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Arquivo : Pacers

Gigantão Hibbert desequilibra e ajuda o Indiana Pacers a fazer frente ao Miami Heat
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Giancarlo Giampietro

Hibbert, uma encrenca

Nem assim: está difícil para o Miami Heat segurar o dinossauro Roy Hibbert

Quando  se assiste ao homem em quadra na estas finais da Conferência Leste, Roy Hibbert passa a impressão de ser tão grande, mas tão grande que o Miami Heat nem consegue incomodá-lo com faltas. Pelo menos é o que acontece quando o Indiana Pacers encontra um bom equilíbrio  em seu ataque e abastece seu pivô nas imediações do garrafão, como nesta terça-feira. Liderada pelo sujeito de 2,18 m de altura, a resiliente equipe de Frank Vogel venceu por 99 a 92 e empatou a série melhor-de-sete em 2 a 2.

Não era para ser assim. Eles supostamente eram dinossauros em extinção, vítimas de uma revolução aqui já propagada em diversas ocasiões. Na liga NBA, não era, mesmo, para ter mais espaço para esse tipo de espécime, os pivôs lentos, que obtêm relevância com o arcaico jogo de costas para a cesta, daqueles que se arrastam em quadra. Mas Hibbert está aí para provar que tudo se adapta. Que nesta vida – e no basquete – tudo tem jeito.

Roy Hibbert x Chris Andersen

O meio-gancho de esquerda: fundamentos trabalhados em Georgetown em desenvolvidos pelo Pacers. Tyler Hansbrough observa atentamente

O gigante marcou 23 pontos e coletou 13 rebotes, seis deles ofensivos, alguns desses extremamente importantes no quarto final, dominando qual fosse o adversário que ousasse se colocar em seu caminho na direção da cesta. Chris Bosh, Chris Andersen, Joel Anthony e por vezes até um corajoso Shane Battier tentaram, mas não puderam lidar com o cara, que converteu 10 de seus 16 arremessos, em 40 minutos de ação.

O aproveitamento de quadra é espetacular, mas vale ainda mais destaque o tempo de jogo: carregando seus 127 kg de um garrafão para o outro, num jogo intenso como esse, Hibbert descansou por apenas oito minutos e ainda foi bastante efetivo, atuante, decisivo nos momentos derradeiros do quarto período. Com o jogo empatado em 89 a 89, com menos de 2min50s por jogar, ele teve fôlego, pernas e cabeça para apanhar dois rebotes cruciais no ataque. O primeiro veio com 2min43s para o fim, seguido logo por uma bandeja. O segundo veio com 1min30s, antes de mais uma bandeja, mas dessa vez com um detalhe: a quinta falta de LeBron, que viria a ser excluído pouco tempo depois. Até mesmo um atleta com a força física e elasticidade de LeBron tem dificuldade em fazer frente ao brutamontes.

Mas não é só força ou tamanho, claro. Para o pivô causar impacto, é preciso fundamento e paciência – tanto próprios como dos companheiros, que precisam saber o momento certo de servi-lo e, não só isso, saber o ângulo certo e a velocidade para fazer o passe de entrada, algo que parece simples assim no, hã…, papel, mas que fica bem mais difícil quando você tem alguém com os reflexos de Mario Chalmers, Dwyane Wade e James pela frente.

Dessa vez o Pacers encontrou seu grandalhão com mais frequência. De tão grande, Hibbert praticamente inviabiliza a marcação frontal, uma vez que pode esticar os braços por trás de seu marcador neste caso e, com o ombro colado nas costas dele, cria uma separação suficiente para receber a assistência. O que o Miami não fez e deve estudar para o quinto jogo é a dobra em cima do pivô quando ele coloca a bola no chão partindo para o gancho ou a bandeja, para tentar o roubo de bola, o desarme no drible ou passe. Ele teve apenas um desperdício de posse de bola neste confronto. Aqui ele se livrou sem problemas do Birdman:

Sobre a brincadeira de não conseguir nem parar nas faltas, não é bem assim, tá? Nos dois jogos anteriores, o gigante cobrou 25 lances livres, uma quantidade expressiva. E o pior: ele é daqueles que converte o tiro com os pés plantados. Seu aproveitamento na série até esta terça era de 22 cestas em 27 arremessos, acima de 81%.

Fato é que Spoelstra vem tendo um trabalhão danado para lidar com Hibbert, que já havia marcado 19, 29 e 20 pontos nas três partidas anteriores, e buscado 32 rebotes no geral (mas com oito turnovers). É por isso que, confiante na habilidade de seu pivô, Frank Vogel se gabou por meses e meses que seu Indiana Pacers não se ajusta ao adversário. Que eles têm uma identidade, um estilo de jogo e iriam com isso até o fim, forçando que os oponentes, sim, se virem com o que eles oferecem.

Por isso foi tão estranha sua decisão de colocar o pivô no banco para defender aquela que se transformou na última posse de bola do jogo 1, na prorrogação , ainda Miami. Assumindo o erro, sem ter ninguém para fechar a porta na cara de LeBron, afirmou que jamais voltaria a fazer isso. Pelo que Hibbert tem feito desde então, fica realmente difícil tirá-lo de quadra.

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Os horrendos uniformes do All-Star de 95 em Phoenix

Conexão Georgetown: Ewing, Dikembe Mutombo Mpolondo Mukamba Jean-Jacques Wamutombo e Mourning

Quem assistiu ao ótimo jogo de Hibbert em Indianápolis foi seu técnico universitário, John Thompson III. Os dois trabalharam juntos em Georgetown, uma usina de pivôs talentosos nos últimos 30 anos, tendo revelado Patrick Ewing, Alonzo Mourning e Dikembe Mutombo. Othella Harrington e Mike Sweetney a gente não conta, ok?

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Assim como Ewing, Hibbert tem nacionalidade jamaicana, com a diferença de que nasceu nos Estados Unidos, vizinho de Scott Machado no Queens. Ele defendeu a seleção caribenha nos bagunçados torneios da América Central e, depois, ficou se remoendo de arrependimento. Hoje um All-Star, com um salário em média de US$ 14 milhões, o grandalhão em 2008 não tinha tanta confiança de que fosse prosperar assim em 2008 quando abriu mão de jogar pelos Estados Unidos.

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Curiosamente, Hibbert já veio jogar no Brasil com a seleção norte-americana. Foi no Pan de 2007, no qual um time de universitários dirigido por Jay Wright, de Villanova, fracassou enfrentando uma série de mistões do continente. Ao seu lado estavam jogadores como o armador Eric Maynor (Blazers e futuro agente livre), o ala Wayne Ellington (Cavaliers) e o ala-pivô DJ White (Celtics) – Joey Dorsey, ex-Rockets e Olympiakos e James Gist, do Panathinaikos, foram outros destaques. Ele tinha apenas 20 anos, era o mais badalado da equipe, mas não se destacou na futura Arena HSBC, com médias de 10 pontos, 3,4 rebotes e 47,7% nos arremessos em 21min. Quem se lembra?


Será que Chris Andersen nunca mais vai errar um arremesso pelo Miami Heat?
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Giancarlo Giampietro

Birdman! Birdman!

A torcida do Miami já venera seu Birdman

Tá bom, não precisa de sensacionalismo: em vez de arremessos no título, o mais honesto seria colocar “enterradas” ou “bandejas”. : )

Na hora de fazer as contas, porém, a nomenclatura ou o modo como ele ataca a cesta pouco importam: os resultados têm sido extraordinários. O pivô reserva do Miami Heat converteu suas quatro tentativas de cesta contra o Indiana Pacers neste domingo – vitória essencial fora de casa – e agora já soma quatro partidas seguidas com 100% de aproveitamento, se beneficiando com muito oportunismo das chances criadas por seus talentosos parceiros.

Sim, desde os 9min18s do quarto período do terceiro jogo da semifinal contra o Chicago Bulls, em que falhou em um disparo de média distância, o Birdman não errou mais. Já são 16 ‘arremessos’ e 16 bolas encaçapadas desde então, com 82 minutos de tempo de jogo. Uma eficiência absurda para um jogador que começou o ano desempregado e que Pat Riley relutou a contratar, até que, de tanto pedir, o técnico Erik Spoelstra conseguiu dobrar o chefe. Veja seu quadro de arremessos durante os mata-matas:

Chris Andersen e a perfeição

Verde: acima da média; vermelho: abaixo. Dãr. Notem, porém, que Andersen arriscou apenas dois chutes fora de sua zona de conforto. Apenas dois! Para um sujeito considerado avoado durante toda a carreira, nada mal. Acertar 89,4% dos arremessos dentro da zona pintada é algo ridículo de bom. Para se ter uma ideia, LeBron converteu ali 72,1% na temporada regular

Em quadra, o pivô, dos mais atléticos da liga em sua posição, vem fazendo de tudo, então, para agradecer a confiança que recebeu – quando, na verdade, são os dirigentes e treinadores da equipe da Flórida que deveriam se sentir agraciados por qualquer tipo de intervenção do destino por poderem contar um jogador deste nível a preço de barganha.

E ele não está nem aí. Quando questionado ainda em Miami, depois da primeira partida contra o Pacers, sobre seus números, respondeu com outra pergunta – algo que não se faz, né? “É isso o que estou arremessando? OK, então. Eu nem penso sobre isso. Eu apenas pego o que a defesa dá para mim”, disse o homem-pássaro. Mas ele deveria tomar nota, sim? Porque é algo histórico.

A combinação de seu  aproveitamento ofensivo sensacional com a habilidade no rebote (10,1 por jogo em uma projeção por 36 minutos) e a destreza para dar tocos (3,4 por 36 minutos!) o impulsiona a ser o segundo colocado no índice geral de eficiência do NBA.com nestes playoffs. Atrás apenas de LeBron James. Em outra medição estatística avançada, a PER de John Hollinger, ex-analista da ESPN e hoje vice-presidente do Grizzlies, mais uma bomba: Andersen vem sendo O Melhor – ou, vá lá, O Jogador Mais Produtivo – da fase decisiva. Glup, glup, glup. Está acima, pela ordem, de Chris Paul, Kevin Durant e LeBron. Sério, cliquem aqui pra conferir.

Acho que, com esses dois dados acima, um tanto chocantes, é uma boa hora de fechar o post. Para quem não viu, já escrevi sobre como o Birdman se entrosou bem com seus novos companheiros depois de meses e meses de exílio. Então, para fechar, mesmo, seguem suas quatro cestas contra o Pacers na chegada a Indiana,  que mostram bem sua capacidade de finalização perto debaixo do aro. Tenham em mente que este é um cara de 2,08 m de altura:


Miami Heat esquece jogo exterior para demolir a defesa do Indiana Pacers
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Giancarlo Giampietro

Quem falou que é obrigatório ter um grandalhão excepcional para se orquestrar um potente ataque interior?

Bem, o Miami Heat mostrou neste domingo contra o Indiana Pacers que uma coisa não tem a ver obrigatoriamente com a outra. A não ser, claro, que estejamos preparados para nomear Udonis Haslem, com seus surpreendentes 17 pontos e 7 rebotes no jogo 4, como o novo superpivô da liga.

LeBron James x Paul George

LeBron: calma com a bola, buscando sempre o jogo interior desta vez

Abrindo mão de seu jogo exterior, com um basquete extremamente agressivo e, ao mesmo tempo, e pragmático, a equipe da Flórida estraçalhou a melhor defesa da NBA para vencer por 114 a 96 e retomar o controle da Final da Conferência Leste, com dois triunfos em três partidas.

Antes de falar sobre o que o Miami fez em seu ataque, vale um breve comentário sobre a defesa de Indiana. Por mais forte que seja sua retaguarda, uma coisa esses caras não fazem bem, por questão de disciplina e princípios até: pressionar a linha de passe. Frank Vogel comunga da ideia de que seus marcadores devem ficar colados a seus respectivos adversários, sem fazer muitas dobras ou sair de um posicionamento mais adequado em busca de uma roubada ou toco. Desta forma, conseguem uma boa contestação aos arremessos de fora de seus oponentes, uma vez que os arremessadores não têm muito espaço para receber a bola e subir para o chute.

O que Erik Spoelstra ordenou, então, foi que os atuais campeões agredissem o garrafão dos donos da casa sem parar. Era preciso medir, calcular os passes na hora de fazer o jogo de costas para a cesta – no qual LeBron James foi mortal –, ou espaçar bem seus atletas e caprichar na movimentação de bola lateral para que os ângulos para as infiltrações fossem criados. Funcionou direitinho, com uma execução indefectível por parte de seus atletas.

Sente-se na cadeira e assimile  os seguintes números: aproveitamento 54,5% nos arremessos de quadra e apenas cinco desperdícios de posse de bola cometidos. Cinco turnovers em 48 minutos, um a cada 9 minutos e pouco. Impressionantes a precisão técnica e a consistência tática.

Eles tentaram apenas 14 disparos de três pontos, sendo que, no primeiro tempo, foram apenas cinco. Na verdade, dos 14 no total, quatro vieram nos últimos minutos de jogo, com a fatura já liquidada. Nas duas primeiras partidas, que valeram realmente até o último segundo, foram 40 arremessos.

LeBron arriscou apenas um chute de fora, sendo muito mais acionado nos arredores do garrafão. Dwyane Wade, então, não tentou nenhum – o que, no seu caso, é algo mais que positivo, já que nunca foi bom, muito menos medíocre neste fundamento (28,9% na média, 31,7% no melhor ano, 2008-09).

Sobre os cinco turnovers, um espetáculo, considerando que eles cometeram 20 na primeira partida e 14 na segunda. No primeiro tempo, cometeram apenas um. Não por acaso, combinando esses dois fatores, marcaram 70 pontos em 24 minutos, com média de 62,8% nos arremessos.

Esse rendimento é bastante possível quando você tem LeBron James e Dwyane Wade dividindo a quadra. A habilidade dos dois ou de (?) Mario Chalmers e Norris Cole, porém, está longe de ser a única explicação para o sucesso que o Heat teve contra o Pacers neste domingo. Tem muito mais a ver com planejamento e conscientização de seus jogadores.

Pode ter durado apenas 48 minutos, até porque o oponente virá com seus ajustes para o próximo jogo. De qualquer forma, foi uma exibição, e tanto, que vale o DVD gravado.

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Udonis, gente, o Udonis!

A cesta ficou maior para Haslem neste domingo

Quem é vivo aparece. E Udonis Haslem, contrariando a forte boataria que se espalhou por todos os lados nos últimos meses, está vivo. Por essa Hibbert não poderia Vogel realmente não poderia esperar: “Será que ele vai arremessar 8 de 9 toda noite? Se ele fizer isso, provavelmente será uma série difícil para nós”, afirmou o técnico, irônico e inconformado.

Nos dois primeiros jogos do confronto, Haslem marcou três pontos. Digo: dois no dia 22 de maio e mais um no dia 24. Entendeu? Três pontos, tendo acertado apenas um de sete arremessos. Aí que, em sua visita a Indianápolis, ele resolveu matar oito de nove arremessos, muitos de média distância, algo que sempre foi sua especialidade, mas que ele havia perdido por completo.

Faz muito tempo que não saía nada nessa linha: contra o Milwaukee Bucks, na primeira fase, sua média foi de 7,5 pontos. Contra o Bulls, na sequência, 5,2 pontos. Na temporada regular? Pior ainda: 3,9 pontos.

Apesar da produção anêmica ofensiva, Spoelstra se manteve fiel a seu veterano, dando a ele a condição de titular em 59 partidas das 75 em que esteve disponível. O principal fundamento em o jogador ajuda, aliás, é o rebote, e ele está em quadra basicamente para batalhar debaixo do aro, compensando as limitações de Chris Bosh nesse quesito.

“Veja, nós conhecemos Udonis Haslem há uns dez anos. Ele provavelmente já disputou mais batalhas de playoff do que qualquer um neste vestiário. Ele sempre foi grande nos maiores momentos, quando você precisa dele, quando há adversidade”, disse o técnico do Heat, orgulhoso que só de sua escolha

Spo foi brindado com uma noite especial de Haslem, bem além de “apliação tática”. Por uma noite especial, o veterano ala-pivô, de 32 anos, resolveu a parada. “Meus camaradas continuaram me encontrando. O crédito é deles, eles me encontraram, e eu apenas arremessei com confiança”, disse. “Eu sempre quis contribuir de qualquer jeito que fosse. Hoje eu estava apenas acertando os arremessos.”

Simples assim? O Pacers espera que não.

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O Miami Heat venceu 23 de seus últimos 24 jogos fora de casa, contando a temporada regular, incluindo cinco nos mata-matas.


Lesão de Granger abre espaço para o Indiana Pacers ganhar um jovem astro: Paul George
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Giancarlo Giampietro

Dava um pôster, não fosse a derrota no fim

Paul George força a prorrogação com um arremesso quase acrobático de três pontos

Frank Vogel tem seus argumentos, mas admitiu que errou ao tirar Roy Hibbert de quadra para defender aquele que acabou sendo o último e fatal ataque do Miami Heat na primeira partida da final da Conferência Leste. Foi crucificado em praça pública, como se já não prestasse para mais nada, mesmo tendo sido um dos melhores treinadores nas últimas duas temporadas da NBA.

Entende-se, de alguma forma, toda a repercussão. O lance derradeiro, aquele no qual LeBron James mostrou toda sua inteligência e habilidade, batendo Paul George para uma bandeja de canhota, sem ter de enfrentar a cobertura de Roy Hibbert, pode já ter sido o momento capital de toda uma série. Vamos ver.

Mas, diante de toda a discussão sobre a decisão de Vogel em sacar de quadra sua muralha jamaicana, um ponto importantíssimo foi até subestimado: o simples fato de que o Indiana Pacers exigiu o máximo de seu adversário para ser derrotado – uma jogada genial de James no último segundo da prorrogação. Em Miami.

E isso foi possível apenas pelo sólido conjunto que Vogel desenvolveu nas últimas temporadas e, em especial, pelo desenvolvimento, sem alarde algum, de Paul George, a mais nova adição ao grupo de estrelas da NBA.

Paul George x LeBron James

George encara LeBron naturalmente

Seu jogo pode ser espetacular em muitas ocasiões, dada sua capacidade atlética incrível e o tanto de que depende sua equipe de sua criatividade e de seus recursos técnicos. Mas nada nas expressões faciais ou corporal de George sugere que ele esteja minimamente impressionado – ou, melhor dizendo, deslumbrado – com tudo isso. Ele age como tudo isso fosse muito natural, com a maior tranquilidade do Midwest americano. Uma postura bem diferente daquele calouro que ingressou na liga em 2011, até um pouco assustado, sem saber direito o que fazer com a bola. Sim, uma transformação incrível, que aconteceu até que por acidente.

Por meses e meses o Pacers tratou a tendinite nos joelhos de Danny Granger como algo solucionável, sem pânico. O ala fez um longo tratamento e foi retomando as atividades em quadra aos poucos. Quer dizer, tentando retomar. Quando chegou fevereiro, a dor não passava, sua condição física era deplorável, e a equipe foi obrigada a descartá-lo em definitivo para esta temporada. Um desastre, era o que qualquer torcedor da franquia teria dito em outubro de 2011. Meses depois, com a ascensão de George, a perda já não era tão irreparável assim, a ponto de muitos apostarem numa troca do veterano por alguém que pudesse dar suporte ao novo líder da companhia.

Méritos para a direção do Pacers, chefiada até o ano passado por Larry Bird, cujo trabalho teve sequência com o veteraníssimo Donnie Walsh e pelo irrequieto Kevin Pritchard, que teve paciência para ver o time se desenvolver em quadra sem Granger. E palmas ainda mais fortes para a comissão técnica liderada por Vogel, que, mesmo num time que briga por vaga nos playoffs, conseguiu desenvolver seus atletas mais jovens. Hibbert, em vez de um frágil alvo defensivo numa liga cada vez mais veloz, se tornou um dos melhores defensores da zona pintada. Lance Stephenson, de esquenta-banco e encrenqueiro, passou a bom soldado e ótimo escolta (defende bem, ajuda na armação e ainda oferece, quando necessária, uma válvula de escape com infiltrações ainda em desenvolvimento). Mas  salto mais significativo realmente foi de seu camisa 24. Veja um pouco do que o cara aprontou durante o ano:

George elevou suas médias em pontos, rebotes e assistências regularmente em suas três primeiras temporadas como profissional. O dado mais interessantes dentre esses foi o de passes para a cesta, que saltaram de 1,8 para 4,0 por 36 minutos de média, entre 2011 e 2013. Sinal de aprimoramento na leitura de jogo. Se ele ainda comete um número elevado de turnovers (2,8 a cada 36 minutos), estes erros com a bola subiram em menor proporção do o que de jogadas certas. Quer dizer, mesmo tendo muito mais volume de jogo este ano (ele trabalha com 23,5% das posses de bola de sua equipe, contra 17,8% da primeira campanha e lidera os playoffs em minutos jogados, com 545 em 13 partidas, 41,9 por noite), seu jogo progrediu em termos de eficiência. Bom para ser eleito o atleta que mais evoluiu na temporada. E o melhor – ou pior, dependendo do seu ponto de vista na Conferência Leste: aos 23 anos, ele está apenas começando.

Ainda fica evidente que George tem muito o que desenvolver em seus dribles – é na hora de enfrentar corta-luzes que ele costuma se atrapalhar mais – e nos arremessos em geral, mesmo próximo da cesta, considerando sua impulsão e agilidade. Sua dificuldade de média distância também acontece em decorrência do drible eficiente, já que não consegue se desvencilhar frequente e adequadamente dos marcadores. Veja seu quadro de rendimento nesta temporada:

Abaixo da média em chutes de média distância, na média em três pontos e ótimo na zona morta pela esquerda

No saldo geral, seus percentuais de dois e três pontos caíram.

Mas é normal que ele oscile desta maneira, sem estresse. Afinal, foi sua primeira temporada como protagonista, de modo que pôde, jogo a jogo, aprender com seus próprios erros, entendendo como as defesas vão encará-lo sem ter um Granger ao seu lado para aliviar a pressão. Além de qualquer número, o que se ressalta, mesmo, ao observar George em ação nestes playoffs é seu amadurecimento, no sentido pleno, esplicitado por sua capacidade assustadora de lidar com LeBron James e Dwyane Wade no mano-a-mano como se fossem adversários regulares. Confira a facilidade com a qual bate Wade em diversas infiltrações – por mais que Wade esteja com o joelho estourado, ainda estamos falando o mesmo cara eleito para o terceiro time da temporada, ao lado de James Harden e justamente de George:

É um amadurecimento e sobriedade que se refletem em suas entrevistas. Como nesta declaração aqui sobre a maior carga de responsabilidade que lhe coube no campeonato: “Sabia que, chegando ao meu terceiro ano, eu precisaria ter uma grande campanha. E, com Danny fora, isso ampliou o nível de desempenho de que eu precisaria, a consistência de que eu precisaria. Teria de segurar isso”.

Outra que chamou a atenção: quando soube que foi eleito aquele que mais evoluiu no ano, quando esperava, na verdade, ter mais chances de ganhar como o melhor defensor, ficando meio implícita de que era a sua preferência, na verdade. Mas que, tudo bem, ainda ganharia esse prêmio algum dia. Vogel, Bird, Walsh… Não poderiam ficar mais orgulhosos. Não são muitos os atletas que se orgulhem ou se apeguem tanto a sua capacidade defensiva.

Por isso, embora tenha lamentado a ausência de Hibbert naquela bola contra LeBron, acostumado a ter um grandalhão para lhe dar cobertura, George tratou de assumir sua própria falha. “Tenho de entender que é preciso fazer de LeBron um arremessador naquele ponto”, afirmou. “Foi diferente. Estou habituado a ser agressivo em cima da bola e ter Roy atrás. Mas, estando numa situação dessas, tenho de saber quem está em quadra comigo e o que queremos de LeBron.”

O ala do Pacers deu um passe extra na cabeça do garrafão e permitiu que o oponente fizesse o corte em direção ao aro. Um pequeno detalhe, mas que pesou tanto como a estratégia equivocada de Vogel:

Mão erguida, falha assumida, segue o jogo. “Nós temo de ficar com a cabeça erguida. Nós não temos muitos altos, nem muitos baixos “, afirma. Aqui só cabe um reparo: para Paul George e o Pacers em geral, parece é que apenas para o alto que eles vão.

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Discreto em quadra, em constante evolução, talvez George só precise agora rever seus conceitos figurinísticos. Ele subiu assim ao palanque para falar sobre sua grande – mas frustrada – exibição contra o Miami Heat na quarta-feira:

Paul George na estica?

Lembra um pouco o figurino do Dunga, não?


Na NBA, sobram as três melhores defesas (e o Miami Heat) na disputa pelo título
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Giancarlo Giampietro

Pesadelo para Melo

Carmelo pode dizer uma coisa ou outra sobre a defesa do Indiana Pacers

“De-fe-sa!”, “de-fe-sa!”

“De-fe-sa!”, “de-fe-sa!”

“De-fe-sa!”, “de-fe-sa!”

Fora o pianinho clássico acompanhando um ataque nos instantes finais, eternizado nos games Lakers vs Celtics, temos entre os clichês do basquete esse grito, que se disseminou por tudo que é lugar em que pingue uma bola de basquete a partir das transmissões globalizadas da NBA. Há mesmo as torcidas que cantam só por cantar mesmo, talvez utopicamente, com a vã esperança de que seu time-peneira vá esboçar alguma reação na hora de proteger a cesta.

Bem, na temporada 2012-2013 da liga norte-americana essa brincadeira deu certo. Entre os quatro times que ainda lutam pelo título, estão as três defesas mais eficientes do campeonato, pela ordem: Indiana Pacers, Memphis Grizzlies e San Antonio Spurs. O quarto? O Miami Heat, claro, nono melhor nesse quesito.

Consideramos aqui a medição que foi primeiro elaborada por Dean Oliver, que integra o departamento de estatísticas da ESPN americana e já trabalhou na diretoria do Denver Nuggets, e encampada e levemente alterada por John Hollinger, vice-presidente do próprio Grizzlies. As estimativas abordam o número de pontos numa média de 100 posses de bola. Isso por quê?

Gasol & Allen

Marc Gasol e Tony Allen, dois dos melhores defensores da liga em suas posições

Bem, cada clube tem o seu próprio ritmo de jogo. Se uma equipe corre mais com a bola, atacando com menos segundos gastos a cada posse, a tendência é que ela sofra mais pontos, mesmo, não? Isso não quer dizer necessariamente que, na média, sua defesa seja a pior – talvez apenas mais vazada.

(Por outro lado, alguém pode argumentar que, no caso do time que adota um jogo mais metódico, gastando o cronômetro, já esteja se protegendo desde o princípio, controlando a bola ao máximo. Obviamente isso não pode ser descartado, mas sigamos adiante com a defesa-por-posse.)

Na temporada regular, o Pacers de Frank Vogel permitiu apenas 99,8 pontos a cada 100 posses de bola, seguido pelo Memphis Grizzlies (100,3) e pelo San Antonio Spurs (101,6). O Miami Heat terminou com 103,7.

Para se ter uma ideia de quão bom é o índice firmado pela turma de Paul George e Roy Hibbert, a distância entre o Pacers e o Heat (de 3,9 pontos) seria maior que a que existiu entre os atuais campeões de Miami e o Toronto Raptors (3,8), apenas a 22ª defesa da liga.

De acordo com a máxima de que “são as defesas que vencem o título”, poderíamos indicar, então, o Pacers como o favorito?

Bem, nem tanto. Sua proteção de garrafão deixa as coisas bem encaminhadas, mas essa ainda não é a resposta definitiva. Façamos uma pausa, antes de avaliar os quatro finalistas, para perguntar se o mote do parágrafo acima é inteiramente verdadeiro.

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Um estudo conduzido pelo analista Neil Pane, uma das almas angelicais por trás do Basketball-Reference, indica que, sim, as melhores retaguardas têm mais condições de ganhar o troféu, comparando historicamente os rendimentos coletivos dos dois lados da quadra.

Segundo suas contas, um time que tenha uma defesa medíocre e um ataque com 10 pontos acima da média da liga, teria 32,3% de chances para conquistar o caneco. Por outro lado, se a sua equipe mantiver um ataque medíocre e tiver uma defesa que sofra 10 pontos abaixo da média, sua probabilidade de título sobe para 80,1% – e mesmo uma equipe que sofra 7 pontos a menos do que a média do campeonato teria um candidatura mais sólida, com 39,1%.

Tiago Splitter x Dwight Howard

Splitter ajudou o Spurs a se tornar uma das melhores defesas da NBA novamente

Agora, para comprovar que seu levantamento não é pouco, Paine fez as mesmas contas excluindo o avassalador Boston Celtics de Bill Russell, que defendia muito e penava para fazer cestas em alguns anos, podendo desequilibrar o balanço do ponto de vista histórico. Fazendo uma pesquisa só a partir da fusão NBA-ABA em 1976, a distância entre ataque e defesa cai consideravelmente, mas ainda pende para a contenção. O melhor ataque tem 43,8%, de chances, enquanto a melhor defesa, 63,9%.

É difícil, porém, atingir a meta de dez pontos acima ou abaixo da média. Quanto menores esses números, menor a distância na chance de título também. Por exemplo: se um time faz 3,0 pontos a mais da média, a expectativa seria de 1,9%; se sofre 3,0 pontos abaixo, o número seria de apenas 2,4%.

“No entanto, a contínua proeminência da defesa, mesmo quando descartamos a dinastia do Celtics da amostra, sugere que as equipes devam priorizar a excelência deste lado da quadra se querem vencer um campeonato”, escreve Paine.

Ponto destacado e anotado. Mas ainda não é tudo.

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Phil Jackson, o homem dos 11 anéis de campeão da NBA, nunca se cansa de enfatizar que as coisas estão totalmente interligadas: um bom ataque e uma boa defesa. Quanto menos precipitações (arremessos forçados e turnovers) você tiver tentando a cesta, melhores suas condições de armar sua retaguarda, propiciando menos contra-ataques, voltando com equilíbrio.

E “equilíbrio” seria a palavra-chave, mesmo, tanto do ponto de vista conceitual como estatístico, como escreveu nesta semana o analista Kevin Pelton, da ESPN, outro representante da crescente comunidade nerd do basquete. Reduzindo seu campo de pesquisa de 1980 para cá – o ano em que a linha de três pontos foi pintada nas quadras da NBA e também um marco extremamente relevante nessas contas –, constatou que 14 campeões tinham o melhor saldo de cestas da temporada (mais de 40%), sabendo dosar um bom ataque e uma boa defesa.

“É difícil encontrar exemplos de times com uma fraqueza em cada lado da quadra vencendo um campeonato. Nos últimos 33 anos, apenas dois times venceram o título com uma unidade abaixo da média durante a temporada regular: o Los Angeles Lakers 2000-2001 (fraco na defesa) e o Detroit Pistons 2003-2004 (fraco no ataque)”, escreveu Pelton.

O Lakers de 2001 foi uma anomalia na carreira de Phil Jackson, que envelheceu uns bons anos tentando administrar a conturbada relação entre Kobe Bryant e Shaquille O’Neal. Depois da conquista de seu primeiro título, o time deu aquela relaxada, despencando de melhor defesa na campanha anterior a 21ª, apesar de manter a mesmíssima base, que funcionava direitinho no ataque (segundo melhor índice). Absurdo, né? Acontece que, chegando aos playoffs, decidiram ligar o turbo e venceram 15 de 16 partidas, cedendo apenas um triunfo para o Philadelphia 76ers de Iverson e Larry Brown na primeira partida da decisão. Já o Pistons de 2004 teve Rasheed Wallace, seu melhor atleta, por apenas 22 partidas, depois de ele ser adquirido numa das trocas mais desequilibradas da história durante o campeonato.

O Oklahoma City Thunder teve o melhor saldo de cestas deste campeonato, com +9,2, mas suas aspirações ao título se encerraram com a lesão de Russell Westbrook. O Miami Heat aparece em segundo, com +7,9. O Spurs seria o quarto, com +6,4, enquanto Grizzlies e Pacers seriam sétimo e oitavo, com +4,1 e +4.

LeBron x Rose

A postura defensiva perfeita de LeBron James para segurar até um Derrick Rose

Na campanha dos rapazes de Erik Spoelstra, todavia, é possível encontrar alguma semelhança com aquele Lakers do início da década passada, começando o ano um pouco devagar (mas nem tanto) e esquentando as turbinas na metade do campeonato. No dia 1º de fevereiro, eles perderam a 14ª partida na temporada. Em 17 de abril, fecharam a conta com apenas mais dois reveses, engatando neste período sua incrível sequência de 27 vitórias. Durante esse período, seu lado de cestas foi de +11,9, o que seria a melhor marca da liga de longe, devido a uma melhora significativa na defesa, já entre as cinco mais eficientes neste período. Motivados pela busca do recorde histórico de triunfos consecutivos, viraram outra equipe. A mais equilibrada e com mais chances de título.

Descartando todos os dados enumerados acima, esse favoritismo do Miami não é novidade alguma e talvez pudesse ser explicado de modo mais simples pela soma de “LeBron” + “James”.

Só que, numa liga extremamente competitiva e rica, com recursos sendo empregados dos modos mais diversificados, as coisas dificilmente vão se desenrolar assim, de um modo tão fácil.

Com suas fortíssimas defesas, porém, Pacers e Grizzlies, com DJ Augustin, Sam Young, Ian Mahinmi, Keyon Dooling, Tayshaun Prince entre outras nulidades ofensivas em suas rotações, já derrubaram três dos cinco melhores ataques da liga (Knicks, Clippers e Thunder) e se colocaram na briga, ao menos com uma chance de surpreender.


Modelo sustentável de contratações é um dos segredos para a longevidade do Spurs
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Giancarlo Giampietro

Gary Neal, ele mesmo

Gary Neal não deixou muita saudade em Barcelona, mas se encaixou no Spurs

Ter um Tim Duncan ajuda. Um treinador com a versatilidade, inteligência e o cartaz de Gregg Popovich também. Quando você combina esses dois fatores, já tem grandes chances de encaminhar uma longa jornada de sucesso como no caso do San Antonio Spurs. Mas isso não serve como a única explicação sobre o quão vitoriosa – e por um período tão duradouro – a franquia texana vem sendo nos últimos 17 anos, desde que o pivô foi selecionado no Draft de 1997.

Um dos segredos para essa prosperidade está no modelo sustentável de contratações orquestrado justamente pelo Coach Pop e seu fiel companheiro RC Buford, gerente geral do Spurs, um clube que nunca ficou fora dos playoffs após a contratação de Duncan e, acreditem, só perdeu duas vezes na primeira rodada dos mata-matas durante essa sequência.

RC Buford, gerente geral

Buford tem sua parte significante no interminável sucesso do Spurs

Não que eles não gastem –  até porque, para manter seu renomado trio, custa dinheiro, por mais bonzinhos e fiéis que sejam. Sua folha de pagamento, porém, é apenas a 12ª maior da liga, tendo valido US$ 69,838 milhões nesta temporada. Foi um pouco menos do que desembolsou o Golden State Warriors, justamente a equipe que tanto lhe deu trabalho nas semifinais do Oeste, com US$ 70,1 milhões. Já uma comparação com a folha do Los Angeles Lakers, a mais custosa deste ano, é de envergonhar a família Buss, que torrou US$ 100,131 milhões numa equipe que foi varrida pelos rivais na primeira rodada dos mata-matas.

Os confrontos com o Lakers, aliás, deixaram evidentes as diferentes concepções de montagem de um elenco. As estrelas estavam em ambos os lados. Na hora de recorrer ao banco de reservas, contudo, Mike D’Antoni tinha um número bem reduzido de alternativas, ficando com a vida ainda mais complicada com a ocorrência incessante de lesões. Do outro lado, Popovich obviamente tinha Parker, Ginóbili e Duncan em forma, mas suas opções para complemento de rotação eram bem mais animadoras, caso necessárias. Tanto que o clube não teve receio em dispensar um cestinha comprovado como Stephen Jackson a apenas alguns dias dos playoffs, por “motivos-de-Stephen-Jackson”.

E como o Spurs montou seu elenco? Quem são esses jogadores baratos que se enquadram no modelo sustentável de gestão? Como eles buscaram essas peças complementares? Vamos lá:

Cory Joseph: o armador canadense tem apenas 21 anos e ainda está em desenvolvimento – e esse é um dos pontos positivos da equipe, que trabalha muito bem com seus atletas mais jovens. Joga pouco, mas bem, com 11 minutos sólidos por partida nos mata-matas, aproveitando suas chances para pontuar e sem cometer turnovers, para dar um descanso a Parker. Quando ingressou na Universidade do Texas, era badalado vindo do colegial – fazia parte das seleções de base de seu país. Os Longhorns não chegaram a empolgar tanto, com o armador sendo considerado muito cru e nada preparado para jogar na NBA. Mesmo assim, se inscreveu no Draft e foi premiado com a 29ª escolha pelo Spurs. Por causa da escala salarial imposta aos novatos, seu salário custa pouco mais de US$ 1 milhão.

Patty Mills: o terceiro armador na rotação de Popovich é o titular da seleção australiana e, quando Andrew Bogut não se apresenta, se torna o principal jogador de um time que sempre dá trabalho – e é dirigido, vejam só, por um assistente técnico de Popovich, Brett Brown. Então temos esse cenário: um atleta que não saiu muito valorizado da universidade de Saint Mary’s, mas que já tinha prestígio internacional. Mills foi selecionado apenas na posição 55 do Draft de 2009, dois anos antes de Joseph. Durante a temporada do lo(u)caute, assinou com o Melbourne Tigers, em seu país. Depois, foi para a China, para defender o Xinjiang Flying Tigers. Uma vez que não tinha mais contrato com o Blazers, quando a temporada chinesa se encerrou e voltou a ficar disponível para a NBA, assinou com o Spurs. Da espécie de formiguinha atômicas da liga, daquelas que pode botar fogo na quadra com sua habilidade ofensiva, custando também pouco mais de US$ 1 milhão.

Gary Neal: ala-armador que não teve a carreira universitária mais expressiva e começou a preencher seu currículo na Europa, a começar pela Turquia. Em 2008, teve uma passagem bastante discreta pelo Barcelona ao lado de um envelhecido Pepe Sánchez. Foi no Benetton Treviso em que se encontrou, jogando por um dos clubes mais tradicionais do continente. Em 2010, defendeu o Málaga novamente na Espanha. Até que, do nada – do ponto de vista de quem nunca havia ouvido falar do jogador –, fechou um contrato de três anos com o Spurs no dia 22 de julho daquele ano, que se tornou uma tremenda de uma barganha: salário de US$ 854 mil, aproveitamento de 39,8% nos tiros de três pontos e a capacidade de sempre poder oferecer um pouco mais em quadra quando Parker e/ou Ginóbili estão fora. Vira agente livre ao final do campeonato.

Nando De Colo: ala-armador francês de 25 anos, 1,95 m de altura e um talento natural impressionante, de movimentos fluidos, boa visão de jogo e arremesso em evolução. Ganhou quase 13 minutos de média durante o campeonato, mas, com Ginóbili novamente em forma, não sai mais do banco durante os playoffs. De qualquer forma, devido ao que mostrou em seu primeiro ano de liga, o Spurs já sabe que poderá contar com ele no futuro. Draftado na posição 53 em 2009, ficou na Europa por mais três anos, progredindo naturalmente, jogando na Liga ACB, a liga nacional mais difícil da Europa. Salário de US$ 1,4 milhão neste ano e no próximo.

Danny Green, versão Euroliga

Danny Green, em dias eslovenos

Danny Green: ala de 25 anos formado na tradicional Universidade de North Carolina, pela qual foi campeão em 2009 como titular. O único jogador da história dos Tar Heels a somar mais de 1.000 pontos, 500 rebotes, 200 assistências, 100 tocos e 100 roubos de bola. E é isso mesmo: fazia um pouco de tudo pela equipe, mas nada excepcionalmente bem, a ponto de ser questionado: será que poderia se transformar em um jogador de NBA? Os analistas com viés estatístico juravam que sim. Foi selecionado pelo Cleveland Cavaliers de LeBron James em 2009, na 46ª posição – percebam que estamos falando de mais um caso de jogador escolhido na segunda rodada do Draft. Não foi aproveitado pela franquia, porém, sendo dispensado em outubro de 2010. O Spurs o contratou em novembro e o dispensou duas semanas depois. Jogou na D-League até retornar a San Antonio para o final da temporada. Durante o lo(u)caute, assinou com o Union Olimpija, da Eslovênia, clube de Euroliga, e vinha em uma grande campanha até que exerceu uma cláusula de liberação quando a NBA garantiu sua temporada 2011-2012. Assinou por três anos e US$ 12 milhões.

Kawhi Leonard: o ala de apenas 21 anos já era bem cotado quando se candidatou ao Draft de 2011, mas o interessante foi como o Spurs conseguiu selecioná-lo. Leonard passou batido, de alguma forma, por 14 equipes até ser escolhido pelo Indiana Pacers a pedido do clube texano, em troca do armador George Hill, alguém que era natural de Indiana e se encaixava no plano de reconstrução de Larry Bird. Hill foi mais um que o Spurs selecionou em uma posição nada vantajosa (26ª em 2008) e que estava pronto para receber um aumento salarial que não se enquadraria no elenco de Popovich, mesmo sendo um dos favoritos do técnico. Antes de perdê-lo por nada, então, descolaram essa troca mágica. Hoje, Popovich jura de pés juntos que Leonard está destinado a virar um All-Star.

Boris Diaw: figura estabelecida na liga, mas, completamente desmotivado em Charlotte, foi dispensado pelo Bobcats em março de 2012, com problemas de peso (coloquemos assim, de modo educado). Foi recolhido pelo Spurs no ato, para jogar ao lado de seu melhor amigo, Tony Parker, e virar titular num time que esteve muito perto de se garantir na final no ano passado até levar uma virada incrível do Oklahoma City Thunder. Renovou por dois anos e US$ 9,2 milhões. Mais um contrato abaixo do valor de mercado e, melhor, de curta duração.

Splitter, bons tempos

Splitter, MVP na Espanha

Tiago Splitter: o catarinense foi a 28ª escolha do Draft de 2007. Era uma estrela na Europa, o que deixava sua contratação complicada: ganhava bem pelo Baskonia e a escala salarial de novatos da liga não permitiria que os valores fossem equiparados – sem contar a multa rescisória exorbitante. Mas tudo bem: tempo a franquia, sempre brigando nos playoffs, tinha de sobra. Esperaram três anos e conseguiram mais uma barganha, pagando US$ 11 milhões por três anos de vínculo com aquele que era o melhor jogador da liga espanhola. Depois de duas temporadas de pouco tempo de jogo, despontou este ano como titular e peça fundamental para o fortalecimento da defesa do Spurs. Agente livre ao final da temporada, aos 28 anos.

DeJuan Blair: cotado como um talento top 10 no Draft de 2009, teve suas aspirações abaladas pelo exame médico oficial da liga, que constatou problemas estruturais em seu joelho. A ponto de ser escolhido pelo Spurs apenas em 38º. Titular nos dois primeiros anos, perdeu espaço este ano com a ascensão de Splitter. Último ano de contrato, valendo US$ 1 milhão.

Matt Bonner: escolhido como o 45º do Draft de 2003 pelo Chicago Bulls, começou jogando na Itália até retornar ao clube e ser trocado para o Toronto Raptors. Progrediu bem no Canadá e virou alvo de Gregg Popovich. Está na liga por uma só razão, e isso não tem a ver com seu cabelo ruivo: tem aproveitamento de 41,7% na carreira em arremessos de longa distância. Habilidade que encaixou com o plano de jogo de Popovich perfeitamente nos últimos anos, espaçando a quadra para seus astros brilharem. Salário de US$ 3,6 milhões, inferior ao que Steve Novak, ex-Spurs, ganha em Nova York.

Aron Baynes: mais um australiano observado em primeira mão por Brett Brown, o gigante de 2,08 m e 118 kg assinou com o Spurs no meio da temporada, depois de arrebentar pelo mesmo Union Olimpija na Euroliga, com médias de 13,8 pontos e 9.8 rebotes (liderava o torneio neste fundamento até seu time ser eliminado). Recebeu apenas US$ 239 mil este ano – pela metade do campeonato – e tem salário de US$ 788 mil para a próxima temporada.

Sobre Tracy McGrady, desnecessário elaborar. Uma contratação pontual para os playoffs, com uma medida de segurança que Popovich espera não ter de usar.

Fazendo um balanço de tudo isso: são seis jogadores de fora dos Estados Unidos (sem contar Parker e Ginóbili) e mais dois americanos que vieram do basquete europeu; apenas um desses operários foi escolhido entre os 20 primeiros do Draft (Leonard); cinco saíram apenas na segunda rodada do recrutamento de calouros, sendo que Baynes e Neal nem selecionados foram; três deles (Mills, Green e Bonner) foram dispensados rapidamente por seus primeiros times. Todos eles estão abaixo ou na conta em relação ao valor de mercado da NBA (considerando idade x produção).

Com um departamento de olheiros atentos, que não tem limites na sua caça a talentos, uma direção que não dá tiro no pé, assinando contratos curtos e de valores palatáveis para uma cidade como San Antonio, uma das menores da liga, a franquia estabeleceu um método de trabalho que virou exemplar para toda a concorrência. Hoje são vários os dirigentes formados dentro do clube texano que gerenciam outras franquias – Sam Presti, do Oklahoma City Thunder, o principal exemplo entre esses.

Moral da história? Não basta ter sorte para vencer – como ganhar a primeira escolha num Draft com Tim Duncan disponível, justamente depois de um ano em que o Spurs, já competitivo no Oeste, sofreu com diversas e diversas baixas, David Robinson entre elas, e ficou fora inesperadamente dos playoffs. Quando isso acontece, faz um brinde, sorriso bem aberto, e segue em frente. E, se puder coletar Tony Parker e Emanuel Ginóbili, respectivamente, nas 28ª e 57ª escolhas do recrutamento de novatos, melhor ainda.


Inconstâncias de JR Smith complicam o Knicks na semifinal contra o Pacers
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Giancarlo Giampietro

Charlie Kaufman escreveu dois dos roteiros mais cativantes e instigantes para filmes (nem tão) recentes (assim) de Hollywood: “Quero Ser John Malkovich” (1999) e “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” (2004), peças que investigam, tentam compreender o que se passa literalmente por dentro de nossas cabeças doentias. Isso e mais um pouco, claro, com humor e muita estranheza.

Brilho Eterno de uma Mente Sumida

Quem quer ser Charlie Kaufman?

Kaufman, nasceu em 19 de novembro de 1958 em Nova York, onde hoje deve estar perdido em seus devaneios, já que ele anda bastante sumido dos cinemas. Temos aqui um projeto que talvez lhe interesse: entender a mente de JR Smith. A película só não poderia se chamar “Confissões de uma Mente Perigosa”, uma pena. Já que esse é o título do primeiro filme dirigido por George Clooney, o qual ajudou a roteirizar também. Olhando a foto aqui do lado, dá para entender de onde vêm suas ambições introspectivas, né? (Leia-se: cara de doido da peste!)

Porque é difícil de compreender o que se passa com o maluquinho ala do Knicks.

Deixemos primeiro ele mesmo falar sobre seu péssimo desempenho na semifinal do Leste contra o Indiana Pacers, que lidera por 3 a 1: “Eu assumo a culpa por essa série toda. Estou deixando meus companheiros na mão, meus técnicos na mão, e não me sinto bem com isso.”

Um apanhado de números serve como uma boa radiografia para a má sensação que domina Smith no momento, com sua equipe voltando para Nova York a uma derrota da eliminação: mesmo marcando 13,3 pontos em 30 minutos, mas com um aproveitamentos horripilantes de 28,1% nos arremessos, queimando 16 chutes por partida para converter apenas 4,5, e de 64,7% nos lances livres. Em termos de eficiência seu índice despencou de 17,6 no duelo com o Celtics para pífio 6,6 diante do Pacers.

Mesmo que a defesa de Frank Vogel seja hoje muito mais forte que a de Doc Rivers, os problemas de Smith vêm do final da série contra os velhacos de Boston, mesmo – o que exclui também qualquer problema mais grave decorrente da febre que teve nos últimos dias. Sua má fase vem mais especificamente do episódio em que atingiu Jason Terry de maneira estúpida no terceiro confronto, uma atitude que resultou em sua expulsão de quadra e na suspensão de uma partida. Vamos lá: nos três jogos antes do gancho, 16,3 pontos de média, 43% de acerto. Desde então:  13,3 pontos, 28,8%.

“Acho que tivemos esse incidente com Terry na primeira rodada e talvez isso tenha feito ele perder o foco por alguns jogos, mas acho que ele está pronto para voltar ao seu nível”, disse o armador Pablo Prigioni, aquele que dificilmente vai ficar avoado em quadra, tentando dar uma força para o companheiro. Mas não rolou. O cara basicamente surtou.

JR Smith x Paul George

JR Smith não para de chutar

E não é a primeira vez em sua carreira, George Karl que o diga.

Smith nunca foi o cestinha mais certeiro. É capaz de criar diversas situações de arremesso por conta própria, com muita habilidade no drible e capacidade atlética, mas nem sempre se compromete com as melhores jogadas, daquelas que não abalam a saúde de seus treinadores. Peguemos seus números na atual temporada, por exemplo, a melhor desde que entrou na liga há oito anos, para sentir suas oscilações. Em novembro, teve médias de 14,2 pontos e 43,8%. Em dezembro, 18,1 e 39,5%. Em janeiro, 15,8 e 36,6%. Em fevereiro, 16,5 e 43%. Em março, 22,1 e 44,2%. Em abril, excepcionais 22 pontos e 48.3%. Uma loucura, que, ainda assim, não lhe custou o prêmio de melhor sexto homem do campeonato.

Há outros fatores que podem explicar tantos altos e baixos, obviamente. O quão bem o Knicks está atacando coletivamente, quem está jogando e contra quem se está jogando, sua forma física etc. São variáveis que afetam a todos. No caso específico de Smith, porém, esse rendimento inconstante vem de longa data e vai custando caro para um time que vai dependendo cada vez mais de Carmelo Anthony, uma vez que Amar’e Stoudemire mal consegue parar em pé.

“Quero que JR arremesse. Ele não pode abrir mão disso. Não quero que ele pare de procurar a cesta. Quero que ele continue agressivo”, clamou Carmelo. Enquanto Smith não souber o que se passa em sua cabeça, porém, fica a dúvida sincera de que a súplica do astro seja a realmente a melhor solução.

Será que Kaufman topa esse roteiro?

Encontrar um diretor seria fácil: Spike Lee está logo ali no Madison Square Garden.


Knicks diversifica ataque e resgata Carmelo Anthony para empatar série
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Giancarlo Giampietro

Melo no ataque

Carmelo ataca o grandalhão Hibbert em movimento

Em seus últimos quatro jogos, Carmelo Anthony havia arremessado 110 vezes. E acertado 35. Isso dá um aproveitamento de 31,8%, e não estamos falando de chutes de três pontos, mas arremessos de todos os cantos da quadra, incluindo os mais próximos ao aro.

Cruzes, hein?

Dos números acima, o número que assusta mais, acho, são as 110 tentativas. Média de 27,5 por jogo. Quer dizer, Melo estava, no mínimo, jogando por 55 pontos possíveis por duelo, sem contar os tiros de longa distância e os lances livres. Chuta, chuta, chuta, e chuta mais um pouco. Depois perguntam por que o Tyson Chandler tem dores nas costas. Vai pular tanto assim por rebote, vai. 😉

Mas é desta forma que o New York Knicks foi construído, mesmo. Seu plano de jogo vive ou morre por seu superastro. Felton vai ciscar aqui e ali para tentar abrir a defesa. Os chutadores vão se espalhar pelos cantos do ataque e o ala vai aparecer no “cotovelo” do garrafão para entrar em ação e gastar seu vasto repertório de movimentos.

O problema é que, de tanto recurso que o cara tem, por vezes o ataque da equipe pode ficar muito acomodado, estagnado, um prato cheio para boas defesas. Bota no Melo que ele resolve, ué. E a estrela gosta – tem a vocação de Oscar, Kobe, Jordan, Marcelinho neste caso, de atirar primeiro e perguntar depois.

Nesta terça, porém, na surra por 105 a 79, sobre o Pacers, igualando a série em 1 a 1, o Knicks procurou diversificar um pouco suas ações ofensivas e, enfim, resgatou seu cestinha do Pólo Norte.

Em vez de se contentar com jogadas de isolamento contra um defensor versátil e eficaz como Paul George. Em diversas ocasiões, mas, especialmente no segundo tempo, Felton e  Prigioni davam aquela enroladinha básica com a bola ao cruzar a quadra, enquanto o ala partia em direção a Chandler para uma série de corta-luzes diferentes – e Chandler, com sua envergadura e agilidade, é um dos melhores nesse quesito, daí que, se você for olhar sua linha estatística e dizer que, poxa, “fulano fez só oito pontos e pegou quatro rebotes”, pode correr o risco de julgar sua partida como ‘fraca’, ‘apagada’, quando há muitas outras formas de se contribuir para uma vitória no basquete.

Para ficar mais divertido, por vezes, o próprio Carmelo fazia um corta-luz prévio em cima do marcador de Chandler para, depois, receber a troca de favores do pivô, numa ação que pode deixar os defensores desnorteados, liberando o atacante por alguns segundos preciosos. O passe vem na mão e aí é caixa. Além disso, Anthony partiu para outros cantos da quadra e também procurou se desgarrar rapidamente, em movimento, em situações de transição, antes que a sufocante defesa do Pacers se recompusesse inteiramente.

Resultado: oele voltou a ter um a ter um volume de jogo altíssimo, com 26 disparos, mas com um rendimento bem mais palatável, convertendo exatamente a metade, aproveitando seu melhor posicionamento. Terminou com sua linha clássica de 32 pontos e 9 rebotes.

Se os chutes de longa distância no geral não caíram com a frequência desejada – foram apenas 10 cestas em 30 –, a (nem tão) simples reabilitação de Carmelo é uma notícia para o técnico Mike Woodson e o torcedor  (e cineasta genial nas horas vagas) Spike Lee.

Agora só resta mais uma expedição ao frio polar para recuperar JR Smith. Este ainda está com as mãos congeladas.

*  *  *

O que mais deu certo para o Knicks?

Na defesa, para tentar cortar o jogo interior potente do Pacers, Woodson resolveu atacar a raiz, com razão. Sua defesa pressionou bastante as linhas de passe e desestabilizou os limitados atletas de perímetro do adversário, que cuidaram muito mal da bola, cometendo 21 turnovers. Quatro atletas de Nova York tiveram dois roubos de bola – foram 11 no geral para equipe.

Esse abafa funcionou com perfeição do final do terceiro período em diante, quando os visitantes ficaram mais de dez minutos sem fazer uma cesta de quadra. Impressionante: sem saber o que fazer, a rapaziada tacava bolas desequilibradas de fora para amassar o aro do Garden. Foi essa sequência que tornou um jogo apertado em 36 minutos numa lavada ao final dos 48.

*  *  *

Pablo Prigioni teve um jogo perfeito: com 10 pontos, 4 assistências, 4 rebotes, convertendo todos os seus quatro arremessos, dois deles de longa distância, sem perder a bola uma vez sequer. A exigente torcida nova-iorquino aprovou e gritava “Pablo!” toda hora. Engraçado ver um veterano como o argentino virando mascote a essa altura da carreira.

*  *  *

Do lado do Pacers, a despeito de seus sete erros com a bola, impressiona a confiança com que Paul George vem se apresentando nos playoffs. Dá para perceber de cara por sua postura corporal, agindo com desenvoltura e firmeza em seus movimentos. Cresceu demais o rapaz na ausência de Danny Granger e com as tentativas, erros e acertos ao longo do campeonato.

 


Prévia dos playoffs da Conferência Leste da NBA: Parte 2
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Giancarlo Giampietro

3-INDIANA PACERS x 6-ATLANTA HAWKS

A história: o Atlanta Hawks aliviou descaradamente em seus últimos jogos da temporada para fugir das quarta e quinta colocações – para supostamente, desta forma, evitar o lado da chave do Miami Heat. Hein?! O técnico Larry Drew se sente tão confortável assim em relação ao seu time para armar uma coisa dessas? E qual o prazer de se enfrentar uma defesa tão física e bem armada como a do Indiana Pacers? Não que a equipe de Frank Vogel tenha feito também a melhor campanha em abril, vencendo apenas um de seus últimos seis compromissos, depois de ter triunfado em 11 de 16 partidas em março. Há quem jure também que eles tiraram o pé, preservando saúde e energia para os playoffs – daí o fato de terem levado  90 pontos ou mais em cada uma de suas partidas no mês final da temporada regular, acima de sua média.

O jogo: com jogadores de muita envergadura e força física, Vogel consegue vedar seu garrafão e forçar os tiros longe da cesta. Mas nem tão longe: o Pacers é a equipe que melhor contestam os disparos de longa distância – e podem ter certeza de que Kyle Korver vai jogar com um alvo nas costas. Quer dizer, sobram propositalmente, então, os disparos de média distância, os de menor eficiência na liga. Josh Smith que vai gostar! O Atlanta Hawks vai precisar correr com a bola sempre que puder, explorando a velocidade de Jeff Teague, Devin Harris, Smith e Al Horford – que, em meia-quadra, é a melhor opção da equipe. Um jogador especial, multitalentoso, ele só não deu, porém, o salto esperado para esta temporada, para ser uma figura dominante na liga.

De dar nos nervos: barbada! O apelido do cara não é Psycho-T por bobeira. Tyler Hansbrough, amigos, passou de queridinho da América no basquete universitário ao branquelo mais odiado da NBA. Vai gostar de uma trombada assim o sujeito, e Vogel adora.” A beleza está nos olhos de quem vê”, diz o técnico. “Eu amo vê-lo esmagar as pessoas. Eu amo fisicalidade ofensiva”, vai adiante. O técnico é um sádico. Então, taí: em vez de se irritarem com Hansbrough, direcionem todo o rancor para o cara que está agitado ao lado da quadra. Ah, e não mexam com o Ben, o irmão do cara:

Olho nele: Kyle Korver, que é daquela turma que faz muito com pouco, tendo uma só grande habilidade para perseverar na liga. Mas que habilidade também, né? Ele acerta 41,9% na carreira na linha de três pontos. Em 2009-2010, ele liderou a temporada com 53,6% de aproveitamento. Neste ano, terminou com 45,7%. Sua mecânica de arremesso é perfeita, sempre com o corpo retinho, e o braço bastante elevado. Mas o mais legal é ver o modo como o ala do Hawks se desloca pela quadra em busca de brechas na defesa para receber o passe e engatilhar. Usando um corta-luz atrás do outro, serpenteando pela defesa, forçando um jogo de gato-e-rato.

Palpite: Indiana Pacers em cinco (4-1).

4-BROOKLYN NETS x 5-CHICAGO BULLS

A história: nos últimos anos o Bulls se firmou como um dos times muito, mas muito combativo sob o comando de Tom Thibodeau. Agora, sem Derrick Rose, com Joakim Noah e Taj Gibson no sacrifício, Luol Deng arrastado por mais de 38 minutos em média em todo o campeonato, vindo de uma dura participação nas Olimpíadas, sobra o que para batalhar? Só não esperem que eles se apeguem a qualquer desculpa. O que seus atletas tiverem eles vão deixar em quadra. E o Brooklyn Nets, com um proprietário que sonha com o título, a presidência da Rússia e o mundo todo, para falar a verdade,  vai ter de usar o talento de Deron Williams, Joe Johnson e Brook Lopez para tentar derrubar essa gente, que veste uma camisa bem mais pesada.

O jogo: meio chocante constatar isso – até melhor você tomar uma água com açúcar antes e depois ficar sentadinho na cadeira, nada de ler isso no celular fazendo esteira! –, mas… A defesa do Bulls hoje é ‘apenas’ a quinta melhor da NBA. Como o Thibs consegue conviver com algo assim?! Existem quatro times na sua frente nesse quesito (Pacers, Grizzlies, Spurs e Thunder). Ok, essa deve ser uma brincadeira que PJ Carlesimo e seu Nets não devem gostar muito, não. Kirk Hinrich, Luol Deng e Jimmy Butler vão testar para valer a boa fase de Deron – que resgatou do nada o seu jogo depois do All-Star Game e é o melhor jogador da série, uma vez que Rose não deve retornar mesmo. Para o Bulls ter alguma chance, porém, Noah e Gibson precisam estar inteiros. Do contrário, ter de anular Deron e Lopez de uma vez fica muito difícil.

De dar nos nervos: há diversos candidatos no elenco do Bulls, mas já falamos bastante deles durante a temporada. Vamos gastar algumas linhas, então, para destacar Reggie Evans, o reboteiro insano do Nets. Se Korver sobreviveu como o arremessador de elite, Evans só se tornou um milionário por sua capacidade de coletar as sobras próximas ao aro tanto no ataque como na defesa. Numa projeção de 36 minutos para sua carreira, Evans tem média de 13,3 rebotes contra apenas 9,0 pontos, roubos de bola, tocos e assistências somados! E, bem, além de rebotes, o pivô já ficou famoso por causa disso aqui. Sem palavras:

Olho nele: Jimmy Butler, o novo orgulho da torcida do Bulls. Inicialmente, quando foi selecionado no Draft de 2011 na 30ª escolha, o ala era mais admirado por sua trajetória comovente – seu pai morreu quando ainda era uma criança, sua mãe o expulsou de casa aos 13 anos porque não gostava de olhar para ele, mudando de uma casa para a outra até encontrar um lar definitivo com um amigo do colegial. Neste ano, porém, em sua segunda temporada, Butler mostra que é muito mais do que uma bela história ou mascote, caminhando para ser um dos melhores defensores de perímetro da liga sob a orientação de Thibodeau e, ao mesmo tempo, melhorando consideravelmente no ataque – versátil, atlético e enérgico, ele tem média de pouco mais de 15 pontos por jogo quando é titular.

Palpite: Nets em sete (4-3).

*PREVIA DO OESTE: Thunder x Rockets e Spurs x Lakers.
*PREVIA DO OESTE:
Nuggets x Warriors e Clippers x Grizzlies.
*PREVIA DO LESTE: Heat x Bucks e Knicks x Celtics


Poderia Brittney Griner ser a 3ª mulher selecionada por um time da NBA? Relembre casos históricos
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Giancarlo Giampietro

Ah, o Mark Cuban.

O dono do Dallas Mavericks volta a fazer barulho – aliás, quando ele realmente para? –, dizendo nesta terça-feira que não veria problema algum se o clube escolhesse a pivô Brittney Griner no próximo Draft da NBA. “Se ela for a melhor jogadora disponível em nossa lista, eu a pegaria. Já pensei a respeito. Será que eu faria? A essa altura, estou inclinado a dizer sim, apenas para ver se ela consegue”, afirmou. “Você nunca sabe, a não ser que dê uma chance para a pessoa, e não é que qualquer selecionado na última parte do Draft tenha muita chance de ficar na liga, mesmo.”

Brittney enterrando

Slaaaaam jam, Brittney!

Se o gerente geral Donnie Nelson não tiver coragem ou interesse em selecionar no dia 27 de junho, em Nova York, Cuban afirmou que ela ainda poderia ter uma chance de entrar para o time sendo testada em alguma liga de verão deste ano.

Jogando por Baylor, Brittney se tornou neste ano a segunda maior cestinha da história da NCAA, primeira divisão, com 3.283 pontos, atrás apenas dos 3.393 de Jackie Stiles. Mas são 36 pontos especificamente que chamam mais a atenção para a talentosa jogadora: os 36 produzidos nas 18 enterradas que tem em sua carreira – é como se ela fosse o equivalente a Wilt Chamberlain ou Shaquille O’Neal no basquete universitário feminino, em termos de domínio físico. Como prova disso, seus 748 tocos são um recorde, incluindo os registros dos homens.

Bastante confiante em suas habilidades e um vasto currículo de títulos e prêmios que não caberia aqui, empolgada com o raciocínio de Cuban, a pivô foi ao Twitter para dizer que está aí, pronta para o que der vier. “Eu dou conta! Vamos fazer isso”, afirmou.

Quem não gostou nada dessa história foi o técnico Geno Auriemma, da universidade de Connecticut e campeão olímpico com a seleção americana feminina em Londres. Repetindo: não gostou n a d i n h a disso. “Obviamente Mark Cuban é um gênio, porque ele foi capaz de transformar algumas grandes ideias em indústrias de bilhões de dólares, e ele faz um grande trabalho como proprietário do Dallas Mavericks. Mas sua condição de gênio sofreria sérios danos se ele ‘draftar’ Brittney Griner. E se Brittney Griner tentar entrar em um time de NBA, acho que seria uma coisa de relações públicas e acho que seria uma farsa. O fato de que uma mulher poderia realmente jogar agora na NBA e competir com sucesso contra o nível de jogo que eles têm é absolutamente ridículo”, afirmou.

Cuba, logicamente, não ficou quieto e defendeu a ideia, rebatendo o treinador. “Nós avaliamos cada jogador elegível para o Draft no planeta. Não estaríamos fazendo nosso trabalho se não considerarmos todo mundo. Com disse ontem para a mídia, ela teria de brilhar nos treiamentos para ser selecionada. Não tenho problema algum em dar a ela essa oportunidade. Espero que ela tente. Nada pode ferir mais uma organização ou uma companhia do que uma mente fechada”

As críticas de Auriemma fazem sentido. Brittney é listada pela universidade de Baylor com 2,03 m de altura e 94 kg. Gigante para o basquete feminino, poderosa. Na NBA, não muito. Para se ter uma ideia, o ala Jared Dudley, do Phoenix Suns, tem 2,01 m de altura e 102 kg. Não necessariamente o jogador mais atlético, mas que consegue dar suas enterradas também, apesar das piadas dos companheiros. Kyle Korver, ala do Atlanta Hawks que quase nunca se aventura no garrafão e representa a finesse, tem 2,01 m e 96 kg.

Por outro lado, a lógica de Cuban é difícil de ser contrariada, independentemente de suas intenções marketeiras. Se ela quiser, topar, quem vai dizer que a garota não pode tentar?

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Caso  Brittney Griner e o arrojado dono do Mavs levem os planos adiante, eles podem fazer história, mas não seria algo inédito.

Ann Meyers Drysdale, sensacional

Ann Meyers Drysdale tenta a sorte pelo Pacers

Ann Meyers Drysdale, armadora que se destacou por UCLA nos anos 70, instituição pela qual ganhara uma rara bolsa de estudos, chegou a ser testada pelo Indiana Pacers em 1979, recebendo um contrato de US$ 50 mil. Ela participou de atividades com a equipe por três dias, mas acabou cortada do elenco final para a temporada – os destaques eram os alas George McGinnis e Alex English, além do armador Johnny Davis e do pivô James Edwards.

A dispensa não a abalou de forma alguma, e seu relato sobre a experiência abre muitas perspectivas para a jovem pivô formada em Baylor avaliar: “Passei por isso no colegial e na minha vida toda, jogando contra os caras no playground, então não foi nada muito diferente. No colegial eu tive a oportunidade de jogar no time dos garotos. É nesta fase que seu corpo muda, suas emoções mudam, assim como sua percepção social e as coisas que dizem sobre você. Então quando eu lidava com as pessoas tentando me convencer a não tentar jogar pela equipe dos garotos no meu último ano de colégio, isso ficou na minha cabeça”, afirmou.

“Quem imaginaria que cinco anos depois eu teria a mesma oportunidade? Era um nível diferente, mas tinha conseguido tanta coisa na universidade e pela seleção que não ia permitir que as pessoas me tirassem dessa novamente. Muitas pessoas achavam que era uma situação em que não ganharia nada. Se eu fizesse uma cesta, diriam que haviam me deixado. Se eu levasse um toco, era porque era uma garota, e não tinha nada demais. Já tinha visto isso minha vida toda enfrentado os garotos nos parques, e o que eles ou as garotas diziam sobre mim, ou até mesmo os pais. Mas, quando cheguei a esse alto nível, pude bloquear tudo isso.”

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Vocês sabiam que duas jogadoras já marcaram presença no Draft da NBA?

Sim, duas.

A primeira foi Denise Long, pelo San Francisco Warriors, em 1969. Sensação do basquete colegial de Iowa, ela foi selecionada na 13ª (!!!) rodada do Draft daquele ano. O comissário Walter Kennedy, porém, não permitiu que a experiência fosse adiante, anulando a escolha imediatamente. Não obstante, a história teve repercussão imediata, com direito a matérias no New York Times e na Sports Illustrated.

Denise Long, pioneiraDenise marcou 6.250 pontos em sua carreira no colegial, a maior marca do país. O problema é que, naquela época, as universidades não davam bolsa de estudos para nenhuma jogadora. Que fique claro: para nenhuma jogadorA. De modo que a jogadora se viu numa situação extremamente desagradável, sem poder levar adiante sua paixão e vocação. Não havia também basquete feminino nas Olimpíadas – o primeiro torneio aconteceu apenas em 1976. O fim de carreira abrupto nunca foi bem assimilado pela americana, claro, restando apenas um caderno de recortes dos tempos de glória e uma frustração que nunca deixou a ex-atleta. “Eu a perguntei uma vez se ela se arrependia de algo”, disse seu treinador Paul Eckerman. “Ela respondeu que eu poderia ter ensinado tênis ou golfe para ela.”

A segunda ‘draftada’ foi Lusia Harris, em 1977, pelo New Orleans (futuro Utah) Jazz. Uma pivô de 1,90 m, formada em Delta State, ela havia sido eleita por três anos para a seleção das melhores universitárias, com médias de 25,9 pontos e 14,5 rebotes e 64% nos arremessos de quadra. No geral, ela foi a 137ª escolha daquele ano, na sétima rodada, na frente de outros 36 jogadores. Saindo na posição 138, o ala Alvin Scott teria uma carreira de oito temporadas pelo Phoenix Suns.

Lusia Harris, Hall da Fama

Lusia Harris, pré-Karl Malone

A decisão do Jazz, no entanto, não tinha nada a ver com basquete. Era uma ação declaradamente para atrair os holofotes – Lusia nem mesmo sabia o que estava acontecendo e nunca chegou a fazer nenhuma atividade pelo clube, até por estar grávida (!) na época. Anos depois, mas antes de montar a base fortíssima com John Stocktone e Karl Malone, com uma draga de time nas mãos, o gerente geral Frank Layden brincaria a respeito, dizendo que a pivô “era melhor que qualquer um em seu time, menos Pete Maravich”, em referência ao icônico astro, o Pistol Pete. Layden também comentaria com humor a gravidez da universitária, dizendo que havia ganhado dois jogadores pelo preço de um. Em 1992, Lusia Harris se tornou a primeira jogadora a ser indicada ao Hall da Fama do basquete.

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Nancy Lieberman conseguiu, sim, jogar contra homens profissionais.

Mas, opa!, não na NBA. Ela chegou a jogar na liga USBL e também pelo Washington Generals, o infame adversário de tantos jogos contra o Harlem Globetrotters, nos anos 80.

Entrou para o Hall da Fama em 1996 e, no ano seguinte, voltou para as quadras, disputando a temporada inaugural da WNBA, com 39 anos, sendo a atleta mais velha da competição. Em 1998, virou treinadora e dirigente, pelo Detroit Shock. Ela acabou afastada de ambos os cargos três anos mais tarde, depois de acusações de que teria se relacionado com a armadora Anna DeForge. Em 2008, no entanto, Nancy voltaria a se envolver com o time de Detroit, premiada com um contrato de sete dias – como jogadora! Aos 50 anos, quebrou seu próprio recorde, e disputou uma partida, em derrota por 79 a 61 para o Hoston Comets, dando duas assistências.

Em novembro de 2009, ela foi pioneira em outra esfera, quando foi contratada para ser a treinadora do Texas Legends, na D-League. Foi, desta forma, a primeira técnica a dirigir um time profissional masculino. Hoje, trabalha como dirigente do clube.

E a qual franquia da NBA o Legends está vinculado?

O Dallas Mavericks, justamente.