Vitória dramática sobre Espanha é decidida, literalmente, por detalhes
Giancarlo Giampietro
Sabe esse papo de que, no esporte de alto nível, os detalhes decidem o jogo? Pois é: na vitória dramática-haja-coração do Brasil sobre a Espanha nesta terça-feira, por 66 a 65, foi literalmente decida em sua cesta final por um detalhe no tapinha providencial de Marquinhos – ou pelo menos pela combinação de dois, três, ou quatro destes chamados detalhes.
Vejam o lance:
Primeiro, o que o clipe não mostra: Marcelinho Huertas deu uma boa chacoalhada em Sergio Llull até contar com um corta-luz de Nenê lá depois da linha de três pontos, para poder ganhar o garrafão. A partir daí, feita a troca, Pau Gasol foi obrigado a contestar seu sempre perigoso chute em flutação de média distância. Isso tirou das imediações do aro o principal reboteiro espanhol (detalhe 1).
Aí, a bola pode não ter caído, mas foi pelo menos amortecida por dois toques no aro, resultado num rebote mais suave, em vez daqueles espirrados. Deu tempo para que Marquinhos saísse da zona morta para alcançar a bola. Mais do que seu toque na bola, o mais bonito aqui foi seu arranque rumo ao garrafão, em vez de ficar estacionado no canto da quadra. Este tipo de posicionamento é uma regra básica de qualquer ataque moderno, para o chamado “corner three”, ou a nossa bem mais charmosa “zona morta”. Um chutador se posiciona ali como opção de desafogo e, no mínimo, para distrair alargar a defesa em quadra. Isso obrigou que Nikola Mirotic não se aproximasse tanto assim da tabela para cobrir a lacuna aberta por Gasol (detalhe 2).
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Para um ala de 2,05m de altura (ou mais…), a gente espera que Marquinhos seja sempre esse ala agressivo, que parta sempre para ataque, e isso não significa se limitar apenas a chutes de três. Ele tem maleabilidade e tamanho para se impor contra 95% dos laterais do mundo Fiba se decidir jogar perto da cesta. Seu mergulho ao garrafão mostra isso. Ele não só foi esperto, oportunista. Sua passada larga e envergadura o ajudaram a chegar primeiro ao rebote para dar o tapinha (detalhe 3).
De todo modo, mesmo que não estivesse grudado ao brasileiro ou perto da tábua para fazer a coleta, Mirotic cometeu um erro absurdo de atenção e fundamento. Simplesmente virou as costas para Marquinhos e não fez o bloqueio mais básico de rebote. Tivesse fechado o corredor, e Victor Claver (camisa 10) provavelmente teria assegurado a posse de bola para deixar a Espanha em grandes condições (detalhe 4).
A passividade de Claver também deve incomodar o torcedor espanhol. Ele estava bem posicionado, de frente para a bola e o aro. Tem impulsão – na verdade, é um dos jogadores mais atléticos de sua seleção. Mas ficou pregado no chão, observando sabe-se lá quantas borboletas voavam pelos arredores. Com Augusto afastado, se quisesse, o rebote era dele (detalhe 5).
Se ficarmos vendo o lance por mais uns 30 minutos, diversos outros detalhes vão surgir. É um lance que vai perturbar Gasol, Mirotic, Claver e muito mais que a linha de frente espanhola. O time vice-campeão olímpico nas últimas duas edições dos Jogos tem agora duas derrotas em duas rodadas neste grupo complicadíssimo e estão muito pressionados. A seleção brasileira se recupera de uma atordoante derrota para a Lituânia na estreia e segue em frente, ainda com possibilidades de terminar na liderança. Esperem, no entanto, mais partidas como essas, decididas nos últimos lances, frame a frame.
(Mais tarde no blog, um post mais amplo sobre a partida. Até.)
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