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Arquivo : Lucas Bebê

Entevista: scout da NBA avalia Bruno Caboclo e aguarda plano do Raptors
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Giancarlo Giampietro

Bruno Caboclo: a dois anos de contribuir? Giannis? Tudo em perspectiva

Bruno Caboclo: a dois anos de contribuir? Giannis? Tudo em perspectiva

Alerta! Alerta! Alerta!

Primeiro que o blog voltou. Depois, com base no assunto do post, importante ressaltar que foi apenas uma liga de verão.

Não dá para tirar conclusões, análises definitivas sobre nenhum jogador nesse contexto de competição – em que o padrão de jogo é basicamente nulo e no qual muitos atletas mandam às favas qualquer senso coletivo para tentar impressionar ao máximo os dirigentes, técnicos e scouts na plateia. Talvez inconscientes de que essa fome toda possa ser um tiro no pé.  O Raptors, por exemplo, tinha quatro armadores brigando por espaço, com Scott Machado entre eles.

Por outro lado, para um garoto como Bruno Caboclo, acaba sendo algo muito valioso. Em diversos sentidos. Do ponto de vista do garoto, foram 130 minutos de jogo contra a competição que é certamente a mais difícil de sua breve carreira. Para os olheiros, era uma grande chance de avaliá-lo em meio a profissionais já rodados, ou recém-iniciados, mas mais velhos. Algo crucial, considerando que há pouco mais de um ano estava jogando apenas contra juvenis no Brasil.

Não é o caso de dissecar os números da jovem aposta brasileira, no entanto. Há quem consiga analisá-los com base em projeções estatísticas a partir de uma base de dados ainda limitada. Mas, sinceramente, aí já acho forçar demais a barra – os cálculos têm uma natureza um tanto dúbia, de qualquer forma.

De modo que vale mais bater um papo com alguém já habituado a assistir e processar esse tipo de competição. No caso, um chapa que é scout internacional de uma franquia da NBA. O acordo é não divulgar sua identidade, nem o clube para o qual trabalha. Posso dizer apenas que se trata de alguém bastante experiente e de uma franquia indiscutivelmente aberta a jogadores estrangeiros, criativa na hora de contratar.

Que fique o registro de que é um olheiro que já havia visto Bruno em ação por um bom número de jogo no período pré-Draft, ainda que não in loco, como foi o caso do gerente geral do Toronto Raptors, Masai Ujiri, e seus asseclas. Obviamente a observação a olho nu conta muito mais, especialmente em uma tarefa tão delicada, tão susceptível a diversas nuanças como a avaliação de um prospecto. Se for um rapaz de 18 anos, em competições menores no Brasil? Ainda mais difícil. Mas é isto: não estamos falando com alguém que viu o ala ex-Pinheiros pela primeira vez. Importante também mencionar que se trata de uma visão independente sobre o garoto. Ainda que o camarada represente, de alguma forma, os interesses de outro clube, tenho confiança total de que, nessa conversa, ele tentou ser o mais imparcial possível:

21: Qual tipo de coisa os scouts tentam, vão observar num ambiente de Liga de Verão? Sabemos que é um jogo completamente diferente, mas que tipo de nota é possível tomar sobre os jogadores, pensando na liga principal?
Scout: Queremos ver como o jogo deles se traduz neste contexto diferente. Afinal, é a primeira indicação que temos a respeito deles, ainda que esteja longe de ser uma indicação final. Alguns caras acabam mudando de posição na NBA, como o Cleanthony Early (calouro do New York Knicks), que jogou como PF na universidade (de Wichita State), e na NBA será um SF. Esse tipo de coisa. E aí você quer ver como os caras vão lidar com adversários de tamanho bem diferente aos daqueles que eles estão acostumados a enfrentar. Obviamente não é o indicador ideal, mas já dá para passar uma noção.

Capacidade para o arremesso de Bruno já é destacada por scout, assim como suba envergadura realmente impressionante. Vejam o tamanho dos braços. Glup

Capacidade para o arremesso de Bruno já é destacada por scout, assim como suba envergadura realmente impressionante. Vejam o tamanho dos braços. Glup

Sobre o Bruno, teve algum aspecto de seu jogo que chamou a atenção, nesse sentido?
Bem, todos os aspectos de seu jogo chamaram atenção. Especialmente pela escolha alta que ele teve, que pouquíssimos esperavam. Seu arremesso já estava se traduzindo muito bem. Obviamente que também o seu tamanho e corpo, e tudo isso. Mas aí, se formos pensar em um basquete para valer, de verdade, acho que ele teve muitas dificuldades. Algumas pessoas, porém, consideram que ele pareceu muito melhor que o esperado. Em geral, foi seu arremesso que acabou agradando bastante.

Mas, para você, em geral, o desempenho do Bruno foi bom? Claro que precisamos ter em mente sua idade e inexperiência, o nível de competição que encarou no Brasil. Pensando nisso, acha que ele estava adiantado em sua curva de aprendizado, ou basicamente como você esperava?
Ele já consegue receber a bola na zona morta e chutá-la. Isso já é uma grande vantagem na NBA de hoje (*). Ele também pode conseguir fazer algo em transição devido a seus atributos físicos. Isso já lhe renderia algo em torno de cinco a oito pontos por jogo. Mas ele ainda precisa descobrir como defender, e como jogar, em geral. Ele tem as ferramentas para isso, mas ainda está muito, muito longe de entender o jogo e como usá-las. Ainda tem um longo caminho para ele realizar seu potencial. Quanto tempo vai levar? Bem, ele já sabe arremessar. O grande ponto de interrogação para ele é o que ele vai contribuir do outro lado da quadra. Minha maior preocupação é que o Raptors não tem uma equipe na D-League (**), de modo que eles não têm aonde desenvolvê-lo. Se fosse o San Antonio, o Houston ou o Utah, por exemplo, isso já seria diferente. Além disso, o Raptors está carregado na sua posição. Será interessante ver o que vão fazer com ele e como vão desenvolvê-lo.

(*Nota: o scout faz referência ao “corner three”, o arremesso da moda no plano tático da liga: a distância ali é mais curta para o chute de três pontos, tendo maior probabilidade de acerto, de modo que os técnicos estão usando-o cada vez mais, na tentativa de espaçar ou desestabilizar a defesas.)

(**Nota: cenário da liga de desenvolvimento da NBA é bastante desfavorável ao Raptors. Dos 18 clubes menores, 17 têm vínculo exclusivo com um clube de cima. A franquia canadense, porém, não é uma delas. E isso significa que ela tenha de dividir Fort Wayne Mad Ants com outras 12 equipes, perdendo o controle ou a influência clube sobre orientações táticas, uso de jogadores etc.)

Inevitável citar aqui também a já famosa frase do Fran Fraschilla (ex-treinador e analista da ESPN, que foi pego de surpresa no momento em que Bebê foi anunciado pelo Raptors na 20ª posição), de que o ala estaria a dois anos de estar a dois anos de se aprontar para a NBA.
A maioria das pessoas comentou em Las vegas que essa dos dois anos para estar a dois anos não parece muito correta. A sensação na plateia foi a de que ele está a dois anos de contribuir, e ponto. Mas pelo menos dois anos. E aí, sim, precisamos ter em mente o quão inexperiente ele é, o nível de treinamento e jogo no Brasil, e tudo o que você citou para lhe dar o benefício da dúvida. Se ele viesse de um contexto diferente, então o que vimos seria mais preocupante.

Ele já foi comparado a Giannis Antetokounmpo em diversas ocasiões, e eu consigo entender isso do ponto de vista de sua narrativa – de alguém que veio, digamos, do nada – e a capacidade atlética absurda. Mas é justa essa comparação? Ou, em termos de habilidade em quadra, ele ainda está muito atrás, em relação ao que o grego mostrou ano passado?
Acho que ele está bem atrás, mas já arremessa de um modo que o Giannis realmente não conseguia. Em todos os demais aspectos, acho que o Giannis estava muito mais desenvolvido quando entrou na NBA. Mas eu também achava que o Giannis estava a dois anos de contribuir, e estava errado (risos). Eles têm a mesma “história”. Então existe essa chance de que possa ter alguma produtividade, mas isso depende de muitas coisas. Uma das melhores coisas que aconteceu para o Giannis foi o fato de ele ter sido draftado por aquele que foi o pior time da NBA e que não tinha quase nada em sua posição. Então não havia pressão alguma. Havia tempo de quadra disponível, e ele teve o melhor cenário para se desenvolver. O Bruno não vai ter esse luxo. O Raptors teve a melhor campanha da franquia em muito tempo, tendo inclusive vantagem de mando de quadra nos playoffs. Eles renovaram o contrato de todos os seus caras. O Jonas está um ano mais velho. A expectativa deles é de seguir vencendo, e, como disse, as alas estão carregadas. Não sei ao certo aonde o Bruno se encaixa.

E quanto ao Lucas Bebê, o que pode dizer do que viu?
O Bebê teve uma temporada bem difícil por causa dos problemas físicos. Ele não pareceu pronto durante a Liga de Verão, mas… Quem sabe? Ele precisa sair do Estudiantes, isso é certo. Se é para outra equipe na Espanha ou na Europa, ou para o Raptors, essa é uma boa pergunta. (*)

(*Nota: o site Encestando, da Espanha, já noticia neste sábado que o Toronto Raptors acertou com o Estudiantes a rescisão contratual do pivô brasileiro, que vai se juntar a Caboclo na temporada 2014-15 da NBA. São seis jogadores do país por lá agora, com o retorno de Leandrinho também sendo bem provável. Para Scott Machado e Fabrício Melo, as coisas estão mais difíceis.)

* * *

O blog está de volta à ativa com essa entrevista, então, depois de um longo recesso por motivos de Copa do Mundo – de futebol, no caso. Vocês se lembram dela, né? Temos uma seleção brasileira reunida em São Paulo, outra jogando na Venezuela. Desafio também será recuperar o que se passou com aqueles velhinhos teimosos do Spurs e a volta de LeBron James para Cleveland. O que dizer a respeito, depois de mais de 76 bíblias já publicadas e revisadas a respeito? Vamos tentar, uma hora dessas. Abraço, e até mais.


Toronto, capital norte-americana do basquete brasileiro?
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Giancarlo Giampietro

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Primeiro foi Bruno Caboclo, como já haviam lhe prometido no Draft. Agora, chamam Lucas Bebê para a festa. Em quatro dias, Toronto se tornou a capital norte-americana do basquete brasileiro. Neste domingo de noite, também de modo sorrateiro, a franquia canadense acertou uma troca para despachar John Salmons e seu salário para o Atlanta Hawks, recebendo o armador Lou Williams e os direitos sobre o pivô brasileiro, que jogou a temporada espanhola pelo Estudiantes.

Masai, Bruno e o Brasil

Masai, Bruno e o Brasil

Mais uma cartada surpreendente do gerente geral Masai Ujiri, que vai se revelando um profundo admirador dos garotos brasileiros. Não se esqueçam, como eu já estava deixando passar até ser lembrado pelo Romengão abaixo, que Scott Machado também tem convite para defender o time na liga de verão de Las Vegas, a partir do dia 11 de juho. Vai e os caras do Norte vão se tornar populares por aqui.

O negócio por Bebê ainda não havia sido oficializado até essa postagem, dependendo da aprovação da NBA. Mas parece não haver impedimento legal nenhum, e o Hawks tem pressa: só aceitaram Salmons para dispensá-lo nesta segunda-feira e economizar (só terão de pagar US$ 1 milhão de um salário de US$ 7 milhões), limpando espaço na folha salarial para atrair algum agente livre sexy.

Ainda não temos a palavra do nigeriano Ujiri a respeito da transação, então. Não sabemos ainda se é de seu interesse aproveitar Bebê na próxima temporada. O pivô ainda tem mais um ano de contrato com o Estudiantes, mas, segundo o site Encestando, estaria interessado em procurar novos rumos, seja na NBA ou em um clube de Euroliga. Sua multa rescisória é baixa, de US$ 600 mil e, caso o Raptors tenha interesse, poderá pagá-la na íntegra. A graninha também seria bem-vinda aos espanhóis, que estão com atrasos em sua folha de pagamento.

De qualquer forma, essa troca serve para vermos mais uma vez como são fluidas as coisas na NBA. Um ano atrás, o Hawks estava encantado com o carisma e os talentos de Bebê. Hoje, simplesmente o usaram numa troca para se livrar de salário em busca de nomes mais grandiosos e badalados no mercado – sem a garantia de que vá se dar bem nessa. Isso não quer dizer que o pivô brasileiro tenha perdido valor, que seja menos intrigante do que em 2013.

O que mudou, de certo, foi o contexto do Hawks, time que acabou de selecionar no Draft outro gigante ainda cru e promissor em atividade na Espanha – o cabo-verdiano Walter Tavares, na segunda rodada, um atleta de características muito semelhantes em termos de impacto em quadra, com sua capacidade para proteger e atacar o aro. Tavares, no entanto, vai ficar na Espanha pelo menos por mais um ano. Não há pressa em aproveitá-lo, assim como não havia com Lucas. Vale o registro: pouco depois de terem sido eliminados pelo Indiana Pacers num confronto muito mais dramático que o esperado nos playoffs, o gerente geral Danny Ferry e o técnico Mike Budenholzer estiveram em Madri para acompanhar o carioca de perto. Não sabemos o que conversaram. Só sabemos agora que o Hawks optou por seguir em outra direção.

E como foi a temporada do pivô pelo Estudiantes? Um pouco acidentada, infelizmente, por conta de problemas físicos. Ele pôde disputar apenas 18 partidas, lidando com dores crônicas no joelho devido a uma tendinite. Dores que, em determinado momento, o forçaram a se afastar da equipe por meses. Depois de anotar 7 pontos e pegar três rebotes contra o Bilbao pela nona rodada em dezembro, numa derrota por 72 a 55, Bebê ficou fora de ação por 12 jornadas, de dezembro até a março. Regressou, ironicamente, contra o mesmo Bilbao. Neste vai e vém, o pivô foi aproveitado de modo irregular, óbvio. Só ficou em quadra por mais de 20 minutos em três ocasiões.

O técnico Txus Vidorreta acusou sua passagem pelos Estados Unidos como um fator agravante – lembrando que Bebê passou diversas semanas sob a custódia do Hawks, jogando a liga de verão de Las Vegas e treinando em Atlanta. “Depois de três meses nos Estados Unidos, não está em boas condições. Ele não teve um período de descanso, algo que é necessário antes de enfrentar a pré-temporada. Além disso, chegou com excesso de peso. As equipes da NBA têm o interesse que jogadores como Nogueira ganhem muito peso, quando não deveria ser assim. Querem isso para quando vá para a NBA, se é que vai. No momento, tem contrato com o Estudiantes, e isso está complicando sua preparação”, disse.

Luca Bebê em ação em temporada irregular na ACB

Luca Bebê em ação em temporada irregular na ACB

As boas notícias, porém, existem: com Lucas em quadra, o Estudiantes foi um time bem mais competente, com nove vitórias e nove derrotas (50%, dãr). No geral, a equipe teve campanha de 12 vitórias e 22 derrotas (35,2%), terminando em uma frustrante antepenúltima posição. Sem o brasileiro, o rendimento foi sofrível: 3 vitórias e 13 derrotas (18,5%).

Pois, no pouco que jogou, Bebê foi muito bem. Em termos de eficiência,  deu saltos consideráveis, posicionando-se na elite da fortíssima Liga ACB. Considerando jogadores que tenham ficado em quadra por um mínimo de 250 minutos, o brasileiro foi o quarto atleta mais produtivo do campeonato, atrás apenas de Tibor Pleiss, alemão do Caja Laboral/Baskonia, Blagota Sekulic, montenegrino que estava barbarizando pelo CB Canarias até ser contratado pelo Fenerbahçe, e do sensacional croata Ante Tomic, do Barça.  Como chegou a essa condição? Mantendo alto nível nas finalizações próximas ao aro (bandejas e enterradas, enterradas e bandejas) e sendo um dos principais bloqueadores do campeonato em projeções por minuto (3,38 tocos por 36 minutos, contra 2,64 de Tavares, por exemplo). O único desconto obrigatório aqui: estamos falando de projeções, uma vez que, na temporada real, Bebê foi aproveitado por apenas 16,6 minutos por rodada.

O pivô cobre espaços na defesa, intimida os adversários que queiram infiltrar. Também passa a bola surpreendentemente bem de frente para a cesta, algo que nem sempre é explorado.

Avaliando esses altos e baixos, é complicado de imaginar qual será o próximo passo para Bebê – e qual seria o mais indicado, aliás. A tendinite foi aplacada? Há boas propostas/vagas de clubes da Euroliga (e aqui seria muito melhor em pensar em times um pouco mais fracos, em que o brasileiro fosse parte integral dos planos, em vez de reserva de luxo)? Mais vale buscar a segurança de um contrato na liga norte-americana desde já? O quanto o Raptors o admira?

Lucas Bebê e sua ótima habilidade como finalizador. De Madri para Toronto?

Segundo o jornalista Ryan Wolstat, do Toronto Sun, Masai Ujiri tinha o brasileiro como um dos seus alvos no Draft do ano passado, ao lado de Giannis Antetokounmpo. Não conseguiu fechar nenhuma troca – uma vez que sua escolha estava entregue ao Oklahoma City Thunder, resultando no intrépido Steven Adams –, e teve de fechar os olhos todas as vezes que o Raptors se deparava com o Bucks de Giannis pela frente. Agora, porém, tem a chance de contratar Bebê, num setor com carências.

O lituano Joanas Valanciunas terminou a temporada em alta, mas, em geral, não deu o salto que o clube esperava. É jovem – um mês e meio mais velho que o brasileiro apenas e já com duas campanhas de NBA na bagagem – e o titular indiscutível da posição, todavia. Amir Johnson é pau-pra-toda-obra e alguém que parece ainda nem ter alcançado seu potencial pleno ainda. Tyler Hansbrough poderia ter sido dispensado hoje – mas teve seu contrato confirmado. Patrick Patterson, que jogou tão bem desde que chegou na troca por Rudy Gay, pode ser um agente livre restrito cobiçado, devido ao seu arremesso de três pontos. Chuck Hayes joga muito – para alguém de seu tamanho. E só. Pode ter espaço aí, ou não.

Além do mais, é de se imaginar que a presença do cabeleira no elenco do Raptors ajudaria na transição de Caboclo ao dia a dia na metrópole canadense, como um companheiro para trocar ideias e dividir experiências, ainda que também não fale inglês fluente. Mas isso vai depender dos próprios planos do clube em relação aos seus agentes livres, como o armador Kyle Lowry. A intenção é mantê-lo mas seu preço pode ser inflacionado, especialmente o de Lowry, que foi um dos melhores em sua posição no último campeonato e desperta o interesse de LeBron James do Miami Heat e, dizem, do Los Angeles Lakers. Com cerca de US$ 40 a 41 milhões comprometidos em holerites, já contando o vínculo futuro de Bruno, eles têm muito provavelmente a flexibilidade para assinar com quem queiram e ainda contratar Bebê para já. Vamos aguardar.

Até porque não haveria necessariamente uma urgência para que Lucas produzisse logo de cara. Seria uma peça complementar em um elenco que evoluiu muito sob o comando de Dwane Casey durante o campeonato, especialmente após a saída de Gay. Essa melhora, inclusive, forçou que Ujiri mudasse sua direção. Inicialmente, quando o nigeriano acertou seu retorno ao clube por uma bolada, esperava-se que fosse implodir o elenco. Algo que começou fazendo ao despachar Andrea Bargnani para Nova York. Acontece que o Raptors, em vez de perder, começou a vencer, a ponto de chegar aos playoffs pela primeira vez desde 2008. Daí que agora o cartola pensa em manter essa base competitiva e se virar para desenvolver jovens atletas fora da rotação. É nessa estratégia que entra a surpreendente escolha de Bruno Caboclo. Pode ser aí que se encaixe Lucas Bebê.

*  *  *

Sobre a seleção de Bruno, em tempo: sim, há mais de um mês sabia do forte interesse do Toronto Raptors pelo seu talento. Indiana Pacers, Utah Jazz (seu diretor internacional de scouting, que acabou de se desligar do clube, é um dos responsáveis pela montagem do elenco do Nike Hoop Summitt…) e o Phoenix Suns (Leandrinho?) também estavam na trilha.

Quando o ala declarou seu nome, muitos clubes saíram a sua procura, como relatei aqui. Nesses contatos, chegou a informação, de três fontes diferentes da liga, de que ele teria a promessa que seria escolhido, e que ttudo apontava que fosse realmente o Toronto. Mas ninguém esperava que ele saísse com a 20ª escolha! Isso é fato. Acho que nem mesmo Masai Ujiri acreditava nisso (risos). Minhas fontes, na verdade, acreditavam que ele sairia apenas na 59ª escolha – visto que se tratava de um nome pouco discutido. Em público, no caso.

O venerável Marc Stein, do ESPN.com, contudo, reportou que a promessa do Raptors estava endereçada para o pick 37. Então foi um meio acerto aqui no blog. Que o Toronto tenha conseguido manter isso em segredo diante da mídia norte-americana, é notório, aliás. Nenhum dos sites especializados cogitava a escolha de Caboclo. Nem mesmo na segunda rodada.

Caboclo treina em Toronto. Crédito da foto é de João Fernando Rossi, dirigente do Pinheiros que acompanha o rapaz por lá

Caboclo treina em Toronto. Crédito da foto é de João Fernando Rossi, dirigente do Pinheiros que acompanha o rapaz por lá

Com a proximidade do Draft, porém, os nervos ficam mais tensos. A primeira opção da franquia, o armador local Tyler Ennis, foi escolhida pelo Suns. Na dúvida, Ujiri foi de Bruno logo em 20º, mesmo, relatando depois que o tinha como o segundo calouro em sua lista (claro, daqueles que julgava possível obter) e que temia que ele não estivesse disponível mais de uma hora depois. Vai saber. Ele não quis arriscar.

O agente responsável pelo ala – que era o mais jovem do Draft – ajudou a segurar as pontas para a franquia canadense também. Foi bastante seco em seus contatos com as franquias que o procuravam. Nos últimos dias antes do processo de seleção, havia um companheiro, envolvido na cobertura, que até mesmo especulava se a estratégia realmente não era de que Bruno passasse batido pelo Draft para ter plena possibilidade de escolha no futuro, sem ficar preso a um só clube. O agente brasileiro, agora escoltando o garoto nos Estados Unidos, ajudando-o também como intérprete, havia me dito que não tinha nada de promessa. Como postei na noite: compreensível, havia um plano em curso, e, na guerra fira que é a preparação para o Draft, cada um defende os seus interesses. A lição que fica aqui é a de sempre: declaração oficial nem sempre – ou quase nunca – não é o suficiente.

Minutos depois da escolha de Caboclo, também ouvi de uma fonte de que Caboclo já tinha a garantia de que seria aproveitado de imediato pelo Raptors. Calhou que não era achismo. Durante a apresentação do menino, Ujiri confirmou – depois, inclusive, de admitir que tenha visto o ala, ao vivo, em três ocasiões. O garoto vai trabalhar bastante com a comissão técnica de Casey e deve, aqui e ali, ser aproveitado na D-League. Mas esperem que ele fique muito mais tempo em Toronto, mesmo, já que o time não possui um afiliado particular na liga de desenvolvimento. Hoje, eles dividem esse vínculo com o Fort Wayne Mad Ants com outros 12 clubes (!!!) – uma situação agora bizarra, uma vez que todas as outras equipes  têm parcerias individuais.

*  *  *

O que penso a respeito?

Em primeiro lugar, nunca se pode ignorar o que representa financeiramente a transição para a NBA. É hipocrisia ignorar esse aspecto, ainda que, se tudo ocorresse conforme o esperado (pelo basquete brasileiro), Bruno não teria problemas em tocar uma vida confortável. Mas agora estamos falando de milhões de dólares, e para já.

Tirando isso, que importa, tem o jogo. Sem ele, não há a bufunfa, claro.

Faz mais de meses, especialmente depois da fase final da última LDB, que o burburinho nacional em torno de Bruno estava demais. E com razão. Não é todo dia que se vê um garoto com seus atributos físicos entrar em cena. Agora não é só de envergadura, agilidade e talentos naturais que tais que vive um prospecto. Precisa de tino, força de vontade e um trabalho por trás. E aí ficam os méritos para o Barueri, clube que o teve até 2013, e o Pinheiros, que o contratou no ano passado para acelerar seu desenvolvimento, por meio de trabalhos específicos diários e o simples convívio com o time adulto, que já faz uma baita diferença.

Talvez o ideal fosse seguir nesse ritmo por ora? Era o que o agente Eduardo Resende dizia, há coisa de duas ou três semanas. Que ele ficaria pelo menos mais um ano nessa rotina, antes de pensar em dar algum salto. Jogaria mais com a equipe principal e tal. Acontece que o interesse do Raptors não queria esperar. A franquia canadense confia que possa fazer o jogo do garoto crescer, mesmo que ele não jogue muito em seus primeiros meses – ou até mesmo durante o campeonato inteiro.

Há quem duvide. Um scout da liga disse ao New York Daily News que Bruno não valia nem mesmo uma escolha de segunda rodada. Segundo o que viu do atleta. Pensem que esse tipo de comentário pode sair da boca de alguém que neste exato momento é pressionado por seus superiores sobre um eventual desconhecimento do atleta.

Dos olheiros que ouvi, a frase de consenso foi a seguinte: “Potencial absurdo, mas ainda não sabe muito bem o que está fazendo em quadra. Vai precisar de tempo, mas vale a aposta. Por que não? Muitos calouros americanos mais americanos não dão em nada. E no caso de Caboclo há evidentes qualidades a serem exploradas”. Realmente só não esperavam que fosse sair tão cedo no Draft. As coisas mudam pouco de figura, até mesmo quanto a cobranças de torcedores e mídia, além de adversários mais antenados. Cada ala que tenha saído depois do brasileiro vai tê-lo como alvo.

No ano passado, Giannis Antetokounmpo foi contratado pelo Milwaukee Bucks com planos semelhantes. Acabou que entrou na rotação da equipe rapidamente e terminou a temporada como o novato talvez mais promissor de sua geração. Bruno pode seguir a mesma linha, quiçá, ao menos em termos de ganhar tempo de quadra inesperado? Perguntei aos scouts, e eles só concordavam em uma coisa: que ambos só eram similares em termos de narrativa, história. “Garoto que é uma aberração física e que veio do nada para a NBA”. Mas que o grego já estaria muito mais desenvolvido em alguns aspectos como “feeling” de jogo e sua habilidade com a bola quando foi draftado. São olheiros em que confio, que trabalham para equipes com bom faro para e aproveitamento de jogadores estrangeiros, isso posso garantir.

Aguardemos os relatos de seus treinos e rachas com DeMar DeRozan e Terrence Ross agora mesmo em Los Angeles para ver quais serão as primeiras impressões. Em julho, tem liga de verão. Outra atividade programada será a participação no camp de Tim Grgurich, renomado  treinador que investe muito no aprimoramento de fundamentos e já trabalhou por muito tempo com George Karl, inclusive com Nenê em Denver. Resta confiar agora que os técnicos de Toronto ajudem no progresso do ala para encarar essas diferentes e maiores expectativas. De tudo o que ouço sobre Bruno, da sua parte não vai faltar empenho.

PS: Durante esta Copa, como havia avisado, a atualização do blog fica atrapalhada. Ainda falta escrever sobre Splitter, Spurs, LeBron (de novo!?!) e tal. Ah, seleção também, claro. Está acabando, e logo acessaremos isso. 


Com mais espaço, Lucas Bebê tem perspectiva de crescimento no Estudiantes
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Giancarlo Giampietro

Lucas Bebê, de volta ao Estudiantes

Bebê teve boa atuação contra o Fuenlabrada, mantendo sua evolução na Espanha

Ainda é pré-temporada. O Estudiantes ainda está procurando se entender, assimilando as novas peças de seu elenco. O mesmo acontece com a concorrência, ainda mais para aqueles que ainda estão desfalcados pelo EuroBasket ainda em pleno curso. Então não dá para cravar nada e, na hora de apostar, é melhor ser precavido com o seu dinheirinho sofrido de cada dia. Mas as notícias sobre Lucas Bebê que vêm da Espanha neste mês são animadoras.

Depois de namorar o Atlanta Hawks por mais de um mês, vislumbrar a possibilidade de assinar seu contrato de NBA e, no fim, ter de se contentar com o retorno para Madri e a Liga ACB – o que não está nada mal, convenhamos –, o desafio para o jovem brasileiro era manter a cabeça erguida, não deixar a motivação despencar e entrar forte em mais um ano de evolução para a realização de um potencial incrível. Parece que é o que vem fazendo, causando boa impressão nos primeiros amistosos de seu clube.

Aos 21, cada temporada é importantíssima para o progresso de Lucas. Se em Atlanta ele não teria tempo de quadra, melhor, então, seguir em frente com o Estudiantes, ainda mais com um novo contexto rodeando a equipe. Entre os grandalhões, saíram o veterano pivô Germán Gabriel, o o americano e ainda mais experiente Lamont Barnes e o britânico Daniel Clark.

Gabriel foi um dos destaques da liga em 2012-2013 e se viu surpreendentemente valorizado na reta final de sua carreira. Acabou recebendo uma proposta mais intere$$ante do Bilbao, clube de Euroliga, e se mandou para o País Basco. O jogador era a referência no jogo interno, digamos, estudantil e também fazia as vezes de um tipo de paizão do brasileiro – basta acompanhar o garoto no Twitter nestes dias para ver sua admiração pelo ex-companheiro durante os jogos da seleção espanhola: está toda hora perguntando quando o Gabriel vai jogar, por que o técnico não o usa mais, Gabriel isso, Gabriel aquilo. Se, por um lado, ele perde um mentor, por outro sobram mais oportunidades para desenvolver suas habilidades ofensivas.

Barnes, aos 34 anos, era o segundo homem da rotação de pivôs. Clark, que joga muito mais aberto, atirando de três pontos sem a menor cerimônia, era o terceiro. E aí entrava o brasileiro, com o quarto homem, embora começasse as partidas jogando – sim, mais uma prova de que não tem a menor importância qualquer discussão sobre sujeito ser titular ou banco num jogo de basquete.

Para reposição, o Estudiantes investiu em dois reforços bastante experimentados: o búlgaro Dejan Ivanov e o croata Marko Banic. Pelo que vem demonstrando durante a pré-temporada, Ivanov, 27, é quem deve assumir boa parte das jogadas trabalhadas para Gabriel, tendo jogado a Euroliga pelo Lietuvos Rytas e defendido também o Cimberio Varese na Itália. Foi muito elogiado pelo técnico Txus Vidorreta. Veja esta declaração: “Está claro que pelo nosso plantel e as baixas que sofremos, Dejan é o jogador que melhor pode dominar na zona pintada, produzindo na defesa, sofrendo faltas no ataque, indo para o rebote. É um bom passador, joga bem perto da cesta, é uma ameaça e conhece o jogo. Além disso, já parece um irmão mais velho: dá instruções para os jovens e está se integrando de modo fantástico”. Acho que o búlgaro já pode pedir um aumento, não?

Banic, de 29, ainda não fez sua estreia, mas é um velho conhecido do basquete espanhol, tendo jogado pelo Bilbao de 2005 a 2012. Fez um pit stop na Rússia no ano passado, até ser dispensado pelo Unics Kazan devido a uma cirurgia no joelho. Não sabemos qual o seu estado físico no momento. Se estiver em forma, oferece a Vidorreta, com quem já trabalhou no passado, outra referência ofensiva, com uma munheca bastante eficiente próximo da tabela e também nos tiros de meia distância.”Depois de um ano difícil na Rússia, o Marko necessita de confiança para ir retomando as boas sensações. Estou convencido de que ele vai conseguir aqui”, disse o treinador. (Uma anedota sobre Banic: acompanhado de Moncho Monsalve, me lembro de uma carona que conseguimos com a seleção croata para voltar de uma loooonga noite – de jogos! – durante o Pré-Olímpico mundial de Atenas, em 2008. O ginásio do Panathinaikos estava fechando, o transporte para a imprensa havia se mandado, e por sorte me deparei com Moncho num saguão. O treinador estava zanzando por lá, fazendo a social de sempre, também sem veículo para voltar ao hotel. Entrou num bate-papo animado com o atleta, que falava um espanhol impecável, deixando o ex-técnico da seleção embasbacado. Simpático, nos arrastou para o busão, economizando alguns preciosos euros para o repórter.)

Os dois chegam ao Estudiantes para ser protagonistas, não há como negar. Agora, Lucas, no mínimo, já foi promovido a terceiro pivô. Soa até bobo escrever isso, né? Na prática, todavia, isso deve representar uma escalada dos 14 minutos que recebeu na temporada passada para algo entre 20 a 25 por jogo. Não dá para esperar que ele vá ser explorado de maneira substancial no ataque, mas as combinações de pick-and-roll com o jovem atleta devem acontecer com maior frequência. E o pivô também já mostrou que pode contribuir bem em qualquer ataque com sua visão de jogo e propensão para o passe, seja de costas para a cesta ou na cabeça do garrafão. Além disso, enquanto Banic não vai para a quadra, é hora de o brasileiro aproveitar os minutos que tem a mais na pré-temporada e deixar uma boa impressão.

Nos quatro primeiros testes do clube, foi cestinha numa vitória contra o Guadalajara, das divisões inferiores do país – é o que diz o site oficial do clube madrilenho, mas sem dar os números. Na segunda partida, agora contra um rival de ACB, derrota para o Zaragoza, marcou 13 pontos. Contra o Real Madrid, mais uma revés, anotou nove pontos e brigou bem com o tunisiano Salah Mejri no garrafão. Sua participação só acabou limitada pelo excesso de faltas, cometendo a quarta ainda no terceiro período. De todo modo, para sua equipe o ponto mais positivo foi que, quando estavam os titulares em quadra, chegaram a abrir 15 pontos de vantagem.

Nesta quinta, fizeram o quarto amistoso e venceram o Fuenlabrada por 89 a 80. Lucas saiu do banco – Fran Guerra, pivô espanhol da sua idade e mais uma cria da base do Estudiantes, foi o titular – e jogou por 21min48s, terminando com nove pontos, seis rebotes, duas assistências, três roubos de bola e dois tocos. Foi o segundo jogador mais eficiente de sua equipe, com 22 pontos neste quesito, atrás apenas dos 27 de Ivanov. “As coisas vão saindo pouco a pouco. Tivemos bons jogos contra Zaragoza e Real Madrid, sem resultados positivos, mas estávamos contentes por nosso trabalho, e era normal que chegaria um bom resultado que refletiria o que temos feito nos treinamentos. Agora é seguir trabalhando”, disse o carioca.

Em sua cobertura sobre o amistoso, o site Planeta ACB destacou o desempenho defensivo de Bebê, com mais consciência em seu posicionamento, sem perder a agressividade – como seus números, neste caso, comprovam. Suas intervenções teriam gerado bons contra-ataques para seu companheiros. “Ainda tenho que melhorar na defesa sem a bola e usar mais as mãos, mas estou contente com meu progresso neste aspecto”, afirmou.

É isso aí. Na verdade, Lucas tem muito o que evoluir não só nesse quesito, como em muitos outros (desenvolver o chute de média distância, trabalhar o drible rumo ao aro, ficar mais atento na proteção de rebotes, entre outros itens num processo de refinamento).  Hoje, o pivô ainda depende muito de sua maravilhosa capacidade atlética para produzir em quadra. E, quanto mais tempo ele passar nela, melhor. Que comece logo a temporada, então, com os jogos para valer e uma perspectiva bastante otimista para o brasileiro.


Na ACB, Lucas Bebê deve se concentrar no desenvolvimento técnico de seu jogo, além do físico
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Giancarlo Giampietro

Lugar de Bebê é na quadra

Lucas ouve instruções em Vegas. Pelo Hawks, seria uma cena regular durante a temporada

Antes de desenvolver o físico, Lucas Bebê também tem muito o que progredir em termos de técnica.

No Atlanta Hawks, sobrando uma merreca de minutos na rotação interior, o pivô brasileiro teria muito tempo para puxar ferro, sim. Mas e a quadra? Como ficaria? Lembrando a declaração do seu agente, Aylton Tesch, ao Murilo Borges, da rádio Bradesco Esportes: “Se o Atlanta falar que vai dar de cinco a dez minutos de jogo para o Lucas e que, no final do ano, ele vai estar com 15 kg a mais de massa magra muscular e que vão fazer um trabalho extraquadra, de vídeo, para ele poder aprender mais o jogo da NBA, vale mais a pena do que se ele for jogar 25 minutos na Espanha, onde para condicionamento físico eles só querem que os atletas corram”, disse.

Lucas foi selecionado pelo Hawks no finalzinho de junho. Disputou a Summer League em julho. Ficou próximo de técnicos e dirigentes em Atlanta durante todo esse tempo, enquanto, paralelamente, Danny Ferry ia montando seu elenco para a próxima temporada da NBA. Encerradas essas contratações, não havia como garantir nem mesmo esses dez minutos com o técnico Mike Budenholzer, que tem Paul Millsap e Al Horford como seus principais pivôs, com os veteranos Elton Brand, Mike Scott, Pero Antic e Gustavo Ayón para assessorá-los, vindo do banco.

São cinco pivôs bastante versáteis, oferecendo ao estreante treinador uma combinação de habilidades interessante. Nenhum deles tem hoje a combinação de envergadura e agilidade de Lucas para proteger o aro, mas, no conjunto, é um forte quinteto defensivo. De modo que restaria ao carioca apenas as atividades complementares – ou a D-League. E, entre a liga de desenvolvimento e Liga ACB, não há muito o que escolher, não.

Não só Bebê vai ganhar mais dindin na Espanha, como vai enfrentar uma concorrência muito mais qualificada, num ambiente esportivo trilhões de vezes mais estruturado. Sem contar a familiaridade do jovem atleta com seus companheiros e com a própria competição em si, montando um cenário mais favorável para sua evolução. Se você tem uma opção de continuar num time com tradição no tratamento de jovens, brigando pelos playoffs na segunda liga mais forte do mundo, não há por que abrir mão disso. Um atleta com a sua idade – 20 anos recém-completos – tem de jogar.

“Retornar ao Estudiantes vai permitir que ele continue a se desenvolver, jogando minutos significantes contra uma competição muito boa. Vamos monitorar de perto seu progresso enquanto ele trabalha em direção a cumprir suas metas como um jogador de basquete”, afirmou Danny Ferry, ao anunciar a decisão do clube.

Não adianta também ficar obcecado agora com os músculos do Bebê (frase engraçada, né?). Com o tempo ele vai ganhar o físico necessário para encarar a elite, lembrando que não há muitos Marc Gasols ou Roy Hibberts por aí mundo afora. E, se o plano de Tesch deu certo, o Hawks deve encaminhar um preparador físico para acompanhar o atleta na Espanha.

Agora fica a expectativa para que ele se mantenha concentrado, empenhado em refinar seu jogo e avançar mais na concretização de seu imenso potencial, a despeito se sua preferência por ficar nos Estados Unidos. Caso consiga repetir o salto qualitativo que teve de 2011-2012 para 2012-13, vai estar em condição muito mais vantajosa para fazer a transição para a NBA em 2014.

*  *  *

Agora a parte chata de todo esse processo. E a seleção brasileira?

Lucas pediu dispensa no dia 18 de julho. Claro que, na NBA, as negociações são muito volúveis, uma palavra em julho não tem o mesmo peso em agosto. Naquela época, por exemplo, Gustavo Ayón ainda estava empregado pelo Milwaukee Bucks, antes de sobrar como uma barganha no mercado. Então talvez o brasileiro estivesse confiante, mesmo, de que fecharia com o Hawks para já. De modo que seria mais interessante ficar em Atlanta para afinar a relação com todos, da mesma forma que Vitor Faverani vai fazer a partir da semana que vem.

“Venho por meio desta solicitar o meu pedido de dispensa do grupo que se apresenta nesta quinta-feira, dia 18. Tal pedido se deve ao fato de eu encontrar nos Estados Unidos, disputando partidas válidas pela Summer League e em negociações contratuais para a próxima temporada da NBA. Este é um momento importante para a minha carreira, e que exige a minha permanência para que tudo seja resolvido o mais breve possível”, afirmou o pivô em comunicado oficial.

Em retrospecto, com a possibilidade de jogar na Espanha nunca descartada lá atrás – e, a cada dia que passasse, ela cresceria, naturalmente – , será que não valeria ter se apresentado a Rubén Magnano? Os treinos do argentino são intensos. Lucas poderia ter um bom espaço e já teria dado largada antecipada em sua temporada.

*  *  *

No dia 4 de janeiro de 2014, Bebê vai ter uma rodada animada pela Liga ACB. O adversário é o Obradoiro, o que significa que ele vai enfrentar o compatriota Rafael Luz e, ao mesmo tempo, o jovem pivô Mike Muscala, seu companheiro de Draft no Atlanta Hawks. Muscala definiu seu futuro bem antes, assinando com o time que foi o oitavo colocado na edição passada do campeonato espanhol .


Recusa de novato israelense evidencia lobby de times da NBA contra seleções
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Giancarlo Giampietro

Gal Mekel, orgulho israelense

Mekel foi barrado, de alguma forma, pela diretoria do Dallas Mavericks

São poucos os aficionados de NBA que já ouviram de Gal Mekel. Então permitam que o blog faça as honras: é o armador israelense, de 25 anos, recém-contratado pelo Dallas Mavericks, muito criativo com a bola, que vem de uma grande temporada pelo Maccabi Haifa, pelo qual foi campeão nacional e venceu também os prêmios de MVP tanto da temporada regular como das finais.

Mekel jogou demais pelo Mavs de verão em Las Vegas, mostrando de cara ser um armador puro, de verdade, que trata a bola com uma categoria impressionante, sendo muito instintivo em seus movimentos.  Está sempre de cabeça erguida, sem ser muito veloz no drible, mas avançando com seu próprio ritmo,  meio hipnotizante, lembrando muito Steve Nash (em estilo, o que não quer dizer que seja o “Novo Steve Nash”, ok?).

Pois bem. Foi um achado do Mavs. Ele chega para o banco de José Calderón, sem muita pressão, mas dá para imaginar que já vá ter um impacto em sua primeira campanha, ainda mais largando na frente de outro calouro, Shane Larkin, lesionado.

E, seguindo a lógica desta temporada de seleções, o que é ganho do Mavs significa, parece, obrigatoriamente perda de uma seleção. Israel, que tanto batalha para ter um time competitivo em nível continental, vai ter de encarar o Eurobasket sem seu principal condutor, para ira do técnico Arik Shivek.

Gal Mekel, no Mavs de verão

Mekel, visão de jogo. A serviço do Mavs e só do Mavs

Em entrevistas para a mídia israelense, Shivek saiu, num rompante, a detonar o clube texano, que recomendou a Mekel que ele se apresentasse para treinos em agosto, bem antes da abertura do traning camp oficial. Veja bem: não é que o jogador estivesse proibido de defender seu país na competição de 4 a 22 de setembro. Mas, como diz um o comandante Jair: “Se puder evitar…”. ; )

“O Mavs disse a Mekel que seria benéfico para ele participar dessas atividades”, disse o técnico israelense, que concentrou seus ataques em Donnie Nelson, o braço direito de Mark Cuban na direção da franquia. Se o Dallas foi uma das principais forças por trás da internacionalização da liga norte-americana, Nelson teve uma grande influência nesse processo. Natural: o filho do malucão Don Nelson foi assistente técnico da seleção lituana por anos e anos, sendo um dos ianques com a cabeça mais aberta para o mundo Fiba. Daí que Israel talvez esperasse um pouco mais de compreensão…

“Falei com Donnie Nelson pelo telefone. Isso me pegou de surpresa. Colocaram Gal em uma situação injusta”, disse Shivek, que questionou o dirigente sobre o que seria melhor para a evolução do armador: duelar com Tony Parker ou perder tempo jogando golfe?

Hehehe.

Aí deu uma exagerada, mas vale sempre o humor corrosivo.

Israel está no Grupo A do Eurobasket, que conta com a França de Parker, mais Grã-Bretanha, Alemanha, Ucrânia e Bélgica. Não são necessariamente os adversários mais fortes, mas a competitividade em si do campeonato europeu talvez já valesse para o atleta.

De todo modo, pensando o outro lado, dá para entender as motivações do Mavs facilmente. Tudo vai ser novidade para o jogador. Cidade, rotina, tática, nível de competição (ele não estaria sozinho em quadra, os mais jovens e alguns veteranos mais abnegados se apresentam e estão sempre rondando o ginásio), e tudo mais. Quanto mais cedo um jogador chegar, mais tempo para se adaptar a isso tudo. Desde que trabalhe sério e desencane dos campos de golfe, claro. O armador apenas diz: “Ficar afastado do Eurobasket não foi fácil. Mas tomei a decisão certa depois de consultar meu treinador da seleção e os diretores do Mavs”.

É o mesmo processo pelo qual Lucas Bebê vai passar com o Atlanta Hawks. Saca?

Mesmo que ele não vá assinar com a franquia para agora, o gerente geral Ferry o quer por perto pelo maior tempo possível, para acelerar os trabalhos físicos e técnicos com o pivô. Lembrando que o mesmo Ferry já havia criado alguns empecilhos para Anderson Varejão, em seus tempos de chefão do Cleveland Cavaliers.

Esse tipo de impasse acontece há tempos, não vai se encerrar por aqui e, na verdade, só tende a piorar, já que o influxo de jogadores estrangeiros na NBA segue firme, ainda mais com a crise econômica abalando as principais ligas europeias. Apenas os figurões têm autonomia para barganhar.

Por isso é bom que Magnano se familiarize com essa ideia, mesmo. Do contrário, teremos mais e mais convocações nos próximos anos que não terão representatividade alguma.


Hawks fecha com pivô macedônio, e minutos para Lucas Bebê ficam ainda mais minguados
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Giancarlo Giampietro

Pero Antic, figuraça

Pero Antic, figuraça e uma contratação no mínimo criativa do Atlanta Hawks

Desde que assumiu o controle das operações de basquete do Atlanta Hawks, o gerente geral Danny Ferry está inspirado. Conseguiu despachar o salário estratosférico de Joe Johnson, não caiu na armadilha de pagar horrores para Josh Smith, fechou um contrato muuuuuito mais palatável com Paul Millsap, achou dois novatos estrangeiros muito promissores no Draft mesmo sem ter uma das 15 primeiras escolhas, manteve um time competitivo e, ao mesmo tempo, com boa possibilidade de crescimento para o futuro.

Missão cumprida? Tudo certo?

Não, o sujeito simplesmente não para.

Em mais um movimento surpreendente, o dirigente está prestes a fechar um contrato com o gigante macedônio Pero Antic, bicampeão da Euroliga pelo Olympiakos. Antic chegaria a Atlanta para, muito provavelmente, ocupar o papel de quarto pivô da rotação do técnico Mike Budenholzer, atrás de Al Horford, Millsap e Elton Brand.

Somem aí também o ala DeMarre Carroll, que também pode marcar alas-pivôs em formações mais baixas, mais o segundanista Mike Scott, em franca progressão, e a conta de minutos disponíveis para Lucas Bebê fica bem minguada para a temporada 2013-2014. I

De acordo com o site espanhol Encestando, o brasileiro estaria disposto, sim, a pagar sua multa rescisória com o Estudiantes para migrar para os Estados Unidos já neste ano. Para se liberar de seu contrato com o clube madrilenho, o pivô precisaria pagar US$ 1 milhão, sendo que o Hawks pode contribuir com até US$ 575 mil na transação.

Sem citar fontes, o texto foi publicado, porém, antes da contratação de Antic. Resta saber se esse negócio pode alterar de alguma forma os planos de Lucas e de seu agente, o ex-jogador Aylton Tesch. Em entrevista à Rádio Bradesco Esportes FM, Aylton havia indicado que esperava que seu atleta tivesse pelo menos algo em torno de cinco a dez minutos por jogo. Nem mesmo essa quantia parece estar disponível agora.

Mas nem isso seria um impedimento também. Se lermos com atenção, nesse mesmo bate-papo, que já destacamos aqui, a preocupação maior para a próxima temporada seria, mesmo, o fortalecimento do atleta. “Se o Atlanta falar que vai dar de cinco a dez minutos de jogo para o Lucas e que, no final do ano, ele vai estar com 15 kg a mais de massa magra muscular e que vão fazer um trabalho extraquadra, de vídeo, para ele poder aprender mais o jogo da NBA, vale mais a pena do que se ele for jogar 25 minutos na Espanha, onde para condicionamento físico eles só querem que os atletas corram”, disse.

Mesmo que o brasileiro jogue pouco, a ideia seria, então, deixá-lo nos Estados Unidos para uma temporada de amadurecimento fora de quadra, que faça parte de um projeto de longo prazo para Bebê, talvez pensando em aproveitá-lo mais no segundo ano na liga norte-americana.  “Ele só vai para a NBA se o time tiver um plano de evolução para ele”, afirmou o agente. “Tem de planejar algo para que eu me sinta bem e o atleta também.”

 Vamos aguardar.

*  *  *

Antic vai fechar contrato (de um ano garantido) nesta quinta-feira em Atlanta.

E quem é Pero Antic?

Estamos falando de um pivô que vai completar 31 anos na próxima semana. Veteranaço, então, de muitas batalhas pelo Olympiakos nas últimas duas temporadas, no melhor momento de uma carreira que era modesta, modesta até brilhar no Eurobasket de 2011. Na ocasião, sua Macedônia desbancou favoritos, liderada pelo americano Bo McCalebb, e causou sensação. Escoltando o gringo, enfim chamou a atenção da elite do continente. Revelado pelo Rabotnicki Skopje, antes de defender o Olympiakos, defendeu o AEK de Atenas, o Estrela Vermelha de Belgrado, o Academic de Sófia, e, na Rússia, o Lokomotiv Kuban e o Spartak de São Petersburgo.

Detalhe: não será a primeira vez do macedônio no basquete norte-americano. Em 2000-2001, ele jogou uma temporada inteira dehigh school.

Em quadra, a despeito do físico – e visual – intimidador, com 2,08 m de altura e cerca de 120 kg, Antic é um jogador que, no ataque, atua muito mais no perímetro, distante da cesta. É um ótimo passador e… Bem, ficamos nisso, embora ele acredite piamente que pode ser uma arma nos chutes de três pontos.

Em sua carreira na Euroliga, o pivô só converteu o 26,7% de seus disparos, algo muito abaixo do aceitável. O que não o impediu de, na última temporada, ter arremessado 115 bolas de longa distância em 31 jogos, tendo matado apenas 26,1%. Nos chutes de dois pontos, o rendimento melhora um pouquinho: 51,5% (embora, no geral, tenha 47,3%). Em lances livres, converteu 67,3% em seis anos.

Na campanha do bicampeonato continental, eve médias de 6,2 pontos e 3,3 rebotes, em 15,7 minutos por partida. Suas contribuições para o Olympiakos, porém, estão muito mais nas intangíveis. O pivô é relativamente ágil para alguém de seu tamanho, se deslocando bem lateralmente para fechar espaços.

É uma contratação no mínimo curiosa de Ferry. Antic tem tudo para virar uma figura cult na NBA.


Ida imediata de Bebê e Raulzinho para a NBA depende de projetos específicos dos clubes
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Giancarlo Giampietro

O agente e a garotada

Aylton e os dois draftados: trabalho sério para desenvolver a rapaziada

Essa talvez seja a pergunta que ronda a cabeça de uma boa parte de vocês, viciados em basquete, que não têm muito mais o que fazer da vida, que ficam vagando por aí chutando pedrinhas e imaginando qual será a rotação de seu time, nesses últimos e nestes próximos dias: será que Lucas Bebê e Raulzinho vão jogar na NBA já na próxima temporada?

Por uma cortesia do companheiro Murilo Borges, antenadíssimo jornalista da Rádio Bradesco Esportes FM, temos aqui algumas respostas que, embora não definitivas, ajudam a elucidar o que está em jogo para os dois promissores brasileiros no momento.

Murilo bateu um longo papo com o ex-jogador da seleção brasileira, Aylton Tesch, hoje um importante agente de atletas internacionais, cuja cartela vai de gente como Anderson Varejão, Nenê e Ricky Rubio até Nikola Mirotic, o astro do Real Madrid. A entrevista vai ao ar na sexta-feira, no programa Sports All the Time (que ele toca ao lado de Ivan Zimmerman).

Desta conversa, o que dá para tirar basicamente: não há ansiedade alguma por parte do agente – que é sócio do temido (pelos dirigentes) Dan Fegan – de levar os garotos para a NBA agora. O que não quer dizer que possa acontecer. Zelando pela carreira dos dois, ele espera que Atlanta Hawks e Utah Jazz tenham algum plano de desenvolvimento pronto para seus clientes, caso os queiram na liga para já.

“Não tem por que fazer uma mudança drástica, nem forçar para que levem este ano, se não tiver um planejamento. É assim que muitas carreiras se perdem”, afirma Aylton. Para ser justo, a resposta se referia apenas a Lucas. Mas dá para imaginar que o processo seja o mesmo para o armador.

Sobre o pivô, em específico, uma das primeiras preocupações se referem, naturalmente, ao seu físico franzino. Qual seria a melhor forma de desenvolver isso – e o quanto ele realmente precisa encorpar? Ao mesmo tempo, não adianta se fortalecer, se não for para jogar. E aí a diretoria do Hawks tem de entregar um projeto satisfatório.

“Se você tem uma franquia por trás, tentando desenvolver o jogador, lá nos Estados Unidos o foco da parte física é outro. Se ele focar em ganhar dez quilos em três meses, ele consegue. Mas ele só vai para a NBA se o time tiver um plano de evolução para ele”, diz o agente. “Tem de planejar algo para que eu me sinta bem e o atleta também. Se for para colocá-lo lá hoje e deixá-lo de lado, melhor deixar jogando na ACB, que é a segunda maior liga do mundo, na qual ele vai jogar mais de 25 minutos.”

Maaaas…

“Se o Atlanta falar que vai dar de cinco a dez minutos de jogo para o Lucas e que, no final do ano, ele vai estar com 15 kg a mais de massa magra muscular e que vão fazer um trabalho extraquadra, de vídeo, para ele poder aprender mais o jogo da NBA, vale mais a pena do que se ele for jogar 25 minutos na Espanha, onde para condicionamento físico eles só querem que os atletas corram.”

Essa declaração acima é crucial. Se Danny Ferry e o técnico Mike Budenholzer estiver de acordo – e não parece nada absurdo, convenhamos –, Lucas deve assinar agora mesmo com o Hawks, pagando sua multa rescisória ao Estudiantes, na Espanha.

O Atlanta contratou nesta segunda-feira o experiente Elton Brand, que chega para fortalecer uma rotação que estava reduzida, até, então, a Al Horford e Paul Millsap. Ter Brand no banco é importante porque tira qualquer pressão do caminho de Bebê – ele não está pronto para ficar muito tempo em quadra por uma equipe que obviamente mira a vaga nos playoffs novamente.

Não dá para descartar que Ferry ainda contrate mais um veterano barato como seu quarto grandalhão na rotação, embora o ala Demarre Carroll possa assumir esse papel, numa formação de small-ball que deve ser empregada por Budenholzer. O segundanista Mike Scott também é um candidato, apresentando um jogo desenvolvido na liga de verão de Las Vegas desta semana. Sobrariam, então, alguns minutinhos para Bebê ou para o outro novato da equipe, Mike Muscala – mais maduro, mas também um pouco frágil fisicamente? Ainda não dá para saber.

“Hoje o que eu tenho em mente: se ele for para a Espanha, tenho essa conversa mais ou menos acertada de que o Atlanta Hawks mandaria um preparador físico para cuidar dele duas ou três vezes na semana. Então estou planejamento para que, aonde quer que ele esteja, ele vai desenvolver, seja na NBA ou na ACB”, assegura Aylton.

Sobre Raulzinho? Bem, o Utah Jazz era identificado por seu time com um clube em potencial para o armador. Afinal, sua posição era uma carência do elenco. A franquia, porém, investiu duas primeiras escolhas de Draft para contar com Trey Burke, o jogador do ano do basquete colegial. Isso muda de modo significativo o encaminhamento dessa negociação.

“Será que é a hora de ir para a NBA agora com dois armadores novatos no mesmo time? Ou será que é a hora de buscar um time (na Europa) um pouco mais forte, pelo qual possa estar jogando talvez na Euroliga ou EuroCup e ACB ao mesmo tempo, fazendo dois jogos (por semana)? É a decisão que agora nos cabe tomar”, diz o agente.

E, neste ponto, ais uma peça do dominó do mercado da liga norte-americana caiu nesta segunda: segundo a ESPN.com, o armador John Lucas III, ex-Bulls e Raptors, já está apalavrado com o Utah e chega como uma espécie de apólice de seguro. Afinal, o badalado Burke viveu dias infernais em Orlando na semana passada, e não foi por causa do calor. O garoto foi muito mal na primeira liga de verão do ano e bombou em muitos quesitos, preocupando muita gente. Mas não será um fiasco desses que fará a franquia desistir do atleta, claro. O que fica claro é qeu ele precisará de muita ajuda de seus treinadores. E, com tanta atenção assim dedicada ao “titular”, talvez não seja o caso de Raul fazer a transição neste ano, mesmo.

Agora, tem muito mais no bate-papo com Aylton. Ele detalha como é o dia de Draft para um agente de atletas, por exemplo. Vale conferir na íntegra na sexta. Aqui está o site da rádio.


Estreia de Lucas Bebê comprova talento do pivô, mas mostra pontos importantes que pedem evolução
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Giancarlo Giampietro

Lucas Bebê, o entrevistado

Lucas Bebê falou em inglês com os jornalistas em Vegas. Aos poucos vai se soltando

É natural que toda uma nação se empolgue com Lucas Bebê, por diversos motivos. Dentre eles destacam-se…

1) Mais um brasileiro na NBA.

2) Um brasileiro extremamente carismático.

3) Um brasileiro com muito potencial a ser explorado, para se salivar.

4) Que não vai parar de enterrar na cabeça de todo mundo tão cedo e vai dominar os clipes de “melhores momentos”.

Então, na hora de avaliar o jogador, é preciso muito cuidado para não descambar para o elogio fácil, sem se preocupar com a laaaarga parte do basquete que o jovem pivô ainda precisa melhorar.

Num país geralmente intolerante com aqueles que ‘ousam’ falar ou escrever algo contrário ao que está em voga, principalmente contra queridinhos nacionais, nada melhor, então, do que recorrer ao próprio site do Atlanta Hawks como escudo para poder elaborar a respeito do quanto o Bebê pode melhorar ainda e que os hightlights quase sempre não contam nada sobre o jogo. O site oficial do clube, sim:

“A escolha de primeiro round do Atlanta foi liberada para jogar cerca de 25 minutos antes do tapinha inicial e brilhou no ataque. Ele marcou 10 pontos, acertando 5-8 nos arremessos, e apanhou três rebotes ofensivos (de um total de oito). Vários de seus acertos foram em finalizações de chacoalhar o aro em pontes aéreas. Ele é um jogador divertido de se assistir no ataque, já que corre pela quadra tão bem. Defensivamente é aonde ele tem de melhorar. Ele vai se fortalecer, obviamente, com os programas de musculação da NBA, o que deve ajudar, mas ele também tem de aprender a ficar com os pés no chão. Foram diversas as vezes em que ele tentou o toco, e isso custou dois pontos ao seu time. Se ele ficasse plantado, com os braços estendidos em vertical, as equipes terão dificuldade para arremessar ou passar ao seu redor. Mas, tudo bem, este foi seu primeiro jogo de NBA. E ele foi muito bem.”

Para dar sequências aos elogios, podemos destacar as duas assistências que Bebê deu em situações bem diferentes. Na primeira, ele apanhou um rebote ofensivo na esquerda do garrafão. Girou com a bola e viu o companheiro novato Dennis Schröder livre na cabeça do garrafão. Fez o passe preciso para uma bola de três pontos. Na outra, ele recebeu a bola após uma ação de pick-and-pop (quando, após o corta-luz, é o armador que desce com a bola e o pivô recua) e, com paciência, visão de jogo e muito toque no passe, deu na mão de John Jenkins para uma bandeja, passando por cima da defesa.

Lucas Bebê, o passador

Aqui o lance em que Bebê vai encontrar Schröder livre para o chute

Foram duas jogadas para evidenciar que há muito mais em seu jogo para progredir além das enterradas cabulosas. A partir daí, seria interessante desenvolver seu drible. Com sua velocidade, ele é mais do que capaz de cortar com a bola, embora isso vá levar um tempo para se desenvolver. Trabalhar o chute de média distância (algo que já reclamou, no passado, que não faziam com ele na Espanha…) e também a movimentação de costas para a cesta são outros quesitos que, imagino, já estejam no caderninho dos treinadores de Atlanta.

Mas o mais importante mesmo é essa questão de buscar o toco a qualquer custo. Normal para jogadores jovens e, na verdade, é um vício que domina até mesmo uma penca de barbudos da NBA, Liga ACB ou NBB. No caso de Bebê, com sua envergadura impressionante, fica ainda mais tentador: ele acha que é possível bloquear todo e qualquer arrmesso em sua direção – ou na cobertura. Ok, um pivô está ali para isso mesmo: para contestar e proteger o aro. Mas há diversas formas de se fazer isso. A mais recomendada, aliás, é esta mesmo: os pés abertos, as costas eretas e os braços estendidos verticalmente. E sabe quanto mede um Lucas Bebê, do piso da quadra até a ponta de seu indicador lá no alto? Estamos falando de 2,97 m. Uma parede humana. Quando o brasileiro aprender a controlar seu ímpeto, vai se tornar um defensor de muito impacto em qualquer liga.

Contra o Clippers – ah, aos preguiçosos que não conseguem digitar “nba.com”, o Hawks perdeu na abertura da Summer League de Las Vegas por 90 a 83 –, Bebê pouco fez disso. Saltou, saltou, saltou e deixou seu time vulnerável aos rebotes ofensivos – pois o pivô parte para o toco, não consegue, sai de sua posição e deixa seu time vulnerável, desmembrado em quadra. Para se ter uma ideia, o veterano Samardo Samuels (ex-Cavs) sozinho pegou sete sobras na tábua de ataque. Ele geralmente estava em quadra enfrentando Bebê. É muita coisa.

Samuels, aliás, representou já um baita desafio de cara. O pivô jamaicano é um força-bruta, com ombros de boxeador, que faziam de Lucas ainda alguém mais magrinho. Samuels dificilmente vai aparecer em qualquer vídeo de melhores lances, mas, quando em forma – como parece o caso neste verão –, é um jogador bastante produtivo operando no garrafão. E, sem tirar nem por, ele se esbaldou contra o carioca. Porque o brasileiro também ainda não sabe muito bem o que fazer na hora de defender um pick-and-roll, ficando muitas vezes perdido entre avançar rumo ao armador (ou ala, ou seja lá quem estiver driblando) e regressar para cobrir seu homem. Em muitas ocasiões, não fez nem uma, nem a outra, e lá estavam mais dois pontos na conta do oponente.

Vale ressaltar também a diferença na composição do elenco de Hawks e Clippers – o time californiano optou por montar um time de verão muito mais tarimbado e experiente, enquanto Danny Ferry quer ver, mesmo, seus calouros jogarem. Os armadores Jerome Randle e Maalik Wayns fizeram uma partidaça em conjunto e souberam aproveitar esses lapsos defensivos tranquilamente. Wayns, se ficar na NBA este ano, será como terceiro armador do ex-primo pobre de LA. Randle sonha há anos com uma vaguinha dessas, mas nada. Na hora de a temporada regular começar, estaremos lidando com Chris Paul, Ray Felton, Deron Williams, Goran Dragic etc.

De qualquer maneira, Lucas tem apenas 20 anos e muito chão pela frente ainda para se aprimorar. Sua atitude durante o jogo foi de se encorajar, jogando duro, empenhado em mostrar serviço. Talento natural ele tem de monte, do tipo que Samuels só pôde sonhar em ter. de Se for bem orientado, vai longe.

*  *  *

Vi o jogo pela NBA TV. Steve Kerr (o melhor) e Reggie Miller estavam dando conta da transmissão. Os dois exímios chutadores ficaram admirados sobre como Lucas Noigueira parecia, mesmo, um… Bebê. : )

*  *  *

Depois do ‘Episódio Afro’ na noite do Draft, agora foi a vez de a NBA se admirar com a capacidade de Bebê de correr a quadra. Para alguém de seu tamanho, é muito veloz. E o que passa uma sensação mais legal ainda são suas passadas largas, como se fosse um Carl Lewis.

*  *  *

A situação do carioca para a próxima temporada ainda não está definida. Mas, se você for consultar o elenco do Hawks, verá que há uma carência clara de pivôs atrás de Al Horford e Paul Millsap. E não há muitos bons nomes no mercado de agente livre agora, e Danny Ferry ainda precisa ver o que vai fazer com a oferta que Jeff Teague recebeu do Bucks, para saber o quanto lhe restará de teto salarial para investir. De modo que as coisas parecem se encaminhar para a permanência do brasileiro em Atlanta, ao lado de outro calouro, Mike Muscala (pivô que complementa bem o estilo de Bebê, flutando no perímetro com ótimo arremesso, mas que também é frágil fisicamente)? Bom, tudo vai depender das ambições do Hawks. Se o time se enxerga como um concorrente a vaga nos playoffs, talvez seja pedir demais de seus novatos segurarem minutos significativos na rotação de Mike Budenholzer. Vamos esperar para ver o que sai daí.

 

Tags : Lucas Bebê


Faverani, Lucas Bebê, Raulzinho, Alexandre… A quantas anda a ‘invasão brasileira’ na NBA?
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Giancarlo Giampietro

Lucas Bebê e sua turminha nova

Lucas, Schroeder e Muscala aguardam as negociações do Haws para assinar, ou não

Está tudo indefinido no momento. Tudo depende de alguma coisa, ou de várias coisas, na verdade. Mas o contingente brasileiro, de uma hora para outra, poderia saltar de seis para 10 na NBA. Ou ser reduzido para cinco (Leandrinho e Scott Machado). Vai saber: é um período de incertezas, mesmo, com muitos times ainda bem distantes de tomar uma cara, enquanto outros buscam apenas alguns últimos retoques. Nesse furacão, Lucas Bebê, Raulzinho & Cia. são vistos como trunfos (“assets”) das franquias, peças num grande tabuleiro (para ficar numa metáfora mais básica), aguardando a hora de colocar as coisas no papel.

Mas vamos lá, tentar resumir e entender a quantas anda a invasão brasileira na liga. Por tópicos:

Vitor, de Valência para Boston?

Faverani em dupla com Fabrício?

Vitor Faverani (atualizado)
Aos 25 anos, estabelecido como um jogador de ponta na Espanha, Vitor foi testado pelo menos por quatro clubes da NBA – Knicks, Wizards, Celtics e Spurs – nas últimas semanas, mas já tem um bom emprego no Valencia, atraindo o interesse de Real Madrid e Barcelona ano sim, ano não. Não precisa se esgoelar para cruzar o Atlântico.

A boa nova, porém, vem do site Tubasket.com: o Boston estaria interessado em lhe oferecer um contrato. “Dos quatro, o Celtics lhe quer em seu elenco”, afirma a publicação, sem dar muitos detalhes, contudo. Com a megatroca que fechou com o Nets, se despedindo de Pierce e Garnett, Danny Ainge já teria no mínimo 13 jogadores sob contrato – Fabrício Melo entre eles –, restando duas vagas para completar o plantel.

Horas mais tarde, o mesmo site espanhol foi adiante e colocou Faverani “muito próximo” de um acordo para se tornar o terceiro brasileiro a jogar pela histórica franquia. “Com o passar das horas, já temos novidades. Todas elas deixam o jogador cada vez mais próximo de Boston, onde esteve há duas semanas entrevistando dirigentes da franquia. Fontes próximas da operação confirmam ao Tubasket.com que o acordo está quase fechado, quase 100%”, escreveram. “Faltam detalhes, embora no principal exista um entendimento: dois anos de contrato mais um terceiro opcional.

Vitor passou batido no Draft de 2009, a despeito de ser seguido pelos olheiros da NBA por anos, admirados com seu talento, mas preocupados com seu comportamento fora de quadra.  Aos poucos, devarzinho, as coisas foram se ajeitando para o paulista de Paulínia. Aparentemente, duas semanas depois de entrevistado, para os cartolas da Beantown, não resta dúvida sobre seu amadurecimento. Vamos ver se eles fecham a negociação.

“Na parte com o time americano, está tudo praticamente certo. Agora precisamos esperar os dois times entrarem em contato, e isso demora um pouco mais. Eles irão pagar uma multa para ele deixar o Valência”, disse o agente Luiz Martín, ao Lancenet!.

Lucas Bebê
Danny Ferry, gerente geral do Atlanta Hawks, anda bastante ocupado nas últimas semanas. Com mais de US$ 20 milhões em salários para gastar, tentou Dwight Howard em vão, assinou com Paul Millsap, renovou com Kyle Korver, fechou com o operário DeMarre Carroll, vai se sentar com Andrew Bynum nesta semana (talvez até nesta terça) e ainda precisa ver o que fazer com Jeff Teague. Ele pode tanto estender um novo contrato para o pequenino, ou envolvê-lo em uma negociação por Brandon Jennings ou Monta Ellis.

Considerando toda essa movimentação, Ferry tem sob sua alçada nove jogadores – sejam contratados ou apalavrados. Restam quatro vagas para ele preencher um elenco mínimo para a próxima temporada. Uma certamente seria a do armador titular. Outra poderia ser de Bynum, mas precisa ver se há espaço na folha salarial para isso dar certo. Talvez não sobre grana. As outras duas ou três? Neste ponto entrariam Lucas Bebê e o alemão Dennis Schroeder, suas duas escolhas de primeira rodada do Draft deste ano, além de Mike Muscala, pivô apanhado na segunda rodada.Primeiro, trabalham com os agentes livres, depois com os calouros.

Lucas e sua icônica subida ao palco do Draft

Será que Bebê vai jogar na NBA de Stern ou na do próximo comissário?

Pensando primeiro no Hawks, o técnico Mike Budenholzer teria como opções de garrafão hoje o talentosíssimo Al Horford, Millsap, Carroll (numa formação mais baixa) e… só. Zaza Pachulia se foi, algo providencial. Bebê e Muscala, então, completariam a rotação. Mas, olha-lá, considerando sua inexperiência, esse grupo ainda fique muito frágil, por mais que queiram usar de small ball. Se o Hawks ainda mira os playoffs – e a contratação de Millsap só corrobora isso –, os cartolas do clube teriam de confiar muito em seus novatos para toparem batalhar com este elenco.

Agora, está pendente ainda a liberação do pivô brasileiro. Ele renovou seu contrato com o Estudiantes por mais dois anos. Poderia ficar na Liga ACB até 2015, confortável, se desenvolvendo. A renegociação, no entanto, permitiu que sua multa rescisória fosse reduzida, facilitando sua saída. Antes, estávamos falando de cerca de 2 milhões de euros, segundo a mídia espanhola, para que o carioca saísse este ano – em 2014, seria de graça. Para não ficar de mãos abanando, o time de Madri aceitou abaixar o valor pedido para agora, desde que no ano que vem também pudessem receber algo.

Ainda que Bebê não tenha saído entre os 10 ou 15 primeiros, com salário mais alto, sendo a 16ª escolha, ganharia no mínimo $1,371 milhão (o valor poderia chegar até US$ 1,6 milhão, dependendo da boa vontade de Ferry) em sua primeira temporada. Estaria provavelmente em condições de pagar sua multa – lembrando que o Hawks pode contribuir com US$ 550 mil nesta conta. Financeiramente valeria a pena, ainda mais de olho no segundo contrato, costumeiramente mais generoso. Agora, essa remuneração só aumentaria de modo mais significativo desde que Lucas mande bem em quadra. Até agora, em todas suas entrevistas, o jogador manifesta confiança de que estaria pronto, sim, para fazer a transição.

Raulzinho (atualizado)

Raulzinho, ainda sem a farda

Espanha ou NBA? Pergunta importante para evolução, diz Raul

A situação é bem mais instável que a de Lucas. A começar pelo fato de ter sido escolhido na segunda rodada do Draft, o que lhe dá menos prestígio na hora de negociar. Mas, mais importante, é o fato de o Utah Jazz já ter assinado com Trey Burke, o n¡umero 9 do Draft, armador  como ele e eleito o jogador do ano do basquete universitário. Para ficar com Burke, a franquia gastou duas escolhas de primeiro round. Ele chega para ser titular, até que se prove o contrário (seu primeiro jogo não foi dos melhores, mas ainda está MUITO cedo para qualquer avaliação).

Por mais que o clube tenha, enfim, adotado uma rota de rejuvenescimento em seu plantel, permitindo a saída de Al Jefferson e Millsap para abrir espaço para os promissores Derrick Favors e Enes Kanter, seria muito raro o clube iniciar a temporada com dois armadores novatos dividindo o tempo de quadra. Improvável demais. Tanto que, na noite de segunda-feira, seus diretores se reuniram com John Lucas III em Orlando.

Não ajuda em nada Raul não ter conseguido uma liberação da Fiba para disputar a liga de verão de Orlando nesta semana. Ainda com contrato com o Lagun Aro GBC (ou San Sebastián Gipuzkoa BC), Raulzinho precisava de uma licença para participar dos amistosos e mostrar em que estágio está seu desenvolvimento. Demorou um pouco, mas chegou. Nesta terça, já estava apto para jogar contra o Houston Rockets. Com experiência de duas temporadas numa Liga ACB, tem grandes chances de impressionar.

No caso de o Utah fechar com um atleta mais rodado para ajudar Burke, valeria a pena para o brasileiro ser o terceiro armador? Duvido. Seria bem melhor seguir na Espanha como titular, enfrentando veteranos de alto nível, para, no futuro, tentar a NBA ainda mais consolidado.

“Não sei ainda quando sairá essa decisão sobre meu futuro”, afirmou o armador ao ESPN.com.br. “Meu agente Aylton Tesch está em contato com minha equipe na Espanha, assim como com o Utah Jazz, buscando aquilo que for melhor no momento. Mudar para NBA ou não? Não é algo a ser pensado ainda, tenho que pensar o que vai ser melhor para eu continuar evoluindo.”

Ainda sobre Raulzinho, uma coisa: sei que não temos muitas referências sobre Utah, ou Salt Lake City, vá lá… Mas que tal propormos um pacto coletivo e jamais lhe perguntar o que ele pensa sobre jogar no time que tinha John Stockton? Ok, uma lenda. Ok, um dos maiores da história. Ok, Stockton-to-Malone. Mas… A aposentadoria do carteiro do carteiro, já completou 10 anos. Quantos anos o brasileiro tinha quando o o sujeito disse adeus? Só 11. Então… Deixem que os filhos de Stockton, David e Michael, com o sobrenome nas costas e a função de armador em quadra, falem a respeito. É importante colocar isso porque muitas vezes nós, entidade conhecida como mídia, podemos criar uma história que não existe e, depois, cobrar a respeito.

Alexandre Paranhos

Alexandre, ele

Alexandre mal vestiu a camisa do Flamengo em jogos para valer. Dallas observa

Aposta de Leandrinho, o jogador revelado pelo Flamengo está inscrito no elenco de verão do Dallas Mavericks, que vai jogar na semana que vem em Las Vegas. É difícil dizer o que esperar do ala. Fisicamente, estamos falando de um jogador muito talentoso. Forte, vigoroso, com tremenda envergadura. Aparentemente, deu um duro danado nos Estados Unidos na preparação para o Draft e teria valorizado ainda mais esses atributos. Por outro lado, ainda é muito cru nos fundamentos e muito inexperiente – em alto nível,  isso nunca aconteceu; mal jogou no NBB.

Para agravar, faz muito tempo que o rapaz não disputa uma partida de verdade de basquete. Como, então, vai reagir diante da pressão de tentar uma vaguinha no clube texano, enferrujado e ainda enfrentando a famosa barreira da língua? (No Dallas, o atenuante ao menos fica por conta da predisposição histórica da franquia para trabalhar com estrangeiros).

Durante os treinos desta semana e, em Las Vegas, Alexandre deve convencer os técnicos e dirigentes de Mark Cuban de que merece ao menos um chamado para o training camp em outubro. Desta forma, mesmo que não entrasse para o elenco final, poderia seguir sob a tutela de Donnie Nelson na filial do Mavs da D-League, o Texas Legends.

Para constar: na liga de verão, os segundanistas Jae Crowder (ala) e Bernard James (pivô) saem na frente. Assim como o armador Shane Larkin, escolha de primeira rodada, o ala Ricky Ledo, do segundo round, e o israelense Gal Mekel, já com contrato garantido. De resto, o brasileiro teria de trombar com Christian Watford, calouro revelado por Indiana, DJ Stephens, calouro hiperatlético de Memphis, além dos pirulões Hamady N’Diaye, ex-Wizards, e Dewayne Dedmon, formado pela USC.

É uma trajetória surpreendente a de Alexandre, de qualquer maneira, que desperta muita curiosidade, ainda mais pelo simples convite por parte do Mavs.

PS importante: muito do que está explanado acima pode mudar com um sopro. Considerando a loucura que foi a noite do Draft – Raulzinho já experimentou o que é ser trocado – e toda a movimentação da intertemporada, basta um negócio inesperado para se fechar um elenco, abrir vagas etc. Há muita coisa em jogo ainda.


Draft: como está o status dos brasileiros que se candidatam à NBA
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Passada esta final eletrizante e memorável, é hora de nos dedicarmos ao próximo passo da NBA. Porque o show não pode parar.

É hora do Draft! Um dos meus períodos favoritos do ano, acreditem.

Não deu para comentar isso durante os últimos dias malucos – do ponto de vista pessoal –, mas as três brasileiros que se candidataram este ano decidiram manter a inscrição no processo de recrutamento de novatos da liga: Lucas Bebê, Raulzinho e até mesmo o ala Alexandre Paranhos. O que surpreende, bastante.

(Lembrando que Augusto Lima não pode ser incluído neste grupo em específico porque sua participação, devido ao ano de nascimento, já é automática. Assim como todo brasileiro que veio ao mundo em 1991.)

Lucas Bebê em Treviso

Bebê está subindo nas tabelas…

Desta forma, fazendo as contas, são pelo menos quatro os brasileiros tentando ingressar na liga efetivamente, restando agora menos de uma semana para a cerimônia do dia 27 de junho, no ginásio do Brooklyn Nets.

Agora estamos no ponto desse processo em que os prospectos vão cruzando os Estados Unidos de costa a costa para treinar em privado pelas equipes. Essas sessões podem alternar: há jogadores que se recusam a duelar com outros em quadra e são avaliados individualmente ou apenas entrevistados e examinados. Há aqueles que estão sedentos para esse tipo de batalha, para provar que têm condição de subir nos rankings de um time em específico.

Esse tipo de treinamento produz muitas vezes causos e causos.

Nunca vou me esquecer dos relatos que vieram de Memphis no ano de 2003, quando Leandrinho seguia a trilha de Nenê. Há dez anos já! Caraca.

Pois bem, o ala-armador brasileiro havia acabado de fazer toda uma preparação especial sob a tutela de Ron Harper, em Cleveland. Aos poucos, começou aquele burburinho que aumentou consideravelmente num treinamento pelo Grizzlies, ainda gerido por Jerry West naquela época. Ali, Leandro bateu de frente, literalmente, com um prospecto vindo de Marquette, um certo Dwyane Wade. Segundo consta, o pau comeu nas atividades em quadra, e o hoje superastro do Miami Heat teria reclamado para West sobre o excesso de agressividade de seu adversário. Velha Escola, o Logo teria sorrido maliciosamente, se divertindo com o que via.

Um ano depois, em 2004, quem estava em turnê pré-Draft era o Rafael “Baby” Araújo. Formado por BYU, seu jogo não era nenhum mistério para os scouts e dirigentes. “Hoffa” (nos EUA) era cotado como um dos melhores pivôs daquela safra – pensem nisso: ele foi draftado em oitavo pelo Raptors, enquanto Anderson Varejão saiu apenas em 30º, via Orlando Magic, depois trocado para o Cleveland Cavaliers. Ainda assim, precisava provar seu valor nesses testes. E, para todo lugar que ia, parece que se cruzava com outro grandalhão, David Harrison, da universidade do Colorado. Dizem que chegou um momento em que os dois já não se aturavam mais, de tanta pancada que haviam trocado em um curto período. Até que saíram no tapa, mesmo.

 É por isso que passam os brasileiros agora.

Das notícias que temos, Lucas Bebê já treinou por Utah Jazz (14ª e 21ª escolhas) e Minnesota Timberwolves (9ª e 26ª). O brasileiro é visto hoje como um candidato certeiro ao primeiro round do Draft, e há quem já o coloque entre os 20 mais bem cotados depois da ótima exibição no camp de Treviso.

Em Utah, ele duelou com Mason Plumlee, jogador formado pelo Coach K em Duke, muito mais polido e três anos mais velho. Interessante que o Jazz esteja olhando para grandalhões também, quando o mais lógico seria buscar um armador . Talvez porque saibam que dificilmente vão manter Millsap e Al Jefferson, precisando preencher a rotação em torno dos ultratalentosos Enes Kanter e Derrick Favors. Já em Minnesota o carioca competiu com outro “marmanjo”, Jeff Withey, de Kansas, também com três anos a mais de cancha.

Augusto, por sua vez, lutaria por uma vaga no segundo round. Por isso, já foi testado pelo Wolves (que tem também as 52ª e 59ª escolhas), pelo Golden State Warriors (que, curiosamente, não tem nenhuma escolha de Draft, mas sempre pode se envolver em alguma troca ou simplesmente comprar uma, algo mais fácil na segunda rodada) e pelo Indiana Pacers (23ª e 53ª). Nas duas últimas sessões, o brasileiro concorreu com o iraniano  Arsalan Kazemi, prospecto da universidade de Oregon.

Sobre Paranhos, as informações são escassas. O ala ex-Flamengo, de potencial físico incrível, mas que mal jogou pelo clube carioca nos últimos dois NBBs, está sendo promovido nos Estados Unidos por Artur Barbosa, o irmão mais velho de Leandrinho. Artur enviou um email ao jornalista Henry Abbott, do blog ThrueHoop, da ESPN, para falar sobre o garoto. Em seu texto, revela que o ala foi testado pelo Houston Rockets. O Milwaukee Bucks foi outro que o observou de perto.

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Sobre Raulzinho, não há relatos de que esteja treinando nos Estados Unidos, mas tenho uma pequena informação: há um time da Conferência Oeste bastante interessado pelo armador. Seu estafe ficou impressionado com sua exibição em Treviso, onde foi eleito o MVP do camp.