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Euroligado: Real passa por apuros na 2ª semana
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Giancarlo Giampietro

Que sufoco, Rudy! Real Madrid escapa com a vitória

Que sufoco, Rudy! Real Madrid escapa com a vitória

O jogo da rodada: UNICS Kazan 75 x 76 Real Madrid
Não é porque o Real Madrid tem o elenco mais estrelado da Europa, listando nove atletas que disputaram a última Copa do Mundo, em times de ponta, que sua vida vai ser naturalmente fácil na Europa. Aliás, talvez eles nem queiram mais saber de moleza, mesmo. No campeonato passado, a equipe merengue atropelou a concorrência na primeira metade de competição, só para, na decisão, ver o valente e camaleônico Maccabi Tel Aviv de David Blatt erguer a taça. Não estamos falando de pontos corridos, então. De modo que toda vitória tem mais ou menos o mesmo peso – desde que, nas fases de grupo, você não precise do saldo de cestas para desempate, certo?

Então tudo bem. Os madridistas passaram um baita aperto nesta sexta-feira, mas conseguiram vencer o time russo, que está de volta ao campeonato pela primeira vez desde 2012, naquela que é apenas sua segunda participação. Graças a um arremesso a 1s2 do fim pelas mãos do armador Sérgio Llull, concluindo uma virada num quarto período duríssimo, vencido por 21 a 19. Justamente os dois pontos do final.  Mas acha que isso foi o bastante de drama? Nada. O Real chegou a liderar o placar por 74 a 72 a 13s9, até que o ala James White, muito mais conhecido por suas enterradas seminais, converteu uma cesta de três pontos, com 7s7 no cronômetro. Mas aí o armador da seleção espanhola ficou isolado com o pivô D’Or Fischer e conseguiu a separação para converter sua bomba.

Detalhe: Rudy Fernández e Gustavo Ayón lideraram o ataque do Real, agora líder do Grupo A, com dois triunfos Sabe com quantos pontos? Foram dez para cada um, só. De resto, tivemos Andrés Nocioni e e Ioannis Bourousis com 9, Salah Mejri com 8, mais dois com 7, dois com 6 e dois, com 2 pontos. Llull, o herói, foi dos que terminou com sete, vejam só.

Foi um jogo mais coletivo do Real que acabou prevalecendo no final diante de uma equipe que teve o americano Keith Kangford como cestinha, com 23 pontos – em 29 minutos e 17 arremessos. Um dos destaques do último campeonato, mas vestindo a camisa do Olimpia Milano, o ala-armador revelado por Kansas arrebentou mais uma vez, para variar. O ala-pivô grego Kostas Kaimakoglou também fez bela partida, mas de doação: errou sete de seus nove arremessos de quadra, mas somou nove pontos, 11 rebotes, cinco asssistências e dois roubos de bola. Permitiu, dessa forma, que pudéssemos construir a seguinte frase, peculiar: era Kaimakoglou para todo lado.

JP tenta fazer a cobertura em vitória do Limoges sobre o croata Cedevita

JP tenta fazer a cobertura em vitória do Limoges sobre o croata Cedevita

Os brasileiros
Marcelinho Huertas: num grupo enroscado com o B, qualquer vitória é para comemorar bastante. No caso do Barcelona, vencendo o Olimpia Milano por 15 pontos, na Itália, uma arena complicada de se jogar, estamos falando de um baita resultado. Foi um triunfo tão seguro para o clube espanhol, que o armador nem foi muito exigido. O Barça promoveu um bombardeio de três pontos no primeiro tempo, acertando 8-12, e administrou a partir daí. Foram três pontos e quatro assistências para ele em 22 minutos.

JP Batista: a melhor notícia é que o Limoges venceu a primeira. A segunda boa notícia é que o pivô pernambucano foi novamente efetivo. Em 17min55s, ele somou 11 pontos e cinco rebotes, ajudando a carregar a defesa do Cedevita Zagreb de faltas, na vitória por 71 a 60. Batista sofreu quatro faltas na partida e converteu cinco de seus seis lances livres. Nos arremessos de quadra, foram 3-6. De negativo, para descontar em seu índice de eficiência, foram três desperdícios de posse de bola. O nobre ala Nobel Boungou-Colo, de 26 anos, foi o grande nome da partida, com 17 pontos, 4 rebotes, 3 assistências e 3 roubos de bola.

Lembra dele?
Esteban Batista (Panathinaikos) – E como não lembrar de nosso amigo uruguaio, medalhista de bronze, inclusive, no Pan Rio 2007? Pois o pivô ainda está em pelna forma no basquete europeu. Nesta quinta, tive a oportunidade de transmitir pelo Sports+ o confronto do gigante grego com o Bayern e confesso que fiquei surpreso e impressionado com a atuação de Batista. Não que ele seja mal jogador. Pelo contrário. Mas é que, depois de tantos problemas físicos em sua carreira, esperava um jogador ainda mais lento, menos efetivo, aos 31 anos. O pivô, todavia, fez estragos no garrafão bávaro, com 18 pontos (9/11 nos arremessos!) e 7 rebotes. O cara sabe se mexer bem na zona pintada com e sem a bola, gerando oportunidades de cestas fáceis para seu time. A munheca ainda está precisa, assim como o jogo de pés, leve, especialmente para alguém de seu porte físico. Esta á sexta Euroliga de seu currículo, tendo defendido o Maccabi Tel Aviv, o Baskonia e o Anadolu antes. Já está na Europa desde 2009, depois de uma apagada passagem pelo Atlanta Hawks, pelo qual mal jogou em duas temporadas.

O bom e velho Esteban Batista, raridade uruguaia

O bom e velho Esteban Batista, raridade uruguaia, exige marcação dupla

Um causo
A temporada mal começou, e o Galatasaray já está devendo salário para seus atletas. O clube turco investiu mais para a composição do seu atual elenco, aparentemente sem garantias de que lhes poderia pagar. A situação, claro, já causou desconforto nos bastidores, com os atletas ameaçando rescindir seus compromissos e migrar para a concorrência, enquanto é tempo. O técnico Ergin Ataman é que em está fazendo as vezes de intermediador nessa. Agora, a favor do armador Nolan Smith ele não vai agir. Pelo contrário. Durante um jogo da liga turca, o americano ex-Blazers se irritou com alguma bronca do turco e, sentado no banco, simplesmente atirou a toalha na direção do treinador. Ele foi colocado para treinar com juvenis, até que pediu desculpas. Resultado: desculpas não aceitas. Nesta quinta, jogando pela honra, o Galatasaray até venceu o Valencia por 71 a 64, fora de casa, se segurando após ter vencido o primeiro tempo por 47 a 24. Ao final do jogo, quando questionado se iria contratar alguém para a vaga de Smith, Ataman ao menos foi mostrou correção: “Nossa tarefa no momento não é contratar um novo jogador, mas satisfazer os nossos”.

Um lance
Neste confronto entre o time turco e o espanhol, Carlos Arroyo, grande líder do Gala, fez das suas. Espie só a finta que ele deu no armador belga Sam van Rossom:

Já foi, amigão? Foi cedo… Fique um pouco mais.

O porto-riquenho, daqueles que trata a bola como se fosse ioiô, marcou 16 pontos e deu 5 assistências na vitória, em 34 minutos. É impressionante, aliás, a forma física de nosso velho rival. Aos 35 anos, incansável. Quem imaginaria por uma dessas?

Em números
227 –
A lenda viva Dimitris Diamantidis assumiu o quinto lugar na lista dos atletas mais rodados de Euroliga, fazendo sua partida de número 227 nesta quinta-feira, deixando o espanhol Sergi Vidal e Sarunas Jasikevicius para trás. Acima dele estão apenas Juan Carlos Navarro (260 e contando…), Theo Papaloukas, Kostas Tsartsaris e Mike Batiste. Os dois últimos foram seus companheiros de Panathinaikos, clube habituado a ir longe no torneio. Nesta edição, porém, todo cuidado é pouco. No Grupo da Morte, o C, o clube grego perdeu para o Bayern de Munique naquele que pode ser um confronto direto pela quarta vaga. Ainda acho que Barcelona e Fenerbahçe passam nas duas primeiras posições e que o Milano, agora com duas derrotas, vai se recuperar e passar em terceiro. Sobra um posto.

70,6% – É o aproveitamento nos arremessos de quadra do pivô Sasha Kaun em toda a sua carreira de Euroliga. Ele disputa agora sua sexta temporada, sempre pelo CSKA Moscou. O russo foi campeão universitário por Kansas, acabou draftado pelo Cleveland Cavaliers, mas nunca se interessou muito em jogar na NBA, ganhando um belo salário em casa. Excepcional defensor, ele evoluiu consideravelmente no ataque desde que voltou para casa. Não espere movimentos muito criativos, ousados por parte dele. O cara sabe suas limitações – e vem daí o altíssimo rendimento. Nesta quinta, na revanche moscovita contra o Maccabi (vitória em casa por 99 a 80), ele acertou 7 de seus 11 arremessos e/ou cravadas, somando 17 pontos em 22 minutos.

34 – O saldo de pontos da vitória do Zalgiris Kaunas para cima dos russos do Nizhny Novgorod: 97 a 63. Já valeu como a maior surra desta temporada. Seis atletas do clube lituano se dividiram entre os 10 pontos de Arturas Gudaitis e os 13 do veterano pivô Paulius Jankunas. Um dado impressionante da partida: o time da casa acertou 72,9% nos arremessos de dois pontos (35/48), contra uma defesa esburacada.

Tuitando

O craque Bastian Schweinsteiger e o zagueiro Holger Badstuber prestigiaram a vitória do Bayern sobre o Pannathinaikos em Munique. Esta é mais uma boa ocasião para relembrar o namoro de Schweinsteiger com o basquete. O meia alemão é realmente apaixonado pela modalidade e, inclusive, chegou a flertar em defender o time basqueteiro do clube bávaro em 2012. Quem revelou foi o ex-treinador da equipe e da seleção alemã, Dick Bauermann, em sua biografia. Na reta final da temporada,  jogando na Segunda Divisão, o Bayern já havia assegurado sua promoção à elite alemã, em seu projeto de retomada no esporte. Foi por pouco que Schweinsteiger não foi para a quadra – no fim, a diretoria do futebol não quis correr o risco. Fica a anedota.

O Bart Simpson resolveu dar as caras em Milão para apoiar o Olimpia e Daniel Hackett. Não deu muito certo contra o Barça de Huertas.

A família do basquete lituano é assim. Kuzminskas joga a Euroliga pelo Unicaja Málaga, mas isso não vai impedi-lo de parabenizar o modesto Neptunas Klaipeda, um dos surpreendentes estreantes desta temporada, por sua primeira vitória. E foi de modo dramático, daquelas com arremesso desequilibrado quase no estouro do cronômetro também, para derrubar o Estrela Vermelha, pelo Grupo D: 83 a 81.  Valdas Vasylius fez uma cesta de improviso. Veja só:


Quais são os favoritos ao título da Euroliga?
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Giancarlo Giampietro

O atual campeão Maccabi Tel Aviv, creiam, não tem vez aqui. O time não só perdeu muitos dos seus principais atletas, como perdeu aquele que era o melhor técnico do continente: David Blatt. Seu ex-assistente Guy Goodes é um cara bacana, segundo registro de muita gente, mas a missão de substituir uma lenda viva israelense como Blatt é pesada demais. Então tem espaço para quem na competição que começa nesta quarta-feira, com transmissão exclusiva no Brasil pelo canal Sports+, da SKY? Veja a lista, em ordem alfabética, para não dar problema:

Tomic e Pleiss, agora lado a lado: duas torres para Huertas assistir

Tomic e Pleiss, agora lado a lado: duas torres para Huertas assistir

Barcelona: o (excessivamente) metódico Xavier Pascual perdeu Erazem Lorbek, Kostas Papanikolau e Joe Dorsey. E tudo bem: o Barça deu um jeito de ficar ainda mais forte, sendo provavelmente hoje o time mais caro da Europa. Muitos armadores europeus estão morrendo de inveja de Marcelinho Huertas. O brasileiro, que já tinha desenvolvido ótima química com o talentosíssimo Ante Tomic, agora também vai ter o alemão Tibor Pleiss como opção a ser abastecida no jogo interno. Esperem uma dose pesada de pick-and-rolls com a coordenação do paulistano, que agora tem a companhia dois dos pivôs mais altos, ágeis e técnicos da Europa ao seu dispor. Se não fosse o bastante, contrataram também o ala-pivô americano Justin Doellman. Quem? Somente o MVP da última Liga ACB, pelo Valência. Doellman é destes americanos que passou batido pelo radar da NBA, mas se transformou em um grande jogador trabalhando sério na Europa. A rotação de grandalhões de Pascual ficou realmente apelativa.

Por outro lado, a saída de Kostas Papanikolau pode significar um rombo defensivo para uma equipe que já sofre um pouco para esconder Juan Carlos “La Bomba” Navarro. DeShaun Thomas – escolha de Draft do Spurs em 2013 – foi o escolhido para o seu lugar, mas sempre foi muito mais reconhecido como um cestinha, dos tempos de Ohio State. Foi uma decisão peculiar, talvez num momento de baixa do mercado. No ano passado, o Barça levou uma surra do Real na semifinal da Euroliga. Recuperou-se, todavia, para conquistar a liga espanhola. Com as contratações que fez, o bicampeonato é o mínimo que se vai cobrar de seu treinador.

CSKA Moscou: Ettore Messina chegou a declarar na campanha passada que não prestava mais para ser técnico do gigante moscovita, que seus jogadores já não atendiam mais aos seus pedidos e tal. Estresse geral. Mesmo após a dolorosa derrota para o Maccabi no Final Four da Euroliga, o time ao menos conseguiu um milagre na Liga VTB ao virar um confronto de quartas de final com o Lokomotiv Kuban (saindo de 0-2 para 3-2) e conquistar o título regional. O troféu, porém, não iria mascarar as frustrações de Messina, que se mandou para a NBA, para ser auxiliar de Gregg Popovich em San Antonio, numa aliança bastante promissora.

Itoudis, agora técnico principal, com senhora responsabilidade

Itoudis, agora técnico principal, com senhora responsabilidade

A vaga do italiano foi ocupada, então, pelo grego Dimitris Itoudis, assistente do Panathinaikos por uma década, aprendendo bastante com Zeljko Obradovic, até assumir o Banvit, da Turquia em 2013. Acabou liderando o clube a uma campanha surpreendente na riquíssima liga turca e, de cara, foi promovido a comandante de uma potência como o CSKA. Ao seu dispor, vai ter o craque Milos Teodosic (dependendo de seu nível de motivação, sempre),  a liderança e a versatilidade de Victor Khryapa, a explosão de Sonny Weems e a fortaleza chamada Sasha Kaun. Como reforço,  ganhou a criatividade de Nando De Colo, de volta ao continente depois de passagem apagada pelos EUA, e os chutes de longa distância do geórgio Manuchar Markoishvili e do americano Demetris Nichols, ex-Bulls e Knicks. É um baita elenco, cheio de expectativas. A equipe russa não ganha o troféu desde 2008, mesmo tendo ficado fora de apenas um Final Four desde então.

Fenerbahçe: agora vai? Há pelo menos duas temporadas que o clube de Istambul sonha em dar o grande salto e se tornar o primeiro de seu país a conquistar o título europeu. Para isso, atropelou qualquer noção de austeridade ou responsabilidade fiscal para montar elencos caríssimos e tirar o genial e tempestuoso Obradovic da aposentadoria. O problema é que seus dirigentes caíram naquela armadilha de buscar sempre os nomes de impacto, sem pensar ao certo em como seria a química dessas estrelas em quadra, com muitos cestinhas brigando por uma só bola. Para ajudar, o próprio treinador se mostrou (ainda) mais esbravejador no banco, com atitudes ensandecidas – como expulsar seus próprios jogadores no meio de uma partida:

Para esta temporada, a política de investimento bruto foi mantida. Numa primeira impressão, com atletas cujas características que parecem se encaixar melhor num ideal de time. Destaque para a nova dupla de armadores americanos Ricky Hickman (figura elementar no Maccabi campeão) e Andrew Goudelock (um arremessador de mão cheia, conhecido dos fãs do Lakers e do Spurs, hoje um dos cestinhas mais temidos da Europa), além do tcheco Jan Vesely, que tenta redescobrir seus talentos depois de protagonizar mais piadas do que grandes jogadas em Washington. A missão do ala-pivô tcheco, a princípio, é de ajudar na cobertua e na coesão defensiva, com sua capacidade atlética formidável, ao lado de Emir Preldzic. Menção obrigatória também para o ala-armador Bogdan Bogdanovic, o prodígio sérvio, que assume a vaga de seu xará Bojan Bogdanovic. No papel, não há como excluí-lo dessa lista, embora já tenhamos visto este filme antes. Cabe a Obradovic esfriar e usar a cabeça para ordenar esta rapaziada. Campeão turco num final para lá de controverso e vexatório – no qual o Galatasaray simplesmente se recusou a entrar em quadra no sétimo e derradeiro jogo, alegando roubalheira generalizada –, o Fener só quer saber, mesmo, da Europa.

Real Madrid: você, fã do Barcelona, por favor, não se deixe tomar pela raiva. Mas o que aconteceu com o Real Madrid na temporada passada foi uma história bastante triste: era um timaço, pronto para realmente fazer história, acumulando vitórias e recordes, e que acabou naufragando nas últimas semanas. A equipe de Pablo Laso primeiro perdeu de modo surpreendente a final continental para o Maccabi e, depois, se despedaçou diante de seu arquirrival na decisão da Liga ACB. Você faz como depois de uma decepção dessas? Troca tudo, não?

Ayón, grande presente para Laso para o pressionado Real Madrid

Ayón, grande presente para Laso para o pressionado Real Madrid

Pois a diretoria merengue, por algum milagre, decidiu segurar as pontas e manteve o treinador – que em muito simboliza a obsessão do clube para reconquistar a Europa, uma vez que era atleta madridista no tão distante título de 1995. Além disso, manteve praticamente toda a sua base, tendo de lidar apenas com a importantíssima baixa de Nikola Mirotic, que enfim foi jogar em Chicago. É praticamente impossível encontrar um atleta com as características do ala-pivô. Então o que eles fizeram foi seguir na direção oposta, fechando com Andrés Nocioni. Sai a finesse, entra a brutalidade (nas palavras do próprio Chapu). Além do mais, o Real conseguiu dar uma última cartada após a Copa do Mundo ao contratar Gustavo Ayón, cujos direitos na Espanha pertenciam ao próprio Barça. O mexicano tem tudo para ser dominante em seu retorno ao basquete europeu e deixa a rotação de pivôs também bastante congestionada. Em vez de ser demitido, Laso ganhou um presente desses. Seu time dificilmente vai alcançar o padrão de excelência da campanha passada, já que química não é algo que se replique facilmente. Se os resultados forem diferentes no final, talvez nem importe.

Correm por fora: Olympiakos e Anadolu Efes.
É difícil descartar os campeões de 2012 e 2013, que mantiveram a base do ano passado e adicionaram mais dois americanos muito atléticos a este conjunto – o ala Tremmell Darden, ex-Real, e o pivô Othello Hunter, ex-Siena. A sorte do clube grego, porém, gira em torno do estado físico de Vassilis Spanoulis. O genial armador grego sofreu com tendinite na reta final da última campanha, mas se preservou nas férias. Se estiver inteiro, seu time obviamente sobe de patamar, independentemente da saída do técnico Georgios Bartzokas.

Já o Efes segue um pouco da receita de seu conterrâneo Fenerbahçe, pagando uma nota para reformular seu elenco e tirar do ostracismo outro célebre treinador balcânico, Dusan Ivkovic. Em longo depoimento ao site oficial da competição, porém, Ivkovic faz questão de dferenciar as coisas. Seu plano é também desenvolver os mais jovens, que vão ganhar papel importante ao lado de veteranos como Nenad Krstic, Stratos Perperoglou, Stephane Lasme e Dontaye Draper, todos veteranços de Euroliga e vindo de times vencedores. Aliás, essa é uma área na qual o treinador realmente se destaca, despertando muito interesse sobre seu envolvimento com o ala-pivô croata Dario Saric e do ala-armador turco Cedi Osman, duas das maiores promessas do continente.

O problema é que, com Saric, as coisas não começaram bem. O jogador selecionado pelo Philadelphia 76ers no último Draft não vem sendo nem relacionado nas primeiras partidas do clube, levando seu pai, Predrag, ao desespero. “Acho que já é hora para ficar alarmado. O Dario está deprimido, nada está claro”, afirmou. “Se o Efes continuar mantendo-o fora, vamos procurar alguém que possa pagar a rescisão de contrato. O Dario tem de jogar, não pode ficar assistindo aos jogos da arquibancada. Ele está saudável. O Ivkovic está me deixando maluco.”

Vale lembrar que o papai Saric era um defensor ferrenho da ideia de que o filhote ficasse no basquete europeu para conseguir maior rodagem e se desenvolver, antes de assinar seu primeiro contrato de NBA.

Vai começar
A Euroliga vai ser transmitida com exclusividade no Brasil pelo Sports+ (canais 28 e 228 da SKY). Vou participar da cobertura pela terceira temporada seguida, na companhia de Ricardo Bulgarelli, Maurício Bonato, Marcelo do Ó e Rafael Spinelli. Sempre um prazer. Nesta quarta, entramos ao vivo com o duelo entre Laboral Kutxa e Neptunas Klaipeda, a partir de 15h15 (horário de Brasília). Na quinta e na sexta, rodada dupla! Cedevita Zagreb x Unicaja Málaga + Estrela Vermelha x Galatasaray e Real Madrid x Zalgiris Kaunas + Barcelona x Bayern de Munique, respectivamente.


Vai começar: a Euroliga 2014-2015 em números
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Giancarlo Giampietro

O Barcelona conta com um dos brasileiros da Euroliga. Vocês sabem quem, né? Na foto

O Barcelona conta com um dos brasileiros da Euroliga. Vocês sabem quem, né? Na foto

O basqueteiro sabe: quando chega outubro, o que ele mais ouve é: “Vai começar”.

Pois vai começar nesta quarta-feira a Euroliga de basquete, com um monte de jogadores que nos fizeram companhia durante a Copa do Mundo, dois brasileiros e o MarShon Brooks. Abaixo, alguns dados a respeito da segunda principal liga de clubes do mundo, que será transmitida no Brasil com exclusividade pelo canal Sports+, da SKY, time do qual farei parte novamente.  Jajá voltamos aqui com os times e jogadores para se ficar de olho, um contexto maior sobre os dois brasileiros no páreo – Marcelinho Huertas e JP Batista – e qualquer coisa que dê na telha.

Vamos lá, anotando:

76 – São 76 os jogadores dos Estados Unidos inscritos na competição, disparado o país com maior número de participantes no torneio. Em média, são mais de três por elenco. O atual campeão e vítima do Flamengo Maccabi Tel Aviv foi o que mais importou da fonte: oito! Mas nem todos são registrados como ianques, porém. No clube israelense, por exemplo, são três com cidadania local: o ala Sylven Landesberg e os pivôs Alex Tyus e Jake Cohen. Há americanos croatas, americanos bósnios, americanos belgas, e por aí vai.

Teodosic. Quem se lembra dele?

Teodosic. Quem se lembra dele?

66,6% – Da seleção sérvia que derrotou o Brasil pelas quartas de final da Copa, 8 atletas – ou 66,6% – jogam em clubes da Euroliga. O terror Milos Teodosic segue no CSKA Moscou, enquanto o pivô Nenad Krstic deixou a capital russa para jogar pelo Anadolu Efes, da Turquia. Em Istambul ainda aparecem o prodígio Bogdan Bogdanovic e o classudo Nemanja Bjelica, pelo Fenerbahçe. O pivô Vladmir Stimac saiu do Unicaja Málaga para o Bayern de Munique, mas o clube espanhol, por sua vez, completou sua cota com o armador Stefan Markovic. O Estrela Vermelha, único time do país disputando a competição, conta com os outros dois: o armador reserva Stefan Jovic e o atlético ala Nikola Kalinic. De resto? Miroslav Raduljca levou seus talentos, barba e Harleys para a China; Rasko Katic está em Zaragoza, Stefan Bircevic, em Madri (pelo Estudiantes) e Marko Simonovic, na França (pelo Pau-Orthez). O contingente sérvio, claro, não se limita a eles. Fora do Estrela, há mais nove jogadores espalhados pelo continente.

41 – É o número de atletas com experiência de pelo menos uma temporada regular completa na NBA – descartei os jogadores de contratos temporários, não-garantidos, com uma ou outra partida oficial ou amistosos de pré-temporada. Os dois que têm mais rodagem são Andrés Nocioni, nosso bom e velho e amigo, com  12.654 minutos (contando playoffs) e Krstic, com 11.252 minutos. Da safra nova, vale ficar de olho no que vão aprontar os alas MarShon Brooks (aquele mesmo ex-Nets, Celtics, Warriors, Lakers, seguidor de Nick Young, sem o carisma, mas que julga ser tão bom quanto um jovem Kobe Bryant e agora defende o Olimpia Milano), James Anderson (raro caso de talento mal desenvolvido em San Antonio, ex-Sixers, hoje no Zalgiris Kaunas) e Orlando Johnson (ex-Pacers e Kings, no Baskonia/Laboral Kutxa).

33,3% – Um terço dos clubes desta temporada não disputaram a última edição do campeonato: Dínamo Sassari (Itália), Nizhny Novgorod (Rússia), PGE Turow Zgorzelec (Polônia), Neptunas Klaipeda (Lituânia), todos estreantes, além de Limoges (da França, longe do torneio desde 1998), Valência (Espanha, desde 2011), Cedevita Zagreb (Croácia, desde 2013) e UNICS Kazan (Rússia, desde 2012).

Parla, Ginóbili!

Parla, Ginóbili!

13 – Há 13 anos que um clube da Itália, o país mais vencedor do torneio, não ganha leva o troféu para casa. O último foi o Virtus Bologna de um jovem Manu Ginóbili, em 2001, temporada na qual os times acabaram divididos em duas competições – a segunda com o nome de SuproLeague, ainda sob gestão da Fiba, que não foi adiante.

12 – No mapa da Euroliga, uma dúzia de países estão representados. A Espanha apresenta o maior contingente: cinco times (Barcelona, Baskonia/Laboral Kutxa, Málaga, Real Madrid e Valência). Rússia (CSKA Moscou, Nizhny Novgorod e UNICS Kazan) e Turquia (Anadolu Efes, Fenerbahçe e Galatasaray) têm três cada. Depois temos dois da Itália (Olimpia Milano e Dínamo Sassari), dois da Lituânia (Zalgiris Kaunas e Neptunas Klaipeda), 2 da Alemanha (Alba Berlim e Bayern de Munique), 1 da França (Limoges), 1 de Israel (Maccabi), 1 da Croácia (Cedevita Zagreb), 1 da Polônia (Turów Zgorzelec) e da Sérvia (Estrela Vermelha).

9 – A atual edição conta com nove campeões continentais, listados aqui pela ordem cronológica de seus primeiros títulos: CSKA Moscou (1961), Real Madrid (64), Olimpia Milano (66), Maccabi Tel Aviv (77), Limoges (93), Panathinaikos (96), Olympiakos (97), Zalgiris (99) e Barcelona (2003). Detalhe: o campeonato europeu de clubes só passou a ser disputado com o nome de Euroliga em 2001).

8 – Tal como acontece no futebol, o Real Madrid é o clube com mais títulos europeus, com oito. Da mesma forma que também acontecia nos gramados – até levantarem a taça na temporada passada –, os merengues aguardam há tempos, porém, a nona. Não sobem ao degrau do pódio desde 1995. Maccabi, CSKA e Panathinaikos têm seis títulos cada um.

Sergio Rodríguez, Señhor Barba MVP

Sergio Rodríguez, Señhor Barba MVP

5 – A Euroliga ainda tem um quinteto de MVPs em atividade nesta edição. Dificilmente eles poderiam jogar juntos, porém, já que estamos falando de cinco armadores: Juan Carlos Navarro (2009), Milos Teodosic (2010), Dimitris Diamantidis (2011) Vassilis Spanoulis (2013) e Sérgio Rodríguez (2014). Obs: o destaque de 2012 foi Andrei Kirilenko, ex-CSKA, durante a temporada do lo(u)caute da NBA.

3 – Uma tradição da Euroliga é a eleição dos MVPs de cada mês, assim como a NBA faz. O Barcelona tem uma curiosidade em seu plantel: com três prêmios cada um, Navarro e Ante Tomic são os dois recordistas nesse quesito. A longevidade de La Bomba impressiona: seus três troféus estão espalhados entre janeiro de 2006 e janeiro de 2011. Já o talentosíssimo pivô croata arrebentou na edição passada, faturando dois em sequência em fevereiro e março.

2 – Guerra da Cisplatina! Argentina, Brasil e Uruguai têm a mesma quantia de jogadores na Euroliga 2014-15: um par cada. Por essa você não esperava, né? Marcelinho Huertas (Barça) e João Paulo Batista (Limoges) fazem as vezes dos tupiniquins, enquanto Nocioni e o enjoado Facundo Campazzo representam os argentinos pelo Real Madrid. O espírito charrúa fica por conta do imortal Esteban Batista (Panathinaikos) e do armador Jayson Granger (Málaga). Obs: o jovem ala-pivô brasileiro Daniel Bordignon pertence ao Baskonia, mas foi emprestado para o Navarra, da Liga Adecco Oro, segunda divisão espanhola.

0 – O Cedevita Zagreb é o único time de todo o campeonato que não conta com nenhum jogador dos Estados Unidos em seu plantel. Em meio aos croatas, o único estrangeiro sob a orientação de Jasmin Repesa é o bósnio Nemanja Gordic, se é que isso pode ser considerado um forasteiro.


Dupla Augusto-Raulzinho começa arrebentando na Espanha
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Giancarlo Giampietro

Augusto e Raul, companheiros de Sul-Americano, reunidos. (Foto do Instagram do pivô)

Augusto e Raul, companheiros de Sul-Americano, reunidos. (Foto do Instagram do pivô)

Vamos aguardar ansiosamente as cenas dos próximos capítulos. Porque o primeiro já foi de arrebentar: neste domingo, na abertura da Liga ACB espanhola 2014-15, a dupla Augusto Lima e Raulzinho começou arrebentando a boca do balão – e também um dos times mais fortes da competição, o Valencia, causando a grande surpresa da jornada, numa vitória por 85 a 76.

Em tempo: salvo uma grande zebra, Real Madrid ou Barcelona serão campeões, com elencos estelares que estão entre os três, quatro melhores de toda a Europa na certa, e precisam ser acompanhados por qualquer basqueteiro que queira ver um produto extremamente qualificado além da NBA. Para o basqueteiro brasileiro, porém, o time a ser visto é o modesto, mas decente clube localizado ao sudeste do país, com duas das nossas maiores revelações reunidas por uma temporada toda. Augusto já estava lá, e a ele se juntou o armador, vindo do Gipuzkoa Basket, de San Sebastián.

Segundo diversos relatos – como o do site oficial da equipe –, o pivô e o armador, titulares, já apresentaram uma boa química em quadra neste domingo, e a coisa só vai melhorar com a sequência de treinos e partidas. São dois atletas de primeiro nível para os padrões europeus, explosivos e agressivos, que podem machucar, e muito, qualquer defesa no jogo de pick-and-roll.

Já um dos destaques da temporada passada na Espanha, misteriosamente ignorado por Rubén Magnano na seleção principal, além de subutilizado por José Neto no time do Sul-Americano, Augusto sinaliza estar empenhado para subir mais um degrau.  “Foi uma grande partida do Augusto. Ele demonstrou o compromisso que tem com o clube”, disse o técnico Diego Ocampo, que inicia seu trabalho pelo Murcia. Prestes a completar 38 anos, ele assume um clube adulto pela primeira vez desde 2007, tendo assistido Aito García, pelo Sevilla, nas últimas duas temporadas. Antes, havia sido auxiliar de Joan Plaza. Ótimos professores, registre-se.

“Grande partida” talvez seja até eufemismo, minha gente. Confiram a impressionante linha estatística do brasileiro: 22 pontos, 7 rebotes (3 ofensivos), 4 roubos de bola e 2 tocos em apenas 27 minutos. Mais que isso, acertou 10 de seus 11 arremessos, sem tomar conhecimento do croata Kresimir Loncar, ou do ucraniano Serhiy Lishchuk, dois pivôs experientes e com maior cartaz na Europa. Ainda foi seis vezes para a linha de lance livre, mas aí falhou, convertendo apenas três. No saldo de todos os seus números, atingiu a elevada marca de 31 pontos de valoração, a melhor da rodada até o fechamento deste texto (restavam mais três jogos).

Augusto, em uma de suas quatro enterradas numa estreia de arromba. Alô, Magnano...

Augusto, em uma de suas quatro enterradas numa estreia de arromba. Alô, Magnano…

Em sua estreia, Raulzinho marcou 13 pontos em 26 minutos, matando 5 em 9 tentativas de chute, convertendo seu único disparo de três pontos. Cometeu três turnovers, mas recuperou a bola em duas ocasiões e liderou o time em assistências (6). Com 16 pontos de valoração, teve o terceiro maior índice da sua equipe, atrás também do ala-pivô José Ángel Antelo (20).

Antelo, aliás, é o principal companheiro de Augusto no garrafão. Revelado pela base do Real Madrid, já foi uma grande aposta da Espanha, estreando na primeira divisão com 16 para 17 anos. Sua transição para o profissional, porém, não foi das mais fáceis. Constantemente cedido por empréstimo pelo Real, rodou o país até se firmar em Murcia, ao qual chegou em 2012. Na primeira rodada, o sérvio Nemanja Radovic foi quem complementou a rotação de “grandalhões” – que nem são tão grandes assim, numa combinação de pivôs bastante ágeis, leves. Com 23 anos, ele deixou o Mega Vizura, da Sérvia, em fevereiro e se juntou ao clube espanhol.

Quer dizer: o Murcia vai para a temporada tendo o pivô brasileiro como sua principal referência no jogo interior, mesmo. Uma situação promissora. Hora de ficar (mais) de olho em seu progresso como um protagonista em um clube de Liga ACB. Clube, é verdade, que não vai brigar pelo título, está longe dos maiores orçamentos do país, mas ao menos se mantém na elite do país desde 2011. O clube de futebol da cidade está na Segundona.

Na rotação exterior, Raulzinho teve a companhia no quinteto titular do veteranaço Carlos Cabezas, compondo uma dupla armação. Cabezas deu cinco assistências. Juntos, então, deram 11 passes para cesta, superando toda a equipe adversária, que somou 10. Aqui vale o reforço: do outro lado da quadra estava um Valencia que foi semifinalista no ano passado e vai disputar a Euroliga deste ano.

O Murcia perdeu o primeiro quarto por nove pontos de diferença, permitindo que seu adversário marcasse 27 em 10 minutos. Muito. Reagiu, contudo, nas duas parciais seguintes, levando apenas 31 em 20 minutos, para abrir 11 pontos no placar. “Passamos por um mal momento, mas conseguimos solucionar isso com uma boa defesa. Jogamos como guerreiros. Nos momentos ruins, a torcida continuou com a equipe. Espero que sigamos transmitindo energia”, afirmou o técnico Ocampo.Energia, a gente sabe, é o que não falta no basquete de Augusto e Raulzinho. Agora é ver que tipo de estrago os dois podem aprontar, juntos, em uma longa e instigante temporada pela frente.

*  *  *

Huertas contra sua ex-equipe

Huertas contra sua ex-equipe

O Barcelona de Marcelinho Huertas, atual campeão, já conseguiu um belo resultado na primeira rodada ao vencer o Baskonia (“Laboral Kutxa”) por 87 a 65, em casa. Foi um confronto de dois clubes de Euroliga. A diferença entre os elencos, porém, é bastante grande, ainda com o agravante de a equipe basca, que já teve o próprio Huertas e Tiago Splitter em seu plantel, ter um novo técnico e diversos jogadores para adaptar.  O Barça fez algumas trocas importantes, mas ainda mantém um núcleo consolidado, do qual faz parte o armador brasileiro, que jogou por quase 30 minutos e contribuiu com 13 pontos, 4 assistências, 3 roubos de bola (mais seis turnovers, registre-se).

Depois de anos de parceria e concorrência com Victor Sada, Huertas agora vai dividir a armação do time catalão com o tcheco Tomas Satoranksy, de 23 anos e anormais 2,01 m de altura para a posição. Satoransky está na Espanha há cinco temporadas já, sendo desenvolvido como prospecto pelo Sevilla. Os bravos torcedores do Washington Wizards já o conhecem, uma vez que o jovem atleta foi draftado pela franquia em 2012. No jogo de abertura, porém, ele não foi para a quadra. Ao contrário de Justin Doellman e Tibor Pleiss, principais reforços de Xavier Pascual.

Grande figura do Valencia na última campanha, sendo eleito inclusive o MVP do campeonato, Doellman subtitui Erazem Lorbek no quinteto inicial do Barcelona, ao lado de Ante Tomic. Desses americanos que passa despercebido pela NBA e se torna uma estrela na Europa, o ala-pivô somou 9 pontos, 7 rebotes e 3 assistências em 25 minutos. Já Pleiss, que veio do Baskonia, anotou 12 pontos e pegou 7 rebotes em apenas 12 minutos de jogo – uma apelação do clube catalão, tendo um pivô talentosos desse como um mero reserva para Tomic.

*   *   *

O Real Madrid também venceu bem: 70 a 57 contra o Gran Canaria. Depois de uma campanha exuberante, mas de final frustrante na temporada passada, a equipe da capital ao menos já aliviou a barra do técnico Pablo Laso ao conquistar a Supercopa, derrotando o Barça no final de semana passado. Sem a versatilidade e habilidade de Nikola Mirotic, mas com a consistência e eficiência de Gustavo Ayón (10 pontos e 13 rebotes em 27 minutos), o Real vem com um plantel talvez ainda mais poderoso. Andrés Nocioni e Facundo Campazzo, por exemplo, são reservas e tiveram, respectivamente, 13 e 15 minutos, de tempo de quadra. Estreante no basquete europeu neste ano, porém, o enjoado Campazzo já começa a deixar sua marca.


Maccabi joga sempre pressionado. Ainda mais sem Blatt
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Giancarlo Giampietro

Goodes deixa a sombra de Blatt num Maccabi reconfigurado

Goodes deixa a sombra de Blatt num Maccabi reconfigurado

Conforme dito já em toda a Internet, o Maccabi Tetl Aviv que enfrenta o Flamengo no Rio de Janeiro é bem diferente, em termos de nomes, daquele que foi campeão da Euroliga em Milão, em maio. Na troca de temporada, o clube israelense perdeu muitos de seus principais jogadores. Mas a grande mudança, mesmo, diz respeito ao seu comando técnico. Guy Goodes tem a missão ingrata de substituir um David Blatt que foi a grande força por trás de sua histórica e suada conquista e agora vai conversar bastante com LeBron James e Kevin Love em Cleveland.

Podem dizer que técnico não joga, mas Blatt é daqueles que faz a diferença, sim. Extremamente versátil, consegue tirar o máximo do grupo que tem ao seu dispor, adaptando seu jogo ao que seus atletas podem oferecer. “Há duas escolas de pensamento para técnicos, e nenhuma está mais certa que a outra. Há técnicos que têm o seu sistema e vão usá-lo, independentemente da montagem de seu time. E há técnicos que se adaptam, que pegam seu elenco, e jogam de acordo com suas habilidades. Sou mais dessa escola adaptável, com alguns princípios que são consistentes durante a minha carreira”, afirmou a Zach Lowe, do Grantland.

Para quem acopanhou o Maccabi na temporada passada, isso ficou bem claro. Blatt não só aplicava sua tática de acordo com o que tinha em mãos, como também o time era maleável bastante para alterar completamente seu estilo de um jogo para o outro, ou mesmo dentro de um jogo, dependendo do adversário, da fase dos atletas e se Schortsanitis estava em ação.

Baby Shaq grego era a única referência ofensiva, com jogo de costas para a cesta, do elenco do Maccabi 2013-14. Não joga contra o Flamengo

Baby Shaq grego era a única referência ofensiva, com jogo de costas para a cesta, do elenco do Maccabi 2013-14. Não joga contra o Flamengo

No time que derrotou o Real na decisão europeia, dos que foram para quadra, só mesmo o Baby Shaq grego tinha mais de 2,03 m de altura (oficiais 2,06 m, vamos dizer assim), e foi por menos de 10 minutos num jogo de prorrogação. Vimos um Maccabi correndo contra quem podia correr, um time de jogo mais lento quando não conseguia aguentar o pique, protegendo bem sua cesta mesmo sem estatura, alternando defesa pressionada com zonas simples ou mistas para desestabilizar o adversário, mas sempre povoando o garrafão.

De novo: era um time muito interessante, mas limitado, que tinha de se virar como dava – em termos de talento, no papel, seu elenco estava bem abaixo de seus concorrentes do Final Four. Foi um time que perdeu, por exemplo, seis de 14 jogos na fase Top 16, na qual ficou sob séria ameaça de eliminação, até garantir sua vaga nas quartas de final com uma vitória sobre o Bayern de Munique na penúltima rodada. Antes desse triunfo sobre o Bayern, acreditem: o próprio Blatt teve de encarar entrevistas coletivas em que  sua demissão era cogitada. Pasme.

Uma vez classificado para as quartas, porém, o time decolou, vencendo cinco dos próximos seis jogos. O turning point foi uma vitória dramática, na prorrogação, sobre o Olimpia Milano, em Milão, na abertura dos mata-matas. O time virou um jogo impossível, uma reação daquelas digna de Maccabi Tel Aviv, que o presidente Shimon Mizrahi, uma figuraça, vai contar para os bisnetos.

Em termos de talento, seu elenco estava bem abaixo se comparado com o da maioria das equipes classificadas para as quartas de final do torneio europeu. No Final Four, então, era claramente um azarão. Ainda assim, os caras derrotaram o CSKA Moscou num jogo parelho pela semifinal e, depois, derrubaram a máquina de se jogar basquete do Real Madrid na decisão. Mas é isso, né? O tipo de coisa que pode acontecer em jogos decisivos, ainda mais se em confrontos solitários. Um time competitivo engrenar, começar a acreditar e, pumba, realizar sua missão-na-terra. São justos, legítimos campeões, mas o próprio Blatt foi o primeiro a dizer que, num sistema de playoff, dificilmente ele e seus rapazes teriam chegado lá. Talvez estivesse subestimando suas próprias habilidades como estrategista e líder.

David Blatt saiu nos braços do povo

David Blatt saiu nos braços do povo

Blatt construiu um currículo e uma reputação que o empurravam para outra direção. Enfim, as portas da NBA foram abertas para ele, recebendo uma proposta generosa do gerente geral do Cleveland Cavaliers, David Griffin, que teve o apoio inesperado do intempestivo proprietário Dan Gilbert, que preferia um John Calipari. Poucos em Israel puderam acreditar. Não que ele não merecesse. É que não estavam preparados para que ele ‘já’ saísse após seu tão sonhado primeiro título de Euroliga. Havia apenas especulações de propostas para assistente, algo que não necessariamente seria atraente para alguém com seu status, e aí chegou o Cavs, pré-Retorno de LeBron, interessado. Pronto.

Cabe a Guy Goodes, então, assumir essa bronca. Pelo menos o treinador de 43 anos sabe muito bem da responsabilidade. São 15 anos de clube. Já integrou a comissão técnica do Maccabi por seis temporadas – entre 2006 e 2008 e também as última quatro como braço direito de Blatt. Não obstante, também jogou pelo time de 1990 a 1998. Agora assume o cargo principal, sem muita experiência, porém, nessa função. Entre uma passagem e outra como assistente, dirigiu o Hapoel Jerusalem, e só.

Como faz, então, agora que está no comando? “No papel há muitas diferenças entre os dois treinadores, mas também há várias semelhanças. Goodes aplicou no time muito da filosofia de Blatt como também a sua. Ainda assim, Blatt é conhecido por ser um treinador de espírito defensivo que se empenha em limitar os oponentes a 70 pontos por jogo. Goodes é o oposto. Ele ama o basquete veloz, com passes rápidos. Durante a pré-temporada, o Maccabi por duas vezes anotou 106 pontos e 109 em outra”, afirmou o jornalista israelense David Pick, um carrapato do Maccabi, ao Mondo Basquete.

Goodes estuda o Flamengo no tempo que dá. Crédito: David Pick

Goodes estuda o Flamengo no tempo que dá. Crédito: David Pick

É importante dizer que, mesmo que o elenco israelense tenha sido sacudido, o perfil dos atletas foi mantido. Vale destacar o retorno de Jeremy Pargo para a vaga de Rice e a aposta em MarQuez Haynes para o lugar de Hickman. Curioso como o clube realmente foi atrás de jogadores de características muito semelhantes, mesmo. Com os dois em quadra, já se pode esperar muita velocidade. Em situações de meia quadra, preparem-se para o uso e abuso do jogo de pick-and-rolls e pick-and-pops e até mesmo muitas jogadas no mano a mano, explorando a habilidade dos recém-contratados e a presença de muitos arremessadores ao redor deles, com o pivô Alex Tyus representando uma das poucas ameaças no corte para a cesta, fora da bola (fora, isto é, das mãos dos armadores americanos). Brian Randle, bastante atlético, mas voltando de uma lesão muscular, também precisa ser vigiado nessas – se for para o jogo, mesmo.

O time segue muito baixo, com apenas três jogadores acima de 2,05 m – quando, na real, era para ser apenas um. Explico: Alex Maric, de 2,11 m e muita presença física no garrafão, só foi contratado para quebrar o galho enquanto Sofoklis Schortsanitis se recupera de sua operação devido a um glaucoma. O terceiro é o pivô americano Jake Cohen, de 2,08m, que foi contratado no ano passado ao sair da universidade de Davidson. Ainda é um projeto, tendo sido emprestado para o Maccabi Rishon Lezion. Nesta temporada, deve ficar no clube principal, com o qual tem contrato por mais três temporadas, mas sem muito tempo de jogo.

Maric é um sujeito alto, forte, mas que já viveu dias melhores: único poste a desafiar o Fla nesta final

Maric é um sujeito alto, forte, mas que já viveu dias melhores: único poste a desafiar o Fla nesta final

É de se imaginar confrontos de ritmo acelerado em que um atleta lento como o australiano Maric não deve ter espaço – a não ser que o Flamengo não consiga defendê-lo. Como destacou David Pick, o Maccabi tem corrido bastante em seus jogos de pré-temporada, com média incomum de 93,5 pontos em seis partidas disputas na pré-temporada até aqui. Se essa proposta for mantida, for dominante, é algo que favorece o Flamengo, que também gosta de sair em transição, com atletas como Marquinhos, Benite, Laprovíttola, Meyinsse, Gegê, Felício etc. Estão preparados para isso.

Agora, é preciso ver se o novo treinador é um cara de uma cartada só ou se aprendeu com Blatt a se moldar também de acordo com o que jogo oferece, com as facilidades sugeridas e dificuldades impostas pelo adversário. Na pré-temporada, vem com cinco vitórias e apenas uma derrota justamente pela final da Copa da liga israelense, já valendo como partida oficial. Perderam para o Hapoel Jersualem, por 81 a 78.

Sofrer mais um revés em uma decisão seria péssimo para Goodes em seu início de trabalho numa instituição em que a pressão por resultados é gigantesca e pode afetar até uma lenda viva como Blatt. O ex-assistente e o clube ainda não estão preparados para mais mudanças em sua estrutura. Mas o Flamengo não está aí para dar uma forcinha.


Copa Intercontinental e suas incógnitas: chance para o Flamengo
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Giancarlo Giampietro

Copa Intercontinental 2014, Fiba, Flamengo, Maccabi

É difícil dizer qual é o Maccabi Tel Aviv que enfrenta o Flamengo neste final de semana pela Copa Intercontinental, no Rio de Janeiro. Porque já era muito complicado definir qual era a equipe que havia conquistado a Euroliga da temporada passada, com sua formação camaleônica, irregular, que acabou surpreendendo ao ser campeão continental. Você soma aí o fato de que eles trocaram de técnico, perdendo o genial David Blatt, e mudaram mais da metade de seu elenco, e os jogos desta sexta-feira e domingo ganham um aura de incógnita.

É um clima bem diferente da decisão do torneio de 2013, no qual o Olympiakos aparecia como amplo favorito. Isso tinha muito a ver com a consistência do clube grego, que havia conquistado dois títulos europeus seguidos e também contava com Vassilis Spanoulis, um cara que obviamente estava um degrau acima dos demais atletas em quadra.

Em termos de acúmulo de resultados positivos, dessa vez é o Flamengo que chega embalado, vindo de dois NBBs e sua primeira Liga das Américas – me desculpem, mas não dá para incluir aqui os recordes recentes do estadual, a despeito da tradição do torneio. O difícil é traduzir o jogo de cá com o de lá: o quanto um Fla dominante no Brasil e, por um ano, nas Américas é poderoso para enfrentar um campeão europeu meio acidentado. Um campeão justo, é verdade, porque levou a melhor em quadra – mas que definitivamente não foi o melhor time europeu de 2013-2014

Você jamais pode subestimá-lo – e certamente o Flamengo não vai correr esse risco. Eles têm camisa, história, com seis títulos continentais, uma base de torcedores das mais entusiasmadas do mundo todo. Então é claro que o time de José Neto vai respeitar seu adversário, e bastante. Só, acredito, não precisa se colocar em situação de inferioridade. Estivessem o Real Madrid ou o Barcelona do outro lado, aí a coisa mudaria de figura – estes, sim, os times com melhor campanha na Euroliga, até o Final Four.

Para comparar, durante a temporada regular (primeira fase e Top 16 somadas aqui), a agremiação israelense teve 16 vitórias e 8 derrotas, contra 21 e 3 do Real e 19 e 5 do Barça – sendo que o time de Huertas bateu de frente com Fenerbahçe e  CSKA pela etapa inicial e, depois, ainda precisou lidar com Fener, Olympiakos, Panathinaikos, Olimpia Milano por um grupo duríssimo. Além do mais, o próprio Blatt admitiu que, num confronto de playoff, sua equipe dificilmente teria derrubado o Real, ou até mesmo o CSKA. Em um jogos únicos, porém, foi uma tarefa plausível, graças em muito ao seu domínio do tabuleiro.

Para considerar também: os dois adversários chegam ao confronto em fase inicial de preparação. É apenas a pré-temporada. Os rubro-negros, nesse sentido, levam a vantagem de terem uma base muito mais bem entrosada. Um craque como Walter Herrmann, já mais velho, mas ainda de uma categoria acima da média, foi adicionado, e deve ser peça fundamental da equipe. Derrick Caracter é outra história, aqui discutida. De resto, a rotação está intacta. Já o seu adversário realmente passou por uma reformulação drástica em seu plantel, algo que sempre pode acontecer, mas não estava nos planos.

O Maccabi é bem mais vulnerável do que o título de campeão europeu pode sugerir. Não quer dizer que seja fraco, ok? Longe disso. Mas a expectativa é de um confronto muito interessante, desde que os flamenguistas estejam fazendo a lição de casa direitinho.


Atualização: destinos de Ayón e Raduljica definidos
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Giancarlo Giampietro

Só para não deixar batido, tá? Falamos esta semana sobre alguns destaques da Copa do Mundo que ainda estavam desempregados. Depois de Joe Ingles acertar com o Los Angeles Clippers, outros dois definiram seus clubes para a próxima temporada entre esta quinta e a sexta-feira: Miroslav Raduljica e Gustavo Ayón.

O gigante-imenso-mesmo-e-barbudo vice-campeão mundial pela Sérvia anunciou nesta sexta que vai, mesmo, para a China. Na ausência de alguma boa oferta da NBA ou de um clube de ponta europeu, optou pela via mais fácil e rentável: receber US$ 2 milhões para defender o Shandong Lions, antigo Flaming Bulls (daí a confusão na Internet citando os dois apelidos para um mesmo time). E vamos lembrar: Raduljica é ex-Milwaukee Bucks, mas não está deixando o Bucks. Está deixando o Los Angeles Clippers, que teve seu contrato por uns cinco minutos talvez, antes de Doc Rivers assinar a papelada para dispensá-lo. A temporada chinesa termina antes que a da liga americana, então tem isso: se algum time estiver precisando de um troglodita na reta final, vai estar disponível, embora seu encaixe nos Estados Unidos seja mais difícil. Não são mais tempos para pesos pesados deste porte.

Já o grande herói mexicano dos tempos modernos, maior até que o goleiro Guillermo Ochoa e Chicharito Hernández, vai defender uma agremiação muito mais nobre: o Real Madrid. Ayón pagou do seu bolso, mesmo, a multa rescisória de 290 mil euros para o Barcelona, que tinha seus direitos na Europa, e fechou um vínculo de três temporadas com a equipe merengue, valendo 1,8 milhão de euros (bruto). Bela contratação do Real, que agora tem para seu garrafão esse jogador que a NBA subestimou, ao lado de Ioannis Bourosis, Andrés Nocioni, Felipe Reyes, Marcus Slaughter e Salah Mejri. Rotação versátil e de impacto. Alguém muito bom não vai nem ver a luz da quadra. Realmente esperava que ele pudesse assinar com o Spurs. Seria um excelente encaixe, mas sorte de Pablo Laso e do Real.

 


Ingles no Clippers? Zoran no Suns? Copa influencia o mercado
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Giancarlo Giampietro

A Copa do Mundo de basquete acabou no domingo, mas parece que foi há meses, né?

Ok… Não chega a tanto. Foram só dois dias, mesmo.

Ainda assim, galera, já vale atualizar o que se passa na vida de alguns dos personagens do torneio envolvidos com o mercado da bola (ao cesto).

Na NBA as coisas estavam aparentemente todas acertadas. Como se precisássemos apenas de uma resolução para o impasse entre Phoenix Suns e Eric Bledsoe – o melhor jogador americano sem contrato no momento –, além de uma definição de Ray Allen: o veterano ala vai, ou não, recorrer ao INSS como aposentado? Acontece que a Copa, este torneio que parte da liga americana tenta rotular na marca como algo desinteressante, gerou mais algum movimento nas franquias que ainda têm vagas em seus elencos. Da mesma forma que acontece na Europa e na China. A prioridade da maioria dos agentes livres, claro, é jogar em solo ianque. Mas esses acordos não são tão simples assim.

Vejamos:

Joe Ingles (Austrália)

Joe Ingles encara a Turquia. Agora, hora de bater uma bola com CP3 em Los Angeles

Joe Ingles encara a Turquia. Agora, hora de bater uma bola com CP3 em Los Angeles

Essa foi a nota quentinha da terça-feira, cortesia de Marc Stein, um bastião do ESPN.com. O ala canhoto acertou com o Los Angeles Clippers, que abriu uma vaguinha em seu perímetro ao se livrar do contrato de Jared Dudley, despachado para ser um mentor de Jabari Parker e Giannis Antetokounmpo em Milwaukee. Ainda não está claro se o seu contrato é garantido, ou não. Antes do tweet de Stein, o Courier Mail, de Brisbane, havia entrevistado este boomer, que não quis revelar os clubes interessados, mas disse que as chances de jogar nos Estados Unidos eram de 99%. Mas com um detalhe: provavelmente com um contrato sem garantias. Daqueles em que se estipula um prazo para a franquia decidir se ficará, mesmo, com o atleta por toda a temporada. Curioso que Ingles, campeão da Euroliga pelo Maccabi, vindo de médias de 11,4 pontos, 3,4 assistências e 3,2 rebotes no Mundial, encare um desafio desses. Em vias de completar 27 anos, deve estar considerando aquela coisa de agora-ou-nunca. “Vou tentar entrar no time, mas isso por si só vale como motivação para mim. Estou empolgado. A situação para a qual vou é a de um time que tem me acompanhado”, afirmou. Em L.A., Doc Rivers tem, no momento, as seguintes opções para o perímetro, lembremos: JJ Redick, Jamal Crawford, Matt Barnes, Reggie Bullock e o calouro CJ Wilcox (excepcional arremessador vindo da universidade de Washington).

Zoran Dragic chuta contra Klay Thompson: arremesso não é o forte, mas a NBA está caidinha por ele

Zoran Dragic chuta contra Klay Thompson: arremesso não é o forte, mas a NBA está caidinha por ele

Zoran Dragic (Eslovênia)
O irmão do Goran virou febre entre os scouts da liga americana. Incrível. Vi alguns jogos do ala-armador esloveno na última Euroliga, e ele tem seus lampejos aqui e ali, mas está longe de ser um atleta consistente, embora já não seja tão novinho assim (25 anos). É um jogador atlético, raçudo, que ataca a cesta com fome, mas que converteu apenas 25% de seus arremessos de três na temporada passada pelo tornei continental e 28,8% pela Liga ACB. Sim, acreditem: não é todo europeu que chuta bem de longa distância, mesmo com um sobrenome desses. Em um bate-papo recente, o analista Kevin Pelton, do ESPN.com, um desses magos das estatísticas, fez a seguinte observação: “Se fosse irmão de um encanador, não sei se teria alguma chance de jogar na NBA”. Ouch. Ele fala isso com base na tradução de seus números da Europa para os Estados Unidos. Vai saber.

Fato é que o esloveno tem uma penca de times no seu calcanhar. Segundo o mesmo Marc Stein, o Phoenix Suns é quem estaria mais adiantado em negociações para tirar o atleta do Unicaja Málaga, superando Pacers e Kings. O gerente geral Ryan McDonough, que foi para Madri acompanhar os mata-matas da Copa, está fazendo de tudo para agradar ao irmão mais velho de Zoran, que vai deve se tornar um agente livre em 2015. Arizona Central confirma o interesse do time e afirma que sua multa rescisória com o clube espanhol é de US$ 1,1 milhão. Já o RealGM lista Spurs, Magic, Heat e Mavericks como times envolvidos na perseguição e dá outro detalhe: o jogador tem até o dia 5 de outubro para se liberar de seu contrato. Caso contrário, é obrigado a jogar a temporada pelo Málaga. Quem dá mais?! “Obviamente que estou interessado em jogar na NBA, mas não tem nada definido no momento”, afirma o Dragicinho. “Tudo é possível, mas por enquanto ainda sou um membro do Unicaja Málaga.”

Gustavo Ayón (México)
Já teve gente declarando amor ao pivô mexicano durante a Copa. Outra vez. Não sei quem. Agora, se você acha que o rolo de Dragic é meio complicado, a trama em torno de Ayón é digna de um quebra-cabeça para a turma de Charlie Kaufman resolver. Assim: o herói de Zapotán jogou uma temporada só pelo Atlanta Hawks e voltou para o mercado. Estava esperando mais uma oferta da NBA, que não chegou – o Spurs é que poderia se apresentar, segundo… Marc Stein! De concreto, todavia, o mexicano disse, durante o Mundial, que só havia chegado uma proposta chinesa, do Shandong. Mas aí o Real Madrid também entrou na parada, e eles estavam bem perto de acertar um vínculo de três anos. Além do mais, ele só jogaria na Euroliga, com cláusulas camaradas para migrar para os Estados Unidos, se fosse o caso. O problema é que, na Espanha, os direitos do mexicano são do Barcelona. Para ele fechar com o Real, teria de pagar 290 mil euros ao Barça. Então, no momento, o jogador estaria inclinado a ir para a China, mesmo.

Ayón, orgulho mexicano, desempregado na elite do basquete

Ayón, orgulho mexicano, desempregado na elite do basquete

Miroslav Raduljica (Sérvia)
O quê!? O Raduljica!? Mas ele não era do Bucks?! Não, gente, não mais. Anunciado insistentemente durante toda a Copa do Mundo desta maneira, o pivô titular e um dos destaques dos sérvios no torneio, o grandalhão havia sido trocado pelo Milwaukee para o Clippers (no mesmo negócio que envolveu Dudley). Doc Rivers não tinha intenção em contar com suas trombadas e o dispensou de imediato. Então ele está no olho da rua, mesmo. Mas não vai durar pouco. Na real, o troglodita vice-campeão mundial parece estar envolvido em um sexteto amoroso com Ayón, Spurs, Real e Shandong. Sim, as coisas ficam ainda mais complicadas de desenrolar aqui, hehe. Os mesmos clubes relacionados ao mexicano aparecem também na onda de rumores em torno do pivô. Com a prata no peito, em alta no mercado como nunca antes em sua história, Raduljica ao menos diz com orgulho: “Perdemos a final, mas minha barba ainda é melhor que a do James Harden”.

Hamed Haddadi (Irã)
Por falar em Real Madrid e China… pode botar o iraniano nesta história. Aparentemente, a diretoria do clube espanhol não perdeu tempo ao ver uma série de estrelas internacionais em seu país durante a Copa. O gigante foi mais um jogador cogitado para reforçar seu garrafão, embora sua prioridade também fosse retornar para os Estados Unidos. Uma pena que Memphis não o reconheça pelos serviços prestados… A essa altura da vida, já não dá mais para acreditar num mundo justo. De modo que Haddadi está em vias de assinar com a liga chinesa, mesmo, para defender o Qingdao Double Star.

Eugene Jeter (o ursinho Puff da Ucrânia)
O armador americano, que defendeu a seleção ucraniana com 15,4 pontos e 5 assistências por partida na Copa, sempre reclamou de que nunca havia recebido uma chance real para jogar na NBA. Foi reserva do Sacramento Kings por um ano, mas foi na Europa que desenvolveu sua carreira profissional. Agora, recebeu um convite do Los Angeles Lakers para passar por um período de duas semanas de treinamento. Um sonho de criança. “Nasci em Los Angeles e cresci como um torcedor do Lakers, então é uma honra receber esse convite”, afirmou. Tudo pronto para um final feliz? Nem tanto: mesmo que o gerente geral Mitch Kupchak quisesse adicioná-lo a uma rotação que hoje tem Jeremy Lin, Steve Lin e Jordan Clarkson, Pooh Jeter não poderia – já tem contrato na China e vai honrá-lo, disse ao Beijing Times.


Ayón se despede em alta do Mundial, mas sem contrato
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Giancarlo Giampietro

Ayón, orgulho mexicano, desempregado na elite do basquete

Ayón, orgulho mexicano, desempregado na elite do basquete

Gustavo Ayón já fez tanto pela seleção mexicana nos últimos anos, levando o time a uma sequência histórica de façanhas, que, num jogo perdido, não era mal algum que seus companheiros jogassem em sua função por 40 minutos neste sábado.

Na abertura das oitavas de final da Copa do Mundo, todo mundo sabia que os Estados Unidos iriam atropelar o México (86 a 63, nem foi tão feio assim). Mas a partida do mata-mata tinha um valor especial para o craque do time, o pivô camisa 8 que, inexplicavelmente, está desempregado no momento. De modo que 25 pontos, 8 rebotes e 11/19 nos arremessos não faz mal nenhum, mesmo que numa sacolada. Ele se despede do Mundial com médias de 17,6 pontos e 7,6 rebotes.

Ayón foi explorado ao máximo. Trombou com uma infinidade de pivôs americanos em 36min53s de partida, aproveitando ao máximo a oportunidade de mostrar serviço. Nos minutos finais, estava visivelmente exausto, tendo de segurar Andre Drummond e Mason Plumlee correndo que nem malucos. Coitado. Mas foi por uma boa causa.

Ayón x Monocelha no Mundial

Ayón x Monocelha no Mundial

Ele não é o único protagonista do Mundial nessa situação – temos Aron Baynes na Austrália e Miroslav Raduljica na Sérvia, por exemplo. Mas, pelo que vimos hoje no embate com os norte-americanos, é de se perguntar como é possível que alguém com os talentos de Ayón tenha sido menosprezado desta maneira. Até o momento, seus agentes asseguram que não receberam sequer uma proposta oficial da NBA, depois de seu cliente concluir um contrato de três temporadas.

Segundo o extremamente confiável Marc Stein, do ESPN.com, o San Antonio Spurs passou a manifestar interesse no jogador, mas ainda tem como prioridade a renovação com Baynes. O ídolo mexicano seria, então, um plano B – estar na lisa de atletas monitorados por Gregg Popovich e RC Buford é, de qualquer modo, um bom sinal para qualquer empresário. A mídia mexicana fala em negociações com o Real Madrid, para o qual foi oferecido. O Baskonia também teria sido sondado.

É muito estranho. Ayón não pode ser confundido com um craque, alguém que mudaria o destino de uma franquia da NBA a partir do momento em que assinasse. Mas é, por outro lado, um pivô bastante versátil, pau-pra-toda-obra.

No ataque, é capaz de pontuar com eficiência próximo da cesta, com o jovem Anthony Davis pôde atestar neste duelo, sendo fintado em diversas ocasiões em mano-a-mano. Com um jogo de pés bastante criativo, girando para os dois lados com facilidade, conseguiu se desvencilhar da interminável envergadura do Monocelha. Veja os australianos entrando na dança:

Na liga americana, embora não tenha um bom chute de média distância (seu lance livre, por exemplo, é um horror – média de 50% na carreira), ele pode ser bastante útil de outra forma no poste alto: tem visão de jogo e roda a bola com precisão (2,8 assistências por 36 minutos, para um pivô). Reparem como ele está sempre com a bola erguida, os braços alertas para fazer o passe – isto é, não basta inteligência, tem de ter fundamento também. Aqui:

Do outro lado, tem capacidade atlética para segurar a onda na disputa dos rebotes e também está disposto a trombar, bater e fazer o necessário para proteger a cesta. Numa projeção de 36 minutos, tem médias de 1,6 roubo de bola e 1,2 bloqueio, além de 9,4 rebotes e 10,2 pontos.

De novo: são habilidades em que ele está acima da média, mas não quer dizer que ele seria dominante: a concorrência na liga é grande, independentemente da posição. Vejam o caso de Francisco Garcia. Esquenta-banco em Houston, cestinha de 20 pontos pelos dominicanos nesta Copa. Ninguém pediria que Ayón arrebentasse. Mas é meio triste ver um jogador talentoso dele vagar pela liga.

Vagar, mesmo: foi contratado em 2011 pelo New Orleans, de modo até emergencial, já no meio da temporada. Ele havia se estabelecido como um dos melhores pivôs da Liga ACB, na dianteira de diversas tabelas estatísticas, incluindo a de eficiência – o que é sempre um bom sinal, considerando que Tiago Splitter, Marc Gasol e Luis Scola estiveram por lá nas temporadas anteriores.

Para quem chegou de última hora, se ajustando, Ayón mandou bem nos ex-Hornets-hoje-Pelicans. Quando o time se interessou por Ryan Anderson, porém, no mercado de agentes livres, foi despachado para Orlando num sign-and-trade. O clube solicitou o mexicano, mas não o usou muito. O elenco estava em processo de reconstrução após a saída de Dwight Howard e tinha pivôs “próprios”, mais jovens para desenvolver. Não demorou muito para repassar o atleta, então, para o Milwaukee, que vivia fase de transição semelhante (aliás, como sempre). No lugar errado, na hora errada, ou seja.

Agente livre em 2013, fora do radar, o pivô não conseguiu dar o salto pelo qual todo estrangeiro espera ao migrar para NBA: receber um senhor aumento na hora de fechar o segundo contrato. Teve de se contentar com um salário mínimo para preencher a rotação de pivôs do Atlanta Hawks, pelo qual quebrou um galho quando Al Horford se lesionou, mas não tão foi aproveitado. O técnico Mike Budenholzer priorizava o arremesso de fora, mesmo para seus grandalhões, e o macedônio Pero Antic ganhou espaço.

Aqui estamos, então. A central de negociações da liga americana está em clima de fim de feira, na real, e Ayón, sem clube. Ao menos ele pôde bater uma bolinha neste sábado contra seus (ex-)adversários de NBA e mandar um último recado.

*  *  *
Independentemente do clube com o qual assinar, Ayón seguirá um orgulho mexicano:


Dois finalistas, duas jornadas diferentes na Europa, um título marcante
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Giancarlo Giampietro

O show do Real Madrid

O show do Real Madrid

O que dá mais confiança? Um atropelo contra seu arquirrival ou uma vitória de virada com cesta nos últimos segundos? Difícil dizer, ainda mais para quem acompanhou os dois belos jogos desta sexta-feira pela semifinal da Euroliga, mas o certo é que Real Madrid e Maccabi Tel Aviv vão para a decisão de peito estufado, em busca de uma conquista marcante.

Aí você fala: “Ô, cara, e que título não seria marcante? Seu bobo alegre”.

Tudo bem, tudo bem, pode falar.

Mas é que realmente há razões muitas razões para ambos os finalistas celebrarem, para tornar o troféu a ser entregue no domingo mais especial do que o normal.

O Real, por exemplo. A equipe jogou o basquete mais bonito, vistoso e, ao mesmo tempo, eficiente de toda a temporada. E pode incluir aqui NBA, ACB, NBB e qualquer sigla de sua preferência. Os caras cumprem uma temporada histórica, cheia de brilho, que merece todos os troféus possíveis para completá-la. Se for para interromper um jejum que já dura 18 anos, tanto melhor – a última vez que conquistaram o continente foi em 1995, e pensar que a turma do futebol merengue reclama que a Champions não sai desde 2002…

Nesta sexta, no segundo jogo do dia, os madridistas aplicaram mais uma clínica gratuita e impiedosa, vencendo seu confronto por inacreditáveis 100 a 62. Já seria um placar absurdo contra qualquer oponente, o maior em semifinais da Euroliga. Mas quando você sabe que o Barcelona estava do outro lado, as coisas ganham contornos épicos – também foi o maior em Superclássicos em competições europeias, superando os 21 pontos na temporada 1993-94.

Esse é um termo que tem corrido um sério risco de cair num poço banal. Qualquer coisa hoje é épica, qualquer zé mané pode ser eleito um mito graças a uma pedrinha atirada de modo que ela quique na água sem afundar. Mas se a gente pega um Real que chegou a vencer 31 partidas consecutivas e já ganhou a Supercopa e a Copa do Rei em solo espanhol, com ambas as finais contra o mesmo Barça, e soma nessa conta o atropelo cometido em Milão, tudo fica muito grandioso, mesmo.

O Real, a essa altura, luta muito mais do que pelo título. O time de Pablo Laso luta para estourar a porta da história, entrando com tudo, como Cosmo Kramer costumava entrar no apartamento do Jerry. Com pompa e de modo estrondoso. Não será apenas uma equipe listada em meio a tantos outros campeões. Será um grupo relembrado para sempre, mesmo que não consigam repetir taças e o mesmo rendimento avassalador nas próximas campanhas.

O que não quer dizer que não houvesse um suspense para mais um duelo com o Barça em Milão. Marcelinho Huertas e seus companheiros haviam acabado de bater seu principal oponente no fim de semana passado, interrompendo uma sequência de três triunfos dos merengues.

Foi uma vitória com alguns asteriscos (Felipe Reyes, um líder e ainda um baita jogador, não jogou e Rudy Fernandez foi excluído por duas faltas técnicas e o Real tinha a liderança da liga nacional assegurada), é verdade, mas era algo que com o devido contexto colocava o favoritismo do clube blanco em dúvida. Afinal, o Barcelona já havia feito a melhor campanha do Top 16 da Euroliga e vinha numa arrancada na Liga ACB, com o maior saldo de cestas das últimas dez rodadas. Além disso, eles surraram o Real em quadra – embora o placar final tenha sido de 86 a 75, durante a partida a vantagem chegou aos 20 pontos. Tudo isso fazia a semifinal continental ainda mais e mais e mais interessante.

No primeiro quarto, um empate por 20 a 20 aumentava a tensão. O Real apresentou um ataque travado por uns seis, sete minutos – com um jogo atipicamente individualista, com poucas trocas de passes e precipitações na hora de concluir. Do outro lado, a equipe cometia muitas faltas, dando ao adversário o luxo de bater lances livres já a partir da marca de 6 minutos, enquanto Huertas brilhava em suas conexões com Ante Tomic.

Até que Laso chamou do banco de reservas seu MVP, Sergio Rodríguez, um pouco mais cedo do que o usual. E o panorama da partida se alterou drasticamente. O barbudo botou pressão para cima do armador brasileiro, levou ainda mais vantagem contra Victor Sada, e a intensidade de seu time começou a entrar nos conformes. Reyes e o tunisiano Salah Mejri também deram um bom empurrão na equipe, enquanto Nikola Mirotic atacava de modo exuberante, deixando qualquer pessoa ligada ao Chicago Bulls com água na boca.

O primeiro tempo terminou com uma vantagem já mais confortável, de oito pontos (47 a 35), mas era muito difícil prever o que viria a acontecer na segunda etapa. O Barça não conseguiu marcar mais de 14 pontos nos dois quartos, enquanto o Real acumulou 28 e 27. Um espanco, como diria Maurício Bonato. E as pancadas vinham de todos os lados.

Rodríguez foi mais uma vez fenomenal, 21 pontos em 20min51s, sem falar do aproveitamento de 4-5 (80%) nos chutes de três e as seis assistências, dos sete lances livres cavados e toda encheção que ele causa na defesa. Mirotic terminou com 19 pontos em 24 minutos, matando 6 de 8 arremessos de quadra e também foi presença constante na linha de bonificação. Reyes, Sergio Llull e um contido Rudy Fernández também superaram os 11 pontos. Só o caçula Daniel Diez, que entrou em quadra nos últimos 3min21s não fez cesta. Mais números: 60,5% nos chutes de dois (contra 43,6%), 48,3% de três, num número elevado de tentativas, 29, mas com bolas majoritariamente equilibradas (contra 27,8%) e 17 assistências para meros oito turnovers.

Os atletas do Barcelona perderam a compostura em quadra, ficaram desnorteados. Foi um nocaute literalmente técnico. Ainda tentaram apelar para a catimba e algumas faltas mais duras aqui e ali. Kostas Papanikolau, que lutava pelo tricampeonato, chutou a placa de publicidade e bateu boca com torcedores. Ficou feio.

Então percebem como esse título seria algo maravilhoso para o Real, né?

Tyrice Rice e Alex Tyus, decisivos no quarto período em vitória incrível

Tyrice Rice e Alex Tyus, decisivos no quarto período em vitória incrível

Agora, o Maccabi também te seus argumentos. Em Israel, estão acostumados a reinar de modo absoluto, mas ultimamente alguns concorrentes impertinentes vêm dando trabalho. No ano passado, o Maccabi Haifa, liderado por Gael Mekel – hoje reserva do Mavs –, ousou destroná-los na liga nacional. Nesta temporada, o time azul e amarelo ocupa a liderança, mas constantemente pressionado. É algo que incomoda, muito. Mas muito mesmo. Quase como uma nuvem de pernilongos carniceiros.

Em meio a esse desconforto, o clube chegou a perder quatro partidas seguidas – entre liga israelense e Euroliga –, e houve, acredite, quem especulasse ou pedisse a demissão de David Blatt. Algo inconcebível. Para ver como ficam mal-acostumados com o sucesso.

Pois bem. Sofrendo um pouco, o Maccabi conseguiu se desvencilhar de Bayern de Munique e Lokomotiv Kuban, e avançou aos mata-matas com a terceira colocação de seu grupo no Top 16, atrás de CSKA e Real. Nas quartas, derrubaram o Olimpia Milano para assumirem a condição de estraga-prazeres oficial do torneio continental, tirando os anfitriões do Final Four da competição, numa série encerrada em 3-1, mas com jogos duríssimos.

Mesmo os jornalistas locais mais camaradas admitem que este elenco de Blatt é o mais fraco do time de Tel Aviv a chegar ao Final Four nos últimos anos. De qualquer forma, depois de algumas semanas de turbulência, conseguiram se colocar entre os quatro melhores, encerrando um intervalo de dois anos.

Contra o CSKA, eu os colocava como azarões. E por três quartos o time moscovita fez valer esse palpite, chegando a abrir 15 pontos no placar. Na parcial final, no entanto, o armador Tyrese Rice, mais uma dessas formiguinhas atômicas – quase xará e sósia de Ty Lawson –, resolveu barbarizar. O baixinho se esbaldou contra Milos Teodosic, invadindo o garrafão russo quando bem entendia. De pouquinho em pouquinho, seja com suas bandejas ou com os rebotes ofensivos de Alex Tyus – livre, uma vez que os pivôs tinham de sair para tentar bloquear Rice, e a rotação defensiva de Ettore Messina não estava afiada o bastante para reagir rapidamente.

Aliás, um parêntese: após o fiasco de Zeljko Obradovic com seu milionário e caótico Fenerbahçe, dessa vez foi a vez de outra lenda viva do basquete europeu patinar. Um tanto impaciente durante a temporada, soltando os cachorros a toda hora, especulado como possível alvo do Utah Jazz, Messina claramente não soube potencializar todo o talento que tinha ao seu dispor. E, neste quarto período, deixou as coisas saírem totalmente de controle.

Demorou a pedir tempo, fez poucos ajustes e não encontrou um meio de frear Rice. Está certo que o armador Aaron Jackson, um defensor muito mais indicado que Teodosic, foi retirado lesionado nos minutos decisivos. Mas não há muitas desculpas além dessa para justificar o colapso do CSKA. Até que o mesmo Rice fez a cesta da vitória a 5s5 do fim, aproveitando-se de um desperdício de posse de bola infantil dos oponentes, com Victor Khryapa entregando o ouro bandido (aliás, valeu, Czar! A reputação agradece…). O clube russo ainda conseguiu deixar Sonny Weems (fora de sintonia no ataque, talvez cansado por perseguir Rick Hickman na defesa, anulando mais um dos destaques da fase final apontado por um certo bobão) livre na linha de três para um último chute, em vão.

O Maccabi perdeu o jogo praticamente todo e, completamente desacredito, aqui está na decisão. Então não há como eles não acreditarem que o título é possível, mesmo que o Real Madrid tenha feito uma apresentação soberba logo na sequência.

Confiança é uma coisa complicada, da qual não se pode duvidar. Pode equilibrar as coisas entre uma máquina de fazer cestas e um patinho feio nada pelas beiradas.

Se for para dar um palpite, fico mesmo com o Real. Só não digam aos rapazes de David Blatt que seria mais justo que a taça fosse para os espanhóis. Aos trancos e barrancos, também se constrói uma história marcante.