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Com repertório expandido, Felício causa boa impressão geral pela D-League
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Giancarlo Giampietro

Felíco x Jeff Ayres, ex-Spurs

Felíco x Jeff Ayres, ex-Spurs

Quando um time de NBA perde um pivô com todas as habilidades de Joakim Noah, tende a se enrascar. Mas não o Chicago Bulls. Para Fred Hoiberg, isso significa dar mais minutos para Taj Gibson mostrar seu confiável arremesso de média distância e cobrir terreno com movimentação lateral invejável. Pau Gasol também vai ganhar mais espaço para fazer das suas no garrafão, enquanto Nikola Mirotic tem mais chances para encontrar o rumo da cesta. Ah, e claro, para não falar do hiperprodutivo Bobby Portis, o calouro número 22 do Draft que parece ter sido escolhido, no mínimo, 12 posições mais cedo. Estamos falando já de quatro caras mais que competentes para compor uma linha de frente, e o quinto homem seria um grandalhão pouco ágil ou atlético, mas que faz parte da seleção australiana, é grande, forte, adora uma pancadaria e tem bons fundamentos para ajudar no andamento de um treino e tal.

Pensando nesse mundaréu de gente, não deixava de ser uma grata surpresa que o escritório gerenciado por John Paxson, operando sob as ordens do quase sempre avarento Jerry Reinsdorf, tenha, num primeiro momento, contratado Cristiano Felício e, agora, nesta semana, garantido seu contrato até o final a temporada. Lembremos que, numa decisão rara, o proprietário do clube já havia topado ultrapassar a temida “luxury tax” em US$ 5 milhões neste ano e ainda não viu problema em pagar mais US$ 500 mil para o pivô brasileiro.

Agora, ao vê-lo em ação nesta semana pelo Canton Charge, da D-League, jogando com desenvoltura, energia e repertório expandido, após ter disputado apenas duas partidas pela temporada regular, sem que tivesse entrado em quadra desde o dia 27 de novembro, o voto de confiança e a aposta no mineiro de Pouso Alegre parecem mais do que justificado. Parecem certeiros.

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Ok, não vamos julgar nada com base em duas partidas e 50 minutos pela liga de desenvolvimento. Mas é que, como brasileiros, temos uma vantagem sobre os americanos, né? Pelo menos em relação aos scouts que não tenham feito o dever de casa ao acompanhar o pivô que despontou em cenário internacional na mesma turma de Raulzinho e Lucas Bebê, o tendo se exibido para os olheiros mais atentos em 2011.

Não que os Bulls fossem os únicos antenados. Sei de dois clubes da Conferência Oeste que ao menos colocaram o nome de Felício em pauta para a composição de seus elencos de verão, mas nenhuma oferta foi feita. Um desses clubes esteve no Brasil para avaliar a garotada do Pinheiros e também inseriu seu nome no caderno de notas. Outro adorou o que viu de seus amistosos pelo Flamengo no giro de pré-temporada em 2014. Além disso, claro, pôde ser observado no adidas Eurocamp de Treviso no ano retrasado, seu bom desempenho não foi o suficiente para lhe valer uma vaga no Draft.

Como vemos agora, um ano e meio depois, não era o fim do mundo. Nesta semana, depois de cerca de um semestre de treinos com a comissão técnica de Hoiberg, pudemos ver um atleta com truques novos, enfrentando jogadores de NBA, ou que tentam voltar para lá, além de veteranos aspirantes e universitários recém-formados de sua idade, angariando mais fãs.

“Felício desenvolveu um arremesso de três pontos. Se ele puder sustentar isso, estamos falando de um cara que vai ficar muito tempo na liga”, avaliou um scout presente no ginásio do Santa Cruz Warriors, que recebe o chamado “Showcase” da D-League, com todos os clubes menores reunidos para uma série de partidas da temporada regular, agrupadas, em sequência.

Agressão
Um pouco do que Felício fez na primeira partida do Charge por estes jogos valem mais que uma exibição está aqui:

E aí já dá para reparar em como o arsenal do pivô revelado pelo Minas Tênis apresenta uma surpresinha ou outra. A começar pelos arremessos confiantes de longa distância, devidamente destacados pelo olheiro acima, e um diferencial que, sabemos bem, mais da metade da liga está buscando em seus grandalhões. Contra o Idaho Stampede, ele matou duas em quatro tentativas, sendo que a quarta foi desequilibrada, no estouro do cronômetro ofensivo. Os ataques a partir do perímetro também envolvem arremessos de média distância, do tipo que arriscava pelo Flamengo.

Mas há algo mais interessante aqui. Não é que o brasileiro tenha dado ‘apenas’ um ou dois passos para trás e expandido seu alcance no chute. Ele não parou por aí, literalmente, pois também vem apresentando movimentos calculados e inteligentes em direção ao garrafão quando não está em posição confortável para atacar o aro. Um lance no segundo tempo exibido no clipe acima mostra o jogador buscando a infiltração e finalizando de canhota com muita categoria. Da mesma forma que fez aqui na primeira partida pelo Charge contra o Oklahoma City Blue:

É uma bolaça, hein? Convenhamos. O que chama a atenção é novamente a conclusão com a mão trocada e a paciência que ele teve para iniciar a jogada, cortando da direita para a esquerda, sob controle. Alguém se lembra de ver uma ação semelhante por sua parte durante os títulos do Flamengo pelo NBB? Não me bate na telha, não. Felício esteve sempre em calmo no ataque, sem se precipitar para nada, tomando decisões corretas. Cometeu dois turnovers na primeira partida, mas não foi nada de alarmante. Em um deles, a arbitragem viu o uso indevido do braço na hora de se proteger e buscar a cesta cortando pelo fundo de quadra.

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Também não forçou a barra para buscar números e glória, mesmo que não jogasse há tempos. A diferença é que, comparando com Caboclo e Bebê, Felício ao menos teve muito mais tempo de quadra nas últimas duas temporadas pelo Flamengo, ainda que, em muitos momentos, a impressão era a de que ele pudesse ser muito mais utilizado, e seus lances pela D-League americana assim como a dominância na LDB brasileira comprovam isso. Felício pode ser muito mais do que um jogador de corta-luz e rebote no ataque. Sua habilidade como passador é bastante subestimada.

Em meia quadra:

Ou mesmo em transição:

Importante notar que o brasileiro nunca havia jogado com nenhum de seus companheiros antes. O Canton Charge é a filial do Cleveland Cavaliers, que curiosamente quebrou um galho para o rival de Divisão Central. Então na hora de fazer o corta-luz para seus armadores, abrir para o chute, ou mergulhar em direção ao garrafão, as coisas não saíam muito naturais. Falta química, claro. O entrosamento é mínimo. A despeito dessa limitação séria, se saiu bem. É preciso dizer também que ele tem bons jogadores ao seu redor, como os armadores Quinn Cook, campeão universitário por Duke e Coach K, e Jorge Gutiérrez, o mexicano ex-Bucks e Nets, o ala-pivô Nick Minnerath, versátil demais e que estaria ganhando uma boa grana na Europa, o ala John Holland, que joga por Porto Rico, e o ala CJ Wilcox, chutador cedido pelo Clippers. Ajuda ter gente qualificada ao lado, com instruções do técnico espanhol Jordi Fernandez, que trabalhava com academia Impact nos EUA.

Felício conquistou o respeito desses caras. Não basta ter o selo de NBA se não for para justificá-lo. Em termos de atitude, o brasileiro também se mostrou motivado, vibrando com as cestas dos parceiros. Essa atitude positiva se traduziu em energia em quadra, algo que nem sempre acontece no caso de enviados da liga de cima, que podem encarar a passagem pela D-League como um rebaixamento e algo de se envergonhar. Bobagem e egocentrismo exagerado, claro, em vez de se aproveitar a chance. Pois o pivô correu muito bem a quadra toda, com muita disposição e, contra a filial do Thunder, bateu seus adversários consistentemente. Veja esta sequência em que ele ganha o rebote num tapinha e já inicia o contra-ataque para concluí-lo de forma enfática:

Que tal a agressividade? Em detalhe:

Está aí outra abordagem que não era lá tão comum nos dias rubro-negros. Felício está buscando a cravada e o toco, está jogando acima do aro, e isso, no seu caso, vale muito mais como termômetro de intensidade e conforto em quadra do que pelo show:

Então temos isso hoje: um pivô que desenvolveu seu arremesso, sabe quando utilizá-lo, pode por a bola no chão e finalizar com autoridade ou categoria perto da cesta, podendo marcar 35 pontos em 50 minutos, com aproveitamento de 65,2% de quadra. Sai jogo daí, pelo menos no nível da D-League, por ora, aos 23 anos.

Agora, pensando em NBA, todas essas informações são bem relevantes, mas não necessariamente essenciais. Pois, num primeiro momento, tanto o Bulls como a concorrência não vai procurar neste showcase um jogador de referência, para carregar o ataque titular ou da segunda unidade. A prioridade dos scouts é encontrar peças complementares, para ajeitar a rotação. Que possam produzir algo no ataque, mas que, essencialmente, cuide bem das coisas do outro lado. “Rebotes, defesa, jogar duro e de forma inteligente: são essas as chaves para ele”, afirma outro scout ao blog.

Contenção
Contra o OKC B, Felício pegou apenas três rebotes em 27 minutos. Um problema? Não, pelo menos não para que tenha visto o jogo. Este é mais um caso de como se precisa muita calma na hora de falar sobre os números que sejam computados numa súmula de jogo. Foram várias as ocasiões em que o brasileiro simplesmente limpou terreno para que seus companheiros pudessem fazer a captura da bola. Como no vine abaixo, em que consegue conter o corpanzil de Dakari Johnson, um pivô muito promissor vindo da fornalha produtiva de John Calipari em Kentucky:

Felício é um bom reboteiro, com uma base forte nas pernas para guardar posição, excelentes mãos para fazer o controle e tino para se posicionar bem, compensando a impulsão reduzida quando tem os dois pés no chão. Número por número, já foram oito em 22 minutos contra o Stampede.

Na hora de proteger a cesta, uma característica pôde ser notada: Felício se saiu muito melhor contra pivôs mais pesados, que gostem de jogar perto da cesta, do que contra alas-pivôs ágeis e flexíveis que pudessem atacar usando o drible frontal, fora do garrafão. Abaixo, ele consegue segurar Dakari Johnson no tranco. Depois, vê Talib Zanna, mais baixo e leve, lhe contornar. Primeiro, a brecada:

Deu Cesta:

Em quadras brasileiras, Felício já mostrou mais agilidade em seu deslocamento lateral, sendo o tipo de pivô que consegue brecar armadores. Nessas últimas duas partidas, pareceu um pouco mais pesado e lento. Ou talvez seja apenas a relativização de suas habilidades atléticas diante de atletas de primeiro nível, tal como aconteceu em pelo menos três investidas de jogadores do Stampede, deixando o brasileiro para trás. É algo para se acompanhar. Pensando na NBA, é muito mais provável hoje que ele tenha que lidar com Zannas do que Johnsons. É algo que os scouts vão analisar com cuidado.

De toda forma, a impressão em geral no momento é de surpresa e otimismo. Em Chicago, num time que sonha com o título,  com tantos pivôs qualificados acima na rotação, Felício não vai ter muitas chances nesta temporada. Mal vai jogar. Ainda assim, teve seu contrato renovado, o que para ele, no câmbio de hoje, também rende uma gratificante bolada, além da satisfação de (primeiro) dever cumprido. Ao mesmo tempo, Paxson, o gerente geral Gar Norman e o técnico Fred Hoiberg sabem de que tipo de talento estão cuidando. Estão pensando mais longe, pedindo um investimento de Reinsdorf para o futuro. E, assim como aconteceu com Portis, para o restante da liga a capacidade de se seu outro pivô talentoso e novato não é mais segredo nenhum.


CBB divulga time do Pan, rodeada por questões financeiras e políticas
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Giancarlo Giampietro

Um dos treinadores da seleção no Pan está na foto

Um dos treinadores da seleção no Pan está na foto

Começou, e daquele jeito.

ACBB divulgou nesta segunda-feira a primeira lista de Rubén Magnano para a temporada 2015 da seleção brasileira. Foram 12 atletas relacionados para a disputa do Pan de Toronto, a partir do dia 21 de julho. Não consta nenhum  nome da NBA. Em relação ao time da Copa América do ano passado, são apenas três caras. Até aí tudo normal, compreensível. O inacreditável, mesmo, é que, a menos de dois meses para a competição, o argentino não sabe se vai para o Canadá, ou não, já que a Fiba ainda não se posicionou de modo definitivo a respeito de uma vaga para o Brasil no torneio olímpico do Rio 2016.

Para quem está por fora do ba-fa-fá, é isso aí: a federação internacional faz jogo duro e ameaça acabar com essa história de posto automático para o país-anfitrião nos Jogos. Algo com que até mesmo a Grã-Bretanha, sem tradição alguma, com um catado de jogadores, foi agraciada em 2012. Por quê? Pelo simples fato de a CBB enfrentar problemas para pagar uma dívida com a entidade, conforme relatam Fabio Balassiano e Fabio Aleixo. Dívida que decorre do pagamento de US$ 1 milhão por um humilhante convite para a disputa da Copa, depois de um fracasso na Copa América de 2013, no qual a seleção saiu sem nenhuma vitória e com derrotas até para Jamaica e Uruguai. Lembrando que faz tempo que a confederação nacional está no vermelho e hoje faz um apelo em Brasília por algum patrocínio estatal para complemento de renda.

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Quer dizer: nos bastidores, o Brasil já está sendo derrotado, e isso não ajuda em nada a vida de um técnico. Seja um campeão olímpico que nem Magnano ou um bicampeão do NBB, como José Neto, a quem caberia o comando da seleção pan-americana caso o argentino precise concentrar esforços na equipe da Copa América, o torneio que classifica as equipes do continente para as Olimpíadas. Ambos os técnicos trabalham juntos há anos, e, numa eventual divisão de esforços, supõe-se que não haverá problema de choque de gestão. Mas, claro, não é um cenário ideal.

Escritório de Carlos Nunes ainda aguarda o fax da Fiba

Escritório de Carlos Nunes ainda aguarda o fax da Fiba

Há dois meses, assistindo a embate entre Flamengo e Mogi, numa de suas raras aparições públicas durante a temporada 2014-15, o treinador principal da CBB  julgou que havia “muita possibilidade” de que não iria para o Pan.  O torneio de basquete dos Jogos de Toronto vai ser disputado entre os dias 21 e 25 de julho. Já a Copa América vai ser realizada no México a partir de 31 de agosto. “As datas de preparação batem e não posso me descuidar. O foco está na classificação para os Jogos Olímpicos”, afirmou.

Caçulas da NBA estão fora
Outro conflito de agenda ligado à metrópole canadense resultou na exclusão de dois nomes da lista pan-americana: Bruno Caboclo e Lucas Bebê. No caso, a restrição é da parte do Raptors, a única franquia canadense da NBA, que solicita a presença do ala e do pivô no time que vai disputar a Liga de Verão de Las Vegas de 10 a 20 de julho. Os dois estavam nos planos para esse time mais jovem, mas nem foram convocados. Ao menos este foi um avanço, para se evitar o desgaste de uma convocação que certamente resultaria num pedido de dispensa.

“Quero agradecer ao Magnano por ter sido compreensivo e continuar acreditando em mim. É uma decisão difícil, deixar de disputar um campeonato como o Pan, especialmente na cidade em que eu moro atualmente, mas é um investimento que estou fazendo na minha carreira, preciso me dedicar ao Toronto nesse verão”, disse Bebê, em comunicado. “Ele entendeu meus motivos e agradeço. Deixei claro que pode contar comigo, mas que esse era um momento de mostrar meu basquete e buscar meu lugar no Raptors para a próxima temporada. Quero que o meu futuro seja na Seleção Brasileira, ter a minha história com a camisa do Brasil, e vou fazer o meu máximo para que isso aconteça”, completou Caboclo, no mesmo despacho.

Temporada teve mais atividades extraquadra do que em jogos oficiais

Temporada teve mais atividades extraquadra do que em jogos oficiais

Aqui vale uma observação: o Raptors investiu muito para contratar os brasileiros, e a liga de verão é encarada pela diretoria como um evento importantíssimo para o estabelecimento de ambos os jogadores, que tiveram pouquíssimo tempo de jogo em uma temporada cheia de percalços na liga americana. Ambos precisam mostrar serviço, ainda mais depois do frustrante desempenho que o time teve nos últimos meses, até ser varrido pelo Washington Wizards nos playoffs. Mais: se os dois mal jogaram durante o ano, não dá para dizer que mereciam um lugar automático na seleção. Devido ao potencial, poderiam ser chamados, mas o  justo era que lutassem por uma vaga durante o período de treinos.

Os caras do Pan
Até porque a lista divulgada sob a capitania por Magnano é forte, com alguns nomes jovens, mas já de boa rodagem internacional. O destaque da convocação fica por conta do pivô Augusto Lima, um dos atletas que mais se valorizou na temporada europeia, arrebentando pelo Murcia, da Liga ACB. Raulzinho, seu companheiro de clube, e Rafa Luz, também muito elogiado pelo campeonato que fez pelo Obradoiro, são os demais estrangeiros. De resto, nove caras do NBB, divididos entre os finalistas Bauru (três) e Flamengo (dois), além de Franca, Limeira, Mogi e Pinheiros, com um cada. São eles: Ricardo Fischer, Larry Taylor, Vitor Benite, Leo Meindl, Marcus Toledo, Olivinha, Rafael Mineiro, Rafael Hettsheimeir e Gerson do Espírito Santo.

Rafael, Augusto e Raul: boa temporada na Espanha e entrosamento

Rafael, Augusto e Raul: boa temporada na Espanha e entrosamento

Oito desses atletas disputaram o Sul-Americano de 2014, em Isla Margarita, na Venezuela: os três ‘espanhóis’, Benite, Meindl, Olivinha, Mineiro e Hettsheimeir – ficaram fora Gegê, Arthur, Jefferson William e Cristiano Felício. O que supõe uma continuidade de trabalho. Sob a orientação de José Neto, terminaram u com a medalha de bronze, derrotados pela Argentina na primeira fase e pelos anfitriões na semifinal. Foram partidas equilibradas e inconsistentes de um time com potencial para ser campeão. Fischer estava na lista preliminar, mas foi cortado por lesão. Gerson, uma das boas novidades do NBB, é estreante de tudo. Marcus retorna a uma lista oficial pela primeira vez desde a era Moncho, se não falha a memória. Embora, no meu entender, não tenha feito um grande NBB, Larry aparece como uma espécie de homem de confiança da seleção, tendo participado de todas as principais competições desde 2012.

É um grupo com muito talento, de qualquer forma, com jogadores versáteis e um bom equilíbrio entre velocidade, força física e capacidade atlética. “Formamos um grupo de trabalho que mescla jogadores experientes e jovens que vão atuar pela primeira vez na seleção adulta. O importante é que temos um bom tempo de preparação. Posso garantir que é uma equipe bastante sólida e alguns atletas poderão ser convocados para a Copa América”, disse Magnano, que começará a trabalhar com os atletas no dia 14 de junho, em São Paulo, tanto no Paulistano como no Sírio. Resta saber apenas se ele vai estar no Canadá, ou não. Era para ser uma reposta simples, mas, quando o assunto é a confederação nacional, isso tem se tornado cada vez mais raro.

Boi na linha
Se Magnano não compareceu ao fim de semana do Jogo das Estrelas do NBB, em Franca, em março, o presidente da CBB, Carlos Nunes, ao menos esteve por lá. Em entrevista à repórter Karla Torralba, o dirigente já havia descartado a presença do argentino no Pan. Bom, parece que ele se antecipou um tanto, né? Na ocasião, afirmara que um problema relacionado à mudança do treinador para o Rio de Janeiro seria uma barreira para tanto. Não fazia o menor sentido a declaração. Agora, como vemos, a questão era mais complicada. No mesmo texto, para constar, tivemos mais esta frase aqui: “Vamos ter todos os melhores jogadores. Ainda temos que conversar a liberação dos atletas da NBA, mas a intenção é mandar todos”. Também não foi bem isso o que aconteceu. Havia uma preocupação política: agradar ao COB, lutando por medalha no Pan, para fortalecer o currículo desportivo brasileiro às vésperas de uma Olimpíada em casa. Ainda não sabemos qual o nível das equipes que vai para o torneio. O Canadá promete ser forte – Andrew Wiggins e Kelly Olynyk já sinalizaram que vão participar. Os Estados Unidos, por outro lado, vão com um time alternativo. Mark Few, técnico de Gonzaga, deve mesclar universitários e profissionais, mas não gente da NBA. Talvez atletas da D-League ou do mercado europeu.


Impropérios, afastamento e… o fim da linha para Marcelinho?
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Giancarlo Giampietro

Campeão contra o Maccabi, ainda idolatrado... E não é o bastante?

Campeão contra o Maccabi, ainda idolatrado… E não é o bastante?

Na mesma semana em que demos destaque aqui a Márcio Dornelles, um dos três basqueteiros nacionais que vão chegar ao clube dos quarentões neste ano, sai diretamente do vestiário do Flamengo uma notícia deprimente envolvendo o mais velho deles, Marcelinho Machado.

Segundo apuração dos companheiros de casa, Fábio Aleixo e Pedro Ivo Almeida, o camisa 4 basicamente já não estava nada contente com a redução dos seus minutos na temporada. Aí que ter começado os últimos jogos no banco de reservas foi o fim. No vestiário, depois de vitória sobre o Minas Tênis na terça-feira, partiu, então, para o confronto verbal com o técnico José Neto, usando de toda a sorte de impropérios para manifestar seu descontentamento. A diretoria intercedeu, protegendo seu treinador, e afastou Marcelinho do jogo contra o Uberlândia. Para vermos como não se tratou de uma discussão corriqueira.

A gente poderia apelar aqui ao politicamente correto e dizer que Machado, que vai completar 40 anos em abril, deveria ser justamente aquele a dar o exemplo. Não só pela idade, mas também por seu currículo, de diversas competições de seleção e histórico recente riquíssimo pelo Flamengo. Pontos válidos, claro. Mas o que me chama mais a atenção, mesmo, é o fato de o ala não entender ou não querer aceitar o que se passa ao seu redor. Uma situação que serve como a metáfora perfeita de uma carreira para qual o adjetivo “polêmica” soa como eufemismo.

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A habilidade de Marcelinho com a bola é inegável, em que pese aqui o ranço de anos e anos de campanhas frustradas da seleção que serviram para elegê-lo como o principal alvo de críticas da torcida. Só mesmo a ausência de Nenê aqui e ali para desviar o foco dos chutes de três contestados do veterano.

Sim, ele exagerou muitas vezes com a bola em mãos. Ao mesmo tempo, porém, poderia surpreender a todos com passes que demonstravam uma visão de quadra fora do normal. O problema era (é!?) justamente este: nem sempre o carioca entendia ou – creio mais nisto – queria entender, enxergar todas as movimentações possíveis em quadra. Partia ele para a definição, e que o time e os companheiros se virassem com as consequências. Pois ele, confiante que só, não temia nenhum desfecho. E o Técnico X observando, talvez refém de seu talento.

(Antes que os mais enfezados cuspam marimbondos, favor entender que estou me referindo a um Marcelinho de dez anos atrás, quando a marca que ele se aproximava era a dos 30 anos. Uma época em que ele sobrava quando competia com o segundo escalão das Américas – em 2005, liderou o Brasil a um título continental com 23,4 pontos, 5,2 rebotes e 5,6 assistências em média. Era um torneio sem EUA e sem geração dourada argentina? Sim. Só não se esqueçam do que aconteceu na edição 2013, na qual, com as mesmas condições, já foi possível perder para Jamaica e Uruguai.)

Acontece que Marcelinho comprou uma boa briga agora. Neto ganhou poder e respaldo nos bastidores rubro-negros depois do bicampeonato nacional e das conquistas inéditas da Liga das Américas e da Copa Intercontinental. Se Machado estivesse fazendo chover dentro da Arena da Barra ou do ginásio do Tijuca, já seria difícil o ‘embate’. Agora, quando o cara vem de uma sequência horrorosa em quadra, na qual marcou apenas 14 pontos em três partidas, vai falar o quê? Contra Liga Sorocabana, Bauru e Minas, ele arriscou 17 arremessos e converteu o grande total de dois. Sim, dois chutes certos, de longa distância, em 17 tentativas. O restante dos pontos veio apenas na linha de lance livre.

Azedou

Azedou

Embora fosse alto, com boa envergadura e inteligente, nem mesmo no auge dá para dizer que o camisa 4 foi um marcador minimamente atento e dedicado. A essa altura da vida, sabemos que ele não causa impacto algum pelo Flamengo na hora de defender. Se a bola não cai do outro lado da quadra, é só fazer as contas…

Nas primeiras 16 partidas da temporada, o mínimo que Marcelinho havia jogado foram os 17 minutos que recebera contra Limeira, jogo no qual teve participação praticamente nula em quadra: 3 pontos, 2 assistências, 1 rebote e 1/3 nos arremessos. De resto, seu tempo de quadra havia flutuado entre 20 e os 33 minutos que teve contra Macaé, no dia 22 de dezembro.

Nos últimos dois jogos, contra Bauru e Minas, a mudança: ficou em 19 e 17 minutos, respectivamente. No confronto com a atual melhor equipe do Brasil, saiu de quadra com cinco pontos de lance livre e nenhum nos arremessos de quadra. Contra o time de Demétrius, teve a chance de arriscar uma bola de longa distância e só.

Em termos de médias, são 12,6 pontos, 2,4 rebotes e 2,1 assistências na temporada, já computando as últimas partidas sôfregas. É um bom rendimento para um coadjuvante. Mas esse papel parece não agradar, não ser o bastante para Marcelinho, que tem médias no NBB de 22,4 pontos 4,7 reboes e 3,0 assistências.

Não me recordo de momento algum de sua carreira no Brasil em que estivesse tão, digamos, discreto em quadra como nesses últimos dias. Ele, também, muito provavelmente não se lembra. Vem daí o choque. Mas só é choque se for para acreditar, mesmo, que ainda tem fôlego e recursos técnicos para se manter como um sério protagonista do time.

Rodeado de bons jogadores, Marcelinho ainda ganhou um prêmio de MVP na Liga das Américas do ano passado

Rodeado de bons jogadores, Marcelinho ainda ganhou um prêmio de MVP na Liga das Américas do ano passado

Desde a chegada de Marquinhos ao time, sabemos bem quem tem ou deveria ter a prioridade como força criativa. São raríssimos os casos de defensores do NBB que consigam frear o ala quando ele está decidido a bater para a cesta, devido a seu controle de bola e atributos físicos.

Obviamente, não são apenas os dois para dividir a bola. Olivinha trabalhou duro o bastante para se tornar uma arma perigosa dentro-e-fora. Nícolas Laprovíttola tem facilidade para buscar as infiltrações. Jerome Meyinsse domina a tábua ofensiva. Foi esse o Flamengo que encheu a sala de troféus. Para esta temporada, ainda chegou um Walter Herrmann para contar boas histórias. Ah, e Vitor Benite estava plenamente recuperado de sua cirurgia no joelho.

São muitas alternativas. Num time desses, o coitado do Felício só ganha 12 minutos por jogo (um desperdício absurdo de um potencial enorme, aliás). Que tipo de números e envolvimento Marcelinho esperava? Aos 39 anos, rodeado por tanto talento? O Fla não esperava e,mais importante, não precisava de um ano heróico do veterano, que desfruta, mesmo assim, de um ótimo salário (quando ele cai na conta, claro).

Existe a possibilidade, agora, de ele ser dispensado, dependendo do quão desconfortável a diretoria se sinta. É uma decisão delicada, e a química do vestiário, dependendo de como as coisas forem feitas, pode se esvair. Como se, com a bola quicando, o time já não tivesse problemas o bastante para resolver.

Se formos nos teletransportar para mais uma cidade praiana, mas bem lá para cima, chegando a Los Angeles, temos o ocaso de um combalido Kobe Bryant, estrela solitária num Lakers que luta contra os pesos pesados da Conferência Oeste da NBA. Enquanto aguentou, o astro conseguiu seus números, bateu seus recordes e tal, mas com uma ineficiência alarmante e, pior, perdendo uma atrás da outra.

Marcelinho tem o luxo, na Gávea, de ser escoltado por gente que pode muito bem, obrigado, assumir maior carga e responsabilidades. De estar perto da aposentadoria brigando por troféus, sendo ainda uma figura adorada por uma torcida tão apaixonada e apaixonante como a rubro-negra.

A não ser que surjam outras informações que contextualizem a ira do veterano, virar as costas para um cenário desses parece bem mais grave do que ignorar um pivô livre debaixo da cesta. Seria o arremesso mais errado que ele poderia arriscar.


Bauru também sabe vencer um jogo de nervos
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Giancarlo Giampietro

O Bauru de Ricardo Fischer comandou o placar em mais um jogo tenso no Rio

O Bauru de Ricardo Fischer comandou o placar em mais um jogo tenso no Rio

Como parece acontecer em todo anunciado grande jogo do NBB, aquele que gera expectativa por parte de todos os envolvidos com o campeonato – e, não, apenas de duas torcidas –, o duelo entre Flamengo e Bauru desta terça-feira foi nervoso.

Bastante equilibrado, e nervoso, no qual o clube paulista saiu vencedor por 84 a 77, mostrando que pode render nas mais diversas situações, chegando a nove triunfos consecutivos.

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Sim, essa coisa da chiadeira não é a perspectiva mais original para se abordar um confronto tão interessante como esse, com os atuais bicampeões encarando o time que se reforçou tanto, mas tanto, que se tornou obrigatoriamente o principal candidato a derrubá-los. Jajá coloco um pouco mais de colher aqui. Antes, se faz necessário bater na mesma tecla. Muito já se escreveu a respeito disso, mas, enquanto a medição da reclamação dos técnicos e jogadores – principalmente o dos técnicos – se manter em altos decibéis, não tem como não registrá-la. É demais, gente.

Os árbitros cometem erros?!

Esperem um pouco aí, enquanto dou uma pausa para me restabelecer depois de bombástica informação.

(…)

Pronto: água com açúcar tomada. Qualquer coisa, a maracugina já está a postos também.

A arbitragem no Rio de Janeiro deixou passar muitos lances. Teve, por exemplo, um ataque em que Gui (acho) levou o toco de Benite na zona morta, no primeiro tempo, num ação que pareceu limpa, na bola. No segundo tempo, Jerome Meyinsse foi subir para um bloqueio e tocou no aro, impedindo uma bandeja. Interferência clara, e nada foi marcado.

Alex: 17 pontos, 10 lances livres e 8 lances livres batidos... O empenho de sempre em grandes jogos para o veterano

Alex: 17 pontos, 10 lances livres e 8 lances livres batidos… O empenho de sempre em grandes jogos para o veterano

Percebam que nem citei o time dos atletas acima. Porque não importa: os erros acontecem naturalmente, contra e para ambos os lados, de modo que se nivelam ao estouro do cronômetro. Nessa partida em específico, não sei bem se houve uma atrocidade, ou uma conduta tendenciosa que justificasse tanta pirraça. A não ser que a pressão seja algo consciente, para tentar ganhar o benefício da dúvida mais para a frente, num momento de decisão.  Não seria de forma alguma algo aceitável, mas sabemos que faz parte do jogo. A relatada alta temperatura na Arena da Barra também poderia ser um fator para esquentar a cuca, claro. Mas esse costuma ser o padrão de tensão das partidas por aqui, independentemente do funcionamento do ar-condicionado.

Além do mais, cobrar tanto os homens do apito pode ser mero escapismo. Afinal, ninguém aqui, aí ou ali acredita piamente que Bauru e Flamengo tenham feito um jogo perfeito*, né? Não quando temos 29 turnovers somados e um aproveitamento nos arremessos bem abaixo dos 50%. O Fla, por exemplo, fez um ataque para 183 pontos e terminou com 77 (42,1%).

(*PS: Ninguém é perfeito. Jornalista, jogador, torcedor, técnico e juiz. Será impossível conviver com uma realidade dessas?)

Atrás no placar o tempo todo, os rubro-negros, naturalmente, foram aqueles que mais reclamaram – creio, aliás, que muito mais. Obviamente não ajudou em nada o fato de o time de José Neto ter perdido dois dos últimos três jogos, situação com a qual não estão nada habituados. “Não estávamos tão concentrados e isso nos prejudicou. Bauru soube controlar o jogo e é muito difícil você virar uma partida atuando diante de uma equipe tão qualificada. Não estamos em um bom momento na competição, mas temos que botar a cabeça no lugar e tentar consertar os erros para os próximos jogos”, disse Gegê.

Nas entrevistas pós-jogo, ainda mais depois de tanta tensão em quadra, é difícil colher uma declaração tão boa como essa, via site oficial da LNB. O jovem armador flamenguista resumiu objetiva e precisamente o que se passou (ou o que se passa) em quadra com sua equipe. Se a cabeça não está no lugar, as coisas ficam mais complicadas, mesmo, especialmente contra o único rival do NBB que lhe pode fazer frente no número de atletas “selecionáveis” – ao menos levando em conta os nomes constantes nas listas de Rubén Magnano e sua comissão.

E aí, nesse jogo de nervos, o clube paulista encontrou mais uma oportunidade para comprovar sua força. O Limeira de Dedé e seu batalhão de armadores é o líder do NBB no momento, com apenas um revés, e vem de mais uma grande vitória. Mas é muito difícil apontar outro favorito ao título que não Bauru.

A forma como a partida se desenvolveu só reforça essa impressão. No papel e também pela abordagem que resultou nos títulos do Paulista e da Liga Sul-Americana, sabemos que a equipe de Guerrinha está construída para vencer pelo ataque. O potencial ofensivo em seu elenco é absurdo, com oito atletas que podem bater a marca de 20 pontos com tranquilidade. Caras que, colocados num time de menor orçamento, poderiam ser a principal referência.

Contra os rubro-negros, porém, qual era a preocupação? Ricardo Fischer conta: “Era um confronto direto e sabemos o quanto é difícil bater o Flamengo fora de casa. Viemos com uma proposta de baixar a pontuação deles e conseguimos. Empurramos o Flamengo para baixo”. Objetivo alcançado – o que, ironicamente, rendeu ao seu time uma folguinha como melhor ataque do NBB, superando os cariocas em casas decimais.

O Bauru tem em seu perímetro atletas ainda mais ágeis que que os do Fla – ainda mais quando estão juntos Alex, Larry e Gui (num excelente segundo tempo). Velocidade e agilidade: é para isso que o basquete se voltou, e os quatro líderes do campeonato nacional têm esse ponto em comum. A presença de Jefferson William na rotação de pivôs também dá mais leveza ao conjunto paulista. O ala-pivô, aliás, fez uma grande atuação, mexendo bem a bola, correndo para valer, enfrentando um páreo duríssimo contra Herrmann e Olivinha.

Jefferson jogou muito contra sua ex-equipe, dominando Herrmann

Jefferson jogou muito contra sua ex-equipe, dominando Herrmann

No Rio, Jefferson e seus companheiros não promoveram exatamente um abafa, não executaram uma defesa massacrante, mas conseguiram limitar as infiltrações de Nicolás Laprovíttola, algo essencial. Marquinhos, é verdade, conseguiu jogar lá dentro, mas as linhas de passe estavam mais apertadas. E aí temos arremessos de longe bem fiscalizados (7/30, 23,3%).

Do outro lado, o volume nos tiros de fora bauruenses seguiu elevado, com 29 tentativas, contra 30 de dois pontos. Seu aproveitamento foi bem maior (37,9%, rendendo 12 pontos a mais também) neste fundamento. Mas não se pode ignorar a vantagem dos visitantes nos lances livres, com nove pontos a mais (21 a 12), em cestas preciosas conseguidas depois de infiltrações de Fischer, Alex e da busca do jogo interior com Hettsheimeir, consistentemente mais efetivo em seu retorno ao Brasil quando mais perto da cesta.

Não foi um banho de basquete. O Flamengo se aproximou do placar de modo perigoso em diversas ocasiões no segundo tempo, inclusive nos minutos finais. Faltou, no entanto, na hora de concluir a virada, a lucidez e a frieza que Gegê mencionou. É algo obrigatório para enfrentar um time do porte de Bauru: concentração, mais na bola, muito menos no apito.


A ciranda de Marquinhos, Flamengo e Wizards. Como faz agora?
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Giancarlo Giampietro

Caracter e Herrmann, os que não conhecem tão bem o Flamengo

Caracter e Herrmann, os que não conhecem tão bem o Flamengo

Primeiro foi tratado como “rumor”. Depois, como furada. Mas agora parece que está acontecendo mesmo: os repórteres Fábio Aleixo e Pedro Ivo Almeida, parceiros aqui do UOL Esporte, acabam de noticiar que Marquinhos está, mesmo, em negociações avançadíssimas para assinar com o Washington Wizards.

De modo que este é um post complicado de escrever, mas importante, já que tem a ver com o universo do basquete e o do jornalismo, com notícias (ou boatos?), desmentidos (ou dissimulações?)… Enfim, todas as artimanhas que a profissão sempre ofereceu para repórteres e fontes, que ficam ainda mais complicadas em tempos de Internet. Vamos lá, então, relatar o que está acontecendo, em ordem cronológica:

Quinta-feira
O jornalista italiano Emiliano Carchia, que pilota o site Sportando, referência em notícias do basquete europeu e que também mete a colher aqui e ali no mundo da NBA, soltou uma bomba que agitou o basqueteiro brasileiro – e o flamenguista em particular. Emiliano cravou: Marquinhos havia acertado um contrato de um ano com o Washington Wizards e estaria pronto para viajar no mesmo dia.

Acontece que, naquele exato momento, o Flamengo estava treinando na Arena HSBC no Rio de Janeiro, na véspera da disputa da Copa Intercontinental contra o Maccabi Tel Aviv. Que hora, hein? Finalizada a sessão, Marquinhos desmentiu, disse que não tinha assinado contrato nenhum. O Flamengo não estava sabendo de nada. O agente do atleta, em contato com o jornalista italiano, reforçou as negativas, pedindo um desmentido no site. Emiliano seguiu a linha de ouvir o outro lado e publicou sua nota de noite. O pequeno texto, porém, se encerrava com a informação de que uma fonte sua assegurava que o ala brasileiro e o time da capital norte-americana tinham um acordo acertado.

Sexta-feira
Marquinhos vai para a quadra normalmente com o Flamengo, escalado no time titular ao lado de Laprovíttola, Marcelinho e Walter Herrmann, trio que também participou da Copa do Mundo. Torneio no qual o lateral jogou muita bola, apresentando uma intensidade bastante rara para quem acompanha sua carreira desde os tempos de Vasco da Gama, Mogi etc. Obviamente que o desempenho chamaria a atenção de olheiros – o atleta sempre foi um prospecto de nível internacional, descolando contrato com o então fortíssimo basquete italiano cedo em sua carreira, sendo draftado pelo New Orleans Pelicans-então-Hornets e tal. Poderia estar no basquete europeu há tempos, em clubes de ponta, mas, devido aos filhos, preferiu o conforto de casa, fazendo boas campanhas por Pinheiros e, agora, Fla.

Contra o Maccabi, o ala não teve o desempenho mais eficiente (4-12 nos arremessos, 11 pontos, 4 rebotes, 2 roubos de bola, 2 turnovers em 29 minutos), mas jogou duro, com a mesma pegada que havia demonstrado na Espanha. Não foi sua melhor partida, mas jogou bem, passando aquela impressão (de sempre) de que pode ser muito mais utilizado, ainda mais quando está empenhado em partir para a cesta.

Ao final da partida, uma derrota por 69 a 66, Marquinhos foi o escolhido pelo repórter Guido Nunes, do SporTV, para fazer os primeiros comentários sobre o jogo. Quando questionado sobre os reforços rubro-negros para a competição – especificamente o argentino Walter Herrmann, que vem para disputar toda a temporada, e o norte-americano Derrick Caracter, contratado especificamente para o Intercontinental e os amistosos nos Estados Unidos –, o brasileiro não dobrou a língua e foi crítico. Disse que os gringos não jogaram bem e que o técnico José Neto deveria ter usado um “time que se conhece”. Assim, na lata. Essa coisa de contratação pontual, para um punhado de jogos, tem histórico bastante duvidoso. Os cruzeirenses que o digam.

O que nos leva ao grande hit da banda sueca The Hives, que já tem mais de dez anos:

Sábado
Lá vêm Fábio Aleixo e Pedro Ivo Almeida para basicamente confirmarem a bomba que Emiliano Carchia havia soltado na quinta: sim, Marquinhos está negociando com o Washington Wizards. Nenê teria reforçado a indicação de seu companheiro de seleção, que está inclusive pesquisando sobre escolas na capital norte-americana para inscrever as filhas. Quer dizer: o Sportando pode ter meio que errado ao dizer que o contrato estava assinado e que já viajaria na quinta. Mas também estava meio certo, no sentido de que parece que está tudo acertado entre as partes, restando apenas a tinta no papel.

Domingo
E aí? Faz como?

Lembrando que não é a primeira vez que Marquinhos se envolve nesse tipo de tiroteio público. Como sabem Guerrinha e Flávio Davis, assistentes da seleção na gestão de Lula Ferreira. Por falar nesta fase da equipe nacional, mais especificamente de 2007, nem sempre o que acontece em Las Vegas fica em Las Vegas, né? Além do mais, até Rubén Magnano, um entusiasta do jogador, teve suas rusgas e lamúrias. O que não quer dizer que ele seja um atleta problemático. Marquinhos é simplesmente um atleta que não se importa com o microfone e costuma falar o que dá na telha.

O ala está falando por conta própria? Sua opinião foi, digamos, pontual? No sentido de que só fez uma crítica ao basquete apresentado pelo(s?) reforço(s?) naquela sexta-feira específica e que seu treinador deveria se ater a um time mais bem entrosado? Ou seu comentário tem a ver com algum ressentimento pela contratação de última hora de Caracter? E isso reflete de algum modo a opinião geral do vestiário, ou pelo menos de alguns companheiros? Se há um desconforto, isso o teria motivado a abrir o bico em rede nacional, uma vez que seu compromisso com o clube já está chegando ao fim?

São as questões que precisam ser respondidas agora.

O Flamengo, basicamente, precisa vencer o Maccabi por quatro pontos para ganhar um título histórico. É mais do que plausível isso. O time israelense comprovou na primeira partida sua vulnerabilidade, sua falta de entrosamento. Foi salvo pelo caminhão de chutes de três desperdiçados pelo adversário e pelas estripulias de Jeremy Pargo.

Agora, porém, as dificuldades cresceram. E o que será mais complicado de se resolver: lavar a roupa suja com Marquinhos, treinar os chutes de três pontos ou anular Pargo?


Perguntas e respostas após o Sul-Americano
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Giancarlo Giampietro

Rafael Luz foi um dos pontos positivos em mais uma campanha frustrada

Rafael Luz foi um dos pontos positivos em mais uma campanha frustrada

É só um Sul-Americano, né? Serve para nada.

É o que a gente gosta de dizer. Como se o basquete brasileiro estivesse plenamente estabelecido como potência mundial e qualquer torneio pudesse ser tratado com desdém. (Desdém por parte da crítica, claro, e não dos jogadores que lá estiveram.)

O que não dá mais. Não quando a seleção masculina vem de quatro derrotas em quatro partidas pela Copa América. Desfalcada de seus atletas de NBA, é verdade, mas enfrentando adversários igualmente avariados. E dirigida por um campeão olímpico, não se esqueçam.

Daí que sempre tem muito o que ser discutido. Como de fato acontece após mais uma campanha frustrante em quadras venezuelanas, agora tendo de se contentar com um terceiro lugar. Melhor que terminar em penúltimo? Sim, melhor. Mas perder de Equador, Peru, Paraguai ou Chile é algo que, por ora, parece impensável, mesmo. Porque, por maior que seja a pindaíba, ela ainda tem limite.

De modo que o que temos é o seguinte: independentemente de quem estava em quadra, a seleção brasileira perdeu seis partidas consecutivas até se safar na última segunda-feira ao bater o Uruguai para conquistar um honroso lugar no pódio e uma ainda mais fogosa vaga no próximo Pan-Americano. Que vai ser disputado em… (responda sem consultar o Google, por favor).

Seis? Sim, meia dúzia, mesmo: as quatro da vexatória e inesquecível Copa América do ano passado, mais duas este ano, contra Argentina e Venezuela. Mais duas derrotas que suscitam algumas perguntas. No fim de semana, por exemplo, pouco antes de começar no Domingo Maior na Globo, as redes sociais basqueteiras estavam novamente borbulhando.

Depois de dois jogos parelhos, eram duas derrotas para o time de José Neto, nos primeiros jogos que contavam para alguma coisa de fato. Foram duas derrotas com dinâmicas parecidas: altos e baixos no placar, e a virada tomada no quarto final.

Antes de a seleção principal entrar em quadra nesta quinta, ficam listadas algumas dessas encafifações. É como se fossem mais chutes de três  brasileiros equivocados, com a bola atirada para o alto, esperando uma cesta milagrosa:

– O que significa hoje o Campeonato Sul-Americano?
Olha, a competição já teve seus dias mais charmosos, mas faz tempo que não vê equipes competindo com força máxima. Aqui, do fundo da caixola, vou me lembrar do torneio de 2001, no Chile, quando o Brasil ainda estava se habituando com nomes como “Anderson Varejão” e “Nenê”, dois pivôs cheios de potencial encarando uma Argentina um pouco mais experiente, mas ainda jovem, com caras como Luis Scola, ainda sem muito cabelo, em quadra. Torneio transmitido pela ESPN por aqui, que incitava a gente devido aos novos prospectos. Em 2004, estava eu perdido em Campos de Goytacazes para ver o emergente Carlos Delfino e o espetacular Walter Herrmann barbarizarem contra Lula Ferreira e os melhores do Nacional de basquete na final. Acho que foi a saideira.

Figueroa, velho conhecido francano e pinheirense, x Raulzinho

Figueroa, velho conhecido francano e pinheirense, x Raulzinho

– A chance de ver alguém de elite no campeonato acabou, mesmo?
Bom, se por elite formos entender “NBA”, a coisa muda de figura se o campeonato for disputado na Venezuela. Aí o Greivis Vasquez, armador do Raptors e provável mentor de Bruno Caboclo e Lucas Bebê na próxima temporada, joga. Pega bem com o governo, as autoridades, o marketing pessoal. Aliás, melhor jogar uma competição com TV, torcida e tudo mais, do que ficar afundado numa rede qualquer de um resort caribenho, nénão? Agora, se você tiver a cabeça mais aberta e pensar em atletas de Euroliga e Liga ACB também como de ponta – o que é um conceito obrigatório aqui neste espaço –, então no Brasil estávamos bem representados por jovens atletas, mas com boa rodagem na Espanha.

– OK. Se é um campeonato esvaziado, qual o sentido então de entrar num Sul-Americano preocupado em vencer?
Há muita gente que defende a tese de que a competição não tem peso algum e que pode ser utilizada para experimentações, mesmo, para dar cancha aos jogadores mais jovens do país. Confesso que gosto dessa ideia, sim. Desde que tenhamos um time competitivo o bastante para lutar pelo título. Não adiantaria muito pegar a molecada juvenil do Pinheiros, vesti-los de Brasil e atirá-los em quadra. Tomam cacetadas e aprendem o quê?

– E qual foi o Brasil que jogou o Sul-Americano, então?
Bem, na seleção escalada por José Neto, estávamos, em geral, com um grupo que precisa de experiência, sim, com a “amarelinha” (ou a “branquinha”, muitas vezes). Pensando em longo prazo, é bacana que um Raulzinho lide com a pressão de um ginásio venezuelano fervendo, encarando gente barbada do outro lado. Que Cristiano Felício veja, mais uma vez, que tem bola para dominar um garrafão lá e cá. Etc. Por outro lado, é preciso dizer que não havia nenhum adolescente em quadra. O mais jovem, Leo Meindl, tem 21 anos, já disputa o NBB adulto há duas temporadas e foi pouco utilizado. Raul, Rafael Luz, Augusto Lima e Rafael Hettsheimeir acumulam mais de três temporadas na Liga ACB, o principal campeonato nacional da Europa. Desse quarteto, apenas Hettsheimeir, reserva do Unicaja Málaga (clube de Euroliga) e lesionado na segunda metade, não jogou muito durante o ano. Da turma do NBB, Mineiro tem 26 anos, Arthur, Jefferson William e Olivinha, 31. Vitor Benite faz parte da seleção de modo regular desde 2011. São inexperientes, pero no mucho.

Vásquez, orgulho venezuelano e figura solitária da NBA em quadra

Vásquez, orgulho venezuelano e figura solitária da NBA em quadra

– O que isso quer dizer?
Que, francamente, não dá para justificar as derrotas com base em inexperiência e uma suposta predisposição para o experimento. Os jogadores convocados não estão tão distantes assim de uma lista “principal” do país. E, ao menos aqui na base do 21, são vistos como atletas talentosos, de muito potencial. Além do mais…

– Contra quem eles jogaram?
Como já dissemos, a Venezuela contava com seu único figurão de NBA, Greivis Vasquez, alguém que acabou de assinar um contrato de US$ 13 milhões por dois anos com o Toronto Raptors. Feito o registro, não estamos falando de uma potência mundial. É, sim, uma seleção com jogadores atléticos, enjoados, mas que, mesmo fazendo a Copa América em casa, com Vasquez e um técnico argentino, não conseguiu a vaga no Mundial. O Uruguai não estava completo. Já a Argentina levou para o campeonato uma equipe composta apenas por atletas em atividade na América do Sul – bons valores, mas não necessariamente os melhores do país. Nem o Facundo Campazzo, promovido ao time A, estava lá. Isto é: se for pensar bem, o Brasil era quem tinha o elenco mais renomado. Um time de certa forma jovem – especialmente em contraponto ao elenco verdadeiramente veterano que vem sendo preparado por Magnano –, mas que entrava para ganhar.

– Posto isso, sabemos que o Brasil perdeu os primeiros dois jogos que valiam. Que houve?
Digamos que os brasileiros tiveram seus bons momentos em quadra. No final da fase de grupos, sábado, contra os argentinos, por exemplo, a seleção venceu os segundo e terceiro quartos por 34 a 16. Sim, tomaram míseros 16 pontos em 20 minutos, algo sensacional, independentemente do nível de competição. No quarto período, no entanto, tomaram uma sacolada de 27 a 13. Essa derrota acabou deixando os hermanitos na primeira posição do grupo, empurrando o Brasil para um confronto com a Venezuela na semifinal. A dinâmica da partida foi de certa forma parecida. A seleção abriu uma vantagem razoável, mas acabou tomando a virada no último quarto. Legal que eles tenham encarado um ambiente daqueles, mas seria muito melhor se estivesse valendo o título, não? Digo, que guardassem essa experiência para a final.

Armador Heissler Guillent deu trabalho para o Brasil na semi. Mas a defesa foi bem

Armador Heissler Guillent deu trabalho para o Brasil na semi. Mas a defesa foi bem

– Além das derrotas, o que as estatísticas dizem sobre a campanha?
Adoro a expressão que nos conta sobre a “frieza dos números”. E, olha, número por número, a coisa foi gélida (obs: contando apenas os duelos com Argentina, Venezuela e Uruguai, ok?). Traduziu muito bem o que vimos em quadra dessa vez. O Brasil fez um ótimo papel defensivo. Um lapso aqui, outro ali, mas em geral o time se comportou de modo muito sólido ao proteger sua cesta. Do outro lado, porém, foi uma tristeza. A começar pelos 39,7% nos arremessos de quadra no geral. De três pontos? Horrendos 20%, com mais assustadores ainda 15 acertos em 75 (!!!) tentativas. Quer dizer: o time errou, errou e errou mais um pouco de longa distância, e não parou de atirar. Isso é reflexo claro de um coletivo desorganizado ofensivamente. A movimentação fora da bola foi praticamente nula. Raulzinho, por exemplo, vezes era forçado a jogar no mano a mano, ou num pick and roll sem inventividade alguma, quase sempre com ângulos frontais para a cesta. E o jovem armador, até que alguém me comprove o contrário, nunca teve perfil de Allen Iverson. É agressivo, mas, sozinho, não vai resolver as coisas. Pivôs ágeis como Mineiro e Augusto pouco foram servidos no pick-and-roll ou em cortes vindo do lado contrário. A turma do perímetro, uma vez acionados os grandalhões, se estacionavam, como se a única jogada seguinte pudesse ser disparo de três. Lembrando que este é um problema repetido quando nos recordamos da lamentável Copa América. O talento estava ali, mas não foi muito bem manejado para pontuar.

– Pensando na seleção, principal, nessa gama de talentos, quem merecia a promoção para tentar uma vaga no Mundial?
Bom, agora já ficou um pouco tarde para falar de merecimento, ou não, uma vez que sabemos que Raulzinho, Rafa Luz, Cristiano Felício e Rafael Hettsheimeir foram pinçados para treinar com os marmanjos. Nenhum desses quatro nomes pode ser contestado severamente, é verdade. Mas gostaria de saber quais são os critérios de convocação. Algo que Magnano nunca nos deixou muito claro.

– Qual a confusão sobre os critérios de composição da seleção, então?
Na minha humilde e 99% desnecessária opinião, alguns fatores precisam se discutidos:

a) a temporada que cada um apresentou;
b) o desempenho nos treinos e, claro, nos jogos para valer; e aí não contam Paraguai e Equador. Qualquer coletivo interno tem mais peso, neste caso.
c) quem se encaixa melhor com o que já tem de disponível no time principal?
d) como exatamente Magnano pretende aproveitar essas últimas peças?

Na cabeça do argentino, certamente aparece outro item: “Histórico/serviços prestados”. Não sei bem se concordo com essa.

Temporada por temporada, quem teve a melhor campanha de um brasileiro na Espanha este ano foi Augusto Lima, e não há nem o que se discutir aqui. Ao meu ver, uma oportunidade desperdiçada para um jogador extremamente valorizado na ACB – arrebentou nos rebotes, na defesa e nas estatísticas mais avançadas. O bizarro é que um atleta superprodutivo desses não tenha nem mesmo espaço no Sul-Americano. Não adianta julgar por dois ou três minutos de quadra. Das duas, uma: ou é “tímido” e não se impôs nos treinos, ou acabou engolido por uma rotação um tanto maluca. Mas é difícil de aceitar que não sirva por aqui.

Lembrando sempre: não estamos falando de Scola ou Tim Duncan, mas, sim, de um pivô cheio de energia, capacidade atlética invejável, bom para fazer o serviço sujo e atacar os rebotes ofensivos. Uma peça complementar muito boa, e não alguém que vai carregar um ataque. Como a comissão técnica enxerga Rafael Hettsheimeir, que pouco jogou este ano, diga-se. No caso do pivô, o que não dá, porém, é esperar que ele sempre vá repetir aquela atuação histórica de Mar del Plata contra Scola. Aquela não é a regra, mas, sim, a exceção. E, com Splitter, Nenê e Varejão escalados, Giovannoni fazendo o strecht 4, não sei bem quantos minutos sobrariam para Hettsheimeir ser acionado e esquentar a munheca. Talvez aí cresçam as chances de um Cristiano Felício, que completa 22 anos, mas ainda é um projeto, alguém que poderia ser o 12º homem da lista.

Mas, bem, esse já seria um artigo à parte. Na combinação dos quatro critérios propostos acima, um nome seria certo: Rafael Luz, que fez uma campanha sólida na Espanha, foi o melhor armador no Sul-Americano e tem características que se encaixam bem na rotação de cima, ao meu ver: dá estabilidade, ao mesmo tempo que também é energético e influencia o jogo com sua força física e agilidade. Seu chute ainda é deficiente, mas, como peça complementar na rotação principal, parece uma escolha adequada para jogar ao lado de Huertas e Larry, armadores que gostam de ter a bola em mãos.

– E o Raulzinho?
Na duas derrotas do Sul-Americano, o Brasil perdeu o jogo com a posse de bola. E a bola nas mãos do armador revelado pelo Minas. É em momentos como esse que vale toda a calma do mundo quando formos falar do rapaz. Nem tão lá em cima, nem tão cá em baixo. Draftado pela NBA, é verdade. Mas como um título de capitalização no futuro. O Utah Jazz admira seu talento, mas sabe que ainda não é hora de jogar nos Estados Unidos. Os pivôs são os que mais demoram para se desenvolver, mas executar a armação de uma equipe, quanto mais de uma seleção não é moleza, não. Raul obviamente tem o tino, personalidade e arranque para isso. Mas, ao menos nos três jogos do Sul-Americano, pudemos vê-lo tentando fazer muito com a bola. Alguns passes forçados, outros com brilho. Tentativas arrojadas de infiltração, mas por vezes se perdendo em meio às linhas defensivas etc. Lances que pedem refinamento, algo que, esperamos, vai acontecer no decorrer das temporadas, com a sucessão de acertos e erros, que tenhamos muito mais bolas certeiras. No Sul-Americano, ele tinha mais responsabilidade criativa, e as coisas não saíram tão bem. De todo modo, vale a ressalva: foram apenas três jogos, não é a maior amostra. No grupo principal, porém, sua carga seria muito menor. Só vejo nas características de Luz algo que combina melhor com o grupo de cima.


E coube a Shilton o lance do bicampeonato do Flamengo
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Giancarlo Giampietro

Shilton comemora ao lado de Neto: parceria desde Joinville

Shilton comemora ao lado de Neto: parceria desde Joinville

Shilton terminou a final do NBB 6 zerado, sem nenhum pontinho que seja. Errou os dois arremessos que arriscou. De resto, cometeu mais faltas do que pegou rebotes (4 contra 3, respectivamente). E ainda cometeu dois desperdícios de posse de bola em apenas 14 minutos em quadra.

Afe!!! Digamos que não é a melhor linha estatística.

E, ainda assim, o pivô pode ter dado o terceiro título ao Flamengo, para você ver como funcionam as coisas.

Restavam menos de 40 segundos quando Marcelinho saltou para chutar de três pontos (claro) e talvez se consagrar. Os rubro-negros tinham dois pontos de vantagem contra o Paulistano. Era a chance de matar o jogo, garantir o caneco. Deu aro. Enquanto a bola respingava no aro, imagine a apreensão dos torcedores. O time visitante teria a chance de buscar o empate ou até mesmo uma virada, naquela que seria talvez a última posse de bola da partida.

Mas Shilton limpou a barra do ala-armador. Capturou seu único rebote ofensivo. O lance do jogo. A bola voltou, então, para as mãos de Machado, e aí, sim, o cara pôde selar a fatura ao balançar o barbante nos lances livres – foram deles os último quatro pontos, terminando com 16, sendo mais uma vez o cestinha em quadra, ao lado de Meyinsse.

Ao final do jogo, para o SporTV, o veterano afirmou que, para ser campeão pelo Fla, importava a “raça e a entrega”. Depois disse que a técnica até importava, mas deu a entender que isso ficaria em um segundo plano. Não sei bem se concordo, mas, aqui, pegamos a fala empolgada do camisa 4 como o gancho ideal.

Se for para falar de entrega, alma, dedicação, essas coisas, Shilton vale como símbolo. Talvez o símbolo ideal nessa linha – Olivinha tem mais recursos e não pode ser enquadrado nessa categoria.

Shilton x Pilar

Shilton x Pilar

É um cara para lá de discreto em quadra, não consegue se acertar com a linha de lance livre, não vai ameaçar ninguém no jogo de mano-a-mano com a bola, mas entra na lista daqueles personagens de que todo time precisa.

Dificilmente vai aparecer nos melhores momentos, ou ser chamado de bestial em quadra. Mas ele faz das suas monstuosidades em quadra, no famigerado e sempre subestimado serviço sujo que permite que os astros levem o brilho. Forte para burro, agressivo, limpa a quadra com corta-luzes que machucam e ocupa seu espaço. É difícil de ser removido no garrafão e, além de tudo, tem ótimo tempo de bola para os rebotes.

Shilton não cansa de brigar, e aqui não vamos nos cansar de destacar aqueles que se alimentam das rebarbas, e dão sustentabilidade ao jogo. Para os que estão mais acostumados com a NBA, é só pensar no que Shane Battier fez pelo bicampeonato do Miami Heat. Pode até soar repetitivo. Será que já é batido escrever sobre essas coisas? Espero. Só fica o registro que não é só de Marquinhos ou Marcelinhos (LeBrons e Wades) que vive uma equipe vencedora.

Curioso que, ao lado de Marcus Vinícius Vieira de Souza, houve um dia em que Shilton era enfileirado na lista de prospectos de alas, no início da década passada. Bateu na cuca a lembrança de uma de tantas colunas sensacionais do Melk, na Folha – o melhor texto sobre basquete já publicado no Brasil. Com 1,98 m de altura (ou, vá lá, os 2,00 m apontados pelo Flamengo), mobilidade e capacidade atlética, faria sentido. Pensem em Marcus Vinícius Toledo, ex-Mogi, agora do Pinheiros. Poderia realmente ter sido um caminho, mas as lesões e o basquete brasileiro em si não o permitiram seguir essa linha.

O que não o impediu de se tornar um jogador relevante, ainda que pouquíssimo badalado. José Neto, porém, o acompanhou de perto em Joinville e gostou do que viu, a ponto de levá-lo na bagagem quando pegou a estrada para o Rio de Janeiro, acompanhando o explosivo Kojo Mensah. O ganês já se mandou para a Venezuela, mas o pivô ficou.

Agora é bicampeão brasileiro.

Zerado na final, é verdade, mas com – e graças a?– um rebote ofensivo.


Flamengo vence Paulistano em jogo duro para levar o tri
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Giancarlo Giampietro

Olivinha vibra. É um dos que adora um jogo de contato

Olivinha vibra. É um dos que adora um jogo de contato

Por anos e anos a maior crítica sobre o basquete que se pratica no Brasil foi direcionada à (falta de) defesa. Quer dizer, talvez essa tenha sido a crítica 1-A, dividindo espaço com a 1-B, valendo pelo excesso de tiros de três pontos.

Na final do NBB 6 que vimos neste sábado, na boa– mas enxutíssima – transmissão da Globo, não dá para questionar que o Flamengo venceu o Paulistano em um jogo verdadeiramente intenso, para conquistar seu terceiro título na competição, o segundo consecutivo. Não há como contestar isso.

Mas, olha, para o meu gosto a decisão foi dura até demais.

Algumas notas a respeito:

– Ao todo, tivemos 58 faltas marcadas, praticamente 1,5 por minuto de jogo;

– Segundo as contas do irrequieto Luiz Gomes, que está preparando coisa nova por aí, foram 150 posses de bola na partida. Logo, mais de 38% delas foram pontuadas por faltas;

– De todos os atletas que entraram em quadra, apenas o jovem armador Arthur Pecos ficou zerado nesse quesito – mas ele jogou apenas 1min17s;

– Dois atletas foram excluídos com cinco faltas (Pilar e Renato Cabornari), e outros cinco terminaram pendurados com quatro (Meyinsse, Shilton, Manteiguinha, Holloway e Mineiro);

– No segundo período, antes do festival dos árbitros na volta do intervalo, os dois times estavam estourados com pouco mais de quatro minutos jogados.

– Marcelinho Machado, um jogador que nunca foi o cara mais incisivo na hora de bater para a cesta, sofreu seis faltas, sempre na (positiva) malandragem, com boa movimentação sem a bola, também sabendo usar a agressividade dos adversários a seu favor;

– Foram batidos ao todo 59 lances livres.

– Ao menos não precisaram acionar nenhum paramédico ou a ambulância.

Entendo as críticas aos árbitros, que marcaram realmente algumas faltas antidesportivas fantasmas (lembro de duas contra o Flamengo, no segundo tempo, em especial aquela em que Pilar tropeça no pé de Felício, e o jovem pivô é punido). No geral, é evidente e triste o impacto da decisão tomada pela liga e sua parceira televisiva em forçar que os árbitros sejam grandes protagonistas do espetáculo.

Como se os homens do apito já não tivessem uma tarefa inglória de fiscalizar um jogo com um monte de trogloditas digladiando em um espaço reduzido, com vários fundamentos e regras para serem observados, eles ainda precisam ser tutores? Fazer mímicas e afins, em portunholês (português + espanhol + inglês), para orientar o jogador sobre o que estão marcando, quando, na verdade, o objetivo é vazar o som para o que “o amigo telespectador não perca nenhum detalhe”. Foi um convite oficial para que eles tomassem (ainda mais) parte do espetáculo, e cá estamos.

Mas há dois pontos adicionais aqui para avaliar.

Primeiro que nariz torcido para arbitragem não é um patrimônio cultural do NBB – os playoffs da NBA estão cheios causos para contar, que o diga Doc Rivers; na Euroliga chovem críticas também (na final europeia, aliás, vimos este ano 55 faltas, mas com cinco minutos a mais de jogo: teve prorrogação).

O mais importante, todavia, é a concentração nos fundamentos. Uma vez dedicados ao ato de marcar, agora o esforço dos técnicos em seus atletas precisa se voltar aos fundamentos, em como executar uma defesa agressiva, obviamente fazendo contato, mas com um pouco mais de disciplina. Mais pés, com posicionamento, menos mãos, para compensar. Na NBA, por exemplo, o Indiana Pacers tem a melhor defesa da temporada, mas foi apenas o 14º no ranking de faltas por partida (20,5 por jogo, sendo que cada jogo tem 8 minutos a mais).

Peguem, por exemplo, a falta que o ala-pivô Renato fez em cima de Marcelinho Machado a 14 segundos do fim. O time estava apenas dois pontos atrás o placar. Mas Renato, mais lento, se afobou no perímetro, tentou dar um tapa na bola, nas mãos do experiente camisa 4, e jogou um dos maiores arremessadores da competição na linha de lance livre.

A intenção aqui não é crucificar esse valente e um tanto subestimado jogador, até porque ainda tinha muita partida pela frente – digo, ainda teve tempo de Manteiguinha arriscar um arremesso terrível da zona morta e de Marcelinho converter mais dois lances livres. E, obviamente, é muito mais fácil falar a respeito aqui do conforto do sofá, em que o único barulho ao redor é o do martelo do vizinho. Desagradável, mas não mais que milhares de rubro-negros pulando feito doidos na arquibancada.

(Aliás, a pressão de uma final em jogo único, outro presente da parceria televisiva, também contribui para a pancadaria, deixando todo mundo num estado mais elevado de tensão e instabilidade.)

Segundo a reportagem da Globo, a ordem que veio do banco do Paulistano era para evitar a falta, um ponto importante. Mas ela foi feita. Talvez muito por força do hábito, reflexo.

Gustavo de Conti falou em entrevistas durante a semana sobre o poderio flamenguista no jogo de transição, uma força do time desde a temporada passada. Durante a temporada regular, o vice-líder foi presa fácil diante da melhor campanha, tomando duas sacoladas: 80 x 58 e 98 x 67, tomando em média 89 pontos por partida.

Na decisão, ficou claro que sua preocupação era emperrar o adversário. Talvez fosse essa sua maior (e única?) chance. E dessa vez conseguiu. O irônico é que, para amarrar o jogo, contou também com ajuda do próprio adversário, que também desceu o braço. O clube de São Paulo cometeu 33 faltas, contra 25 dos rubro-negros. Quanto mais faltas, mais lances livres. Quanto mais lances livres, menores as chances de se partir em velocidade – a não ser que você tenha um quarterback como Kevin Love na reposição de bola.

No jogo de meia quadra, o Paulistano conseguiu equilibrar as coisas, criando bastante em situações de um contra um com sua dupla de ágeis americanos. Em meio a tantas faltas marcadas, porém, só conseguiu usar o cestinha Holloway por 24 minutos. O que aconteceria se… Mas aí os flamenguistas nem podem deixar a fase terminar, uma vez que seu pontuador mais eficiente, o atlético-toda-vida pivô Meyinsse também jogou pouco, por 25 minutos. São dois caras que teriam tudo para desequilibrar o confronto, mas foram privados.

Os dois finalistas valorizam a retaguarda, num empenho que realmente foge do que nos acostumamos a ver em temporadas anteriores. Topam combater e ralar na defesa. Quer dizer: a mentalidade pode ser alterada. Agora é prudente dar um próximo passo.


Seleção ‘estudantil’ patina na Universíade, mas Cristiano Felício mostra serviço para Magnano
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Giancarlo Giampietro

Seleção brasileira de novos, vulgo universitária

Chamem os universitários: Cristiano é o terceiro da esquerda para a direita. Crédito: Wander Roberto/CBDU

É bastante complicado escrever um texto sobre uma competição da qual você não assistiu a nenhuma partida sequer. Mas vamos tentar fazer isso, depois de dar uma fuçada nas estatísticas de todas as oito partidas da seleção masculina na Univesíade que se encerrou nesta terça-feira, em Kazan, nos confins da Rússia.

Primeiro um dado, digamos, curioso: na ficha dos 12 atletas inscritos na modalidade pela CBDU (Confederação Brasileira de Desporto Universitário), consta uma e única instituição de ensino superior. A onipresente Faculdade de Tecnologia e Ciências de Salvador, a FTC, nossa velha conhecida dos tempos do Campeonato Nacional organizado pela CBB. Sim, segundo consta no site oficial dos Jogos, a FTC tem 100% de adesão entre nossos basqueteiros. Espero que estejam estudando bastante.

O mais, digamos, interessante é que neste grupo está incluso até mesmo o pivô Rafael Maia, jogador revelado pelo Paulistano e que hoje está em atividade na NCAA, defendendo a prestigiada universidade de Brown, da Ivy League, a elite intelectual do circuito universitário norte-americano. Talvez ele esteja lá só por hobby. Né?

(Detalhe, para os que não estão cientes do grupo: estamos falando de uma parte da chamada seleção brasileira de novos, recém-montada pela CBB, dirigida pelo campeão nacional José Neto, reunindo atletas com idade máxima de 24 anos.)

Deixando essa pequena anedota registrada, falemos de quadra. O Brasil fez uma campanha medíocre: quatro vitórias e quatro derrotas, 50% de aproveitamento. O problema: bateu China, Chile, Finlândia e Noruega. Perdeu para Lituânia (na primeira fase), Canadá (nas quartas) e, aí o bicho pega, Romênia e Estônia (na disputa pelo quinto lugar). Acabou ficando em oitavo. A coisa desandou a partir da eliminação diante dos canadenses, pelo jeito.

O Brasil jogou lá com uma turminha jovem – mas esse era o caso de toda a concorrência. Considerando que só estávamos com profissionais por lá – ok, Rafael Maia está em Brown e Cristiano Felício, numa prep school americana, mas já disputaram os campeonatos para valer daqui –, não dá para escrever outra coisa a respeito do resultado que não “decepcionante”.

De todo modo, deu para pescar um dado positivo: o desempenho do pivô Cristiano Felício. Sabe quem, né? Aquele garoto extremamente promissor revelado pelo Minas Tênis e que pegou as trouxas e partiu para os Estados Unidos, em busca de uma carreira… Universitária. Estava namorando a universidade de Oregon, de certo modo tradicional, mas não se sabe se teve as notas necessárias para ganhar uma bolsa. Agora já diz que pode voltar ao NBB para defender o Flamengo na próxima temporada.

Felício completou 21 anos agora no dia 7 de julho. Então não estamos falando da revelação mais jovem que temos por aí. Mas ele começou tarde no jogo, no interior de Minas Gerais, até chegar a um clube minimamente estruturado para se desenvolver. Muito forte, rápido nos pés, com ótimas mãos, é um talento de enorme potencial. Aparentemente, a temporada que passou nos Estados Unidos ajudou a deixá-lo ainda mais afinado.

Em oito partidas, o pivô teve médias de 15,6 pontos e 7,2 rebotes em 23,5 minutos, em sua terceira participação em um torneio de nível internacional entre, vá lá, adultos – ele também participou da péssima campanha brasileira no Pan de Guadalajara 2011 e disputou o Sul-Americano do ano passado. O mais impressionante foi seu aproveitamento dos arremessos de quadra 70% de acerto, além dos 73% na linha de lance livre. Dominante.

Você pode levantar a mão e falar tranquilamente: poxa vida, mas contra o Chile universitário, até eu, né?

Sim, até você, amigão.

(Para constar, contra os chilenos ele teve 28 pontos em (14/17 FG), 8 rebotes, 3 assistências e 2 roubos de bola em… 18 minutos, hehehe.)

Mas, enfrentando concorrência muito mais dura, o rapaz se saiu bem também. Vejamos contra a Lituânia vencedora do grupo brasileiro na primeira fase: foram 20 pontos (8/13 FG), 12 rebotes, 3 tocos e 2 roubos de bola, em 30 minutos. Naaaada mal também, hein? E que Lituânia era essa? Olha, não vou bancar o estelionatário aqui e arriscar dizer que eram todos craques e tal. Mas eles escalara atletas de ótimas campanhas em torneios de base. E tem outra: lá funciona mais ou menos como o nosso futebol: reúna 12 gatos pingados na rua, e você deve ter um time bom. Contra o Canadá – cujos jogadores tenho uma melhor noção –, sua atuação já não foi das melhores. Teve problemas de falta e foi limitado a apenas 10 pontos (5/7) e 2 rebotes em 20 minutos. Notem, porém, que seu percentual de conversão dos arremessos é sempre altíssimo.

Para uma seleção capenga de pivôs nesta temporada, taí algo para Magnano observar com carinho.


Adaptado, Flamengo domina Uberlândia no garrafão e é campeão do NBB
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Giancarlo Giampietro

Título rubro-negro

O Flamengo abriu o NBB 5 como um trovão, com um basquete extremamente veloz, atlético e agressivo. Venceu seus primeiros 20 segundos desta maneira. Na final do campeonato em jogo único, com dois desfalques importantes, se adaptou: parecia outro time, superando o Uberlândia na base de tamanho e força física. Vitória por 77 a 70.

Sem poder contar com Vitor Benite, de ultima hora, e Marcelinho, durante todo o ano, o técnico José Neto teve de mudar por completo sua proposta de jogo para a decisão, apostando numa equipe de maior estatura, a começar pela presença do paraguaio Bruno Zanotti na escalação titular, mas passando muito pela dominância de Caio no garrafão. A equipe mineira não soube como lidar com isso.

Lucas Cipolini e Luis Gruber, carregado precocemente com faltas, tiveram muita dificuldade para conter o jogo interior, especialmente no embate dos ex-pinheirenses Cipolini e Caio. Lucas é mais baixo e mais fraco, mas bem mais atlético e explosivo. Decidiu marcar seu oponente, porém, pelas costas, em vez de tentar se posicionar pela frente, para cortar a linha de passe. Cliquem aqui para ler uma explanação sempre elucidativa do professor Paulo Murilo a respeito dessa técnica, relembrando a marcação do francano Douglas Kurtz sobre Paulão, do Brasília.

Como destac0u no twitter o técnico Gustavo de Conti, do Paulistano e da seleção brasileira, o Uberlândia só equilibrou a partida quando teve em quadra seus postes, como Estevam e Léo, no segundo período. Porque essa dupla, ao menos no físico, dava conta do grandalhão adversário. Eles ficaram em quadra por apenas 17 minutos. Sem esse combate e adotando uma estratégia de marcação simples, básica com pivôs menores, o time de Hélio Rubens foi destroçado no garrafão. (Para piorar, do outro lado, não conseguiram explorar a maior mobilidade, perdendo por completo o jogo de xadrez.)

Caio Terminou com 23 pontos e 10 rebotes, um estrago danado. Matou oito de dez arremessos, com tranquilidade e eficiência incrível, e ainda bateu oito lances livres, convertendo sete deles. Para somar, Olivinha, com a garra de sempre,  somou 10 pontos e 12 rebotes. No total, o Flamengo converteu 22 de 29 bolas de dois pontos, para um aproveitamento de 75,9% – contra 14/36 e horrendos 38,9% de aproveitamento dos mineiros. Uma diferença brutal.

Daria para dizer aqui, olhando os números finais, que “o Uberlândia só conseguiu se manter relativamente próximo no placar graças ao seu bom rendimento na linha de três pontos: 11/27 e 40,7%”. Porém… Se você for descontar o excelente primeiro tempo de Gruber (5/7, 71,4%!!!), a pontaria dos vice-campeões despencaria para 30%.

Mérito aqui para a contestação dos defensores do Flamengo, que ficaram grudados em seus alvos, com pegada forte, se aproveitando também da energia de um ginásio cheio e entusiasmado. Vale aqui o destaque para o próprio Zanotti, uma revelação nesse quesito. Lidando de modo alternado com um dos Roberts – Day ou Collum –, foi muito bem, disciplinado, com postura exemplar. Os dois gringos tiveram uma manhã para ser esquecida: cada um converteu apenas dois chutes em oito de longa distância. Fica, então, uma provocação: precisa vir um paraguaio a nos ensinar a marcar no perímetro?

No fim, a vitória rubro-negra só não foi mais elástica devido a sua própria insistência nos disparos de fora (6/26, 23,1%) – com o garrafão escancarado? Precisava, mesmo? Duda (1/6, o de sempre) e Marquinhos (1/5, uma bobagem, quando é muito, mas muito mais efetivo quando parte para a cesta – vide os 6/6 em dois pontos) não foram nada bem aqui. Seu ataque, apenas com Kojo na armação e o jovem Gegê para dar algum descanso ao titular, também se apresentou de modo destrambelhado em algumas sequências.

Mas isso não foi uma exclusividade dos rubro-negros. No segundo quarto em especial, vimos o caos em quadra, ainda que, na estatística oficial, apenas 11 turnovers tenham sido computados – algo em que realmente é bem difícil de acreditar. A partida se perdeu em diversos momentos, com várias posses de bola que terminavam, basicamente, em nada, sem arremessos de dentro ou fora.

Quando conseguiu se assentar em quadra, porém, invadindo o garrafão com força e volúpia, o Flamengo se impôs. E, no fim, venceu a melhor equipe do campeonato. Ainda que não tenha sido exatamente aquela que dominou a temporada regular.

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Uberlândia não teve pernas também. Valtinho (37min09s) e Collum (36min08s), estavam exaustos e não conseguiam bater nem mesmo os pivôs do Fla quando havia uma inversão na marcação. Fizeram falta aqui os minutos que seriam destinados a Helinho, aparentemente sem condições de jogo depois de ter sofrido uma cotovelada na face durante um treino em abril.

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Hélio Rubens segurou Gruber por muito tempo no banco de reservas, depois de seu ala-pivô cometer a terceira falta no segundo quarto. Voltou para o segundo tempo com Leo em quadra e demorou para acionar o titular, que, quando voltou, estava completamente frio, fora do jogo. Ele marcou 18 pontos em uma atuação brilhante na etapa inicial, mas somou apenas dois depois do intervalo.

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A final com o ginásio lotado, o Flamengo comemorando título em rede nacional, no plim-plim… Certamente foi o melhor momento do NBB em termos de exposição e marketing. Vamos aguardar a audiência. A Globo ter segurado a transmissão ao final por alguns minutos preciosos pode é um bom indício.

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Lula Ferreira falou e disse: a arbitragem foi boa na decisão, discreta, sem aparecer. Como assim deve ser. Ufa.