que também não deu certo em sua passagem pela Venezuela pela Liga Sul-Americana.

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O Bauru, por sua vez, teve um desfecho de série bastante decepcionante. Com seus quatro norte-americanos e algumas promissoras revelações, o time de Guerrinha esteve desconjuntado em quadra, atacando sem consistência ou ritmo algum. Seus atletas tentaram muitas jogadas individuais, buscando o garrafão com pouca inteligência, enfrentando uma defesa que se fechou bem em muitos momentos. O pivô Jeff Agba, por exemplo, pecou demais em sua leitura de jogo. Na maioria das vezes em que jogou de frente para a cesta, atacando Deivisson da linha de lance livre, conseguiu pontuar com facilidade. Inexplicavelmente, porém, ele abriu mão desses ataques para atuar de costas para a tábua, virando aí uma presa fácil para o oponente – muito mais alto e forte.

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Deivisson, aliás, teve uma atuação que deve lhe valer mais tempo de quadra no futuro. O pivô realmente anulou o norte-americano, ocupou espaços e ajudou a congestionar a zona pintada, dificultando as ações de Larry, DeAndre Coleman e Pilar, jogadores que têm nas infiltrações seu carro-chefe ofensivo. No ataque, seu corpanzil também foi importante para dar mais liberdade a Fúlvio quando armado o pick-and-roll. Larry, Gui e Fernando Fischer apanharam bastante para tentar se livrar do choque com uma muralha dessas.