Vinte Um

Arquivo : Nikola Kalinic

Para dar zebra, Sérvia terá de ser melhor que EUA no ataque
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Giancarlo Giampietro

Você pode marcar Kyrie Irving? Talvez. Mas e como fica Durant?

Você pode marcar Kyrie Irving? Talvez. Mas e como fica Durant?

Por Rafael Uehara*

Conforme o esperado, a seleção dos Estados Unidos avançou à final da #Rio2016 sem nenhuma derrota pelo caminho. Diferentemente das expectativas, porém,  esse time não dominou seus adversários.

Estrelas como LeBron James, Stephen Curry e James Harden optaram por não participar esse ano, mas, ainda sim, a previsão era a de que esse grupo (que contem mais ou menos 10 dos 30 melhores jogadores da NBA) não teria problemas para bater todos os oponentes confortavelmente. O que não se materializou.

Quatro dos sete jogos que os Estados Unidos participaram foram competitivos até o último quarto. A defesa comandada por Tom Thibodeau tem sido relativamente pútrida considerando a vantagem em porte atlético que os americanos têm em relação aos demais adversários.

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E, tendo isso em vista, as rotações de Mike Krzyzewski são de coçar a cabeça, principalmente com relação ao fato de Draymond Green ter um papel muito pequeno nesse time. Green, quando o Warriors joga com formação menor, se transforma no melhor pivô da NBA. Tem um estilo de jogo perfeito para o padrão Fiba. Provavelmente corrigiria algumas das deficiências que esse time que mostrado.

Mesmo com esses problemas no lado defensivo, os americanos ainda sim tøem se mostrado muito difíceis de ser batidos devido ao seu poder ofensivo. Não jogam um ataque lindo de se ver, com a bola indo de lado a lado e maximizando todas essas estrelas dentro de um jogo coletivo. Porém, podem escalar o melhor grupo de atiradores do torneio, e isso tem feito muita diferença.

Parar os Estados Unidos é impossível. A Espanha teve a melhor defesa da primeira fase e  só conseguiram segurar os norte-americanos a 82 pontos em 40 minutos.

Muito se tem feito da defesa sérvia, adversário dos norte-americanos na disputa pela medalha de ouro, depois das partidas contra Croácia e Austrália. O desempenho nesses jogos foi realmente de se aplaudir, ambos pelo aspecto estratégico armado pelo treinador Sasha Djordjevic e pelo comprometimento de seus jogadores no esforço para materializar seu plano de jogo.

Teodosic chuta e cria que é uma beleza. Seus companheiros vão acompanhá-lo?

Teodosic chuta e cria que é uma beleza. Seus companheiros vão acompanhá-lo?

Mas o quanto de chance os sérvios têm de fazer o impensável? De qualquer forma, provavelmente uma resposta positiva não terá nada a ver com sua defesa. Uma coisa é Nikola Kalinic parar Patrick Mills. Outra totalmente diferente é pedir que marque Kevin Durant. E mesmo que o faça, quem para Kyrie Irving? Quem impedirá que Klay Thompson e Carmelo Anthony se libertem para seus tiros de três se movimentando pelos lados da quadra?

Durante esse torneio, a chance real de bater os Estados Unidos tem se mostrado dependente da capacidade de acertar seus arremessos livres. Esse time é vulnerável e dá oportunidades aos adversários, que têm conseguido criar boas oportunidades sem marcação. Mas até agora ninguém se mostrou capaz de aproveitá-las a ponto de vencer no final.

Austrália, França e Espanha acertaram apenas 30,3% de seus 66 tiros de três pontos contra os Estados Unidos. A Sérvia, que chegou mais próxima do triunfo, tendo oportunidade clara de empatar o jogo da primeira fase no último lance da partida, acertou 10 de suas 25 bolas de três naquele jogo. Precisará de atuação similar neste domingo.

A dúvida é se esse time sérvio tem mesmo todo esse poder de longa distância para repetir tal atuação. Ninguém questiona que Milos Teodosic e Bogdan Bogdanovic podem acertar tiros de qualquer lugar da quadra, com ou sem marcação. Mas será preciso que Kalinic aproveite os tiros sem marcação que Teodosic criará para ele na zona morta e que Stefan Markovic seja um pouco mais agressivo contra a defesa pífia de Irving no pick-and-roll. Mais: Nikola Jokic ou Milan Macvan precisarão de tirar proveito de Cousins ou Anthony no pick-and-pop.

Uma vitória sérvia neste domingo fará muito bem para o basquete ao redor do mundo. Esta não é a melhor seleção que os norte-americanos poderiam ter, mas ainda sim é um grupo cheio de estrelas que não tem desculpa para não vencer. Se os sérvios ganharem o ouro, provarão aos norte-americanos que, se eles não jogarem basquete comprometido defensivamente e coletivo ofensivamente, mesmo que tenham vantagem em porte atlético, o nível ao redor do mundo avançou o suficiente para tornar sua dominância vulnerável.

Vamos esperar.  É difícil mudar o palpite. A expectativa, ainda sim, é de que os Estados Unidos prevaleçam, mantendo o status quo em que vivemos.

*Rafael Uehara edita o “Basketball Scouting”. Seu trabalho também pode ser encontrado nos sites “Upside & Motor” e “RealGM”, como contribuidor regular. Vale segui-lo no Twitter @rafael_uehara.

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O 8º dia da Copa: Grupo do Brasil 100% e milagre turco
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Giancarlo Giampietro

Os turcos vibram com virada no finzinho

Os turcos vibram com virada no finzinho

Era difícil julgar a chave de Grupo da Morte. Afinal, esse jargão implica que algum time favorito vá ficar pelo caminho, de modo precipitado, já na primeira fase de um torneio. No Grupo A da Copa do Mundo de basquete, tínhamos a superfavorita Espanha acompanhada por Brasil, França e Sérvia. Grandes times, sem dúvida. Mas aqueles que o complementavam eram o Irã, que não inspira medo, e o Egito, pior time da competição. Num cenário em que os quatro primeiros se classificavam, não havia risco, mesmo que os iranianos tenham dado trabalho aos franceses. Mesmo que não possa ser considerado mortal, as oitavas de final trataram de comprovar a força de seus candidatos. Com a classificação de Brasil e Sérvia neste domingo, os quatro classificados para o mata-matas seguem vivos nas quartas de final.

O jogo do dia: Turquia 65 x 64 Austrália
O que há de se lamentar nesta jornada foi a impossibilidade de assistir aos instantes finais deste jogo. Acontece que a partida em Barcelona atrasou bastante devido a um problema de cronômetro no ginásio. Fora minutos preciosos que acabaram levando o desfecho dramático confronto a coincidir com o primeiro quarto de Brasil x Argentina. E aqui já registro minha admiração pelos comentaristas de futebol que falam com a maior naturalidade sobre como estão com duas ou três TVs ligadas em casa, monitorando múltiplas partidas. Com basquete, não consigo.

O que a gente levanta, então, pelos relatos é que o ala multifuncional Emir Preldzic, um dos atletas mais singulares do basquete europeu, acertou uma bola de três a cinco segundos do fim, para definir uma vitória dramática e de virada. Do jeito que os mais malucos dos torcedores turcos mais gostam.  Vejam:

Os Boomers ainda tentaram um último ataque, mas Joe Ingles foi desarmado. A equipe da Oceania controlou o placar durante 30 minutos. Entrou no quarto período com quatro pontos de liderança, mas chegou a abrir 12 no primeiro tempo, fazendo bom uso de seus pivôs fortes, que conseguiram se impor mesmo contra um garrafão de respeito como turco. Mas tomaram essa adaga no final. O que não deixa de ser carma, lembrando que eles foram acusados de terem entregado um jogo para Angola, na tentativa de evitar um confronto com os Estados Unidos nas quartas. Caíram nas oitavas, mesmo, e a Turquia vai enfrentar a Lituânia.

A surpresa: Sérvia 90 x 72 Grécia
A maior prova como a chave de cima dos mata-matas da Copa do Mundo ficou muito desequilibrada. O quarto colocado do Grupo A derruba o 1º do B. Fora isso, a Grécia continua sendo um grande time e que provavelmente passaria com tranquilidade pelas oitavas se fosse pegar México (4º do D) ou Nova Zelândia (4º do C, ainda que eles tenham engrossado as coisas com a Lituânia hoje).

Bogdan-Bogdan encara defesa grega

Bogdan-Bogdan encara defesa grega

O placar acima é exagerado pelo que foi a partida. Os sérvios abriram uma senhora diferença a partir do início do quarto período, quando os helênicos passaram a jogar com aquela nuvenzinha escura sobre a cabeça. Passou a dar tudo errado para os líderes do Grupo B. Umas duas dúzias de bandejas foram perdidas, enquanto o adversário exalava confiança. Bogdan Bogdanovic (21 pontos) se soltou em quadra. Milos Teodosic (13 pontos, 5 assistências e incrível liderança positiva) está sempre solto em quadra. Mas o time todo esteve bem, com destaque também para o ala Nikola Kalinic, que nem chegou a enfrentar o Brasil durante a semana. O sérvio estrelou dois dos highlights da competição (veja mais abaixo).

O técnico Sacha Djordjevic encontrou um equilíbrio perfeito entre o jogo interior e o de perímetro, em vez de pingar insistentemente a bola no bisnagão chamado Miroslav Raduljica. O pivô está fazendo bom Mundial e anotou 16 pontos em 24 minutos hoje. Mas é muito lento e desengonçado. Se for a única via de escape do ataque, acaba travando todo o time. Mas a Sérvia soube dosar as pancadas do seu grandalhão com a habilidade dos homens de fora e fez uma das exibições mais bonitas e eficientes desta competição. Etão está nas quartas.

O que é ótimo sinal para a seleção brasileira, de alguma forma. Seu Grupo por enquanto tem 100% nos duelos de oitavas de final, com os balcânicos se juntando a Espanha e França. Desses, dois já foram derrotados pelo Brasil. A Sérvia espancou a Grécia, que havia derrotado a Argentina na última rodada da fase de grupos com certa tranquilidade.

Um causo
Vocês se lembram que, na primeira fase, o técnico Jonas Kazlauskas reclamou da virulência australiana na defesa, né? Falou em “basquete-rúgbi” até. Pois bem. A pressão que os Boomers fizeram foi só um aperitivo para o que a Lituânia enfrentaria neste domingo contra a Nova Zelândia. Os Tall Blacks não têm tantos jogadores habilidosos assim, mas em termos de intensidade e sede pela bola, poucos os igualaram nesta Copa. Depois de venceremo primeiro quarto por 23 a 9, os lituanos se comportaram com certa complacência em Barcelona, talvez acreditando que tivessem vencido a partida em 10 minutos. Nada disso.

Os neozelandeses brigaram bastante, foram tirando a diferença quarto a quarto até assumir a liderança do placar a menos de sete minutos para o fim. Ênfase em briga: não houve nenhum jogo desleal, mas o fato é que eles desceram a marreta na defesa, cometendo 28 faltas. Em uma delas, o armador Taj Webster fez um corta-luz tão duro que aparentemente causou uma fratura de costela do ala Simas Jasaitis. O lituano saiu de quadra andando, mas com muitas dores e dificuldade para respirar. Dessa vez Kazkauskas achou tudo normal. “A Nova Zelândia fez um jogo excelente”, afirmou. “Foram muito duros na defesa, mas nós vencemos o jogo”, completou. Então é isso.

O Haka – e a intensidade – de sempre dos neozelandeses

O Haka – e a intensidade – de sempre dos neozelandeses

Alguns números
48 – com os 27 pontos de Bojan no sábado e os 21 de Bogdan neste domingo, temos 48 pontos para o sobrenome Bogdanovic nas oitavas de final da Copa. Os dois alas brilharam em Madri. A diferença é que o sérvio se classificou para as quartas. Uma curiosidade: na próxima temporada, Bogdan-Bogdan vai substituir o Bojan-Bogdan no Fenerbahçe, da Turquia.

26 – pontos marcou Corey Webster na derrota da Nova Zelândia. Obviamente este não é o padrão do armador. Sua média no Mundial foi de 13,7 por jogo. Na estreia contra a Turquia, ele havia feito 22 pontos. Então dá para se ter uma ideia de que é um jogador explosivo, pronto para produzir aqui e ali. Cria bastante a partir do drible, é agressivo e forte, embora um pouco cabeça-dura na hora de soltar a bola. A despeito de seus defeitos, é de se imaginar como ele ainda não saiu do basquete neozelandês. Chegou a ficar um ano como universitário nos Estados Unidos, jogando pelos  Eagles de Lambuth (oi?), mas voltou para ser profissional em casa, aos 20. Seu irmão mais novo, Taj, joga por uma equipe mais tradicional da NCAA, Nebraska. O pai, Tony, também foi jogador.

6 – Jonas Valanciunas dominou o garrafão para a Lituânia no embate com os  Tall Blacks, que são aguerridos, mas nem tão altos assim. Foram 22 pontos e 13 rebotes (5 ofensivos, muitos deles cruciais no quarto final!) para o ainda jovem pivô lituano. Sem contar seus 35 pontos de eficiência. Mas prefiro destacar aqui as seis conversões em seis tentativas de lances livres do lituano: 100% para o grandalhão, que agora chega a 70% no campeonato. Valanciunas vai jogar com Lucas Bebê e Bruno Caboclo na próxima temporada da NBA, mas como titular absoluto do Toronto Raptors.

2 – são os países convidados (que, na verdade, pagaram um milhão de euros para participar da festa) pela Fiba que estão entre os oito melhores: Brasil e Turquia. Grécia e Finlândia foram os outros dois.

O que o Giannis Antetokounmpo fez hoje?
Num jogo de extrema pressão como esse contra os sérvios, o prodígio grego recebeu a confiança de Fotis Katsikaris, ganhando 14 minutos, e alternou bons (7 pontos, 100% de quadra) e maus momentos (4 turnovers, 4 faltas), de acordo com a idade. Ao mesmo que ainda comete bobeiras no ataque (andada ao receber a bola em movimento em direção ao aro, falta de ataque em jogada individual ao utilizar demais os braços), pode fazer um lance destes aqui:

Então, ânimo garoto! Muita coisa pela frente ainda:

Giannis chateou.

Giannis chateou.

Tuitando:

 O ala Nikola Kalinic estrela uma das de melhores jogadas do torneio na certa. De 22 anos, ele nem foi aproveitado na partida contra o Brasil pela fase de grupos. Nas oitavas, somou 12 vitórias, 4 rebotes e 2 assistências. E ainda faria isto aqui:

Mais uma falta e cesta/enterrada de Kalinic para cima dos gregos, e aí o ala abusou, subindo no aro com tudo. Lembrando a turma de:

A legenda do basquete de playground: Woody Harrelson! Digo: Billy Hoyle, craque de Homens Brancos Não Sabem Enterrar.

O armador Mantas Kalnietis, afastado do Mundial devido a um deslocamento na clavícula, assiste angustiado ao confronto entre sua Lituânia e a Nova Zelândia.


Mas o Twitter inteiro estava esperando, mesmo, por outro jogo, como demonstra o armador Rafael Luz, que poderia muito bem estar nesta Copa.


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