Vinte Um

Arquivo : Spurs

A NBA em números: Scott Machado, Kobe, Calderón e um pouco mais para entender a liga
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Giancarlo Giampietro

Abrimos o ano do Vinte Um com um apanhado de números que repassa algumas histórias que vão correndo pela NBA:

Daequan Cook, na fila do desemprego

Daequan Cook foi mais um jogador chutado para fora de Houston enquanto Scott fica por lá

– US$ 8,8 milhões foi a quantia que o Houston Rockets já gastou em salários de jogadores que nada ou mal aproveitou neste campeonato e foram chutados para fora, enquanto o armador Scott Machado segue no elenco, apesar de seu contrato não-garantido. Isto é, apesar da longa estadia na D-League ou no banco de reservas de Kevin McHale, os U$ 3 milhões consumidos pelo último dispensado, o ala Daequan Cook – que deu lugar ao ex-Spur James Anderson, com apenas dois meses de temporada –, são mais três milhões de razões que sinalizariam a confiança do clube no brasileiro nova-iorquino. Atualização: a imprensa em Houston dá como certo o interesse do time no ala-armador Patrick Beverley, um jogador muito atlético que deixou cedo o basquete universitário sem emplacar na NBA e, desde então, se fixou como uma promessa na Europa. Ainda não está claro quem seria cortado para que ele ser contratado…

7.964 pontos separam Kobe Bryant de Kareem Abdul-Jabbar pelo topo da tabela de cestinhas históricos da temporada regular da NBA. Sua média de pontos hoje é de 30,3. Caso ele não perca nenhum jogo até o fim da temporada regular e sustente este ritmo, terá diminuído essa contagem para 6.419. Para bater, então, a marca do ator de Lew Alcindor, digamos, nos próximos quatro anos, o ala do Lakers teria de sustentar uma média de 19,6 pontos, contando que jogasse as 82 partidas sempre. Neste campeonato ele já superaria, de todo modo, o mítico Wilt Chamberlain como o quarto maior pontuador da liga.

34% é o quanto o Golden State Warriors, no momento, vem melhorando seu aproveitamento em comparação ao ano passado, sendo a equipe que mais subiu de produção. A franquia californiana realmente é a grande surpresa do campeonato, e a surra que eles deram no Los Angeles Clippers veio para comprovar isso. Num milagre do basquete, o técnico Mark Jackson, assistido por Brendan Malone, conseguiu colocar o Warriors entre as dez defesas mais eficientes da liga, em nono, acima do Oklahoma City Thunder.

David Lee: uma enterrada para Blake Griffin assistir

David Lee e o Warriors são a grande surpresa da temporada e um dos times acima dos 50% de aproveitamento numa liga equilibradíssima. Já vamos falar mais dos caras

20 clubes têm mais vitórias do que derrotas ou flertam com um aproveitamento de 50%, num dos campeonatos mais equilibrados em muito tempo. Apenas Wizards, Cavs, Hornets, Hornets, Pistons, Suns, Magic, Raptors, Kings e Mavs por enquanto estão distantes de um retrospecto respeitável, situados na casa dos 30% de aproveitamento. O Leste agora contribui mais para essa maior competitividade, com sete clubes vencendo mais do que perdendo e seis com saldo positivo de cestas – pode parecer pouco, mas, levando em conta o que vimos da conferência nos últimos anos, é um baita avanço.

– Se o Oklahoma City Thunder tem a melhor campanha, com 77,4% de aproveitamento, 9,0 é o saldo de pontos do Spurs, o melhor da temporada, seguido de perto pelos 8,4 de Clippers e do próprio Thunder. Quanto maior esse número, maiores as chances da equipe no campeonato, segundo as estatísticas indicam. Para constar, o Bobcats é quem mais tomou sacoladas até aqui, com saldo negativo de 8,4, pior mesmo que o do lanterninha Wizards (-7,9). Ainda assim, a temporada da franquia de Michael Jordan só pode ser considerada um sucesso até agora, com oito vitórias. Oito! Boa!

0. Zero mesmo: o Toronto Raptors aniquilou o Portland Trail Blazers nesta quarta-feira sem contar com nenhum ponto de seus dois excelentes principais armadores, o Zé Calderón e o Kyle “Pittbull” Lowry. Eles jogaram por 45 minutos e tentaram apenas três arremessos de quadra, sendo dois para Lowry em 22 minutos e um para o espanhol em 23. Incrível. E quer saber mais? Juntos, eles somaram 22 assistências das 34 da equipe. Foram também 34 assistências para 41 cestas de quadra. Para comparar: o terceiro armador dos canadenses, John Lucas, completou os 48 minutos da rotação  e não perdeu tempo: meteu logo três pontos em seus três minutinhos de quadra.Sensacional. O técnico Dwane Casey deve ser um homem feliz nesta quinta. Depois de um início de campanha claudicante, o Raptors vem crescendo e pode entrar na briga por uma vaga nos playoffs daqui a pouco.

José Calderón x Kyle Lowry

Calderón e Lowry, nossos heróis altruístas da noite


Por um 2013 melhor para a turma brasileira da NBA
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Giancarlo Giampietro

Varejão, Leandrinho e Splitter

Vamos tirar logo isso da frente: eles ganham um belo salário, bem acima da média do esportista tupiniquim, jogam em alguns dos melhores ginásios, cercados de mimos incontáveis, com estafes gigantescos à disposição. Conforme o próprio Nenê disse a seus jovens descabeçados companheiros, eles ocupam algumas das vagas mais cobiçadas no esporte e certamente as mais desejadas do basquete. É só saber aproveitar.

Agora, segundo um dos dogmas expostos na lousa central de diretrizes do QG 21, “dinheiro e luxo não compram ou valem toda a felicidade do mundo”. Mesmo você, leitor mais cínico, precisa abrir o coração nesta época festiva, de cordialidades, resoluções e expiação de culpa, e dar uma colher de chá para os caras.

Vejamos:

Anderson Varejão (Cleveland Cavaliers)
Individualmente, nunca houve uma temporada melhor para o capixaba do que a que ele vive neste ano. Na verdade, é provavelmente a melhor campanha de um brasileiro na história da liga. Com recordes de pontos, rebotes, assistências, roubadas de bola e lances livres, o pivô virou uma unanimidade para os jornalistas de lá, embasbacados com seus números. Pena que nada disso sirva para fazer do Cleveland Cavaliers um time decente. A equipe de Byron Scott (até quando, aliás?) tem um aproveitamento até mesmo pior que o do Charlotte Bobcats, gente. Difícil de aturar isso. De que vale tanto esforço se o resultado, no fim, é invariavelmente uma derrota? Quem sabe, então, se não aparece um time vitorioso interessado em sua cabeleira, que enxergue seu basquete aguerrido como uma grande cartada para se brigar pelo título em maio e junho? Alô, Brooklyn Nets, Atlanta Hawks, San Antonio Spurs, Oklahoma City Thunder e afins.

– Nenê (Washington Wizards)
É uma situação bem mais deprimente do que a de Varejão. Ao menos seu compatriota pode se consolar com a presença de Kyrie Irving ao seu lado e dos promissores Thompson, Waiters e Zeller. Há uma base evidente ali para se construir um bom time. Em Washington, porém, a perspectiva é de terra desolada. Um clube ainda sem comando algum, tático ou gerencial, numa prova clara de que JaVale McGee e Andray Blatche não eram exatamente a causa de todos os seus problemas. E aí temos um jogador que vem se arrebentando em quadra, pisando em uma perna só, aguentando sabe-se lá como 26 minutos por  partida, a serviço da pior equipe da liga. Em Denver, o são-carlense ouviu muitas críticas de que não fazia jus ao seu salário, de que qualquer resfriado era o suficiente para lhe afastar. Na capital norte-americana, o discurso é justamente o contrário. Ainda assim, talvez não seja o suficiente para convencer alguma franquia a investir em seu pesado contrato.

– Leandrinho e Fabrício Melo (Boston Celtics)
O ligeirinho anunciou que está retornando a Boston, depois de passar pelo Brasil para resolver problemas particulares. Esperemos, desde já, que não seja nada de mais grave, com repercussão para os próximos meses, e que ele possa, agora, se concentrar em sua profissão. Porque, a partir de janeiro as coisas ficam ainda mais complicadas para o ala-armador, com o retorno de Avery Bradley. Havíamos escrito aqui desde o momento em que assinou com a franquia mais vitoriosa da liga: não parecia uma situação propícia para ele dar sequência a sua carreira. Muitos fatores conspiravam contra isso, entre eles as contratações de Jason Terry e Courtney Lee muito antes da sua, com vínculos de longo prazo. Isto é, esses caras seriam a prioridade para Danny Ainge & cia. De modo que o brasileiro precisaria jogar demais para assegurar seu espaço.

E como estamos até agora? Em termos de produção estatística, com menos tempo de quadra, Leandro apresenta números mais eficientes do que os de Terry e Lee – mas talvez não o suficiente para lhe valer uma vaga cativa na equipe. Além disso, sabemos bem que a defesa nunca foi um forte do paulistano. É algo que deve explicar sua ação reduzida nas últimas rodadas. Por outro lado, o Celtics não melhorou em nada desde que Doc Rivers optou por reduzir sua carga de minutos (perdendo dez partidas em 19 disputadas).

Com a volta de Bradley, um exímio marcador – um dos melhores de toda a liga, não importando sua pouca idade –, esse quebra-cabeça fica ainda mais intrigante. Dá para pensar em dois desdobramentos completamente diferentes: 1) Barbosa será completamente enterrado no banco de reservas; 2) Bradley dá uma segurança maior ao treinador na retaguarda e acaba liberando alguns minutos de Terry ou Lee para o brasileiro. Talvez essas duas alternativas hipotéticas nem importem. Talvez o melhor, mesmo, seja encontrar um meio de se transferir para o Lakers e se reunir com Nash e D’Antoni num time que precisa, e muito, de um arremessador extra.

Sobre Fabrício? Bem, não mudou muito desde sua seleção no Draft: continua como um projeto do Celtics, que vai se desenvolver aos poucos na D-League, mas que ainda está longe de ser visto como uma solução imediata para o garrafão. Vide a chegada do atlético Jarvis Varnado, um cara draftado pelo Heat, mas que nunca foi aproveitado na Flórida e nem pertencia ao clube afiliado de Boston, mas que foi contratado como uma esperança de fortalecimento de sua combalida rotação.

– Tiago Splitter (San Antonio Spurs)
Opa! Seu pedido é uma ordem. O catarinense hoje aparece como o terceiro pivô mais utilizado por Popovich em sua rotação, com dez minutos a menos do que Duncan e três abaixo de Diaw. Um pequeno, mas bem-vindo avanço para o jogador que tem o terceiro melhor índice de eficiência do clube, superior até mesmo ao de Manu Ginóbili. A ironia é que a promoção ao time titular significa menos oportunidades ofensivas para o pivô, uma vez que ele agora passa mais tempo de quadra ao lado de Duncan e Parker. E mais: a promoção também não significou mais minutos: hoje ele tem 20,2 por partida, contra 19 da temporada passada. A expectativa é a de que essa quantia suba um pouco no decorrer dos próximos dois terços de campeonato e que Splitter possa chegar aos mata-matas em grande forma, pronto para ajudar os texanos e, ao mesmo tempo, subir sua cotação para o próximo mercado.

– Scott Machado (Houston Rockets)
Discutimos aqui.


‘Família Popovich’ mantém caminho consistente de vitórias em San Antonio
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Giancarlo Giampietro

Família Popovich

Parker e Duncan já não aguentam mais Gregg Popovich

Todos os clichês, mandamentos, regrinhas recomendáveis sobre “continuidade” na gestão esportiva são confirmados pelo San Antonio Spurs na NBA. Com eles, não há como negar que não funcione.

O sucesso é tão duradouro que por vezes podemos perder a referência do nível de excelência que eles atingiram nas última década, e algo que dura até hoje. Desde o momento em que reuniu o armador Tony Parker, o ala Manu Ginóbili, o pivô Tim Duncan e o técnico Gregg Popovich no mesmo ginásio, em 2002-2003, o clube não teve uma campanha sequer em que não tenha vencido no mínimo 50 partidas – ou 61% de seus jogos. Isso valeu até mesmo para o último campeonato. Aquele, oras, encurtado pelo lo(u)caute e que teve apenas 66 rodadas no total.

Por curiosidade: o melhor ano aconteceu em 2005-2006, com 63 vitórias e rendimento de 76,8%, mas não valeu um título: a equipe perdeu o clássico texano contra o Dallas Mavericks, que acabaria derrotado pelo Miami Heat e a arbitragem da NBA nas finais. Os anéis de campeão neste período acabaram sendo conquistados em 2003 (primeira temporada de Ginóbili), 2005 e 2007.

O elenco, naturalmente, passou por pequenas reformulações durante esta jornada, mas o núcleo duro está lá para dar consistência, para estabelecer uma rotina que poderia entendiar meio mundo, mas que empurra seus componentes na formação de um timaço.  “É incrível”, afirma Parker. “Pois, muitas vezes, quando se fica por cinco ou dez anos, as pessoas tendem a ficar irritadas ou se cansam de ouvir por tanto tempo. É algo especial o que acontece aqui com o Spurs. Você pode pegar qualquer esporte, e não acho que vá ver uma situação dessas em que os mesmos três jogadores e o mesmo técnico tenham passado tantos anos juntos. É uma relação realmente muito especial a que eu, Manu e Timmy temos com Pop.”

 Envolvido em rumores de trocas nos últimos anos, Parker admite, contudo, que há, sim, os momentos em que se tem vontade de atirar tudo para o alto, especialmente quando as críticas de Popovich nos treinos são mais pesadas. “Todo mundo tem um ego, então machuca algumas vezes, mas você precisa lembrar, então, que ele faz isso para o bem do time”, conta o francês.

O técnico, por sua vez, afirma que não é nem mais ouvido por suas estrelas. Especialmente Duncan, com quem trabalha desde… 1997! “Ele nem conversa muito mais comigo. Estamos casados há tempo tempo que nós…”, disse Pop, parando a frase por conta própria para não se comprometer, né? Questões íntimas ficam entre quatro paredes, por favor.

“Metade das coisas que eu falo ele não ouve. A outra metade ele bloqueia se for para ouvir… Porque ele acha que é bobagem. Manu está chegando a esse estágio, Tony também está perto disso… É hora de ir embora!”, completou o comandante, sorrindo.

Depois de obter a melhor campanha da temporada passada, o Spurs segue nadando de braçada em meio ao pelotão de frente neste início de campanha. Nesse ritmo, a família Popovich, na verdade, não vai para lugar algum.


Imortais e sem badalação, Spurs ainda estão na briga pelo título da NBA
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Giancarlo Giampietro

Tony Parker e os velhinhos vibram

Por Rafael Uehara*

Dos gigantes do Oeste, talvez apenas o Memphis Grizzlies tenha recebido menos atenção que o San Antonio Spurs no começo da temporada. Os Lakers fizeram as duas maiores aquisições da janela de verão em Steve Nash e Dwight Howard, o Thunder, além de retornar de uma aparição nas Finais, trocou James Harden a três dias do início da campanha, os Clippers fortificaram a parte de baixo do elenco e muita gente confiava nos Nuggets e nos Timberwolves para fazerem barulho.

Enquanto isso, San Antonio reteve todo o time que dominou a liga na temporada passada, vencendo 20 de suas últimas 24 partidas, o único problema sendo que as quatro derrotas vieram em seguida nas mãos do muito mais jovem e superatlético Oklahoma City nas finais da conferência.  Mas, badalados ou não, os imortais Spurs continuam na briga pelo título visto que o time que ganhou 60 de seus 80 jogos em 2011-2012 atualmente lidera a liga em vitórias, com 18 em 22 jogos, postando o segundo melhor saldo de pontos (indicativo de dominância), tendo jogado contra a quinta tabela mais difícil até o momento, de acordo com Jeff Sagarin do jornal americano USA Today.

Através de seu calibrado ataque, focado na habilidade de criação de Tony Parker no pick-and-roll depois de anos e anos centralizado no fundamentalismo de Tim Duncan no garrafão e na magia de Manu Ginóbili no perímetro, San Antonio tem se tornado um rolo compressor. Muitos poucos têm um Thabo Sefalosha para atormentar Parker. E, quando o francês tem liberdade para atuar,  os Spurs permanecem uma força a ser reconhecida. O time é o quarto classificado em pontos por posse, de acordo com o site MySynergySports.com.

Além da criatividade de Parker, a eficiência desse ataque se dá a constante procura pelo melhor chute através de intensa movimentação de bola – San Antonio lidera a liga em assistências (postando 25,5 em média), e pontaria certaria dos arremessos no perímetro – os Spurs têm acertado o quinto maior número de arremessos de três pontos, em grande maioria graças aos 40,2% de aproveitamento que Danny Green tem em arremessos de fora do arco.

Ah, e Duncan ainda tem papel importantíssimo no desempenho da equipe. Para os que se preparavam para uma possível aposentadoria do astro nas férias, os Spurs tiveram uma agradável surpresa ao ver o futuro membro do Hall da Fama rejuvenescido. De fato, o jornalista Eric Koreen, que cobre o Toronto Raptors para o jornal canadense National Post, constatou que os números padronizados de Duncan este ano são iguais, mas iguais mesmo àqueles que ele postou em sua campanha como MVP 11 anos atrás.

Talvez mais surpreendente seja o impacto que Duncan tem tido na defesa do time. Geralmente quanto mais velho o jogador vai ficando, mais porte físico perde e menos consegue contribuir na defesa. Mas Duncan, em seus 36 pontos de idade, faz o time tomar cerca de seis pontos por 100 posses a menos na defesa quando em quadra, de acordo com NBA.com/advancedstats. De acordo com o portal MySynergySports.com, Duncan tem permitido a oitava menor quantia de pontos marcando o pick-and-roll. E, liderados por Duncan, San Antonio recuperou o pedigree defensivo pelo qual o time de Gregg Popovich ficou conhecido ao ganhar seus quatro títulos, mas que havia perdido na temporada passada. Os Spurs têm atualmente a quinta melhor defesa em pontos por posse.

Desde o começo da temporada passada, San Antonio venceu 78 de seus últimos 102 jogos. Este elenco está em uma sequencia fantástica e que deveria ser mais celebrada. Enquanto o foco continua nos problemas que os Lakers encontram ou no começo de temporada surpreendente dos Knicks, os Spurs continuam fazendo o que fazem de melhor; ganhar. E continuam vivíssimos na briga pelo título.

*Editor do blog “The Basketball Post” e convidado do Vinte Um para este mês. Você pode encontrá-lo no Twitter aqui: @rafael_uehara.

PS: Durante dezembro, por motivos de ordem profissional (embora a gente goste mesmo é de férias, o Vinte Um vai ser atualizado num ritmo um pouco mais devagar. Voltamos no final do mês com tudo.


Ainda sem vencer, Wizards só pode lamentar troca por veteranos pouco produtivos e caros
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Giancarlo Giampietro

Na página dois – a primeira fica reservada a introduções e amenidades – do manual básico de como se negocia hoje em dia uma troca na NBA, você, caso tenha acesso ao livreto, vai provavelmente se deparar com alguns destes itens:

– “evite contratar um jogador ruim, em decadência na carreira, para não frustrar seus torcedores. O básico, buddy, o básico”;

– “se for para pegar jogador(es) ruin(s), melhor que seja no último ano de contrato, para não ocupar seu teto salarial com tranqueiras”;

– “se for para pegar um jogador com múltiplos anos de contrato pela frente, melhor que ele seja claramente produtivo, que seja titular”;

– “se for para pegar jogador(es) ruin(s) com múltiplos anos de contrato, que seu time seja recompensado, então, com uma boa escolha de Draft (top 5 de preferência) e que você se livre também de pelo menos um de seus contratos indesejados”.

(Acreditem.)

(Tudo certo, né?)

Pois bem.

Emeka Okafor e Trevor Ariza

Okafor e Ariza já tinham feito quase nada pelo Hornets. Mas o Wizards viu aí uma oportunidade

Ao fechar a primeira troca visando a atual temporada, Ernie Grunfeld, gerente geral do Washington Wizards, conseguiu descumprir os quatro tópicos acima e qualquer outro que preze pelo bom senso, quando recebeu Trevor Ariza e Emeka Okafor e mandou Rashard Lewis embora para o New Orleans Hornets.

O Wizards é o único time da liga que ainda não venceu nesta temporada, com 11 derrotas seguidas, e essa transação ajuda a explicar muita coisa nessa situação – além dos problemas físicos de John Wall e Nenê, claro.

Não que a perda de Lewis fosse irrecuperável. O ala mais deu trabalho para o departamento médico do clube desde que foi envolvido em negociação por Gilbert Arenas do que foi útil em quadra. Mas era menos caro: seu contrato era apenas parcialmente garantido e, assim que chegou em Nova Orleans, entrou em acordo com a franquia e foi dispensado, recebendo US$ 13 milhões sem jogar. Ao menos o gerente geral Dell Demps, cria de RC Buford no Spurs, se livrava de um estorvo. E, com liberdade para investir, viu seu time fechar com Ryan Anderson e Robin Lopez, dois jogadores muito mais jovens e efetivos.

Ariza tem US$ 15 milhões por mais dois anos. Okafor com mais dois anos também e US$ 28 milhões garantidos. Impedindo que o clube fique abaixo do teto salarial para tentar contratar um agente livre, ou mais, no próximo ano. Tanto sacrifício para dois atletas que, juntos, têm médias de 15,8 pontos, 11,6 rebotes, 2,8 assistências, 2,55 roubos, 2,37 tocos. Juntos, ok? Nenhum dos dois está chutando acima de 45% nos arremessos, nem mesmo o pivô Okafor, com 40% – Ariza tem horripilante 32%.

Ernie Grunfeld

O invencível Ernie Grunfeld segue no comando

Jogando desta maneira, não são os dois veteranos que levariam o Wizards a uma disputa por vaga no playoff. E nem são os dois que poderiam salvar o time no caso de, tipo, John Wall não poder jogar ou de a fascite plantar de Nenê não se curar.

E aqui fica registrado: não que a presença dos dois craques da equipe pudesse fazer diferença. O forte do armador e do pivô não é o arremesso. Nem o de Ariza e Okafor. Difícil de imaginar como esse quarteto se encaixaria.

Mas mais difícil ainda é entender como Grunfeld conseguiu convencer Ted Leonsis a renovar seu contrato em abril deste ano. Coisa de louco. Ele certamente infringiu diversos códigos  do manual elaborado para os donos de franquias.

*  *  *

No início da década passada, Grunfeld teve o mérito de limpar a bagunça que Michael Jordan fez na direção do clube e construiu um time empolgante com Gilbert Arenas, Caron Butler e Antawn Jamison e alguns bons operários como DeShawn Stevenson, Brendan Haywood. Essa formação foi para os playoffs por quatro temporadas seguidas, de 2005 a 2008. Perdeu por três vezes na primeira rodada, ok. Mas era alguma coisa pelo menos.  Desde a pirada de Arenas e suas graves lesões, porém, a equipe foi ladeira abaixo, com 88 vitórias e atordoantes 224 derrotas. Sua melhor campanha, para se ter uma ideia, foi em 2009-2010, com 31,7% de aproveitamento.

*  *  *

Na derrota para o Charlotte Bobcats no sábado, em dupla prorrogação, o técnico Randy Wittman não hesitou ao extrapolar o limite de tempo de quadra rcomendável para Nenê, que está jogando no sacrifício, correndo o risco de sofrer alguma lesão de quadril, joelho, tornozelo e sei lá mais o quê, para compensar as dores no pé esquerdo. O plano era utilizá-lo por apenas 20 minutos. Acabou jogando dez. Lamentável.

Com base em muita determinação e inteligência, o pivô brasileiro causou impacto positivo na equipe. A despeito dos dois reveses que sofreu, as partidas foram decididas apenas no tempo extra. No calor do jogo, é óbvio que o atleta não vai se retirar de quadra, ainda mais com a situação sofrível por que passa sua equipe. Caberia ao técnico um pouco mais de bom senso e responsabilidade, pensando tanto em seu time como no jogador.


Temporada revigorada de Tim Duncan também ajuda a explicar limitações para Splitter
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Giancarlo Giampietro

A estreia como profissional de Anthony Davis foi contra Tim Duncan e o San Antonio Spurs. Número um do Draft, badalado por dez em cada dez scouts, o garotão do New Orleans Hornets não decepcionou: 21 pontos, 7 rebotes, um toco, uma roubada e nenhum desperdício de bola em apenas 29 minutos.

Tim Duncan, eternamente jovem

Deixem Duncan ser Duncan enquanto ele quiser ou puder. Pedido do Timmy

Normal, então, que, nas entrevistas ao final da partida, os repórteres abordassem o veterano para perguntar o que ele achava daquela comparação que ganhava força em torno da jovem promessa: “Ele é o novo Tm Duncan”. “Bem, eu ainda não fui embora. Posso continuar sendo eu por algum tempo enquanto isso?”, devolveu o astro.

Ô se pode.

Aos 36 anos, em sua 16ª temporada, o ex-nadador das Ilhas Virgens não dá sinal algum de que esteja em desvantagem naquela briga inevitável contra um adversário imponente, o tempo. No confronto com Davis e o Hornets, largou com tudo, com 24 pontos, 11 rebotes e três tocos – e não era fogo de palha. Em 11 partidas até aqui, suas médias são de 18 pontos, 10 rebotes, 2,4 assistências, 2,7 tocos e um roubo de bola, além de 51% nos arremessos e 75% nos lances livres.

Apenas 13,4% da temporada foi disputada ainda, numa ressalva relevante. O duro é produzir lá na frente, na reta final, quando pesa demais o desgaste das viagens e o acúmulo de jogos (e hematomas). Mas poucos poderiam imaginar um início tão vigoroso assim mesmo por parte de alguém que não se dá por satisfeito com quatro títulos, dois prêmios de MVP e mais de, glup, US$ 204 milhões apenas em salários.

Considerando que Gregg Popovich controla os minutos de seu pivô com muito cuidado, a avaliação de seus números atuais em projeções por 36 minutos se mostra mais justa, e daí saem dados impresssionantes: Duncan vem com as melhores marcas de sua carreira em tocos, roubos de bola e rebotes defensivos, a melhor em lances livres desde 2001-2002, a melhor em pontos desde 2005-2006 e a melhor em rebotes desde 2007-2008.

Descobriram a fonte da juventude, e ninguém avisou no Twitter?

*  *  *

Agora, quanto mais Duncan aguentar o ritmo como um pivô ainda de elite, fica ainda mais complicado contexto envolvendo Tiago Spliter no Spurs.

De acordo com o site Basketball-Reference.com, dos 20 quintetos utilizados com maior frequência por Popovich nesta temporada, Duncan está presente em 14. Destes, apenas em um ele dividiu a quadra com o catarinense, contando com a companhia de Tony Parker, Danny Green e Kawhi Leonard por 20min41s – efeito da escalação empregada especificamente para bater de frente com as torres do Lakers. De resto, o superpivô fica muito mais tempo ao lado de DeJuan Blair e Boris Diaw.

(Para constar, Splitter aparece em outras quatro formações entre as 20 mais utilizadas,, e seu companheiro de garrafão seria ou Matt Bonner – duas vezes – ou Boris Diaw, sendo a quarta uma equipe baixa com quatro atletas abertos – Ginóbili, Stephen Jackson, Gary Neal e Danny Green.)

Uma explicação: Splitter pontua basicamente no garrafão ou bem próximo dele. Ainda que Duncan tenha um bom chute de média distância, quase até os limites da linha de três, você não vai querer afastá-lo tanto assim da cesta. Com os dois em quadra, então, corre-se o risco de congestionar o garrafão e tirar o espaço para as infiltrações de Parker e Ginóbili. Defensivamente, os dois também são muito mais aptos a conferir adversários mais altos do que alas-pivôs mais baixos e ágeis. Não tem química, e Popovich não vai forçar a barra.

Vale tudo contra Dwight Howard

Contra Dwight Howard e o Lakers, rara ocasião em que Splitter e Duncan formaram dupla


Tiago Splitter e DeJuan Blair seguem batalhando minutos na rotação do Spurs. Culpa do Pop?
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Giancarlo Giampietro

Nas fronteiras de Pittsburgh já foram cultivados muito mais quarterbacks do que jogadores de basquete para as ligas profissionais do país. Entre os poucos basqueteiros de expressão, ganha destaque o ala Chuck Cooper, o primeiro jogador negro a ser draftado por uma franquia da NBA – em 1950, pelo Boston Celtics. De lá para cá nem a cidade, nem sua principal universidade, que leva o mesmo nome, revelaram muitos atletas para a elite (o famigerado Charles Smith, do Knicks nos anos 90, é um deles). O mais recente dessa esporádica safra foi o pivô DeJuan Blair.

O mais baixo de seus irmãos, meio gordote, Blair aprendeu os macetes da modalidade num centro recreativo administrado por seu tio. Aos poucos, foi crescendo no jogo até se tornar uma sensação local. Pela Schenley High School, teve um retrospecto de 103 vitórias e 16 derrotas, com direito a 57 vitórias em 57 jogos na liga municipal. Levou sua equipe a um título estadual em 2007, o primeiro de uma equipe colegial da cidade desde 1978. Até que chegou a hora de partir para a universidade, uma época difícil em que, pressionado,quebrou seu celular ao atirá-lo na parede. Que raiva! Não paravam de ligar: ele recebeu proposta de 18 (!) agremiações. Enquanto os pais achavam melhor que ele mudasse de ares, pesou a opinião da vovó por parte de mãe, que teve grande influência em sua criação. Ficou em casa, mesmo.

Blair, "Pitt it is"

O orgulho de Pittsburgh

De modo, então, que seria mais do que justificado se a reduzida fração dos amantes do bola ao cesto em Pittsburgh não for muito com a cara de um certo Gregg Popovich, aquele técnico multicampeão pelo San Antonio Spurs.

Quem ele pensa que é?

Oras, o que Blair precisa fazer mais para ganhar o tempo de quadra devido pelo clube texano? Já está em seu quarto ano na liga, pagou o que devia no banco de reservas e hoje ainda não consegue mais que 17,1 minutos de ação, a despeito das diversas batalhas em que ajudou Tim Duncan no garrafão. Quando recebe suas chances, costuma corresponder.

Aos 23 anos, ainda tem muito o que desenvolver e contribuir. Só falta o treinador duro-na-queda abrir a porteira e deixar esse touro arrebentar…

(Pausa para reflexão…)

(O café já tá quentinho…)

(Agora sim:)

Entenderam as semelhanças com Tiago Splitter?

Pode ser, na verdade, que ninguém em Pittsburgh se importe com o que se passa com Blair, desde que o Steelers continue bem-sucedido na NFL. Mas, no nicho dos basqueteiros, certamente Blair haverá de ser apreciado. Agora, se a gente inverter a linha de raciocínio, não é capaz que algum cara de lá pense o mesmo sobre os brasileiros? Que ninguém aqui vai se importar com Tiago Splitter, desde que o futebol esteja levantando Copas do Mundo? Contudo, como temos acompanhado nos últimos anos, existem, sim, aqueles que acompanham os passos do catarinense são acompanhados bem de perto, e com sangue nos olhos.

Splitter já se aqueceu

De agasalho não fica legal, Popovich

É normal que se fiscalize o trabalho do vitorioso Popovich e seu modo de gerir o Spurs, tendo em vista que isso afeta diretamente o progresso de Splitter, um dos poucos brasileiros a entrar na NBA e um dos principais jogadores do basquete nacional. É preciso entender, por outro lado, que na cabeça do técnico o pivô talvez seja só mais uma ótima peça para o time – e os dirigentes e scouts da franquia têm trabalhado regularmente para que não faltem ótimas peças para Pop escalar, vide, por exemplo, as sorrateiras contratações de Danny Green, Kawhi Leonard, Nando de Colo, Cory Joseph e Patty Mills.

Será que o fato de o catarinense estar no banco e jogar pouco é realmente fruto de uma birra pessoal? Ou tem mais a ver com o fato de ele fazer parte de uma das melhores equipes da NBA? Não se esqueçam: com Splitter em seu elenco, o Spurs não foi campeão, mas venceu 161 partidas de temporada regular e perdeu apenas 69, bom para um aproveitamento de 70%. Sete vitórias em cada dez jogos. Quer dizer: se a marcha do clube texano vai bem obrigado, por que a vida do treinador seguiria de outra forma? Considerando esses resultados, onde estão as injustiças? Splitter merece mais tempo para mostrar serviço? Talvez. E quanto a DeJuan Blair?

As médias da carreira do brutamonte são de 8,4 pontos, 6,3 rebotes e 52,6% nos chutes de quadra. Splitter tem, respectivamente, 6,9 pontos, 4,2 rebotes e 58,1%.

– Ah, mas o Tiago jogou bem menos!

Então seguem as projeções por 36 minutos de cada um: a) Blair aparece com 15,1 pontos, 11,3 rebotes; b) Splitter, com 15,9 pontos e 9,6 rebotes. Nos playoffs, as contas também são bem semelhantes: 15,1 pontos e 12,4 rebotes para o americano e 15,9 pontos e 8,3 rebotes para o brasileiro. Em termos de índice de eficiência, o catarinense leva a melhor por 0,8 (18,3 contra 17,5). É tudo muito parelho.

– Ah, mas número não quer dizer tudo!

O superlotado banco de Popovich

Splitter, Blair e Bonner: todos no banco ao mesmo tempo. E aí, Pop?

Justamente. É preciso ver do que Popovich necessita – ou pensa necessitar – em quadra em seu esquadrão. Quem se encaixa melhor com quem? O deslocamento e a defesa de Splitter são mais qualificados? Mas o dia em que ele converter um chute a quatro ou cinco metros da cesta pode ser também o primeiro de sua breve trajetória na NBA. Vale mais, então, ter um reboteiro do porte de Blair para acompanhar Duncan? Mas o pivô de 2,01 m é bem vulnerável quando confrontado com pivôs talentosos ofensivamente (por isso Splitter começou sua única partida como titular este ano contra o Los Angeles Lakers).

Tanto um como o outro possuem qualidades valorizadas ao seu modo e seriam cobiçados no mercado, mas que não se manifestam, por enquanto, como o parceiro ideal ao complementar quem ainda é, de fato, a estrela da companhia: Tim Duncan. Enquanto nenhum deles se separar do outro, para Popovich o que resta é tirar proveito de dois ótimos jogadores da forma que achar melhor, ainda mais que seu Spurs não para de vencer

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Splitter e Blair estão ligados de outra maneira: ambos deveriam ter sido escolhidos muito antes em seus respectivos Drafts, mas acabaram despencando no dia do recrutamento. Quando caíram nos braços do Popovich, toda a concorrência exclamou ao mesmo tempo, muito bem ensaiado: “Sempre o Spurs”, “Que sorte!”, “Os ricos cada vez mais ricos” etc. Como se não tivessem deixado os caras passarem. Vai entender.

O catarinense foi escolhido na posição 28, em 2007, uma vez que as demais franquias não teriam a paciência para esperar seu contrato com o Baskonia, da Espanha, vencer – algo que só aconteceria três anos mais tarde. Detalhe: nenhum atleta que saiu entre as 15ª e 27ª escolhas segue em seu clube de origem, e quatro deles já não estão nem mais empregados na liga.

Blair caiu ainda mais longe: foi apenas a 37ª escolha de 2009, quando rumores sobre a suposta condição precária de seus joelhoes assustou boa parte dos times. Até o momento, ele ficou for de apenas quatro partidas de 238 possíveis em sua carreira. LeBron James não ficou nada contente ao ver o Cleveland Cavaliers deixar o prestigiado pivô passar na 30ª posição para apostar no ala Christian Eyenga , outro que já está sem clube.

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Falamos aqui de brasileiros e nativos de Pittsburgh. Imaginem, então, como não devem estar furiosos os moradors da pequenina cidade de Concord, no estado de New Hampshire, com o que vem acontecendo com Matt Bonner?! Ao ala-pivô, conhecido iconicamente como Foguete Ruivo, foram relegados míseros dez minutos por partida neste ano, mesmo com ele acertando 63,6% de seus arremessos de três pontos nas sete primeiras partidas (melhor marca do ano). Ele é o único – reforçando: o único! – jogador nascido em New Hampshire a ter pisado em uma quadra da NBA. Pop, então, que não ouse levar sua vara de pescar para os lagos da região.

 


Houston Rockets manda Scott Machado e mais dois para liga de desenvolvimento
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Giancarlo Giampietro

Scott Machado vai ter de arrumar as malas e cair na estrada. Ele tem uma viagem de cerca de 500 km para fazer entre Houston e Hidalgo, pequena cidade localizada ainda no Texas. Passadas duas semanas de temporada regular na NBA, o Rockets decidiu, enfim, enviar o jovem armador para sua filial na D-League, o Rio Grande Valley Vipers.

Scott Machado pelo Rockets em Las Vegas

Scott vai ter tempo de quadra pela primeira vez desde a pré-temporada

Sem ser aproveitado no elenco, ficando fora até mesmo do banco de reservas, o movimento por parte da franquia não pode ser encarado como um rebaixamento para o nova-iorquino brasileiro. Em meio a dezenas de viagens, um corre-corre danado, é mais fácil que ele mostre serviço para sua diretoria e comissão técnica e diretoria jogando com regularidade, em vez de depender dos minutos escassos de coletivos.

Aliás, em sua mudança, Scott vai acompanhado de dois companheiros do Rockets, o ala Royce White e o ala-pivô Donatas Motiejunas, duas escolhas de primeira rodada do clube nos últimos anos e que também mal vinham sendo aproveitados pelo técnico Kevin McHale – ele tem dado prioridade a seus jogadores mais experientes. Dos novatos, apenas Terrence Jones fica, então, em Houston, embora tenha minutos esporádicos nas partidas.

O salário do armador não muda. Ele continua sendo pago pelo clube surpreendeu ao contratá-lo este ano, torrando mais de US$ 5 milhões em salários de jogadores dispensados, e pode ser chamado de volta para a qualquer momento por McHale para o time principal. O que muda é sua rotina: as instalações, as viagens, a rotina de um atleta da D-League são bem mais modestas do que os luxos que rodeiam os astros do primeiro escalão.

O nível de competitividade também é intenso. Cada um dos jogadores inscritos no campeonato de desenvolvimento sonha com uma contratação por parte dos primos ricos. Atletas como Scott, Motiejunas e White são vistos como alvos preferenciais dos concorrentes – é a chance de competir com caras que desfrutam da “mamata” e mostrar que são melhores ou que pelo menos têm nível para voos mais altos. Mas não que isso vá assustar o armador, que teve de batalhar bastante para entrar no radar da NBA jogando pela pequena universidade de Iona. Depois de ser ignorado no Draft, suou um pouco mais para garantir seu contrato. Então não tem nada de novo para o rapaz.

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Veja alguns jogadores que o Houston Rockets já mandou para Hidalgo: o armador Aaron Brooks, o ala Steve Novak, o pivô Joey Dorsey, o ala-armador Jermaine Taylor, o armador Ish Smith, além do pivô Greg Smith, do ala-pivô Patrick Patterson e do ala Marcus Morris (os três ainda no Rockets). Desses, apenas Dorsey e Taylor estão fora da NBA hoje, sendo que o primeiro por opção – foi campeão europeu pelo Olympiacos na temporada passada e recusou propostas que considerou baixas por parte da liga. Taylor acabou de acertar com o Lagun Aro na Liga ACB espanhola e vai fazer companhia ao nosso Raulzinho.

Outros atletas passaram pelo Vipers e ainda têm contratos: o ala Terrell Harris, reserva de Dwyane Wade e Ray Allen no Miami Heat, o ala Ivan Johnson, duro-na-queda do Atlanta Hawks, e o armador Will Conroy, que conseguiu neste ano uma vaga no Minnesota Timberwolves.

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Quem não reagiu nada bem ao comunicado sobre a decisão do Rockets foi o ex-técnico de Motiejunas na Euroliga, Tomas Pacesas, com quem trabalhou no Asseco Prokom. Na real, o cara ficou furioso. “Não fiquei só surpreso, mas nervoso com esse tipo de decisão. Na minha opinião, Donatas é um dos melhores pivôs não só da Europa, mas no mundo também. Suas capacidades físicas e técnicas deixariam jogá-lo bem mesmo na piada que é essa liga” disse. “Para mim, Donatas é tão bom quanto Jonas Valanciunas e poderia jogar tão bem ou talvez melhor que ele na NBA.”

O treinador teria sugerido, então, que seu ex-pupilo – paparicado pelos olheiros europeus há anos e anos, isso é fato – se daria melhor num time como o Toronto Raptors ou o San Antonio Spurs, duas franquias historicamente ricas em seus relacionamentos com jogadores vindos da Europa. Mal sabe ele o que anda acontecendo com Tiago Splitter…


Afeito ao drama, Lakers escolhe Mike D’Antoni e ignora pedidos por Phil Jackson
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Giancarlo Giampietro

Mike D'Antoni x Phil Jackson

Depois de fracassar com um Mike, Lakres escolhe outro, com Phil Jackson disponível

O Lakers deu na manhã desta segunda-feira mais uma boa amostra de que, em Hollywood, o dramalhão pode ser tão, ou mais importante do que o star power. Só assim para entender a mudança repentina de direção do alto comando da franquia (Jerry Buss pai, Jim Buss filho) na hora de contratar o próximo técnico do clube. Depois de se atirarem para cima de Phil Jackson em desespero, recuaram cheios de orgulho para suas trincheiras, ligaram para Mike D’Antoni ontem pela noite já sabendo que dessa vez ouviriam um “sim, senhores” de cara.

É até engraçado: a franquia divulgou comunicado bem cedinho – antes mesmo de o Twitter norte-americano sair da cama, especialmente em Los Angeles e seu fuso horário do Pacífico. Talvez para dar algum tempo, alguns minutos preciosos que fossem, para que jogadores, a liga toda, jornalistas e torcedores assimilassem aos poucos a surpreendente contratação. Se eles fizessem isso, digamos, ao meio-dia em LA, meio da tarde no Leste, era bem provável que toda a Internet mundial viesse abaixo, e o Vinte Um funcionaria apenas em um espaço virtual: a mente delirante de um blogueiro.

Existem duas correntes lá fora para tentar explicar a opção por D’Antoni:

1) a oficial, na qual a família Buss assegura que a preferência de toda a direção (Jerry Buss pai, Jim Buss filho e o gerente geral Mitch Kupchak) foi, sim, por D’Antoni, de modo unânime. Os três acreditariam que o ex-treinador de Nuggets, Suns e Knicks combina melhor com o elenco atual e que o sistema de triângulos seria muito semelhante ao de Princeton, considerado um fiasco neste início de campanha;

2) a teoria da conspiração, na qual os rumores dizem que Jackson teria pedido mundos e fundos para aceitar o emprego de volta, o que teria voltado a injuriar o ego do Buss filho, com quem já havia travado uma disputa ferrenha nos bastidores durante sua última gestão;

No fim, pode ter sido um pouco dos dois. Não são argumentos excludentes. Talvez por uma picardia contra o desafeto, Phil Jackson tenha feito algumas exigências inéditas. Vai saber: tem quem diga que sim, tem que diga que não, que exageraram na boataria e que não haveria nada de absurdo no pacote Zen. Então talvez a decisão tenha sido mais técnico-tática: instaurar o sistema de triângulos no meio de uma temporada, porém, também não seria muito fácil e, embora Kobe, Gasol, Artest e, alto lá!, Steve Blake estivessem habituados a ele, outros 12 jogadores começariam do zero. Mike D’Antoni, por outro lado, emprega um ataque muito mais simples e também bastante eficiente. O coordenador ofensivo do Coach K na seleção norte-americana também tem uma boa relação com Kobe e Howard. Sobre Nash, nem precisa dizer: é seu cabo eleitoral.

D'Antoni, amigão de Nash

Steve Nash acordou feliz nesta segunda-feira

Agora, ficamos por aqui com os argumentos razoáveis.

Não por achar que D’Antoni é uma mula irrecuperável. Seus times históricos do Phoenix Suns ficaram muito perto da glória no Oeste durante quatro, cinco anos. Apenas tiveram uma tremenda falta de sorte em alguns anos, ou se depararam com uma combinação Tim Duncan-Tony Parker-Manu Ginóbili-Gregg Popovich que foi boa o bastante para derrotar até mesmo o Lakers de Jackson nos playoffs. Dizer que o Suns fracassou com o ataque do “Sete Segundos ou Menos” seria subestimar demais o basquete do Spurs.

Mas tem um baita problema: se D’Antoni quiser colocar seus rapazes para correr mesmo depois de o adversário fazer uma cesta, como acontecia de praxe no Arizona, provavelmente vai ter de jogar o quarto período com Darius Morris, Jodie Meeks, Devin Ebanks, Jordan Hill e Dwight Howard. O restante da velharada estaria na enfermaria. O elenco do Lakers DEFINITIVAMENTE não foi feito para jogar em transição, quanto menos uma transição enlouquecida, intensa, sem-parar. A família Buss pode querer o showtime, mas ot ime aguenta?

Kobe, mais orgulhoso não tem, vai dizer que é como se fosse uma caminhada no paraque. Nash vai lembrar dos bons tempos, mas a quantidade de minutos jogados pela dupla durante toda a sua carreira não pdoe ser ignorada. Tem de maneirar com os velhinhos para tê-los inteiros nos playoffs – ainda mais com o Capitão Canadá distante do estafe mágico de preparadores físicos do Suns. Sem contar que o MettaWorldPeace que nunca foi um velocista. Nem Pau Gasol, também muito mais habituado a operar em meia quadra. O sexto Antawn Jamison já correu muito pelo Warriors no início deprimente de sua vida na liga que já está cansado disso também, aos cacarecos. Contra-ataque não combina.

Outro ponto: Quentin Richardson, Jim Jackson, Joe Johnson, Raja Bell, Leandrinho, James Jones, Tim Thomas, Jared Dudley e mesmo Shawn Marion foram atiradores de três pontos minimamente competentes que ajudavam a abrir a quadra para Nash operar seus pick-and-rolls com Amar’e Stoudemire. Seria uma ação que poderia ser replicada agora com Howard. Mas, sem chutadores com 40% de aproveitamento de fora, pode ser muito mais fácil de se conter. E mais: se Marion ficou magoado por muitas vezes achar que estava posto de escanteio, imaginem o quão feliz um Kobe Bryant ficaria nesse contexto. O astro precisa ser envolvido de todas as formas, e a bola nas mão de Nash o tempo todo não faria bem algum para a química do time nesse sentido.

Mike Woodson x Mike D'Antoni

Com uma mãozinha de Mike Woodson (e), D’Antoni conseguiu montar um Knicks com boa defesa no ano passado. Quem vai ajudá-lo em LA?

Estamos falando só do ataque. O lado da quadra que, pasme, talvez não estivesse precisando de reparos! Quando Brown foi demitido, a equipe angelina tinha a quinta ofensiva mais eficiente da liga. Jogando com Princeton e tudo. Posto mantido até esta segunda-feira: cliquem aqui para conferir. E o que dizer da defesa? Com Howard ainda recuperando a boa forma, a atual configuração do time se provou tão vulnerável como no ano passado. No geral, o Lakers simplesmente é mais lento que boa parte de seus concorrentes, para não der muito mais lento. Para proteger sua cesta, esse time tem de jogar com uma formação bem compacta e com muita disposição por parte dos jogadores. Brown, que havia montado grandes defesas durante toda a sua carreira, não conseguiu em Los Angeles. E D’Antoni jamais vai ser considerado um mestre retranqueiro – as más línguas se referem a ele como Mike No-D.

Mas, calma.

Calma que tem mais.

O problema vai além do ponto de vista tático.

Nos últimos dois jogos do Lakers em casa, vitórias contra as babas que são Warriors sem Bogut e Kings sem Cousins, a torcida não parou de gritar por Phil Jackson. Star power, lembrem-se. Dirigir essa equipe não se limita a uma prancheta, a uma lousa mágica. Você precisa ser bom de relações públicas também para cruzar o caminho de Jack Nicholson, oras. Foi a grande dificuldade de Mike Brown por lá, tanto para convencer uma exigente base de seguidores, como para administrar seus atletas. D’Antoni sempre se deu bem com quem treinou, tirando Carmelo Anthony e Shaquille O’Neal. Em Nova York, porém, ele penou para lidar com a pressão. E lá vem chumbo grosso.

Seu início no cargo, aliás, já não vai ser dos melhores. É até difícil de acreditar, mas, entre Jackson e o novo técnico, o Mestre Zen, aquele que se arrastou para sair de quadra na humilhante derrota para o Mavs nos playoffs de 2011, é quem está mais saudável no momento. O escolhido acabou de passar por uma cirurgia no joelho e está impossibilitado de viajar. Ele foi anunciado, mas sua apresentação deve ficar só para terça-feira, no mínimo. Bernie Bickerstaff teria de seguir, então, como o interino até seu substituto juntar forças e se dizer pronto. Agora imagine uma noite qualquer em que o time vá para a quadra, tropece e, de repente, sem nem mesmo o cara chegar, os cantos por “We Want Phil!” fossem ecoados no Staples Center? Como fica?

É bom que Mike D’Antoni se apresse e corra tão rápido feito um Leandrinho.

Porque de drama o Lakers já está bem servido. Não precisa de mais.


Pivô do Spurs flerta com o perigo ao reclamar de Popovich em público no Twitter
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Giancarlo Giampietro

Rebote de Blair

Sai que o rebote é do ursão Blair

Dedicação nunca foi um problema para DeJuan Blair. O modo como ele ataca os rebotes, especialmente na tábua ofensiva, chega a assustar. Colocando de uma outra forma: não é agradável para jogador algum se colocar entre o brutamontes e a bola na disputa pela rebarba de qualquer ataque. Pode doer a costela.

O problema de Gregg Popovich com o jogador, depois de passado o encantamento por sua temporada de novato, foi sua lenta evolução em outros aspectos do jogo, especialmente no que se refere a pequenos, e não menos importantes, tópicos, como ssua concentração na defesa fora da bola, o espaçamento correto no ataque etc.

Neste ano, uma das boas histórias que o treinador tinha para contar durante a pré-temporada do Spurs, porém, era o suposto amadurecimento de Blair, que teria chegado fininho mais fino, na medida do possível, e se mostrado um jogador muito mais concentrado nos treinos e nos coletivos, especialmente na defesa.

A empolgação parece não ter durado muito. O pivô não saiu do banco na vitória contra o New Orleans Hornets na estreia. Foi a clássica “DNP – CD” (Não jogou por decisão do treinador). Extremamente frustrado, o barbudão usou toda a coragem que pode caber em corpanzil e foi para o Twitter reclamar um pouco, cheio de ironias.

“Era isso o que essperava! Risos. Eu só não sou o que o “dude” quer ver na quadra, só me dei conta agora!! Apenas saibam que estou fazendo minha parte!”, foi um de seus posts.

“Estou apenas brincando. Vou ficar bem. Alguém aí fora gosta do que faço!!! ACREDITE isso!”, veio depois.

“Alguém aí tem algumas polegadas para vender? Posso comprar! Risos. Estou apenas tentando entender essa m.!!”, completou o jogador oficialmente listado com 2,01 m de altura.

Parece que Blair não tem noção do perigo, né? Foi chamar o técnico de dude assim na cara larga? E como traduzir dude? O Google Translate capricha e nos oferece janota. No Michaelis, tem almofadinha também. 🙂 Mais fácil, prazeroso – a ponto de ser obrigatório – assistir ao “Grande Lebowski” mesmo e aprender logo com o Jeff Bridges, John Goodman e Steve Buscemi.

Dude

Isto é Dude

Na gestão de Popovich e RC Buford, o Spurs preza, muito, pelo bom comportamento de seus jogadores. Não tolera muitos arroubos desses, reclamações – quanto menos em público.

De todo modo, ou não deu tempo de a choradeira chegar aos ouvidos do Pop, ou o técnico não se incomoda, não, com essa coisa de dude. Porque, no dia seguinte, seu pivô reserva ao menos ganhou 11 minutinhos contra o Thunder – uma boa quantia, quando comparado aos 28 minutos que recebeu durante todo o confronto pela final do Oeste do campeonato passado. Mas, não fossem as três faltas que Tiago Splitter cometeu em quatro minutos, será que ele teria sido utilizado?

Blair havia iniciado a temporada 2011-2012 como o titular ao lado de Duncan, revezando em quadra com o catarinense. Desde a chegada de Boris Diaw, porém, a rotação ficou congestionada e ele acabou relegado ao banco. Incluindo o confronto desta quinta, ele só foi aproveitado em quatro jogos dos últimos dez do clube, incluindo os playoffs. Como era a reta final, qualquer tipo de distração ou descontentamento acabou represado.

Agora, contudo, estamos apenas no início da jornada. Assim como Tiago, Blair também está em seu último ano de contrato. Diferente do brasileiro, ele tem maior predisposição ao desabafo. O pior é que, se um estiver feliz, muito provavelmente será às custas do outro. Pode ser um campeonato looooongo para os dois.

Melhor então esfriar a cabeça, dude.

Blair & Splitter

Difícil segurar o sorriso por tanto tempo, né, gente?