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Jukebox NBA 2015-16: Atlanta Hawks, para não achar que tudo acabou
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Don’t Dream It’s Over”, por Crowded House

A música? Bem, tem uma das letras mais sem pé, nem cabeça que se encontra por aí, e a métrica de seus versos impede que alguém de inglês macarrônico os acompanhe. Começa assim: “ liberdade no interior/Há liberdade sem/Tente pegar um dilúvio em um copo de papel”, e por aí (aonde, exatamente!?) vai. Até que chegamos ao refrão, e nada dessa confusão importa mais. É um hino da Antena 1. Com o radinho ligado a caminho da farmácia, do supermercado, na sala de espera do dentista, quem nunca? 

(…)

Vamos lá, galera, pode levantar a mão sem receio. Sei bem que é o tipo de melodia que todo orgulhoso que se preze vai tentar bloquear da cabeça. Mas é difícil de segurar: “Ei, não sonhe que tenha acabado”.

Boa. E, nesse refrão temos a seguinte frase: “Eles vêm para construir um muro entre nós, e sabemos que eles não vão vencer”, que já faz mais sentido e serve para duas narrativas em torno do Atlanta Hawks.

1) alguém teve a ideia de dividir, desmontar o atual elenco, ou de pelo menos estudar seriamente a possibilidade, a ponto de o time ter virado o epicentro das boatarias sobre eventuais trocas neste ano. Muitos ficaram à espera sobre o que aconteceria com Al Horford e, em menor escala, Jeff Teague. Quais as razões por trás dessa especulações? Uma é simples: Horford vai virar agente livre ao final do campeonato, e parece existir o temor de que ele possa *buscar novos rumos*. Então era melhor ver o que uma troca pelo dominicano poderia proporcionar, para não sair de mãos vazias. Segundo o rescaldo após o prazo para negociações, a diretoria pediu, com razão, um preço altíssimo pelo talentoso pivô, daqueles jogadores que se encaixa muito bem em qualquer sistema. O preço assustou os interessados, que, afinal, também não teriam segurança alguma de renovar com o atleta. Mas há quem diga também que os novos proprietários da franquia estariam cogitando uma transação por não terem a intenção de arcar com um inevitável contrato exorbitante para o veterano. No final das contas, não rolou nada. “Eles não venceram”: sejam os interessados em Horford ou os proprietários. Ok, paremos por aqui, para abrir a segunda narrativa e, depois, deixar que elas se unam.

Horford será um dos agentes livres mais cortejados em julho

Horford será um dos agentes livres mais cortejados em julho

2) mesmo com Tiago Splitter, um excelente marcador, afastado por conta de uma infeliz e complicada lesão no quadril e sem ter o catarinense em plena forma durante o campeonato, Mike Budenholzer conseguiu montar uma das defesas mais fortes da liga. É a segunda mais eficiente no momento, superada apenas por aquela orquestrada pelo chapa Gregg Popovich. Defesa… “Muro”… Pegou, né? Tudo para não deixar o outro time (“eles”) vencer, num fortalecimento providencial para compensar a queda brusca de rendimento no ataque. Aquela belíssima máquina ofensiva despencou da sexta posição para a 15ª neste ano. O time está desequilibrado nesse sentido, virando uma espécie de Chicago Thibs.

Então juntemos os dois pontos acima: há, ou havia, uma certa decepção em torno do Atlanta. Depois da melhor campanha de regular da história do clube, alcançando a marca de 60 vitórias, a equipe regrediu sensivelmente e tem uma projeção de 48 triunfos, de acordo com seu ritmo atual. Triste?

Nem tanto.

Primeiro porque o campeonato não terminou ainda e a equipe vem em seu melhor momento, voltando a se colocar em situação para ter mando de quadra na primeira rodada dos playoffs.  Mas a questão maior é saber se eles não jogaram demais naquela ocasião, se não chegaram perto do limite do atual elenco. Se for o caso, uma queda seria inevitável. Não nos esqueçamos que, em 2013-14, na estreia do Coach Bud, o resultado final foi de 38 vitórias e 44 derrotas. Agora estão praticamente no meio termo entre um ano e outro.

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Pode ser que, na real, o Hawks tenha até mesmo extrapolado seu limite, como naquele mês de janeiro em que se mostrou invencível, algo inédito, forçando inclusive a bem sacada eleição de todo o seu quinteto titular ao prêmio de “melhor(es) do mês”, levando quatro deles também ao All-Star Game. Tudo merecido. De qualquer forma, no trecho final da tabela, não nos esqueçamos que o time teve um aproveitamento medíocre de 11 triunfos e 10 reveses. Por mais que já estivessem garantidos nos mata-matas e que seu técnico leve a sério a filosofia Popovichiana de preservar seus jogadores sempre que puder, a queda foi significativa e um indício de que já estavam perdendo o pique.

(Poderíamos acrescentar a varrida que sofreram do Cleveland Cavaliers, sem Kevin Love, na final do Leste como outro indício de que tinham chegado longe demais até, mas aí é um tanto injusto, uma vez que a equipe tinha seus próprios problemas médicos para resolver. Vários, aliás: Thabo Sefolosha estava fora de combate, devido a uma fratura exposta na perna causada pela polícia nova-iorquina; Kyle Korver perdeu as últimas duas partidas depois de topar com Matthew Dellavedova e lesionar o tornozelo; DeMarre Carroll, com o joelho estourado, foi para o sacrifício; Paul Millsap estava se recuperando de um deslocamento de ombro, enquanto Horford, por fim, deslocou seu dedinho da mão direita, a mão do arremesso. Chega, né? Sem Carroll e Sefolosha para ao menos tentar incomodá-lo, LeBron estraçalhou o oponente e até foi gentil com David Blatt ao erguer o troféu da conferência.)

A lamentável lesão de Carroll ainda abala o ala até em Toronto

A lamentável lesão de Carroll pelos playoffs ainda persegue o ala mesmo em Toronto

Curiosamente, daquele esplêndido time titular de 2015, o único que saiu foi justamente aquele que ficou fora do jogo festivo da liga: Carroll, ganhando uma bolada do Toronto Raptors depois de expandir seu jogo de um modo impressionante em Atlanta (créditos para Bud e Quin Snyder, segundo o ala). A simples partida do ala para o Canadá não explicaria de modo algum as dificuldades encaradas pelo Hawks, até porque seu ponto mais forte era o combate no perímetro, embora tivesse desenvolvido um consistente chute de longa distância. E, bem, marcar não tem sido o problema. O que é uma grata e salvadora surpresa.

Desde o All-Star deste ano, por sinal, a defesa do Hawks é até mais eficiente que a do Spurs, ficando em primeiro na lista, sofrendo baixíssimos 94,6, pontos por 100 posses de bola, e com uma boa vantagem para cima dos texanos (numa amostra pequena de 15 jogos, é verdade, mas enfrentando duas vezes o Warriors e uma vez o Clippers, dois dos ataques mais poderosos da década). Time irregular durante toda a campanha, vem usando esse fortalecimento na contenção para desfrutar de novo momento de subida, vencendo seus últimos cinco jogos e oito dos últimos dez. Durante esta sequência, impediu que seu oponente alcançasse a marca de 100 pontos. No caso de Lakers (77), Jazz (84), Grizzlies (83) e Pacers (75), nem passaram dos 90, na verdade.

Você olha para o elenco em geral e não encontra brutamontes ou jogadores ferozes, intimidadores, certo? Mas se deixar se levar pelas aparências, vai ter uma ingrata surpresa.”A envergadura deles em todas as posições, a capacidade atlética, a velocidade e agilidade, todas tremendas”, afirma Dwane Casey, técnico do Toronto Raptors, e coordenador defensivo do Dallas campeão de 2011 e de alguns grandes times do finado SuperSonics, nos tempos de George Karl.

Homens brancos sabem defender: Korver preenche espaços

Homens brancos sabem defender: Korver preenche espaços

“Eles se parecem muito com o San Antonio, por razões óbvias”, disse Frank Vogel, técnico do Indiana que entende uma coisa ou outra sobre marcação sufocante, depois de ver seu time esmigalhado. “Eles jogam duro para valer. A intensidade e a tenacidade deles é admirável. Eles grudam no seu peito a cada corta-luz. Eles passam por cima de qualquer corta-luz. São dedicados e estão entrelaçados em um bom esquema. Além de ter bons defensores individualmente, como Teague e Millsap com as mãos, Bazemore, a inteligência de Korver, que pode ser criticado por sua mobilidade, mas na verdade é um defensor muito, muito bom. Horford também é forte. Eles têm um talento muito bom para a defesa e são obviamente muito bem treinados.”

Se são dominantes defensivamente, mas não conseguem o sucesso da temporada passada, então a lógica é que o problema esteja localizado no ataque. Aí que, na hora de comparar os números de uma temporada para a outra, encontra-se alguns dados interessantes. Em relação ao time que liderou a conferência em 2015, a versão atual caiu um pouco no aproveitamento geral de arremessos, mas não foi nada drástico: na medição que leva em conta chutes de dois e três pontos mais os lances livres (“True Shooting”), o time caiu de terceiro para sétimo (indo de 56,3% para 55,1%). O quanto representa de queda 1,2% nessa estatística? Na temporada atual, é o que separa o Thunder do Clippers, de terceiro para quinto. Por outro lado, o time segue com uma proposta solidária: é o segundo com mais cestas assistidas na liga, melhorou sua frequência de assistência x turnover e até mesmo acelerou o ritmo, passando de 20º a 10º.

O que acontece, então?

Tem de fuçar mais um pouco até chegar aos tiros arremessos de três pontos, que são obviamente parte integral de seu sistema (estão em sétimo entre aqueles que mais arriscam de fora). Nota-se uma boa diferença, com a equipe caindo de 38% para 34,8%, ou de segundo no geral para 15º, e aí que chega a hora de falar um pouco sobre Kyle Korver.

O ataque de Bud sente a falta da ameaça que o ala representou na temporada passada, quando ficou muito perto do clube dos 50%/40%/90%, chegando ao All-Star Game pela primeira vez na carreira, dias antes de completar 34 anos de idade. Seja pela dificuldade de se recuperar de uma cirurgia no tornozelo, que atrapalhou suas já legendárias atividades físicas no período de férias, ou pelo simples envelhecimento, sua pontaria nos arremessos de fora baixou de 49,2% para 40,3%. Claro que ainda é um ótimo índice. Mas essa queda tirou o líder em aproveitamento no campeonato passado do grupo dos 20 primeiros até a semana passada – agora está em 18º.

Ainda assim, Korver ainda representa uma grande ameaça na cabeça dos defensores e estrategistas. Claro que você não vai deixá-lo livre, só porque ele não mata mais quase 50% de suas tentativas. Né? (Risos). Ainda assim, seu impacto gravitacional é menor este ano. Por gravidade, aqui, entenda o quanto sua presença em quadra interfere no posicionamento de seus oponentes, seja seu marcador específico ou outros atletas que se distraiam para conter sua ameaça. De jogador com o maior saldo de pontos na Conferência Leste em 2014-15 (10,9 por 100 posses de bola, numa das estatísticas mais legais do ano passado, mostrando o quanto o basquete vai além dos highlights), passou a quinto, sendo superado pelo trio LeBron-Love-Irving e Kyle Lowry, com 6,0 pontos. Nada mal, ainda na elite. Mas abaixo do nível espetacular em que havia jogado, quando a simples possibilidade de ele aparecer livre no perímetro significava pleno terror para os oponentes:

Só um adendo: claro também que não cai tudo nas costas de Korver aqui. No perímetro, o time também sente a falta de Carroll (algo que qualquer scout, cinco anos atrás, consideraria uma coisa maluca de se dizer). O ala matou 39,5% de seus chutes de três em sua última temporada pelo Hawks. Em seu lugar na rotação, Kent Bazemore vem convertendo 36,3%. E a vaga de reserva de Bazemore herdada por Tim Hardaway Jr. também valeu uma queda de 36,4% para 33,0%. Millsap também ficou para trás, de 35,6% para 31,1%. Da turma que mais atira, só Teague cresceu, de 34,3% para 40,1%, algo que vinha passando batido, confesso. O armador está logo abaixo de Korver no ranking geral da liga. Além disso, a boa notícia para Budenholzer é que o ala tem esquentado a mão vive em março seu melhor mês nesta campanha, chegando a 53,1% de aproveitamento nos chutes de três, com 4,9 tentativas por partida. Essa guinada coincide justamente com as oito vitórias em dez jogos do Hawks.

Agora é conferir se o Hawks consegue apertar ainda mais o passo e a defesa e carregar sua boa fase rumo aos playoffs, ao contrário do que aconteceu no ano passado. Isso só reforçaria o impasse que a diretoria enfrenta. Se esse núcleo vai ser desmembrado neste campeonato, não sabemos. Enquanto o momento de refletir sobre planos de médio a longo prazo não chega, que eles desfrutem e continue sonhando e, quiçá, cantando.

A pedida? Uma revanche com o Cleveland Cavaliers na final do Leste.

De assistente a todo poderoso em Atlanta

De assistente a todo poderoso em Atlanta

A gestão: ao imprimir em seu cartão de negócios os cargos de presidente e técnico, Mike Budenholzer entrou em um seleto grupo na NBA, ao qual só pertencem hoje Pop, Doc, Stan Van Gundy e… só (#FlipRIP). É impressionante sua ascensão, não? De assistente em San Antonio por 17 anos a todo poderoso em Atlanta em duas temporadas. Pois é: estudar no Institituto Instituto Gregg Popovich & R.C. Buford Spursiano de Basquete por tanto tempo tem suas vantagens, mas não deixa de ser notável que, após duas boas campanhas do time, tenhas ido promovido a chefão das operações esportivas do clube após o afastamento de Danny Ferry (e há quem diga que o antigo chefe, quem lhe ofereceu uma tão demorada e aguardada chance, se ressinta com isso).

SVG vai dando sinais de que é possível em Detroit. Rivers, por outro lado, já tem um número suficientes de trapalhadas em Los Angeles para Steve Ballmer repensar essa decisão. Pop é o presidente do Spurs, mas a divisão de trabalho no escritório talvez seja no máximo de 50/50 com Buford. Não só é raro ver alguém acumular ambos os cargos, como mais difícil ainda que vire um caso de sucesso. Mencionar Red Auerbach ou Pat Riley não vem ao caso. A liga mudou muito de lá para cá e, no caso de Riles, o título de 2006 nem conta, pois foi algo praticamente efêmero, já que ele assumiu o time no meio da jornada e, dois anos depois do título, o Miami já estaria fora dos playoffs.

O Coach (& President) Bud ainda está sob avaliação. A troca de uma escolha de primeira rodada por Tim Hardaway Jr. é bastante questionável, ainda mais com tantos jogadores interessantes disponíveis numa valiosa 15ª posição. Vamos lá: Kelly Oubre Jr., Justin Anderson, Bobby Portis e, meu candidato favorito, Rondae Hollis-Jefferson, para citar só aqueles que estavam bem cotados à época e que preencheriam lacunas no elenco, embora nem sempre você precise fazer uma seleção de impacto iminente. Além disso: não dá para esquecer que essa escolha veio de Brooklyn, como fruto da vantajosa troca de Joe Johnson – isto é, queimaram um cartucho. A troca indireta de Justin Holiday por um aluguel de alguns meses de Kirk Hinrich, que não deve nem jogar, também reflete uma mentalidade imediatista. Como é de praxe: técnicos querem melhorias para já. O futuro? Cuidemos depois.

A absorção do contrato de Tiago Splitter foi uma boa tacada. Só convenhamos que, vindo de San Antonio, foi praticamente um acordo de compadre. Outra negociação que envolve um brasileiro foi positiva: a espera por Kris Humphries no mercado de “buyouts” – em 2016, o ala-pivô é um jogador mais produtivo do que Anderson Varejão, que era visto por diversos scouts consultados pelo blog como “opção natural” para a equipe. De resto, todo o elenco do Hawks é uma herança de Ferry: Bazemore, Sefolosha, Walter Tavares, Schrödinho etc. Vamos ver como eles vão se sair em um verão (setentrional) importantíssimo, no qual terão espaço salarial considerável, ainda mais se Horford partir.

Splitter poderia ter feito muito por Atlanta. Mas o quadril não permitiu

Splitter poderia ter feito muito por Atlanta. Mas o quadril não permitiu

Sobre Bazemore, o Hawks tem outra preocupação para julho. O ala também vai virar agente livre e, de acordo com a expectativa geral de scouts e executivos, vai interesse de muitos clubes, podendo ganhar um aumento de mais de 500% em seu salário de US$ 2 milhões. Sim, na nova NBA um jogador atlético, com chute razoável de fora e que defende múltiplas posições no perímetro, só com restrições a oponentes muito altos e físicos, vai ganhar mais de US$ 10 milhões tranquilamente – é o atual salário de Danny green. Será uma bonança financeira para acolher um número reduzido de atletas no auge da carreira.

E aí há um ponto para se monitorar em futuras operações do clube: tanto Bazemore como seu antecessor no time titular, DeMarre Carroll, foram alvos baratos, de jogadores pouco falados, que se mostraram certeiros, lucrativos. O problema? Os contratos foram muito curtos. Então lá se foi um Carroll, que evoluiu uma barbaridade em Atlanta e foi ganhar uma bolada em Toronto. Paul Millsap quase se mandou. Pode acontecer o mesmo com Bazemore.

Olho nele: Paul Millsap

Desde que saiu de Utah, o ala-pivô foi eleito para a seleção do Leste do All-Star Game em todas as três temporadas seguintes. Antes de renovar seu contrato, recebeu uma oferta de US$ 20 milhões anuais do Orlando Magic. Quer dizer: já se foi o tempo em que Millsap poderia ser considerado “subestimado”. Ele pode não vender carro, navio ou avião. Não é um darling do marketing. Mas os técnicos não estão nem aí para isso.  Pudera: poucos podem igualar o nível de atividade, versatilidade e produtividade do veterano de 30 anos, que contrariou muitos scouts ao se tornar essa estrela.

Nesta temporada, só quatro jogadores têm um mínimo de 15,0 pontos, 8,0 rebotes, 1,0 toco, 1,0 roubo em média: Kevin Durant, Boogie Cousins, Anthony Davis e Millsap. (Se for para acrescentar um filtro de 3,0 assistências por partida, Davis sai da jogada). Não é um fato isolado. Desde 2011, só Anthony Davis, Boogie Cousins e Dwight Howard se juntariam ao veterano. Para um cara que foi escolhido na 47ª posição de seu Draft, nada mal.

dikembe-mutombo-card-hawks-1998-99Um card do passado: Dikembe Mutombo. A última vez que o Atlanta se meteu entre as melhores defesas da NBA foi na temporada 1998-99, ano pós-locaute, quando este distinto senhor congolês tomava conta da tabela, talvez já aos seus 40 anos de idade, segundo a desconfiança da época. Aí fica fácil, né? Com Dikembe Mutombo Mpolondo Mukamba Jean-Jacques Wamutombo (se você tem a chance de escrever o nome completo desta muralha em forma de pessoa, não dá para hesitar), só não defende quem não quer. Seu time teve a segunda defesa mais eficiente da liga, atrás somente do, coincidência, Spurs.

O africano teve média de 2,8 tocos em sua carreira, que se estendeu de 1991 a 2009. No meio do caminho, passou cinco anos em Atlanta, fazendo parte de um time competitivo, mas não o suficiente para se distinguir em uma Conferência Leste pesada, com Bulls lá na frente e Pacers, Knicks e Heat num pelotão intermediário. Das quatro vezes que foi eleito Defensor do Ano, duas aconteceram em Atlanta, numa dobradinha entre 1997 e 1998. Ironicamente, no ano em que o Hawks teve seu melhor rendimento, Alonzo Mourning foi eleito. Para Georgetown, tudo bem: ficou em casa – aliás, entre 1996 e 2001, só deu Mutombo ou Mourning nesse quesito.

Voltando àquele Atlanta, é preciso dizer que Mutombo não estava sozinho. A defesa comandada por Lenny Wilkens tinha o ultra-agressivo Mookie Blaylock para pressionar a bola (seu reserva, Anthony Johnson, também dava trabalho na linha de passe) e três alas-pivôs experientes e centrados para consolidar uma linha de frente muito forte no rebote e de posicionamento: Grant Long, LaPhonso Ellis e Alan Henderson.


Spurs contém Warriors e dá o troco. A gente se vê na final do Oeste?
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Giancarlo Giampietro

LaMarcus: 26 pontos e 13 rebotes em 37 minutos, capitaneando o ataque lento do Spurs

LaMarcus: 26 pontos e 13 rebotes em 37 minutos, capitaneando o ataque lento do Spurs

O placar? Foi 87 a 79 para o San Antonio Spurs. Digno da tediosa, arrastada final de 2005 contra o Detroit Pistons.

Mas de modorrento o segundo confronto dos texanos com o Golden State Warriors nesta temporada não teve nada. Quer dizer: os jogadores da casa conseguiram atender ao pedido de Gregg Popovich e desacelerar a partida, investindo em jogadas com os pivôs no garrafão, brecando Stephen Curry em qualquer momento que ele conseguisse sair em transição, se Danny Green assim permitisse. Um cenário bem diferente do que vimos há algumas semana quando os atuais campeões derrubaram OKC de modo inacreditável. Só deste modo mesmo para os caras vencerem.

Ainda assim, foi um jogo emocionante ao seu modo, com intensidade de playoffs e diversas alternativas, em que o Spurs saiu de cabeça erguida, para  compensar, um pouquinho que seja, a surra que haviam tomado no primeiro duelo. Passa a impressão de que aquela surra de 30 pontos de diferença (120 a 90) foi mais uma aberração, um resultado que não condizia com a reduzida distância entre ambos na tabela e no confronto de estatísticas. Por sinal, em termos de saldo ofensivo e defensivo, os estatísticos, sempre eles, vão apontar que os homens de espora são tão ou mais favoritos ao título, mesmo que na tabela ainda tenham três reveses a mais.

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Do outro lado, o Warriors sai frustrado, claro, pelo simples fato de terem perdido talvez a primeira partida im-por-tan-te neste campeonato e também por estar simplesmente desabituado a derrotas: agora são sete em 69 rodadas. Maaaas, dadas as condições – desfalques de Iguodala, Bogut e Ezeli –, fora de casa, na segunda noite de uma dobradinha –, certamente não será o caso de Draymond Green espernear e berrar no vestiário. “Estava tudo voltado contra nós. Dito isso, vendo o que foi feito, foi impressionante”, disse o técnico, que deve ter ficado feliz da vida por ver sua defesa reativada, enérgica, com deslocamento lateral assustador, forçando 17 turnovers e permitindo apenas 41,0% nos arremessos de quadra.

Estivessem os dois pivôs disponíveis para Kerr, e talvez a disputa de rebotes não tivesse sido tão desfavorável, com San Antonio levando a melhor por 53 a 37, com 14 coletas ofensivas bastante preciosas, depois de excelente defesa de Golden State. Por mais que tivessem executado o bloqueio, era difícil para que Shaun Livingston, Harrison Barnes e mesmo Draymond Green afastassem alguém da estatura de LaMarcus Aldridge da tabela.  Pois Anderson Varejão parece estar com a mobilidade bastante comprometida, alguns passos mais lento na defesa, recebendo minutos limitados mesmo numa situação dessas. É… Magnano está monitorando? Mas deixemos a seleção para depois. Leva tempo. Mas não é hora de falar sobre isso. Voltemos ao jogo.

O torcedor de San Antonio, de todo modo, pode tranquilamente contestar essa afirmação sobre as baixas do rival e lembrar que Tim Duncan só ficou em quadra por oito minutinhos. Foi apenas a terceira vez em sua carreira, depois de 1.300 e poucos jogos, em que o pivô, um dos dez melhores jogadores da história da liga, saiu do banco. Deu uma corridinha no primeiro tempo e não voltou mais depois do intervalo.

Para matutar: isso faz parte do jogo de xadrez de Pop? Ou o pivô sentia algum desconforto? Sinceramente, para essa segunda hipótese, acredito que a chance é praticamente zero – se há um clube que não vai assumir risco nenhum em um jogo de temporada regular, não importando qual seja, é o Spurs. Há pelo menos mais duas opções: 1) não importando quem esteja escalado do outro lado e as condições físicas da estrela, talvez não haja espaço para ele num confronto com esse oponente em específico, lembrando que ele já havia sido preservado no primeiro embate, com supostas dores no joelho; ou 2) que, a partir do momento em que viu que Bogut não jogaria, Pop achou que não precisava usar seu craque.

É difícil apostar contra Duncan. Por mais que esteja arrastando sua perna direita ainda mais este ano, com um joelho que parece inexistir, na verdade, com minutos controlados e média de pontos abaixo da casa de 10,0 por partida, o pivô ainda é uma figura muito influente para o sistema defensivo do Spurs, que é o mais eficiente da liga, como pudemos ver tão bem hoje. Por um lado, Diaw, bundudo daquele jeito, deixa o time bem mais flexível, podendo ainda punir Harrison Barnes perto da tabela (14 pontos, 8 rebotes e 6-7 nos arremessos em 35 minutos). Por outro, a proteção de cesta fica muito mais eficaz com Duncan por ali. Houve diversos momentos em que Aldridge, Diaw ou West vinham fazer a dobra pelo centro da defesa, e a aposta aqui é de que o ex-nadador das Ilhas Virgens ainda faria pelo menos esse reduzido, mas importantíssimo papel com muito mais competência.

De qualquer forma, quando você segura o esquadrão do Warriors a apenas 79 pontos – de longe, sua menor contagem na temporada –, não há do que reclamar na defesa. O Spurs marca tão bem, mas tão bem que a única oportunidade de backdoor que foi permitida ao Golden State, com Klay Thompson no primeiro período, suscitou um pedido de tempo furioso por parte de Pop. De resto, qual quebra nos movimentos foi tão clamorosa assim? Mas mesmo Patty Mills e Tony Parker foram muito bem. Sempre com os braços para cima, em alerta. Os grandalhões fizeram o mesmo. Com disciplina, não caíram nas fintas desconcertantes de Curry.

 Foi uma defesa agressiva, mas sem cometer muitas faltas (19). Não queriam forçar turnovers, mas, sim, vigiar o mais de perto possível os chutadores oponentes, deixando sempre algum pivô por perto, sem fazer a dobra imediata, mas marcando território. Eram contestados, perseguidos, mas não dá para dizer que fosse uma abafa, uma pressão frenética. Ajuda, claro, ter dois marcadores excepcionais como Kawhi Leonard e Danny Green para isso, altos, atléticos e ágeis para se manterem por perto como uma ameaça, sem precisar morder. Green, aliás, foi um espetáculo. Se conseguir reproduzir esse tipo de atuação por quatro partidas em eventual final de conferência, nem vai importar que seu tiro de três não esteja caindo.

Popovich gosta de pegadinhas durante a temporada, não vai mostrar tudo o que tem, mas neste confronto testou para valer o quão efetiva pode ser sua defesa contra os Splash Brothers. Era necessário, depois da pancada que haviam tomado e também pelo fato de que os próximos dois jogos podem acontecer em situação bem menos competitiva, dependendo de qual será a campanha de cada um até lá. E o técnico deve ter adorado o que viu.

Os Splash Brothers acertaram apenas duas em 19 tentativas de longa distância. Mas nem mesmo quando colocaram a bola no chão foram muito melhores, terminando com 11-38 no geral, um horror. Especialmente no primeiro tempo, os dois estavam desnorteados em quadra, se precipitando em suas ações secundárias, já que a opção pelo tiro de longa distância era desencorajada por seus marcadores. E, de novo: nos momentos em que Curry escapava na transição ofensiva, era parado com falta. Em nenhum momento entrou em ritmo. O mesmo aconteceu com Thompson, cujos movimentos fora de bola são geralmente tão fluidos, naturais. Em San Antonio, saiu tudo forçado, aos soluços para a dupla. Estavam inseguros, com dúvida sobre o que fazer. É algo que Pop e seus atletas provocam, como poucos. LeBron sabe como é. 

Vamos lembrar, em argumento pró-Warriors, que era a segunda partida em duas noites para eles, enquanto o Spurs, já em casa, descansou. Mas esta derrota não teve nada que ver com o surpreendente tropeço contra o Lakers. Ali, rolou soberba e faltou energia, foi uma ressaca das mais brabas, mesmo. Dessa vez, o aproveitamento horroroso se deve muito mais ao empenho e cérebro de seus adversários.

Numa série de playoffs, com scouts, técnicos e jogadores imersos em nuvem de jogos, diversos detalhes virão à tona, sugerindo os famosos ajustes e as reações a estes. Na final do ano passado, Curry penou contra a marcação física de Matthew Dellavedova. Mas aí o Warriors começou a antecipar seus corta-luzes e liberou a quadra para seu armador jogar e criar. A diferença é que Green não precisa atacar Curry de imediato. É muito mais alto e atlético que o australiano e tem condições de, mesmo se bloqueado, se recuperar e incomodar o armador (como no vídeo acima). Se teria fôlego por toda uma série, aí é outra história.

Seriam, certamente, diversas as possibilidades com elencos tão versáteis e talentosos. Vale assistir de novo ao jogo e ver o quanto Spurs e Warriors defenderam, sem a força bruta da NBA de 11 anos atrás, mas com pés ágeis e trocas constantes de marcadores em coordenação plena. A essa altura, com exceção de Kevin Durant, Russell Westbrook, Chris Paul e Doc Rivers, a NBA inteira está torcendo para uma série melhor-de-sete entre estes times. Quando vamos chegar lá?

*   *   *

A busca pelo recorde? Bom, o Warriors precisa de 11 vitórias em 13 jogos até o fim da temporada, para superar o Bulls de 1996. Com três derrotas, repetira o 72-10 de Jordan, Pippen, Rodman e Randy Brown. 🙂 Segundo o “Basketball Power Index” do ESPN.com, o time californiano tinha 59% de chances de alcançar a marca de 73 vitórias antes de jogar em San Antonio. Agora caiu para 49%. Arredondando, oras, ainda estamos falando de 50/50.

Serão apenas quatro jogos como visitante, mas dois deles numa segunda noite de back-to-back, contra Utah (altitude, sempre um rival chato em Salt Lake City, talvez ainda brigando por colocação no playoff) e… San Antonio.

*    *    *

Por falar em recorde, e daquele Chicago, o Spurs chegou a 44 jogos de invencibilidade jogando em seus domínios, algo que aquela histórica equipe também havia conseguido. O Warriors, porém, já derrubou essa marca, somando 50 triunfos consecutivos em casa.

*   *   *

Por fim, ainda falando de sequências, a única cesta de longa distância que Curry fez na noite deste sábado ao menos serviu para que ele chegue a 160 jogos seguidos com um chute desses convertido.

E o bom desse time do Warriors? Eles seguem perfeitamente um dos pontos essenciais para Gregg Popovich: saber rir das coisas. Depois de seu jogo apático, Curry soltou esta no Twitter: “Não sei quanto a vocês, mas acho que joguei uma das minhas melhores partidas do ano (risos). Viver e aprender. Vamos para a próxima!”


Jukebox NBA 2015-16: Enquanto o Spurs ainda puder ver a luz
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Long as I Can See the Light”, por Creedence Clearwater Revival

Para falar de um clássico da NBA, nada como ouvir outro. Que, enquanto a luz estiver acesa, visível, não parece que o San Antonio Spurs vá embora tão cedo.

Seja pela possibilidade real de quebra do recorde histórico de vitórias do Bulls de 1996, ou pelos lances inacreditáveis de Stephen Curry, uma coqueluche mundial, é natural que o noticiário, que o apelo popular e que, por consequência, o marketing se concentre no Golden State Warriors nestes dias. Mas basta uma consulta na tabela – e em uma ou outra seção estatística importante – para o povo em geral se dar conta de que a rapaziada de Gregg Popovich está logo ali, pertinho, à espreita, pensando seriamente num sexto título para a franquia.

Quatro derrotas separam o líder do vice-líder do Oeste. Para um time com o padrão do Warriors, pode parecer uma vantagem razoável. Acontece que os dois times ainda vão duelar mais três vezes nesta temporada. Aliás, na lista de argumentos para se crer em um recorde para os californianos, a consistente perseguição do Spurs tem de estar lá no topo, pelo fato de o Warriors (ainda!) precisar lutar para assegurar o mando de quadra nos playoffs. Ainda vai levar alguns dias para que Steve Kerr se sinta tranquilo e confiante em poupar jogadores que não estejam contundidos ou lesionados. Vide a escalação de Draymond Green nesta segunda, contra um enfraquecido Orlando Magic, mesmo que o pivô, figura essencial ao seu esquema, estivesse doente e tenha tomado uma injeção durante o dia.

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Além dos confrontos diretos, há outro ponto para Pop considerar: desde o intervalo do All-Star, o Golden State se mostra relativamente vulnerável. Seja por cansaço, pressão pela busca do recorde, ou, no outro extremo, por relaxamento e “complacência” (nas palavras de Kerr) por acreditar flertar com a invencibilidade, o atual campeão deixou sua antiga fortaleza defensiva ruir nas últimas semanas. Em 10 jogos, só segurou um time abaixo dos 100 pontos: o Atlanta Hawks. Por outro lado, são sete partidas em que os oponentes passaram dos 110 pontos. Seu técnico está ligeiramente preocupado, com toda a razão.

Muita coisa já aconteceu desde as finais. Kawhi assumiu o controle do time

Muita coisa já aconteceu desde as finais. Kawhi assumiu o controle do time

Em San Antonio, proteger a cesta não é problema. A equipe tem a defesa mais eficiente da temporada, com muita folga.  Os 3,8 pontos que a separa do Alanta Hawks, cobrem a distância entre o terceiro colocado (Indiana Pacers) e o 16º (Orlando Magic). Ao contrário da maioria das equipes de Chicago dirigidas por Tom Thibodeau ou dos Pacers de Frank Vogel, a equipe também tem um ataque muito perigoso, sendo o terceiro mais qualificado da liga, abaixo de Warriors e Thunder. Esse equilíbrio deixa o Spurs com o maior saldo por 100 posses de bola (13,2), acima novamente do Warriors (11,7). Os dois times estão numa categoria à parte nesse quesito. O Thunder, para termos uma ideia, vem em terceiro, com 6,7. O Cavs, em quarto, com 5,9.

Está certo: precisamos lembrar que, no único duelo entre os líderes até aqui, o Spurs não teve nenhuma chance. O jogo já havia acabado no segundo período. O que atestou a superioridade naquele momento, mas, ao mesmo tempo, indica que foi um confronto atípico, sem que os visitantes texanos tivessem incentivo para correr atrás do prejuízo e, no caminho, dar algumas dicas do que pretendem fazer em uma eventual final de conferência.

No longo prazo, os indicativos do Spurs são tão ou mais relevantes que este primeiro jogo, assim como as recentes dificuldades encontradas por seu adversário. Não por acaso, existem projeções estatísticas que já apontam hoje o time de Kawhi Leonard (top 5 na votação para MVP, por favor) como o maior favorito ao título. Há divergências entre diferentes modelos, e todos eles obviamente não se equivalem a ciência exata, mas é algo a ser levado em conta: os números põem ambas superpotências num mesmo nível, bem distante da concorrência.

Então é isso: a luz parece nunca apagar para Duncan, Ginóbili e Parker, mesmo que mesmo que, para os dois mais veteranos (Timmy está com 39, Manu, 38), os minutos estejam mais controlados do que nunca. O tempo de quadra do pivô está na casa de 25 minutos em média, enquanto o do argentino não passa nem dos 20. Em minutos totais, seja por lesão ou precaução, os dois são, respectivamente, apenas os sexto e nono no ranking do time na temporada, abaixo de Patty Mills.

LaMarcus faz um estágio avançado com Timmy

LaMarcus faz um estágio avançado com Timmy

A receita é mesma: preservá-los para os jogos que mais importam e, ao mesmo tempo, turbinar a confiança dos mais jovens, encontrar o espaço certo de LaMarcus Aldridge e oficialmente entregar as chaves do reino a Kawhi Leonard. Com a frieza e clareza de sempre, Pop faz tudo funcionar de modo harmonioso. Encontrou oportunidades até para Boban Marjanovic virar um herói cult nos Estados Unidos (alastrando sua cruzada científica para provar que, sim, há lugar para dinossauros no basquete, contrariando a teoria da evolução).

Agora, nas últimas semanas de temporada, uma das tarefas do técnico será integrar os contratados no mercado de “buyouts”, Kevin Martin e Andre Miller, um alvo surpreendente. Para fechar com o veterano armador, o clube dispensou um jogador mais jovem, de futuro, como Ray McCallum. Martin, desde que aprovado em exame médico, deve forçar a saída de Rasual Butler. Ou Matt Bonner? Imagino que Butler, até por ser da mesma posição e por questões de química.

Não é a primeira vez que a gestão Popovich/R.C. Buford opta por esse tipo de negociação. Boris Diaw chegou ao clube durante a temporada 2011-12 desta forma, depois de irritar Michael Jordan até não poder mais. Lembro de mais dois casos abaixo, na seção dos “cards”. Tem mais.

A contratação de Martin não se questiona. A ele deve caber o papel desempenhado por Gary Neal e Marco Belinelli em campanhas passadas, dando ao ataque mais um letal arremessador. Essa vaga na rotação perimetral hoje é ocupada pelos promissor Kyle Anderson, que progrediu muito durante a campanha, e Jonathon Simmons, desses achados dos scouts de San Antonio. É um novato viajado, de 26 anos, que tem uma história incrível até chegar ao basquete profissional. Os dois são talentosos, bastante diferentes entre si, mas crus ainda e, principalmente, não têm chute.

Miller: Popovich afirma que sempre quis tê-lo no time. Mas tarde assim?

Miller: Popovich afirma que sempre quis tê-lo no time. Mas tarde assim?

Quanto a Miller…  O cara foi um dos armadores mais regulares das últimas duas décadas, causando impacto no ataque com sua criatividade para abastecer os companheiros e a habilidade no post up contra oponentes pouco habituados a esse tipo de ataque. Só faz muito tempo que ele não consegue frear ninguém que o ataque frontalmente ao aro. Tampouco representa uma ameaça nos arremessos de longa distância, com aproveitamento a de 21,7% na carreira. Com Parker e Mills, não há espaço na rotação. Será mais  uma voz experiente no vestiário do que qualquer coisa – é o jogador mais velho da NBA, com 37 dias a mais que Duncan, vejam só. Mas precisava, num time tão tranquilo, seguro e viajado? Numa hipotética situação de emergência nos playoffs, ele poderia receber boa carga de minutos? É mais difícil de entender. Mesmo se McCallum não tenha agradado a Pop e Buford, não havia uma alternativa mais interessante na D-League para assumir essa vaga?

Antes de Miller, vale lembrar que o Spurs também fez sondagens a Anderson Varejão, e as dúvidas que surgiram a partir desse interesse foram as mesmas: qual seria o papel do brasileiro, ainda mais com um pivô tão qualificado como Marjanovic e o atirador Bonner fora de quadra, aguardando escassas oportunidades?

O que se sabe é que o clube texano, com esses movimentos, decidiu ir com tudo, de “all in” ao mercado de veteranos. Especulação da minha parte: será por entenderem que chegou, enfim, o momento de despedida, de saideira para Duncan e Ginóbili (e seus detalhes contratuais também dão indícios)? Para tentar se cercar, então, com o máximo possível de veteranos, aqueles que, em tese, erram menos durante um jogo e despertam mais confiança dos técnicos.

Na letra do genial John Fogerty, o narrador pede uma vela acesa na janela, que estava preparado para seguir em frente e caminhar por aí, à deriva, mas preparado para voltar e se sentindo protegido, desde que a luz ainda esteja lá. Enfim. Talvez seja essa a última temporada ou não dessa histórica dupla? Talvez, para eles, tenha chegado a hora de apagá-la. Não sem antes tentar o título novamente.

Buford e Pop vão abastecendo o elenco do Spurs. Com criatividade e pré-requisitos

Buford e Pop vão abastecendo o elenco do Spurs. Com criatividade e pré-requisitos

A pedida? O sexto título da era Duncan-Pop. Era tudo o que Kobe Bryant queria: levar a conta de anéis de campeão da liga à outra mão, igualando Michael Jordan. Desde que se despediu de Phil Jackson, porém, o ala nunca chegou nem perto disso. Duncan, bem mais discreto, tem sua (última?) chance. Para Ginóbili e Parker, a conta chegaria a cinco. Matt Bonner, três. 🙂 Kawhi e Green, dois. Excelência é isso.

A gestão: acho que não precisamos nos estender muito aqui, né? Todo mundo já escreveu a respeito. A prévia do ano passado bateu novamente nessa tecla, para tentar entender esse prolongado sucesso. Aqui, um texto que mostra como esses caras conseguem construir timaços mesmo estando num mercado insignificante do ponto de vista financeiro e de badalação. Basta fazer scout e ter a cabeça no lugar.

Então vamos recuperar uma das aspas que mais fez sucesso nesta temporada, numa cortesia de Popovich, ao falar pela trigésima vez sobre o que eles valorizam num processo seletivo, seja para técnicos, jogadores ou jardineiros:

Boban é gigante, joga muito e tem senso de humor

Boban é gigante, joga muito e tem senso de humor

“Para nós, é fácil. Estamos procurando caráter, mas o que diabos isso significa? Estamos procurando por pessoas – e já disse isso muitas vezes – que já passaram da fase de se acharem mais importantes que tudo, e isso você consegue sacar bem rápido. Você pode falar com alguém por quatro ou cinco minutos, e dizer se eles só pensam em si, ou se eles entendem que são uma peça no quebra-cabeça. Senso de humor é algo muito importante para nós. Você tem ser capaz de rir. Tem de saber brincar e ouvir brincadeira. E precisa entender que não tem todas as respostas. Queremos pessoas que são participativas. Os caras na análise de vídeo podem me dizer o que acham do nosso jogo da noite passada. (O ex-assistente e agora novo gerente geral do Brooklyn Nets) O Sean Marks se sentava nas reuniões dos técnicos quando estávamos discutindo sobre como defender o pick-and-roll e quem jogaria ou ficaria no banco.”

“Precisamos de pessoas que consigam absorver informação e não levar isso pelo lado pessoal porque na maioria dos clubes você pode ver que há uma grande divisão. De repente, constrói-se um muro entre a diretoria e os técnicos, e todos ficam prontos para culpar uns aos outros. Essa é a regra em vez da exceção. Acontece. Mas isso tem a ver com as pessoas. Tentamos encontrar pessoas que possuam todas essas qualidades. Fazemos nosso melhor nesse sentido e, quando alguém chega, vai entender na hora.”

Olho nele: Danny Green

Spurs precisa de Green confiante

Spurs precisa de Green confiante

O Spurs tem o terceiro ataque mais eficiente da temporada, atrás de Warriors e Thunder, e Green, fundamental para espaçar a quadra, nem está jogando o que pode. Para vermos o quão forte é o elenco de Pop. Depois de assinar uma extensão contratual de US$ 40 milhões, dando um desconto ao clube, o ala não encontra seu ritmo nos arremessos de três. Seu aproveitamento de 35% não é ruim, em relação ao que se pratica na liga, mas é muito baixo quando comparado ao que ele atingiu em sua carreira. É o menor percentual desde a temporada de calouro em Cleveland (27,3%), há seis anos, quando ainda estava em formação, em tempos que admitia não treinar tanto assim, se achando o maioral ao sair de uma universidade como a de North Carolina, tão tradicional. Em fevereiro, ele chegou a 49,1% em 53 arremessos. Nos últimos três jogos já em março, porém, acertou só um arremesso em 12. O especialista Chip Engelland, que ajudou Splitter a reconstruir seu lance livre, só espera que a pequena amostra recente seja só um soluço.

Nos playoffs, Green tem média de 42,9% nos tiros exteriores durante a carreira. O interessante é notar que seu aproveitamento acaba servindo como um dos termômetros de campanha do Spurs pela fase decisiva. Em 2013 e 2014, acertou, respectivamente, 48,2% e 47,5%. Por pouco, muito pouco (leia-se: uma bola milagrosa de Ray Allen), o time não levou o caneco duas vezes.  Para comparar, em 2012 e no ano passado, ficou na faixa de 34,5% e 30%. Obviamente que esse não é o único fator que possa derrubar o time. Mas o ala tem sua importância. Quando seu chute cai com elevada frequência, Popovich tem o luxo de contar com uma dupla de atletas que contribuem dos dois lados da quadra o tempo todo, algo que faz diferença. Você não precisa abrir mão da defesa para azucrinar o adversário.

glenn-robinson-card-2006Um card do passado: Glenn Robinson. Reparem que o ala veste um uniforme preto, mas não o do Spurs, e, sim, o do Philadelphia 76ers, pelo qual iniciou a temporada 2004-05. Era só mais uma das muitas tentativas fracassadas do clube de emparelhar com uma segunda (suposta, ou não) estrela com Allen Iverson – Keith Van Horn, Chris Webber, Derrick Coleman, Jerry Stackhouse, Toni Kukoc, entre outros foram testados sem sucesso. Só Dikembe Mutombo, totalmente voltado para a defesa, funcionou de verdade.

Naquele ano, Robinson foi trocado no dia 24 de fevereiro para o New Orleans Hornets, que apenas queria se livrar dos salários de Jamal Mashburn e Rodney Rogers. No início de março, já foi dispensado, ficando livre, então, para assinar com qualquer time. Escolheu o Spurs, numa contratação, pensando hoje, estranha para os padrões da franquia. Escolha número um do Draft de 1994, superando Jason Kidd e Grant Hill, Robinson foi um produtivo cestinha em sua carreira, mas nunca se confundiu como um passador, como alguém que priorizasse o sucesso de seu time em detrimento de seus números.

Em San Antonio, teve tempo de fazer nove partidas pela temporada regular e mais 13 pelos playoffs, saindo do banco com papel reduzido, só para completar a rotação com Manu Ginóbili, Bruce Bowen e Brent Barry. Ficou fora de oito jogos pelos mata-matas e teve média de 8,7 minutos. Pouco, mas valeu o único título de sua carreira, antes de se aposentar. Tracy McGrady, que passou pelo mesmo expediente em 2013, não teve tanta sorte. São as vantagens de se ter um time de ponta, sempre. Os veteranos carentes de título querem participar também.


Deu Lakers (e Huertas) no jogo de temporada regular mais improvável da NBA
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Giancarlo Giampietro

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Kobe Bryant chegou ao vestiário e logo soltou: “Estou tão sem palavras como vocês, caras”.

Foi uma rara ocasião em que deu branco na cuca do Sr. Bryant, especialmente em sua última temporada de NBA, em que saiu contando causos pela América profunda. Dessa vez o astro do Los Angeles Lakers não conseguia encontrar muitas explicações para o que havia acabado de acontecer no Staples Center: seu time, o lanterninha da Conferência Oeste, derrotou o poderoso líder Golden State Warriors por 112 a  95 – apenas a sexta derrota da melhor equipe da temporada.

Mas não só isso: em termos de discrepância entre duas campanhas, essa foi a maior zebra da história da liga. Ou, se quiser uma definição mais politicamente correta e talvez mais precisa, vamos de “o resultado mais improvável” da história da liga, ao se levar em conta que o Warriors tinha um aproveitamento de 91,6% antes de a rodada começar, enquanto o do Lakers era de 19,0%, com um mínimo de 25 partidas disputadas. Curiosamente, nas bolsas de apostas em Vegas, esse triunfo estava pagando 19/1.

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De acordo com os cálculos da central de apostas Westgate Las Vegas Superbook, se, por alguma razão de bebedeira ou piada, você apostou US$ 10,00 nos angelinos neste domingo, foi premiado com um faturamento de U$ 190,00. Para o Warriors, antes de a bola subir, você tinha de apostar U$ 900.00 para ganhar dezinho.

Em outro fato raro da temporada do Lakers, Jack Nicholson estava no Staples Center e adorou tudo aquilo. Quando o Lakers vencia por 18 pontos a 5min53s do fim, o diretor de transmissão local colocou a imagem o astro hollywoodiano para o telão jumbo do ginásio. Aplaudindo, ele soltou um grito de apoio. Era tempo mais que suficiente para um time com Steph Curry e Klay Thompson buscar a virada. Mas não aconteceu, para confusão geral.

Jack e o filho caçula Ray, seu sósia, se divertindo em LA

Jack e o filho caçula Ray, seu sósia, se divertindo em LA

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Um dos personagens instrumentais na vitória do Lakers? Marcelinho Huertas.

Com o afastamento de Lou Williams por uma lesão muscular e os minutos limitados para Kobe Bryant, o brasileiro voltou a aparecer com regularidade na rotação de Byron Scott. Foi escalado nas últimas cinco rodadas, depois de ter participado de apenas um em nove jogos entre os dias 2 e 24 de fevereiro.

Pois o veterano responde com sua melhor sequência na temporada. Nos quatro últimos jogos, ele acumulou 25 assistências contra apenas cinco turnovers… Em média de 5/1, excelente, em 104 minutos de ação. Contra o Warriors,  foram nove passes para cesta e apenas um desperdício de posse de bola, em 27 minutos. Para completar, anotou dez pontos, igualando seu recorde na temporada, estabelecido justamente na partida anterior, de sexta-feira, contra o Atlanta. Como prêmio, foi apontado por Scott como o “MVP do jogo” e também ganhou elogios de Magic Johnson, para quem, ao lado de Brandon Bass e Nick Young, teve a melhor atuação da segunda unidade nesta campanha.

Não se enganem: a opinião que mais vale aqui é a de… Scott. Magic é uma lenda viva, mas não acompanha tão bem assim o time para que seus palpites sejam levados a sério. Claro que, do ponto de vista da autoestima de um jogador e do torcedor, pesa demais. Do ponto de vista administrativo e de resultados na prática, porém, técnicos e diretores do Lakers já estão habituados a lidar com as cornetadas ou aplausos virtuais de um dos maiores jogadores da história – e proprietário  minoritário da franquia.

Já Scott é quem vai realmente ditar como será o final de campeonato de Huertas, com Rubén Magnano na torcida. Depois de falar mil maravilhas sobre o brasileiro na pré-temporada, o técnico não teve muita paciência com as dificuldades defensivas apresentadas pelo jogador em seu início de adaptação a uma liga de nível atlético infinitamente superior ao que se pratica na Europa. Para piorar, vieram os vines, tweets e highlights (toco de não sei quem, crossover de fulano…), e a tiração de sarro desmedida para um esporte em que estes são lances corriqueiros.

Ok, é claro que você tem de avaliar um jogador como um todo, e a defesa representa 50% do tempo de um jogo, ou quase isso. Mas, convenhamos, quem é o grande marcado perimetral no elenco atual do Lakers, que tem a pior defesa da temporada, levando 109,5 pontos a cada 100 posses de bola e a quarta mais vazada no total, com 108,0 pontos por jogo? Ron Artest? Talvez, mesmo que ele não consiga mais tirar o pé do chão. Anthony Brown? Veio de Stanford, mas ainda está aprendendo. Só não dá para dizer Lou Williams.

É difícil de entender exatamente as motivações por trás da contratação de “Sweet Lou” por Mitch Kupchak/Jim Buss, nem mesmo no hipotético (e absurdo) cenário que a dupla imaginava: o de que a equipe teria alguma chance de brigar por vaga nos playoffs neste ano. O que o tampinha faz: cava muitas faltas, como ninguém na liga; cria situações no mano a mano para atacar a cesta ou se livrar para um rápido arremesso. Não muito mais que isso. Definitivamente não é um cara que, na hora de tentar brecar alguém, vai deixar sua marca.

huertas-floater-lakersSe for para falar em pontuação, em cestinha fogoso, Nick Young já havia sido contratado no verão anterior justamente para isso. Em sua promissora campanha de novato, Jordan Clarkson seguiu pela mesma linha. D’Angelo Russel também é muito mais definidor do que criador hoje. Para não citar o próprio Kobe Bryant, que não tem mais o pique de antes, mas, vimos bem no início, ainda se sentiu confortável em chutar 20 vezes ou mais em uma partida. Por outro lado, Huertas também sabia que o elenco do Lakers era este. O armador, lembremos, acreditava que estava indo para o Dallas Mavericks, até o negócio cair. Sobrou, no final, o time californiano, com toda essa bagunça.

Em 58 jogos, Williams recebeu 1.696 minutos e tentou 610 arremessos, com uma taxa de uso de posse de bola de 22,2%. Todos números inferiores aos de Russell e Clarkson, também em médias, mas não muito. Será que os mais jovens não se beneficiariam de um volume de jogo ainda maior?

Aí vem a questão da “educação”: que Scott estava tentando passar especialmente a Russell a noção de que ele precisaria brigar para se impor no time, que as coisas não viriam de mão beijada na liga para alguém ainda muito imaturo – foi um termo que o treinador usou diversas vezes ao avaliar o garoto, ainda mais em comparação com Chris Paul e Kyrie Irving, ambos seus pupilos em suas temporadas de calouro.

É uma proposta que tem sua lógica, ainda mais agora que o número dois do Draft está desabrochando, para silenciar aqueles (extremamente) apressados que já o sentenciavam como um fiasco, numa comparação desesperada com Karl-Anthony Towns e Kristaps Porzingis, escolhas altas que estavam produzindo muito e brilhando, enquanto a aposta do Lakers penava. Nos últimos cinco jogos, acumula 22,6 pontos, 4,4 assistências, 3,0 rebotes, 1,4 roubo, 2,4 turnovers e 47,2% nos chutes de fora nos últimos cinco jogos, em 32,6 minutos. Mas você pode contra-argumentar facilmente também dizendo que talvez Russell pudesse estar ainda mais confiante e desenvolto no quarto final de temporada se não tivesse que se desvencilhar de tantas amarras nos primeiros meses, amarras que também envolvem o show de despedida de Kobe Bryant.

Além do mais, mesmo que a tese de Scott seja correta, é aí que a gente se pergunta se Huertas não seria melhor solução neste aprendizado de Russell. Ele pode não ter o currículo de Williams na NBA. Mas, como professor e exemplo, não poderiam ser mais diferentes, e o brasileiro colaboraria exatamente com aquilo que o jovem de 20 anos (recém-completos) mais precisa de momento: o equilíbrio entre a busca da cesta com seu belíssimo e suave arremesso, sem desperdiçar sua visão de quadra. Russell já é capaz de encontrar buracos na defesa e deixar um companheiro no jeito para pontuar. Mas pode se enamorar com a bola e segurá-la por muito tempo até partir para a definição no mano a mano – vício igualmente presente no jogo de Clarkson. Botem Lou e Kobe nessa conta, e você tem o time que menos dá assistências na temporada, não importando o critério

Por mais que o Lakers precise perder, perder e perder, para aumentar sua probabilidade no próximo Draft (lembrando sempre que, se a escolha sair do top 3, será encaminhada para Philadelphia), Scott e a diretoria insistem publicamente que o Lakers entrou na temporada querendo vencer. Vai saber. Para um time que, no domingo, tinha aproveitamento inferior a 20%, seu técnico então talvez tenha falhado em buscar outras alternativas e liberar um jogo mais solidário e criativo um pouco mais cedo no campeonato.

Huertas, de todo modo, fez nos últimos dias por merecer mais chances nas próximas partidas, com ou sem Williams. Para quem, segundo Magnano disse ao repórter Marcello Pires, do GloboEsporte.com, “tinha muita vontade de ser trocado”, é um alívio.

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Nessa busca pelo Draft, o Lakers, no fim, deu sorte: seu perseguidor mais próximo, o Phoenix Suns, também venceu, superando o Memphis Grizzlies pela segunda vez em cinco dias. De modo que o time californiano segue com alguma folga na condição de segunda pior equipe da temporada, acima apenas do Philadelphia 76ers, que voltou a perder desenfreadamente. Quem comemorou, então, a soma desses resultados foi, neste mundo bizarro da NBA, foi Danny Ainge, que torce pela derrocada de Brooklyn.

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Sobre o Warriors, como fica a tentativa de recorde? Uma derrota para o Los Angeles Lakers certamente não estava nos planos. Agora, com 55 vitórias e 6 derrotas, o time precisa de 18-3 até o final para superar a marca histórica do Bulls de 1996, ou de 17-4 para igualá-la.

Ainda assim, o ritmo do Warriors ainda é superior ao do Bulls de 20 anos atrás. Nas projeções do “Basketball Power Index” do ESPN.com, a projeção de campanha do Golden State caiu justamente de 73-9 (novo recorde) para 72-10 (empate) após a surra levada em L.A. O mais curioso é que, na probabilidade de título, depois de muito tempo, o San Antonio Spurs aparece pela primeira vez com um percentual superior ao dos atuais campeões: 43,9% x 39,3%.

Na NBA, como vimos, você não pode relaxar nunca, nem mesmo contra um time dirigido por Byron Scott. Pensando na reta final de campanha, além da possibilidade de entrar para a história, o mais urgente é simplesmente se manter na primeira colocação da conferência, uma vez que o Spurs não arreda o pé dessa briga e tem apenas três derrotas a menos na classificação.

De qualquer maneira, para um time que perdeu para Milwaukee, Denver, Detroit e Pistons, não adianta contar os confrontos diretos com o time de Gregg Popovich (três!). Se juntarmos as campanhas dos seis times que conseguiram derrubar o Warriors até o momento, vamos ter 160 vitórias e 216 derrotas. E eles quase perderam para o Sixers também (abaixo). O desafio maior é manter o foco e o pique para os jogos mais fáceis, além daquelas rodadas em que Steve Kerr vai poupar alguns de seus titulares.

Mas tem um fato curioso aqui. Uma coincidência daquelas, na verdade. Exatamente no 61º jogo de sua campanha em 1996, o Chicago também foi espancado, perdendo por 32 pontos para o New York Knicks de Ewing, Mason e Oakley e já de Jeff Van Gundy, que havia acabado de ser promovido após a demissão abrupta de Don Nelson. Obviamente o Knicks tinha um elenco muito mais forte que o do Lakers de hoje.  O ponto em comum das duas jornadas é que tanto o Bulls como o Warriors tiveram a noite de sábado livre nas duas maiores – e mais agitadas – cidades da liga, Nova York e Los Angeles. Engov neles.

“Nós não tivemos muita energia para começar o jogo por qualquer razão que seja”, disse Curry. “Eles estavam errando um monte de arremessos”, se alegrou Scott. Depois dessa exibição, Kerr agendou um treino para a manhã desta segunda-feira, já em Oakland, dia de enfrentar o Orlando Magic. É o primeiro deste tipo para a equipe, numa dobradinha back-to-back.

Os Splash Brothers acertaram apenas um em 18 chutes de três pontos, com um em dez para Curry. O Lakers matou 9-24 (37,5%).

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Restam agora, em tese, 18 partidas para a carreira de Kobe chegar ao fim. Mas imagino a apreennsão de torcedores que tenham ingressos garantidos para seus últimos jogos: não existe a garantia de que ele possa entrar em quadra. SEntado no banco de reserva nos minutos finais desta incrível vitória, ele tinha o ombro direito totalmente envelopado. Aos repórteres, diz que há dias em que ele mal consegue girar o corpo para mexer no rádio do carro. Trava e dói tudo. O Lakers segue faturando com a turnê de despedida de seu craque: a franquia lançou três pares de meia em sua homenagem. Contra o Warriors, usaram a do centro:

Meias em homenagem a Kobe Bryant, Lakers

*    *    *

D’Angelo  Russel dá uma de Curry e nem espera a bola cair para comemorar. Abusado. O legal é que o lance foi no primeiro tempo ainda, e, não, quando a partida estava ‘definida’:

Larry Nance Jr. reforça sua candidatura ao torneio de enterradas de 2017:

E Russell perde o controle:


Felício aproveita seus minutos ao máximo: “Aqui estou jogando mais livre”
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Giancarlo Giampietro

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Que Cristiano Felício tinha o talento inato para, no mínimo, ser testado pela NBA, não havia dúvida. A questão é que, entre 30 franquias, era difícil de imaginar que o Chicago Bulls, com seis pivôs sob contrato, seria o primeiro interessado no brasileiro a se mexer e levá-lo para um período de testes. Falando sério,  o clube era muito provavelmente o destino mais improvável para o mineiro de Pouso Alegre.

Mas foi de Bulls, mesmo. Passo a passo, Felício convenceu o técnico Fred Hoiberg e os exigentes cartolas da franquia, John Paxson e Gar Forman, de que valeria investir mais algum trocado em um eventual sétimo homem de rotação. Da liga de verão ao traning camp à pré-temporada à data-limite em janeiro, o grandalhão revelado pelo Minas Tênis avançou e teve seu contrato garantido. Mais que a segurança financeira – especialmente com o dólar em câmbio elevado –, o que conta mais nesse processo é o ganho de confiança para um jogador ligeiramente subestimado por estas bandas.

>> Felício causa boa impressão geral em estreia pela D-League
>> As anotações de um scout da NBA sobre Caboclo, Bebê e Felício

Felíco x Jeff Ayres, ex-Spurs

Felíco x Jeff Ayres, ex-Spurs

Ok, não é que o brasileiro tenha chegado a Chicago e dominado. Em sua primeira temporada na NBA – e a segunda nos Estados Unidos, depois de uma intrigante passagem pelas “prep schools” de lá –, o pivô foi utilizado por Hoiberg em apenas 73 minutos, distribuídos em 15 partidas, para uma média de 4,9. Quando jogou, porém, deus sinais bastante positivos, especialmente na sequência de quatro jogos que teve pela D-League, causando boa impressão geral quando enviado ao Canton Charge, a filial do Cleveland Cavaliers.

Não teve ferrugem que o atrapalhasse. Depois de semanas e semanas de treino, respondeu com 14,3 pontos, 5,5 rebotes, 1,5 toco e 40% nos chutes de longa distância em 23,8 minutos por uma equipe na qual não conhecia ninguém, sem entrosamento nenhum. Numa projeção por 36 minutos, valeu 21,6 pontos, 8,3 rebotes e 2,3 tocos.  Mostrou que estava crescendo, independentemente do quanto estava jogava pelo time de cima, num trabalho mais concentrado com os assistentes Pete Myers, ex-jogador andarilho que voltou ao clube nesta temporada, e Charlie Henry, de apenas 29 anos, que havia trabalhado com Hoiberg em Iowa State. Que Ruben Magnano tenha tomado nota, então, depois de se encontrar com o rapaz.

“A conversa com o Magnano foi muito boa, falamos muito sobre a Olimpíada. Ele viu que não tinha muito tempo de quadra, mas que estava treinando bastante e melhorando. Com certeza, se for um dos convocados para a seleção, vou chegar muito melhor, mais bem preparado do que estava antes. Estou aprendendo com os melhores jogadores e tenho evoluído muito. Isso vai ser um bônus para mim”, afirma Felício ao VinteUm. O interessante é que, nesses poucos minutos, ficou claro como seu repertório se expandiu, fazendo valer o esforço numa rotina que, dependendo da cabeça, pode ser tediosa e alienante. “Aqui estou jogando mais livre”, diz.

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Ao retornar ao Bulls, demorou um pouco para que uma nova oportunidade surgisse. Até que Joakim Noah teve sua temporada encerrada por lesão, Nikola Mirotic foi afastado por uma cirurgia mais complicada do que se imaginava para tratar de uma apendicite, e agora Taj Gibson vai jogando no sacrifício, com dores musculares na coxa. Felício passou a entrar em quadra com certa frequência, mas em um momento delicado: o time está fora da zona de classificação para os playoffs e com muitas questões de relacionamento entre atletas e comissão técnica para serem resolvidas.

Dependendo do desfecho da temporada, a equipe pode entrar em um processo de reformulação, dando adeus de uma só vez a um ídolo como Noah e a Pau Gasol. Enquanto ainda é cedo para aprofundar essa discussão, quieto ao seu modo, Felício vai aproveitando como pode sua experiência de NBA, mesmo que isso não seja tão evidente. Veja a entrevista:

21: Primeiro de tudo, parabéns pelo contrato com o Chicago. É um grande clube, com diversos jogadores de peso em sua posição, e ainda assim apostaram em você, garantindo seu vínculo pelo menos até o final da temporada. Como tem sido essa experiência? Até por esse excesso de pivôs qualificados, foi uma surpresa ainda maior por terem te procurado e te garantido no time, passo a passo? O quanto isso aumenta sua confiança, de ver seu potencial reconhecido? Felício: Acredito que, desde o primeiro momento, foi uma  surpresa, o Chicago ter me chamado para jogar, mas, depois disso, vim trabalhando, trabalhando, e nos jogos de pré-temporada procurei aproveitar os minutos que tive, dando o máximo. Estava sempre buscando melhorar meu jogo. Com certeza para mim foi uma grande surpresa, mas não é algo que veio do nada, mas veio com muito suor, e graças a Deus estou tendo minha oportunidade. Para mim está sendo uma experiência incrível. São vários jogadores de outro nível jogando na mesma posição. No momento eu procuro observar, entender a maneira de como eles veem a jogada e atuam. Isso está me ajudando muito, me dando bastante experiência, para, tomara, num futuro próximo, ter minha oportunidade de jogar tão bem como eles.

cristiano-felicio-big-bullsNo período pré-Draft, lembro de você citar Phoenix e San Antonio como dois clubes que haviam mostrado um certo interesse. E o Chicago? Havia indicado algo? Ou a proposta deles surgiu “de repente”?
Sabia de alguns times que tinham interesse, mas sempre confiei que uma hora minha chance ia chegar, e tenho sempre conversado com pessoas que vêm me ajudando, me informando sobre tudo. Essa aposta de Chicago em mim na summer league foi surpreendente e foi muito interessante o jeito que eles me trataram desde que cheguei. Foi sensacional, e, com certeza, até pela grandeza do Chicago, me motivou bastante para treinar bastante nesse período de espera, para ver se ficaria, ou não. Depois foi pegar essa experiência com os mais velhos, pois no começo não teria muito tempo de quadra, mesmo.

Sabemos que a temporada é uma correria. Viagens atrás de viagens, pelo país todo. O quanto de tempo sobra para você trabalhar com os técnicos? Você faz alguma sessão específica de fundamentos e jogadas com eles? Com quem costuma trabalhar mais?
Sem dúvida nenhuma a temporada é de muita correria, mas a gente procura se ajustar o máximo que pode durante as viagens. Por não estar jogando muito, nos dias entre uma partida e outra, procuro ir para a quadra e trabalhar muito meu jogo ofensivo. Sempre que posso, converso com os técnicos, e eles observam tudo e dizem o que posso fazer melhor, o que devo fazer mais. Trabalho bastante com Charlie Henry e Pete Myers, que estão sempre me ajudando.

O arremesso de três pontos vem aparecendo com mais frequência no seu repertório. Não era uma bola que você tentava tanto no Brasil. Em 2014-15, não há, na verdade, nenhuma tentativa de três computada em suas estatísticas do NBB. E a linha da NBA é mais distante da cesta ainda. Você já tinha a ideia e confiança de tentar esse tipo de chute, ou foi algo trabalhado pela comissão técnica de Chicago?
Sempre tive a confiança de chutar, que venho tentando durante a minha carreira, mas que está aparecendo mais agora. No Flamengo, como tínhamos muitos jogadores que jogavam, não tinha muita chance de tentar essa bola. Como um jogador 5, ficava mais dentro do garrafão, e isso fazia que as oportunidades não chegassem. No sub-22 eu tinha tentado algumas bolas. Aqui estou jogando mais livre, o jogo está ficando mais espaçoso, e eles tendem a treinar diversas posições, e venho treinando bastante essa bola. Agora é trabalhar cada vez mais para, quando precisar, se estiver numa situação de jogo para arremessar a bola, ter a confiança para chutar e converter.

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A passagem pela D-League: o quão difícil é chegar a um time do qual você não conhece praticamente ninguém? E chegar com o selo de ser um atleta de NBA, enquanto a maioria dos companheiros busca justamente essa condição? De todo modo, foi um sucesso sua experiência com o Canton Charge. Depois de tanto treino, ficou feliz de ver os resultados em prática?
Minha chegada ao Canton não foi tão difícil assim, eles  sempre me deixaram a vontade desde o início. Fui muito bem recebido. E o técnico (o espanhol Jordi Fernández, que trabalhou na diretoria do Cavs por quatro anos e também dirige a seleção espanhola sub-20) já conhecia alguns dos meus amigos, e isso me deixou muito mais confortável para poder jogar. Fiz grandes jogos e, com certeza, depois de muitos treinos com o time e das sessões individuais, fiquei muito feliz com o desempenho que tive.

Os Bulls agora passam por um momento difícil, com as lesões de Butler e Noah e a cirurgia do Mirotic. Pode ser um momento importante para você.
Com as lesões, venho tendo algum tempo de quadra, e estou procurando responder da melhor forma que posso, tentando ajudar o time a ganhar. Em alguns jogos tenho ido muito bem, em outros, nem tanto. É algo que acontece durante uma temporada de novato por aqui, e quero tirar o máximo disso. Quem sabe com a volta deles, ainda possa ganhar meu tempo de quadra para ajudar do jeito que posso?

Para a temporada que vem, Gasol e Noah serão agentes livres. Existe alguma perspectiva de mais tempo de quadra? Já houve alguma conversa com você nesse sentido, por parte da diretoria ou dos técnicos?
Sobre a temporada que vem não estou sabendo de nada ainda. Não me falaram nada. Estou procurando me focar o máximo nesta temporada para fazer meu máximo e, quem sabe, no ano que vem poder estar aqui novamente e poder ajudar o time ainda mais do que neste ano.

Para fechar, como foi o encontro com o Magnano? Pensando em seleção, mesmo que não esteja jogando muitos minutos, você acha que vai se apresentar como um jogador mais bem preparado para tentar uma vaga na equipe olímpica?
A conversa com o Magnano foi muito boa, falamos muito sobre a Olimpíada e meu tempo de quadra aqui. Ele viu que não tinha muito tempo de quadra, mas que estava tre inando bastante e melhorando. Com certeza, se for um dos convocados para a seleção, vou chegar muito melhor, mais bem preparado do que estava antes. Estou aprendendo com os melhores jogadores e tenho evoluído muito. Isso vai ser um bônus para mim.


Jukebox NBA 2015-16: Raptors, Arcade Fire e um recado geral: eles existem
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “We Exist”, por Arcade Fire

Em 2011, com dez anos de estrada, os integrantes do Arcade Fire subiam ao palco do Grammy para, de modo até chocante, receber o prêmio de Álbum do Ano, superando popstars como Lady Gaga, Eminem e Katy Perry. Ninguém entendeu nada, nem a apresentadora Barbara Streisand, muito menos  mesmo o vocalista e compositor Win Butler, que, ao chegar ao microfone,  soltou: “Que diabos?!”

Aquele grupo de esquisitões, nerds e/ou eruditos reunidos em Montreal já atraía bom público em festivais e havia participado da festa antes, mas concorrendo entre os alternativos. Depois daquela façanha, com “The Suburbs”, se tornariam gigantes. Ou, vá lá, gigantes para os patamares atuais do rock. Mas chegaram lá, ganharam estofo, confiança e voltariam, dois anos depois, com um álbum bem mais ambicioso, “Reflektor”, para pista, com direito até a curta metragem dirigido por um dos Coppola e pontas de astros hollywoodianos. “We Exist” está entre essas faixas.

Ok.

Estaria o Toronto Raptors, então, preparado para dar um salto desses?

Bem, falar em título talvez seja algo impensável, mas esse, na verdade, é um discurso útil que vale para praticamente qualquer time que não se chame Golden State Warriors.

Contudo, se os objetivos forem menores, por que não?

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Ao receber o Cavs na sexta-feira, o Toronto Raptors ratificou que, sim, já existe como ameaça ao time de LeBron James ao título – da Conferência Leste, no caso, de acordo com suas atuais configurações. Cleveland, no papel, ainda é o favorito, mas, enquanto não encontra a paz interna, vai ser mais vulnerável do que a combinação de suas peças sugeriria. E aí entra o clube canadense na jogada, disposto a aprontar, seguindo o líder da conferência bem de pertinho, tendo a vantagem de um eventual desempate.

Havia diversos elementos que já serviriam para colocar Toronto como o principal candidato a azarão na conferência, posto que muitos talvez imaginassem que caberia ao Chicago Bulls no início da temporada, numa ascensão gradual da franquia, basicamente desde a partida de Rudy Gay e Andrea Bargnani. Mesmo que tivesse levado um sacode do Cavs no dia 4 de janeiro, fora por 122 a 100, haviam vencido 17 de 21 partidas incluindo antes do reencontro com os LeBrons. Ainda assim, valeu como tanto como um resultado simbólico, como para dar o troco e jogar pressão para cima dos caras, ajudando, de passagem, a tumultuar mais um pouquinho o vestiário.

(Parêntese: entre as celebridades basqueteiras, o grandão Win Butler é autêntico. No All-Star em Toronto, dominou a pelada da sexta e foi eleito MVP. Drake? Que Drake?!)

(Parêntese: entre as celebridades basqueteiras, o grandão Win Butler, que jogava no high school, é autêntico. No All-Star em Toronto, dominou a pelada da sexta e foi eleito MVP. Drake? Que Drake?!)

Será que Bargnani e Gay poderiam imaginar um cenário desses, em que o Raptors entra em março com a quinta melhor campanha da temporada? E Bryan Colangelo? Talvez todos eles quisessem, mas é improvável que acreditassem que fosse possível que ele surgisse assim tão cedo. Mas não por acaso. Em diversos frentes, o clube canadense vem num processo evidente de crescimento, especialmente no mundo dos negócios, se firmando como um dos queridinhos do Canadá (vide o sucesso do slogan #WeTheNorth). A compra de uma franquia exclusiva na liga de desenvolvimento, em uma ação bem rápida, para acolher Bruno Caboclo e os mais jovens, também mostra isso.

De nada adiantaria uma esperta campanha de marketing se o produto em quadra não tivesse substância para sustentá-la. O técnico Dwane Casey sabe que não tem um time perfeito em suas mãos. Mas também está ciente de que conseguiu formar um conjunto bem equilibrado, com uma identidade bem definida e potencial para melhora, a ponto de voltar aos mata-matas com as maiores pretensões da equipe desde os dias em que Vince Carter decolava.

Os dinos têm o quinto ataque mais eficiente da liga e a 12ª defesa. Na subtração de um pelo outro, chega ao sexto melhor saldo de pontos por 100 posses de bola, superado apenas por, veja bem, Spurs, Warriors, Thunder, Clippers e Cavs. Ficar entre os sistemas ofensivos mais fortes, para esse núcleo, não é uma novidade, tendo ficado em terceiro neste ranking na temporada passada e em nono em 2013-14. Já o sistema defensivo resgatou sua credibilidade, depois de ter sido de um décimo lugar há dois campeonatos e de um esquálido 23º na campanha anterior.

Esse uniforme já viu a 2ª rodada dos playoffs. Mas não com Lowry e DeRozan

Esse uniforme já viu a 2ª rodada dos playoffs. Mas não com Lowry e DeRozan

E há caminhos claros para apertar ainda mais a retaguarda. A prioridade seria a recuperação de DeMarre Carroll, afastado do time desde janeiro, quando sofreu uma artroscopia no joelho direito. Até a virada do ano, por exemplo, com seu caríssimo agente livre contratado, a defesa era a décima melhor, se colocando no cobiçado grupo de times top 10 dos dois lados da quadra. Mas ainda não há data para Carroll retornar, e o escritório de Masai Ujiri não deixa vazar nada. Se ele estiver pronto para os playoffs, será um tremendo reforço.

Outra possibilidade, dói dizer, seria o banimento, ou a redução significativa dos minutos de Scola na rotação. Ao consultar os 20 quintetos mais utilizados por Casey na temporada, vemos que lenda viva argentina está relacionada em nove. O duro é que, destes nove, apenas um tem saldo positivo. Os outros oito estão no vermelho, por mais que o camisa 4 tenha adicionado a seu repertório o chute da moda: tiros de três pontos pontos como um ala-pivô aberto. Scola está convertendo 38,3% de seus disparos de três pontos, e o mais interessante é que isso ocorre com um número elevado de tentativas. Ele saiu de 0,4 por 36 minutos quando defendia o Indiana Pacers para 3,0 neste ano.

A eficiência nos arremessos deixa a quadra mais alargada no ataque, facilitando as infiltrações de Kyle Lowry e DeMar DeRozan. Na defesa, porém, as coisas não funcionam. Em tese, isso poderia se explicar pela parceria com Jonas Valanciunas, com dois pivôs muito técnicos, mas extremamente lentos numa liga que tende a punir esse tipo de marcador. Acontece que, nem com Bismack Biyombo ao seu lado no garrafão, o Raptors tem resistido.

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Daí o estranhamento pela inércia de um gerente geral tão agressivo como Masai Ujiri antes do fechamento da janela de trocas. Só mesmo o nigeriano e seus confidentes sabem ao certo que tipo de negociação e proposta eram atingíveis. Talvez Brooklyn e New Orleans tenham pedido muito por Thaddeus Young e Ryan Anderson. Mas muito quanto? O Raptors está numa posição bem confortável quanto a trunfos para negociações. Tem assegurada todas as suas escolhas dos próximos Drafts, além dos direitos sobre a escolha do Knicks  deste ano (ou do Nuggets, dependendo da ordem, ficando com a mais baixa delas) e mais uma do Clippers. Além disso, o terço final do elenco de Casey é dominado por atletas mais jovens, como Bruno Caboclo e Lucas Bebê, que não serão aproveitados tão cedo.

Moedas de troca Ujiri tinha. Se os negócios oferecidos não eram tão bons, isso não impedia que fosse atrás de outros caminhos. Não dá para criticar tanto alguém que preze pela paciência nos negócios. São vários os clubes que já se colocaram em má situação com uma sequência precipitada de trocas. Mas o clube canadense poderia para assumir riscos moderados, sem o temor de comprometer a sustentabilidade do projeto. Será que Jason Thompson, marginalizado em Sacramento e Golden State e contratado para o lugar do dispensado Anthony Bennett – ô, tristeza! –, pode render no lugar de Scola? Agora não há muito o que se fazer a respeito. Também não é o fim do mundo.

Com Lowry e DeRozan, o ataque conta com dois All-Stars que ditam o ritmo da equipe. Ritmo, por sinal, que é o quinto mais lento da liga, em sintonia com Spurs e Cavs. Isso tem muito a ver com o modo como os dois atacam. São centralizadores, massageam a bola (o Raptors é o segundo que mais arremessa nos últimos quatro segundos de uma posse de bola, com 7,2 por jogo nessas condições), chamam o pick-and-roll, vão para dentro, e dá certo. Juntos, são responsáveis por 56,4% das assistências da equipe. É muito. Mas, comparando com a liga, isso não significa muito, já que o Raptors é o terceiro que menos faz cestas assistidas (14,5%). Como faz, então, para ter um ataque eficiente, sem ser solidário? Não é com o bombardeio de fora. O rendimento de 36,8% nos chutes de três é excelente, o terceiro melhor (Warriors e Spurs). Mas eles não arriscam muito, ficando em 15º em tentativa, no meio da tabela.  Por outro lado, são muitos lances livres para compensar, sendo o terceiro em conversões (Rockets e Wolves). Também se comete poucos turnovers, com 13,2.

Lowry e DeRozan fazem suas melhores temporadas. Depois de um regime durante as férias, o armador se apresentou a Casey em excelente forma, finíssimo. Bacana, certo? Só não deixa de ser engraçado que ele tenha esperado nove anos para chegar a essa conclusão, de que perder alguns quilinhos poderia fazer bem a um armador que adora bater para a cesta e se gabava, antes, de ser um pitbull na defesa. Enfim.

Antes e depois

Antes e depois

Já DeRozan passou a enxergar o jogo com muita inteligência e paciência, para se infiltrar e descolar lances livres. É o segundo que mais converteu chutes na linha nesta temporada, atrás apenas de James Harden. Em seus movimentos rumo ao aro, vem usando cada vez mais o pick-and-roll e também aprendeu a servir aos companheiros. Fica tão confortável com a bola que hoje tem uma taxa de uso maior que a de Lowry.

Além disso, o que vem funcionando muito bem é o banco de reservas. Com Lowry fazendo companhia a Cory Joseph, Terrence Ross, Patrick Patterson e Biyombo, temos um quinteto que vem sendo bastante produtivo, com um saldo de 29,4 pontos por 100 posses de bola. Essa é a quarta melhor marca do campeonato (para um mínimo de 20 jogos e 100 minutos), gente. Outro quinteto que rende bem tem Lowry-Joseph-Ross-Patterson-Valanciunas, mas com uma carga bem menor de minutos (63 contra 201 da outra equipe).

Os bons resultados, aliás, devem gerar um impasse para Casey. Se o time titular não tem rendido conforme o esperado, ao mesmo tempo seria complicado de mexer drasticamente na rotação, já que a segunda unidade tem dado tão certo. Daí que um retorno de Carroll seria providencial. Dependendo de seu estado físico, o veterano poderia ser reinserido naturalmente no lugar de Scola, e vida que seguisse. Se ele não puder jogar, porém, seria a solução estender os minutos de Patterson? Ele manteria sua eficiência com maior carga? Scola daria conta, pelo menos, dos minutos que sobram para a posição? Ou talvez você possa distribui-los entre James Johnson e Ross, com Johnson jogando mais perto do garrafão nesse caso.

Scola produz no ataque. Mas é um problema na defesa

Scola produz no ataque. Mas é um problema na defesa

Diante dessas dúvidas, o argumento por uma postura mais agressiva na busca por trocas ganha mais força. Outro  ponto a ser levado em conta, nesse raciocínio, é a entrada de DeRozan no mercado de agentes livres neste ano e a de Lowry no ano que vem. Os contratos da NBA são cada vez mais curtos, e o prazo de validade de um time competente fica reduzido na mesma medida. Qualquer elevação na produção desse time poderia empurrá-lo com tudo para cima do Cavs, independentemente do estado de espírito dos adversários.Isso, claro, se eles chegarem a esse embate. Por mais que tenham se fixado como o segundo principal time da conferência, não dá para encarar uma série com o Boston Celtics como uma barbada. Isso para não falar, de repente, de um confronto com o Atlanta Hawks logo de cara. Glup.

Num cenário ideal, supõe-se que o clube renove com DeRozan em julho, mesmo que isso os tire de ação no mercado, dando conta do teto salarial nas próximas duas temporadas. Deixar o ala-armador sair seria assumir um grande risco (estamos falando do terceiro jogador do clube em eficiência, com 23,1 pontos, 4,1 assistências, 4,3 rebotes, 6,9 lances livres por jogo e aproveitamento de 83,8%, 26 anos). Para ir atrás de Durant? É realista? Al Horford? Será concorrido. Dwight Howard? Não faz sentido. Há opções mais baratas, que poderiam atenuar uma perda e manter a flexibilidade para manobras. Mas há também como ficaria o relacionamento com a torcida? DeRozan é o Raptor mais longevo desse elenco e acabou de ser eleito All-Star.

Obviamente essas questões todas passam pela cabeça de Ujiri. Como ele mesmo disse a Zach Lowe, do ESPN.com: “Como você passa de bom para excelente na NBA? Isso é realmente muito difícil”. É complicado, mesmo. Cada negócio ou não-negócio tem uma ramificação. A diretoria preferiu apostar na continuidade do time e de seu projeto com os mais jovens. Basta mais uma série desastrada nos playoffs e nova eliminação na primeira rodada, porém, para que essa narrativa seja alterada drasticamente. Pensando no estágio em que o clube estava no início da década, esse tipo de problema não justifica lamúrias. São hipóteses também. Por enquanto, de concreto, o que temos é que o Raptors existe e precisa ser respeitado.

Torcida empolgada geral em Toronto. Querem mais nos playoffs

Torcida empolgada geral em Toronto. Querem mais nos playoffs

A pedida? Final de conferência. Ou, pelo menos, competitividade numa eventual semifinal contra Boston, Miami, Indiana etc. O certo é que chegar aos playoffs já não é o bastante mais. Uma terceira eliminação consecutiva na primeira rodada seria uma tremenda decepção e muito provavelmente poderia resultar na demissão de Dwane Casey, além de chacoalhar as estruturas superiores da franquia.

A gestão: Masai Ujiri é um dos executivos mais bem pagos da liga, por uma razão. Ou várias razões. O New York Knicks que o diga, depois de duas negociações (Carmelo vindo de Denver e Bargnani de Toronto) em que diferentes dirigentes foram rapelados pelo nigeriano. O cara  desfruta de tanta reputação na liga que seus pares deveriam ter receio de iniciar uma negociação com ele. Talvez venha daí, mesmo, a ausência de trocas por parte do Raptors. Vai saber.

O que Ujiri não nega é que, em seu projeto, houve também uma contribuição do acaso, ao tentar arrumar a bagunça deixada pelos últimos anos desesperados de Bryan Colangelo por lá – quando mandou Rudy Gay para Sacramento, jamais imaginaria que essa transação resultaria em uma (r)evolução imediata em seu time, rumo ao topo da conferência.

Claro que há uma contribuição estrutural nessa reformulação. O trabalho com os técnicos do Raptors ajudou DeRozan a virar a ameaça que representa hoje, realizando todo o seu potencial, mesmo que seu arremesso exterior ainda não desperte o horror nas defesas. Se Valanciunas e Ross vão progredir desta maneira, o time ficará em boas condições, uma vez que seus contratos foram firmados em um teto salarial muito mais baixo do que vem por aí nos próximos anos (subindo de US$ 63 milhões na temporada passada para algo em torno de US$ 110 milhões em 2018).

Caboclo: 13,8 pts, 5,8 reb, 1,6 blk, 1,6 ast e 39,1% de quadra pelo Raptors B

Caboclo: 13,8 pts, 5,8 reb, 1,6 blk, 1,6 ast e 39,1% de quadra pelo Raptors B

Ujiri foi promovido de scout gratuito do Orlando Magic no início da carreira a chefão em Toronto por conta de uma vasta rede de relacionamento, mas também pelo trabalho exaustivo na busca por talentos mundo afora, e a história da seleção de Bruno Caboclo, numa articulação (quase) confidencial, é um grande exemplo de sua visão como dirigente.

Naturalmente, o dirigente tratou de buscar atletas mais jovens e conseguiu formar um núcleo bastante homogêno. Tirando Luis Scola, de 1980, todos os outros 14 atletas da equipe nasceram entre 1986 (Lowry e Carroll) e 1995 (Caboclo). Boa parte deles tem a chance de se desenvolver lado a lado, em que pese a curta duração de seus contratos. O problema: Lowry é justamente o segundo mais velho. Agora em março, vai virar trintão. Sem o armador, como essa base se viraria?

A diretoria dos dinos tem de se perguntar o quanto isso tudo vai durar, considerando seu estilo de jogo. Lowry é hoje a grande estrela da turma, tendo se transformado no tipo de jogador que a franquia jamais conseguiu recrutar no mercado de agentes livres. Aliás, pelo contrário: a história diz que estrelas ou candidatos a estrela saem de Toronto rapidamente. Então a linha de questionamento continua: se o armador está no auge, será era a hora do ataque? É legal investir na garotada, mas quando eles serão promovidos para valer? E quantos deles?

Será que Caboclo e Bebê vão conseguir jogar para valer com Lowry no Raptors?

Será que Caboclo e Bebê vão conseguir jogar para valer com Lowry no Raptors?

O time atingiu um nível tão bom em quadra e tem uma rotação estabelecida que torna difícil o aproveitamento dos mais jovens. Ou, vamos colocar assim: mais inexperientes. O armador Delon Wright, irmão mais novo do ala Dorell, pode ser um novato, mas é dez dias mais velho que Valanciunas. Ambos chegarão aos 24 nesta temporada, assim como Lucas Bebê. O ala-armador Norman Powell vai completar 23. Bruno Caboclo é quem ainda pode ser tratado tranquilamente como o caçulinha. Só vai fazer 21 em setembro, pouco antes do próximo “training camp”.

Legal. É boa a base.

Mas com atletas que já estão, ou deveriam estar num estágio de desenvolvimento mais avançado. Preparados para assumir mais responsabilidades, exceção feita a Caboclo. Juntos, eles receberam apenas 476 minutos na temporada. Se fossem apenas um atleta, isso daria 8,2 minutos por partida, e isso só aconteceu devido a lesões de Valanciunas e Carroll, que liberaram boa parte dos 313 minutos de Bebê e Powell. Em suma: é D-League, ou fim da fila no banco de reservas. Se tudo der certo no time de cima, essa é uma condição que deve ser mantida por um bom tempo, a não ser que deem sinal de progresso nos treinos ou na liga menor.

No fim, como Ujiri vai aproveitar esses jogadores é o que pode definir seu trabalho.

Olho nele: Bismack Biyombo.

Biyombo, mas pode chamar de protetor de aro

Biyombo, mas pode chamar de protetor de aro

Se arrumar a defesa era uma prioridade do técnico Dwane Casey, a contratação do centro-africano foi uma dádiva. Se nenhum Rudy Gobert está disponível, se não havia muito espaço na folha salarial para investir pesado além de Carroll, conseguir Biyombo por menos de US$ 3 milhões foi também uma pechincha. Com baixa estatura, mas muita envergadura e força física, o pivô é uma alternativa perfeita a Valanciunas, contra pivôs mais ágeis. Sua verticalidade também funciona muito bem no novo sistema defensivo dos dinos, que tenta empurrar os atletas para o centro do garrafão, para chutes de média distância contestados pelo xerife da vez. Com Biyombo em quadra, fica mais difícil de achar a cesta: os oponentes fazem 5,6 pontos a menos por 100 posses de bola. Suas dificuldades ofensivas ainda o limitam no mercado, mas é provável que ele exerça sua cláusula – não é possível que ninguém lhe pague mais que que os US$ 2,9 milhões previstos em seu contrato. Troque Roy Hibbert por ele, e o Lakers teria um garrafão muito menos acolhedor, certamente, por exemplo.

vince-carter-dunk-elbowUm card do passado: Vince Carter. Muito óbvio? Pois é. Mas, do elenco da temporada 2000-01, a primeira e única vez em que o time venceu uma série de playoff, o então acrobático ala foi o único que sobrou na liga para contar história. Hoje não lembra em nada aquele cestinha de então, explosivo, com um conjunto de ataques enfáticos ao aro praticamente inigualável ou que, no mínimo, só permite que um Jordan, um Wilkins ou um Erving lhe façam companhia. Mas dá sua pequena, esporádica, mas honesta contribuição ao Memphis Grizzlies – o que é curioso, já que estamos falando da franquia que não teve tempo o suficiente para vingar em solo canadense, enquanto, no auge, ajudou o Raptors a se estabelecer comercialmente, enquanto ajudava o basquete a se popularizar por lá.

Para termos uma ideia do quanto valem os 15 anos que se passaram, vamos relembrar do que consistia a rotação do técnico Lenny Wilkens, então: Alvin Williams, Chris Childs, Dell Curry, Morris Peterson, Jerome Williams, Charles Oakley, Antonio Davis e Keon Clark. O último a se aposentar dessa leva toda foi Peterson, em 2011, aos 33, mas sem condições de entrar em quadra por OKC, depois de anos pouco produtivos, com muitas lesões, em New Orleans.

Naquela campanha, Carter tomou uma decisão que se tornaria extremamente controversa e, de certa forma, o empurraria anos mais tarde para fora de Toronto. Em plena semifinal de conferência com o Philadelphia 76ers de Allen Iverson, decidiu viajar para Chapel Hill para receber seu diploma universitário, por North Carolina. Precisamente no mesmo dia de um eletrizante Jogo 7, 20 de maio de 2001. A partida derradeira foi decidida apenas no último segundo, e com posse para o Raptors. Carter pediu a bola, fez a finta e foi para o chute. Deu aro, batendo na parte de trás. Tivesse acertado, seria uma jornada perfeita para qualquer marketeiro da liga: imagine só, você não só estava falando de um superastro em quadra como de um aluno comprometido. Mas não aconteceu, e, de modo inevitável no mundo esportivo, o ala passou a ser questionado com frequência. A equipe ainda voltou aos playoffs em 2002, mas caiu diante do emergente Detroit Pistons que ganharia o título dois anos depois. Seria ladeira abaixo a partir daí, e a amargura da torcida, as derrotas e um ressentimento retribuído por Carter resultaram numa troca do astro com o New Jersey Nets na temporada 2004-05.


Jogo mais emocionante da temporada termina com bomba de Curry. Claro
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Giancarlo Giampietro

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Pobres torcedores de Phoenix, Utah, Brooklyn… Enquanto seus times jogavam partidas praticamente insignificantes, Thunder e Warriors faziam em Oklahoma City o jogo mais emocionante da temporada com grandes lances e erros incríveis até Stephen Curry decidir fechar a conta no último segundo da prorrogação com A Cesta do campeonato, e também uma das maiores cestas da história da liga, por comprovar precisamente o nível que o craque do Golden State alcançou. Ele é jovem ainda e vai viver ainda muitas partidas comoventes, valendo talvez por mais títulos. Mas desconfio que o petardo de, segundo registraram os mesários, 9,75m de distância para definir um triunfo por 121 a 118.

É uma absurda demonstração de habilidade, precisão e confiança. O Warriors tinha direito a pedir um tempo. Dava para ele ter caminhado mais um pouco. Nenhum outro jogador da liga poderia tentar um arremesso desse, nem mesmo Kevin Durant, obrigado a assistir a adaga final do lado de fora, excluído com seis faltas, boquiaberto, como todos os reservas de OKC. Mas Steph Curry, que anotou 46 pontos, está em outro patamar no momento, como arremessador e, chega de polêmica, jogador.  LeBron James tratou de encerrar qualquer discussão a respeito:

 

(Stephen Curry precisa parar com isso, cara!! Ele é ridículo, cara! Nunca vi alguém como ele na história do basquete!)

LeBron postou isso instantes depois do final da partida que envolveu dois candidatos ao título, os quais ele espera que seu Cleveland Cavaliers possa eventualmente superar. Percebem a grandeza e, ao mesmo tempo, o quão atípico é um gesto desses? A declaração pública, espontânea, instantânea veio do sujeito que supostamente deveria clamar o título de melhor do mundo. Mas nem ele consegue mais. O autointitulado “Rei” se curvou. E isso diz muito sobre o estado psicológico de toda a NBA depois de uma exibição destas, gente. Sinceramente, assim como LBJ nunca viu alguém como Curry, não consigo me lembrar de um astro da liga se expressar desta maneira sobre um concorrente. Nem mesmo um Eduardo Nájera falando de Andrés Nocioni, quanto menos de uma figura deste porte.

Mas é isso. Não tem Oscar Robertson, Ron Harper, Isiah Thomas… Não há ninguém mais que possa contestar o que Curry vem fazendo este ano e que, se a NBA se declarar falida neste domingo, 28 de fevereiro, ele já está entre os maiores da história. Nestas duas últimas temporadas, realmente ele fez coisas inéditas. Sabe essa coisa de encestar a nove metros de distância do aro? Pois bem, na temporada o sujeito tem aproveitamento de 50% no campeonato. Sim, 50%, mais do que Andrew Bogut e outros 13 pivôs acertam em lances livres (4,5 metros).

Com 12 cestas de três para cima do Thunder, Curry igualou o recorde em um só jogo, empatando com Kobe Bryant e o inesquecível Donyell Marshall. Considerando que, apenas no mês de fevereiro, essa foi a terceira vez que ele marcou dez ou mais cestas de longa distância na mesma partida, cedo ou tarde, vão cair 13 bombas. Esta é uma marca que precisa ser tão somente dele. O isolamento na tabela histórica ele já conseguiu no que se refere a total de cestas de três numa temporada ele havia conseguido há tempos. De qualquer forma, para alargar sua margem de segurança (risos), ele decidiu já superar desde já seu próprio rendimento, chegando a 267 tiros certeiros. Detalhe: ainda restam 24 partidas para o Warriors.

Antes de dizer que Curry ‘só’ chuta (como se converter 12 de 16 chutes de longa distância fosse algo normal…), precisa lembrar que hoje ele é o jogador mais eficiente da liga e está em vias de quebrar também esse recorde histórico, superando Wilt Chamberlain e Michael Jordan.

Enfim, o cara virou atração obrigatória por onde anda. O preço dos ingressos do Warriors está inflacionado e, a cada ginásio que visita, a arquibancada lota mais cedo, com torcedores ávidos para testemunhar sua rotina de aquecimento. Na qual, inclusive, já arrisca esses arremessos de 9 metros. Quer dizer: não é só talento e confiança. É treino também. E é histórico.

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Se já não fosse tormento o bastante a tarefa de tentar conter Curry, a defesa adversária ainda precisa encontrar um jeito de frear Klay Thompson, que marcou 32 pontos, hã, discretos. É impressionante também a velocidade de sua mecânica de arremesso. Se o marcador se concentrar por um milésimo de segundo a mais em Curry, Klay vai fazer você pagar, sendo também muito inteligente em sua movimentação fora da bola, cortando constantemente em backdoor rumo ao garrafão.

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Mas basquete não é feito só de cesta, minha gente. E Draymond Green merece o espaço só dele. Neste sábado, o ala-pivô do Warriors teve uma das linhas estatísticas mais estranhas que você pode ver: 2 pontos, 14 rebotes, 14 assistências, 6 roubos de bola e 4 tocos em 44 minutos. Quem na NBA hoje seria capaz de reproduzir números como esses? Ninguém, também. É mais um jogador singular no elenco de Steve Kerr, que não faz nada para atrapalhá-los, o que já é um mérito por si só. Green não fez nenhuma cesta de quadra em oito tentativas e ainda errou três de cinco lances livres. Ainda assim, causou – e causa – tremendo impacto em quadra por sua energia, liderança, vigor e influência tática. Foi – e é – vital para o sucesso de seu time. Seu esforço defensivo no quarto período foi mais uma vez louvável, desafiando na maior uma aberração atlética como Serge Ibaka.

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O Warriors concluiu uma sequência de seis jogos em nove dias fora de casa com cinco vitórias, depois de ter tomado uma surra do Portland Trail Blazers na abertura da jornada, de guarda baixa. Atualizando, então as contas: para superar o Chicago Bulls de 1996, precisam de 20 vitórias em suas 24 partidas finais, das quais 17 serão em casa. Se vencerem 19 e perderem 5, igualarão o legendário 72-10. Restam dois confrontos com o Spurs, dois com o Clippers e mais um com o Thunder.

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Para constar, antes mesmo de baebater o Thunder, o Warriors já havia assegurado sua classificação para os playoffs, devido a uma derrota do Houston Rockets para o San Antonio Spurs. De novo: restando 27 partidas para eles. Então, se quiser, pode entrar no site oficial do clube e concorrer a ingressos na pré-venda. : )

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Deixamos para o fim as trapalhadas dos momentos decisivos do quarto período. Primeiro foi Andre Iguodala, totalmente pilhado em sua rotação defensiva, que deixou Kevin Durant livre na linha de três pontos para fazer a ajuda em Serge Ibaka. Já seria um tremendo (e raríssimo) equívoco para o veterano defensor, mas foi ainda pior pelo fato de que o senegalês/espanhol importado estava driblando a bola. Situação na qual, longe da cesta, não representava ameaça nenhuma. Bang! Faltavam 14 segundos, e OKC abria quatro pontos.

Daí que, após cesta rápida de Klay, Kerr ordenou um abafa na saída, mas sem que fizessem falta, ainda mais com a bola em cima de Durant. Pois o cestinha entrou em pânico ao se ver encurralado perto da linha de fundo. Em vez de pedir tempo, se precipitou em tentar um passe para o meio da quadra: turnover. Thompson recuperou a bola e passou para Iguodala. Longe de ser um grande chutador, pouco antes do estouro do cronômetro, o ala sofre a falta. E de quem? Durant! Com toda a calma do mundo, o cara de 61,3% na temporada e 71% na carreira, converteu ambos os lances livres e forçou a prorrogação.

No tempo extra, Durant cometeu sua sexta e última falta com 4min13s por jogar ainda. Excluído. Sabe qual foi a última vez que isso havia acontecido? Só em 14 de fevereiro de 2013. Foi apenas a quarta exclusão de sua carreira. Depois de 37 minutos espetaculares em quadra, não dá para dizer que craque do Thunder este inspirado nos últimos dois. Se Iguodala teve a chance de se reabilitar, para Durant não foi o caso. Ele saiu de quadra com  37 pontos, 12 rebotes, 5 assistências, 13-26 nos arremessos e  7-11 de três.

Então fica a pergunta: depois de um jogaço desse, com tantas emoções envolvidas, seria o cestinha capaz, mesmo, de assinar com o Warriors daqui a quatro meses?


Ainda em busca de paz, Cavs perde e agora é pressionado até pelo Raptors
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Giancarlo Giampietro

LeBron jogou 24 minutos sem parar no segundo tempo, e de nada adiantou

Respira fundo: LeBron jogou 24 minutos sem parar no segundo tempo, e de nada adiantou

O Cleveland Cavaliers é um time que desafia qualquer observador. O time ainda tem a melhor campanha do Leste e a terceira melhor no geral. Com Tyronn Lue, ainda que numa amostra menor de jogos em relação a David Blatt, o ataque se tornou um do mais eficientes da liga (superando o Golden State por um triz) e elevou seu saldo de pontos também, espancando rivais como San Antonio e Oklahoma City pelo caminho.

Ainda assim, basta uma derrota para o clima no vestiário se anuviar. Depois de tomada uma virada no quarto período contra um Toronto Raptors cujo principal cestinha não tinha condições de jogo, recomeçou o jogo da culpa, das críticas internas, liderado por Lebron James.

Assim como no caso da surra que tomaram do Warriors em casa, o raciocínio tem de ser mantido: foi só mais um jogo num calendário de 82 rodadas. Por mais que, do ponto de vista prático, fosse um jogo realmente mais importante que a revanche contra Golden State, já que agora o adversário canadense não só se aproxima na tabela (com apenas duas derrotas a mais) como assegurou o triunfo por 2 a 1 no confronto direto e garante o direito do desempate na classificação, se for o caso. Basicamente: o Cavs, que corre atrás do próprio rabo para tentar se equiparar a Warriors e Spurs, sofre mais pressão, agora de que vem de baixo, o Raptors.

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Mas, bem, desde o momento em que o Rei James anunciou seu retorno, pressão seria a via de regra. O que a derrota em Toronto nos conta é justamente sobre a questão de como o elenco reage a isso.  E não parece bem. O Cavs perde uma, e parece que a equipe está se desequilibrando diante de um precipício. Não era para ser assim. Derrotas acontecem, especialmente contra adversários qualificados – excluindo o Golden State aqui, que prefere perder para times medíocres.

Vamos ver o relato do repórter Dave McNemanin, setorista do ESPN.com, num texto cuja manchete é “Cavs sofre déjà vu em derrota, com os mesmos problemas reparecendo“:

Nós não acabamos de passar por aqui? Não parece que foram há apenas alguns dias, e, não, semanas, que o Cleveland Cavaliers trotou rumo a Toronto, com um céu ensolarado supostamente no horizonte, vencedores de 11 dos últimos 13 jogos, até que o Raptors fizesse chover em seu desfile, deixando o vestiário em desordem após a partida?

Avancemos a fita três meses, e o Cavs voltou ao Air Canada Centre na sexta-feira, vencedores de 11 de seus 14 jogos anteriores. E o resultado? O mesmo. A cena pós-jogo? Semelhante. Não houve uma reunião só de jogadores como da última vez, mas houve um aspecto semelhante com diversos jogadores reunidos em pequenos grupos para longas conversas como vestiário aberto para a mídia, e eles lamentando o que deu de errado, enquanto seus comentários gravados foram concisos, mas reveladores.

E aí tem essa aspa de LeBron, numa entrevista que, segundo Chris Haynes, do Cleveland Plain Dealer, durou pouco mais de um minuto: “Quando perdemos do jeito que foi, cometendo um erro mental atrás do outro, isso dói mais que tudo, já que sabemos que podemos jogar melhor mentalmente. As pessoas podem se concentrar no aspecto físico. Mas nos falta força mental agora. E temos de continuar melhorando com isso”.

Você pode ler a frase acima como uma observação honesta, depois do que aconteceu em quadra. O Cavs chegou ao quarto período com nove pontos de vantagem e, sem que LeBron tenha sentado sequer por um minuto em todo o segundo tempo, foram superados por 99 a 97, com uma exibição magnífica de Kyle Lowry – 43 pontos, seu recorde pessoal, 9 assistências, 15-20 nos arremessos, 11-15 nos lances livres, em 43 minutos. Por uma noite, entre a elite do Leste, Lowry foi o melhor jogador em quadra.

Mas aí vem outra: “É isso que os All-Stars fazem”, elogiando Lowry, titular no jogo festivo de alguns dias atrás, o mesmo que não teve Kyrie Irving, curiosamente. E não nos esqueçamos que houve uma polêmica a respeito de uma possível seleção de Irving. Para alguém que, lesionado, havia perdido metade do calendário, obviamente não caberia na festa. Mas o voto popular quase o colocou lá. Virou assunto. E esta: “Pensando adiante, vamos ter de encontrar alguém que seja capaz de marcá-lo”, num comentário que atinge também um leal soldado como Matthew Dellavedova, que tomou um baile do cestinha da partida no quarto período. Coincidentemente, foi a mesma frase usada por Lue em sua coletiva.

L(w)owry arrebentou com a defesa do Cavs numa das cinco maiores atuações da temporada, certamente

L(w)owry arrebentou com a defesa do Cavs numa das cinco maiores atuações da temporada, certamente

Se você pega os comentários de LeBron e os analisa no vácuo, como se o Cavs tivesse disputado apenas um jogo nesta temporada, não há o que contestar. Ele listou fatos. Usou pouco mais de 60 segundos para mandar sua mensagem aos companheiros. Além disso, pressupõe-se que o ala deva conduzir  time, mesmo. É ele que tem a fama, a visão de jogo e, principalmente, a experiência de anos e anos de playoffs e jogos decisivos para se impor no vestiário e tentar arrumar as coisas. Love, Irving e toda a galera deveriam escutá-lo, sem dúvida.

Existe sempre o outro lado da história, porém. Que nos diz que LeBron também não pode querer liderar só com base em seu currículo, se não for ele a dar exemplo em quadra – uma discussão que, pasme, já vem do ano passado e ainda não foi resolvida internamente, como Kevin Love fez questão de nos lembrar na derrota para o Warriors. Neste jogo específico em Toronto, ele ficou em quadra durante todos os 24 minutos do segundo tempo, por sinal (e se isso foi uma decisão inteligente por parte de Tyronn Lue e do craque, é de se questionar, faltando perna para o último arremessos, sobre o qual falaremos mais abaixo). Mas não é que o craque tenha se esforçado muito e se ralado durante a temporada. São vários os jogos em que ele esculachou geral na defesa sob o comando de David Blatt, minando o treinador e também preservando energias para a hora que mais importa, os playoffs. Para alguém com sua milhagem, é natural, aliás. James Harden não acumulou nem a metade disso, e faz igual ou pior. Para o elenco, por maior que seja sua estatura, suponho que isso não pegue bem e não dá total liberdade para que ele critique os demais, com comentários sucintos ou não.

Além disso, se LeBron vai reclamar do surto de fome por que passa Irving, se vai tentar chacoalhar Love e tirá-lo da depressão, também deve ouvir que seu aproveitamento nos arremessos de média para longa distância deixam muito a desejar até o momento, com aproveitamento de 28,0% na temporada, o pior de sua carreira (quando novato, aos 19 anos, acertou 29,0%) e que, mesmo assim, foi para um hero ball contra o Raptors. É algo um tanto bizarro, já que despencou dos 35,4% da temporada passada e dos 40,6%% que atingiu há três temporadas, pelo Miami, seu auge no fundamento. Se o astro folga na defesa e se sua taxa de uso no ataque está levemente reduzida até, em tese não haveria motivo para sentir a perna e amassar o aro nos chutes de fora:

Antes (2014-15) e depois (hoje, na verdade)

Antes (2014-15) e depois (hoje, na verdade). Em termos de percentual no total de arremessos, ao menos LeBron baixou seu volume de tentativas de fora, de 26,5% para 20,4%, segundo o Basketball Refrence reconhecendo sua dificuldade. A taxa de lances livres em relação ao número de arremessos, porém, também, caiu, de 41,3% para 35,8%

Aqui chega a hora de recuperarmos a última bola da derrota em Toronto. Com dois pontos atrás no placar e 3s8 no relógio, qual a jogada sai no final?

Um chute de três de LeBron a partir do drible, em isolamento? Era a melhor alternativa para alguém que não descansou no segundo tempo? A matemática da temporada diz que não era uma boa decisão, mesmo que ele tivesse matado duas em três na partida e tenha sobrado com o diminuto Cory Joseph e que o canadense nem o contestou tão bem assim. Que o camisa 23 ganhe a prioridade nesse tipo de situação, pelo arremesso da vitória, não dá para discutir muito. É assim que funciona por lá, é assim que funcionou a vida toda para Kobe em Los Angeles, e Kyrie Irving vinha numa jornada horrível (e, para ser justo, o armador também só tem matado 29,5% de seus arremessos de longe na temporada). Só havia tempo no cronômetro e dois pontos por reverter no placar para tentar outra alternativa.

Agora… com dois pedidos de tempo, essa foi a melhor idéia que Tyronn Lue teve? Então vale a zoeira: ao que parece, não era apenas David Blatt que tinha dificuldade para desenhar jogadas na rodinha… E, claro, meu amigo enfezado, que isso é uma ironia. Qualquer armador que tenha ficado mais de dez anos na liga sabe rabiscar uma prancheta, assim como qualquer técnico que tenha medalha olímpica e título de EuroBasket e Euroliga.

De qualquer  maneira, não é culpa de LeBron que o time tenha pedido em Toronto. Que ele e Lue não foram para a bola mais inteligente, não há o que negar, mas não foi o airball que custou a partida.  McNemanim lista outros itens, por exemplo:

– o aproveitamento de 5-9 de LeBron na linha de lance livre. Pois é: não é que o ala seja a perfeição em quadra e não faça parte dos problemas.

– Em 1min34s de jogo no quarto período, Shumpert fez duas faltas em Lowry e ainda tomou uma técnica por reclamação exagerada, em sequência que agitou a galera e o adversário.

– Kyrie Irving foi um horror, sem conseguir nem fazer cócegas em Lowry ou em Cory Joseph e sem agrediu do outro lado (4-11, 10 pontos), tomado por apatia. E segue a inquietação de James, e talvez mais atletas, de que ele seja egoísta demais com a bola, registrando apenas uma assistência em 31 minutos, para ficar com uma média de 3,2 passes para cesta nas últimas cinco partidas. Dê uma espiada neste link aqui também e veja alguns dados interessantes sobre as trocas de passe entre Irving e LeBron.

Acrescento outro:

– Formando uma dupla de pivôs com LeBron no quarto período, Kevin Love rendeu bem no ataque, chegando a marcar cinco pontos consecutivos nos minutos finais. Mas a defesa sentiu com essa formação, tomando cinco cestas no garrafão nesta parcial, sem contar as penetrações de Lowry que terminaram em falta. Qualquer jogadinha de pick-and-roll virava um tormento.

E, para não dizer que a visão de McMenamin estaria contaminada pelo fato de ele escrever para a “sensacionalista” e “manipuladora” ESPN, Chris Haynes, que é praticamente um porta-voz da agência Klutch, de Rick Paul e LeBron, disse que o astro estava “furioso”, enquanto  Jasson Lloyd, do Akron Beacon Journal, teve a mesma impressão  sobre o clima ruim no vestiário em suas notas sobre a noite de sexta-feira.

Lloyd também ressalta o esforço contraditório que LeBron tem feito em dizer que não se importa com a classificação da conferência, ao mesmo tempo que pede um senso de urgência aos seus companheiros. De acordo com o repórter, porém, Lue atribuiu desde o princípio extrema importância ao jogo, a ponto de manter seu principal atleta em quadra sem um respiro – dessa vez o ala pelo menos nos poupou do artifício da auto-substituição. Ele provou que está em forma, aí, sim, supostamente preparado para tomar conta da situação quando chegar aos playoffs.

A vitória de Lowry e Toronto foi ainda mais importante pelo fato de DeMar DeRozan ter tido atuação praticamente nula, com febre, gripado, indo para o sacrifício no quarto período, quando fez sua única cesta de quadra. A bela imagem do abraço em Lowry fica ainda mais representativa com Irving desfocado ao fundo

A vitória de Lowry e Toronto foi ainda mais importante pelo fato de DeMar DeRozan ter tido atuação praticamente nula, com febre, gripado, indo para o sacrifício no quarto período, quando fez sua única cesta de quadra. A bela imagem do abraço em Lowry fica ainda mais representativa com Irving desfocado ao fundo

Aliás, nos mata-matas do ano passado, LeBron foi ainda pior nos arremessos de fora, com 27,2%, mas isso não interferiu em nada na caminhada do Cavs rumo à disputa do título. Também não é o mais correto comparar com o rendimento da temporada regular com o da fase decisiva, por serem realidades completamente distintas. Os time fazem mais jogos contra adversários específicos, e, no caso do Cas, um deles foi o Golden State (seis de suas 20 partidas), o que desequilibra os números.  Outra particularidade: Kevin Love e Kyrie Irving ficaram pelo caminho numa fase em que as defesas estão mais atentas.

De todo modo, como sabemos, não é um duelo de primeira rodada com um Charlotte da vida ou mesmo um reencontro com Indiana ou Miami na segunda rodada que devem preocupar o time, tal como no ano passado. Em teoria, é como se entrassem nos mata-matas apenas com duas séries pela frente, com a final de conferência e a decisão do Oeste, caso avancem. (No ano passado, a diferença é que o teste veio na semi contra o Bulls, uma vez que o Atlanta ficou ainda mais esfacelado em termos de lesões).  Mais: é improvável que o Cavs adote a tática de “entregue-a-bola-para-LeBron-e-saia-da-frente-enquanto-ele-consome-o-relógio”, se a equipe estiver completa. Aquele ataque foi circunstancial, com o ala sendo acionado já dentro do perímetro, abrindo pouco para o chute. Contra defesas mais fortes, esse tiro de fora faz falta, ainda mais para alguém que retém tanto tempo a bola, e principalmente se Irving não reencontrar um rumo na vida. Se chegarem aos playoffs apenas com J.R. e Love com válvulas de escape, podem esquecer.

A confiança que o torcedor ferrenho do Cavs tem é a de que, na hora do vamos ver, LeBron vai ativar o turbo e dominar, com seu arranque de locomotiva rumo ao aro. Aconteceu no ano passado – e, sim, ele fez tudo o que pôde, vendo seu índice de eficiência despencar, mas simplesmente porque o Cavs não tinha mais nenhuma alternativa em quadra. E, como sabemos, não foi o suficiente: chegou uma hora em que o gás acabou, que ele se viu encurralado diante de um paredão do Warriors no garrafão e que Stephen Curry entendeu o que fazer diante de uma defesa agressiva, mas limitada atlética e tecnicamente, devido ao número reduzido de peças.

São 15 jogos, com 11 vitórias, mas ainda está cedo para Lue dizer a que veio

São 15 jogos, com 11 vitórias: ainda está cedo para Lue dizer a que veio

Ah, mas você mesmo já falou: Irving e Love se lesionaram, e Varejão não estava pronto para retornar. Ah, mas agora o time tem um técnico que respeitam. Ah, e a despeito da idade, LeBron diz que se sente dez vezes melhor nesta temporada do que na campanha passada, quando estava com as costas travadas, o joelho doendo e a cuca frustrada com Blatt, até mesmo tirando férias no meio do campeonato.

Sim, sim, tudo isso conta e está em jogo. Com Tyronn Lue, desde o dia 25 de janeiro,  em seus últimos 15 jogos, o time realmente teve o melhor ataque da liga, num empate técnico com o Thunder e o… Warriors, sempre ele. Por mais que a defesa tenha caído bastante (ficando em 14º, oras), o Cavs ainda aumentou seu saldo de pontos nesse período. Está cedo, de todo modo, para comparar os números com os de Blatt. Guardemos esses dados para abril.

Agora percebam o seguinte: escrever um texto sobre o Cleveland Cavaliers sem um advérbio de adversidade (mas, porém, contudo, no entanto, todavia…) é uma tarefa impossível. Acredite: fico me esforçando aqui para não repetir a fórmula, sem sucesso. Desafio os melhores escribas a esta empreitada. Estamos tratando de um time muuuuuito complexo, que escancara diversas das questões e miudezas da NBA que vão além da cobertura de pick-and-roll ou de movimentação ofensiva. “O que é de deixar maluco é que você vê este time destroçar o Thunder, na estrada, numa noite e, na outra, o vê sendo derrotado pelo Pistons em casa, para não falar de largas lideranças cedidas em derrotas para o Celtics e, agora, o Raptors”, escreve Llloyd.

David Blatt já foi demitido, e entre tantas razões, consta por aí que gerente geral David Griffin queria justamente tirar de cena aquele que seria o álibi perfeito para os jogadores numa eventual queda nos playoffs. Kevin Love está mais animado, energizado, participativo. Kyrie Irving e Iman Shumpert estão saudáveis, ou pelo menos é o que se informa oficialmente. Até o J.R. Smith anda minimizando suas cabeçadas (apenas 0,8 em turnovers) e matando tudo de fora (46%) em fevereiro.

Os elementos estão aí, o time vai crescendo e, ainda assim, pelas declarações de LeBron e pelo sentimento geral dos repórteres presentes no Air Canada Centre, ainda perdura algo de estranho no ar.  É tudo ou nada para o Cavs, e depois de 139 partidas de temporada regular e de uma disputa das finais com LeBron, a 25 partidas do fim da campanha 2015-16, seus jogadores ainda não se acostumaram com isso e nem se apaziguaram.


Jukebox NBA 2015-16: Utah Jazz, “coloca o Raul”
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Tente Outra Vez”, por Raul Seixas

“Coloca o Raul!”

Se algum brasileiro estiver presente na plateia de um jogo do Utah Jazz, duvido muito que, depois de um copão de cerveja (porque lá é tudo gigante, mesmo), não tenha feito o trocadilho, sem que ninguém ao seu lado entendesse, muito menos o técnico Quin Snyder. Então aqui temos a única música brasileira na trilha sonora da temporada, por motivos óbvios. E, desculpem, piada era muito infame para ser evitada. : )

Por três, quatro meses, os pedidos foram atendidos: Raulzinho não só estava jogando em seu ano de novato, como havia sido eleito o titular. Quando foi selecionado para participar do jogo da garotada no fim de semana do All-Star, teve suas melhores atuações, a confiança visivelmente reforçada. Acontece que,  logo quando voltou das festividades em Toronto, recebeu uma notícia que servia como pulga atrás da orelha: o clube contratou um armador. Fosse uma estrela, um jogador de ponta, talvez fosse fácil de compreender. Mas, não, quem chegou foi Shelvin Mack, um cara que, até o momento, praticamente passou batido desde que foi selecionado pelo Wizards em 2011.

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Tom Thibodeau costuma dizer que, se o cara já está na NBA, é por ser um grande jogador. E está certo. Mas, entre esses grandes jogadores, há uma separação de castas, claro. E não dá para dizer que Mack faça parte da elite. Mesmo assim, bastou uma boa partida em sua estreia, para o armador de 25 anos assumir o posto de titular. Ele nem sabia as jogadas, muito menos seus nomes.

“Eu me senti muito bem. Não jogava tanto assim há um tempo. Venho trabalhando muito duro, aguardando por minha oportunidade. Foi muito bom sentir isso novamente”, afirmou o veterano, que tinha participado de 24 jogos com o Atlanta, com apenas 7,5 minutos, atrás de Jeff Teague e do Schrödinho. Se Snyder seguir prestigiando o recém-contratado, isso vai empurra o brasileiro para uma disputa ferrenha por minutos com Trey Burke. E o pesadelo de Rubén Magnano só fica mais intenso.
Será que Magnano tem o WhatsApp de Snyder?

Será que Magnano tem o WhatsApp de Snyder?

Então vem daí a escolha de “Tente Outra Vez”, então? Poderia ser, para que Raul mantenha a cabeça erguida e brigue por seus minutos. Mas a canção (separada antes de o campeonato começar, juro), tem mais a ver com o fato de o Utah tentar, enfim, voltar aos playoffs com seu segundo núcleo desde a era Stockton-to-Malone. O grupo com Deron, Boozer, Kirilenko e Okur (mais uma participação especial do Baby, por meia temporada!) até chegou a uma final de conferência, mas não teve chance nenhuma contra o Lakers. Agora, num processo bastante paciente de reformulação, depois de alguns anos de draga geral, a família Miller espera que sua diretoria tenha reunido peças em torno das quais possa se construir uma equipe vencedora.

As coisas estão caminhando bem nesse sentido, com o chefão de longa data, Kevin O’Connor, delegando poderes a Dennis Lindsey, mais um aluno do Instituto Gregg Popovich & R.C. Buford Spursiano de Basquete. Tal como o Philadelphia 76ers, mas sem fazer tanto estardalhaço, o clube vem bancando uma folha salarial barata para os padrões da liga, dando espaço a jovens apostas do Draft e buscando um ou outro talento na D-League. No ano passado, com a contratação de um verdadeiro professor, Quin Snyder, a equipe passou a ser mais competitiva. Depois do excelente rendimento que o time teve nos últimos meses da temporada passada, muitos esperavam que os garotos já pudessem se meter na briga com os grandes do Oeste, ou pelo menos incomodá-los mais. Que tivessem pelo menos um aproveitamento entre 55 e 60%, que o colocasse na briga pela quinta posição da conferência, ficando abaixo do quarteto Warriors/Spurs/Thunder/Clippers.

Não foi possível, por ora. A campanha na primeira metade da temporada foi gravemente atrapalhada por lesões e longo período de afastamento para Derrick Favors e Rudy Gobert. Quando o francês retornou, o americano saiu de cena. Agora estão reunidos, e fica a expectativa de que o time como um todo possa apertar o passo, no mesmo ritmo de 2015, e superar Mavs, Blazers e Rockets para se meter entre os oito melhores. Vamos ver.

Favors, Gobert e Hayward, pilares do Utah. Vão adicionar mais alguém?

Favors, Gobert e Hayward, pilares do Utah. Vão adicionar mais alguém?

Para isso, precisam que seu núcleo central, com os dois grandões acima e Gordon Hayward e o emergente Rondey Hood, se mantenha saudável. Pois, como pudemos ver, ainda há limitações no elenco para lidar com desfalques do tamanho de seus excelentes pivôs, em todos os sentidos. Jeff Withey e o habilidoso novato Treyl Lyles tiveram seus momentos, mas estão num nível abaixo, e a defesa icou comprometida.

(PS: As produtivas atuações de Withey, todavia, depõem contra o gerente geral do Pelicans, Dell Demps, que tem de se explicar por permitir que o espigão fosse embora de graça, enquanto Omer Asik e Alexis Ajinça não conseguem dar cobertura a Anthony Davis. Já Lyles teve lampejos que mostram que Phil Jackson não estava tão maluco assim ao namorar o ala-pivô canadense antes do Draft.)

De qualquer forma, a maior carência, admitamos, estava na armação, como a contratação de Shelvin Mack não deixa negar. Lindsey falou com seu ex-companheiro Mike Bundeholzer para sondar a disponibilidade de Jeff Teague, não gostou do preço alto estipulado e, com o aval de Snyder e Hayward, se contentou com o terceiro armador da rotação do Hawks. Ao justificar a negociação, Snyder atentou para o fato de ter usado até seis jogadores diferentes na condução da equipe em minutos finais durante a temporada, com direito a improvisos. Quer dizer: em sua cabeça, repete-se um mantra que não podemos esquecer e que Manu Ginóbili sabe de cor: “Não importa quem começa o jogo, mas, sim, quem termina”.

Não é um demérito para o brasileiro, que, muito jovem, fez boas campanhas numa concorrida Liga ACB por anos e anos. A NBA é outra história, porém, e ainda estamos falando de um calouro se ajustando a este nível elevado de basquete. Como ponderação, basta observar o que se passa com Burke, oras. O rapaz foi uma estrela  de high school em Ohio e teve uma carreira bastante badalada pela Universidade de Michigan. Agora está prestes a ser descartado.

Raul estava se soltando. Agora luta por minutos

Raul estava se soltando. Agora luta por minutos

Além disso, também não podemos nos esquecer que o plano de Snyder e Lindsey era por o exuberante Dante Exum como dono da posição. Uma infeliz lesão em amistoso pela seleção australiana, porém, o tirou do campeonato, abrindo espaço para Raulzinho. Ele aproveitou do jeito que dava, ganhou elogios de seu treinador por seu empenho defensivo e por sua estabilidade, mesmo sendo um novato. Mas não convenceu o bastante.

“Tivemos, não vou dizer uma porta giratória, mas tivemos de encontrar opções internamente, essencialmente usando nossos caras fora de posição. Se tivesse três armadores no início do ano, você veria algum tipo de separação entre eles. Mas não aconteceu isso. O resultado é que esse processo acontece agora. Vou ter de tomar algumas decisões em relação a quem vai jogar”, afirmou Snyder.

“Será muito fácil questionar algumas dessas decisões num período tão curto. Mas tomara que, com o tempo, vamos ganhar mais continuidade nessas escalações. Para chegarmos a conclusões, é importante que usemos Shelvin. Ele não teve chance de jogar muito neste ano. E por isso conseguimos a contratação. Ele é um armador de porte físico maior. Vale cada centímetro de seu 1,91m de altura e cada grama de seus 94kg. Em algumas ocasiões, essa fisicalidade em um jogo desta natureza é importante. Tivemos algumas ocasiões recentemente em que fomos superados fisicamente. Ele é diferente dos outros dois. Eles são muito diferentes , na verdade.”

Parceiro de Hayward em campanhas históricas de Butler, Mack chegou para confundir

Parceiro de Hayward em campanhas históricas de Butler, Mack chegou para confundir

O que dá para entender da fala do técnico: o plano era ter Exum no time titular, e Raulzinho desafiando Burke por minutos vindo do banco, com o americano levando vantagem por ter mais poder de fogo, sendo utilizado mais como pontuador do que organizador vindo da segunda unidade. É algo que se encaixa melhor na rotação, e aqui precisamos ressaltar que tipo de jogador está ao lado dos armadores no perímetro.

Hayward tem muita habilidade e vai ser o criador primário em muitas ocasiões. Nas últimas semanas, Hood também entrou nessa discussão, ganhando mais e mais admiradores entre os scouts. Nenhum deles chega a ser um James Harden, retendo tanto a bola assim. Mas é fato que o armador do Utah, qualquer que seja, tem de dividir a bola de um jeito diferente do que um ataque mais tradicional sugeriria. “Espero apenas que esses caras sejam agressivos”, diz Snyder. “E aí vamos continuar observando e ver o que acontece.”

Seguindo o raciocínio do treinador, é provável, então, que, assim como nos botecos por aí, o grito de mais “Raul” não adiante muito. Nem mesmo vindo de Magnano.

 A pedida: playoffs, dãr.

A gestão: conforme dito acima, Dennis Lindsey vem tendo todo o cuidado na construção de seu elenco, numa transição lenta e, ao seu ver, segura. A diferença, em relação ao que o agressivo Sam Hinkie apronta em Philadelphia, é que, sitiado no alto das Montanhas Rochosas, seu ritmo como negociador é bem mais pacato.

Na tentativa de formar um novo time vencedor em Utah, Snyder é um grande trunfo para a diretoria, como um professor bastante eficaz

Na tentativa de formar um novo time vencedor em Utah, Snyder é um grande trunfo para a diretoria, como um professor bastante eficaz e daqueles que mete a mão na massa, surpreendendo até os mais veteranos. Corrige fundamentos mesmo durante partidas e tal, coisa que, em meio a jogadores milionários, não é de costume

Lembremos que, para chegar ao estágio atual, o clube abriu mão, de uma só vez, da dupla Al Jefferson e Paul Millsap. Assim como Philly fez com Thaddeus Young, Evan Turner & Cia. Desde então, porém, basicamente adicionou a sua base os escolhidos via Draft e algumas especulações pontuais da D-League. Mal investiu em agentes livres, mas também não participou de muitas trocas assim. De novo: precisando de alguma ajuda para se estabelecer no Oeste, eles se contentaram com Shelvin Mack.

Só fica uma dúvida: será que não era a hora de investir mais? Tudo bem evitar Teague se o Atlanta estivesse pedindo, realmente, uma escolha de primeira rodada mais um jogador jovem (de repente Alec Burks…). Aí não adianta se precipitar e pagar muito caro.  Mais:n um elenco jovem, Favors e Hayward já ganharam um bom aumento, e se aproxima a hora de que Rudy Gobert vai receber uma inevitável proposta de salário máximo. Num mercado pequeno, que não atraiu tanta gente assim nos últimos anos, você tem de ser cauteloso e guardar uma grana para tentar manter suas revelações.  O outro lado é que, num ano mais fraco do Oeste, há uma clara oportunidade subir na tabela. Chegar aos playoffs, mesmo com uma queda na primeira rodada, já rende um bom troco em bilheteria e TV. O desenvolvimento interno de Hood, Lyles, Raul e outros será o suficiente para compensar a inércia? É nisso que Snyder aposta, na certa.

De todo modo, em julho, chega a hora a de usar o largo espaço salarial em busca de um ou outro agente livre qualificado e mais experiente, dependendo especialmente da saúde de Dante Exum e Burks, caras talentosos, mas que agora são cercados por algumas questões físicas.

Olho nele: Rodney Hood.

A mecânica é estranha, com a mão direita interferindo mais do que devia, mas o chute funciona

A mecânica é estranha, com a mão direita interferindo mais do que devia, mas o chute funciona

Quanto mais alta sua escolha no Draft, a matemática histórica nos diz que você tem maior probabilidade de conseguir um jogador relevante. É uma loteria, então? Do ponto de vista do Utah Jazz, talvez não. Para um clube que selecionou Rudy Gobert em 27º e Hood em 23º, talvez essa lógica não cole. O pivô francês já tem uma baita moral na liga. Hood, mês a mês, vai chegando lá.

Que Hood tenha deslizado tanto assim no recrutamento de 2015 é difícil de entender. Talvez os olheiros estivessem muito mais atentos em Jabari Parker, ignorando seu arremesso suave de canhota, com uma boa elevação devido a sua estatura, e visão de quadra. Ele era um assessor em Duke, mas vai mostrando rapidamente em Salt Lake que tem muito mais recursos, funcionando até mesmo como arma na chamada de pick-and-rolls. Em 25 partidas desde a virada do ano, vem com médias de 18,3 pontos, 2,8 assistências (contra 1,7 turnover e 43,8% nos arremessos de fora e 88,6% nos lances livres. Numa divisão por shooting guards (algo que, na NBA de hoje, não diz muito), ofensivamente, o ala aparece como o sétimo no ranking de Real Plus-Minus do ESPN.com, atrás de Harden, Butler, DeRozan, Middleton, Klay e Redick, acima de Ginóbili, McCollum e J.R. Nada mal.

A defesa, porém, é outra história. Ele é facilmente batido em sua movimentação lateral e, em geral, precisa ser muito mais combativo. Ainda assim, já vale como um fator positivo para o time nessa reconstrução.

raul-lopez-trading-card-utahUm card do passado: Raúl López. Vocês se lembram? Raulzinho já teve, há 14 anos, um xará vindo do basquete espanhol que era aguardado por ansiedade por sua fanática torcida. Com algumas diferenças, claro: López tinha a missão de substituir ninguém menos que John Stockton e chegava a Salt Lake City mais bem cotado, como o 24º do Draft de 2001, quatro posições acima de outro jovem armador europeu, Tony Parker.

Acontece que o jogador que estreou pela franquia em 2003 não era o mesmo de dois ano antes, e não é que tivesse evoluído. Foi o contrário. No meio do caminho, a serviço pelo Real Madrid em 2001, o catalão sofreu uma grave lesão no joelho direito (ligamento cruzado anterior). Quando assinou com o Utah em 2002, teve a mesmíssima lesão em um amistoso pela seleção espanhola. Sem confiança, com menos velocidade e arranque (algo fundamental para um jogador de 1,82m (se tanto) fazendo a transição para os Estados Unidos, não teve sucesso.

Em sua temporada de novato, conseguiu disputar todas as 82 partidas, com médias de 7,0 pontos e 3,7 assistências em 19,7 minutos, acertando apenas 29,4% dos arremessos de três e 43,1% no geral. Em 2004-05, voltou a sentir o joelho, e foi limitado a 31 partidas. Na hora de renovar seu contrato, o Utah preferiu trocá-lo com o Memphis Grizzlies, que já contava com Pau Gasol. López, porém, nunca mais jogaria pela NBA, sem repetir a parceria com seu compatriota e velho amigo das divisões de base. Chegou a ganhar a prata olímpica em Pequim 2008, foi campeão europeu pela seleção, mas num nível bem abaixo do que se esperava. Hoje, aos 35, ainda joga pelo Bilbao, com 17 minutos em média.


Jukebox NBA 2015-16: Blazers e quando não é necessário fazer tudo sozinho
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Giancarlo Giampietro

jukebox-portland-decemberists

Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Don’t Carry It All”, por The Decemberists

Quando Terry Stotts reuniu seu grupo no dia 29 de setembro no Moda Center, para o início do training camp, deve ter achado tudo muito estranho, sem quatro dos cinco titulares da temporada passada. Só havia restado Damian Lillard, depois da partida, de uma só vez, de Robin Lopez, Nicolas Batum, Wesley Matthews e, principalmente, LaMarcus Aldridge.

Com diversos pontos de interrogação rondando a cabeça, sem saber exatamente o que aconteceria em um período de treinos tão importante devido ao acúmulo de peças novas, os torcedores do Blazers talvez imaginassem que a equipe chegaria ao campeonato com um Lillard incumbido de responsabilidade excessiva. Não que o armador não pudesse liderar essa reformulação. Estamos falando de um raro caso de franchise player jovem, com talento e cabeça para encarar a missão. Mas será que não ficaria sobrecarregado?

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Então aperte o “play” e deixe o Decemberists cantar: “Don’t Carry It All” – não carregue tudo isso, algo que Damian de fato não precisou fazer, com um elenco cheio de jovens jogadores que estão se entendendo muito bem e de forma muito mais rápida do que o esperado para estrelar a história mais legal da temporada. Essa ascensão lembra o que aconteceu com Phoenix dois anos atrás. Um time em reconstrução, subestimado, mas que já entrou na luta por uma vaga nos playoffs. Agora a questão é se eles vão conseguir aquilo em que o Suns falhou.

O paralelo com o time do Arizona de 2013-14, aliás, se estende. Se a chave daquele time foi a parceria entre Goran Dragic e Eric Bledsoe, o Blazers também usa uma dupla de armadores para incomodar seus adversários. A diferença é que Dragic e Bledsoe partiam com tudo para a cesta, precisando de chutadores ao seu redor. Hoje, em Portland, o bombardeio é efetuado por Lillard e um ultraconfiante CJ McCollum, cujo salto de produção não se explica somente pela maior carga de minutos. Ele tem sido mais eficiente em sua pontaria, mesmo chamando mais atenção dos marcadores. O cara realmente tem feito cestas como se fosse máquina, de todos os cantos da quadra (veja abaixo). Também é um caso raro de atleta que acerta mais a partir do drible do que com os pés plantados, recepcionando um passe. Um problemaço para qualquer defesa.

Partido verde: acima da média em quase toda a quadra

Partido verde: acima da média em quase toda a quadra

Lillard é menos eficiente (veja abaixo), mas não dá para comparar um com o outro, por diversos fatores. O esnobado All-Star tem muito mais responsabilidades na criação de jogadas, algo que se verifica claramente a cada jogo do Blazers e também pelos números,   como a taxa de uso do time e o percentual de assistências por posses de bola. Lillard agride mais o aro, tem mais fundamentos e, claro, é mais visado pela concorrência. Ainda assim, é capaz de marcar 51 pontos contra uma forte defesa como a do Warriors.

Estranhamente, Lillard está abaixo da liga em finalizações próximas da cesta, para alguém tão explosivo e forte

Estranhamente, Lillard está abaixo da liga em finalizações próximas da cesta, para alguém tão explosivo e forte

Assim como Lillard, McCollum entrou na NBA vindo de uma universidade pouco badalada. Devido a lesões antes mesmo de sua campanha de novato começar, demorou um pouco para deixar sua marca. Dois campeonatos depois, confirma a evolução demonstrada na reta final da temporada passada e, ao seu lado, forma uma das “back courts”, mais explosivas da NBA. Juntos, somam 46,2 pontos por partida – para comparar, Steph Curry e e Klay Thompson produzem 51,8 pontos. Em média, a dupla é responsável por mais de 38 arremessos por partida. A habilidade dos dois armadores empurra o sistema ofensivo do Blazers, o sétimo mais eficiente da liga, atrás de times como Warriors, Thunder, Spurs, Cavs, Raptors e Clippers. Só a elite, num trabalho magistral de Stotts, que merece séria consideração ao prêmio de técnico do ano.

Lillard é um terror para qualquer defesa

Lillard é um terror para qualquer defesa

De volta à canção do Decemberists, para constar, em sua letra o compositor e cantor Colin Meloy fala sobre a aventura de tentar cuidar de seis hortas, em sua casa com a mulher. Seis hortas, imaginem! Pois são essas as experiências típicas que um cidadão comum de Portland, casa da banda (tcha-ram!), pode ter.

A cidade é como se fosse Brooklyn no Noroeste dos Estados Unidos, mas ainda mais hipster/indie/natureba, conforme documentado no seriado Portlandia. Para quem gosta de música ao vivo, cervejas artesanais, ciclovias (dizem que as de lá são exemplares) e/ou correr por aí sem o receio de ser atropelado ou de tropeçar na calçada, este é o seu lugar. Não à toa, a Nike vem de lá.

Se o compositor gasta parte de seu tempo longe do violão para se dedicar ao cultivo, isso tem tudo a ver com as preocupações que possam passar pela cabeça do gerente geral Neil Olshey. O próprio exemplo do Phoenix Suns vem a calhar. No Arizona, o processo de reformulação foi acelerado e se confundiu com uma colheita proveitosa e imediata. Para tentar chegar ao topo, torcida e diretoria vão precisar de calma passa, com a busca por uma nova identidade e o desenvolvimento de seus jovens jogadores. Mais training camps serão realizados, com Stotts recebendo mais caras novas para fazer companhia a Lillard e dividir o peso.

A pedida? Playoffs! Ainda. No início da temporada, com cautela, diretores e técnicos de Portland demonstravam certo otimismo. Mesmo que boa parte da liga esperasse que o clube saísse da cena dos playoffs e fosse até mesmo direcionado para a ingrata luta por uma alta posição no Draft. Não que confiassem em uma classificação. Mas a projeção que faziam era que, em quadra, o time flertasse com o aproveitamento de 50%, mesmo. No Oeste, isso não seria o suficiente. Acontece que estamos falando de um ano um pouco anormal da conferência nesta década. A escorregada de Houston e New Orleans e as muitas lesões em Utah abriram uma brecha.

A gestão: Neil Olshey é o encarregado de cuidar desse cultivo, e isso só deve deixar o torcedor mais encorajado de que a equipe vai se desenvolver com segurança. Cedo ou tarde, é de se esperar que este nome seja cada vez mais comentado tanto nos bastidores e como nas análises da liga, como candidato a executivo do ano. O Trail Blazers está nas mãos de uma figura para lá de competente – e prudente.

Em Portland, sua primeira cesta foi conquistar o bilionário Paul Allen, proprietário da franquia, que por anos interferiu ou deixou que alguns de seus aspones interferissem na condução do departamento de basquete. Algo que é não tão simples assim, por mais que Allen o tenha tirado do Clippers sorrateiramente, em 2012, quando a franquia californiana acreditava estar prestes a renovar o contrato do executivo. Que ele tenha saído de um clube que tinha Chris Paul e Blake Griffin dessas diz muito sobre o temeroso Donald Sterling.

Olshey, melhor atuação da carreira foi como gerente geral do Clippers

Olshey, melhor atuação da carreira foi como gerente geral do Clippers

Ser cobiçado no mercado foi uma grande reviravolta para o dirigente. Quando promovido ao cargo de gerente geral dos antigos primos pobres de L.A., na sucessão de Mike Dunleavy, muitos acharam graça. Pois, ao fazer uma pesquisa sobre o novo chefão, o reportariado descobriu um fato pouco usual em seu currículo: a profissão de ator, dando as caras em muitos comerciais e até de novelas americanas. Era piada pronta para um clube de passado folclórico. Em pouco tempo, porém, poucos estavam rindo. Sob suas instruções e com uma visão de ave de rapina para caça de talentos, o Clippers virou o time que é hoje. Muito antes de Doc Rivers, que tenta ficar com a fama.

Que o cartola deu sorte, não há dúvida. Griffin caiu em seu colo em 2009. Mas uma só estrela não garante nada, e a história da franquia californiana, aliás, está dominada por diversos jovens talentosos que não vingaram, ou que vingariam em outros ares. Via Draft, o gerente geral teve desempenho impressionante por lá: além de Griffin, selecionou Eric Gordon, Al-Farouq Aminu e Eric Bledsoe. Também soube administrar a folha salarial e, desta forma, conseguiu arquitetar a supertroca por Chris Paul, mudando definitivamente o rumo do Clippers. Sua única bola fora talvez tenha sido a negociação que mandou Baron Davis para Cleveland, para se livrar de seu salário. Pagou, por isso, uma escolha de Draft, que resultou em Kyrie Irving. Considerando que CP3 chegou logo depois, não havia muito do que reclamar.

Em Portland, ele já selecionou Lillard (na sexta posição, o que significa que, para os dirigentes da época, não se tratava de um superastro garantido), Meyers Leonard e CJ McCollum na primeira rodada e Will Barton, Allen Crabbe (uma grata surpresa nesta temporada, colocando mais pressão na defesa com sua versatilidade como cestinha) e Jeff Withey na segunda. Apenas Leonard pode ser considerado uma relativa decepção, embora seja muito jovem ainda e tenha potencial inegável. Quer dizer: para encontrar reforços, o cara não precisa de uma escolha top 3 (algo que dificilmente vai acontecer com um time já competitivo). Mesmo que não chegue lá, existe a  confiança de que mais alguns bons calouros devem pintar por aí.

Crabbe é mais uma aposta certeira de Olshey. Não em questão estética, claro

Crabbe é mais uma aposta certeira de Olshey. Não em questão estética, claro

Olshey também tem insistido que uma das marcas de sua diretoria será o trabalho interno de desenvolvimento dos jogadores, atividade na qual San Antonio, Oklahoma City e Golden State são exemplares e aque deveria ser praxe, mas nem sempre acontece por aí. Não basta identificar talentos se você não vai ajudá-los depois. Poucos chegam prontos como Lillard.

E ainda há a oportunidade de chamar agentes livres para o baile, depois de já se dar bem com Aminu e Ed Davis, caras com muito basquete pela frente ainda. Para a temporada que vem, Olshey pode ter espaço salarial para adicionar até dois jogadores com salário máximo, dependendo do que quiser fazer com Leonard e Maurice Harkless. Se Portland vai conseguir atrair algum astro, não há certeza alguma. Mas é inegável que a campanha promissora desta temporada ajuda na hora de recrutar.

Olho nele: Mason Plumlee

Plumlee sabe o que fazer com a bola se for para passá-la

Plumlee sabe o que fazer com a bola se for para passá-la

Pois é. Com a bola na mão em situações de um contra um, Mason P vai fazer Robin Lopez parecer Arvydas Sabonis. Ele nunca vai ser um pivô de referência ofensiva. Do outro lado da quadra, ele não tem a mesma estatura e presença intimidante debaixo do aro. Sim, ele tem suas limitações. Mas o ‘alemão’ compensa essas deficiências de outras maneiras, sendo um dos atletas mais desenvoltos da NBA em sua posição. Ele tem os pés muito ágeis, salta bastante e, por isso, é um defensor valioso, podendo tanto proteger o aro como atuar na cobertura eficaz do pick-and-roll, fechando a porta na cara de armadores ou alas. Também tem os músculos para batalhar. Mas não é só de atributos atléticos que o grandalhão vive. Os quatro anos com o Coach K em Duke certamente foram importantes para seu desenvolvimento como jogador, e o apreço que desperta em seu mentor é inegável, a ponto de ser convocado para a seleção americana. Seu posicionamento defensivo é impecável,  enquanto no ataque ele tem boa visão de quadra e dificilmente vai tentar algo além de suas capacidades. São cravadas, bandejas e nada mais que isso na hora de finalizar. Mas ele é eficiente, produtivo e ainda passa a impressão de que está em pleno desenvolvimento. Se é o titular do futuro? Improvável. Mas é um jogador útil e que terá longa e lucrativa carreira na liga.

geoff-petrie-blazers-1971-trading-cardUm card do passado: Geoff Petrie. Damian Lillard vem de cinco partidas com ao menos 30 pontos anotados. Ele é o primeiro Trail Blazer a conseguir esse feito desde o armador na temporada… 1970-71, quando o clube estreou na liga. Sim, nem mesmo Clyde Drexler conseguiu. E, sim, também: é o mesmo Petrie que foi gerente geral do Sacramento Kings por longa data e montou o time de C-Webb, Peja, Divac e Bibby – e, depois, só se atrapalhou, ajudando o Kings a virar essa bagunça que dura até hoje.

Pois bem. Há mais de 40 anos, era um cestinha com largo alcance em seu arremesso, mesmo que não existisse linha de três pontos. Formado na badalada Princeton, Petrie foi a primeira grande esperança basqueteira em Portland, com média de 24,8 pontos em sua campanha de novato, muito antes da contratação de Bill Walton. Para constar, os dois foram parceiros por dois anos. Todavia,sSofregamente, num tema que é recorrente na franquia do Oregon, Petrie também viu sua estelar carreira ser abreviada muito cedo por conta de uma lesão no joelho, em 1976, um ano antes de um dos times mais inspiradores da liga ganhar o campeonato.

Para saber mais sobre essa história e as idas e vindas de uma equipe de NBA, existe uma leitura obrigatória: o livro “The Breaks of the Game”, de David Hallberstam, um jornalista que marcou época na imprensa americana primeiro na cobertura de guerras e política e, mais tarde, foi para cima do esporte, com um faro único para encontrar histórias e um texto implacável para contá-las.