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Os prêmios de sempre e os alternativos da NBA 2015-16. Warriors na cabeça
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Giancarlo Giampietro

O que você acha que acontece quando um time vence 72 partidas num campeonato? Sucesso também nas premiações individuais. É só conferir os arquivos históricos da liga. Em 1996, o Chicago Bulls elegeu MVP (você sabe quem), técnico (idem) e sexto homem (Kukoc) e também deveria ter ganhado o de defensor também, seja com Pippen e Rodman, que foram afanados por Gary Payton — não à toa seu apelido era Luva. Que fique de aviso. De resto, o texto está imenso, com mais de 3.400 palavras, então chega de onda:

MVP: Stephen Curry

Número 1

Número 1

Te juro.

(Há quem ainda questione se Curry é o melhor jogador da NBA. Talvez nos playoffs LeBron James mostre quem manda ainda. Kevin Durant, 100% fisicamente, também pode construir boa argumentação. Mas não resta dúvida sobre quem foi o melhor jogador da temporada, e de muito longe. Curry é baixote, magrelo, não é o melhor defensor da paróquia — mas marca muito mais do que seus críticos lhe dão crédito –, faz parte de um esquadrão, mas… Foi o jogador mais influente do campeonato. Um número que não ganha tanta publicidade assim e que mostra o valor de Curry numa equipe de 73 vitórias: com ele no banco, o Warriors faz 13,6 pontos a menos por 100 posses de bola e toma 8,7 pontos a mais. Por melhores que sejam Draymond Green, Klay Thompson e Andre Iguodala, está claro quem faz a diferença aqui, e não exatamente por seu volume de pontos.

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Curry esteve acima da clássica marca de 30 pontos por jogo até este mês, mas agora caiu para a extremamente decepcionante marca de 29,8. Né? Foi o mais eficiente da temporada de ponta a ponta. Seus percentuais de arremesso: 50,2%, 45,2% e 91%, registrando mais uma campanha no belíssimo clube de 50-40-90. Para comparar, Klay Thompson, um grande chutador ao seu modo, terminou com 47%, 42,5% e 87%, respectivamente. Foram cinco conversões de longa distância por partida. Nunca um cestinha com mais de 25 pontos em média foi tão eficiente assim em seus arremessos. Com dois títulos em sequência, Steph se junta a Russell, Wilt, Kareem, Moses, Bird, Magic,  Jordan, Duncan, Nash e LeBron como atletas que conseguiram o repeteco em duas temporadas seguidas.)
Quem mais? Pela ordem, iria de Kawhi Leonard (subiu mais alguns degraus na escada rumo ao estrelato, sendo muito consistente e o melhor defensor dessa lista disparado), LeBron James (a despeito de todas as intempéries, dos diversos jogos em que se recusava a marcar, num papelão compensado por uma reta final avassaladora de temporada), Russell Westbrook-Kevin Durant (difícil separar a dupla, sendo que individualmente eles recuperaram um nível absurdo de dominância; posto isso, a equipe deles terminou com campanha inferior à dos concorrentes aqui citados).

Seleção da NBA 1
Curry, Westbrook, Kawhi, LeBron e Draymond

Seleção da NBA 2
Paul, Lowry, Durant, Millsap, Aldridge

Seleção da NBA 3
Lillard, Harden, Crowder, Paul George, Jordan

Com Kawhi e LeBron, sobrou para Durant

Com Kawhi e LeBron, sobrou para Durant

(Estaticamente, Harden ainda está na elite da liga. Aqui, ele conta como uma espécie de LeBron light: alguém que deu muito trabalho desde a pré-temporada, se apresentando fora de forma, sem fazer questão nenhuma de defender Kevin McHale. Agora, vem jogando muito desde janeiro. Experimente tirá-lo do Houston para ver onde iriam parar.

Boogie Cousins tem praticamente todas as suas métricas a seu favor. Mas chega uma hora que tantas derrotas assim pesam mais. A franquia é uma bagunça gigantesca, claro, mas não dá para dizer que ele não contribua para a confusão. Na hora de escolher apenas 15 nomes, isso pesa. Outro que perde pontos nessa linha é Jimmy Butler, com pesar.

Chris Bosh poderia entrar aqui, mas sua preocupante condição médica o afasta. O Miami fica sem um indicado, apesar da ótima campanha. É que não dá para pinçar Dwyane Wade, apenas para ter um deles. Whiteside jogou muito desde fevereiro. Dragic enfim disse a que veio, Luol Deng também se reencontrou. Os calouros ajudaram demais. Enfim, um conjunto muito forte. Assim como o de Boston, com Crowder ganhando destaque pela sua contribuição dos dois lados. O breve período em que ficou fora de ação provou sua relevância.

De qualquer forma, estamos falando da NBA, né? Talento não falta. Klay Thompson, Kemba Walker, Tim Duncan, Dirk Nowitzki, Kevin Love, Ricky Rubio, Al Horford, Andre Drummond bem sabem.)

Técnico do ano: Steve Kerr

De Luke para Steve, com carinho

De Luke para Steve, com carinho

O principal argumento contra Kerr talvez seja, na real, seu principal trunfo. Que é o fato de ter ficado afastado do banco por 43 partidas oficialmente, ainda que desse as caras no ginásio aqui e ali, para os jogos em casa. Ué, mas se ele nem era o estrategista em mais de meia temporada, como é possível ganhar um prêmio? Justamente por seu time ter assimilado tão bem seus conceitos, podendo, sei lá, jogar sozinho. Ou sob a orientação interina de Luke Walton, que não deve ser menosprezado de modo algum. O Warriors viveu suas melhores semanas na temporada quando arrebentou a concorrência logo no início de campanha, vencendo 24 partidas seguidas. Uma sequência que valorizou demais o passe de Walton no mercado.

Mas o mais relevante neste processo todo não foi justamente foi a cultura estabelecida por Kerr? Desde a temporada passada, essa cultura só ganhou força depois do título, com a confirmação de que seguiam o rumo certo Uma cultura com impacto fora e dentro de quadra. Em vez de se acomodarem, seus principais jogadores evoluíram, enquanto, isolando o estouro de Draymond Green em OKC, nenhuma tensão parece ter florescido nos bastidores. Chegaram a 72 vitórias, podendo garantir a de número 73 nesta quarta, a saideira. O recorde histórico da liga. Como não aclamar isso, ainda mais depois de testemunharmos o quão penosa foi a luta nas últimas semanas?

Não que os ajustes durante uma partida não importem. É que, por muito tempo, o Warriors simplesmente não se envolvia em tantos jogos parelhos assim para o intelecto de Walton ser testado. Na metade final da temporada, à medida que se aproximavam do recorde e que a tabela ficava mais complicada (com longa sequência como visitante e múltiplos duelos com Spurs e Thunder), Kerr estava de volta para ajudar seus jogadores a enfrentar a turbulência.

Aqui, a questão maior, claro, é saber o que pesa mais num voto? A campanha surpreendente, os ajustes em meio ao campeonato, com mudanças forçadas por lesões ou trocas, a reformulação de um sistema, tirar o máximo de cada atleta do elenco… Todos fatores que uns vão considerar mais relevantes que outros.
Quem mais? Gregg Popovich mudou de modo substancioso o estilo de jogo do Spurs, assimilou LaMarcus sem interromper a curva de ascensão de Kawhi Leonard e coordenou a defesa mais eficiente da temporada. Do ponto de vista da cultura, o trabalho de Brad Stevens em Boston é especial, levando seus jogadores ao limite de suas capacidades. Steve Clifford também reformulou seu ataque, indo na direção contrária de San Antonio, migrando para o exterior, e colheu grandes resultados. E aí tem a turma que tirou leite de pedra, com campanhas surpreendentes pensando no material que tinham: Terry Stotts, Rick Carlisle e Dave Joerger. Mais Brad Stevens e Dwane Casey. Que fase.

Defensor do ano: Draymond Green

Braço comprido, né, CP3?

Braço comprido, né, CP3?

É, foi o mesmo voto no ano passado. Mas vamos deixar claro que não embarco em nenhuma campanha contra Kawhi Leonard. Não há como não ficar boquiaberto com a pressão defensiva que o endemoniado ala do Spurs exerce sobre os adversários, com o par de mãos mais rápido do Oeste. No ranking defensivo de “Real Plus-Minus” do ESPN.com, Kawhi é o único jogador de perímetro que aparece entre os 30 primeiros colocados, com um honroso quinto lugar. É provável que ele ganhe de novo, se tornando apenas o segundo jogador de perímetro a levar o troféu por dois anos seguidos — e não dá para dizer que não seja justo. Os dois mereciam.

Então, se for para escolher um só que seja, ainda sustento a opinião de que Draymond é mais importante para o sistema defensivo do Warriors, que ainda é um dos cinco mais eficientes da liga. Kawhi, por sua vez, é o defensor mais assustador, individualmente, da liga. Recuperando o texto de 2015 levemente editado: “Green é quem dá o recado, quem dita a intensidade da equipe na hora de parar o adversário. Ele é daqueles que fala horrores – mas que justifica tudo em quadra. Além disso,  seu pacote de força física, inteligência, determinação e estatura mediana para a posição (2,01m oficialmente, mas não chega a tanto) permitem a Steve Kerr confiar num sistema de trocas na defesa. É curioso isso: o fato de ser considerado baixo ao deixar a Universidade de Michigan State fez com que caísse para a segunda rodada do Draft. Hoje, é algo que joga a seu favor de modo único – com sua envergadura fora de série, o centro de gravidade mais baixo (e forte) e o senso de posicionamento impecável, consegue marcar grandalhões numa boa. Ao mesmo tempo, é flexível o bastante para brecar as infiltrações de alas e armadores. Um canivete suíço defensivo que é a segunda principal ferramenta para o Warriors ser este timaço. Além disso, vale registrar que a defesa da equipe sentiu o desfalque de Iguodala, Bogut e Barnes por mais de 12 partidas cada. Para constar, no ranking acima citado, Green também aparece logo acima de Leonard.
Quem mais? Tim Duncan, que mal consegue correr de uma cesta para a outra, mas sabe preencher espaços como ninguém em meia quadra, Paul Millsap, que, entre os homens de garrafão, é aquele das mãos mais ágeis, Ian Mahinmi, aquele que apagou Hibbert da memória coletiva em Indiana. 

Jogador que mais evoluiu: CJ McCollum

Pode atacar, CJ

Pode atacar, CJ

Deve ser o favorito ao prêmio no mundo real.  Uma coisa é ter seu brilhareco numa série de playoffs que se encerrou em cinco jogos, anotando 17,0 pontos, dando 4,0 assistências e matando 47,8% de seus tiros exteriores. Outra é sustentar esse ritmo durante todo um campeonato, enfrentando defesas muito mais atentas em relação a suas jogadas favoritas, especialmente quando o elenco ao seu redor perdeu alguns nomes expressivos. No caso de McCollum, desde já uma das fontes favoritas de toda a mídia enebeana, por ter se formado em jornalismo. O armador do Blazers, na verdade, superou seu rendimento dos mata-matas do ano passado contra o Grizzlies, tanto em números absolutos como na média por minutos, finalizando sua campanha com 21,6 pontos e 4,4 assistências. Não foi só o caso de elevar os números simplesmente por ter ganhado mais tempo de quadra. Mais minutos traduzem em mais confiança, claro. E, com a moral elevada e a licença de Stotts e Lillard para chutar, o atleta de de 24 anos passou a disparar (17,9 chutes por jogo) e com qualidade (44,8% no geral, 42,1% de três e 82,7% nos lances livres, todos recorde em sua carreira). O próximo passo agora é se esforçar um pouco mais na defesa e procurar a linha de lance livre.
Quem mais? E não é que dava para colocar alguém do Warriors  também aqui? Steph Curry (anotou quase 5,0 pontos a mais por 36 minutos e superou em muito seu aproveitamento nos arremessos de quadra e de três) e Draymond Green (máquina de triple-doubles) evoluíram demais. Demorou, mas Kemba Walker enfim descobriu o que um bom arremesso de longa distância pode fazer para seu jogo e seu time. Giannis Antetokounmpo vai gradativamente realizando todo o seu potencial. Will Barton. Ian Mahinmi jogou tanta bola este ano que pode ter virado um problema para o Pacers: se a liga reparou, vai ganhar um aumento de mais de 200% salarial (ganhou US$ 4 milhões este ano).

Sexto homem: Andre Iguodala

Iguodala faz de tudo um pouco vindo do banco

Iguodala faz de tudo um pouco vindo do banco

Ok, repetindo a brincadeira de fevereiro, quando o timing era mais propício. Mas isso é como se fosse o Oscar, com um filme gigante de bilheteria e aclamado pela crítica fazendo a rapa. O time já igualou um recorde histórico de vitórias que 99% da liga julgavam inatingível. Então é bem por aí, mesmo. O cara foi MVP da última final saindo do banco de reservas, sendo recompensado por todos os sacrifícios que os treinadores esperam na hora de se compor uma rotação. Está certo que seus números não se equiparam aos daquela série decisiva, e nem poderiam ser, mesmo. Mas seu papel continua o mesmo. Assim como Green, Iggy oferece maleabilidade tática a Steve Kerr, por sua capacidade defensiva acima da média, a facilidade para organizar o jogo e fazer a bola rodar e, num bônus que poucos apostariam há dois anos, pela habilidade que desenvolveu para matar o chute de três da zona morta, convertendo 26 de suas 56 tentativas nesta temporada. O principal argumento contrário ao veterano e versátil ala é o de que perdeu 17 jogos até aqui. No geral, porém, ele acumulou mais de 1.700 minutos, superando, por exemplo, Shaun Livingston nessa contagem.
Quem mais? Patrick Patterson está envolvido em quase todas as escalações mais produtivas do Toronto Raptors; Enes Kanter arrebentou com as linha de frente de segunda da liga, mas ainda precisa melhorar a defesa; Will Barton apresentou seu cartão de visitas aos oponentes e foi um cestinha mais eficiente e regular do que Jamal Crawford, que, de todo modo, merece sua menção por seu espírito decisivo e via de desafogo para os titulares; Evan Turner, demos o braço a torcer, não se tornou um jogador que justificasse a segunda escolha do Draft, mas teve a sorte de Brad Stevens cruzar com o seu caminho, podendo explorar seus medianos, mas amplos recursos da melhor maneira que dá. 

Novato do ano: Karl-Anthony Towns

O Wolves tem sua jovem superestrela

O Wolves tem sua jovem superestrela

Além da categoria MVP, este é o único troféu que não exige muito da gente. Já  nem cabe mais comparar o garoto dominicano com os colegas de classe. Daqui para a frente, ele vai entrar na discussão sobre quem são os melhores da liga. Towns tem chute de média distância e logo mais vai matar de fora também. Nos arredores da cesta, tem força, munheca, movimentos e incrível calma para se impor contra gente muito mais experiente. E ele ainda sabe como é quando passar a bola. Na defesa, já se comporta como um alicerce dentro do garrafão. Meses atrás, David Thorpe, analista da ESPN e técnico dedicado ao trabalho individual com diversos atletas da liga, chegou a propor a tese de Towns seria ainda mais promissor que Anthony Davis. Muitos acharam que era conversa de maluco. Hoje, não soa nada absurda.
Quem mais? Jokic é o darling dos estatísticos, com produção por minutos extraordinária e um jogo ofensivo muito vistoso. Seus fundamentos de passe e chute vão deixar qualquer professor sérvio orgulhoso. Suas métricas avançadas são de arrebentar. Kristaps Porzingis, por mais que o Knicks tenha esfriado, ainda é uma das histórias mais legais da temporada. Justise Winslow não tem os números, mas já adquiriu respeito dos veteranos por sua capacidade como defensor. Devin Booker, Myles Turner, Jahlil Okafor e D’Angelo Russell tiveram seus lampejos, mas não a consistência para desafiar nenhum deste top 4.

Seleção dos novatos 1
(Tentando respeitar minimamente a formação)
Russell, Winslow, Porzingis, Towns e Jokic

Seleção dos novatos 2
TJ McConnell, Josh Richardson, Booker, Turner e Okafor

(Foi, de fato, uma classe de calouros bastante produtiva. Emmanuel Mudiay tem tudo para ser uma estrela, desde que aprenda a usar seu corpanzil para concluir jogadas perto da cesta, além, claro, de refinar seu arremesso. Willie Cauley-Stein merece mais do que o desleixo total de George Karl. Assim como o pivô, Rondae Hollins-Jefferson tem tudo para fazer parte de quintetos defensivos por anos e anos. Frank Kaminsky provavelmente vale menos do que quatro escolhas de Draft — se é que Danny Ainge ofereceu tudo isso, mesmo, a Charlotte –, mas se mostrou uma peça valiosa no tabuleiro de Clifford. Bobby Portis já tem um culto em Chicago. Justin Anderson pode muito bem ter salvado a temproada de Nowitzki. Trey Lyles casa muito bem com Rudy Gobert e Derrick Favors. Enfim… looonga a lista.)

Executivo do ano: Gregg Popovich/RC Buford

Gostou do almoço, Pop?

Gostou do almoço, Pop?

oSim, eles conseguiram. Depois de quase duas décadas em torno de Tim Duncan, sem o superastro nem mesmo ter parado ainda, a dupla conseguiu tocar adiante a transição para um novo amanhã (é brega pacas isso, mas você nunca sabe quando vai ter a chance de usar).

Tudo começa com a descoberta de Kawhi Leonard, há um tempinho já, mas a chegada de Aldridge vem para ratificar. E a franquia fechou o negócio sem precisar sacrificar muito de sua base. Ele chegou para a vaga de Splitter, e pronto. Cory Joseph foi outro que saiu, para sorte de Dwane Casey, mas o Spurs sobrevive tranquilamente sem ele. Aí você também põe na conta as pechinchas por David Wesley, Jonathon Simmons e, claro, Boban Marjanovic. A base é tão forte que talvez não importe se Kevin Martin vai entrar no esquema a tempo para os playoffs.

E por que colocar Pop acima? Ele é o presidente do departamento. Na hora em que o Phoenix Suns realmente surgiu como ameaça para levar LaMarcus, quem apareceu para dar umas voltinhas com o pivô?

De qualquer forma, aqui está mais um prêmio complicado de avaliar por apenas um ano. O que o Warriors fez para esta temporada? Selecionou Kevon Looney no Draft, contratou Anderson Varejão de última hora, na vaga de Jason Thompson, que veio no negócio que os livrou do contrato de David Lee. Preferiram Ian Clark a Ben Gordon. Nada muito drástico. Mas precisava?

Quem mais? Neil Olshey não perdeu tempo em lamentar a saída de tanta gente boa, formou uma nova base mais jovem e muito mais barata, descolou mais escolhas de Draft e ainda vê o time seguir nos playoffs. Pat Riley gabaritou no Draft, ainda deu um jeito de escapar da multa da luxúria e ainda arquitetou a contratação de Joe Johnson. Coisa de mestre. Rick Cho, sempre pressionado por Jordan, mas que acertou demais na troca por Batum e Jeremy Lamb, além da subestimada contratação de Jeremy Lin. Masai Ujiri, pelas trocas que não fez em Toronto.

***PRÊMIOS ALTERNATIVOS***

Melhor jogador sub-23: Karl-Anthony Towns, que só vai chegar aos 21 no dia 15 de novembro e terá esse troféu assegurado até o ano que vem. Ponto.

Melhor segundanista: Andrew Wiggins, que cresceu no decorrer do campeonato. Mas estamos de olho em você, Jabari. Força aí.

Melhor estrangeiro: Dirk Nowitzki, com seu esforço heroico para conduzir um elenco bizarro do Mavs rumo aos playoffs. Al Horford acaba desclassificado aqui por ter jogado o universitário americano. As regras a gente inventa assim, na hora.

Melhor brasileiro: olha… difícil, hein? Sabemos que não foi a temporada mais produtiva para a legião de Magnano. Muito difícil separar um do outro. Leandrinho talvez? Por ter mantido seu papel regular no esquadrão do Warriors. De resto… Nenê ainda é o mais eficiente, mas voltou a perder mais de 30 jogos e dessa vez não passou nem dos 20 minutos de quadra. Splitter teve sua campanha sabotada por uma lesão séria no quadril. Anderson Varejão foi despachado por Cleveland e não encontrou espaço no Warriors. Demorou sete meses para Byron Scott perceber que Huertas faria mais bem ao Lakers do que Nick Young. Raulzinho era o titular de ocasião do Utah Jazz, mas foi derrubado por Shelvin Mack justamente quando estava se soltando. Cristiano Felício é uma grata surpresa nos minutos finais do campeonato.

Melhor importação da D-League: Tim Frazier. era para ele estar se preparando para a disputa dos playoffs em Portland, como assessor de Lillard e McCollum. Mas, quando Neil Olshey se envolveu em algumas trocas em fevereiro, para acumular mais escolhas de Draft, acabou sobrando para o armador de 25 anos, um dos salários mais baixos do elenco. Frazier teve de voltar à liga menor, então, mas sem se deixar abater. Depois de algumas semanas com o Maine Red Claws (filial do Boston), foi chamado novamente pela NBA para um serviço voluntário em New Orleans, que precisava da ajuda da Cruz Vermelha. Alvin Gentry ao menos encontrou um motivo para sorrir novamente. O baixinho se encaixou bem no esquema tipo “7-segundos-ou-menos” e vai terminar sua campanha pelo Pelicans com números interessantes (numa projeção por 36 minutos, são 17,0 pontos, 8,7 assistências e 5,6 rebotes, com 44,8% de três e 47,4% de quadra no geral). Se por alguma razão o clube não aproveitá-lo na próxima temporada, certamente aparecerão interessados.

Melhor resultado de troca: num ano de movimentações pouco alardeadas, dois pequenos negócios seriam fortes candidatos aqui. O primeiro foi a aquisição de Mario Chalmers pelo Memphis. De renegado em Miami, o armador estava virando figura salvadora em Memphis, cobrindo a ausência de Mike Conley com muita personalidade, até sofrer uma ruptura no tendão de Aquiles em Boston. A outra opção seria a ida de Ish Smith para Philadelphia (sendo que ele poderia ser o Tim Frazier do Pelicans neste final de temporada, vejam só). O ligeirinho  mudou a rotina do Sixers por pelo menos um mês, injetando ânimo, arrojo e maturidade em um jovem elenco. Mas esse efeito já não era mais sentido depois de um certo tempo. Então… Bem, vamos pensar a longo prazo aqui, e apontar a contratação de Tobias Harris pelo Detroit Pistons. O ala não só ajudou o time a chegar aos playoffs, como será uma figura relevante para os próximos anos sob o comando de SVG. A ver se Channing Frye apronta alguma coisa nos playoffs para entrar na conversa.

Time mais azarado: Memphis Grizzlies.

Maior decepção: Houston Rockets.

PS: obviamente não fui capaz de atualizar o blog diariamente nesta temporada, então talvez nem precisasse avisar, mas a rodada desta quarta-feira é tão especial, que… Tem de ser feito o registro. Nesta quinta, não vou conseguir publicar nada, por motivos de viagem a trabalho, com evento que paga o pão de cada dia logo cedinho pela manhã. Então vamos com algo sobre Kobe ou Warriors na sexta apenas, ok? Enquanto isso, de repente bate alguma inspiração para escrever algo minimamente decente sobre a aposentadoria de um dos atletas mais fantásticos e controversos da história da NBA.

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Mogi se destaca entre gringos do Hoop Summit. O que os scouts acharam?
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Giancarlo Giampietro

Imagine o cenário. Você vai para a quadra, depois de ter contundido o pé logo no primeiro treino, algo que o atrapalhou um pouco nos treinos. Não domina o inglês e demora um pouco para se soltar, física e emocionalmente. Na hora do jogo, sua equipe, muito mal convocada, estava absolutamente controlada pelo adversário. Quando o técnico o chama, o resultado já está praticamente definido. Na plateia, para ver o resultado de tudo isso, estão dezenas de avaliadores da NBA.

Mogi marcou nove pontos, pegou oito rebotes e deu três assistências em 22 minutos de jogo. Cinco de seus pontos saíram na linha de lances livres, com 100% de aproveitamento. Ele tentou três chutes de fora e não converteu nenhum

Mogi marcou nove pontos, pegou oito rebotes e deu três assistências em 22 minutos de jogo. Cinco de seus pontos saíram na linha de lances livres, com 100% de aproveitamento. Ele tentou três chutes de fora e não converteu nenhum

Não era o contexto mais fácil para Wesley Mogi mostrar seu talento pelo Nike Hoop Summit, em Portland. Ainda assim, ao final de uma semana de atividades, com jogo no sábado, enfrentando todas essas limitações que o cercavam, o ala brasileiro fez quase tudo que estava ao seu alcance para deixar uma rara lembrança positiva em meio aos jovens talentos.

Se a seleção de prospectos internacionais foi muito criticada e não teve chance nenhuma contra um forte combinado americano (101 a 67), a promessa de 19 anos do Paulistano ao menos conseguiu se distanciar desse fiasco.  Mesmo que, na opinião de dois scouts da NBA consultados pelo blog, ainda não tenha inserido seu nome na pauta mais imediata do Draft da liga.

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Para ambos os olheiros, experientes e designados para avaliar talentos de fora dos EUA durante a temporada, trabalhando para clubes que têm investido nesse tipo de jogador, foi a primeira chance de ver Mogi ao vivo.

É importante ter isso em mente, primeiro. Não se trata de uma avaliação definitiva sobre o jogador, mas sim algumas observações sobre uma semana de exercícios e 22 minutos de ação. Além disso, estamos falando de um garoto que, mesmo sendo o mais velho deste evento, tem uma carreira extremamente curta, que só conheceu uma bola de basquete aos 16 anos de idade e que mal joga pelo NBB.

Ok?

(Mais detalhes sobre sua trajetória estão aqui.)

Então vamos lá. A partir daqui, vamos identificar as fontes como Scout 1 e 2. A opinião de ambos sobre o brasileiro divergiu ligeiramente. O consenso é de que o time que o cercava era muito fraco e que isso o atrapalhou de forma considerável. Mogi hoje precisa de um time bem organizado para mostrar os melhores aspectos de seu jogo ofensivo.

“A seleção internacional era realmente ruim. É difícil você se dar bem num ambiente desses”, disse o Scout 1. “Mogi deixou uma boa impressão. Provavelmente foi o melhor jogador da equipe. Nos dias em que estive lá porém, eles não fizeram nenhum coletivo durante os treinos, então é uma amostra reduzida.”

Para o Scout 2, a recepção foi um pouco mais morna. “Ele mostrou um arremesso não muito confiável e sua habilidade para o drible é mediana. O que gostei mais foi sua valentia. Ele joga duro. Na defesa, gostei mais desse aspecto, de encarar, do que por seus atributos físicos. Ele tem bom corpo. Pode marcar na ala. Os LeBrons? Não. Mas num nível mais abaixo?  Deve ter uma chance”, disse.

Mogi tenta contestar o arremesso de Frank Jackson

Mogi tenta contestar o arremesso de Frank Jackson (Cameron Browne/NBAE via Getty Images)

Uma terceira opinião que registramos aqui é a da dupla Jonathan Givony e Mike Schmitz, do DraftExpress. Ambos, que já o haviam assistido ao vivo antes,  notaram como a seleção mundial respondeu positivamente quando Mogi foi para a quadra, devido à sua intensidade na defesa, dando energia ao quinteto.

Em seu texto de avaliação sobre o brasileiro, Givony também apontou o empenho defensivo como seu ponto mais forte no momento: “Sua envergadura de 2,08m ajuda a compensar a altura mediana. Ele sua seus atributos físicos, seu nível alto de intensidade e instintos sólidos para movimentar seus pés e atacar consistentemente as linhas de passe, a tabela e até mesmo bloqueando alguns arremessos ocasionalmente”. Sobre o ataque, na avaliação não é tão positiva ainda. O analista ainda registra que, durante a semana, a mecânica de arremesso do brasileiro mostrou “um vislumbre de esperança”, sendo mais consistente com em situação de recepção do passe, com os pés plantados, e subida para o chute (o catch-and-shoot). “Foi muito mais consistente do que você poderia pensar considerando sua reputação”, escreveu. Em movimento, porém, a história ainda é outra. Além disso, o drible e o entendimento do jogo foram questionados: “Não estão tão desenvolvidos como você poderia esperar”, especialmente quando o ataque vem em meia quadra.

É legal que Wesley tenha se sobressaído na hora mais importante, a do jogo, em meio aos seus companheiros estrangeiros. Só não dá para esconder que a garotada que o acompanhava deixou os espectadores bastante decepcionados. Bastante mesmo.

Como pode acontecer isso? É que, amigos, o dinheiro começa a falar mais alto. A Nike patrocina este evento, a academia de LeBron, entre outros. Já a adidas conta com o EuroCamp em Treviso e também o adidas Nations, torneio que ajudou bastante na cotação do ala do Paulistano, por sinal. Na hora de lidar com esses eventos, as companhias têm duas escolhas: se concentrar em reunir os melhores prospectos, independentemente de seus patrocinadores ou apoiadores, ou se limitar a atletas que já estejam sob seu guarda-chuva. Foi o que aconteceu este ano. “Eles não chamaram nem mesmo atletas que tivessem um contrato só de 5 mil pelo ano todo”, disse o Scout 2. “Eles poderiam certamente ter feito um trabalho melhor. A política interferiu.”

Mogi briga por posicionamento com Jarrett Allen. Cameron Browne/NBAE via Getty Images)

Mogi briga por posicionamento com Jarrett Allen. (Cameron Browne/NBAE via Getty Images)

Não é fácil montar essa equipe, vale pontuar. Para monitorar o progresso de adolescentes mundo afora, você precisa de uma rede extensa de contatos bem treinados. E outra: alguns dos melhores jogadores já estão envolvidos com times profissionais em momentos decisivos da temporada. Por fim, existe uma preocupação de distribuição regional de vagas. Se você vai levar em conta a marca que os meninos usam, aí é uma tremenda furada. “Várias convocações foram questionáveis”, sinalizou Givony.

Esses equívocos ficaram ainda mais graves quando a molecada estrangeira teve de enfrentar uma seleção norte-americana muito forte, com uma geração que promete muito para a próxima temporada do basquete universitário. “No ano em que os EUA estão abarrotados e organizados,  a seleção mundial precisava reunir o melhor grupo para poder competir, e não foi o que aconteceu.”

Schmitz afirma que não havia “nenhum jogador criativo, capaz de atacar a cesta ou servir”. “E eles enfrentaram excelentes marcadores no perímetro. Não era uma receita vencedora para a seleção mundial”, completou. Os armadores William McDowell-White, australiano de 17 anos, e o dominicano Andrés Feliz, que só vai chegar ao College em 2017, sentiram muito a pressão imposta por uma defesa agressiva e atlética. Cometeram juntos 13 turnovers.

Para alguém que ainda não consegue criar muito por conta própria, Mogi precisava de um time mais ajeitado, com parceiros que possam acioná-lo a partir de sua movimentação distante da bola. Claro que, para um elenco reunido em apenas uma semana, com atletas de culturas diferentes, esse é sempre um baita desafio para o técnico Roy Rana. Dessa vez, porém, nem o talento individual compensou,.como no ano passado, quando tinha Jamal Murray, Ben Simmons e outros.

Como fica Mogi agora? Seu agente, Eduardo Fonseca, em parceria com o grupo Wasserman, tem de decidir se a resposta que tiveram das cabeças da NBA são positivas o suficiente para lhe inscrever no Draft. Lembrando sempre que os atletas estrangeiros podem se candidatar e retirar o nome se acharem melhor. E têm até o ano que vão completar 22 para participar desse processo. No caso de Wesley, até 2018. “Não seria uma surpresa se ele decidir colocar seu nome neste Draft para ver qual a sua cotação entre os times fã NBA depois de uma semana sólida em Portland”, escreveu Givony. “Encontrar um lugar em que ele possa continuar trabalhando em suas habilidades vai ajudá-lo a compensar o tempo que ele perdeu no Brasil.”

Qual seria a cotação do brasileiro no momento para as duas fontes consultadas? O Scout 1 acredita que Wesley pode estar nas conversas para um top 100, embora “ainda seja cedo”. “Depende de quais jogadores internacionais vão manter seus nomes. Gostaria de vê-lo mais, em treinos privados ou no EuroCamp.”

O Scout 2 afirmou que “não acha que ele teria muita chance”. “Você só precisa de um time para gostar de você, então tudo é possível. Mas não estou certo sobre ele”, disse, citando uma das máximas sobre a qual o namoro entre Toronto e Caboclo é o maior exemplo recente.

Eu os questionei se o viam, hoje, ao menos com chances de ser escolhido na segunda rodada. Para o Scout 1, “a diferença entre ser escolhido entre as posições 50-60 são bem grossas, então todo mundo pode ter uma diferente opinião”.

O Scout 2 completou: “O que pega este ano é que a leva para a casa de 50 a 60 não é boa. Se você tem uma escolha nessa faixa e quer usá-la em um ‘stash’ (um atleta que possa ficar sob contrato com um clube do exterior, se desenvolvendo por conta), não há muitas opções”.

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Giancarlo Giampietro

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Sério, mesmo? Não esperem deste blog nenhum texto mirabolante que vá dizer que o Chicago Bulls de 20 anos atrás era melhor ou pior que este Golden State Warriors de hoje em dia. Ou de hoje em sempre. Saudosistas ou progressistas vão ter de conviver com o fato de que o time de Steph Curry veio para ficar na história, agora oficialmente, depois de bater o San Antonio Spurs pela terceira vez na temporada e alcançar sua vitória de número 72. O que, caceta, todos sabemos, os já os coloca ao lado daquele beatlemaníaco esquadrão de Michael Jordan.

Restando mais um jogo contra o Esquadrão Suicida do Memphis Grizzlies, é bem capaz que eles até mesmo consigam numericamente o desempate e se candidatem seriamente ao posto de MAIOR DA HISTÓRIA: 73 > 72, AFINAL. Sim, não há como negar esse princípio matemático. É a medição mais óbvia, mais fácil para se quantificar qualquer coisa. Então por que não fazer a comparação e provocar, instigar?

Simplesmente, porque não dá.

Esta é uma reposta bastante chata para o jornalismo esportivo. Pode acabar com toda a programação de uma conversa de botequim. Pode ser até mesmo ser encarada como co-var-dia, o “isentão” da vez. Pode lamentar, mas… São épocas totalmente diferentes.

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Aquele Bulls acertou 544 arremessos de fora em sua campanha. O Golden State já matou 1047, restando um jogo ainda no calendário, com 388 só na conta de Curry. Entre defesas ilegais por zona, mãozinha na cintura,  linha do perímetro flutuando, maior influxo de jogadores internacionais, expansão da liga, diluição (ou não) de talento… Muita coisa aconteceu nestas duas décadas de basquete que separam aquele Bulls deste Warriors para se poder traçar algum paralelo honesto racionalmente. A comparação que talvez fosse a mais justa seria apenas a do nível de dominância em relação aos concorrentes. Mas mesmo aí existe um buraco: e se os concorrentes de um forem mais fortes que os do outro? Em relação a uma revisão mais emotiva, aí, rapaziada, a gente sabe no que dá. Cada um tem sua predileção, guiada seja pela estética, ou pela afetividade histórica. Há quem jure que o Boston Celtics de 1986 seria o melhor time de todos os tempos. O torcedor do Lakers obviamente pode construir algum bom argumento para a versão dos playoffs de 2001. Por aí vamos.

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Feita essa ampla ressalva, por que não abraçar o Golden State? Não como O Maior Time, mas, pelo menos, como Um dos Maiores? Não é bacana que eles tenham conseguido algo antes impensável? Dá para entender aqueles que batam o pé e digam: “Bulls, Bulls, Bulls, Bulls, Bulls…”, como numa seita. Mas a gente só espera que estes mesmos crentes, ou 90% deles, vá lá, também não acreditem realmente que Mahmoud Abdul-Rauf tenha sido melhor/precursor/similar a Curry. Uma coisa não leva à outra, não há razão para extremismos aqui, por mais que um time tenha como cor predominante o vermelho, enquanto o outro se veste de azul e amarelo.

Um ano atrás, mais ou menos, o Warriors venceu o campeonato, e havia muita gente questionando esses caras. Que era sorte. Que as bolinhas caíram. Que a NBA não é a mesma de _____, e tal cousa e lousa e maripousa, como diz o Alberto Helena. Agora, com a vitória 72 assegurada, não há muito o que possa ser dito para atingir esse time. Podem se esforçar. Mas vai ser em vão, de acordo com os registros históricos.

Então, que tal apreciar também o que está sendo construído aqui e agora?

Pesando nisso, segue uma lista de vitórias marcantes do Golden State Warriors,  chefiado por Joe Lacob e Peter Gruber, presidido por Rick Welts, gerenciado por Bob Myers, Travis Schlenk, Kirk Lacob, treinado por Steve Kerr, Luke Walton, Ron Adams Jarron Collins, Bruce Fraser, com Curry, Klay Thompson, Draymond Green, Andre Iguodala, Shaun Livingston, Harrison Barnes, Andrew Bogut, Marreese Speights, Festus Ezeli, Leandro Barbosa, Brandon Rush, James Michael-McAdoo, Ian Clark, Kevon Looney e, no finalzinho, Anderson Varejão.

De novo: são 72 vitórias. Isso mesmo depois de terem perdido para o Lakers e Hollywood em Los Angeles e para o jovem Timberwolves em casa etc. (Antes de mais nada, vale lembrar que aquele Bulls tropeçou contra o Denver Nuggets e o Toronto Raptors-em-expansão há 20 anos…).

Entre tantos triunfos, é meio complicado escolher tão somente 10. Mas simbora:

10 – Golden State 119 x 69 Memphis (02/11)
Foi uma vitória que indicava o que estava por vir, antes mesmo de a temporada completar sua primeira semana. O placar de 50 pontos de diferença foi o maior sofrido pelo Grizzlies em sua história – nem mesmo nos tempos sombrios de Vancouver isso havia acontecido. Vindo de uma atuação de 53 pontos contra o Pelicans (num placar de 134, seu recorde na temporada, ao lado de uma vitória mais tarde sobre o Wizards), Curry largava com tudo em sua campanha de repeteco como MVP, tendo anotado 21 de seus 30 pontos no terceiro quarto. “É surpreendente. Não me lembro a última vez que tenhamos ficado no lado vencedor de um jogo definido por 50 pontos”, disse o armador. E pensar que, muito mais adiante, a vitória 71 viria de modo sofrido, por um pontinho, justamente contra o Grizzlies, mas com um time todo remendado, modificado, sem Marc Gasol e Mike Conley. Foi seu único triunfo por um só ponto em todo o campeonato.

9 – Toronto 109 x 112 Golden State (05/12)
O primeiro grande desafio encarado na temporada. Que tenha sido apenas na 21a. rodada, mostra o quão avassalador foi seu início de campanha. Com a vantagem de três pontos, asseguraram, segundo o Elias Sports Bureau, a melhor arrancada entre todas as grandes ligas esportivas americanas, superando o St. Louis Maroons, do beisebol da Union Association, predecessora da MLB. Dessa vez, o time venceu graças exclusivamente ao seu poderio ofensivo, se envolvendo em um bangue-bangue ao norte da fronteira. Sua defesa teve sérias dificuldades para brecar Kyle Lowry, que conseguiu ‘ralar’ com Curry durante toda a partida, chegando a 41 pontos, seu recorde pessoal até então, com seis chutes de longa distância. “É uma sensação muito boa. Foram 21 desafios até agora, e fomos capazes de encarar um por um, separadamente, e descobrir diferentes maneiras de vencer. Tem sido divertido”, disse Curry, que marcou 44 pontos, com nove arremessos de fora.

8 – Golden State 109 x 105 Atlanta (02/03)
Prorrogação em Oakland, e o Warriors sobrevive para estender uma série de 25 vitórias seguidas em casa na temporada, ou de 43 no geral, se preparando para superar dias depois mais um recorde do Bulls de MJ, Mestre Zen etc., como anfitrião. Mais relevante aqui, de todo modo, é o fato de a vitória ter rolado com Steph vendo tudo do banco, preservado para cuidar de uma contusão no tornozelo (aquele que quase não dá mais trabalho). O Hawks chegou a tirar uma diferença de 14 pontos para forçar o tempo extra, mas Draymond Green não permitiu que o estrago fosse maior, acertando até uma bola quase espírita de três  para dar a seu time uma vantagem confortável nos minutos finais. “Foi um chute no desespero. É uma situação que acontece. Às vezes a bola quica a seu favor, e aquela caiu para mim, ao contrário de muitas outras”, disse Green, que terminou com 15 pontos, 13 rebotes, 9 assistências e 4 roubos. Thompson foi o cestinha, com 26 pontos, mas em 27 arremessos. Eles tiveram mais dificuldade sem Curry, mas sobreviveram, certo?

7 – Utah 96 x 103 Golden State (31/03)
Jogar em Utah em uma dobradinha (o famigerado “back-to-back”), pela altitude e pela energia da equipe da casa, é sempre uma escala complicada na longa jornada da temporada regular. Quando isso acontece no final de março, pior ainda. E o nível de desgaste mental para o Warriors era ainda mais relevante, devido à pressão pela busca do recorde do Bulls. Aqui, a equipe teve de batalhar contra um rival que luta pela classificação aos playoffs e tinha a liderança no quarto período. Em mais uma reação dramática, Klay Thompson matou uma bola de três a 15 segundos do fim para empatar o placar no quarto período e garantir a prorrogação, depois de o próprio ala ter desperdiçado sua primeira tentativa, salvo por um rebote ofensivo de Shaun Livingston. A toada frenética de suas partidas e o bombardeio de três pontos são claramente o principal chamariz deste time, mas esses caras também comprovam, sucessivamente, sua predisposição às pequenas tarefas que o basquete exige, se impondo em momentos críticos graças a sua versatilidade, capacidade atlética e, também, sua perseverança e confiança de que tudo ainda pode dar certo. Coisa de quem ganha o título e pega gosto pela coisa. “Eles são fantásticos. Nada estava realmente dando certo para nós por boa parte da noite. Eles seguira lutando. Nós sempre competimos, e esta é a melhor parte desta equipe”, afirmou Steve Kerr.

6 – Boston 119 x 124 Golden State (11/12)
Haaaaja coração, amiiigo. Sexto jogo seguido fora de casa, longo giro pela Costa Leste, dupla prorrogação, mas o Warriors conseguiu superar o time de Brad Stevens, sempre muito bem preparado e que viria dar o troco mais para a frente, contribuindo para o drama dos últimos dias vividos pelos atuais campeões. Com muito sofrimento, o Warriors chegou a 24 triunfos consecutivos em seu início de campanha. A sequência, porém, pararia por aí. O jogo foi muito custoso para uma equipe que, em menos de 20 horas, teria de enfrentar a molecada do Bucks em Milwaukee. Curry anotou 38 pontos mesmo numa noite em que errou 18 arremessos. Fez como, então? Com seis bolas de três pontos e 14 lances livres. Mas o nome do jogo dou Draymond Green, gigantesco, com 24 pontos, 11 rebotes, 8 assistências, 5 roubos de bola e 5 tocos.

5 – Golden State 89 x 83 Cleveland (25/12)

A revanche — para o Cavs, claro — depois da final do ano passado. Encontro natalino, como o grande presente da tradicional rodada apelona da NBA. Dessa vez, Kyrie Irving e Kevin Love estavam em quadra, sem que a presença da dupla influenciasse muito no ritmo de quadra, bastante arrastado, como pretendia Davis Blatt. Os LeBrons tinham toda a chance de enfatizar a tese de que, se estivessem completos na final de 2015, a história poderia ser outra. Foi um jogo duro, mas não rolou. “Faz bem enfrentar uma dessas de vez em quando. Se nossa defesa funcionar, então ficamos em boa forma para vencer partidas. Apenas mostramos nossa versatilidade e tentamos vencer e diferentes maneiras”, disse Curry. A defesa do Warriors limitou o ataque do campeão do Leste a apenas 32% nos arremessos de quadra. Green, usando o modelo de tênis que leva o nome de LeBron, terminou com 22 pontos e 15 rebotes. “Eles são confortáveis!”, justificou.

4 – Cleveland 98 x 132 Golden State (18/01)
Para afastar qualquer pulga que pudesse ter sobrado atrás da zoreba, o Warriors marchou por sobre o Cavaliers menos de um mês depois. Foi uma das atuações mais assustadoras do campeonato, com 70 pontos anotados só no primeiro tempo e uma vantagem que bateu na casa de 40 pontos. Como bem diz o relato da Associated Press, Curry não sentia o cheiro de champanhe no vestiário da Q. Era sangue, mesmo. O chutador matou sete bolas de três, torturando seus marcadores, ajudando a despedaçar o coração dos LeBrons, que haviam acabado de concluir uma bem-sucedida expedição pela Conferência Oeste. A derrota deu sua contribuição para a queda de Blatt. Desde então, os atuais vice-campeões buscam uma nova identidade. Sua defesa se tornou porosa, ao passo que o ataque pretende ser mais acelerado. Não necessariamente a melhor forma para desafiar o Golden State em um eventual reencontro no mês de junho. “Hoje foi um exemplo do quão longe estamos de vencer o campeonato”, disse LBJ, à época.

3 – Golden State 120 x 90 San Antonio (25/01)
Exatamente uma semana depois, o Warriors causou mais um massacre em quadra, matando seus adversários em apenas três quartos de jogo, dessa vez no primeiro confronto com o temível Spurs, que ainda tinha pique para segui-los bem de pertinho na tabela, fazendo uma campanha magnífica ao seu modo. O primeiro quarto foi relativamente equilibrado, mas já representou a vitória tática dos anfitriões, que se sentiam muito confortáveis contra a melhor defesa da liga, descolando chutes livres de fora, encaixando seu sistema de transição ofensiva. Não deu outra: as próximas parciais foram vencidas por nove e 14 pontos, respectivamente, virando sacolada. “Nenhum momento é grande o bastante, obviamente. Sabemos que este é apenas um jogo na temporada regular, mas havia um hype em torno dele. E, sempre que tivermos a oportunidade de provar para as pessoas quem somos, para dar mais um passo em nossa jornada, vamos estar prontos”, afirmou Curry, que anotou 15 pontos no primeiro quarto e mais 18 no terceiro. Terminou com 37. Tim Duncan não participou da partida, o que prejudica a defesa do Spurs, certamente, mas o placar foi tão absurdo que este asterisco não valeu muito.

2 – San Antonio 86 x 92 Golden State (11/04)
Em termos de efeitos especiais, superprodução e atuações exuberantes, o primeiro capítulo da série (de temporada regular) entre os dois grandes favoritos ao título) não se compara a este quarto episódio. Mas este vale mais pelo roteiro complexo, cheio de narrativas para se costurar: a) foi a vitória 72, garantido um lugar ao lado do Bulls de 1996; b) o Warriors havia perdido suas últimas 33 partidas em San Antonio — desde 1997! –, incluindo um confronto no dia 19 de março, por 87 a 79, no qual Gregg Popovich conseguiu ditar o ritmo da partida, algo fundamental entre times de estilos tão contrastantes; então, c), pois os atuais campeões conseguiram bater seu grande oponente mesmo num jogo de placar mais baixo, e essa é a expectativa para uma final dos sonhos pelo Oeste, daqui a algumas semanas, fortalecendo-se mental e táticamente; d) encerram a invencibilidade dos Esporas como mandantes neste campeonato, impedindo-os de se tornar o primeiro time na história a fechar uma campanha de 41-0 em casa; e) por fim, que a vitória 72 tenha sido contra o Spurs não deixa de ser uma justiça poética, para dar mais brilho ainda mais sua façanha. “Vamos dar o crédito quando ele é merecido. Parabéns a Steve Kerr e seu Warriors pela vitória número 72. Eles conquistaram isso nesta noite”, tuitou Scottie Pippen, um daqueles que, antes, se preocupava em desprezar essa equipe. Pippen ainda elogiou Curry, que voltou a marcar 37 pontos contra o Spurs, a maior quantia individual que a fortíssima defesa de Pop permitiu durante a temporada. Ah, Duncan também não jogou. Interessante.

1 – Oklahoma City 118 x 121 Golden State (27/02)
A despeito de todo o significado histórico do jogo acima, a vitória mais emocionante de toda a temporada 2015-16 foi esta aqui. Só quem viu o jogo para entender. Kevin Durant estava jogando muito, com Russell Westbrook o acompanhando. O Thunder tinha toda a motivação do mundo diante de sua torcida para tentar se afirmar como postulante sério ao título. Eles tinham a liderança no início do quarto período. Mas Steph Curry tinha outros planos para a noite, caminhando para 46 pontos. Apoiado pela escalação mortal do Warriors, o cestinha esquentou a mão e converteu um arremesso impossível depois do outro, para levar o jogo ao tempo extra, com ajuda de dois lances livres de um Andre Iguodala, de puro sangue frio. E aí veio aquela bomba do meio da quadra na última posse de bola, para deixar qualquer ser humano, decente ou não, atônito no ginásio. “Todo mundo neste vestiário já o viu treinar daquela distância diariamente. Ele tem o maior alcance em seu arremesso que eu já tenha visto na história. Ele faz isso parecer muito fácil”, disse Klay Thompson. Essa partida só reforçaria a aura de praticamente imbatível do time. Em valores simbólicos, o resultado também garantiu ao time de Kerr a vaga antecipada nos playoffs, em fevereiro, com dois meses ainda de disputas pela frente. Só o Lakers bicampeão de 1988 havia conseguido algo do tipo. E Curry também quebraria ali o recorde de chutes de três convertidos em uma temporada, que, para constar, já era seu, de 288.

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Jukebox NBA 2015-15: OKC e a estrada trovejante dos playoffs
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Thunder Road”, por Bruce Springsteen.

Kevin Durant se preparava para enfrentar o Clippers no início de março. Foi quando, numa entrevista para o Orange County Register, admitiu uma leve surpresa pela forma como conseguiu encaminhar sua temporada, podendo se tornar um agente livre ao final do campeonato. “Não diria que estava tudo quieto, mas foi numa boa. Tem sido diferente. Estava esperando muito mais em todas as cidades que visitaria, que todo mundo ia perguntar sobre isso, mas tem sido bastante tranquilo”, afirmou.

É bom que ele tenha curtido essa calmaria. Pois não deve durar muito: com os playoffs se aproximando, Durant e o Okahoma City Thunder vão entrar numa estrada trovejante (vrum-vrum!).

Pegamos carona, então, ouvindo um dos clássicos de Springsteen, numa letra enorme que fala, entre tantos assuntos, sobre carros, garotas, afirmação e também a redenção. Para falar de NBA vida de atleta, os dois primeiros tópicos sempre valem, né?  Mas, para esta equipe especificamente, fiquemos os outros demais.  Tem muita coisa em jogo para o time, graças a está cláusula contratual que permite ao craque encerrar seu vínculo para entrar no mercado.

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Com a possibilidade de um jogador dessa grandeza entrar no mercado, era de se esperar um ba-fa-fá muito maior.  Muitas teorias malucas, especulações envolvendo até mesmo o Philadelphia 76ers. Esse tipo de loucura. LeBron James não deve ter entendido nada.

Rolou só o papo sobre o Golden State Warriors. Quer dizer, são vários os bate-papos que os atuais campeões instigam, pela campanha maravilhosa, pela ascensão de Curry, a volta de Steve Kerr, e tal. Mas teve também aquela história de um flerte à distância com o cestinha. De qualquer forma, não durou muito a discussão, e nem tinha como, devido ao embasbacamento geral da nação com o ritmo do time californiano. Mas não ficou só nisso. A postura um tanto arredia do ala no início da campanha, disparando sem parar contra o jornalismo em geral (essa entidade diabólica), e também o fato de que estava se recuperando de uma sucessão de cirurgias também abafaram a história.

A dupla vai durar até... a) 2016? b) 2017? c) apoentadoria?

A dupla vai durar até… a) 2016? b) 2017? c) apoentadoria?

Agora: se o Thunder por ventura chegar a um confronto com o Warriors na final do Oeste, será impossível segurar. Se a equipe nem chegar até lá, pior ainda. Aí é sinal de férias antecipadas, e Durant, mesmo que apenas entre seus confidentes e Jay-Z, não poderia mais fugir do assunto.

O mais cruel de tudo isso é que um novo insucesso, neste campeonato em específico, seria totalmente aceitável. Golden State e San Antonio estão em outro patamar. São times que olham apenas para os melhores da história se for para encontrar adversário à altura, segundo os números da temporada regular. Ainda assim, cada um com o seu motivo, Thunder e Cavs precisam vencer ou vencer. E aí como faz?  Não é fácil encontrar a equação aqui.

O Thunder de Billy Donovan parte rumo aos mata-matas com o segundo melhor ataque. Seu sistema ofensivo é realmente aterrorizante, impulsionado por dois dos maiores cestinhas da atualidade, mesmo que não tenha passado por nenhuma transformação após a demissão de Scott Brooks. Em seus últimos 13 jogos, a equipe só não passou dos 110 pontos em uma derrota para o Detroit Pistons por 88 a 82, num milagre operado por Stan Van Gundy. Contra Portland, Boston e Denver, passou dos 120 pontos. Mesmo preservando seus principais atletas numa segunda partida contra o Blazers, anotou 115 pontos.

Agora, se alcançou uma marca dessas e saiu derrotado, é porque sua defesa não incomoda tanto assim. É a mesma peneira que permitiu 117 pontos aos reservas do Clippers, com direito a 64 pontos de Austin Rivers e Jamal Crawford, 55,3% nos arremessos e 16 cestas de fora. No geral, o time tem o 12o. melhor sistema defensivo, o que não costuma ser um bom indício na luta pelo título. Especialmente quando o San Antonio Spurs lidera esse ranking e o Golden State Warriors aparece em quinto. Ambos estão no top 3 ofensivo. Na temporada regular, até fizeram jogo duro. Ganharam duas dos texanos. Fizeram dois jogos memoráveis contra os californianos, com direito a cesta inacreditável de Curry. Nos playoffs, o cenário muda, o bicho pega.

MVP e MVP juntos? OKC tem de superar Golden State em diversas frentes

MVP e MVP juntos? OKC tem de superar Golden State em diversas frentes

Para OKC, além se seus próprios resultados e do aspecto emocional, sua maior esperança talvez seja o aspecto financeiro. Se o astro priorizar seus rendimentos, a decisão que faz mais sentido é a de postergar toda essa discussão, ao menos por um ano. Bastaria dizer que vai até o fim de seu atual contrato,.virando agente live ao mesmo tempo que Westbrook e Serge Ibaka.

A expectativa é que ele receba um salário máximo quando virar agente livre, a não ser que, tal como Wade e LeBron fizeram em Miami, aceite dar um desconto para formar um novo supertime. Se der a lógica, todavia, ele receberia um salário equivalente a 30% do teto. Em 2016, a projeção é que o teto seja de US$ 90 milhões. Em 2017, US$ 108 milhões. Só não precisa calcular ainda a diferença. Pois tem mais um detalhe: se deixar para assinar após seu décimo ano de NBA, o cestinha terá direito a 35% do teto. Seu salário poderia começar na casa de US$ 38 milhões. No total, poderia ganhar algo em torno se US$ 40 milhões a mais.

Praticamente a NBA inteira estará prepararada para fazer uma proposta a Durant, se ele assim desejar. Até mesmo o Warriors, mesmo se bicampeões. O que o astro procuraria? Não há nenhuma reportagem que tenha dado conta disso ainda. Tudo muito silencioso ainda. Prenúncio de tempestade?

A pedida? O título, derrubando em sequência, Spurs, Warriors e Cavs. Imaginem só? Aí quero ver jogador cair na estrada.

A gestão: pela primeira vez desde que chegou ao clube, lembrando que o projeto se iniciou ainda em Seattle, vimos Sam Presti agir sob forte pressão com preocupações mais imediatistas, e os resultados são questionáveis. Quando as preocupações se tornaram mais imediatistas, . Numa primeira etapa,  seu trabalho de reconstrução foi aclamado em toda, servindo como exemplo para muita gente. Muito antes de Sam Hinkie ser apedrejado em Philly, Presti entendeu que, partindo do zero, precisaria de muita paciência para colocar sua equipe nos trilhos. Já faz tanto tempo que OKC se situa no topo da liga, que não podemos nos esquecer de como tudo começou.

Durant foi escolhido em 2007. Russell Westbrook veio em 2008. Por fim, em 2009, James Harden completou uma trinca de futuros All-Stars, Dream-Teamers, candidatos a MVP. Foram, respectivamente, os segundo, quarto e terceiro colocados em seus respectivos Drafts. Para ter direito a uma seleção alta dessas, é claro que o Thunder não poderia render lá muito bem em quadra. Nos dois primeiros anos de Durant, venceram, respectivamente, 20 e 23 partidas apenas.

Presti conseguiu tirar Donovan da Flórida. OKC só não mudou muito assim

Presti conseguiu tirar Donovan da Flórida. OKC só não mudou muito assim em quadra

A diferença é que, na hora de detectar talentos, Presti teve muito mais sorte e competência que Hinkie, que acaba de se demitir de um time que tem apenas dez triunfos a poucos dias do fim do campeonato. A sorte pesou para a escolha de Durant, com o time entrando no top 3 de modo inesperado e vendo o Portland Trail Blazers apontar Greg Oden como o calouro número um. Essa é uma das grandes interrogações para a torcida do Blazers: e se eles tivessem ido de Durant? De qualquer forma, Westbrook e Harden não eram vistos como unanimidades em seus processos seletivos, ao passo que a lista de sucessos de sua gestão também se estende a Serge Ibaka e Reggie Jackson, que foram escolhidos em número 24. Steve Adams cumpre bem seu papel de lenhador atlético, tem evoluído de pingo em pingo e ainda não completou nem 23 anos. Andre Roberson já é um marcador enjoado. Sobre Cameron Payne, Mitch McGary e Josh Huestis, está muito cedo ainda. Dá para dizer que o armador tem muito talento.

Presti foi tão bem na hora de draftar que teve a vida ligeiramente complicada pouco depois, quando chegou a hora de tratar do segundo contrato de muitos desses. Como no caso do Sr. Barba, eleito melhor sexto homem da liga em 2012, e tal. Entre ele e Ibaka, a franquia preferiu o pivô, deixando o ala-armador escapar para poupar alguns caraminguás. Fazendo todas as contas do que guardaram então, comparando com o que estão gastando agora com Kanter, ainda é complicado assimilar essa. Faltou visão ao dirigente. Por menor que seja o mercado de OKC, por mais que os proprietários tenham ordenado a contenção de gastos, o teto salarial da liga viria a subir consideravelmente nos anos seguintes, e seria possível assimilar este contrato sem muito esforço. Multa por multa, estão pagando pelo jovem turco.

O outro lado da questão é que as pessoas mais próximas de Harden garantem que ele não iria aceitar a condição de coadjuvante de Durant e Westbrook por muito tempo. Que cedo ou tarde, forçaria uma troca, mesmo de contrato renovado. Por tudo o que se noticia em Houston hoje sobre seu comportamento, essa tese tem lastro bastante razoável. Ainda assim, numa ressalva final, Presti poderia ao menos ter recebido mais em troca por um jogador desse quilate. Num de seus atos raros precipitados, pode ter deixado pacotes melhores na mesa. Mesmo sem Harden, OKC se manteria como candidato ao título. Seu alcance, porém, foi limitado quando as lesões começaram a aparecer, e Kevin Martin não estava mais por lá, enquanto Jeremy Lamb empacava.

Esse ganchinho de Kanter vai cair sempre. Mas há mais tarefas para administrar

Esse ganchinho de Kanter vai cair sempre. Mas há mais tarefas para ele tocar

Se o retorno por Jackson foi, relativamente, melhor, também foi a um custo financeiro alto, devido a iminentes negociações que deveria ter com Kanter e Singler, a mais de US$ 21 milhões ao ano — valor, que, verdade, será amenizado pela nova realidade financeira da liga. A troca pelo turco foi um ato de semidesespero de Presti. Sem Durant em quadra, no ano passado, enfim o gerente geral se mexer durante um campeonato, tentando de tudo para chegar aos playoffs. O New Orleans Pelicans fechou a porta na última rodada. O jovem pivô virou agente livre restrito e foi um dos raros casos recentes a ter uma proposta nessas condições. Veio de Portland, ao que tudo indica num ato deliberado de Neil Olshey para sacanear um concorrente da Divisão Noroeste.

Kanter tem uma das munhecas mais habilidosas da liga. Quando acionado no garrafão, no mano a mano, a chance de cesta é grande. Westbrook o adora, por lhe render assistências praticamente automáticas. Ele tem uma das munhecas mais habilidosas da liga.  Numa projeção por 36 minutos, tem médias de 22,1 pontos, 14,0 rebotes (5,3 na tábua ofensiva). O tipo de cestinha que poderia dar um alívio aos astros, já que Dion Waiters parece um caso perdido, mesmo. Aos 23 anos, valeria o investimento, mas talvez para um clube com pretensões mais amenas. Pois, se precisamos fazer uma projeção por 36 minutos para valorizar seus números, é porque joga pouco (20,8 por partida). Pode isso? Não só pode, como precisa. Pois a defesa, num jogo de alto nível, vai ser difícil de ser sustentada com ele. Aos poucos, o turco vai evoluindo nesse sentido. Mas não está pronto para lidar com ataques poderosos como o de Warriors e Spurs. A dúvida que fica: quando estiver pronto — se isso acontecer, claro –, Durant ainda estará por lá?

Olho nele: Serge Ibaka

Os playoffs estão chegando, e Ibaka ainda não acertou a mão

Os playoffs estão chegando, e Ibaka ainda não acertou a mão

Se Durant e Westbrook estão fazendo campanhas extraordinárias, o mesmo não pode ser dito sobre o pivô congolês, que, discretamente, ajudado pelo desempenho incrível de seus companheiros estrelados, vive talvez a pior temporada de sua carreira. Ou pelo menos a menos e produtiva. Pior: a queda de rendimento deste superatleta acontece dos dois lados da quadra.

Em tese, sua capacidade como o defensor seria sua contribuição mais relevante para a equipe, como um caso raro de marcador que pode executar tão bem a parede numa situação de pick-and-roll como a cobertura vindo do lado contrário para proteção do aro. Acontece que essas habilidades e sua envergadura intimidadora não estão surtindo tanto efeito assim neste ano. Você pode até não botar muita fé na medição “Real Plus-Minus” do ESPN.com, como medição exata do valor de um jogador, mas quando esse atleta despenca do número 15 para o 113 no ranking de defensores, de um ano para o outro, acho que é algo digno de registro. E OKC precisa de um Ibaka em sua melhor forma, para derrubar eventualmente San Antonio (LaMarcus, Diaw, West) e Golden State (Draymond Green).

Especialmente quando ele não está mais convertendo com regularidade seus arremessos de longa distância. Depois de alcançar a marca de 38,3% nos tiros de fora em 2013-14, Ibaka regrediu para os mesmos 33,3% de quatro anos atrás, com a diferença de que hoje arrisca 2,6 chutes por partida, contra 0,1 daquela época. No ano passado, este número estava na casa de 3,5. Olhando sua tabela de arremessos, percebe-se que o congolês está priorizando os tiros médios agora, com 34,6% de suas tentativas saindo do perímetro interno mais próximo à linha exterior, contra 29,1% em 2014-15. Seria um pedido de Donovan? Difícil de entender. Pensando nos playoffs, contra defesas mais preparadas, é uma boa estratégia, mesmo que ele esteja convertendo 45,1% desses disparos? Para alguém que definitivamente não consegue criar nada para seus companheiros, Ibaka precisa matar essas bolas. Do contrário, será apenas mais um jogador a encurtar a quadra para Durant e Westbrook, ao lado de Andre Roberson, Enes Kanter ou Steven Adams.

jeff-green-okc-trading-cardUm card do passado: Jeff Green. O cara já passou por tantas equipes que talvez hoje seja fácil esquecer que, em seus primeiros anos de liga, foi o primeiro parceiro escolhido por Presti para fazer a escolta de Durant. Com o tempo, a base ganhou muito mais talento… A ponto de o ala, inconsistente desde sempre, virar um item supérfluo no elenco. E a primeira troca de sua carreira teve o Boston Celtics envolvido, com Kendrick Perkins.

Obviamente que a saída de Green não é tão lamentada pelo torcedor de OKC como a de James Harden. Mas o que os dois têm em comum é a constante busca de Presti por uma peça complementar ideal e duradoura para o trio Durant-Westbrook-Ibaka. A lista se estende a Kevin Martin, Jeremy Lamb, Caron Butler e, agora, Dion Waiters. Foram todas tentativas frustradas, por um motivo ou outro, de preencher essa lacuna no perímetro – de um terceiro cestinha de preço médio que possa ajudar seus craques e se contentar com esse status. Mesmo os que deram certo se tornaram problemas, por terem se valorizado demais.

No caso de Green, o ala recebeu um bom segundo contrato em Boston, mesmo depois de ter perdido um campeonato inteiro devido a um problema no coração. Mas ele nunca justificaria o investimento. Estamos falando de um dos atletas mais inconsistentes da liga, parado no tempo, que tem sua dedicação bastante questionada. Os números não contribuem muito para sua defesa. Pode-se fuçar bastante em qualquer métrica disponível por aí: vai ser difícil encontrar algum dado que indique evolução em seu jogo.

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Jukebox NBA 2015-16: tudo ótimo para o torcedor do Timberwolves
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Giancarlo Giampietro

jukebox-wolves-supergrass

Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Alright”, por Supergrass.

Com o placar apontando vantagem na casa de dois dígitos para o Golden State Warriors, pelo segundo tempo, você então decide que é a hora certa para dormir, dando a fatura como liquidada. Para acordar, abrir o aplicativo da NBA no celular como sua primeira atividade do dia – sim, é uma doença – e arregalar o olho remelento com o placar: o Minnesota Timberwolves venceu pela prorrogação, por 124 a 117. Em Oakland.

O Wolves?!

E por que não?

Coisa de duas semanas atrás, ainda que em casa, essa garotada já havia dado uma canseira nos atuais campeões. Agora, contra o mesmo oponente ainda mais desgastado – física e, principalmente, emocionalmente –, eles concluíram o golpe. Nos últimos 18 minutos da partida, desde o minuto final do terceiro período, eles venceram por 52 a 33, forçando a prorrogação no meio do processo até definir a contagem final. Sobrava energia: durante esse intervalo, foram 10 turnovers forçados e 23 lances livres cobrados, contra apenas dois dos oponentes, derrubando, por uma noite que seja, a tese de favorecimento da arbitragem, caseira ou pró-superestrelas.

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Quando o torcedor do Wolves – sim, eles existem, conheço pelo menos dois deles – vê uma partida dessas, então, só espera que seja o sinal do que vem pela frente. É aí que entra a empolgante “Alright”, do subestimado Supergrass, como trilha: “Nós somos jovens, corremos livres… Nós nos sentimos muito bem, tudo ótimo”. Quando você tem um pivô como Karl-Anthony Towns e um ala como Andrew Wiggins para desenvolver, mais um punhado de atletas interessantes, você vai se sentir que nem os caras do clipe acima. Sorridentes, empolgados, confiantes, desafiadores. É um futuro muito promissor, e não importa que a equipe tenha perdido mais de 50 jogos novamente.

Kartl-Anthony Towns, um ponto alto em grande estreia pela NBA

Kartl-Anthony Towns, um ponto alto em grande estreia pela NBA

Só precisa combinar com o proprietário Glen Taylor: que a franquia, como negócio, fora de quadra, não se torne um obstáculo insuperável. Ora, não custa lembrar que estamos tratando de um clube que completa agora 12 anos de jejum, distante dos playoffs desde 2004. Dos 17 jogadores que defenderam o time naquela temporada, a melhor de sua história, apenas Kevin Garnett está em atividade ainda, enquanto boa parte daquele elenco se aposentou há tempos. Fred Hoiberg e Latrell Sprewell que o digam.

Naquele ano, ainda sob o comando do saudoso Flip Saunders, o Minnesota alcançou a final do Oeste, superando pelo caminho o poderoso Sacramento Kings, até perder para o Lakers de Shaq, Kobe, Malone e Payton. Garnett estava no auge atlético, aos 27 anos, com médias de 24,2 pontos, 13,9 rebotes, 5,0 assistências, 1,5 roubo e 2,2 tocos, em 39,4 minutos. Ele era um animal incontrolável, basicamente.

Aquela boa sensação durou pouco. Na temporada seguinte, com Sam Cassell abalado por lesões e Sprewell cuspindo fogo por uma renovação contratual, a química do time se desintegrou. Saunders, depois de 10 anos no cargo, foi demitido com uma campanha de 25 vitórias e 26 derrotas. Seu amigo pessoal, o gerente geral Kevin McHale assumiu a barca e até foi bem, com 19 vitórias e 12 derrotas. Não bastou, todavia, e a equipe nem mesmo se classificou para os mata-matas. Acho que Kevin Love já ouviu essa história antes…

Um dos poucos acertos das diversas diretorias empossadas desde então, Love – que veio numa troca por OJ Mayo! – tinha tudo para ser o pilar do clube em uma nova fase. Mas nem mesmo quando dirigido por uma mente brilhante como a de Rick Adelman, com a companhia de Rubio, Kirilenko, Pekovic (ainda em forma) e Martin, conseguiu chegar aos playoffs. Obviamente que esses caras enfrentaram uma Conferência Oeste absurda e consistentemente fortíssima. Mas os seguidos engasgos de sua gestão foram mais determinantes.

Derrick Williams não impressionou muita gente em Minnesota

Derrick Williams não impressionou muita gente em Minnesota

Selecionar Wesley Johnson em quarto no Draft de 2010, com DeMarcus Cousins, Greg Monroe, Paul George e Gordon Hayward disponíveis, foi um erro, e tanto. Mas não tão grotesco assim, quando recuperamos o desempenho do mesmo David Kahn pelo Draft do ano anterior, quando tinha as quinta e sexta escolhas e foi com a dobradinha Rubio e Jonny Flynn, sem que ninguém entendesse. Foi um desastre em diversos níveis: eram dois armadores que não sabiam arremessar e dificilmente poderiam jogar juntos; Flynn, aquele que se apresentaria de imediato, enquanto o prodígio espanhol guiria em Barcelona, não combinava em nada com o sistema de triângulos de Kurt Rambis; mas, pior, se era para planejar uma futura dupla armação, um certo Stephen Curry estava ao seu dispor, além de Jrue Holiday, Ty Lawson, Jeff Teague  eBrandon Jennings. (E, se fosse para pensar em jogador para outras posições, poderia optar ainda por DeMar DeRozan ou Jordan Hill.)

Você acha que Kahn parou por aí? Não, em 2011, já desmoralizado, encarou o Draft como oportunidade de fazer caixa, para poder demitir Rambis e pagar seu último ano de contrato. Depois de selecionar Derrick Williams na segunda posição – mesmo que ele jogasse na mesma posição de Love e Michael Beasley… –, o gerente geral orquestrou uma sequência frenética e inacreditável de trocas envolvendo a 20ª escolha, faturando  a grana que precisava. Nomes como Donatas Motiejunas, Nikola Mirotic, Bojan Bogdanovic e Chandler Parsons aparecem como consequências desses negócios. O repórter Brian Windhorst, do ESPN.com, registrou tudo aqui. Santamãe, é de doer. Para desanuviar o dia, então, lembremos a piada recorrente de Bill Simmons, com o capitão Kirk pirando:

Demorou, mas o festival de trapalhadas custou a David Kahn seu emprego. Seu substituto seria um velho conhecido, Flip Saunders. O ex-treinador agora voltava como presidente do clube, chefiando o departamento de basquete. Nem mesmo seu carisma e currículo foi capaz de convencer Love a abraçar a causa, porém. Chegara a hora, então, de mais um processo de reformulação. Mas o que era para ser deprimente acabou virando esperança, rapidamente. Contando com uma ajudinha de LeBron James (que não quis saber de trabalhar com o garotão Wiggins em Cleveland), muita sorte (primeira posição num Draft com Towns) e um ótimo trabalho mo recrutamento de calouros, Saunders compôs este núcleo empolgante de hoje. Só é lamentável que o câncer não o tenha permitido ver a continuação do projeto. #RIP

Quando um time entra na última semana da temporada com apenas 26 vitórias e a quinta pior campanha no geral, é difícil de classificar isso como um sucesso. Mas, se pudermos ignorar que a equipe tenha a quarta pior defesa e o 14º melhor ataque do campeonato, se abstrairmos os números mais básicos, existem pontos positivos para se comemorar, que servem como base para o otimismo de uma torcida que já sofreu demais desde o ocaso da era Garnett. É só pegar a vitória em Oakland como exemplo, com 35.

A primeira grande notícia foi a estreia de Towns, que fez um campeonato magnífico para alguém de alguém que só vai fazer 21 anos no próximo aniversário da República brasileira. O dominicano (para o mundo Fiba) é um pivô perfeito para o basquete vigente. Na verdade, ele seria perfeito para qualquer época, de tantos recursos que tem. Seus fundamentos, flexibilidade e categoria em geral (a ponto de vencer um concurso de habilidades em Toronto) já o colocam nos grupos mais exclusivos da NBA.

Curry e Rubio até poderiam ter jogado juntos

Curry e Rubio até poderiam ter jogado juntos

Com 49 double-doubles, está empatado em terceiro, no ranking geral, com John Wall. Andre Drummond vem em primeiro, com 65, e Russell Westbrook em segundo, com 52. Aparece logo acima de Boogie Cousins, DeAndre Jordan e Pau Gasol. Ele já é o 15º atleta mais eficiente da liga. O oitavo em média de rebotes. O décimo em tocos. E o 27º entre os cestinhas, dividindo a bola com Wiggins. E pensar que, em abril do ano passado, boa parte dos scouts considerava que Jahlil Okafor estaria mais preparado para causar impacto como novato. Hoje não há sequer uma discussão possível entre um e outro.

Os números gerais de Wiggins, em projeção por minutos, não indicam muita evolução por parte do canadense. Agora, se for para dividir sua temporada mensalmente, os números ficam muito mais interessantes – assim como os dados avançados. Em janeiro, tinha médias de 19,4 pontos, só 3,8 rebotes e 1,6 assistência, com 43,8% de quadra e horripilante 17,1% em 2,2 chutes de três, batendo também 7,0 lances livres em 35,0 minutos. Em março, foram 19,7 pontos, 3,7 rebotes, 2,5 assistências, e com índices muito superiores na finalização: 50% de quadra, 42,9% de três, com 5,7 lances livres por 35,5 minutos. O volume de jogo não cresceu tanto de um mês par ao outro, mas o ganho qualitativo é indiscutível. De todo modo, para constar, em seus últimos cinco jogos, bateu a casa de 30 pontos três vezes, incluindo os 32 que anotou em uma partida memorável contra o Warriors. Ah, e por mais que esteja caminhando para sua terceira temporada como profissional, vale prestar a atenção em sua certidão de nascimento: é apenas oito meses mais velho que Towns. Ainda tem muito o que progredir.

Zach LaVine, também de 1995, 20 anos, foi outro que arrebentou em março: 17,8 pontos, 2,7 assistências, 2,0 turnovers, 49,8% de arremesso, 47,4% de três pontos, em 37,2 minutos. Parece que a comissão técnica, enfim, desistiu abortou o plano de torná-lo um armador, pelo menos por enquanto. Não creio que tenha fundamentos, muito menos cacoete para isso. Lembra muito o caso de um jovem Jamal Crawford, e é nesse tipo de jogador que ele pode se desenvolver, como um pontuador incendiário vindo do banco, ou um chutador perigoso escoltando Towns e Wiggins, mas muito mais atlético, com potencial para se tornar um defensor bem mais eficaz.

Jogo de LaVine pode ter muito mais que enterradas

Jogo de LaVine pode ter muito mais que enterradas

Para deixar o jogo um pouco menos complicado para esses garotos, Ricky Rubio fez sua melhor campanha desde que chegou aos Estados Unidos, mesmo que seu arremesso ainda esteja bem abaixo da média. O chute pode não cair ainda, mas sua visão de quadra excepcional e seu senso de organização de quadra fazem toda a diferença. Observe o espanhol e veja o quanto ele canta as jogadas e o posicionamento para os companheiros. É um verdadeiro assistente e exerce uma influência enorme nesse sentido,  dos dois lados da quadra. O time ataca muito mais quando ele joga e cai na defesa com ele no banco, em suma.

Tem mais: Gorgui Dieng viu Towns dominar a zona pintada (e um pouco mais que isso), perdeu em produtividade, mas segue como um jogador de multifacetado, também de impacto relevante para a equipe.  Shabbazz Muhammad é uma excelente arma para tirar do banco, um cestinha explosivo, que foi muito importante no primeiro ano de Wiggins, aliviando a pressão física sobre Wiggins. Tyus Jones, penando de início com a capacidade explosiva da concorrência, vai se soltando aos poucos e pode agir sem pressa, enquanto Rubio distribui as cartas. Em Nemanja Bjelica vale a aposta. Vai chegar mais um novato de ponta este ano. É uma forte base para ser cultivada.

Em março, apenas com o mentor Kevin Garnett afastado, o time já foi razoavelmente competitivo, vencendo seis, perdendo nove. Desses nove reveses, sete vieram contra adversários posicionados na zona de playoff, enquanto um oitavo aconteceu com cesta de Mirza Teletovic no estouro do cronômetro, pelo Suns.  A tardia promoção de LaVine  contribuiu para isso, ajudando a espaçar um ataque sufocado. Se você tirar Tayshaun Prince da rotação e inserir mais um arremessador (alô, Buddy Hield), as coisas ficam mais interessantes, prontas para mais um passo em sua evolução. Só precisa de calma. a equipe tem hoje 26 vitórias, dez a mais que na temporada passada, mas é muito pouco ainda.

Em uma grande reportagem que esmiúça o trabalho do clube com Andrew Wiggins, Rob Mahoney conta uma anedota que diz muito sobre o estado do Timberwolves hoje. Um diretor estava preparado para levar os atletas para um jantar em Salt Lake City, mas teve de rever seus planos ao descobrir que o restaurante escolhido só permitia a entrada de glutões com mais de 21 anos. Quatro jogadores seriam barrados, então, sendo três deles titulares. Com essa garotada, vai levar um pouco de tempo ainda para eles sonharem em desafiar um rival do porte do Golden State Warriors por mais que uma ou duas noites.

Ainda não são todos os estabelecimentos que podem receber Towns e Wiggins

Ainda não são todos os estabelecimentos que podem receber Towns e Wiggins

A pedida? Ainda maaaaais sorte no Draft. A esta base promissora, Minnesota ainda vai poder adicionar, no mínimo, a oitava escolha do Draft deste ano. Isso, claro, se algo muito improvável acontecer: que três times atrás na tabela saltam à sua frente na loteria. Por outro lado, o clube tem 8,8% de chances de abocanhar a primeira posição. Independentemente do resultado, poderá adicionar mais um jovem talento, ou tentar uma troca por um sólido veterano. Então fica o apelo: por favor, Taylor, não detone isso.

A gestão: aí que mora o perigo. A morte de Flip Saunders não só foi um baque emocional para a franquia como também deixou todo seu departamento de basquete com um status de interino. Do gerente geral Milt Newton ao técnico Sam Mitchell, que foram avaliados pelo proprietário Glen Taylor durante o ano. Há poucos rumores sobre o futuro da dupla, até porque o clima de indefinição vem de cima.

Aos 74 anos, o bilionário Taylor está preparadíssimo para vender o clube e aumentar sua fortuna de US$ 2,3 milhões. Como já registrado na faixa sobre o Grizzlies, um dos acionistas minoritários de Memphis abriu negociações para fazer a compra. O negócio, no momento, está emperrado. O atual mandatário precisa agir, e rapidamente. Junho, com o Draft, e julho, com o mercado de agentes livres, já está chegando.  Se vai manter seu controle, pode decidir sobre Newton e Mitchell. Do contrário, se for para vender, o racional seria deixar que o novo grupo assumisse a bronca.

Tendo assistido Saunders na montagem do atual elenco, é de se imaginar que o atual gerente geral ganhe um voto de confiança, mesmo que não tenha uma extensão contratual de longa validade. No momento, pelo que tiramos da reportagem de Mahoney para a Spors Illustrated, há uma boa estrutura montada para desenvolver o elenco. Todos os jogadores são obrigados a se apresentar para uma sessão de treinos individuais, de fundamentos, de 30 minutos, antes que as movimentações táticas comecem. Os mais jovens ficam muito mais tempo nesse tipo de exercício e chegam a passar aproximadamente seis horas nas instalações do clube.

Mitchell ficará incumbido pelo desenvolvimento de Wiggins?

Mitchell ficará incumbido pelo desenvolvimento de Wiggins?

Seu departamento de preparação física parece bem sofisticado e criativo, preocupado em fazer exercícios específicos para cada atleta, dependendo dos movimentos que eles costumam fazer em quadra – algo que varia claramente de um armador para o pivô. Faz muito mais sentido do que simplesmente montar uma academia e deixá-los por conta, com os pesos e elásticos de sempre.Já a questão sobre Mitchell é mais delicada. No momento, ele não pode ser julgado por resultados, mas, sim, pelo processo que tenha conduzido durante a temporada. O fato é que, a despeito da badalação, não é um trabalho tão simples: nas competições juvenis e mesmo durante seu único ano em Kansas, Wiggins se habituou a se impor física e atleticamente. Num alto nível de jogo, precisa de mais. Mitchell, obviamente, não é o único responsável por esse trabalho, e sua comissão técnica vem fazendo um bom trabalho nessas tarefas individualizadas.

Para o canadense, há uma infinidade de detalhes que o superatleta precisa captar ainda se pretende, mesmo, se inserir na elite da NBA. Movimentação fora de bola, leitura das diferentes coberturas armadas para se conter alguém tão explosivo e concentração em tarefas defensivas foram alguns dos pontos levantados pela diretoria. Além da motivação.  “Simples assim: seus melhores jogos acontecem contra os melhores jogadores”, diz Newton. “É tudo o que precisamos ver: quando ele junta todas as peças, vai se tornar um desses jogadores top. Mas, nesta liga, os 14º e 15º jogadores podem te humilhar se você não se preparar para enfrentá-los.”

O senso comum dos bastidores da liga hoje é de que o técnico está ultrapassado, despreparado para conduzir jogadores tão talentosos, mas carentes como esses. Sua insistência com Tayshaun Prince, o tempo gasto com LaVine na reserva de Rubio e seus padrões de substituição são altamente questionáveis, assim como sua aversão ao arremesso de três pontos. Por outro lado, o treinador é uma figura popular dentro do vestiário. Mas seu cartaz é ainda maior que isso: o ex-ala é visto praticamente como prata da casa e adorado por Taylor. Como atleta, defendeu o clube por dez temporadas, sendo, inclusive, membro do primeiro elenco em 1989. Vão comprar essa briga?

Olho nele: Nemanja Bjelica

Bjelica tem o pacote técnico ideal para o stretch four que a NBA tanto cobiça

Bjelica tem o pacote técnico ideal para o stretch four que a NBA tanto cobiça

Além de um calouro bem cotado, o Minnesota pode ganhar mais um grande reforço para a próxima temporada: o talentosíssimo ala-pivô sérvio, já mais adaptado à NBA. É aquela história: a transição de craque de Euroliga para operário nos EUA nem sempre é fácil,mesmo aos 27 anos. Basta buscar na memória as dificuldades encontradas por Splitter em San Antonio.

“Ele provavelmente nunca penou tanto assim antes. Provavelmente sempre foi um dos melhores jogadores, ou um dos melhores em suas equipes. Agora ele olha para a quadra, e há muitas noites em que ele perde em força, rapidez e tamanho. Então tem uma curva de aprendizado”, disse o técnico Mitchell. Acho que as pessoas erram quando falam que ele tem 27 anos e veio da Euroliga, e que seria fácil. Não funciona assim.”

Depois de receber bons minutos nas primeiras semanas, Bjelica foi gradativamente sumindo da rotação, seja pela decisão do técnico de por Gorgui Dieng mais ao lado de Towns, pelos seus próprios erros e também por uma lesão no joelho.

Nestes últimos momentos de campeoanto, enfim foi resgatado pelo teimoso Mitchell. Estava na hora de reinseri-lo. O sérvio foi um grande investimento de Saunders. E válido. Bjelica tem a visão de quadra e a habilidade nos arremessos de três para ser uma peça complementar perfeita num time que já concentra muito o ataque em Towns e Wiggins. O palpite é que ele voltará pata seu segundo ano muito mais confortável, pronto para colaborar em uma campanha de retomada.

ndudi-ebi-card-wolvesUm card do passado: Ndudi Ebi. Se você  for conferir com cuidado o elenco da temporada 2003-04, aquele vice-campeão do Oeste, vai notar que apenas um atleta nasceu nos anos 80: o ala Ebi, de 1984, praticamente uma vareta. Assim como Garnett, Ebi entrou na NBA direto do high school.  Ao contrário do craque, deixou a liga apenas dois anos depois, jogando exatamente 19 partidas. Nem 20!

O que aconteceu foi o seguinte: preocupado em formar um time experiente em torno de KG, o clube queria deixar Ebi na D-League. Àquela época, porém, era proibido que jogadores em seu terceiro ano de contrato fossem aproveitados desta maneira. Uma regra bem besta, aliás. Daí que, sem ter a mínima confiança na produção imediata do rapaz, Kevin McHale tomou uma atitude drástica: mandou o jovem nigeriano para a rua. Tudo para poder contratar o inigualável Ronald Dupree. Se não se lembra dele, tudo bem. O máximo que o atlético e aguerrido ala fez em sua carreira foi a média de 6,7 pontos pelo Bulls, em 2004, como novato.

O episódio todo fica ainda mais esdrúxulo quando levamos em conta o contexto da escolha de Ebi. A franquia estava sob pesada punição da NBA, que lhe havia retirado até cinco escolhas de Draft devido a uma negociação ilegal com Joe Smith, em 2000. Antes de se tornar um dos andarilhos da liga com mais milhagem, ainda muito cobiçado, o ala-pivô assinou um contrato bem barato com o Wolves, supostamente animado para fazer dupla com Garnett. A liga fuçou, no entanto, é descobriu um acordo, em off, entre o jogador e o clube, de que, dois anos depois, renovariam por muito mais grana – o tipo de acordo que, diga-se, se repete por aí, mas difícil de ser provado. Revelado o escândalo, veio a dura punição, que depois seria abrandada: em vez de cinco escolhas, o clube perdeu três. Ainda assim, o estrago foi grande, envelhecendo a base, contribuindo muito para a saída de seu grande astro, desanimado, anos depois. Que Ebi tenha sido esse desperdício todo só deixou a situação deprimente demais.

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Aprendendo rápido, Mogi se exibe para olheiros da NBA em Portland
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Giancarlo Giampietro

No busão com a galera: Wesley (segundo sentado à direita)

No busão com a galera: Wesley (segundo sentado à direita)

Começou nesta segunda-feira, em Portland, o Nike Hoop Summit, um dos eventos juvenis mais importantes do calendário internacional, especialmente para os clubes da NBA. Providencial para scouts conferirem de perto em um só lugar, durante toda uma semana, diversos atletas de muito potencial, de todos os cantos do globo, e que provavelmente ainda não têm uma ficha tão extensa assim em seus banco de dados.

O ala Wesley Alves da Silva, ou, simplesmente, Mogi, do Paulistano, certamente se enquadra nesse grupo, de talentos intrigantes a serem avaliados com muita atenção a cada sessão de treino até a realização do jogo de sábado, contra a equipe dos Estados Unidos (que não necessariamente é a seleção americana oficial).

Georginho, promessa do Pinheiros, esteve por lá no ano passado. Agora é a vez do campeão de enterradas do NBB, seu companheiro na Copa América Sub-18 de 2014, em Colorado Springs, se testar diante de plateia exigente e curiosa. De olho em um Draft considerado fraco de modo quase unânime, se causar boa impressão na capital hipster do Oregon, deve entrar na discussão imediatamente. Mas é difícil falar em cotação no momento, até pela aura de mistério em torno de seu nome.

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Para alguém que mal jogou pelo time principal do Paulistano, Mogi é encarado como uma interrogação por muitos scouts que entraram em contato com o blog nas últimas semanas. Dos sites especializados, apenas o DraftExpress o acompanha com alguma regularidade, listando-o hoje como o décimo melhor prospecto na geração de 1996. Para o NBADraft.Net, seria o oitavo nessa lista.

No radar

Mogi mal joga pelo NBB. No final de semana das estrelas, brilhou

Mogi mal joga pelo NBB. No final de semana das estrelas, brilhou

Isso, na verdade, só torna ainda mais interessante o convite que recebeu. Ajuda, claro, ser representado nos Estados Unidos pelo gigantesco WMG (Wasserman Media Group). O grupo passa, sim, por reestruturação após a saída do superagente Arn Tellem para a gestão do Detroit Pistons, mas ainda tem cartela impressionante de clientes. Mas o interesse por Mogi não se justifica tão somente por lobby, claro. Cada um dos 12 estrangeiros convocados chegou ali depois de muita campanha nos bastidores, pode ter certeza.

Para Mogi ser listado, é porque há um interesse, ou curiosidade óbvios por parte da NBA. Resta saber se pesa mais a necessidade daqueles clubes que o acompanham mais de perto, desde aquele torneio em Colorado Springs – quando entrou na mira do DraftExpress, referência óbvia no serviço, por exemplo –, passando pelo adidas Nations do ano passado, na Califórnia. Ou se influencia mais a leva de times que só agora procura se informar melhor pelo ala nascido em Mogi Guaçu.

Se agora está num evento patrocinado pela multinacional norte-americana, foi em atividade conduzida por sua principal concorrente, alemã, no mercado de material esportivo que Mogi fez mais barulho, para se consolidar como um prospecto de primeiro time.

Em Anaheim, o brasileiro brilhou em um combinado sul-americano, ao lado dos compatriotas Daniel Bordignon Barbieri (ala-pivô do Baskonia, em franco desenvolvimento na Espanha), do pivô Lucas “Pipoka” Siewert (pivô já há um tempo no high school americano, na Califórnia e tem hoje sete ofertas de grandes universidades) e do armador Guilherme Santos (hoje segurando o rojão em final de temporada pelo Bauru, após a infeliz lesão de Ricardo Fischer).

Em quatro jogos, Mogi teve médias de 23,8 pontos, 7,3 rebotes e 2,3 assistências, acertando 66,6% de seus arremessos de quadra. Foi o cestinha e também o jogador mais eficiente da competição. Quem esteve por lá, de olho mais nos jogadores de fora do país, anotou seu nome no caderninho. O que nem sempre acontece, devido ao gigantesco tamanho do evento, com nove seleções diferentes, além de uma leva de quase 40 “conselheiros” universitários, como a sensação australiana Ben Simmons, o cestinha Buddy Hield, o jogador do ano, o ala-pivô Brice Johnson, destaque de North Carolina, entre outros.

Físico

Capacidade atlética e envergadura para ganhar nas enterradas

Capacidade atlética e envergadura para ganhar nas enterradas

Do ponto de vista do biótipo, tem “ferramentas” que os scouts procuram: bom tamanho (1,97m) e envergadura e capacidade atlética acima da média, ou muito acima da média, seguindo os parâmetros do NBB) com agilidade, mobilidade lateral, explosão em ataques verticais e impulsão. E, quando você soma impulsão e longos braços, tem um candidato sério a dar show em enterradas. Outro ponto a ser destacado: o rapaz é daqueles que parece jogar com mola nos pés, capaz de saltar várias vezes em sequência, sem perder força.

Por outro lado, Wesley ainda é muito magro, porém, a despeito de ter ganhado alguns quilos de músculo no ano passado. Não que seja o caso de bombá-lo: você não quer que ele perca em nada de sua rapidez. É só questão de deixá-lo um pouco mais forte apenas, até pelo estilo de jogo agressivo que apresenta, e isso não deve ser problema, de todo modo.

Isso chama a atenção: mesmo que seja magro até mesmo para um jogo de LDB, Wesley não foge do contato físico. Ataca o garrafão de modo incessante, com ou sem a bola, e também se dedica aos rebotes ofensivos, quesito em que tem bom aproveitamento para alguém de sua posição. Há momentos que você pensa que ele até pode se machucar em quadra, mas ele não liga: está constantemente de modo acelerado, vidrado na bola. É o que os scouts americanos gostam de qualificar como “motor” – e o do garoto gira em alta rotação.

Projeto


(Vídeo do adidas Nations 2015 em Long Beach. Wesley é o número 96, de cinza)

Para monitorar o progresso de Mogi, então, restou a eles  basicamente os 14 jogos que disputou pela LDB, a liga desenvolvimentista nacional, na qual caíram ainda na primeira fase, e o Campeonato Paulista Sub-19 do ano passado, pelo qual foram eliminados na semifinal. O difícil aí é colocar as ações do ala, ou de qualquer outro jogador promissor, em perspectiva, devido ao desnível em termos de talento.

Suas médias pela LDB foram de 10,6 pontos, 5,4 rebotes, 0,9 roubo, 0,9 assistência e 2,2 turnovers, em apenas 26,3 minutos. Quando jogou exclusivamente com garotos de sua idade, teve maior protagonismo, sendo um dos cestinhas do sub-19, diga-se – só uma pena que o site da Federação Paulista seja tão precário, para checagem de outros dados. Mas também é algo que os olheiros vão questionar. São poucos aqueles que, como Masai Ujiri, se sentem confortáveis em apostar em um garoto de números não muito expressivos num torneio sub-23 brasileiro. Essa dúvida girou em torno de Georginho no ano passado, ao passo que, neste ano, a elevada produção de Lucas Dias pelo Pinheiros não passa despercebida. Mas é aí que entra a parte mais legal (creio) e desafiadora da profissão, não? Justamente analisar o atleta de modo minucioso e projetar o que ele pode fazer entre os grandalhões.

Sem a bola

Pela LDB, Mogi não teve tanta liberdade em quadra nesta temporada

Pela LDB, Mogi não teve tanta liberdade em quadra nesta temporada

Bastava ver o Paulistano sub-23 em ação para entender o volume reduzido nas estatísticas. Acompanhado por dois armadores, o badalado Arthur Pecos e Leonardo, Mogi basicamente se via obrigado a atacar como arma secundária, enquanto os dois baixinhos seguravam demais a bola. De tanto driblarem, perdiam diversas oportunidades de assistir o ala em cortes que poderiam gerar cestas fáceis ou lances livres. Para alguém com sua explosão física, dificilmente os marcadores conseguiriam freá-lo se fosse acionado em curva em direção ao garrafão. É nesse tipo de movimentação e em transição que ele produz a maior parte de seus pontos. Basta que o armador o veja. Quando perto da tabela, tem elasticidade e criatividade para finalizar as jogadas, sabendo usar o famoso “euro step” – pense nos movimentos laterais que Dwyane Wade e Manu Ginóbili tanto executaram na carreira –, explorando a tabela, ou cravando com tudo, mesmo.

Em termos de jogadas individuais, o ala ainda precisa trabalhar bastante em movimentos, mesmo que seu primeiro passo consiga lhe colocar em posição de vantagem contra o defensor. Ele é rápido e ganha terreno com facilidade, mas pode refinar seu drible, mantendo a bola mais próxima de seu corpo – como vemos em dois lances de vídeo abaixo –, algo que foi uma das prioridades durante o mês de treinamentos que fez na academia IMG em junho passado. (Sim, a mesma academia que já acolheu Lucas Dias e Georginho, além de Henrique Coelho e Leonardo Demétrio, dupla do Minas, virando uma central brasileira basqueteira na… Flórida, claro).

Mogi também tem de desenvolver seu arremesso. Pela LDB, acertou apenas 68,9% de seus lances livres e 18,2% dos tiros de longa distância (8 em 41 tentativas), regredindo na primeira e evoluindo um pouco na segunda, em relação à temporada 2014-15. Talvez ele nunca vire Marcelinho Machado, mas não que seja um caso perdido. Comparando de um ano para o outro, conseguiu por um pouco mais de arco em seu chute, com a mecânica também mais elevada. Ao menos, ciente dessa deficiência, não força os arremessos a partir do drible. Isto é: ele tem limitações ainda relevantes em seu jogo, que precisam ser atenuadas na hora de se pensar em voos mais altos para a carreira.

Quilometragem baixa

(Duas cravadas de Wesley num top 5 do adidas Nations, jogadas 2 e 4)

De qualquer forma, uma coisa que não podem perder de vista: se Wesley é o jogador mais velho entre os estrangeiros convocados para o #HoopSummit – além dele, só o ala francês Isaia Cordinier nasceu em 1996, enquanto quatro companheiros são de 1998 –, também é um dos que menos tem rodagem. Poucos sabem, mas o ala começou a jogar muito tarde. Realmente tarde: em 2012, aos 16 anos. E não é que estivesse jogando em parques ou na escola até ser descoberto em um projeto social em Mogi Guaçu. Nada disso. Ele mal havia pegado numa bola de basquete até participar dessa escolinha. Como atleta, o máximo que fazia era disputar uma pelada, como zagueirão. E dos piores, ele mesmo confessa, ficando sempre entre os últimos a serem escolhidos.

O fato de, em 2016, entrar em uma lista de candidatos a NBA só mostra o quanto possui de talento natural e o quão dedicado tem sido a seus treinamentos, sob a orientação de Gustavo de Conti e de seu assistente Beto, comandante do sub-23 do Paulistano, que o trouxe do Palmeiras. Os dois ficaram juntos no clube alviverde por aproximadamente um ano, depois de ser levado por seu primeiro treinador para fazer um teste. Beto, aliás, conta uma anedota: Mogi chegou a ser dispensado, mas conseguiu retomar a vaga graças ao apoio do pai de Arthur Pecos. Em 2014, já estava na seleção sub-18.

Até pela inexperiência, o ala ainda comete alguns erros claros em quadra, de posicionamento, se distraindo com facilidade, permitindo cortes pelas costas, arremessos livres etc. No mano a mano, porém, costuma ir bem, colocando muita pressão no adversário, usando sua envergadura e as mãos ágeis. Também devido aos seus atributos físicos, consegue se recuperar em uma jogada. Por vezes, pode se ver sedento pela bola, no ataque e na defesa, congestionando de um lado ou perdendo seu oponente do outro. Falta cultura, e os técnicos do clube até procuram compensar isso ao lhe entregar alguns livros sobre o jogo. Para compensar essa desvantagem, Wesley apresenta um instinto apurado em quadra. Quando não precisa pensar muito em quadra, encontra maneiras de influenciar a partida, seja explorando buracos na defesa adversária, ou com botes rápidos para tentar o desarme. Ele ainda está aprendendo o jogo, fato. Pelo nível que apresenta hoje, dá para dizer que aprende com facilidade.

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Jukebox NBA 2015-16: o Detroit Pistons vai chegar lá?
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “I’ll Be There”, por Jackson Five

Tá. Pode ser problema na cabeça, mas é assim que imagino a cena: noite de terça-feira, vitória suada sobre um gigante como o Oklahoma City Thunder, o pessoal da limpeza dando um trato no Palace de Auburn Hills, os jogadores sorridentes já endereçados a suas respectivas casas, e Stan Van Gundy soltando o gogó, sozinho, em seu carro, tentando chegar ao agudo impressionante do jovem Michael: “Iiiiii’ll beee theeeere”.

Na mesma noite, o Washington Wizards, ameaça na tabela do Leste, faz jogo duro contra o Golden State Warriors (justo quem!?), mas perde no final. E SVG enche o pulmão novamente:  “Iiiiii’ll beee theeeere”.

Aí chega a quarta-feira, e o mesmo Wizards, concluindo sua longa viagem pela Costa Oeste, acaba perdendo para o hilário Sacramento Kings. Com os olhinhos fechados por trás do óculos e o bigode arqueado, o técnico-presidente do Pistons repete, cantando, na tradução, que “vai estar lá”. No caso, os playoffs.

Como estamos falando de Detroit, com todo o respeito a Stooges e MC5, não dava para fugir da Motown, certo? Por mais que Van Gundy, neste rolê aqui, pareça muito mais um parceiro de Eminem, cantando a dura realidade das ruas de uma abandonada “Motor City” do que qualquer outra coisa:

(Em outubro do ano passado, SVG e alguns jogadores do Pistons saíram para um passeio de bicicleta pela cidade, o "Slow Roll Detroit", gerando essa foto que é pura comédia sem intenção, popularizando o personagem que viria a ser conhecido carinhosamente como 'Notorious SVG'. Os caras não perdem a piada)

(Em outubro do ano passado, SVG e alguns jogadores do Pistons saíram para um passeio de bicicleta pela cidade, o “Slow Roll Detroit”, gerando essa foto que é pura comédia sem intenção, popularizando o personagem que viria a ser conhecido carinhosamente como ‘Notorious SVG’. Os caras não perdem a piada)

Mas, ok, chega de devaneio. Van Gundy tem todo o direito de estar feliz, de ver seu projeto seguir adiante, muito perto de uma vaguinha nos mata-matas do Leste. Mas certamente não estará mais exultante que o torcedor fanático dessa prestigiada franquia. Aquele tipo que se acostumou a lutar pelo título da conferência a cada temporada na década passada, quando o time era uma pedra nas botinas de LeBron e Dwyane, e depois teve se deprimir com o final desastroso da era Joe Dumars.

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Com a patinada feia do Chicago Bulls e o motor do Indiana Pacers empacando, o Pistons conseguiu abrir boa vantagem nessa reta final de temporada ao vencer seis dos últimos sete jogos. Perdeu apenas para o Atlanta Hawks, que, hoje, tem a defesa mais chata de toda a liga.

Não foi uma tabela tão difícil assim, é verdade, com Sacramento, Brooklyn, Milwaukee e Orlando pelo caminho. Mas, amigos, se é para chegar ao playoff, vale qualquer coisa, mesmo um placar de 92 a 91 contra o Bucks. Além do mais, os caras ainda bateram Charlotte e, mais importante, OKC – a data preferida no calendário de Reggie Jackson –, para ratificar essa boa sequência. Foi uma sequência importante, já que, neste mês derradeiro de temporada, as coisas vão ficar um pouco mais complicadas.

Mas o Pistons parece preparado, deixando sua inconsistência para trás. Algo normal, considerando que, na rotação de SVG, estão apenas dois trintões: Steve Blake e Anthony Tolliver. Com 29 anos, Aron Baynes está chegando lá. De resto, todos se posicionam entre os 19 de Stanley Johnson e os 26 de Marcus Morris.

Drummond e Jackson são pilares nesta reforma do Pistons: o pivô está prestes a receber um contrato máximo, lidera a liga com 14,9 rebotes, mas ainda é um dos alvos preferidos das cobranças do técnico, que já o acusou de ser preguiçoso na defesa, na frente de todos. Chegou uma hora que Dwight Howard e Shaquille O'Neal se enervaram com o estilo abrasivo e forçaram a barra contra ele. Shaq o derrubou em Miami, Dwight não conseguiu em Orlando. Para Drummond, porém, o mais prudente seria ouvir e perceber o quanto seu jogo tem se expandido nos últimos anos

Drummond e Jackson são pilares nesta reforma do Pistons: o pivô está prestes a receber um contrato máximo, lidera a liga com 14,9 rebotes, mas ainda é um dos alvos preferidos das cobranças do técnico, que já o acusou de ser preguiçoso na defesa, na frente de todos. Chegou uma hora que Dwight Howard e Shaquille O’Neal se enervaram com o estilo abrasivo e forçaram a barra contra ele. Shaq o derrubou em Miami, Dwight não conseguiu em Orlando. Para Drummond, porém, o mais prudente seria ouvir e perceber o quanto seu jogo tem se expandido nos últimos anos

Se essa galera ouvir o que o técnico tem a dizer, tudo tende a dar certo. Não que ele seja uma figura messiânica, ou qualquer coisa do tipo. Aliás, SVG é um adepto da autodepreciação, que costuma ir direto ao ponto, ganhando manchetes e as redes sociais com muita facilidade, em tempos de notícias por minuto. Política nunca foi o seu forte.

(A ponto de gerar de uma das cenas mais constrangedoras diante dos microfones para uma superestrela da NBA de que temos nota. Em 2012, ainda em Orlando, numa coletiva como outra qualquer ao final de um treino, simplesmente disse aos jornalistas que Dwight Howard estava tentando derrubá-lo nos bastidores. Não foi uma insinuação. Disse que todas as letras. E aí o pivô, numa coincidência absurda, se aproxima do entrevistado e o abraça, fazendo algum gracejo, sem saber que o técnico havia acabado de soltar uma bomba daquelas. Imagine quando foi avisado do que havia acontecido…)

Numa liga imensa em sua abrangência mercadológica, mas que ainda funciona como um “mundo pequeno” em seu cotidiano, a franqueza do bigodudo pode assustar. A ponto de, quando desempregado, ter sua contratação pela ESPN vetada por David Stern – éo que jura o expatriado Bill Simmons. Stern simplesmente não podia conviver com a ideia de ter uma metralhadora dessas pronta para ser disparada em um veículo de imensa audiência.

Stanley Johnson tem apenas 19 anos. Sua evolução como cestinha pode deixar o Pistons ainda mais perigoso na próxima temporada, e com um trio intercambiável com Morris e Harris

Stanley Johnson tem apenas 19 anos. Sua evolução como cestinha pode deixar o Pistons ainda mais perigoso na próxima temporada, e com um talentoso trio intercambiável com Morris e Harris

As intempéries de SVG – seja com a liga em geral, com um árbitro ou um unicórnio – podem ganhar mais repercussão, mas não deveriam ofuscar seu trabalho. Em oito temporadas como técnico principal, ele só teve uma campanha abaixo de 50% de aproveitamento, sua primeira em Detroit. De resto, alternou entre os 51,2% em sua estreia pelo Miami e os 72% em dois campeonatos pelo Orlando Magic, incluindo 2009, quando foi campeão do Leste.

Sua linha de conduta é dos técnicos que cobram uma barbaridade. Da mesma forma que atende aos jornalistas: falando o que pensa. Cobra, mesmo, e deve ter hora que cansa, com Shaquille O’Neal não se cansa de alardear. Em geral, porém, se os jogadores quiserem ouvir, tendem a crescer. Dwyane Wade, Udonis Haslem, Caron Butler, Dwight Howard, JJ Redick, Courtney Lee, Ryan Anderson, Trevor Ariza e Marcin Gortat foram alguns jogadores jovens claramente influenciados pelo treinador. Está acontecendo agora com Reggie Jackson e Andre Drummond. Outros veteranos também se beneficiaram e nunca jogaram tão bem em outras mãos, como Rashard Lewis e Hidayet Turkoglu.

A formação com os dois alas altos versáteis ao lado de Dwight Howard acabou revolucionando a liga, tão influente quanto os sete segundos ou menos de Mike D’Antoni. Não espere que o técnico-presidente se gabe por isso. “Não havia como um deles sair do banco, sendo reserva de um cara inferior na posição 4, então decidimos abrir a quadra. Não sou tão esperto assim para inovar algo. Só joguei com o que tinha”, afirmou em entrevista ao SB Nation.

“Ele cobra muito. Mas ele é justo”, diz Reggie Jackson, na mesma matéria. “É alguém de quem você até pode discordar algumas vezes, brincar e ter seus argumentos, mas, no final, é uma questão de querer chegar ao topo da montanha. Não importa o que aconteça, estamos apenas tentando nos ajudar um ajudar o outro e descobrir onde podemos ir. A sensação que passa é que o técnico está reunindo as peças do quebra-cabeça. Estamos começando a nos entender. Agora cabe a nós crescermos juntos e nos amadurecer, para entender o que é preciso a cada noite, não importando quem enfrentamos.”

A pedida? Escapar do Cleveland Cavaliers na primeira rodada e tentar fazer série dura mesmo sem mando de quadra, confiando na leitura de Van Gundy e no poderio físico de Drummond no garrafão.

A gestão: ok, confesso. Essa história de acúmulo de cargos, de presidente e técnico, não agrada muito. A própria história da NBA está aí para provar que não costuma dar muito certo. Mas Stan Van Gundy foi mais esperto do que ególatra. É dele a última palavra no departamento de basquete, dependendo a partir daí de um simples visto do proprietário Tom Gores canetar. Até bater o martelo, porém, o chefinho ouve bastante gente.

Seu braço direito é o experiente Jeff Bower, que trabalhou por seis anos pelo Hornets, com mais altos do que baixos em sua gestão. Ele tem o cargo de gerente geral, sendo responsável pela coordenação dos scouts e também no contato diário com os demais clubes, com o escritório da liga e demais atividades corriqueiras na operação de um clube. Muito necessário. Como técnico, Van Gundy já fica tempo demais assistindo a vídeos, pensando em estratégias com seus assistentes e orientando os jogadores, tudo nos mínimos detalhes.

Bower e Van Gundy são amigos de longa data

Bower e Van Gundy são amigos de longa data

O que uma bela reportagem da Sports Illustrated nos mostrou é que ele soube usar os recursos do bilionário Gores para levar esse trabalho minucioso para além da sala dos treinadores. Segundo Michael Rosenberg, em um ano e meio, o escritório do Pistons passou de um dos mais enxutos da liga a um dos mais povoados, com 18 contratados. São três gerentes gerais assistentes, quatro scouts dedicados exclusivamente a jogos da NBA, seis olheiros para jogos internacionais e universitários, além de caras dedicado a estatísticas avançadas e estratégia. Uma das metas dessa turma? Simplesmente assistir a todos os 1.230 jogos da NBA nesta temporada.

“Quando você documenta mais de mil jogos, a ideia não é achar o segredo para o título. Não é assim que funciona. A meta é encontrar diversas pequenas dicas, pistas – ver aquilo que os outros times ainda não enxergam e se aproveitar disso”, escreve Rosenberg. Basicamente: todo mundo sabe quem é Tim Duncan, LeBron James ou Kobe Bryant. Agora, será que todos estão cientes do que Jonathon Simmons faz pelo Spurs, ou que Jon Leuer produz pelo Phoenix Suns? Informação nunca é o bastante. Você  nunca sabe que tipo de oferta pode chegar ao seu WhatsApp.

Esse trabalho está apenas começando. Bower afirma que a aposta em Reggie Jackson, para quem ofereceram US$ 80 milhões, já é um reflexo desse processo ambicioso. Vamos monitorar o que vem por aí. A troca por Tobias Harris em fevereiro já foi outro movimento bastante interessante da franquia, assim como seria o negócio riscado por Donatas Motiejunas, vetado supostamente por um problema grave em suas costas. Vamos monitorar.

Olho nele: Tobias Harris

Courtney Lee rendeu duas escolhas de segunda rodada em fevereiro ao Memphis. Já Jeff Green valeu uma escolha de primeira. Dias antes, o máximo que o Orlando conseguiu por Harris foi a garantia de se desfazer de seu salário, enquanto Scott Skiles acreditava que a chegada dos veteranos Brandon Jennings e Ersan Ilyasova seriam o suficiente para colocar o Magic de vez na briga pelos playoffs. Muito pouco, não? Nem tanto, de modo surpreendente, segundo a avaliação dos scouts da liga.

Aqueles que não enxergavam muita coisa no ainda jovem ala, de apenas 23 anos, agora devem estar revisitando o caso. Em Detroit, Harris progrediu em praticamente todos os quesitos. Vem sendo mais explorado no ataque e correspondendo. Produz mais pontos e assistências, menos turnovers e melhora no aproveitamento de quadra e também nos tiros de três pontos. Sua média de rebotes caiu, mas seu índice de eficiência subiu em geral. Além disso, causa o maior impacto ofensivo de sua carreira. Que tal?

É curiosa a resistência a Harris. É um ala forte e ágil, com diversos recursos para chegar à cesta. Ele tem de ser marcado na quadra toda, podendo te machucar de média para longa distância e sendo forte e atlético o bastante para finalizar perto da tabela. Sua chegada deu mais dinamismo ao time, em relação a Ilyasova. No ano que vem, deve retornar ainda melhor, depois de um training camp com SVG, enquanto o valor de seu salário vai cair consideravelmente neste novo mercado.

walter-herrmann-pistons-cardUm card do passado: Walter Herrmann. Na temporada 2008-09, a última em que a Motown participou dos playoffs, Rasheed Wallace ainda estava lá, assim como Richard Hamilton e Tayshaun Prince, do grupo campeão em 2004. Chauncey Billups havia sido trocado logo no início da temporada, por Allen Iverson, num negócio que daria muito errado. O elenco ainda contava com Arron Afflalo antes da fama e com um jovem Amir Johnson, de apenas 21 anos. Enfim, vários personagens interessantes que poderiam ser recuperados aqui.

Mas se você lê “Herrmann, Walter” na lista, não tem como fugir, de tanto carisma, mesmo que ele tenha ficado apenas 5,5 minutos em média em quadra na série contra o Cleveland Cavaliers, na qual o time foi varrido de quadra, logo na primeira rodada. Chegava ao fim ali uma sequência de oito temporadas com participação na fase final, com direito a duas finais e seis decisões de conferência.

O craque argentino chegou relativamente tarde aos Estados Unidos – e ao mesmo tempo cedo. Estava apenas com 27 anos, mas vindo de lesões e de uma história trágica em sua vida pessoal. Ainda assim, teve seus momentos, especialmente na temporada de estreia, pelo Charlotte Bobcats, em 2006-07, entrando no ritmo durante o campeonato para fazer 19,6 pontos por jogo no mês de abril. Depois, seria trocado para o Pistons, compondo rotação para Flip Saunders. Em 2009, retornaria ao basquete espanhol.  O que podemos dizer é que, na NBA de hoje, de pivôs mais flexíveis e maior espaçamento de quadra, teria muito mais sucesso.


Jukebox NBA 2015-16: a maldição do pelicano
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Season of the Witch”, por Donovan

Você abre o HoopsHype numa manhã quente de princípio de (?) outono como outra qualquer e, depois do mais recente ba-fa-fá do Lakers, desce a barrinha e alcança aquilo que parece um boletim médico todo dedicado ao New Orleans Pelicans:

– Jrue Holiday foi diagnosticado com uma fratura de órbita ocular inferior. Ele vai perder o restante da temporada. A lesão ocorreu com 56s1 restando no quarto período da partida contra o New York Knicks.

– Alonzo Gee sofreu uma ruptura Ruptura completa do músculo reto femural  direito e vai perder o restante da temporada.

– Ryan Anderson foi diagnosticado com uma hérnia do atleta. Ele vai procurar uma segunda opinião de um especialista da Filadélfia ainda nesta semana. Detalhes adicionais serão anunciados de modo apropriado após a avaliação.

– Norris Cole está com um desconforto nas costas e vem sendo avaliado diariamente.

E aí? Já tomou seu remedinho hoje? É, ou não é de se contorcer todo na cadeira?

As ocorrências foram todas divulgadas num dos releases mais deprimentes da história. Isso depois de o técnico Alvin Gentry dar uma das entrevistas coletivas mais engraçadas (e desesperadas) da história da NBA, mesmo depois de um triunfo sobre o Knicks, em casa, por 99 a 91. Pudera: quando Holiday foi atingido por Kristaps Porzingis e teve de ser retirado de quadra, o treinador olhou para o banco de reservas e não soube o que fazer. “Queria colocar alguém capaz de levar a bola, e lá estavam Omer, Perkins e Alexis”, lembrou. “Não me senti confortável em usar nenhum deles para essa função”, completou. “É assustador.”

O sarcasmo parece ser a única escapatória para Gentry. Imagine a cabeça do cara: seu ex-clube, o Warriors, flerta com a marca de 73 vitórias. Já o Pelicans está fora dos playoffs, com uma das campanhas mais decepcionantes da temporada, enfrentando uma urucubaca que parece não ter fim.

Davis, de volta ao banco. Podendo levar um grande prejuízo

Davis, de volta ao banco. Podendo levar um grande prejuízo

Lembremos que, além dos quatro desfalques acima, o time já não podia contar mais com seu craque, Anthony Davis, além do ala-armador Tyerke Evans e dos alas Quincy Pondexter, Eric Gordon e Bryce Dejean-Jones, o calouro que foi contratado da D-League justamente para preencher a lacuna na rotação de perímetro. Depois dessa atualização, até mesmo Dave Joerger, do Grizzlies, pode se sentir protegido por forças superiores.

“Vou mandar um boletim detalhado para todo mundo no French Quarter, ou em qualquer lugar. Precisamos de um médico de vudu, ou alguma coisa desse tipo aqui. Temos de encontrar os ossos enterrados debaixo desse ginásio. Temos de fazer algo, porque isso já virou até cômico”, disse Gentry. “No momento, todos os caras da D-League estão sentados olhando para seus telefones achando que a chance deles chegou.”

Para constar, o armador Tim Frazier (ex-Blazers) já teve seu contrato efetivado até o final da temporada, enquanto o ala Jordan Hamilton (ex-Nuggets) cumpre um contrato temporário de dez dias. Então pode ser que as vagas já estejam fechadas. Mas a piada de Genry foi muito boa para ser ignorada. “Não sei, acho que você tem de rir dessas coisas. Não sei mais o que podemos fazer. Agora temos mais de 100 pontos por jogo sentados lá fora. Se fizermos só sete pontos na próxima partida, apenas considere isso.”

Para ser mais preciso, somando as médias de todos os desfalques do Pelicans, o time está perdendo 109,2 pontos. Claro que o número de cada jogador seria diferente, se o time estivesse inteirinho do início ao fim, mas dá para ter uma ideia do tamanho do estrago. E do prejuízo também: em termos de salário, a enfermaria do Pelicas hoje está tratando de mais de US$ 60 milhões em investimentos (contando os holerites dos jogadores apenas desta temporada).

Show do Monocelha agora é o show do Tim Frazier. Só o torcedor do Blazers sabe o que isso quer dizer

Show do Monocelha agora é o show do Tim Frazier. Só o torcedor do Blazers sabe o que isso quer dizer

Agora, na hora de preparar seu time, Gentry vai ter de imaginar jogadas para Frazier e o andarilho Tony Douglas decidirem. Ou Hamilton, que sempre teve tino para pontuar, ainda que de forma irregular. Ou Luke Babbitt, que mal foi utilizado entre dezembro e janeiro e, de repente, nos últimos cinco jogos, tem média superior a 28 minutos por confronto. Se tiver uma propensão ao sadismo, também pode tentar jogadas de postup com Omer Asik e Kendrick Perkins.

Sim, esta foi uma temporada com a bruxa solta em New Orleans, para citarmos a canção de Donovan, o compositor escocês que começou rotulado como “folk”, mas arriscou de tudo um pouco. Entre tantas opções de canções impregnadas pelo ocultismo, seja com reverência ou com a zoeira, esta ao menos tem uma das letras mais, digamos, pueris. De desgraça o Pelicans já está farto.

De time emergente no Oeste, pensando em até mesmo ir longe nos playoffs, já estão fora da disputa e agora concentrados no próximo Draft, com 27 vitórias e 46 derrotas, com aproveitamento de 37%. Um baque daqueles para uma equipe que havia melhorado seu rendimento por quatro campanhas consecutivas, dos 31,8% de 2012 aos 54,9% do ano passado, quando conseguiu superar forte concorrência para chegar aos mata-matas pela primeira vez num mundo pós-Chris Paul.

Gentry, Monocelha e o vudu

Gentry, Monocelha e o vudu

Agora não tem jeito. É virar a página e ao menos se contentar com o fato de que terão mais uma escolha alta de Draft, ainda que num recrutamento considerado fraco para a maioria dos scouts da liga. Se acertarem o alvo, poderão adicionar um jogador jovem, talentoso e barato para tentar contra-atacar no próximo campeonato, provavelmente ainda sob o comando de Alvin Gentry, um cara de currículo irregular e bastante rodado na liga, mas que nunca viu nada parecido com isso.

O técnico vem sendo bastante criticado e, de fato, não esteve tão inspirado assim em seus ajustes, ainda mais se compararmos com o que Joerger conseguiu em Memphis, em circunstâncias semelhantes. Insistiu por muito tempo com Asik, sacrificando o ataque sem melhorar a defesa. Assim como Fred Hoiberg, insistiu com um sistema mesmo quando não tinha mais peças para fazer a máquina andar ao seu modo. De qualquer forma, é injusto avaliar qualquer trabalho sob essas condições. Em vez de demitir um treinador pelo segundo ano consecutivo, o mais certo talvez fosse torcer por melhor sorte e saúde no training camp deste ano. Ou contratar logo uma benzedeira.

A pedida? A… sorte grande no próximo Draft. De repente Ben Simmons ou Brandon Ingram como parceiros do Monocelha?

A gestão: pois é. Aqui a coisa fica mais feia.

Que a sucessão de lesões tem a ver com azar, não há dúvida. Mas é inegável também que o gerente geral Dell Demps, mais um ano do Instituto Spursiano Popovich & Buford de basquete, contratou uma série de jogadores com histórico médico duvidoso para formar uma base em torno de Anthony Davis. Tyerke Evans e Ryan Anderson nunca foram reconhecidos como ironmen. Muito menos Eric Gordon, que poderia ter saído para o Phoenix Suns em 2012, mas teve seu contrato renovado, na marra.

(O armador Jrue Holiday parece ter se contagiado e também virou desfalque constante, depois de ter custado ao time duas escolhas de primeira rodada – que resultaram em Nerlens Noel e Dario Saric. Desde que chegou a N’awlins, ainda não conseguiu bater a marca de 70 partidas, sendo que as 65 desta temporada são um recorde.)

Loomis e Demps: quem manda? Quem fica?

Loomis e Demps: quem manda? Quem fica?

O que pode ser dito em defesa do gerente geral é que a franquia tem uma situação instável no andar de cima. Também proprietário do New Orleans Saints, Tom Benson, 88 anos, se envolveu em uma disputa judicial com sua família sobre o controle dos dois clubes. Pela idade avançada, Benson teria exercido forte pressão para que Demps apressasse o processo de reconstrução em torno do Monocelha, exigindo que o time voltasse aos playoffs o quanto antes.

Para isso, conta com os serviços do gestor Mickey Loomis, um cara que, de modo improvável, acumula as funções de vice-presidente executivo e gerente geral do Saints, assim como vice-presidente executivo do departamento de basquete do Pelicans. Sim, acreditem: a confiança de Benson em Loomis é tamanha que ele acredita ser possível supervisionar uma equipe de basquete e outra de futebol americano ao mesmo tempo. Existe nos bastidores da NBA, então, uma dúvida sobre quem estaria dando as cartas, mesmo. Em princípio, as negociações ainda são responsabilidade de Demps, incluindo a estranha demissão de Monty Williams no ano passado, depois de suposta disputa interna entre o cartola e o treinador.

A despeito dos caprichos de Benson, o tópico mais urgente para a franquia é deixar Anthony Davis satisfeito. A acidentada temporada do Pelicans pode custar ao ala-pivô uma grana considerável, algo em torno de US$ 24 milhões em bônus contratual. Com médias de 24,3 pontos, 10,3 rebotes, 2,0 tocos, 1,3 roubo e 1,9 assistência, é provável que o jovem astro conseguisse uma vaguinha na eleição dos três quintetos ideais da liga (All-NBA) nesta temporada. A péssima campanha da equipe, porém, pode tirá-lo do páreo.

Publicamente, ao menos, Davis vem dizendo todas as coisas certas. Que seria egoísta da parte dele seguir jogando, mesmo com o ombro e o joelho comprometidos, para tentar buscar essa premiação. “Ainda é muito dinheiro o que vou receber: US$ 125 milhões. Mas não há nada que se possa fazer a respeito. É um contrato, não tenho controle sobre isso. Você só controla aquilo que pode, que é o que acontece em quadra”, afirmou o ala-pivô, que vai ficar fora de quadra por três a quatro meses, ficando fora também do #Rio2016.

Por outro lado, para se ter em conta: Davis já perdeu 68 partidas em suas primeiras quatro temporadas. Quase um campeonato inteiro.

Olho nele: Alexis Ajinça

No ano passado, Ajinça marcou 24 pontos em vitória em Toronto, sem Monocelha

No ano passado, todo espichado, Ajinça fez 24 pontos em vitória em Toronto, sem Monocelha

Não, não estamos falando de um craque. Mas, sem Anthony Davis e Ryan Anderson, alguém que sobrou na linha de frente do time precisa pontuar, certo? E não dá para esperar que esses pontos venham de Asik e Perk. Entra em cena o espigão, que, perto da dupla, parece um superatleta até. Isso passou, de certa forma, despercebido, mas o pivô fez um bom campeonato em 2014-15, confirmando seu potencial, merecendo uma extensão contratual de US$ 20 milhões por quatro anos. O negócio só merece críticas quando somado ao de Omer Asik. Não havia por que gastar tanto nos dois, e o preço do francês saiu muito mais em conta.

Seu momento mais produtivo aconteceu num período em que Davis estava fora de combate, entre fevereiro e março. Em seis partidas, teve médias de 13,8 pontos, 8,3 rebotes e 1,5 toco, em 23 minutos. Agora tem nova oportunidade para mostrar que tem jogo, desde que maneire nas faltas – em sua carreira, comete 6,3 faltas numa projeção por 36 minutos. Quer dizer, não conseguiria completar uma partida sem ser excluído. A questão é saber se Tim Frazier e Toney Douglas conseguirão acioná-lo de modo apropriado.

marquinhos-new-orleansUm card do passado: Marquinhos. Olha ele aí! Já faz tanto tempo, que corremos o risco de nos esquecer que, dez anos atrás, o ala dava sequência à trilha de jogadores brasileiros no Draft, inaugurada por Nenê em 2002. Inserido nos registros históricos da liga como “Marcus Vinícius”, ele  ficou uma temporada e meia no clube, após ser selecionado na 43ª colocação do recrutamento de novatos.

É interessante relembrar a curta passagem de Marquinhos por lá por dois motivos. Primeiro que até hoje o clube o acompanha de alguma forma.  Depois de sua ótima participação na Copa de 2014, fez sondagens para uma possível repatriação. Um ala alto com chute e versatilidade é do que se tem mais de cobiçado na NBA. Mas é improvável que uma proposta seja formalizada.

O segundo item que chama a atenção aqui é o nome do time gravado no card: NO/OK Hornets. Como consequência do devastador furacão Katrina, a franquia se viu obrigada a dividir suas operações com Oklahoma City, que a acolheu de modo caloroso. Foi um gesto que impressionou tanto o antigo comissário David Stern, aliás, que valeu como semente para o sequestro do Seattle Supersonics pela cidade, pouco depois.

A nomenclatura ficou ainda mais estranha quando o apelido Hornets foi devolvido a Charlotte, enquanto New Orleans adotou a atual alcunha. É uma confusão, do ponto de vista administrativo, digna dos primeiros anos instáveis da liga.


Jukebox NBA 2015-16: um fim de temporada melancólico para Nowitzki
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha:Die zeit heilt alle Wunder”, por Wir Sind Helden.

Quando Dirk Nowitzki vai para a quadra aos 37 anos, com 17 de NBA, é um privilégio para a liga. Qual a chance de vermos novamente um jogador desse nível, de características tão peculiares? Um gigante de 2,13m de altura que é um dos maiores arremessadores da história do basquete, que ajudou a revolucionar o esporte.

O mítico alemão obviamente não é mais o mesmo, mas nem cogita a aposentadoria por ora, enquanto Kobe Bryant, de quem é fã declarado, caminha para os últimos dez jogos de sua carreira e Tim Duncan vai arrastando sua perna direita pela quadra, ainda como uma figura influente pelo Spurs. Nenhum desses veteranaços, porém, é tão importante, essencial para seu time em quadra.

Por mais que ele não tenha o arranque de dez anos atrás, quando era capaz de cruzar a quadra toda com a bola em mãos e bater alas mais baixos na corrida e que os movimentos de costa para a cesta que desenvolveu durante a carreira também estejam travados, seu arremesso elevado e mortal ainda fazem de Dirk o ponto central do ataque do Dallas Mavericks, o oitavo mais eficiente da temporada. Segue produtivo, com média de 18,7 pontos e 6,7 rebotes em 31,3 minutos, 46,3% nos arremessos e 38,8% de longa distância, de modo regular, capaz de alguns arroubos para a casa de 30 pontos, ou até mais, como quando guiou o Mavs a um triunfo (que pode ser) crucial sobre Portland, na semana passada, com 40 pontos em 39 minutos e 26 arremessos. É o resultado de uma rotina legendária e exaustiva de treinos, aperfeiçoando seus fundamentos, se adaptando a suas diversas travas.

Tudo muito legal.

Mas que se torna um pouco melancólico demais quando seu time capenga para se colocar na zona de classificação para os playoffs, numa toada trôpega bastante incomum para sua triunfante carreira. Vem daí a música do Wir Sind Helden, que fala algo sobre como o tempo acaba com qualquer capacidade de maravilhamento, mas que também pode curar as feridas de uma eventual decepção. Que fique claro: maravilhamento pelo time, e, não, por Nowitzki. Ainda assim, triste, embora com um flash de esperança.

Força, Dirk

Força, Dirk. Talvez dê certo

(Como sei disso sem entender um pingo do que cantam ‘z germanz’? Bom, foi com a consultoria da senhorita 21, apegada ao idioma germânico e que trouxe o sonzinho honesto desse grupo aqui para a base. E aí que, pelo menos, conseguimos escapar das referências de sempre do universo pop alemão – Scorpions, Rammstein, Nico, Nena, Falco etc.)

Certamente não era algo que vislumbrava durante o training camp, quando estavam todos empolgados com a rápida conexão que o time conseguia, confiantes em deixar a frustração pela novela DeAndre Jordan para trás. Fora dali, é verdade, a desconfiança era grande. Mas aí, na hora que a bola subiu, parecia o Mavs de Rick Carlisle de sempre, com um ataque azeitado e jogadores experientes o bastante para segurar as pontas na defesa, na linha da mediocridade (a 16ª mais eficiente), para manter o time bem posicionado. No ponto mais alto de sua campanha, ao final de janeiro, tinha 28 vitórias e 22 derrotas.

Desde então, porém, o time vem caindo pelas tabelas. Venceu apenas um terço de seus jogos (8 em 24) e caiu pelas tabelas. Pelas últimas dez rodadas, foi ainda pior, com apenas dois triunfos, e a perspectiva agora é de que termine com uma campanha inferior a 50% pela primeira vez desde… 2000. Com uma queda significativa dessas a poucas semanas do fim da temporada regular, o Mavs só não saiu da briga por uma vaga nos playoffs graças aos problemas de concorrentes: Houston Rockets e Utah Jazz, com pernas muito mais vigorosas, mas de resultados inconstantes durante todo o campeonato.

Em fevereiro, Parsons teve médias de 18,8 pontos, 5,0 rebotes, 2,7 assistências, 1,0 roubo de bola, 52,3% nos arremessos e 48,0% nos arremessos de três

Em fevereiro, Parsons teve médias de 18,8 pontos, 5,0 rebotes, 2,7 assistências, 1,0 roubo de bola, com 48,0% nos arremessos de três. Agora está fora, passando por uma 2ª cirurgia grave

O ponto mais baixo certamente foi a derrota deste domingo para o Sacramento Kings, levando inacreditáveis 133 pontos. É o tipo de tropeço que faz o jogador, o treinador e todo mundo repensar a vida. “Temos de decidir se queremos ir para a casa ao final da temporada, ou não. Todos têm de olhar no espelho e decidir que diabos querem fazer. Queremos jogar por algo significante, ou não? Queremos desperdiçar seis, sete meses de nossas vidas sendo jogadores de NBA… Mais uma temporada, blá-blá-blá, ou queremos fazer algo que signifique algo?”, questionou, retoricamente sem parar, o ala Wesley Matthews, jogador mais bem pago do clube.

Para alguém tão aguerrido, tão dedicado como Matthews, faz sentido. Mas a questão que faltou na tirada do ala é se, independentemente da vontade do elenco, se eles são capazes de reverter essa situação. Parece ter acabado o gás. Esse talvez seja o preço também de se investir num elenco envelhecido. O aspecto positivo é que eles dão menos trabalho, minimizam os erros, assimilam com mais facilidade os complicados ajustes sugeridos pelo treinador, se ajudam em quadra. O outro lado da moeda é o que vemos agora: as sequelas que a extensa temporada causa.

Os desfalques se acumulam. Chandler Parsons estava esquentando a munheca, jogando o melhor basquete de sua carreira, mas voltou a lesionar o joelho, deixando o time com poder de fogo reduzido. Deron Williams tem um estiramento no abdômen – e, a despeito de todo o otimismo com o armador nas primeiras semanas, ele vai terminar sua campanha basicamente com números idênticos aos de sua deprimente estadia no Brooklyn. Devin Harris regrediu. Raymond Felton até ressuscitou, mas não tem jogo para fazer a diferença diariamente, assim como José Juan Barea, a formiguinha atômica que rende apenas de modo pontual. Ainda assim, Carlisle bota todos para jogar, usando até mesmo tripla armação sempre movimentando suas peças com criatividade, fazendo dos improvisos um trunfo para manter a produtividade ofensiva. Desde que chegou ao Texas, o brilhante treinador vem consistentemente tirando o máximo de seus atletas, mesmo com o fluxo contínuo no elenco.

Na primeira metade do campeonato, esse combinado de veteranos pegou boa parte da liga de surpresa. Acontece que, em março,as fraquezas de seu time estão expostas, e não dá para fazer milagre.  No garrafão, a energia de Zaza Pachulia se exauriu, que até janeiro era um candidato a prêmio de jogador que mais evoluiu e agora mal consegue levantar do banco de reservas, de tantas trombadas na proteção por rebote e corta-luzes, para alguém que não estava acostumado a tantos minutos. Isso abriu uma lacuna no centro da defesa, já que Salah Mejri e JaVale McGee, muito mais atléticos e descansados, se perdem com panes mentais em quadra.

A coisa tá feia, Carlisle. Como dar um jeito nesta defesa?

A coisa tá feia, Carlisle. Como dar um jeito nesta defesa?

Se o ataque continua rendendo em alto nível desde o intervalo do All-Star, como o quinto melhor da liga, sua defesa ruiu, levando 110,5 pontos por 100 posses de bola, a terceira pior. Se for para reduzir aos últimos 12 jogos, são 113,2 pontos, a pior – para comparar, o mesmo Sacramento leva 109 durante a temporada, com uma retaguarda horrível.

Aí não vai importar quantos arremessos Dirk acertar a cada noite. “É difícil, mas não há desculpas nesta liga. Independentemente de quem estiver em quadra, tem de fazer sua parte, respeitar seu papel, explorar seu potencial e competir dos dois lados da quadra. E então convivemos com os resultados”, afirmou o alemão.

Se esses resultados melhorarem, maiores as chances de Nowitzki jogar os playoffs pela 15ª vez na temporada. Tem de curtir, mesmo, enquanto dura.

A pedida? A essa altura, meine Freunde, é chegar aos playoffs, nem que seja para tomar uma pancada de Warriors ou Spurs na primeira rodada. Até porque sua escolha de primeira rodada no Draft será endereçada ao Boston Celtics, como consequência da terrível troca por Rajon Rondo.

A gestão: o Dallas Mavericks de Mark Cuban foi dos primeiros clubes a investir pesado no scout internacional – até hoje, mantêm um olheiro dedicado ao quadrante latino-americano, o argentino Lisandro Miranda, o único de quem tenho notícias com base por estas bandas. O clube também é dos que mais investe em tecnologia, estatísticas avançadas e tal. Também reformulou cedo suas instalações, com vestiários, quadra de treinos e infra-estrutura em geral luxuosos, oferecendo o tipo de mimo que costumava fazer a diferença na hora de buscar novos jogadores.

Ninguém quer se juntar a Cuban em Dallas?

Ninguém mais quer se juntar a Cuban em Dallas?

Mas o tempo passou, certo?

Cuban já não é mais um peixe tão diferente assim entre os proprietários da liga. Quando comprou o Mavericks, era um vanguardista até. Agora se vê rodeado por diversos homens que construíram seus negócios já na nova economia, e muito do que diferenciava a franquia texana há dez anos já virou recorrente. Esse é um dos motivos por trás dos recorrentes fracassos de sua gestão na hora de buscar reforços no mercado, numa história que já se tornou repetitiva desde a desmontagem do time campeão de 2011.

De lá para cá, o clube segue competitivo, obviamente. É só olhar o último ano de Kobe e ver como as coisas poderiam ser muito piores. Mas o fato é que o Mavs não chega nem perto da luta pelo título, algo que Nowitzki adoraria fazer novamente. Foi por isso que, ao contrário o astro hollywoodiano, deu um belo desconto para Cuban em seu salário,  que vale apenas US$ 8 milhões anuais, a metade do que ganha Wesley Matthews. É uma pechincha mesmo para um atleta de 37 anos. Seja por suas habilidades únicas, pelos esforços que faz em se manter em forma, ou pelo avanço da medicina esportiva, o alemão ainda desequilibra,  diferentemente de alguns craques do passado que vimos estender suas carreiras nos anos 90, como um Moses Malone migrando de time para time no ocaso de sua trajetória como profissional, valendo mais como influência no vestiário do que por aquilo que poderia contribuir em minutos reduzidos. Ainda assim, ele precisa de ajuda.

O clima texano, os impostos reduzidos e a tradição da equipe deveriam ser diferenciais para agentes livres, mas a franquia não tem conseguido contratações de impacto. Não é o caso de Wesley Matthews, com todo o respeito que seu chute de três pontos e seu profissionalismo pedem. O ala vinha de uma lesão no tendão de Aquiles e não tinha tantas propostas assim – o Sacramento Kings, que não serve de exemplo para ninguém, era a principal ameaça. Acabou a magia de Cuban? O estilo falastrão do magnata ainda pode atrair aqueles que procuram promoção, holofotes, como Chandler Parsons, que adora um reality show.

Se o time não consegue grandes jogadores desta maneira, deveria ao menos ter mais parcimônia na hora de encarar o Draft. Em seu elenco, além de Nowitzki, apenas o ala Justin Anderson segue no clube texano desde que foi selecionado. Ah, ele é um calouro, que deve se sentir um tanto isolado no vestiário. O ala-pivô canadense Dwight Powell é o único jogador nascido nos anos 90, sendo dois anos mais velho.

Olho nele: David Lee

Como é possível que um cara que tenha índice de eficiência que o colocaria acima de LeBron James na temporada, de 27,2 pontos em 16 jogos, algo inesperado e assustador, mal conseguia sair do banco de reservas em Boston, a ponto de ser dispensado sem mais, nem menos? Foi um erro crasso de Brad Stevens? Um complô? Nada disso, sem teoria da conspiração. O próprio veterano de 32 anos explica, com honestidade que faz bem: “Cheguei ao time fora de forma. Não joguei o que podia e perdi meu emprego. Tudo isso me levou a questionar o que estava faltando, comparando com o que fazia antes? Bem, eu simplesmente não estava em boa forma”, disse em seu retorno a Oakland, na semana passada, para receber seu anel pelo título de 2015.

Com uma rotação congestionada, precisando encontrar espaço para Jared Sullinger, Kelly Olynyk, Amir Johnson, Tyler Zeller, ainda com o promissor calouro Jordan Mickey na fila, Stevens levou algumas semanas para definir sua rotação e entender quem se encaixaria em qual lugar. A despeito de seu salário de US$ 15 milhões, currículo e talento ofensivo, sobrou para Lee. Num gesto cordial, que ajuda na construção da imagem do clube para tentar contratar alguém de peso (com o perdão do trocadilho) no futuro, os técnicos e preparadores físicos do Celtics passaram ao pivô uma rotina de treinos para que ele melhorasse seu condicionamento, mesmo que já não fizesse mais parte dos planos do time para a temporada. E ainda o dispensou, economizando alguns trocados, mas sem colher os frutos desse trabalho especial. Lee agora está jogando muito em Dallas, causando impacto positivo surpreendente até mesmo na defesa, com projeção de 20,1 pontos, 14,9 rebotes, 2,8 assistências e 1,5 toco por 36 minutos. Sem esse reforço, talvez a equipe estivesse até mesmo fora da briga pelos playoffs.

dennis-rodman-trading-card-dallasUm card do passado: Dennis Rodman. Na hora em que se aposentar e for conversar com os filhos, os sobrinhos e enteados, relembrando histórias de sua carreira, Nowitzki vai poder falar de sua redenção em 2011, derrubando o superestrelado Miami Heat na final. A decepção de 2006 e 2007 também não pode ser ignorada no bate-papo, pois ajudam a valorizar o título que conquistou. A amizade com Steve Nash, as loucuras de Don Nelson, o aviãozinho de Jason Terry,  Wang Zhizhi e Shawn Bradley. Há muito sobre o que falar. Incluindo as breves semanas em que foi companheiro de equipe do craque mais amalucado da história, Rodman. Foi em 1999-2000, justamente a última campanha de aproveitamento negativo do Mavs, com 40 vitórias e 42 derrotas.

Na sua última experiência de NBA, o ala-pivô, aos 38 anos, foi convencido por Mark Cuban a fazer parte de seu projeto de reconstrução de uma combalida franquia. Poderia ser algo especial, um final feliz, com uma rara chance de poder pendurar as botinas na cidade onde cresceu, numa infância complicada no bairro de Oak Cliff, região paupérrima, barra pesada de uma metrópole petrolífera.

Mas, que nada: mesmo vivendo na mansão do empresário, o pentacampeão  Rodman aprontou um alvoroço daqueles, tirando Don Nelson do sério, assustando os mais jovens do time com seu comportamento bizarro e a avacalhação geral. Sob contrato de 3 de fevereiro a 8 de março, disputou apenas 12 jogos, até ser dispensado. “Ele nunca quis ser um Maverick”, resumiu Steve Nash. Ainda assim, como jogador especial que era, teve média de 14,3 rebotes. Seria uma ajuda bastante necessária ao jovem Dirk, de 21 anos, que tinha apenas o varetão Shawn Bradley e o veterano Sean Rooks como companheiros de garrafão.


Jukebox NBA 2015-16: Grizzlies, bala na cabeça e resistência
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Bullet in the Head”, por Rage Against the Machine

O Memphis Grizzlies é o símbolo da resistência nesta temporada da NBA. Desde o princípio. Se Chicago e Indiana haviam abandonado o movimento, os senhores do “Grit & Grind” ainda apostavam em sua dupla de pivôs, em atacar o garrafão com brutamontes, em vez de ágeis e serelepes armadores, para abrir a quadra. Só não estavam completamente isolados devido ao resgate desta forma pelo San Antonio Spurs.

O recuo de Gregg Popovich, de todo modo, talvez tenha mais a ver com a proposta que julgue mais oportunista para o contexto atual de sua equipe, para tentar derrubar o Golden State Warrirs. Creio que só resgatou a fórmula que tanto castigou o Phoenix Suns de Nash e D’Antoni, por entender que seria muito complicado apostar corrida com os atuais campeões, em vez acreditar que há uma nova velha tendência na liga a ser capitaneada.

Uma vez eliminado dos playoffs no ano passado em uma épica série contra o Clippers, Popovich pode muito bem ter largado tudo para curtir a rota vinícola californiana. Ou pode ter dado uma espiada na semifinal de conferência entre Warriors e Grizzlies, em que os Splash Brothers e parceiros sofreram um tanto, e pinçado uma ou outra dica dali, a ponto de abastecer seu time com cinco pivôs de nível excepcional para bater bife na zona pintada.

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Já Memphis… Bem, o Memphis, com todo o respeito que o clube a cultivou nos últimos anos, vindo de três temporadas acima das 50 vitórias e de uma liderança de 2-1 neste embate com Golden State, não poderia se planejar seu elenco precisamente por conta de um oponente. Por mais otimistas que seus diretores possam ser, deveriam saber que a luta pelo título era algo improvável. Mas o contrato de Marc Gasol estava renovado, Zach Randolph, ao que tudo indica, não foi envolvido em nenhuma negociação séria, e ainda trataram de contratar Brandan Wright para fazer a escolta do velho par, cobrindo a lacuna deixada por Kosta Koufos.

Acontece que, dessa vez, a tática falhou. Muito antes das lesões, a equipe estava com dificuldade para assumir seu posto entre a elite do Oeste. Não em termos de competir com Warriors e Spurs, dois times que se distanciaram do pelotão muito cedo e com propriedade. A defesa, consistentemente uma das mais fortes da liga, não funcionava, com seu gigante espanhol fora de forma, fazendo sua pior temporada nesta década. Até o All-Star Game, era apenas a 16ª retaguarda mais eficiente da liga. Comparando, o time sempre esteve no top 10 de 2011 a 2015. E não é que tenham perdido intensidade na contenção para inflamar o ataque: seu sistema ofensivo continuava sôfrego (apenas o 20º…), sem uma artilharia confiável de fora.

E aí começou. Mike Conley, Zach Randolph, Wright, as suspensões de Matt Barnes… Até Marc Gasol sofrer uma fratura no pé, passar por cirurgia e ser afastado da temporada. Parecia, à época, a gota d’água. Por mais que tivessem boa vantagem para os times fora da zona de classificação, a posição na zona de classificação aos mata-matas parecia seriamente ameaçada.  E ainda vieram as trocas de Courtney Lee e Jeff Green.  Sério: como você vai sobreviver a isso?

Randolph, um dos poucos rostos familiares por aí. Mas com problemas no joelho

Randolph, um dos poucos rostos familiares por aí. Mas com problemas no joelho

Simples: lutando, resistindo. Os caras não só se seguraram no quinto lugar da conferência, como conseguiram aumentar a vantagem para o sexto, que hoje é o Portland, mas já foi o Dallas. Não que tenham sido espetaculares, arrasadores – desde que seu principal jogador foi vetado, o Grizzlies disputou 20 partidas e venceu 11. Mas um aproveitamento superior a 50%, nessas condições, é algo fenomenal, ainda mais considerando que seu rendimento ofensivo e defensivo caiu desde o All-Star.

E quais são essas condições? Poderíamos dizer “calamitosas”, não fosse a resposta que mais importa, aquela que se dá em quadra, e por isso a trilha a de ser de porrada na orelha, ou, hã, bala na cabeça. É uma música que está entre as letras menos politizadas do Rage Against the Machine, mas entre seus seus sons mais raivosos.

Vejamos: até o início da semana, o time só estava atrás do Washington Wizards, de Nenê e Brad Beal, em termos de jogos perdidos por lesão, uma conta que aumentou recentemente com a ruptura que Mario Chalmers sofreu no tendão de Aquiles – algo muito cruel para um atleta que fazia um belíssimo campeonato e está prestes a entrar no mercado de agentes livres – e com a distensão na virilha de PJ Hairston.

Chalmers estava jogando muito até sofrer grave lesão. Rogaram praga?

Chalmers estava jogando muito até sofrer grave lesão. Rogaram praga?

Para compensar tantos desfalques, a diretoria e seus scouts tiveram de se desdobrar. Hoje já são 27 jogadores utilizados neste campeonato, o que dá mais de cinco quintetos e praticamente dois elencos completos (cada equipe pode ter 15 atletas no máximo). Para constar, as trocas realizadas durante a temporada também influenciam aqui, com a chegada de Lance Stephenson, Chris Andersen, James Ennis, Chalmers e Hairston. Mas foram as questões médicas, mesmo, que mais contribuíram para essa lista, pedindo as contratações de curto prazo, aqueles vínculos básicos de 10 dias. Ryan Hollins, Elliott Williams, Ray McCallum e Jordan Farmar nós conhecíamos de outros verões – e, para constar, quanto à semana passada, Farmar diz que estava sentado no sofá; em sua estreia, contra o Phoenix Suns, cobrou lances livres decisivos pela vitória.  Mas e quanto a Briante Weber, Xavier Munford e Alex Stephenson? Um chegando atrás do outro pela porta giratória. “Com todo o respeito, mas às vezes eu não sei… os sobrenomes deles. Esse é o tipo de temporada que tivemos”, afirmou Matt Barnes ao ESPN.com.

As idas e vindas causam uma bagunça. Se os próprios jogadores não se reconhecem com facilidade, imagine os oponentes como ficam? Depois da vitória mais expressiva desse grupo – um triunfo por 106 a 103 em Cleveland –, Kyrie Irving admitiu que havia se preparado para jogar contra Conley e afins e se viu surpreendido em quadra.  “Tem noite em que não vai ser bonito, mas vamos para a quadra competir e nos dar uma chance real de vencer. É fácil olhar para nosso time e rir, nos subestimar, se você é o jogador adversário. Mas se eles vão para o jogo e acham que podem te dominar cedo, pode ser uma longa e  dura noite para nós, então não queremos nos meter numa situação dessas”, afirmou o técnico Dave Joerger, para quem fazer esse tipo de observação deve ser uma ironia.

Se, para a NBA em geral, seu atual elenco é feito de remendos e renegados, para um treinador que iniciou sua carreira em ligas menores dos Estados Unidos, acostumado a pegar o busão, dormir em motéis à beira de estrada. De 1997 a 2004, passou pelo Dakota Wizards. Antes de chegar ao Sioux Falls Skyforce, pelo qual ficou de 2004 a 2006, ainda teve breve passagem pelo glorioso Cedar Rapids River Raiders. E aí voltou para mais uma temporada em Dakota, até ser contratado como assistente do Memphis.  Então não é que ele vá reclamar de poder contar com alguns veteranos como Tony Allen, Vince Carter e Barnes, que sabem o caminho das pedras, ou de jogadores ainda em busca de formação, mas promissores, que poderiam ser titulares em 90% da Euroliga.

Joerger: não há desconforto em Memphis depois de Dakota

Joerger: não há desconforto em Memphis depois de Dakota

O técnico destaca a liderança de seus atletas mais experientes, ajudando na aclimatação dos mais jovens. E esses caras que estão chegando sabem que pode ser a grande oportunidade de suas carreiras. A mistura vem dando certo. “Normalmente, quando temos tantas contratações pontuais, com jogadores da D-League, é para um time que não esteja competindo mais por nada. Mas o fato de estarmos lutando por uma posição nos playoffs, sustentando e até mesmo aumentando a vantagem, você tem de tirar o chapéu para esses caras que entraram e jogaram”, disse Barnes.

Neste mês, o time só levou sofreu duas derrotas de lavada, incluindo uma surra de 49 pontos contra o Rockets, em Houston. Em suas vitórias, só teve uma por duplo dígito, contra o Clippers, no dia 19. De resto, os placares se alternam entre -10 e +7 de saldo. Melhor é vencer como o Warriors, claro, ou como o Spurs. Mas nem todo mundo tem Splash Brothers. Aí procura-se um jeito. O curioso é que,  casualmente, Joerger encontrou uma formação de “small ball” funcional, mesmo sem arremessadores, mas com atletas versáteis, multifuncionais que cobrem uns aos outros, como Barnes, Carter, Stephenson, o calouro Jarell Martin, JaMychal Green. “Acho que somos uma equipe assustadora. Acho que somos o Golden State sem o poderio de chute. Nós todos podemos fazer muitas coisas em quadra, fazer jogadas”, disse Barnes.

Nesse contexto, gente, Allen tem média de 15,0 pontos neste mês, sendo que em sua carreira o máximo que teve foram 11,5 pontos no terceiro ano em Boston, com direito a jogos de 26 e 27 pontos. Ele não chegava a 20 pontos desde 2011-12. JaMycal é uma revelação (aliás, vale a regra: se um jogador tem o selo do Spurs, mas acaba dispensado, por razões diversas, não custa dar uma investidada).  Stephenson reencontrou a luz, se sentindo livre para criar. Ainda tentando entrar em boa forma, depois de uma lesão em sua última temporada por LSU, o calouro Martin tem seus momentos.

O que dá ainda mais graça nisso tudo é o conjunto de personalidades intrigantes agrupadas pelo gerente geral Chris Wallace. Tony Allen já pautava a loucura por lá, até com karaokê. Matt Barnes deu uma bela contribuição financeira ao clube e à liga em geral com suas suspensões, desde a briga com Derek Fisher a uma visita ou outra ao vestiário do oponente. Zach Randolph já se acalmou bastante desde o final da adolescência em Portland, mas vai aparecer aqui e ali com uma declaração de fazer chorar (de rir). Mario Chalmers é outro de frases daquelas. E aí, em trocas, Joerger ainda ganhou caras como Lance Stephenson, PJ Hairston e Chris Andersen. Para ficar nas referências ao universo pop, é como se fosse o Esquadrão Suicida. Ou como se Mike Conley se visse como Nicholas Cage em “Con Air”, clássico de “Temperatura Máxima”. Todo mundo merece uma segunda chance. Ou terceira. Ou quarta.

Com tanta excentricidade no vestiário, é capaz de os adversários realmente considerarem essa versão do Grizzlies assustadora, por outros motivos. Não era exatamente esse o plano, mas o “Grit & Grind” segue vivo.

A pedida: manter o quinto lugar e tentar infernizar ao máximo a vida dos velhos amigos/inimigos do Clippers na primeira rodada.

A gestão: com tamanho caos em quadra, a franquia passa por mais uma turbulência fora de quadra, como de praxe desde que o bilionário Robert Pera fechou sua compra. Segundo reportagem do ESPN.com, existe uma tensão entre os acionistas minoritários, que acusam um distanciamento de Pera, que os teria afastado das decisões diárias, mesmo que não esteja mais perto do clube, no dia a dia.

Entre tantos ricaços, com as mais diversas origens no mundo dos negócios, imagine a fogueira de vaidades. Esse é o tipo de entrevero que deve acontecer com frequência ao redor da liga, mas que quase nunca alcança as manchetes. Dessa vez só veio à tona quando Steve Kaplan, um desses acionistas minoritários, se colocou como candidato à compra do Minnesota Timberwolves.

Até o momento, o departamento de basquete, com Chris Wallace estabelecido como gerente geral e assessorado pelo veterano Ed Stefanski e pelo supernerd John Hollinger, parece blindado, e nada mais merecido, com tanta dor-de-cabeça para montar o time. Na busca por novas peças, Wallace optou por uma estratégia menos conservadora, e deu certo. Se Ryan Hollins foi contratado, quem o pediu era Dave Joerger. De resto, a diretoria decidiu apostar. “Temos procurado jogadores jovens para se analisar, e é algo que meu histórico mostra. Já me vi envolvido nesse tipo de situação na minha época de Miami, Boston e aqui. E as melhores apostas, como quando trouxemos Bruce Bowen para Miami, Adrian Griffin para Boston, eram caras jovens que não tiveram muitas oportunidades. Eles não tiveram a oportunidade de serem rejeitados e de falharem, como muitos caras mais velhos. Tivemos sorte com alguns desses jogadores, e eles ficaram na liga por um bom tempo”, afirmou.

E o Memphis precisa desse tipo de jogador. Se renovar com Mike Conley, sua folha salarial  já deve atingir a marca de US$ 70 milhões, para oito atletas. Por mais que o teto esteja prestes a subir consideravelmente, não sobraria muito para reforçar uma base envelhecida e que, hoje, não se vê em condições de fazer muito barulho nos playoffs. Sob contrato, seriam apenas dois jogadores jovens para desenvolver:  Jarell Martin e o lesionado Jordan Adams, ala que até agora não disse a que veio.

Ao menos o clube conseguiu recuperar algumas escolhas de Draft com trocas que, no final, não atrapalharam em nada o rendimento do time em quadra.  Courtney Lee contribui para o sucesso do Charlotte Hornets, mas não faria diferença neste novo contexto do Grizzlies. Jeff Green é aquele vive de lampejos aqui e acolá, numa irregularidade que não o permite se fixar em lugar nenhum, mas ainda atrai algum concorrente, sendo trocado pela quarta vez na carreira. Ao cedê-los, conseguiu uma escolha futura de primeira rodada e mais quatro de segunda, compensando algumas negociações do passado, com seleções prometidas ao Denver Nuggets e ao Boston Celtics.

Olho nele: Lance Stephenson

Olho no Lance

Olho no Lance

Para a torcida do Memphis, o ala já virou um problema. Mas dos bons, quem diria. Depois de uma passagem desastrosa pelo Hornets e de mal ser aproveitado por Doc Rivers pelo Clippers, Stephenson chegou a Memphis totalmente desprestigiado. Em seu release para anunciar a transação, o clube citou primeiro a escolha de Draft que receberia de Los Angeles, para depois mencionar o desmiolado ala como complemento. Havia a possibilidade de ele ser dispensado logo de cara, mas alguns atletas se manifestaram internamente a seu favor, acreditando em sua recuperação, de que poderiam, digamos, controlá-lo.

Em 17 jogos, aproveitando-se de tantos desfalques e da carência de homens criativos na escalação, o antigo pupilo de Larry Bird promoveu uma reviravolta em sua temporada. Enquanto Conley não volta, Stephenson é aquele que tem mais recursos no elenco ativo para criar situações de cesta por conta própria, usando 26,2% das posses de bola da equipe, o maior da temporada, produzindo 15,1 pontos, 2,8 assistências e 5,1 rebotes, com 49,8% de acerto nos arremessos, em 26,2 minutos.

O que pega nisso tudo é que, para a próxima temporada, Chris Wallace vai ter decidir o que fazer com o talentoso, mas problemático jogador. Seu contrato prevê um salário de US$ 9 milhões, mas sem garantias. O diretor pode dispensá-lo até julho, sem precisar pagar um tostão sequer. É uma boa grana, sem dúvida, mas, daqui a alguns meses, com a previsão de inflação geral, pode parecer uma pechincha. Agora: obviamente que tudo que se refere ao ala tem de ser apreciado com moderação. Estabilidade nunca foi seu forte, e nas últimas partidas, desde a chegada de Jordan Farmar, seus minutos e arremessos já estão mais controlados por Joerger.

juan-carlos-navarro-grizzlies-cardUm card do passado: Juan Carlos Navarro. Que tal falar sobre oportunidades desperdiçadas? Em 2007, o clube conseguiu convencer Navarro a abrir mão de seu reinado catalão para se juntar ao amigão Pau Gasol no interior do Tennessee. Os direitos sobre o espanhol pertenciam ao Washington Wizards, mas a diretoria queria tanto o cestinha, que aceitou pagar uma escolha futura de primeira rodada para contratá-lo. Como sabemos, o cestinha ficou apenas um ano no time, foi um prejuízo danado. Mas isso não tem nada a ver com a incapacidade de JC de emplacar o apelido de “La Bomba” na NBA. Alguém com seu arremesso, velocidade de raciocínio e personalidade vai encontrar um lugar em praticamente qualquer time do mundo. Acontece que aquele Grizzlies em específico, a despeito da presença de Pau Gasol, não estava preparado para recebê-lo.

Navarro chegou a um clube que havia ficado fora dos playoffs na temporada anterior, depois de alguns anos bem-sucedidos com o genial Hubie Brown e o czar Mike Fratello. A bola da vez era Marc Iavaroni, assistente de Mike D’Antoni no badalado Phoenix Suns de então. Pois a passagem de Iavaroni por Memphis foi um desastre absoluto. É difícil encontrar ex-jogador, ex-diretor, qualquer um que seja, disposto a elogiar o treinador. A equipe entrou em colapso, venceu apenas 22 jogos e, para piorar, mandou seu principal jogador para o Lakers, deixando seu compatriota desolado. Ficou um aninho apenas nos Estados Unidos e logo retornou ao Barça, correndo. É a diferença que faz quando um clube consegue cultivar internamente uma cultura vencedora. Por maior que seja o número de malucos no vestiário hoje, Memphis ainda está segurando as pontas.