Vinte Um

Arquivo : Mark Cuban

Jukebox NBA 2015-16: um fim de temporada melancólico para Nowitzki
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

jukebox-dallas-dirk

Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha:Die zeit heilt alle Wunder”, por Wir Sind Helden.

Quando Dirk Nowitzki vai para a quadra aos 37 anos, com 17 de NBA, é um privilégio para a liga. Qual a chance de vermos novamente um jogador desse nível, de características tão peculiares? Um gigante de 2,13m de altura que é um dos maiores arremessadores da história do basquete, que ajudou a revolucionar o esporte.

O mítico alemão obviamente não é mais o mesmo, mas nem cogita a aposentadoria por ora, enquanto Kobe Bryant, de quem é fã declarado, caminha para os últimos dez jogos de sua carreira e Tim Duncan vai arrastando sua perna direita pela quadra, ainda como uma figura influente pelo Spurs. Nenhum desses veteranaços, porém, é tão importante, essencial para seu time em quadra.

Por mais que ele não tenha o arranque de dez anos atrás, quando era capaz de cruzar a quadra toda com a bola em mãos e bater alas mais baixos na corrida e que os movimentos de costa para a cesta que desenvolveu durante a carreira também estejam travados, seu arremesso elevado e mortal ainda fazem de Dirk o ponto central do ataque do Dallas Mavericks, o oitavo mais eficiente da temporada. Segue produtivo, com média de 18,7 pontos e 6,7 rebotes em 31,3 minutos, 46,3% nos arremessos e 38,8% de longa distância, de modo regular, capaz de alguns arroubos para a casa de 30 pontos, ou até mais, como quando guiou o Mavs a um triunfo (que pode ser) crucial sobre Portland, na semana passada, com 40 pontos em 39 minutos e 26 arremessos. É o resultado de uma rotina legendária e exaustiva de treinos, aperfeiçoando seus fundamentos, se adaptando a suas diversas travas.

Tudo muito legal.

Mas que se torna um pouco melancólico demais quando seu time capenga para se colocar na zona de classificação para os playoffs, numa toada trôpega bastante incomum para sua triunfante carreira. Vem daí a música do Wir Sind Helden, que fala algo sobre como o tempo acaba com qualquer capacidade de maravilhamento, mas que também pode curar as feridas de uma eventual decepção. Que fique claro: maravilhamento pelo time, e, não, por Nowitzki. Ainda assim, triste, embora com um flash de esperança.

Força, Dirk

Força, Dirk. Talvez dê certo

(Como sei disso sem entender um pingo do que cantam ‘z germanz’? Bom, foi com a consultoria da senhorita 21, apegada ao idioma germânico e que trouxe o sonzinho honesto desse grupo aqui para a base. E aí que, pelo menos, conseguimos escapar das referências de sempre do universo pop alemão – Scorpions, Rammstein, Nico, Nena, Falco etc.)

Certamente não era algo que vislumbrava durante o training camp, quando estavam todos empolgados com a rápida conexão que o time conseguia, confiantes em deixar a frustração pela novela DeAndre Jordan para trás. Fora dali, é verdade, a desconfiança era grande. Mas aí, na hora que a bola subiu, parecia o Mavs de Rick Carlisle de sempre, com um ataque azeitado e jogadores experientes o bastante para segurar as pontas na defesa, na linha da mediocridade (a 16ª mais eficiente), para manter o time bem posicionado. No ponto mais alto de sua campanha, ao final de janeiro, tinha 28 vitórias e 22 derrotas.

Desde então, porém, o time vem caindo pelas tabelas. Venceu apenas um terço de seus jogos (8 em 24) e caiu pelas tabelas. Pelas últimas dez rodadas, foi ainda pior, com apenas dois triunfos, e a perspectiva agora é de que termine com uma campanha inferior a 50% pela primeira vez desde… 2000. Com uma queda significativa dessas a poucas semanas do fim da temporada regular, o Mavs só não saiu da briga por uma vaga nos playoffs graças aos problemas de concorrentes: Houston Rockets e Utah Jazz, com pernas muito mais vigorosas, mas de resultados inconstantes durante todo o campeonato.

Em fevereiro, Parsons teve médias de 18,8 pontos, 5,0 rebotes, 2,7 assistências, 1,0 roubo de bola, 52,3% nos arremessos e 48,0% nos arremessos de três

Em fevereiro, Parsons teve médias de 18,8 pontos, 5,0 rebotes, 2,7 assistências, 1,0 roubo de bola, com 48,0% nos arremessos de três. Agora está fora, passando por uma 2ª cirurgia grave

O ponto mais baixo certamente foi a derrota deste domingo para o Sacramento Kings, levando inacreditáveis 133 pontos. É o tipo de tropeço que faz o jogador, o treinador e todo mundo repensar a vida. “Temos de decidir se queremos ir para a casa ao final da temporada, ou não. Todos têm de olhar no espelho e decidir que diabos querem fazer. Queremos jogar por algo significante, ou não? Queremos desperdiçar seis, sete meses de nossas vidas sendo jogadores de NBA… Mais uma temporada, blá-blá-blá, ou queremos fazer algo que signifique algo?”, questionou, retoricamente sem parar, o ala Wesley Matthews, jogador mais bem pago do clube.

Para alguém tão aguerrido, tão dedicado como Matthews, faz sentido. Mas a questão que faltou na tirada do ala é se, independentemente da vontade do elenco, se eles são capazes de reverter essa situação. Parece ter acabado o gás. Esse talvez seja o preço também de se investir num elenco envelhecido. O aspecto positivo é que eles dão menos trabalho, minimizam os erros, assimilam com mais facilidade os complicados ajustes sugeridos pelo treinador, se ajudam em quadra. O outro lado da moeda é o que vemos agora: as sequelas que a extensa temporada causa.

Os desfalques se acumulam. Chandler Parsons estava esquentando a munheca, jogando o melhor basquete de sua carreira, mas voltou a lesionar o joelho, deixando o time com poder de fogo reduzido. Deron Williams tem um estiramento no abdômen – e, a despeito de todo o otimismo com o armador nas primeiras semanas, ele vai terminar sua campanha basicamente com números idênticos aos de sua deprimente estadia no Brooklyn. Devin Harris regrediu. Raymond Felton até ressuscitou, mas não tem jogo para fazer a diferença diariamente, assim como José Juan Barea, a formiguinha atômica que rende apenas de modo pontual. Ainda assim, Carlisle bota todos para jogar, usando até mesmo tripla armação sempre movimentando suas peças com criatividade, fazendo dos improvisos um trunfo para manter a produtividade ofensiva. Desde que chegou ao Texas, o brilhante treinador vem consistentemente tirando o máximo de seus atletas, mesmo com o fluxo contínuo no elenco.

Na primeira metade do campeonato, esse combinado de veteranos pegou boa parte da liga de surpresa. Acontece que, em março,as fraquezas de seu time estão expostas, e não dá para fazer milagre.  No garrafão, a energia de Zaza Pachulia se exauriu, que até janeiro era um candidato a prêmio de jogador que mais evoluiu e agora mal consegue levantar do banco de reservas, de tantas trombadas na proteção por rebote e corta-luzes, para alguém que não estava acostumado a tantos minutos. Isso abriu uma lacuna no centro da defesa, já que Salah Mejri e JaVale McGee, muito mais atléticos e descansados, se perdem com panes mentais em quadra.

A coisa tá feia, Carlisle. Como dar um jeito nesta defesa?

A coisa tá feia, Carlisle. Como dar um jeito nesta defesa?

Se o ataque continua rendendo em alto nível desde o intervalo do All-Star, como o quinto melhor da liga, sua defesa ruiu, levando 110,5 pontos por 100 posses de bola, a terceira pior. Se for para reduzir aos últimos 12 jogos, são 113,2 pontos, a pior – para comparar, o mesmo Sacramento leva 109 durante a temporada, com uma retaguarda horrível.

Aí não vai importar quantos arremessos Dirk acertar a cada noite. “É difícil, mas não há desculpas nesta liga. Independentemente de quem estiver em quadra, tem de fazer sua parte, respeitar seu papel, explorar seu potencial e competir dos dois lados da quadra. E então convivemos com os resultados”, afirmou o alemão.

Se esses resultados melhorarem, maiores as chances de Nowitzki jogar os playoffs pela 15ª vez na temporada. Tem de curtir, mesmo, enquanto dura.

A pedida? A essa altura, meine Freunde, é chegar aos playoffs, nem que seja para tomar uma pancada de Warriors ou Spurs na primeira rodada. Até porque sua escolha de primeira rodada no Draft será endereçada ao Boston Celtics, como consequência da terrível troca por Rajon Rondo.

A gestão: o Dallas Mavericks de Mark Cuban foi dos primeiros clubes a investir pesado no scout internacional – até hoje, mantêm um olheiro dedicado ao quadrante latino-americano, o argentino Lisandro Miranda, o único de quem tenho notícias com base por estas bandas. O clube também é dos que mais investe em tecnologia, estatísticas avançadas e tal. Também reformulou cedo suas instalações, com vestiários, quadra de treinos e infra-estrutura em geral luxuosos, oferecendo o tipo de mimo que costumava fazer a diferença na hora de buscar novos jogadores.

Ninguém quer se juntar a Cuban em Dallas?

Ninguém mais quer se juntar a Cuban em Dallas?

Mas o tempo passou, certo?

Cuban já não é mais um peixe tão diferente assim entre os proprietários da liga. Quando comprou o Mavericks, era um vanguardista até. Agora se vê rodeado por diversos homens que construíram seus negócios já na nova economia, e muito do que diferenciava a franquia texana há dez anos já virou recorrente. Esse é um dos motivos por trás dos recorrentes fracassos de sua gestão na hora de buscar reforços no mercado, numa história que já se tornou repetitiva desde a desmontagem do time campeão de 2011.

De lá para cá, o clube segue competitivo, obviamente. É só olhar o último ano de Kobe e ver como as coisas poderiam ser muito piores. Mas o fato é que o Mavs não chega nem perto da luta pelo título, algo que Nowitzki adoraria fazer novamente. Foi por isso que, ao contrário o astro hollywoodiano, deu um belo desconto para Cuban em seu salário,  que vale apenas US$ 8 milhões anuais, a metade do que ganha Wesley Matthews. É uma pechincha mesmo para um atleta de 37 anos. Seja por suas habilidades únicas, pelos esforços que faz em se manter em forma, ou pelo avanço da medicina esportiva, o alemão ainda desequilibra,  diferentemente de alguns craques do passado que vimos estender suas carreiras nos anos 90, como um Moses Malone migrando de time para time no ocaso de sua trajetória como profissional, valendo mais como influência no vestiário do que por aquilo que poderia contribuir em minutos reduzidos. Ainda assim, ele precisa de ajuda.

O clima texano, os impostos reduzidos e a tradição da equipe deveriam ser diferenciais para agentes livres, mas a franquia não tem conseguido contratações de impacto. Não é o caso de Wesley Matthews, com todo o respeito que seu chute de três pontos e seu profissionalismo pedem. O ala vinha de uma lesão no tendão de Aquiles e não tinha tantas propostas assim – o Sacramento Kings, que não serve de exemplo para ninguém, era a principal ameaça. Acabou a magia de Cuban? O estilo falastrão do magnata ainda pode atrair aqueles que procuram promoção, holofotes, como Chandler Parsons, que adora um reality show.

Se o time não consegue grandes jogadores desta maneira, deveria ao menos ter mais parcimônia na hora de encarar o Draft. Em seu elenco, além de Nowitzki, apenas o ala Justin Anderson segue no clube texano desde que foi selecionado. Ah, ele é um calouro, que deve se sentir um tanto isolado no vestiário. O ala-pivô canadense Dwight Powell é o único jogador nascido nos anos 90, sendo dois anos mais velho.

Olho nele: David Lee

Como é possível que um cara que tenha índice de eficiência que o colocaria acima de LeBron James na temporada, de 27,2 pontos em 16 jogos, algo inesperado e assustador, mal conseguia sair do banco de reservas em Boston, a ponto de ser dispensado sem mais, nem menos? Foi um erro crasso de Brad Stevens? Um complô? Nada disso, sem teoria da conspiração. O próprio veterano de 32 anos explica, com honestidade que faz bem: “Cheguei ao time fora de forma. Não joguei o que podia e perdi meu emprego. Tudo isso me levou a questionar o que estava faltando, comparando com o que fazia antes? Bem, eu simplesmente não estava em boa forma”, disse em seu retorno a Oakland, na semana passada, para receber seu anel pelo título de 2015.

Com uma rotação congestionada, precisando encontrar espaço para Jared Sullinger, Kelly Olynyk, Amir Johnson, Tyler Zeller, ainda com o promissor calouro Jordan Mickey na fila, Stevens levou algumas semanas para definir sua rotação e entender quem se encaixaria em qual lugar. A despeito de seu salário de US$ 15 milhões, currículo e talento ofensivo, sobrou para Lee. Num gesto cordial, que ajuda na construção da imagem do clube para tentar contratar alguém de peso (com o perdão do trocadilho) no futuro, os técnicos e preparadores físicos do Celtics passaram ao pivô uma rotina de treinos para que ele melhorasse seu condicionamento, mesmo que já não fizesse mais parte dos planos do time para a temporada. E ainda o dispensou, economizando alguns trocados, mas sem colher os frutos desse trabalho especial. Lee agora está jogando muito em Dallas, causando impacto positivo surpreendente até mesmo na defesa, com projeção de 20,1 pontos, 14,9 rebotes, 2,8 assistências e 1,5 toco por 36 minutos. Sem esse reforço, talvez a equipe estivesse até mesmo fora da briga pelos playoffs.

dennis-rodman-trading-card-dallasUm card do passado: Dennis Rodman. Na hora em que se aposentar e for conversar com os filhos, os sobrinhos e enteados, relembrando histórias de sua carreira, Nowitzki vai poder falar de sua redenção em 2011, derrubando o superestrelado Miami Heat na final. A decepção de 2006 e 2007 também não pode ser ignorada no bate-papo, pois ajudam a valorizar o título que conquistou. A amizade com Steve Nash, as loucuras de Don Nelson, o aviãozinho de Jason Terry,  Wang Zhizhi e Shawn Bradley. Há muito sobre o que falar. Incluindo as breves semanas em que foi companheiro de equipe do craque mais amalucado da história, Rodman. Foi em 1999-2000, justamente a última campanha de aproveitamento negativo do Mavs, com 40 vitórias e 42 derrotas.

Na sua última experiência de NBA, o ala-pivô, aos 38 anos, foi convencido por Mark Cuban a fazer parte de seu projeto de reconstrução de uma combalida franquia. Poderia ser algo especial, um final feliz, com uma rara chance de poder pendurar as botinas na cidade onde cresceu, numa infância complicada no bairro de Oak Cliff, região paupérrima, barra pesada de uma metrópole petrolífera.

Mas, que nada: mesmo vivendo na mansão do empresário, o pentacampeão  Rodman aprontou um alvoroço daqueles, tirando Don Nelson do sério, assustando os mais jovens do time com seu comportamento bizarro e a avacalhação geral. Sob contrato de 3 de fevereiro a 8 de março, disputou apenas 12 jogos, até ser dispensado. “Ele nunca quis ser um Maverick”, resumiu Steve Nash. Ainda assim, como jogador especial que era, teve média de 14,3 rebotes. Seria uma ajuda bastante necessária ao jovem Dirk, de 21 anos, que tinha apenas o varetão Shawn Bradley e o veterano Sean Rooks como companheiros de garrafão.


O ridículo triângulo amoroso (e odioso) entre Jordan, Clippers e Mavs
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

O Clippers tripudia ao anunciar renovação de DJ

O Clippers tripudia ao anunciar renovação de DJ

Bem, o texto do final de semana estava mais ou menos certo, né? No fim, Dirk Nowitzki, Mark Cuba, Rick Carlisle, Chandler Parsons e até mesmo DeAndre Jordan acreditam que o pivô já era jogador do Dallas Mavericks. Mas o grandalhão, depois de se comprometer com o clube texano, deu para trás nesta quarta-feira e, no primeiro instante em que os atletas podem assinar seus contratos, decidiu renovar com o Los Angeles Clippers.  A parte que o artigo não falhou: o vaivem de Jordan só reforça a tese do quanto a cabeça de um jogador pode flutuar no momento de tomar uma decisão dessas. Tão relevante do ponto de vista financeiro, esportivo e, enfim, pessoal.

Num universo com tanto dinheiro correndo solto e egos à deriva, parece que o mais prudente, mesmo, é esperar a tinta aparecer no papel. Mesmo que Wojnarowski, Stein e qualquer outro repórter de primeiro escalão tenha, hã, cravado a notícia. Embora, dando um passo para trás, percebe-se que ninguém errou. Jordan realmente disse que iria para Dallas. Apenas se arrependeu, ou foi convencido a se arrepender, se é que isso faz sentido. De qualquer forma, em meio a esse dramalhão todo, os jornalistas foram os que menos passaram ridículo, e não se trata de mero corporativismo.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

O maior carão, ou a maior cara-de-pau, mesmo, fica por conta de DJ, que passou do limite. Complexidades de uma tratativa à parte, o jogador extrapolou em sua infantilidade. Já seria muito feio, uma estrondosa quebra no código de ética da liga, ele mudar de ideia e fechar com o Clippers. Muito pior, no entanto, foi o jogador nem ter se dado ao trabalho de atender o telefone, responder as mensagens de texto, SnapChat, Whatsapp, sinal de fumaça e sabe-se lá qual outra ferramenta de comunicação os caras de Dallas tenham usado. Preferiu ficar jogando cartas e videogame com seus ex-futuros-novos-companheiros de L.A, em casa, em Houston. Interrompeu o diálogo na terça-feira, e pronto. Isso é patético, com o perdão da expressão — e, aqui, ainda caberiam vários adjetivos tão ou mais fortes. Não é que ele tenha sido pressionado a tomar uma decisão em 30 segundos antes de dizer sim ao Mavs. Já havia tido tempo o suficiente para ruminar a ideia desde a eliminação do Clippers na semifinal de conferência

E não. Também não foi a primeira vez que uma prima donna da NBA concordou com um negócio e, depois, seguiu outro rumo. Que me lembre, o caso mais emblemático nessa linha foi o de Carlos Boozer, Cleveland Cavaliers e Utah Jazz, há uns bons dez anos já. O ala-pivô, então uma jovem força produtiva no garrafão, havia combinado com a gestão anterior do Cavs: que eles rescindissem seu contrato paupérrimo de novato para que, como agente livre, assinasse um novo acordo que fizesse jus aos seus números em quadra. Aí veio a punhalada: Boozer topou receber uma fortuna em Salt Lake City. Foi um episódio mais sórdido, nota-se. Mas é aquela história de Brasília: não é que alguém já tenha feito antes, que isso vá justificar a repetição do erro.

Da maneira em que os negócios da NBA estão estruturados, essa é uma falta gravíssima. Bobby Marks, ex-assistente de Billy King na administração do Brooklyn Nets, reforça:  “Assim como no beisebol, há certas regras que não estão escritas, e isso foi uma grande violação dessas regras. Uma vez que um jogador se compromete com um time, você segue em frente”. O cara, aliás, é uma conta obrigatória para se seguir no Twitter.

O Mavs já estava fazendo planos e planos com Jordan. Desde as mais simples jogadas a grandes tacadas de marketing e relações públicas. Em menos de uma semana, uma franquia pode avançar com seus projetos de modo significativo. Mas a grande perda vem no campo esportivo. Com a assinatura também de Wes Matthews (que, já avisou, mantém o que estava acertado), acreditavam que tinham uma boa base para competir no Oeste. Agora eles têm um rombo imenso para cobrir, e poucas opções no mercado. Enes Kanter, Jordan Hill, Kevin Seraphin, o próprio Boozer… Boa sorte nessa.

Por isso, Mark Cuban ficou mudo nesta quarta. Pois é: DeAndre Jordan já pode adicionar em seu currículo a proeza de ter sido o primeiro homem na face da terra a ter deixado o proprietário do Mavericks sem palavras. Nem o chefão David Stern era capaz disso. Outro que deve demorar um bocado para se pronunciar é Chandler Parsons, que estava cantando aos sete ventos sua habilidade na persuasão dos atletas, brincando que seria o gerente geral do clube no futuro. O papel dele no suposto convencimento de Jordan realmente era muito interessante. Só comemorou a vitória um tanto antes.

A maior crueldade: um constante reclamão, habituado a peitar a liga, Cuban nem mesmo tem o que fazer agora. Oficialmente, os clubes não podem fechar nada durante o período de moratória nas transações com agentes livres, embora isso aconteça em toda negociação. Ironicamente, aliás, o magnata já foi multado pela NBA por ter se pronunciado sobre o pré-acordo com Jordan antes do permitido.  Se Cuban está deprimido no momento, imaginem como esteja a cabeça de Dirk Nowitzki.

O alemão já está em evidente declínio, mas ainda pode ser um atleta valioso num esquadrão. Sem um armador de ponta, com dois alas voltando de cirurgias gravíssimas, um garrafão anêmico e poucas alternativas no mercado, é de se perguntar como o Mavs vai fazer para se reforçar. Sua missão é combater diariamente os adversários da Divisão mais letal da NBA. Na conferência, Utah e Phoenix (oi, Tyson Chandler, tudo bem?) querem subir. Faz como? Um possível caminho é a implosão de suas estruturas e um mergulho de cabeça num projeto de reformulação. Matthews e Parsons poderiam tirar o tempo que quisessem para voltar às quadras, por exemplo. Com o craque Nowitzki se encaixaria nessa, não dá para saber. Sua lealdade ao time é louvável, mas, no decorrer dos anos, ele já se mostrou muito mais inquieto do que Tim Duncan. Quem não se recorda de sua mensagem logo que Dwight Howard anunciou que estava indo para o Rockets, em detrimento do Mavs? “Bem-vindo de volta, Devin Harris”, escreveu, não sem sarcasmo.

Da parte do Clippers, eles saem com o grande prêmio e mantêm seu fortíssimo núcleo intacto — e até reforçado pela chegada de Paul Pierce. (Sobre Lance Stephenson, vamos esperar para ver. ) No entanto, não há como ignorar o papelão que nos proporcionaram. Mais um. O simples fato de o clube ter voltado a investir no jogador depois do acerto com o Mavs nos diz que estavam superconfiantes em que renovariam com o jogador, ignorando os melindres que o incomodavam, e que, a partir daí, saíram desesperados para reconquistá-lo.

Daí toca reunir o contingente numa missão de Comandos em Ação: o chefão Steve Ballmer, Doc Rivers, o ‘bro’ Blake Griffin, Paul Pierce, JJ Redick e, mais importante, Chris Paul embarcaram para Houston e tomaram conta da casa do pivô. Segundo relatos, Paul era o mais comovido na situação, dizendo que não tinha ideia de que suas cobranças diárias estavam alienando o camarada. Que achava que eles eram irmãos e que, por isso, certas liberdades poderiam ser tomadas. A maioria deles ficou no QG de DJ até a meia-noite, para garantir que, de última hora, ele não assinasse, talvez, com o Philadelphia 76ers. Vai que…

Enquanto as horas iam passando, os membros da comitiva jogavam mensagens (nem tão) cifradas nas redes sociais, abusando de fotos e emoji. Griffin era o mais abusado. Primeiro cornetou a mobília dos Jordans. Depois, brincou que estava em uma cabana no quintal. Será que Nowitzki o segue? Faz parte do jogo, claro, mas não deixa de ser um desrespeito, considerando a ética que estava sendo esmagada naquele momento.  Carente que só — e foi essa carência que inicialmente o empurrou na direção do Mavs –, Jordan deve ter se extasiado. Contrato assinado.

Quem também merece um texto só seu nessa novela é o agente Dan Fegan. O mesmo de Dwight Howard, aquele que queria, e não queria sair de Orlando. Aquele que estava encantado com Hollywood. O mesmo de DeMarcus Cousins. O mesmo que é falado nos corredores da liga como um dos maiores rapinas da paróquia. Um cara de cartela influente de clientes, assustador nas negociações. Com que clima Mark Cuban vai poder sentar à mesa com ele agora? E os demais clubes? Ou ele também foi alijado das tratativas?

A reação em cadeira desse causo poderia arranhar sua reputação. Talvez a NBA agora decida, enfim, rever esse período de moratória para que os novos vínculos sejam firmados. Já o Clippers talvez se veja em situação desconfortável na hora de se comunicar com a concorrência, que obviamente não aprova o que aconteceu. Jordan vai enfrentar jornalistas sedentos nos próximos meses e pode se tornar uma figura ridicularizada a cada cidade que visitar. Mas não dá para sermos ingênuos, mais uma vez, nessa. O dinheiro do novo contrato de TV vai jorrar nos próximos anos, a competitividade da liga só vai aumentar, e esse triângulo amoroso/odioso vai virar uma anedota. Ao menos isso a gente pode cravar.

PS: um contrato de freelancer que começou neste mês deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos.


Rajon Rondo: após o fiasco em Dallas, as dúvidas continuam
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Não bateu o santo

Não bateu o santo

As mesmas perguntas que o torcedor do Chicago Bulls fazia com Derrick Rose, a galera em Dallas poderia estar muito bem repetindo a respeito de Rajon Rondo durante a segunda metade da temporada. Claro que sem a mesma intensidade, pois o armador havia acabado de chegar. No período pós-cirúrgico, quem estava ao lado dele era o fã do Boston Celtics, na verdade.

De qualquer forma, o Mavericks apostou alto em sua contratação em dezembro. Mark Cuban acreditava que Rondo viria para levar o seu clube a um outro patamar. Lembrem-se: estamos falando de um momento no qual tudo parecia estar em aberto na fortíssima Conferência Oeste. Uma fase na qual os cartolas acreditavam que uma cartada poderia levá-los ao topo, ao mesmo tempo em que os braços cruzados poderiam resultar numa queda vertiginosa, uma vez que estavam o burburinho era grande nos bastidores. Todos querendo se reforçar.

Enquanto Chicago curte aquilo que parece até mesmo um sonho com Rose – isso, claro, se o Milwaukee Bucks não estragar tudo –, o dono do Dallas quebrou a cara. Com a série contra o Houston Rockets em andamento, Rondo está fora do baralho, num desfecho deprimente para uma transação antes pautada pela euforia. Segundo as palavras do próprio técnico Rick Carlisle, o jogador muito provavelmente não vestirá a camisa do time. “É pouco provável, para ser honesto, e acho que é importante falar a verdade nessas situações”, disse. Ouch.

Foi uma decisão realmente dura e um tanto suspeita. A franquia, oficialmente, afirmou, após as duas derrotas fora de casa, que uma contusão nas costas afastaria o jogador do restante do duelo com o Rockets. Sem dar maiores informações a respeito de qual lesão era essa. Outra: o time perdia apenas por 2 a 0, tinha plenas condições de reverter o resultado. A questão médica era tão grave assim a ponto de, mesmo com uma eventual virada contra Houston, ele ser descartado para o restante dos playoffs? “Entendo que esse anúncio… Vai ter diferentes interpretações. Estou dando nossa interpretação, e isso é um fato”, afirmou o próprio Carlisle.

Os próprios (ex-?) companheiros de Rondo estão surpresos. Tyson Chandler sorriu ao falar a respeito. “Acontece”, deu de ombros. Dirk Nowitzki disse que “coisas muito estranhas” aconteceram com a sua equipe na última semana: “Não sei se alguma coisa aconteceu com suas costas. Não falei com ele”. Os dois veteranos sabem, no fundo, que não adianta fazer rodeio. Se há alguma problema com o armador, não é nas costas. Está mais para a cabeça ou o coração.

Um lance em específico entrega tudo. Com menos de cinco minutos de jogo – o relógio mostrava exatos 7min33s ainda restantes no primeiro quarto –, Rondo falhou em cruzar a linha central em oito segundos. Turnover. Daqueles mais chocantes, mesmo. E não era que o armador estar curvado em quadra, mancando, ou que tivesse caído contorcido no chão. Simplesmente, ou supostamente, não estava prestando a atenção no cronômetro de posse de bola. Talvez não tivesse mais a mínima vontade de organizar mais um ataque ditado por seu técnico. Depois, falhou em voltar para a defesa e permitiu um arremesso livrinho de Jason Terry. Com 6min54s, foi substituído por José Juan Barea. Rondo ainda voltaria no segundo tempo, mas cometeria duas faltas seguidas em James Harden, totalmente destemperado. Foi substituído novamente e se isolou do banco de reservas. Fora de controle.

Carlisle é um dos raros casos de sua profissão, em atividade na liga, que pode se orgulhar de colocar uma estrelinha de “campeão” no currículo. Já fez a carreira de diversos atletas e tem a fama justa de tirar deles o máximo que dá. Mas, ao que parece, as coisas precisam correr nos seus termos. Ele dita as ordens, o jogador obedece. Uma figura controladora.

Com Rondo, não seria tão singela assim a relação. Doc Rivers, mesmo, sabe o quão cabeça dura e desafiador seu antigo, hã, pupilo pode ser. Os dois bateram de frente em diversos momentos em Boston. De qualquer forma, até por ter trabalhado com o jovem recém-saído da Universidade de Kentucky, ainda pouco badalado, a relação teve uma dinâmica diferente. Ele viu o rapaz crescer. Por outro lado, o mesmo rapaz tinha muito com o que aprender com um antigo All-Star de sua posição.

Além disso, para a temporada 2008-2009, o vestiário do Celtics deu uma boa encorpada, com Kevin Garnett, Ray Allen, PJ Brown e Sam Cassell chegando para ajudar Paul Pierce na condução das coisas. Isso para não falar de Kendrick Perkins, um dos melhores amigos do armador – e que tem uma voz asssertiva para dissipar qualquer polêmica.

Em Dallas, o elenco também estava tomado por veteranos e uma referência insuspeita como Nowitzki. Um dos melhores jogadores de todos os tempos, feliz da vida pela chegada de uma segunda estrela ao time, justamente um cara que, segundo imaginava, facilitaria ainda mais seus arremessos, devido à visão de quadra. Rondo chegaria para assumir a mesma função de Jason Kidd no título de 2011, reforçando a dupla armação por que Carlisle tanto preza. Poderia acertar também a defesa. Era o que se supunha.

Faça assim, faça assado

Faça assim, faça assado

Aqui vale, então, relembrar o embate em torno da contratação, porém. Vocês se recordam, né?

O craque alemão estava exultante, assim como Mark Cuban e Donnie Nelson, que bateram o martelo. Em um primeiro momento, o pacote entregue a Boston nem parecia muita coisa, se comparado ao astro que estavam adquirindo. OK, uma escolha de primeira rodada é muito valiosa – se o time decolassee, contudo, sua relevância ao menos seria parcialmente amortizada. E, por mais que Brandan Wright e Jae Crowder fizessem coisas interessantes, as lacunas poderiam ser repostas internamente ou com mais uma transação pontual. Não havia como não fazer a troca.

Agora, a turma que observa a liga mais pelo escopo dos números não estava tão convencida a respeito, e as dúvidas tinham muito mais a ver sobre um declínio evidente de Rondo do que pelo desempenho eficentíssimo de Wright. Diversas medições estatísticas apontavam que a produção do armador já não condizia com sua fama. Pior: o sinal de alerta ficava ainda mais chamativo quando se notava que os pontos fracos (arremesso ainda bem abaixo da média, a aversão aos lances livres e o drible muitas vezes insistente, em detrimento da movimentação de bola) em seu jogo tinham tudo para tirar dos trilhos a locomotiva ofensiva do Mavs, de muitos passes e chute.

Sobrou para essa galera aí

Sobrou para essa galera aí

Em resposta a essas observações realmente pertinentes, os favoráveis ao negócio levantavam outra questão: será que essa queda de rendimento não estava ligada ao puro desânimo por fazer parte de um time em reconstrução? Que, se voltasse para uma equipe de ponta, passaria a se dedicar mais em quadra, recuperando especialmente seu poderio defensivo? Só não poderiam acreditar que a cirurgia pela qual passou em fevereiro de 2013, para reparar um ligamento cruzado anterior, havia causado danos mais sérios ao seu jogo.

Quatro meses depois da transação, parece que a turma das contas ganhou a luta. E não foi por pontos, com o perdão do trocadilho.

O Mavs tinha o melhor ataque da NBA antes da troca. No dia 19 de dezembro, véspera da estreia de Rondo, sustentava média de 113,6 pontos por 100 posses de bola – número que, na eventualidade de um desastre natural e o fim da liga, deixaria o time texano com o maior índice ofensivo da história da liga. A defesa, sim, era apenas a 20ª e precisava de mais cuidados, levando 105,1 pontos.  A partir daí? Despencaram na classificação. Com Rondo, a equipe foi apenas o 12º melhor ataque, com 104,1 pontos. Na retaguarda, melhoraram um pouco, mas nada que compensasse: sofrendo 103,0 pontos, ocupariam o 17º lugar na lista. Em vez de equilíbrio entre um setor e outro, o que aconteceu foi a perda de uma identidade.

Com Rondo em quadra, o Dallas marcava 103,4 pontos por 100 posses. Sem ele, 112,2. Na defesa, os adversários fizeram 2,3 pontos a mais por 100 posses quando o armador estava no banco. No final, o prejuízo era de 6,5 pontos com o suposto “reforço”. Quer dizer: mesmo se não tivesse entrado em uma desavença com Carlisle, talvez a extensão de seu contrato já não fosse justificada. A não ser que Cuban não quisesse dar o braço a torcer. Não é o caso.

“Aqui todo mundo assume a culpa. Estamos numa franquia em que todo mundo reconhece sua parte. O que eu adoro sobre Mark Cuban é que ele é o exemplo definitivo para isso. Quando cometeu erros no passado, ele vem a público e os admite. Todos estão sujeitos a cometer erros, e você aprende com eles. Essa troca era um risco que valhia correr, e todos concordamos com isso. Agora estamos num ponto em que é hora de seguir em frente com o que temos”, disse o técnico.

O que ele tem agora?

No Jogo 2 em Houston, Devin Harris estava afastado, por conta de uma contusão no pé. Coube, então, ao fogoso Barea, em ótima fase, fazer um trio de baixinhos com Monta Ellis e Raymond Felton, egresso do ostracismo, com média de 1,5 ponto e 9,3 minutos em apenas 29 partidas durante a temporada. Rondo passou os últimos minutos no banco, mesmo com o jogo ainda em aberto – ou melhor, fora do banco, sentado em quadra longe de seus companheiros, diante da linha de base.

Rondo e Kobe vão dividir a mesa mais e mais vezes em Los Angeles?

Rondo e Kobe vão dividir a mesa mais e mais vezes em Los Angeles?

O armador saiu do ginásio sem se pronunciar e até agora não deu sua versão final dos fatos. Agora, vai entrar no mercado de agentes livres. Com a reputação, acredita-se, consideravelmente abalada. Sua salvação pode ser a surpreendente amizade e os flertes com Kobe Bryant.

A diretoria do Lakers vai ter espaço na folha salarial para investir e, ultimamente, não anda tomando as decisões mais sensatas. Se o astro pressionar pela contratação de seu, hã, camarada, Jim Buss e Mitch Kupchak vão topar? Vão oferecer um salário máximo, ou terão ao menos o bom senso de barganhar o preço?

Independentemente do salário pago, contudo, a consequência já é sabida: o torcedor angelino, aturdido por duas campanhas ridículas, herdaria toda as dúvidas de seus arquirrivais de Boston sobre o que se passa com Rondo.

Quem sabe Rondo só precise de um time em que esteja feliz? Que lhe dê autonomia em quadra? Talvez seja o cara para quem Kobe possa deferir? Será que…


O Dallas tinha o melhor ataque (da história!). E ainda quis Rondo
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Rondo: as estatísticas não aprovam tanto; o Dallas vai tirar a prova

Rondo: as estatísticas não aprovam tanto; o Dallas vai tirar a prova

Para quem tem acompanhado o blog recentemente, vai soar repetitivo, mas não tem como fugir disto. É a realidade imperante na NBA: mas, numa Conferência Oeste cada vez mais brutal, em que o sétimo colocado tem aproveitamento superior a 70%, os times se veem obrigados a buscar a excelência. O time nunca está bom o bastante. Mesmo o Golden State Warriors, dizem, anda buscando trocas para fortalecer seu banco de reservas.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa
>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

É nesse contexto que entra a troca entre Dallas Mavericks e Boston Celtics, transportando Rajon Rondo, o último remanescente do título alviverde de 2008, para o Texas. Mesmo que o ataque orquestrado por Rick Carlisle em torno de um certo alemão de 2,13 m de altura que arremessa bem de qualquer canto da quadra fosse o mais eficiente da história da liga. Isso mesmo: até esta semana, o índice ofensivo de 115,9, segundo o Basketball Reference, seria maior do que qualquer Phoenix Suns da era Mike D’Antoni obteve. Ou que o Boston Celtics de Larry Bird. Ou que o showtime de Magic, Kareem e Jerry Buss. Sim: qualquer um.

Não era o bastante. Não com o clube texano posicionado entre as dez piores defesas da temporada, mais especificamente na 24ª posição, abaixo de times como Boston Celtics, Philadelphia 76ers, Phoenix Suns, Detroit Pistons, Charlotte Hornets e… Vocês entenderam, né? Então eles foram atrás de um armador reconhecido na liga como um grande marcador em sua posição, alguém que bota pressão no drible dos adversários e nas linhas de passe.

Acontece que, para aqueles mais ligados nas estatísticas avançadas (ou não), essa reputação não se justifica mais. De acordo com os números, aliás, o ex-astro do Celtics já não seria mais um atleta de elite, numa NBA abarrotada de excelentes armadores – Kyle Lowry nunca foi eleito para o All-Star Gagem, por exemplo.

Os pontos negativos apontados: Rondo não intimidou ninguém em suas últimas três campanhas. Seus oponentes convertiam arremessos acima de suas médias diante de seus longos braços. o Boston era melhor tanto no ataque como na defesa quando o atleta estava fora de quadra. O armador está acertando apenas 33% de seus lances livres, abaixo até mesmo de Andre Drummond e Mason Plumlee, um terror. Nas últimas três temporadas, o armador tem finalizado cada vez menos dentro do garrafão (2012-13: 36,3%; 2013-14: 32,6%; 2014-15: 31,5%, comparando com os 55,7% de 2008, o ano do título). Por que isso? Seja por receio de sofrer faltas e ir para os lances livres, ou por simplesmente não ter o mesmo arranque de antes, tenso sofrido uma grave lesão no joelho. Em sua carreira, ele acertou apenas 25,2% de até agora, e como isso vai funcionar ao lado de Monta Ellis, que converte apenas 30,4% de seus chutes de longa distância neste ano (e 31,8% na carreira?). Ellis também domina a bola em Dallas, sendo o atacante mais produtivo da liga em situações de pick-and-roll. Ter Rondo, que não ameaça ninguém no perímetro, não vai atrapalhar isso? E teria mais, mas o parágrafo já ficou gigante o bastante.


É quase um massacre, não?

Então quer dizer que o Dallas fez um negócio sobre o qual eles vão se arrepender prontamente?

Para os estatísticos, sim.

E aí temos um ponto bastante interessante: essa pode ser a segunda troca nos últimos dois campeonatos a contrariar sensivelmente aqueles mais apegados aos números, depois do sucesso obtido por Rudy Gay em Sacramento. (PS: os supernerds merecem um asterisco aqui, uma vez que o próprio Rudy Gay admitiu ter sentido, ouvido as críticas e mudado sensivelmente seu jogo na Califórnia.)

Rick Carlisle: mais um quebra-cabeça para ser montado por um técnico brilhante

Rick Carlisle: mais um quebra-cabeça para ser montado por um técnico brilhante

Mark Cuban, Donnie Nelson e Rick Carlisle obviamente estão atentos a tudo siso. O Mavs tem um dos maiores estafes administrativos nas operações de basquete da NBA. Considerando o sucesso que essa gestão teve nos últimos 15 anos, talvez o mais prudente seja confiar no que eles estão fazendo?

O primeiro e principal contraponto que eles e os defensores de Rondo poderiam fazer é que talvez o armador não estivesse lá muito empolgado em um time que não brigava por nada relevante. “Talvez”, só para colocar de modo educado, né? O consenso em torno de Rondo que ninguém vai discutir: que ele é um dos atletas mais enigmáticos/inteligentes/temperamentais/difícil-de-lidar-no-dia-a-dia da NBA. Por maior que fossem suas juras de amor aos leais torcedores de Boston, obviamente ele não foi o atleta mais determinado em quadra nessa temporada. Coração, concentração, empenho: ninguém ainda encontrou uma fórmula que dimensione esse tipo de coisa. “Ele queria sair, mas jamais iria dizer isso”, disse Kendrick Perkins, seu ex-companheiro de Celtics e talvez seu melhor amigo na liga.

Com o elenco experiente que Carlisle tem, eles acreditam que a personalidade singular do armador será devidamente assimilada. Que o ego não será um problema. E que, num time com aspirações sérias ao título, ele será outro atleta. Será o cara de dois anos atrás, quando, em 2012, liderou um envelhecido Celtics que levou o Miami Heat de LeBron, Wade e Bosh ao sétimo jogo de uma final de conferência inesquecível. “Ele é certamente o tipo de peça que pode render um campeonato”, disse Cuban. Algo com que o técnico Brad Stevens, do Celtics, parece concordar: “Sinto muito que tenhamos de enfrentá-los mais uma vez”.

Os dirigentes creem que, pela inteligência indiscutível de seu novo reforço, ele vai se encaixar tranquilamente no time, entendendo que se trata de uma estrutura complemente diferente da que tinha ao seu redor em Boston. “Não vou ficar dominando a bola assim. Um cara como o Monta precisa dela em suas mãos”, disse o veterano em sua entrevista coletiva de apresentação. “Vamos dizer para ele fazer o que sabe fazer, que é melhorar seus companheiros e envolvê-los. Ele é um guerreiro e um dos jogadores mais inteligentes na quadra. Daqueles que passa primeiro sempre, então acho que devemos curtir bastante jogar ao seu lado”, disse Nowitzki.

Apostam que um Rondo motivado significa um Rondo mais dinâmico e mais veloz,  contando que sua agilidade vai ajudar a amenizar os problemas de espaçamento ofensivo que seu arremesso deficiente proporciona. Além do mais, ele está substituindo Jameer Nelson. Ainda que o tampinha seja um arremessador muito mais gabaritado, combinando melhor com Ellis em teoria, já não tem punch para ser um armador titular na liga. Monta, em público, não manifestou preocupação e avalizou o negócio em conversa por telefone com Cuban: “O cara joga duro, não tem problema. Podem trazê-lo”.

Além disso, o próprio Carlisle tem se notabilizado em Dallas por sua capacidade de assimilar as mais diferentes peças e entregar um produto bastante coeso e perigoso em quadra. É um senhor treinador, daqueles que tira o melhor de cada um de seus atletas e procura amenizar, esconder suas deficiências.

Enfim, o Dallas já tinha um timaço, mas viu nessa negociação uma chance de dar mais um salto. Talvez estivessem incomodados com as cinco derrotas em suas únicas cinco partidas contra times posicionados na zona de classificação para os playoffs do Oeste. Essa conferência que empurra seus integrantes para o limite.

*   *   *

Carlisle já confirmou: Rondo estreia neste sábado contra o San Antonio Spurs. Tem melhor coisa que isso? E aqui fica o jabá: o Sports+, canal 228 da SKY, transmite a partida com exclusividade no Brasil. Estarei nos comentários ao lado do enciclopédico Ricardo Bulgarelli. Rafael Spinelli narra de forma sempre empolgante e bem-humorada.

*   *   *

Jae Crowder, Jammer Nelson e Brandan Wright: de time que sonha com título a projeto de reformulação

Jae Crowder, Jammer Nelson e Brandan Wright: de time que sonha com título a projeto de reformulação

É curioso comparar as declarações pós-troca.

Danny Ainge, chefão do Celtics, disse que o fato de ter escolhido Marcus Smart no Draft deste ano não tornou uma troca de Rondo inevitável. Acredita que os dois poderiam conviver numa boa. “Nós claramente cedemos o melhor jogador nesta troca, e isso geralmente não é o que gostamos de fazer”, disse, bem mais amargo. O fato de Rondo virar um agente livre ao final da temporada foi o que mais pesou, obviamente. “Havia por certo essa incerteza sobre o que poderia acontecer no verão.”

Donnie Nelson, o número 2 do Mavs, afirmou que o time pagou um “alto preço”, mas que valia a pena. Cuban foi mais contundente, como de costume. “Queremos merecer seu desejo de continuar aqui. Vamos fazer tudo o que pudermos para mantê-lo. Rondo não prometeu nada, mas acredita que o Dallas tem um futuro brilhante pela frente e que espera que o time fique junto a longo prazo.

*   *   *

Se Rondo se encaixar perfeitamente com Dirk, Monta e Carlisle, o Dallas ainda vai ter um problema para resolver: Tyson Chandler precisa de ajuda. Aos 32 anos, ele pode não parecer tão velho, mas não podemos nos esquecer que ele foi um dos que pulou direto do high school para a NBA. Já está em sua 14ª temporada e, mesmo quando mais jovem, nunca foi tido como um ironman. Nos últimos dois campeonatos, ele disputou 121 partidas de 164 possíveis. Na atual campanha, tem média de 29,7 minutos, e seria prudente que essa quantia não fosse elevada de modo significativo, para preservá-lo para os playoffs. Sem Brandan Wright, no entanto, talvez não haja outra solução imediata para o técnico. De grandalhões no banco, ele terá de escolher entre Greg Smith, ex-Rockets, Charlie Villanueva, que não vai marcar ninguém, e o calouro Dwight Powell, que veio no pacote de Boston. É por isso que os nomes de Jermaine O’Neal (ainda indeciso sobre estender sua carreira) e Emeka Okafor (treinando por conta própria para entrar em forma, de olho num retorno no ano novo) já são especulados. São os dois principais alvos do clube.

*   *   *

Do lado de Boston, como ficam as coisas? O técnico Brad Stevens podem se apegar ao que dizem os números: que Rondo estava mais atrapalhando do que ajudando o time. Seria esse o argumento interno mais popular no clube, certamente. Além disso, Brandan Wright tem características que preenchem lacunas importantes em seu elenco: um pivô atlético que protege o aro e oferece bom complemento a Jared Sullinger e Kelly Olynyk. Tyler Zeller é quem pode rodar nessa. O espigão vinha numa temporada das mais produtivas da NBA e vale um texto um pouco mais detalhado, já que seu caso também abre uma boa discussão sobre o modo de se enxergar as estatísticas.

Acontece que Danny Ainge não está pensando em chegar aos mata-matas nesta temporada. Para ele, o mais interessante é descolar mais uma escolha alta de Draft em 2015, se conformando em tocar uma reformulação lenta, dolorosa, mas talvez necessária. Jeff Green e Brandon Bass são nomes que vão aparecer no HoopsHype mais e mais.

Agora, vale também acompanhar de perto a evolução de Smart. O armador revelado em Oklahoma State já é um defensor de mão cheia – uma raridade para um calouro. Seu arremesso cai mais que o de Rondo, mas ainda está em manutenção. Dependendo da quantidade de minutos que receber de Stevens, pode virar um candidato a novato do ano.


Troca de Rondo resulta na dispensa de Faverani. Na NBA, nada é garantido
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Carreira de Faverani pelo Boston durou 488 minutos em 37 jogos; marcou 164 pontos

Carreira de Faverani pelo Boston, por enquanto, durou 488 minutos em 37 jogos; marcou 164 pontos

Como jogadores, dirigentes e treinadores sempre falam: são negócios afinal, não?

O universo da NBA é muito complicado, cheio de armadilhas, que são intrínsecas ao jogo. O jogo como um todo, mesmo, muito mais os dados lançados fora de quadra, como Scotty Hopson pode muito bem assinalar. Assinar um contrato com um time da liga norte-americana pode ser o auge para a carreira de um atleta, mas não é certeza de nada. Quer dizer: dependendo do acordado, até rende uma boa grana. No que se refere a basquete, uma vez lá, você tem de se preparar para encarar uma competitividade extrema. Além disso, num cenário sempre volátil, também vai precisar de sorte.

O que faltou a Vitor Faverani. Nesta quinta-feira, sua passagem pelo Boston Celtics se encerrou, ao ser dispensado depois da fulminante troca de Rajon Rondo para o Dallas Mavericks. Como Danny Ainge recebeu mais jogadores (Brandan Wright, Jameer Nelson e Jae Crowder) do que mandou (Rondo e Dwight Powell), acabou ultrapassando novamente o limite de contratos permitidos pela liga (15). Sobrou para o pivô brasileiro, que ainda se recupera de uma segunda lesão no joelho.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa
>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

A transição de jogador relevante na Europa para peça complementar nos Estados Unidos geralmente é bem complicada. Splitter, Teletovic e, agora, Bojan Bogdanovic são alguns dos casos de gente badalada no Velho Continente que enfrentou sérios percalços ao migrar para a NBA. Para Faverani, que nunca chegou a ter o sucesso desse trio no princípio de sua carreira, não seria diferente. Já coloquei aqui os altos e baixos de seu primeiro ano na liga, que acabou encerrado por conta de uma lesão no joelho. Lesão que pediu duas cirurgias e olhe pôs numa posição muito difícil.

Uma pena. Seu talento e suas habilidades se encaixam com o sistema tático em voga na liga americana, já que não só pode proteger bem o aro como tem potencial para ser uma ameaça no perímetro. O próprio Danny Ainge já disse isso. Mas chegou uma hora em que os bastidores o atropelaram. O cartola precisava encontrar um novo destino para Rondo. Não é que ele duvide da capacidade do armador. O que pega é que ele vai virar agente livre ao final da temporada e, segundo a mídia de Boston, iria pedir um contrato máximo para renovar. Coisa de US$ 20 milhões, aproximadamente, e o clube não estava disposto a desembolsar tal quantia. Aí que o Dallas apareceu com tudo e venceu Houston Rockets e Los Angeles Lakers num breve leilão e levou o armador. Faverani acabou pagando o pato, mesmo que tivesse um salário garantido de mais de US$ 2 milhões.

Brandan Wright e Jae Crowder acabam forçando a dispensa de Faverani

Brandan Wright e Jae Crowder acabam forçando a dispensa de Faverani

O que vai ser do pivô de 26 anos? Caso não seja recolhido por nenhuma franquia em seu período de waiver, até sábado, imagino que um retorno para a Europa seja o mais fácil de concretizar – tem muito apelo mercado na Espanha, e aí seria uma questão de apenas averiguar se está tudo certo mesmo com o joelho e seguir em frente.

Por outro lado, ao que  parece, a ideia inicial é tentar mais alguma porta nos Estados Unidos, o que dá para entender. Inevitável que fique um pouco de frustração. Segundo um de seus agentes, Luis Martin, ele poderia até mesmo ser reaproveitado pelo Boston no futuro. É o que disse ao repórter Gustavo Faldon, do ESPN.com.br.

Sua dispensa aconteceu por circunstâncias bem diferentes, se compararmos com o que aconteceu com outro gigantão brasileiro descartado pelo Celtics, Fabrício Melo. Mais jovem, Fab foi draftado por Ainge, ainda muito cru, como uma aposta de longo prazo num elenco que ainda contava com Garnett e Pierce. O que ele mostrou em um ano de trabalho, dentro e fora da quadra, foi o suficiente para o dirigente abortar esse projeto bruscamente. O pivô foi trocado para o Memphis, chegou a acertar, ironicamente, com o mesmo Mavs, mas se viu fora da liga rapidamente. Nem no Paulistano conseguiu se manter, independentemente de seu potencial (se nos Estados Unidos já é difícil encontrar um cara de 2,13 m e ágil, imagine por aqui…). Pelo que entendo, aprontou fora da quadra.

Ainda que bem diferentes, as histórias de Faverani e Melo têm outro ponto em comum além do fato de terem sido relevados pelo Boston Celtics: como é difícil se manter na NBA. São casos que servem de alerta para qualquer garoto que espera chegar a esse eldorado, ainda mais depois do que ocorreu com Bruno Caboclo. A saída do garoto do Pinheiros direto para o Raptors acende uma fagulha, mesmo, nas revelações brasileiras. Não tem como. Se alguém, por ventura, conseguir replicar esse salto, é para se comemorar, mesmo, com orgulho. Só não dá para achar que a vida está feita, que a carreira está ganha.

Como disse Luis Martin a Gustavo Faldon: “Ele (Vitor) não entendeu nada. Estava falando com o técnico sobre voltar e de repente vem a troca. Todo mundo falando da volta dele, o Danny Ainge, mas daí venho a troca e muda tudo”.

Num campo em que a concorrência em quadra e os negócios são cruéis, a luta é contínua. Não sobra muito tempo para comemorar.

*   *   *

Num veículo brasileiro, a gente acaba se concentrando no impacto da negociação para um compatriota. Mas toda as partes envolvidas em qualquer negociação são afetadas.  Sabe o que Jameer Nelson estava fazendo quando soube que seria trocado para Boston? Comprando presentes de Natal para crianças de Dallas no shopping North Park, segundo Brad Towsend, repórter do Dallas Morning News.

* * *

Já Mark Cuban, o irrequieto dono do Dallas Mavericks, deu seu aval para a troca enquanto se preparava para participar da gravação do último programa de Stephen Colbert no canal Comedy Central. Colbert vai substituir o genial Dave Letterman na CBS.


Vitória por lavada dos EUA começa antes de a bola subir
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Team USA hegemony, EUA, hegemonia, Copa do Mundo

A gente pode falar sobre a final especificamente, mas nem tem muito o que ser dito. Kyrie Irving queimou a redinha no primeiro período, depois que James Harden e DeMarcus Cousins apagaram o incêndio inicial, quando a Sérvia vencia por 10 a 5 após 3min30s de jogo. O Sr. Barba fez algumas cestas na marra, para levantar a cabeça de seus companheiros, enquanto Boogie acertou surpreendentemente a defesa, acabando com a farra que Teodosic e os pivôs estavam fazendo no garrafão.

A partir daí? É como se os balcânicos tivessem cutucado a fera muito cedo. Foi mais um atropelo de uma seleção norte-americana toda desfalcada, mas bastante superior tecnicamente aos seus adversários. Em termos de plantel, mesmo que tenham perdido para a França nas quartas, apenas a Espanha poderia fazer frente. Num dia muito inspirado, claro.

Pois bem: o Team USA venceu por 129 a 92 e conquistou seu quarto ouro consecutivo nas maiores competições da Fiba. São agora bicampeões olímpicos e mundiais. Usando a força máxima nos Jogos e o time B, de jovens, na Copa – foram campeões com apenas 24 anos de média de idade.

No final das contas, então, acho que vale mais falarmos sobre o modo como eles restauraram essa hegemonia no esporte que inventaram, com um canadense importado. Afinal, não custa lembrar: 10 anos atrás, a equipe americana teve de se contentar com um bronze em Atenas 2004. Duas temporadas antes, haviam passado uma das maiores humilhações de sua história ao terminar o Mundial, em casa, em quinto. A mesma Indianápolis que ajudou a consagrar Oscar e Marcel.

A diferença: no Pan de 1987, a seleção brasileira derrubou um time forte de universitários. Em 2002, a derrocada foi com marmanjos de NBA, mesmo. Não era o que eles tinham de melhor, mas espie a lista: Paul Pierce, Jermaine O’Neal, Reggie Miller, Ben Wallace, Shawn Marion, Baron Davis, Andre Miller… Enfim, deu para ter uma ideia, né? Todos caras que faturaram mais de US$ 80 milhões em suas carreiras.

Naquele cenário, desde que rodeados por uma organização mínima, provavelmente era o suficiente para triunfar, mesmo contra uma Iugoslávia de Bodiroga, Divac, Stojakovic, Tomasevic e cavalaria, que os eliminou nas quartas de final. Ou contra uma Argentina que tinha Ginóbili, Nocioni, Oberto em forma etc.

O que o time de hoje tem que aquele não apresentava? Seriedade, sinceramente. Comprometimento. Mas não o uso apenas coloquial, retórico dessas palavras, como muita gente gosta de fazer. E, sim, botá-las em prática, num trabalho comandado por Jerry Colangelo, ex-proprietário do Phoenix Suns. O dirigente havia ajudado a transformar o Suns num time de elite na Conferência Oeste da liga por boa parte do tempo em que esteve envolvido, como treinador, gerente geral ou CEO, até vender o clube para Robert Sarver e associados. O time ficou fora dos playoffs apenas em seis temporadas, entre 1975 e 2004.

Como líder da USA Basketball a partir de 2005, Colangelo conseguiu arrumar a casa num estalo. O primeiro trunfo foi recrutar Mike Krzyzewski como seu técnico principal, função que havia desempenhado no final dos anos 80 e início dos anos 90. Funciona não apenas pelo fato de o Coach K entender bastante do riscado e respeitar os concorrentes internacionais. Mas também pela aura que ele criou dentro do basquete americano, pela universidade de Duke. É uma figura que gerou credibilidade instantânea para o projeto e que tem ascendência sobre os atletas profissionais – lembrem-se que Kobe Bryant implorou por sua contratação em 2004 quando Phil Jackson deixou o Lakers pela primeira vez.

No primeiro trabalho, o Team USA também se viu obrigado a aceitar um bronze, ao perder para a Grécia na semifinal do Mundial 2006. Desde, então, estão invictos. São 63 vitórias consecutivas, 45 em jogos oficiais. 6 x 10 + 3.

Esse tipo de coisa acontece com quem tem os melhores jogadores do mundo, mas independe da presença de LeBron James ou Kevin Durant em quadra, como a turma desta Copa do Mundo mostrou. Dos 22 atletas americanos que disputaram o último All-Star Game da NBA, apenas cinco ganharam o ouro na Espanha (Irving, Curry, Harden, Davis e DeRozan).

Não é que o Coach K seja milagreiro. Há uma estrutura profissional por trás do treinador que é estrela de comercial de cartão de crédito nos Estados Unidos – algo como o Bernardinho deles – e que dá suporte a esses craques. Uma estrutura atenta a mínimos detalhes.

Saibam que, quando Brasil e Argentina estavam se enfrentando em seu primeiro amistoso no Rio de Janeiro neste ano, os scouts da federação americana saíram feito loucos atrás de uma fita que fosse desse jogo. O primeiro amistoso de muitos que argentinos e brasileiros fariam no ano. Os mesmos rivais que eles poderiam observar quando bem entendessem durante a Copa. Saca?

Mesmo com todo o talento ao seu dispor, Krzyzewski vai se reunir periodicamente com seus assistentes, contratados de forma independente por Colangelo, para afinar a comunicação entre eles e também o discurso para o elenco. Não é o caso de apenas chegar ao ginásio, colocar uma bola no centro da quadra e deixá-los executarem.

O ritmo forte que imprimem em quadra é desenhado, para aproveitar a capacidade atlética de que desfrutam. As ações ofensivas também ficam mais simples – mas não menos eficientes. A defesa se ajustou ao seu elenco. Em vez de fazer um abafa o tempo todo, adotou princípios de Tom Thibodeau que viraram a regra geral na NBA. E por aí vai. Essas minúcias não se resumem ao time adulto. De 2005 para cá, os Estados Unidos venceram também todos os três Mundiais Sub-17 organizados pela Fiba (2010, 12 e 14). Nos Mundiais Sub-19, ganharam dois de quatro.

A essa altura, a única grande ameaça ao domínio norte-americano é interna. A gravíssima lesão sofrida de Paul George atiçou ainda mais aqueles que são contrários ao envolvimento de atletas NBA nos torneios de seleção – se for para a Fiba administrar, isto é. Vozes como a de Mark Cuban, dono do Dallas Mavericks, que advoga que a liga americana assuma a organização da competição.

Esse é o tipo de história que vale monitorar nas próximas semanas, depois dessa conquista impressionante de uma seleção “B”, que terminou o torneio com saldo acima de 30 pontos em média. O tipo de jogo que nem deu para discutir direito, como essa final.


Personagens dos playoffs: Vince Carter
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Vince Carter, herói das masas e de Nowitzki

Vince Carter, herói das masas – e de Dirk Nowitzki. É isso aí

Quem se lembra de quando havia gente doida o bastante para dizer que o Dirk Nowitzki nem era tudo aquilo que se falava, que ele nunca vencia nada que prestasse, que era apenas um bom arremessador, mas um fracote para triunfar na NBA? Mais um desses euros molengas, que não aguentava o tranco, e tal. Seu jogo só servia para a temporada regular. Na hora do vamovê, tirava da reta, afinava.

Estamos falando aqui dos idos de 2008, mais ou menos, e o alemão ainda não havia conquistado seu anel de campeão, derrubando LeBron James e a cambada de South Beach nas finais. De fato uma loucura. Mas o supercraque ao menos conseguiu assumir o controle da situação, ditando, com talento e, ufa, resultados, qual a percepção em torno de sua carreira, se é que um dia ele vai parar de jogar. Dá para imaginar Nowitzki girando, devagar quase parando, aos 50 anos, atirando a bola bem lá pro alto, e o arco terminando num chuá daqueles.

Agora, e quem se recorda dos tempos em que Vince Carter era o futuro da NBA? O tanto de pôsteres “Vinsanity impressos com cravadas inigualáveis, como aquelas de sua inesquecível exibição no torneio de enterradas de 2000, ou mesmo aquela mais absurda (de todos os tempos) sobre o pobre Fredereic Weiss nos Jogos Olímpicos de Sydney, no mesmo ano. Sem contar os diversos NBA Actions que terminaram com suas jogadas que realmente testavam as mais conservadoras leis da física. Sim, aí voltamos no tempo um pouco mais, mesmo, no início da década passada, quando ainda era possível ter a dúvida sobre quem teria a melhor carreira: Vince ou Kobe.

Dunk of Death, Carter, Weiss

Muita coisa também correu por baixo da ponte desde então. Muuuuuita coisa, neste caso. Carter foi de cidadão honorário a figura mais odiada em Toronto, onde até hoje é vaiado – especialmente por ter forçado sua troca, sabotando por completo seu valor, a ponto de o (incompetente, é verdade) Rob Babcock tê-lo repassado por um pacote de Eric Williams, Aaron Williams, um veteranaço Alonzo Mourning, que se recusou a jogar por lá, e duas escolhas de primeira rodada que viriam a ser Joey Graham e Renaldo Balkman (este para o Knicks). Bateu de frente com Jason Kidd em New Jersey. Não ajudou o Orlando Magic a segurar Dwight Howard. Não foi contagiado pela mágica de Steve Nash em Phoenix. Não, não e mais não. Varou os 30 anos como uma pálida lembrança de alguém que já havia sido extremamente relevante para o marketing da liga. até ser dispensado pelo Suns aos 34. Sim, para diversos críticos (oi!), era o fim.

Agora, no caldeirão que Rick Carlisle remexe e prepara com gosto, tudo parece ter um jeito, uma função. Carter foi mais uma contratação-tampão de Mark Cuban em 2011, depois de o proprietário ter implodido o time campeão, para desespero de Nowitzki. A ideia era adicionar veteranos produtivos, seguir em frente com um elenco minimamente competitivo, até que pudessem dar mais uma grande tacada no mercado – algo que não aconteceu exatamente, por mais que Monta Ellis esteja disputando sua melhor temporada. Nessa toada no ritmo de nós-trupica-mas-não-cai, Carter encontrou um novo nicho. Sem muita pressão, firmou-se na rotação, como um sólido chutador para espaçar a quadra ou assumindo mais responsabilidade quando Dirk está descansando, sem contar o fato de também ter se apresentado surpreendentemente como um valente marcador na primeira linha defensiva. Passou a se sentir tão bem que, ciente do final iminente de seu contrato, afirma já ter feito o suficiente pelo clube para merecer uma renovação. Aos 37 anos.

Depois da sensacional cesta da vitória contra o San Antonio Spurs neste sábado, Cuban vai ter de apelar realmente ao pragmatismo se quiser abrir mão do ala. Não custa rever o lance (até o momento em que o dono do clube invade a quadra para abraçá-lo):

Manu Ginóbili sofreu um leve empurrão e deixou o ala escapar por um instante, o suficiente para que seu oponente pudesse receber o passe. Mas o argentino se recuperou rapidamente e o pressionou no canto da quadra. Carter se contorceu e acertou um arremesso extremamente complicado. Valendo o jogo, a liderança da série. Justo ele, que ganhou, justo ou não, a fama de um dos grandes amarelões durante a década.”Às vezes você erra um arremesso importante, como em 2001, e você tem de liidar com isso por um tempo até receber a oportunidade novamente”, disse o ala, em referência ao chute em que errou em duelo com o Philadelphia 76ers de Allen Iverson nos playoffs de 13 anos atrás, pela semifinais do leste. Naquela ocasião, o ala viajou para a Carolina da Norte para participar de sua cerimônia de formatura durante a série, numa decisão que gerou muita polêmica e o perseguiu, basicamente, para sempre.

Com o jogo na linha, Carlisle não pensou em nada disso. “Ele me disse: ‘Ei, você vai receber a bola e vai matá-la’. Eu disse: ‘OK, sem problema’. Na minha cabeça, eu já havia feito o arremesso antes mesmo de a jogada acontecer. Fico feliz que tenha dado certo”, afirmou o atleta, sem tanta empolgação assim para alguém que havia acabado de voltar ao grande palco da liga, num momento crucial para sua equipe. Gato escaldado, claro. Mas vivo, em busca da redenção que Nowitzki já teve.

* * *

 Aqui, uma compilação de 100 (!?) enterradas de Carter no auge. Imaginem se o YouTube e o Twitter estivessem vivos na época. Blake Griffin não teria chances, convenhamos:

*  *  *

Seguem duas fotos do lance capital do terceiro jogo da série contra o Spurs, com o Mavs na frente por 2 a 1. Para mim, ainda mais espetaculares que o vídeo, com destaque para a segunda (o calcanhar quase mordiscando a linha e Manu saltando feito um louco):

Vince Carter x Manu Ginóbili, jogo 3, Mavs x Spurs

Mavs vs Spurs, Carter, clutch, Game 3 win

*  *  *

Por fim, o gráfico de aproveitamento de arremessos de Carter durante a temporada. Na quina esquerda da quadra, justamente o seu ponto preferido:

Vince Carter shot chart, 2013-2014


Poderia Brittney Griner ser a 3ª mulher selecionada por um time da NBA? Relembre casos históricos
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Ah, o Mark Cuban.

O dono do Dallas Mavericks volta a fazer barulho – aliás, quando ele realmente para? –, dizendo nesta terça-feira que não veria problema algum se o clube escolhesse a pivô Brittney Griner no próximo Draft da NBA. “Se ela for a melhor jogadora disponível em nossa lista, eu a pegaria. Já pensei a respeito. Será que eu faria? A essa altura, estou inclinado a dizer sim, apenas para ver se ela consegue”, afirmou. “Você nunca sabe, a não ser que dê uma chance para a pessoa, e não é que qualquer selecionado na última parte do Draft tenha muita chance de ficar na liga, mesmo.”

Brittney enterrando

Slaaaaam jam, Brittney!

Se o gerente geral Donnie Nelson não tiver coragem ou interesse em selecionar no dia 27 de junho, em Nova York, Cuban afirmou que ela ainda poderia ter uma chance de entrar para o time sendo testada em alguma liga de verão deste ano.

Jogando por Baylor, Brittney se tornou neste ano a segunda maior cestinha da história da NCAA, primeira divisão, com 3.283 pontos, atrás apenas dos 3.393 de Jackie Stiles. Mas são 36 pontos especificamente que chamam mais a atenção para a talentosa jogadora: os 36 produzidos nas 18 enterradas que tem em sua carreira – é como se ela fosse o equivalente a Wilt Chamberlain ou Shaquille O’Neal no basquete universitário feminino, em termos de domínio físico. Como prova disso, seus 748 tocos são um recorde, incluindo os registros dos homens.

Bastante confiante em suas habilidades e um vasto currículo de títulos e prêmios que não caberia aqui, empolgada com o raciocínio de Cuban, a pivô foi ao Twitter para dizer que está aí, pronta para o que der vier. “Eu dou conta! Vamos fazer isso”, afirmou.

Quem não gostou nada dessa história foi o técnico Geno Auriemma, da universidade de Connecticut e campeão olímpico com a seleção americana feminina em Londres. Repetindo: não gostou n a d i n h a disso. “Obviamente Mark Cuban é um gênio, porque ele foi capaz de transformar algumas grandes ideias em indústrias de bilhões de dólares, e ele faz um grande trabalho como proprietário do Dallas Mavericks. Mas sua condição de gênio sofreria sérios danos se ele ‘draftar’ Brittney Griner. E se Brittney Griner tentar entrar em um time de NBA, acho que seria uma coisa de relações públicas e acho que seria uma farsa. O fato de que uma mulher poderia realmente jogar agora na NBA e competir com sucesso contra o nível de jogo que eles têm é absolutamente ridículo”, afirmou.

Cuba, logicamente, não ficou quieto e defendeu a ideia, rebatendo o treinador. “Nós avaliamos cada jogador elegível para o Draft no planeta. Não estaríamos fazendo nosso trabalho se não considerarmos todo mundo. Com disse ontem para a mídia, ela teria de brilhar nos treiamentos para ser selecionada. Não tenho problema algum em dar a ela essa oportunidade. Espero que ela tente. Nada pode ferir mais uma organização ou uma companhia do que uma mente fechada”

As críticas de Auriemma fazem sentido. Brittney é listada pela universidade de Baylor com 2,03 m de altura e 94 kg. Gigante para o basquete feminino, poderosa. Na NBA, não muito. Para se ter uma ideia, o ala Jared Dudley, do Phoenix Suns, tem 2,01 m de altura e 102 kg. Não necessariamente o jogador mais atlético, mas que consegue dar suas enterradas também, apesar das piadas dos companheiros. Kyle Korver, ala do Atlanta Hawks que quase nunca se aventura no garrafão e representa a finesse, tem 2,01 m e 96 kg.

Por outro lado, a lógica de Cuban é difícil de ser contrariada, independentemente de suas intenções marketeiras. Se ela quiser, topar, quem vai dizer que a garota não pode tentar?

*  *  *

Caso  Brittney Griner e o arrojado dono do Mavs levem os planos adiante, eles podem fazer história, mas não seria algo inédito.

Ann Meyers Drysdale, sensacional

Ann Meyers Drysdale tenta a sorte pelo Pacers

Ann Meyers Drysdale, armadora que se destacou por UCLA nos anos 70, instituição pela qual ganhara uma rara bolsa de estudos, chegou a ser testada pelo Indiana Pacers em 1979, recebendo um contrato de US$ 50 mil. Ela participou de atividades com a equipe por três dias, mas acabou cortada do elenco final para a temporada – os destaques eram os alas George McGinnis e Alex English, além do armador Johnny Davis e do pivô James Edwards.

A dispensa não a abalou de forma alguma, e seu relato sobre a experiência abre muitas perspectivas para a jovem pivô formada em Baylor avaliar: “Passei por isso no colegial e na minha vida toda, jogando contra os caras no playground, então não foi nada muito diferente. No colegial eu tive a oportunidade de jogar no time dos garotos. É nesta fase que seu corpo muda, suas emoções mudam, assim como sua percepção social e as coisas que dizem sobre você. Então quando eu lidava com as pessoas tentando me convencer a não tentar jogar pela equipe dos garotos no meu último ano de colégio, isso ficou na minha cabeça”, afirmou.

“Quem imaginaria que cinco anos depois eu teria a mesma oportunidade? Era um nível diferente, mas tinha conseguido tanta coisa na universidade e pela seleção que não ia permitir que as pessoas me tirassem dessa novamente. Muitas pessoas achavam que era uma situação em que não ganharia nada. Se eu fizesse uma cesta, diriam que haviam me deixado. Se eu levasse um toco, era porque era uma garota, e não tinha nada demais. Já tinha visto isso minha vida toda enfrentado os garotos nos parques, e o que eles ou as garotas diziam sobre mim, ou até mesmo os pais. Mas, quando cheguei a esse alto nível, pude bloquear tudo isso.”

*  *  *

Vocês sabiam que duas jogadoras já marcaram presença no Draft da NBA?

Sim, duas.

A primeira foi Denise Long, pelo San Francisco Warriors, em 1969. Sensação do basquete colegial de Iowa, ela foi selecionada na 13ª (!!!) rodada do Draft daquele ano. O comissário Walter Kennedy, porém, não permitiu que a experiência fosse adiante, anulando a escolha imediatamente. Não obstante, a história teve repercussão imediata, com direito a matérias no New York Times e na Sports Illustrated.

Denise Long, pioneiraDenise marcou 6.250 pontos em sua carreira no colegial, a maior marca do país. O problema é que, naquela época, as universidades não davam bolsa de estudos para nenhuma jogadora. Que fique claro: para nenhuma jogadorA. De modo que a jogadora se viu numa situação extremamente desagradável, sem poder levar adiante sua paixão e vocação. Não havia também basquete feminino nas Olimpíadas – o primeiro torneio aconteceu apenas em 1976. O fim de carreira abrupto nunca foi bem assimilado pela americana, claro, restando apenas um caderno de recortes dos tempos de glória e uma frustração que nunca deixou a ex-atleta. “Eu a perguntei uma vez se ela se arrependia de algo”, disse seu treinador Paul Eckerman. “Ela respondeu que eu poderia ter ensinado tênis ou golfe para ela.”

A segunda ‘draftada’ foi Lusia Harris, em 1977, pelo New Orleans (futuro Utah) Jazz. Uma pivô de 1,90 m, formada em Delta State, ela havia sido eleita por três anos para a seleção das melhores universitárias, com médias de 25,9 pontos e 14,5 rebotes e 64% nos arremessos de quadra. No geral, ela foi a 137ª escolha daquele ano, na sétima rodada, na frente de outros 36 jogadores. Saindo na posição 138, o ala Alvin Scott teria uma carreira de oito temporadas pelo Phoenix Suns.

Lusia Harris, Hall da Fama

Lusia Harris, pré-Karl Malone

A decisão do Jazz, no entanto, não tinha nada a ver com basquete. Era uma ação declaradamente para atrair os holofotes – Lusia nem mesmo sabia o que estava acontecendo e nunca chegou a fazer nenhuma atividade pelo clube, até por estar grávida (!) na época. Anos depois, mas antes de montar a base fortíssima com John Stocktone e Karl Malone, com uma draga de time nas mãos, o gerente geral Frank Layden brincaria a respeito, dizendo que a pivô “era melhor que qualquer um em seu time, menos Pete Maravich”, em referência ao icônico astro, o Pistol Pete. Layden também comentaria com humor a gravidez da universitária, dizendo que havia ganhado dois jogadores pelo preço de um. Em 1992, Lusia Harris se tornou a primeira jogadora a ser indicada ao Hall da Fama do basquete.

*  *  *

Nancy Lieberman conseguiu, sim, jogar contra homens profissionais.

Mas, opa!, não na NBA. Ela chegou a jogar na liga USBL e também pelo Washington Generals, o infame adversário de tantos jogos contra o Harlem Globetrotters, nos anos 80.

Entrou para o Hall da Fama em 1996 e, no ano seguinte, voltou para as quadras, disputando a temporada inaugural da WNBA, com 39 anos, sendo a atleta mais velha da competição. Em 1998, virou treinadora e dirigente, pelo Detroit Shock. Ela acabou afastada de ambos os cargos três anos mais tarde, depois de acusações de que teria se relacionado com a armadora Anna DeForge. Em 2008, no entanto, Nancy voltaria a se envolver com o time de Detroit, premiada com um contrato de sete dias – como jogadora! Aos 50 anos, quebrou seu próprio recorde, e disputou uma partida, em derrota por 79 a 61 para o Hoston Comets, dando duas assistências.

Em novembro de 2009, ela foi pioneira em outra esfera, quando foi contratada para ser a treinadora do Texas Legends, na D-League. Foi, desta forma, a primeira técnica a dirigir um time profissional masculino. Hoje, trabalha como dirigente do clube.

E a qual franquia da NBA o Legends está vinculado?

O Dallas Mavericks, justamente.


Mavs e Lakers duelam mais uma vez, e há um time aqui que merece mais a vaga
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Dirk Nowitzki, versão barba

Dallas Mavericks e Los Angeles Lakers se enfrentam nesta terça-feira em um confronto direto valendo vaga nos playoffs do Oeste. Quer dizer, a título de informação, esse embate vale tecnicamente a nona posição da conferência, fora da zona de classificação – com o Utah Jazz reagindo e ocupando o oitavo lugar agora.

Mas, ok, sem se apegar tanto ao pé da letra, dá para dizer que é “um confronto direto pelos playoffs”. E, neste duelo de dois clubes que estranhariam demais assistir aos mata-matas do lado de fora, há claramente um time que merece mais a vaga do que o outro.

De um lado, está um time afeito ao circo, extremamente inconsistente, com uma intriga por semana na mídia, uma defesa porosa e a folha de pagamento mais cara da NBA, que havia sido moldada com um único objetivo, o título, e mais nada. Do outro, uma equipe que não se perde em seus próprios caprichos, não tem um só nome de expressão além de seu capitão – ainda que Shawn Marion mereça diversos elogios, mas em outra esfera –, e de alguma forma soube superar a lesão que tirou Nowitzki do início do campeonato para, desafiando todos os prognósticos, chegar ao mês de abril com chances claras de avançar. “Disso isto para um cara algum dia desses: estamos tentando a maior recuperação da história desde Lázaro”, disse Rick Carlisle.

E o melhor dessa reação é que o Dallas encaminhou tudo com muita discrição, sem alarde ou empolgação nenhuma. Do jeito que o alemão gosta.

Kobe Bryant x OJ Mayo, Shawn Marion

Mayo, de contrato curto, e Marion, ainda um ótimo defensor, vão tentar parar Bryant

Tá certo que Dirk Nowitzki deixou bem claro há alguns meses que não estava nada feliz com a política de contratação de Mark Cuban para este ano. Uma vez que o ricaço dono do Dallas Mavericks não conseguiu convencer Deron Williams a retornar para casa, concordou com sua diretoria liderada por Donnie Nelson em assinar contratos de curto prazo, um ano de duração, com uma série de atletas, Chris Kaman e OJ Mayo entre eles. Geralmente, é o tipo de situação que gera instabilidade e pode dificultar bastante a vida de Carlisle, que até hoje não encontrou uma rotação certeira para sua equipe. (Depois, claro, o alemão disse que ainda confiava na capacidade de Cuban e Nelson de gestão e blablabla.)

Ah, também tem o fato de que Dirk Nowitzki ainda está deixando a barba por crescer. Faz tempo já. Prometeu que só a cortaria quando seu Dallas Mavericks, enfim, alcançasse a marca de 50% de aproveitamento na temporada. E, senhoras e senhores, isso é o máximo de excentricidade que Nowitzki pode cometer.

Sério: o que mais?

Qual foi o último incidente protagonizado pelo Sr. Maverick em quadra? Ou fora? Qual a grande polêmica que tenha envolvido uma carreira que já dura 14 anos, desde que estreou na liga aos 20 anos, no dia 5 de fevereiro de 1999, contra o Sonics, quando Seattle ainda tinha sua franquia e ainda tinha Gary Payton, Detlef Schrempf e Vin Baker em sua escalação inicial. Faz tempo que ele está por aí, e nada de controverso além das discussões de sempre sobre basquete podem ser atreladas a este superastro.

O jovem Dirk Nowitzki

Dirk Nowitzki, versão molecote

Porque Nowitzki só quer saber de jogar, e pronto. Ele pode não ter – ou fazer – o marketing de Kobe, mas é tão dedicado quanto em seus treinamentos, tendo relaxado apenas nos meses que sucederam seu tão esperado título em 2011, envergonhando-se depois da ‘má forma’ e pedindo desculpas. Suas sessões de verão com o mentor Holger Geschwindner já são legendárias, especialmente as que conduziam durante sua adolescência, com práticas heterodoxas para refinar seus fundamentos. Hoje, quando está em casa ou no hotel em viagem pelo país de noite, liga o League Pass e devora qualquer jogo que esteja passando, nem que seja Charlotte Bobcats x Detroit Pistons, como falou em grande entrevista ao obrigatório Zach Lowe, do Grantland. A sessão corujão pode durar mais de três horas.

Em Rick Carlisle, encontrou um treinador igualmente devoto ao jogo, sisudo até demais, depois de anos e anos de maluquices do genial, mas temperamental Don Nelson na década passada. Carlisle já costuma espernear mais, mas volta sua ira com maior frequência para a direção da liga, questionando arbitragens em geral. E qual técnico não faz? Fora isso, o armador Darren Collison ouviu poucas e boas durante a campanha também.

Cuban é o cara que quebra a monotonia, sempre alerta para provocar os adversários – ou Donald Trump – no Twitter, especialmente o próprio Los Angeles Lakers, adorando chamar a atenção. De todo modo, o método como conduz sua franquia é indefectível. Pegou um clube quebrado, sem apelo algum nos anos 90, e conseguiu transformá-lo em um dos mais valorizados da liga, com uma base de torcedores fiel, numa cidade que, antes, parecia ter olhos apenas para o Cowboys, da NFL.

Mas o mais próximo que o magnata se aproxima da quadra é nos assentos atrás do banco de reservas.

Quem joga, mesmo, são Nowitzki e seu Mavs, sem precisar fazer teatro, pirraça ou caso para nada para (tentar) ter resultado. Pode não ter o apelo de manchetes, nem nada. Mas cansa bem menos.


Mercado da NBA: Panorama da Divisão Sudoeste
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

O post já vai ficar imenso, então vamos direto ao assunto. Desde a quarta-feira, os clubes da NBA começaram a oficializar os acordos que trataram nos últimos dias, em período agitado no mercado de agentes livres. Nesta quinta, resumimos o Oeste. Veja o rolou em que cada franquia da Divisão Sudoeste se meteu, ou não, abaixo:

Dirk Nowitzki

Quem vai ajudar Dirk a sorrir?

Dallas Mavericks: que fase! Mark Cuban implodiu seu elenco campeão da NBA para reconstruir outra potência mais jovem. Com a retirada de Dwight Howard e Chris Paul do mercado e a opção de Deron Williams por seguir com o Nets, Dirk Nowitzki ficou de mãos abanando por enquanto, sem uma estrela ao seu lado. E piorou, já que Jason Kidd e Jason Terry se mandaram. De modo que o Mavs se vê em uma situação delicada: não se precipitar e pagar demais por jogadores medianos e, ao mesmo tempo, montar um time minimamente competitivo para não enfurecer o craque alemão. A contratação do pivô Chris Kaman, companheiro de seleção alemã de Nowitzki, por apenas um ano, tenta equacionar esse dilema. Update: outro reforço é o armador Darren Collison, do Indiana Pacers, ao lado do ala Danthay Jones. Eles chegam em troca do pivô francês Ian Mahinmi.

Houston Rockets: operação implosão. Pai supremo da comunidade nerdística da NBA, Daryl Morey cansou de ver seu time terminar como a melhor equipe não classificada para os playoffs e abriu o balcão de negócios. Trocou Kyle Lowry e Marcus Camby, trocaria sem problemas Kevin Martin e Luis Scola, liberou Courtney Lee e optou por não atender ao que Dragic pedia. Sem armador, sonda o baixinho Aaron Brooks para um possível retorno, enquanto Scott Machado não faz sua estreia na Summer League de Las Vegas. Há quatro novatos chegando – os alas Jeremy Lamb, Terrence Jones e Royce White e o ala-pivô lituano Donatas Motiejunas – que podem nem mesmo fazer parte do elenco daqui a dois dias, dado o insistente envolvimento do time nas negociações por Dwight Howard, não importando o suposto desprezo do pivô por seu clube.

Memphis Grizzlies: pagando uma nota para Zach Randolph, Rudy Gay, Marc Gasol e Mike Conley, não deu para segurar OJ Mayo, liberado. Ainda assim, o Grizzlies conseguiu duas contratações interessantes: não só mantiveram Marreese Speights, como renovaram também com Darrell Arthur, que passou a temporada lesionado. Os dois não são dos mais badalados, mas devem ajudar bastante saindo do banco de reservas, assim como Jerryd Bayless, que chega para a vaga de Mayo.

Nando De Colo

O talentoso Nando De Colo deve enfrentar Rajon Rondo mais algumas vezes

New Orleans Hornets: Anthony Davis, Anthony Davis, Anthony Davis. O time que passou uma no controlado pela NBA tirou a sorte (acreditem) grande no draft, contratando ala-pivô badalado por 100 em cada 100 scouts norte-americanos. Tem também o Ryan Anderson chegando em troca com Orlando, uma aquisição interessante que combina com Davis. Ariza e Okafor se foram para Washington, Jarret Jack, para Oakland, aliviando a folha salarial do clube. Deste modo, não devem hesitar em segurar Eric Gordon, mesmo que o chutador diga que seu coração pertence a Phoenix. Se optarem por sua saída, Austin Rivers, filho do Doc, ganha mais espaço.

San Antonio Spurs: Tim Duncan vai renovar por mais três temporadas. Danny Green idem. Boris Diaw por mais duas – o que não é a melhor notícia para Splitter, aliás. Na dela, em seu canto confortável, a franquia-modelo da NBA vai tocando a vida em frente, tentando esquecer a decepção pelo dolorido revés na final do Oeste. Um reforço é o ala-armador francês Nando De Colo, embora não seja muito clara qual função ele teria na equipe de imediato, uma vez que a rotação parece entupida. O mesmo raciocínio valeria para uma eventual contratação do esloveno Erazem Lorbek, um dos pivôs mais caros da Europa que não toparia se sentar no banco quietinho ao lado de DeJuan Blair, alguém já bem chateado.

Veja o que aconteceu até agora nas Divisões Noroeste e Pacífico.

Leste: veja o que aconteceu até agora nas Divisões Atlântico, Central e Sudeste.