Gigantão Hibbert desequilibra e ajuda o Indiana Pacers a fazer frente ao Miami Heat
Giancarlo Giampietro
Quando se assiste ao homem em quadra na estas finais da Conferência Leste, Roy Hibbert passa a impressão de ser tão grande, mas tão grande que o Miami Heat nem consegue incomodá-lo com faltas. Pelo menos é o que acontece quando o Indiana Pacers encontra um bom equilíbrio em seu ataque e abastece seu pivô nas imediações do garrafão, como nesta terça-feira. Liderada pelo sujeito de 2,18 m de altura, a resiliente equipe de Frank Vogel venceu por 99 a 92 e empatou a série melhor-de-sete em 2 a 2.
Não era para ser assim. Eles supostamente eram dinossauros em extinção, vítimas de uma revolução aqui já propagada em diversas ocasiões. Na liga NBA, não era, mesmo, para ter mais espaço para esse tipo de espécime, os pivôs lentos, que obtêm relevância com o arcaico jogo de costas para a cesta, daqueles que se arrastam em quadra. Mas Hibbert está aí para provar que tudo se adapta. Que nesta vida – e no basquete – tudo tem jeito.
O gigante marcou 23 pontos e coletou 13 rebotes, seis deles ofensivos, alguns desses extremamente importantes no quarto final, dominando qual fosse o adversário que ousasse se colocar em seu caminho na direção da cesta. Chris Bosh, Chris Andersen, Joel Anthony e por vezes até um corajoso Shane Battier tentaram, mas não puderam lidar com o cara, que converteu 10 de seus 16 arremessos, em 40 minutos de ação.
O aproveitamento de quadra é espetacular, mas vale ainda mais destaque o tempo de jogo: carregando seus 127 kg de um garrafão para o outro, num jogo intenso como esse, Hibbert descansou por apenas oito minutos e ainda foi bastante efetivo, atuante, decisivo nos momentos derradeiros do quarto período. Com o jogo empatado em 89 a 89, com menos de 2min50s por jogar, ele teve fôlego, pernas e cabeça para apanhar dois rebotes cruciais no ataque. O primeiro veio com 2min43s para o fim, seguido logo por uma bandeja. O segundo veio com 1min30s, antes de mais uma bandeja, mas dessa vez com um detalhe: a quinta falta de LeBron, que viria a ser excluído pouco tempo depois. Até mesmo um atleta com a força física e elasticidade de LeBron tem dificuldade em fazer frente ao brutamontes.
Mas não é só força ou tamanho, claro. Para o pivô causar impacto, é preciso fundamento e paciência – tanto próprios como dos companheiros, que precisam saber o momento certo de servi-lo e, não só isso, saber o ângulo certo e a velocidade para fazer o passe de entrada, algo que parece simples assim no, hã…, papel, mas que fica bem mais difícil quando você tem alguém com os reflexos de Mario Chalmers, Dwyane Wade e James pela frente.
Dessa vez o Pacers encontrou seu grandalhão com mais frequência. De tão grande, Hibbert praticamente inviabiliza a marcação frontal, uma vez que pode esticar os braços por trás de seu marcador neste caso e, com o ombro colado nas costas dele, cria uma separação suficiente para receber a assistência. O que o Miami não fez e deve estudar para o quinto jogo é a dobra em cima do pivô quando ele coloca a bola no chão partindo para o gancho ou a bandeja, para tentar o roubo de bola, o desarme no drible ou passe. Ele teve apenas um desperdício de posse de bola neste confronto. Aqui ele se livrou sem problemas do Birdman:
Sobre a brincadeira de não conseguir nem parar nas faltas, não é bem assim, tá? Nos dois jogos anteriores, o gigante cobrou 25 lances livres, uma quantidade expressiva. E o pior: ele é daqueles que converte o tiro com os pés plantados. Seu aproveitamento na série até esta terça era de 22 cestas em 27 arremessos, acima de 81%.
Fato é que Spoelstra vem tendo um trabalhão danado para lidar com Hibbert, que já havia marcado 19, 29 e 20 pontos nas três partidas anteriores, e buscado 32 rebotes no geral (mas com oito turnovers). É por isso que, confiante na habilidade de seu pivô, Frank Vogel se gabou por meses e meses que seu Indiana Pacers não se ajusta ao adversário. Que eles têm uma identidade, um estilo de jogo e iriam com isso até o fim, forçando que os oponentes, sim, se virem com o que eles oferecem.
Por isso foi tão estranha sua decisão de colocar o pivô no banco para defender aquela que se transformou na última posse de bola do jogo 1, na prorrogação , ainda Miami. Assumindo o erro, sem ter ninguém para fechar a porta na cara de LeBron, afirmou que jamais voltaria a fazer isso. Pelo que Hibbert tem feito desde então, fica realmente difícil tirá-lo de quadra.
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Quem assistiu ao ótimo jogo de Hibbert em Indianápolis foi seu técnico universitário, John Thompson III. Os dois trabalharam juntos em Georgetown, uma usina de pivôs talentosos nos últimos 30 anos, tendo revelado Patrick Ewing, Alonzo Mourning e Dikembe Mutombo. Othella Harrington e Mike Sweetney a gente não conta, ok?
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Assim como Ewing, Hibbert tem nacionalidade jamaicana, com a diferença de que nasceu nos Estados Unidos, vizinho de Scott Machado no Queens. Ele defendeu a seleção caribenha nos bagunçados torneios da América Central e, depois, ficou se remoendo de arrependimento. Hoje um All-Star, com um salário em média de US$ 14 milhões, o grandalhão em 2008 não tinha tanta confiança de que fosse prosperar assim em 2008 quando abriu mão de jogar pelos Estados Unidos.
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Curiosamente, Hibbert já veio jogar no Brasil com a seleção norte-americana. Foi no Pan de 2007, no qual um time de universitários dirigido por Jay Wright, de Villanova, fracassou enfrentando uma série de mistões do continente. Ao seu lado estavam jogadores como o armador Eric Maynor (Blazers e futuro agente livre), o ala Wayne Ellington (Cavaliers) e o ala-pivô DJ White (Celtics) – Joey Dorsey, ex-Rockets e Olympiakos e James Gist, do Panathinaikos, foram outros destaques. Ele tinha apenas 20 anos, era o mais badalado da equipe, mas não se destacou na futura Arena HSBC, com médias de 10 pontos, 3,4 rebotes e 47,7% nos arremessos em 21min. Quem se lembra?