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Arquivo : David Blatt

Polêmica demissão de Blatt só aumenta a pressão em cima de LeBron e Cavs
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Giancarlo Giampietro

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Silas, Malone, Brown e, agora, Blatt: todos caíram no Cavs de LeBron

A temporada era 1981-83, e o Los Angeles Lakers havia vencido sete de seus 11 primeiros jogos, elevando seu recorde pessoal para 111 triunfos contra 50 derrotas, com direito a um título. Em quadra e no vestiário, porém, não havia alegria nenhuma. O elenco liderado por Kareem Abdul-Jabbar estava se arrastando num ritmo modorrento, entediado e frustrado com o pulso rígido do técnico Paul Westhead. Nada de showtime.

Em sua terceira campanha pela liga, já considerado uma estrela, Earvin “Magic” Johnson veio, então, a público num belo dia para dizer que não aguentava mais o professor, e que para ele já havia dado: queria que o clube californiano o trocasse. (E imaginem se tivesse sido atendido?)

Coincidentemente, no mesmo dia, o proprietário Jerry Buss anunciou que a era Westhead havia chegado ao fim. Difícil não associar a decisão ao ultimato do armador, por mais que o célebre e falecido proprietário negasse. “A ironia é que eu já havia decidido demiti-lo, e o Magic acabou dando azar de ter falado aquilo. Mas não acho que ninguém vai acreditar nisso”, afirmou.

E quem assumiria o cargo? Seu principal assistente, um certo Pat Riley.

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Tudo isso para dizer que LeBron James não foi o primeiro craque a fritar seu treinador, nem será o último. Isso é rotineiro na NBA. Mas, que suas ações levaram à queda do treinador, acho que não há o que se discutir, por mais que ele e o gerente geral David Griffin digam o contrário, e que alguns veículos de mídia americanos façam coro a eles, tentando amenizar o impacto causado pela demissão de um cara que venceu a Conferência Leste no ano passado, a despeito de tantas lesões relevantes e da chegada de novas peças durante a jornada. O mesmo cara que novamente superou alguns desfalques na primeira metade desta temporada, liderando a terceira melhor campanha da liga, com o time aparecendo na lista dos sete ataques e defesas mais eficientes. O tipo de currículo que torna a decisão da franquia um tanto chocante, por mais que, em Cleveland, muitos já estivessem preparados para tal desfecho.

Apurar se LeBron foi, ou não, informado sobre a demissão desta sexta-feira, aliás, é perda de tempo das mais tolas. Não havia razão para Griffin consultar o astro – ele já sabia qual seria a resposta. A má vontade de LeBron para com Blatt está foi muito bem documentada, de modo que esse tremendo esforço de última hora limpar sua barra soa inútil.

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Aliás, segundo relatos dessa mesma campanha de blindagem, LeBron desde o princípio se mostrou muito pouco receptivo ao treinador, sem o acolher ou ajudar em sua adaptação ao clube e uma nova liga. Pelo contrário. Frases como “Blatt nunca teve chance” também foram escritas a esmo nessas últimas 24 horas. Adrian Wojnarowski publica que o jogador e seu agente/sócio, Rich Paul, queriam a contratação de Mark Jackson. A diretoria disse que seria impossível. E aí que Tyronn Lue virou a solução para dupla. Tudo, menos Blatt.

O que tem sido dito, porém, é que o descontentamento com Blatt não se limitava ao camisa 23.  Tudo leva a crer que, sim, o técnico estava com o filme queimado – com quantos e quem, exatamente, é o que não vamos saber. Agora, só não dá para negar que a postura de LeBron obviamente exerceu forte influência para tanto. Se um cara de sua estatura não é receptivo, fica muito mais fácil para os demais peitarem o técnico. Natural até.

Não que o treinador tenha sido mera vítima e que não tenha contribuído para o motim com algumas atitudes um pouco tolas. Como, na ocasião de sua primeira vitória pelo Cavs, quando mal comemorou com os atletas, estragando a festa deles, dizendo que, caras, tipo, já tinha centenas de triunfos em seu currículo. Ok, ele é realmente um dos profissionais mais vencedores da modalidade, mas, para todos efeitos, para o mundo da NBA, ainda era um calouro. A intenção dos jogadores não era de provocá-lo ou ofendê-lo, nesse caso. Quanta simpatia, né?

Blatt teria perdido o elenco, diz Haywood

Blatt teria perdido o elenco, diz Haywood

Anderson Varejão foi um dos que teve de lidar com a insensibilidade do técnico, segundo o “ESPN.com”. Recuperando-se de uma lesão no tendão de Aquiles, o brasileiro estava disposto a retornar ao time para a série final contra o Golden State Warriors. A diretoria achou que não era o caso. A decisão estava tomada. Quando questionado em uma coletiva, todavia, Blatt não disse que sim, nem  que não, mexendo com os ânimos de todos.

Outro ponto que causava bastante incômodo seria a condescendência de Blatt com LeBron, Kyrie Irving ou Kevin Love, protegendo as celebridades em coletivos e sessões de análise de vídeo. Os mimos aos astros não pegavam bem com o restante do elenco: seria traços de covardia e injustiça por parte do treinador. O agora promovido Tyronn Lue, dizem, se via obrigado a interferir e cobrar as estrelas, na tentativa de apaziguar os ânimos. Mas a relação já estava estremecida demais, algo que Griffin, em seu duro discurso nesta sexta-feira, deixou claro.

“Eu vi os jogadores interagindo entre eles por um longo tempo, em diversas circunstâncias. Sei quando uma coisa não está certa, e acho que tomei a decisão correta. Vou ao vestiário muitas vezes. Falta espírito ali. Nossa campanha de 30-11 foi com uma tabela relativamente fácil. Faltava conectividade do técnico com o time. Falta identidade ao time, que deu dois passos para a frente e um para trás. Quando temos clareza no que queremos como franquia, essas decisões acabam sendo tomadas por conta própria. Não vou deixar um time que tem uma folha salarial sem precedentes  à deriva”, afirmou.

Precisa de ajuda? "Não".

Precisa de ajuda? “Não”.

A inexperiência de Blatt em particularidades da liga também teria chamado a atenção de alguns veteranos, como quando pediu tempo no finalzinho do quarto jogo da série contra o Bulls nos playoffs do ano passado e, por sorte, foi ignorado pela arbitragem. O Cavs já havia esgotado sua cota e, caso percebida, a ação do treinador teria resultado em uma falta técnica. A chance era grande, então, que Chicago abrisse uma vantagem de 3 a 1. Esse tipo de falha teria acontecido seguidas vezes, gerando mais desconfiança no elenco.

O que não dá para acreditar, porém, é que David Blatt fosse um tremendo de um incompetente e que todo o sucesso do time se explicasse pelo talento de LeBron. Nessa campanha de difamação de um e proteção do outro, chegou-se ao cúmulo de fontes anônimas dizerem que o técnico simplesmente não sabia desenhar jogadas na prancheta durante pedidos de tempo. Em entrevista à rádio “Sirius XM”, o pivô Brendan Haywood, reservão do time no campeonato passado e agora aposentado, se sentindo livre para falar o que bem entender, confirmou esse problema. Disse também que o comandante não entendia os padrões de substituição da liga e que cometia “erros óbvios”. Hã… Sinceramente, dá para acreditar nessa? Estamos realmente falando do mesmo técnico cujo Maccabi Tel Aviv ganhou, em 2015, de CSKA Moscou e Real Madrid com um elenco absolutamente inferior? O mesmo que levou a Rússia o bronze olímpico em Londres 2012, derrotando a fraquinha e inexperiente Argentina na disputa pelo terceiro lugar? Enfim…

Até mesmo quando tentam defender Blatt,  seus críticos o tratam com desrespeito. Dizem que Blatt não foi contratado, a princípio, para conduzir um elenco pesado como este, que o título não estava em pauta, antes de saberem que LeBron queria, mesmo, voltar. É um fato, mas esse pensamento já manifesta uma condescendência que beira o ridículo. Algo como: “Coitadinho, não era para ele”. Falando isso de um técnico que ficou a duas vitórias do título em sua primeira campanha pela liga. Ele teve muitos acertos como estrategista. Por mais exuberante que tenha sido LeBron, ele realmente fez tudo sozinho? E o que dizer da boa campanha atual, a despeito da ausência de Irving e Iman Shumpert no início? Seu único tropeço mais custoso foi não ter integrado Love de um modo mais orgânico ao sistema ofensivo – agora, o quanto se pode julgá-lo por isso é uma questão: afinal, se era LeBron quem estava no comando… Não seria tarefa dele? Não dá para dizer que tudo de positivo do plano tático e técnico passa pelo jogador, enquanto a Blatt sobrariam apenas as críticas.

David Griffin chamou a responsabilidade

David Griffin chamou a responsabilidade

Em sua coletiva, Griffin não questionou de modo algum o conhecimento de jogo do demitido. Não há como – a sacolada que a equipe tomou do Warriors na segunda-feira não foi, diz, decisiva para sua decisão. E nem deveria ser: em confrontos anteriores com Golden State e San Antonio, as derrotas foram, respectivamente, por seis e quatro pontos. Não foi a bola que derrubou Blatt. No entanto, a política no vestiário é parte integral da profissão, tão ou mais importante que o riscado, ainda mais numa liga como a NBA, cujos atletas são paparicados desde sempre. Faltou mais jogo de cintura, tato e carisma para Blatt. Características que, ao que parece, sobram para Tyronn Lue.

O baixotinho que levou um baile de Allen Iverson nas finais de 2001, mas que teria longa carreira, agora é, aos 38 anos, o técnico mais jovem da liga. Respeitado no vestiário, constantemente elogiado até mesmo por Blatt, que teria dado a ele o crédito pela fortíssima defesa que o time apresentou nos playoffs de 2015. Uma generosidade que, neste sábado, não foi correspondida por seu antigo subordinado. Repórteres lhe perguntaram o que ele faria de diferente agora que está no comando. Respondeu que diferente não era o termo que ele usaria, mas, sim, que faria “melhor”. Muito elegante o sujeito que, para constar, na reportagem de Wojnarowski, foi retratado como um fiel assistente, que teria feito de tudo para defender Blatt diante do assédio de LeBron e Paul.

Lue pode ser jovem, mas, em termos de NBA, é muito mais calejado que o antecessor. Sabe muito bem o que está em jogo. Que, para o Cavs, é título, ou nada. Título, ou fiasco, e a pressão só aumenta com a demissão de um treinador com aproveitamento de 67,5% (83 vitórias e 40 derrotas) no total e que contava, aparentemente, com apoio da torcida do Cavs. Sabe provavelmente também que será o quinto treinador do time em nove temporadas com LeBron. É um clube de gestão instável, no mínimo – não dá para deixar o proprietário Dan Gilbert distante dessa confusão toda. O chefão, por sinal, era o principal defensor de Blatt e teve de ser convencido por Griffin que a demissão era a melhor solução na tentativa de desbancar o Warriors (ou, claro, o Spurs). Existe ainda a noção de que, removendo Blatt, ele também estaria eliminando uma eventual desculpa para os jogadores em caso de derrota nos mata-matas.

Agora é com ele

Agora é com ele

Daí que não deixa de ser uma ironia que, na mesma noite em que Steve Kerr fez sua estreia na temporada, Blatt acabou demitido. E é uma coincidência que diz muito – os líderes de cada conferência não poderiam ser mais diferentes hoje. Caos x harmonia. Intrigas, traições, imposições x diálogo franco, aberto e constante. Nuvens carregadas x céu aberto. Griffin afirma que demitiu seu treinador em busca dessa sensação de unidade. Mas isso não é algo que se constrói com uma só ação. Não depende apenas de Blatt, e não vai depender só de Lue, embora todo técnico seja uma figura primordial na hora de buscar essa química.

Em 1982, quando Westhead caiu, começou a carreira de um dos maiores treinadores que a NBA já viu. Riley, aquele que, como presidente do Miami Heat, cerceava toda a ambição de LeBron, colocou o Lakers para correr, tal como Magic queria, e deu certo. O resto é história. O time alcançou a final e foi campeão, batendo o Philadelphia 76ers de Julius Erving. Até o ano passado, ele era o único técnico a ser campeão logo em seu ano de estreia. Kerr repetiu a façanha, e David Blatt chegou perto. Numa aposta de risco, o Cavs espera que Tyronn Lue aumente a lista.


Jukebox NBA 2015-16: Cavs, LeBron e os Beatles
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Giancarlo Giampietro

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Vamos lá: a temporada da NBA se aproxima rapidamente, e o blog inicia sua série prévia sobre o que esperar das 30 franquias da liga. É provável que o pacote invada o calendário oficial de jogos, mas tudo bem, né? Afinal, já aconteceu no ano passado. Para este campeonato, me esbaldo com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que sempre acho divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Golden Slumbers/Carry That Weight/The End/Her Majesty”, por eles, The Beatles

Por quê? Antes de mais nada, o blog já se defende de possíveis críticas de que tenha roubado aqui ao escolher quatro faixas para escrever sobre o Cavs, em vez de uma. Mas, calma lá, campeão: é simplesmente ouvir o trecho final de “Abbey Road” e separar uma da outra. Este é um medley de verdade, uma jam session feita para ser ouvido de uma vez. E o título de cada faixa se encaixa quase que perfeitamente para a História do Reencontro do (Autodenominado) Rei e seus Cavaleiros. Só precisa de uma adaptação.

Primeiro lidamos com os os sonhos dourados de LeBron. “Uma vez havia um caminho de retornar para casa”, canta Paul McCartney com leveza, como se fosse um cantiga de ninar. “Os sorrisos acordam quando você se ergue”, também diz. Depois, os Beatles vêm num coro opressor: ah, é? Voltou, mesmo!? Então vai ter de “carregar aquele peso por um tempão“. É, garoto, um peso, e tanto.  Aí que estamos chegando ao fim, como o jogador sabe, como o time sabe. Macca avisa: “E no fim, o amor que você toma é igual ao amor que você faz”. Não pensem em impurezas, meninos, mas na relação de adoração de Ohio/Cleveland ao prodígio, e o que ele pode dar em troca. Para fechar, aí a gente troca o “her” por “him”, embora em português fique tudo na mesma: “Sua Majestade“, o Rei, e não a Rainha, e como cortejá-lo.

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Vai… tem tudo a ver, né? Para além da solenidade que foram as últimas gravações dos Beatles em 1969. Pois tudo o que se passa em Cleveland nesses dias gira em torno de LeBron. De maneira justa, ou não, ele tenta tomar o clube de refém, com o proprietário Dan Gilbert e o gerente geral David Griffin oferecendo resistência pontual aqui (David Blatt infernizado pelo astro) e ali (as negociações arrastadas e ridículas com Tristan Thompson). Agindo desta maneira, pressionando a franquia via redes sociais, e tudo, retomo o que já escrevi em relação ao campeonato passado: enquanto agir desta forma, LeBron vai ter de arcar com as consequências. Se ele quer ser o Rei, déspota, vai ter de se responsabilizar pelo que acontece no final. Se o Cavs perdeu para o Warriors, foi ele que perdeu. Pois não dá para interferir na função dos outros, em algo que não lhe compete, e, no final, com mais um vice-campeonato no currículo, culpar os Deuses ou a família Gilbert.

A pedida: vice-campeonato da Divisão Central!

(“Ha!”, expressaria o Mallandro.)

Cavs, campeão do Leste: muito pouco para Gilbert e LBJ

Cavs, campeão do Leste: muito pouco para Gilbert e LBJ

É título ou nada para os LeBrons, claro. Já poderia ter acontecido no campeonato passado, não fosse a derrocada física do time nos mata-matas, por lances de azar, como o golpe de Kelly Olynyk em Kevin Love e a fratura no joelho de Kyrie Irving durante as finais. A tendência é falar que eles levariam. Mas, com as duas estrelas em forma, talvez o sistema utilizado por Blatt (ou LeBron…) seria diferente. A dinâmica da série seria outra, então vai saber.

Fato é que, com a atual formação, eles têm time para acabar com a maldição de Cleveland. O elenco é balanceado e tem arremesso, bons defensores no perímetro e uma coleção de pivôs para marretar o adversário, mesmo sem Thompson, sejá lá quando a diretoria e a turma de LBJ vá resolver isso.

A negociação com o pivô canadense pode dizer muito sobre o time. Não necessariamente devido aos seus talentos, mesmo que ele seja um defensor extremamente valioso por sua capacidade para frear armadores no pick-and-roll e que também represente um pesadelo no ataque aos rebotes ofensivos. Daí a pedir US$ 94 milhões por cinco anos de contrato (ou o equivalente a essa quantia em três anos), mesmo na nova economia bombada da NBA, é se colocar para além da fronteira do absurdo.

A franquia e o jogador ficam num impasse curioso. Da parte do jogador, se mantiver a pedida, ele e sua agência (que, na prática, gente, tem LeBron como sócio) vão simplesmente ter de torcer para que as coisas no Cavs deem errado, seja pelo acúmulo de reveses ou lesões. Para constar, Mozgov está voltando de cirurgia recente no joelho, Varejão ainda precisa tirar a ferrugem vindo de uma no tendão de Aquiles e mesmo Love também está nos últimos estágios para retornar de operação no ombro. Ah, sim, e Kyrie Irving e Iman Shumpert ainda não têm data prevista para retorno.

Bem legal, não?

Get it done!!!! Straight up. #MissMyBrother @realtristan13

Uma foto publicada por LeBron James (@kingjames) em

Se essa situação se arrastar por mais algumas semanas e o time sofrer em quadra devido aos desfalques, então a diretoria poderia se sentir pressionada a arrefecer nas conversas e dar ao outro lado o que eles pedem, que é uma demanda ridícula. Ou isso, ou Thompson vai ficar o ano inteiro parado, perder alguns milhões para já e voltar ao mercado do ano que vem como agente livre… Mas novamente restrito, com sua cotação muito provavelmente avariada.

Da parte da franquia, existe sempre o risco LeBron. O craque vai continuar pressionando? Seria ele capaz de “entregar” jogos para ajudar seu amigo e cliente? Talvez seja um exagero até mesmo cogitar isso, mas, nos bastidores, o quanto de escarcéu ele poderia fazer? E o restante do time? Conseguiriam ficar alheios ao tumulto? Aqui, de primeira, vejo esse lenga-lenga como a principal – e talvez única – ameaça ao Cavs no Leste.

Em termos de apostas, imaginar o Cleveland campeão da conferência é aquela mais chega perto de uma barbada.  O Atlanta tem um grande desafio que é replicar a química da temporada passada, enquanto confere se é possível jogar desta forma com uma linha de frente mais alta e pesada. O Chicago passa por alterações muito mais drásticas em seu sistema. Para mim, dependendo desses ajustes, seriam os únicos candidatos a aprontar. De resto… o Washington não tem artilharia para aprontar nesse nível, assim como o Toronto Raptors ou os emergentes Boston Celtics e Milwaukee Bucks.

LeBron, é tudo dele

LeBron, é tudo dele

Então creio que ficamos nisso: o maior inimigo do Cavs em sua conferência pode ser seus bastidores, com a relação entre LeBron e Blatt também merecendo atenção.

A gestão: tentando se estabelecer. Aqui, as coisas vão depender muito do comportamento de LeBron e de como Dan Gilbert vai reagir a isso. David Griffin mostrou na temporada passada que, mesmo sob grande pressão, é um grande negociador, fazendo valer os elogios que recebia dos companheiros quando era assistente de Colangelo e Kerr em Phoenix. As trocas que fechou no meio da temporada, com o aval do craque, diga-se, salvaram o time e deram a Blatt mais matéria-prima com que trabalhar, para além do trio de astros e dos amiguinhos do Rei. O processo continuou este ano com a adição de Kaun (excelente finalizador próximo ao aro, forte toda a vida, bom patrulheiro de garrafão, para compor uma rotação russa de pivôs gigantes), Richard Jefferson (experiência, chutes da zona morta e versatilidade num corpo ainda mais ativo que o de James Jones) e, principalmente, Mo Williams (num papel reduzido, vindo do banco de reservas, como lhe cai bem, ao mesmo tempo que serve como uma apólice parcial de seguro para as lesões de Irving).

Inseguro ou ultrajado, Blatt se comportou de modo arrogante em alguns momentos da temporada passada, embora isso deva ser minimizado devido ao contexto ao seu redor. A contratação de LeBron jogou pressão para cima do técnico desde o início e é complicado de se estabelecer um relacionamento com um astro dessa magnitude. Por outro lado, nos playoffs, depois de ser salvo por Tyronn Lue com um pedido de tempo que poderia ser desastroso na série contra Chicago, o treinador deu seguidas provas de como pode ser uma peça valiosa para o time, até que a virada que o Cavs sofreu na final voltou a suscitar relatos preocupantes sobre como ainda estaria sendo destratado pelo seu principal jogador.

O brasileiro: Anderson Varejão só quer uma coisa: ficar saudável e poder completar uma temporada, ou pelo menos chegar à marca de 70 partidas pela primeira vez desde… 2011. São muitas lesões desde, então, o que é a pior coisa que pode acontecer para um atleta. O Cavs, em teoria, mesmo sem Thompson, estaria coberto dessa vez para inserir o pivô aos poucos em sua rotação e preservá-lo para a hora que importa – um controle de minutos, abaixo de 20 por partida, talvez fosse o mais recomendável. O duro é que, no início de campanha, com Thompson fora e a dupla titular em fase de reabilitação, pode ser que seus serviços já sejam exigidos.

Kevin Love, agora de bem com a vida e tudo o mais?

Kevin Love, agora de bem com a vida e tudo o mais?

Olho nele: Kevin Love. Se formos comparar sua produção com a dos tempos de Minnesota, obviamente sua primeira temporada em Cleveland foi inferior. Mas, como terceira opção no ataque, isso era mais que esperado. De qualquer forma, Blatt, LeBron e Irving reconhecem que os diversos talentos do ala-pivô (como referência no garrafão, reboteiro ofensivo e passador a partir do poste alto) não foram aproveitados na medida da certa, com o jogo muito focado nas jogadas de pick-and-roll com os outros dois astros. Ele tem agora um contrato polpudo (U$ 110 milhões por cinco anos) e gente empenhada para que seu jogo se encaixe e deixe a equipe ainda mais perigosa. Quanto melhor ele jogar e quanto mais isso durar, pior fica a situação de Tristan Thompson como agente livre. Com o time completo, tendo Love ao lado de LeBron e Mozgov na linha de frente, simplesmente não sobram tantos minutos para o ala-pivô canadense.

Daniel Gibson, Cleveland, card, 2007Um card do passado: Larry Hughes. Da primeira vez em que LeBron chegou a uma final de NBA pelo Cavs, em 2007, o segundo jogador que mais acumulou minutos em média nos playoffs pela equipe foi o ala-armador draftado pelo Philadelphia 76ers. O cara que havia sido contratado por Danny Ferry para ser o principal comparsa do então jovem astro de 22 anos no perímetro, embora não fosse um bom arremessador de longa distância e precisasse tanto da bola como LBJ para produzir. A passagem do ala por Cleveland não deixou saudade nenhuma, com o arrependido gerente geral se desfazendo de seu contrato assim que pôde, logo na temporada seguinte.

Tudo isso para dizer que, agora veterano, se os acidentes da campanha passada não se repetirem, James tem muito mais ajuda ao seu lado para tentar conquistar o terceiro anel de campeão e dar o troféu pela primeira vez ao clube. Com todo o respeito a Zydrunas Ilgauskas, Drew Gooden, Sasha Pavlovic, Damon Jones, Eric Snow e Boobie Gibson.


Despotismo de LeBron em Cleveland dá brecha à turma do contra
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Giancarlo Giampietro

LeBron James, Cleveland, coach, David Blatt

LeBron James ainda enfrenta uma grande resistência em muitas praças, independentemente do que faça em quadra. Pode ser pelo fato de ter perdido quatro de suas seis #NBAFinals. Mas talvez tenha muito a ver com as ameaçadoras, assustadoras e constantes comparações com Michael Jordan, que não fazem bem a ninguém. Desta forma, estava preparado aqui para escrever mais um texto cheio de elogios e hipérboles a respeito do craque, que era bobabem perder tempo com paralelos históricos, que o lance é realmente apreciá-lo, enquanto ainda tiver fôlego para produzir como superestrela. Contra o Warriors, fez tudo o que podia, com números e esforço superlativos.

Até que… Ka-bum. O jornalista Marc Stein, do ESPN.com, soltou o seguinte petardo, numa tradução livre: “O jeito impróprio de LeBron de lidar com Blatt“.

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Que a relação entre o jogador e o treinador não era das melhores, já sabíamos. Os problemas no relacionamento foram bem documentados, numa narrativa que contou com diversas matérias e informações de Brian Windhorst, o jornalista mais chegado ao universo lebroniano. Porém, o fato de o time ter alcançado a decisão, sem três de seus principais atletas, nos fazia supor que as coisas haviam se apaziguado, em busca de um objetivo em comum. Ledo engano. O relato de Stein chega a ser perturbador. Alguns trechos de seu texto:

“Tenho uma questão para LeBron James que realmente espero que ele possa responder algum dia. Uma questão que pode ser feita de um modo variado. Que tipo de técnico você quer? Quem por aí afora seria um técnico pelo qual você gostaria, mesmo, de jogar? Quem o Cleveland Cavaliers poderia contratar que ganharia o seu apoio? Não tenho as respostas para nenhuma dessas questões. O assistente Tyronn Lue seria meu melhor palpite. Sei de uma coisa, porém: James é jogador muito brilhante, realmente grandioso, para se comportar do jeito que ele fez com David Blatt durante as finais da NBA”, diz seu lead.

As dificuldades no ataque têm a ver com Blatt ou LeBron? (Ou os dois, ué?)

As dificuldades no ataque têm a ver com Blatt ou LeBron? (Ou os dois, ué?)

“Vimos LeBron castrar Blatt de modos que são simplesmente impróprios para um jogador da estatura de James, que está construindo uma lenda toda própria. Vi de perto isso, em meu papel de repórter ao lado da quadra para a ESPN Radio. James essecialmente pediu tempos e fez substituições por conta. Ele questionava Blatt dura e abertamente depois de decisões que ele não gostava. Ele se reunia frequentemente com Lue, olhando para qualquer um menos Blatt”, prossegue.

“Teve a vez, por exemplo, que testemunhei no Jogo 5, sentado atrás do banco do Cavs, James balançando a cabeça veementemente em sinal de protesto após uma jogada desenhada por Blatt no terceiro quarto, num pior sinal possível de reprovação silenciosa que você poderia imaginar e que obrigou Blatt, na frente de toda a sua equipe, apagar a prancheta e elaborar algo diferente”.

“Essa me pareceu uma imagem que não faz jus a uma das maiores carreiras de todos os tempos, sem importar o quão inepto ele possa considerar o técnico. Com seus companheiros de Cavs vão tratar Blatt com qualquer forma que se aproxime reverência quando James o trata como um mero ornamento na frente de todos? Como James pode louvar sua própria liderança, como faz constantemente, quando age desta maneira?”, questiona.

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Tudo por LeBron: os malabarismos do Cavs

Por aí vai. Antes de mais nada, para quem não está familiarizado com o jornalista, estamos falando de uma das figuras com maior credibilidade na liga, com uma cobertura que começou em… 1991. Não é um qualquer desavisado (oi!), especulando, bagunçando, citando fontes anônimas. Mas, sim, um cara veterano que assistiu aos seis jogos das finais num assento privilegiado, alguém com contatos no país todo e que, veja bem, trabalha para a ESPN. Tipo a Globo dos Estados Unidos, galera, quando o assunto é esporte. Se há uma organização que faria de tudo para evitar chatear o astro, seria essa da sigla de quatro letras.

Stein, então, relembra como Tim Duncan respeitou Gregg Popovich desde o início em San Antonio, mesmo antes de o Coach Pop ganhar o status que tem hoje. Essa é uma simbiose incomum, pode ser sacanagem citá-la. Daí que ele lembra como o próprio Andre Iguodala,  aceitou Steve Kerr, mesmo que o técnico tenha decidido colocá-lo no banco pela primeira vez na carreira. Enfim, são diversos exemplos nesse sentido, de uma relação saudável entre jogador e treinador que leva os respectivos times adiante.

O experiente jornalista, de todo modo, também lembra que Blatt tem responsabilidade nesse estresse, ao falhar em conquistar o respeito geral de seu elenco, independentemente de ter sido contratado inicialmente para uma missão (elevar o Cavs a time de playoff, com um elenco jovem) e terminado com outra (guiar um supertime rumo ao título em seu primeiro ano de liga). Ganhar, LeBron, era a prioridade, conforme um scout bastante familiar com o trabalho do técnico havia dito ao blog. O sucesso passava por isso. Blatt, a princípio, tentou se impor. Depois do atrito, também fez concessões, entre elas muito do controle das jogadas a LBJ, abrindo mão de seu sistema ofensivo  quando as coisas não estavam se encaixando em quadra. Afinal, seria burrice ignorar as sugestões de alguém com visão de quadra apuradíssima – e, não, só pelo peso de seu nome. Pelo que entendo, a intenção do texto não é defender o técnico cegamente e atacar gratuitamente o atleta, mas tentar entender, antes de tudo, aonde o jogador esperava chegar ao tratar o (?) comandante de tal maneira?

>> Jogo 1: Iguodala, o reserva de US$ 12 m que roubou a cena
>> Jogo 2: Tenso, brigado… foi um duelo para Dellavedova
>> Jogo 3: Cavs vence e vira a série, dominando. Ou quase isso
>> Jogo 3: Blatt ainda não levou o título. Mas merece aplausos
>> Jogo 4: Cavs entrou de All In. O Warriors tinha mais fichas

>> Jogo 4: O (outro) jogo de equipe do #GSW contra limitado Cavs
>> Jogo 5: Curry merecia uma dessas, e o Warriors fica perto
>> Jogo 6: Campeão e queridinho: nem sempre foi assim

O que nos leva ao seguinte questionamento: será que em algum momento Blatt teve alguma chance de conquistar o astro? Erik Spoelstra penou em sua mão também, mas contou com a ajuda de Pat Riley e Dwyane Wade para segurar as pontas, contornar a tensão inicial e chegar a um estágio em que seus conceitos de jogo poderiam prevalecer. Não vai ser qualquer rabisco de prancheta que vai convencer James. Isso está claro. Que os jogadores tenham mais poderes era algo que deveria acontecer, mais, aliás. É uma tese de LeBron que me agrada. O treinador tem a palavra final, mas o mais saudável é sempre um bom diálogo, como Steve Kerr nos ensina.

Ao que parece, o grande problema aqui é um ego desmedido. O ego de quem sabe que é a maior figura da NBA hoje – uma referência para o marketing global. Que, de novo, tem o Cavs na palma de suas mãos, deixando o proprietário Dan Gilbert e o gerente geral David Griffin numa situação muito desconfortável. Lembrem-se que ele pode se tornar agente livre logo mais, algo que Griffin espera que aconteça, mesmo, com o exercício de uma cláusula contratual. É difícil de imaginar que o ala possa virar as costas para o “seu povo” mais uma vez. Os trunfos são todos dele, todavia, na hora de negociar. Em sua missão declaradamente messiânica, quem poderá interferir?

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LeBron é alguém preocupado com seu legado. Dentro e fora de quadra

Em entrevista coletiva nesta quinta, que já estava programada e acabou coincidindo com a publicação do artigo bombástico, o gerente geral mais uma vez assegurou Blatt como seu técnico para a próxima temporada. Qualificou a publicação de Stein como “sensacionalista” – embora em nenhum momento o texto carregue na tinta e tenha críticas estritamente baseada em observações in loco do que se passava em torno do Cavs, e não no diz-que-diz de fontes anônimas. Convenhamos que não havia como ser diferente a atitude da diretoria, assim de imediato, já que Blatt, com uma equipe toda remendada, ficou a duas vitórias do título. Com o respaldo de Gilbert, que escolheu pessoalmente o técnico, o cartola agora deve torcer para que o período de férias e o longo distanciamento entre as partes sirva para aplacar essa tensão. Desde que Irving se reabilite, que Kevin Love renove (e seja mais bem explorado pelo treinador, diga-se) e que o contrato de Brendan Haywood e a escolha de Draft deste ano sejam bem aproveitados, o Cleveland tem tudo para voltar fortalecido e justificar a condição já de favorito nas bolsas de aposta.

LeBron, Finals, 2015, Cavs

Vai ter contra-ataque?

Por mais óbvia que seja a necessidade de mimar e convencer o astro, é preciso também encontrar um equilíbrio e não ceder todo o controle ao atleta. Acho. Com a divisão apropriada de tarefas é que poderemos saber até onde vai a culpa e o mérito de um e do outro. Com a disposição de LeBron de assumir as rédeas, fica tudo nebuloso. Peguemos a tática para desacelerar o jogo ao máximo, que deu tão certo nos três primeiros jogos. Quem teve maior influência aqui? Um jogo lento, porém, não significa que precise ser estagnado, com quatro atletas plantados em quadra esperando a definição do craque. Quem ditou o posicionamento deles?

Enfim, as questões são meio que retóricas, e, independentemente das incertezas, Blatt ainda merece muitos elogios. É inconcebível que o jogador tenha planejado tudo sozinho. De qualquer maneira, aguardo com ansiedade, desde já,  o ‘outro lado’ da história, o de LeBron. Das duas, uma: a) um artigo recheado de fatos que tentem menosprezar Blatt e explicar o desdém do astro por sua figura; ou b) um artigo que procure dizer que não existe nada disso, tentando descolar a imagem da estrela de uma eventual decisão drástica sobre o treinador – quiçá não haja resposta nenhuma até, estratégia que talvez seja ainda mais eficiente.

E admito: nas aulas (seculares) de história, ou nas histórias de fantasia, a ideia da existência de um rei, de um líder supostamente magnânimo, nunca me agradou tanto – e o Game of Thrones, galera, só faz esse sentimento piorar, né? Houve reis e reis, imaginários, ou não, é verdade, mas em geral não me deixo seduzir por qualquer aura que os homens da coroa possam ter. Logo, se você for juntar os pontos, deve imaginar que não curto o apelido (autodeclarado de) King James.

Em quadra, ele teve uma atuação soberana contra o Warriors, mesmo que aqui e ali tenhamos aqui e ali algum indício de declínio, a julgar pela dificuldade que teve para encarar Iguodala e o baixo aproveitamento nos arremessos de quadra, que despencaram nos playoffs em relação ao que andava fazendo em Miami. Claro que o contexto do time, desde os companheiros ao sistema tático, influencia de modo decisivo nessa queda de eficiência – mas, não, na consistência. A carga enorme carregada nessa última jornada, ao meu ver, só faz a lenda crescer. Foi um desempenho absurdo. Em quadra, já um dos dez melhores da história.

Por outro lado, os recentes relatos dos bastidores do Cleveland dão claramente outra contação a essa alcunha de Rei, nos remetendo a um déspota. Estaria LeBron verdadeiramente preparado para assumir toda a responsabilidade e adotar o esquema de “eu ganho” e “eu perco”, abolindo a primeira pessoa do plural? Ironicamente, é isso o que o seus críticos mais querem.


Steph Curry merecia uma dessas, e Warriors fica perto do título
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Giancarlo Giampietro

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Stephen Curry estava precisando de uma partida dessas. Para fazer justiça ao seu campeonato magnífico. Não que estivesse jogando mal. Nas últimas duas partidas, já havia feito algumas coisas memoráveis. Mas estava faltando uma atuação seminal, assim como foi toda a sua campanha. Nas palavras de Everaldo Marques… Bingo! Aconteceu neste domingo, e o Golden State Warriors agora está a uma vitória do título, tendo vencido o Cleveland Cavaliers por 104 a 91.

LeBron James conseguiu o segundo triple-double nestas #NBAFinals, mas foi privado da comemoração, diferentemente do que havia acontecido no Jogo 2, quando saiu de Oakland com o mando de quadra ao seu favor. Aquela foi mais uma exibição primorosa do astro, o melhor jogador desta série decisiva, sem dúvida. Até mesmo coadjuvantes como Matthew Dellavedova e Andre Iguodala já tiveram seus momentos definitivos. Numa série sensacional, com suas idas e vindas, faltava, então, uma exibição magnífica do MVP da temporada. E aí vieram os 37 pontos em 42 minutos, com sete bolas de três pontos em 13 tentativas.

Melhor: boa parte de sua produção desenrolada no quarto final, respondendo a mais uma tentativa de marcha de James e seus aguerridos cavaleiros. Curry marcou 17 pontos na última parcial (um recorde nos últimos 40 anos), com 5-7 nos arremessos em geral, 3-5 de longa distância e mais 4-4 lances livres. Algumas de suas cestas desafiaram qualquer lógica pré-estabelecida – cujos vídeos deveriam ser acompanhados por algum aviso do tipo: “Não tentem repetir isso em casa. Ou melhor, na sua quadra”.

A série
>> Jogo 1: 44 pontos para LeBron, e o Warriors fez boa defesa
>> Jogo 1: Iguodala, o reserva de US$ 12 m que roubou a cena
>> Jogo 2: Tenso, brigado… foi um duelo para Dellavedova
>> Jogo 3: Cavs vence e vira a série, dominando. Ou quase isso
>> Jogo 3: Blatt ainda não levou o título. Mas merece aplausos
>> Jogo 4: Cavs entrou de All In. O Warriors tinha mais fichas

>> Jogo 4: O (outro) jogo de equipe do #GSW contra limitado Cavs

Sim, corre-se esse risco. Assim como Kevin Garnett influenciou sabe-se lá quantos pirulões a expandir seu arsenal de fundamentos, neste exato momento milhares de baixotinhos estão assistindo ao astro do Warriors, congelando a imagem frame a frame, para tentar imitar seus movimentos, acreditando ser possível. Provavelmente um pirralho chegue perto no futuro. Igualá-lo? Impossível. Estamos vendo alguém único, que realmente quebra paradigmas em quadra com sua destreza nos arremessos a partir de um controle de bola belíssimo.

Curry joga, de certa forma, no limite. É o máximo de refinamento técnico que se tem por aí hoje, mas por vezes passa a impressão de que está flertando com a displicência. Contra uma defesa feroz, combativa como a do Cavs, a eficiência não foi a mesma da temporada regular ou dos playoffs. Seus números em pontos, assistências e aproveitamento nos arremessos caiu, enquanto o de turnovers decolou, com média de cinco por partida. A segunda partida beirou o desespero, por exemplo, com 18 arremessos errados em 23 tentativas e mais desperdícios de posse de bola (seis) do que assistências (cinco).

Dellavedova foi bastante elogiado por seu trabalho, e com razão. Matéria do Plain Dealer, todavia, indica que talvez os elogios tenham sido exagerados. Pelo visto do ponto de vista do astro do Warriors, que estaria pê da vida com a atenção dada ao seu marcador. “As pessoas mexeram com o Steph, o que é positivo para nós”, afirmou Andrew Bogut, hoje relegado a assistente técnico no banco, sobre a badalação em torno de seu compatriota. “É algo que você não gostaria de fazer, mas que para nós funcionou muito bem. O Delly é um grande defensor, mas sabemos que não vai anular Curry.”

Se foi essa sensação de desrespeito, se acabou o gás do adversário ou se simplesmente o cestinha do Warriors teve duas noites pouco inspiradas, a gente dificilmente será comunicado oficialmente a respeito. Fato é que demorou um pouco para que ele se encontrasse no duelo. Quando achou o rumo… Aí danou-se tudo. Depois de acertar apenas 4 de 21 disparos de fora, converteu 18 de 33 nas últimas três. Faz parte do pacote, e o torcedor do Golden State já está mais que acostumado – e maravilhado – com isso. Nas finais, o restante do público pode se entregar.

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Claro que uma diferença dessas não acontece ao acaso. Steve Kerr mudou o modo como explorar seus talentos, deixando quele retomasse alguns hábitos dos tempos de Mark Jackson com mais investidas individuais, uma vez que Dellavedova estava fazendo um excelente papel em lhe negar a bola a partir de trilhas do lado contrário. Outro fato é o simples cansaço de seus oponentes em geral. Algo difícil de quantificar, mas que é inegável e muito relevante.

Nos últimos três jogos, a equipe californiana venceu o quarto período por um placar agregado de 94 a 57. São 37 pontos de vantagem em 36 minutos. O Cavs faz um jogo duro por três parciais e despenca na última, cai por terra. Neste domingo, enquanto o Warriors marcou 19 pontos nos últimos cinco minutos, com 5-8 de quadra, os visitantes ficaram, respectivamente, com 7 e 2-10. Uma discrepância de rendimento que impediu mais um desfecho ao estilo thriller, como tivemos nas duas primeiras partidas em Oakland.

Mas foi um jogaço, de todo modo. Se, bem no início, o basquete apresentado era tenebroso, com direito a cinco turnovers e três airballs em pouco mais de quatro minutos de ação, depois o nível subiu consideravelmente. A emoção foi junto. Foram 20 trocas de líder no placar e 10 empates até o Warriors desgarrar nos últimos quatro minutos. Quando cronômetro ainda mostrava 4min52s, a vantagem dos anfitriões era de apenas um ponto, 85 a 84, depois de uma cesta de Tristan Thompson. Um pouco antes, a 7min47s, com uma bola de muito longe de LeBron, o Cavs chegou a liderar por 80 a 79. Mas o time não teria, então, condições de esfriar Curry, nem mesmo com as faltas intencionais para cima de Andre Iguodala.

Blatt e LeBron tentaram de tudo, aliás. Da parte do treinador, o ajuste maior foi a redução significativa dos minutos de Mozgov, que terminou com apenas nove – e zerado em pontuação, depois de fazer muito provavelmente a melhor partida de sua vida na quinta-feira. Houve momentos em que o superastro era o mais alto do time em quadra, acompanhado por James Jones, Iman Shumpert, JR Smith e Matthew Dellavedova. E, por um bom tempo, deu certo.

É o que dá ter um talento como o de LBJ no elenco. Mesmo em sua formação mais baixa, o Cavs era o time mais forte e físico por causa da mera presença de seu camisa 23, um jogador realmente transcendental, que se juntou a Magic Johnson no clube daqueles que foi armador e pivô num mesmo jogo pelas finais da NBA. A diferença: Magic fez isso em 1980, outra época, com jogo muito mais concentrado no garrafão, claro. (E foi campeão).

Mas, por favor, creio que não há nada que se possa atirar na direção do craque do Ohio, independentemente do que vai acontecer na próxima terça. Se vai ter empate, ou se a conta fecha em seis a favor do Warriors. Dessa vez ele saiu de quadra com 40 pontos, 14 rebotes e 11 assistências, sendo apenas o segundo jogador na história da liga a conseguir um triple-double com 40 pontos na série decisiva. O outro foi Jerry West, em 1969, pelo Los Angeles Lakers. Ironicamente o raro ano em que um jogador do time derrotado foi eleito o MVP do confronto – e ninguém do Boston Celtics estranhou. Não seria absurdo algum repetir esse feito agora com James.

Pois, de novo, não foi só uma questão de brilho estatístico, mesmo que ele tenha tido sua partida mais eficiente nos arremessos (15-34). O que engrandece mais seu desempenho é a dinâmica desses jogos, com o craque carregando o time enquanto pode. No primeiro tempo, das 17 cestas de quadra de Cleveland, 16 tiveram seu envolvimento direto ou indireto. No final, nos ataques em que LeBron não arremessou ou não deu um passe para chute, seus companheiros acertaram apenas 6 em 25 tentativas, com 1-11 nos três pontos.

Já Curry obviamente não fez as coisas sozinho. A disparidade de talento entre um plantel e o outro (desfalcado) é enorme. O Warriors conseguiu 67 pontos com jogadores que não atendem pelo nome de Stephen. Já os atletas de sobrenome diferente de James marcaram 51. Tristan Thompson foi o único parceiro que conseguiu produzir em alto nível neste Jogo 5, com 19 pontos e 10 rebotes. JR Smith deu sinal de vida no primeiro tempo, com 14 pontos, mas voltou a se atrapalhar no segundo. Iman Shumpert foi bem nos chutes da zona morta (3-6), mas tem sérias dificuldades para colocar a bola no chão e completar uma bandeja. As limitações de Dellavedova foram expostas. Já Mike Miller provou, nos surpreendentes 14 minutos que recebeu, que não sua presença neste tipo de jogo já não é mais justificável – se mexe pela quadra com as costas travadas e não dá conta de parar ninguém, sendo até inexplicável a o número reduzido de tentativas do Warriors para atacá-lo no um contra um.

Do outro lado, Andre Iguodala pode ter vivido um pesadelo nos lances livres, errando 9 de 11, mas jogou demais novamente, com 14 pontos, 8 rebotes e 7 assistências. Em termos de consistência e esforço, o ala é o melhor jogador do Warriors nas últimas duas semanas. Depois do que o Chef Curry fez, porém, dificilmente vai perder o prêmio de MVP das finais, a não ser que os eleitores quebrem o protocolo, indicando James.

Draymond Green foi outro que entregou de tudo um pouco a Steve Kerr, com 16 pontos, 9 rebotes e 6 assistências (ainda que se atrapalhando com a bola quando enfrentou jogadores mais baixos, cometendo quatro turnovers). Harrison Barnes atacou os rebotes como nunca, terminando com 10 no total e ainda se impôs atleticamente em alguns embates com James. Se Klay Thompson esteve bem abaixo da média, com 12 pontos em 14 arremessos, seu deslize permitiu a Leandrinho mais minutos, e o ala-armador respondeu muito bem, com sua melhor exibição na série: 13 pontos em 17 minutos, agressivo e novamente eficiente (4-5 nos arremessos, 4-4 nos lances livres). É de se imaginar que o brasileiro não vá ter problema algum para assinar seu próximo contrato:

Isto é, Steve Kerr tem mais alternativas com quem trabalhar. Dessa vez, ele usou até mesmo o pivô Festus Ezeli em alguns minutos estranhos de rotação para abrir o quarto final, enquanto Blatt tinha Mozgov em quadra. O técnico do Cavs foi novamente superior, mas seu raio de ação, porém, se encerra com as limitações da equipe. Kerr, porém, sempre vai ter o mérito de ter feito sua mudança drástica antes do Jogo 4 e também por lidar da melhor forma com os jogos incríveis de LeBron. “Ele tem a bola em mãos por muito tempo. Nós temos de continuar com nosso plano e não esmorecer se ele acertar seus arremessos. Ele vai, não tem jeito”, diz Curry, sobre seu concorrente, meio que repetindo um mantra desde o Jogo 1. “Mas, no decorrer de 48 minutos, esperamos desgastá-lo e deixar as coisas muito difíceis para ele.”

É o que tem acontecido. LeBron vem produzindo, mas corre o risco de, com o distanciamento histórico, ver suas exibições relevadas. O craque sabe como as coisas funcionam, após ter conquistado dois títulos e enfrentou muitas decepções. Curry também está ciente a respeito. Por isso, não vai se gabar de um outro lance que tira do sério até mesmo os jogadores que estão na plateia. Como quando passou a descadeirar um australiano já sem se incomodar com a pegada do australiano, entendendo como responder ao desafio. Continua com os lances de efeito, mas com os olhos para a cesta, para o título. O espetáculo que aconteça de maneira inerente. “Foram alguns momentos legais, mas eles só vão significar alguma coisa se formos campeões. Provavelmente terei uma resposta melhor para essa pergunta depois de vencermos o campeonato”, afirmou o armador do Warriors, torcendo para que isso aconteça o quanto antes. “Momentos definitivos só acontecem para os jogadores que estão segurando o troféu.”


Cavs entrou de all in. Mas o Warrios tinha muito mais fichas para gastar
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Giancarlo Giampietro

No que depender de Curry, é para o Warriors correr mais e mais

No que depender de Curry, é para o Warriors correr mais e mais

No pôquer, all in quer dizer algo como “tudo ou nada”. É quando o jogador pega as fichas que tem e empurra tudo para o meio da mesa. Ou rouba o monte, ou já era. O mestre do carteado pode até oferecer uma explicação mais rica, mas a essência é essa. O Cleveland Cavaliers pegou o termo emprestado e o usou como um trocadilho ao elegê-lo como lema para os playoffs. Virou algo como: “Todos juntos nessa, vamos lá, dando tudo”.

Pois, nesta quinta-feira, o Cavs até que tentou lutar no segundo tempo, mas não conseguiu impedir que o Golden State Warriors vencesse por 103 a 82 para igualar as #NBAFinals em 2 a 2, voltando para casa agora para fazer valer seu mando de quadra no próximo domingo. Steve Kerr estava em pressionado demais nesse, mas conseguiu se desvencilhar com um movimento bastante agressivo, corajoso, e, ao mesmo tempo, talvez o único que lhe restasse para tentar virar o tabuleiro, praticamente abolindo a escalação de um pivô tradicional, o famoso cincão, no seu time.

E, aproveitando o slogan do Cavs, a pergunta que fica depois do que vimos no quarto período deste Jogo 4 é a seguinte: será que o time já deu tudo o que tinha, mesmo? O que vimos foi um time sem energia alguma para tentar completar o serviço. Eles até chegaram a encostar no placar no terceiro período, diminuindo a vantagem aberta pelos visitantes para três pontos, ou uma posse de bola. Mas não conseguiram ir além, a despeito de todo o apoio de sua torcida. Acabou o gás em quadra.

A série
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E daí recuperamos um argumento construído lá atrás, no primeiro jogo da série, há coisa de uma semana: a estratégia do Golden State de ‘deixar’ LeBron atacar era de curto prazo – e longo também. Algo pensado para vencer em 48 minutos, mas cujos efeitos deveriam surtir mais com o acúmulo de partidas. Bingo, narra o Everaldo. Essa é a diferença dos playoffs, minha gente. Steve Kerr e seus assistentes e jogadores certamente tiveram de respirar fundo para não perder isso de vista até que colhessem os resultados neste quarto embate, que, para eles, na verdade, tinha um status praticamente de sétimo e derradeiro. Tivesse Cleveland aberto 3 a 1, já dava para entregar a taça ao Rei de Ohio.

Warriors, saltitante. LBJ: no chão

Warriors, saltitante. LBJ: no chão

O Cavs se colocou nessa posição com muito esforço na defesa, com um espírito de luta impressionante.  Acontece que os mesmos desfalques que lhe empurraram meio que involuntariamente nessa direção extremamente agressiva na defesa agora fazem diferença de outra forma. David Blatt encontrou um modo de combater o Warriors. Mas um modo muito desgastante e sem muitos recursos no banco para variar a abordagem. Um Anderson Varejão faria uma diferença absurda agora. Kyrie Irving e Kevin Love, então? Nem se fala.

Kerr e seus atletas obviamente perceberam o que aconteceu em quadra. Se, no terceiro período, estavam suando frio perante a arrancada dos anfitriões, no quarto final viram Mike Miller , Kendrick Perkins e o calouro Joe Harris irem para a quadra, o que significava que, naquela rodada, a probabilidade de vitória já era zero. E o Golden State, por outro lado, lançava para um pivô pontuador como Marreese Speights pela primeira vez ap jogo, como que avisando: vejam só o que temos por aqui ainda.

Pivô, aliás, foi a posição decisiva para o jogo, de um modo diferente, devido a sua ausência no time californiano. Quando Kerr tirou Andrew Bogut do quinteto titular, talvez poucos pudessem imaginar que o treinador, na real, estava realmente disposto a excluir o australiano de sua rotação. Se formos avaliar o desempenho do gigantão até aqui, era algo justificável: no ataque, faz tempo que ele joga como um peso morto, mesmo. Na defesa, então, seu rendimento caiu de modo alarmante, sendo feito de gato e sapato por Timofey Mozgov e Tristan Thompson, sem físico para afastá-los da tábua ofensiva ou para oferecer uma consistente cobertura temerária para LeBron. Então não havia muito, mesmo, o que fazer com ele. Acontece que não foi só Bogut a sair de cena: se o antigo titular jogou três minutinhos desastrados (foi o nono homem da rotação, cometeu três faltas grotescas no final do primeiro tempo e nunca mais foi chamado), Festus Ezeli nem pôde tirar o agasalho. A figura do xerifão estava abolida. No lugar dela, mais um atleta em quadra, uma figura flexível, ágil, veloz para tentar acelerar as coisas pelo Warriors e mudar o ritmo das finais, até então todo favorável ao Cleveland.

E aí que, nos primeiros instantes, parecia um desastre. Os donos da casa abriram 7 a 0 e já forçaram um pedido de tempo. A intervenção serviu para acalmar as coisas um pouquinho que fosse no ginásio, mas também valeu para reforçar a mensagem que era aquele o plano tático a ser seguido, mesmo. E o primeiro quarto terminaria com uma vantagem de 31 a 24 para o Golden State. Pela segunda parcial seguida eles passariam dos 30 pontos. Um ótimo sinal: as coisas estavam no caminho certo.

Foi uma decisão que muitos podem julgar aparentemente óbvia por parte de Kerr, mas que não pode ser subestimada. Se os seus homens mais pesados não estavam dando conta no tranco, por que ficar com eles? Agora, se você tem um time que já venceu mais de 80 partidas na temporada, por que abrir mão da fórmula? Depois de duas derrota em três jogos e muito sofrimento, todavia, Kerr percebeu que era a hora de tentar algo novo. Se o Cavs estava levando a melhor nos rebotes e no jogo interno, que ele procurasse uma alternativa drástica a respeito: abaixou a estatura de seu time a apostou em mobilidade. Levou o embate tático – e físico – ao extremo.

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Ah, mas nos anos 60, 70 e 80 a NBA era muito mais dura: sarrafo, pancada, porrada… Pode usar o termo que for para designar violência. É um fato. Na liga de hoje, no entanto, existem outros meios de se estender um rival na lona: zigue-zagueando pela quadra. Correndo, se deslocando, desgastando, como um pugilista arisco. Com Andre Iguodala promovido ao time titular ao lado de Harrison Barnes e Draymond Green, em vez de uma substituição simples* por Barnes, o Warriors abriu a quadra e forçou que seu adversário se cansasse ainda mais. Havia mais chão para se percorrer, para contestar. (*Nem tão simples assim, uma vez que Iggy não foi titular um vez sequer durante todo o campeonato.)

Por mais que, de início, Green, Barnes e Iguodala hesitassem de primeira, diante de um arremesso já livre, a movimentação de bola que realizaram acabou sendo ainda mais tortuosa para seus oponentes. Mais até que os 40% que a equipe converteu no final, com 12 conversões em 30 tentativas de longa distância. Mais um passe equivale a mais um pique para um time que já havia enviado, na partida anterior, um de seus principais defensores ao hospital. Matthew Dellavedova, vocês sabem, precisou tomar uma injeção há dois dias e se recuperou de desidratação grave na véspera. Não dá para questionar a garra do armador australiano. Mas isso tudo tem limite. Se as pernas não vão, não tem coração que caminhe sozinho.

Delly, o novo braço direito do Rei, ficou em quadra por 33 minutos e tentou lutar até quando podia. Incomodou Steph Curry novamente. Mas o MVP saiu de quadra com 22 pontos em 41 minutos, convertendo 8-17 nos arremessos de quadra e 4-7 de longa distância. Não foi uma atuação brilhante, mas seu time nem precisou disso. Pela primeira vez, o Warriors pôde se impor como coletivo também, com outros três atletas pontuando na casa de dois dígitos e mais dois com nove pontos.

Sim, movimentação de bola não causa apenas uma canseira. Também gera bons arremessos contra uma defesa que não teve mais a mesma velocidade de reação e combatividade. John Schuhmann, o analista estatístico do NBA.com, filtrou o seguinte dado: nesta série, quando a equipe californiana consegue trocar três ou mais passes, converte seus 46,6% dos seus arremessos. Com dois passes ou menos, despenca para 37,6%. Se for para computar apenas os chutes de longe, a desproporção fica de 38,9% para 25,9%.

Nesta quinta, a formação baixa e “total” (com cinco atletas em quadra que poderiam driblar, passar e se deslocar por todo o perímetro) abriu caminho para que a galera contribuísse. Foi o melhor jogo na série para Draymond Green, David Lee novamente produziu bem saindo do banco, Harrison Barnes tomou chacoalhadas de Tristan Thompson nos rebotes, mas ressurgiu nos arremessos e Andre Iguodala desafiou a lógica dos números e fezmais uma grande partida e para se estabelecer como o melhor jogador da série para os campeões do Oeste (22 pontos, 8 rebotes, 4 bolas de três pontos e defesa implacável para cima de LeBron em 39 minutos).

Essa é a vantagem a favor de Kerr. Se o treinador “novato” (coff, coff!) soube dosar sua rotação durante toda a temporada, é para que seus principais atletas tivessem fôlego nesses momentos decisivos. Então não havia por que limitar Iguodala ou os Splash Brothers. Agora é para gastar tudo o que tiver. E o Warriors tem muito mais o que explorar contra um Cleveland que depende horrores de LeBron James. Timofey Mozgov cumpriu o seu papel no confronto com os “tampinhas” rivais, com 28 pontos, 10 rebotes, 10 lances livres convertidos e 56,25% no aproveitamento de quadra. Tristan Thompson pegou carona com o russo e ratificou o domínio na tábua ofensiva. Foram 16 coletas no ataque contra para seu time e cinco a mais no geral. Nada disso adiantou num contexto em que o superastro foi, enfim, controlado.

O ala dessa vez terminou com apenas 20 pontos, 12 rebotes e 8 assistências. Apenas (tsc, tsc). Qualquer observador que beire o neutro ou o sensato – leia-se: qualquer um que não seja um radical ativista pró-Michael Jordan ou Kobe Bryant – vai perceber que o astro simplesmente não tinha forças mais para se impor em quadra. A carga pesou, e não teve nada a ver com emocional. Mesmo o bom tempo que teve para descansar entre o terceiro período e o quarto (intervalo + pedido de tempo de Blatt + 1hmin48s de bola em jogo) foi insuficiente para reabilitá-lo. LeBron não foi nem sombra de uma figura decisiva quando saiu do banco, enfrentando ainda mais dobras do que havia ocorrido nas três primeiras partidas. Errou cinco lances livres em 10, cometeu cinco faltas e não atacou o aro com a voracidade esperada. Nem mesmo quando tinha Curry como marcador.

All in. O Cavs deu tudo o que tinha, mesmo? A cavalaria está fora. Em termos de jogadores, não há muito o que se fazer – e aí que a presença de Mike Miller, Shawn Marion e Kendrick Perkins no banco de reservas não ajuda muito. Veteranos, campeões, líderes. Sim, e improdutivos. Com eles, não há fato novo, a não ser que Miller consiga acertar tantas bombas de três para compensar sua inépcia defensiva. Não quer dizer que acabou, que não há o que se fazer. Pode estender os minutos de um James Jones, reduzir os de JR Smith etc. Mas os nomes são estes que estamos vendo.

Blatt já expôs todas as suas cartas e muito provavelmente terá de seguir com elas até o fim, com a esperança de que os três dias de descanso (mas com uma longa viagem no meio) sejam o suficiente para recuperar o mínimo de energia e tentar mais uma vez um resultado dificílimo: sair da Oracle Arena com a vitória no domingo. Estão todos juntos nessa, mas agora com um oponente  ainda abarrotado de fichas – e revigorado – para derrubar.


David Blatt ainda não ganhou o título. Mas merece reconhecimento
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Giancarlo Giampietro

Blatt e LeBron, juntos, com 2 a 1 na série contra o Warriors

Blatt e LeBron, juntos, com 2 a 1 na série contra o Warriors

No auge da crise do Cavss, antes de Timofey Mozgov, Iman Shumpert e JR Smith, quando muitos especulavam uma possível demissão de David Blatt, como se fosse o futebol brasileiro, chamei um scout internacional da NBA para conversar. Não posso revelar quem, mas dá para garantir que, dentre os olheiros da liga, era um dos que poderia falar com mais propriedade para avaliar o que se passava em Cleveland, por ter acompanhado bem de perto mesmo os trabalhos do técnico na Rússia e em Israel. E aí? O que dizer de tanta pressão?

“O Blatt não fez nada até agora, então isso é normal”, afirmou ao VinteUm, com ênfase em nada. Mas como nada? O cara havia acabado ganhar uma Euroliga. Foi medalhista de bronze nas Olimpíadas de Londres 2012. Ganhou um EuroBasket também, sem contar as dezenas de taças nacionais com o Maccabi. Foi o que interpelei. “Mas ele venceu o quê, mesmo?”, continuou. “Aquela competição em que o melhor jogador é… Quem? Alguém que não consegue nem jogar na NBA.”

Admito que me surpreendi com as respostas. Esperava uma voz que saísse em defesa de Blatt, até por vir de alguém baseado na Europa. Mas depois fui entendendo. O que o scout dizia não era necessariamente sua opinião. Só estava ecoando o que muita gente andava dizendo naquele ti-ti-ti longe das câmeras. “O problema não é o conhecimento tático dele. Isso ele tem de monte, embora a aplicação na NBA possa ser diferente. Pelo talento dos jogadores, as coisas podem até ser mais simples. Mas, para os americanos, ele é visto como um técnico novato, mesmo.”

A série
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O que nos leva a uma discussão que não pode ser ignorada. Se, nos gramados, o eurocentrismo é o que impera, no basquete, obviamente, o eixo está na América do Norte. Mesmo nascido em Boston no dia 22 de maio de 1959, David Michael Blatt fzez high school em Framingham, cidade localizada naa região metropolistana de Boston que conta com alta concentração de emigrantes brasileiros, se graduou na prestigiadíssima Universidade de Princeton. Mesmo assim, é tido como um forasteiro na grande liga, por ter se formado como jogador e técnico em Israel, mesmo.

Tá. Mas qual o problema? Não vou deixar de implicar com aqueles que ainda julgam a liga americana como teatro, marketing etc. Isso é delírio. Só não dá para ser bitolado do outro lado também. Existe vida basqueteira fora dos Estados Unidos e da Association. Blatt, com seu currículo de mais de 15 anos na estrada, merecia mais respeito. Não o teve no início e, mesmo agora, também não vem reconhecendo o respeito devido. Ainda assim, está a duas vitórias de um título que seria histórico em diversos sentidos e poderia servir como um marco nessa questão.

O emprego ideal, e de muita pressão
A conversa com o scout europeu aconteceu em janeiro. O mês em que – vocês se lembram, né? – o astro tirou umas semaninhas de férias para, oficialmente, controlar dores no joelho e nas costas, mas que, sabe-se, também usou para arejar a cabeça, se distanciando de uma campanha frustrada, que transitava em torno dos 50% de aproveitamento. Antes de se afastar, o superastro regional deixava claras suas reservas em relação ao treinador nas conversas com jornalistas. Disse o olheiro: “Aí é o caso de conquistar o respeito de todos. Conquistar o respeito de LeBron. E LeBron o está testando“.

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Quando Blatt assumiu o Cavs, tinha perspectivas de melhoras no elenco, mas, internamente, a chance de contratação de LeBron ainda era considerada um tanto remota. O proprietário da franquia, Dan Gilbert, foi quem o escolheu pessoalmente, com James ou sem James, tinha como meta a classificação para os playoffs. Foi essa pressão que culminou na demissão de Mike Brown, inclusive. Em poucas semanas, no entanto, a realidade do treinador estreante (não dá para dizer “novato”) mudou profundamente. As expectativas bombaram.

Enquanto o time não se ajustava, com troca de indiretas entre as estrelas, sendo atingido no tiroteio, o treinador virou um saco de pancadas. Foi criticado em massa na mídia americana, sem o respaldo de seu principal jogador, teve de aturar notícias de que Tyronn Lue, seu braço direito, estivesse até mesmo pedindo tempo por suas costas. A coisa estava feia. Blatt entrou, então, em modo de autodefesa e passou a encarar os jornalistas nas coletivas. O que não ajudou em nada o cultivo de sua imagem, ganhando a pecha de arrogante – pois, para essa tal da imprensa, funciona assim: constrói-se uma tese que deve ser comprovada de qualquer jeito; se a fonte não acredita nessa tese, ou se a rebate, insiste-se; a fonte se irrita, e aí, pronto, já virou “pedante”.

Não era uma transição fácil de modo algum. Era o trabalho dos sonhos, mas também um emprego que você só pode vencer – e no qual tem tudo para perder. Digo: foi para a final? Ganhou o título? “Que bacaninha, parabéns”, ouve-se. “Com o LeBron, até eu”. Falhou?! “Ah, mas como pode, sua mula!?”, seria o discurso alternativo. Aliás, até mesmo Phil Jackson já foi desacreditado por só vencer com estrelas, a despeito de 11 anéis e do fato de Jordan, Pippen, Shaq e Kobe terem ganhado um anel pela primeira vez sob sua orientação. Desses, apenas Shaq conseguiu ser campeão dirigido por outro profissional. Seu nome? Pat Riley, alguém que já teve de lidar com o camisa 23 de perto.

Comissão técnica do Cavs é só sorrisos agora

Comissão técnica do Cavs é só sorrisos agora

É tudo LeBron, por causa de LeBron. Um jogador com muito poder e que sabe como usar esse poder. Um jogador inteligente demais, também fora de quadra, sendo já um verdadeiro homem de negócios, com plena noção de sua relevância. A ponto de ser consultado para tudo o que seus times fazem, bancando, em Cleveland, a contratação de JR Smith, por exemplo (“Deixe ele comigo”, disse ao gerente geral David Grrifin). Essa dinâmica muito provavelmente valeria para qualquer clube que o contratasse, mas dentro do Cavaliers, obviamente que a situação fica ainda mais delicada, por ter toda uma cidade – um Estado, na verdade – na palma da mão. Em Miami, uma figura como Pat Riley, com a ajuda de Dwyane Wade, ainda poderia contra-argumentar um pouco, tentar equilibrar o diálogo. Foi nesse ponto que o gerente geral David Grrifin teve uma atuação decisiva. Quando muita gente especulava uma demissão de Blatt já na virada do ano, o cartola veio a público e bancou o técnico, dando um recado a sua estrela. Eles teriam de se acertar.

Quando James retornou, o craque se comportou, maneirou e interrompeu o processo de fritura de um treinador com quem evidentemente não havia desenvolvido empatia. Passou a se empenhar muito mais em quadra e, quando os reforços chegaram, engatou a quinta e foi adiante. De arestas, retoques, só restou mesmo a relação de Kevin Love com o grupo. Com o acúmulo de resultados positivos, porém, mesmo esse tópico um tanto espinhoso – e que custou um Andrew Wiggins – foi contornado até o momento em que o ala-pivô sofreu uma infeliz lesão no ombro em choque com Kelly Olynyk, sendo afastado das quadras. Depois, foi a vez de Kyrie Irving cair pelo caminho, primeiro com uma preocupante tendinite no joelho direito e depois com uma fratura na rótula sofrida no Jogo 1.

Se, lá atrás, durante a entrevista, esse scout pudesse enxergar o que se passaria em maio e junho, certamente a aposta seria a de que o Cavs cairia preocemente nos playoffs. Um erro de contas do treinador contra o Chicago poderia até mesmo ter concretizado essa previsão, quando Blatt pediu um tempo que não tinha, mas a arbitragem não percebeu, até que Tyronn Lue interviesse e afastasse seu colega. A infração resultaria em falta técnica e posse de bola para oponente. Muito provavelmente o Bulls voltaria a Cleveland com um 3 a 1 no placar. Aí vai saber…

Nesta mesma partida, tivemos o último desencontro escancarado entre LBJ e Blatt, quando o técnico, para a jogada decisiva, estava pensando em usar o ala na reposição (faz sentido, em teoria, devido a seu tamanho, visão de quadra e habilidade no passe). LBJ, claro, se recusou e disse que iria para o arremesso. Matou uma bola incrível e empatou a série. Nas entrevistas, porém, cada um disse a coisa certa, sem ferir o ego do outro. Blatt também reconheceu seu ato impensado, agradeceu a Lue, mas foi um pouco além, ao dizer que esse tipo de coisa acontece. Comparou os desafios de sua profissão aos de um piloto de caça, pelo grande número de decisões que ambos precisam tomar. Virou piada na internet, com uma série de colagens o envolvendo com Tom Cruise e seu clássico da Sessão da Tarde, Top Gun. Isso foi no mês passado.

Com Steve Kerr, a bagunça seria a mesma?

O “se” não entrou em jogo, e o Cleveland varreu o Boston, bateu o Chicago em seis partidas e tornou a varrer um oponente, o Atlanta Hawks, justamente o time que não perdeu sequer uma partida em janeiro, com 17 vitórias consecutivas. E como ele fez isso?

O jeito azarão de ser
“Essa é a coisa mais incrível que a mídia americana provavelmente irá ignorar: este é o modo como as equipes do Blatt sempre avançaram na Europa. Foi a mesma história com o Maccabi no ano passado”, disse ao VinteUm outro scout da NBA, com base nos Estados Unidos, mas com bastante trânsito no mundo além das fronteiras da liga. Um fato: quem teve a oportunidade de acompanhar a Euroliga 2013-2014 sabe o tamanho da surpresa que foi a conquista do Maccabi Tel Aviv, derrubando, nos playoffs, Olimpia Milano, CSKA Moscou e Real Madrid – os dois últimos com orçamento muito superior.

Na final, o Real era amplamente favorito. Depois da zebra, a conclusão que se tirou foi a de que, no mano a mano, a única posição em que o time israelense superava o espanhol era no banco, no comando técnico. “Esse tipo de resultado acontece com boa frequência na carreira do técnico: o sucesso enquanto azarão”, diz o olheiro. Foi da mesma forma que sua Rússia derrotou a Espanha, na casa do adversário, para conquistar o campeonato europeu de 2007.

David Blatt saiu nos braços do povo

Aclamado pelos jogadores do Maccabi, campeão europeu em 2014

O fato de não ter tanta pressão assim não é o único fator que une as equipes passadas de Blatt com o Cavs, claro. É aqui que podemos falar mais sobre o impressionante trabalho tático dos campeões da Conferência Leste. A ênfase, natural, vai para a defesa da equipe. Mas Blatt será o primeiro a corrigi-lo se for para bater só nessa tecla. Ele insiste que não dá para separar o ataque da marcação. As coisas andam juntas, interligadas. (Phil Jackson já se cansou de repetir essa frase também, assim como outros profissionais de ponta. É um conceito básico, mas que a gente pode deixar escapar com facilidade.)

Com um elenco pouco entrosado, desde o início, , o treinador americano-israelense tomou uma decisão pragmática – e que se tornou ainda mais sensata devido ao acúmulo de desfalques. Desacelerou o jogo ao extremo. O Cavs tem o ritmo mais lento de todas as 16 equipes dos playoffs, amarrando o jogo do Golden State Warriors. A média da decisão tem sido de 93,7 posses de bola. Na temporada regular, sua equipe jogou para 94,8 posses – contra 100,7 dos campeões do Oeste. É preciso dizer que, nos mata-matas, o time de Steve Kerr já estava numa toada mais controlada (96,6 posses, mas ainda bem mais acentuada).

No ataque, a abordagem individualista em torno de LeBron não é para atender a caprichos do craque. Mas, sim, para reforçar esse controle do jogo, consumindo tempo a cada posse, metodicamente, fazendo de tudo para limitar as oportunidades de corrida do Golden State. Uma abordagem com mais trocas de passe, em velocidade, sem o talento de Irving e Love, talvez pudesse causar muitos turnovers ou arremessos desequilibrados, e, a partir daí, os contra-ataques. “É realmente fantástico. O Cavs não tem ninguém além de LeBron que consiga criar um arremesso quando ele sai de quadra”, afirma o scout americano.

E aí, Timo? Dá para acreditar num uniforme desses!?

E aí, Timo? Dá para acreditar num uniforme desses!?

Com uma estratégia simplista ao extremo, mas abusando do talento do maior jogador de sua geração, encontrou-se uma forma de diminuir os erros. E aqui temos a melhor defesa para o elevado número de arremessos do ala, algo que ele mesmo vem frizando: não é que queira chutar tanto. Na verdade, ele detesta isso esse volume e a baixa eficiência no seu aproveitamento. Mas esse é o único jeito que esta versão do time tem para atacar, na sua concepção – e na de Blatt. Ajuda ter um craque desses, mas não é que ele esteja num nível superior ao que fez pelo Miami nos últimos três anos. E não estamos vendo nenhum Dwyane Wade ou Chris Bosh ao seu lado hoje.

LeBron tem sido acionado cada vez mais de costas para a cesta, geralmente do lado esquerdo do garrafão. Executa mais alguns dribles e aí parte para o ataque. A eficiência não é a mesma dos tempos de Miami Heat, mas não se trata de acidente. Mesmo que a bola não caia, sua penetração já pode causar o mínimo de desequilíbrio defensivo, dependendo do quanto os pivôs se deslocarão na cobertura, ajudando Tristan Thompson e Timofey Mozgov na coleta de um cada vez mais provável rebote ofensivo, outro fator limitador para contragolpes. A ideia é não deixar o adversário correr de modo algum, mesmo que seu próprio ataque seja sacrificado. Num duelo franco, com tantos desfalques, não haveria como Cleveland encarar.

O jogo de transição foi o ponto mais forte do Warriors na temporada, com média de 20,7 pontos nesse tipo de ataque. Nas finais, o número caiu quase pela metade (11,7). No Jogo 3, desta terça, foram apenas quatro. Se Thompson ou Mozgov não conseguem a coleta ofensiva, os demais jogadores têm a ordem de recomposição imediata, e isso vem acontecendo religiosamente. O foco principal fica em Steph Curry, que não tem liberdade alguma a partir do momento que cruza a linha central. Matthew Dellavedova se tornou seu carrapato mais detestável, mas Shumpert também vai muito bem nessa missão de contenção em velocidade, devido aos seus reflexos e elasticidade, sendo um terror na linha de passes. Tristan Thompson também é um dos pivôs de maior mobilidade na liga, encarando a turma do perímetro sem suar muito, quando necessário.

Isso tudo cria um desconforto evidente para o Warriors, expressado em diversas ocasiões pelo próprio Steph Curry, balançando a cabeça negativamente, sem parar, em quadra. A novidade que Steve Kerr havia apresentado neste campeonato foi a combinação de uma defesa eficiente, a mais dura da liga, e jogo em velocidade, solto no ataque. Seu sistema defensivo está funcionando. A outra metade da conta é que não está fechando sem as oportunidades de contragolpe. Em meia quadra, Curry está jogando sob pressão constante, e o ataque como um todo não tem encontrado espaçou e fluidez diante do empenho e consciência tática de Dellavedova, a flexibilidade de Thompson e LeBron e a presença física de Mozgov na retaguarda. A equipe californiana talvez estivesse preparada para enfrentar outro adversário. Mas já houve tempo também para se ajustar a esta nova realidade.

E pensar que Steve Kerr poderia ter sido o chefe

E pensar que Steve Kerr poderia ter sido o chefe

As #NBAFinals, no entanto, não estão definidas. É preciso ver se o Cavs vai ter perna para manter esse ritmo defensivo, se o quarto período do Jogo 3 foi apenas um descuido, um relaxamento depois da construção de larga vantagem. A viagem de Oakland para Cleveland foi problemática para todos, e o intervalo para a quarta partida é mais curto. Iman Shumpert tomou uma bordoada no ombro, mas não sofreu lesão. Dellavedova teve desidratação e câimbras fortes, mas também deve ir para o jogo. A rotação fica ainda mais abalada, de todo modo. São mais preocupações para Blatt contornar.

Se concluir a virada, o treinador ‘forasteiro’ terá eliminado três dos quatro tmais bem votados na eleição de melhor da temporada (Brad Stevens, Mike Budenholzer e o comandante do Warriors) e quatro dos sete melhores (incluindo Tom Thibodeau). Juntos, eles ganharam 1.044 pontos na eleição, de 1.170 possíveis. Blatt ficou com três pontinhos, por três votos como terceiro melhor da temporada.

Que Blatt e Kerr  estejam se enfrentando é uma situação bastante curiosa, pelo fato de o ex-jogador, dirigente e comentarista ter feito uma proposta para que o técnico do Cavs se juntasse a sua comissão. Os dois chegaram a fechar um acordo verbal, até que Dan Gilbert entrou na história. Apesar de todos as dificuldades que está enfrentando, Kerr ao menos pode dizer que conhecia– e respeitava – seu oponente.


Cavs vence o Jogo 3 e vira, dominando Golden State. Ou quase
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Giancarlo Giampietro

LeBron: médias de 41 pontos, 12 rebotes e 8 assistências em três jogos. Reinando

LeBron: médias de 41 pontos, 12 rebotes e 8 assistências em três jogos. Reinando

O Cleveland Cavaliers vai batendo recordes e recordes com sua defesa para cima do Golden State Warriors. Depois de se tornar o primeiro time a segurar o adversário com menos de 90 pontos em 48 minutos nesta temporada, o Cavs agora o limitou a 37 pontos no primeiro tempo, sua pior marca durante os playoffs – e uma quantia que a equipe havia marcado em um só quarto 18 vezes em sua campanha, para termos uma ideia.

Há muito mais números para acrescentar aqui, como, por exemplo, o rendimento do Warriors nos arremessos de três pontos, tão caros ao seu sistema ofensivo. Na temporada regular, o time converteu 39,8% de seus chutes de longa distância. Nos playoffs da Conferência Oeste, a marca foi de 38%. Nas finais, estamos falando de apenas 31,3%, número baixo para qualquer medida, especialmente para os Splash Brothers.

Sinceramente, nem precisa apelar a qualquer número para afirmar que o Cavs tem sido o time superior nestes primeiros três jogos, vencendo o terceiro por 96 a 91 para assumir o comando da série. O que não quer dizer que as coisas já estejam resolvidas. Nem mesmo com mais este dado: até o momento, a única parcial que teve o Warriors acima no placar foi a prorrogação do primeiro duelo. De lá para cá, ou deu Cleveland, ou deu empate.

A série
>> Jogo 1: 44 pontos para LeBron, e o Warriors fez boa defesa
>> Jogo 1: Iguodala, o reserva de US$ 12 m que roubou a cena
>> Jogo 2: Tenso, brigado… foi um duelo para Dellavedova

Os LeBrons se tornam os favoritos ao título pelo fato de terem assumido o controle tático da decisão –  por precisarem, agora, de uma vitória a menos que seus oponentes para levar o título. De qualquer forma, ainda que dominando estrategicamente, o time permitiu que os campeões do Oeste reagissem mais uma vez no quarto período, numa demonstração do grau de periculosidade de seu oponente.

O Warriors tirou 14 pontos de vantagem em menos de seis minutos e meio na parcial, chegando a perder por três 79 a 76 a 5mi49s do fim. Depois, ainda encostou em 81 a 80 a 2min45s, até que Matthew Dellavedova se superasse novamente numa jogada de cesta-e-falta inacreditável para dar uma boa folga no marcador. Nesta reação, ressurgiu também Stephen Curry, que anotou 17 de seus 27 pontos no quarto período, ou 9 pontos em 1min23s.

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Esse foi o melhor sinal que o técnico Steve Kerr poderia tirar do Jogo 3, ainda que, com sua experiência, tenha visto muito o que corrigir, esteja falando apenas de sua estrela, ou não. “Não gostei de nossa linguagem corporal em alguns momentos. Temos de ter energia, ter mais vida em quadra, tanto no momento em que os arremessos estão caindo, como também quando o chute não cai”, disse o treinador.

O tipo de postura que o MVP Curry não pode ter. Será que o 4º período o anima?

O tipo de postura que o MVP Curry não pode ter. Será que o 4º período o anima?

De fato a postura cabisbaixa de Steph Curry durante boa parte do jogo era algo que intrigava bastante. O armador parecia chutar pedrinhas em casa a cada ataque desperdiçado, até despertar no quarto final, escoltado por Leandrinho (4 pontos em 11 minutos, mas com muita intensidade na defesa e abrindo a quadra no ataque, com saldo +11) e David Lee (11 pontos, 4 rebotes, 2 assistências, 100% nos arremessos e saldo de +17 em 13 minutos). A próxima lição é parar de enfeitar com a bola em momentos de pressão – se ajudou o Golden State a se aproximar no jogo, também deu um jeito de complicar a tentativa de virada cometendo três turnovers nos últimos dois minutos, com direito a passe por trás das costas no perímetro, sem direção.

Não é jogando “bonitinho” que ele e seus companheiros vão superar uma defesa duríssima como a do Cleveland, que tem contestado sem parar os Splash Brothers e limitando as linhas de passe – um trabalho de Blatt que merece mais detalhes em um outro texto antes do Jogo 4. “Se conseguirmos recuperar nosso ataque, o que vai acontecer, vamos vencer esta série”, afirmou Klay Thompson, cheio de confiança. Cestinha do Warriors no Jogo 2, o ala dessa vez marcou apenas 14 pontos em 16 arremessos e 39 minutos.

A jogada para cesta e falta em cima de Dellavedova, importantíssima, quando Curry havia deixado o Warriors a apenas um ponto no placar

A jogada para cesta e falta em cima de Dellavedova, importantíssima, quando Curry havia deixado o Warriors a apenas um ponto no placar

É bom que Thompson manifeste confiança, ainda mais depois da arrancada de Curry no quarto final, parcial na qual sua equipe conseguiu marcar 36 pontos – apenas um a menos que em todo o primeiro tempo. Depois de três jogos, seria um primeiro sinal de que a defesa do Cleveland possa arrefecer, com uma rotação enxuta e desgastante carga de minutos, depois das lesões de Kevin Love e Tristan Thompson? Talvez. Mas talvez não dê mais para o Golden State, atrás no placar geral da série,  apenas esperar que uma hora a bola caia. No geral, em três partidas, eles acertaram apenas 41,4% dos chutes de quadra. Mas a chave é essa, mesmo: arrumar o ataque.

Do outro lado, estão fazendo o que dá contra LeBron James. O craque 23 tem médias de 41 pontos, 12 rebotes e 8,3 assistências em 47,3 minutos, um patamar de produção que, desconfio, você não vai encontrar jamais. Só Wilt Chamberlain, talvez. Por outro lado, o ala tem sido obrigado a tentar mais de 35 arremessos por partida, com aproveitamento baixo de 40,2%, compensados de certo modo pelos mais de 10 lances livres por confronto, com 75% de acerto. Está claro, a essa altura, que Andre Iguodala consegue incomodar muito mais o astro do que Harrison Barnes, e o mais prudente talvez seja aumentar os minutos do sexto homem.

De resto, Kerr viu seus atletas enfim reduzirem as oportunidades de rebote ofensivo do Cavs (foram apenas seis dessa vez), bloqueando Timofey Mozgov com mais minutos para Festus Ezeli do que para um exaurido Andrew Bogut. Com as costas aparentemente travadas, Draymond Green não conseguiu lidar com Tristan Thompson, porém (10 pontos e 13 rebotes). A produção ofensiva do canadense, no entanto, foi atípica. Assim como a do Oscar-de-Melhor-Ator-Coadjuvante Dellavedova, que não cansa de aprontar, saindo de quadra dessa vez com 20 pontos, muitos tapinhas no ombro. Mas que cansa no sentido literal do esporte, mesmo, sofrendo com câimbras uma hora depois do final da partida, ficando impossibilitado de conversar com os jornalistas. Segundo o clube, teve até mesmo de tomar medicação intravenosa para amenizar as dores, num hospital da cidade.

O Warriors já se viu contra a parede uma vez nestes playoffs, na semifinal contra o Memphis Grizzlies, contra quem também perderam em casa e a primeira partida fora. Agora, no entanto, eles precisam passar por uma muralha beeeem mais larga, que até agora tem impedido que os darlings da liga americana se sentissem verdadeiramente confortáveis em quadra por mais de quatro ou cinco minuto. Com a diferença de que seu atual oponente pode explorar ao máximo os talentos de um outro grande camisa 23 no ataque, seguindo uma receita bem simples e, ao mesmo tempo, difícil de derrubar. Mas o fato é que a margem de manobra do Cavs ainda tem sido bastante apertada. David Blatt está vencendo o jogo de xadrez, mas com poucas peças no tabuleiro – dependendo, se já não bastasse, de uma ressonância magnética no ombro esquerdo de Iman Shumpert. Resta saber se Steve Kerr vai conseguir reagir nessa situação e dar um xeque na próxima quinta-feira.


Tenso, brigado… Foi um jogo para Dellavedova, e, não, para Curry
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Giancarlo Giampietro

Dellavedova brilha de novo. Os inimigos do Leste choram

Dellavedova brilha de novo. Os inimigos do Leste choram

Pode aparecer oportunismo dizer isto, mas o Jogo 2 destas #NBAFinals estava muito mais para um Matthew Dellavedova do que para um Stephen Curry – ou, pelo menos, para esta versão de Steph Curry. Foi uma partida de contato físico, afeito ao aguerrido australiano que, mais uma vez, se ralou em uma série de lances decisivos e ajudou o Cleveland Cavaliers a empatar a série em 1 a 1, com mais uma prorrogação.

Bola perdida no garrafão em meio a gigantes? Lá estava o Dellavedova nela, alerta, para depois se estirar em quadra. LeBron é barrado no baile, e o chute de James Jones não caiu? Sem problema: sem impulsão nenhuma, com 1,93 m (oficial), o armador vai para o rebote ofensivo e, no mesmo movimento, cava a falta. Vai para o lance livre e converte os dois, sem pestanejar. E por aí vai. Nos lances mais preciosos, de 50/50, o “Delly” fez sua presença se notar e, nem que por alguns instantes que fossem, afastou da cabeça do torturado torcedor do Cavs a memória de que Kyrie Irving já não vai mais participar desta série. Irving, cujo talento no ataque ele jamais vai poder substituir, mas cuja ausência pode compensar ao seu modo, na defesa. “Estamos jogando as finais da NBA. Se você precisa procurar motivação extra, provavelmente não deveria nem estar jogando”, afirmou durante entrevista coletiva na qual ele estava sozinho no pódio, como se fosse o maioral do Cleveland.

A série
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Do outro lado, ao atual MVP faltou se adaptar a um confronto mais duro. Acostumado a levantar a torcida de Oakland a temporada inteira com suas bolas de efeito (e eficientes), o armador não conseguiu alterar seu modus operandi, mesmo quando estava claro que seus lances vistosos não surtiam, não estavam surtindo efeito. Não é que ele tenha sentido a pressão. O pior foi não saber entender o tipo de pressão a que estava submetido. Um abafa exercido, para começo de conversa, pelo próprio australiano, que forçou um airball de Curry no penúltimo ataque do Warriors e, depois, viu o craque passar a bola nos pés de um Klay Thompson endiabrado, que nada pôde fazer: 95 a 93, numa partidaça de ativar a adrenalina de qualquer observador. O Cavs brigou e está no páreo.

“Nossos caras adoraram o fato de que já havíamos sido descartados. Esta é a equipe lutadora que temos. Não é nem um pouco fofa. Se estiver esperando que joguemos um estilo sexy ou bonitinho de basquete, não vai achar conosco”, afirmou LeBron James, antes de deixar o microfone para Dellavedova. (LBJ vai negar que essa tenha sido uma indireta, mas… está na cara.)

Calma, Delly. Não é rúgbi

Calma, Delly. Não é rúgbi

O novo titular do Cavs ficou 42 minutos em quadra e terminou com nove pontos, cinco rebotes, três roubos de bola, apenas 1 assistência e errou sete de dez arremessos, incluindo cinco de seis na linha de três pontos. Mas saiu com a estatística mais preciosa: uma vitória, contribuindo com os pequenos grandes lances que influenciou durante toda a temporada – e não apenas nos playoffs, quando enfileirou inimigos na Conferência Leste ao participar de algumas jogadas polêmicas. Um pequeno grande lance como o seu quinto rebote, no garrafão do Warriors. Antes que ataquem Curry por essa, a conta ficou para Klay Thompson neste lance em específico. “Esqueci de bloqueá-lo quando ele conseguiu a falta. Isso vai ficar na minha cabeça por um longo período”, disse o ala. De todo modo, não fosse seu espírito combativo e a inteligência em quadra, Delladedova não teria aproveitado a sobra. Nos playoffs, não são apenas os superastros que brilham.

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Sem LeBron James, claro, não há Cleveland Cavaliers. O astro foi mais uma vez imenso em Oakland, com 39 pontos, 16 rebotes, 11 rebotes em 50 minutos. Haja fôlego – e categoria. Pode ter errado 24 de 35 arremessos, mas deu um jeito de compensar isso com 14 lances livres convertidos, atacando o aro sem parar e até mesmo sendo ignorado pela arbitragem (um caso à parte nesta partida, errando demais, em jogadas óbvias). Mas o craque não jogou sozinho. Para o Cavs chegar ao triunfo, contou com uma desempenho defensivo soberbo.

O time de David Blatt foi o primeiro a limitar o avassalador ataque do Warriors a menos de 90 pontos, em 48 minutos, nesta temporada. Grizzlies, Spurs, Rockets, Bucks… Todo mundo tentou, ninguém havia conseguido. E, sim, dá para falar Blatt aqui, né? Malhado o ano inteiro, o treinador fez os ajustes necessários, alguns até mesmo surpreendentes, e contribuiu decididamente na vitória. Ou seria James também o coordenador defensivo da equipe?

Que Blatt não tenha retornado com Timofey Mozgov nem por um minuto sequer no quarto período foi algo bastante questionável. Também  poderia ter interferido no andamento do ataque do Cavs, que deu aquela emperrada e passou a depender exclusivamente das investidas de sua estrela, caindo no mesmo erro do Jogo 1, permitindo a reação dos anfitriões para que forçassem mais uma vez o tempo extra. Mas, taticamente, no plano geral, foi uma reação, e tanto: seus jogadores controlaram o ritmo da partida, praticamente anulando o jogo em transição do adversário ao dominar os rebotes (55 a 45, com 15 na tábua ofensiva).

Preparando terreno
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Depois de dominar as tábuas, o Cleveland desacelerou o jogo e, em meia quadra, oprimiu os arremessadores do Warriors, que acertaram apenas 39,8% dos arremessos e 22,9% (8-35) nos chutes de três pontos. Se subtrairmos a produção de Klay Thompson, que matou algumas bolas complicadíssimas (34 pontos), o aproveitamento cairia, respectivamente, para 34,5% e 17,3%. Até mesmo Tony Allen debocharia de números como esses. Como os visitantes fizeram isso? Impedindo os cortes pelo fundo e fechando as linhas de passe, principalmente quando a bola não estava nas mãos de Curry. Segundo estatísticas preliminares, o Warriors completou 217 passes neste Jogo 2. Sua média nos playoffs é de 303.

As coisas não deram certo para Curry, e o astro não soube mudar o curso

As coisas não deram certo para Curry, e o astro não soube mudar o curso

Foi aí que entrou em cena Dellavedova, com um esforço extenuante (chegou a acusar dores musculares na prorrogação…) e impressionante em seu trabalho de contestação. Curry teve de lutar bastante até mesmo para receber o passe. Até por isso sua decisão de insistir nos arremessos de três pontos a partir do drible foi pura teimosia, ou confiança em excesso. Se você está cansado, com a perna pesada, o rendimento no chute de longa distância tende a cair. Isso é matemática das mais simples.

De tantos estragos que causou neste fundamento durante toda a temporada, todavia, o armador foi arremessando com aquela mentalidade de que uma hora a bola cairia, a partir do drible, com grau elevado de dificuldade, sem se importar. No fim, caíram apenas 2 em 15, sendo que as 13 tentativas erradas são um recorde de desperdício nas finais, superando as 11 de John Starks, do Knicks, contra o Rockets, em 1994. Antes de acusar cansaço, porém, é preciso registrar que o queridinho local estava com uma expressão um tanto abatida desde o início. Foi uma atuação realmente bizarra, se comparada com o papel que tem cumprido nesta campanha.

“Eu sabia que, assim que saíam da minha mão, alguns arremessos que eu normalmente faço estavam fora. Isso não acontece normalmente. Mecanicamente, não sei se há uma explicação por isso. Apenas não encontrei meu ritmo durante o jogo”, afirmou o MVP. “Tenho de jogar melhor, encontrar arremessos melhores e ficar mais em sintonia durante a partida para que possamos nos estabelecer como time.”

Sim, quando o sujeito tenta 15 arremessos de fora, não dá para dizer que tenha falhado por omissão. Curry não fugiu do jogo. Simplesmente tomou decisões terríveis com a bola, com uma chuva de chutes curtos e ou tortos, raridades para alguém com tanta precisão. O duro é, que, com seu vasto repertório, quando usou a mera ameaça de seu arremesso para iludir seu marcador, o  craque conseguiu espaço para bater para a cesta e completar suas infiltrações (como na cesta que forçou a prorrogação), ou, no mínimo, descolando lances livres. Mas, não. Em vez de dosar as coisas e procurar outros rumos, seguiu chutando de modo tresloucado. O australiano o perturbou. “Teve tudo a ver com o Delly. Ele foi espetacular”, disse LeBron.

Claro que o defensor não o conteve sozinho, mas é inegável sua contribuição neste ponto. Segundo a ˆ, Curry errou todos os seus oito chutes quando marcado pelo substituto de Kyrie Irving e ainda cometeu quatro turnovers. Dellavedova venceu mais este embate psicológico – e físico. Merece, então, seu próprio cartaz (de mentirinha). Como se fosse uma superestrela.

Somos todos testemunhas:

Matthew Dellavedova, NBA, Cavs, LeBron

*    *    *

Dois ajustes significativos de Blatt envolveram Mozgov, seu ex-comandado de seleção russa. Daí o estranhamento pela ausência total do pivô nos últimos 17 minutos de partida – quarto período mais prorrogação –, quando sua presença poderia ter sido importante em uma posse de bola ou outra ofensiva. O primeiro ajuste foi bem simples, no ataque: o russo subiu para a cabeça do garrafão para fazer o mais rápido que pudesse um corta-luz para LeBron, especialmente para livrar o astro da marcação chata de Andre Iguodala. O mínimo de espaço gerado para o camisa 23 é o suficiente para que ele crie uma situação de cesta – seja em definição individual ou para os companheiros. O pivô também se movimentou muito mais sem a bola, mesmo que não fosse para completar uma jogada de pick-and-roll, e fez a cobertura de Andrew Bogut ficar mais espaçada e hesitante. O segundo ajuste foi bem mais criativo: quando Steve Kerr usou seu quinteto “baixo” logo no primeiro tempo (com Bogut e Festus Ezeli no banco), Blatt manteve Mozgov em quadra, com a decisão de deixá-lo na marcação de Iguodala. Mesmo que o ala tenha jogado muito bem também ofensivamente na primeira partida. O russo apenas cercou o adversário e deu conta do recado, surpreendentemente. Só o perdeu de vista num raro contragolpe que resultou em bela ponte aérea com passe de Klay Thompson. Valeu o show nessa, mas taticamente o russo saiu ganhando. Ainda mais que, do outro lado, não havia quem conseguisse marcá-lo (17 pontos e 11 rebotes em 29 minutos).

 *     *     *

O que dizer deste erro grotesco de Marreese Speights? Pelo visto, os dias em que ficou durante a série contra o Houston Rockets valeram uns quilos a mais para o pivô. Seria muito cruel lembrar que a partida terminou empatada no tempo regulamentar? Que dois pontos poderiam ter… Bem, seria muito cruel, sim.

Só não nos esqueçamos que o mesmo Speights, mais jovem, nos tempos de Sixers, já chegou a dar um airball numa tentativa de enterrada contra Nenê:

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Num jogo de detalhes, os 8 pontos de James Jones no primeiro tempo foram um lucro danado para o Cavs, ajudando inclusive a manter a equipe próxima do marcador, enquanto Klay esquentava a munheca. Valeu a amizade, LeBron.

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Difícil dizer quem errou mais: JR Smith ou a arbitragem, que deixou escapar, por exemplo, duas faltas claríssimas sobre LBJ (a marretada de Iguodala no quarto final e o puxão de Draymond Green no bola ao alto da prorrogação). Na verdade, as falhas do irregular, cabeça-de-vento lateral acabariam por anular as bobagens dos homens do apito. Com três faltas tolas, completamente desnecessárias, Smith deu ao Warriors seis pontos de graça em lances livres, dando sua contribuição marcante para o desfecho dramático do jogo. O ex-comparsa de Carmelo até fez 13 pontos (em 13 arremessos), mas sua desatenção defensiva tem efeitos desastrosos. Ao menos ele tem senso de humor. Excluído com seis faltas, disse ter pensado o seguinte, no banco: “Por favor, vençam este jogo. Não quero todas as ligações, emails, Instagrams, tweets e memes”

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 E Steve Kerr aderiu mais uma vez ao hack-a-mão-de-pau. O premiado da vez foi Tristan Thompson, que sofreu duas faltas intencionais no quarto período, num ato de desespero do técnico do Warriors. O pivô canadense acertou dois de quatro. O time da casa pontuou em todos os lances seguintes e ainda ganhou tempo no relógio. Pragmatismo que deu certo, pontualmente.

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Ainda sobre o esforço de LeBron: nos últimos 30 anos, apenas Charles Barkley e James Worthy haviam somado um mínimo de 35 pontos, 15 rebotes e 10 assistências num jogo de playoff. Uma vez cada. LeBron chegou ao segundo só neste mata-mata. Então, ok, ele pode ter errado uma penca de arremessos. Mas a série e os desfalques do Cavs basicamente pedem que ele carregue uma tonelada de responsabilidades nas costas, mesmo.


Deu Warriors x Cavs. Notas sobre os desfecho das finais de conferência
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Giancarlo Giampietro

LBJ que se prepare: Warriors tem diversos defensores para tentar segurá-lo

LBJ que se prepare: Warriors tem diversos defensores para tentar segurá-lo

As finais de conferência já são história, definindo que o Golden State Warriors vai jogar sua primeira decisão da NBA após 40 anos e que LeBron James chega a sua quinta em cinco anos – um aproveitamento de 100% nesta década. Para o seu Cavs, vale como o retorno após a varrida sofrida em 2007 contra o Spurs.

Assunto é o que não falta. Seguem, então, algumas notinhas sobre os desdobramentos dos últimos dias e outras pílulas sobre o que vem por aí. Alguns desses tópicos provavelmente mereçam ser explorados com mais atenção até a próxima quinta-feira, quando começa o embate. Foi apenas a segunda vez em 29 anos em que as conferências consagraram seus campeões em um máximo de cinco jogos. Ambos terão uma semana de descanso, então, para regenerar James, preservar o joelho de Kyrie Irving e cuidar de uma eventual concussão de Klay Thompson.

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Os relatos de Oakland afirmam que não houve comemoração mais tímida como a do Warriors nesta quarta, no vestiário. Nada de champanhe, choro e exaltação. “Alguns jogadores tiraram selfies com o troféu da Conferência Oeste, e ficou nisso”, escreve o veterano jornalista Tim Kawakami, do San Jose Mercury News. “Já estão claramente concentrados nas próximas quatro vitórias.”

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Poxa, mas nenhuma tacinha?

Dá pra entender a sobriedade. melhor time o ano todo. Só o título vale como desfecho de uma das melhores campanhas da história. Com 79 vitórias e 19 derrotas até agora, são os favoritos. Em que pese o fator LBJ.

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Varejão e Leandrinho, mais de 10 anos na liga

Varejão e Leandrinho, mais de 10 anos na liga

Vamos ter um segundo brasileiro campeão, para se juntar a Tiago Splitter. E pelo segundo ano consecutivo. Se Leandrinho tem jogado muito bem como substituto eventual de Chef Curry ou Klay Thompson, com média de 11 minutos em 15 partidas, Anderson Varejão é praticamente um assistente do Cleveland, depois de ter sofrido uma ruptura de tendão de Aquiles em dezembro. Se a equipe desbancar o Warriors, porém, o pivô merece tão ou mais o anel de campeão do que qualquer um de seus companheiros. Afinal, é o cara que está no clube desde 2004, viu LeBron crescer e partir com os seus talentos para South Beach, sofreu com tantas derrotas nos últimos anos e se tornou um patrimônio da cidade. Quando seu corpo não lhe trai, não há quem entregue mais.suor em quadra.

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“Nós somos um time de arremesso e que não chutou bem hoje. Pelo menos fizemos uma ótima defesa.”

Foi uma das frases de Draymond Green nas entrevistas após a vitória final sobre o Rockets. Sem a eloquência costumeira, mas resumindo sua equipe. De novo: o Warriors não é especial só por causa do talento dos Splash Brothers. No Jogo 5, acertaram apenas 9 de 29 tentativas de longe, com Curry em desarranjo, mas acabaram com James Harden e souberam proteger a cesta depois de um primeiro quarto dominante e preocupante de Dwight Howard.

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Sobre Curry: o que houve? O MVP matou apenas 7 de 21 arremessos, sendo 3 em 11 de três pontos. Ainda perdeu 3 de 12 lance livres. Sem dúvida que foi um reflexo do tombo que levou em Houston. Ele sentia leve dor no lado direito de seu corpo. Decidiu até mesmo jogar com a proteção eternizada por Allen Iverson no braço. Mas a bola não caía com a frequência desejada. Tirou a braçadeira, e não deu em nada. Faço um paralelo com um carro de Fórmula 1, se me permitirem. A forma de arremesso do armador é tão especial, tão sofisticada que qualquer componente desalinhado pode fazer toda a diferença. Com uma semana de treinamento e respiro, tem tempo suficiente para restaurar a configuração original.

Agora é descansar o braço. Se a pequena Riley permitir

Agora é descansar o braço. Se a pequena Riley permitir

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É,  James Harden…  13 turnovers, recorde individual em um jogo de playoff. Só fez um pontinho a mais que isso. Se o Sr. Barba conseguiu evitar a varrida em Houston, acabou vivendo um pesadelo em Oakland. Fica a dúvida agora sobre qual desfecho seria menos indigno para a sua temporada.

Mas o Houston Rockets como um todo deve se despedir de cabeça erguida. Ser o segundo colocado numa conferência dessas não é pouco. Ainda mais com Howard perdendo exatamente a metade da campanha e Terrence Jones, Patrick Beverley e Donatas Motijeunas fora por muito tempo. E com Josh Smith, Corey Brewer e Pablo Prigioni chegando no meio do caminho.

Lembrem-se que o time texano caiu na primeira rodada dos playoffs do ano passado. Voltou, então, com uma defesa top 10, num progresso sensacional, mesmo sem Howard. O próximo desafio agora é procurar diversificar o ataque encontrar outros planos para além da correria e das investidas de Harden. O craque precisa da ajuda de outra força criativa no perímetro. Beverley, Brewer e Ariza são peças complementares excelentes, mas contribuem muito mais com defesa e energia. Não são caras que desafoguem a vida na hora de buscar a cesta.

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Para ficar no tema dos eliminados, o Hawks encerra a melhor campanha da franquia desde que se estabeleceu em Atlanta. Foi um ano maravilhoso, mas que terminou como um suplício. Começou com a fratura na perna de Thabo Sefolosha, causada pela polícia nova-iorquina. Depois foi a vez de DeMarre Carroll quase estourar o joelho. Al Horford foi expulso. Kyle Korver acabou de passar por uma cirurgia no tornozelo direito. Shelvin Mack sofreu uma ruptura no ombro e também vai ser operado. Afe. O futuro do time fica no ar agora, devido à entrada de Paul Millsap e Carroll no mercado, com a cotação elevadíssima. Danny Ferry, um dos dirigentes que melhor contratou nos últimos anos, segue afastado. E o clube tem novos proprietários. Seria um pecado que esse núcleo não tivesse mais uma chance.

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Steve Kerr, Cleveland Cavaliers, player, cardE este card? Ainda iniciando sua carreira na liga, depois de uma temporada com o Phoenix Suns, o chutador Steve Kerr jogou pelo Cavs de setembro de 1989 a dezembro de 1992, quando foi trocado para o Orlando Magic por uma escolha de segunda rodada do Draft de 1996, que resultaria em… Reggie Geary (quem?). Depois, acertaria com o Chicago Bulls. O resto da história vocês conhecem. Cinco títulos como atleta, comentarista brilhante, dirigente competente e agora um técnico de sucesso. Não apostem contra ele.

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Ao assumir o Golden State, um dos primeiros nomes contatados pelo treinador para compor sua comissão técnica foi… David Blatt. E pensar que o comandante do Cavs ficou muito perto de aceitar a proposta. Meio que já tinham um acordo informal, até que o Cavs (antes do Retorno) entrou na parada. Kerr nem tinha muito do que reclamar, pois havia feito a mesma coisa com Phil Jackson e o New York Knicks. Se o Mestre Zen tivesse feito a proposta dias antes, talvez tivesse assinado um contrato com o ex-pupilo. Pequenos desvios no rumo da história que nos colocam aqui, diante da final Warriors x Cavs. Agora Kerr e Blatt se enfrentam: é o primeiro par de treinadores (coff! coff!) novatos. Tecnicamente, é a segunda vez, mas isso porque houve uma primeira temporada, com dois treinadores que, dãr, estreavam em seus postos. Em 1947,  Eddie Gottlieb, do Philadelphia Warriors, levou a melhor sobre Harold Olsen, do Chicago Stags, por 4 a 1.


LeBron carrega Cavs em esforço que justifica (e relativiza) estatísticas
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Giancarlo Giampietro

A linha estatística de LeBron James deste domingo é qualquer coisa de anormal, mesmo: 37 pontos mais 18 rebotes maaaaais 13 assistências, em 47 minutos de jogo. E sabe o que mais também? Tentou 37 arremessos de quadra, convertendo 14 (37,8%). O que deveria levar todo mundo automaticamente ao seguinte questionamento: e se fosse o Kobe ou o Westbrook? Estaríamos falando de um ato heroico, que justifique a belíssima foto abaixo, ou seria simplesmente um espancamento público?

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Agora, antes que os defensores de Kobe, Wess e LeBron se inflamem, vamos apelar para aquela máxima do bom senso: que tal a gente relativizar os números, em vez de processá-los friamente, ignorando o que se passou ao redor do protagonista em quadra. De novo aquele conselho de jamais acessar a tabela de estatísticas e tão somente as estatísticas para dizer se um jogador “brilhou”, “deu show” ou “amarelou” e “afundou” o time.

Assim, de cara, dá para dizer que não é saudável que um atleta precise arremessar 37 vezes para levar seu clube ao triunfo, como aconteceu neste domingo, com o Cavs vencendo o Hawks por 114 a 111 para abrir 3 a 0 na série. Isso, aliás, é algo que contraria até mesmo a visão de jogo do craque, um cara que já foi acusado no início de sua carreira de passar até demais a bola em momentos decisivos. Quem se lembra disso? Foi lá em 2008.

Mas o que a gente vê hoje em quadra é justamente um Cleveland que lembra, em muitos aspectos, sua versão de seis, sete anos atrás, mesmo. Sem Kyrie Irving, sem Kevin Love, o que se tem é um conjunto que gira em torno completamente de seu grande astro. Pivôs competentes e combativos, mas que não criam por conta própria (tal como Zydrunas Ilgauskas e Anderson Varejão) e um bando de chutadores e operários no perímetro (com a diferença de que JR, Shumpert e mesmo Dellavedova superam as contribuições de Daniel Gibson, Damon Jones e dos Sasha Pavlovics da vida).

Uma cena que deixou isso mais evidente foi quando sentiu uma torção de tornozelo na reta final da partida e ficou mancando por umas duas ou três posses de bola. Pediu para ser substituído. Quando olhou bem para o banco, porém, pensou duas vezes e disse que ficaria em quadra. Não dava para chamar Mike Miller, Shawn Marion ou James Jones numa situação daquelas. “LeBron sabia que não venceríamos o jogo sem ele. Ele simplesmente não nos deixaria perder. Fantástico”, afirmou David Blatt. Pois é: está na cara que o Cavs só chegou a três vitórias nesta série devido aos talentos do ex-morador de South Beach.

Se LeBron tentou 37 arremessos, é porque foi preciso. Entre seus companheiros, só mesmo JR Smith tem capacidade de criar jogadas por conta própria na hora do aperto, e nem isso é lá muito recomendado. Sobrou uma carga enorme para o craque monitorar, num esforço muito desgastante. Da mesma forma que aconteceu com Russell Westbrook durante o campeonato e como já ocorreu com Kobe Bryant em meados da década passada, quando ele poderia alcançar 81 pontos numa partida. Uma coisa é esfomear com Kevin Durant, James Harden, Kevin Martin, Pau Gasol, Andrew Bynum ou Lamar Odom ao seu lado. Outra, com Andre Roberson, Anthony Morrow, Serge Ibaka, Smush Parker, Ronnie Price e Carlos Boozer. O ideal, antes de julgar, é deixar qualquer preconceito de lado e procurar se ater aos fatos.

“É preciso confiar nos seus companheiros”, vai pregar qualquer treinador. Claro que sim. E LeBron confia em Thompson, Mozgov, Dellavedova, JR e Shumpert. Nota-se isso a cada pedido de tempo ou mesmo a cada erro deles. Acontece que, na atual conjuntura da equipe, a relação entre a estrela e os coadjuvantes é de submissão, mesmo.

Blatt poderia fazer alguma coisa a respeito? O natural é cobrar, mesmo, algo a mais de um técnico desses, algo além do bumba-meu-boi-LeBron-contra-a-rapa, que o deixa todo estourado ao final da partida. Por outro lado, não dá para ignorar as dificuldades que os desfalques de Irving e Love representam. Você pega um elenco novíssimo no início da temporada, desenha, planeja o que precisa ser feito. Demora para entrosar, para que os atletas se entendam, ainda mais com grandes mudanças no elenco no meio do caminho. Quando chega o momento de decisão, duas peças vitais da equipe caem. Não vai ser em uma semana de treinos que tamanho ajuste sistêmico vai ser feito.

Para fechar, segue, então, um apanhado de dados sobre o que a atuação do astro representa para sua equipe neste jogo em específico e também a quantas anda seu contexto histórico estatístico na fase decisiva da NBA:

4.782 – É o seu total de pontos em jogos de playoff, ultrapassando o carteiro Karl Malone para ocupar a sexta posição na lista. Acima dele, estão: Michael Jordan (5.987), Kareem Abdul-Jabbar (5.762), Kobe Bryant (5.640), Shaquille O’Neal (5.250) e Tim Duncan (5.113). Boa companhia, né?

60% – LeBron foi responsável por 60% dos pontos do Cleveland neste domingo, somando 68 pontos entre as cestas que fez e as assistências que deu. Apenas no terceiro período, esteve envolvido com 29 dos 33 pontos do time – dois deles numa belíssima infiltração seguida por cravada sobre dois (vídeo abaixo). Mais sobre a carga que carregou: foram dele 37 dos 97 arremessos. Dos 60 arremessos do restante do elenco, 30 saíram em chutes de três pontos, numa tática clara de espaçamento da quadra para o astro, com o ataque inteiro girando ao seu redor. E o aproveitamento dessa rapaziada foi excelente, matando 13 em 30 (43,3%).

22 – LBJ foi o primeiro jogador em 22 anos a bater a marca de 35 pontos, 15 rebotes e 10 assistências num confronto de playoff, desde Charles Barkley em 1993, pelo Phoenix Suns. Antes disso, apenas James Worthy havia conseguido essa marca, em 1988, pelo Los Angeles Lakers. Agora, se for falar em um mínimo de 37 pontos, 18 rebotes e 13 assistências, isso nunca havia acontecido antes.

18 – Com 18 rebotes, o astro superou, sozinho, os dois pivôs titulares em seis. Timofey Mozgov somou 5, enquanto Tristan Thompson coletou 7.

12 – Podemos computar já uma dúzia de triple-doubles para o camisa 23 do Cavs em playoffs, ocupando o segundo lugar na lista histórica nesse quesito, atrás apenas de um tal de Magic, que soma… 30. Jason Kidd, porém, ficou para trás, com 11.

6 – Foi o sexto jogo da carreira de LeBron em mata-matas com 30 pontos, 10 rebotes e 10 assistências. O líder para jogos deste nível é o legendário Oscar Robertson, com oito. Wilt Chamberlain e Barkley bateram a marca duas vezes. Se for para se ater apenas a jogos com 30 pontos, o craque chegou ao 75º, superando Jerry West e empatando com Abdul-Jabbar na terceira posição, atrás de Jordan (109) e Kobe (88).

3 – Ainda aconteceram três recordes pessoais para James, contando inclusive partidas pela temporada regular: número de arremessos tentados (os famigerados 37), número de arremessos dentro do garrafão (25) e rebotes ofensivos (8, muitos deles decorrentes dos erros iniciais no primeiro quarto).