Vinte Um

Arquivo : Rio 2016

Para dar zebra, Sérvia terá de ser melhor que EUA no ataque
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Giancarlo Giampietro

Você pode marcar Kyrie Irving? Talvez. Mas e como fica Durant?

Você pode marcar Kyrie Irving? Talvez. Mas e como fica Durant?

Por Rafael Uehara*

Conforme o esperado, a seleção dos Estados Unidos avançou à final da #Rio2016 sem nenhuma derrota pelo caminho. Diferentemente das expectativas, porém,  esse time não dominou seus adversários.

Estrelas como LeBron James, Stephen Curry e James Harden optaram por não participar esse ano, mas, ainda sim, a previsão era a de que esse grupo (que contem mais ou menos 10 dos 30 melhores jogadores da NBA) não teria problemas para bater todos os oponentes confortavelmente. O que não se materializou.

Quatro dos sete jogos que os Estados Unidos participaram foram competitivos até o último quarto. A defesa comandada por Tom Thibodeau tem sido relativamente pútrida considerando a vantagem em porte atlético que os americanos têm em relação aos demais adversários.

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E, tendo isso em vista, as rotações de Mike Krzyzewski são de coçar a cabeça, principalmente com relação ao fato de Draymond Green ter um papel muito pequeno nesse time. Green, quando o Warriors joga com formação menor, se transforma no melhor pivô da NBA. Tem um estilo de jogo perfeito para o padrão Fiba. Provavelmente corrigiria algumas das deficiências que esse time que mostrado.

Mesmo com esses problemas no lado defensivo, os americanos ainda sim tøem se mostrado muito difíceis de ser batidos devido ao seu poder ofensivo. Não jogam um ataque lindo de se ver, com a bola indo de lado a lado e maximizando todas essas estrelas dentro de um jogo coletivo. Porém, podem escalar o melhor grupo de atiradores do torneio, e isso tem feito muita diferença.

Parar os Estados Unidos é impossível. A Espanha teve a melhor defesa da primeira fase e  só conseguiram segurar os norte-americanos a 82 pontos em 40 minutos.

Muito se tem feito da defesa sérvia, adversário dos norte-americanos na disputa pela medalha de ouro, depois das partidas contra Croácia e Austrália. O desempenho nesses jogos foi realmente de se aplaudir, ambos pelo aspecto estratégico armado pelo treinador Sasha Djordjevic e pelo comprometimento de seus jogadores no esforço para materializar seu plano de jogo.

Teodosic chuta e cria que é uma beleza. Seus companheiros vão acompanhá-lo?

Teodosic chuta e cria que é uma beleza. Seus companheiros vão acompanhá-lo?

Mas o quanto de chance os sérvios têm de fazer o impensável? De qualquer forma, provavelmente uma resposta positiva não terá nada a ver com sua defesa. Uma coisa é Nikola Kalinic parar Patrick Mills. Outra totalmente diferente é pedir que marque Kevin Durant. E mesmo que o faça, quem para Kyrie Irving? Quem impedirá que Klay Thompson e Carmelo Anthony se libertem para seus tiros de três se movimentando pelos lados da quadra?

Durante esse torneio, a chance real de bater os Estados Unidos tem se mostrado dependente da capacidade de acertar seus arremessos livres. Esse time é vulnerável e dá oportunidades aos adversários, que têm conseguido criar boas oportunidades sem marcação. Mas até agora ninguém se mostrou capaz de aproveitá-las a ponto de vencer no final.

Austrália, França e Espanha acertaram apenas 30,3% de seus 66 tiros de três pontos contra os Estados Unidos. A Sérvia, que chegou mais próxima do triunfo, tendo oportunidade clara de empatar o jogo da primeira fase no último lance da partida, acertou 10 de suas 25 bolas de três naquele jogo. Precisará de atuação similar neste domingo.

A dúvida é se esse time sérvio tem mesmo todo esse poder de longa distância para repetir tal atuação. Ninguém questiona que Milos Teodosic e Bogdan Bogdanovic podem acertar tiros de qualquer lugar da quadra, com ou sem marcação. Mas será preciso que Kalinic aproveite os tiros sem marcação que Teodosic criará para ele na zona morta e que Stefan Markovic seja um pouco mais agressivo contra a defesa pífia de Irving no pick-and-roll. Mais: Nikola Jokic ou Milan Macvan precisarão de tirar proveito de Cousins ou Anthony no pick-and-pop.

Uma vitória sérvia neste domingo fará muito bem para o basquete ao redor do mundo. Esta não é a melhor seleção que os norte-americanos poderiam ter, mas ainda sim é um grupo cheio de estrelas que não tem desculpa para não vencer. Se os sérvios ganharem o ouro, provarão aos norte-americanos que, se eles não jogarem basquete comprometido defensivamente e coletivo ofensivamente, mesmo que tenham vantagem em porte atlético, o nível ao redor do mundo avançou o suficiente para tornar sua dominância vulnerável.

Vamos esperar.  É difícil mudar o palpite. A expectativa, ainda sim, é de que os Estados Unidos prevaleçam, mantendo o status quo em que vivemos.

*Rafael Uehara edita o “Basketball Scouting”. Seu trabalho também pode ser encontrado nos sites “Upside & Motor” e “RealGM”, como contribuidor regular. Vale segui-lo no Twitter @rafael_uehara.

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O que está por trás da grande campanha da Austrália
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Giancarlo Giampietro

Dellavedova: inteligência não falta aos Boomers

Dellavedova: inteligência não falta aos Boomers

Por Rafael Uehara*

É de se argumentar que a seleção australiana foi a melhor equipe da primeira fase neste #Rio2016. Venceu quatro dos seus cinco jogos, com margem de 21,5 pontos por vitória, e sua única derrota veio para a seleção americana, por meros 10 pontos que não refletem de forma correta o quanto aquele jogo pareceu em aberto até os últimos cinco minutos.

É uma campanha que tem sido considerada um tanto quanto surpreendente, mas provavelmente não deveria ser.

Analisando este elenco, vemos seis jogadores de NBA, três deles parte de times que concorreram ao título na temporada passada, embora todos coadjuvantes. Também não há nenhum protagonista no mais alto escalão do basquete europeu neste grupo. David Andersen já teve seus dias de estrela com o Siena e o Fenerbahçe, mas hoje joga na mediana liga francesa e sua produção lá também não é nada de se encher os olhos.

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Porém, estes sete jogadores, mais o atirador certeiro Ryan Broekhoff e o armador relativamente versátil Kevin Lisch formam uma rotação sem nenhum ponto fraco considerável, e muito bem treinado pelo técnico Andrej Lemanis. Esse time tem mostrado que a força coletiva, quando organizada de forma inteligente, pode compensar à falta de talento individual.

Patrick Mills e Matthew Dellavedova não são criadores de primeiro nível na NBA. Não seria a melhor decisão depender deles para criar contra uma defesa bem armada com freqüência. Mas ambos são extremamente inteligentes e precisam apenas de ligeira vantagem para penetrar o garrafão, forçar rotações e desestabilizar a marcação adversária.

Para proporcioná-los essa vantagem, Lemanis criou um sistema ofensivo com corta-luzes altos, colocando bastante ênfase especialmente no corta-luz em transição. Nem sempre isso resulta em caminho aberto para os armadores partirem pra cima, mas, quando simplesmente forçam trocas, já tiram a defesa fora do seu plano de ação. A seleção americana, em particular, sofreu com esse tipo de ação.

Na meia-quadra, o ataque australiano se movimenta bastante, com os jogadores posicionados na zona morta constantemente fazendo o corta-luz uns para os outros, tentando libertar alguém para um corte pra cesta ou um tiro de três pontos sem marcação. Em cinco jogos, o time tem aproveitamento de 59% em tiros de dois pontos e 36,2% em tiros de três pontos, além de ter registrado média de 26 assistências por jogo.

Lemanis foi submetido a um questionamento público com sua opção de escalar Andrew Bogut e Aron Baynes juntos. Dois pivôs como estes na mesma escalação vai contra os princípios do basquete moderno que prega espaçamento da defesa – não põem medo no adversário quando estão fora do garrafão, sequer com um tiro de meia distância (que Baynes tenta de vez em quando).

Bogut: um terceiro armador de 2,13m de altura

Bogut: um terceiro armador de 2,13m de altura

Mas Bogut tem jogado como quase um terceiro armador, com média de quatro assistências por jogo no torneio, frequentemente facilitando as coisas posicionando-se no topo do arco e somente descendo abaixo da linha de lances livres quando vai ao aro para receber um passe no pick-and-roll ou quando identifica que tem um jogador menor o marcando e pede a bola de costas pra cesta. A constante movimentação tem permitido que o ataque funcione bem mesmo com os dois pivôs juntos, embora há ocasiões em que a presença de Andersen (ala-pivô moderno, que precisa ser marcado no perímetro) é necessária.

Defensivamente, este time é suscetível a sofrer nas mãos de alas potentes, capazes de carregar um time nas costas. Nem Broekhoff, nem Joe Ingles têm porte atlético pra esse tipo de tarefa. É por isso que ainda sim é difícil ver esse time brecando o a seleção americana o suficiente para batê-los.

Mas com Bogut protegendo a cesta, ainda um dos melhores da NBA nesse quesito mesmo que seu corpo continue deteriorando, e Mills e Dellavedova pressionando a bola, com duas verdadeiras pestes que fazem o possível para navegar entre corta-luzes e se manterem vivos no pick-and-roll para limitarem a necessidade de rotações, esse time tem uma base para se impor nesse lado da quadra também contra todos os outros adversários, permitindo apenas média de 67,5 pontos na primeira fase para times que não o americano.

*Rafael Uehara edita o “Basketball Scouting”. Seu trabalho também pode ser encontrado nos sites “Upside & Motor” e “RealGM”, como contribuidor regular. Vale segui-lo no Twitter @rafael_uehara.

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Capacidade de chute de Benite faz falta ao ataque da seleção
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Giancarlo Giampietro

vitor-benite-shooting-brazil

Por Rafael Uehara*

Em 15 minutos com Vitor Benite em quadra, a seleção brasileira bateu a Argentina por sete pontos. Nos 35 minutos em que ele esteve no banco, o déficit foi de 11 pontos, o que resultou na derrota de 111 a 107, que muito provavelmente impedirá que a seleção avance à próxima fase, uma vez que a seleção espanhola atropelou a lituana no jogo seguinte.

Benite é hoje um dos melhores chutadores do planeta. Acertou apenas quatro tiros de três pontos em quatro jogos, mas, assim como tem acontecido no caso de Guilherme Giovannoni, sua mera presença em quadra alarga a defesa e permite a seus companheiros mais espaço para trabalhar. De acordo o site RealGM, com Benite em quadra a seleção tem marcado em média 115,6 pontos a cada 100 posses de bola.

É uma pena, porém, que o ex-flamenguista seja abaixo da média em quase todos os outros quesitos, ao menos contra esse nível de competição. Com a bola nas mãos, ainda consegue criar alguma coisa quando a recebe já com a defesa fora de posicionamento. Dificilmente chega à cesta e não cava muitas faltas, mas é também um atirador certeiro de meia distância após o drible.

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Porém, contra uma defesa armada, Benite não vem se mostrando uma opção para criar. Fica mais difícil ainda quando está pressionado pelo relógio, o que é mais viável para Marquinhos e Alex, principalmente devido à suas habilidades de jogar de costas pra cesta contra alas mais fracos.

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Benite é também abaixo da média no setor defensivo, onde não tem porte físico para se manter à frente de oponentes no um contra um, gerar roubos de bola, ou fazer muita diferença em rotações. Sua estatura se torna um problema na hora de pensar nos rebotes defensivos. Com ele em quadra, a seleção tem permitido em média 108,4 pontos a cada 100 posses de bola do adversário. Ainda assim, o saldo é positivo, devido ao efeito que causa no ataque.

Na hora de montar uma rotação, qualquer treinador vai ter de avaliar os pontos positivos e negativos de cada um de seus 12 jogadores e decidir de que maneira eles podem se encaixar.  Se for se apegar às suas limitações, é de se entender porque Magnano não deu a Benite papel maior nessa rotação. Técnicos, em geral, quase sempre dão preferência aos defensores que têm dificuldade no tiro do que aos atiradores que dificuldade na marcação.

Porém, considerando que o que essa seleção tem sentido mais falta neste #Rio2016 é um tiro de longa distância consistente (aproveitamento de apenas 30,9% em 81 tentativas), que estresse os adversários e facilite as coisas para os jogadores mais criativos com a bola, é de se argumentar que Magnano não tem feito a análise custo-benefício correta, especialmente considerando que esse grupo proporciona opções para assimilar o chute de Benite em uma escalação de forma que o impacto de seus defeitos sejam minimizados.

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Giovannoni justifica sua convocação e até merecia mais minutos
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Giancarlo Giampietro

Giovannoni teve grandes momentos contra a Argentina. E se... ?

Giovannoni teve grandes momentos contra a Argentina. E se… ?

Por Rafael Uehara*

Muitos contestaram a convocação de Guilherme Giovannoni para estes Jogos Olímpicos. O veterano já não tem mais porte atlético invejável, e havia questionamentos se sua presença não estaria tirando a oportunidade de jogadores com maior potencial. Mas, neste sábado, na derrota da seleção por 111 a 107 contra a Argentina, o veterano mostrou que não só merece presença nesse grupo, mas que, na verdade, deveria ter papel maior na rotação.

O tiro de três pontos é essencial no basquete moderno, mas tem impacto ainda maior quando vem das posições mais altas. Jogando contra um time com escalação padrão, com um ala-pivô puro em quadra, Giovannoni força que esse defensor maior se afaste da cesta, dando maior espaço para seu pivô trabalhar de costas pra cesta e para que seus alas e armadores invadam o garrafão por meio do drible.

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E os números atestam esse impacto. Giovannoni acertou apenas cinco tiros de três pontos em quatro jogos. Em apenas oito oportunidades, este é um aproveitamento excelente. Mas, em termos de números acumulados, não parece lá grande coisa. Mesmo assim, a mera presença dele em quadra aliena a defesa adversária e acelera o ataque brasileiro. De acordo com o site RealGM, antes da partida contra a Argentina, com o ídolo do Brasília em quadra, a seleção marcou em média 113 pontos a cada 100 posses de bola. Excepcional. Pelo #Rio2016, o ala-pivô tem jogado por 14,1 minutos e médias de 6,0 pontos, 3,0 rebotes e 62,5% nos arremessos de longa distância.

Porém, o técnico Rubén Magnano ainda sim tem optado por manter Rafael Hettsheimeir como parte ativa da rotação, e até mesmo como titular, em vez de simplesmente dar todos os seus minutos (9,8) para Giovannoni e jogar com uma formação menor quando ele precisa descansar, se a ideia é sempre ter um entre Nenê ou Felício em quadra. (PS: lembrando que um dos melhores momentos do pivô ex-Real, Málaga e Zaragoza pela seleção aconteceu no Pan, ao lado de um pivô mais flexível, como Augusto).

Chute de Guilherme alarga a quadra para o ataque brasileiro

Chute de Guilherme alarga a quadra para o ataque brasileiro

Magnano provavelmente pensa que Hettsheimeir proporciona o melhor de dois mundos. O pivô do Bauru também tem o tiro de longa distância como principal arma, mas, além disso, tem certa habilidade para trabalhar de costas para a cesta caso o adversário simplesmente coloque um jogador menor nele para contestar os tiros de longa distância com maior rapidez.

Giovannoni realmente, em 2016, é limitado em outros quesitos com a bola nas mãos contra esse nível de basquete. Quando o oponente o impede de atirar rapidamente após o passe, ele não tem muita velocidade pra atacar através do drible, chegar à cesta e finalizar ao redor de pivôs com larga envergadura esperando por ele. Tem força para manter seu equilíbrio contra marcação física, mas seu tiro de média distância criado por ele mesmo também não cai o suficiente para ser carro-chefe de um ataque.

Além disso, nenhum adversário teme que ele possa fazer tamanho estrago contra jogadores menores de costa pra cesta, nunca demonstrando tamanho porte físico para simplesmente forçar posição para arremessos muito curtos perto do aro, mesmo que seu jogo de pés tenha sido sempre uma das  principais virtudes de seu basquete.

Porém, Magnano tem ignorado, ou não diagnosticado, que Hettsheimeir também não tem sido grande opção nestes tipos de jogada contra os adversários de alto escalação que temos enfrentado. E que, a essa altura do campeonato, a disciplina de Giovannoni posicionando-se ao redor do arco com maior frequência do que Hettsheimeir (que vira e mexe ainda pede e recebe a bola tentando materializar algo de costas pra cesta), tem maior valor e beneficia o ataque brasileiro mais. Sem contar o fato de que Giovannoni tem sido ameaça maior no rebote ofensivo.

Magnano provavelmente também se sente mais seguro com o tamanho de Hettsheimeir no setor defensivo. Realmente, a presença de Giovannoni em quadra, especialmente em formações junto com Vitor Benite, o deve deixar muito preocupado com a capacidade da seleção de impedir que o adversário bote fogo no jogo.

Giovannoni não tem mais porte atlético para dar tocos, gerar roubos de bola ou trocar marcação e enfrentar jogadores menores com frequência. Mas sua disposição nesse lado da quadra é de se aplaudir. Ele é atento a suas responsabilidades cumprindo com suas rotações e fazendo bloqueio de rebote para tirar seus adversários da tabela. Ele tem coletado 20.4% dos tiros perdidos pelos oponentes enquanto esteve em quadra. Além disso, pensando nos desastrosos minutos inicias do jogo contra a Argentina, em que Andrés Nocioni flutuou com liberdade pelo perímetro, fazendo Magnano pagar pela dupla Hetthsheimeir-Nenê em quadra, fica a dúvida sobre como teria sido aproveitamento de Chapu se Guilherme, um velho conhecido, estivesse mais tempo com ele.

Brasil já sofreu um bocado nesta primeira semana

Brasil já sofreu um bocado nesta primeira semana

Antes da partida contra a Argentina, a seleção tinha permitido menos que um ponto por posse com Giovannoni no time. Contra a Argentina, a seleção perdeu apenas por um ponto em seus 30 minutos de quadra, em comparação a cinco com Hettsheimeir em seus 15 minutos. Com o pivô do Bauru em quadra, a seleção tinha permitido em média 112 pontos a cada 100 posses de bola do adversário antes da partida de sábado.

Giovannoni não é um jogador perfeito, mas suas virtudes tendem a causar maior efeito do que seus defeitos nestes Jogos Olímpicos, algo que até mesmo os mais críticos hoje talvez não possam contestar. Parece claro que é/era a melhor opção que a seleção tem/tinha em sua função. É difícil fugir da ideia de que, se tivesse sido mais bem aproveitado em todas essas três partidas que a seleção perdeu de forma dolorosa, por diferenças pequenas, talvez estivesse em condição de avançar às quartas com um melhor aproveitamento de um veterano que ainda vem produzindo muito pelo NBB e, de alguma forma, ainda traduz algumas de suas habilidades para o nível olímpico.

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A seleção não encontrou resposta para Bogdanovic
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Giancarlo Giampietro

Bogdanovic quase não foi incomodado

Bogdanovic quase não foi incomodado

Bojan Bogdanovic pega a bola na cabeça do garrafão, ignora o baixinho à sua frente e atropela rumo à bandeja. Bogdanovic pega o rebote defensivo, sai em transição, não é acossado por ninguém e faz a cravada, partindo de um lado para o outro da quadra. Bogdanovic usa um corta-luz fora da bola, se libera por uns instantes e mata o chute de fora. Bogdanovic, Bogdanovic, Bogdanovic. O ala da Croácia aterrorizou a defesa brasileira nesta quinta-feira, liderando uma vitória por 80 a 76, pela terceira rodada do #Rio2016. Na briga por vagas, a equipe balcânica se vê em posição favorável em relação ao Brasil.

Desde o Pré-Olímpico Mundial em Turim, esta configuração croata vem derrubando adversários de maior renome ao apostar tudo em torno de suas principais referências técnicas. A hierarquia de seu ataque está clara: 1) Bodanovic, 2) Dario Saric, 3) Bogdanovic, 4) Saric, 4) Bogdanovic, 6) Saric, (…) 15) Krunoslav Simon, 16) Roko-Leni Ukic, 17) Mario Hezonja, e o restante da equipe. Deu para sacar, né? Para vencer estes caras, vai ter de fazer um bom trabalho em cima de sua dupla de NBA. A seleção infelizmente não os conseguiu incomodar muito dessa vez.

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Bogdanovic anotou 31 pontos quase 38 minutos de jogo. A quantidade de pontos é absurda, mas o que assusta mais é a eficiência por trás de quantidade tão rara para um torneio olímpico. Ele matou 63% de seus arremessos, com apenas 6 falhas em 16 tentativas, com direito a 11 lances livres cobrados e 10 convertidos também. Isso é chocante, digno da memória de Drazen Petrovic, o saudoso irmão do atual treiandor da seleção nacional, Aleksandar, que vem fazendo um grande trabalho. O novo gerente geral do Brooklyn Nets, Sean Marks, está pelo Rio e certamente ficou embasbacado com essa atuação. Já Saric foi um problema com sua versatilidade. O jovem ala-pivô recentemente contratado pelo Philadelphia 76ers acumulou 15 pontos, 7 rebotes, 3 assistências e 45% nos arremessos, em 34min51s.

Ao redor deles, Petrovic escalou operários que entendem muito bem o que precisam fazer em quadra, como peças complementares a suas estrelas. Não sei se aqui no blog, ou durante os comentários pelo Placar UOL Esporte (*), mas é muito bacana de ver nesta seleção croata como por vezes menos realmente significa mais em esportes coletivos. No papel, a Croácia poderia ser ainda mais forte, caso tivesse Ante Tomic no garrafão e pelo menos um dos jovens entre Ante Zizic e Ivica Zubac no banco, além de um de seus possíveis americanos naturalizáveis, digamos. Mas Petrovic não apelou. Não ficou chorando por Tomic ou pela garotada. Seguiu em frente com o que tinha e montou uma equipe muito bem ajustada. Claramente moldada em torno de sua dupla de excepcionais.

(*A cada jogo, o site está narrando os jogos da seleção, com comentários online deste aqui, ou de Fabio Balassiano. Fica o convite para acompanhar, mesmo que a TV esteja ligada na hora do serviço.)

Marcá-los é fácil? Não, definitivamente, não. Se fosse, depois de jogar contra Espanha, Argentina e Brasil, o experiente ala não teria médias de 24,7 pontos, 5,4 rebotes, 2,3 asssitências e 53,3%  nos arremessos. Ou Saric ficaria abaixo de seus 13,0 pontos, 8,0 rebotes, 5,0 assistências.  Mas, hoje, a defesa brasileira, que hoje é o carro-chefe da seleção brasileira, não encontrou respostas contra eles e nem mesmo os incomodou.

Saric, astro emergente do basquete europeu

Saric, astro emergente do basquete europeu

Saric cometeu seis turnovers, mas teve toda a liberdade do mundo para chutar e converter três em cinco tentativas de longa distância, sendo que, nas duas primeiras partidas, ele havia errado suas oito tentativas de fora. Para quem acompanha seu desenvolvimento na Turquia, é sabido que o tiro de fora não é o seu forte. Ainda assim, ele passou da casa de 40% em sua última temporada de Euroliga. Por mais que ele não represente ameaça exterior como um Dirk Nowitzki, você não pode dar tanta liberdade assim para seu chute. Quanto a Bogdanovic, hã… ele fez o que quis. Foram diversas as ocasiões em que a defesa brasileira permitiu que ele usasse os corta-luzes com muita facilidade para ganhar terreno ou forçar os ‘mismatches’, atacando Huertas, Benite ou os pivôs, frontalmente.

As duas faltas cometidas por Alex no primeiro tempo não ajudaram. Por outro lado, Marquinhos poderia ter sido mais utilizado na tentativa de contenção do astro. Ou que fizessem dobras mais agressivas para tirar a bola de suas mãos. Ou que fossem com tudo para cima de Ukic ou Simon, tentando desestabilizar a armação, para a bola chegar mais quente nas mãos do cestinha, como aconteceu no início do terceiro quarto. Enfim. Por muito tempo, a defesa foi passiva diante de um cara que estava endiabrado. Independentemente da presença de Alex em quadra.

Aliás, o ‘Brabo’ dessa vez deveria ter adotado outra estratégia para tentar parar o melhor jogador de perímetro do outro lado. Bogdanovic é muito forte para ser contido na peitada. Com ele, o melhor seria procurar antecipar seus movimentos e tirar o corredor para o corte, com rapidez, em vez de força. Quanto mais faltas fizerem, pior. O cara acertou 91% dos lances livres, com pontos de graça.

Guia olímpico 21
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Com Saric, devido a sua combinação de velocidade e estatura, também é complicado encontrar alguém que dê conta. A melhor alternativa brasileira era Augusto Lima, mesmo que o pivô carioca precisasse ficar flutuando pelo perímetro, distante dos rebotes. Pensando em defesa, ele foi bem na empreitada, e ainda conseguiu agredir o carioca do outro lado, correndo pela quadra feito um maluco em transição, atacando perto da cesta com eficiência (11 pontos em 8 arremessos, em 21 minutos). Para Nenê, hoje, Saric já é muito ágil. E você não quer tirar o veterano do Rockets do garrafão, onde fecha muito bem espaços e ainda dá velocidade na saída em transição, uma vez coletado o rebote.

Nesse ponto, vale um questionamento em relação à rigidez de Magnano em seu constante revezamento. Contra os croatas, especificamente, era o caso de ter enxugado um pouco a rotação. Petrovic vai na contramão dos demais companheiros de profissão do torneio ao priorizar os minutos de suas estrelas. De novo: Bogdanovic jogou por 37min56s. Saric, por 34min51s. Deveria haver um ajuste por parte dos adversários para lidar com os caras.

O altíssimo aproveitamento da dupla e da seleção croata como um todo teve impacto direto no ataque brasileiro também. No geral, os balcânicos fizeram mais pontos em transição do que os brasileiros (13 a 8), algo impensável antes. Foram raras as ocasiões em que o time da casa conseguiu atacar seu adversário de modo desestabilizá-lo.

Enfim. O estrago agora já foi feito, e a seleção conheceu sua segunda derrota em três rodadas. Para não depender de contas, precisa vencer Argentina e Nigéria nas próximas rodadas. Nada está definido até o momento. Vai saber se a Espanha vai reagir. Se a Lituânia vai rumo a um aproveitamento de 100%. O Grupo B é uma loucura. Em meio a esse caos, Bogdanovic está sobrando.

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Seleção se recupera ao bater a Espanha. Nem céu, nem inferno
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Giancarlo Giampietro

Huertas foi para a galera, após tapinha salvador de Marquinhos

Huertas foi para a galera, após tapinha salvador de Marquinhos

Dois jogos, duas partidas dramáticas. A seleção brasileira vai nos assegurando que aquele script de que o Grupo B do torneio olímpico seria teste para cardíaaaaaaaco, Galvão. Depois do bumba-meu-boi que foi a estreia e a derrota contra a Lituânia, agora foi necessário um tapinha de Marquinhos para chegar ao primeiro triunfo, contra a Espanha. Por aí vamos até a quinta e última rodada, galera. Não tem jeito.

Mas… Espere um pouco, só. Estamos falando de Lituânia e Espanha, certo? Um aproveitamento de 50% nessas duas partidas, tendo a chance de sair com duas vitórias e duas derrotas, parece bastante razoável. Se for para a pagar aquele primeiro tempo desastroso de domingo, temos um time extremamente competitivo, que limitou os dois finalistas do último EuroBasket a parciais de, pela ordem: 12, 12, 13, 18, 14 e 20 pontos. Nada mal: a defesa está funcionando, de um modo geral.

O que não quer dizer que está tudo perfeito. Assim como a derrota para a Lituânia não era o fim do mundo, a vitória dramática sobre a Espanha, decidida realmente por múltiplos detalhes na penúltima posse de bola, não significa que o Brasil está prontinho da Silva para ir ao pódio. Tem muito chão pela frente. Magnano disse que o time estava ferido, mas não morto após o primeiro tempo estarrecedor da estreia. E certamente vai dar um jeito de passar a mensagem ao seu grupo de que ninguém ali é medalhista olímpico ainda por ter batido uma Espanha muito mais vulnerável que poderíamos supor. Uma chave dura dessas não permite extremismos, montanha russa.

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Levando isso em conta, algumas coisas para ruminarmos antes da terceira rodada, contra a Croácia, na quinta-feira:

– A questão Hettsheimeir: se as redes sociais servem como termômetro, dá para notar uma insatisfação com o desempenho de Rafael Hettsheimeir até o momento. Compreensível: é muito pouco provável que o próprio pivô esteja contente com o que (não) vem produzindo. já que, em duas partidas e 17 minutos de ação, ele conseguiu acertar apenas um arremesso de quadra em quatro tentativas, mal teve chance de disparar de longa distância – apenas uma bola de três que saiu de suas mãos. Também só pegou um rebote e cometeu seis faltas. É um rendimento fraco, que fica ainda mais alarmante quando vemos que, somados os duelos com Lituânia e Espanha, a seleção teve um saldo de -20 pontos quando ele esteve em quadra, com direito a -12 contra os Espanhóis.

É preciso entender o que está por trás desses números temerosos, porém. Hettsheimeir se desenvolveu em um jogador de características únicas desde que saiu do Zaragoza, da Espanha. Adicionou o arremesso de fora ao seu repertório, mas isso não faz dele necessariamente o ala-pivô aberto ideal, tão em voga hoje. No ataque, se tiver espaço para ativar sua mecânica, é certo que ele pode cumprir esse papel. O problema está do outro lado, na defesa. Não dá para colocar o pivô de Bauru para perseguir caras como Nikola Mirotic e Victor Claver no perímetro, ou mesmo um cara menos leve como Paulius Jankunas. Hettsheimeir não tem mobilidade lateral, nem cacoete para isso – e não só isso: a questão da falta de rapidez para completar as rotações também, se a bola girar bastante. Devido ao seu porte físico, ele teria mais chances de encarar pivôs mais pesados próximos da cesta. Acontece que, para esse papel, Magnano conta com Nenê e, como vemos, Felício, aparentemente oficializado como o reserva imediato de Maybyner Hilário.

A amostra é pequena, mas acho que já deu para perceber que Rafael não pode jogar com esses dois, devido a essa questão defensiva. Seu parceiro ideal seria Augusto Lima, que pode perseguir atletas mais ágeis na marcação e atacar a tábua ofensiva com voracidade. Não custa lembrar que a dupla funcionou muito bem na conquista do ouro pan-americano no ano passado. Ok, era apenas o Pan. Ainda assim, do ponto de vista de tática e química, a combinação funcionou. As habilidades dos dois casam muito bem, obrigado. Rafael até mesmo espaçava a quadra para o pick-and-roll com Augusto mergulhando fundo no garrafão. Enfim, feito o registro, se Magnano está convicto, mesmo, de que Nenê ou Felício precisam ficar em quadra por boa parte do tempo, aí os minutos de Hettsheimeir devem ficar bem limitados, mesmo, ainda mais depois da boa participação de Guilherme Giovannoni nesta terça.

Produtivo demais no NBB, questionado por muitos, o veterano ainda pode ser útil ao time nacional em situações específicas, devido ao seu arremesso exterior – que é mais testado que o de Rafael em jogos de alto nível pela seleção. Só precisaria se observar também quem é o oponente da vez. Com atletas mais leves como Mirotic e Claver do outro lado, ele não teria problema para jogar, mesmo. Não por acaso, seu saldo de pontos contra os espanhóis foi de +12, inversamente proporcional ao de Hettsheimeir.

Giovannoni pode ganhar espaço nessa

Giovannoni pode ganhar espaço nessa

– Um pouco de tudo: Nenê saiu de quadra com 6 pontos, 4 rebotes e apenas uma cesta de quadra em cinco tentativas em 21 minutos. O brasileiro que ainda se dignifique a criticar o são-carlense naquela linha oscar-schmidtiana de apátrida, desertor poderia se apegar a esta linha estatística paupérrima e esculhambá-lo. Não estaria mais equivocado. O pivô pode não ter a mesma explosão física de seu auge, mas ainda consegue fazer a diferença em um jogo de basquete com suas múltiplas facetas. Contra os espanhóis, ele terminou também com cinco assistências registradas, incluindo um lance incrível em que cruzou a quadra toda e deu um passe para enterrada de Marquinhos que seria complicado até mesmo para Huertas e Raul, freando em meio ao tráfego, sem perder a graça em seu movimento. É um cara especial, gente, que influencia uma partida de modo que nem sempre

Mas ele merece mais aplausos por mais um esforço defensivo que deve pegar muito bem com Magnano. Depois de algumas trombadas e hematomas pelo choque com Jonas Valanciunas pela estreia, o pivô se via obrigado a lidar com uma lenda viva como Pau Gasol. Pois o craque espanhol não foi nada eficiente nesta segunda rodada, mesmo que tenha chegado a um double-double de 13 pontos e 10 rebotes em 32 minutos. Quando Gasol não alcança a marca nem de 13 pontos, e a seleção espanhola ao mesmo tempo converteu apenas 5-19 arremessos de três, você tem uma vitória tática. Da sua parte, o pivô acertou apenas 4 de 11 tentativas de quadra e foi empurrado para fora do garrafão por Nenê, sem precisar de ajuda. Quando Felício era o responsável, algumas dobras providenciais foram realizadas para . Dessa vez, para completar, seu tiro de média distância não funcionou também.

Deve ser por isso que Magnano tem exigido demais de seu pivô titular.

Nenê, com o modo armador ligado

Nenê, com o modo armador ligado

– Augusto Lima é uma fera: quase que o primeiro double-double brasileiro no #Rio2016 veio com o famoso Gutão (9 pontos e 10 rebotes). Ou nem tão famoso assim. O pivô do Zalgiris Kaunas, cedido por empréstimo pelo Real Madrid, teve seus momentos de fama – digo em relação ao público menos ligado no basquete europeu, claro – no ano passado, durante a campanha brilhante rumo ao ouro do Pan de Toronto. Quando ele foi contratado pelo Real Madrid, isso também chama a atenção por razões óbvias merengues.

Agora, numa Olimpíada, acho que está claro para todo mundo que estamos falando de um grandalhão de elite. Não importa que o Real, com um elenco abarrotado, totalmente gastão e esnobe, não o tenha aproveitado tanto assim e que agora o empreste, preferindo contratar os americanos Othello Hunter e Anthony Randolph. Não importa que ele não esteja na NBA, que não tenha sido Draftado. Já temos três anos de evidências que sustentam que o carioca é um jogador de ponta para o basquete Fiba, no mínimo. Por isso, tendo um cara desses disponível e também o valioso Cristiano Felício na lista de espera, não era o caso de se assustar com o desfalque de última hora de Anderson Varejão. Você poderia até se sensibilizar pelo veterano, mas não era motivo para pânico. Até porque, em muitos sentidos, Augusto foi moldado à sua maneira, como um pivô extremamente veloz e ágil, além de atlético e raçudo. Não existe bola perdida para o cara. Contra os espanhóis, velhos conhecidos, apanhou quatro ofensivos em pouco menos de 28 anos. Na meia quadra, se mexe muito bem lateralmente e deve ganhar minutos seguros ao lado de Nenê e, ao que parece, Felício, para marcar jogadores mais velozes no perímetro. Mesmo que ele não ofereça arremesso ao time, se mexe tanto pelo ataque, que acaba ajudando a destravar as coisas. Já que Nenê hoje também age ainda melhor com a partir da cabeça do garrafão, a combinação com o jovem pivô fica melhor ainda.

Augusto, enérgico

Augusto, enérgico

– Foi de três? De qualquer forma, a seleção brasileira ainda não se acertou quando o assunto é o chute de longa distância. Nessas duas partidas, acertou apenas seis tiros de fora, com aproveitamento péssimo de 20,7%. Qualquer scout ou treinador vai tomar nota disso, e podem esperar mais e mais defesas por zona contra os donos da casa no futuro, tal como a Espanha fez nesta terça, com muito sucesso, no segundo período e no quarto. Vem daí a inclusão de Hettsheimeir e Giovannoni na lista final. O time, porém, não pode depender dos dois pivôs para tentar escancarar as defesas. A turma do perímetro precisa entrar em ação. Leandrinho errou todas as suas sete bolas até aqui. Alex também está zerado em três. Marquinhos matou apenas uma em seis. Benite, uma em duas. Raulzinho tem duas em cinco. Huertas acertou a sua, mas não é grande chutador. Com a pressão dos arremessos de três, a vida de Huertas e Raulzinho e seus parceiros grandalhões ficaria mais fácil para o pick-and-roll e outras tramas. Se há algum ponto positivo aqui, é o fato de que a seleção só tentou 29 arremessos em duas partidas, em vez de forçar a barra. Hoje em dia, isso é bem pouco.

– Gracias, professor: o técnico Sergio Scariolo que se prepare. Seu título mundial pela Espanha já tem dez anos de história, e, ao topar voltar ao comando da equipe, sabia que estaria sujeito a críticas. E elas vão chegar. Na derrota para a Croácia, insistiu com Victor Claver no perímetro mesmo que o cara tenha sido um completo desastre exercendo essa função em sua breve passagem pela NBA. Quando retornou ao Lokomotiv Kuban, da Rússia, nesta temporada, voltou a cativar os scouts jogando basicamente como um ala-pivô flexível, usando sua velocidade e leveza para atacar o aro. Contra os Brasileiros, esse equívoco foi corrigido, com o camisa 10 jogando da forma como mais gosta.

Dessa vez, o que merece questionamento são os minutos dedicados a Ricky Rubio. Se ele tem quatro armadores de qualidade excepcional em seu elenco, é para usá-los com liberdade e autonomia. Taí o José Calderón amargando a reserva, e paciência. Analisando a a derrota brasileira contra a Lituânia, estava evidente que uma das principais deficiências da equipe de Magnano seria a defesa no pick-and-roll, com Mantas Kalnietis fazendo estragos. Rubio pode ser excelente em diversos quesitos (passe e defesa, principalmente), mas todo mundo sabe que ele não representa ameaça nenhuma com a bola em mãos. Você pode pagar para ver seu arremesso o quanto quiser. Em 16 minutos, teve saldo negativo de 6 pontos. Ele tentou apenas três arremessos e converteu um e mais um lance livre, para somar 3 pontos. Não deu nenhuma assistência, porque o Brasil não se importava em lhe dar espaço e tirar a linha de passe. Marcelinho Huertas, então, ficou todo solto para ser uma força criativa para a seleção, com 11 pontos, 7 assistências e nenhum turnover, em 30 minutos.

Se tivesse mantido Sergio Rodríguez mais tempo, quiçá o desfecho fosse outro. O Señor Barba é muito mais agressivo que o titular da posição e causou problemas no segundo tempo, para ajudar na reação espanhola. Bateu para dentro, chacoalhou a defesa brasileira e somou 10 pontos e 5 assistências em 22 minutos, com 50% nos arremessos.  Também não é coincidência que tenha terminado com o melhor saldo entre os espanhóis, com +9 – ninguém nem chegou perto disso… Claver foi o segundo com +3.

Scariolo tem um elenco muito talentoso em mãos. Mas parece não ter o controle sobre essas peças. Uma dúvida que me intriga: por que o técnico simplesmente não usa o quinteto Rodríguez-Llull-Fernández-Mirotic-Reyes? Esses caras jogaram um tempão pelo Real Madrid, e essa base foi uma das mais vitoriosas do continente. Nos minutos que for descansar Scariolo, o técnico deveria simplesmente tentar transformar a seleção numa filial do Real, empregando seu ritmo de jogo mais acelerado. Não vem acontecendo.

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Vitória dramática sobre Espanha é decidida, literalmente, por detalhes
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Giancarlo Giampietro

Marqinhos-tapinha-cesta-vitoria-espanha-basquete

Sabe esse papo de que, no esporte de alto nível, os detalhes decidem o jogo? Pois é: na vitória dramática-haja-coração do Brasil sobre a Espanha nesta terça-feira, por 66 a 65, foi literalmente decida em sua cesta final por um detalhe no tapinha providencial de Marquinhos – ou pelo menos pela combinação de dois, três, ou quatro destes chamados detalhes.

Vejam o lance:

Primeiro, o que o clipe não mostra: Marcelinho Huertas deu uma boa chacoalhada em Sergio Llull até contar com um corta-luz de Nenê lá depois da linha de três pontos, para poder ganhar o garrafão. A partir daí, feita a troca, Pau Gasol foi obrigado a contestar seu sempre perigoso chute em flutação de média distância. Isso tirou das imediações do aro o principal reboteiro espanhol (detalhe 1).

Aí, a bola pode não ter caído, mas foi pelo menos amortecida por dois toques no aro, resultado num rebote mais suave, em vez daqueles espirrados. Deu tempo para que Marquinhos saísse da zona morta para alcançar a bola. Mais do que seu toque na bola, o mais bonito aqui foi seu arranque rumo ao garrafão, em vez de ficar estacionado no canto da quadra. Este tipo de posicionamento é uma regra básica de qualquer ataque moderno, para o chamado “corner three”, ou a nossa bem mais charmosa “zona morta”. Um chutador se posiciona ali como opção de desafogo e, no mínimo, para distrair alargar a defesa em quadra.  Isso obrigou que Nikola Mirotic não se aproximasse tanto assim da tabela para cobrir a lacuna aberta por Gasol (detalhe 2).

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Para um ala de 2,05m de altura (ou mais…), a gente espera que Marquinhos seja sempre esse ala agressivo, que parta sempre para ataque, e isso não significa se limitar apenas a chutes de três. Ele tem maleabilidade e tamanho para se impor contra 95% dos laterais do mundo Fiba se decidir jogar perto da cesta. Seu mergulho ao garrafão mostra isso. Ele não só foi esperto, oportunista. Sua passada larga e envergadura o ajudaram a chegar primeiro ao rebote para dar o tapinha (detalhe 3).

De todo modo, mesmo que não estivesse grudado ao brasileiro ou perto da tábua para fazer a coleta, Mirotic cometeu um erro absurdo de atenção e fundamento. Simplesmente virou as costas para Marquinhos e não fez o bloqueio mais básico de rebote. Tivesse fechado o corredor, e Victor Claver (camisa 10) provavelmente teria assegurado a posse de bola para deixar a Espanha em grandes condições (detalhe 4).

A passividade de Claver também deve incomodar o torcedor espanhol. Ele estava bem posicionado, de frente para a bola e o aro. Tem impulsão – na verdade, é um dos jogadores mais atléticos de sua seleção. Mas ficou pregado no chão, observando sabe-se lá quantas borboletas voavam pelos arredores. Com Augusto afastado, se quisesse, o rebote era dele (detalhe 5).

Se ficarmos vendo o lance por mais uns 30 minutos, diversos outros detalhes vão surgir. É um lance que vai perturbar Gasol, Mirotic, Claver e muito mais que a linha de frente espanhola. O time vice-campeão olímpico nas últimas duas edições dos Jogos tem agora duas derrotas em duas rodadas neste grupo complicadíssimo e estão muito pressionados. A seleção brasileira se recupera de uma atordoante derrota para a Lituânia na estreia e segue em frente, ainda com possibilidades de terminar na liderança. Esperem, no entanto, mais partidas como essas, decididas nos últimos lances, frame a frame.

(Mais tarde no blog, um post mais amplo sobre a partida. Até.)

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Magnano exigiu demais de Nenê na estreia
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Giancarlo Giampietro

Nenê: 11 pts, 4-8 nos arremessos, 3-6 nos lances livres, 8 reb e 2 ast em 29min49s na estreia

Nenê: 11 pts, 4-8 nos arremessos, 3-6 nos lances livres, 8 reb e 2 ast em 29min49s na estreia

Por Rafael Uehara*

Com o desfalque de Tiago Splitter, a expectativa era a de que Nenê fosse o jogador mais importante da seleção brasileira para a partida contra a Lituânia, pela primeira rodada do basquete olímpico do #Rio2016. Afinal, do outro lado estaria Jonas Valanciunas, que teve teve uma boa temporada com o Toronto, deu mais um passo a frente em seu desenvolvimento e também foi muito bem na fase preparatória para esses Jogos.

Augusto Lima, em tese, não tem porte físico para encarar o pivô de 2,11m e 116 kg, enquanto Cristiano Felício ainda não é calejado o suficiente para uma tarefa a esse nível. Iriaa sobrar, então, para o veterano o que parecia ser o confronto mais importante da partida que abriria o duríssimo Grupo B. O Brasil acabou derrotado por 82 a 76 num jogo maluco, de dois tempos muito diferentes.

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Qual não foi a surpresa quando Valanciunas pouco importou no plano tático da partida. O lituano teve de lidar com as faltas já no primeiro tempo e esteve em quadra só um pouco mais que a metade dos primeiros dois quartos. Ainda assim, seu time abriu o dobro de vantagem sobre o time da casa. Na segunda etapa, o atleta, que geralmente é a referência de sua equipe, esteve muito apagado, e a preocupação de ter Augusto e Felício o marcarem não se materializaram tanto assim. Sim, os jovens fizeram muitas faltas, mas batalharam. Valanciunas não dominou, e a seleção brasileira conseguiu as paradas defensivas que permitiram a tentativa de virada.

Nenê participou do ótimo segundo tempo da seleção, voltando à quadra quando Augusto e Felício lidaram com problemas de faltas, mas o saldo geral foi negativo. E serviu para encapsular as limitações que o veterano enfrenta nesta que deve ser a parte final de sua carreira bastante lucrativa.

No ataque, post ups

Brasil insistiu demais com o jogo de costas para a cesta

Brasil insistiu demais com um jogo ineficiente de costas para a cesta

O ataque brasileiro foi muito focado em Nenê no primeiro tempo. Talvez tentando cavar faltas em Valanciunas. Ou simplesmente porque Rubén Magnano realmente pense que o pivô ainda é aquele tipo de jogador capaz de criar bons lances de costas para a cesta, a ponto de forçar dobras e expor o oponente a correr atrás da bola ao redor do perímetro.

Na NBA, Nenê já não é esse jogador há anos. Logo, não causou muita surpresa quando o vimos com bastante dificuldade para criar algo contra Valanciunas, que não é dos mais velozes maracadores. Mas quando o pivô do Toronto passou grande parte do segundo quarto no banco, e Magnano manteve o paulista de São Carlos em quadra para ver se ele iria se impor contra Paulius Jankunas ou Antanas Kavaliauskas, foi aí que vimos que Nenê também não foi capaz de boas situações até contra o nível Fiba.

Suas estatísticas (11 pontos em oito tiros de quadra e seis lances livres) não contam toda a história. Nenê teve mais dificuldade do que as estatísticas mostram, e o fato de a seleção ter continuado tentando forçar a bola nele foi um dos motivos pelo péssimo segundo quarto, no qual marcou apenas 12 pontos. Foi evidente que quando Marcelinho Huertas tomou controle do ataque nos últimos três minutos do primeiro tempo e tentou a criação a partir do pick-and-roll, a seleção melhorou a qualidade dos arremessos que conseguia.

E o pick-and-roll?

Nenê tem sido mais efetivo com o jogo de média distância

Nenê tem sido mais efetivo com o jogo de média distância

O problema é que Nenê também não mais é das melhores opções no pick-and-roll. Ainda tem boas mãos para receber a bola em movimento e em quadra bem espaçada, consegue ir em direção à cesta com explosão. Mas aí que está: a seleção brasileira não oferece quadra espaçada ao seus pivôs, e Nenê não tem mais o arranque de antigamente para dar a opção da ponte área – o tipo de jogada difícil para o oponente marcar mesmo quando lota o garrafão.

Nenê ainda tem, porém, o tiro de meia distância em seu arsenal. Neste domingo, caiu apenas um dos três tiros que tentou de fora do garrafão, mas seus percentuais desta zona da quadra permaneceram fortes em suas últimas três temporadas na NBA.

Neste fim de carreira, Nenê deve ser um jogador mais de pick-and-pop do que de pick-and-roll, abrindo o garrafão para seu armador atacar a cesta ou para seus alas cortarem da zona morta. Nenê permanece um excelente passador para alguém com seu tamanho e pode prestar assistência nessas triangulações. Esta é uma opção que Magnano talvez devesse explorar mais daqui pra frente do que simplesmente isolá-lo de costas para a cesta e ver se o veterano consegue voltar o relógio cinco ou seis anos no tempo.

Na defesa…

O pivô ainda pode ser valioso na defesa centralizada no garrafão. Kalnietis o respeitou

O pivô ainda pode ser valioso na defesa centralizada no garrafão. Kalnietis o respeitou

Magnano também exigiu demais de Nenê no sistema defensivo. Mantas Kalnietis deu voltas ao redor de Huertas no início da partida. O argentino fez o ajuste requisitando que seus pivôs, dentre eles Nenê, dobrassem para cima do lituano no perímetro. O veterano não tem mais agilidade pra esse tipo de tarefa e não foi muito efetivo em suas blitzes. Kalnietis não teve muita dificuldade para fazer passes ao redor dessas dobras.

No segundo tempo, a seleção foi mais ativa com trocas de marcação. Nenê se encontrou marcando Kalnietis em quatro ocasiões. O lituano, com receio da reputação de superatleta do brasileiro, sequer tentou no um-contra-um e se desfez da bola em três delas. Na quarta vez, jogando contra o tempo, Kalneitis foi pra cima e passou com facilidade. Perdeu o floater, mas forçou Marquinhos a fazer a rotação, o que permitiu a Mindaugas Kuzminskas um tapinha fácil no rebote.

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Nenê, a este ponto da carreira, precisa defender mais próximo a cesta, onde sua inteligência de posicionamento faz mais a diferença do que sua movimentação. Segundo o site NBA.com/stats/, os adversários tiveram média de tiro de apenas 50,4% com ele defendendo o aro. Na estreia olímpica, ele deu um toco e ainda contribuiu com cinco rebotes defensivos. Magnano precisava tentar algo para tentar parar Kalnietis, mas agora sabemos que caso necessário de novo no futuro, sua solução não será tirar seu principal do garrafão.

Nenê ainda será peça-chave para a seleção nesse torneio, se o time tiver grandes aspirações. Porém, suas contribuições têm de ser mais voltadas para o teor tático e técnico do que baseadas no porte físico. Resta saber se Magnano fará os ajustes necessários para que a seleção sobreviva a esse grupo da morte, sendo o principal deles usar a maior estrela desse time da forma na qual ele possa render mais.

*Rafael Uehara edita o “Basketball Scouting”. Seu trabalho também pode ser encontrado nos sites “Upside & Motor” e “RealGM”, como contribuidor regular. Vale segui-lo no Twitter @rafael_uehara.

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Após 1º tempo estarrecedor, seleção reage. O que se tira de um jogo maluco?
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Giancarlo Giampietro

Kalnietis tem muito talento, mas não é um Jasikevicius reencarnado, que fique claro

Kalnietis tem muito talento, mas não é um Jasikevicius reencarnado, que fique claro

Uma coisa era perder por 30 pontos. Outra, por seis, que foi o placar do triunfo da Lituânia sobre a seleção brasileira por 82 a 76, neste domingo, pela estreia pelos Jogos do Rio 2016. A reação no segundo tempo, com vitória por 47 a 24, resgatou o apoio da torcida e um senso de confiança para o time da casa. Só não pode apagar o assustador desempenho defensivo da etapa inicial.

De modo inexplicável, com uma defesa desbaratinada, o Brasil entrou com a guarda baixa no primeiro quarto, perdido já por dez pontos (27-17). O segundo período foi ainda pior, com parcial de 31 a 12 para os caras. A vantagem bateu em 30 pontos, e o ginásio olímpico estava mudo. Pudera: eles estavam assistindo angustiados e, quiçá, atenciosos a uma aula aplicada pelos lituanos.

O aproveitamento de quadra era superior a 70%. Em assistências, tinham o triplo dos anfitriões. Caía tudo dentro do garrafão e até mesmo no perímetro, para uma equipe que, a despeito da tradição de seus antecessores, não tem chute confiável de longa distância. Agora, em nenhum momento o que se passou no primeiro tempo foi uma questão de sorte. Tratava-se de competência na execução de suas jogadas e na leitura de jogo, aliada a uma estarrecedora incapacidade defensiva por parte dos comandados de Rubén Magnano.

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Ao que parece, se o amistoso em Mogi serviu para alguém, foi para a Lituânia – já que a derrota num jogo-teste, como vimos hoje, não representa absolutamente nada. Daquela partidinha, o que vimos que foi aplicado hoje, uma semana depois? A dominância de Mantas Kalnietis para cima de Marcelinho Huertas. Naquela ocasião, o camisa 5 báltico fez o que quis em quadra, em minutos reduzidos, tendo muito mais velocidade que o brasileiro, que era batido lateralmente com facilidade. Isso voltou a acontecer no quarto inicial, agora numa Olimpíada, gerando algumas situações de desequilíbrio defensivo, e a partir daí a seleção só fez correr atrás.

Magnano solicitou, então, uma dobra dos pivôs para cima do talentoso, mas extremamente irregular Kalnietis (16 pontos e 8 assistências, contra 3 turnovers, em 36 minutos, com 5-11 nos arremessos). Acontece que essa dobra estava chegando muito atrasada. Para piorar, a rotação por trás dessa dobra foi um desastre completo, e o resultado foi uma sequência de bandejinhas incríveis debaixo da cesta. O despreparo ou a desatenção foram absurdos. Por exemplo: Paulius Jankunas, um jogador tático, se transformou num cestinha de repente, com 15 pontos em 10 arremessos e 22 minutos.

Leandro nem sempre toma a melhor decisão em quadra, mas ninguém vai dizer que lhe falta fibra

Leandro nem sempre toma a melhor decisão em quadra, mas ninguém vai dizer que lhe falta fibra

O estrago no garrafão, no primeiro tempo, foi enorme. Quando falamos isso, não quer dizer que nossos grandalhões tenham fracassado, contra uma linha de frente muito, mas muito física e também técnica. Não foi isso. É que a turma do perímetro não deu conta, inicialmente, de suas tarefas. Ninguém conseguia brecar Kalnietis. E aqui cabe uma explicação para quem talvez não esteja tão familiarizado com o armador lituano: não, ele não é a reencarnação de Sarunas Jasikevicius. A defesa brasileira que o fez parecer esse tipo de jogador. Historicamente, o cara tem alguns rompantes que te deixam embasbacado, mesmo. Mas consistência e lucidez não é algo que você pode esperar dele.

Se a Lituânia atingiu alguns índices de acerto nos arremessos – seja de dois, três pontos ou nos lances livres –, não é só porque estava inspirada ou com o aro largo. É que eles estavam aparecendo com liberdade realmente atordoante. Aí Kuzminskas e Maciulis também emularam Siskauskas ou Karnisovas. O que também não condiz com suas carreiras. Veja bem: não é que a Lituânia seja um time de segunda categoria que tenha se aproveitado de deslizes brasileiros. Muito pelo contrário: eles foram medalhistas nos últimos dois EuroBaskets e ainda chegaram a disputar medalhas pela Copa do Mundo dois anos atrás. Esse elenco, porém, no papel, só não é fantástico e matador assim para abrir o dobro de vantagem sobre os brasileiros. Tanto se esbaldaram que, mesmo depois de marcar apenas 24 pontos no segundo tempo, ainda saíram do ginásio com aproveitamento de 50% nos arremessos, com 59% de dois e 38% de três. Ao todo, deram 29 assistências.

No segundo tempo, tudo mudou. E aí que a gente não pode ignorar o contexto do que havia acontecido até ali também. Acho que é inevitável uma seleção sair do vestiário com quase 30 pontos de vantagem e não se permitir relaxar – pelo menos aqui e ali, em uma ou outra posse de bola. Não dá para fazer matemática aqui. Algo como: ah, se os lances livres tivessem caído mais no primeiro tempo e a vantagem não fosse tão grande assim, talvez o Brasil pudesse ter concretizado sua virada. Basquete e esporte não funcionam assim, com hipóteses numéricas. Na real, os números são apenas a manifestação factual daquilo que se passa em quadra.

Então não é que, de novo, “se a seleção nacional tivesse jogado assim o tempo todo, teria atropelado”. Teve um pouco de concessão do outro lado, naturalmente, assim como aconteceu da parte brasileira na primeira etapa. Ainda assim, há algumas coisas que a gente pode tirar desta reação impressionante, com uma rotação composta basicamente por Raulzinho, Leandrinho, Marquinhos, Augusto, Nenê e Felício:

Raul jogou muito no 2º tempo, agredindo dos dois lados da quadra

Raul jogou muito no 2º tempo, agredindo dos dois lados da quadra

1) o Brasil está, sim, muito bem fisicamente. Partiram para cima dos adversários, pressionaram a bola com muito mais eficácia e não tiraram o pé do acelerador até o final da partida. Foi com pulmão, perna e coração que o time batalhou no placar: estou com o Wlamir nessa (aliás, é bom ouvi-lo, de volta com o microfone e sem papas patrióticas ou políticas).

2) se o armador adversário for desse tipo agressivo, com bom chute e arranque, Magnano vai ter de pensar com carinho na hipótese de realmente limitar os minutos de Huertas, caso sua movimentação lateral esteja sendo explorada. Ou isso, ou, no mínimo, o capitão e Rafael Hettsheimeir não vão poder ficar muito tempo juntos. Pois a defesa fica muito vulnerável.

3) nesse sentido, se o ataque brasileiro não conseguir colocar Hettsheimeir ou Giovannoni em boas condições de arremesso, sua escalação passa a ser questionada. Aí os minutos devem ir para Augusto () e Felício, para a formação com Nenê de uma trinca enérgica, atlética e bastante física. Augusto (4 pontos, 6 rebotes e 5 faltas em 20 minutos, saldo de +10) e Felício (4 pontos, 4 rebotes e 4 faltas em 14 minutos, saldo +10) injetaram vitalidade na defesa interior da seleção na segunda etapa, trombando para valer com Valanciunas, Jankunas e Sabonis, tirando-os de uma zona de conforto. Você está sacrificando arremesso, mas pelo menos dá um jeito de ser combativo na zona pintada. Da sua parte, Nenê (11 pontos, 8 rebotes, 2 assistências em elevados 29 minutos) deu conta de Jonas Valanciunas (só 6 pontos e 3 rebotes em 19 minutos, limitado pelas 5 faltas que cometeu), conforme o esperado

Augusto ajudou a mudar a disputa no garrafão após o intervalo

Augusto ajudou a mudar a disputa no garrafão após o intervalo

4) mais importante, no entanto, foi a participação de Raulzinho. Não custa lembrar, de novo, que se o armador conseguiu espaço pelo Utah Jazz em sua temporada de novato, foi por causa de sua defesa. O jovem atleta fez um trabalho muito mais competente em cima de Kalnietis. Não por acaso, teve o melhor saldo de pontos entre os brasileiros, com +16, em 25 minutos. Ainda levou essa agressividade para o ataque para descolar lances livres e terminar, cheio de confiança em seu chute em flutuação, com 14 pontos em apenas seis arremessos.

5) ao defender bem, a seleção conseguiu enfim sair em transição para explorar as deficiências lituanas nesse sentido. Eles são muito lentos. Apenas no banco de reservas estão alguns caras mais atléticos, mas ninguém que consiga apostar corrida com boa parte do elenco brasileiro. E o jogo em transição se mostra novamente essencial para a equipe de Magnano. Em meia quadra, a movimentação voltou a sofrer um choque de realidade entre o que se passa em amistosos e nos jogos reais. Além disso, os lituanos não mostraram muito respeito pelos chutadores e congestionaram o garrafão numa boa.

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6) Em suma: o trabalho de meia quadra vai ter de melhorar demais. Não é justo exigir de Leandrinho (21 pontos em 17 arremessos,  um segundo tempo desses. O ligeirinho forçou algumas bolas, mas não tem muito o que se criticar em sua atuação. Ele estava com fome de bola em muitos sentidos, jogando com muita intensidade, provando por mais uma partida o quanto sua capacidade atlética ainda é fora do comum, mesmo como trintão e com o joelho operado. Se for para falar de abordagem individualista, é só reparar que o Brasil só deu 12 assistências na partida inteira.

Então é isso. A estreia passou, e deixa algumas lições, a despeito de toda a loucura que vimos em 40 minutos. Ao menos o time não sai totalmente cabisbaixo, como seria no caso de um revés por 30 pontos. Pois a tabela é um tanto ingrata, com a Espanha vindo por aí na terça-feira. O grupo é muito difícil para se deixar contagiar por depressão – ou mesmo por euforia. O que não dá, mesmo, é defender com tanta passividade e desorientação por 20 minutos, como aconteceu no primeiro tempo. Haja fôlego para buscar reação desse jeito.

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Dez previsões nada ousadas para o Rio 2016
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Giancarlo Giampietro

Boogie Cousins, Team USA

Quando jornalista se mete a dar palpite, está arrumando confusão. Pode ser sobre um confronto Japão x Filipinas pelos Jogos Asiáticos Universitários. Você falou, escreveu, quis cravar? Imediatamente fica sob o risco de queimar a língua. Ou o dedão da mão direita.

A gente tem essa mania de se meter a sabichão, né? De querer se antecipar a quaisquer grupo de deuses que estejam vagando por aí e provar por A + B que sua lógica está infalível no momento. Dois, três dias depois? É bastante provável que vá dar tudo errado. Ainda mais num torneio olímpico cheio de equilíbrio.

Isso tudo não significa que esse tipo de exercício seja pura bobagem. Não estou aqui para pagar de mais sabichão ainda, esnobe, acima das vontades mudanas esportivas. É esporte só. Que, em diversos casos e eventos, obviamente ganha proporções gigantescas pela quantidade de dinheiro que move e por suas implicações político-culturais. Ainda assim, no final das contas, é só esporte. Que envolve paixão (por vezes em intensidade descabida), mas não deveria ser levado tão a sério. Então qual o problema de ficar palpitando? Tem um monte de gente por aí que anda emburrada pacas, querendo reclamar a toda hora. Mas há quem se divirta demais em comparar resultados e discutir depois, numa boa.

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Então o que este blogueiro vai fazer?

Dar alguns palpites, mas sem cravar resultados, para além do ouro olímpico para os Estados Unidos, que isso é coisa para bolão. Não tem nada muito ousado aqui, claro. Alguns dos itens abaixo têm o mesmo valor que dizer que a “Dinamarcá terá um bom goleiro” ou que “os quenianos vão dominar o pódio da maratona”. Coisa de bidu, mesmo. Podem bater:

O Rio 2016 será o Torneio de Boogie Cousins. Kevin Durant é mais jogador. Carmelo Anthony é outro cestinha perfeito para o mundo Fiba. Kyrie Irving vai ter mais oportunidades de arremesso. Mas podem se preparar para uma exibição, digamos, hulkiana do intempestivo DeMarcus. O pivô está enxuto como nunca, ganhando agilidade sem perder sua força física descomunal, prontinho para esmagar seus adversários, tal como o dito “Gigante Esmeralda” nos quadrinhos. Para quem tem desperdiçado alguns bons anos produtivos nos confins de Sacramento, jogar com o Team USA no Rio de Janeiro serve quase como uma experiência terapêutica. Quiçá, o contato com a elite da modalidade pela segunda competição internacional seguida também não motive Boogie a aceitar aquele procedimento básico que se chama amadurecimento. Com a cabeça no lugar, tem tudo para fazer paçoca da concorrência.

hulk-smash-esmaga

– O Grupo B vai ser um tiroteio. Sinceramente, qualquer pessoa pode se gabar aqui e dizer que tem certeza que a Espanha será a primeira colocada dessa chave, seguida por Lituânia, Brasil e Argentina. Tudo bem, pode ir em frente com essa. Mas a real é que ninguém, com o juízo em dia, sabe realmente qual será o desenrolar destas partidas. No meu entender, pelo menos, até a Nigéria tem chances, mesmo que correndo por fora. Isso sem nem levar em conta o que aconteceu nos amistosos. Vai ser uma disputa duríssima, com a seleção brasileira metida no meio. Haaaaaaaja coração. (Agora, pode muito bem que a Espanha não tome conhecimento de ninguém, vença todos e que a Nigéria apanhe – e, no final, restariam três vagas para quatro seleções. Ainda assim seria dramático.)

– Vamos ter um top 10 só com DeMar DeRozan. O ala do Raptors é outra figura de segundo escalão que pode aproveitar a experiência olímpica para expandir sua marca globalmente, como diria o agente de LeBron. Embora já eleito duas vezes para o All-Star Game, não dá para dizer que o jogador desfrute de tanto prestígio assim em todas as cidades da liga que não estejam em território canadense. Então lá vai essa maravilha atlética aproveitar os inúmeros contra-ataques em garbage time que a seleção norte-americana vai ter, para saltar em 720º, se desvencilhar de oito braços compridos chineses no ar e dar suas cravadas. Paul George, Kevin Durant, Jimmy Butler, Harrison Barnes e, principalmente, DeAndre Jordan podem ser todos ignorantes no ataque ao aro. Mas nenhum deles tem a plasticidade de DeRozan em seus movimentos. Ele será o Capitão Vine da Olimpíada, ganhando até de Usain Bolt.



– Nenê não será vaiado. O bom senso, afinal, ainda pode prevalecer. Quatro anos atrás, o pivô foi vaiado de modo deprimente pelo público presente na Arena HSBC, quando a NBA trouxe um amistoso de pré-temporada pela primeira vez ao Brasil. Maybyner Hilário agora retorna ao Rio de Janeiro com um papel importantíssimo pela seleção brasileira, liderando um garrafão 40% renovado após as baixas de Splitter e Varejão. Se for para buzinar no ouvido de alguém, é só procurar as figuras de Gerasime Bozikis e Carlos Nunes pelo ginásio. Eles certamente estarão presentes, em lugares privilegiados.

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– A Venezuela vai encrespar com França e/ou Sérvia. Eles têm talento para bater de frente com essas seleções europeias? Não. A França foi campeã europeia em 2013, bronze pela Copa do Mundo em 2015 e bronze novamente pelo EuroBasket do ano passado. A Sérvia chegou ao segundo lugar no Mundial. Mas este time aguerrido de Néstor “Che” García parece destinado a aprontar, a fazer mais do que se esperava deles. A classificação olímpica já foi uma façanha, deixando a badalada e numerosa geração canadense pelo caminho (o Canadá está para o mundo Fiba hoje assim como a Bélgica, para o futebol). Mas por que eles se contentariam com isso? Seus armadores são manhosos e o time passou a defender muito bem com Che. Pode ser que consigam cozinhar a partida contra equipes muito mais expressivas.

Venezuela, Nestor Garcia, Copa América, Fiba Américas

– É melhor não se meter em um jogo parelho com a Argentina. Por falar em jogo apertado, eu não gostaria de ter defender contra uma equipe que vá colocar em quadra Manu Ginóbili e Luis Scola ao mesmo tempo numa última posse de bola. É muito talento e respeito em quadra. Cojones e muito mais, claro. Aqui tem a máxima que a mídia americana costuma usar para a NBA, com a qual concordo: é muito provável que o time com os dois, três melhores jogadores em quadra saia vencedor de uma partida. Em 2016, talvez a dupla argentina já não consiga mais ser superior por 40 minutos. Mas, num ataque final, valendo o jogo, com tudo o que eles já experimentaram de sucesso em suas carreiras? Eu gelaria.

Nando De Colo vai fazer muita gente se perguntar por que diabos ele não quis nem negociar direito com as equipes da NBA. É, o francês está jogando muito. O cara tem os números de Euroliga para exibir por aí e também um jogo vistoso demais, que deve ser ainda mais bacana ao vivo. Ele joga em seu próprio ritmo. O mais legal: geralmente consegue chegar aonde quer para finalizar. É nisso que dá sua combinação de drible, altura e fome de bola.

Huertas, Rodríguez e Tedosic vão dar passes para confundir até mesmo seus companheiros. É a turma do sexto sentido. Mais três jogadores que não são os mais explosivos em quadra, mas têm tanta habilidade, coordenação e visão de quadra, que fazem o jogo ficar muito mais rápido e imprevisível. As defesas muitas vezes podem achar que os têm controlados, e aí de repente sai aquele passe (quase) sem olhar para o pivô livre debaixo da tabela. É bom que Augusto Lima, Felipe Reyes, Milan Macvan & Cia. estejam espertos. Posso dizer: é meu tipo de lance favorito.

Olha para um lado, e a bola vai passar pelas costas de Baynes

Olha para um lado, e a bola vai passar pelas costas de Baynes

Matthew Dellavedova vai irritar alguém – ou muita gente, mesmo. Ele sempre arruma uma em quadra, não? Se acontece nos playoffs esvaziados da Conferência Leste, com o Cavs passando por cima de tudo mundo, por que não iria ocorrer em uma Olimpíada, com os ânimos muito mais esquentados? Pior: Delly tem uma baita cobertura. É só olhar o tamanho dos pivôs australianos para compreender uma eventual super-agressividade do armador. Com Andrew Bogut retornando, fazendo uso nada econômico das cotoveladas, é chance quase zero que os Boomers não se metam em pelo menos uma confusão em jogos pelo Grupo A.

– Alguém vai dizer que lance livre ganha jogo. Mas talvez não digam que um rebote, um toco, uma assistência e um arremesso contestado de média distância o façam.

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