Vinte Um

Seleção ‘estudantil’ patina na Universíade, mas Cristiano Felício mostra serviço para Magnano

Giancarlo Giampietro

Seleção brasileira de novos, vulgo universitária

Chamem os universitários: Cristiano é o terceiro da esquerda para a direita. Crédito: Wander Roberto/CBDU

É bastante complicado escrever um texto sobre uma competição da qual você não assistiu a nenhuma partida sequer. Mas vamos tentar fazer isso, depois de dar uma fuçada nas estatísticas de todas as oito partidas da seleção masculina na Univesíade que se encerrou nesta terça-feira, em Kazan, nos confins da Rússia.

Primeiro um dado, digamos, curioso: na ficha dos 12 atletas inscritos na modalidade pela CBDU (Confederação Brasileira de Desporto Universitário), consta uma e única instituição de ensino superior. A onipresente Faculdade de Tecnologia e Ciências de Salvador, a FTC, nossa velha conhecida dos tempos do Campeonato Nacional organizado pela CBB. Sim, segundo consta no site oficial dos Jogos, a FTC tem 100% de adesão entre nossos basqueteiros. Espero que estejam estudando bastante.

O mais, digamos, interessante é que neste grupo está incluso até mesmo o pivô Rafael Maia, jogador revelado pelo Paulistano e que hoje está em atividade na NCAA, defendendo a prestigiada universidade de Brown, da Ivy League, a elite intelectual do circuito universitário norte-americano. Talvez ele esteja lá só por hobby. Né?

(Detalhe, para os que não estão cientes do grupo: estamos falando de uma parte da chamada seleção brasileira de novos, recém-montada pela CBB, dirigida pelo campeão nacional José Neto, reunindo atletas com idade máxima de 24 anos.)

Deixando essa pequena anedota registrada, falemos de quadra. O Brasil fez uma campanha medíocre: quatro vitórias e quatro derrotas, 50% de aproveitamento. O problema: bateu China, Chile, Finlândia e Noruega. Perdeu para Lituânia (na primeira fase), Canadá (nas quartas) e, aí o bicho pega, Romênia e Estônia (na disputa pelo quinto lugar). Acabou ficando em oitavo. A coisa desandou a partir da eliminação diante dos canadenses, pelo jeito.

O Brasil jogou lá com uma turminha jovem – mas esse era o caso de toda a concorrência. Considerando que só estávamos com profissionais por lá – ok, Rafael Maia está em Brown e Cristiano Felício, numa prep school americana, mas já disputaram os campeonatos para valer daqui –, não dá para escrever outra coisa a respeito do resultado que não ''decepcionante''.

De todo modo, deu para pescar um dado positivo: o desempenho do pivô Cristiano Felício. Sabe quem, né? Aquele garoto extremamente promissor revelado pelo Minas Tênis e que pegou as trouxas e partiu para os Estados Unidos, em busca de uma carreira… Universitária. Estava namorando a universidade de Oregon, de certo modo tradicional, mas não se sabe se teve as notas necessárias para ganhar uma bolsa. Agora já diz que pode voltar ao NBB para defender o Flamengo na próxima temporada.

Felício completou 21 anos agora no dia 7 de julho. Então não estamos falando da revelação mais jovem que temos por aí. Mas ele começou tarde no jogo, no interior de Minas Gerais, até chegar a um clube minimamente estruturado para se desenvolver. Muito forte, rápido nos pés, com ótimas mãos, é um talento de enorme potencial. Aparentemente, a temporada que passou nos Estados Unidos ajudou a deixá-lo ainda mais afinado.

Em oito partidas, o pivô teve médias de 15,6 pontos e 7,2 rebotes em 23,5 minutos, em sua terceira participação em um torneio de nível internacional entre, vá lá, adultos – ele também participou da péssima campanha brasileira no Pan de Guadalajara 2011 e disputou o Sul-Americano do ano passado. O mais impressionante foi seu aproveitamento dos arremessos de quadra 70% de acerto, além dos 73% na linha de lance livre. Dominante.

Você pode levantar a mão e falar tranquilamente: poxa vida, mas contra o Chile universitário, até eu, né?

Sim, até você, amigão.

(Para constar, contra os chilenos ele teve 28 pontos em (14/17 FG), 8 rebotes, 3 assistências e 2 roubos de bola em… 18 minutos, hehehe.)

Mas, enfrentando concorrência muito mais dura, o rapaz se saiu bem também. Vejamos contra a Lituânia vencedora do grupo brasileiro na primeira fase: foram 20 pontos (8/13 FG), 12 rebotes, 3 tocos e 2 roubos de bola, em 30 minutos. Naaaada mal também, hein? E que Lituânia era essa? Olha, não vou bancar o estelionatário aqui e arriscar dizer que eram todos craques e tal. Mas eles escalara atletas de ótimas campanhas em torneios de base. E tem outra: lá funciona mais ou menos como o nosso futebol: reúna 12 gatos pingados na rua, e você deve ter um time bom. Contra o Canadá – cujos jogadores tenho uma melhor noção –, sua atuação já não foi das melhores. Teve problemas de falta e foi limitado a apenas 10 pontos (5/7) e 2 rebotes em 20 minutos. Notem, porém, que seu percentual de conversão dos arremessos é sempre altíssimo.

Para uma seleção capenga de pivôs nesta temporada, taí algo para Magnano observar com carinho.