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Arquivo : Pau Gasol

Vitória dramática sobre Espanha é decidida, literalmente, por detalhes
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Giancarlo Giampietro

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Sabe esse papo de que, no esporte de alto nível, os detalhes decidem o jogo? Pois é: na vitória dramática-haja-coração do Brasil sobre a Espanha nesta terça-feira, por 66 a 65, foi literalmente decida em sua cesta final por um detalhe no tapinha providencial de Marquinhos – ou pelo menos pela combinação de dois, três, ou quatro destes chamados detalhes.

Vejam o lance:

Primeiro, o que o clipe não mostra: Marcelinho Huertas deu uma boa chacoalhada em Sergio Llull até contar com um corta-luz de Nenê lá depois da linha de três pontos, para poder ganhar o garrafão. A partir daí, feita a troca, Pau Gasol foi obrigado a contestar seu sempre perigoso chute em flutação de média distância. Isso tirou das imediações do aro o principal reboteiro espanhol (detalhe 1).

Aí, a bola pode não ter caído, mas foi pelo menos amortecida por dois toques no aro, resultado num rebote mais suave, em vez daqueles espirrados. Deu tempo para que Marquinhos saísse da zona morta para alcançar a bola. Mais do que seu toque na bola, o mais bonito aqui foi seu arranque rumo ao garrafão, em vez de ficar estacionado no canto da quadra. Este tipo de posicionamento é uma regra básica de qualquer ataque moderno, para o chamado “corner three”, ou a nossa bem mais charmosa “zona morta”. Um chutador se posiciona ali como opção de desafogo e, no mínimo, para distrair alargar a defesa em quadra.  Isso obrigou que Nikola Mirotic não se aproximasse tanto assim da tabela para cobrir a lacuna aberta por Gasol (detalhe 2).

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Para um ala de 2,05m de altura (ou mais…), a gente espera que Marquinhos seja sempre esse ala agressivo, que parta sempre para ataque, e isso não significa se limitar apenas a chutes de três. Ele tem maleabilidade e tamanho para se impor contra 95% dos laterais do mundo Fiba se decidir jogar perto da cesta. Seu mergulho ao garrafão mostra isso. Ele não só foi esperto, oportunista. Sua passada larga e envergadura o ajudaram a chegar primeiro ao rebote para dar o tapinha (detalhe 3).

De todo modo, mesmo que não estivesse grudado ao brasileiro ou perto da tábua para fazer a coleta, Mirotic cometeu um erro absurdo de atenção e fundamento. Simplesmente virou as costas para Marquinhos e não fez o bloqueio mais básico de rebote. Tivesse fechado o corredor, e Victor Claver (camisa 10) provavelmente teria assegurado a posse de bola para deixar a Espanha em grandes condições (detalhe 4).

A passividade de Claver também deve incomodar o torcedor espanhol. Ele estava bem posicionado, de frente para a bola e o aro. Tem impulsão – na verdade, é um dos jogadores mais atléticos de sua seleção. Mas ficou pregado no chão, observando sabe-se lá quantas borboletas voavam pelos arredores. Com Augusto afastado, se quisesse, o rebote era dele (detalhe 5).

Se ficarmos vendo o lance por mais uns 30 minutos, diversos outros detalhes vão surgir. É um lance que vai perturbar Gasol, Mirotic, Claver e muito mais que a linha de frente espanhola. O time vice-campeão olímpico nas últimas duas edições dos Jogos tem agora duas derrotas em duas rodadas neste grupo complicadíssimo e estão muito pressionados. A seleção brasileira se recupera de uma atordoante derrota para a Lituânia na estreia e segue em frente, ainda com possibilidades de terminar na liderança. Esperem, no entanto, mais partidas como essas, decididas nos últimos lances, frame a frame.

(Mais tarde no blog, um post mais amplo sobre a partida. Até.)

Guia olímpico 21
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>> Estados Unidos estão desfalcados. E quem se importa?
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Guia olímpico 21: a Espanha de Gasol quer mais medalhas
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Giancarlo Giampietro

A partir da definição dos 12 jogadores da seleção brasileira, iniciamos uma série sobre as equipes do torneio masculino das Olimpíadas do #Rio2016:

O MVP histórico do último EuroBasket

O MVP histórico do último EuroBasket

O grupo
Em termos de desfalques, podemos considerar apenas um, mesmo, para a Espanha. Mas é dos grandes: Marc Gasol, que não se recuperou inteiramente de uma fratura no pé sofrida em fevereiro. Pudera: é o tipo de lesão que deu um trabalho danado para Kevin Durant, por exemplo. No caso de Marc, estamos falando de um cara de 2,16m de altura, pesadão, e de 31 anos. Todo cuidado é pouco. Agora, se for para perder um Gasol, com todo respeito ao astro, melhor que seja o atleta do Memphis Grizzlies, mesmo, em vez de seu irmão mais velho, que é simplesmente um dos 10, 20 maiores jogadores da história das competições Fiba.

De resto, Serbe Ibaka é outro nome constantemente discutido, mas sua ausência na lista final de Sergio Scariolo não se deve a veto do Orlando Magic, contusão, nem nada obscuro assim. Foi simplesmente uma opção do treinador por Nikola Mirotic, já que qualquer seleção só pode recrutar um naturalizado por vez. A base espanhola segue produzindo uma infinidade de jogadores talentosos, mas a federação local ainda acha por bem apelar a esse expediente. Então Scariolo foi de Mirotic, uma opção bastante razoável, e não pelo fato de ‘Niko’ já ter defendido o país em competições de base.

O montenegrino tem algumas vantagens, como o maior entrosamento com Gasol, depois de tê-lo acompanhado em Chicago nas últimas duas temporadas e a melhor relação com seus companheiros. Não se esqueçam que Ibaka saiu de Londres 2012 reclamando de seus minutos e oportunidades com a equipe. Devia pensar: “Já não basta o KD e o Wess dominarem a bola em OKC, agora também sou ignorado pela seleção que nem era para ser minha!? Hmpf, que chato”. Então para que procurar esse problema novamente, quando você tem uma alternativa de alto nível?

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Restam dois cortes ainda para Scariolo fazer. Imagino que sairão dois entre José Calderón, Pau Ribas, Alejandro Abrines e Fernando San Emeterio. Calderón ainda é um grande arremessador, tem as mãos seguras no ataque, mas encara disputa duríssima com os Sergios Rodríguez e Llull, protagonistas do time, além de Ricky Rubio, que tem muito mais impacto na defesa. Ribas e Abrines são concorrentes diretos – o certo seria botar Juan Carlos Navarro também nesse grupo, mas fica difícil de mexer com alguém dessa estatura. Abrines levaria vantagem pelo fato de ser um pilar para a eventual reconstrução da seleção, além de chutar demais e ser mais alto e atlético do que um aguerrido Ribas. San Emeterio sempre correu por fora nessa geração, e sua presença depende muito do estado físico de Rudy Fernández. Talvez fosse prudente incluí-lo na lista, por precaução.

Os dez que estariam garantidos: Rodríguez, Llull, Rubio, Navarro, Fernández, Victor Claver, Mirotic, Reyes, Gasol e Willy Hernangómez.

O jovem ala-pivô Juancho Hernangómez, irmão mais novo de Willy, poderia muito bem estar nessa discussão, mas foi selecionado pelo Denver Nuggets no último Draft e está naquele momento de sua carreira fica num suspense que só. Talvez pudesse enfrentar Claver e garantir uma vaga olímpica, mas tudo tem seu tempo. A gente vai ouvir muito sobre ele nos próximos anos.

Rodagem
Já se passaram dez anos da conquista do Mundial pela Espanha. Em dez anos, muita coisa deveria mudar.  Comparar o elenco atual com aquele celebrado no Japão, porém, faz a gente repensar essa tese. Não só Pau Gasol segue como um dos melhores jogadores do mundo, o que por si só impressiona bastante. Além do pivô, Scariolo pode contar com outros cinco atletas que o acompanharam naquela conquista histórica: Rodríguez, Calderón, Navarro, Fernández e Reyes. Considerando que o desfalque de Marc Gasol é apenas uma questão de azar, os espanhóis poderiam ter até  mais de 50% de sua equipe repetida. Podemos falar em falta de renovação, ou que esses atletas simplesmente deram um jeito de se manterem relevantes por tanto tempo. No caso de Rodríguez e Fernández, eles eram ainda bastante jovens naquela ocasião. Agora estão no auge. Temos aqui, então, um grupo bastante experiente e entrosado também.

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Muitos ainda estão por aí

Para acreditar
Recentemente contratado pelo Spurs, aos 36 anos, Pau Gasol ainda é um dos jogadores mais temidos do #Rio2016. Os franceses se recordam bem do que o pivô lhes aprontou pela semifinal do último EuroBasket, com uma exibição verdadeiramente seminal. Buscando vingança após a derrota em casa pela Copa do Mundo de 2014, o gigante fez um campeonato espetacular para ser eleito o MVP, sem que ninguém lhe conseguisse parar: teve médias de 25,6 pontos, 8,8 rebotes e 2,9 assistências, além de absurdos 56% nos arremessos de dois pontos, 67% de três e 81% nos lances livres. Recomendo ler em voz alta todos esses números pelo menos uma vez para ver se a cabeça os processa de maneira adequada.

Guia olímpico 21
>> A seleção brasileira jogador por jogador e suas questões
>> Estados Unidos estão desfalcados. E quem se importa?

O legendário espanhol manteve o ritmo durante a extensa temporada da NBA e disputou 72 partidas pelo Bulls, com média de 31,2 minutos. O importante aqui é constatar sua durabilidade, ao contrário de campanhas passadas em que se apresentou ao time nacional com mobilidade limitada. Quando está solto em quadra, vira um pesadelo no basquete Fiba, pelo fato de a linha de três pontos ser mais curta. Você em de marcá-lo muito longe da cesta, e ele ainda tem fundamento e passada larga para bater grandalhões com o drible. Sem contar o inúmero repertório de giros, fintas, ganchos e arremessos de média para curta distância.

A ausência de seu irmão, nesse sentido, pode até ser benéfica. Pelo menos no ataque. Por mais que saiba perfeitamente jogar em high-low, como faz há anos com Zach Randolph em Memphis, Marc deixaria a quadra com menos espaço para Pau entrar em ação. A mesma atenção que os adversários vão prestar para contestar Mirotic não seria a mesma com o grandalhão. Além do mais, vindo do banco, a dupla Reyes-Hernangómez ainda pode dar conta do recado.

Mirotic muda as coisas o ataque para a Espanha

Mirotic muda as coisas o ataque para a Espanha

Para servir aos pivôs, a seleção espanhola também conta com o melhor conjunto de armadores das Olimpíadas, independentemente da presença de Calderón, ou não. Os Sergios dominaram o basquete espanhol e europeu, de certa forma, nos últimos três, quatro anos, fazendo dupla pelo Real Madrid. Ao lado de Rubio, podem formar um trio invejável, que dão muito manejo de bola, visão de jogo, intensidade e põem pressão defensiva. Se por acaso tivermos uma terceira final seguida entre Estados Unidos e Espanha, para os europeus sonharem com um ouro, esses baixinhos terão de se impor não só contra Kyrie Irving e Kyle Kowry, mas principalmente enfrentar o abafa dos norte-americanos, reduzir turnovers e tentar fazer um jogo controlado para que eventualmente Gasol faça a diferença.

Contra defesas menos agressivas, os armadores podem fazer a Espanha jogar muito bem em velocidade, característica que ajudaria muito Fernández e Mirotic, emulando o Real Madrid de Pablo Laso.

Questões
Marc Gasol vai fazer muita falta do ponto de vista da marcação. Ele pode ser lento, indo na contramão do que temos cada vez mais visto pelo basquete mundo afora, mas é um desses gigantes extremamente inteligentes que se fazem notar quando posicionados ao centro de uma defesa, fechando muito bem espaços e também contestando qualquer jogador que se aventure em jogar de costas para cesta sob sua observação. Ainda assim, para a Espanha ir longe, sem sustos, o último EuroBasket mostrou que Pau Gasol precisa estar em quadra por cerca de 30 minutos. Em 2016, creio realmente ser difícil unir os irmãos em quadra. Não é o pior dos mundos, então.

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Um ponto a ser lamentado é justamente essa dependência do pivô. Em tese, a seleção espanhola tem elenco para se virar também sem o astro. Mas os dois Sergios precisam jogar como se estivessem com a camisa do Real Madrid, dominando o jogo com seu imenso pacote de habilidades, coisa que não aconteceu no último europeu – e que foi ainda pior durante o Mundial em casa. É só dar uma espiada no aproveitamento de longa distância de ambos. Chutam com muito mais eficiência por seu clube do que pela seleção. Neste caso, a familiaridade com sistemas e companheiros não deveria ser uma desculpa: afinal, há momentos em que podem montar um quinteto todo merengue em quadra, acompanhados por Fernández, Reyes e… Mirotic (sim, ele é do Chicago hoje, mas jogou muito mais tempo com esses caras do que com Taj Gibson e Jimmy Butler). Para não falar de Willy Hernangómez, que só ficou com esse núcleo uma temporada e agora está indo para Nova York. Aliás, que Scariolo não use desse expediente mais vezes é algo um tanto curioso.

A última preocupação é a disputa nas duas tábuas. Gasol, Reyes e Hernangómez são ótimos reboteiros, mas o restante do quinteto tem tamanho diminuto, especialmente nas alas. Já não há mais esperanças de que Victor Claver possa se tornar esse lateral de grande estatura que o país procura há anos – tipo o Brasil, enquanto Lucas Dias e Bruno Caboclo não chegam lá. Equipes como França, Sérvia e Lituânia podem dar trabalho nesse sentido, com um perímetro de maior estatura.

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Jukebox NBA 2015-16: “Kiss from a Rose” só poderia ser do Bulls
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Giancarlo Giampietro

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Vamos lá: a temporada da NBA já está em curso, e o blog inicia sua série de prévias que já não são exatamente prévias sobre o que esperar das 30 franquias da liga. O pacote invadiu o calendário oficial de jogos, mas paciência, né? Afinal, já aconteceu no ano passado. Para este campeonato, me esbaldo com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Kiss from a Rose”, por Seal

Por quê? Acho que aqui temos o título de música mais óbvio. O beijo de uma rosa. Ops, quer dizer: o beijo de Derrick Rose. De despedida para Tom Thibodeau, de recepção para Fred Hoiberg e um salve geral para Jimmy Butler e a torcida do Bulls.

A relação do clube e seus fãs com o armador uma relação que já beirou a deificação quando o garoto humilde da cidade venceu na vida e foi eleito o MVP da liga. Acontece que uma sucessão de lesões (algo que ele não pode controlar) seguidas por uma fase de declarações um tanto deslocadas e absurdas (algo que vem totalmente de sua iniciativa) acabaram arranhando sua imagem, especialmente quando os resultados em quadra são bem limitados.

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A última delas aconteceu na apresentação do novo elenco, quando ele basicamente disse que, chocado com os altos valores pagos a atletas que julga inferiores, não via a hora de se tornar um agente livre novamente em 2017 para faturar o seu. Isso vindo de um cara que, nas últimas quatro temporadas, por azar, disputou apenas 100 partidas de 328 possíveis e ganhou aproximadamente US$ 60 milhões para tanto, tendo ainda mais US$ 41 milhões para receber neste ano e no próximo. Aí pegou mal. Hoje, então, a relação da cidade com o astro já segue o padrão atual obrigatório de qualquer discussão online – de amor ou ódio.

Essa história ficou ainda mais apimentada quando Jimmy Butler retornou das férias dizendo que era hora de assumir a liderança do time, que era uma lacuna que precisava ser preenchida e que, inclusive, ele poderia até mesmo jogar como armador, e tal. O ataque de Fred Hoiberg tem espaço para dois, três armadores. Butler expandiu seu jogo a cada ano, com uma dedicação impressionante. Ainda assim, não há como ouvir essas declarações e não pensar que elas digam algo sobre Rose. Ao Chicago Sun-Times, um ex-integrante do Bulls (algum técnico? um jogador?), afirmou que o ala não respeita “profissionalmente” o armador e que questiona seu empenho no dia a dia. “Nós todos sabíamos que ia acontecer”, disse a fonte anônima. Publicamente, ambas as partes agora negam qualquer tensão, mas o fato é que, por alguns meses, os jogadores deram entrevistas ambíguas a respeito, fazendo muita fumaça.

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Rose e Butler, mais uma novela da NBA

De modo que o clipe dessa música, lançada em 1994 e reaproveitada no ano seguinte pela trilha do primeiro Batman de Joel Schumacher (com a então presença mais que gratificante de Nicole Kidman), tem um valor simbólico maior, já que está retratando um super-herói. É como o torcedor do Bulls enxergava seu armador e que, intimamente, ainda espera ver nesta temporada. Ou que essa figura já tenha sido assumida por Butler. Mas é preciso ter um herói?

E aí temos um jogo deste de quinta-feira contra o Oklahoma City Thunder, no qual Rose anotou dez pontos nos últimos 3min30s para frear a reação de um rival poderoso, candidato ao título, garantindo a vitória. É o tipo de fato que Chicago inteira quer ver associado ao jogador. Mas que não pode ser avaliado de maneira simplista – nem tão para cima, nem tão para baixo.

Excelente que Rose tenha produzido no crunch time, mas lembremos que estava basicamente atacando um cone em Enes Kanter, um dos piores defensores da NBA, com o qual ficou isolado em quadra por diversas posses de bola, forçando a troca de marcação no jogo de dupla com Gasol. E, ainda assim, a maioria dos pontos veio em chutes de média distância, sem os ataques frenéticos rumo ao aro que construíram sua reputação. Em linhas gerais, já que uma partida de basquete tem 48 minutos, e, não, apenas os três minutos finais, também não dá para relevar que ele precisou de 25 arremessos para chegar aos 29 pontos. No primeiro tempo, Butler marcou 20 pontos.

Hoiberg, o anti-Thibs em diversas maneiras, encara a pressão

Hoiberg, o anti-Thibs em diversas maneiras, encara a pressão

De qualquer forma, por outro lado, é preciso dizer que Rose perdeu boa parte da pré-temporada devido a uma fratura no rosto, que pediu uma cirurgia da qual ele ainda não se recuperou plenamente. Seu olho esquerdo ainda está com a visão embaralhada. Ao contrário da postura que adotou em anos anteriores, de se recusar a ir para a quadra mesmo depois do sinal verde do departamento médico, enquanto não se sentisse confiante o bastante em seu joelho, agora joga em situação longe do ideal. Sem contar o fato de que todo o time ainda está assimilando um novo sistema. Que deveria ser a principal história aqui, ao meu ver.

A pedida? No mínimo, campeão do Leste. No mínimo. Por mais louvável que tenha sido o trabalho de Thibodeau, forjando uma defesa que virou padrão na NBA, desenvolvendo seus jogadores, avançando aos playoffs como cabeça-de-chave todos os anos, a frieza dos resultados diz o seguinte: o Phoenix Suns de Steve Nash e Mike D’Antoni, aquele que não defendia nada, chegou mais perto do título do que o seu Chicago Bulls, alcançando duas finais de conferência. Os dois times tinham grandes talentos na armação, um bom elenco de apoio, foram atrapalhados por lesões na pior hora e esbarraram em grandes oponentes – Tim Duncan de um lado, LeBron James do outro.

A menção a D’Antoni é uma provocação, claro, mas não gratuita, já que o ataque imaginado por Fred Hoiberg lembra muito o do contestado Sr. Pringles. Se as manchetes em torno de Chicago vão se concentrar na verdadeira ou suposta crise entre Rose e Butler, ou mesmo no rendimento individual do armador, o tópico que me parece verdadeiramente fascinante é a transição tática que a equipe vai fazer.

Em termos de filosofia de jogo e condução de grupo, os técnicos não poderiam ser mais diferentes. O controlava o time com pulso firme, cantando jogadas em meia quadra, cuidando dos mínimos detalhes em quadra, dando treinos exaustivos. Seu sucessor dá autonomia aos atletas na tomada de decisão no ataque, incentiva sua criatividade e é conhecido como um profissional que conquista pelo diálogo, pelo trato pouco impositivo.

Vamos descobrir, então, qual o impacto de se proporcionar liberdade para um elenco que venceu muitas partidas, mas não chegou ao título e se arrebentou durante o regime mais rígido da liga nos últimos cinco anos.

Gasol chegou, e o Bulls perdeu novamente para LeBron

Gasol chegou, e o Bulls perdeu novamente para LeBron

Nesse período, Thibs venceu 64,7% de suas partidas, que vale como a 14ª melhor marca da história – ou a 12ª, se descontarmos os registros de Steve Kerr e Davis Blatt, que só trabalharam em uma temporada. Passou a ser reconhecido, justamente, como um dos grandes técnicos da liga. Nos playoffs, porém, o rendimento foi de 45,1%, apenas a marca de número 66, um pouco acima dos 44,1% de Mike D’Antoni.

Ainda está muito cedo para avaliar o trabalho do novo técnico (e essa vai ser uma frase obrigatória nos próximos textos desta série). Os jogadores estão assimilando os novos conceitos de espaçamento e ritmo ofensivo, enquanto a defesa  tem sentido bastante. Só lembremos que, na temporada passada, a retaguarda do Bulls já ficou fora do grupo das dez mais eficientes da liga, pela primeira vez na década.

A gestão: claro que não foi apenas pelo produto apresentado em quadra que Thibodeau foi demitido. O relacionamento pouco amistoso com o vice-presidente John Paxson e o gerente geral Gar Forman foi ainda mais relevante. Ironicamente, o desfecho foi o mesmo dos tempos de Jerry Krause e Phil Jackson nos anos 90, com a diferença de que aquela parceria resultou em seis títulos. A causa é a mesma e básica: disputa por poder e reconhecimento.

Para a formação de uma equipe, quem é mais importante? O homem que junta as peças, ou aquele que as coordena e desenvolve em quadra? Na verdade, essa pergunta nem precisa ser respondida: o certo, claro, é que um não vive sem ou outro e que ambos deveriam trabalhar em harmonia. A diretoria do Bulls, nos últimos dois anos basicamente, não fez questão nenhuma de esconder sua insatisfação com o modus operandi de Thibodeau, um cara centralizador, que, segundo consta, ignorava ou até mesmo repudiava sugestões, recomendações ou qualquer estudo ou ferramenta que para pudesse ajudá-lo na condução do time. O ponto de discórdia que se tornou mais proeminente diz respeito ao condicionamento dos jogadores, levando em conta o desgaste físico alarmante de gente como Luol Deng e Joakim Noah.

Deng evoluiu e passou por maus bocados fisicamente com Thibodeau

Deng evoluiu e passou por maus bocados fisicamente com Thibodeau

Agora, é muito fácil culpar um personagem até folclórico como Thibs por desmoronamento e esquecer que Paxson, responsável pela visão mais ampla do clube, não é dos dirigentes mais centrados e calmos que você vai ver por aí. Estamos falando do mesmo sujeito que chegou a esganar Vinny Del Negro, o técnico antecessor, e que, ao admitir o incidente e pedir desculpas, não se mostrou tãaaaaao arrependido assim. “Não deveria ter acontecido, eu jamais deveria ter feito isso. Foi uma coisa do calor do momento, e estava muito frustrado com o modo como estávamos jogando. O que me decepcionou também que é ele nunca assumia um erro. Isso diz mais sobre ele do que sobre mim”, afirmou ao Sun-Times. (O episódio também foi originado por sobreuso de um atleta, Noah, que estava retornando de lesão e tinha um limite de minutos para jogar.)

Gar Forman está abaixo de Paxson na hierarquia e cuida das operações diárias, da negociação com atletas e concorrentes. É amigo íntimo de Hoiberg, com uma relação de longa data, e foi fundamental na mudança, trazendo o ex-jogador de volta ao clube. Espera-se uma relação muito mais harmoniosa agora.

Nikola Mirotic, ícone da NBA hipster

Nikola Mirotic, ícone da NBA hipster

Olho nele: Nikola Mirotic. No plano tático de Hoiberg, o montenegrino-espanhol é um jogador fundamental, devido a sua versatilidade e a ameaça que pode representar como um ala-pivô flexível, habilidoso, que pode atacar de diversos pontos da quadra, como fez em março da temporada passada, com médias de 20,8 pontos e 7,6 rebotes em 30,8 minutos.  A questão é que, mesmo neste mês de alta produtividade, Mirotic acertou apenas 26,3% de seus tiros de longa distância. No total, matou apenas 31,6%. Se o seu aproveitamento flutuar em torno disso, vai chegar uma hora em que as defesas adversárias simplesmente vão prestar atenção nos números em detrimento da reputação, e a ideia é que ele abra a quadra para as infiltrações de Rose, Butler e Brooks. Seria sua tarefa primária em quadra, ainda que pensar no barbudo apenas como um chutador seria besteira. Ele pode colocar a bola no chão, consegue atacar a cesta e não faz tão feio assim na defesa. Só desconfio que a dupla com Gasol não seja a melhor combinação para a linha de frente de Chicago. Não seria melhor algo como Mirotic-Noah e Gibson-Gasol? Intercambiar as atuais duplas mais usadas? É algo que Hoiberg vai testar e ponderar com o tempo.

fred-hoiberg-bulls-playerUm card do passado: Fred Hoiberg. Essa era fácil também, ainda que, como jogador, Hoiberg não traga de modo algum boas lembranças ao torcedor do Chicago. Nada contra suas (poucas) qualidades. Mas é que o período que ele jogou pelo Bulls, dos 27 as 30, entre 1999 e 2003, coincide perfeitamente com os anos de trevas pós-Jordan, fazendo companhia a Toni Kukoc, Randy Brown, Corey Benjamin, Dalibor Bagaric, Dragan Tarlac, Marcus Fizer, Khalid El-Amin, Elton Brand, Ron Artest e, depois, os Baby Bulls que hoje são veteranos. A fase em que Krause deve ter contratado uns 97 jogadores.

Entre tantas mudanças, Hoiberg era uma figura estabilizadora, ao menos. Daqueles jogadores que todo técnico adora e que é fácil de se encaixar devido a sua habilidade no chute de longa distância (39,6% na carreira), sua inteligência tática e o empenho para defender, mesmo que fisicamente não fosse capaz de perseguir alas mais altos ou armadores mais velozes.

A verdade é que ele teria sido uma peça complementar perfeita para os triângulos de Phil Jackson, tal como Steve Kerr, com quem duelou com o qual chegou a duelar nos playoffs de 1998 por 17 minutos, vestindo a camisa do Indiana Pacers numa emocionante final da Conferência Leste. Estava em seu terceiro ano na liga e entrava na rotação depois de Reggie Miller, Chris Mullin e Jalen Rose.

 

 

 


Notas sobre o EuroBasket: a era espanhola e outras seleções
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Giancarlo Giampietro

Três dos últimos quatro EuroBaskets terminaram assim

Três dos últimos quatro EuroBaskets terminaram assim

Depois de duas grandes semifinais, a disputa pelo título teve um pouco de anticlímax, né? A Lituânia perdeu o jogo já nos primeiros minutos.Mas claro que os espanhóis não estão nem aí para isso. Em seu período (quase) hegemônico no continente, a seleção talvez nunca tenha sido tão contestada como aconteceu neste torneio. Os caras penaram na primeira fase e poderiam muito bem ter sido eliminados pela Alemanha. Mas passaram e foram ganhando corpo. A defesa cresceu, os Sergios se soltaram e Pau Gasol foi enorme.

O título deste ano teve o prazer da reação em questão de dias e da revanche contra os franceses, na casa do adversário, com público enorme presente. Em termos de relevância de símbolo, contudo, nada supera o torneio que fez o seu MVP, com um dos melhores torneios individuais de que se tem nota no mundo Fiba: 23,0 pontos, 8,8 rebotes, 2,9 assistências, 2,3 tocos e aproveitamento inspiradíssimo nos arremessos (57,5% no geral, 66,7% de três e 80,5% dos lances livres), em 30 minutos, com apenas 1,2 turnover. Como bem constatou a conta da Synergy no Twitter, ele teve volume de jogo de LaMarcus Aldridge com a eficiência de um Kyle Korver. Só acrescentaria que, além disso, teve ainda de proteger o garrafão e a cesta de seu time como se fosse um Roy Hibbert.

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Da frustração por sua primeira derrota numa final de EuroBasket em 2003, contra os próprios lituanos, à dominância 12 anos depois, Gasol encaminha com naturalidade sua segura candidatura ao Hall da Fama. Dentro desse seleto grupo, também há filtros. Não vou aqui me meter a besta e comparar quem foi o maior jogador europeu de todos os tempos, uma discussão que ganhou força nos últimos dias, muito por conta da exibição histórica do pivô espanhol, aos 35 anos. É uma discussão divertida para muitos, irritante para outros e que tende a ser interminável. Há quem se apegue demais ao passado, há quem desconheça o que foi feito até mesmo antes de Pequim 2008. Prefiro me abster dessa,  mas uma coisa dá para cravar: o craque está no pacote. Levantamento feito pelo HoopsHype nos mostra que ele tem mais prêmios de MVP (3) e foi mais vezes eleito a uma seleção de um torneio Fiba (8) do qualquer atleta.

O MVP histórico

O MVP histórico

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Em termos de equipe, a seleção espanhola também já tem seu lugar assegurado na história, obviamente. De 2009 para cá, ganharam três de quatro EuroBaskets. Só falharam, mesmo, em 2013, na Eslovênia, quando foram superados pela França. Do título na Polônia, o primeiro do país, cinco chegaram ao tri em Lille: Gasol, Rudy Fernández, Sergio Llull, Felipe Reyes, Victor Claver, além do técnico Sergio Scariolo. É um núcleo que tem consistentemente chegado ao pódio em cada competição que disputa, também contando com Sergio Rodríguez e alguns desfalques deste ano como Calderón, Navarro, Marc Gasol e Ricky Rubio. Se formos mais generosos, podemos falar que, desde 1999, a Espanha só não esteve no pódio em 2005, quando Grécia, Alemanha e França foram premiadas. Em um intervalo de 16 anos, só mesmo superpotências como a União Soviética e a Iugoslávia podem superar isso, mas essa não seria uma comparação justa, devido à união de diversos países sob uma bandeira.

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Que ano o dos madridistas Llull, Rodríguez, Reyes e Fernández, hein? Campeões da Supercopa, da Copa do Rei, da Liga ACB, da Euroliga e, agora, o do EuroBasket. Se suas residências já não tinham um espaço só para troféus, chegou a hora de rever a planta de casa. Agora, depois de um torneio desgastante, resta saber qual será o envolvimento do quarteto na Copa Intercontinental de logo mais contra o Bauru.

Selfie de campeão oficial? Sempre com Sergio Llull

Selfie de campeão oficial? Sempre com Sergio Llull

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A França conseguiu um prêmio de consolação com o bronze em Lille. Para quem jogava em casa e com um timaço, pode parecer pouco. Do ponto de vista histórico, porém, é muito valioso. É o que Tony Parker disse: o país não ganhou tantas medalhas assim em grandes eventos. Em 37 aparições no EuroBasket, a seleção tem agora seis bronzes. Quatro deles, porém, foram conquistados antes dos anos 60. Então tem isso. O maior consolo, porém, é saber que Gasol não vai mais tão longe assim em sua carreira. A Espanha seguirá competitiva, mas não será a mesma sem ele. Do seu lado, ainda que Parker e Diaw não tenham jogado nada, os franceses contam hoje com a produção mais profícua de talentos na Europa. De Colo tem 28 anos. Batum, 26. Lauvergne, 24. Gobert e Fournier, 23. Todos com longa estrada pela frente. A eles vão se juntar muitos garotos que estão fazendo a transição do juvenil para o profissional e são considerados prospectos de NBA. O DrafExpress, por exemplo, já lista mais quatro atletas que podem se candidatar com sucesso no ano que vem.

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O que dizer da Lituânia? Bem… Não dá para criticar um time que conseguiu uma dificílima vaga olímpica na Europa. É algo com o que Alemanha, Croácia, França, Grécia, Itália e Sérvia sonhavam para valer. Mas também não dá para deixar de registrar que, se pelo segundo torneio seguido eles deram um jeito de chegar à decisão, pela segunda vez tomaram uma surra na disputa pelo ouro. Há um relaxamento, claro, depois de assegurar o primeiro objetivo que era a vaga direta para o Rio 2016. Agora, contra os espanhóis, creio que o que pesou, mesmo, foi o desnível técnico de um time para o outro. A equipe lituana possui uma série de sólidos jogadores e um talento acima da média em Jonas Valanciunas, mas tende a avançar nas competições com a força de seu conjunto, com caras que jogam juntos há muito tempo. Jonas Kazlauskas, um cara de certa forma subestimado, também merece muitos elogios, ajudando a fazer desse todo algo maior que a soma de suas partes.

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A Sérvia chegou com expectativa de título. Acabou saindo sem medalhas. Talvez tenham sido derrotas importantes para o amadurecimento do time vice-campeão mundial. Aleksandar Djordjevic tem falado todas as coisas certas e exerce forte influência sobre seus atletas para usar a decepção deste ano para o bem. É muito mais time que a Lituânia, apesar da derrota na semi e creio que teria feito uma grande final contra Espanha ou França. Mas acontece. Eles foram os primeiros a admitir que sentiram o peso do favoritismo, contra um adversário muito bem preparado, pouco badalado e de ombros leves. Kazlauskas dobrou sempre que pôde para cima de Teodosic depois de corta-luzes e tirou a bola das mãos do genial armador. Além disso, com Valanciunas, Javtokas e Kavaliauskas, não precisou fazer dobras em cima de Raduljica, podendo manter a turma do perímetro grudada nos chutadores sérvios. Outra boa sacada foi colocar Mindaugas Kuzminskas para marcar Nemanja Bjelica, eliminando o mismatch tático que o ala-pivô geralmente representa.

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Como bem escreveu Austin Green, do blog Los Crossovers, a Itália que vimos no EuroBasket é afeita ao anarquismo — ideologia, aliás, que teve fôlego mais longo do que o habitual no país. Era, desde sempre, o grande desafio de Simone Pianigiani. Pegar um monte de cestinhas e conseguir alguma coesão entre eles. Não aconteceu. Ainda assim, o time conquistou a vaga, terminando com a sexta posição, de tanto talento ofensivo que tinha. Gallinari fez uma grande competição e é aquele que tem o senso coletivo mais apurado. A bola, porém, ficava a maior parte do tempo nas mãos de Marco Belinelli, alguém que foi promovido a principal play-maker, mas que, embora mate bolas de fora, não é tão criativo assim. Andrea Bargnani, para variar, jogou estourado, foi um fiasco nos rebotes. Chega a ser até cômico o quão fominha é o ex-número um do Draft. O dia em que Bargs receber um passe na cabeça do garrafão e não arremessar já estará  em sua aposentadoria. Alessandro Gentile é mais jovem que todos eles, mas talvez seja o de personalidade mais forte, de modo que foi aquele com a maior média de arremessos por partida, batendo Belinelli por pouco. Em suma: um bando de free-lancers que ainda precisam crescer muito como equipe para lutar por medalhas na Europa.

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Devido à dupla Vesely-Satoransky e à vitória sobre a Croácia, a República Tcheca foi o azarão que fez mais barulho no torneio. Em sétimo, a seleção se garantiu ao menos no Pré-Olímpico mundial. Para o futuro, porém, quem merece mais atenção é a Letônia, que terminou em oitavo com seus veteranos e tem uma fornada bem quente vindo por aí, liderada por Kristaps Porzingis e Davis Bertans, mas que também aposta em Timma, os irmãos Kurucs, Pasecniks, Kohs, Smits, Gromovs e Silins.


O jogo verdadeiramente histórico de Gasol (e a questão Tony Parker)
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Giancarlo Giampietro

Ele contra os azuis

Ele contra os azuis

Muito provavelmente já fiz essa reclamação antes. Certo que na minha cabeça ela já foi repetida diversas vezes. Se for o caso, desculpem a repetição de uma autocrítica à classe dos cronistas esportivos. Seja por falta de criatividade ou cultura ou por simples preguiça, nunca escrevemos tanto palavras como “épico”, “mítico” e afins. Mesmo que tenha sido um hat-trick na Série B brasileira ou um golaço de sem-pulo no Maracanã. Num meio em que tantas e tantas vozes se dissiparam pela grande rede, parece haver um certo afã de se sentir parte dos registros históricos, nem que como testemunha.

Aí quando morre um Djalma Santos e ou um Moses Malone, na hora de se atribuir um devido valor a esses caras, os adjetivos mais indicados parecem ter perdido seu valor, banalizados. Mais do mesmo. Pois é. Essa sensação de impotência me ocorre quando vejo uma partida como a de Pau Gasol nesta quinta-feira, para derrubar a França por 80 a 75, em uma vingança particular pela semifinal do EuroBasket e classificar a Espanha para o Rio 2016. Foi um desempenho incrível e, dentro daquele contexto específico, me pareceu uma das melhores exibições individuais da… história.

Senão, vejamos: trata-se da maior rivalidade do basquete de seleções hoje; valia a vaga olímpica; foi com o drama de uma prorrogação; jogou diante da torcida do mesmo adversário que, um ano antes, havia estragado a sua festa na casa dele; Gasol, inclusive, não jogou conforme o esperado naquela ocasião, oprimido pela capacidade atlética de um oponente que, depois de tanto insistir, se inseriu no primeiro escalão; está com 35 anos, o relógio está batendo, e, para alguém tão envolvido com sua seleção, isso tem um peso enorme. O que ele fez? O… mítico pivô espanhol marcou 40 pontos em 36 minutos e acertou 12 de 21 arremessos, incluindo 63% nos arremessos de dois pontos, além de ter matado 16 de 18 lances livres e capturado 11 rebotes. Vale o slow:

Na verdade, essa coisa de aproveitar o momento vale muito mais para nós do que para o craque. Andrei Kirilenko já se foi, Dirk Nowitzki está nas últimas, Spanoulis diz que não vai mais jogar pela Grécia… Esses caras estão todos indo embora, então que o basquete como um todo possa curtir o vasto talento do camisa 4 espanhol. Excluindo os franceses desse grupo, claro.

Rudy Gobert, Nicolas Batum e o técnico Vincent Collet reclamaram uma barbaridade. “Pau é um grande jogador, mas ele não pode arremessar 18 lances livres, enquanto a França como um todo não chutou nem mesmo um no primeiro tempo. Houve diferentes modos de se apitar. Ele é um jogador gigante, vem num torneio fantástico, mas não pode ser favorecido desse jeito enquanto os outros atletas não ganham nada. A Fiba deveria fazer algo a respeito”, afirmou o treinador. “Não podia mesmo tocar nele. É difícil marcar assim. Quando você não pode usar suas mãos, ele é praticamente imarcável”, disse Gobert. “Não gosto de falar sobre arbitragem, mas Pau Gasol é protegido um pouco demais. Isso é o esporte, não tem jeito. Nunca vamos ganhar o respeito devido, e eles sempre serão os reis do mundo”, completou Batum.

Dureza em francês escreve como?

Dureza em francês escreve como?

Gasol realmente cobrou mais lances livres que toda a seleção francesa: 18 a 17. No geral, porém, a diferença não foi tão gritante assim: os demais jogadores espanhóis somaram apenas oito lances livres. Então temos 26 x 17. A NBA já viu coisa muito pior que isso. Por mais que o craque tenha sido protegido, não pega nada bem para os falastrões franceses chiarem dessa maneira depois de uma partida daquelas.

Será que ocorreu para os magoadíssimos franceses que o pivô do Chicago Bulls tenha simplesmente se imposto, e não por paparicação? Que a arbitragem só deu tantas faltas nele pelo fato de ser, disparado, o jogador mais agressivo e lúcido em quadra? Gasol foi ao ataque do início ao fim. Em excelente forma, apostou corrida com os franceses mais jovens e mais atléticos e venceu.

Se Phil Jackson se deu ao trabalho de interromper a meditação em Montana para assistir ao jogo, deve ter ficado com inveja, matutando por que nem sempre tinha um pivô tão agressivo assim em quadra. Mike D’Antoni, então, depois de tantos maus-tratos ao espanhol em sua conturbada passagem pelo Lakers, deve ter desligado a TV, entediado ou arrependido que só. O técnico tem uma mente especial para desenhar o ataque, mas se perde em seu brilhantismo ao tentar dobrar todo e qualquer jogador de acordo com seu sistema. Desperdiçou muito do que o espanhol tem de melhor.

Gasol dançou a noite toda com Gobert, Lauvergne, Diaw e Pietrus. Giro daqui, giro para lá, gancho, o chute de média distância mortal, o drible absurdo para alguém de 2,13m , a visão de quadra. São vastos os seus talentos. Quando joga com a determinação que vem apresentando neste EuroBasket, não há quem segure em lugar algum. Nem mesmo um gigante como Gobert, que ainda é jovem e talvez tenha se empolgado demais com o que havia feito na Copa do Mundo do ano passado, quando levou a melhor sobre o craque.

Por mais compridos que sejam seus braços e pernas, não é sempre que vai acontecer, mon ami. E também serão raríssimas as vezes em que terá como missão parar uma… lenda viva dessas.

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Fala-se  muito em desfalques da Espanha. Mesmo durante a comemoração, o técnico Sergio Scariolo e sua grande estrela mencionaram as baixas para colocar sua seleção em condição de inferioridade e tentar entender a súplica que foi avançar no torneio. Sem tanto drama, meus chapas. Marc Gasol obviamente faz falta a qualquer equipe, mas é de se pensar se, hoje, sua presença em quadra não limita o jogo de seu irmão. Explico: por mais que possa jogar na cabeça do garrafão ou até na linha de três, numa quadra mais apertada como a da Fiba, acaba obstruindo um espaço precioso para o craque operar. Mesmo que não tenha chutado bem no EuroBasket, Nikola Mirotic desperta temor dos adversários, que ficam grudados nele. Além do mais, do outro lado, com dois Gasols em quadra, as coisas podem ficar ainda mais difíceis no jogo de hoje, pois um dos pirulões será obrigado a marcar um ala-pivô mais baixo e mais leve. Sobre Mirotic: de acordo com as regras da federação internacional, um país só pode usar um naturalizado por uma vez. Então era ele ou Ibaka, de modo que o congolês não pode ser considerado baixa. No perímetro, Juan Carlos Navarro teve sua temporada menos produtiva da década. Alejandro Abrines está crescendo, mas ainda não é uma certeza. Ricky Rubio e José Calderón? Também fariam parte do grupo. Mas os dois Sergios do Real Madrid são hoje atletas muito superiores. Mas muito, mesmo. Calderón é o melhor diretor e arremessador, mas, no momento em que entra em quadra, se torna um alvo do ataque adversário. Rubio não conseguiu jogar basquete na última temporada.

Agora, claro: quando você soma tantos nomes assim, dá meio time. A rotação ficaria mais encorpada. Mas, contra França e Grécia, no quarto final, o que a Espanha basicamente tem de melhor estava em quadra. Além do mais, assim como valeu para a França e para os Estados Unidos no ano passado, vale para eles agora: são tantos os jogadores de ponta disponíveis para uma convocação, que é obrigação de qualquer técnico montar um time não só competitivo, mas que entra para brigar por medalha e título.

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Sergio Llull, Espanha

Sergio Llull mostrou nesta semifinal por que o Houston Rockets não se cansa de tentar sua contratação. Acontece que é difícil tirar o rapaz do Real Madrid, onde é tratado como rei. Quando está mais concentrado na defesa, deixando o xará Rodríguez e Rudy Fernández com maiores encargos ofensivos, é que rende melhor em alto nível. Ele movimenta os pés com muita rapidez. Está, por isso, invariavelmente bem posicionado. Sua defesa para cima de Tony Parker não pode passar despercebida num jogão desses. No ataque, ele também não pára de acelerar. Às vezes força nas infiltrações, mas, por atacar sempre, joga pressão sobre a defesa. Já de Rodríguez não há muito mais o que escrever aqui. Dos armadores europeus hoje, é o que tem o jogo mais apropriado para fazer sucesso na NBA, como suas constantes infiltrações contra uma defesa fortíssima como a da França podem comprovar (15 pontos, 5-8 quando foi lá dentro, 3 assistências e só um turnover).

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Sobre Tony Parker: pode ser demasiado cedo para ser alarmista, mas, LaMarcus Aldridge à parte, pode ser que Gregg Popovich tenha um problemaço para a próxima temporada. Llull fez um grande trabalho contra o astro francês, mas não foi o único a incomodá-lo bastante neste torneio. Se um viajante do tempo chegasse desavisado a Lille, não daria a mínima para o capitão francês, que chega à disputa pelo bronze com médias de 11,9 pontos, 4,3 assistências, mas 2,3 turnovers e sofríveis 35,4% os arremessos de quadra (sendo 37,1% de dois pontos — quer dizer, não é que ele tenha se acomodado no perímetro com seu arremesso de três suspeito). Aqui, valem as mesmas ressalvas feitas para Nowitzki: são veteranos que talvez não estejam nem mesmo em ritmo de pré-temporada, enfrentando defensores ferozes e vorazes. Pode ser que Parker ainda esteja, mesmo, avariado por tantas lesões que teve de tratar durante a última temporada e que vá demorar para recuperar a melhor forma. Você dá o benefício da dúvida a um jogador destes, claro. Fica quase na torcida para que seja isso, e não limitações que tenham chegado para ficar. Pois ele dificilmente conseguiu quebrar a primeira linha defensiva nos últimos dias. Também não conseguia criar a separação necessária para fazer seu chute de média distância funcionar. Sem velocidade, seu jogo evapora. Aos 33 anos, é uma situação para se monitorar com muita atenção.

Na semifinal, por mais que não funcionasse sua abordagem ofensiva, ele não arredava pé, e era bico atrás de bico. Foram apenas 10 pontos em 37 minutos, com 13 arremessos desperdiçados em 17 tentativas (23,5%) e um aro que precisará ser trocado para a sequência do torneio. É nessas horas que ter uma figura de tanta relevância em quadra pode até fazer mal a uma equipe, dependendo de suas condições. Por mais arrojado que seja Nando De Colo, não há como ele não deferir para seu capitão. E qual o nível de coragem que Collet precisaria ter para deixá-lo no banco? De qualquer forma, analisando friamente o desempenho do armador, imagino que o treinador esteja muito arrependido pelo corte de Thomas Heurtel, tendo priorizado a envergadura de Leo Westermann, com propósitos defensivos para cobrir Parker. No fim o ataque que precisava de ajuda.


EuroBasket vai começar: sete apostas, a legião da NBA e os desfalques
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Giancarlo Giampietro

A França venceu as últimas duas contra a Espanha. Na Copa, doeu para Gasol

A França venceu as últimas duas contra a Espanha. Na Copa, doeu para Gasol

Existem pré-olímpicos e existe o EuroBasket.

Realizado a cada dois anos, o torneio europeu, para muitos de seus integrantes, vale talvez até mais que um Mundial, por questões de orgulho nacional e rivalidades regionais. É só ver a festa que a França fez na última edição, na Eslovênia, ao enfim derrotar a poderosa Espanha pela semifinal, num jogo daqueles mais dramáticos que se vai encontrar por aí. Para eles, foi a glória maior, ratificada, então, numa decisão bem mais tranquila contra a Lituânia.

Tem de comemorar, mesmo. Pois não é fácil chegar lá. Essa é disparada a competição continental mais dura no circuito Fiba, em que pese as loucuras que temos visto na Copa América. Ainda assim, ao avaliar o que tem acontecido nos últimos anos, é possível detectar algum padrão.

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A Espanha impressiona por sua consistência, graças a uma geração fenomenal liderada por Pau Gasol. Os ibéricos fizeram parte dos últimos quatro pódios. Ficaram entre os três primeiros em cinco de seis torneios desde 2001. Só em 2005 dançaram. Nomes importantes como Jorge Garbajosa, Carlos Jiménez, Raul López e Fran Vázquez já ficaram pelo meio do caminho. Juan Carlos Navarro e José Calderón estão no fim da linha também. Mas segue uma potência a ser temida.

Desempenho os amistosos

Desempenho os amistosos

Ainda assim, a França é a seleção do momento, o time a ser batido, com um elenco vasto, experiente, atlético, e tendo ainda a vantagem de ser a anfitriã dos mata-matas, para o qual deve passar como a primeira colocada do Grupo A. Confira aqui todas as chaves, com uma ressalva: respire fundo antes de espiar o que acontece no Grupo B.

Como disse em texto dedicado à Itália (que mais parece o Brasil), é o anúncio de uma carnificina. Pense em Walking Dead, Jogos Mortais, Game of Thrones, Kill Bill Vol 1. Um sorteio que põe Espanha, Sérvia, Itália, Turquia e Alemanha no mesmo grupo é qualquer coisa de sádico. (Só foi possível graças aos deslizes de italianos, turcos e alemães em tempos recentes – o ranking Fiba não reconhece que a Azzurra tenha hoje Gallinari & Cia, ou que a Alemanha conta com Dirk e Schröder dessa vez). Coitada da valente Islândia, que não tem nada a ver com essa história, enfrentando cinco times que chegam a Berlim com pretensões reais de vaga olímpica. E o que vai sair disso? Bem, um deles já será eliminado de cara. Outro vai passar em quarto e terá de se virar com a França logo de cara. Quem cair nas oitavas também não terá mais como vir ao Rio de Janeiro.

É assim: os dois finalistas asseguram classificação automática, enquanto as equipes que ficarem entre terceiro e sétimo ganham uma segunda chance no Pré-Olímpico mundial. Então você tem de dar um jeito de chegar às quartas, entre os oito primeiros. Mesmo os derrotados nessa fase ainda terão de encarar um torneio de consolação mais valioso que o habitual, tendo inclusive uma “final” pelo sétimo lugar.

Ignorando qualquer noção de prudência, devido ao desequilíbrio entre grupos, segue, então, meus palpites de vagas – tanto as para valer, como as alternativas:

Tony Parker quer o bicampeonato europeu. Tá na cara

Tony Parker quer o bicampeonato europeu. Tá na cara

1 – França
Os atuais campeões, e com um time que chega muito perto de sua força máxima, com o retorno de Tony Parker para fazer um trio estelar com Boris Diaw e Nicolas Batum, os dois que lideraram o time rumo ao Bronze na Copa do Mundo. Se há uma seleção que pode compensar ausências como as de um Joakim Noah e um Alexis Ajinça, é a francesa, contando com o emergente Rudy Gobert para afugentar os atacantes adversários do garrafão. Noah, a essa altura, já não parece uma peça com a qual se possa contar. Ajinça seria um reserva de luxo para Gobert.

É um elenco vasto, de capacidade atlética incrível e muita versatilidade, que pode ser medido por sua nota de corte: dois jogadores da NBA vão assistir de fora (Kevin Seraphin e Ian Mahinmi), assim como jogadores cobiçados no mercado europeu como o ala Edwin Jackson, ex-Barça, hoje no Unicaja, e o ala-pivô Adrien Moerman, do Banvit, e o armador Thomas Heurtel, tirado do Baskonia a peso de ouro pelo Anadolu Efes. Nem mesmo depois de Antoine Diot se lesionar na reta final de preparação, Heurtel conseguiu a vaga. O reserva de Tony Parker será o espichado Leo Westermann, cujos direitos pertencem ao Barcelona, que ainda não o aproveitou. Joga pelo Limoges, em casa.

Selo NBA: Tony Parker, Boris Diaw, Nicolas Batum, Rudy Gobert, Evan Fournier e Joffrey Lauvergne.
Desfalques: Joakim Noah, Alexis Ajinça, Antoine Diot e Fabien Causeur (que teria dificuldade para entrar no grupo final, de qualquer forma). 
Reforço estrangeiro? Para quê!? 

2 – Sérvia
Talento não falta aqui, obviamente. Nunca faltou. Ainda assim, nas últimas cinco edições, o país conseguiu apenas uma medalha: a prata em 2009, levando uma surra da Espanha na final. O problema é a inconstância de seus jogadores, que muitas vezes se permitem levar por intrigas extraquadra e uma ciumeira que só. O vice-campeonato na última Copa do Mundo, porém, sinalizou uma geração mais unida, guiada com firmeza e carisma pelo ex-armador Aleksandar Djordjevic.

Se essa organização for mantida, a aposta é que a combinação da categoria e jogo cerebral de Milos Teodosic, o arrojo de Bogdan-Bogdan e Nikola Kalinic e o pacote completo de Bjelica possa fazer a diferença, ainda mais escoltados por pivôs muito físicos. Não é fácil trombar com Raduljica e Nikola Milutinov, o jovem recém-contratado pelo Olympiakos e draftado pelo Spurs. Não bastassem os pesadões, Djordjevic ainda tem um Zoran Erceg com grande confiança nos disparos de longa distância e Ognjen Kuzmic, ex-Warriors, já mais atlético.

Selo NBA: Nemanja Bjelica (bem-vindo!).
Desfalques: Nenad Krstic e Boban Marjanovic.
Reforço estrangeiro: coff! coff! Foi até engraçado que, antes do Final Four da Euroliga, Milos Teodosic e Bogdan Bogdanovic foram questionados sobre a possibilidade de o país, vice-campeão mundial, naturalizar algum norte-americano para brigar pelo ouro olímpico. Responderam que, se acontecesse, não jogariam mais pela seleção. 

3 – Espanha

A dupla do Bulls - e da Espanha

A dupla do Bulls – e da Espanha

O palpite mais conservador colocaria os espanhóis entre os dois primeiros, fato. Estivesse Marc Gasol no páreo, seria difícil seguir outro rumo. Mas o pivô quis férias, para descansar a cabeça e cuidar tranquilamente da renovação com o Memphis. Desta forma, aumenta a carga sobre Pau Gasol. O já legendário pivô fez grande temporada pelo Chicago Bulls, mas vai correr um risco ao encarar a pressão do EuroBasket sendo tanto a principal referência ofensiva da seleção como sua maior esperança para se ter uma defesa consistente. Faz como? Serge Ibaka faz falta nesse sentido, mas as desavenças do passado afastaram o congolês. Suas habilidades, em tese, seriam mais relevantes que as de Nikola Mirotic nessa equipe em específico.

No papel, ainda estamos falando de um timaço. Os torcedores do Bauru vão ficar ligadaços no núcleo madridista de Sergio Rodríguez, Sergio Llull, Rudy Fernández e Felipe Reyes. Estão entrosados e revigorados pelo título da Euroliga. Mas, mesmo dentro da Espanha, a sensação é de que a transição da geração Gasol para a próxima ainda se pauta pela incerteza, a despeito do retorno de Sergio Scariolo. São muitas peças valiosas, mas que talvez não se encaixem perfeitamente.

Selo NBA: Pau Gasol, Nikola Mirotic. 
Desfalques: Marc Gasol, Juan Carlos Navarro, José Calderón, Ricky Rubio e Alejandro Abrines. 
Reforço estrangeiro? Nikola Mirotic, que assumiu a vaga de Serge Ibaka.

4 – Lituânia
Em termos de continuidade, o trabalho de Jonas Kazlauskas está à frente do que os gregos têm para oferecer, e isso pode fazer a diferença. Caras como Jankunas, Javtokas, Kalnietis, Maciulis e Seibutis estão na estrada há um tempo e sabem o que precisa ser feito. É curioso até: em termos de grife ou badalação, ninguém dá muita bola para eles. Mas estão sempre chegando. Mesmo que não tenham a armação mais segura ou elucidativa.

Se a troca de guarda ainda está demorando para acontecer, a boa notícia para esse país devoto ao basquete é que seu principal jogador hoje é justamente um dos mais jovens: Jonas Valanciunas. Pela seleção, o companheiro de Caboclo e Bebê é uma figura muito mais influente e difícil de ser barrada. Em termos de sangue novo, também vale ficar de olho em Domantas Sabonis, que tem sangue real, vem numa curva de desenvolvimento acelerada desde que se inscreveu na universidade de Gonzaga e foi o último a se estranhar com Matthew Dellavedova:

Selo NBA: Jonas Valanciunas.
Desfalques: Donas Motiejunas. (Se alguém estiver se perguntando sobre Linas Kleiza, é que o veterano foi muito mal na última temporada pelo Olimpia Milano e, depois de inúmeras lesões no joelho, não é sombra daquele jogador que já aterrorizou o mundo Fiba).
Reforço estrangeiro? Ainda não cometeram esse sacrilégio — embora as primeiras seleções lituanas da história fossem compostas quase na íntegra por norte-americanos descendentes. 

5 – Grécia
Assim como Parker retorna à França, a seleção helênica acolhe calorosamente Vassilis Spanoulis entre os 12 do EuroBasket. Em torno do craque grego também geram as mesmas questões, no entanto: qual a sua forma física? Ele terá estabilidade e pique para poder ficar em quadra nos momentos decisivos (que não o amedrontam de modo algum)? Se a resposta for positiva, a Grécia ganha um trunfo enorme para tentar retornar ao pódio pela primeira vez desde 2009.

O conjunto de Calathes, Zisis, Sloukas e Mantzaris ao menos está lá para preservar o camisa 7. Em termos de quantidade, ninguém tem uma relação de armadores que se equipare a essa, aliás. O desafio do técnico Fotis Katsikaris, que vai dirigir Augusto e Benite no Murcia, será distribuir minutos entre tantos atletas de ponta. Ou afagar aquele que eventualmente fique fora da rotação. Embora o garotão Giannis Antetokounmpo seja um Vine ambulante, este não é o time mais atlético. A expectativa aqui é de que os fundamentos, a experiência e o espírito vencedor de muitos de seus jogadores compensem isso. Para chegar à disputa por medalhas, porém, terão de derrubar muito provavelmente ou a Espanha ou a Sérvia nas quartas. Ai.

Selo NBA: Giannis Antetokounmpo, Kosta Koufos, Kostas Papanikolau (por ora).
Desfalques: Dimitris Diamantidis (ele já se aposentou da seleção, mas está em forma, caminhando para a última temporada como profissional). Sofoklis Schortsanitis não foi convocado e, creio, não deve mais jogar pela equipe. 
Reforço estrangeiro? Bem… Nick Calathes e Kosta Koufus nasceram, respectivamente, na Flórida e em Ohio. Os sobrenomes entregam a ascendência, de todo modo. 

6 – Croácia
Sim, sim… Talvez eles estejam numa posição muito baixa. Podem muito bem ser os campeões. Mas a mera possibilidade de pensar essa fornada croata como a sexta força continental só mostra o quão difícil pode ser um EuroBasket. O que sabemos é que os caras chegam muito otimistas à competição, por conta de dois fatores mais relevantes que o fato de terem vencido todos os seus amistosos preparatórios.

Saric e Hezonja, só o começo

Saric e Hezonja, só o começo

O primeiro é o progresso dos garotos, rodeados por jogadores muito rodados. Dario Saric e Mario Hezonja têm mais três ciclos olímpicos pela frente e já estão prontos para render em alto nível, sem precisar assumir obrigatoriamente o protagonismo. A prioridade em quadra ainda merece ficar com dois veteranos que estão no auge e encantam pela perfeição de seus movimentos, sem distinção entre eles: o gigante Ante Tomic, que não deve jogar na NBA, mesmo, e o classudo Bojan Bogdanovic, que se soltou um pouco ao final de sua primeira temporada pelo Brooklyn Nets e que, no mundo Fiba, é um cestinha letal. O segundo fator que os empolga é a presença de Velimir Perasovic no banco. O croata de 50 anos vem de grandes campanhas pelo Valencia e chega à seleção com estofo e moral para comandar um elenco ardiloso.

Selo NBA: Bojan Bogdanovic, Mario Hezonja e Damjan Rudez. 
Desfalque: Oliver Lafayette.
Reforço estrangeiro? Na falta de um armador norte-americano, apela-se a outro: Dontaye Draper. A Croácia cometeu a heresia que a Sérvia até o momento evita.

7 – Itália
Simone Pianigiani tem ao seu dispor a seleção que talvez tenha o maior poderio ofensivo, ao menos em termos de arremesso. Gallinari, Bargnani, Gentile, Datome, Belinelli… É artilharia pesada, que pode torturar qualquer defesa. Ainda assim, isso não é garantia de nada. Até porque são belos atacantes, mas que, do outro lado da quadra, não inspiram tanta confiança assim. Além do mais, já estamos cansados de ver seleções com muitos nomes naufragarem devido à tormenta de egos. Vamos ver se eles terão coesão e consciência para encarar um grande desafio, precisando render em alto nível logo de cara, nesse grupo dificílimo.

Selo NBA: Danilo Gallinari, Andrea Bargnani, Marco Belinelli. 
Desfalques: Luca Vitali. 
Reforço estrangeiro? Daniel Hackett nasceu na Itália, filho de ex-jogador norte-americano, e se formou como jogador na Califórnia. Mas é italiano e joga por clubes do país desde 2009. Não conta. 

Batendo à porta
Pode parecer um tremendo desrespeito a Dirk Nowitzki… Mas, aos 37 anos, o legendário cestinha precisaria fazer um de seus melhores torneios para levar a Alemanha adiante, mesmo estando acompanhado pelo sensacional Dennis Schröder e por mais uma opção ofensiva de elevada qualidade como Tibor Pleiss. Acontece que o excelente treinador Chris Flemming, americano que fez carreira no basquete alemão e agora será assistente no Denver, perdeu muitos jogadores em seu elenco de apoio, especialmente na linha de frente. Entre Maik Zirbes, Maximilian Kleber, Elias Harris e Tim Ohlbrecht, teria opções de sobra (e muito vigor físico) para dosar os minutos de Dirk.

A saideira de Nowitzki?

A saideira de Nowitzki?

É ainda mais difícil deixar a Turquia fora do grupo acima. Mas algum país terá de ser a vítima no Grupo B. É a minha escolha. Na Copa do Mundo, a seleção chegou às quartas de final. Jogando em Berlim, ao menos vai ter a vantagem de praticamente jogar em casa. É certo que o ginásio vai bombar devida à imensa colônia que está na capital alemã. Ainda assim, Omer Asik faz muita falta na proteção defensiva, com todo o respeito a Semih Erden e Oguz Savas. Olho, de todo modo, nos jovens Cedi Osman e Furkan Korkmaz. Para Tóquio 2020, devem ser dois atletas temidos em cenário internacional.

Sem chances?
A Eslovênia está sem Goran Dragic, o que equivale a 80% de sua força criativa. O país parece encarar o torneio como a chance de dar bagagem à garotada, listando  cinco atletas nascidos na década de 90. Zoran Dragic terá a oportunidade de tirar a ferrugem, de tanta piscina e praia que tenha pegado em Phoenix e Miami. Jaka Blazic, do Estrela Vermelha, é um atleta que sempre dá gosto de ver. Canhoto agressivo, inventivo rumo à cesta que me passa a impressão de ainda ter potencial ainda a ser explorado.

A Bósnia-Herzegovina poderia apresentar uma linha de frente para lá de enjoada, caso contasse com Mirza Teletovic, e Jusuf Nurkic. Teletovic costuma ser uma figura constante em torneios europeus, mas pediu folga, para cuidar de sua preparação para a NBA, entrando num ano importante pelo Phoenix Suns em busca de um contrato longo e polpudo na próxima temporada. Para o promissor pivô do Nuggets, o motivo é a recuperação de lesão e cirurgia no joelho. O tresloucado Dusko Ivanovic, todavia, vai fazer com que o time se mate em quadra a cada rodada.

A Geórgia tem um elenco interessante: Zaza Pachulia, um bom reserva para ele em Giorgi Shermadini e dois matadores de bola em Jacob Pullen e Manuchar Markoishvili, além do energético Tornike Shengelia, orientados por Igor Kokoskov. É um time com bom potencial ofensivo e que, jogando num grupo mais fraco, deve ir aos mata-matas. Mas dificilmente passarão das oitavas.

Potencial de zebra
A Finlândia não deve ser a Finlândia da vez, se é que vocês me entendem. Entre os scouts europeus, a Bélgica é apontada como uma seleção que pode surpreender, com três jogadores de ponta no continente (o armador Sam van Rossom, o ala Matt Lojeski e o ala-pivô Alex Hervelle) e um grupo que dosa juventude e experiência ao redor deles.

Velhos conhecidos da NBA
Só para constar, vai: a Polônia terá Marcin Gortat, Israel vai de Omri Casspi e Gal Mekel, a República Tcheca aposta muito em Jan Vesely (Vine sempre atentos também, por favor!).

Mais caras que fazem falta
Alexey Shved, Timofey Mozgov e Sasha Kaun (Rússia), Eugene Jeter, Serhiy Gladyr, Alex Len e Sviatoslav Mykhailiuk (Ucrânia), Maciej Lampe (Polônia), Pero Antic (Macedônia), Kristaps Porzingis e Davis Bertans (Letônia).


Produção de Rose é grande surpresa na arrancada do Chicago Bulls
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Giancarlo Giampietro

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Foi um longo período de espera, misturando angústia e expectativa em torno do armador que já foi sem dúvida não só um dos melhores de sua posição, como também um dos principais nomes da liga. Será que dá, ou acabou? Será que está se resguardando, ou não passa mais disso? Cada queda no tablado gerava uma aflição coletiva.

Pois bem.

A uma vitória de eliminar o Milwaukee Bucks pelos playoffs da NBA, não duvido que o torcedor de Chicago creia estar vivendo um sonho ao ver as últimas partidas de Derrick Rose.

Não é que ele tenha voltado 100%. Em alguns momentos, lembro decididamente o antigo MVP. Em outros, você nota o quanto de ferrugem ele ainda tem para tirar. O astro ainda pode sair de uma atuação arrebatadora como a do primeiro jogo contra o Milwaukee Bucks nos playoffs (23 pontos em 27 minutos), para os oito turnovers e os oito arremessos desperdiçados em 13 tentativas cometidos no Jogo 4 da série, inclusive desperdiçando a última posse de bola da equipe, permitindo um triunfo de honra ao emergente oponente. Em geral, porém, sua contribuição está muito acima de uma previsão razoável.

Como chegamos até aqui?


Os números da temporada regular, na verdade, jogam a favor de Rose. Mas não as suas médias, muitas delas sensivelmente aquém de seu auge. O que vale aqui é o reflexo positivo que sua presença em quadra teve para os demais companheiros. Com o camisa 1 jogando, o Bulls teve aproveitamento de 64,7% . Sem ele, cai para 54,8% – o que lhe deixaria abaixo do Toronto Raptors e Washington Wizards na tabela.

O excelente rendimento pode ser transposto para as melhores combinações do técnico Tom Thibodeau em quadra. Na hora de filtrar as rotações do exigente treinador por um mínimo de 100 minutos em quadra, as quatro melhores marcas foram com o MVP de 2011 em quadra. A que teve o melhor resultado colocou Tony Snell, Jimmy Butler, Pau Gasol e Joakim Noah ao seu lado, atingindo um saldo de 9,6 pontos a cada 100 posses de bola. O quinteto titular com Mike Dunleavy Jr. no lugar de Snell rendeu +3,7 pontos, sendo a terceira da lista.

(PS1: Se a gente abaixar o limite para 99 minutos, porém, o quinteto Aaron Brooks-Jimmy Butler-Mike Dunleavy Jr.-Taj Gibson-Pau Gasol seria o segundo da lista, com saldo de 9,2 pontos por 100 posses de bola. Para ver com essa coisa de números pode ser traiçoeira. De todo modo, creio que esse dado específico só ratifica a bela temporada que Brooks fez em Chicago, sem chamar tanto a atenção como fez Nate Robinson. PS2: com tantas lesões, o time titular básico foi único de Chicago a ter ficado em quadra por mais de 200 minutos durante todo o campeonato, o equivalente a pouco mais de quatro partidas.)

Como explicar esse impacto?

A alternativa mais óbvia é o fator tático que ele proporciona. Rose ainda seria uma distração para os defensores. Uma isca, mesmo, que daria mais espaço para Joakim Noah passar a bola; para Gasol operar em média distância; para as infiltrações Jimmy Butler – que já bateu contra o Bucks seu recorde individual de pontos nos playoffs em três ocasiões –, e para os chutes de Mike Dunleavy Jr. Por aí vai. “Ele faz algumas infiltrações para depois passar para os alas, gerando oportunidades de cesta de maior probabilidade de acerto, além de ter uma grande química com Gasol no pick and roll”, diz Thibs. “Aquele antigo jogador imprudente já não está mais aqui”, afirma Rose. “Aquilo já passou. Estou mais esperto.”

O armador teria então uma reputação que desperta cautela desmedida em seus adversários e estaria mais preparado para se aproveitar disso. Interessante. Afinal, para quem acompanhou sua temporada, o armador pareceu outro jogador – menos produtivo e agressivo do que o de três anos atrás.

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Reparem na redução sensível nas tentativas de lance livre, diretamente ligada ao acréscimo nos chutes de longa distância. Tivesse Rose praticado com Stephen Curry por semanas e semanas, talvez isso não fosse um problema. Mas o fato é que ele terminou o campeonato com um aproveitamento horroroso de 28% nos tiros de fora. Isso equivale simplesmente ao pior rendimento na história da liga para alguém que tenha tentado um mínimo de cinco disparos por jogo. Em seu ano de MVP, converteu 33,2%. Não é um primor, mas é mais palatável. Mesmo sem partir tanto para a cesta, também cometeu mais turnovers. No final, teve o pior índice de eficiência de sua carreira.

Tendo esses dados em mente, seu rendimento nos playoffs se torna bastante encorajador, principalmente pelo fato de enfrentar uma defesa tão sufocante como a do Milwaukee Bucks, a que mais força  turnovers na liga (haja envergadura, gente). O ídolo de Chicago pode até ter caído nas diversas armadilhas que Jason Kidd apronta, desperdiçando 18 posses de bola em quatro partidas, mas, por outro lado, elevou seu aproveitamento de três pontos para inacreditáveis 46,2%, com 6,1 tentativas a cada 36 minutos.

Derrick Rose de três... Com aproveitamento até bizarro

Derrick Rose de três… Com aproveitamento até bizarro

Mais: ainda que tenha diminuído a quantidade de lances livres, buscou muito mais o jogo perto da cesta. Durante a temporada, 26% do seus arremessos saíram na região do semicírculo – em 2011-12, o número foi de 31,7%. Agora, nos mata-matas, chegou a 30,3% – exatamente o que fazia nos playoffs de 2011. “Nunca estivemos ao redor desse tipo de rapidez”, confidenciou um jogador do Bucks ao repórter Vincent Goodwill, da Comcast Sportsnet.

Agora, todos em volta do Bulls querem ver mais. “Não é que o Derrick esteja velho. Seus melhores anos ainda estão por vir”, diz Thibs. “Ele teve de navegar em meio à adversidade, e isso fez dele alguém mais forte mentalmente. Agora temos uma chance. Ele talvez esteja jogando como na melhor fase. Ele está um pouco mais paciente, e também extraindo o melhor de seus companheiros.”

Durante o campeonato, houve a especulação sobre como Rose poderia estar se preservando durante o campeonato. Kevin Pelton, do ESPN.com, recuperou, num artigo todo preocupado, uma das frases do jogador na preparação para a Copa do Mundo de basquete. “Você vai ver isso na temporada: apenas vou tentar afastar as pessoas do meu corpo. Estou usando um monte de chutes em flutuação, ou freando no meio do caminho, coisas assim para que não seja tocado demais”, disse, em julho. Já Zach Lowe, do Grantland, apurou como o atleta estava atacando o aro muito mais no quarto período das partidas, em comparação com os três anteriores. Isto é, quando importava.

No Jogo 4, o turnover de Rose que eu ao Bucks a chance de estender a série

No Jogo 4, o turnover de Rose que eu ao Bucks a chance de estender a série

Só Rose vai poder afirmar, mesmo, que estava se preservando durante a temporada – seja por um eventual e mais que compreensível temor de lesão, ou por ter os playoffs em mente. Autoestima nunca foi alto que lhe tenta faltado. O difícil era produzir, atuar dessa maneira com regularidade. “Ninguém sabe o que esperar porque eu não sei o que esperar. É meio como prever o tempo: ninguém sabe. O que sei é que tenho de me preparar bem e tenho muita confiança em mim.”

Aí vem a parte chata, ok? Está muito cedo para celebrações que varem a noite. O histórico médico do armador requer toda precaução, mesmo que os jogos mais espaçados nos playoffs facilitem a recuperação física – esse é o lembrete mais desagradável. Mas também aquela história da amostra ainda insignificante de jogos para se tirar conclusões: um curto período, as estatísticas se tornam bem voláteis. Ou vamos acreditar que, de uma hora para outra, Rose se transformou, mesmo, num chutador dos três pontos de elite?

As ressalvas se fazem obrigatórias, mas a intenção não é desacreditar Rose. Com ele, Chicago fica mais forte, não há dúvida. No auge atlético de 2011, apenas outra aberração como LeBron James conseguia pará-lo. Foi o que aconteceu na final do Leste daquele ano, quando o então mordido astro do Miami Heat era designado para a sua contenção no quarto final, com sucesso. Sem os arroubos de Rose, aquela versão do Bulls não foi páreo para um time que conquistaria a conferência por quatro anos consecutivos.

Agora os dois vão se cruzar novamente – a não ser, claro, que o Milwaukee consiga ser o primeiro time da história a virar uma se vendo em desvantagem de 0-3. Aí o astro de Cleveland poderá conferir de perto do que o antigo rival ainda é capaz, com a diferença de que o oponente hoje é escoltado por um Jimmy Butler em franca evolução e por todo o repertório ofensivo de Gasol. Por melhor que jogue, Chicago já não depende exclusivamente de Rose – e nem deveria. “O desafio não é apenas tirar o melhor dele, mas de todos os seus companheiros”, afirma Thibodeau.

Ainda assim, não há como estranhar a euforia dos conterrâneos de Chicago, que invadiram Milwaukee durante o fim de semana para lhe gritar “MVP”. Rose não precisava postar o melhor índice de eficiência da liga ou marcar 30 pontos por jogo. Os caras apenas queriam que ele voltasse bem. Já é uma baita história. Agora eles esperam que dure uma eternidade.


Do MVP à maior decepção. Uma lista de prêmios da NBA 2014-15
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Giancarlo Giampietro

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O começo dos playoffs também coincide com as diversas coletivas de imprensa que a NBA vai marcar para anunciar os vencedores dos prêmios individuais da temporada. Ao divulgar a sede – Oakland, Atlanta, Houston etc. –, a liga já indicará o escolhido. Como leva um tempo para organizar cada anúncio, há anos em que a cerimônia pode até ser meio indigesta, creiam. Corre-se o risco de entregar o troféu para um jogador que acabou de ser despachado nos mata-matas, como aconteceu em 2007 com Dirk Nowitzki. Seu Dallas Mavericks havia voado na temporada regular, aparentemente se recuperando bem da derrota para o Miami Heat nas finais da temporada anterior. Mas aí eles deram de frente com o Golden State Warriors de Don Nelson, seu ex-mentor, e acabaram entrando na história como mais um cabeça-de-chave número um a ser  eliminado pelo oitavo colocado. Se formos pensar no equilíbrio da atual Conferência Oeste, corre-se um sério risco.

Mas não há o que fazer: os mata-matas começam quase que imediatamente após o final da temporada regular. Técnicos e scouts se apressam em preparar o estudo sobre seu adversário, para dirimir tudo e passar aos atletas. E a raça que atende pela alcunha de jornalistas também está apressada, tentando colocar no papel uma série de artigos que se replicam, mas parecem inevitáveis. Como o tradicional para revelar suas escolhas para a votação (aqui, no caso, imaginária) dos melhores da temporada.

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(Um parêntese, apenas: neste ano vamos ter um interessante contraponto entre as escolhas dos jornalistas e a dos jogadores. A associação dos atletas decidiu promover uma votação própria. “Os torcedores e os técnicos escolhem os all-stars. A mídia vota nos prêmios da liga. Nossos membros querem reconhecer as performances sensacionais de seus companheiros também. Os jogadores não têm votado para os prêmios desde 1980”, afirmou a advogada e diretora-executiva da entidade, Michele Roberts, em comunicado oficial divulgado na quinta-feira. Serão 10 categorias nessa seleção paralela, definidas pelos jogadores durante o intervalo do All-Star. “A nomenclatura exata para cada prêmio e o programa ainda estão sendo definidos”, diz. O estranho é que os votos foram dados antes do final da temporada. Como os atletas votaram para algo cujo nome ainda nem foi definido? Houve caras que se recusaram a participar do processo. Como John Wall, que levantou um ponto necessário: “Como jogadores, sabemos quem é quem, mas pode ser que nosso orgulho e nosso ego interfira. Pode ser que você não queira ver determinada pessoa ganhar um prêmio. Vai haver gente dizendo que é o MVP, ou o melhor jogador, então nunca vai ter uma disputa justa, na minha opinião.”)

Posto isso, vamos nessa, mas sem poder se estender muito sobre cada eleito. Cada um merecia um post próprio, mas há ainda muito o que ser digitado. Xô, tendinite..

MVP: James Harden
A disputa com Stephen Curry é muito torturante. Você tem muitos argumentos a favor dos dois, expostos aqui já, além de outros candidatos. Mas parece claro que, a essa altura, o troféu vai para Harden ou Curry. Steph é o melhor jogador no melhor time da liga. Faz coisas incríveis com a bola, seja arremessando, a ponto de comemorar uma cesta quando ela não cai, ou driblando, para descadeirar um CP3. Supera Harden em termos de índice de eficiência. Se quiser brincar com mais números, tudo bem. Em geral vai dar o líder do Warriors (e aqui que a gente precisa tomar cuidado com as estatísticas avançadas: de modo geral, os dados de Curry serão fora de série. E ele é brilhante, não temos dúvida. Mas, em termos de avaliação numérica, é muito difícil separar o que cada jogador faz do conjunto da obra de sua equipe. E o Golden State detonou a concorrência). Ainda assim, vou com Sr. Barba, pela carga pesada que carregou durante o campeonato para manter o Houston Rockets bem posicionado na Conferência Oeste – sem o seu astro, seria difícil até imaginar uma classificação aos playoffs. Foi aquele que ficou mais minutos em quadra e que mais cobrou lances livres. E melhorou consideravelmente sua defesa, marcando até mesmo gente como Z-Bo e Blake Griffin. Mais de uma bíblia já foi escrita a respeito da disputa dos dois, e geralmente os artigos todos têm terminado da seguinte maneira: “Veja bem, ambos merecem o prêmio, e a distância entre eles é mínima”. Não me parece que exista realmente uma “escolha errada” aqui. Mas deve dar Curry. Gostaria de ver Anthony Davis logo abaixo dos dois, e talvez a briga do Pelicans até o fim pelo oitavo lugar do Oeste o ajude. Os outros dois votos ficariam entre Wesbrook, LeBron e Chris Paul.

Melhor defensor: Draymond Green
Andrew Bogut é quem protege a cesta e vai ter um papel essencial nos playoffs para que seu time controle as batalhas mais importantes: aquelas da zona pintada. Qualquer torção de tornozelo ou lesão de ombro dele pode causar danos sérios ao favoritismo do Warriors, é verdade. Mas quem dá o recado, quem dita a intensidade da equipe na hora de parar o adversário. Ele é daqueles que fala horrores – mas que justifica tudo em quadra. Além disso, devido ao seu pacote de força física, inteligência, determinação e estatura mediana para a posição (2,01 m) permite a Steve Kerr confiar num sistema de trocas na defesa. É curioso isso: o fato de ser considerado baixo ao deixar a Universidade de Michigan State fez com que caísse para a segunda rodada do Draft. Hoje, é algo que joga a seu favor de modo único – com sua envergadura e senso de posicionamento, consegue marcar grandalhões. Ao mesmo tempo, é flexível o bastante para brecar as infiltrações de alas e armadores. Sua consistência durante todo o ano acaba valendo mais que os esforços impressionantes de Kawhi Leonard na reta final da temporada. Tivesse o jovem astro do Spurs disputado toda a temporada neste ritmo, acho que não haveria dúvida em apontá-lo aqui. Rudy Gobert seria outra escolha tranquila.

>> Os prêmios do 21 no meio da temporada: Oeste
>> Os prêmios do 21 no meio da temporada: Leste

Melhor 6º homem: Lou Williams
Nos momentos de crise, com DeMar DeRozan ou Kyle Lowry afastados, foi Williams quem carregou o Toronto Raptors. Sua habilidade para gerar oportunidades de pontuar por conta própria é vital num ataque que contradiz o ‘modelo Spur’: ao mesmo tempo que o clube canadense teve o terceiro sistema ofensivo mais eficiente do campeonato, ele foi apenas o antepenúltimo em cestas assistidas. Seus percentuais de arremesso são baixos, mas mudam de figura quando você vê o tipo de chute que lhe cabe em quadra, batendo adversários no mano a mano com velocidade e agilidade. Geralmente marcado no perímetro, tentando desafogar a vida de Dwane Casey. Basta conferir seu gráfico de tentativas de cesta e perceber que ele é ma ameaça constante, por toda o perímetro, interno e externo. É um perfil parecido com o de Isaiah Thomas, no fim. Agora, se o baixinho ajudou a devolver o Celtics aos playoffs, o simples fato de ele ter finalizado sua campanha em Boston já serve como um ponto contrário a sua candidatura – houve uma razão para o Phoenix Suns o liberar no mesmo dia em que havia trocado Goran Dragic, e ao que tudo indica ele dá trabalho no dia a dia. Dennis Schröder, Rodney Stuckey e o eterno Jamal Crawford também merecem consideração.

Jogador que mais evoluiu: Hassan Whiteside
Na temporada passada, ele estava no Líbano e na segunda divisão chinesa. Hoje, está posicionado entre os dez jogadores mais eficientes da liga. Em termos de custo-benefício, foi a melhor contratação da temporada. Acho que não precisa ir muito além disso – embora o próprio fato de ele nem ter jogado a temporada passada levante uma questão técnica sobre o prêmio: é possível comparar o desempenho atual com o de um passado um tanto distante? Caso o Utah Jazz tivesse se livrado de Enes Kanter mais cedo, Rudy Gobert poderia desbancá-lo aqui. Seu crescimento também foi impressionante, com o jogo desacelerando  para permitir que ele usasse seus atributos físicos de modo intimidador. Com o francês titular, sua equipe teve a defesa mais eficiente depois do All-Star Game, e foi de longe. Outros caras que vão ganhar votos justos estão no topo e participaram da festa em Nova York: Jimmy Butler e Klay Thompson, que trabalharam sério na virada de um campeonato para o outro e se tornaram cestinhas de elite.

Melhor novato: Andrew Wiggins
Nikola Mirotic arrebentou nos últimos meses da temporada, especialmente quando Rose e Gibson estavam fora de ação. Tem os números avançados mais qualificados. Teve um papel importante em uma equipe que disputou jogos relevantes o campeonato todo, com ambição de título. Mas há dois pontos contra o montenegrino naturalizado sérvio, a meu ver: 1) não podemos nos esquecer que foi apenas a partir de março que ele ganhou minutos significativos, devido aos desfalques na rotação de Thibs – em fevereiro, por exemplo, jogou apenas 14,3; 2) não me sinto confortável em tratar o talentoso ala-pivô como “novato” – não quando ele já ganhou o prêmio de MVP do campeonato espanhol e vários troféus pelo Real Madrid. Tecnicamente ele é um calouro, sim. Na realidade, já é um “jovem veterano”. Então vamos de Andrew Wiggins, que teve o ano mais consistente entre todos os estreantes. Aliás, deu para perceber um padrão aqui, né? A preocupação de não se deixar levar apenas pelo que aconteceu nas semanas finais de campanha. Pode não ter tido o ano mais eficiente, mas conseguiu produzir em um nível elevado para um garoto só completou 20 anos em fevereiro e que mal teve a assistência de Ricky Rubio, ou de qualquer outro veterano para facilitar sua transição. É difícil ter uma exuberância estatística quando seu time tem um elenco inexperiente e estropiado. De qualquer forma, mostrou uma evolução regular mês a mês e dá toda a pinta de que vai se tornar a estrela cantada por olheiros há dois, três anos. Por isso, nas minhas contas, fica acima de Nerlens Noel, Jordan Clarkson e Elfrid Payton, calouros que jogaram muito, mas apenas depois do All-Star.

Melhor técnico: Steve Kerr
Tá, aqui vamos apelar sensivelmente aos números. O Golden State se despediu da temporada regular com o segundo melhor ataque;  a melhor defesa, embora jogue com o ritmo mais acelerado da liga; o melhor saldo de pontos, disparado, e essa é uma estatística notoriamente influente no resultado dos playoffs; melhor em percentual de arremessos, sem importar qual a medição usada; o segundo melhor rendimento em jogos apertados – nas raras ocasiões em que não conseguia atropelar os adversários; o segundo em cestas assistidas… Você precisa vasculhar bastante toda a magnífica seção de estatísticas do NBA.com para encontrar um ou outro ranking em que eles apareçam mal posicionados. Então tudo bem: em aproveitamento de rebotes, ocupam apenas o 12º lugar, sendo que, naqueles mais importantes, os defensivos, estão em 19º. Está certo que Kerr já assumiu uma base sólida, um grupo que havia disputado as últimas duas edições dos playoffs e que cresceu muito na defesa sob a orientação de Mark Jackson. Mas o fato é que o clube deu um salto de 16 vitórias na classificação geral, e desconfio que isso não se deve à chegada de Shaun Livingston, Leandrinho, Justin Holiday e James Michael McAdoo. Não obstante, o final de temporada um tanto morno do Atlanta Hawks acaba facilitando a escolha entre ele e Mike Budenholzer. O que não quer dizer que o treinador dos campeões do Leste não mereça um robusto pergaminho de elogios, ao por também ter elevado seu mesmo grupo a outro patamar. Terry Stotts, sempre subestimado em Portland, Kevin McHale, que revolucionou a defesa do Rockets mesmo com Dwight Howard no estaleiro, Brad Stevens, um mago ao ter endireitado um Boston Celtics em cosntante mutação,  e Jason Kidd, com uma rotação única por sua extensão e uma retaguarda sufocante com o jovem Bucks, são outros nomes que merecem atenção.

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David Griffin terminou a temporada sorrindo

Melhor executivo: David Griffin
Os mais chegados a LeBron James garantem que, se fosse para deixar Miami, apenas um retorno para Cleveland seria possível. Não se sabe até hoje o quanto a franquia de Ohio estava informada a respeito disso. E não importa. Quando a possibilidade de acertar a contratação de James se apresentou, o dirigente já havia tomado todos os passos necessários para acolhê-lo, num trabalho nada fácil: saber usar as escolhas de Draft acumuladas durante meses e meses para abrir espaço no teto salarial, tomando cuidado para não sabotar completamente o futuro da franquia se algo desse errado. Está certo que o segundo movimento – a troca por Kevin Love, cedendo uma promessa como Andrew Wiggins – não teve a repercussão (esportiva) esperada, mas não dá para ignorar o fato de que LBJ praticamente exigiu que a transação fosse feita. De qualquer forma, em meio a uma alarmante crise com menos de 50% da temporada disputada, Griffin foi nobre e valente o bastante para chamar uma coletiva e dar um basta aos rumores sobre uma possível demissão de David Blatt. Depois, voltou ao mercado para buscar reforços que salvassem seu treinador e, ao mesmo tempo, satisfizesse os anseios do astro. Agindo sempre sob uma pressão imensurável, tendo um dos proprietários de clube mais impacientes e ativos na sala ao lado. Bravo. O combo Bob Myers-Jerry West-Travis Schlenk-Kirk Lacob também merece aplausos por um entrosamento único na gestão do Warriors, assim como John Paxson e Gar Forman, que estão desgastadíssimos com Tom Thibodeau, mas deram ao técnico um elenco capaz de relevar as constantes lesões de Derrick Rose.

Por fim, alguns itens alternativos:

Melhor jogador sub-23: Anthony Davis, com 22 anos completos em março.  Steph Curry tem 27. Durant e Wess, 26. Harden, 25. Tim Duncan? 38. LeBron? 30. Assimilem isso.

Melhor segundanista: Rudy Gobert. Desculpe, Giannis. : (

Melhor estrangeiro: Pau Gasol, redivivo em Chicago e líder em double-doubles na temporada. Fica acima de seu irmão, que teve dois meses fantásticos na abertura do campeonato, mas depois caiu um tico.

Melhor brasileiro: Leandrinho? A despeito de seu entra-e-sai na rotação do Warriors. Mas convenhamos que não foi uma temporada das mais produtivas para os selecionáveis, com diversas lesões atrapalhando a trinca Splitter-Nenê-Varejão, da mesma forma que Vitor Faverani acabou dispensado por Boston sem poder mostrar serviço. Em Toronto, os caçulas mal jogaram.

Melhor importação da D-League: Whiteside, surrupiado pelo Miami Heat da toca do Memphis Grizzlies, o Iowa Energy. Aliás, Pat Riley foi o executivo que melhor usou a liga de desenvolvimento este ano. Basta ver como Tyler Johnson chegou ‘pronto’ quando foi promovido. Menção honrosa aqui para Robert Covington, um ala de muito potencial por sua habilidade atlética na defesa e o chute de fora no ataque. Veja aqui todos os jogadores que conseguiram elevar consideravelmente sua renda mensal ao serem chamados pela liga maior.

De Tyler Johnson para Whiteside. Dois D-Leaguers

De Tyler Johnson para Whiteside. Dois D-Leaguers

Melhor resultado de troca: se for pensar no curtíssimo prazo, a chegada de Timofey Mozgov ao Cleveland, por propósitos defensivos e também para animar LeBron, que, segundo consta, quase chorou de alegria ao ver o quão gigante o russo é de perto. Vale mencionar também a contratação de Isaiah Thomas pelo Boston. Sim, teve mais impacto que nomes como Rondo, Jeff Green e Goran Dragic. Ou mesmo Quincy Pondexter, que ajudou o Pelicans a estabilizar sua defesa e ainda recuperou seu arremesso de três pontos. Pensando longe, tudo vai depender de renovações de contrato. Dragic vai ficar em Miami, presumimos. Será que Rondo vai se encontrar em Dallas durante os playoffs? Como o Phoenix vai aproveitar tantas escolhas futuras de Draft? Será que Philly vai descolar o pick do Lakers já neste ano? Enfim, tudo em aberto.

Time mais azarado: Oklahoma City e Indiana Pacers têm uma alta conta hospitalar para competir aqui.

Maior decepção: New York Knicks. Phil Jackson prometeu os playoffs em setembro e terminou o ano falando que enfim tinha um plano para reerguer a franquia. O Los Angeles Lakers não fica muito atrás.

O jogador mais desmiolado: Nick Young, com seus devaneios de grandeza. Você quer acreditar que tudo não passa de uma grande piada, mas, quando percebe o conjunto da obra, começa a duvidar disso. Byron Scott não quer reencontrá-lo de modo algum na próxima temporada.

O dirigente mais intempestivo: Vivek Ranadive, dono do Kings, que demitiu Michael Malone depois o melhor início de campanha da equipe em muito tempo, efetivo Tyrone Corbin (um desastre), depois pressionou Chris Mullin a assumir o cargo durante a temporada para depois frustrar seu “consultor” ao contratar George Karl. Se não fosse o bastante, ainda trouxe Vlade Divac de volta para ser o novo chefão das operações de basquete. Com tudo isso, conseguiu sabotar DeMarcus Cousins de uma forma inacreditável, justamente no primeiro ano que o pivô se comportou do início ao fim. Aliás, Boogie também precisa ser incluído na lista de jogadores que mais evoluíram – e talvez seja hoje o jogador mais subestimado, por isso. Loucura geral.

A notícia que pode ter maior impacto a longo prazo: a NBA, depois de sua última reunião com os proprietários das franquias, indicando que o teto salarial pode passar dos US$ 100 milhões em 2017-18.


Derrick Rose, o heroísmo e as boas e más notícias de Chicago
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Giancarlo Giampietro

Derrick Rose: não estava fácil. Assim como o jogo todo

Derrick Rose: não estava fácil. Assim como o jogo todo

Se tem um velho recurso narrativo, usado pelo vovô, pela vovó, pelo padre e até pelo delegado, um recurso de que não abro mão, que, creio, jamais vai perder a graça, é a quela história da boa e da má notícia. Qual você quer primeiro?

Depois do jogaço transmitido pelo Sports+ na madrugada desta quarta-feira, com a edificante vitória do Bulls sobre o Golden State Warriors por 113 a 111, na prorrogação, essa pergunta funciona perfeitamente para os torcedores do Chicago – e, por isso, admiradores irredutíveis de Derrick Rose. O armador teve uma das atuações mais estranhas, malucas e polarizadoras da temporada.

Primeiro vamos com a boa? Tá, tudo bem: Rose marcou 30 pontos e marcou a cesta decisiva no tempo extra. A má: ele precisou de 33 arremessos para chegar a essa contagem, acertando apenas 13 desses chutes. Também cometeu 11 turnovers e deu apenas uma assistência. É ou não é uma linha estatística bizarra – e imaginem se fosse Russell Westbrook a praticá-la?

Essa combinação suscitou um debate inflamado durante a madrugada, o que me admira muito.  Acho incrível que, a essa altura do campeonato, em 2015, o hero ball ainda seja considerado tão importante assim, a ponto de uma cesta ser considerada brilhante o bastante para ofuscar 20 tentativas de cesta em vão e 11 desperdícios de posse de bola. Da minha parte, acho que a melhor notícia, na real, foi o simples fato de o atleta estar em quadra, passando da marca de 43 minutos numa partida pela primeira vez em quase três anos, considerando tudo que ele já enfrentou. Ou que, juntos, os pivôs titulares somaram 36 pontos, 31 rebotes e 14 assistências, mataram 14-24 nos arremessos e terminaram o jogo 100% nos lances livres, dominando o garrafão do Warriors sem Andrew Bogut.

Tom Thibodeau obviamente se colocou entre os defensores do heroísmo – afinal, foi seu jogador e esperança de superestrela a protagonizar a discussão toda. O técnico usou aquele argumento de sempre: “Ele não permitiu que os arremessos perdidos… o afastassem da confiança de que ainda poderia tentar e acertar um chute decisivo”.

Mesmo que o chute não caia, Derrick Rose segue arremessando. A torcida do Bulls na expectativa

Mesmo que o chute não caia, Derrick Rose segue arremessando. A torcida do Bulls na expectativa

Olha, se fosse para ler a frase sem nenhum contexto, não há como contestá-la. A força mental para não se abalar pelos erros e tentar a vitória é uma grande virtude. Agora, depois de o cara desperdiçar 31 posses de bola (entre bicos e tropeços), certeza de que um arremesso como o que ele tentou era a melhor decisão?

A jogada de Rose no último ataque do Bulls, diante dos braços compridos e da boa marcação de Klay Thompson não é nada fácil de se fazer, especialmente quando você dá o passo para trás e tem um defensor equilibrado na sua cola. Requer habilidade atlética. Mas não vá me dizer que, além da confiança, também não tem sorte envolvida nesse tipo de jogada, especialmente quando estamos falando de um armador jamais elogiado pelo poder do arremesso de média para longa distância, e que não alterou tanto assim o seu desempenho na atual temporada. Thibs – sobre quem os rumores andam bem intensos, mesmo – não se importa: “Isso é um sinal de sua grandeza e de que ele está trabalhando para voltar a ser o jogador que todos sabemos que pode ser”, afirmou.

Dá para dizer que, além do técnico, 99,5% das pessoas envolvidas com o Bulls estavam aguardando com ansiedade um lance como esse por parte do armador, algo que justificasse toda a expectativa pelo retorno. Digo: um lance que comprovasse seu retorno. Até mesmo os repórteres dedicados a cobertura do clube não viam a hora de escrever a respeito. Nick Friedell, setorista do ESPN.com, listou todas as falhas de Rose no embate com o Warriors, mas diz que a cesta final supera tudo isso, mesmo que os 11 turnovers tenham sido um recorde pessoal.

“Esta terça-feira ofereceu mais um aviso de que o Bulls só vai chegar aonde Rose e seus joelhos reconstruídos possam levá-los”, cravou o jornalista. “Joakim Noah, Pau Gasol e Butler são importantes, mas Rose ainda é o cara que pode fazer mais diferença devido a sua habilidade de dominar os jogos no final e responder nas situações de maior pressão. Ele tem o tipo de habilidade de uma superestrela da qual seus companheiros podem se alimentar a cada noite. Quando o jogo está na mesa, eles tentam encontrar o antigo MVP em quadra, não importando o quão pobre tenha sido seu jogo até então.”

Certamente Friedell não foi o único que saiu com essa linha de argumentação. Suas frases saem diretamente da teoria de que só os times com craques transcendentais podem lutar por títulos na NBA. A mesma teoria que impede muita gente de aceitar o Atlanta Hawks como favorito. Concordar ou discordar dela é uma coisa. Outra, bem diferente, é incluir Rose nesse grupo só por causa de um arremesso certeiro, não?  Nada contra o armador ou o repórteres, mas, se já esperamos todos por um longo tempo, mais de dois anos, que custa dar mais algumas semanas de jogo para ver se a estrela está realmente na trilha para reassumir a velha forma?

Vamos descontar a temporada 2013-2014 aqui, já que ela rendeu apenas 10 partidas para ele, totalmente fora de ritmo. Então, se formos comparar a atual campanha do armador com o restante de sua carreira, nota-se que ele jamais cometeu tantos turnovers por jogo (seja na média por minutos ou por posse de bola). Seu aproveitamento nos arremessos, de 41,6%, também é a pior marca. Isso poderia se explicar pelo fato de ele nunca ter chutado tantas bolas de longa distância assim. Mas mesmo as medições que englobam tanto o rendimento nos tiros de fora e até dão mais valor para eles comprovam a dificuldade que vem tendo para pontuar. Em termos de eficiência, apenas seu ano de novato fica para trás. Que tal um pouco de calma?

A temporada de Rose em arremessos

A temporada de Rose em arremessos

Muita coisa já passou e ainda passa pela cabeça de Rose, claro. A cesta da vitória contra o Warriors pode ser um passo importante para a recuperação de seu jogo – uma vez que confiança nunca foi um problema para o atleta, que, por exemplo, se recusava a recrutar agentes livres no mercado. “Como jogador, eu quero esse tipo de momento”, disse Rose, sobre a chance de matar uma partida. “Quero este arremesso. Meus companheiros me deram a bola para assumir a responsabilidade, e não vou fugir disso, não vou abrir mão disso. Se meus companheiros vão me dar a bola para isso, é algo que me faz sentir muito bem.”

De novo: é bacana ele enfrentar esse tipo de situação e sair bem com ela. Cabe uma pergunta, porém: o Bulls realmente depende de um Rose a 90, 100% para sonhar alto na Conferência Leste? Dizer que Rose é o único talento que realmente faça a diferença neste elenco não é menosprezar o quanto Noah batalhou enquanto o camisa 1 estava fora? O que dizer de Pau Gasol, um dos maiores pivôs de sua geração? E a ascensão fantástica de Jimmy Butler?

Bem, o torcedor mais atento vai poder apresentar alguns contrapontos para cada uma dessas alternativas: há jogos em que Noah está se arrastando pela quadra; Gasol tem números fantásticos, mas, aos 34 anos, é perigoso depender dele, mesmo que tenha números que se equivalem aos de cinco anos atrás; Butler caiu muito de rendimento neste mês. Check, check, check. De qualquer forma, qual a diferença entre apostar neles e esperar que Rose volte de forma messiânica? O que parece mais implausível hoje? E mais: o clube precisa, mesmo, desse salvador?

A contratação de Gasol e de Nikola Mirotic já tornava, em teoria, este elenco do Bulls como o mais talentoso da era Thibodeau. Ninguém jamais poderia prever tamanha evolução de Butler, o que supera qualquer decepção gerada pelas lesões e péssimas partidas do badalado calouro Doug McDermott. Essa guinada em recursos técnicos se traduziu num ataque bem mais respeitável: o nono mais eficiente da NBA, acima de Spurs, Blazers e Rockets, por exemplo. Na temporada passada, você precisava usar bastante o scroll para encontrá-los nessa relação (antepenúltimo lugar). Em 2013, terminaram em 24º.

Mesmo que não tenha muitos arremessadores, Thibs consegue desenhar jogadas criativas que espalha bem os jogadores pela quadra e abre boas oportunidades para os pivôs trabalharem em dupla e para que Butler (e Rose) descolem bons ângulos para atacar o aro. Neste mês, mesmo sem os 41,7% de Mike Dunleavy Jr nos arremessos., o Bulls ainda aparece com o décimo ataque mais eficiente.

O problema é que os ganhos no ataque coincidem com perdas do outro lado da quadra. Se a temporada terminasse hoje, a equipe teria apenas a 12ª melhor defesa e terminaria fora do top 10 pela primeira vez desde… 2009! Ano em que tinham John Salmons, Ben Gordon, Tyrus Thomas, Brad Miller e Tim Thomas. Faz tempo, mesmo.

Aaron Brooks, arma nem tão secreta assim

Aaron Brooks, arma nem tão secreta assim

O Bulls precisa, quem diria, melhorar na hora de proteger sua cesta. Para entender isso, o desgaste de alguns atletas tanto do ponto de vista psicológico como físico não deve ser relevado – as rotações pesadas de Thibs geram calafrios em Chicago. Resgatar a intensidade, tapar os buracos não seja tão simples assim. Gasol não era uma figura comprometedora em Los Angeles só pelo fato de que estava pê da vida com os Mikes. Butler ataca mais hoje, então vai sentir um pouco as pernas na hora de tentar parar LeBron ou seja lá qual cestinha. Noah é fundamental no sistema e não é nem sombra do jogador da temporada passada. Gibson ficou um tempo fora. Mirotic está se adaptando. Kirk Hinrich ainda luta ferozmente na marcação fora da bola, mas está um ano mais velho. Etc. Etc. Etc. Há vários pontos individuais que possam explicar isso. Mas é só

Thibodeau ainda tem tempo para fazer alguns ajustes na rotação. Seu quinteto mais utilizado até o momento (Rose-Butler-Dunleavy-Gasol-Noah) tem saldo de 5,6 pontos em média por 100 posses de bola, em 271 minutos. O segundo, porém, trocando Rose por Hinrich, despenca para -7,0, em 118 minutos. O terceiro, com Hinrich no lugar de Dunleavy e Gibson na vaga de Noah, sobe para 3,7, em 116 minutos.  Uma curiosidade é que, das seis melhores combinações, cinco têm o baixinho Aaron Brooks em quadra, perdendo apenas para um quinteto com Rose-Hinrich-Butler-Mirotic-Gasol. Todas essas formações, no entanto, ganharam muito pouco tempo de quadra e apresentam um saldo de cestas irreal. Outro padrão detectado: Hinrich teria de jogar ao lado de Mirotic e/ou Brooks, para compensar no ataque.

Vale a pena prestar a atenção em Brooks, de todo modo. É engraçado isso, mas ele está repetindo, mesmo, aquilo que aconteceu com DJ Augustin e Nate Robinson, fazendo a melhor temporada da sua vida como reserva do Bulls, seja em eficiência como em produção por minuto. Com o ligeirinho em quadra, o Bulls vence seus adversários por +6,2 pontos/100, quase o dobro de sua média na temporada. Apenas três dos dez quintetos em que ele aparece dão saldo negativo. Por outro lado, ele só ficou ao lado de Rose por 35 minutos. Tiveram tremendo sucesso juntos. Talvez pelo fato de Brooks aliviar a pressão em Rose como força criadora. Outro que merece mais minutos: Mirotic.

São diversas as opções de troca para o técnico fazer o time decolar, enquanto Rose vai se redescobrindo em quadra. Para o armador se consagrar, é preciso primeiro que o time esteja pronto, posicionado para realizar grandes façanhas, como aconteceu contra Golden State – e que ele renda muito mais do que fez na metade inicial do campeonato, claro. Num cenário ideal, com muito território para ocupar e um grande potencial a ser explorado, o Bulls não precisaria de atos salvadores do astro: venceria os jogos antes disso. Agora, se for preciso e ele entregar, seria, sem dúvida, a notícia mais empolgante para a torcida Chicago.


Chicago Bulls: a hora é agora para um time reforçado
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015 da NBA

Dois novos craques, em diferentes estágios de suas carreiras, para o Chicago

Dois novos craques, em diferentes estágios de suas carreiras, para o Chicago

As enquetes promovidas pelo NBA.com antes de uma temporada começar são imperdíveis. Servem como um belo termômetro sobre a liga, uma vez que os entrevistados são os 30 gerentes gerais das franquias, as (supostas?) cabeças pensantes que movem as engrenagens competitivas do campeonato. Na edição deste ano, na hora de falar sobre os técnicos, Gregg Popovich foi unanimidade. Nenhuma surpresa, até aí: 92,9% dos votos para melhor treinador; 57,1% para melhor motivador; 46,4% para aquele que faz os melhores ajustes dentro de um jogo; por fim, 77,8% para aquele que coordena o melhor ataque.

E o que Popovich tem a ver com o Bulls? Nada. Mas, fora a aclamação ao treinador do Spurs, outro ponto chama a atenção nessa pesquisa: Tom Thibodeau foi o segundo treinador mais mencionado. Em uma categoria, aliás, ele bateu Pop – como aquele que tem, claro, a melhor defesa, recebendo 92,9% dos votos. De todas as perguntas feitas, todavia, apenas em uma Thibs não foi mencionado sequer uma vez. Vocês sabem: aquela sobre sistemas ofensivos. A combinação dessas duas notas diz muito sobre o que se espera – e o que se vai cobrar – do comandante do Chicago para a temporada.

Desde que assumiu o cargo, Thibodeau levou o Bulls a quatro campanhas vitoriosas, com aproveitamento geral de 65,7%. Excelente. Este é o 12º melhor aproveitamento da história da NBA, acima até de Pat Riley e Stan Van Gundy, por exemplo. Entre os técnicos em atividade, só fica atrás de Gregg Popovich (quarto, com 68,6%) e Erik Spoelstra (11º, com 66%). Phil Jackson é o líder, para constar: 70,4%.

Com Rose, Bulls de Thibs ataca bem

Com Rose, Bulls de Thibs ataca bem

Se for para computar apenas os jogos pelos playoffs, seu rendimento cai para 43,6%, com 17 vitórias e 22 derrotas. Em duas ocasiões o seu time foi eliminado na primeira rodada, incluindo o campeonato passado, em que perderam para o Washington Wizards. Em 2011, perderam na final do Leste para o Miami. Em 2013, na semifinal de conferência, para o mesmo rival, a grande potência deste início da década.

Agora, falar sobre todos esses números, sem levar em consideração o contexto, seria absurdo. Especialmente no caso do Bulls de Thibodeau. Afinal, o técnico perdeu seu melhor jogador, Derrick Rose, nos mata-matas de 2012, e, desde então, vem sendo obrigado a usar um plano de contingência atrás do outro para manter sua equipe competitiva. Na última campanha, teve de superar até mesmo o fogo amigo, quando sua diretoria resolveu se livrar de Luol Deng, dando a entender que não compensava brigar por nada. O técnico e Joakim Noah não deixaram. Esse tipo de trabalho não passou despercebido pela concorrência, como a enquete oficial da liga comprova. Trabalhos dignos, de tirar leite de pedra.

Para o campeonato que começa na semana que vem, a história é diferente. Rose está de volta. Depois de disputar o Mundial, sem sustos, vem jogando a pré-temporada também sem acusar nenhum problema. Suas estatísticas são relativamente ruins, mas não dava para esperar algo diferente, para alguém que ficou basicamente dois anos sem jogar. Pau Gasol substitui Carlos Boozer na rotação, e não dá nem para calcular o quanto isso é melhor para a equipe. O espanhol é mais habilidoso, mais alto e protege o aro, mais experiente em jogos decisivos e, a julgar pelo que vimos durante  a Copa, está em grande forma. Splitter, Nenê e Varejão podem dar seu testemunho. O banco ficou bem mais forte com a chegada dos calouros Nikola Mirotic e Doug McDermott, dois excepcionais arremessadores, e com a constante evolução de Taj Gibson – sem contar o promissor ala Tony Snell.

É um conjunto muito rico, com peças valiosas para a defesa – e também para o ataque. Há mais opções de troca, para que os principais atletas não sejam exauridos pelo técnico. E aí que o bicho pega. Se nenhum acidente (toc, toc, toc) acontecer, Thibs tem em mãos um dos melhores plantéis da liga, justamente no ano em que o Miami Heat se desfez e que, em Cleveland, LeBron ainda está formando seu novo supertime. Para esta versão do Bulls, a hora é agora.

A linha de frente ficou mais forte; e não se esqueçam de Gibson

A linha de frente ficou mais forte; e não se esqueçam de Gibson

O time: com Thibodeau, o Bulls teve a melhor defesa de 2011 e 2012. Em 2013, acreditem ou não, ele permitiu que o time derrapasse para quinto. Em 2014, tomaram vergonha na cara e terminaram com a segunda mais eficiente, atrás apenas do extinto Indiana Pacers. Temos um padrão aqui: a rapaziada sofre demais contra Chicago. Do outro lado da quadra, porém, o panorama é bem diferente. Na temporada passada, o ataque do Bulls foi simplesmente o antepenúltimo em eficiência. Em 2013, o 24º. Um horror: jamais uma equipe tão boa na retaguarda, mas tão fraca para pontuar conseguiu chegar perto do título. Mas nem tudo é caos. Em 2012, ainda com Rose em plena até os playoffs, tiveram o quinto melhor índice ofensivo. Em 20122, o 12º. A expectativa, então, é que a volta de Rose (mesmo um Rose a 70%, ou quase) e a chegada de Gasol e dos calouros ajudem sensivelmente nesse quesito. O espanhol é fundamental para isso: tem uma versatilidade impressionante, mesmo com idade mais avançada. Pode atacar de frente e de costas para a cesta, é um exímio passador e tem tudo para formar uma dupla de pivôs eletrizante com Noah. São fatores que sugerem possibilidades infinitas para seu treinador. A bola está com ele, por enquanto, e os dirigentes da liga esperando uma confirmação.

A pedida: Derrick Rose prega paciência, diz que ainda há uma longa trilha pela frente. Mas o torcedor do Bulls está pensando em título, sim, este ano. Ou pelo menos deveria estar.

Mirotic passa por processo de adaptação. Thibodeau será conservador com ele, ou vai dar liberdade?

Mirotic passa por processo de adaptação. Thibodeau será conservador com ele, ou vai dar liberdade?

Olho nele: Nikola Mirotic. Rose vai chamar quase toda a atenção da mídia que for cobrir Chicago. Aí vem Gasol. Depois dos astros, o que sobrar pode ficar para o calouro McDermott, um dos queridinho nacionais nos tempos de NCAA. Tudo merecido, aliás, todos talentosos. Mas creio que Mirotic possa ter um impacto muito maior que o do jovem americano, por ser multifacetado. Algo que seus companheiros passaram a tomar nota no training camp. “Ele é muito bom, realmente bom. Ele adiciona uma dimensão diferente ao jogo… É muito mais que apenas um arremessador. Quando você pensa nesses pivôs abertos, não imagina caras que possam dar tocos, correr bem pela quadra, e ele consegue: ele é um puta de um jogador”, afirmou Noah, mais inspirado e eloquente do que nunca. Para os que viram o montenegrino naturalizado espanhol nos últimos anos pelo Real Madrid, não é surpresa. Mirotic era um dos melhores atletas da Europa. Em Chicago, encara uma rotação pesada, com  JoJo, Gasol e Gibson. Assim como aconteceu com Splitter, Scola, Teletovic, e outros, deve passar por um período de adaptação. Pensando longe, porém, seria prudente da parte de Thibs dar minutos regulares ao ala-pivô.

Abre o jogo: “Acho que da última vez que ele veio para cá como jogador do Lakers, estava rolando aquela coisa polar, ártica, aquele vórtice polar. Foi brutal. Quando você está acostumado a ir para a praia todo dia, escolher o vórtice polar diz muito”, Noah, sobre Pau Gasol, que trocou a Califórnia por Chicago, uma das metrópoles congelada no último inverno.

Você não perguntou, mas... o armador Aaron Brooks gosta de chamar o calouro McDermott de Ray. Por que ele é um bom chutador, tipo o Ray Allen? Nada. “Achei que era o nome dele. Quando decobri que não era, o continuei chamando de Ray”, afirmou o baixinho, abusando do calouro. Sim, a NBA está cheia de gente biruta. Em Chicago, Brooks tenta beber da mesma fonte que DJ Augustin, CJ Watson, John Lucas III, Nate Robinson… todos armadores que reviveram ou impulsionaram suas carreiras vindo do banco, sob a orientação de Thibs.

toni-kukoc-bulls-rookieUm card do passado: Toni Kukoc. O astro croata chegou ao Bulls em 1993, aos 25 anos, dois anos mais velho que Mirotic hoje, e com um currículo impressionante: tricampeão europeu pelo KK Split (na época chamado de Jugoplastika e Pop 84), três vezes MVP do Final Four europeu, tetracampeão iugoslavo, campeão mundial pela Iugoslávia em 1990, vice-campeão olímpico pela Iugoslávia em 1988 e pela Croácia em 1992, bicampeão do EuroBasket pela Iugoslávia em 1989 e 1991 e bronze no Mundial de 1994 pela Croácia. Ufa, né? Então não era definitivamente um calouro qualquer que o Bulls recebia em seu primeiro ano sem Michael Jordan. O ala já chegou ganhando uma fortuna, despertando a ira de Scottie Pippen, que estava preso a um contrato subvalorizado. Essa discrepância salarial gerou um dos episódios mais baixos da história do time e da carreira magnífica de Pippen, quando ele se recusou a voltar para a quadra num jogo de playoffs contra o Knicks, em 1994, com 1s8 restando no cronômetro. A jogada de Phil Jackson havia sido desenhada para Kukoc. Pior: com Pippen servindo como isca, que o craque americano, que havia jogado uma barbaridade durante toda a temporada, não aceitou. Claro que a frustração era muito maior que isso. Detalhe: o croata fez a cesta da vitória.