Augusto derruba o Real, Splitter decola e mais: um giro com os brasileiros
Giancarlo Giampietro
Os playoffs estão chegando, em todos os lugares — no Fantasy, aliás, o bicho já está pegando. Então vale gastar alguns minutos nesta segunda-feira para checar como andam os brasileiros espalhados por aí, levantando como têm sido seus últimos dias, de preparação para a hora que importa, mesmo:
– Começamos pela Espanha. Não só para quebrar a rotina, mas também pelo fato de a maior vitória ‘brasileira’ ter acontecido por lá. Augusto Lima, em sua temporada sensacional, liderou o modesto Murcia em um triunfo histórico sobre o Real Madrid, pela Liga ACB. Há 20 anos que seu clube não derrotava a potência merengue em casa. O pivô teve dificuldade para finalizar no garrafão (3/11 nos arremessos), mas não deixou a confiança esmorecer. Como de costume, batalhou pelas próprias sobras e terminou com um double-double de 13 pontos e 11 rebotes. Foram 5 na tábua ofensiva, buscando contato (6/7 nos lances livres).
Ao menos neste ano vem sendo acompanhado por Magnano, que o elogiou recentemente, depois de ter sido ignorado na convocação passada. Até porque Augusto tem ao seu lado Raulzinho, que foi titular no domingo. Em 24 minutos, somou 7 pontos, 2 assistências e 2 rebotes. Durante a campanha, o jovem armador vem dividindo a condução da equipe com o veteraníssimo Carlos Cabezas, sendo observado pelo Utah Jazz.
Em termos de classificação, o resultado devolve a esperança ao Murcia de chegar aos playoffs. Mas não vai ser fácil. O time está na décima posição, com 11 vitórias e 13 derrotas, empatado com o Gran Canaria. O oitavo Zaragoza é o Zaragoza, com 14 e 11, respectivamente, também empatado com o Baskonia e o Valencia. Restam 9 rodadas na temporada.
De acordo qualquer forma, tem de comemorar, mesmo. Não só quebraram um tabu — chamado de “maldição” por lá –, como derrubaram o Real da liderança. O Málaga volta a se isolar na ponta. Mais: para se ter uma noção do quão difícil é derrotar o gigante espanhol, saibam que, de 2012 até esse domingo, os caras haviam ganhado 82 de 92 partidas pela temporada regular. Aproveitamento de 89,1%. Só.
Ainda na Espanha, outro que está numa crescente é o armador Rafael Luz, titular na vitória do Obradoiro sobre o Fuenlabrada por 88 a 82, no sábado. O brasileiro marcou 9 pontos e deu 9 assistências em 29 minutos arredondados. Nos últimos quatro jogos, ele tem médias de 10,7 pontos, 5,2 assistências e 3,2 roubos de bola, números elevados para a a liga, ainda mais em 25 minutos.
– Ok, agora a NBA. A julgar pela desenvoltura com a qual se movimentou em quadra neste domingo, parece não haver incômodo algum na panturrilha de Tiago Splitter. O pivô fez uma grande partida contra o Atlanta Hawks, em surra dada pelo Spurs (114 a 95). O catarinense jogou por 27 minutos e terminou com 23 pontos e 8 rebotes, convertendo impressionantes10/14 chutes.
Não é segredo que o Spurs rende seu melhor basquete, há duas temporadas, com Splitter entre os titulares — ainda que um Boris Diaw com bom ritmo seja muito valioso contra times mais ágeis. Tim Duncan, mesmo, já disse ao VinteUm que prefere a formação de duas torres. Os números vão comprovando a tese novamente: desde que o ilustre cidadão de Blumenau recuperou o posto, o quinteto inicial do time texano vem esmagando a oposição.
Antes, porém, que vocês queiram descer o cacete no Coach Pop, favor considerar os seguintes fatores: 1) Splitter teve sua pré-temporada prejudicada pelas lesões; 2) Pop não ia desgastá-lo, ciente de sua importância; 3) Diaw ainda é um que está atrás da curva, e a equipe vai precisar dele mais para a frente; 4) Aron Baynes meio que jogou bem, mas não conte para ninguém; 5) mais importante de todos: demorou para o quinteto inteiro ficar em forma, na mesma época.
O Spurs, assim como Splitter torcia, está chegando. Se o jogo no Madison Square Garden foi uma desgraça, praguejado com veemência por Popovich, a verdade é que ultimamente os campeões têm dado muito mais sinais de grandeza. Mike Budenholzer viu de perto, num primeiro quarto arrasador: eles voltaram. O que é salutar. Quando o Spurs está em seu melhor nível, difícil encontrar jogo mais bonito e atordoante. A bola cruza a quadra com máxima velocidade, de mão em mão, para frente e para trás, até a defesa rival se despedaçar. E o legal foi ver Splitter totalmente envolvido nessa. Dos raros pivôs com quem a bola não morre. No defesa, as rotações são uma belezura. Green e Kawhi agridem no perímetro, os pivôs cobrem, e a intensidade é plena.
Está tudo enrolado na tabela, mas, mantendo esse ritmo, San Antonio vai ter mando de quadra na primeira rodada, independentemente de ficar com a quarta posição. Tivessem batido os Bockers, já registraram melhor aproveitamento hoje que Blazers e Clippers.
– O Toronto Raptors não está jogando tão bem assim, mas tem sua classificação para os mata-matas assegurada, vai. Ao time canadense, o que resta é tentar recuperar o basquete dos dois primeiros meses da temporada. Essa conjuntura não favorece os dois brasileiros do elenco – se o mando de quadra também estivesse garantido, as perspectivas de tempo de quadra aumentariam. De qualquer forma, neste domingo, depois de um looongo inverno e de problemas fora de quadra, pela primeira vez desde 4 de fevereiro, o técnico Dwane Casey colocou o ala em quadra. Foram apenas dois minutinhos contra o Knicks, uma baba. Isso só foi possível pelo fato de Kyle Lowry estar afastado por lesão, abrindo uma vaga para Caboclo trocar o terno pelo uniforme.
Lucas Bebê não estava presente para ver. O carioca está cedido ao Fort Wayne Mad Ants, da D-League. Ao contrário do que aconteceu com o caçulinha brasileiro por lá, Lucas chegou para jogar – foram três partidas até agora, com médias de 11,0 pontos, 13,0 rebotes e 2,6 rebotes, em imporantes 25,7 minutos – para comparar, Bruno teve apenas 8,9 minutos em sete compromissos. Quer dizer: o pivô produziu bem. Mas não dá para se levar perdidamente pelos números da Liga de Desenvolvimento da NBA. Os jogos são acelerados, a bagunça costuma imperar. Tem de pegar os VTs no YouTube para avaliar com cuidado o que o pivô anda fazendo. O Mad Ants não é a franquia mais aberta da D-League aos jogadores de cima, mas segue como a melhor oportunidade para a dupla ser aproveitada.
– Leandrinho foi outro que ganhou espaço devido a uma lesão de um dos titulares. Klay Thompson está fora de ação pelo Warriors, e o ligeirinho tem sido mais acionado por Steve Kerr, dividindo os minutos do jovem astro com Andre Iguodala e Justin Holiday. O ala-armador recebeu 80 minutos em três jogos (26,6) e marcou 44 pontos (14,6). É um momento importante para mostrar serviço: uma hora Kerr vai ter de definir sua rotação para os playoffs, e ainda não está clara a ordem de chamada no banco. Andre Iguodala, Shaun Livingston e Marreese Speights vão para a quadra. É de se imaginar que David Lee também. Restaria uma vaga, pela qual duelam as habilidades ofensivas do brasileiro e as defensivas de Holiday, irmão do Jrue.
– Depois de um mês de fevereiro tenebroso, o Washington Wizards tenta se recuperar, mas vem de duas derrotas (Clippers e Kings, no domingo). Nenê volta a viver sua rotina de entra-e-sai do plantel de relacionados de Randy Wittman, devido aos constantes problemas físicos. O técnico precisa do pivô na briga por mando de quadra, mas a produção do paulista sofreu uma boa queda neste mês, tendo acertado apenas 42,9% de seus arremessos de quadra (na temporada, a média é de 51,5%; na carreira, 54,5%). É uma situação para se monitorar, ainda mais se a seleção brasileira tiver de jogar por uma vaga olímpica neste ano.