Vinte Um

Arquivo : Thunder

Quando o prêmio da NBA vem na hora certa. Ou não
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Duas vezes Chef Curry

Duas vezes Chef Curry

Stephen Curry foi aclamado nesta terça-feira como o MVP da NBA 2015-16 de modo unânime. Foi a primeira vez na história que isso aconteceu. Ao receber todos os 131 votos dos jornalistas americanos que participaram da eleição, o astro do Golden State Warriors sobrou mais que o dobro de pontos do segundo colocado, Kawhi Leonard. Michael Jordan, em 1995-96, não por coincidência o ano das 72 vitórias, foi quem mais chegou perto dos 100% de votos: 96,5%.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Curry também foi o MVP que mais aumentou seu índice de eficiência de uma temporada para a outra, subindo em 3,5 pontos, para alcançar a marca de 31,56 — para comparar, Kevin Durant foi o segundo nesse quesito, com 28,25. Até este ano, o legendário Larry Bird foi quem havia mais crescido, entre 1984 e 85, no auge, quando ganhou 2,3 pontos de eficiência. Quer dizer: não teve título ou fama que fizesse o astro do Warriors se acomodar. Não é tudo o que se espera de um jogador profissional e tal? Nem cabe polêmica aqui, gente. Deixemos de chatice, por mais que aquela célebre frase de Nelson Rodrigues seja engraçada e instigadora.

Dito isso, então não houve melhor data para que Steph tivesse seu prêmio confirmado pela liga americana, já que isso aconteceu apenas algumas horas depois de mais uma exibição incrível do armador. Voltando de uma contusão no joelho e de um baita susto, ele retornou em Portland para livrar o Golden State de um aperto desnecessário antes da final do Oeste. Depois de levar uma bronca de Steve Kerr pelo empenho abaixo do nível pelo Jogo 3, o time surpreendentemente não deu a resposta de imediato na partida seguinte, tomando uma surra do Trail Blazers nos primeiros minutos. E aí que o técnico se viu obrigado a lançar seu principal atleta um pouco mais cedo do que esperava.

Inicialmente, o plano era que Curry ficasse em quadra aproximadamente por 25 minutos. Mas aí aconteceram o péssimo início de partida e, pior, a exclusão de Shaun Livingston (quem diria?!) ao final do primeiro tempo, se o Warriors quisesse fazer frente aos anfitriões e retornar a Oakland em condição confortável, não teria como limitar os minutos d’O Cara assim. Jogou por 37 minutos e, vocês sabem, anotou 40 pontos, 17 dos quais na prorrogação. Foi um soco no estômago dos jovens valentes do Blazers e mais uma atuação mágica do armador nesta temporada. Mais uma na lista encabeçada por aquela exibição inacreditável em OKC.

Acontece que, por alguns minutos, a cerimônia de entrega do prêmio poderia ter ficado um pouco estranha. Não que uma derrota em Portland fosse desmerecer o conjunto da obra. Claro que não. Mas é que o armador estava encontrando dificuldade em seu retorno às quadras, em busca de ritmo de jogo. Ele chegou a errar nove arremessos de três pontos consecutivos, algo impensável neste ano em condições normais, mas muito natural para quem havia parado por tanto tempo. Então imagine se ele não tivesse reencontrado o rumo? Imagine se não houvesse aquela prorrogação incrível? Enfim. Curry ainda seria o MVP unânime, merecidamente. Mas seria chato, ainda assim.

Muito pior, sem dúvida, foi a experiência que Dirk Nowitzki viveu em 2007, quando seu Dallas Mavericks fez a melhor campanha da temporada regular, liderado pelo craque alemão em seu auge técnico-atlético, atingindo invejável marca de 67 vitórias. Só para, durante os playoffs, se tornar um dos casos raros de cabeça-de-chave número um a cair logo na primeira rodada, eliminado pelo Golden State Warriors por 4 a 2. O Mavs foi derrotado por um elenco de atletas explosivos (em todos os sentidos) como Baron Davis, Monta Ellis, Stephen Jackson, Jason Richardson, liderados pelas traquinagens de Don Nelson, seu antigo mentor.

Quando a NBA programou a entrega do troféu para Dirk, o time texano já havia sido eliminado, e a repercussão da época foi humilhante. Lembremos que isso foi quatro anos antes de chegarem ao título. Até 2011, a verdade é que o ala-pivô era visto por muitos como um tremendo de um amarelão (argh!!!), leão de temporada regular que morria sempre na praia. Acho que LeBron James e Dwyane Wade não concordariam com essa versão hoje. De qualquer forma, esta lenda viva do basquete estava simplesmente desmoralizada na hora de dar a coletiva. Foi um episódio deprimente.

*   *   *

O prêmio de MVP é aquele que recebe mais atenção em uma temporada. Muito mais que o de Executivo do Ano, que R.C. Buford recebeu este ano, claro. O gerente geral do San Antonio Spurs, que trabalha em parceria com Gregg Popovich (o presidente do clube) ganhou seu troféu na segunda-feira, um dia antes de Curry e um dia depois da derrota de sua equipe para o Oklahoma City Thunder pelo Jogo 4 das semifinais. A série estava empatada naquele momento. Hoje, depois de mais um jogo muito equilibrado e nervoso, Russell Westbrook e Kevin Durant conseguiram a virada e voltam para casa com a chance de fechar o confronto nesta quinta.

A ameaça da derrota perante OKC não tira o brilho das operações que Buford conseguiu realizar em julho do ano passado, arrumando espaço em sua folha salarial para contratar LaMarcus Aldridge, o principal agente livre no mercado. Ao fechar o negócio, Buford não só deu a Tim Duncan a chance de reeditar essa história de Torres Gêmeas em San Antonio, fazendo do time um candidato ainda mais forte ao título, como também já garantiu ao clube a composição de um núcleo para o futuro, emparelhando o pivô e Kawhi Leonard. A visão de futuro, aliás, é algo que diferencia a celebração do Executivo do Ano das demais votações, que avaliam estritamente a relevância mais urgente dos fatos.

Na temporada regular, em termos imediatistas, o novo San Antonio já foi um sucesso, conseguindo 67 vitórias. Dá para dizer que só não atingiram a marca de 70 triunfos porque, na cabeça de Gregg Popovich, há coisas mais importantes que um números simbólico. Em termos de estatísticas, valoriza-se mais o fato de terem combinado a melhor defesa com o terceiro melhor ataque. Em casa, a equipe sofreu apenas uma derrota em 41 partidas. Tudo redondinho, e não seria o combalido Esquadrão Suicida do Memphis Grizzlies que os incomodaria na primeira rodada dos playoffs. Até que chegou a hora de mais um duelo com o Okalhoma City Thunder…

Negócio surte efeito de curto a longo prazo

Negócio surte efeito de curto a longo prazo

Não tem o que apagar aqui: admito que não imaginava chegar ao dia 11 de maio com o Spurs a uma derrota da eliminação. Um time foi uma máquina e fez uma campanha memorável. O outro tinha dois dos melhores atletas da liga, mas foi bastante inconsistente na temporada, especialmente na hora de proteger sua cesta. Com atletas de alto nível como Serge Ibaka, Steven Adams, Andre Roberson, Kevin Durant, Russell Westbrook e Dion Waiters, Billy Donovan não conseguiu forjar mais do que o 12o. sistema defensivo mais eficiente da liga. O mesmo sistema que deu ao Dallas algumas chances pela primeira rodada.

Acontece que o Thunder apertou os ponteiros. Pensando assim, a vitória arrasadora do Spurs pode ter sido um divisor para este elenco. Basta recuperar as declarações de Durant e Westbrook para ver o impacto. Foi vergonhoso, ainda mais pensando em todo o histórico recente compartilhado por estes núcleos. Excluindo este primeiro resultado, temos um saldo geral de 15 pontos para o Thunder. Está muito parelho, e que OKC tenha vencido três dessas quatro partidas é algo inesperado, mas que nos diz muito sobre a virada de uma equipe, já que, pela primeira fase, esses caras se notabilizaram pela derrocada nos minutos finais. É verdade que a arbitragem cometeu erros absurdos na segunda partida e também nesta terça-feira, ao deixar dr marcar falta de Kawhi Leonard em Russell Westbrook na última posse do adversário. Mas San Antonio teve chances em ambos os casos para triunfar antes e depois dos deslizes e não as aproveitou.

Dos Jogos 2 ao 5, tivemos partidas com dinâmica bastante parecida. O Spurs abrindo alguma vantagem mas primeiras parciais, e o Thunder zerando consistentemente esse prejuízo, e não só por ter dois cestinhas que aterrorizam qualquer marcador. Até o momento, o elenco de apoio a Durant e Wess tem sido determinante. Steven Adams e Enes Kanter têm trucidado seus oponentes na disputa por rebotes. Dion Waiters também está acabando com Manu Ginóbili, a despeito da barbaridade que cometeu no Jogo 2. Randy Foye também pode incomodar quando aberto na zona morta e compete muito mais que Anthony Morrow.

A novidade aqui é o ganho coletivo de OKC. Demorou, precisou que levassem uma sova, mas o time se encaixou. Quando a química funciona, jogadores tendem a se soltar e crescer. Do lado de San Antonio, porém, Buford e Popovich não podem se declarar inteiramente surpreendidos. À parte de LaMarcus, a dupla formou um elenco bastante velho, e o risco de que pudessem penar física e atleticamente, contra o Thunder — ou Warriors, Clippers, Rockets etc. Até o caçula de San Antonio, o ala Kyle Anderson, de apenas 22 anos, fica devendo, por ironia.

Não está fácil a vida de West contra OKC

Não está fácil a vida de West contra OKC

Para diminuir essa possibilidade, Pop administrou mais uma vez muito bem seus minutos. Beirando os 40 anos, Duncan ficou fora de 21 jogos e não poderia passar dos 25 minutos em média, mesmo. LaMarcus tromba mais, mas ficou em 30,6 minutos. Diaw e West receberam 18 minutos. Tony Parker, 27. Danny Green, 26. Eles chegaram descansados, gente. Mas nem isso foi o bastante para que possam equilibrar a disputa com o Thunder. Uma hora a idade poderia pesar, e infelizmente, para Duncan e West, isso parece ter acontecido na pior hora. O resultado: o time tem simplesmente uma enorme defasagem em termos de capacidade atlética, e isso tem interferido diretamente na técnica também. Por vezes parece que Kawhi está lutando sozinho em quadra — que ele, ainda assim, consiga incomodar os caras, só mostra o quanto é excepcional.

Peguem o Jogo 5 novamente. Juntos, Duncan, Diaw e West somaram míseros nove pontos e sete rebotes. Três jogadores para isso. Steven Adams saiu de quadra com 12 pontos e 11 rebotes. Enes Kanter teve 8 pontos e 13 rebotes. Westbrook pegou mais rebotes que Duncan, West e Kawhi juntos, ou mais que LaMarcus e West. Em 19 minutos, Ginóbili só tentou quatro arremessos e anotou três pontos. Waiters anotou o triplo. Por aí vai, saca? Num estalo, tudo o que San Antonio construiu na temporada vai ruindo.  O torcedor e os treinadores da fantástica franquia texana sabem que seu time não vai rejuvenescer em dois dias. Podem sempre jogar mais animados, concentrados, preparados. Mas está complicado.

Se o que vimos até aqui é tudo o que seus veteranos podem oferecer, mesmo, talvez seja a hora de Popovich tentar uma cartada mais ousada nesta quinta-feira. Mesmo que não tenha tantas opções assim. Daí que não dava para entender bem a contratação de Andre Miller durante o campeonato. O que um armador de 39 anos poderia acrescentar a este time de diferente? Kevin Martin ao menos representava uma apólice de seguro para Ginóbili. Miller não teria condições de fazer nada se Tony Parker se lesionasse. Seria improvável que um jogador de D-League pudesse fazer a diferença neste nível. Mas tivemos vários casos recentes de atletas que conseguiram ajudar os times que os valorizaram, nem que tenha sido de modo pontual. Troy Daniels, ex-Rockets, hoje do Hornets, foi um. Tyler Johnson, do Heat, é outro. Mesmo James Michael McAdoo, pelo Golden State, oferece algo de diferente a Steve Kerr.

Quem sabe Boban Marjanovic? Por mais que o gigante tenha ficado mais famoso em seu primeiro ano de NBA como figura cult, ou até uma mascote, não dá para esquecer que ele que ele foi muito produtivo nos poucos minutos que recebeu. Também é um calouro só por nomenclatura. Obviamente que não seria o caso de por o sérvio de titular e para jogar por 40 minutos. Mas vindo do banco no lugar de um dos veteranos?  Por que não? Com 2,22m de altura, pesado, ficará vulnerável em situações de pick-and-roll, e não é que os pivôs utilizados possam impedir infiltrações de Westbrook e Durant, mesmo. Mas Boban pode ao menos bloquear Enes Kanter nos rebotes. Em caso de problema de faltas para Danny Green, talvez valha tentar Jonathon Simmons na vaga de Anderson?  Você abre mão de chute de média distância e passe, mas ganha muito em vigor e explosão.

Seriam as alterações possíveis em relação ao que Pop vem tentando. O fato de todos os últimos quatro jogos terem sido equilibrados talvez pese na cabeça do técnico. De não é momento para chacoalhar a rotação, nem necessário. Pode muito bem ser isso, mesmo. Decisão difícil.

Pelo fato de ter assegurado contrato de LaMarcus para os próximos três anos, perder agora não seria um desastre para o Spurs. Porém, com a possível aposentadoria de Duncan e Ginóbili, o envelhecimento também de Parker e a campanha que fizeram até aqui seria uma dura derrota, maior que qualquer prêmio individual.

***Receba notícias de basquete pelo Whatsapp***
Quer receber notícias de basquete no seu celular sem pagar nada? 1) adicione este número à agenda do seu telefone: +55 11 99006-9654 (não esqueça do “+55”); 2) envie uma mensagem para este número por WhatsApp, escrevendo só: oscar87


Na série OKC-Spurs, não é só Durant que tenta adiar despedidas
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Tem mais jogo para Durant em OKC

Tem mais jogo para Durant em OKC

Se Kevin Durant vai continuar jogador do Oklahoma City Thunder na próxima temporada, não sabemos. Neste domingo, de todo modo, o ala fez de tudo para que o Jogo 4 contra o San Antonio Spurs não fosse o último pela equipe na condição de anfitrião ao marcar 29 pontos no segundo tempo e liderar uma vitória dramática por 111 a 97 (que marcava 101 a 97 com 2min39s para o final).

Parece redundância falar em dramaticidade, né? É assim que acontece nos #NBAPlayoffs anualmente. Mas o mais recente embate entre Thunder e Spurs teve muito mais tensão do que o normal, por tudo o que estava na mesa, a começar justamente pela narrativa em torno de uma possível saída de Durant, algo que acompanhou o time durante toda a temporada, mesmo que de modo mais tênue do que se esperava. Foi um jogo absolutamente estranho, muito por conta de toda a enorme pressão no ar. Com o Spurs à frente no placar por 53 a 45, no intervalo. Resultava que os últimos 24 minutos eram, provavelmente, os mais importantes da dupla Wess-KD.

O cestinha de OKC reagiu da melhor forma para adiar essa discussão mais um pouco, tomando rédeas da partida, depois de um primeiro tempo pouco chamativo, no qual anotou 12 pontos em 12 arremessos, com 25% de aproveitamento. No quarto período, ele esteve no auge da forma, sem se importar que Kawhi Leonard, melhor defensor das últimas temporadas, estivesse em sua perseguição. Veja o que ele aprontou:

Foi incrível. Durant estava no piloto automático, anotando 15 pontos em cinco arremessos, sendo que quatro deles foram efetuados diante de Leonard. Não houve o que o jovem All-Star de San Antonio pudesse fazer, contestando um ala de 2,11m de altura, com arremesso muito elevado. Ninguém dá conta disso, na verdade. Teria de ser um esforço coletivo, algo que os texanos não conseguiram orquestrar em tempo real.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

“Esta é razão de nossa derrota. Nossa defesa não estava tão boa como nos últimos jogos. Definitivamente, quando uma equipe passa dos 100 pontos, ficará difícil para nós venceremos. Esta tem sido nossa principal ênfase e deve ser a mesma para a próxima partida”, afirmou Boris Diaw, que jamais pode ser considerado como um grande marcador, mas cuja visão de jogo é inquestionável.

Os problemas de San Antonio, no entanto, não se limitam à defesa, a princípios defensivos. Num plano geral, o que vimos nos últimos três jogos foi um time de veteranos tendo muita dificuldade para lidar com um oponente que tem muito mais vitalidade e capacidade atlética, que representou um grande desafio nos últimos anos (quando estavam com força máxima). Se Kawhi e LaMarcus Aldridge estão se virando bem, muitos do elenco do apoio têm produzido muito pouco, e não por se descobrirem incapazes de uma ora para a outra, mas basicamente por estarem oprimidos fisicamente pelos adversários, mesmo.  “Eles foram muito mais durões que nós”, disse Gregg Popovich.

A boa notícia para o Spurs nesse sentido? O Jogo 5 será em casa, ginásio no qual perderam apenas duas vezes neste momento, uma para Golden State e o próprio Jogo 2 contra Thunder. A má? É que a partida já será disputada nesta terça-feira. Não tem muito tempo para descansar, não, e já pudemos ver muita gente parecendo pregada em quadra. OKC exige muito deles e, no último quarto, pareceu estar em quinta, enquanto os visitantes não passavam da terceira marcha:

Como você vai solucionar isso? À parte de Kawhi Leonard, qual seria o jogador que Popovich poderia lançar à quadra para competir com aberrações como Westbrook, Adams e Ibaka? Jonathon Simmons? Obviamente o calouro surpreendente e garimpado pelo Spurs não pode ser considerado como resposta num momento tão crítico assim da temporada. O Spurs pode jogar mais duro, mais compenetrado, mas não tem tantas reservas assim como o Golden State Warriors, criticado pelo seu treinador, Steve Kerr, pelo mesmo motivo, após derrota para o Portland Trail Blazers pelo Jogo 3.

E não é que San Antonio tenha perdido só pela falta de virilidade, gente. Em dois dias, Pop também tem de confabular com sua excelente comissão técnica e tentar entender o que fazer para o time também atacar melhor. Não sei o quanto isso é intencional — os treinadores e jogadores jamais vão abrir o jogo –, ou ou se tem a ver com queda de produção dos jogadores ao redor da dupla, mas é preciso refletir sobre os resultados da dieta de ataque em isolamento com Kawhi ou LaMarcus.

Para ficar claro: os dois All-Stars estão dando conta do recado. Veja o aproveitamento de quadra combinado de ambos durante os playoffs, até este domingo:

Brincando aqui, podemos dizer que basta colocar Danny Green neste quadrante à direita, só para chutar de fora, e que estaria tudo bem, certo? Popovich adoraria que sim, mas no basquete, ainda mais em uma série de playoff deste nível, nada é tão simples assim. Do contrário, já teriam varrido seu rival, em vez de claudicar desta forma. E aí fica a pergunta sobre onde estaria a movimentação de bola tão característica dos últimos anos?

(O jornalista do Yahoo! Sports brinca bem com a inversão de papéis deste Jogo 4: “O ataque de isolamento do Spurs não pode competir com a pontuação mais balanceada do Thunder”, escreveu.)

Quer um número impressionante para atestar essa piada e essa impressão geral? Bem, sozinho, Russell Westbrook deu mais assistências que toda a equipe adversária: 15 x 12. As 12 assistências para 40 cestas de quadra (30% de cestas assistidas, então), também representam a pior marca do Spurs desde 1987. Para comparar, a proporção de assistências para cestas dos três jogos anteriores foi de 39 para 51 (Jogo 1, 76,4%), 19 para 40 (Jogo 2, 47,5%), 19 para 33 (Jogo 3, 57,5%). Repetir o que aconteceu no primeiro confronto seria muito difícil, claro. Aquilo é o ápice que uma equipe atingir em termos de movimentação. As 19 assistências das duas partidas anteriores, porém, não são nada de outro mundo para um conjunto deste nível.

A gente se acostumou a ver o Spurs a vencer compartilhando a bola. Daí a enorme estranheza por seu desempenho. Além da abordagem em cima de dois apenas atletas, chama a atenção que ambos tenham sido acionados diversas vezes em isolamento para cima de um time gigante e atlético. Nem mesmo um pick-and-roll básico entre Kawhi e LaMarcus era utilizado, para tentar explorar a péssima defesa de Enes Kanter em movimentação lateral distante da cesta. Pelo contrário. Era LaMarcus recebendo a bola nas imediações do garrafão, de costas para a cesta, marretando Ibaka ou Kanter, ou Kawhi ciscando com a bola a partir da linha de três, com a quadra relativamente espaçada. Pode funcionar para cada um. Além do mais, o time só foi converter no domingo suas primeiras bolas de longa distância nas últimas duas posses de bola do primeiro tempo. Isso lhes rende muitos números, mas a equipe aos poucos vai minguando.

Matt Moore, da CBS-Sports.com, o jornalista mais hiperativo do Twitter basqueteiro, andou fuçando no software Synery e na vasta planilha de estatísticas do NBA.com e constatou mais alguns dados interessantes: o Spurs está produzindo a segunda menor quantidade de arremessos de três pontos livres pelas semifinais de conferência. Com os pés plantados, abertos na linha de três, seus jogadores estão acertando apenas 35%. Depois de estourar o cronômetro ofensivo apenas uma vez em casa pelos Jogos 1 e 2, isso aconteceu quatro vezes em OKC. Que tal? São três ocorrências que nos mostram que o time está sendo marcado com mais precisão (ou facilidade).

LaMarcus Aldridge acertou em San Antonio 33 de 44 arremessos de quadra, um aproveitamento ridículo de bom (75%). Fora de casa, porém, o número caiu para 16-39 (41%). Pelo Jogo 4, ele converteu 8-18 (44,4%) para 20 pontos, contando com apenas cinco lances livres batidos e seis rebotes. O pivô nunca foi uma maravilha atlética, mas pareceu mais cansado do que o normal. Reflexo da carga excessiva? Ele bate no post up, mas também apanha. Até mesmo uma mistura de Terminator com Matrix como Leonard tem seus limites, fazendo seu pior jogo até o momento, com 21 pontos em 19 arremessos (só 36,8% de acerto) e quatro turnovers, em 40 minutos. O cara ficou em quadra por todo o quarto período, tendo de fazer praticamente de tudo para o Spurs: atacar o rebote ofensivo e as linhas de passe em transição defensiva, criar por conta própria de um lado e perseguir Durant do outro. Haja.

E aqui é a hora de virar o jogo também e apontar o que OKC tem feito de bom. Bastante criticado nos Estados Unidos, Billy Donovan fez um trabalho excepcional no segundo tempo, contando com uma ajudinha se Russell Westbrook, que não sequestrou o ataque do time, mas não deixou de agredir, como havia acontecido pelos primeiros 24 minutos, com uma postura muito passiva. Conforme dito aqui, Wess não pode se descontrolar em quadra, mas também não deve jogar muito controlado — deu 15 assistências, mas errou 13 de seus 18 arremessos, totalmente fora de ritmo, num reflexo claro da autocrítica que fez após o Jogo 3.

No momento em que Durant esquentou a mão, seu parceiro All-Star e demais companheiros não deixaram de acioná-lo. Assim como Kawhi, o ala só descansou no quarto período quando um dos técnicos chamou um tempo e nos últimos 43 segundos, quando foi substituído pelo calouro Cameron Payne. Antou 13 pontos na parcial e ainda deu duas assistências para dois chutes de longa distância, para Randy Foye e Dion Waiters.

Waiters? Sim, aquele doidinho, que talvez tenha feito a melhor partida de sua instável carreira, com 17 pontos, 3 assistências, 3 rebotes e 7-11 nos arremessos, matando suas duas tentativas de fora em 29 minutos. O ala dessa vez ficou em quadra para os minutos finais no lugar de Andre Roberson. Antes tarde do que nunca. Por mais voluntarioso que seja, dedicado à defesa e bom reboteiro, Roberson provoca um tremendo congestionamento no ataque de OKC (em 20 minutos, errou e tentou apenas dois arremessos). De novo: neste nível de jogo, não dá para jogar com um atleta tão limitado assim por muito tempo. Com um companheiro de perímetro, que não tem Russell como primeiro nome, produzindo e matando seus tiros de longa distância, não havia como San Antonio exagerar em dobras para cima de Durant.

(Um parêntese sobre Waiters: seu talento é inquestionável. Desde Syracuse, a gente sabe que ele pode fazer um pouco de tudo em quadra, sendo as infiltrações seu carro-chefe, além do vigor físico. A primeira questão, porém, era juntar os pontos, saber quando fazer o quê. A segunda é ter consistência. Nenhuma delas foi solucionada até agora, o que não lhe dá o direito de agir com tanta marra assim como fez neste domingo. Ele já foi comparado pelos Scouts a Dwyane Wade, quando universitário, mas ainda não fez nada em sua carreira para se comportar assim. Aos 24 anos, está na hora de amadurecer. OKC já perdeu James Harden, Kevin Martin e Reggie Jackson em sua rotação e precisa de um terceiro pontuador, criador para ajudar as estrelas.)

Outro fator que ajudou a liberar o cestinha foi a participação ativa de Steven Adams no primeiro quarto. Sua função primária no ataque é fazer corta-luzes para a dupla Wess-KD. Desta vez, porém, ele começou a sair um pouco antes do contato com o defensor para ‘mergulhar’ no garrafão. Muito mais atlético que os oponentes, enfrentando um Tim Duncan que parece nas últimas, anotou 12 pontos e recebeu três faltas no ato de arremesso no primeiro tempo. Mesmo que não seja nenhum Hakeem Olajuwon, virou mais uma arma a ser vigiada, forçando com que os defensores invertessem a marcação, em vez de ficarem os dois com Durant. Adams  terminando com double-double de 16 pontos e 11 rebotes e uma defesa sempre atenta contra os velhacos do outro lado. Já Durant pôde atacar os grandalhões do Spurs a partir do drible. OKC ganhou as duas batalhas nessa.

Por falar em velhaco, o grande erro de Donovan foi ter colocado Nick Collison em quadra no primeiro quarto. Essa não dá para entender. O pivô é inteligente, claro, sabe se posicionar muito bem na defesa e dificilmente vai cometer alguma bobagem na quadra. Fora isso, não vai produzir mais nada na carreira em jogos relevantes. O veterano não tardou a ser substituído e terminou com saldo negativo de seis pontos em quatro minutos, a pior marca do time. Malandro por malandro, os do Spurs são, hoje, muito melhores. Se for para jogar com um par de pivôs, precisa manter sempre dois entre Ibaka, Adams e Kanter.

O pivô turco foi uma grata surpresa na jornada, aliás. A NBA inteira mal pôde acreditar em sua defesa no mano a mano no quarto período. Contra LaMarcus até! Algo que Ibaka não estava conseguindo tanto. Mais descansado e jovem, aguentou o tranco e mostrou que não é tão incapaz assim na arte de marcar o adversário. Seu problema maior é o posicionamento fora da bola, bastante avoado, e na contenção de baixinhos atacando no pick-and-roll (basicamente atividades que o forcem a pensar e tomar decisões rapidamente em quadra). Donovan apostou no pivô durante o ano todo e colheu os frutos na melhor hora possível. Agora precisa ver se Waiters e Kanter vão conseguir repetir a dose em San Antonio. Confiança não vai faltar.

O fim?

O fim?

A matemática histórica da liga ainda aponta San Antonio como favorito. Em uma série melhor-de-sete empatada em 2 a 2, o time com o mando de quadra passou em 79% das vezes. Mas cada série é uma série, e Gregg Popovich tem algumas dúvidas para tirar, também com alguns pontos bastante sentimentais pesando. Como bem nos alerta o colunista Buck Harvey, do Express News, o é só Kevin Durant que pode estar se despedindo de sua cidade neste confronto. Duncan e Ginóbili, arrisco dizer, estão muito perto da aposentadoria.

Um ano atrás, quando questionado sobre seu legendário pivô, um dos dez maiores de todos os tempos, Pop disse que confiava na renovação de seu contrato, já que, olhando para o jogo, não havia motivos para ele parar, mesmo. Por mais que os texanos tenham perdido muito cedo nos playoffs, naquela série inesquecível contra o Clippers, Duncan havia somado 17,9 pontos, 11,1 rebotes, 3,1 assistências e 2,3 tocos em 35,7 minutos, contra Blake Griffin e DeAndre Jordan, em sete partidas. O técnico disse acreditar que, enquanto seu velho companheiro estivesse se sentindo bem em quadra, não se aposentaria. Neste ano, em oito rodadas, tem 4,4 pontos, 5,0 rebotes, 1,6 assistência e 1,3 toco em 19,5 minutos, acertando apenas 43,8% de suas tentativas de cesta, menor marca da carreira…

Ginóbili tem sido mais produtivo, com 7,4 pontos, 3,0 rebotes e 2,6 assistências em 18,8 minutos, matando 43,8% dos chutes de três nos playoffs. Está mais ou menos de acordo com o que fez no ano passado. Mas vem tendo muita dificuldade quando pressionado por Waiters, sem conseguir escapar da marcação sem a ajuda de um corta-luz, algo impensável para um dos atletas mais elásticos, criativos e determinados que o basquete já viu. Quando o argentino anunciou que disputaria os Jogos do #Rio2016, pareceu a situação perfeita para dar seu adiós.

“Popovich tem um time com talento e veteranos, mas enfrenta uma crise do mesmo modo que o Thunder sente. Em uma semana, afinal, ele pode perder mais que uma série. Pode perder a companhia de trabalho de dois bons amigos”, escreveu Harvey.

Imagine o nível de tensão para o Jogo 5 nesta terça-feira…

***Receba notícias de basquete pelo Whatsapp***
Quer receber notícias de basquete no seu celular sem pagar nada? 1) adicione este número à agenda do seu telefone: +55 11 99006-9654 (não esqueça do “+55”); 2) envie uma mensagem para este número por WhatsApp, escrevendo só: oscar87


Quando o ‘velho’ Westbrook não consegue domar a fera
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

westbrook-contested-spurs-aldridge

Não se trata de uma versão de Jekyll & Hyde. Talvez esteja mais para Bruce Banner, em seus dias mais melancólicos, tentando se afastar de grandes centros urbanos, com o medo de que o Hulk apareça para esmagar tudo. Deve ser assim mais ou menos assim que funciona para Russell Westbrook, tentando domar seu lado mais agressivo em quadra para o bem de seu time. Não que suas explosões em quadra tenham de ser evitadas a qualquer custo. A questão é ter um controle sobre elas, sobre quando e como fazer. Em mais um jogo tenso entre OKC e San Antonio na noite desta sexta-feira, Wess perdeu ambas as batalhas: a interna, que levou ao revés na externa, permitindo que o Spurs recuperasse o mando de quadra e reassumisse a liderança na série pelas semifinais do Oeste.

Westbrook terminou a partida com 31 pontos, oito assistências e nove rebotes. Números fenomenais. Mas que não compensam a parte negativa de sua linha estatística, com 21 de seus 31 arremessos desperdiçados, além de cinco turnovers, três dos quais acontecendo no quarto período. Os últimos dois foram os mais custosos, aos 3min25s e aos 1min55s, a partir dos quais os visitantes texanos conseguiram cinco pontos diretos para reassumir o controle do placar e, aí, não perder mais, triunfando por quatro pontos de diferença, ou 100 a 96.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Os 21 chutes que Westbrook desperdiçou são três a mais do que Kevin Durant tentou durante toda a partida. KD terminou com 26 pontos em 18 arremessos (1,44 na média). Do outro lado, Kawhi Leonard chegou aos mesmos 31 pontos em 17 arremessos (1,82). Então estamos de volta, né? Aos maus e velhos tempos em que o armador era constantemente achincalhado, muitas vezes com razão, por segurar demais a bola, arriscar chutes tresloucados e ignorar um dos cestinhas mais talentosos que a NBA já viu logo ao seu lado.

Essas críticas andavam abafadas. Primeiro porque Durant mal jogou na temporada passada, e aí sobrou para esse furacão carregar o que restou de time por conta própria. Nesta temporada, porém, reencontrando o cestinha, vimos o melhor de Wess como distribuidor. Ele finalizou sua campanha com recordes pessoais em assistências para todos os gostos: total (834), média (10,4), média por minuto (10,9 por 36) e também em cestas assistidas de seus companheiros (49,6%). Se você clicar nestes links todos, vai reparar também numa tendência: como, desde a campanha 2011-12, na qual foram bicampeões, seus números foram progredindo constantemente. Dos seus 23 aos atuais 27 anos, num amadurecimento mais que natural, mas que os mais tinhosos relutavam em aceitar, sendo tão teimosos como o jogador pode ser em quadra.

Essa atenção maior aos passes e aos parceiros, porém, não o deixou menos agressivo. Ele ainda arriscou 18,1 arremessos por partida e bateu 7,2 lances livres, ainda acima das médias pessoais na carreira. Por minuto — excluindo, claro, a temporada passada de exceção –, seu volume de jogo não destoa muito do que vinha fazendo antes, atacando de maneira incessante. Porque tem isto: você não vai pegar um jogador de capacidade única e tentar transformá-lo em José Calderón. Simplesmente não dá, seja por características técnicas (nunca vai ser um chutador daquele nível), psicológicas (calmaria você não vai ver por aqui) ou dinâmicas, atléticas (seria como comparar um leopardo a um leão marinho solto em terra). O sucesso do Thunder passa por seu jogo nuclear.

Westbrook não deve deixar de atacar nunca, mesmo passando como nunca na carreira

Westbrook não deve deixar de atacar nunca, mesmo passando como nunca na carreira

A questão era encontrar um equilíbrio. Ou melhor:  diminuir o desequilíbrio, entre pensar o sistema ofensivo só como produto para seus arranques inigualáveis e infiltrações devastadoras e passar a olhar com mais cuidado o que está acontecendo ao seu redor. Isso vinha acontecendo, conforme registrado nos números acima, e atingiu o balanço ideal agora, com a menor taxa de uso (posses de bola que terminam com ações individuais dele) desde 2011. Além disso, percebe-se também uma alteração sutil, mas importantíssima em sua seleção de arremessos. Westbrook nunca enterrou tanto em sua vida. Foram 69 cravadas na temporada, contra 59 de seu ano de novato, quando tinha 20 aninhos apenas. Isso significa, sim, que ele disparou em direção ao garrafão muito mais do que nos últimos anos: 37,7% de seus arremessos saíram na região do semicírculo, contra 33,1% de 2013-14, por exemplo. Esse tipo de troca foi consistente, tirando sempre dos tiros de média distância mais indesejáveis (os de dois pontos mais longos, que caíram de 17,1% há dois anos para apenas 10,6%). O que caiu também foi o volume de três pontos, de 27,1% para 23,6%.

Agora, para alguém que chuta tão mal de longa distância, o All-Star ainda tem insistido demais. São 4,3 por jogo, com acerto pífio de 29,6% neste ano. Em sua carreira, ele acertou apenas 30,2% de suas 1.675 tentativas. De acordo com dados do Basketball Reference, apenas Charles Barkley e Ron Harper têm um rendimento pior entre atletas com pelo menos 1.500 disparos, respectivamente com 26,6% e 28,9%. Argh. Eaí chegamos aos dez tiros de três que ele tentou nesta sexta-feira, inexplicáveis ou indesculpáveis, independentemente do contexto.

Quer dizer, o contexto específico do duelo com o Spurs não pode ser ignorado. Justamente por ser algo que Gregg Popovich queira induzir — assim como vários inimigos do Hulk fazem nos quadrinhos e nas telonas, para desestabilizá-lo, mesmo que ativar o monstrão verde seja um perigo danado. A famosa armadilha que seu time já preparou diversas vezes, desde a época em que era forçado a lidar quase que anualmente com um Kobe Bryant no auge atlético. O mesmo foi repetido contra LeBron James em duas finais consecutivas. Contra um OKC que tem dois cestinhas explosivos, a julgar pelo que vimos na sexta, a prioridade de San Antonio é que Kevin Durant não seja o definidor. Por isso, vão atirar dobras para cima dele sempre que possível, tentando desestimulá-lo. Westbrook tem ficado mais no mano a mano, por isso. Se, de 31 tentativas de arremessos de Westbrook, dez virão de longa distância, Pop vai achar o máximo. Pelo Jogo 3, ora, ele teve 30% de acerto, precisamente a média de sua carreira.

Tentando bloquear as linhas de passe para Durant, o Spurs deixou a bola nas mãos do armador do Thunder, e dessa vez ele não soube o que fazer com ela, seja por fome ou por inoperância de sistema contra uma das melhores defesas da história. Levantamento estatístico da ESPN mostra que 21 dos 31 arremessos de Wess nesta sexta aconteceram em posses de bola que ele começou e finalizou sem ter feito um passe sequer.  Quer mais? Desses 21 chutes, apenas dois não foram contestados. Eles sabiam exatamente o que estavam fazendo.

Westbrook ainda ganhou o garrafão, região na qual saíram 17 de suas 31 tentativas de cesta. Com LaMarcus Aldridge, Tim Duncan, David West ou Boris Diaw quase sempre na cobertura, a aberração atlética de OKC dessa vez teve dificuldade para converter suas infiltrações, com 45,9% de seus arremessos. É provável que, ao analisar a gravação do jogo, perceba como os defensores o abordaram em ajuda e que possa encontrar alternativas. Ou talvez ele simplesmente atropele todo mundo como bem entende. O importante é seguir agredindo. Cada arremesso que fizer de média para longa distância será ao gosto da defesa. (O bloqueio defensivo, aliás, não foi apenas contra Westbrook. O armador até bateu oito lances livres na partida. No geral, porém, o Spurs cobrou muito mais do que os donos da casa, com 34 a 24. Apesar de seu baixo percentual, acertou seis a mais, e essa foi a primeira vez nestes playoffs em que OKC foi superado nesse quesito.)

Esse é o tipo de arremesso que Tony Parker não vai ligar de ver

Esse é o tipo de arremesso que Tony Parker não vai ligar de ver

A boa notícia para Kevin Durant, Billy Donovan e seu fiel séquito trovejante é que, em sua coletiva pós-jogo, Wess acusou o golpe. Num gesto de humildade totalmente surpreendente, não se cansou de assumir a culpa pela derrota, talvez até de modo exagerado. Ele não fez uma boa partida, de certo. Mas não é que possa ser responsabilizado pelos atos igualmente ultra-atléticos de Kawhi, por exemplo.

Mas foi interessante que tenha repetido sem parar sua falha na condução do time, citando o verbo “executar” e seus derivados à exaustão. Esse é o termo mais usado em entrevistas da liga, claro, mas o astro de OKC se superou dessa vez. E isso é um bom sinal. Em outros tempos, talvez adotasse uma postura blasé diante das perguntas, apelando ao sarcasmo, se tanto, para prestar contas sobre o que havia acabado de acontecer em quadra. Dessa vez chamou a bronca.

“Execução. Isso começa comigo. Tenho de fazer um trabalho melhor de execução e colocar nossos caras em posição para fazer a cesta, especialmente no final do jogo e contra uma boa defesa. Você tem de encontrar maneiras de fazer a bola rodar, e isso começa comigo”, afirmou, para aí listar seus erros. “Foram muitos arremessos, mesmo. Honestamente, tenho de fazer melhor esse trabalho, de descolar arremessos para os caras, como disse. Steven (Adams) só tentou um chute. Eles precisam ser envolvidos para nós batermos esta equipe. Também desperdicei a bola quando era hora de decidir o jogo. Assumo a responsabilidade quando a bola está em minhas mãos, para criar para os meus companheiros, e não fiz isso. Assumo a culpa.”

Westbrook perdeu o controle do jogo em quadra, e o Thunder, o da série. Para avançar à final da conferência, sua equipe vai precisar vencer três das próximas quatro partidas, sendo duas delas em San Antonio. Tarefa duríssima. Mas tem muito chão pela frente ainda — algo que me surpreende em dizer, confesso.

Depois de uma surra levada na primeira partida, vimos dois confronto muito equilibrados, nos quais o elenco de apoio do Spurs encontrou muita dificuldade para jogar. Tim Duncan (no geral) e Manu Ginóbili (nesta sexta) pareceram tão velhos quanto suas fichas de inscrição mostram, travados, sem conseguir lidar com oponentes muito mais vigorosos. Boris Diaw está marginalizado, e, quando isso acontece, ele mostra seu pior lado: desencana da vida e fica murchinho (metaforicamente falando, que fique claro). Em 13,0 minutos, tem médias de 3,0 pontos, 2,3 assistências, 1,7 rebote. Nos últimos dois jogos, foram apenas três pontos no total, três assistências, um rebote e uma cesta de quadra em 21 minutos. David West vai brigar sempre, não importando se está sendo mimado, ou não. Contra Adams, Serge Ibaka e Enes Kanter, porém, não consegue ser tão efetivo assim mais, com médias de 6,0 pontos, 2,7 rebotes e 44,4% nos arremessos. Até agora, só conseguiu bater dois lances livres. Esses dois pivôs reservas fazem muita falta, ainda mais com Duncan inócuo.

Com tanta gente produzindo abaixo, o Thunder tem conseguido equilibrar as coisas em meia quadra, no coletivo, algo totalmente inesperado depois da série que fizeram contra Dallas. Westbrook entende isso, o que é um tremendo avanço, comparando com sua versão mais jovem. Precisa ver apenas o quanto seu ímpeto, sua força anterior serão maiores que isso neste momento de pressão. O Thunder não pode vencer com ele afastado, é certo. Mas, se perder o controle novamente, as chances de estrago também são enormes.

***Receba notícias de basquete pelo Whatsapp***
Quer receber notícias de basquete no seu celular sem pagar nada? 1) adicione este número à agenda do seu telefone: +55 11 99006-9654 (não esqueça do “+55”); 2) envie uma mensagem para este número por WhatsApp, escrevendo só: oscar87


OKC vence em San Antonio: dissecando os 13s5 mais loucos dos #NBAPlayoffs
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

O que foi tudo aquilo que aconteceu?

Bom, vocês viram. Faltavam 13s5 no cronômetro, e o Oklahoma City Thunder defendia uma vantagem de um ponto, com o direito de repor a bola. Só precisavam colocá-la na mão de Kevin Durant ou Russell Westbrook e esperar pelo melhor — no caso, a conversão de dois lances livres e uma boa defesa para evitar o empate. Dion Waiters surtou, agrediu Manu Ginóbili na cara do ‘seo juiz’ e atirou um balão na direção de Kevin Durant. Danny Green interferiu, Durant cai desequilibrado, e o Spurs tem a chance. Green passa para Patty Mills, que não tem ângulo para finalizar. O australiano aciona Manu Ginóbili. O craque argentino não vai para a cesta e devolve para a formiguinha atômica. Sai um airball da zona morta. Serge Ibaka está lutando pelo rebote sozinho com LaMarcus Aldridge e Kawhi Leonard. Os dois All-Stars do Spurs não conseguem subir coma  bola na cesta. Final de jogo.

Resumido assim, já é uma loucura, né? Tudo em 13,5s frenéticos, envolvendo duas das quatro melhores equipes da temporada regular. Elencos experientes, estrelados, orientados por um técnico cinco vezes campeão pela NBA e outro bicampeão universitário. E nada disso importou em meio à tensão de um jogo de playoff, com o Thunder tentando apagar o vexame que havia passado pelo Jogo 1 e o Spurs tentando validar seu mando de quadra, ciente de que um triunfo por 30 pontos tem o mesmo valor de uma derrota por um pontinho.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Mas e se a gente fizer (quase) frame a frame? Separar as imagens abaixo terminou de apagar o sinal de “pause” do botão do controle. Por sorte, não o afundou de vez. Tem imagem que você congela para ver uma coisa, e acaba percebendo outra. Simbora:

Spurs x OKC - 2016 playoffs - Game 3

Tudo começou assim. Waiters fazendo a reposição. Os quatro demais jogadores do Thunder (Durant, Westbrook, Ibaka e Adams) posicionados no perímetro interno. A primeira dúvida, mais óbvia, aqui é a escolha de Waiters para fazer a reposição. Não estamos falando do sujeito mais equilibrado emocionalmente, por mais que até viesse com uma boa atuação pelo quarto período. O problema é que talvez não houvesse opção melhor. A presença de dois dos maiores cestinhas da liga no mesmo elenco esconde um problema sério: estamos falando da versão menos talentosa do time desde a saída de James Harden. Uma opção talvez fosse Andre Roberson? Ao menos é mais alto. Para além de Waiters, a grande questão é: o que diabos Steven Adams está fazendo em quadra? Para fazer corta-luz, ok. Ao mesmo tempo, é menos um jogador para receber o passe, com seu aproveitamento de 58,5% nos lances livres. Não à toa, foi marcado por Patty Mills (veja a diferença de tamanho). Pop sabe que ele não vai receber o passe de modo nenhum.

Spurs x OKC - 2016 playoffs - Game 3

Aqui, Manu começa a sassaricar à frente de Waiters, com o juizão fazendo a contagem (1 segundo). Westbrook dispara para o lado contrário, para abrir espaço. Acredito que a ideia foi sempre foi passar para Durant. Adams olha em sua direção, provavelmente para fazer o tal do corta-luz. Acontece que o Spurs tem dois excelentes defensores em sua formação: Danny Green e Kawhi Leonard, podendo colocar cada um deles em uma das superestrelas adversárias. Green, sendo muito mais baixo, faz um ótimo trabalho e não desgruda de Durant.

DSC_0724

O corta-luz de Adams não rolou. Durant já veio para o centro da quadra, ainda pressionado por Green. Além disso, Manu cortou aquela linha. Por outro lado, havia um corredor claro aqui para Ibaka, um chutador de lance livre mais competente (75,2% no ano). De todas as opções de passe que se apresentaram, esta seria a mais segura — mas não a ideal, claro. Além disso, seu posicionamento na lateral da quadra seria muito propício para uma dobra agressiva de Aldridge e Ginóbili. Não precisava fazer a falta de imediato. É fácil falar daqui do sofá, com o controle remoto em mãos. Mas os jogadores fazem isso todo santo dia e têm de estar preparados para tomar a decisão num instante que seja. O juiz segue contando (2 segundos). Westbrook breca e volta em direção à bola com Kawhi em seu cangote.

Waiters, Ginobili, push, offensive foul, inbound

Dion Waiters, que figura. “Nunca vi isso antes”, disse um enervado Chris Webber, comentarista da TNT. Essa frase seria repetida durante toda a noite, madrugada adentro. Talvez Ginóbili estivesse muito perto (convenciona-se uma distância de três pés para a marcação da reposição). Por outro lado, essa coisa de empurrar o defensor com o antebraço, antes de fazer o passe, não existe. Quer dizer: não existia até a noite de segunda-feira. Na cara da arbitragem, claramente de olho no lance. Seja pelo ineditismo do lance, sem saber como proceder naquele momento, ou por pura esquiva, deixaram passar. Enquanto isso, no canto direito, Kawhi permite que Westbrook escape e, por isso, apela, puxando-o pela camisa.

dion-waiters-push-kawhi-hold

Aqui, o puxão de Kawhi fica bem claro. Esse ângulo também nos permite ver o quanto Waiters invadiu a quadra. Ao fundo, pode ser que LaMarcus esteja segurando o braço esquerdo de Ibaka. Dois juízes têm plena visão do lance, a não ser que tenham se distraído com a torcida…

Waiters inbound play, push

Depois do empurrão em Ginóbili (aqui desequilibrado), Waiters comete uma segunda atrocidade: um balãozinho de passe, todo suave, para o centro da quadra, com Danny Green já preparadíssimo para saltar. Não há tanta separação entre ele e Durant.

DSC_0730

Não deu outra. Green contesta Durant antes mesmo de ele alcançar a bola. Mills e Adams estão mais próximos — os dois vão se reencontrar ainda. Ginóbili observa, com Dion Waiters alguns passos preciosos para trás.

DSC_0731

Durant desaba na disputa com Green (ao meu ver, não houve falta ali, foi uma disputa no ar), e o Spurs ataca com três jogadores contra Adams, graças ao avanço de Ginóbili. Reparem na voto de cima de novo e vejam de onde ele saiu. Com 10s3 no cronômetro, era tempo suficiente para realizar o ataque e, olhando este cenário, acho que Gregg Popovich acerta em não pedir o tempo (tinha mais um breque de 20 segundos). Olhando este frame, a dúvida que surge: não teria sido melhor Green respirar por um segundo e acionar Ginóbili pela direita? Entre ele e Mills, estava um pivô superatlético de 2,11m, com alto risco de interceptação. Se a bola fosse para Ginóbili, seria num passe mais rápido também, aproveitando a superioridade numérica, e ele poderia seguir no trilho e se apresentar como nova opção a um novo passe, no caso de contestação do neozelandês contra o argentino. Mais uma decisão fácil de se questionar em slow-motion.

DSC_0732

Para evitar Adams, Green faz o passe muito alto, mesmo. Mills vai receber o passe, mas sem condições de fazer a finalização. Dion Waiters chega bem atrasado, enquanto Durant e Ibaka estão fora do quadro. Do Spurs, só LaMarcus não consta aqui.

DSC_0734

A bola não só demora a chegar, permitindo a recuperação de Westbrook e Waiters, como o deixa numa posição desconfortável. Ginóbili, como sempre, bem posicionado, aparece para o resgate. Restam 8s3 ainda. Seria o caso aí de Gregg Popovich pedir tempo?

DSC_0735

Ginóbili é acionado e tem espaço para atacar. Restando 7s3 no cronômetro, Kawhi e LaMarcus já estão no garrafão, acompanhados por Ibaka, Waiters e Adams. Não era o caso de pelo menos o ala ter estacionado na linha de três pontos para abrir mais espaço? Não era uma situação de desespero, de dois segundos, em que era pegar e chutar. Logo, não eram necessários dois homens posicionados para rebote.

DSC_0736

Ginóbili ataca o garrafão congestionado. Ainda assim, tem espaço para criar. Adams subiria para a contestação na certa. Canhoto, ainda ágil e elástico, afeito a lances improváveis, será que o argentino não poderia ir para um gancho de esquerda? Ou um tiro em flutuação justamente de onde está com a bola? Mills está voltando para quadra, para a zona morta. À esquerda, Durant caça borboletas, e se distancia de Green.

DSC_0737

Manu opta pelo passe para Mills, porém, de costas, por cima do ombro esquerdo, como só alguém de sua categoria, criatividade (e coragem) poderia pensar em fazer. Acontece que a bola não sai com tanta precisão assim. Mills tem de abaixar para fazer a recepção, enquanto Adams já vem feito um louco em sua direção.

DSC_0740

O instante que Mills perdeu para dominar a bola foi o instante que permitiu a aproximação do pivô. Pela foto, não dá para notar, mas tenho quase certeza, olhando atentamente ao vídeo, que Adams consegue dar o toco, nem que tenha sido com a pontinha do dedo. Quer dizer: por vias tortas, Donovan acertou em deixar o grandalhão em quadra. A bola sobe levemente e cai muito antes de chegar à cesta. O detalhe aqui? Vejam como Danny Green está chegando livrinho à linha de três pontos. Um pouco mais de paciência, e talvez o australiano pudesse ter passado para um companheiro que havia matado duas bolaças minutos antes.

DSC_0739

Enquanto LaMarcus tenta subir com a bola lá embaixo da cesta, repare que Adams está imóvel aqui no canto direito, e, não, por estar petrificado como Kevin Durant (enquanto Ginóbili e Green estão abertos para um chute, com 2s2). Mas, sim, pelo fato de um torcedor do Spurs o segurar. O imbecil está coberto pelo placar da TNT aqui.

adams-fan-san-antonio-hold

A NBA TV depois mostrou. Lamentável. Poderia o Spurs ser multado por isso? É o mínimo.

DSC_0743

Adams, aqui, tenta se desvencilhar do torcedor, enquanto Aldridge tenta subir para a cesta, com marcação dobrada de Waiters e Ibaka. Ele já saltou, mas não conseguiu subir com a bola. A gente vai ver este lance mais de perto:

DSC_0744

Enquanto o chute de Mills ainda estava longe de ser completo, a camisa de Aldridge já é puxada com tudo por Ibaka.

DSC_0745

Quando Aldridge tentou subir com a bola, sua camisa segue esgarçada por Ibaka. Sinceramente? Esse é o tipo de falta de escanteio, que acontece direto. Se a arbitragem não viu, dá para entender. O empurrão de DeMar DeRozan em Ian Mahinmi pelo Jogo 7 de Raptors x Pacers foi muito pior. Assim como o de Waiters em Ginóbili. No meio desse empurra-puxa, os dois segundos se foram.

*   *   *

OKC venceu esta partida no primeiro quarto, muito antes do conturbado final. Entrou em quadra determinado a agredir seu adversário, no bom sentido, e conseguiu, saindo em transição com Westbrook (29 pontos em 25 arremessos, 10 assistências e 3 turnovers), sem permitir que a parede Aldridge-Duncan fosse erguida no garrafão. Abriu vantagem, e, a partir dali, o San Antonio tinha de se virar para correr atrás. Em diversos momentos, no final do segundo período, meio do terceiro e metade final do quarto, conseguiram, mas o Thunder soube responder. Foram 21 pontos em contra-ataques em toda a noite para eles.

Estranhei a passividade com que Kawhi aceitava o corta-luz e a inversão de marcação no segundo tempo, dando a Westbrook a liberdade para atacar um cara pesado como Aldridge. Pelo menos seis pontos foram gerados desta forma. Outra jogada que funcionou bem para os visitantes: a corrida em arco de Durant 28 pontos em 19 arremessos, 4 assistências e 5 turnovers), saindo do fundo da quadra para o centro ou para as alas, aproveitando um corta-luz no meio do caminho para se livrar de Green e subir para matar seu belíssimo arremesso.

Na defesa, no início, o time decidiu que, se fosse para alguém sobrar, que fosse Duncan, e dessa vez deu certo, com o pivô tendo dificuldade para acertar (errou sete de oito arremessos). Os visitantes ainda tiveram suas penas já tradicionais, mas simplesmente viram os jogadores do Spurs desperdiçarem arremessos livres (7-18 para Kawhi, 3-11 para Green e 3-9 para Parker). Kawhi, em particular, estava fora de ritmo, sem confiança no ataque. Como as coisas podem mudar de um jogo para o outro… Agora temos de esperar até sexta-feira pelo Jogo 3. Precisava de tanto descanso assim?

***Receba notícias de basquete pelo Whatsapp***
Quer receber notícias de basquete no seu celular sem pagar nada? 1) adicione este número à agenda do seu telefone: +55 11 99006-9654 (não esqueça do “+55”); 2) envie uma mensagem para este número por WhatsApp, escrevendo só: oscar87d


Jukebox NBA 2015-15: OKC e a estrada trovejante dos playoffs
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

jukebox-thunder-road-boss

Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Thunder Road”, por Bruce Springsteen.

Kevin Durant se preparava para enfrentar o Clippers no início de março. Foi quando, numa entrevista para o Orange County Register, admitiu uma leve surpresa pela forma como conseguiu encaminhar sua temporada, podendo se tornar um agente livre ao final do campeonato. “Não diria que estava tudo quieto, mas foi numa boa. Tem sido diferente. Estava esperando muito mais em todas as cidades que visitaria, que todo mundo ia perguntar sobre isso, mas tem sido bastante tranquilo”, afirmou.

É bom que ele tenha curtido essa calmaria. Pois não deve durar muito: com os playoffs se aproximando, Durant e o Okahoma City Thunder vão entrar numa estrada trovejante (vrum-vrum!).

Pegamos carona, então, ouvindo um dos clássicos de Springsteen, numa letra enorme que fala, entre tantos assuntos, sobre carros, garotas, afirmação e também a redenção. Para falar de NBA vida de atleta, os dois primeiros tópicos sempre valem, né?  Mas, para esta equipe especificamente, fiquemos os outros demais.  Tem muita coisa em jogo para o time, graças a está cláusula contratual que permite ao craque encerrar seu vínculo para entrar no mercado.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Com a possibilidade de um jogador dessa grandeza entrar no mercado, era de se esperar um ba-fa-fá muito maior.  Muitas teorias malucas, especulações envolvendo até mesmo o Philadelphia 76ers. Esse tipo de loucura. LeBron James não deve ter entendido nada.

Rolou só o papo sobre o Golden State Warriors. Quer dizer, são vários os bate-papos que os atuais campeões instigam, pela campanha maravilhosa, pela ascensão de Curry, a volta de Steve Kerr, e tal. Mas teve também aquela história de um flerte à distância com o cestinha. De qualquer forma, não durou muito a discussão, e nem tinha como, devido ao embasbacamento geral da nação com o ritmo do time californiano. Mas não ficou só nisso. A postura um tanto arredia do ala no início da campanha, disparando sem parar contra o jornalismo em geral (essa entidade diabólica), e também o fato de que estava se recuperando de uma sucessão de cirurgias também abafaram a história.

A dupla vai durar até... a) 2016? b) 2017? c) apoentadoria?

A dupla vai durar até… a) 2016? b) 2017? c) apoentadoria?

Agora: se o Thunder por ventura chegar a um confronto com o Warriors na final do Oeste, será impossível segurar. Se a equipe nem chegar até lá, pior ainda. Aí é sinal de férias antecipadas, e Durant, mesmo que apenas entre seus confidentes e Jay-Z, não poderia mais fugir do assunto.

O mais cruel de tudo isso é que um novo insucesso, neste campeonato em específico, seria totalmente aceitável. Golden State e San Antonio estão em outro patamar. São times que olham apenas para os melhores da história se for para encontrar adversário à altura, segundo os números da temporada regular. Ainda assim, cada um com o seu motivo, Thunder e Cavs precisam vencer ou vencer. E aí como faz?  Não é fácil encontrar a equação aqui.

O Thunder de Billy Donovan parte rumo aos mata-matas com o segundo melhor ataque. Seu sistema ofensivo é realmente aterrorizante, impulsionado por dois dos maiores cestinhas da atualidade, mesmo que não tenha passado por nenhuma transformação após a demissão de Scott Brooks. Em seus últimos 13 jogos, a equipe só não passou dos 110 pontos em uma derrota para o Detroit Pistons por 88 a 82, num milagre operado por Stan Van Gundy. Contra Portland, Boston e Denver, passou dos 120 pontos. Mesmo preservando seus principais atletas numa segunda partida contra o Blazers, anotou 115 pontos.

Agora, se alcançou uma marca dessas e saiu derrotado, é porque sua defesa não incomoda tanto assim. É a mesma peneira que permitiu 117 pontos aos reservas do Clippers, com direito a 64 pontos de Austin Rivers e Jamal Crawford, 55,3% nos arremessos e 16 cestas de fora. No geral, o time tem o 12o. melhor sistema defensivo, o que não costuma ser um bom indício na luta pelo título. Especialmente quando o San Antonio Spurs lidera esse ranking e o Golden State Warriors aparece em quinto. Ambos estão no top 3 ofensivo. Na temporada regular, até fizeram jogo duro. Ganharam duas dos texanos. Fizeram dois jogos memoráveis contra os californianos, com direito a cesta inacreditável de Curry. Nos playoffs, o cenário muda, o bicho pega.

MVP e MVP juntos? OKC tem de superar Golden State em diversas frentes

MVP e MVP juntos? OKC tem de superar Golden State em diversas frentes

Para OKC, além se seus próprios resultados e do aspecto emocional, sua maior esperança talvez seja o aspecto financeiro. Se o astro priorizar seus rendimentos, a decisão que faz mais sentido é a de postergar toda essa discussão, ao menos por um ano. Bastaria dizer que vai até o fim de seu atual contrato,.virando agente live ao mesmo tempo que Westbrook e Serge Ibaka.

A expectativa é que ele receba um salário máximo quando virar agente livre, a não ser que, tal como Wade e LeBron fizeram em Miami, aceite dar um desconto para formar um novo supertime. Se der a lógica, todavia, ele receberia um salário equivalente a 30% do teto. Em 2016, a projeção é que o teto seja de US$ 90 milhões. Em 2017, US$ 108 milhões. Só não precisa calcular ainda a diferença. Pois tem mais um detalhe: se deixar para assinar após seu décimo ano de NBA, o cestinha terá direito a 35% do teto. Seu salário poderia começar na casa de US$ 38 milhões. No total, poderia ganhar algo em torno se US$ 40 milhões a mais.

Praticamente a NBA inteira estará prepararada para fazer uma proposta a Durant, se ele assim desejar. Até mesmo o Warriors, mesmo se bicampeões. O que o astro procuraria? Não há nenhuma reportagem que tenha dado conta disso ainda. Tudo muito silencioso ainda. Prenúncio de tempestade?

A pedida? O título, derrubando em sequência, Spurs, Warriors e Cavs. Imaginem só? Aí quero ver jogador cair na estrada.

A gestão: pela primeira vez desde que chegou ao clube, lembrando que o projeto se iniciou ainda em Seattle, vimos Sam Presti agir sob forte pressão com preocupações mais imediatistas, e os resultados são questionáveis. Quando as preocupações se tornaram mais imediatistas, . Numa primeira etapa,  seu trabalho de reconstrução foi aclamado em toda, servindo como exemplo para muita gente. Muito antes de Sam Hinkie ser apedrejado em Philly, Presti entendeu que, partindo do zero, precisaria de muita paciência para colocar sua equipe nos trilhos. Já faz tanto tempo que OKC se situa no topo da liga, que não podemos nos esquecer de como tudo começou.

Durant foi escolhido em 2007. Russell Westbrook veio em 2008. Por fim, em 2009, James Harden completou uma trinca de futuros All-Stars, Dream-Teamers, candidatos a MVP. Foram, respectivamente, os segundo, quarto e terceiro colocados em seus respectivos Drafts. Para ter direito a uma seleção alta dessas, é claro que o Thunder não poderia render lá muito bem em quadra. Nos dois primeiros anos de Durant, venceram, respectivamente, 20 e 23 partidas apenas.

Presti conseguiu tirar Donovan da Flórida. OKC só não mudou muito assim

Presti conseguiu tirar Donovan da Flórida. OKC só não mudou muito assim em quadra

A diferença é que, na hora de detectar talentos, Presti teve muito mais sorte e competência que Hinkie, que acaba de se demitir de um time que tem apenas dez triunfos a poucos dias do fim do campeonato. A sorte pesou para a escolha de Durant, com o time entrando no top 3 de modo inesperado e vendo o Portland Trail Blazers apontar Greg Oden como o calouro número um. Essa é uma das grandes interrogações para a torcida do Blazers: e se eles tivessem ido de Durant? De qualquer forma, Westbrook e Harden não eram vistos como unanimidades em seus processos seletivos, ao passo que a lista de sucessos de sua gestão também se estende a Serge Ibaka e Reggie Jackson, que foram escolhidos em número 24. Steve Adams cumpre bem seu papel de lenhador atlético, tem evoluído de pingo em pingo e ainda não completou nem 23 anos. Andre Roberson já é um marcador enjoado. Sobre Cameron Payne, Mitch McGary e Josh Huestis, está muito cedo ainda. Dá para dizer que o armador tem muito talento.

Presti foi tão bem na hora de draftar que teve a vida ligeiramente complicada pouco depois, quando chegou a hora de tratar do segundo contrato de muitos desses. Como no caso do Sr. Barba, eleito melhor sexto homem da liga em 2012, e tal. Entre ele e Ibaka, a franquia preferiu o pivô, deixando o ala-armador escapar para poupar alguns caraminguás. Fazendo todas as contas do que guardaram então, comparando com o que estão gastando agora com Kanter, ainda é complicado assimilar essa. Faltou visão ao dirigente. Por menor que seja o mercado de OKC, por mais que os proprietários tenham ordenado a contenção de gastos, o teto salarial da liga viria a subir consideravelmente nos anos seguintes, e seria possível assimilar este contrato sem muito esforço. Multa por multa, estão pagando pelo jovem turco.

O outro lado da questão é que as pessoas mais próximas de Harden garantem que ele não iria aceitar a condição de coadjuvante de Durant e Westbrook por muito tempo. Que cedo ou tarde, forçaria uma troca, mesmo de contrato renovado. Por tudo o que se noticia em Houston hoje sobre seu comportamento, essa tese tem lastro bastante razoável. Ainda assim, numa ressalva final, Presti poderia ao menos ter recebido mais em troca por um jogador desse quilate. Num de seus atos raros precipitados, pode ter deixado pacotes melhores na mesa. Mesmo sem Harden, OKC se manteria como candidato ao título. Seu alcance, porém, foi limitado quando as lesões começaram a aparecer, e Kevin Martin não estava mais por lá, enquanto Jeremy Lamb empacava.

Esse ganchinho de Kanter vai cair sempre. Mas há mais tarefas para administrar

Esse ganchinho de Kanter vai cair sempre. Mas há mais tarefas para ele tocar

Se o retorno por Jackson foi, relativamente, melhor, também foi a um custo financeiro alto, devido a iminentes negociações que deveria ter com Kanter e Singler, a mais de US$ 21 milhões ao ano — valor, que, verdade, será amenizado pela nova realidade financeira da liga. A troca pelo turco foi um ato de semidesespero de Presti. Sem Durant em quadra, no ano passado, enfim o gerente geral se mexer durante um campeonato, tentando de tudo para chegar aos playoffs. O New Orleans Pelicans fechou a porta na última rodada. O jovem pivô virou agente livre restrito e foi um dos raros casos recentes a ter uma proposta nessas condições. Veio de Portland, ao que tudo indica num ato deliberado de Neil Olshey para sacanear um concorrente da Divisão Noroeste.

Kanter tem uma das munhecas mais habilidosas da liga. Quando acionado no garrafão, no mano a mano, a chance de cesta é grande. Westbrook o adora, por lhe render assistências praticamente automáticas. Ele tem uma das munhecas mais habilidosas da liga.  Numa projeção por 36 minutos, tem médias de 22,1 pontos, 14,0 rebotes (5,3 na tábua ofensiva). O tipo de cestinha que poderia dar um alívio aos astros, já que Dion Waiters parece um caso perdido, mesmo. Aos 23 anos, valeria o investimento, mas talvez para um clube com pretensões mais amenas. Pois, se precisamos fazer uma projeção por 36 minutos para valorizar seus números, é porque joga pouco (20,8 por partida). Pode isso? Não só pode, como precisa. Pois a defesa, num jogo de alto nível, vai ser difícil de ser sustentada com ele. Aos poucos, o turco vai evoluindo nesse sentido. Mas não está pronto para lidar com ataques poderosos como o de Warriors e Spurs. A dúvida que fica: quando estiver pronto — se isso acontecer, claro –, Durant ainda estará por lá?

Olho nele: Serge Ibaka

Os playoffs estão chegando, e Ibaka ainda não acertou a mão

Os playoffs estão chegando, e Ibaka ainda não acertou a mão

Se Durant e Westbrook estão fazendo campanhas extraordinárias, o mesmo não pode ser dito sobre o pivô congolês, que, discretamente, ajudado pelo desempenho incrível de seus companheiros estrelados, vive talvez a pior temporada de sua carreira. Ou pelo menos a menos e produtiva. Pior: a queda de rendimento deste superatleta acontece dos dois lados da quadra.

Em tese, sua capacidade como o defensor seria sua contribuição mais relevante para a equipe, como um caso raro de marcador que pode executar tão bem a parede numa situação de pick-and-roll como a cobertura vindo do lado contrário para proteção do aro. Acontece que essas habilidades e sua envergadura intimidadora não estão surtindo tanto efeito assim neste ano. Você pode até não botar muita fé na medição “Real Plus-Minus” do ESPN.com, como medição exata do valor de um jogador, mas quando esse atleta despenca do número 15 para o 113 no ranking de defensores, de um ano para o outro, acho que é algo digno de registro. E OKC precisa de um Ibaka em sua melhor forma, para derrubar eventualmente San Antonio (LaMarcus, Diaw, West) e Golden State (Draymond Green).

Especialmente quando ele não está mais convertendo com regularidade seus arremessos de longa distância. Depois de alcançar a marca de 38,3% nos tiros de fora em 2013-14, Ibaka regrediu para os mesmos 33,3% de quatro anos atrás, com a diferença de que hoje arrisca 2,6 chutes por partida, contra 0,1 daquela época. No ano passado, este número estava na casa de 3,5. Olhando sua tabela de arremessos, percebe-se que o congolês está priorizando os tiros médios agora, com 34,6% de suas tentativas saindo do perímetro interno mais próximo à linha exterior, contra 29,1% em 2014-15. Seria um pedido de Donovan? Difícil de entender. Pensando nos playoffs, contra defesas mais preparadas, é uma boa estratégia, mesmo que ele esteja convertendo 45,1% desses disparos? Para alguém que definitivamente não consegue criar nada para seus companheiros, Ibaka precisa matar essas bolas. Do contrário, será apenas mais um jogador a encurtar a quadra para Durant e Westbrook, ao lado de Andre Roberson, Enes Kanter ou Steven Adams.

jeff-green-okc-trading-cardUm card do passado: Jeff Green. O cara já passou por tantas equipes que talvez hoje seja fácil esquecer que, em seus primeiros anos de liga, foi o primeiro parceiro escolhido por Presti para fazer a escolta de Durant. Com o tempo, a base ganhou muito mais talento… A ponto de o ala, inconsistente desde sempre, virar um item supérfluo no elenco. E a primeira troca de sua carreira teve o Boston Celtics envolvido, com Kendrick Perkins.

Obviamente que a saída de Green não é tão lamentada pelo torcedor de OKC como a de James Harden. Mas o que os dois têm em comum é a constante busca de Presti por uma peça complementar ideal e duradoura para o trio Durant-Westbrook-Ibaka. A lista se estende a Kevin Martin, Jeremy Lamb, Caron Butler e, agora, Dion Waiters. Foram todas tentativas frustradas, por um motivo ou outro, de preencher essa lacuna no perímetro – de um terceiro cestinha de preço médio que possa ajudar seus craques e se contentar com esse status. Mesmo os que deram certo se tornaram problemas, por terem se valorizado demais.

No caso de Green, o ala recebeu um bom segundo contrato em Boston, mesmo depois de ter perdido um campeonato inteiro devido a um problema no coração. Mas ele nunca justificaria o investimento. Estamos falando de um dos atletas mais inconsistentes da liga, parado no tempo, que tem sua dedicação bastante questionada. Os números não contribuem muito para sua defesa. Pode-se fuçar bastante em qualquer métrica disponível por aí: vai ser difícil encontrar algum dado que indique evolução em seu jogo.

Receba notícias de basquete pelo Whatsapp
Quer receber notícias de basquete no seu celular sem pagar nada? 1) adicione este número à agenda do seu telefone: +55 (11) 99006-9654 (não esqueça do “+55”); 2) envie uma mensagem para este número por WhatsApp, escrevendo só: oscar87


Jogo mais emocionante da temporada termina com bomba de Curry. Claro
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

curry-warriors-thunder

Pobres torcedores de Phoenix, Utah, Brooklyn… Enquanto seus times jogavam partidas praticamente insignificantes, Thunder e Warriors faziam em Oklahoma City o jogo mais emocionante da temporada com grandes lances e erros incríveis até Stephen Curry decidir fechar a conta no último segundo da prorrogação com A Cesta do campeonato, e também uma das maiores cestas da história da liga, por comprovar precisamente o nível que o craque do Golden State alcançou. Ele é jovem ainda e vai viver ainda muitas partidas comoventes, valendo talvez por mais títulos. Mas desconfio que o petardo de, segundo registraram os mesários, 9,75m de distância para definir um triunfo por 121 a 118.

É uma absurda demonstração de habilidade, precisão e confiança. O Warriors tinha direito a pedir um tempo. Dava para ele ter caminhado mais um pouco. Nenhum outro jogador da liga poderia tentar um arremesso desse, nem mesmo Kevin Durant, obrigado a assistir a adaga final do lado de fora, excluído com seis faltas, boquiaberto, como todos os reservas de OKC. Mas Steph Curry, que anotou 46 pontos, está em outro patamar no momento, como arremessador e, chega de polêmica, jogador.  LeBron James tratou de encerrar qualquer discussão a respeito:

 

(Stephen Curry precisa parar com isso, cara!! Ele é ridículo, cara! Nunca vi alguém como ele na história do basquete!)

LeBron postou isso instantes depois do final da partida que envolveu dois candidatos ao título, os quais ele espera que seu Cleveland Cavaliers possa eventualmente superar. Percebem a grandeza e, ao mesmo tempo, o quão atípico é um gesto desses? A declaração pública, espontânea, instantânea veio do sujeito que supostamente deveria clamar o título de melhor do mundo. Mas nem ele consegue mais. O autointitulado “Rei” se curvou. E isso diz muito sobre o estado psicológico de toda a NBA depois de uma exibição destas, gente. Sinceramente, assim como LBJ nunca viu alguém como Curry, não consigo me lembrar de um astro da liga se expressar desta maneira sobre um concorrente. Nem mesmo um Eduardo Nájera falando de Andrés Nocioni, quanto menos de uma figura deste porte.

Mas é isso. Não tem Oscar Robertson, Ron Harper, Isiah Thomas… Não há ninguém mais que possa contestar o que Curry vem fazendo este ano e que, se a NBA se declarar falida neste domingo, 28 de fevereiro, ele já está entre os maiores da história. Nestas duas últimas temporadas, realmente ele fez coisas inéditas. Sabe essa coisa de encestar a nove metros de distância do aro? Pois bem, na temporada o sujeito tem aproveitamento de 50% no campeonato. Sim, 50%, mais do que Andrew Bogut e outros 13 pivôs acertam em lances livres (4,5 metros).

Com 12 cestas de três para cima do Thunder, Curry igualou o recorde em um só jogo, empatando com Kobe Bryant e o inesquecível Donyell Marshall. Considerando que, apenas no mês de fevereiro, essa foi a terceira vez que ele marcou dez ou mais cestas de longa distância na mesma partida, cedo ou tarde, vão cair 13 bombas. Esta é uma marca que precisa ser tão somente dele. O isolamento na tabela histórica ele já conseguiu no que se refere a total de cestas de três numa temporada ele havia conseguido há tempos. De qualquer forma, para alargar sua margem de segurança (risos), ele decidiu já superar desde já seu próprio rendimento, chegando a 267 tiros certeiros. Detalhe: ainda restam 24 partidas para o Warriors.

Antes de dizer que Curry ‘só’ chuta (como se converter 12 de 16 chutes de longa distância fosse algo normal…), precisa lembrar que hoje ele é o jogador mais eficiente da liga e está em vias de quebrar também esse recorde histórico, superando Wilt Chamberlain e Michael Jordan.

Enfim, o cara virou atração obrigatória por onde anda. O preço dos ingressos do Warriors está inflacionado e, a cada ginásio que visita, a arquibancada lota mais cedo, com torcedores ávidos para testemunhar sua rotina de aquecimento. Na qual, inclusive, já arrisca esses arremessos de 9 metros. Quer dizer: não é só talento e confiança. É treino também. E é histórico.

*     *    *

Se já não fosse tormento o bastante a tarefa de tentar conter Curry, a defesa adversária ainda precisa encontrar um jeito de frear Klay Thompson, que marcou 32 pontos, hã, discretos. É impressionante também a velocidade de sua mecânica de arremesso. Se o marcador se concentrar por um milésimo de segundo a mais em Curry, Klay vai fazer você pagar, sendo também muito inteligente em sua movimentação fora da bola, cortando constantemente em backdoor rumo ao garrafão.

*     *     *

Mas basquete não é feito só de cesta, minha gente. E Draymond Green merece o espaço só dele. Neste sábado, o ala-pivô do Warriors teve uma das linhas estatísticas mais estranhas que você pode ver: 2 pontos, 14 rebotes, 14 assistências, 6 roubos de bola e 4 tocos em 44 minutos. Quem na NBA hoje seria capaz de reproduzir números como esses? Ninguém, também. É mais um jogador singular no elenco de Steve Kerr, que não faz nada para atrapalhá-los, o que já é um mérito por si só. Green não fez nenhuma cesta de quadra em oito tentativas e ainda errou três de cinco lances livres. Ainda assim, causou – e causa – tremendo impacto em quadra por sua energia, liderança, vigor e influência tática. Foi – e é – vital para o sucesso de seu time. Seu esforço defensivo no quarto período foi mais uma vez louvável, desafiando na maior uma aberração atlética como Serge Ibaka.

*     *     *

O Warriors concluiu uma sequência de seis jogos em nove dias fora de casa com cinco vitórias, depois de ter tomado uma surra do Portland Trail Blazers na abertura da jornada, de guarda baixa. Atualizando, então as contas: para superar o Chicago Bulls de 1996, precisam de 20 vitórias em suas 24 partidas finais, das quais 17 serão em casa. Se vencerem 19 e perderem 5, igualarão o legendário 72-10. Restam dois confrontos com o Spurs, dois com o Clippers e mais um com o Thunder.

*     *    *

Para constar, antes mesmo de baebater o Thunder, o Warriors já havia assegurado sua classificação para os playoffs, devido a uma derrota do Houston Rockets para o San Antonio Spurs. De novo: restando 27 partidas para eles. Então, se quiser, pode entrar no site oficial do clube e concorrer a ingressos na pré-venda. : )

warriors-playoffs-tickets

*    *    *

Deixamos para o fim as trapalhadas dos momentos decisivos do quarto período. Primeiro foi Andre Iguodala, totalmente pilhado em sua rotação defensiva, que deixou Kevin Durant livre na linha de três pontos para fazer a ajuda em Serge Ibaka. Já seria um tremendo (e raríssimo) equívoco para o veterano defensor, mas foi ainda pior pelo fato de que o senegalês/espanhol importado estava driblando a bola. Situação na qual, longe da cesta, não representava ameaça nenhuma. Bang! Faltavam 14 segundos, e OKC abria quatro pontos.

Daí que, após cesta rápida de Klay, Kerr ordenou um abafa na saída, mas sem que fizessem falta, ainda mais com a bola em cima de Durant. Pois o cestinha entrou em pânico ao se ver encurralado perto da linha de fundo. Em vez de pedir tempo, se precipitou em tentar um passe para o meio da quadra: turnover. Thompson recuperou a bola e passou para Iguodala. Longe de ser um grande chutador, pouco antes do estouro do cronômetro, o ala sofre a falta. E de quem? Durant! Com toda a calma do mundo, o cara de 61,3% na temporada e 71% na carreira, converteu ambos os lances livres e forçou a prorrogação.

No tempo extra, Durant cometeu sua sexta e última falta com 4min13s por jogar ainda. Excluído. Sabe qual foi a última vez que isso havia acontecido? Só em 14 de fevereiro de 2013. Foi apenas a quarta exclusão de sua carreira. Depois de 37 minutos espetaculares em quadra, não dá para dizer que craque do Thunder este inspirado nos últimos dois. Se Iguodala teve a chance de se reabilitar, para Durant não foi o caso. Ele saiu de quadra com  37 pontos, 12 rebotes, 5 assistências, 13-26 nos arremessos e  7-11 de três.

Então fica a pergunta: depois de um jogaço desse, com tantas emoções envolvidas, seria o cestinha capaz, mesmo, de assinar com o Warriors daqui a quatro meses?


Durant no Golden State? Vamos com calma
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

MVP e MVP juntos?

MVP e MVP juntos?

A mais nova #WojBomb não é bem uma bomba assim, mas, sim, um texto requentado de uma especulação que já circulava por aí desde antes do início da temporada. Acontece que o superfurão está com um site novinho em folha, o Vertical, que vale a visita, e precisa de um pouquinho mais de promoção. Para justificar o texto, Wojnarowski escreve que, se for para sair de OKC, o Warriors seria uma “séria ameaça” e “o favorito de modo significante” para assinar com ele, segundo fontes anônimas. E só. O resto é conjectura, sempre acompanhado pelos costumeiros condicionais.

O primeiro deles já foi escrito logo acima: Durant vai querer deixar o Thunder, mesmo? Ninguém sabe, nem ele, segundo o próprio artigo.

Da parte da franquia californiana, o fato de estarem interessados no cestinha é algo que… Não surpreende ninguém. Assim: quem não toparia caçar um agente livre desses? Perguntem aos diretores de Pinheiros, Bauru e Caxias: qualquer um o aceitaria de bom grado. Na NBA, todo clube de ponta que não esteja preparado para cortejá-lo não está fazendo a devida lição de casa.

Agora, posto isso, tendo Curry, Klay Thompson, Draymond Green, Andrew Bogut e Andre Iguodala ganhando acima de US$ 11 milhões por ano, seria possível?

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Sim, seria.

Está aqui uma das estratégias possíveis para a contratação, elaborada por Bobby Marks, ex-assistente de gerente geral do Brooklyn Nets, especialista nos meandros do teto salarial da liga. Nas contas de Marks, o clube poderia oferecer um contrato de salário máximo a Durant e ainda renovar com Festus Ezeli e segurar Shaun Livingston para o banco, de sexto homem, além do calouro Kevon Looney, que custa pouco. Em termos de baixas, teria de dizer adeus a guodala, Harrison Barnes e Bogut, além de outros reservas como Leandrinho, Brandon Rush, Marreese Speights e mais. Eles poderiam voltar, porém, em contratos mínimos.

Pensando no elenco atual, despedir-se de Iguodala seria difícil. Estamos falando do MVP das finais de 2015, alguém capaz de incomodar LeBron (e Durant!) aqui e ali. O veterano precisaria ser trocado por nenhum salário imediato, e certamente não faltariam candidatos para absorver os US$ 11 milhões que restam em seu acordo. Barnes, como escolha de Draft do clube, também exigiria coração frio por parte dos cartolas e técnicos: sairia de graça, como agente livre. Por fim, Bogut exigiria uma segunda troca. Se não houver ninguém na fila para assimilar seu contrato, seria dispensado, com a opção de se pagar em prestações o restante de seu contrato. E, aí, pumba: espaço aberto para fechar o negócio.

Para uma gestão que já tirou Iguodala na marra de Denver, enfrentando volumosa concorrência e que se meteu no páreo por Dwight Howard, nos dias em que o pivô ainda despertava suspiros de todos, as manobras acima poderiam ser facilmente executadas, mesmo com as demais franquias morrendo de inveja do futuro clube de São Francisco.

Valeria a pena?

Francamente: claro que valeria, independentemente de um bicampeonato neste ano. Correria-se o risco de mexer com a química do elenco de maneira drástica. Mas… Iguodala tem 32 anos e depende de sua capacidade atlética para se impor em quadra. Bogut está com 31, mas se movimenta como alguém que beira os 40, com um histórico hospitalar que preocupa até benzedeira. Cedo ou tarde, não serão mais as figuras influentes de hoje. A missão de Bob Myers é cuidar do presente, mas sem se esquecer do futuro, e são diversos os casos de clubes que chegaram ao auge e despencaram logo depois. Quanto a Barnes… estamos falando de um dos três melhores jogadores do mundo do outro lado. Desculpe, Harrison, mas tchau, tchau: atacar com Curry, Klay, Draymond e KD seria uma coisa de maluco.

Do ponto de vista pessoal, Durant precisaria sacrificar números e teria de se preparar para ouvir um monte: de que estava arregando, afinando, sendo mercenário etc. etc. etc.

Mas imaginem um cenário em que Warriors e Thunder se enfrentem na final da Conferência Oeste. Plenamente possível, não? E que os atuais campeões apliquem uma surra ou vençam uma série duríssima, por 4 a 3. O craque teria realmente coragem de pular o muro?

É claro que a possibilidade é assustadora para Spurs, Clippers, Rockets e qualquer outro clube com ambições de título para os próximos anos. Mas tem muito por acontecer ainda. Inclusive, no próximo final de semana, o Carnaval, com bomba e bombas pelas ruas.


Plantão médico: lista de enfermos é ameaça séria nos playoffs da NBA
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Varejão foi uma das primeiras baixas bastante relevantes da temporada

Varejão foi uma das primeiras baixas bastante relevantes da temporada

Quer uma tradição impregnada nos Playoffs da NBA? Daquelas mais desagradáveis e, ao mesmo tempo, mais importantes para a definição de um título? Que pode ter tanta influência no resultado final de um campeonato como toda a preparação, todo o refinamento tático obtido em uma looooonga temporada? A contagem de feridos. As lesões, mesmo.

E aí que você pode falar também de sorte ou azar, ainda que o trabalho de um técnico e seu estafe médico possam ajudar na prevenção delas…

Mas pegue por exemplo o caso de Tiago Splitter. O pivô foi para as finais da liga por dois anos seguidos. Pode ter dito não a Rubén Magnano em 2013, mas aceitou nova convocação no ano passado, para a Copa do Mundo. Não dá para saber o quanto a carga extra de treinos e jogos, num mês que seria de férias, deixa o atleta em uma situação mais propícia para sentir algo. O que dá para dizer, imagino, é que ajudar, não ajuda, e que o catarinense não conseguiu fazer a pré-temporada ideal, perdeu quase 20 jogos no início da campanha e demorou um tempo para entrar em forma, lidando com problemas musculares na panturrilha (uma área sempre complicada). Sem pressa, com um elenco vasto, o clube texano teve toda a precaução do mundo com ele, como de praxe. Sabemos como Gregg Popovich é extremamente consciente no uso de seus atletas. Mesmo assim, Splitter teve o azar de, a duas semanas dos mata-matas, voltar a sentir dores bem incômodas.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

(Um parêntese importante: não estou dizendo que ele não deveria ter jogado o Mundial. O pivô muito provavelmente ficaria bem irritado só com a mera insinuação, por ser daqueles que só abriu mão da seleção uma única vez, e num torneio que, convenhamos, sua presença era totalmente desnecessária. Só faço a lembrança aqui para percebermos como esse tipo de questão é muito mais complexa do que ser patriota ou fugir da raia – e de como diversos fatores interferem na caminhada de um time de NBA. Do ponto de vista do torcedor brasileiro, tudo ótimo. Agora vá perguntar para os admiradores do Spurs o que eles pensam a respeito.)

Splitter não chega inteiro para o mata-mata contra Jordan

Splitter não chega inteiro para o mata-mata contra Jordan

Por mais formidável que seja o plantel de Pop e RC Buford, talvez o mais vasto da liga, que Aron Baynes tenha comprovado suas virtudes em sua melhor temporada nos Estados Unidos (joga duro demais, bom finalizador, mas um tanto robótico, nada criativo) e que Boris Diaw tenha redescoberto em março a alegria de se jogar basquete, já deu para reparar a importância do pivô na equipe, não? Com Splitter em quadra, a defesa fica bem mais sólida, aumentando a densidade demográfica no garrafão. Algo importante para enfrentar Blake Griffin e DeAndre Jordan, por exemplo. O ataque também funciona com ele, mas sua efetividade vai depender do sistema do adversário. De qualquer forma, pergunte ao seu técnico sobre sua importância. “Gostaríamos jogar com ele o máximo que pudéssemos”, disse antes de a série contra o Clippers começar. “Mas vamos ver.”

Neste domingo, no plantão corujão, pudemos ver, então, o brasileiro em ação, pela primeira vez desde o dia 3 de abril, numa vitória arrasadora contra o Denver Nuggets, quando o Spurs dava indícios de que havia novamente potencializado toda a sua fantástica química em quadra. Com uma escalação decidida apenas no domingo mais cedo, Tiago teve seu tempo controlado: jogou por exatos 9min57s de jogo, terminando com 4 pontos, 3 rebotes e 3 faltas, além de uma assistência e um roubo de bola. Foi máximo que Popovich pôde usá-lo. Afinal, ele só havia feito um treino, e com participação limitada, em 16 dias.

Baynes atuou por 20 minutos. Diaw, por 28. Tim Duncan ficou com sua tradicional meia hora de partida. Quando o veterano foi para o banco, a equipe sentiu. Ali poderia estar Splitter tentando ao menos incomodar uma figura assustadora como DeAndre Jordan – só Andre Drummond tem hoje essa combinação de altura, envergadura, impulsão e ombros largos. Jordan descansou por menos de dez minutos. Blake, por menos de seis. Estavam quase sempre em quadra, sendo muito agressivos, combinando para 35 pontos, 26 rebotes, 7 tocos e 7 assistências. Clippers 1 a 0, com 15 pontos de vantagem.

O torcedor do Spurs, porém, não é o único a se lamentar. Longe disso. Basta pegar o celular e trocar mensagens com a galera do Trail Blazers para sentir o drama. O departamento de infográfico de qualquer emissora de TV precisa estar muito atento nos jogos entre Portland e Memphis. A lista de enfermos é gigante, sempre com o risco de se adicionar mais um – ou de ter atualizar o status deles. Na série Rockets x Mavericks, teve atleta que precisou até mesmo calçar um tênis de numeração maior que a sua para devido a um inchaço no dedão.

E aí? Não há como negar que a temporada de 82 jogos causa um desgaste absurdo. Por mais que os atletas viagem em voos fretados, com acentos personalizados. Por mais que possam pagar um estafe médico e de preparação física por conta própria. Há um limite que o corpo pode aguentar. Dia desses, Rafael Uehara, que já deu sua contribuição valiosa aqui no VinteUm, destacou no Twitter uma passagem interessante no livro Soccernomics, sobre como o excesso de jogos do futebol inglês impede que a seleção do país faça boas campanhas em seus torneios. É uma declaração de Daniele Tognaccini, chefe do departamento atlético do Milan Lab, explicando o que acontece quando um jogador de futebol tem de disputar 60 partidas em um ano: ‘O nível de performance não é otimizado. O risco de lesão é muito alto. Podemos dizer que o risco de lesão em um jogo, depois de uma semana de treino, é de 10%. Se você joga a cada dois dias, o risco cresce para 30 a 40%. Se você joga quatro ou cinco partidas seguidas sem a recuperação certa, o risco de lesão é incrível. A probabilidade de você ter uma performance abaixo de sua capacidade é muito alta”.

Um gráfico que The OC Register preparou na temporada passada para mostrar todas as lesões que Kobe havia sofrido em sua carreira até então

Um gráfico que The OC Register preparou na temporada passada para mostrar todas as lesões que Kobe havia sofrido em sua carreira até então

Agora tente traduzir essa declaração para o mundo da NBA. O jogo de futebol pode ter maior duração (90 minutos x 48), mas vá falar para um ala do basquete ficar encostado na ponta direita da quadra, na sombra, esperando que seus quatro companheiros protejam a cesta do outro lado… Quer dizer: é difícil de dimensionar quais os cálculos que Tognaccini faria. O comissário Adam Silver sabe disso. Tanto que, em sua coletiva após a última reunião com os proprietários de clubes, afirmou que há uma preocupação (enfim!) séria em reduzir os famigerados back-to-back (dois jogos em duas noites consecutivas) e as semanas de quatro partidas em cinco dias.

Pensando nisso, segue a relação dos lesionados. Ou, pelo menos: dos atletas oficialmente lesionados. Aqueles que os clubes se sentem obrigados a informar. Inúmeras ocorrências não vêm a público, como Serge Ibaka nos explicaem uma entrevista bem bacana ao HoopsHype: “Veja, há muitas pessoas, torcedores e aqueles não estão dentro do time, que não sabem o que se passa. Você ouve gente falando que tal cara não está jogando bem. Mas eles não sabem o que está acontecendo. Posso dizer a você o que aconteceu comigo, por exemplo. Meu tornozelo estava doendo a temporada inteira. As costas também. Não é que eu tenha me lesionado apenas no final, que é o que todo mundo sabe. Eu machuquei meu tornozelo jogando com a seleção (espanhola, na Copa do Mundo…) durante o verão, e ele ficou ruim o tempo todo. Tive de tomar pílulas para poder jogar sem dor. Não sou só eu. Muitos dos meus companheiros passaram pelo mesmo problema”.

Também juntei aqui um ou outro caso de atletas que acusaram problemas em quadra ou em entrevistas, ainda que não tenham sido afastados. Sim, a temporada é desgastante demais, e suas consequências podem ser graves:

Atlanta Hawks
Thabo Sefolosha: o ala suíço está fora da temporada devido a uma fratura na perna causada por ação de policiais em uma casa noturna nova-iorquina – sim, essa não teve nada a ver com a quadra. A diretora executiva do sindicato dos jogadores, Michele Roberts, está em cima do caso, cheia de suspeitas. Sem o suíço, Kent Bazemore vai receber minutos importantes numa equipe de playoff pela primeira vez, com a missão de sustentar uma forte defesa no perímetro quando DeMarre Carroll for para o banco. Sefolosha era o nome ideal para a função.

Al Horford e um dedinho

Al Horford e um dedinho

Paul Millsap: jogando com uma camisa que faz compressão, além de uma proteção no ombro direito, depois de sofrer uma torção em jogo contra o Brooklyn Nets, na reta final da temporada. Mike Budenholzer ao menos respirou aliviado, por não ser algo mais grave. De qualquer modo, para um ala-pivô, não é nada legal jogar com o ombro dolorido. Pense nos movimentos que ele precisa executar em quadra.

Mike Scott: o ala perdeu 11 jogos em março devido a uma bipartição e uma torção aguda no osso sesamóide do pé direito. Não, não foi uma fratura. Voltou em abril e sentiu uma contusão nas costas, perdendo treinamentos e mais uma partida.

Al Horford: essa aconteceu na primeira partida da série contra o Nets, mesmo. Coisa de jogo, com o dedinho da mão direita virando para o lado contrário. Não houve fratura, só um deslocamento.

Boston Celtics
– A rotação vasta de Brad Stevens parece render benefícios: seus atletas simplesmente não constam no prontuário médico recente da liga.

Brooklyn Nets
Bem… Deron Williams e Joe Johnson parecem jogar machucados o tempo todo, não?

Mirza Teletovic: considerando a gravidade de sua questão médica, ao ser afastado por conta de uma embolia pulmonar, ter o bósnio de volta aos treinos é uma excelente notícia, na verdade. Mas ele ainda não está liberado para jogar. Já o ala Sergey Karasev está fora de vez, com uma lesão no joelho.

Mirza Teletovic: recuperado de embolia pulmonar

Mirza Teletovic: recuperado de embolia pulmonar

Alan Anderson: o ala-armador reserva perdeu sete partidas em abril devido a uma torção de tornozelo.

Chicago Bulls
Derrick Rose, vocês lembram, passou por mais uma cirurgia no joelho, dessa vez por causa de uma ruptura no menisco, e perdeu 20 partidas entre março e abril. Na primeira partida da série contra o Bucks, jogou demais, e era como se a torcida de Chicago vivesse um sonho. Rose pode ser uma influência para lá de positiva para a equipe. Só é preciso evitar a armadilha de pôr muita responsabilidade nas costas de um atleta que sofreu tanto nas últimas temporadas.

Kirk Hinrich sofreu uma hiperextensão no seu joelho esquerdo na última semana do calendário regular. Há quem despreze tanto o veterano (um cara ainda muito útil na defesa), que essa ausência pode ser até comemorada.

Taj Gibson sofreu um estiramento no joelho direito no primeiro duelo com o Bucks. Por sorte, Nikola Mirotic está pronto para receber mais e mais minutos, no caso de o excepcional defensor estiver abalado.

Joakim Noah, para variar, joga com uma tendinite no joelho esquerdo.

Chicago: adoração e apreensão pela dupla

Chicago: adoração e apreensão pela dupla

Cleveland Cavaliers
– Anderson Varejão
só poderá torcer por seus companheiros, em recuperação de uma cirurgia para reparar o tendão de Aquiles.

Kevin Love (principalmente) e LeBron James foram poupados de treinos e jogos durante todo o campeonato devido a dores nas costas.

Dallas Mavericks
– Chandler Parsons está com uma joelheira direita mais larga que a coxa de Karl Malone. Vem enfrentando inchaço e dores daquelas. Na primeira partida, precisou sair de quadra e ir para o vestiário para receber tratamento. O Mavs precisa de suas habilidades ofensivas, especialmente o arremesso de longa distância, para abrir a quadra para infiltrações de Rondo e Ellis.

Parsons explica a Mark Cuban como está difícil jogar contra o ex-time em Houston

Parsons explica a Mark Cuban como está difícil jogar contra o ex-time em Houston

Devin Harris: o inchaço é no dedão do pé esquerdo. Está tão inchado que o armador reserva enfrentou o Rockets no sábado usando um tênis maior na canhota, para tentar aliviar o desconforto. Sim, é verdade.

Golden State Warriors
David Lee: fora do início da série contra o Pelicans devido a um estiramento muscular nas costas. E ninguém parece nem reparar, tamanho o crescimento de Draymond Green.

Houston Rockets
– Uma ruptura nos ligamentos do pulso esquerdo tirou o armador e excelente defensor Patrick Beverley da temporada. Quem também não joga mais pela equipe nesta jornada é o ala-pivô lituano Donatas Motiejunas, devido a uma lesão nas costas. Duas peças que ganhariam bons minutos. Beverley é um dos melhores marcadores em sua posição, jogando com uma energia descomunal, enquanto Motijeunas ofereceria uma referência no jogo interior mais segura que Josh Smith e Terrence Jones, para os momentos em que Howard for para o banco.

Terrence Jones levou uma joelhada de Kenneth Faried nas costelas em duelo com o Denver Nuggets em março e teve uma perfuração no pulmão. É o mesmo ala-pivô que mal jogou em novembro e dezembro por conta de um problema nevrálgico nas pernas.

Dwight Howard parou por cerca de dois meses para tratar de uma lesão no joelho direito, embora não houvesse nenhuma lesão estrutural. Ainda não está 100%, e seus minutos são vigiados até hoje por Kevin McHale.

– O ala novato KJ McDaniels tem uma lesão no cotovelo, mas dificilmente iria jogar, mesmo.

Los Angeles Clippers
Também está no grupo dos times menos abalados no momento. Jamal Crawford, com uma lesão na panturrilha, era quem mais preocupava, mas parece devidamente recuperado. Blake Griffin também não dá sinais de que sinta algo no cotovelo

Memphis Grizzlies
– Mike Conley Jr.:
ultimamente, só se fala de sua fascite plantar no pé esquerdo, com inflamação e dores, que quase não se comenta o fato de ele também estar jogando com dores no pulso esquerdo durante quase todo o campeonato. “Não acho que vou estar nem perto de 100%, mas nunca pensei que perderia um jogo de playoffs”, afirmou, antes da estreia contra o Blazers. Beno Udrih fez uma bela temporada, mas a equipe precisa demais de seu armador titular, pela defesa e a liderança.

Tony Allen: o pitbull da equipe ficou fora das últimas dez partidas da temporada regular por conta de uma lesão na coxa. Retornou contra Portland e jogou por 25 minutos, ao menos. Está aqui o caso de um atleta que precisa estar bem fisicamente para render (pressionando os adversários de um modo sufocante, não importando a altura e o currículo deles), uma vez que sua habilidade com a bola deixa a desejar.

Marc Gasol sofreu uma torção de tornozelo na penúltima partida da temporada, mas não parece nada grave.

Milwaukee Bucks
Considerado um sério candidato ao prêmio de novato do ano, o ala Jabari Parker teve sua primeira temporada abreviada em dezembro por uma ruptura no ligamento colateral do joelho esquerdo. Khris Middleton aproveitou essa brecha, mas, para o futuro da franquia, é uma pena o atraso no desenvolvimento do número dois do Draft.

A proteção no dedinho esquerdo do Monocelha: nada muito grave, mas incomoda

A proteção no dedinho esquerdo do Monocelha: nada muito grave, mas incomoda

New Orleans Pelicans
Tyreke Evans, um cara que depende muito de seu arranque para a cesta, sofreu uma pancada no joelho esquerdo no primeiro jogo contra o Warriors e foi para o segundo duelo no sacrifício. Talvez tivesse minutos controlados, mas Jrue Holiday não retornou bem de uma reação por estresse na perna direita que o afastou por metade do campeonato.

Anthony Davis está jogando com o dedinho da mão esquerda protegido, depois de tê-lo deslocado. Aparentemente algo simples? Bem, no primeiro jogo ele estava segurando a mão sem parar, claramente desconfortável.

Portland Trail Blazers
Wesley Matthews ficou fora de combate, após uma ruptura no tendão de Aquiles. Recuperado de cirurgia, tenta dar apoio moral aos parceiros no banco de reservas. Arron Afflalo, aquele que seria seu substituto, sofreu um estiramento no ombro em jogo contra o Warriors, no dia 9 de abril. Está fazendo treinos leves e pode retornar no segundo ou no terceiro jogo da série.

LaMarcus Aldridge está jogando desde janeiro com um tendão da mão esquerda rompido. Precisa de cirurgia.

Dorell Wright sofreu uma fratura na mão esquerda no início de abril também, em derrota para o Clippers. Só poderá jogar em maio, se o time estiver em atividade até lá.

Arron Afflalo mal chegou e também se contundiu

Arron Afflalo mal chegou e também se contundiu

– Como se não bastasse, Nicolas Batum (numa temporada para se esquecer) e CJ McCollum (o jovem ala-armador que estava começando a engrenar), se contundiram em jogo contra OKC no dia 13. O problema do francês foi no joelho direito, enquanto McCollum torceu o tornozelo esquerdo.

– Sim, tem mais um: Chris Kaman, limitado por contusão nas costas. E uma temporada que se desenhava muito promissora… ficou complicada demais.

San Antonio Spurs
Tony Parker sofreu uma torção de tornozelo no primeiro jogo contra o Clippers. Teve uma campanha bem fraca para os seus padrões ao lidar com lesão e dores na coxa.

– Sobre Splitter, já falamos o bastante.

Toronto Raptors
– Kyle Lowry mal consegue parar em pé esses dias sem colocar a mão nas costas. É sempre um problema quando o jogador acusa dores ali. Inicialmente, os médicos na metrópole canadense não se mostravam preocupados. Três semanas depois, Dwane Casey já estava dizendo que ele não teria condição de jogar nem se já tivessem chegado aos playoffs. Foi afastado por nove partidas e, quando retornou, definitivamente não era mais o mesmo, acertando apenas 34,4% de seus arremessos nas últimas quatro rodadas, embora a pontaria de três pontos tenha sido elevada em relação a sua média.

Washington Wizards
Para fechar, outro time que está abaixo da média em termos de uso de medicamento. Até mesmo Nenê parece estar bem, na medida do possível.


Temporada especial: relembre grandes momentos da NBA 2014-15
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

“Foi uma temporada e tanto.”

A tendência, ao final de uma jornada de 1.230 jogos, é que sempre falemos isso, né? Pois história não falta para contar. Na hora de separar os principais acontecimentos da campanha 2014-2015 da NBA, porém, dá para perceber que realmente testemunhamos um campeonato especial. Claro que muita coisa chata aconteceu, como as lesões de Durant e Kobe, o empurrão de LeBron em David Blatt, goteira em ginásio, as paralisações constantes no final das partidas, o fundo do poço para Lakers e Knicks e mais alguma coisa. Mas vamos nos apegar a boas lembranças, vai? Então, sem mais delongas, seguem alguns momentos que devem – ou deveriam – ficar guardados na memória dos admiradores em geral da liga americana, ou, pelo menos, das torcidas envolvidas.

nba-season-2014-14-highlights

Tem espaço aí no hard drive? ; )

O Retorno
Sim, a temporada já se tornava marcante antes mesmo de seu início, com LeBron James anunciando que o bom filho a casa tornava (sim, surpreendentemente sem crase, mesmo), se desquitando de Dwyane Wade e Pat Riley. Houve romaria em Cleveland, e as lavanderias devem ter lucrado horrores com o tanto de camisa 23 resgatadas do fundo do baú, quiçá até mofadas. Para aqueles que tostaram, rasgaram ou picharam seus antigos uniformes, o jeito era abrir a carteira. Estudos e estudos foram divulgados para mostrar qual seria o impacto para a economia da cidade e de Ohio. A euforia só cresceu quando ficou claro que uma troca por Kevin Love estaria orquestrada. No fim, demorou um pouco para as coisas se acertarem, com o astro fazendo uma primeira metade de campeonato muito aquém do esperado, mas, depois de duas semanas de férias e de duas trocas certeiras, o Cavs decolou. Aqui, vale abrir espaço para dois episódios memoráveis que são consequência direta da mudança de South Beach para Akron. O Rio de Janeiro teve a sorte de sediar um jogo de pré-temporada que colocaria LBJ pela primeira vez contra seus ex-companheiros, enquanto o primeiro jogo oficial acabou reservado, claro, para a tradicional rodada natalina. Orgulhoso que só, Wade jogou demais e conduziu o Miami ao triunfo.

A carta, a volta, o rei

A carta, a volta, o rei

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

A estreia de Caboclo e Bebê
A vida é engraçada, né? Dependendo do ponto de vista e do contexto, um jogo aparentemente insignificante entre Toronto Raptors e Milwaukee Bucks, no qual o time canadense trucidou o adversário, pode se tornar especial. Para o público brasileiro, talvez tenha sido a noite de maior algazarra. A história, afinal, era muito legal – desde a seleção do ala do Pinheiros numa surpreendente 20ª posição do Draft. Havia rumores de promessa, mas ninguém imaginava escutar seu nome na primeira rodada. O movimento gerou alta expectativa, tanto dos radicais torcedores do Raptors como no público daqui. E aí que, naquela sexta-feira 21 de novembro, ele foi para a quadra pela primeira vez num jogo oficial (depois de aquecer na Liga de Verão e na pré-temporada). Duas bolas de três pontos, uma ponte aérea maluca para Caboclo, e a loucura instaurada na América-do-Norte-ao-Sul. Lucas Bebê também foi chamado para a festa. A Internet quase quebrou, de tanto frenesi. Um blogueiro varou a madrugada imaginando o diário de um adolescente. Quem viu, viu. No final, porém, essa noite acabou sendo um acontecimento isolado. O gás do Toronto Raptors acabou cedo, as lavadas minguaram, e o ala só teria algum tempo de quadra significativo na D-League, se tanto. Até que a central do zum-zum-zum da liga contou o que estava acontecendo: problemas fora de quadra, com muita imaturidade deixando o caminho para seu desenvolvimento ainda mais intrincado. Bebê ao menos ainda voltaria a jogar também pela D-League, produzindo mais. Mas, ao final da temporada de calouro, o progresso da dupla ainda é um mistério. Mas o YouTube vai ter sempre isto:

Kobe supera Jordan. Literalmente
Foi no dia 14 de dezembro, em Minnesota. Muito melhor teria sido no Staples Center. Mas, enfim. Os deuses do basquete escolheram o ginásio do Timberwolves para esse marco. Com dois lances livres, o já ancião ala-armador do Lakers desbancou Sua Alteza Michael Jordan na lista de cestinhas históricos da NBA,  assumindo o terceiro post, logo abaixo de Kareem Abdul-Jabbar e Karl Malone, com 32.293 pontos. Nada mal, hein? Diga-me com quem andas… Ao menos a torcida e a gerência do Target Center tiveram a grandeza de celebrar o ocorrido, aplaudindo uma lenda viva em quadra. Kobe terminou a partida com 26 pontos, numa vitória por 100 a 94. Foi uma aberração de numa noite em meio a uma temporada deprimente da franquia. (Ah, em mais uma campanha em que as lesões o derrotaram, Kobe também conseguiu um recorde daqueles que já não orgulha tanto: desbancou John Havliceck, o ídolo do Boston dos anos 60 e 70, para se tornar o atleta da NBA que mais desperdiçou arremessos na história. Eram, então, 13.418 chutes errados.)

(Se for para falar de registros históricos, não dá para deixar Dirk Nowitzki de fora, né? De modo bem mais discreto, como de praxe, o alemão também vem subindo a ladeira dos maiores pontuadores que a NBA já viu. Entre 11 de novembro e 5 de janeiro, o genial líder do Mavs deixou passa Hakeem Olajuwon, Elvin Hayes e Moses Malone para trás – curiosamente, três pivôs com passagem pelo Houston Rockets –, para alcançar a sétima posição na lista. Além disso, ao ultrapassar Olajuwon, Dirk se tornou o principal cestinha estrangeiro da liga, em vitória de virada sobre o Sacramento, com um característico chute de média distância. Depois, no dia 24 de março, ao apanhar seu rebote de número 10 mil, o craque inaugurou um clube só seu, tendo também mais de 25 mil ponto. 1.000 tocos e 1.000 cestas de três pontos em sua carreira. Prost!)

Klay Thompson: incendiário
Depois dessa exibição, as mensagens de texto com o seguinte dizer – ALERTA KLAY THOMPSON – ganha um outro sentido. Vai obrigar você a dar pause no Netflix, a abandonar a mesa de jantar, a levantar a coberta, seja o que for, e ligar a TV ou o computador. O que o ala do Warriors fez contra o Sacramento não existe. Ou melhor, não existia até o dia 23 de janeiro. Com as mãos flamejantes e estabelecendo uma série de recordes, deixou toda a liga em estado de choque ao marcar 37 pontos no terceiro período. É difícil de processar isso ainda hoje. Ele finalizou a partida com 52 pontos no geral. Mas um detalhe: apenas 33 minutos. Numa projeção por 48 minutos, teria feito 75. (Para eternizar o apelido de Splash Brothers, Stephen Curry também passou da marca cinquentenária ao fazer 51 contra o Dallas Mavericks menos de duas semanas depois. E os dois se amam, não há rivalidade nenhuma.)

Uncle Drew em quadra
Ou: a noite em que LeBron James teve certeza de que havia tomado a decisão certa. Foi quando Kyrie Irving torturou a defesa do San Antonio Spurs ao marcar 57 pontos naquele que foi um dos melhores jogos do campeonato. Contando o minuto final do tempo regulamentar e a prorrogação, ele marcou 20 pontos – três a mais que toda a equipe texana. O tipo de atuação que também força os jornalistas a fuçar mais uma vez nos livros de recordes e que trouxe o Uncle Drew para uma quadra de verdade. Desta forma, o armador do Cavs terminou com as duas maiores contagens do ano, depois de já ter marcado 55 pontos contra o Portland Trail Blazers, numa partida em que seu companheiro mais famoso estava apenas na plateia.

Aqui, vale gastar mais algumas linhas e segundos para lembrarmos outras atuações magníficas do ano. Entre elas, constam os 50 pontos de James Harden contra o Denver Nuggets no dia 19 de março, dos quais quase a metade vieram em lances livres. O ala-armador do Rockets converteu 22 de 25 lances livres numa partida que é emblemática – não teve fanfarra nenhuma para o Sr. Barba, uma vez que lances livres são, hã, entediantes. Mas muito eficientes, de qualquer maneira. Harden ainda faria 51 pontos em vitória sobre o Kings, com oito bolas de longa distância. Aliás: o Sacramento é uma constante aqui. Também não podemos nos esquecer dos improváveis 52 pontos de Maurice Williams contra o Indiana Pacers.

A tempestade Russell Westbrook
Sem Kevin Durant, o enfezado alienígena de OKC se viu sem amarras nesta temporada, e os críticos tiveram de aturar toda a sua exuberância atlética. Resultado: uma sequência de triple-doubles assustadora. Ao todo, Wess conseguiu 11 jogos dessa natureza, mais que o dobro do segundo colocado na lista, Harden, e mais que o triplo de Michael Carter-Williams, Evan Turner e Rajon Rondo. De 24 de fevereiro a 4 de março, foram quatro em sequência, sendo o primeiro a conseguir essa façanha desde Michael Jordan em 1989. Teve linhas como 49 pontos, 15 rebotes e 10 assistências contra o Sixers e 40 pontos, 13 rebotes e 11 assistências contra o Blazers. Em março, suas médias foram de 30,9 pontos, 10,2 assistências e 8,5 rebotes. Em abril, 32,5 pontos, 8,1 assistências e 8,0 rebotes. Ironicamente, de certo para os mesmos críticos, quando somou 54 pontos (com quase incontáveis 43 arremessos), 9 rebotes e 8 assistências contra o Pacers, o Thunder saiu derrotado, e foi esse o revés que acabou tirando o time dos playoffs.

Mascarado, com marra e muita explosão em quadra

Mascarado, com marra e muita explosão em quadra

Atlanta Hawks, o MVP do mês
Depois de tantas performances individuais destacadas, que tal abrir um espacinho, então, para um esforço coletivo admirável? A NBA teve essa grande ao eleger todo o quinteto titular do Atlanta Hawks para o prêmio de MVP do Leste no mês de janeiro. Most Valuable Players, afinal. Sim, como você vai escolher um atleta num time em que as peças se encaixam perfeitamente? Korver atrai marcadores – e, se eles não comparecem, pune essa mesma defesa na linha de três. Jeff Teague quebra a primeira linha defensiva e passa justamente para Korver. Paul Millsap e Al Horford pontuam por todo o perímetro interno, são confiáveis nos rebotes e solidários. DeMarre Carroll tem de marcar os LeBrons da vida. Com esse conjunto, o Hawks terminou janeiro com 17 vitórias em 17 partidas e se tornou primeiro time da história a concluir um mês invicto.

MVP, MVP, MVP e MVP. Cheio de MVP

MVP, MVP, MVP e MVP. Cheio de MVP

Triplas prorrogações
A terceira semana de dezembro foi a prova máxima da brutalidade do Oeste da NBA, como Gregg Popovich pode confirmar. O Spurs teve dois jogos seguidos com três prorrogações, contra Grizzlies e Blazers. Foram mais de duas horas de basquete, e os atuais são campeões saíram derrotados em ambas. O Grizzlies, na véspera da batalha com o Spurs, havia batido o Golden State Warriors, encerrando uma sequência de 16 triunfos do líder da conferência. Um verdadeiro bangue-bangue.

Cirurgia candelada
LaMarcus Aldridge era para ter aumentado a lista de baixas da temporada. No dia 22 janeiro, o Portland Trail Blazers anunciou que o pivô precisava passar por uma cirurgia na mão esquerda, devido uma ruptura de tendão. A operação o tiraria de quadra por seis a oito semanas. Numa conferência tão competitiva, isso poderia significar uma derrocada para a equipe – sem menosprezar o talento de Damian Lillard, claro. Pois, 48 horas depois, Aldridge surpreenderia a torcida e a liga ao anunciar que ignoraria as recomendações médicas e seguiria em quadra. No mesmo dia, marcou 26 pontos e pegou 9 rebotes em vitória sobre o Washington Wizards. Nos dois jogos seguintes, somou 75 pontos e 22 rebotes. Demais. Wes Matthews, porém, não teve a mesma sorte. Não dá para ignorar uma cirurgia por conta de uma ruptura no tendão de Aquiles. Depois da cirurgia, porém, o aguerrido ala também mostrou como a química em Portland é algo especial: já com alta hospitalar, viu o time vencer o Houston Rockets fardado em casa:

wes-matthews-portland-surgery-rip-city-chemistry-uniform

Vida em trânsito
O último dia para a realização de trocas na temporada foi uma verdadeira loucura, com um recorde de 39 jogadores e 17 times envolvidos, num total de 12 negociações.  Foi, na verdade, uma temporada com muitas mudanças.  Muita gente se antecipou e foi às compras mais cedo. Como o Dallas Mavericks, que acertou uma troca inesperada por Rajon Rondo em dezembro. O Boston Celtics, aliás, agitou geral, despachando sete atletas durante toda a campanha – o que só enaltece o papel do técnico Brad Stevens ao levar essa metamorfose ambulante aos playoffs. A negociação precoce de Rondo gerou um momento bacana também. Apenas duas semanas depois do negócio, Rondo retornou a Boston e recebeu bela homenagem no telão do Garden. Daqueles atletas de coração aparentemente pétreo, Rondo quase chorou. Quaaase:

A serventia da casa
Já Stan Van Gundy não teve paciência para esperar a data final de trocas, numa possível tentativa de encontrar um novo lar para Josh Smith. De forma abrupta, o técnico (e presidente) do Detroit Pistons decidiu demitir o talentoso, mas inconstante ala-pivô. Smith simplesmente não conseguiu se encaixar na rotação com Andre Drummond e Greg Monroe. Chegava a enervar o novo comandante e os torcedores com sua predisposição ao chute de três, sem pontaria alguma, e as diversas partidas com a cabeça nas nuvens. Em vez de procurar interessados, SVG usou sua autonomia total no clube e simplesmente comunicou a Smith que ele estava fora. Na rua, mesmo, causando espanto geral. O ala vai receber o seu salário na íntegra, mesmo prestando serviços para outro clube. De qualquer forma, com o movimento, o Pistons abriu espaço em sua folha salarial na próxima temporada, por ter, digamos, parcelado os vencimentos de Smith. A ver se a moda pega… (O Houston Rockets gostou e o contratou rapidamente. No Texas, tem rendido um pouco mais, sem dar trabalho nenhum dentro e fora de quadra.)

A saideira
Um campeonato desses só poderia terminar com uma noite eletrizante, com muita coisa em aberto. E Anthony Davis enfim conseguiu centralizar as manchetes ao liderar o New Orleans Pelicans a uma grande vitória sobre o San Antonio Spurs para assegurar sua estreia nos playoffs, tirando Westbrook do páreo. Com 31 pontos, 13 rebotes, 3 tocos, 2 assistências e 2 roubos de bola, ainda complicou a vida dos atuais campeões. A comemoração em N’awlins foi como a de um título. Mais que merecida: não só a temporada do jovem ala-pivô pedia mais atenção, como sua diretoria acabou premiada, depois de ver tantas transações questionadas surtirem efeito. Além disso, a classificação do Pelicans deixou a Divisão Sudoeste 100% nos mata-matas. Todos os seus cinco integrantes chegaram lá, sendo apenas a terceira vez na história que isso acontece e a primeira em nove anos. Com uma diferença: foi a primeira vez que todo o quinteto teve aproveitamento superior a 50% na temporada.

Faltou algo? Alguma memória particular?


Pelicans bate Spurs, vai aos playoffs e garante visibilidade a Davis
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

davis-playoffs-pelicans-monty

Um primeiro momento marcante para Anthony Davis

O torcedor do Oklahoma City Thunder não vai gostar da frase. Mas paciência: Anthony Davis fez justiça ao liderar o New Orleans Pelicans em uma grande vitória sobre o San Antonio Spurs, por 108 a 103, nesta quarta-feira. Uma vitória que o classifica pela primeira vez aos playoffs.

Antes que Russell Westbrook se irrite, explico: “justiça” aqui tem muito mais a ver com a atenção que o inestimável Monocelha vai receber do fã casual da NBA do que qualquer falta de merecimento dos rapazes de OKC. Ele pode ter sido eleito titular no All-Star Game em votação popular. Mas, estranhamente, não entrou na discussão pelo prêmio de MVP, por exemplo. É como se não contassem o prodígio do Pelicans entre os grandes ainda – somente para a festa. Na marra, ele se insere nesse grupo.

Wess e sua turma batalharam e fizeram sua parte na saideira da temporada, ao esmigalhar a garotada de Minnesota (138 a 111). Numa campanha acidentada, sem Durant e Ibaka, o controverso astro do Thunder também poderia receber uma vaguinha nos mata-matas como recompensa. Mas o alto nível da Conferência Oeste deixa vítimas pelo caminho. Na temporada passada, foi Goran Dragic. Agora… poderia ter sido Davis. Para alívio do gerente geral do Pelicans, Dell Demps, não foi o que aconteceu.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

O cartola tinha em mãos o atleta mais promissor a dar as caras na liga em muito tempo. Em vez de optar por uma construção lenta, gradual e segura, aos moldes do Thunder com Durant, acelerou a formatação de seu elenco ao buscar ‘jovens veteranos’ como Tyreke Evans, Jrue Holiday e Ryan Anderson. Por trás disso, havia uma urgência do proprietário do clube, Tom Benson, de 87 anos.

Para tanto, gastou escolhas de Draft sem pestanejar. A última delas serviu para tirar Omer Asik de Houston. No papel, tinha um bom time, competitivo – mas nada era garantido nessa brutal conferência. De qualquer forma, o Pelicans estava bem posicionado para o caso de a sorte ajudar um pouco. E aí vieram as lesões em OKC e os problemas de vestiário em Phoenix.

A exuberância atlética de Davis. Agora, nos playoffs

A exuberância atlética de Davis. Agora, nos playoffs

Ainda assim, por semanas e semanas, todo mundo se perguntava se a oitava posição ficaria entre Suns e Thunder. Era como se o basquete praticado em New Orleans fosse irrelevante – não era o caso. Um pecado: estavam ignorando uma campanha assustadora de Anthony Davis, o jogador mais eficiente da temporada. Que acabou de completar 22 anos em março. É mais jovem que Lucas Bebê e Jonas Valanciunas.

Então cá está o Monocelha, pronto para receber toda a atenção que o confronto com os darlings do Golden State Warriors vai propiciar. Um garoto, apenas, mas que já teve uma das temporadas estatísticas mais impressionantes da história. E que botou em prática esses talentos múltiplos contra o Spurs, saindo de quadra com 31 pontos, 13 rebotes, 2 assistências, 2 roubos de bola e 3 tocos, em 43 minutos. Tudo nos conformes: durante o campeonato, passou da marca de 30 pontos em 14 partidas; deu três ou mais tocos em 25 rodadas; pegou mais de 10 rebotes 38 vezes. Etc. Difícil entender como um jogador desse potencial e já com esse nível de produtividade pode ser, de certa maneira, ignorado.

Contra o Spurs, aproveitando da energia de sua torcida, sua equipe abriu 34 a 19 logo no primeiro quarto. Chegou a abrir 23 no segundo período e a liderar por 18 no terceiro. A artilharia pesada dos texanos, porém, deu um pouco de emoção ao duelo no período final, quando a vantagem despencou para quatro pontos (86 a 82). Os jovens anfitriões, contudo, resistiram, liderados pelo Davis, dos dois lados da quadra. Depois dessa, de certo não passarão mais despercebidos.

*   *   *

A derrota custou caro ao Spurs. Combinada com as vitórias do Houston Rockets e do Memphis Grizzlies, acabou empurrando os atuais campeões da segunda para a sexta posição no Oeste. No que isso vai dar? Um confronto com o potentíssimo ataque do Los Angeles Clippers. Não que Gregg Popovich, Tim Duncan, Ginóbili, Parker se intimidem com isso. Mas é claramente, hoje, um adversário mais forte, com todas as suas principais peças em quadra. O Rockets ficou com a vice-liderança e terá pela frente o Dallas Mavericks, para delírio daqueles que vibram com a rivalidade Mark Cuban-Daryl Morey, enquanto o Grizzlies subiu para quarto, para encarar o desfalcado Portland Trail Blazers.  Os playoffs ficaram assim:

1º Warriors x 8º Pelicans
4º Trail Blazers x 5º Grizzlies
2º Rockets x 7º Mavericks
3º Clippers x 6º Spurs

(Lembrando sempre que o Grizzlies, com melhores resultados, tem mando de quadra contra Portland.)

*   *   *

No Leste, o Brooklyn Nets deu um jeito de evitar um vexame total. Com a folha salarial mais custosa da liga, a equipe nova-iorquina venceu o Orlando Magic, viu o Indiana Pacers perder para o Memphis e garantiu a oitava e última vaga. O Chicago Bulls venceu o Atlanta Hawks – num duelo em que até mesmo Tom Thibodeau preservou seus atletas – e terminou em terceiro, na chave do Cavs.

Estamos assim, então:

1º Hawks x 8º Nets
4º Raptors x 5º Wizards
2º Cavs x 7º Celtics
3º Bulls x 6º Bucks

Apagadíssimo no início da temporada, o croata Bogdan Bogdanovic foi o grande nome da vitória derradeira dos Nyets, sobre o Orlando Magic (101 a 88), marcando 28 pontos em 34 minutos, tendo desperdiçado apenas cinco de 17 arremessos. Demora, mas os astros europeus se adaptam.

Já o Pacers fica pelo caminho devido a uma derrota para Memphis, por desvantagem no confronto direto com Brooklyn. A equipe de Frank Vogel é a versão do Thunder em sua conferência. Mútliplas lesões, inclusive envolvendo seu principal nome. Batalharam, dependiam apenas de seus próprios esforços nesta quarta, mas simplesmente não tinham armas para derrubar a fortaleza que é a defesa do Grizzlies com Marc Gasol em boa forma (95 a 83).

*   *   *

Não havia como escapar da insanidade. Coisas estranhas, beeem estranhas sempre acontecem na jornada de conclusão da temporada. De modo que Ron Artest certamente madrugou na Itália para conferir os descobramentos pela TV – ou, mais provável, pela grande rede, via League Pass.  Conhecendo o apreço que ala do Cantu tem pelas coisas malucas da vida, deve ter se divertido horrores assistindo a Philadelphia 76ers x Miami Heat. Um jogo bizarro pela natureza dos negócios da NBA, daqueles que ninguém tinha muitos incentivos para ganhar.

Michael Beasley brilha na hora... Errada?

Michael Beasley brilha na hora… Errada?

O Sixers, conforme os deuses do basquete já testemunham há anos agora, não anda tão interessado em obter vitórias imediatas. Contra o Heat, porém, o buraco era mais fundo: dependendo da loteria do Draft, a escolha de primeira rodada do clube da Flórida pode ser encaminhada para a Filadélvia (via Cavs). Para obter esse pick, precisam que ele não fique entre os dez primeiros lugares.

Daí que o time da Flórida entrou em quadra para fechar sua temporada tendo justamente a décima pior campanha da liga. Caso vencesse e o Brooklyn Nets perdesse para o Orlando Magic, os dois ficariam empatados na classificação geral. E aí a ordem seria definida na famosa moedinha. Melhor não depender disso, né? Erik Spoelstra decidiu, então, acionar apenas seis jogadores na partida. Mais: o único reserva a participar foi o veterano Udonis Haslem, por sete minutinhos, rendendo Zoran Dragic, o irmão caçula do Goran. (Para constar: Brett Brown jogou com sete caras, mas os dois reservas, Thomas Robinson e Hollis Thompson, tiveram 26 e 31 minutos.)

De resto, Michael Beasley, Henry Walker, Tyler Johnson e James Ennis jogaram todos os 48 minutos. Ainda assim, esses renegados tiveram perna para segurar uma reação dos adversários no segundo tempo, depois de terem vencido a primeira etapa por 18 pontos. Placar final:105 a 101. Beasley quase pôs tudo a perder, aliás, somando 34 pontos, 11 rebotes, 8 assistências, 2 tocos e 2 roubos de bola, com direito a 27 arremessos de quadra. Spo e Riley devem ter soluçado: “Mas é isso é hora de mostrar serviço?!”

Mas deu tudo, hã, certo. O Brooklyn venceu o Orlando e ainda entrou na zona dos playoffs, caindo para 15º no Draft. O Indiana ficou em 11º, com duas vitórias a mais que Agora… Não quer dizer que a escolha esteja garantida para Miami. Se, por um milagre (para uns) ou uma desgraça (para outros), algum dos times situados entre os 11º e o 14º lugares saltarem para o Top 3 no sorteio, Sam Hinkie vai receber mais um presentinho.