Vinte Um

Arquivo : Seleção

Tony Parker representa um desafio diferente ao Brasil neste sábado
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Giancarlo Giampietro

Na Argentina, Pablo Prigioni prima como um armador muito mais cerebral, que sabe controlar o relógio como poucos, mas que não agride muito a defesa adversária. Por outro lado, Chris Paul pode fazer um carnaval para cima de qualquer defesa. Deron Williams também se infiltra feito um trator. Mas ambos mudam um bocado pela seleção norte-americana, considerando o tamanho do arsenal com que jogam nessas ocasiões, diminuindo bastante suas responsabilidades como matadores.

Tony Parker, de óculos, FrançaEm seu penúltimo amistoso antes das Olimpíadas, contra a França de Tony Parker, a seleção brasileira vai enfrentar um desafio totalmente diferente: um armador que fica muito tempo com a bola em mãos, mas buscando sempre o ataque, tentando de modo agressivo vencer a primeira barreira adversária.

O que a França não tem muito são exímios chutadores de longa distância – ainda mais se o ala Nicolas Batum estiver fora de ação ou sintonia, visto que sua preparação para as Olimpíadas foi atrapalhada pela negociação arrastada com o Minnesota Timberwolves que, no fim, não deu em nada. Ele teve de encarar, por exemplo, uma looooonga viagem nesta semana de Paris até Portland para ser examinado pelos médicos da franquia, que cobriu a oferta milionária encaminhada. O outro companheiro de perímetro de Parker, Nando De Colo, recém-contratado pelo Spurs, tem média de apenas 34% em sua carreira na Liga ACB, com 36% na última temporada.

Então, teoricamente, dá para congestionar o garrafão e ver o que acontece. Se fosse tão fácil assim, contudo, muitos clubes da Conferência Oeste da NBA não teriam sofrido tanto para anular Parker. Uma vez que ele passa, as ramificações são diversas e perigosas: ele pode avançar rapidamente até o aro para a bandeja com velocidade. Se essa bola lhe for tirada, seu floater de curta distância é um chute muito difícil de ser marcado. Além disso, os pivôs franceses são na maioria ótimos atletas capazes de reagirem com rapidez para aproveitar as assistências e estufar a redinha.

Não dá para pedir que Huertas jogue tanto no ataque e ainda fique com uma incumbência defensiva pesada dessas. Então… Magnano vai deslocar Alex para marcar o armador? Larry vai ganhar mais tempo de quadra? Vamos ver qual caminho o argentino vai seguir, sem ignorar o fato de que ele talvez não esteja assim tão disposto a mostrar todas as suas cartas em uma partida preparatória a poucos dias dos duelos que realmente importam.


Liberdade para Varejão
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Giancarlo Giampietro

Já faz tempo também, estávamos em agosto de 2005, mas ainda me lembro da surpresa que causou informação de que Tiago Splitter se arriscava na linha de três pontos em amistosos da seleção brasileira por cá nos trópicos. Os olheiros europeus e norte-americanos não estavam nem um pouco familiarizados com essa faceta do jogo do catarinense que, na época, aos 20 anos, começa a ser enfurnado no garrafão do TAU Cerámica, jogando de costas para a cesta e só.

Anderson Varejão treina o chuteBem, tendo em vista o Splitter de hoje, sabemos o fim que levou essa aventura no perímetro – e pensar que houve um dia em que ele, ainda adolescente, era visto como um futuro Dirk Nowitzki na NBA, na época da efervescência de scouts na Europa.

Mas o ponto aqui é sobre Anderson Varejão, na verdade.

Essa estava guardada na manga há um tempo, mas, depois de sua exibição na derrota contra os Estados Unidos, chegou a hora.

Quem reparou nos chutes de média para longa distância que ele converteu? Em sequência. O capixaba estava aberto no ataque, provavelmente numa suposta armadilha do staff do Coach K. Oras, o Varejao (sem acento mesmo) ou Varejo, como escreveu Shaq no Twitter, não mata essa bola pelo Cavs. De jeito nenhum.

Agora imagino que o scout seja atualizado. Ô, se mata.

Talvez a trupe de Jerry Colangelo não estivesse tão ligada assim durante a Copa América de 2009, que eles não precisaram jogar por já estarem garantidos no Mundial da Turquia. Naquele torneio, sob o comando de Moncho Monsalve, ainda que numa amostra pequena, Anderson acertou 44% de seus chutes de três pontos e também mostrou predisposição a atacar o aro após fazer a finta no perímetro. Algo impensável no time em que a bola, então, ficava 90% do tempo, no mínimo, nas mãos de LeBron James.

Na seleção, ainda que saibamos que os pivôs mereçam mais carinho, é inegável o contraste de mundos para o cabeleira. Ele joga com muito mais confiança e liberdade para criar no ataque, se recusando a ser apenas um cara que viva de rebotes e sobras, trombadas por posicionamento defensivo preciso e cotovelos ralados.

Deixando bem claro: todas essas virtudes quase nunca são devidamente valorizadas por aqui e ainda compõem o que Varejão faz de melhor numa quadra. É por isso que ele ganha o que ganha em Cleveland e é idolatrado pela torcida de lá. Justo, bem justo.

Mas se tem alguma coisa que frustra o Vinte Um é ver jogador amarrado, algemado. E a liberdade da qual ele desfruta de verde e amarelo só aponta mais um sinal da mente inteligente que tem Rubén Magnano, por mais exigente e controlador que o argentino pareça ser.


Em números, a importância de Huertas para a seleção
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Giancarlo Giampietro

Marcelinho Huertas x Deron Williams

Huertas ignorou a marcação de Deron Williams

A gente sabe que esse tal de Marcelinho Huertas é muito importante para a seleção brasileira, né? Ainda mais depois da desenvoltura que ele mostrou na noite desta segunda-feira, contra os Estados Unidos,  dando uma canseira em Deron Williams, o homem de US$ 98 milhões do Brooklyn Nets.

Subjetivamente, a impressão que fica é a de que o Brasil empaca quando o armador vai para o banco, independentemente de quem entra: Raulzinho, Larry ou até mesmo os dois juntos.

Agora podemos falar objetivamente também, com uma força do jornalista John Schuhmann, do site da NBA e desses que se aprofunda bastante nos números. Encantado com a atuação do brasileiro, ele acaba de postar dois números de abrir os olhos em sua conta de Twitter (@johnschuhmann):

– Com Huertas em quadra, o Brasil venceu os Estados Unidos por 60 a 57; sem Huertas, perdeu por 23 a 9.

– Em termos de produção ofensiva, a seleção anotou uma média de 79 pontos por 40 minutos. Com ele no banco, foram míseros 37 pontos por 40 minutos.

Acho que… O caso fica meio que encerrado, né?

Por mais que elogiemos nossos pivôs talentosíssimos, nosso jogador mais importante está bem definido e é muito mais baixo que eles.


Mesmo com derrota nos EUA, seleção encontra um padrão de jogo para seguir
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Giancarlo Giampietro

Por cerca de 15 minutos, mas especialmente no primeiro quarto, o Brasil jogou uma partida impecável. O ataque rodando bem a bola, procurando os pivôs, para atacar adversários mais baixos e, aí, abrir a quadra para chutes ou fintas seguidas por infiltrações. Sem sentir a pressão, Marcelinho Huertas ditava o ritmo.

Kobe x Huertas

Huertas jogou demais em Washington. Né, Kobe?

A defesa muito disciplinada, se recompunha com velocidade, impedindo os contra-ataques atléticos e indefensáveis. Uma vez estabelecida, se colocava de modo bem compacto, forçando os tiros de fora dos adversários, seu ponto fraco. Eles morderam a isca e se precipitaram muitas vezes (6/24), com aquela confiança tipicamente brasileira de que matariam as bolinhas.

Parcial: Brasil 27 x 17 EUA.

No segundo quarto, a defesa ainda funcionou bem. Mesmo nos momentos em que os anfitriões conseguiam escapar para um contragolpe, os brasileiros não titubeavam e paravam o lance cedo, na falta, para impedir qualquer estrago maior. O time permitiu apenas 20 pontos ao potente ataque da casa.

Por outro lado… Depois de muitas mexidas do Coach K, o golpe foi assimilado por seus atletas. Russell Westbrook deu o tom, desarmando dois ataques, na metade da quadra, em seguida. Chris Paul e Kobe Bryant saíram do banco babando, partindo para o abafa, desestabilizando a armação brasileira, ainda mais quando Huertas estava fora. Os dribles de Raulzinho e Larry ficaram muito expostos. Nesses dez minutos, a seleção cometeu 12 turnovers, quatro vezes a mais do que no primeiro período.

Parcial: EUA 20 x 5 Brasil, virada de cinco pontos no placar (37 x 32).

Por cinco minutos no terceiro quarto os EUA mantiveram essa intensidade sufocante, dificultando a movimentação de bola brasileira e elevando sua vantagem para a casa de duplo dígito. Dessa vez, porém, as substituições jogaram contra.

E sabe por quê? Simplesmente porque seu armador reserva, Deron Williams, o homem de USS 98 milhões, não consegue segurar Huertas. Encarando um oponente mais lento, que nunca foi famoso por sua habilidade na defesa, aliás, o armador voltou a sobrar em quadra, agressivo, servindo aos companheiros ou fazendo ele mesmo a bandeja.

Parcial: EUA 22 x 19 Brasil (59 x 51).

LeBron James x Tiago Splitter

Huertas realmente controlou muito bem o ataque. A defesa com Nenê e Varejão lá dentro voltou a apertar. Foi apenas nos cinco minutos finais, contudo, que o jogo exterior dos Estados Unidos começou a funcionar, pelas mãos do inspirado LeBron James, que terminou com 30 pontos. Se em Pequim, quando a coisa complicou, foi Kobe Bryant que chamou a responsabilidade, dessa vez esperem isso de LeBron. Sua confiança não podia estar mais alta.

Parcial: EUA 21 x 18 Brasil (80 x 69).

Foi um duelo parelho. O que já foi um grande mérito para a seleção: os jogadores mantiveram a compostura dos dois lados da quadra, num gesto bastante promissor pensando nos desafios que vêm pela frente. O mais interessante talvez seja isso: provavelmente eles não vão ficar felizes por terem “jogado para o gasto”.

Barack Obama, família e vice-presidente estavam em quadra. Jogo em Washington, contra os melhores do mundo. Maior palco não tinha. O mais importante é que o comportamento e o nível de concentração apresentados nesta segunda-feira, daqui para a frente, virem o padrão, não importando contra qual equipe e quem estiver na plateia. O potencial é imenso.

*  *  *

Vi o jogo aqui do QG 21, não estava no ginásio e, mais importante, houve pouquíssimos replays: logo, não me sinto nada confortável em culpar a arbitragem pela virada dos norte-americanos. Contra a Argentina, na derrota em Buenos Aires, os homens de cinza também foram os culpados. Só o apito nos segura agora, é isso?

*  *  *

Em termos de rotação: o tempo de quadra de Marcelinho Machado e Guilherme Giovannoni caiu neste jogo, mesmo com a ausência de Marquinhos, ainda sentindo efeitos da pancada que tomou contra a Grécia em São Carlos. Caio Torres não saiu do banco. Ainda assim, Magnano trocou bastante o time.

*  *  *

Alex marcou dez pontos apenas no primeiro período, mostrando que, mesmo aos 32 anos, sua capacidade atlética se traduz num nível altíssimo, enfrentando Kobe e LeBron, muito maiores, em jogadas individuais.

*  *  *

Nenê foi bem na defesa, na medida do possível, ainda mais considerando que era ele que sobrava com Carmelo Anthony, seu ex-companheiro de Denver, ou por vezes com LeBron James, ambos muito mais hábeis e ágeis. No ataque, porém, ainda está bastante enferrujado, sem fluidez alguma nos seus movimentos, tanto no jogo de pés como no chute de média distância.


Obama deve assistir a EUA x Brasil
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Giancarlo Giampietro

Enfrentar os Estados Unidos em solo norte-americano já deve deixar qualquer jogador empolgado. Com o presidente Barack Obama, o mais basqueteiro dos presidentes, na plateia, então? O amistoso das seleções brasileiras masculina e feminina nesta segunda-feira, em Washington, então ganha um clima mais especial, com a presença do presidente, segundo informação de diversos veículos norte-americanos. Em ritmo de campanha Obama vai para o ginásio Verizon Center acompanhado pelo vice-presidente Joe Biden. Resta saber se eles chegam para ver a rodada dupla que começa com as meninas (18h30, horário de Brasília) ou apenas o jogo dos rapazes (21h).

Veja o presidente norte-americano jogando basquete. Sabe o que faz:

[uolmais type=”video” ]http://mais.uol.com.br/view/67741[/uolmais]

Neste ano, Obama já havia feito uma visita “diplomática” a um ginásio de basquete acompanhado pelo primeiro ministro britânico David Cameron em março deste ano, num jogo universitário. Confira:

[uolmais type=”video” ]http://mais.uol.com.br/view/12587424[/uolmais]

 Para ler mais sobre o que esperar dos jogos, recomendo clicar nos links abaixo do Bala:

Vale a pena para o Brasil enfrentar os EUA agora?
Magnano é especialista em derrotar os norte-americanos


O corte de Augusto e os pivôs das Olimpíadas
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Giancarlo Giampietro

Tá, vocês já sabem: Augusto Lima foi o último cortado da seleção brasileira masculina para as Olimpíadas de Londres-2012. No fim, o que isso pode significar?

Caio Torres, seleção brasileira

Caio Torres, um dos 12 olímpicos

Vamos tentar entender. Mas deixando bem claro: o que vem aqui abaixo é o produto de especulações internas do QG 21, sem informações que venham diretamente de Foz do Iguaçu, muito menos de Córdoba, na Argentina, ok? E outra: o post está imenso, sim, mas com informações que julgo interessante compartilhar e discutir de modo um pouco mais prolongado do que o normal.

Adelante, então:

– Começando pelo mais simples, algo que muitas vezes pode ser ignorado em favor de teses mais mirabolantes. Magnano pode realmente achar que Caio é o melhor jogador entre os dois pivôs ou pelo menos considerar que era o que estava em melhores condições para ir aos Jogos.

– Além disso, de informação, mesmo, dá para dizer que Magnano conhece Caio há tempos e sempre o admirou. Para justificar essa afirmação, resgatamos uma passagem que o blogueiro testemunhou lá atrás em 2004 (caceta, já são quase dez anos atrás!), na distante ilha de Chiloé, cidade de Ancud, no Chile. A anedota já foi contada em nossa encarnação passada, mas nem todo mundo aqui nessa nova casa tem ligações com o sobrenatural para saber disso, né? Então segue o que já foi publicado no VinteUm do além-vida, na ocasião da divulgação da primeira lista de Magnano: “Sabemos que Magnano adora Caio desde os tempos de base. Em 2004, em Ancud, cidadezinha a mil quilômetros de Santiago, lá embaixo no continente, o treinador já via o pivôzão fazer estragos, mesmo sendo dois anos mais novo que a concorrência num Sul-Americano. Estava lá e via o quanto ele se divertia em falar “The Big Man”, de boca cheia, subindo as escadas, em minha direção depois de ver o brasileiro atropelar os adversários no garrafão. Ao ver seu nome novamente incluído na relação principal, não tem como esquecer a cena.”

Faltou dizer que fazia um frio danado, e Magnano só estava virando as costas para o jogo para buscar um copo de café na tendinha bem tímida armada dentro daquele inesquecível ginásio, que precisava de uma calefação daquelas.

– Sabendo dos problemas físicos de Nenê, a convocação de Caio, também não deixa de ser um movimento de precaução do argentino, não? Mesmo na melhor forma física de sua vida, o pivô do Flamengo ainda é uma fortaleza.

David Andersen x Andrei Kirilenko

Andersen e Kirilenko: força bruta?

– Se ignorarmos as dores no pé de Nenê, talvez o argentino esteja se preparando para batalhas físicas de garrafão em Londres-2012. Esse é um mantra constantemente evocado aqui, ali e em todo lugar. Será, mesmo? Convém aqui, então, um resumo não tão breve sobre o que nos aguarda na primeira fase olímpica, pelo Grupo B, em termos de pivôs:

1) a Austrália tem um garrafão de respeito, com David Andersen, Aleks Maric e Matt Nielsen, todos beeeem rodados em alto nível na Europa. Desses, contudo, apenas Maric é alguém que investe muita energia de costas para a cesta, dando suas pancadas – algo que só fez em treino nas últimas duas temporadas, diga-se, já que estava enterrado no banco do Panathinaikos depois de um a Euroliga imponente pelo Partizan. Andersen também pode fazer isso, mas faz tempo que sua preferência é flutuar com frequência para o perímetro, dada sua habilidade no chute de média distância. Nielsen opera basicamente da cabeça do garrafão, fazendo bons corta-luzes, arremessando e orientando os companheiros;

2) a Rússia tem Timofey Mozgov e Sasha Kaun, um NBA e outro CSKA, dois grandalhões, mas nenhum deles é uma grande arma ofensiva. Varejão não teria problema com nenhum deles, por exemplo. O restante são alas-pivôs versáteis, que chegam na zona pintada com velocidade e, não, força;

Pau Gasol x Yi Jianlian

Há uma boa diferença entre um Pau Gasol e um Yi Jianlian

3) a China joga com Yi Jianlian e o imortal Wang Zhizhi, que são da categoria pena, né? Mais chutadores do que tudo. Tem também um sujeito de 2,21 m inscrito, Zhang Zhaoxu. Se ele fosse minimamente ameaçador, com essa altura e 24 anos, já teríamos ouvido a alguém mencioná-lo, creio;

4) a Grã-Bretanha está mais ou menos no mesmo patamar dos australianos, com gente bem experiente e pesada em Robert Archibald e Joel Freeland. Agora, são dois que Splitter cansou de enfrentar na Espanha, quase sempre com resultados mais que positivos. Já Pops Mensah-Bonsu tem um dos melhores nomes do torneio olímpico e é um ótimo atleta, mas não alguém para Caio marcar. Daniel Clark e Eric Boateng também podem apresentar um currículo razoável, mas ninguém pode temê-los.

(Nota de rodapé? Clark jogou com Caio no Estudiantes espanhol anos atrás e seguiu no clube, enquanto o brasileiro foi dispensado e/ou decidiu se desligar. Dava pra desenvolver mais aqui, mas iríamos nos estender demais, né? Tem a ver com jogador comunitário, imaturidade, muitas apostas no clube etc.)

5) Espanha: aí, sim. Os irmãos Gasol, o atlético Ibaka e o chatíssimo Felipe Reyes, daqueles que parece lento, baixo, mas é forte e técnico pra burro e nunca desiste. Aqui é pedreira para qualquer time do mundo.

6) Se quisermos já prospectar sobre as oitavas, os EUA vão apenas com um pivô tradicional para Londres, mesmo caso da Nigéria; a Argentina tem Juan Pablo Gutiérrez, a Lituânia leva o jovem Jonas Valanciunas e o robótico Javtokas; na França, os três pivôs listados são Ronny Turiaf, Kevin Seraphin e Ali Traoré, gente. São jogadores que podem render bem em determinadas situações, mas esse trio não intimida nem a China ofensivamente.

Façam as contas. A era dos gigantes, a era do “cincão” já acabou faz tempo, galera. Mesmo um Dwight Howard não representa exatamente o mesmo tipo de problema que era lidar com um Patrick Ewing, ou Arvydas Sabonis. O jogo vai mudando.

– Essa conclusão nos inclinaria para a convocação de Augusto? Teoricamente, sim. Seu jogo realmente se encaixa melhor com o que vamos ver pela frente: um pivô ágil, determinado, que corre toda a quadra. Não se iludam com algo: força física nem sempre quer dizer mais intensidade e melhor presença defensiva. E esse não é um ataque contra Caio, de modo algum. Aqui estou mirando, na real, os mantras, dogmas repetidos a esmo e que adotamos como a verdade mais pura e absoluta, sem muitas vezes nem parar para pensar a respeito, mesmo. Agora, não dá, necessariamente, para cravar que Augusto era a melhor escolha. Ele é mais jovem, mais cru e teve de superar uma série de questões físicas e médicas durante a última temporada.

– Questionar se não era o caso de cortar Raulzinho me parece algo bem inadequado. Ainda mais vendo Magnano usar Larry como um ala sem receio algum, nos últimos amistosos sem Leandrinho e/ou Marquinhos. E, quanto ao ligeirinho, não dá mais para considerar Leandrinho alguém que “joga, quebra o galho de 1”. Mesmo, e por favor. Na NBA, ele não executa mais esse tipo de bico há umas quatro temporadas, no mínimo. E a função de armador é muito importante para se falar em “quebra-galho”.

PS: Veja o que o blogueiro já publicou sobre Caio Torres e Augusto Lima em sua encarnação passada.


Em clima nada amistoso, Brasil vence e vê Splitter de volta
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Giancarlo Giampietro

Com torcedores dos dois lados no ginásio em Foz do Iguaçu, velhos rivais vindo de uma partida que já não havia terminado bem em Buenos Aires, não era de espantar que tivesse confusão em quadra. Fazia tempo que não víamos dessas, mas estava latente.

Os argentinos já se irritaram muito com um empurrão de Marcelinho Machado em Luis Scola, posicionado para um corta-luz, logo nas primeiras posses de bola. Foi um encontrão duro, mas nada fora do comum.

A partir dali, Julio Lamas se descontrolou e soltou cobras e lagartos para cima do trio de arbitragem brasileiro, recebendo falta técnica e, nem assim, aliviando. Teve vários momentos de “fala muito” durante os dois primeiros quartos até chegarmos ao empurra-empurra geral depois de Leo Gutiérrez e Marcelinho se estranharem. Clima amistoso o escambau.

Machado e Leo foram expulsos. Nocioni acabou excluído com cinco faltas, claro. Agora… Não me venham com ofensas a argentinos, por favor. É jogo, não guerra.

Brasil x Argentina em Foz do Iguaçu

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Em quadra, na bola, a seleção atacou, enfim, com seus pivôs, refreando seu ímpeto de três pontos. A combinação Splitter-Varejão voltou a funcionar – lembrem do que fizeram juntos na Copa América de 2009 em Porto Rico. A ação interior nos primeiro e quarto períodos fluiu com estilo e eficiência sob a orquestração de Huertas e os dois grandões cortando direto para o aro.

Splitter, em particular, lavou a alma. Foi sua primeira atuação nesta série de amistosos que seguiu o padrão ao qual nos habituamos nos últimos torneios oficiais. Ou seja: alto nível. Colocou toda sua habilidade no jogo de pés para dar um baile nos adversários no garrafão.

Quando Nenê entrou, o aproveitamento caiu, mesmo com o pivô isolado no poste interior contra rivais mais baixos e fracos. Não foi eficaz. Só não é para detonar o são-carlense, que não está 100%, mas precisa ser envolvido, sim, para chegar bem a Londres.

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Juan Gutiérrez dessa vez foi colocado no bolso, como deve ser. Nossos pivôs são bem mais ágeis, versáteis e igualmente fortes.

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Larry Taylor marcou muito bem, usando sua capacidade atlética para pressionar seu jogador, que invariavelmente tinha dificuldade para criar. No ataque, fora da bola, ele também se mexeu bastante naquela que foi sua melhor partida pela seleção até aqui. Só não confundam uma coisa: não é porque ele jogou ao lado de Huertas e Raulzinho que significava uma dupla armação para o Brasil. O norte-americano jogou basicamente como um ala.

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O desfalque de Leandrinho (somado ao eterno de Marquinhos) ainda impede que Magnano tenha seus 12 atletas em quadra por uma vez sequer e nos impede também de saber qual exatamente é a rotação que o técnico tem em mente para os Jogos. Algo importante também dentro do grupo: ajudaria que ninguém crie falsas expectativas sobre suas funções durante a competição.

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A vitória em si pode ser comemorada, mas o placar final não chega a ser totalmente realista, já que os argentinos, no fim, nos dois minutos finais, estavam sem cinco de seus principais jogadores – Ginóbili, Delfino, Scola, Nocioni e Leo Gutiérrez. Muita coisa comparando com Leandrinho, Marquinhos e Machado. Explicando: a vitória foi mais que justa, o Brasil foi superior, mas houve condições atípicas no jogo também.

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Alguém viu aí qual o lance em que o Scola se lesionou no quarto período? Que fase a do argentino, hein? Acabou de ser dispensado pelo Houston Rockets e ainda termina um Brasil x Argentina no vestiário para ser examinado.


Brasil barbariza na bola de três. Vai ser sempre assim?
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Giancarlo Giampietro

Marcelinho Machado para três

Em geral, antes de fazer seu comentário, na tentativa de ser o mais original possível, recomenda-se ao blogueiro que não bisbilhote por aí na rede, para não ser influenciado.

Depois de assistir ao VT de Brasil x Espanha B nesta quinta de manhã, porém, infringimos essa regrinha aqui ao abrir o Basquete Brasil, do professor Paulo Murilo. E o que acontece? Claro que se influencia.

Como de praxe, o ex-técnico do Saldanha da Gama levanta um ponto importantíssimo a respeito do modo como o brasileiro tem atacado. Diante de tantos chutes de três pontos do time em jogadas de cinco contra cinco, ele comenta desconfiado: “Hmm… Sei não”.

Reforçamos essa reticência aqui. Quando encarando uma defesa plantada, a seleção tem jogado muito pouco com seus pivôs. Seja Nenê, Splitter, Varejão, Caio ou Guilherme. Eles precisam ser alimentados muito mais vezes, gente. Talento não falta ali.

Creio que a contestação é válida mesmo depois da surra que os caras deram nos espanhóis ontem. Não é todo dia que vai chover bola de três pontos na cesta deste jeito (aproveitamento de 64%). Isso é um fato. Mesmo que muitos desses tiros de longa distância tenham sido/sejam bem trabalhados, não se  pode trabalhar excessivamente para isso: há muitos momentos em que eles parecem a única finalidade do time.

O número de 25 chutes pode não parecer muito para alguns. Mas, se for o seu caso, considere o seguinte: com a forte defesa e diversos contra-ataques, boa parte de nossos arremessos totais foram meras e ótimas bandejas livres. Resulta que, em termos de posse de bola com o relógio andando normalmente, digamos, o volume de bolas de longa distância cresce consideravelmente.

Em Londres, quando enfrentarem uma defesa mais bem armada e ativa no perímetro do que os espanhóis ‘bês’ apresentaram, como vai ser? Vão fintar e buscar a infiltração? Vão dar mais um passe para tentar um arremesso ainda mais equilibrado? Antes desse possível chute, vão ao menos procurar estabelecer um jogo interno qualquer? Essas perguntas podem ser importantes muito em breve.

* * *

Tirando Guilherme, não parece, realmente, que nossos pivôs estão um pouco enferrujados? Splitter deu uma parada ao final da temporada. Nenê vem sofrendo com seus problemas no pé. E Varejão ficou muito tempo inativo por causa da fratura sofrida no pulso. Bem, para eles deslancharem, nada melhor do que abastecê-los nesses jogos preparatórios.

* * *

Depois de uma sacolada dessas, não dá apenas para levantar dúvidas. Tem de elogiar também, e o ponto mais positivo até aqui é a intensidade da equipe. Defendendo sem parar, perseguindo a bola, quebrando o ritmo dos adversários que haviam conseguido muito mais contra a Argentina na semana passada. A diferença na abordagem brasileira, comparada com a dos vizinhos, em termos de pressão na bola, fica gritante. Para manter esse ritmo, Magnano vai rodando seu time de modo constante. É um plano de jogo bem agressivo e interessante, que já virou padrão. E essa abordagem dá uma boa segurança para a equipe se ajeitar no ataque – sem contar as inúmeras bandejas acima citadas.

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Se já não faz parte do seu hábito, durante toda a temporada, é meio que obrigatório conferir as análises do professor Paulo Murilo.


Pé de Nenê: para monitorar
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Giancarlo Giampietro

Nenê em acão pela seleção em São Carlos

Nenê vem sendo poupado desde a vitória sobre a São Carlos

Desperta preocupação que o pivô Nenê não tenha participado dos dois amistosos da seleção em Buenos Aires. Segundo a assessoria da CBB, o paulista de São Carlos está sendo poupado por dores no pé e não há uma estimativa de quanto tempo ele pode ficar afastado, assim como Marquinhos, com lesão no abdômen: “Não estão fora por X dias e são reavaliados antes de cada atividade”.

O que quer  dizer que eles podem voltar a jogar agora mesmo em Foz de Iguaçu ou de repente serem resguardados para a gira de amistosos no exterior. O grandalhão ao menos está treinando.

Durante a prensada temporada pós-locaute da NBA, lembremos que Nenê fez apenas 39 partidas de 66 possíveis (59% do total). Pelo Wizards, após ser trocado, ele perdeu 11 jogos devido a uma fascite plantar, registre-se. Algo bem chato de administrar, mesmo.

Foi uma queda significativa para o brasileiro, que havia desfrutado de três temporadas bastante saudáveis pelo Nuggets anteriormente, tendo disputado 93% dos jogos em 2008-09, 100% em 2009-10 e 91% em 2010-11.

Vamos monitorar. Augusto segue com o grupo.

E o fato é que até agora, dos cinco amistosos que disputou, a seleção não esteve completa, compleeeeeta nenhuma vez.


A argentina de Scola (e Ginóbili)
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Giancarlo Giampietro

Manu Ginóbili, Argentina

Ele não chegou a ficar tão distante assim de sua seleção como Nenê, mas foi um bom período também.  Quando retornou no ano passado na Copa América de Mar del Plata, houve um certo estranhamento.

Mas calma. Não é questão de ser alarmista ou querer instaurar uma crise nos nossos vizinhos. Mais que natural.

Por melhor entrosamento que desfrute com seus companheiros de geração, a distância de muitos anos lhe apresentou uma seleção um pouco diferente do que estava habituado a acompanhar. Uma seleção que jogava muito mais em função de Luis Scola do que no passado. (Embora não dê para também o fato de ter se lesionado no final da temporada da NBA, com um braço quebrado).

Ginóbili terminou o Pré-Olímpico com 15,8 pontos, 4,0 assistências e 3,0 rebotes. Scola fechou com 21,4 pontos, 6,3 rebotes e 1,7 assistência. De modo algum são números fracos, baixos. Mas o que contava mais era a química que víamos em quadra, ainda mais nos confrontos decisivos.

Era um ala mais hesitante, apostando muito mais no seu tiro de três pontos do que nas infiltrações. Nos dois confrontos com o Brasil – uma derrota histórica e a vitória na final –, somou apenas 22 pontos, quatro assistências e oito desperdícios de posse de bola, com péssimo 7 arremessos certos em 21 tentativas de quadra.

Bem, na decisão do Super 4 desta sexta-feira, era outro Ginóbili, né? Foram 33 pontos de uma só tacada (43,4% dos pontos da equipe), com apenas quatro chutes de longa distância e um convertido. Procurou atacar, pressionar a defesa brasileira em seu interior, o que faz com destreza, mobilidade e inteligência únicas. Dessa vez, também, ele e Scola trabalharam bem em diversas combinações de dupla, e não houve quem o parasse.

Em suma, foi uma atuação de gala perante sua torcida, que sempre tem a sensação de que possa estar assistindo ao craque pela última vez na vida: não está claro até quando eles vão jogar e cada partida da geração dourada em solo argentino pode ser a de despedida.

Se for para Manu jogar desse jeito, que se despeça logo. 🙂

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Foi um jogo absolutamente equilibrado, mas os argentinos levaram a melhor na maioria dos quesitos:

– Aproveitamento de quadra: 46% Argentina, 43% Brasil, que arremessou apenas quatro vezes a mais.

– Três pontos: 25% Argentina, 26% Brasil, que tentou, no entanto, sete chutes a mais (6/23 é péssimo, pior que 4/16).

– Rebotes: Argentina 36, Brasil 34.

– Assistências: Argentina 11, Brasil 9.

– Bolas perdidas: 9 a 9.

– Pontos no garrafão: Argentina 36,  Brasil 30.

Mas a maior vantagem, mesmo, para os donos da casa foi no número de faltas: 31 foram marcadas para os brasileiros, 18 para os argentinos, que bateram, desta forma, dez lances livres a mais (32 a 22).

Sim, a arbitragem fez alguma diferença além de Ginóbili. Mas a seleção podia também ter maneirado ou caprichado mais nos tiros de três pontos que tanto desagradam a Magnano.

* * *

Amistoso, ok, a derrota não é para ser levada tão a sério como resultado, mas não deu para não notar Magnano virando as costas para o compatriota Lamas ao final da partida, assim como o Alex se recusando a se levantar para cmprimentar Ginóbili. Ficaram pês da vida com a arbitragem.

* * *

Permitir a Juan Gutiérrez 20 pontos e 8 rebotes, com sete acertos em oito arremessos definitivamente não estava nos planos.

PS: veja o que o blogueiro já publicou sobre a seleção brasileira em sua encarnação passada.