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Os playoffs começaram! Panorama da Conferência Leste
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Giancarlo Giampietro

Por algumas semanas ou meses, a Conferência Leste prometia mais. Toronto e Washington estavam lá em cima na classificação geral, enquanto o Cleveland enfrentava dificuldades. A ideia era a de que o Cavs se recuperaria, o que eventualmente aconteceu. Mas os dois clubes que despontavam caíram: desde o All-Star Game, estão com aproveitamento abaixo de 50%, inferior ao do Boston Celtics e a do Brooklyn Nets. Seus técnicos procuraram mexer nas rotações, sem conseguir arrumar a casa. Curiosamente, se enfrentam agora para ver quem tem a fase menos pior. E aí que ficamos com os LeBrons em franca ascensão, preparados para derrubar o Atlanta Hawks, soberano no topo da conferência desde janeiro. O Chicago Bulls, irregular, sem conseguir desenvolver a melhor química devido a lesões, corre por fora.

Não deixa de ser irônico que LeBron volte aos playoffs pelo Cleveland justamente contra o Boston Celtics, o time que os eliminou em 2010: um revés de impacto, que levou o astro a repensar os rumos da carreira, "levando seus talentos para South Beach". Agora volta mais maduro e consagrado. Mas a pressão na cidade é a mesma

Não deixa de ser irônico que LeBron volte aos playoffs pelo Cleveland justamente contra o Boston Celtics, o time que os eliminou em 2010: um revés de impacto, que levou o astro a repensar os rumos da carreira, “levando seus talentos para South Beach”. Agora volta mais maduro e consagrado. Mas a pressão na cidade é a mesma

Palpites, que é o que vocês mais gostam
Atlanta em 4 – especialmente se Jarret Jack estiver jogando mais que Deron Williams. Jeff Teague e Dennis Schröder podem dar volta nos veteranos.
Cleveland em 5 – Stevens promete dar trabalho a Blatt num playoff, mas o desnível de talento é muito acentuado.
Chicago em 6 – Milwaukee defende bem e vai tentar cortar a linha de passe para Gasol. Mirotic pode ser importante aqui para espaçar a quadra.
Washington em 7 (juro, antes do 1º jogo) – Pierce jura estar em ótima forma, e John Wall precisa de sua ajuda. Toronto precisa de Lowry a 80%, no mínimo.

Números
77, 3% –
O aproveitamento do Cleveland Cavaliers desde o dia 13 de janeiro, quando LeBron James retornou de suas duas semanas de férias. Foram 34 vitórias e 10 derrotas, a melhor campanha do Leste, com saldo de pontos de 8,5 – também o melhor da conferência. O rendimento de três pontos também foi elevado, o melhor, com 38,2%. Nesse mesmo período, tiveram o ataque mais eficiente e a décima melhor defesa. Sim, você pode dividir a temporada do Cavs em antes e depois das férias (e das trocas também, claro, realizadas nesta mesma época).

Horford foi para o All-Star com mais três companheiros. Quando voltaram, o time não funcionou da mesma forma

Horford foi para o All-Star com mais três companheiros. Quando voltaram, o time não funcionou da mesma forma

60,7% – O aproveitamento do Atlanta Hawks depois do All-Star, abaixo até do Boston Celtics (64,5%). Na temporada, o rendimento foi de 73,2%, o segundo melhor no geral. Mero relaxamento, ou produção de fato mais baixa?

46 – Juntos, Bruno Caboclo e Lucas Bebê somaram apenas 46 minutos em sua primeira campanha de NBA. Foram 23 minutos para cada.

22 – O total de jogadores escalados por Brad Stevens durante a temporada do Boston Celtics. Dá mais de quatro times completos. Fruto das constantes negociações do irrequieto Danny Ainge. De outubro a fevereiro, o dirigente fechou oito trocas diferentes. Houve gente que chegou no meio do campeonato e já foi repassada, como Brandan Wright, Austin Rivers e Jameer Nelson.

12 – Jason Kidd quebrou os padrões de rotação da NBA. Oito, nove homens recebendo tempo de quadra regular? Nada: em Milwaukee,  12 jogadores ativos no elenco do Bucks chegaram ao fim da temporada com mais de 10 minutos em média. Se formos arredondar, pode aumentar esse número para 13, já que Miles Plumlee teve 9,9 minutos desde que foi trocado pelo Phoenix Suns. Giannis Antetokounmpo é quem mais joga, com 31,4, seguido por Michael Carter-Williams (30,3) e Khris Middleton (30,1).

1,6 – É o saldo de Derrick Rose se  pegarmos o número de arremessos de três pontos que ele tentou em média na temporada (5,3) e subtrairmos os lances livres (3,7). Pela primeira vez em sua carreira, o armador do Bulls tentou mais chutes de longa distância do que na linha – excluindo, claro, as dez partidas que disputou na campanha 2013-14. Um claro sinal de como seu jogo se alterou devido ao excesso de cirurgias. O problema é que seu aproveitamento nesses arremessos vem sendo apenas de 28%. O armador obviamente pode ajudar Chicago em seu retorno aos playoffs pela primeira vez em três anos, mas Thibs obviamente enfrenta um dilema aqui: até que ponto precisa envolver o astro no ataque, sem atrapalhar o que Pau Gasol e Jimmy Butler vêm fazendo?

A lesão contra Philly em 2012, que suscitou uma série de cirurgias para Rose; armador volta aos mata-matas, ainda como a grande esperança da torcida de Chicago. Mas o time tem talento o suficiente para não depender exclusivamente de atuações milagrosas do seu xodó

A lesão contra Philly em 2012, que suscitou uma série de cirurgias para Rose; armador volta aos mata-matas, ainda como a grande esperança da torcida de Chicago. Mas o time tem talento o suficiente para não depender exclusivamente de atuações milagrosas do seu xodó

Panorama brasileiro
Nenê é fundamental no plano de jogo do Washingon, especialmente por sua capacidade para marcar. A questão é saber como ele estará fisicamente, depois de ter perdido cinco dos últimos sete jogos do Wizards pela temporada regular, sendo os dois últimos por uma contusão no tornozelo. (PS: a julgar pelo primeiro jogo está muito bem, obrigado). Para os talentosos garotos de Toronto, a expectativa é que ver de perto a atmosfera de um jogo de playoff os motive a treinar duro, duro e duuuuro nas férias para entrar na rotação na próxima temporada. Por ora, o mata-mata serve apenas para tirar os ternos estilosos do armário. Em Cleveland, Anderson Varejão pode quebrar um galho como assistente. Em Murcia, na Espanha, Faverani vai tocando sua reabilitação após uma cirurgia no joelho. Um retorno ao Celtics ainda é possível, em julho.

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Alguns duelos promissores
Kyrie Irving x Isaiah Thomas: Thomas é, de certa forma, uma versão em miniatura de Irving, sendo muito veloz, sempre um perigo com a bola, ainda que um tanto fominha. Mesmo que Kyrie tenha se mostrado mais atento durante essa campanha, por vezes sendo realmente agressivo na pressão, ainda não pode ser considerado um defensor capaz. Vai ter de se esforçar muito para frear o rival. Então é de se imaginar um tiroteio aqui, já que, do outro lado, não há como o tampinha contestar o belíssimo chute da jovem estrela.

O Cleveland tem de tirar o baixinho Thomas do garrafão

O Cleveland tem de tirar o baixinho Thomas do garrafão

John Wall x Kyle Lowry: Wall é pura velocidade, um dos integrantes da impressionante geração de armadores superatléticos a conquistar a liga. Com o tempo, aprendeu a usar suas habilidades fenomenais do modo correto, sendo dominante em transição, mas sabendo ditar o ritmo de jogo e explodir na hora certa em situações de meia quadra. Enxerga seus companheiros como poucos. Já Lowry é um tratorzinho com a bola, usando sua força e uma ou outra artimanha com a bola para ganhar espaço, olhando mais para a cesta. O problema é que ele sofreu bastante nas últimas semanas com dores fortes nas costas. Estilos bem diferentes.

Al Horford x Brook Lopez: por falar em contrastes… Horford é dos pivôs mais ágeis e versáteis que se tem por aí, pontuando com eficiência por todo o perímetro interno, desde a faixa de média distância ao semicírculo. Excelente passador e driblador também, ágil, faz um pouco de tudo em quadra, dando ao Hawks flexibilidade tanto na defesa como no ataque. Um cara especial e subestimado demais. Do outro lado, Lopez recuperou sua boa forma na reta final da temporada. Também estamos falando um cara que pode flutuar por todo o ataque, ainda que seja bem mais eficiente próximo ao garrafão. A diferença: é lento toda a vida e pouco passa a bola, mesmo que não se complique diante de marcação dupla. Na defesa, é muito vulnerável quando  deslocado para longe da zona pintada.

Jimmy Butler x Khris Middleton: Jimmy Butler deu um salto impressionante nessa temporada. Poucos imaginavam que ele poderia funcionar como arma primária no ataque, e em vários jogos do Bulls isso aconteceu, com sucesso. O maior volume de jogo no ataque resultou em queda na defesa – algo que o adversário do Bucks já faz muito bem. Ambos têm uma trajetória parecida como profissionais. Eram destaques universitários que entraram na liga com projeções modestas, mas, quietinhos, foram construindo uma reputação sólida. Mais jovem, Middleton pode usar uma boa atuação nos playoffs para inflar ainda mais sua cotação, sendo já considerado uma opção interessante no mercado de agentes livres que se aproxima.

Ranking de torcidas
1 – Toronto. A torcida mais radical da NBA, que perturba cada jornalista que coloque um mero senão na hora de falar sobre o clube. Lotam a praça Maple Leaf, do lado de fora do ginásio, com hordas e hordas de “nortistas” para assistirem ao jogo num telão. Não existia isso no mundo da liga americana. Os caras já estavam exaltados, e aí veio o gerente geral Masai Ujiri novamente com um clamor incendiário. Um ano depois de mandar Brooklyn se f*#@, subiu ao tablado neste sábado para dizer que não dá a mínima para Paul Pierce, de uma forma menos amorosa, claro. (Mais abaixo.)

2 A – Chicago. Na semana passada, gravamos eu e o chapa Marcelo do Ó, no Sports+, uma série de transmissões com jogos clássicos da liga. E como fazia barulho a galera dessa metrópole blue collar. Há que se entender uma coisa: por maior que seja a cidade, sempre se colocaram numa situação de inferioridade em relação a Nova York, por exemplo. O clima do povo de lá, em geral, ainda é de cidade pequena, tentando mostrar seu valor. Nesse contexto, adotam as franquias locais de um modo especial. Se Rose aprontar, o ginásio explode. Afinal, é o garoto da casa. Teve a maior média de público na temporada.

#OsLoucosDoNorte

#OsLoucosDoNorte

2 B – Boston. Se é para falar em tradição… Bem, esses caras aqui já comemoraram 17 vezes. Imagino a festa que farão neste retorno aos mata-matas após um ano sabático. Só ficam um degrau abaixo, ou meio degrau abaixo pelo  fato de que a equipe não ter lá muita chance. O estilo de jogo é divertido, há jovens valores para se adotar, mas ainda estamos muito distantes dos tempos de Pierce, Garnett e Rondo, caras venerados.

4 – Cleveland. Um público agraciado pelo retorno de LeBron, ainda vivendo uma segunda lua de mel, com a segunda maior média do campeonato. Fora dos playoffs desde 2010, vão muito provavelmente botar para quebrar. Só não vão ter as trombadas de Anderson Varejão para aplaudir. Outros pontos a favor: a belíssima apresentação de seus atletas com projeção 3D na quadra e um DJ dos mais antenados.

5 – Washington. Um grupo um tanto traumatizado por seguidos fracassos na construção de times promissores que acabam não chegando a lugar algum. Agora, têm um legítimo jovem astro por quem torcer, John Wall, e outra aposta em Bradley Beal, além de uma série de veteranos.

6 – Milwaukee. É a segunda pior média do campeonato, mesmo com um time jovem, cheio de potencial, e já fazendo boa campanha. Mas há um fator importante para se ponderar aqui: a ameaça de que a equipe deixe a cidade, devido ao lenga-lenga na aprovação/construção de uma nova arena. Os proprietários pressionam, divulgando na semana passada como seria o projeto. Só não há muito entusiasmo na população local para o investimento de dinheiro público na empreitada. Tendo isso em vista, talvez queiram ao menos conferir os garotos nos playoffs, com a sensação de que “foi bom enquanto durou”. De qualquer forma, a Squad 6 sozinha para superar as duas abaixo.

A possível nova arena de Milwaukee ficaria assim

A possível nova arena de Milwaukee ficaria assim

7 – Atlanta. A despeito da temporada maravilhosa que a equipe fez, sua torcida foi apenas a 17ª torcida no ranking de público.  O tipo de ginásio que precisa da intervenção do DJ para emular o barulho de torcida, na hora de se pedir coisa básica: como “defesa”. Por essas e outras, também a despeito da tradição da franquia, se fosse para escolher arbitrariamente um time para ser realocado para Seattle, apontaria na direção do Hawks. A pasmaceira já vem de longa data.

(…)

15 – Brooklyn. Mas não tem público mais desanimado e desconectado que esse. O que é um contrasenso, se a gente for pensar da relevância do bairro nova-iorquino para a história do jogo. A marca ainda não colou por lá, e esse tipo de coisa demora, mesmo. Não havia Jay-Z que pudesse acelerar o processo.

Meu malvado favorito: Paul Pierce. O ala do Wizards não está mais nem aí. A cada entrevista, solta um comentário cada vez mais raro de se escutar num mundo excessivamente controlado pelas relações públicas. Em bate-papo recente e imperdível com a veterana repórter Jackie MacMullan, falou algumas verdades sobre Deron Williams e Joe Johnson, questionou a paparicação em torno das jovens estrelas da liga. Também disse que não botava fé no Raptors, seu adversário. Depois, disse que não era bem assim. Como se realmente se importasse com a repercussão – deve estar se divertindo com o papel de antagonista a seita #WeTheNorth. Amir Johnson mordeu a isca e retrucou: “É um cara velho, sabe? Ele precisa de algo para se motivar, e acho que é para isso que esses comentários servem. É como quando você usa viagra, para dar uma animada”. A torcida também prestou suas homenagens.

Para não deixar passar batido
Gerente geral do Nets, Billy King vai ter de se concentrar muito no que se passa em quadra agora. Se for pensar no futuro, vai doer a cabeça. Afinal, ao mesmo tempo em que seu time deve se esforçar para não tomar quatro surras do Hawks, sabe que a escolha de Draft deste ano vai ser endereçada ao adversário, mesmo que o time de Mike Budenholzer tenha sido o melhor da conferência. Ainda é um reflexo da famigerada troca por Joe Johnson, na qual o mais correto fosse que Atlanta pagasse a Brooklyn algumas considerações de Draft, já que o time nova-iorquino estaria fazendo um favor ao assimilar o salário mastodôntico do ala, que ainda mata uma ou outra bola decisiva, mas está longe de justificar o salário de mais de US$ 20 milhões. Ao menos, com a classificação aos playoffs, o Nets evitou a cessão de uma escolha de loteria. Imagine o Hawks saltando para as três primeiras posições nesse cenário? Desastre.


Que tal falar mais um pouco sobre LeBron James?
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Giancarlo Giampietro

LeBron isso, LeBron aquilo, LeBron, LeBron...

LeBron isso, LeBron aquilo, LeBron, LeBron…

Este era para ser um texto sobre nada. E, ok, já admitamos desde já que essa também não é a melhor forma de se abrir um artigo. Se não há nadinha a ser dito, por que continuar a leitura?

Mas, bem, o ódio que muita gente sente por LeBron James acaba validando a pauta. Neste domingo, o ala do Miami Heat teve um jogo esplendoroso e liderou seu time a uma vitória por 98 a 96. A série final contra o San Antonio Spurs está empatada, com o mando de quadra dos texanos, por ora, revertido.

Se formos pensar bem, o que tem de mais? LeBron jogando bem, o Miami vencendo… Tudo muito normal para quem vem acompanhando os atuais, hã, bicampeões da liga, com o craque que já foi eleito quatro vezes o MVP aprontando das suas. Sobre isso, quantos artigos, matérias e notas já foram escritos? Para que perder tempo para falar novamente sobre isso?

Mas… Quaisquer duas ou três clicadas pelo mundo virtual (real?) é o suficiente para saber que nada do que este jogador específico e seus companheiros fazem quadra parece o bastante, o suficiente.  Quem é do contra, é do contra até o fim, e parece não ter muito jeito. De pouco importam as diversas sessões de 48 minutos de basquete disputadas noite após noite. De pouco importam as evidências, ali escancaradas em alta definição. Se você não quiser enxergar, não vai, mesmo. Se você for pensar apenas na “De-ci-são” tomada pelos caras em 2010, tem grandes chances de refutar o que o clube representa, e o jogo jogado que se dane.

“Ódio” é um termo muito forte? Talvez. Quem sabe ojeriza? Desprezo? Asco? Podemos escolher qualquer termo numa linha de repugnância e similares, mas mantenho minha escolha inicial. A gente realmente vive tempos odiosos. É muita gente espumando por aí, em cruzadas incisivas contra tudo e todos – sempre com a benção do anonimato, claro. Longe de querer viver numa vila, numa cidade, num grupo de pessoas pacatas, dispostas ao “sim, senhor, 100% tamo junto”. Existe, contudo, uma grande diferença entre ter espírito crítico, desconfiado e se deixar dominar pela raiva.

É muita gente que se sente mal, mesmo, por ver o sucesso de um ou outro.  Nesse contexto, LeBron virou um baita alvo. Uma supercelebridade – algo, aliás, que gosta de cultivar – e que, ainda por cima, pratica esportes? Pfff, boa sorte com isso.

Não sou fã das gracinhas e poses que o cara gosta de fazer quando seu time está voando por cima dos adversários. A apresentação do trio parada dura na Flórida também foi de um mau gosto daqueles. Bla, bla bla.

Nada disso tem a ver com o que LeBron executa em quadra. Perguntem a Kawhi Leonard ou Gregg Popovich o que acham a respeito. O ala e o técnico do Spurs têm hoje problemas muito mais graves e complicados para resolver do que discutir o carisma, a conduta ou as fofocas em torno do astro. A partir do tapinha inicial, o fato indiscutível é que eles têm de encontrar uma forma de segurar um sujeito que representa uma das maiores aberrações que o esporte já viu, se não a maior.

Kawhi que se vire com LeBron, com ou sem críticas

Kawhi que se vire com LeBron, com ou sem críticas

Wilt Chamberlain nos anos 60. Magic Johnson com altura de pivô, rasgando a quadra em contra-ataques furiosos e geniais. Michael Jordan roubando o “Air” como sua marca própria. Shaquille O’Neal entortando grandalhões e devorando tabelas. Allen Iverson passando por baixo das pernas do mesmo Shaq. A elegância nos movimentos de alta dificuldade que Kobe executava nos bons tempos. A envergadura interminável de Kevin Garnett. Dirk Nowitzki revolucionário. Eventos atléticos impressionantes, que marcaram época na liga. Agora vivemos o período de se pirar com o que o camisa 6 do Miami Heat oferece, e ele vai longe ainda.

Chega a ser injusto. Para os oponentes, no caso, e também um pouco para o próprio LBJ. Para aqueles que têm de bater frente com o cara, o que fazer? Em 2004 ou 2005, a tática era até simples. Você recua e deixe que ele chute. Mas não como um jogo mental. Você fazia isso simplesmente pelo fato de que o ala realmente não tinha um chute confiável de longa distância. Quem se lembra disso? Em suas oito primeiras temporadas, na verdade, o ala só acertou mais de 35% de seus arremessos de três pontos uma vez, em 2004-05. Hoje, pelas probabilidades, talvez ainda seja a alternativa menos pior, sabendo ainda assim que é uma opção já desconfortável. E não que um simples afastamento resolva tudo.

As passadas são tão explosivas e largas, que ele pode passar com tudo pela primeira barricada. A combinação de força física, arranque, impulsão velocidade e agilidade já faria de LeBron o atleta ideal. Acrescente sua visão de jogo soberba, as mãos grandes e firmes e a experiência acumulada de dez anos na liga, então, e temos um produto que talvez nem mesmo aqueles viciados num videogame pudessem imaginar. Seria muita apelação – e qual a graça de ganhar desse jeito.

E aí que as coisas ficam injustas para ele mesmo. O autointitulado Rei James faz tantas coisas absurdas em quadra,  de maneira tão assídua e, ao mesmo tempo, fácil, que a gente vai esperar tudo sobre ele. Os feitos mais heróicos, as maiores glórias. A cobrança para Mario Chalmers é uma. A de LeBron, outra. Dãr. Mas vem dessa diferença o principal motivo dos anda frequentes ataques ao seu jogo. Aquela coisa de ele não assumir a responsabilidade devida. De sua obrigação de fazer 50 pontos no quarto período de qualquer partida. Afinal, para alguém tão exuberante assim, tudo é possível, não? Não há limites.

Peguem o Jogo 2 das finais, por exemplo. São 35 pontos em 38 minutos, com 14-22 nos arremessos e 100% nos tiros de três. Mais dez rebotes e a defesa assustadora de sempre. Com ele jogando, o Miami Heat teve saldo de +11 pontos – com Bosh e Wade, a conta cai, respectivamente, para -11 e -8. Isso se chama “impacto”. Causa e efeito.  Então como é possível que um cara desse sinta câimbras? Como é possível que ele tolere a ideia de que um passe é a melhor solução?

Nossos tempos são odiosos, mas também egocêntricos. Tanta gente por aí prontinha para se vangloriar. Lutando para serem reconhecidos como diferentes, especiais. No escritório, no bar, em qualquer lugar. Vamos cobrar, então, o que de atletas? Que eles resolvam tudo sozinhos. Quem sabe faz na hora, não espera acontecer. Para LeBron e o público fiel da NBA, a relação fica ainda mais complicada. As comparações são inevitáveis, ainda que pouco produtivas. LeBron joga pela Grandiosidade, e também sabe e não foge disso. O que não o torna alguém individualista na hora de jogar, para desespero de muitos. Ah, porque o Michael Jordan isso. Ah, porque o Kobe Bryant aquilo. Todos se lembram das cestas decisivas de MJ – a pernada para cima de Craig Ehlo, o empurrão em Byron Russell.

São esses os lances que ficam mais gravados e que a liga e as TVs não vão cansar de reproduzir. Essa é a construção, justa, de um mito. Agora, não quer dizer que Jordan, supercompetitivo do jeito dele, obsessivo e viciado em vencer, tivesse cola nas mãos. Se fosse a jogada certa, ele passaria sem problemas. John Paxson agradece:

Steve Kerr é ouro que pode contar uma boa piada a respeito:

Esse tipo de lance quem vai lembrar? Ainda mais se for para distorcer a história de um modo que se possa fazer LeBron passar um carão. E mais: o Spurs é tão celebrado por seu basquete coletivo. E aí surge uma grande estrela que também comunga desse preceito, e o que as pessoas acham? Que é um fracote, claro, um entregão, um amarelão.

Como ousaram dizer após o Jogo 5 da final do Leste contra o Pacers, quando optou por passar para Bosh na zona morta. Na ocasião, o ala-pivô errou o chute. Neste domingo, com 1min17s no cronômetro, ele acertou. Teria Bosh a confiança para fazer o arremesso, estaria ele preparado se ele não soubesse que seu companheiro realmente poderia procurá-lo e encontrá-lo? O mesmo vale para a relação entre Jordan e seus tampinhas chutadores nos tempos de Bulls. BJ Armstrong, Craig Hodges, Paxson, Kerr. Eles ganharam a cumplicidade do astro. Jordan matava, mas também servia.

A vantagem que o número 23 tinha? Jogar numa época sem Twitter, sem rede social, sem 2.0, nem nada disso que aumenta reverberação de qualquer opinião. Obviamente haveria muita gente a desgostar do legendário líder do Bulls. Mas as reclamações paravam na mesa do bar, na janela de casa. Para se alastrar, só se fossem incluídas numa seção de cartas das Sports Illustrateds da vida, ou no recado de algum ouvinte mais atrevido no programa de rádio. De resto, era o show de Jordan, mesmo, na telinha. Uma galera curtindo, admirada, a ponto de, durante o segundo tricampeonato, a agitação nas viagens do Bulls beirar o frenesi da beatlemania. Com LeBron, as coisas são um pouco diferentes. Ele é obviamente é popular. Mas ainda há muita gente perdendo tempo – e saliva –discutindo sobre o nada.


Em jogo fora das CNTP, Spurs abre 1 a 0 nas finais da NBA
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Giancarlo Giampietro

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Foi um jogo que fugiu das condições normais de temperatura. A pressão é a mesma de sempre, aquela esperada para a abertura de um duelo de NBA.

O sistema de ar-condicionado do ginásio do Spurs simplesmente pifou, e a arena virou um caldeirão. E nem foi por causa da torcida fanática local. Segundo reportagem da ABC, o termômetro chegou a bater a marca 37ºC durante o quarto período, influenciando a partida muito mais do que qualquer instrução passada pelos treinadores durante o intervalo. Para quem assistia, incluindo os jogadores, o maior bafafa.

Num cenário desses, daria para apelar ao simplismo e dizer que aqueles mais bem preparados fisicamente levariam a melhor. O aficionado por academia e treinamento Ray Allen, por exemplo, nem ligava, correndo a quadra toda como se não houvesse amanhã. Com direito a enterrada em arrancada de um lado da quadra para o outro. Aos 38 anos, impressionaa consistência robótica do ala.

Mas aí o LeBron me passa mal pacas (de câimbras?) no período final e acaba com qualquer tese desse tipo. Sem contar o fato de que Shane Battier não caiu despedaçado em quadra e Boris Diaw nem derreteu.

Foi muito estranho ver um tanque de guerra como LBJ travar em quadra. Depois de dar um respiro no banco, já sentindo os efeitos do calor, e de um pedido de tempo, o superastro voltou para quadra com pouco mais de 7 minutos no cronômetro. Encarou Diaw, bateu pela direita e conseguiu a bandeja. Ao girar para voltar para a defesa, suas pernas de repente não estavam mais lá. O ala ficou petrificado, acusando as dores. Foi se arrastando até a linha do meio e parou por ali, na mesa dos estatísticos. Para chegar ao banco, precisou ser carregado por James Jones e um dos trainers. Bizarro, mas acontece – espero muito que não resgatem o papo de amarelão, e tal.

O Miami vencia por dois pontos, mas já permitia uma (re)aproximação dos anfitriões. Sem LeBron, a vida de Dwyane Wade no ataque já não foi a moleza de sempre. Os chutes livres para Bosh/Lewis/Allen sumiram do mapa. Coincidência, ou não, os turnovers do Spurs também pararam de acontecer. Ajuda bastante não ter um sujeito de 2,05 m zanzando por aí, de braços abertos, com fome de bola. E sai uma vitória por 110 a 95 que não conta em nada o que foi a partida – cuja última parcial foi 36 a 17.

Uma partida que, no fim, não vai indicar muito para os técnicos na sequência da série, dados os fatores extraordinários. Da parte dos grandalhões do Spurs, deu para ver algo interessante: como é imperativo que eles tenham paciência para atacar o aro.

Tim Duncan usou muito desse expediente no primeiro tempo, enquanto no segundo foi a vez de Tiago Splitter. Embora os dois tenham somado absurdos nove desperdícios de ataque, em geral eles foram bem quando acionados mais próximos do aro. Faziam a recepção e em vez de partir feito vaca louca para a cesta. Esperavam. Por um mínimo instante que fosse, para ler qual a reação da defesa pilhada adversária. A ajuda vem de todos os lados, com múltiplos atletas partindo em direções opostas. Alguns podem atacar o pivô, outros já imaginam as possíveis linhas de passe e preparam o bote. Uma simples finta ou hesitação, porém, era o suficiente para limpar o raio de ação e sobrar uma bandeja livre ou por cima de um tampinha.

Duncan terminou, então, com 9-10 nos arremessos e 3-4 nos lances livres, para somar 21 pontos em 33 minutos. Splitter, que começou como titular ao lado do legendário companheiro, teve 5-6 e 4-5, respectivamente, chegando a 14 pontos em 23 minutos. Uma linha estatística excelente para o catarinense, que tanto sofreu contra o time da Flórida no ano passado. Na defesa, será complicado rodar constantemente atrás de Lewis e Chris Bosh, mas, da sua parte, a conta hoje foi favorável. Ainda assim, é mais provável que Diaw ganhe mais minutos, mesmo (33 minutos para alguém que anotou apenas dois pontos, mas influenciou o jogo com muito empenho nos rebotes e sua extraordinária visão de jogo, com seis assistências). Com o ala-pivô francês emparelhado com Manu Ginóbili (16 pontos, 11 assistências, 5 rebotes, 3 roubos de bola e N flashes de brilho em 32 minutos, a equipe ganha muito em versatilidade e dinamismo.

Não pode passar despercebido: Tony Parker se movimentou bem na primeira partida, sem mostrar muito incômodo com o tornozelo esquerdo fragilizado. Ele terminou com 19 pontos, 8 assistências, 4 turnovers e 8-15 nos arremessos

Não pode passar despercebido: Tony Parker se movimentou bem na primeira partida, sem mostrar muito incômodo com o tornozelo esquerdo fragilizado. Ele terminou com 19 pontos, 8 assistências, 4 turnovers e 8-15 nos arremessos. Olho nele. Qualquer escorregão pode ser uma catástrofe para o Spurs

No geral, o time da casa foi bem superior neste jogo interior. Em pontos no garrafão, levaram a melhor por 48 a 36, mas também bateram 11 lances livres a mais. Combine isso com o elevadíssimo aproveitamento nas bombas de três pontos – 13 acertos em 25 tentativas, com quatro jogadores acertando mais de 50% do que chutaram –, e temos um desempenho ofensivo ideal, certo?

Até que daria para dizer isso, não fossem os 22 turnovers cometidos no geral. Tem time que está cheio de jogadores firuleiros, que adoram jogar num mano a mano de pelada de parque. O Spurs, todavia, pode exagerar em sua troca de passes, tentando criar assistências que simplesmente não estão ali, tentando enxergar mais do que devem. Parece estranho escrever isso, né? Que o time passa demais.  Mas é o caso por vezes com o time texano, e algo que é muito perigoso contra um time tão ágil no perímetro. Por outro lado, não foi só na “busca pela perfeição e pela luz” que eles erraram. Vários atletas também erraram passes simples – mas quicados – para os pivôs, mal pensados e executados.

Foram 21 turnovers até 7min31s do quarto período, 22 no geral, sendo 20 em três quartos, se não me engano. Muito mais que os 14,1 por jogo na temporada regular – e mais também que os 15,6 que o Miami costuma forçar. Dos titulares, quatro cometeram pelo menos quatro desperdícios cada, um absurdo. Danny Green foi o único que se salvou neste quinteto, cometendo apenas uma violação. Também pudera: por 41 minutos de jogo, ele estava completamente anulado em quadra. Até que fez a primeira cesta de longe e desembestou daquele jeito. Streaky é pouco.

A vontade era gastar um monte de trocadilhos. Afinal, é piada pronta quando o Miami Heat sofre com o calor. Dava para dizer que os chutadores do Spurs também estavam com a mão pegando fogo. Que LeBron não tinha como congelar em quadra daquele jeito. Que o Gregg Popovich até que estava com a cuca fresca numa sauna daquelas. Etc. Etc. Etc. Waka, waka, waka. Mas, com o relógio batendo 1h14 da matina aqui na base do 21 na Vila Guarani, a infâmia não tem vez. O negócio é arrumar o edredom, esticar a perna e dormir. Quentinho, quentinho da silva.

Tomara que eles paguem as contas! NBA, onde o calor acontece

Tomara que eles paguem as contas! NBA, onde o calor acontece

PS: por motivos de Copa do Mundo da FIFA, na qual estarei envolvido, cobrindo, não sei bem se vai dar para comentar a série jogo a jogo, infelizmente.


As tramas que podem decidir a revanche Spurs x Heat
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Giancarlo Giampietro

Como está o tornozelo de Tony Parker?
O armador revelou durante a semana que já estava com o pé comprometido na semifinal contra o Blazers e que, por isso, acabou machucando os músculos da perna, para tentar compensar as dores nos movimentos. Ainda que venha na sua melhor de fase no que se refere a chutes de longa distância, acertando 35,3% e 37,3% nas últimas duas campanhas, o carro-chefe do francês são as infiltrações, mesmo. Partir para a cesta, com uma ajuda ou outra de corta-luzes, ou usando suas fintas hesitantes, que podem deixar até mesmo LeBron na saudade. Machucar a defesa lá dentro e aí explorar os tiros de fora (com o melhor aproveitamento da temporada). Vale lembrar que, no ano passado, Parker já havia sofrido uma lesão muscular na coxa e que seu time sentiu bastante. É algo que podemos esquecer com facilidade, considerando todo o drama que aconteceu nos jogos finais. Mas, estivesse o armador 100%, será que teria Jogo 7 para entrar na história? Bem, o se não vale para nada, mesmo. Agora, uma temporada depois, o Spurs chega novamente a uma decisão sem que seu principal jogador esteja 100%. arranque de seu armador e suas bandejas, o Spurs vai depender de sua movimentação de bola. E os passes devem ser precisos para lidar com uma defesa hiperatlética – do contrário, o contra-ataque a partir do turnover é mortal. Vimos há pouco, em OKC, como pode funcionar essa gangorra. A diferença é que o Miami tende a adiantar sua primeira linha defensiva muito mais, abafando o armador em situações de pick-and-roll, enquanto o Thunder joga mais recuado, com uma formação mais compacta. Outro diferencial é que Chris Andersen, caso jogue, salta muito, se posiciona bem vindo do lado contrário, mas não é nenhum Serge Ibaka.

No caso de um desastre, Popovich vai confiar, mesmo, em Patty Mills e Cory Joseph? Eles estão preparados?
O desastre: Parker simplesmente não aguentar e ser afastado de quadra, tal como aconteceu no Jogo 6 em Oklahoma City. O Spurs sobreviveu a esse desafio. Mas uma coisa é levar 24 minutos sem o francês, ainda que num ambiente hostil. Outra é conduzir uma ou mais partidas, com o adversário tendo o tempo necessário para fazer seus ajustes e mudar o plano de jogo. Aí o caldo engrossa. No próprio desfecho da série contra o Thunder, o treinador jogou o quarto período e a prorrogação com Ginóbili na armação. O argentino é craque e fez o dele. Em tempo integral, contudo, o desgaste seria muito maior, ainda mais com Cole, Chalmers, Wade e LeBron voando como abutres por cima de sua careca. No ano passado, armando o time nos minutos de descanso de Parker, Manu já sentiu o baque. Nos últimos três jogos, cometeu 15 turnovers, por exemplo. Quinze! Via as jogadas, com o brilhantismo de sempre, mas não conseguia completar o passe. Agora, está melhor fisicamente, é verdade. Mas vai precisar da ajuda dos garotões que o Spurs vem pacientemente desenvolvendo. Mills tem o chute e a experiência – já foi cestinha, em média, de Olimpíada, oras. Joseph é mais explosivo e marca melhor. A combinação ideal seria a fusão dos dois armadores em um, claro. O que não vai rolar. Nesse sentido, a substituição de Gary Neal por Marco Belinelli representa um avanço. Por mais que a torcida do Spurs culpe o italiano para tudo, o ala0armador é tão ou o mais ameaçador no chute de três pontos, podendo esquentar rapidamente e matar diversas bolas seguidas, como tem mais altura e habilidade com a bola, qualidades necessárias para enfrentar a constante blitz de seu adversário. Resta saber se vai recuperar sua confiança, tendo perdido rendimento e tempo de quadra nos mata-matas.

Tiago Splitter pode se impor? Ou: será que ele vai ter a chance de se impor?
O Miami tem sérias dificuldades de lidar com pivôs infiltrados no centro de sua defesa. Desde que, claro, esse grandalhão X consiga ser abastecido. O catarinense tem, então, na teoria boas chances para se estabelecer. Agora… Essa mesma teoria valia para o ano passado, quando ele estava ainda mais confiante, e em nenhum momento conseguiu se estabelecer como força no jogo interior. Há um problema aqui: se for usar alguém como referência interna, o Spurs vai de Tim Duncan. E como seria diferente? Estamos falando de um dos jogadores mais bem fundamentados da história. Se Duncan for estacionar para o post up, não sobra espaço para Splitter agir da maneira que gosta, em cortes no pick and roll. Se essa bola não estiver disponível para o brasileiro, a verdade é que ele fica praticamente sem função no ataque. E o Miami adoraria que o Spurs buscassem a cesta com apenas quatro armas disponíveis. E aí que Tiago paga o preço da concentração total que  os técnicos do Baskonia tiveram em moldá-lo como um pivô de jogo exclusivo próximo ao aro. Ok, não dá para ser tão ingrato assim: obviamente o catarinense se desenvolveu num baita jogador, muito inteligente e eficiente. Mas houve um dia em que o adolescente saído de Blumenau era visto como um possível prospecto na linha de Dirk Nowitzki. Talvez fosse um baita exagero. Talvez ele nunca fosse capaz de acertar nem 35% de seus chutes de fora. Fato é que hoje não há resquício técnico nenhum, nem mesmo a vocação em seu jogo para pontuar distante da cesta: em sua carreira nos playoffs, 67,8% de seus arremessos são executados a menos de um metro do aro. De um metro para três, 29,6% (dos quais ele acertou apenas 29,4%). Sobram, então, 2,6% dos arremessos para tudo o que estiver a mais de três metros de distância.

Rashard Lewis tem mais garrafas para vender?
O outro lado da moeda. Desde a temporada passada que Popovich descobriu que, com a dupla Duncan-Splitter, sua defesa fica muito mais robusta. São mais de 150 partidas já computadas para comprovar isso. Então tem isso: saber como compensar as situações oferecidas pelo jogo dos dois lados da quadra. Perde um pouco ali, ganha um pouco lá, fazendo as contas para ver qual o saldo. Mas tenhamos em mente sempre que, nos playoffs, com tanto estudo e tempo de preparo entre um jogo e outro, alguns segredos ficam mais expostos. E também vale o asterisco: o Miami não é um time como outro qualquer, e não só por ter LeBron, mas, antes de tudo, por sua disposição tática. Aqui não tem um alvo mais declarado e fixo como Dirk, Z-Bo ou LaMarcus para Tiago marcar (o que não quer dizer que freá-los seja fácil). Chris Bosh só joga de frente para a cesta e afastado (nestes playoffs, ele mais chuta de três pontos do que enterra ou faz bandejas). Spoelstra abre seus jogadores e deixa a quadra espaçada para seus dois astros pregarem o horror. No ano passado, quando o técnico foi de Mike Miller em seu quinteto inicial (ignorando qualquer ameaça que Splitter pudesse representar do outro lado), Popovich teve de se dobrar e conceder esta pequena e importante vitória para seu rival. Com um elenco versátil, também adotou o small ball. A tendência é que a série deste ano caia nesta mesma vala – ainda que o gatilhaço já não esteja mais na Flórida. Podemos esperar muito mais Ray Allen em quadra, além de Chalmers e Cole. Mas ainda sobram minutos, que Spoelstra adoraria dar a um esgotado Battier.  Aí que entra Rashard Lewis. Qual versão vai jogar a final? O moribundo de toda a temporada, ou aquele que ressurgiu no desfecho contra o Pacers? Se os tiros do veterano estiverem caindo, e obviamente que nem precisa ser numa escala Miller de 50%, o Spurs vai ter de sambar um pouco mais em suas coberturas.

– Boris Diaw vai ser agressivo?
Esperem, então, para ver muito Boris Diaw nos confrontos, e não tem nada de errado com isso. O francês joga demais. Sempre vamos ficar com uma pulga atrás da orelha, pensando sobre como seria seu basquete se ele se dedicasse um pouquinho a mais na esteira. Mas esse preconceito também por vezes pode inibir que apreciemos adequadamente seus talentos únicos. Para esta temporada, aliás, monsieur Riffiod se apresenta em melhor forma, confiante e produtivo, além de mais eficiente, mesmo com a terceira maior “taxa de uso” de sua carreira – isto é, seu jogo não sentiu o peso de mais responsabilidades. Conquistou, desta forma, o coração de Popovich. “Ainda estou aprendendo como usá-lo”, diz o técnico. Tem muito o que se aproveitar, mesmo: Diaw está acertando mais de 41% de seus arremessos de três pontos nos playoffs, mantendo o alto aproveitamento que teve durante toda a temporada. Além disso, virou uma ameaça séria no jogo de costas para cesta,  cada vez mais concentrado também em pontuar, em vez de apenas passar, passar e passar. Atende, enfim, aos clamores de dúzias de técnicos com que já trabalhou. Claro que o jogo fica mais bonito com atletas solidários interagindo, mas chega uma hora que a bola tem de cair na cesta, e o francês já não parece mais tanto avesso a esse simples conceito. Dependendo da saúde de Parker e Ginóbili, pode ser que o Spurs precise ainda mais do ala-pivô e seus serviços de playmaker, facilitando, servindo e, sim, atacando. Quem vai marcá-lo? Battier tem um último sopro? Lewis? LeBron?

– Por falar em LeBron, ele vai tentar/matar seus chutes de média e longa distância com qual frequência?
Deu certo por um bom tempo no ano passado, então podemos esperar que Pop mantenha a estratégia. Com Kawhi e, especialmente, com Diaw, a ordem deve ser para que recuem e tentem colocar a dúvida na cabeça do craque: vai para o chute, mesmo, ou tentará buscar um companheiro? Vai atacar a cesta e correr o risco de fazer a carga? Mas será que não há espaços, mesmo, para a infiltração? LeBron está habituado a ler o jogo num estalo. Contra o Mavericks em 2011 e contra o Spurs em 2013, porém, foi hesitante, diante das “facilidades” sugeridas pela defesa adversária. Se isso acontecer novamente, de o astro perder alguns segundos para tomar suas decisões e sair de ritmo, a defesa do Spurs já vai se dar por agradecida. Agora, o craque já sabe o que está por vir. Nos Jogos 6 e 7 da final do ano passado, partiu para o ataque e cobrou 21 lances livres, depois de ter somado apenas 19 nos cinco primeiros. A armadilha estava desfeita. Ficamos no aguardo, então, para ver como vai se comportar.

E dá para apostar contra LeBron James?
Kawhi Leonard já se virou contra Kevin Durant e Russell Westbrook na final do Oeste. Encarar LeBron, porém, é algo bem diferente. Durant é um cestinha mortal, mas fisicamente não representa o desafio que é segurar um tanque de guerra em movimento. Com KD, você pode contestar os arremessos e torcer para que não caia – bloquear alguém tão veloz e alto fica difícil. Mas você pode afastá-lo da cesta, você pode incomodá-lo fisicamente. Atletas como Leonard, Matt Barnes e até mesmo o diminuto Tony Allen podem persegui-lo no perímetro e atrapalhar sua movimentação fora da bola. No fim do jogo, o cara pode terminar com 30 pontos, tá certo. Mas os caminhos são mais claros. Contra LeBron, quando ele desembesta a atacar o aro, a combinação de técnica, explosão e força é brutal. Não há como Leonard absorver esse tipo de contato. Na verdade, Kawhi está em quadra apenas como um primeiro obstáculo de uma estratégia coletiva que precisa ser empregada para congestionar a vida do craque. Esse recuo e o convite ao chute é um dos ardis. Mas haja cobertura e ajuda para desencorajar o melhor jogador do mundo. Ele quer mais um anel.

E mais: Danny Green consegue dar conta de um Dwyane Wade que não esteja mancando? Chris Bosh vai se permitir ser alienado no ataque? O preparo físico, a essa altura, faz a diferença? Ou o emocional supera tudo? Porque o Spurs chega bem mais descansado. Spoelstra vai tentar mais uma vez alargar sua rotação, ou jogar com sete, oito caras? Se (ou quando) Ray Allen acertar mais uma bomba de três, como evitar o soluço coletivo de San Antonio? Pode Tim Duncan repetir ou superar os 18,8 pontos e 12,1 rebotes das finais do ano passado?

São muitas questões, e ainda bem que a pressão está em Pop ou Spo para respondê-las. Nós só precisamos nos acomodar no sofá e ver o o desenvolvimento dessas tramas todas, muitas delas interligadas. É um novelo difícil de se desembaraçar, e fica impossível dar um palpite.

PS: por motivos de Copa do Mundo da FIFA, na qual estarei envolvido, cobrindo, não sei bem se vai dar para comentar a série jogo a jogo, infelizmente.


Heat x Spurs: confira a cronologia dos protagonistas da final
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Giancarlo Giampietro

Quando Pat Riley ganhou seu primeiro anel de campeão da NBA, em 1972, dividindo o vestiário com Wilt Chamberlain e Jerry West (treme a terra quando se fala sobre estes nomes, não?), Gregg Popovich estava competindo, ou em vias de competir na peneira que formaria  seleção norte-americana que amargaria a prata olímpica em Munique. Sim, aquela final que se tornou o jogo mais controverso da história da modalidade. Uma temporada depois, Popovich retornaria à academia da Aeronáutica dos Estados Unidos como assistente técnico. Erik Spoelstra não tinha nem dois anos de idade.

Timmy Duncan, promessa das piscinas

Timmy Duncan, promessa das piscinas

Quando Pat Riley assumiu o Los Angeles Lakers pela primeira vez como treinador profissional, em 1981, cinco anos depois de aposentado das quadras, Tim Duncan tinha cinco anos de idade e vivia em Christiansted, uma das cidades da ilha de St. Croix, das Ilhas Virgens americanas. Popovich estava em sua segunda temporada como treinador da universidade de Pomona-Pitzer, na terceira divisão da NCAA, a qual dirigiu entre 1979 e 87. Mais um dos andarilhos do basquete norte-americano, Tony Parker Sr. tocava sua carreira na Bélgica.

Quando Tim Duncan praticamente desistiu de se tornar um nadador olímpico dos Estados Unidos, em 1989, e, aos 13 anos, começou suas aventuras numa quadra de basquete, Spoelstra era eleito o calouro do ano na West Coast Conference pela universidade de Portland, vindo de uma prestigiada carreira de colegial. Era armador. Riley estava em vias de deixar o Lakers, com mais quatro anéis de campeão. Nas finais daquela temporada, o time foi varrido pelos Bad Boys de Detroit. LeBron James tinha cinco anos e vivia uma infância difícil em Akron, com sua mãe de 21 anos procurando um emprego e um apartamento atrás do outro. Com quatro anos, Tiago Splitter brincava com qualquer coisa em Blumenau.

Tim Duncan em 1995, longe das piscinas

Tim Duncan em 1995, longe das piscinas

Quando Manu Ginóbili iniciou sua carreira profissional pelo Andino Sport Club, em 1995, sendo eleito o melhor novato da liga argentina, Duncan estava em seu terceiro ano de universidade, em Wake Forest, construindo sua reputação como um prospecto imperdível. Riley deixou a cabine de transmissão da NBC para assumir o Miami Heat como técnico e cartola – foi um ano de reformulação, no qual seu time somou 42 vitórias e 40 derrotas, o suficiente para chegar aos playoffs e ser varrido pelo Chicago Bulls de Michael Jordan. Spoelstra havia acabado de ser contratado como coordenador de vídeo do clube, indicado por Chris Wallace (hoje o gerente geral interino do Memphis Grizzlies)  e conseguiu se segurar no cargo, mesmo com a chegada de um novo chefe. Popovich era o gerente geral do Spurs, contratado pelo novo proprietário da franquia, Peter Holt, três anos depois de ser demitido pela gestão anterior.

Spoelstra, um nerd que fez carreira em Miami

Spoelstra, um nerd que fez carreira em Miami

LeBron, calouro no high school

LeBron, calouro no high school

Quando Tim Duncan ganhou seu primeiro título da NBA, em 1999, já sob a batuta de Popovich, LeBron estava se preparando para começar uma das mais badaladas carreiras de um jogador de high school no basquete norte-americano, na St. Vincent–St. Mary High School. Aquela era a primeira de-ci-são polêmica do adolescente. Ele e seus amigos do circuito AAU optaram por uma escola particular,  elitista, em vez de seguir a rota mais usual do colégio público – e dos “manos”.  Dwyane Wade já era uma estrela do prestigiado basquete colegial de Chicago, mas, devido a problemas com suas notas, só tinha ofertas de três universidades: as locais Illinois State, e DePaul, ou Marquette, do estado vizinho de Winsconsin. O Miami de Pat Riley foi mais uma vez eliminado pelo (eventual vice-campeão) Knicks nos playoffs do Leste – Spoelstra dividia seu tempo entre coordenador de vídeo e assistente técnico do figurão. Ginóbili encerrou sua primeira temporada na Itália, jogando pelo Reggio Calabria, na segunda divisão. Tony Parker assinou seu primeiro contrato de profissional com o Paris Basket Racing. Um ano depois, com 15, Tiago Splitter deixaria Santa Catarina rumo ao País Basco, para jogar na base do Baskonia.

Quando Tim Duncan ganhou seu segundo título da NBA, em 2003, já acompanhando por Tony Parker e Manu Ginóbili e ainda ao lado de David Robinson, LeBron James já sabia que sua jornada como profissional começaria justamente na franquia de seu estado, Ohio, em Cleveland. O Draft daquele ano, com LeBron sendo a maior barbada, foi realizado 13 dias depois de o Spurs vencer Jason Kidd e o New Jersey Nets na decisão, 4-2. Com 29 pontos, 11 rebotes, and 11 assistências, Dwyane Wade fazia o quarto triple-double da história dos mata-matas da NCAA por Marquette, entrando de vez na lista dos prospectos de elite. Splitter, aos 18, já disputava seu segundo torneio com a seleção principal, revezando com Nenê e Anderson Varejão no garrafão de um time que sofreu horrores no Pré-Olímpico em Porto Rico.

Splitter no Mundial de 2006: a boa nota numa campanha fraquíssima do Brasil

Splitter no Mundial de 2006: a boa nota numa campanha fraquíssima do Brasil

Quando Dwyane Wade ganhou seu primeiro título da NBA, em 2006, Shaquille O’Neal jogava ao seu lado, assim como Gary Payton, Jason Williams, Antoine Walker, Alonzo Mourning e Udonis Haslem. Pat Riley havia deixado os escritórios e voltado a dirigir o time, depois da demissão de Stan Van Gundy. O Cleveland de LeBron foi eliminado na semifinal da Conferência Leste pelo Detroit Pistons de Billups, Sheed e Ben Wallace, depois de ter vencido o Washington Wizards de Gilbert Arenas, na primeira rodada. O Spurs perdeu para o Dallas Mavericks no Jogo 7 das semifinais do Oeste, levando uma virada daquelas. Splitter teve médias de 16,4 pontos e 6,6 rebotes no Mundial do Japão, com o Brasil caindo na primeira fase.

Quando LeBron James chegou a sua primeira final de NBA, em 2007, o adversário foi o San Antonio Spurs de Duncan, e seu Cleveland Cavaliers, com Eric Snow, Larry Hughes, Drew Gooden e Zydrunas Ilgauskas no time titular, foi varrido. Em Miami, o Miami Heat também seria varrido pelo Chicago Bulls na primeira rodada da Conferência Leste, vendo seu sonho de bicampeonato atropelado por Andrés Nocioni, Ben Gordon, Luol Deng, Kirk Hinrich e Ben Wallace. Riley ainda era o técnico. Spoelstra, seu assistente. Splitter foi o MVP da Supercopa espanhola e iniciaria uma belíssima temporada na Europa, aos 22 anos, sendo eleito para o quinteto ideal da Euroliga ao final.

Em 2012, LeBron ganhou seu primeiro título, com o Spurs perdendo a final do Oeste para o Thunder. Em 2013, reencontrou Duncan na decisão e deu aquele toco em Splitter, já sabemos. Agora, a partir de quinta-feira, essas diversas trilhas voltam a se cruzar. Mal posso esperar.


Por essa ninguém esperava: a ressurreição de Rashard Lewis
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Giancarlo Giampietro

Rashard Lewis para três! Ainda...

Rashard Lewis para três! Ainda…

Uma coisa é ser paciente, outra é ser teimoso pacas.

Se você for olhar todos os jogos de Rashard Lewis pelo Miami Heat, não daria para entender muito bem aonde Erik Spoelstra estava com a cabeça quando decidiu escalar o ala como titular no Jogo 5 contra o Indiana Pacers, tendo a oportunidade de eliminar de vez seu arquirrival na Conferência Leste. Arrisque, então:

a) Estaria o treinador de sacanagem?

b) Ousaria Spo a encarar um jogo de playoffs como um mero treinamento, para não deixar seus rapazes muito tempo parado, sabendo que a final do Oeste poderia se arrastar?

c) Ou ele simplesmente não tinha mais a quem recorrer?

Vamos de alternativa c), né? Mais plausível.

Udonis Haslem dessa vez foi pouco efetivo contra Indy, ao contrário do ano passado. Chris Andersen estava fora de combate. Shane Battier chegou aos mata-matas em frangalhos. Para Greg Oden ou Michael Beasley, simplesmente… Não rolou, por ora.  As formações mais baixas, com Norris Cole e Ray Allen, se provaram muito mais lucrativas e seriam guardadas para mais tarde, especialmente contra um Pacers que estivesse enfraquecido pela entrada de qualquer reserva. Aí não tem por que mexer com isso. Logo, não restava muito o que fazer.

O jovem Rashard nem acredita

O jovem Rashard nem acredita

Vai de Rashard Lewis, então, que tristeza.

O mesmo jogador que esteve bem abaixo da média de eficiência da liga nos últimos dois campeonatos. Não acertou nem 41,6% dos seus arremessos. De três pontos, caiu de 38,9% no ano passado para 34,3%. Cujas médias foram de 5,2 e 4,5 pontos. Numa projeção por 36 minutos de ação, não melhorou nada sua situação: 13 e 9,9 pontos. Poucos rebotes.

Depois de anotar 10 e 16 pontos em suas duas primeiras partidas pelo time, só voltou a encestar com alguma eficiência na reta final da campanha 2012-13, sendo praticamente uma nulidade de dezembro a março. Apenas em 13 rodadas ele teve duplos dígitos de pontuação. Na atual temporada, essa contagem despencou para oito. Sim, oito. Entre 15 de janeiro e 26 de março, o máximo que ele ficou em quadra foram os 15min26s contra o Charlotte Ainda-Bobcats. Até que passou a jogar um pouco mais nas últimas 15  jogos. Na primeira rodada dos playoffs, somou oito pontos no geral em quatro compromissos contra o mesmo Bobcats. Depois, contra o Brooklyn Nets, foram 13 pontos em cinco capítulos. Na final do Leste, nem entrou em quadra nas duas primeiras partidas. Quando foi escalado para as duas posteriores ,saiu zerado, errando sete arremessos, seis deles de três pontos.

Ainda assim, foi promovido ao time titular.

A ideia, acho: Rashard tem boa envergadura para ameaçar a linha de passe e estava disposto a combater David West. E, do outro lado, supostamente poderia contribuir com um arremesso de longa distância que incomodaria a defesa, abrindo espaços para LeBron e Wade… Pelo menos a fama ele tem, certo?

O engraçado foi que o Indiana respeitou seu chute por quatro partidas, e o ala não parava de acertar, na verdade, o aro, ou a tabela. Quando acharam por bem desencanar de persegui-lo no perímetro, com a certeza de que a bola não cairia de jeito maneira… E pumba! Lewis desembestou a pontuar, fazendo de uma torrente a última gota de confiança que tinha. Aproveitamento de 9 em 16 bolas de três pontos? Inacreditável. Que tal os 31 pontos acumulados, com 18 no Jogo 5, no qual superou o mequetrefe do LeBron? “A primeira eu errei, mas senti que ela saiu bem. Os caras me disseram apenas para seguir arremessando. Quando finalmente acertei uma, estava apenas esperando pela próxima”, afirmou Lewis.

E não só isso. O ala ainda quebrou um galho daqueles marcando David West como poucos fazem – ou tentam fazer: saltar à frente de seu oponente e cortar o ângulo primário de passe para esse trator de ala-pivô. Algo não só inteligente taticamente, para tentar desencorajar a assistência, como também serve como uma medida preventiva para viver uma aposentadoria saudável. Pode doer bastante deixar suas costas para West acertá-la com o cotovelo, mas, se Lewis guardasse a posição básica, recuada, e esperasse o adversário receber a bola, ele iria apanhar de qualquer jeito no garrafão e por um período mais longo.

Em suma: era um cara transformado. Foi uma situação inusitada para Frank Vogel resolver.

Por um lado, temos em quadra um dos maiores arremessadores de três pontos da história da liga (na categoria de sujeitos com mais de 2,05 m de altura, é verdade), que foi eleito um All-Star como escudeiro de Ray Allen em Seattle e o ala-pivô aberto ao lado de Dwight Howard e dirigido por Stan Van Gundy. Na lista da NBA de cestas de três feitas, ele já aparece em oitavo, com 1.787 no total. “Se você dá uma olhada nessa lista e vê os caras que estão nela, você meio que não acredita. De estar na frente desse ou bem atrás daquele”, afirmou. “É um feito e tanto e mostra que deixei minha marca na NBA.”

Por outro, o objeto de análise aqui também é um veterano que já havia trocado até mesmo por um Gilbert Arenas ultrapassado e quebrado – na troca de salários mais absurdos e inúteis que a liga já viu – e que também estrelou um dos raros casos de doping oficializados da ligaao lado de Hedo Turkoglu, seu ex-companheiro de Orlando, por exemplo.

Mal jogou em Washington e foi repassado para New Orleans, que só tinha a intenção de se livrar dos contratos de Emeka Okafor e Trevor Ariza (que estava encostado por lá e acabou se tornando uma peça bastante valiosa para o jovem time do Wizards, diga-se). Oficialmente, o valor de Lewis era de US$ 23,7 milhões (!?!?!?!, numa cortesia de Otis Smith). Mas o então-Hornets-hoje-Pelicans poderia dispensá-lo e economizar entre US$ 9 e 10 milhões. Demitiram sem pestanejar, abrindo caminho para que o ala ou se aposentasse, ou se juntasse a um time verdadeiramente candidato ao título. Aí Pat Riley entrou na jogada. No ano passado, para quem não lembra, ele foi anunciado no mesmo pacote com Ray Allen, seu ex-companheiro de Seattle, numa combinação promissora para o banco do time da Flórida.

Acontece que Lewis não jogou absolutamente nada e acabou salvo justamente Ray-Ray – essa, sim, uma contratação decisiva, de modo que não havia como os críticos se lembrarem do fiasco que representava a outra metade do negócio.

Mas, depois de dezenas de jogos apagados, aqui está Lewis sendo relevante, como um substituto improvável para Shane Battier no criativo sistema do Miami Heat.  O veterano está todo empolgado. Já fala em jogar por mais dois ou três anos. Desde que no time certo. No caso, o Miami, em que suas responsabilidades são bem reduzidas. “Ser um jogador complementar, abrir a quadra para um time que está competindo pelo título é bem menos desgastante do que sair jogando 40 minutos e tendo de trombar e ralar”, afirmou o ala que foi a escolha 32 do Draft de 1998, saindo do high school. “Seu papel fica muito mais fácil, e então fica muito mais fácil também de cuidar do corpo.”

Os dilemas que Frank Vogel teve com Lewis agora ficam para Gregg Popovich. Que Rashard que vai jogar as finais? O moribundo de praticamente duas temporadas, ou aquele renascido por meros dois jogos? É uma pequena peça no grande jogo das finais da NBA, mas que pode ter uma grande repercussão. Não é exagero dizer que 99% da NBA davam o jogador por sumido, ou morto, mesmo, nas últimas temporadas. Menos Spoelstra, aparentemente, que fez valer sua teimosia.


Final da NBA tem revanche em 2014; veja números históricos
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Giancarlo Giampietro

Oi, lembra da gente?

Oi, lembra da gente?

Para os que sobreviveram a mais um thriller daqueles nos playoffs da NBA, com o San Antonio Spurs enfim conseguindo uma vitória em Oklahoma City, segue um post mais curto com alguns números históricos envolvendo os dois finalistas deste ano. Que são os mesmos do ano passado. É hora de revanche para o time texano contra os LeBrons, numa rara ocasião, nos tempos recentes, que a decisão é duplicada em anos consecutivos. No decorrer da semana, até quinta-feira, quando a festa começa, vamos abordar outros temas, como o desafio de Tiago Splitter de se impor em quadra contra um time que foge do padrão, a ressurreição de Rashard Lewis (por dois jogos, que seja…) e qualquer outra coisa que dê na telha. Mas, antes, alguns dados históricos para tentar dimensionar este reencontro:

– As temporadas em que a NBA teve sua final repetida em dois anos, em contagem regressiva: 1997 e 98, com Chicago Bulls x Utah Jazz; 1988 e 89, com Detroit Pistons x Los Angeles Lakers; 1984 e 85, com Boston Celtics e Lakers; 1982 e 83, com Lakers e Philadelphia 76ers; 1978 e 79, com Seattle SuperSonics x Washingotn Bullets;1972 e 73, com Lakers x New York Knicks; e aí, claro, nos anos 60, tivemos 479 confrontos entre Lakers e Celtics. Notem que, de 1990 para cá é apenas a segunda vez que isso acontece.

– No Leste, o Miami consegue sua quarta final seguida, algo que apenas três times haviam conseguido na história: o Lakers, de 1982 a 1985, com Magic, Kareem e um certo Riley (duas vitórias e duas derrotas), o Celtics de Bird de 1984 a 1987 (também com dois canecos e dois vices) e o mítico Celtics nos anos 60, que emendaram apenas dez finais, de 1957 a 1966, perdendo apenas o campeonato de 1958 para o St. Louis Hawks.

– Entre os repetecos de decisões, tirando os amigos apelões de Bill Russell, apenas o Chicago Bulls de Michael Jordan conseguiu vencer ambos os duelos, para amargura de John Stockton e Karl Malone. De resto, todo time que perdeu o primeiro ano, saiu vencedor no segundo.

– Times que chegaram por dois anos seguidos a uma decisão e não conseguiram o título: New Jersey Nets em 2002 e 2003, Jazz, os diversos Lakers de Jerry West e Elgin Baylor dos anos 60, o St. Louis Hawks de 1960 e 61, o Fort Wayne Pistons de 1955 e 56 e o glorioso Knicks de 1951 a 53! O Lakers de 1983 e 84 não conta, já que foi campeão 82 e 85.

– Esta é a décima final com adversários que se reencontram. A maior rivalidade? Dãr. Lakers x Celtics, que jogaram 12 vezes pelo título, com 9 triunfos para os verdes.

– É a sexta decisão para o San Antonio desde 1999, sempre com Duncan e Popovich envolvidos. Para o Miami, a quinta desde 2006, sempre com Wade, Haslem e Riley.

– Desde o Pistons em 1988 e 89, o Spurs foi o primeiro time a retornar a uma final depois de ter perdido o Jogo 7 no ano anterior.

– O Chicago Bulls tem o melhor aproveitamento em jogos valendo pelas finais, com 68,6%, ou 24 vitórias e 11 derrotas dividias entre as trilogias lideradas por MJ e o Mestre Zen. O Spurs é o terceiro da lista, com 65,5% (19-10), enquanto o Heat aparece em sexto, com 58,3% (14-10).

– O primeiro troféu da NBA foi chamado Walter A. Brown Trophy, em homenagem ao primeiro proprietário do Boston Celtics, tido como figura fundamental para a criação da liga que hoje conhecemos. A partir de 1984, Larry O’Brien, comissário entre 1975 e 83, assumiu a bronca. Vai levar quanto tempo para David Stern ser relembrado?


Quando ninguém entende os placares de Spurs x Thunder
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Giancarlo Giampietro

spurs

okc

Durante a temporada regular, o San Antonio Spurs teve o sexto melhor ataque da NBA, seguido bem de perto pelo Oklahoma City Thunder, o sétimo. Era praticamente um empate técnico. Se você quiser filtrar as estatísticas de defesas mais eficientes, verá que o time texano foi o quarto melhor do ano. Em quinto? seu oponente da final do Oeste novamente. Em saldo de sexta, ainda nesta ordem, temos +7,8 pontos x +6,4.

Em termos de aproveitamento dos arremessos de quadra, pode dar 48,6% para o Spurs, em segundo, e 47,1% para o Thunder, em sexto. Na hora de proteger sua cesta, o Thunder limitou seus adversários a míseros 43,6% de acerto, enquanto o Spurs empurrou seus oponentes para um rendimento de apenas 44,4%. Em lances livres, o time da Divisão Noroeste aparece em segundo, com 80,6%, enquanto a equipe da Divisão Sudoeste está em quarto, com 78,5%.

Se for para matar os chutes de três pontos, a franquia de San Antonio foi bem superior, com 39,7% (líder!), contra 36,1% dos rapazes de Oklahoma (14º). Do outro lado da quadra, o time de Gregg Popovich permitiu 35,3% de longa distância aos adversários, enquanto a rapaziada de Scott Brooks, 35,8%.

No ranking de assistências, o Spurs também foi quem mais deu passes para cesta por jogo, com 25,2. O Thunder aparece em 13º, mas com 21,9. E quem força mais turnovers? A galera de Thabo Sefolosha fica em 10º, com 14,5, enquanto os amigos de Kawhi Leonard estão em 25º, mas com 13,3.

Poderíamos ficar listando números e mais números aqui. Mas já deu para sentir mais ou menos o ponto, não? Durante 82 jogos, Spurs e Thunder estiveram na elite da liga. Como candidatos ao título, independentemente de um desfalque aqui (alô, Wess) e outro lá (oui, Parker). Seus números, em termos de colocação geral na concorrência com os outros times, podem destoar um pouco, mas, em geral, o que vimos acima foi muito equilíbrio, com os veteranos do Texas ligeiramente acima.

Então, tudo isso para repetir a pergunta que muitos não conseguem explicar: por que raios ainda não assistimos a uma partida equilibradinha que seja nesta série melhor-de-sete até agora?

Cinco partidas já foram disputadas, e a menor diferença produzida foram os nove pontos a favor de OKC no Jogo 4 – e esse foi um placar ilusório, uma vez que a equipe da casa liderava por 20 pontos quando restavam apenas 3min17s no cronômetro. É a primeira vez que isso acontece nas finais de uma conferência desde os duelos em que Michael Jordan maltratava o coração de Cleveland em 1992. Ou apenas o segundo desde 1988, quando Lakers e Mavericks venceram sempre por mais de 12 pontos.

Steve Kerr já havia falado no ar durante a transmissão que não conseguia entender. Ele, o homem de cinco títulos. Tim Duncan, de 17 temporadas e mais de 200 partidas nos playoffs em seu currículo, soltou esta: “É a série mais maluca em que eu já estive envolvido”.

Um corajoso sujeito foi perguntar para Gregg Popovich na coletiva em San Antonio a respeito. Vejam a transcrição do ocorrido (obs – nenhum boletim de ocorrência foi emitido):

Repórter na coletiva: Cinco jogos, cinco lavadas. Para nós que não entendemos tanto do jogo, como você explica isso?
Gregg Popovich
: Você está falando sério? Você realmente acha que eu posso explicar isso?

Nos termos mais simples (risos). Sei que você pode. A questão é: você vai?
Meu Deus do céu. E eles pagam você, não?

Muito pouco.
Então é por isso a pergunta. Você não vale muito.

Ninguém consegue explicar, aparentemente. Obviamente que o treinador poderia dar uma palavrinha ou outra a respeito. Mas em situações como essa ele prefere apelar ao sarcasmo, seja por impaciência, ou para dar um charme. Deve ser as duas coisas em conjunto, mesmo.

Fica essa coisa no ar.

Aqui, penso numa teoria abelhuda. Não espere, sinceramente, nenhuma tese de mestrado, nada muito científico. É só um palpite.

Mas acho que tem a ver com o contraste de estilos entre os times.

O sistema ofensivo de qualquer equipe é fazer cesta. Dãr. Mas, entre esses finalistas do Oeste, os meios alternam bastante, não?

O Spurs com sua movimentação constante, com apenas um jogador geralmente estacionado na zona morta do outro lado da bola, para alargar a defesa. E olhe lá, dependende das mudanças de direção nas infiltrações de Manu ou Parker. É corta-luz num determinado ângulo, depois em outro, seguido por outro. O passe para o lado, para trás, para a frente, sempre em busca de alguém boa condição para pontuar. A tendência é os elegermos como os guardiões de tudo o que jogo tem de puro e bom.

(Vale o parêntese aqui para uma aspa bem legal de Reggie Jackson, que vai se revelando como uma fonte obrigatória para repercussão: “É por isso que eles são conhecidos (os passes). Não acho que importe quem jogue. Eles poderiam usar cinco pivôs, e ainda encontrariam um jeito de mexer a bola. É o que eles fazem, é o sistema deles, e eles são bons nisso”.)

Já o Thunder pode emendar cinco ataques em que apenas um passe ou dois passes foram trocados, se tanto, e ainda assim ser ameaçador. Graças aos talentos exclusivos de Durant e Wess, que têm recursos atléticos e técnicos para jogar no mano-a-mano até amanhã de manhã, se Brooks deixar (ou quiser). Um pick and pop entre eles aqui, outra combinação de dupla com Ibaka em pitadinhas, e podem ficar muito bem nisso. Não que sejam fominhas. Os caras também fazem a assistência extra. São camaradas. Mas, pela natureza de seus supercraques, a ofensiva tende a ficar bem acomodada com facilidade. Irrita um pouco, mas dá certo na maioria das vezes.

Na defesa, Oklahoma tende a ser mais disruptivo, com atletas muito mais explosivos e de envergadura assustadora, enquanto San Antonio não é muito afeito a botes e riscos, preferindo guardar posição, com um ou outro tendo licença para atacar (Kawhi e Manu, por exemplo, e Mills por teimosia própria).

Uma equipe é harmonia, a outra, caos.

Quando cada um encaixa seu jogo perfeitamente, com confiança, o oposto acaba sendo engolido?

Pode ser? Ou é muito simples, idiota?

Provavelmente.

O difícil realmente é entender como é possível que, em cinco jogos de cinco, de rivais que já se conhecem perfeitamente, cada estilo tenha conseguido se impor de maneira tão clara em coisa de 30 minutos, para que a lavada fosse considerada irreversível..

No caso dos dois primeiros jogos, obviamente que ausência de Serge Ibaka também foi decisiva. O homem pode influenciar, e muito, os rumos de qualquer jogo, como vimos bem em seu retorno. Ainda assim, neste Jogo 5, o time texano conseguiu repetir os números auspiciosos dos dois primeiros confrontos. Por outro lado, não é possível também que não tenha passado pela cabeça de Scott Brooks que Popovich pudesse acionar Matt Bonner nesta quinta-feira e que abrisse mão de atuar com seus dois pivôs tradicionais ao mesmo tempo. Digo: os ajustes são sempre necessários na caminhada das equipes em um playoff. É o que acontece sempre.

Da mesma forma como não se pode relevar o fator emocional, com duas dúzias de atletas estressados, beirando a estafa, tentando resolver em quadra essa pendenga. E aí temos as duas melhores campanhas como visitante no campeonato – 30 vitórias, 11 derrotas para o Spurs longe de seus domínios, algo absurdo, contra 25 e 16 do Thunder. No entanto, sabemos também que a pressão não é lá uma exclusividade do ano de 2014. “Obviamente parece que o mando de quadra dá uma bela motivação para as equipes. Ambas estão confortáveis em casa. Então é por isso que optamos para não ir para OKC”, brincou Popovich.

Vamos ver o que sai daí, tentando sempre entender o que se passa para justificar tanto extremismo. Fato é que o Thunder agora está diante daquela situação de tudo ou nada, mas de volta ao conforto de seus aposentos neste sábado, Jogo 6. O Spurs está a uma vitória da final. Numa hora dessas, qualquer técnico aceitaria de bom grado uma vitória mesmo com meio ponto de diferença.


Em meio a trovões de Westbrook, uma vitória minúscula para Popovich
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Giancarlo Giampietro

Banco Spurs, OKC, Popovich

Até pode não dar em nada, mas é por essas e outras que Gregg Popovich merece o título de maior técnico da NBA desde a aposentadoria de Phil Jackson. O truque já é velho, mas não deixa de ser surpreender e admirar, né? Afinal, quantos têm coragem e pachorra para aplicá-lo? Restando ainda quase 20 minutos de um jogo valendo final de conferência, e quem mais sacaria todos seus titulares de quadra para afundá-los no banco de reservas?

O comandante do San Antonio Spurs não estava nada satisfeito com a cacetada que seus velhacos tomavam do Oklahoma City Thunder, nesta terça-feira, e optou por um de seus ardis. Tirou Parker, Duncan e Manu. Kawhi e Green (que depois voltaria). Sobrou até mesmo para o Splitter. E taca Matt Bonner em quadra! Se tivesse autoridade para tanto, certeza que ele mandaria Austin Daye tirar o blazer e jogar também.

Reserva Baynes que se vire com um Westbrook ligado no turbo: 40 pontos, mas em preocupantes 45 minutos; Durant jogou 41 e Ibaka, 35

Reserva Baynes que se vire com um Westbrook ligado no turbo: 40 pontos, mas em preocupantes 45 minutos; Durant jogou 41 e Ibaka, 35. Eles dão conta do recado

Com esse movimento, ele manda uma série de mensagens.

Para seus principais jogadores: “Estou decepcionado”.

Para Boris Diaw: “Mon Dieu, Boris, arremesse com confiança, s’il vous plaît!!!! Eu suplico.”

Para os demais reservas: “As portas estão sempre abertas”

Para a comunidade do basquete: “Sim, é possível”.

Para os repórteres de TV: “Nem vem de garfo que hoje é dia de sopa”.

E, principalmente, para Scott Brooks: “Se viraê com esse presentinho”.

Porque o Spurs já não tinha nada (mais!!!) a perder. A batalha já estava cedida, então, no mínimo, ele tratou de reduzir suas baixas, pensando na guerra, que tem sequência no Jogo 5, de volta ao Álamo, em menos de 48 horas. O técnico passou um pito em seus principais jogadores e, ao mesmo tempo, os preservou, sabendo que, fisicamente, o outro lado tende a levar sempre a vantagem. E não fica apenas  nisso: se desse certo, ainda forçaria que seu concorrente mantivesse Durant, Westbrook e até mesmo o sacrificado Ibaka em quadra.

Bingo.

Com 3min31s restando no quarto período, Bonner (+12 de saldo!) e cavalaria reduziram a antes bombástica diferença do Thunder para 12 pontos, anotando sete em sequência. Cory Joseph ofereceu muito mais que Patty Mills em termos de deslocamento e pegada e ainda botou Ibaka no YouTube (ver mais abaixo), Boris Diaw aceitou o chamado e passou a atacar com agressividade, Marco Belinelli esteve mais solto, e a bola foi girada de um lado para o outro.

Os titulares simplesmente deixaram de praticar esse tipo de basquete após cinco excelentes minutos no primeiro tempo. Deixaram de fazer aquilo que o Spurs deve executar o tempo todo para combater um time muito mais atlético. A turma do fundão do banco deixou claro, então, que dava para encarar aqueles caras. Desde que do modo correto, com um ataque mais equilibrado, que resulta em melhores situações de arremesso (veja tabela abaixo) e diminui as chances de contragolpes mortais.

Reservas do Spurs contra Thunder no Jogo 4: 9/13 no garrafão, a partir de meados do terceiro período

Reservas do Spurs contra Thunder no Jogo 4: 9/13 no garrafão, a partir de meados do terceiro período

“Não jogos de modo inteligente consistentemente, e, de uma hora para outra estávamos tentando ver se Serge poderia dar um toco, ou não. Pensei em distribuir uma foto para eles no banco. Eles sabem quem é Serge. Mas foi realmente, de uma hora para a outra, um basquete pouco inteligente. Em vez de acertar os jogadores livres, começamos a atacar o aro sem inteligência, e isso resulta em tocos. Tivemos sete turnovers no primeiro tempo, mas na verdade foram 14 por causa dos sete tocos. E aí você precipita a diferença de 20 a 0 nos contra-ataques”, afirmou Popovich, durante a coletiva, numa loooonga resposta ao repórter JA Adande, da ESPN, que ficou até emocionado.

“Então você tem de jogar mais espertamente contra grandes atletas. Eles são talentosos, obviamente, mas a capacidade atlética e a envergadura deles é o que causa uma margem pequena de erro, e contra isso não dá para para se atrapalhar tanto como fizemos. E acho que temos de jogar com mais empenho. Eles jogaram com mais determinação que nós nesses dois jogos”, completou.

Claro, contra os reservas, a defesa adversária, cansada e também mais relaxada, já não tinha mais a mesma energia da etapa inicial e nem estava tão familiarizada assim com aqueles oponentes, mas tudo isso está incluído nas contas que Pop fez antes de tomar sua decisão.

E como Brooks responderia? Era um jogo que ele simplesmente não poderia perder. Seria uma catástrofe. Iria de Fisher-Lamb-Jones-Collison-Thabeet nessa? Baita arapuca: não só o quinteto não tem rodagem, como dificilmente apresentaria qualquer coesão. Então, que ficassem os craques, mesmo, para liquidar a futura. Foram substituídos apenas dois minutos depois, aí, sim, com a vitória garantida.

A vitória é de OKC, série empatada em 2 a 2, mas Pop deu um jeito de tirar alguns pequenos triunfos morais dessa. E ele precisava de um empurrão desses – e, se Reggie Jackson, com uma torção no tornozelo não puder jogar, melhor ainda. Estava aquela barulheira infernal no ginásio, Ibaka voltava a influenciar o jogo defensivamente, os cestinhas eram explosivos, Thabo Sefolosha nem tinha dado as caras… Enfim, o confronto ia pendendo perigosamente a favor de seus adversários, numa virada como a de 2012.

Agora, pode muito bem ocorrer de o efeito dessa cartada ser nulo.

Com o turbo acionado, magnífico, Westbrook atropelou os adversários nesta terça, construindo uma das linhas estatísticas mais brilhantes da temporada: 40 pontos, 10 assistências, 5 roubos de bola, 5 rebotes, 12/24 nos arremessos e 14/14 nos lances livres. Mamãe. Vejam só este lance:

Foi até engraçado ao vivo. O armador do Thunder atropelou Tony Parker e foi para a cesta feito um trovão. Depois de alguns minutos, porém, que a equipe da TNT (a melhor transmissão da NBA, tecnicamente) foi reparar que a roubada de bola veio com os dois pés fora da quadra. Em slow-motion, você percebe isso no ato. Quando o lance aconteceu, de tão rápido, ninguém apontou nada.

Ter de conter um sujeito desses já é um problemão. E aí, de repente, a gente vai lembrar que Brooks também pode atacar com aquele tal de Kevin Durant. O MVP da temporada, cestinha da liga em quatro das últimas cinco temporadas, com média de 27,4 pontos por jogo. Durant somou 31-5-5 dessa vez. Juntos, os dois astros contribuíram com 71 (de 105) pontos, 15 (de 22) assistências , 8 (de 12) roubos de bola e 23 (de 37) chutes de quadra certos e 21 (de 24) lances livres convertidos.

Essa dupla de craques não está nem aí para os minutos jogados por Bonner ou Joseph. Agora, os titulares de Popovich deveriam, sim ter tomado nota. Vamos ver na quinta se haverá qualquer tipo de repercussão diferente da parte deles.

Enquanto isso, San Antonio se prepara, de olho na previsão do tempo:

Possível previsão do tempo tenebrosa para o Spurs

Possível previsão do tempo tenebrosa para o Spurs


O que fazer com Lance Stephenson? É o dilema do Pacers
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Giancarlo Giampietro

Podemos tratar o confronto como algo ainda em aberto. Afinal, sempre existe a chance de o Indiana Pacers vencer mais um joguinho em casa, forçar o sexto jogo, e aí um cataclisma floridiano acontece, e aí… Jogo 7 em Indianápolis.

Ok, fica o registro.

Depois do que vimos nesta segunda-feira, difícil acreditar num desfecho desses, não?

Nunca diga nunca, mas, a essa altura, até mesmo um deprimido Larry Bird já deve estar pensando longe, no que fazer com o elenco para a próxima temporada, quais mudanças serão necessárias para que seu clube desbanque o Miami Heat, enfim, depois de falhar em três tentativas (já contando com essa). Dentre as muita questões que vão entrar em pauta em suas conversas com Donnie Walsh e o gerente geral Kevin Pritchard, a mais instigante e mais complicada tem dono. “O que diabos fazer com Lance Stephenson?”, terão de ruminar.

Dwyane Wade já sofreu com Stephenson, mas também já aprontou com ele

Dwyane Wade já sofreu com Stephenson, mas também já aprontou com ele

Estamos tratando de um cara cheio de surpresas e que, em uma temporada e meia, se transformou numa figura-chave do Indiana Pacers, e, ao mesmo tempo, uma das mais controversas da NBA. Ele foi de fenômeno no high school, a garoto problemático, a uma transição frustrada para o universitário, a aposta de Bird no segundo round do Draft, a reserva-no-fim-do-banco, a contribuidor, a titular depois da lesão de Granger, a candidato barrado do All-Star, a brigão com Evan Turner, a desafiador de LeBron James, a saco de pancada de LeBron James, a… Agente livre, aos 23 anos.

Pois é. O primeiro contrato do jogador está expirando em mais um momento de encruzilhada para aquele que afirma que já “nasceu pronto”.

O talento de Stephenson não se discute. O ala-armador é forte para burro, veloz, atlético, que corta para a cesta, assimila o tranco e consegue finalizar. Tem muita capacidade no drible, atuando como um facilitador no perímetro em jogo de meia quadra e rasgando a defesa em contragolpes. Essa habilidade se alia a uma visão de jogo acima da média – é quem melhor coordena o pick-and-roll no ataque do Pacers, isso se não for o único. Seu chute de três pontos ainda não tem o aproveitamento ideal, mas vem melhorando a cada ano. Bela combinação para alguém em evolução.

Agora, tem o outro lado da moeda. Stephenson tem números muito interessantes à primeira vista, tendo terminado a temporada regular com 13,9 pontos, 7,2 rebotes e 4,6 assistências – isso, jogando por um time que apenas trota pela quadra, ao contrário de um Philadelphia 76ers que infla as estatísticas com tanta correria. Nas métricas mais avançadas, que avaliam a eficiência do atleta, seu rendimento já não é tão formidável assim, estando apenas 0,7 pontos acima da média da liga.

Um tanto errático, ele pode exagerar em suas aventuras rumo ao garrafão, atirando a bola por cima da tabela. Tem uma tendência a se enamorar por seu arremesso de média distância ou com seus dribles marotos, sambando na frente do oponente até forçar o chute, não importando que esteja bem marcado. Pode por vezes tentar enxergar demais em quadra, passar a bola para o árbitro e cometer mais um turnover. E por aí vamos. São coisas que podem ser limadas. Afinal, é jovem e tende a melhorar com tudo isso, com o acúmulo de experiência.

Mas aí que chegamos ao grande problema. Vai melhorar, mesmo? Com Stephenson e seu temperamento ao mesmo tempo abrasivo e avoado, nada é garantido. Considerando os problemas que teve como adolescente, o nova-iorquno já deu uma boa acalmada fora de quadra, embora possamos imaginar que ele exija mais atenção dos treinadores e dirigentes aqui e ali – nem tudo o que rola nos bastidores vira público. De todo modo, com as questões do jogo,  já sabemos que ele ainda tende a se perder facilmente em imaturidade. Seu histórico diante dos astros do Miami Heat é uma prova disso.

Episódio 1: 2012, semifinais do Leste, quando Stephenson, então um reservão, faz sinais de que LeBron estaria amarelando depois de errar um lance livre. Juwan Howard dá um pito no rapaz no treino do dia seguinte, e o gigantão Dexter Pittman o acerta de maneira extremamente bruta no retorno a Miami.

Episódio 2: Stephenson conclui uma linda infiltração em duelo da temporada regular deste ano, se enrosca debaixo da tabela, sai fazendo pose e fala alguma bobagem na cara de Dwyane Wade, este, sim, malandro de tudo. Toma falta técnica e acaba excluído do final do jogo. O Pacers acabou vencendo, mas David West ficou pê da vida. “Ele precisa amadurecer. Ele tem de vestir calça de gente grande”, afirmou.

Episódio 3: seu time perde dois jogos seguidos para o Miami Heat pela primeira vez em dois anos, mas isso não impede Stephenson de sair por aí dizendo que havia entrado na cabeça de LeBron, que o fato de o Rei descer do pedestal para rebater suas provocações em quadra era “um sinal de fraqueza”. Nesta segunda, o ala terminou a partida com 9 pontos, 5 rebotes e  4 assistências. LeBron mandou uma linha de 32 pontos, 10 rebotes e 5 assistências para a galera, afirmando depois que achou graça e soltou um “tsc, tsc” esnobe daqueles, quando ouviu aquilo que pareceu uma piada do adversário.

Vejam. Nenhum crime foi cometido, não é é nada causar para espanto na comunidade. É bem normal que um bafafá desses aconteça. Stephenson não foi o primeiro, nem será o último a mexer com James. Os caras tentam de tudo, porque em quadra está difícil de segurar o homem.

Porém, levando em conta sua própria experiência contra os atuais bicampeões e o simples fato de seu time estar perdendo o confronto, seus comentários já foram arquivados imediatamente na pasta de tremendas bobagens. “Já enfrentamos Boston um monte de vezes, e eles sempre fizeram questão de ir além do basquete, sempre nos superando em jogos mentais e no jogo físico. Aprendemos que o único modo que os derrubaríamos seria na dedicação ao jogo de basquete”, afirma Dwyane Wade.

É, Stephenson, tem o Cole para provocar antes do LBJ

É, Stephenson, tem o Cole para provocar antes do LBJ

E, aliás, na hora de jogar basquete, o ala-armador por enquanto tem de se preocupar muito mais com Norris Cole e Ray Allen do que com LeBron. O armador topetudo do Heat infernizou a vida do titular do Pacers nas últimas duas partidas, atacando seu drible com ferocidade. E aí que está: Stephenson tem habilidade para seu tamanho, é um diferencial que ele oferece para a armação do time, mas, individualmente, não é nenhum Allen Iverson ou Carlos Arroyo, enfrentando percalços quando pressionado por alguém mais ágil. Em Miami, com o baixinho grudado a seus braços, seu rendimento despencou, comparando com o que apresentou em Indianápolis. Do outro lado, não é sempre que consegue perseguir um veterano 15 anos mais velho.

Sim, conforme dito: Stephenson ainda é um produto em formação. Com muito potencia, mas ainda com buracos em seu jogo que podem ser explorados por oponentes que não se perturbem com suas fintas e infantilidades.

Da sua parte, orgulhoso, o ala-armador afirmou que não se arrepende de nada do que tenha dito. “Tentei jogar bola, tentei irritá-lo, e acho que ele decidiu e conseguiu a vitória. Eu aguento as críticas, não tem problema”, afirmou. Para seus companheiros de equipe, contudo, as coisas não ficam desse jeito –  em mais uma manifestação pública de discórdia, com a preciosa química do início da temporada escoando sem parar pelo ralo.

Antes da terceira derrota na série, Paul George já havia se pronunciado de maneira ressabiada. “Ele está falando para o cara errado, latindo para a árvore errada. LeBron é desse jeito, se motiva a partir dessas coisas”, disse. “O Lance é um cara genuíno. Ele poderia às vezes ser mais modesto e manter as coisas entre nós.”

Depois do jogo, o ala já não foi tão dócil assim. “Sabe, o Lance é jovem, e essa foi uma lição. Tem hora que você apenas tem de controlar o que fala. Você está num palco grande. Tudo o que você diz vai ganhar um significado mais forte. Temos de ser mais espertos nessas situações, na hora de expressar nossas opiniões. Quando você provoca e se vê em um duelo, você tem de corresponder, tem de se garantir. Tenho certeza de que um monte de gente ia ficar ligado para ver o que Lance faria devido ao que ele disse.”

O armador George Hill, por outro lado, disparou: “Quanto mais a gente puder ficar quietos e apenas jogar bola, será melhor para nós”.

Momento de reflexão, Stephenson

Momento de reflexão, Lance. Sem arrependimentos

A cotação de Stephenson já vinha caindo – junto com a produção coletiva da equipe. Na final do Leste, ele escolheu a pior hora para relembrar o mercado sobre suas extravagâncias.

Ao final da temporada, pelo menos dez franquias estarão mais de US$ 12 milhões abaixo do teto salarial – o que não é o caso de Indiana, que terá algo em torno de US$ 66 milhões comprometidos para o ano que vem, caso decidam manter Luis Scola, enquanto as projeções de para a aplicação da temida luxury tax são para cada dólar gasto a partir dos US$ 77 milhões. Além disso, o time estaria obrigado a completar seu elenco com pelo menos mais dois contratos mínimos, o que elevaria a folha a US$ 70 milhões. Isto é, caso o versátil atleta aceitar uma proposta acima de US$ 7 milhões, o Pacers, uma franquia num dos menores mercados da liga, teria de arcar com as consequências financeiras para mantê-lo em sua base.

Dependendo do que LeBron, Wade e Bosh decidirem, a classe de agentes livres de 2014 não será das mais generosas. Temos Eric Bledsoe e Kyle Lowry como opções mais jovens entre aqueles que não têm restrição nenhuma, enquanto Pau Gasol e Paul Pierce puxam a fila dos velhinhos, e aqui, nem vale incluir Dirk Nowitzki, tá? Outros nomes: Greg Monroe, Rudy Gay, Zach Randolph, Gordon Hayward, Chandler Parsons, sendo que alguns deles são restritos, com seus respectivos times tendo a palavra final sobre qualquer negócio, e outros precisam exercer cláusulas contratuais para entrar na roda.

Quando muitos clubes têm grana para gastar e poucos craques estão ao seu dispor, é quando somos brindados com aqueles contratos atrozes, em que os agentes extorquem os dirigentes com sadismo. Nesse contexto, o ala-armador do Pacers aparece como uma opção intrigante, ainda que de risco.

A cada bandeja espetacular, alternada com uma presepada no Jogo 5, é para se pensar bem sobre o que vem por aí com Stephenson. O Pacers já apostou no atleta uma vez e, no custo x benefício, saiu ganhando. Até aí, era fácil, já que ele recebeu apenas US$ 980 mil de salário neste ano. Para seu próximo contrato, no entanto, a expectativa é de um valor muito maior que essa… Hmm… Mixaria.

Alguém vai se candidatar a tentar domar a fera, a refinar seu talento, torcendo para que seu comportamento se amanse a cada página de calendário dispensada? Segundo os setoristas norte-americanos, há diversos clubes realmente preocupados com isso. Até que ponto a franquia está disposta a pagar para ver?

Bem que Larry Bird gostaria de adiar essa decisão. O presidente do clube preferiria fazer projeções sobre sua equipe, sobre como os Pacers se comportaria contra Spurs, ou Thunder – mas isso já parece muito distante. Em sua curva ascendente e sinuosa, ainda não chegou a hora de Stephenson encarar LeBron.