Vinte Um

Arquivo : Lucas Bebê

Raptors está eliminado, mas tem muitas decisões pela frente
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Raptors tem time competitivo para já e peças para o futuro. Como isso vai afetar os minutos de Caboclo?

Raptors tem time competitivo para já e peças para o futuro. Como isso vai afetar os minutos de Caboclo?

Enquanto o Cleveland Cavaliers espera, sossegado, a definição do Oeste e de seu adversário em mais uma decisão da NBA, o Toronto Raptors já se concentra em ooooutros tipos de decisões. Enquanto Kyle Lowry e DeMar DeRozan preparam as malas para curtir as férias e digerir a eliminação, a diretoria chefiada por Masai Ujiri começa o período mais agitado de suas profissões.

Ujiri e seus assistentes precisam decidir o futuro do técnico Dwane Casey, se aprofundar no estudo dos prospectos do Draft, que vai rolar daqui a menos de um mês, e, depois, ainda mapear todo o mercado de agentes livres, no qual seu cestinha, inclusive, será um dos atletas mais cobiçados. Você acha que é fácil a vida de cartolada? Por mais que eles tenham de pensar primordialmente a longo prazo, para o clube canadense, na condição de vice-campeão do Leste, esse tipo de questão fica muito mais interessante. Dependendo dos movimentos que coordenarem, que pode afetar diretamente o futuro de Bruno Caboclo e Lucas Bebê, podem oferecer resistência de verdade aos LeBrons na próxima temporada já.

Demorou, mas este núcleo do Toronto fez enfim uma boa campanha nos playoffs, até esbarrar em um adversário bastante inspirado. Ao confronto derradeiro, até conseguiu dar uma graça ao vencer os Jogos 3 e 4. Pela temporada regular, teve uma grande chance de desbancar este mesmo Cavs do topo da conferência, ficando a apenas uma vitória do mando de quadra. Imaginem o quanto isso poderia ter sido relevante. Mas não aconteceu. Fora de casa, perdeu todas, mas perdeu de monte, por 31, 19, 38 e 26 pontos, com média de 28,4 por jogo. As que venceu, como anfitrião, foram por 21 pontos, saldo de 10,5. No geral, o que dá para ver é que a equipe foi presa fácil para o Cleveland.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Está claro que, para esta formação do Raptors, a distância para competir com um Cavs no auge é muito maior ainda do que o avanço que fez em relação a Miamis, Charlottes e Indianas. Mesmo que DeMarre Carroll, um jogador valioso por ser efetivo dos dois lados da quadra, estivesse em uma forma deplorável, com dores no cotovelo, pulso, quadril, tornozelo e, claro, no joelho operado. Esse deu despesa ao departamento médico e de preparação física. Se tivesse inteirão, poderia tentar incomodar mais LeBron James na marcação individual, e talvez os marcadores do Raptors pudessem ter prestado mais atenção nos companheiros do Rei, sem que tivessem liberdade para chutar tanto nas primeiras duas partidas. Ainda assim, suponho que não seria o suficiente para compensar um déficit de 28,4 pontos.

DeRozan vai ficar? Que tipo de companhia Lowry vai ter no ano que vem?

DeRozan vai ficar? Que tipo de companhia Lowry vai ter no ano que vem?

É nessas horas que me vêm à cabeça o dia 18 de fevereiro, que era o prazo para os clubes da NBA fecharem trocas nesta temporada. Na ocasião, Ujiri preferiu não fazer nada. A única alteração feita: dispensou Anthony Bennett (que simplesmente não consegue paz) para contratar Jason Thompson, o homem que o Warriors cortou para abrir espaço para Anderson Varejão. Se o brasileiro não vem produzindo muito pelos atuais campeões, Thompson também não fez quase nada pela equipe canadense. Ficou apenas 55 minutos em quadra. Segundo o que se comenta nos bastidores, o Raptors não teria recebido nenhuma oferta que tenha agradado. Por outro lado, é de se questionar se o gerente geral não poderia ter sido mais agressivo e buscado .

Em termos de reputação, o gerente geral nigeriano se tornou uma das figuras mais respeitadas — e temidas — da liga. Como principal gestor, está em seu segundo trabalho, e até agora praticamente tudo o que ele tentou deu certo. Muito certo. Em três anos em Denver, viu seu time somar 145 vitórias e 85 derrotas (63,0%). Em Toronto, também em três anos, são 153 vitórias e 93 derrotas (62,1%).

Basta checar sua lista de negocicações, para entender como se chega a um aproveitamento desses. As principais, claro, foram as trocas com o Knicks de Carmelo Anthony, na qual se viu forçado a se livrar do astro e descolou um pacote muito bom com Gallo, Chandler, Felton, Mozgov, Koufos e mais uma escolha de primeira rodada de Draft, e a de Andrea Bargnani, por uma escolha de primeira rodada, duas de segunda e alguns contratos para fechar as contas. Também levou Andre Iguodala para Denver em troca por Arron Afflalo, Al Harringston e uma escolha de primeira e outra de segunda. Se for para criticar algum negócio, foi a transação que mandou Nenê para Washington e resultou na avoada chegada de JaVale McGee ao Colorado.

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Talvez essa fama de quem rapela nas trocas possa atrapalhar agora — com os concorrentes receosos. Nem sempre dá para botar James Dolan, o proprietário do Knicks, no telefone. O que sabemos é que o Raptors está cheio de atletas jovens no elenco e ainda vai ter mais quatro escolhas de primeira rodada nos próximos dois Drafts. Neste ano, terá a sua e aquela coletada por Bargnani em uma transação inacreditável. Em 2017, a extra será a do Milwaukee Bucks, no rolo de Greivis Vasquez por Norman Powell (outra muito lucrativa). Para um clube que hoje mira o topo do Leste e pode até sonhar com o título, fica a dúvida do que fazer com tantos ativos assim e também algumas promessas que não conseguem sair do banco, entre eles os brasileiros. Isto é: moeda de troca não faltava.

A média de idade do elenco do Warriors é de 27,5 anos, segundo o Real GM. Já a de OKC é de 27,0. O Cavs é mais velho, com 29,5. O Raptors tem hoje 26,0, mas pode ficar muito mais jovem se for para inserir mais dois calouros no grupo neste Draft, se eles ocuparem vagas de alguns veteranos, para não falar da turma de 2017.  O Raptors terá a nona escolha no dia 18 de junho, com a possibilidade de se contratar, nesta faixa, segundo as projeções dos sites especializados, um pivô de futuro.

Considerando sua lista de agentes livres, é o que faria mais sentido, mesmo, desde que não feche nenhuma negociação antes. Em julho, Bismack Biyombo, ultravalorizado, vai exercer uma cláusula contratual e entrar no mercado. Os contratos de Luis Scola, James Johnson e Thompson vão acabar. Quer dizer: vão abrir quatro vagas no elenco na linha de frente, sendo que duas e meia, digamos, de rotação. Biyombo e Scola jogaram muito. Johnson, em sua relação de amor e ódio com Casey, só foi efetivado na rotação devido à lesão de DeMarre Carroll.

Ainda fica pendente a situação de DeRozan, que vai constar na lista de muitos clubes e vai custar muito. Mais de US$ 20 milhões por ano na NBA de boom nos investimentos, graças ao revigorado acordo bilionário de TV. Podem ter certeza disso, independentemente do quanto o ala-armador sofreu durante os playoffs. O ala afirmou no sábado, em sua entrevista de encerramento de temporada, que não se vê com outra camisa na próxima temporada. Nem com a do Lakers, seu time do coração, da sua cidade. Já Ujiri afirmou que sua prioridade absoluta é renovar o contrato do cestinha, e acho que não há muito o que discutir, mesmo. A não ser que Kevin Durant indique que sonhe em jogar em Toronto, o cartola assumiria um risco enorme em negociar com outros atletas do porte de Al Horford e Nicolas Batum, ouvir “não” (como o histórico da franquia indica) e ainda perder um de seus All-Stars.

Renovar com DeRozan e Biyombo seria difícil. A não ser que o mercado não se mostre tão entusiasmado assim com o pivô congolês. A expectativa de scouts e cartolas é de que ele possa assinar um contrato na faixa de US$ 12 a 15 milhões anuais, se não mais. Qualquer oferta nessa linha inviabilizaria sua permanência em Toronto, que vai ter menos de US$ 30 milhões para gastar. Ujiri teria menos de US$ 10 milhões para buscar reforços.

E aí? O que fazer? Investir pensando longe ou ‘sacrificar’ algumas dessas peças em busca de veteranos que possam fazer a diferença agora? Por melhor que possa ser seu programa de desenvolvimento de jovens atletas, qual seria o ponto de sobrecarga?

Sem Biyombo, seria a vez de Bebê?

Sem Biyombo, seria a vez de Bebê?

Procuraria um substituto para Biyombo ou confiaria no progresso de Lucas Bebê como reserva de Jonas Valanciunas? Com rodagem na Espanha e a mesma idade do lituano, já era supostamente a hora de o carioca assumir um posto no time. (Claro que isso depende do quão satisfeitos os técnicos estão com seu desenvolvimento e amadurecimento.) Peguem também o caso do armador Delon Wright. Com Kyle Lowry e Cory Joseph sob contrato, quando ele terá chances de verdade? Lembremos que ele completou sua campanha de calouro, mas já tem os mesmos 23 anos de Lucas.

Bruno Caboclo ainda não estava pronto para participar de um jogo de playoff ao final de sua segunda temporada como profissional, e pode ser que leve um pouco mais de tempo. Ainda vai pedir muita atenção dos treinadores do clube. Ele tem mais um período de férias para avançar em sua trilha, mas, depois do que Norman Powell fez nos mata-matas, o calouro, que é dois anos mais velho que o brasileiro, está à frente na fila de entrada no time. Já não sobram muitos minutos na rotação, que tem DeRozan (eventualmente), Carroll e Terrence Ross, além da dupla armação com Lowry e Joseph, algo que funcionou bem demais neste campeonato.

(Um parêntese extenso sobre Bruno, então. Em suas últimas semanas pela D-League, o caçula brasileiro deu sinais de progresso. Foram 37 jogos, uma experiência muito valiosa. Ele terminou com média de quase 14,7 pontos em 36 minutos, mas foi progredindo mês a mês. Quando o Raptors B entrou em seu melhor momento, numa sequência de 18 vitórias e 9 derrotas, ele teve 15,7 pontos e 43,9% nos arremessos. Em março, no encerramento da temporada, subiu para 18,4 pontos e 44,7%, estabelecendo seu recorde pessoal em três noites diferentes. O ano não começou bem para o ala, e os indícios de imaturidade ainda preocupavam. A oportunidade de jogar com regularidade pela liga menor fez bem, porém. O técnico Jesse Mermuys observa como seu comportamento melhorou no decorrer do campeonato quando era substituído e criticado por sua seleção de arremessos. Em vez de fechar o bico e se alienar no banco, seguia envolvido com o jogo e com seus companheiros.

“A parte mental do jogo é extremamente importante na NBA porque essa liga é muito, muito dura, com seus altos e baixos. Se você tiver força para lidar com isso, é realmente importante. Essa maturidade fora de quadra foi quase mais importante do que no jogo. Ele ainda está correndo atrás do jogo, mas os avanços que ele fez foram consideráveis e muito maiores do que seriam se não tivéssemos dado essa oportunidade (de criar uma filial)”, afirmou. “No período em que vivemos, este é o único modo de vencer e desenvolver atletas ao mesmo tempo. Se você não tem seu próprio time de D-League, é como se tivesse de fazer uma escolha entre um e outro. Mas temos essa sorte de fazer ambos e desenvolver importantes ativos para o futuro de nosso clube.”)

O Toronto Raptors está numa situação um tanto parecida com a do Boston Celtics, nesse sentido, de fazer as contas entre investir sem perder o futuro de vista, mas também pressionado a progredir de imediato, curtindo um bom momento com a torcida e de confiança no elenco. A diferença é que o Raptors venceu nove partidas a mais na temporada e foi muito mais longe nos mata-matas — e não tem oito escolhas no próximo Draft. Mas a concorrência do Leste vai prestar muita atenção no que Ujiri vai fazer nos próximos meses. Até mesmo a diretoria do Cavs, dividindo sua atenção com o que acontece pela final da NBA, claro.

***Receba notícias de basquete pelo Whatsapp***
Quer receber notícias de basquete no seu celular sem pagar nada? 1) adicione este número à agenda do seu telefone: +55 11 99006-9654 (não esqueça do “+55”); 2) envie uma mensagem para este número por WhatsApp, escrevendo só: oscar87


A crise e o basquete brasileiro: quem está se mexendo?
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Nova parceria para a LNB. Lucas, Mineiro, Gruber e Caio reservam assentos

Nova parceria para a LNB. Lucas, Mineiro, Gruber e Caio reservam assentos

Dois blogs vizinhos aqui na rede do UOL Esporte nos trouxeram na semana passada informações que se completam perfeitamente e nos dão um bom retrato sobre o basquete brasileiro, a menos de cinco meses da disputa das Olimpíadas. No dia 8, Fábio Balassiano publicou entrevista com o presidente da CBB, Carlos Nunes. Dois dias depois, Daniel Brito deu a notícia de que a Caixa Econômica Federal vai investir R$ 32 milhões, divididos em cinco anos, nas ligas masculina (LNB) e feminina (LBF).

Quando Brito divulgou o acerto do banco com as entidades que reúnem os clubes, uma declaração de Nunes ganhou outro contexto, sobre a dificuldade de se captar patrocínios: “Tentamos, tentamos sempre. E a gente não consegue. As empresas alegam que não têm dinheiro e que a exposição da seleção brasileira é muito pequena, pois a seleção se junta em julho e deixa de estar atuando em setembro. Isso, para os patrocinadores, é muito pouco. Mas não desistimos, não”.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Certo. O mercado está retraído, mesmo. Mas há quem possa atrair investimento – também no dia 10, a LNB ainda anunciou acordo com a Avianca, que vai cuidar do transporte dos atletas em troca de exposição, e também atraiu a parceria da NBA. Outros já têm mais dificuldade, se não for em convênios generosos e de justificativas nebulosas com o Ministério do Esporte.

Antes de prosseguir, alguns pontos:

1) sim, não haveria espaço para a Caixa fechar um contrato com a CBB, que já tem o Bradesco ao seu lado.

2) sim, a Caixa é mais uma estatal que ergue a mão para dar uma força ao esporte nacional. Qual a diferença disso para um repasse do ministério? Bem, há diversos tópicos para separar ambos, sendo o principal deles o fato de a Caixa ser uma empresa. Estatal, mas uma empresa, que espera ter retorno financeiro em sua empreitada. O ministério ajudou e só espera, quiçá, ver uma medalha como resposta. Sabemos, na verdade, que este foi o modo que a pasta encontrou para ajudar a CBB em meio a um naufrágio. É como se fosse um colete salva-vidas. Afinal, como Nunes mesmo constata: dentre tantas confederações olímpicas, só uma não foi acolhida por uma estatal. “Nós, da CBB”, diz. Obviamente que o rolo com a Eletrobrás e a matéria de Lucio de Castro sobre o uso descontrolado de cartão corporativo, entre outras, ajuda a emperrar as coisas e afugentar investidores (aqui, a nota de resposta da confederação). Sobre a disputa com a empresa, Nunes espera que será esclarecido na Justiça e poderia render mais R$ 21 milhões devidos. Ajudaria a quitar as dívidas de sua indigestão. Mas não é dinheiro garantido.

3) sim, LNB/LBF e CBB são entidades diferentes para se investir, claro. As ligas têm seus campeonatos cobrindo quase toda a temporada, enquanto a CBB é, acima de tudo, hoje em dia, uma instituição voltada à política e que sobrevive, do jeito que está, por causa de seus intrincados trâmites.  Nunes reclama também que a seleção brasileira tem “pouca exposição”. Historicamente, a equipe nacional sempre atraiu mais patrocinadores, a ponto de, por aqui, ter se desenvolvido a tese de que só com medalhas internacionais, a modalidade seguiria em frente – conquistas despertariam interesse e aí, sim, direcionaria a grana para o mercado local. Será? Não creio que o ouro do Pan de Toronto tenha motivado três acordos comerciais expressivos para a LNB. Mais: “exposição” não é algo que dependa exclusivamente do calendário de competições. E, mesmo quando reúne seu time, a confederação fracassa em promovê-la, com jogadores de NBA ou não, com um marketing praticamente inoperante, como o próprio presidente admite.

Tá. E o que mais?

Se há crise econômica no país, porém, ela atinge tudo e todos, e não somente o basquete, ou uma ou outra instituição basqueteira. Não adianta se colocar na vítima, que é o que Nunes mais faz em sua entrevista, cheia de evasivas. É um festival do “não sei”. Não sabe explicar a situação financeira e nem dizer qual o tamanho da dívida da CBB. Não quer falar sobre as denúncias de mau uso de dinheiro de patrocínio. Confunde-se ao falar sobre a ação movida pela Eletrobras. Não sabe dizer exatamente como está a preparação das equipes – no técnico ele “não mexe”. Peraí: mexe, então, exatamente no quê? OK, a entrevista não era algo que ele tinha planos. Para alguém que está há tanto tempo no cargo, todavia, esperava-se mais preparo.

É com um líder desses que as seleções masculina e feminina vão chegar ao Rio 2016. Nesse cenário, não me parece justo o presidente cogitar a hipótese de medalha entre os rapazes. Está certo que os problemas da confederação não atingem diretamente esse grupo. O ministério deu conta de suas despesas nos últimos anos, sem muito critério para assinar o cheque. Então Rubén Magnano pode trabalhar com vasta comissão técnica, incluindo excelentes preparadores físicos (é só dar uma espiada no trabalho de Paulistano e Flamengo nos últimos NBBs) e profissionais. Vão poder jogar amistosos e tal. E a base da equipe será formada por atletas que construíram carreira basicamente fora do país – não que não pudessem crescer por aqui, mas só é preciso registrar o fato.

O problema é o futuro e qual o papel da CBB nele. Quando questionado sobre o que vem por aí, com a aposentadoria inevitável de toda uma geração, Nunes também não foi capaz de se aprofundar. “Acho que trabalhando não vamos sentir tanto. Olha aí o Raulzinho indo muito bem. Há o Caboclo, o Lucas Bebê, o Hettsheimeir que é jovem. Temos munição guardada ainda. O que acho que irá pesar mesmo, para lhe ser sincero, é se teremos grana para fazer o trabalho na base. Isso aí é que estamos muito esperançosos, pois o Governo Federal está muito interessado nisso. Agora mesmo nos liberou o convênio da feminina. Já saiu o da masculina”, afirma.

Obs1: Hettsheimeir tem 29 anos, é só um ano e meio mais jovem que Splitter. Obs2: vamos ver sempre dirigentes nacionais citando os mesmos nomes de sempre (Caboclo, Bebê…), mesmo que estes jogadores ainda busquem estejam sob teste, tentando se afirmar, e que a CBB não tenha absolutamente nada com o desenvolvimento da maioria deles. Obs3: de novo, o Governo… Sendo que é a mesma administração que passa por um período de turbulência severa, e não sabemos se continuará de pé até o final do ano.  Não é a melhor fonte, no momento, para falar sobre projetos, hã, futuros. Obs4: a eleição da CBB está marcada para 2017, e não há nenhum candidato declarado que prometa grandes mudanças.

As Olimpíadas já chegaram, e vai ser pauleira. Tudo bem. O problema é pensar lá na frente, com as ligas nacionais carregando maiores responsabilidades, sem um respaldo confiável por parte de quem supostamente deveria zelar pela modalidade.


Jukebox NBA 2015-16: Raptors, Arcade Fire e um recado geral: eles existem
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

jukebox-raptors-arcade

Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “We Exist”, por Arcade Fire

Em 2011, com dez anos de estrada, os integrantes do Arcade Fire subiam ao palco do Grammy para, de modo até chocante, receber o prêmio de Álbum do Ano, superando popstars como Lady Gaga, Eminem e Katy Perry. Ninguém entendeu nada, nem a apresentadora Barbara Streisand, muito menos  mesmo o vocalista e compositor Win Butler, que, ao chegar ao microfone,  soltou: “Que diabos?!”

Aquele grupo de esquisitões, nerds e/ou eruditos reunidos em Montreal já atraía bom público em festivais e havia participado da festa antes, mas concorrendo entre os alternativos. Depois daquela façanha, com “The Suburbs”, se tornariam gigantes. Ou, vá lá, gigantes para os patamares atuais do rock. Mas chegaram lá, ganharam estofo, confiança e voltariam, dois anos depois, com um álbum bem mais ambicioso, “Reflektor”, para pista, com direito até a curta metragem dirigido por um dos Coppola e pontas de astros hollywoodianos. “We Exist” está entre essas faixas.

Ok.

Estaria o Toronto Raptors, então, preparado para dar um salto desses?

Bem, falar em título talvez seja algo impensável, mas esse, na verdade, é um discurso útil que vale para praticamente qualquer time que não se chame Golden State Warriors.

Contudo, se os objetivos forem menores, por que não?

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Ao receber o Cavs na sexta-feira, o Toronto Raptors ratificou que, sim, já existe como ameaça ao time de LeBron James ao título – da Conferência Leste, no caso, de acordo com suas atuais configurações. Cleveland, no papel, ainda é o favorito, mas, enquanto não encontra a paz interna, vai ser mais vulnerável do que a combinação de suas peças sugeriria. E aí entra o clube canadense na jogada, disposto a aprontar, seguindo o líder da conferência bem de pertinho, tendo a vantagem de um eventual desempate.

Havia diversos elementos que já serviriam para colocar Toronto como o principal candidato a azarão na conferência, posto que muitos talvez imaginassem que caberia ao Chicago Bulls no início da temporada, numa ascensão gradual da franquia, basicamente desde a partida de Rudy Gay e Andrea Bargnani. Mesmo que tivesse levado um sacode do Cavs no dia 4 de janeiro, fora por 122 a 100, haviam vencido 17 de 21 partidas incluindo antes do reencontro com os LeBrons. Ainda assim, valeu como tanto como um resultado simbólico, como para dar o troco e jogar pressão para cima dos caras, ajudando, de passagem, a tumultuar mais um pouquinho o vestiário.

(Parêntese: entre as celebridades basqueteiras, o grandão Win Butler é autêntico. No All-Star em Toronto, dominou a pelada da sexta e foi eleito MVP. Drake? Que Drake?!)

(Parêntese: entre as celebridades basqueteiras, o grandão Win Butler, que jogava no high school, é autêntico. No All-Star em Toronto, dominou a pelada da sexta e foi eleito MVP. Drake? Que Drake?!)

Será que Bargnani e Gay poderiam imaginar um cenário desses, em que o Raptors entra em março com a quinta melhor campanha da temporada? E Bryan Colangelo? Talvez todos eles quisessem, mas é improvável que acreditassem que fosse possível que ele surgisse assim tão cedo. Mas não por acaso. Em diversos frentes, o clube canadense vem num processo evidente de crescimento, especialmente no mundo dos negócios, se firmando como um dos queridinhos do Canadá (vide o sucesso do slogan #WeTheNorth). A compra de uma franquia exclusiva na liga de desenvolvimento, em uma ação bem rápida, para acolher Bruno Caboclo e os mais jovens, também mostra isso.

De nada adiantaria uma esperta campanha de marketing se o produto em quadra não tivesse substância para sustentá-la. O técnico Dwane Casey sabe que não tem um time perfeito em suas mãos. Mas também está ciente de que conseguiu formar um conjunto bem equilibrado, com uma identidade bem definida e potencial para melhora, a ponto de voltar aos mata-matas com as maiores pretensões da equipe desde os dias em que Vince Carter decolava.

Os dinos têm o quinto ataque mais eficiente da liga e a 12ª defesa. Na subtração de um pelo outro, chega ao sexto melhor saldo de pontos por 100 posses de bola, superado apenas por, veja bem, Spurs, Warriors, Thunder, Clippers e Cavs. Ficar entre os sistemas ofensivos mais fortes, para esse núcleo, não é uma novidade, tendo ficado em terceiro neste ranking na temporada passada e em nono em 2013-14. Já o sistema defensivo resgatou sua credibilidade, depois de ter sido de um décimo lugar há dois campeonatos e de um esquálido 23º na campanha anterior.

Esse uniforme já viu a 2ª rodada dos playoffs. Mas não com Lowry e DeRozan

Esse uniforme já viu a 2ª rodada dos playoffs. Mas não com Lowry e DeRozan

E há caminhos claros para apertar ainda mais a retaguarda. A prioridade seria a recuperação de DeMarre Carroll, afastado do time desde janeiro, quando sofreu uma artroscopia no joelho direito. Até a virada do ano, por exemplo, com seu caríssimo agente livre contratado, a defesa era a décima melhor, se colocando no cobiçado grupo de times top 10 dos dois lados da quadra. Mas ainda não há data para Carroll retornar, e o escritório de Masai Ujiri não deixa vazar nada. Se ele estiver pronto para os playoffs, será um tremendo reforço.

Outra possibilidade, dói dizer, seria o banimento, ou a redução significativa dos minutos de Scola na rotação. Ao consultar os 20 quintetos mais utilizados por Casey na temporada, vemos que lenda viva argentina está relacionada em nove. O duro é que, destes nove, apenas um tem saldo positivo. Os outros oito estão no vermelho, por mais que o camisa 4 tenha adicionado a seu repertório o chute da moda: tiros de três pontos pontos como um ala-pivô aberto. Scola está convertendo 38,3% de seus disparos de três pontos, e o mais interessante é que isso ocorre com um número elevado de tentativas. Ele saiu de 0,4 por 36 minutos quando defendia o Indiana Pacers para 3,0 neste ano.

A eficiência nos arremessos deixa a quadra mais alargada no ataque, facilitando as infiltrações de Kyle Lowry e DeMar DeRozan. Na defesa, porém, as coisas não funcionam. Em tese, isso poderia se explicar pela parceria com Jonas Valanciunas, com dois pivôs muito técnicos, mas extremamente lentos numa liga que tende a punir esse tipo de marcador. Acontece que, nem com Bismack Biyombo ao seu lado no garrafão, o Raptors tem resistido.

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Daí o estranhamento pela inércia de um gerente geral tão agressivo como Masai Ujiri antes do fechamento da janela de trocas. Só mesmo o nigeriano e seus confidentes sabem ao certo que tipo de negociação e proposta eram atingíveis. Talvez Brooklyn e New Orleans tenham pedido muito por Thaddeus Young e Ryan Anderson. Mas muito quanto? O Raptors está numa posição bem confortável quanto a trunfos para negociações. Tem assegurada todas as suas escolhas dos próximos Drafts, além dos direitos sobre a escolha do Knicks  deste ano (ou do Nuggets, dependendo da ordem, ficando com a mais baixa delas) e mais uma do Clippers. Além disso, o terço final do elenco de Casey é dominado por atletas mais jovens, como Bruno Caboclo e Lucas Bebê, que não serão aproveitados tão cedo.

Moedas de troca Ujiri tinha. Se os negócios oferecidos não eram tão bons, isso não impedia que fosse atrás de outros caminhos. Não dá para criticar tanto alguém que preze pela paciência nos negócios. São vários os clubes que já se colocaram em má situação com uma sequência precipitada de trocas. Mas o clube canadense poderia para assumir riscos moderados, sem o temor de comprometer a sustentabilidade do projeto. Será que Jason Thompson, marginalizado em Sacramento e Golden State e contratado para o lugar do dispensado Anthony Bennett – ô, tristeza! –, pode render no lugar de Scola? Agora não há muito o que se fazer a respeito. Também não é o fim do mundo.

Com Lowry e DeRozan, o ataque conta com dois All-Stars que ditam o ritmo da equipe. Ritmo, por sinal, que é o quinto mais lento da liga, em sintonia com Spurs e Cavs. Isso tem muito a ver com o modo como os dois atacam. São centralizadores, massageam a bola (o Raptors é o segundo que mais arremessa nos últimos quatro segundos de uma posse de bola, com 7,2 por jogo nessas condições), chamam o pick-and-roll, vão para dentro, e dá certo. Juntos, são responsáveis por 56,4% das assistências da equipe. É muito. Mas, comparando com a liga, isso não significa muito, já que o Raptors é o terceiro que menos faz cestas assistidas (14,5%). Como faz, então, para ter um ataque eficiente, sem ser solidário? Não é com o bombardeio de fora. O rendimento de 36,8% nos chutes de três é excelente, o terceiro melhor (Warriors e Spurs). Mas eles não arriscam muito, ficando em 15º em tentativa, no meio da tabela.  Por outro lado, são muitos lances livres para compensar, sendo o terceiro em conversões (Rockets e Wolves). Também se comete poucos turnovers, com 13,2.

Lowry e DeRozan fazem suas melhores temporadas. Depois de um regime durante as férias, o armador se apresentou a Casey em excelente forma, finíssimo. Bacana, certo? Só não deixa de ser engraçado que ele tenha esperado nove anos para chegar a essa conclusão, de que perder alguns quilinhos poderia fazer bem a um armador que adora bater para a cesta e se gabava, antes, de ser um pitbull na defesa. Enfim.

Antes e depois

Antes e depois

Já DeRozan passou a enxergar o jogo com muita inteligência e paciência, para se infiltrar e descolar lances livres. É o segundo que mais converteu chutes na linha nesta temporada, atrás apenas de James Harden. Em seus movimentos rumo ao aro, vem usando cada vez mais o pick-and-roll e também aprendeu a servir aos companheiros. Fica tão confortável com a bola que hoje tem uma taxa de uso maior que a de Lowry.

Além disso, o que vem funcionando muito bem é o banco de reservas. Com Lowry fazendo companhia a Cory Joseph, Terrence Ross, Patrick Patterson e Biyombo, temos um quinteto que vem sendo bastante produtivo, com um saldo de 29,4 pontos por 100 posses de bola. Essa é a quarta melhor marca do campeonato (para um mínimo de 20 jogos e 100 minutos), gente. Outro quinteto que rende bem tem Lowry-Joseph-Ross-Patterson-Valanciunas, mas com uma carga bem menor de minutos (63 contra 201 da outra equipe).

Os bons resultados, aliás, devem gerar um impasse para Casey. Se o time titular não tem rendido conforme o esperado, ao mesmo tempo seria complicado de mexer drasticamente na rotação, já que a segunda unidade tem dado tão certo. Daí que um retorno de Carroll seria providencial. Dependendo de seu estado físico, o veterano poderia ser reinserido naturalmente no lugar de Scola, e vida que seguisse. Se ele não puder jogar, porém, seria a solução estender os minutos de Patterson? Ele manteria sua eficiência com maior carga? Scola daria conta, pelo menos, dos minutos que sobram para a posição? Ou talvez você possa distribui-los entre James Johnson e Ross, com Johnson jogando mais perto do garrafão nesse caso.

Scola produz no ataque. Mas é um problema na defesa

Scola produz no ataque. Mas é um problema na defesa

Diante dessas dúvidas, o argumento por uma postura mais agressiva na busca por trocas ganha mais força. Outro  ponto a ser levado em conta, nesse raciocínio, é a entrada de DeRozan no mercado de agentes livres neste ano e a de Lowry no ano que vem. Os contratos da NBA são cada vez mais curtos, e o prazo de validade de um time competente fica reduzido na mesma medida. Qualquer elevação na produção desse time poderia empurrá-lo com tudo para cima do Cavs, independentemente do estado de espírito dos adversários.Isso, claro, se eles chegarem a esse embate. Por mais que tenham se fixado como o segundo principal time da conferência, não dá para encarar uma série com o Boston Celtics como uma barbada. Isso para não falar, de repente, de um confronto com o Atlanta Hawks logo de cara. Glup.

Num cenário ideal, supõe-se que o clube renove com DeRozan em julho, mesmo que isso os tire de ação no mercado, dando conta do teto salarial nas próximas duas temporadas. Deixar o ala-armador sair seria assumir um grande risco (estamos falando do terceiro jogador do clube em eficiência, com 23,1 pontos, 4,1 assistências, 4,3 rebotes, 6,9 lances livres por jogo e aproveitamento de 83,8%, 26 anos). Para ir atrás de Durant? É realista? Al Horford? Será concorrido. Dwight Howard? Não faz sentido. Há opções mais baratas, que poderiam atenuar uma perda e manter a flexibilidade para manobras. Mas há também como ficaria o relacionamento com a torcida? DeRozan é o Raptor mais longevo desse elenco e acabou de ser eleito All-Star.

Obviamente essas questões todas passam pela cabeça de Ujiri. Como ele mesmo disse a Zach Lowe, do ESPN.com: “Como você passa de bom para excelente na NBA? Isso é realmente muito difícil”. É complicado, mesmo. Cada negócio ou não-negócio tem uma ramificação. A diretoria preferiu apostar na continuidade do time e de seu projeto com os mais jovens. Basta mais uma série desastrada nos playoffs e nova eliminação na primeira rodada, porém, para que essa narrativa seja alterada drasticamente. Pensando no estágio em que o clube estava no início da década, esse tipo de problema não justifica lamúrias. São hipóteses também. Por enquanto, de concreto, o que temos é que o Raptors existe e precisa ser respeitado.

Torcida empolgada geral em Toronto. Querem mais nos playoffs

Torcida empolgada geral em Toronto. Querem mais nos playoffs

A pedida? Final de conferência. Ou, pelo menos, competitividade numa eventual semifinal contra Boston, Miami, Indiana etc. O certo é que chegar aos playoffs já não é o bastante mais. Uma terceira eliminação consecutiva na primeira rodada seria uma tremenda decepção e muito provavelmente poderia resultar na demissão de Dwane Casey, além de chacoalhar as estruturas superiores da franquia.

A gestão: Masai Ujiri é um dos executivos mais bem pagos da liga, por uma razão. Ou várias razões. O New York Knicks que o diga, depois de duas negociações (Carmelo vindo de Denver e Bargnani de Toronto) em que diferentes dirigentes foram rapelados pelo nigeriano. O cara  desfruta de tanta reputação na liga que seus pares deveriam ter receio de iniciar uma negociação com ele. Talvez venha daí, mesmo, a ausência de trocas por parte do Raptors. Vai saber.

O que Ujiri não nega é que, em seu projeto, houve também uma contribuição do acaso, ao tentar arrumar a bagunça deixada pelos últimos anos desesperados de Bryan Colangelo por lá – quando mandou Rudy Gay para Sacramento, jamais imaginaria que essa transação resultaria em uma (r)evolução imediata em seu time, rumo ao topo da conferência.

Claro que há uma contribuição estrutural nessa reformulação. O trabalho com os técnicos do Raptors ajudou DeRozan a virar a ameaça que representa hoje, realizando todo o seu potencial, mesmo que seu arremesso exterior ainda não desperte o horror nas defesas. Se Valanciunas e Ross vão progredir desta maneira, o time ficará em boas condições, uma vez que seus contratos foram firmados em um teto salarial muito mais baixo do que vem por aí nos próximos anos (subindo de US$ 63 milhões na temporada passada para algo em torno de US$ 110 milhões em 2018).

Caboclo: 13,8 pts, 5,8 reb, 1,6 blk, 1,6 ast e 39,1% de quadra pelo Raptors B

Caboclo: 13,8 pts, 5,8 reb, 1,6 blk, 1,6 ast e 39,1% de quadra pelo Raptors B

Ujiri foi promovido de scout gratuito do Orlando Magic no início da carreira a chefão em Toronto por conta de uma vasta rede de relacionamento, mas também pelo trabalho exaustivo na busca por talentos mundo afora, e a história da seleção de Bruno Caboclo, numa articulação (quase) confidencial, é um grande exemplo de sua visão como dirigente.

Naturalmente, o dirigente tratou de buscar atletas mais jovens e conseguiu formar um núcleo bastante homogêno. Tirando Luis Scola, de 1980, todos os outros 14 atletas da equipe nasceram entre 1986 (Lowry e Carroll) e 1995 (Caboclo). Boa parte deles tem a chance de se desenvolver lado a lado, em que pese a curta duração de seus contratos. O problema: Lowry é justamente o segundo mais velho. Agora em março, vai virar trintão. Sem o armador, como essa base se viraria?

A diretoria dos dinos tem de se perguntar o quanto isso tudo vai durar, considerando seu estilo de jogo. Lowry é hoje a grande estrela da turma, tendo se transformado no tipo de jogador que a franquia jamais conseguiu recrutar no mercado de agentes livres. Aliás, pelo contrário: a história diz que estrelas ou candidatos a estrela saem de Toronto rapidamente. Então a linha de questionamento continua: se o armador está no auge, será era a hora do ataque? É legal investir na garotada, mas quando eles serão promovidos para valer? E quantos deles?

Será que Caboclo e Bebê vão conseguir jogar para valer com Lowry no Raptors?

Será que Caboclo e Bebê vão conseguir jogar para valer com Lowry no Raptors?

O time atingiu um nível tão bom em quadra e tem uma rotação estabelecida que torna difícil o aproveitamento dos mais jovens. Ou, vamos colocar assim: mais inexperientes. O armador Delon Wright, irmão mais novo do ala Dorell, pode ser um novato, mas é dez dias mais velho que Valanciunas. Ambos chegarão aos 24 nesta temporada, assim como Lucas Bebê. O ala-armador Norman Powell vai completar 23. Bruno Caboclo é quem ainda pode ser tratado tranquilamente como o caçulinha. Só vai fazer 21 em setembro, pouco antes do próximo “training camp”.

Legal. É boa a base.

Mas com atletas que já estão, ou deveriam estar num estágio de desenvolvimento mais avançado. Preparados para assumir mais responsabilidades, exceção feita a Caboclo. Juntos, eles receberam apenas 476 minutos na temporada. Se fossem apenas um atleta, isso daria 8,2 minutos por partida, e isso só aconteceu devido a lesões de Valanciunas e Carroll, que liberaram boa parte dos 313 minutos de Bebê e Powell. Em suma: é D-League, ou fim da fila no banco de reservas. Se tudo der certo no time de cima, essa é uma condição que deve ser mantida por um bom tempo, a não ser que deem sinal de progresso nos treinos ou na liga menor.

No fim, como Ujiri vai aproveitar esses jogadores é o que pode definir seu trabalho.

Olho nele: Bismack Biyombo.

Biyombo, mas pode chamar de protetor de aro

Biyombo, mas pode chamar de protetor de aro

Se arrumar a defesa era uma prioridade do técnico Dwane Casey, a contratação do centro-africano foi uma dádiva. Se nenhum Rudy Gobert está disponível, se não havia muito espaço na folha salarial para investir pesado além de Carroll, conseguir Biyombo por menos de US$ 3 milhões foi também uma pechincha. Com baixa estatura, mas muita envergadura e força física, o pivô é uma alternativa perfeita a Valanciunas, contra pivôs mais ágeis. Sua verticalidade também funciona muito bem no novo sistema defensivo dos dinos, que tenta empurrar os atletas para o centro do garrafão, para chutes de média distância contestados pelo xerife da vez. Com Biyombo em quadra, fica mais difícil de achar a cesta: os oponentes fazem 5,6 pontos a menos por 100 posses de bola. Suas dificuldades ofensivas ainda o limitam no mercado, mas é provável que ele exerça sua cláusula – não é possível que ninguém lhe pague mais que que os US$ 2,9 milhões previstos em seu contrato. Troque Roy Hibbert por ele, e o Lakers teria um garrafão muito menos acolhedor, certamente, por exemplo.

vince-carter-dunk-elbowUm card do passado: Vince Carter. Muito óbvio? Pois é. Mas, do elenco da temporada 2000-01, a primeira e única vez em que o time venceu uma série de playoff, o então acrobático ala foi o único que sobrou na liga para contar história. Hoje não lembra em nada aquele cestinha de então, explosivo, com um conjunto de ataques enfáticos ao aro praticamente inigualável ou que, no mínimo, só permite que um Jordan, um Wilkins ou um Erving lhe façam companhia. Mas dá sua pequena, esporádica, mas honesta contribuição ao Memphis Grizzlies – o que é curioso, já que estamos falando da franquia que não teve tempo o suficiente para vingar em solo canadense, enquanto, no auge, ajudou o Raptors a se estabelecer comercialmente, enquanto ajudava o basquete a se popularizar por lá.

Para termos uma ideia do quanto valem os 15 anos que se passaram, vamos relembrar do que consistia a rotação do técnico Lenny Wilkens, então: Alvin Williams, Chris Childs, Dell Curry, Morris Peterson, Jerome Williams, Charles Oakley, Antonio Davis e Keon Clark. O último a se aposentar dessa leva toda foi Peterson, em 2011, aos 33, mas sem condições de entrar em quadra por OKC, depois de anos pouco produtivos, com muitas lesões, em New Orleans.

Naquela campanha, Carter tomou uma decisão que se tornaria extremamente controversa e, de certa forma, o empurraria anos mais tarde para fora de Toronto. Em plena semifinal de conferência com o Philadelphia 76ers de Allen Iverson, decidiu viajar para Chapel Hill para receber seu diploma universitário, por North Carolina. Precisamente no mesmo dia de um eletrizante Jogo 7, 20 de maio de 2001. A partida derradeira foi decidida apenas no último segundo, e com posse para o Raptors. Carter pediu a bola, fez a finta e foi para o chute. Deu aro, batendo na parte de trás. Tivesse acertado, seria uma jornada perfeita para qualquer marketeiro da liga: imagine só, você não só estava falando de um superastro em quadra como de um aluno comprometido. Mas não aconteceu, e, de modo inevitável no mundo esportivo, o ala passou a ser questionado com frequência. A equipe ainda voltou aos playoffs em 2002, mas caiu diante do emergente Detroit Pistons que ganharia o título dois anos depois. Seria ladeira abaixo a partir daí, e a amargura da torcida, as derrotas e um ressentimento retribuído por Carter resultaram numa troca do astro com o New Jersey Nets na temporada 2004-05.


Magnano se preocupa com panorama nebuloso para os brasileiros da NBA
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Huertas, Magnano, Felício e poucos minutos

Huertas, Magnano, Felício e poucos minutos

Não é hora para pânico. Ainda. Pois as Olimpíadas serão disputadas em agosto, daqui a menos de seis meses. Mas que é alarmante o contexto da seleção brasileira masculina, não há dúvida.

As semanas da opressora temporada regular da NBA avançam, e o panorama da volumosa legião brasileira por lá segue nebuloso. Nenhum deles é protagonista – mas isso não vem de agora. O problema é o tempo de quadra consideravelmente reduzido, pelas mais diversas razões. Raulzinho é o único que tem mais de 20 minutos em média por partida (20,5), mas menos da metade do tempo regulamentar da liga.

O que leva Rubén Magnano a coçar a cabeça, ao retornar de seu giro pelos Estados Unidos, para falar tête-à-tête com a trupe. Em conversa com Fábio Aleixo, aqui do UOL Esporte, citando Marcelinho Huertas e Anderson Varejão como “os que mais preocupam”. O argentino chegou a sugerir a eles que procurassem novos clubes, para que pudessem jogar mais, pensando na forma física no momento em que forem convocados para as Olimpíadas. O prazo para trocas na NBA se encerra no dia 18 de fevereiro, próxima quinta.

“Eles sabem disso. Vamos ver como fica esta história [de troca de times, que acontece anualmente no meio da temporada]. Seria muito bom se conseguissem algo. Dei o meu parecer e a minha ideia, tivemos uma conversa muito aberta. Mas não sou eu que vou fechar o negócio”, afirmou. “Todos sabem como funcionam as coisas na NBA.”

Magnano se encontrou com Splitter mais uma vez nos Estados Unidos. Diz que as visitas "não têm preço". Será? Com a CBB endividada, fica a dúvida sobre a real importância dessa visita. Houve um tempo em que a seleção estava distante dos atletas. Mas o constante contato nas últimas temporadas já deveria ter bastado para se criar uma cultura. Além do mais, era realmente necessário que o treinador conversasse com eles, pessoalmente, para falar sobre a importância de se jogar uma Olimpíada? E mais: do ponto de vista prático, fevereiro ainda é muito cedo para uma temporada da NBA. Um "sim" dito agora pode não ter valor nenhum daqui a quatro ou oito semanas, com muitos jogos importantes pela frente. Peguem a situação de Splitter como exemplo: se a necessidade de uma cirurgia se confirmar, muda tudo em relação ao bate-papo dos dois. São muitas variáveis em jogo. Enfim...

VALE A VISITA? – Magnano se encontrou com Splitter mais uma vez nos Estados Unidos. Diz que as visitas “não têm preço”. Será? Com a CBB endividada, fica a dúvida sobre a real importância dessa visita. Houve um tempo em que a seleção estava distante dos atletas. Mas o constante contato nas últimas temporadas já deveria ter bastado para se criar uma cultura. Além do mais, era realmente necessário que o treinador conversasse com eles, pessoalmente, para falar sobre a importância de se jogar uma Olimpíada? E mais: do ponto de vista prático, fevereiro ainda é muito cedo para uma temporada da NBA. Um “sim” dito agora pode não ter valor nenhum daqui a quatro ou oito semanas, com muitos jogos importantes pela frente. Peguem a situação de Splitter como exemplo: se a necessidade de uma cirurgia se confirmar, muda tudo em relação ao bate-papo dos dois. São muitas variáveis em jogo. Enfim…

Sim, o desejo de Magnano não conta quase nada perante o plano de cada uma das 30 franquias da liga americana, ou de Lakers e Cavaliers, no caso. Os rumores pelos bastidores indicam que o Cavs até vem sondando o quanto Varejão desperta de interesse do mercado. Mas o assunto não está pegando fogo.

De qualquer forma, na frase do técnico da seleção, acho que a ênfase deve ficar em “mais”: aqueles que mais preocupam. Não quer dizer que a situação dos demais brasileiros seja tranquila. Aliás, pelo contrário. As notícias envolvendo Tiago Splitter são ainda alarmantes. Como o Atlanta acaba de admitir, o catarinense pode passar por uma cirurgia no quadril. Nenê teve sua campanha sabotada, desta vez, por conta da panturrilha. Enquanto isso, em Toronto, Lucas Bebê voltou a sumir de quadra com o retorno de Jonas Valanciunas, enquanto Bruno Caboclo segue como um projeto de longo prazo, com a D-League servindo como laboratório. Cristiano Felício tampouco joga pelo Bulls.

E aí?

Bem, antes de julgar, é importante entender o que se passa com eles – pois já dá para ver por aí os comentários oportunistas – ou, digamos, bastante “desapegados aos fatos” –, prontos para desqualificar esses atletas, sem entender diferentes particularidades que os cercam. O fato de essa galera não estar jogando muito agora não significa de modo algum que não sirvam. Antes de abordar cada situação especificamente, há um ponto em comum que une Splitter, Varejão e Nenê e outro para Felício, Bebê e Caboclo.

O primeiro trio é composto por trintões, não podemos nos esquecer. Isso não quer dizer que estejam acabados. Eles têm muita lenha para queimar ainda. Só não são os mesmos jogadores de quatro ou cinco anos atrás, principalmente do ponto de vista atlético. Não há como brigar contra isso, e até um Kobe Bryant se mostra mortal.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Já a segunda trinca está do outro lado do espectro: jovens talentos garimpados pelos scouts da liga, ainda em formação. O leitor mais crítico pode observar que, ao 23, Felício e Bebê são três anos mais velhos que calouros superprodutivos como Karl-Anthony Towns, Kristaps Porzingis e Jahil Okafor. Ou que têm a mesma idade de Kyrie Irving, Victor Oladipo, Harrison Barnes, Jordan Clarkson, Jared Sullinger, Valanciunas, entre outros. Mas é injusto comparar. Cada um caminha no seu ritmo. Bebê saiu cedo para a Europa, perdeu quase um ano entre negociações com Atlanta, problemas no joelho e o retorno ao Estudiantes. Na temporada passada, também só treinou. Felício passou pelo Oregon por um ano e, no Flamengo, mal tinha a bola para atacar. E por aí vai. São crus para o jogo em alto nível, mas ainda vistos como atletas de potencial por suas franquias.

“Temos jogadores jogando muito pouco e que são muito importantes. Pode ser que isso mude a partir de agora. Quero que os atletas cheguem com uma boa minutagem, e isso é o que mais preocupa. Não é tão fácil trocar o chip de uma hora para outra. Temos de colocar todos na mesma sintonia”, diz.

Contra o LAkers, na quarta, Varejão recebeu 19 minutos e somou oito pontos e seis rebotes, cometendo quatro faltas. Kevin Love saiu de quadra com uma contusão no ombro, e aí abriu-se espaço na rotação. Chance para os olheiros das outras equipes verem o que Anderson ainda tem para vender

Contra o Lakers, Varejão recebeu 19 minutos e somou oito pontos e seis rebotes, cometendo quatro faltas. Love saiu de quadra com uma contusão no ombro, e aí abriu-se espaço na rotação. Chance para os olheiros das outras equipes verem o que Anderson ainda tem para vender

Essas questões interferem na convocação do time de Magnano, ou deveriam interferir, se me permitem opinar. Lesões, falta de ritmo… Você não tem garantia de que, em 40 dias de treinos e testes, vai superar isso. Talvez o mais prudente, então, na hora de elaborar a lista, seja pensar em mais nomes, algo mais amplo. Em sua rotina extremamente exigente de treinos, o técnico tem de botar esses caras para correr, mas sem quebrá-los. Desenferrujar não é a única questão. Tem mais: você precisa de alternativas e de competição para definir os 12 olímpicos.

Do seu lado, contudo, o argentino não parece tão inclinado a isso. Não dá para esperar novidades. “Agora não vou fechar nomes ou possibilidades. Mas claro que hoje tenho bem definido um grupo de jogadores que posso chamar pensando não apenas na seleção do Brasil neste momento, mas também o que podem representar no futuro”, analisou.

É um dilema, sem dúvida. Convocar por currículo, por nome, ignorando temporada pouco produtiva, não deveria ser a regra. Mas, a essa altura, também pode soar como loucura advogar por mudanças drásticas na relação, pensando na experiência acumulada pelo núcleo usual de Magnano. Só é preciso respeitar as condições de jogo de cada um, do ponto de vista físico, médico.

Em sua entrevista, o treinador fala que quer o Brasil jogando sempre no mesmo horário durante as Olimpíadas, que já assegurou a presença de uma comitiva de familiares nas arquibancadas e um pouco mais sobre o planejamento até o #Rio2016. Pode conferir lá. Abaixo, vamos tentar entender o que se passa com os brasileiros da NBA:

Anderson Varejão
Vai chegar ao torneio olímpico beirando os 34 anos
Na temporada:
31 jogos, 10,0 minutos, 2,6 ppj e 2,9 rpj
Projeção por 36 min: 9,3 ppj, 10,6 rpj, 2,3 apj, 1,3 roubo
O capixaba está numa das rotações interiores mais congestionadas da NBA, em tempos em que os pivôs vão perdendo espaço para jogadores mais flexíveis. Quer dizer: não só tem de brigar por espaço com Kevin Love, Tristan Thompson e Timofey Mozgov, como verá LeBron James ocupar minutos por ali, assim como o veterano Richard Jefferson. Se você for pegar os números projetados, Anderson tem entregue, em tempo limitado, mais ou menos aquilo que apresentou durante toda a sua carreira. A dúvida que fica, mais séria, é sobre sua mobilidade, que sempre foi um de seus grandes diferenciais, assim como o instinto e a inteligência. O pivô se recuperou de uma cirurgia no tendão de Aquiles no ano passado, o que é um desafio (independentemente do que Kobe Bryant e Wesley Matthews façam em Los Angeles ou Dallas). Fica difícil. Conforme já dito, o Cavs faz sondagens de mercado para se há um negócio interessante pelo brasileiro. Caso fique em Cleveland, é grande a chance de que esteja envolvido com a liga até o início de junho, época das finais. http://www.basketball-reference.com/players/v/varejan01.html#per_minute::none

Leandrinho
Fez 33 anos em novembro passado
Na temporada:
39 jogos, 14,9 minutos 6,6 ppj, 1,4 apj, 1,4 rpj, 36,5% de 3pt
Projeção por 36 min: 15,9 ppj, 3,4 apj e 3,8 rpj

Leandro, e seu novo visual. Mas o papel no time é o mesmo do ano passado

Leandro, e seu novo visual. Mas o papel no time é o mesmo do ano passado

O ligeirinho está toda hora na TV e até os marcianos sabem que ele é uma peça complementar num dos melhores times da história do basquete, tendo a confiança dos treinadores e um respaldo imenso no vestiário. Não é o foco no ataque da segunda unidade, como em seu auge pelo Phoenix Suns, mas ainda põe fogo em quadra e se encaixa perfeitamente numa proposta intensa de jogo. A dúvida aqui é saber até quando vai se estender a jornada do Warriors. Ao que tudo indica, estarão jogando no início de junho, sendo que as Olimpíadas começam no dia 6 de agosto. A despeito da ascensão de Brandon Rush e de uma torção no ombro, ele tem hoje a mesma média de minutos da temporada passada. Seus números por 36 minutos também são muito semelhantes aos que produz desde que entrou na liga em 2003.

Marcelinho Huertas
Completará 33 anos em maio
Na temporada: 29 js, 11,4 mpj, 2,7 ppj, 2,4 apj, 1,1 turnover, 29,6% de 3 pts
Projeção por 36 minutos: 8,5 ppj, 7,7 apj, 1,4 roubo, 3,6 turnovers
O Lakers tem um elenco fraco. Está na cara isso. Mas as posições perimetrais contam com um certo sr. Bryant e dois garotos que são as grandes apostas para logo mais. E ainda tem o Lou Williams, fominha que só, mas um cestinha oportuno. O brasileiro foi contratado, em tese, para ajudar Russell e Clarkson e, eventualmente, colaborar com a organização da segunda unidade. Durante a pré-temporada, Byron Scott se empolgou com sua capacidade de liderança em quadra. Essa empolgação não durou muito… Mesmo com o time totalmente desfragmentado, o brasileiro vem sendo utilizado de maneira esporádica. (E, por favor, essa história de toco, roubo de bola, drible… Torcida pode gostar disso, mas, em discussões mais sérias, não cabe.)

Nenê é relevante para o Wizards. Mas está limitado pelo corpo

Nenê é relevante para o Wizards. Mas está limitado pelo corpo

Nenê
Completará 34 anos em setembro
Na temporada: 28 js, 18,8 mpj, 8,8 ppj, 4,4 rpj, 1,4 apj, 53,6% nos arremessos
Projeção por 36 minutos: 16 ppj, 8,3 rpj, 2,7 apj, 1,8 roubo e 1,0 toco
Como podemos ver, o são-carlense ainda segue muito eficiente, fazendo um pouco de tudo em quadra. Suas estatísticas, por 36 minutos, são praticamente idênticas ao que produziu na carreira. O grande problema é que o técnico Randy Wittman simplesmente não sabe quando pode contar com os seus serviços, e aqui acho que nem vale citar uma ou outra lesão específica – a panturrilha é o que mais incomoda neste campeonato. Nenê já enfrentou tantos problemas físicos nos últimos anos, que o baque pode ter um foco ou outro numa semana, mas o baque é geral. Por isso, tem seus minutos controlados e é poupado em ocasiões de duas partidas em duas noites. Não obstante, a ideia para o time neste ano era adotar uma formação mais baixa, com três alas ao redor de Marcin Gortat. Outro ponto: Nenê vai ser agente livre ao final do campeonato. A questão de seguro ficará ainda mais cara e complicada.

Raulzinho
Vai fazer 24 anos em maio
Na temporada: 51 js, 20,5 mpj, 6,2 ppj, 2,5 apj, 1,5 rpj, 39,6% de 3 pts
Projeção por 36 minutos: 10,9 ppj, 4,3 apj, 2,7 rpj, 1,5 roubo.
Vamos deixar Magnano falar um pouco a respeito? “Com certeza em seis anos que estou na seleção você nunca me escutou falar de titulares. Tem jogadores que abrem o jogo, outros que terminam. Eu não tenho nenhuma preocupação quanto a isso. A minha única preocupação é que o cara renda na hora do jogar. Tenho exemplos muito claros disso e um deles é o próprio Raulzinho, que contra a Argentina, na Copa do Mundo, entrou e teve ótima atuação”, afirmou o argentino, a Aleixo, quando questionado sobre um quinteto inicial.

Tudo isso para dizer que, sim, é surpreendente e bacana que Raul tenha conseguido o posto de titular em sua campanha de calouro, com um papel bem definido na rotação, fazendo a bola girar, abrindo para o chute. Mas o brasileiro, que vem se soltando nas últimas rodadas, também está ciente de que a criação de jogadas do Utah cabe, na verdade, a Gordon Hayward, Rodney Hood, Alec Burks (quando retornar) e até mesmo a Trey Burke, seu suplente, que foi para o banco para ganhar mais liberdade na segunda unidade. Mesmo tendo disputado duas partidas a menos, Burke recebeu mais de 100 minutos de jogo na temporada. E não podemos nos esquecer da lesão de Dante Exum.

Raul, o único titular. Mas por circunstâncias

Raul, o único titular. Mas por circunstâncias

Tiago Splitter
Fez 31 anos há pouco, em janeiro
Na temporada: 36 js, 16,1 mpj, 5,6 ppj, 3,3 rpj
Projeção por 36 minutos: 12,5 ppj, 7,5 rpj, 2,2 apj, 1,1 roubo e 1,1 toco
O início mais tímido de Splitter em Atlanta, com poucos minutos, poderia sugerir as dificuldades normais de adaptação a um novo time e elenco, mesmo que houvesse uma lacuna clara no garrafão. Em tese, o encaixe com Horford e Millsap era perfeito. Mas não era só isso. Ele perdeu sete jogos entre novembro e dezembro. Mais quatro entre dezembro e janeiro. Agora, em fevereiro, aí que a coisa ficou mais séria, com mais seis jogos fora. Finalmente, o clube revelou o que se passava com o catarinense, e a notícia não é boa: as dores no quadril são tão fortes que podem pedir até uma cirurgia. Ao final deste período prolongado de descanso e tratamento, será reavaliado. Mike Budenholzer e Magnano, claro, esperam que não seja necessário. Pois, limitado nos movimentos, o pivô ainda foi útil ao Hawks, causando ótimo impacto defensivo.

Caboclo, Bebê e Felício
Os mais inexperientes até agora não somaram nem 160 minutos de jogo. Desta cota passageira, Bebê é responsável por 85,3%, e, nas poucas chances que teve, foi bem. Desde a virada do ano, porém, só foi acionado sete vezes por Dwane Casey. Só contra Denver, em 1º de fevereiro, que ganhou 14 minutos, quando seus companheiros foram destroçados por Nikola Jokic no primeiro tempo, e o treinador se viu obrigado a buscar novas opções.

Para Caboclo, isso já representaria um recorde, ainda assim. A maior rodagem que o ala ganhou até agora foi, conforme o esperado, na D-League. Entre idas e vindas entre o Raptors A e o B, acumula 797 minutos em 24 partidas,com 32,5 por rodada. Médias de 13,6 pontos, 5,8 rebotes, 1,5 assistência e 1,8 toco, matando 34,4% de três pontos e apenas 38% dos arremessos no geral. É preciso cuidado na hora de avaliar esses números, já que as estatísticas da liga são infladas pela natureza peladeira de 95% de seus jogos. Além disso, no caso do ala brasileiro, é difícil encontrar o equilíbrio entre prepará-lo para um eventual papel reduzido que possa ter na NBA o quanto antes e, ao mesmo tempo, lhe dar liberdade para expandir seus talentos ofensivos, aprendendo com erros e acertos em quadra. Lucas, por seu lado, teve mais 179 minutos com a equipe de baixo em sete partidas.

Em Chicago, Felício entrou em um vestiário lotado de ótimos pivôs. Por isso, mais treinava do que qualquer outra coisa. Sem uma franquia na D-League, o Bulls demorou um pouco para enviá-lo. Quando a chance chegou, a revelação do Minas Tênis se esbaldou, mostrando que os treinos ao menos foram proveitosos. A lesão sofrida por Joakim Noah e a cirurgia complicada por que passou Nikola Mirotic deixam o time enfraquecido e a perigo. Será que, em um momento complicado, o brasileiro vai para quadra? Não é tão simples assim. Cameron Bairstow e Bobby Portis ainda estão na fila.


Com repertório expandido, Felício causa boa impressão geral pela D-League
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Felíco x Jeff Ayres, ex-Spurs

Felíco x Jeff Ayres, ex-Spurs

Quando um time de NBA perde um pivô com todas as habilidades de Joakim Noah, tende a se enrascar. Mas não o Chicago Bulls. Para Fred Hoiberg, isso significa dar mais minutos para Taj Gibson mostrar seu confiável arremesso de média distância e cobrir terreno com movimentação lateral invejável. Pau Gasol também vai ganhar mais espaço para fazer das suas no garrafão, enquanto Nikola Mirotic tem mais chances para encontrar o rumo da cesta. Ah, e claro, para não falar do hiperprodutivo Bobby Portis, o calouro número 22 do Draft que parece ter sido escolhido, no mínimo, 12 posições mais cedo. Estamos falando já de quatro caras mais que competentes para compor uma linha de frente, e o quinto homem seria um grandalhão pouco ágil ou atlético, mas que faz parte da seleção australiana, é grande, forte, adora uma pancadaria e tem bons fundamentos para ajudar no andamento de um treino e tal.

Pensando nesse mundaréu de gente, não deixava de ser uma grata surpresa que o escritório gerenciado por John Paxson, operando sob as ordens do quase sempre avarento Jerry Reinsdorf, tenha, num primeiro momento, contratado Cristiano Felício e, agora, nesta semana, garantido seu contrato até o final a temporada. Lembremos que, numa decisão rara, o proprietário do clube já havia topado ultrapassar a temida “luxury tax” em US$ 5 milhões neste ano e ainda não viu problema em pagar mais US$ 500 mil para o pivô brasileiro.

Agora, ao vê-lo em ação nesta semana pelo Canton Charge, da D-League, jogando com desenvoltura, energia e repertório expandido, após ter disputado apenas duas partidas pela temporada regular, sem que tivesse entrado em quadra desde o dia 27 de novembro, o voto de confiança e a aposta no mineiro de Pouso Alegre parecem mais do que justificado. Parecem certeiros.

>> Como foi a estreia de Caboclo e Bebê pela filial do Raptors?
>> As anotações de um scout da NBA sobre Caboclo, Bebê e Felício

>> Nada de férias! Análise sobre a liga de verão de Bruno Caboclo
>> Nada de férias! Análise sobre a liga de verão de Lucas Nogueira
>> Problemas dentro e fora de quadra: desenvolvimento intrincado

Ok, não vamos julgar nada com base em duas partidas e 50 minutos pela liga de desenvolvimento. Mas é que, como brasileiros, temos uma vantagem sobre os americanos, né? Pelo menos em relação aos scouts que não tenham feito o dever de casa ao acompanhar o pivô que despontou em cenário internacional na mesma turma de Raulzinho e Lucas Bebê, o tendo se exibido para os olheiros mais atentos em 2011.

Não que os Bulls fossem os únicos antenados. Sei de dois clubes da Conferência Oeste que ao menos colocaram o nome de Felício em pauta para a composição de seus elencos de verão, mas nenhuma oferta foi feita. Um desses clubes esteve no Brasil para avaliar a garotada do Pinheiros e também inseriu seu nome no caderno de notas. Outro adorou o que viu de seus amistosos pelo Flamengo no giro de pré-temporada em 2014. Além disso, claro, pôde ser observado no adidas Eurocamp de Treviso no ano retrasado, seu bom desempenho não foi o suficiente para lhe valer uma vaga no Draft.

Como vemos agora, um ano e meio depois, não era o fim do mundo. Nesta semana, depois de cerca de um semestre de treinos com a comissão técnica de Hoiberg, pudemos ver um atleta com truques novos, enfrentando jogadores de NBA, ou que tentam voltar para lá, além de veteranos aspirantes e universitários recém-formados de sua idade, angariando mais fãs.

“Felício desenvolveu um arremesso de três pontos. Se ele puder sustentar isso, estamos falando de um cara que vai ficar muito tempo na liga”, avaliou um scout presente no ginásio do Santa Cruz Warriors, que recebe o chamado “Showcase” da D-League, com todos os clubes menores reunidos para uma série de partidas da temporada regular, agrupadas, em sequência.

Agressão
Um pouco do que Felício fez na primeira partida do Charge por estes jogos valem mais que uma exibição está aqui:

E aí já dá para reparar em como o arsenal do pivô revelado pelo Minas Tênis apresenta uma surpresinha ou outra. A começar pelos arremessos confiantes de longa distância, devidamente destacados pelo olheiro acima, e um diferencial que, sabemos bem, mais da metade da liga está buscando em seus grandalhões. Contra o Idaho Stampede, ele matou duas em quatro tentativas, sendo que a quarta foi desequilibrada, no estouro do cronômetro ofensivo. Os ataques a partir do perímetro também envolvem arremessos de média distância, do tipo que arriscava pelo Flamengo.

Mas há algo mais interessante aqui. Não é que o brasileiro tenha dado ‘apenas’ um ou dois passos para trás e expandido seu alcance no chute. Ele não parou por aí, literalmente, pois também vem apresentando movimentos calculados e inteligentes em direção ao garrafão quando não está em posição confortável para atacar o aro. Um lance no segundo tempo exibido no clipe acima mostra o jogador buscando a infiltração e finalizando de canhota com muita categoria. Da mesma forma que fez aqui na primeira partida pelo Charge contra o Oklahoma City Blue:

É uma bolaça, hein? Convenhamos. O que chama a atenção é novamente a conclusão com a mão trocada e a paciência que ele teve para iniciar a jogada, cortando da direita para a esquerda, sob controle. Alguém se lembra de ver uma ação semelhante por sua parte durante os títulos do Flamengo pelo NBB? Não me bate na telha, não. Felício esteve sempre em calmo no ataque, sem se precipitar para nada, tomando decisões corretas. Cometeu dois turnovers na primeira partida, mas não foi nada de alarmante. Em um deles, a arbitragem viu o uso indevido do braço na hora de se proteger e buscar a cesta cortando pelo fundo de quadra.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Também não forçou a barra para buscar números e glória, mesmo que não jogasse há tempos. A diferença é que, comparando com Caboclo e Bebê, Felício ao menos teve muito mais tempo de quadra nas últimas duas temporadas pelo Flamengo, ainda que, em muitos momentos, a impressão era a de que ele pudesse ser muito mais utilizado, e seus lances pela D-League americana assim como a dominância na LDB brasileira comprovam isso. Felício pode ser muito mais do que um jogador de corta-luz e rebote no ataque. Sua habilidade como passador é bastante subestimada.

Em meia quadra:

Ou mesmo em transição:

Importante notar que o brasileiro nunca havia jogado com nenhum de seus companheiros antes. O Canton Charge é a filial do Cleveland Cavaliers, que curiosamente quebrou um galho para o rival de Divisão Central. Então na hora de fazer o corta-luz para seus armadores, abrir para o chute, ou mergulhar em direção ao garrafão, as coisas não saíam muito naturais. Falta química, claro. O entrosamento é mínimo. A despeito dessa limitação séria, se saiu bem. É preciso dizer também que ele tem bons jogadores ao seu redor, como os armadores Quinn Cook, campeão universitário por Duke e Coach K, e Jorge Gutiérrez, o mexicano ex-Bucks e Nets, o ala-pivô Nick Minnerath, versátil demais e que estaria ganhando uma boa grana na Europa, o ala John Holland, que joga por Porto Rico, e o ala CJ Wilcox, chutador cedido pelo Clippers. Ajuda ter gente qualificada ao lado, com instruções do técnico espanhol Jordi Fernandez, que trabalhava com academia Impact nos EUA.

Felício conquistou o respeito desses caras. Não basta ter o selo de NBA se não for para justificá-lo. Em termos de atitude, o brasileiro também se mostrou motivado, vibrando com as cestas dos parceiros. Essa atitude positiva se traduziu em energia em quadra, algo que nem sempre acontece no caso de enviados da liga de cima, que podem encarar a passagem pela D-League como um rebaixamento e algo de se envergonhar. Bobagem e egocentrismo exagerado, claro, em vez de se aproveitar a chance. Pois o pivô correu muito bem a quadra toda, com muita disposição e, contra a filial do Thunder, bateu seus adversários consistentemente. Veja esta sequência em que ele ganha o rebote num tapinha e já inicia o contra-ataque para concluí-lo de forma enfática:

Que tal a agressividade? Em detalhe:

Está aí outra abordagem que não era lá tão comum nos dias rubro-negros. Felício está buscando a cravada e o toco, está jogando acima do aro, e isso, no seu caso, vale muito mais como termômetro de intensidade e conforto em quadra do que pelo show:

Então temos isso hoje: um pivô que desenvolveu seu arremesso, sabe quando utilizá-lo, pode por a bola no chão e finalizar com autoridade ou categoria perto da cesta, podendo marcar 35 pontos em 50 minutos, com aproveitamento de 65,2% de quadra. Sai jogo daí, pelo menos no nível da D-League, por ora, aos 23 anos.

Agora, pensando em NBA, todas essas informações são bem relevantes, mas não necessariamente essenciais. Pois, num primeiro momento, tanto o Bulls como a concorrência não vai procurar neste showcase um jogador de referência, para carregar o ataque titular ou da segunda unidade. A prioridade dos scouts é encontrar peças complementares, para ajeitar a rotação. Que possam produzir algo no ataque, mas que, essencialmente, cuide bem das coisas do outro lado. “Rebotes, defesa, jogar duro e de forma inteligente: são essas as chaves para ele”, afirma outro scout ao blog.

Contenção
Contra o OKC B, Felício pegou apenas três rebotes em 27 minutos. Um problema? Não, pelo menos não para que tenha visto o jogo. Este é mais um caso de como se precisa muita calma na hora de falar sobre os números que sejam computados numa súmula de jogo. Foram várias as ocasiões em que o brasileiro simplesmente limpou terreno para que seus companheiros pudessem fazer a captura da bola. Como no vine abaixo, em que consegue conter o corpanzil de Dakari Johnson, um pivô muito promissor vindo da fornalha produtiva de John Calipari em Kentucky:

Felício é um bom reboteiro, com uma base forte nas pernas para guardar posição, excelentes mãos para fazer o controle e tino para se posicionar bem, compensando a impulsão reduzida quando tem os dois pés no chão. Número por número, já foram oito em 22 minutos contra o Stampede.

Na hora de proteger a cesta, uma característica pôde ser notada: Felício se saiu muito melhor contra pivôs mais pesados, que gostem de jogar perto da cesta, do que contra alas-pivôs ágeis e flexíveis que pudessem atacar usando o drible frontal, fora do garrafão. Abaixo, ele consegue segurar Dakari Johnson no tranco. Depois, vê Talib Zanna, mais baixo e leve, lhe contornar. Primeiro, a brecada:

Deu Cesta:

Em quadras brasileiras, Felício já mostrou mais agilidade em seu deslocamento lateral, sendo o tipo de pivô que consegue brecar armadores. Nessas últimas duas partidas, pareceu um pouco mais pesado e lento. Ou talvez seja apenas a relativização de suas habilidades atléticas diante de atletas de primeiro nível, tal como aconteceu em pelo menos três investidas de jogadores do Stampede, deixando o brasileiro para trás. É algo para se acompanhar. Pensando na NBA, é muito mais provável hoje que ele tenha que lidar com Zannas do que Johnsons. É algo que os scouts vão analisar com cuidado.

De toda forma, a impressão em geral no momento é de surpresa e otimismo. Em Chicago, num time que sonha com o título,  com tantos pivôs qualificados acima na rotação, Felício não vai ter muitas chances nesta temporada. Mal vai jogar. Ainda assim, teve seu contrato renovado, o que para ele, no câmbio de hoje, também rende uma gratificante bolada, além da satisfação de (primeiro) dever cumprido. Ao mesmo tempo, Paxson, o gerente geral Gar Norman e o técnico Fred Hoiberg sabem de que tipo de talento estão cuidando. Estão pensando mais longe, pedindo um investimento de Reinsdorf para o futuro. E, assim como aconteceu com Portis, para o restante da liga a capacidade de se seu outro pivô talentoso e novato não é mais segredo nenhum.


Como foi a estreia de Caboclo e Bebê pelo Raptors “B”? Vídeo e observações
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Luas e Bruno retornam a Fort Wayne, mas agora com garantia de minutos

Luas e Bruno retornam a Fort Wayne, mas agora com garantia de minutos

Galera, antes de mais nada, fica o aviso: os jogos da Liga de Desenvolvimento da NBA estão todos disponíveis, gratuitamente, no YouTube e no site oficial do campeonato. Dá para assisti-los ao vivo ou on demand. Agora, isso não fez dessa missão algo fácil: pois o nível do basquete ali pode ser uma dureza de se aturar.

Mas, se é na D-League que Bruno Caboclo e Lucas Bebê vão realmente jogar, com largo tempo de quadra e a liberdade para criar e errar, este é um sacrifício que vamos ter de fazer, né? Analistas, torcedores e, claro, Rubén Magnano.

Pois, lembremos. Todas as notas colocadas aqui, para falar sobre a primeira aventura de Bruno por essas bandas, ainda valem: por mais que a liga caminhe numa direção saudável, para que cada uma das franquias da NBA tenha sua filial, resultando em maior controle sobre o produto apresentado, a grande maioria de suas partidas ainda vai parecer um confronto de bandoleiros.

>> As anotações de um scout da NBA sobre Caboclo, Bebê e Felício
>> Nada de férias! Análise sobre a liga de verão de Bruno Caboclo
>> Nada de férias! Análise sobre a liga de verão de Lucas Nogueira
>> Problemas dentro e fora de quadra: desenvolvimento intrincado

São diversas razões para se compreender esse cenário, e a questão financeira talvez seja a principal delas. Os jogadores que frequentam esse universo ainda ganham em geral muito mal. Seth Curry, por exemplo, que botou fogo na temporada passada, recebeu menos de US$ 50 mil por contrato, até ser chamado por alguns clubes como Grizzlies e Suns e faturar um troco a mais. Por isso, é natural que muitos dos atletas ali em atividade estejam desesperados para receber uma promoção. O que pode gerar uma vibração um tanto individualista em quadra, com gente perseguindo números e façanhas, sem se importar muito com o sucesso da equipe como um tudo.

(Se isso funciona? Claro que não. Os scouts da NBA não estão avaliando estas partidas para descobrir o próximo Michael Jordan. É muito mais provável que seus times estejam precisando mais de um Jud Buechler ou de um Bill Wennington. Ou isso, ou vão atrás de caras mais jovens com potencial atlético de primeiro nível, com a esperança de que seus treinadores possam transformá-los em jogadores efetivos de rotação. Algo que o Warriors fez muito de uns tempos para cá.)

Por mais que os dirigentes do Raptors 905 – ou, o Raptors “B” – se esforcem para montar o melhor elenco possível, a verdade é que, nesse contexto, a mão-de-obra mais qualificada que não tenha deslocado um contrato garantido com a grande liga tende a procurar mercados no exterior, de olho na Europa ou na China. Não sobram taaaaantos jogadores assim para se formar um belo time.

Tudo ainda é um trabalho em progresso para Bruno e o Raptors B

Tudo ainda é um trabalho em progresso para Bruno e o Raptors B

De qualquer forma, no caso do clube fundado em Mississauga, a 22 km de Toronto, a prioridade indiscutível é o progresso da dupla brasileira. O clube comprou sua filial basicamente para que eles possam se testar e serem testados. Claro que não é de uso exclusivo dos brasileiros, mas todo o processo foi acelerado para que Caboclo e Bebê tenham onde jogar. Basicamente isso, ainda mais depois das frustrações encaradas na temporada passada, quando o Fort Wayne Mad Ants não se mostrou tão receptivo assim para utilizar o caçulinha, assim como o jogador deu trabalho nos bastidores, incomodado tanto pela falta de tempo de quadra como pela diferente realidade que encontraria na D-League, em termos de logística, digamos.

Neste ano, com o time de Dwane Casey entrando no páreo novamente com aspirações elevadas, é muito pouco provável que eles deem as caras no time principal. Com DeMarre Carroll, Luis Scola, Bismack Biyombo, Anthony Bennett e mais dois calouros (Norman Powell e Delon Wright), a rotação ficou muito mais forte. Para que eles sejam utilizados, só no caso de excesso de lesões ou de um progresso a passo largo da dupla.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

A diferença agora é que não há mais desculpas. Todo o estafe comandado por Jesse Mermuys, ex-Raptors e Rockets, vai operar sob diretrizes diretas de Masai Ujiri e Casey. O objetivo, aqui, não é vencer e vencer. Mas, sim, desenvolver seus jovens talentos e, aí, sim, se tudo der certo, fazer uma boa campanha.

A jornada começou neste sábado, ironicamente em Fort Wayne, contra o Mad Ants, clube que agora pertence ao Pacers, mas que, na temporada passada, era dividido por mais de uma dezena de franquias, e daí a confusão na hora de se aproveitar os prospectos para lá enviados.

O time da casa venceu por 83 a 80, em partida definida num buzzer-beater. Já deu para ver que Caboclo e Bebê terão espaço para expandirem seu repertório e colocar em prática os trabalhos de fundamento especializados que fizeram com os técnicos do Raptors na temporada passada e também durante as férias. Por exemplo, já tem jogada desenhada para que Bruno finalizasse a partir de uma reposição de bola, envolvendo seu compatriota, por sinal. Vejam:

De qualquer forma, para que os rapazes rendam bem, é preciso que o time esteja organizado – se é que isso vai acontecer, dada a natureza volátil dos elencos e da liga. E, sim, não dá para pedir química de um grupo que foi reunido há menos de um mês e com o qual os dois jovens brasileiros nem treinam em tempo integral. Nessa estreia, o time acertou apenas 40% de seus arremessos de quadra, com 27% de longa distância, conseguiu apenas 14 lances livres e teve o mesmo número de assistências e turnovers (19). De todo modo, tanto Bruno como Lucas foram bem, deram um primeiro passo positivo, com detalhes importantes para serem corrigidos com o tempo.

Do que deu para ver nessa primeira amostra, dá para entender que seus biótipos são aqueles que Ujiri mais valoriza: o time “B” canadense está povoado de atletas longilíneos e ágeis. O ala Michael Kyser, por exemplo, lembra muito Caboclo, que, por sinal, já deve ter batido a casa dos 2,08m de altura.

Seguem, então, alguns clipes e observações sobre a dupla:

Bruno Caboclo
Quanto melhor o time estiver se entendendo, é de se esperar que mais chances ele tenha para atacar em movimentações coordenadas. Por ora, Caboclo ainda não vai pegar a bola, colocá-la no chão e atacar por conta própria. Foram raras as situações em que esse tipo de investida aconteceu neste sábado. A boa notícia é que, quando conseguiu partir para o garrafão, em geral teve sucesso. Vejam essas duas bolas ainda no primeiro período. A primeira veio com direito a giro e finalização em conversão:

Nesta segunda, ele improvisa e consegue converter um arremesso de grau elevado de dificuldade. Não foi a melhor decisão com a bola, mas funcionou – se formos descontar o fato de que ele dá uma passada a mais com a bola, o que aconteceu por ter parado de driblar muito cedo, mesmo que C.J. Fair tenha oferecido um corredor:

E por que deu certo? Além da conivência da arbitragem, repare que em ambas as situações a passada extensa e a envergadura de Bruno o ajudam muito. Especialmente na segunda bola, em que se vê pressionado por Fair e pela cobertura de Rakeem Christmas vindo do lado contrário. Espremido na quina esquerda tabela, consegue soltar a bola por cima de dois defensores bastante atléticos (e muito bem treinados por Jim Boeheim, de Syracuse).

Tomara que não tarde a acontecer que o caçula brasileiro pratique o desapego em relação aos chutes forçados, ainda mais de longa distância. Ainda que, realisticamente, o chute da zona morta seja aquele de maior probabilidade que terá a serviço do time principal, no nível da D-League não faz sentido que ele fique estacionado na linha perimetral, por seguidas e seguidas posses de bola, como mero espectador. Dada a sua ansiedade, quando entrou na linha de passe, o ala se precipitou em diversas ocasiões para dispará-la. Aqui, as únicas duas ocasiões em que o chute rápido, com mecânica elevada e arco fluido, foi certeiro:

No geral, porém, o brasileiro converteu apenas duas em nove tentativas (22,2%), e não por não saber arremessar, mas, sim, por ter se perdido na seleção de disparos. Seja de primeira, com a bola pegando fogo na mão, ou a partir do drible, com direito até a um ousado passo para trás que resultou numa falha feia:

Nem todo mundo é Stephen Curry, Kevin Durant, James Harden ou Carmelo Anthony nesta vida. É aquela bola que pode valer highlight quando cai, mas em geral resulta em pedradas, mesmo. Pois não é fácil. Naaaaada fácil.

Esse tipo de gana pela cesta deve ser dosado aos poucos por Mermuys. Dá para entender de onde vem isso. Estamos falando de um jogador que mal entrou em quadra na temporada passada e que tem apenas 20 anos e pouca ou quase nenhuma rodagem em competições de alto nível. Ainda assim, foi escolhido pelo Raptors numa primeira rodada de Draft e encara, ao seu modo, alguma pressão. Quer provar que é jogador, que o que está fazendo nos treinos já rende frutos, que isso e aquilo. Por outro lado, a comissão técnica e a diretoria têm de cuidar para que o atleta não adquira maus hábitos, que não lhe ajudarão em nada na liga. Uma coisa é tentar ser assertivo, outra, inconsequente.

E não é que Bruno não estivesse olhando seus companheiros. Terminou a partida com quatro assistências, o que o torna basicamente um Magic Johnson quando comparado ao ala Scott Suggs – esse, sim, um fominha profissional.  O ala de 26 anos, revelado pela Universidade de Washington, passou pelo basquete francês na temporada passada e foi testado por Orlando e Miami durante as ligas de verão. Se for para julgar por uma só partida, dá para entender o porquê de não ter ficado. Suggs tratou a bola como se ela fizesse parte de seu corpo e só pudesse ser desencaixada se fosse para um arremesso. Para o volume de jogo, de 20 disparos em 39 minutos e muitos, mas muitos dribles, que ele tenha acabado o duelo sem nenhuma assistência é algo cômico. Ou doentio, escolham.

O mais interessante foi que Caboclo deu duas belas assistências quando também estava em progressão para a cesta, mostrando que, aos poucos, o jogo começa a desacelerar em sua cabeça, e novas perspectivas vão se abrindo, até mesmo como coordenador de um pick-and-roll:

Os números finais de Caboclo: 16 pontos, 13 rebotes, 4 assistências, 3 roubos, 2 turnovers e 6-16 nos arremessos de quadra. Para um jogador que por vezes só corria em quadra de um lado para o outro e, quando recebia a bola, poderia se precipitar com ela, sua linha estatística não saiu nada mal e dá suculentas dicas sobre o seu potencial.

Um parêntese sobre os rebotes: o brasileiro se posicionou bem, salta do chão rapidamente, tem braços enormes, mas em muitas ocasiões simplesmente não estava disputando com ninguém perto de sua cesta (foram 10 defensivos).  Vamos acompanhar a temporada para ver o qual será o nível de produção nesse sentido. Sobre a defesa, em geral, ele se mostrou desatento, dando muita distância para seu oponente, confiando que iria se aproximar devido aos braços e pernas compridas. Nem sempre aconteceu. Fato é que alguém com sua envergadura, mãos e mobilidade precisa flutuar mais próximo ao aro, para coisas como esta acontecerem:

Lucas Bebê
O jogo teve uma dinâmica diferente para o pirulão, que esteve limitado a 21 minutos de ação devido ao excesso de faltas (cinco). Foram duas no primeiro período, com pouco mais de cinco minutos de jogo, e uma terceira logo que ele voltou para a quadra no segundo período, com menos de dois minutos disputados. Para piorar, a quarta saiu quando restavam 9min58s para o fim do terceiro. Quer dizer, ele perdeu basicamente dois quartos de ação. Isso, depois de ter começado muito bem a partida, aprontando coisas assim:

 

Que tenha se perdido com faltas e refreado uma arrancada foi uma pena. O que isso indica? Ferrugem, claro. Falta de ritmo e também sua própria ansiedade, quando ia um pouco além na tentativa de fazer um desarme ou quando saltava antes do tempo para buscar o toco – para alguém de sua envergadura, a verticalidade da qual Roy Hibbert virou símbolo na época de Pacers talvez já fosse o bastante para impedir a cesta ou até mesmo um arremesso. Mais: o carioca ainda sofre com os trancos de jogadores mais fortes e físicos, como Rakeem Christmas, draftado por Cleveland e repassado a Indiana. Ao tentar compensar, pode se ver punido com o apito.

Bebê parte para a bandeja: acionado sempre de frente para o aro

Bebê parte para a bandeja: acionado sempre de frente para o aro

Bebê, ao que parece, nunca vai ser uma fortaleza de jogador, como contraponto a outras figuras recentes que construíram um corpanzil que contradizia o apelido infantil, como Nenê e Baby. Fazer a defesa pela frente, tentando tirar a linha de passe para seu oponente, é o melhor caminho, então, ainda mais com sua agilidade e seus braços compridos. Mas ainda lhe falta força na base para ao menos se proteger de atletas que buscam o contato. Depois das seguidas lesões dos últimos anos, e tão jovem, fica a dúvida também sobre seu condicionamento físico para encarar longas viagens, jogos corridos e pancadaria.

Por que uma coisa está clara, desde a sua breve passagem pelo Mad Ants na temporada passada: se não tiver problemas com faltas, o pivô vai ser candidato ao prêmio de defensor do ano neste nível de jogo. Christmas, que tem sua idade, foi um adversário desafiador, com 24 pontos e 7 rebotes em 32 minutos, com 11-19 nos arremessos. Mas tem sete centímetros a menos e não é tão rápido ou veloz como o brasileiro.

Lucas intimida quando bem posicionado no garrafão. Mesmo quando foi muito além em uma cobertura ou no deslocamento para fechar espaços ao redor do garrafão, tem o pacote atlético que lhe permite a recuperação e a proteção do aro. Mas não é só uma questão de biótipo. Quando concentrado, o pivô apresenta timing excepcional e ainda tem uma capacidade admirável e muito valiosa para dar tocos com as duas mãos, dependendo do lado e do ângulo de ataque. Que tal dois bloqueios com a canhota?

O legal também é notar como o cabeleira sai em disparada uma vez executada a ação na defesa. Bebê acelerou sempre que pôde, como deve fazer. Imagino que seja algo planejado, sugerido por Mermuys, e faz muito sentido. Poucos vão poder apostar corrida com ele.   O que não significa que Lucas seja um jogador de uma nota só. Ou melhor, de um pique só.

Em meia quadra, sendo acionado sempre de frente para a cesta e bem longe de movimentos de post up, ele já tem habilidades muito interessantes, sendo a principal dela a habilidade para concluir o pick-and-roll com elevado índice de acerto. A outra é a visão de quadra. Desde os tempos de Estudiantes que ele se mostra capaz de servir aos companheiros na cabeça do garrafão. Neste primeiro jogo da nova temporada, deu para perceber um novo elemento: ele está autorizado para por a bola no chão e atacar. E aí que lances lindos como este podem surgir:

Tenham em mente que esta infiltração terminada em passe foi feita por um jogador de 2,13m de altura, em meio ao tráfego. Joakim Noah teria ficado orgulhoso, convenhamos. Não foi um lance isolado. Tanto na saída em transição como no ataque em meia quadra, o espigão ganhou liberdade para avançar. Saibam que, quando mais jovem, no Estudiantes, isso seria algo impensável, e talvez muito mais pelo conservadorismo de seus treinadores do que por limitações suas.

Não é que sempre tenha dado certo. Os dois turnovers de Lucas no jogo vieram justamente em situações nas quais foi para o drible. O primeiro foi uma falta ofensiva, quando atropelou um adversário no limiar do semicírculo (por outro lado, foi mais uma jogada em que foi capaz de bater a primeira linha defensiva e ganhar o garrafão, faltando aí a percepção do que estava literalmente a sua frente). O segundo foi na última posse de bola do Raptors 905, a 3s9 do fim, quando a partida estava empatada em 80 a 80, e eles tinham a chance de definir a parada:

A jogada estava desenhada para Caboclo, novamente, como se percebe. Acontece que o Mad Ants estava preparado para isso. Christmas e Shane Whittington, também do Pacers, dobraram para cima do ala, tendo o pivô falhado em tirar Whittington da jogada, aliás. Bebê, então, recebe o passe numa posição complicada e tenta avançar pelo fundo da quadra. Acaba desarmado. O time da casa pediu tempo, e…

Dói, né? Mas faz parte do desenvolvimento de um jogador. Em sua estreia pela D-League na temporada passada, Caboclo errou uma reposição de bola pelo Mad Ants que também lhes custou caro. Acontece. O bom é que, nesta campanha 2015-16, eles realmente terão a chance de compensar essa frustração. A segunda chance, por exemplo, já veio neste domingo, quando este artigo estava prestes a ser publicado.

Seus números finais: 11 ponto, 9 rebotes, 4 assistências, 3 tocos, 2 turnovers em 21 minutos, com 4-6 nos arremessos.

Para Caboclo, a lista de tarefas ainda é ampla e o progresso será bem gradativo, sendo que alguns dos ajustes dependem diretamente de seus treinadores e companheiros. Mais movimentações em direção ao aro, menos chutes tresloucados, mais atenção defensiva, o refinamento do drible etc. Terá espaço para isso. Para Bebê, a questão das faltas é fundamental. Se não conseguir ficar em quadra num jogo da liga menor, dificilmente vai ganhar a confiança de Casey para competir por minutos com Bismack Biyombo. Caso jogue com energia elevada, foco e deixar seus instintos o guiarem em quadra, pode fazer estragos. Nada disso é garantido, e a dupla vai ter de trabalhar duro por mais um ano mesmo que a condição de “jogador de NBA” ainda não seja ratificada para valer neste ano.

Atualização
Deu tempo de assistir ao segundo duelo entre o Raptors 905 e o Mad Ants, em Fort Wayne. Caboclo aparentemente assimilou num estalo as instruções de seus técnicos. Sua seleção de arremessos foi muito melhor, sabendo a hora de atacar e arriscar, deixando que o jogo chegasse até a ele. Ainda que seu time tenha feito uma péssima apresentação, ele foi para o jogo e marcou 25 pontos em 18 arremessos e 34 minutos, com 3-8 para longa distância. Já Bebê se atrapalhou novamente com as faltas, cometendo três no primeiro tempo. Pior: permitiu que isso entrasse em sua cabeça e passou a vagar pela quadra, reclamando de árbitros, companheiros e de si mesmo, numa frustração exagerada. Terminou com 8 pontos e 9 rebotes em 26 minutos. Imagino que vá levar um bom puxão de orelha no retorno ao Canadá.

Que Caboclo tenha feito uma bela partida neste domingo só pode pegar bem para o seu currículo. Pois havia um espectador ilustre em Fort Wayne: Larry Bird. Sim:

Larry, the Legend

Larry, the Legend

O chefão do Pacers provavelmente estava mais interessado em observar Christmas e Whittington, mas certamente tomou novas notas sobre Caboclo. Novas? É, pois é. Rumo ao Draft de 2014, posso afirmar que o Indiana era um dos clubes mais interessados no jovem brasileiro. Talvez só atrás mesmo do Raptors.


Seria Jonas Valanciunas a próxima superestrela europeia?
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Valanciunas, no quinteto ideal do EuroBasket

Valanciunas, no quinteto ideal do EuroBasket

Na NBA existe essa regra não-oficial amplamente divulgada de que, para ganhar o título, você precisa de uma superestrela. E o histórico de campeões da liga certamente corrobora a tese. O Detroit Pistons de 2004 acaba sendo a exceção que confirma a regra, embora tivesse um conjunto de excelentes jogadores, sendo que um deles tinha tudo para estar no grupo dos transcendentais (Cut that check!), não fossem os problemas de concentração. De resto, por mais que romantizemos sobre o sistema belíssimo que Gregg Popovich construiu em San Antonio, o técnico é sempre o primeiro a dizer que, sem Duncan, ele muito provavelmente seria considerado apenas mais uma besta quadrada. Isso para não falar de alguns atos heroicos de Ginóbili ou Parker.

Ok. Grandes jogadores podem até vencer partidas por conta própria, e por isso contam muito num ambiente extremamente competitivo. Mas, sozinhos, esses caras não vão conquistar um campeonato, e LeBron James e Stephen Curry podem falar algumas coisas a respeito com base no que vimos na última final da NBA. De todo modo, é isto: você precisa de talento e de um time bem preparado para chegar lá. E esse conceito ultrapassa as fronteiras da liga, como pudemos ver Copa América (hola, Luis Scola!), ainda que a Venezuela tenha sido exatamente o oposto disso. De todo modo, o time de Nestor Garcia também lembra o Pistons de Larry Brown nesse sentido, como um caso excepcional, uma vez que o torneio tinha o México de Ayón e o estrelado Canadá completando as semifinais. A tese se estende também ao EuroBasket, como o esplendoroso Pau Gasol nos mostrou.

A outra vaga olímpica ficou com a Lituânia, que prontamente apontaria para Jonas Valanciunas como um desses talentos que fazem a diferença em quadra, carregando sua seleção até a final, eleito para o quinteto ideal da competição. Seria a confirmação de uma expectativa de longa data de que o pivô seria um dos próximos grandes craques do continente. Não estou tão certo assim — pelo menos não de que vá atingir essa condição transcendental.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Não tenham dúvida: Valanciunas já é reverenciado na Lituânia e, segundo todos os relatos em Toronto, é um rapaz muito bacana, humilde e que sente imenso prazer em jogar por sua seleção nacional. Merece todo esse carinho do retorno para casa após o EuroBasket

Não tenham dúvida: Valanciunas já é reverenciado na Lituânia e, segundo todos os relatos em Toronto, é um rapaz muito bacana, humilde e que sente imenso prazer em jogar por sua seleção nacional. Merece todo esse carinho do retorno para casa após o EuroBasket

Não há dúvidas de que Valanciunas já é muito produtivo no mais alto nível europeu: terminou o EuroBasket com 16,0 pontos, 8,4 rebotes, 1,4 toco, 59,1% nos arremessos e 85,7% nos lances livres. Em Toronto, em sua terceira temporada de NBA, também fez sua melhor campanha, atingindo seu maior índice de eficiência, somando com 12,0 pontos, 8.7 rebotes e 1,2 toco, mais 57,2% nos chutes de quadra e 78,6% na linha. Estamos falando de um jogador de apenas 23 anos. Embora já bastante rodado, o lituano é ainda  jovem, da mesma geração de Lucas Bebê, mas num estágio de desenvolvimento que nem se pode comparar. A pouca idade sugeriria que ainda há muito mais por vir. Será?

A questão é saber há muito o que desenvolver em seu jogo atual. Quer dizer: há, sim. Só não está claro se vai acontecer. Talvez o pivô possa melhorar no reconhecimento das dobras defensivas, para devolver a bola, com mais rapidez e precisão, aos companheiros de perímetro que tendem a ficar livres. Para alguém que consegue atrair marcação dupla, é alarmante que tenha apenas 143 assistências em 223 partidas pelo Raptors. No campeonato passado, apenas 3,1% das cestas de seus companheiros aconteceram depois de passes dele. Esse foi o mesmo padrão do campeonato europeu de seleções, competição em que sua presença no garrafão chama ainda mais atenção dos marcadores.

No momento, Valanciunas é estritamente um finalizador. Um ótimo finalizador, é verdade, tanto dentro do garrafão como no chute de média distância, mas que não cria tantos problemas assim para um sistema defensivo bem armado, devido a suas limitações atléticas e técnicas. Desde a ida para a NBA, parece ter seguido a trilha ‘errada’, ou ao menos a trilha menos comum do basquete de hoje. Em Toronto, passou de garotão lânguido e ágil para este massa-bruta-pancadão.

Quando enfrenta adversários peso pena ou molengas, domina. Que o diga Andrea Bargnani, contra quem se esbaldou nas quartas de final, com 26 pontos e 15 rebotes, acertando 11 de 13 arremessos. Quando a oposição é mais qualificada, seja pela força física e/ou capacidade atlética, seu jogo fica muito mais complicado. Abaixo, veja um clipe com algumas de suas jogadas contra a Itália e perceba com os números dificilmente contam toda a história. A defesa interior azzurra foi uma verdadeira piada, e o mérito de Valanciunas foi saber aproveitar tantos buracos:

Ainda assim, não salta aos olhos o quanto ele precisa batalhar para pontuar em situações de mano a mano? Bandejas livres debaixo do aro não contam. Não sei bem se “dificuldade”, na verdade, é o melhor termo, levando em conta seu aproveitamento de quadra. Mas é que parece tudo muito custoso, mesmo, para alguém que hoje tem movimentos muito robóticos, com um jogo de pés bem fundamentado, mas muito lento. É o tipo de ação que podem muito bem ser contestadas por gente de maior envergadura ou coração. Se você deixá-lo trabalhar próximo da cesta, contra um pivô lento ou mais baixo, vai ter problemas, porque ele consegue se impor fisicamente, de costas para a cesta.Se abrir um corredor para ele no pick-and-roll, dãr, é óbvio que ele vai pontuar.

Agora, se a defesa mandar dobras velozes vindas do lado da bola, para forçar que se livre dela. Se, na cobertura da jogada em dupla, você puxar um defensor do lado contrário e desviá-lo de sua rota, ele, hoje, fica em xeque, por dois fatores: a visão de quadra pouco privilegiada e a mobilidade reduzida, com deslocamentos laterais praticamente inexistentes. Um corpo qualquer em seu caminho é um tremendo obstáculo. Para os lituanos mais críticos que o acompanham há mais tempo, o sentimento é de potencial desperdiçado, ou subaproveitado.

“Gostava mais de Jonas quando o dirigia em Rytas. Ele era mais flexível, mais magro, mais rápido e mais ágil. Simplesmente me lembrava de um jovem Sabonis em sua idade. Agora na NBA ganhou massa e ficou mais forte. Pediram um jogo mais físico e de um contra um para ele”, afirmou Rimas Kurtinaitis, seu ex-treinador no Lietuvos Rytas e um dos grandes jogadores lituanos que esteve a serviço da União Soviética no começo de carreira, mas teve tempo de defender seu país novamente independente por dois ciclos olímpicos, subindo ao pódio em 1992 e 1996. Era tão talentoso como jogador que se tornou o único atleta de fora da NBA a participar do torneio de três pontos do All-Star, em 1989. Também virou um ótimo treinador. É uma opinião que pede respeito.

Ainda mais quando ele traz um nome sagrado como “Sabonis” para a discussão. Talvez seja exagero. Mas o ex-ala ao menos fala na condição de quem realmente viu o jovem Arvydas em ação. Se pegarmos os seus lances da época de Lietuvos Rytas, vamos ver um atleta de verdade, com outro biótipo (e não o de um magrelo, gente), leve, atacando a cesta de fora do garrafão, ganhando na corrida de ponta a ponta da quadra etc.

Agora, posto tudo isso, não vamos nos esquecer que um jogo se joga dois lados da quadra, né? Na defesa, a despeito de um toco aqui e ali, Valanciunas realmente deixa a desejar, se tornando uma peça muito vulnerável justamente devido à lentidão e também à confusão sobre onde está a bola e onde está o jogador que tem de frear. Não é um protetor de cesta como se esperaria de alguém de seu porte físico, pois não costuma se posicionar bem. Mas é longe da cesta, quando envolvido em jogadas de pick-and-roll ou pick-and-pop, que as coisas ficam graves. Contra a mesma Itália, abrindo para o chute, o próprio Bargnani marcou 21 pontos, e o estrago poderia ter sido muito maior se o pivô do Nets estivesse com a pontaria mais precisa, tendo errado um de sete arremessos de longa distância. Podem ter certeza: as falhas nos disparos não aconteceram por contestação do oponente.

De novo: a despeito de suas limitações, que lhe foram impostas, Valanciunas ainda é jovem e pode se desvencilhar, ou aprender a lidar com elas. Registrá-las aqui não se trata de uma sentença. Nesse ponto, vale lembrar que duas apostas brasileiras (Bruno Caboclo e Lucas Bebê) estão sendo bombadas por Toronto neste exato momento, ainda que sob gestão de Masai Ujiri, enquanto o lituano trabalhou no primeiro ano ainda com Bryan Colangelo como mandachuva. O desenvolvimento físico dos dois era necessário, mas é bom que também não se passe do ponto. Para o futuro da seleção brasileira, são dois talentos hoje estratégicos, como fazedores de diferença ou não. Afinal, a formação de talentos por estas bandas anda cada vez mais desacelerada.

O curioso é que na Lituânia existem queixas semelhantes. Mas que têm seu próprio contexto: eles estão acostumados com outros padrões de produção de jogadores qualificados, mesmo que sejam um país com população de menos de 3 milhões de habitantes. Basta ver a seleção que passou pela Itália e, surpreendentemente, pela Sérvia para assegurar mais uma participação olímpica.

Seibutis, Maciulis, Jankunas, Kuzminskas, Javtokas, Milaknis e afins podem não ter o apelo dos prospectos sérvios, mas são, ao seu modo, jogadores muito bem burilados, preparados e intensos, além de experientes e entrosados (seis jogadores da seleção jogaram pelo Zalgiris Kaunas na última temporada). Essa mesma base já havia chegado às semifinais da Copa do Mundo no ano passado. Formam um elenco de apoio e um conjunto muito forte em torno de Valanciunas, confiando que o jovem pivô vá levá-los longe. Ou pelo menos até onde seus músculos consigam carregá-los.


As anotações de um scout da NBA sobre Caboclo, Bebê e Felício
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

bruno-caboclo-vegas-summer-league

Caboclo e a envergadura interminável: ansiedade do jogador e dos olheiros

Numa citação gratuita do Kid Abelha, assim do nada, eu tinha um plano. Vou te contar: era viajar para Las Vegas neste mês de julho e me enfurnar em cassinos e baladas no ginásio Thomas & Mack center, da Universidade de Nevada-Las Vegas, para assistir a dezenas de peladas de basquete e, mais importante, entrar em contato com praticamente qualquer clube da NBA, grandes equipes da Europa, jornalistas, free-lancers e qualquer outro personagem disponível. No verão (setentrional), a Cidade do Pecado vira uma capital do mundo, com direito até mesmo a um draft da (mais rica do que você esperava) liga sul-coreana. Obviamente não deu certo a viagem, por motivos de bufunfa e as chamadas *oportunidades profissionais* cada vez mais escassas no jornalismo brasileiro, e vida que segue.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Mas isso não quer dizer que o blog não tivesse olhos por lá. O Rafael Uehara já nos trouxe aqui uma avaliação sobre como andam Bruno Caboclo e Lucas Bebê em sua curva de desenvolvimento após um ano de treinos, tédio, treinos, escapulidas, poucos minutos em jogos oficiais e mais treinos em Toronto. Até que neste fim de semana entrei em contato com um scout veterano da NBA para colher mais impressões sobre os promissores brasileiros que tiveram uma semana importante na solidificação (ou não) como prospecto para a liga. Talento não falta para os dois jogadores do Raptors e para o pivô Cristiano Felício, recém-contratado pelo Chicago Bulls. Ainda assim, talento não faltava ao redor deles em Las Vegas também. No sentido de que a liga está abarrotada de jovens promessas de todos os cantos do mundo, cada uma sendo considerada bastante especial por jornalistas e torcedores de seu lugar de origem. Para sobreviver lá, você tem de evoluir. Do contrário, a fila anda, mesmo quando falamos de garotos de 20, 22 anos.

A boa notícia? Os três deixaram boas impressões, segundo o ponto de vista desse scout da Conferência Oeste, que esteve aqui no Brasil para assistir a jogos da LDB na temporada passada. Obviamente não posso identificá-lo, mas ele trabalha por seu clube há mais de oito anos e tem cargo de diretor. Veja abaixo o que ele escreveu em seu caderno de anotações sobre cada um deles.

Bruno Caboclo: “Ainda cru e talentoso, com muito potencial para ser explorado… A mecânica de arremesso para três pontos na linha da NBA parece boa, e ele arremessou com confiança… Por enquanto, é um arremessador sujeito a altos e baixos, precisando ainda trabalhar em sua consistência… Tem de continuar trabalhando para melhorar sua habilidade em por a bola no chão e criar para si e para os outros… Sólido na tabela, mas poderia ser ainda melhor… Melhorou em termos de força e jogo físico, mas ainda há o que fazer nessas áreas… Tem tamanho de NBA e ferramentas, mas precisa continuar desenvolvendo seu jogo de modo geral e melhorar principalmente em termos de consistência… Por exemplo, na defesa, suas ferramentas atléticas e físicas chamam ainda mais a atenção, mas o impacto que ele causa é inconsistente… A envergadura é um destaque, é só questão de aprender a usá-la em seu proveito: já poderia ser um cara muito melhor na hora de bloquear ou intimidar os arremessadores… Precisa aprender a jogar duro e permanecer engajado no jogo o tempo todo”.

Caboclo, e o penteado diferente. E o jogo?

Caboclo, e o penteado diferente. E o jogo?

(Um bônus: sobre Caboclo, também consegui conversar com um vice-presidente de uma franquia do Oeste, que bateu na mesma tecla sobre “esforço e energia em nível baixo” durante as partidas. Para este dirigente, Bruno pareceu também um pouco egoísta em quadra, olhando apenas para a cesta e para seus pontos. “Ele era uma página em branco para muita gente, e os primeiros capítulos não foram tão bons como esperava”, disse. Durante a conversa, todavia, o executivo amainou as críticas, lembrando o contexto em torno do caçula brasileiro. “Um ano sem jogar numa idade tão jovem, tendo ele já vindo de uma situação em que estava correndo atrás dos garotos de sua geração, não é fácil. Vai levar um pouco de tempo para ele se ajustar”, completou.

A combinação das notas acima e desse comentário nos dá um bom panorama sobre o ponto em que está Caboclo. Ele ainda é muito jovem e, realmente, o primeiro ano com o Raptors foi como se fosse o ensino primário. Se a franquia canadense acertou em seu planejamento, ainda está cedo para avaliar. Eles preferiram trabalhar com o ala em termos de porte físico e no aprendizado do inglês. A pergunta: não era possível fazer isso e mais um pouco? Esse dirigente acredita que sim. Mas Masai Ujiri estava de mãos atadas, sem ter um clube da D-League pelo qual o garoto pudesse jogar à vontade e sem poder exigir que Dwane Casey o usasse num time que pretendia ir longe nos playoffs. Foi exatamente esse o alerta que outro scout da NBA havia dado ao blog no ano passado, se vocês por acaso se recordam. Era mais um que havia se apaixonado pelos vídeos de Bruno no período pré-Draft, mas que enfatizava o quão era importante que ele fosse para a quadra para evoluir. O Raptors agora, enfim, tem sua própria filial. Vamos ver como eles se saem.)

Bebê já mostrou que tem habilidades para além da capacidade atlética

Bebê já mostrou que tem habilidades para além da capacidade atlética

Lucas Bebê: “Ainda impressiona também por suas ferramentas físicas e potencial, mesmo aos 22 anos… Suas atuações também foram um pouco irregulares, com altos e baixos, mas seu desempenho nos rebotes e na proteção da cesta se destacaram… De um modo geral, ele tem um jogo que pende para a finesse, tendo dificuldade ao enfrentar um estilo mais físico… Pode correr a quadra e tem mobilidade impressionante, podendo perseguir adversários em busca de tocos… Acaba sendo mais efetivo em movimento em direção ao garrafão… Em termos de jogo de costas para a cesta, existe uma carência clara… Por isso, dependia que os companheiros criassem oportunidades para ele… Ainda precisa ficar mais forte (mas não mais pesado). É algo que o ajudaria a se estabelecer no jogo interior… Mais um caso de atleta que precisa manter a concentração e a intensidade durante uma partida”.

(Aqui, uma reflexão da minha parte: durante a conversa com o executivo mencionado acima, argumentei que um ano inteiro praticamente fora de quadra, em termos de jogos para valer, pode pedir um tempo de “reabilitação” para os atletas, não? Os atletas muito provavelmente vão ficar ansiosos, querendo mostrar qualquer coisa em que tenham trabalhado durante os longos treinos. Daí a fixação de Bruno pelos arremessos em Vegas? Além disso, eles não têm mais ritmo de jogo algum. Mesmo que as ligas de verão não apresentem de modo algum um padrão, uma cadência que lembre a de um jogo de NBA de verdade, ainda estamos falando de partidas com cronômetro, arbitragem, adversários empenhados do outro lado e uma estrutura mínima de cinco contra cinco, bem diferente de rachões ou de um treino de mano a mano contra James Johnson. Daí a inconsistência? Não saber exatamente como dosar a energia em quadra? Pode ser, e melhor que as respostas sejam nessa linha. Como disse: há dezenas e dezenas de jogadores querendo uma vaga na linha. Vamos conferir isso com atenção durante a temporada da D-League.)

Felício não teve muito tempo como reserva de Bobby Portis e Cameron Bairstow

Felício não teve muito tempo como reserva de Bobby Portis e Cameron Bairstow

Cristiano Felício: “Teve minutos limitados, mas tem bom tamanho e é forte… Inicialmente, o jogo pareceu um pouco rápido demais para ele, mas o pivô se ajustou de modo admirável e conseguiu jogar de acordo com seus principais recursos… Ele é um reboteiro muito bom em um espaço, quando posicionado… Correu a quadra toda com muita energia… Não teve muitas oportunidades para mostrar seu jogo de garrafão, mas foi capaz de finalizar quando acionado no jogo interno em passes próximos de companheiros… Nesse tempo limitado, também mostrou bons sinais de habilidade para proteger a cesta e bloquear os adversários, embora nota-se que ele usa mais a sua força para combater lá dentro do que sua capacidade atlética”.

 (Sobre Felício, estou preparando um artigo maior, recuperando sua última temporada pelo Flamengo. Tem um talento enorme, e espero que os treinadores em Chicago o encarem da mesma forma. Acredito que ele pode ser muito mais do que o pivô do importante, mas básico pacote de “corta-luz + rebote + retaguarda defensiva + uma ou outra enterrada e bandeja”.)

Nada de férias! Como foi o verão de Lucas Bebê?
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

É verão!

No Hemisfério Norte, digo. A estação do ano mais comemorada pelos caras lá de cima, que tanto sofrem durante inverno e outono com temperaturas abaixo de zero, e tal. Se aqui no Brasil estamos bastante mal acostumados com temperaturas calorosas durante boa parte do ano, em terras austrais a chegada das férias e do sol ganha proporções milagrosas. Eles arrumam as malas e vão para a estrada, mesmo, para curtir até o último dia que der. Que o diga Chevy Chase.

Para Lucas Bebê, porém, depois de tanto frio que passou em Toronto, andando pelos subterrâneo, e tudo mais, não tem coisa nenhuma de férias. O pivô foi para Las Vegas, mas a trabalho, em uma das três summer leagues que a NBA promoveu neste ano. Bebê, ou Nogueira para eles, teve a chance de jogar um pouco mais pelo Fort Wayne Mad Ants no ano passado, até se lesionar. Agora, assim como Bruno Caboclo, a despeito de uma temporada um tanto conturbada, tenta mostrar que pode contribuir para o time na próxima temporada. Será que ele impressionou? Vamos examinar.

Scout por Rafael Uehara, especial para o VinteUm.

Lucas Bebê, 22, ainda um projeto para o Toronto?

Lucas Bebê, 22, ainda um projeto para o Toronto?

Assim como com Bruno Caboclo, foi decepcionante o quão pouco tempo de quadra Lucas Nogueira teve na temporada passada. Foram apenas 23 minutos com o Toronto Raptors e 80 minutos com o Fort Wayne Mad Ants. (Dê uma olhada no post sobre o Bruno para entender melhor porque os jogadores do Toronto não tiveram oportunidades na liga de desenvolvimento).

Vale lembrar também que na temporada 2013-2014, Lucas enfrentou problemas físicos na Espanha e jogou apenas 297 minutos com o Estudiantes. Somando as últimas quatro temporadas, ele mal esteve em quadra por 1.000 minutos, o que não é um dado nada bom para uma idade tão importante para desenvolvimento. Lucas não pode de maneira alguma ser considerado velho, mas é de se preocupar que, já aos 22 anos, ele tenha passado tão pouco tempo em quadra.

Vale mencionar que Lucas parece ter usado esse tempo livre (de partidas) da melhor maneira possível. Ele se apresentou na liga de verão mais forte e com habilidades individuais um pouco mais desenvolvidas – ambos fatores que eram preocupações com relação à sua transição para o melhor basquete do mundo.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Porém, por mais que treinos para aprimorar o porte físico e as habilidades individuais sejam importantes, o tempo de quadra ainda é o principal fator na evolução de um jogador jovem e, por isso, foi importante ver Lucas se apresentar bem nos 118 minutos que recebeu de rodagem na semana passada em Las Vegas.

Passes: Quando foi draftado, a projeção para Lucas era que ele poderia se tornar um desses pivôs modernos que pouco tocam na bola e não participam do processo de criação diretamente, mas que finalizam em pick-and-rolls extremamente bem e protegem o garrafão na defesa.

Bebê já mostrou que tem habilidades para além da capacidade atlética

Bebê já mostrou que tem habilidades para além da capacidade atlética

Porém, ele me surpreendeu bastante com sua habilidade de passar a bola em Vegas, especialmente porque o fez de todas as formas. Lucas não só manteve a cabeça erguida quando estava de costas para a cesta em post-ups, fazendo bons passes para alas cortando na diagonal, mas também se mostrou capaz de passar em movimento e de frente para a cesta – recebendo a bola no pick-and-roll e também em situações high-low, quando subia até o topo do arco e fazia o passe para o ala-pivô embaixo da cesta.

De acordo com o site RealGM, Lucas deu assistências em 17,5% das cestas que o Toronto marcou enquanto ele estava em quadra nessa última semana – uma marca altíssima entre pivôs. Embora, é preciso dizer que a média de três perdas de posse por jogo que ele registrou não seja algo para se ignorar.

Finalizações: É de se mencionar, porém, que Lucas se concentrou bem mais em flutuar no perímetro após o corta-luz do que partir para frente do aro e dar opção para a ponte aérea e isso é um tanto preocupante. Essa nova habilidade de passar a bola que o Lucas desenvolveu é muito boa, mas não pode vir às custas do fator ameaçador que ele representa ao redor do aro.

Como o oponente nunca o marcava quando ele flutuava fora do garrafão, Lucas tentou alguns tiros de meia distância e converteu um ou outro quando foi deixado totalmente livre, mas nada que deva ser levado muito a sério nesse momento. O que também é o caso de suas jogadas em post-up, pois ele ainda não tem força suficiente para recuar seu adversário.

É importante levar em consideração também que o pivô disputou a maior parte dos seus minutos junto com o Ronald Roberts, um ala-pivô que não abria até a linha dos três pontos e fazia com que o garrafão ficasse cheio demais. Ainda assim, foi um pouco desconcertante o quão pouco o Lucas cortou pra frente da cesta com convicção após o corta-luz, especialmente pelo fato de ele ter jogado com Delon Wright – um calouro, é verdade, mas formado em Utah e já um dos armadores mais bem desenvolvidos neste ambiente da liga de verão. Fora isso, nas vezes que o fez, Lucas mostrou dificuldade na recepção dos passes em tráfego.

Lucas foi muito bem nas duas tábuas

Lucas foi muito bem nas duas tábuas

Defesa: Lucas não foi perfeito defendendo pick-and-rolls, se mantendo todo erguido em vez de dobrar os joelhos, além de demonstrar não ter agilidade suficiente para marcar jogadores menores no mano-a-mano no perímetro. Quando recuado, todavia, foi muito bem protegendo a frente da cesta.

Graças à combinação de envergadura e agilidade saindo do chão, foram 13 tocos em cinco partida para ele. Mais que isso: de acordo com o NBA.com/stats, Lucas contestou em média 6,8 tiros de dois pontos por jogo – a terceira maior marca da liga de verão. Seus braços longos também cortaram vários passes. O Toronto permitiu apenas 77,8 pontos por 100 posses defendidas quando o brasileiro estava em quadra, marca que é excepcional.

Rebotes: Parte do motivo pelo qual Bebê foi um defensor de bastante impacto se deve a sua produção nos rebotes. Lucas ainda não é consistente brigando por posição em baixo da cesta, mas sua facilidade de salto e seus braços longos o ajudam a alcançar a bola em pontos mais altos. Ele resgatou 27,4% dos tiros perdidos pela oposição – a 11ª maior marca da liga de verão. Também foi muito produtivo no ataque, resgatando 14% dos tiros perdidos pelo Toronto.

Conclusões (por Giancarlo Giampietro): Bebê é três anos mais velho que Caboclo. Do ponto de vista de seu progresso, é um pouco preocupante que a diretoria e a comissão técnica do Raptors ainda o vejam como um projeto de médio prazo, no mínimo, a despeito do impacto evidente que ele pode ter em um jogo de basquete. Se havia alguma perspectiva de que ele seria mais aproveitado no próximo campeonato, a contratação de Bismack Biyombo foi uma bela ducha de água fria. Biyombo chega para fazer o papel que o brasileiro talvez pudesse muito bem cumprir: cerca de 15 a 20 minutos vindo do banco, protegendo o aro, atuando de modo firme no rebote e sendo uma peça marginal no ataque. O pivô da República Democrática do Congo é muito mais forte e também mais atlético que o carioca, é verdade. Teve sólido impacto por Charlotte nesses quesitos. Mas será que não valeria uma chance para Bebê – que, no ataque, pode oferecer muito mais? Talvez a turbulência na campanha de novato tenha custado em minutos agora. O jeito é o pivô erguer a cabeça, treinar mais e mais, arrebentar na D-League e tentar desbancar Biyombo durante a temporada.

Rafael Uehara é paulistano e colaborador de diversos sites estrangeiros. Você pode acompanhar mais de seu trabalho no Bball Breakdown e no Upside Motor. Ou, se preferir, em seu próprio blog, o Baskerball Scouting. Pode segui-lo no Twitter.

PS: um contrato de freelancer que começou neste mês deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos. Análises sobre os jogos da seleção brasileira durante o Pan só no Twitter, ok?


Os playoffs começaram! Panorama da Conferência Leste
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Por algumas semanas ou meses, a Conferência Leste prometia mais. Toronto e Washington estavam lá em cima na classificação geral, enquanto o Cleveland enfrentava dificuldades. A ideia era a de que o Cavs se recuperaria, o que eventualmente aconteceu. Mas os dois clubes que despontavam caíram: desde o All-Star Game, estão com aproveitamento abaixo de 50%, inferior ao do Boston Celtics e a do Brooklyn Nets. Seus técnicos procuraram mexer nas rotações, sem conseguir arrumar a casa. Curiosamente, se enfrentam agora para ver quem tem a fase menos pior. E aí que ficamos com os LeBrons em franca ascensão, preparados para derrubar o Atlanta Hawks, soberano no topo da conferência desde janeiro. O Chicago Bulls, irregular, sem conseguir desenvolver a melhor química devido a lesões, corre por fora.

Não deixa de ser irônico que LeBron volte aos playoffs pelo Cleveland justamente contra o Boston Celtics, o time que os eliminou em 2010: um revés de impacto, que levou o astro a repensar os rumos da carreira, "levando seus talentos para South Beach". Agora volta mais maduro e consagrado. Mas a pressão na cidade é a mesma

Não deixa de ser irônico que LeBron volte aos playoffs pelo Cleveland justamente contra o Boston Celtics, o time que os eliminou em 2010: um revés de impacto, que levou o astro a repensar os rumos da carreira, “levando seus talentos para South Beach”. Agora volta mais maduro e consagrado. Mas a pressão na cidade é a mesma

Palpites, que é o que vocês mais gostam
Atlanta em 4 – especialmente se Jarret Jack estiver jogando mais que Deron Williams. Jeff Teague e Dennis Schröder podem dar volta nos veteranos.
Cleveland em 5 – Stevens promete dar trabalho a Blatt num playoff, mas o desnível de talento é muito acentuado.
Chicago em 6 – Milwaukee defende bem e vai tentar cortar a linha de passe para Gasol. Mirotic pode ser importante aqui para espaçar a quadra.
Washington em 7 (juro, antes do 1º jogo) – Pierce jura estar em ótima forma, e John Wall precisa de sua ajuda. Toronto precisa de Lowry a 80%, no mínimo.

Números
77, 3% –
O aproveitamento do Cleveland Cavaliers desde o dia 13 de janeiro, quando LeBron James retornou de suas duas semanas de férias. Foram 34 vitórias e 10 derrotas, a melhor campanha do Leste, com saldo de pontos de 8,5 – também o melhor da conferência. O rendimento de três pontos também foi elevado, o melhor, com 38,2%. Nesse mesmo período, tiveram o ataque mais eficiente e a décima melhor defesa. Sim, você pode dividir a temporada do Cavs em antes e depois das férias (e das trocas também, claro, realizadas nesta mesma época).

Horford foi para o All-Star com mais três companheiros. Quando voltaram, o time não funcionou da mesma forma

Horford foi para o All-Star com mais três companheiros. Quando voltaram, o time não funcionou da mesma forma

60,7% – O aproveitamento do Atlanta Hawks depois do All-Star, abaixo até do Boston Celtics (64,5%). Na temporada, o rendimento foi de 73,2%, o segundo melhor no geral. Mero relaxamento, ou produção de fato mais baixa?

46 – Juntos, Bruno Caboclo e Lucas Bebê somaram apenas 46 minutos em sua primeira campanha de NBA. Foram 23 minutos para cada.

22 – O total de jogadores escalados por Brad Stevens durante a temporada do Boston Celtics. Dá mais de quatro times completos. Fruto das constantes negociações do irrequieto Danny Ainge. De outubro a fevereiro, o dirigente fechou oito trocas diferentes. Houve gente que chegou no meio do campeonato e já foi repassada, como Brandan Wright, Austin Rivers e Jameer Nelson.

12 – Jason Kidd quebrou os padrões de rotação da NBA. Oito, nove homens recebendo tempo de quadra regular? Nada: em Milwaukee,  12 jogadores ativos no elenco do Bucks chegaram ao fim da temporada com mais de 10 minutos em média. Se formos arredondar, pode aumentar esse número para 13, já que Miles Plumlee teve 9,9 minutos desde que foi trocado pelo Phoenix Suns. Giannis Antetokounmpo é quem mais joga, com 31,4, seguido por Michael Carter-Williams (30,3) e Khris Middleton (30,1).

1,6 – É o saldo de Derrick Rose se  pegarmos o número de arremessos de três pontos que ele tentou em média na temporada (5,3) e subtrairmos os lances livres (3,7). Pela primeira vez em sua carreira, o armador do Bulls tentou mais chutes de longa distância do que na linha – excluindo, claro, as dez partidas que disputou na campanha 2013-14. Um claro sinal de como seu jogo se alterou devido ao excesso de cirurgias. O problema é que seu aproveitamento nesses arremessos vem sendo apenas de 28%. O armador obviamente pode ajudar Chicago em seu retorno aos playoffs pela primeira vez em três anos, mas Thibs obviamente enfrenta um dilema aqui: até que ponto precisa envolver o astro no ataque, sem atrapalhar o que Pau Gasol e Jimmy Butler vêm fazendo?

A lesão contra Philly em 2012, que suscitou uma série de cirurgias para Rose; armador volta aos mata-matas, ainda como a grande esperança da torcida de Chicago. Mas o time tem talento o suficiente para não depender exclusivamente de atuações milagrosas do seu xodó

A lesão contra Philly em 2012, que suscitou uma série de cirurgias para Rose; armador volta aos mata-matas, ainda como a grande esperança da torcida de Chicago. Mas o time tem talento o suficiente para não depender exclusivamente de atuações milagrosas do seu xodó

Panorama brasileiro
Nenê é fundamental no plano de jogo do Washingon, especialmente por sua capacidade para marcar. A questão é saber como ele estará fisicamente, depois de ter perdido cinco dos últimos sete jogos do Wizards pela temporada regular, sendo os dois últimos por uma contusão no tornozelo. (PS: a julgar pelo primeiro jogo está muito bem, obrigado). Para os talentosos garotos de Toronto, a expectativa é que ver de perto a atmosfera de um jogo de playoff os motive a treinar duro, duro e duuuuro nas férias para entrar na rotação na próxima temporada. Por ora, o mata-mata serve apenas para tirar os ternos estilosos do armário. Em Cleveland, Anderson Varejão pode quebrar um galho como assistente. Em Murcia, na Espanha, Faverani vai tocando sua reabilitação após uma cirurgia no joelho. Um retorno ao Celtics ainda é possível, em julho.

nene-hilario-demar-derozan-jonas-valanciunas-nba-washington-wizards-toronto-raptors-850x560

Alguns duelos promissores
Kyrie Irving x Isaiah Thomas: Thomas é, de certa forma, uma versão em miniatura de Irving, sendo muito veloz, sempre um perigo com a bola, ainda que um tanto fominha. Mesmo que Kyrie tenha se mostrado mais atento durante essa campanha, por vezes sendo realmente agressivo na pressão, ainda não pode ser considerado um defensor capaz. Vai ter de se esforçar muito para frear o rival. Então é de se imaginar um tiroteio aqui, já que, do outro lado, não há como o tampinha contestar o belíssimo chute da jovem estrela.

O Cleveland tem de tirar o baixinho Thomas do garrafão

O Cleveland tem de tirar o baixinho Thomas do garrafão

John Wall x Kyle Lowry: Wall é pura velocidade, um dos integrantes da impressionante geração de armadores superatléticos a conquistar a liga. Com o tempo, aprendeu a usar suas habilidades fenomenais do modo correto, sendo dominante em transição, mas sabendo ditar o ritmo de jogo e explodir na hora certa em situações de meia quadra. Enxerga seus companheiros como poucos. Já Lowry é um tratorzinho com a bola, usando sua força e uma ou outra artimanha com a bola para ganhar espaço, olhando mais para a cesta. O problema é que ele sofreu bastante nas últimas semanas com dores fortes nas costas. Estilos bem diferentes.

Al Horford x Brook Lopez: por falar em contrastes… Horford é dos pivôs mais ágeis e versáteis que se tem por aí, pontuando com eficiência por todo o perímetro interno, desde a faixa de média distância ao semicírculo. Excelente passador e driblador também, ágil, faz um pouco de tudo em quadra, dando ao Hawks flexibilidade tanto na defesa como no ataque. Um cara especial e subestimado demais. Do outro lado, Lopez recuperou sua boa forma na reta final da temporada. Também estamos falando um cara que pode flutuar por todo o ataque, ainda que seja bem mais eficiente próximo ao garrafão. A diferença: é lento toda a vida e pouco passa a bola, mesmo que não se complique diante de marcação dupla. Na defesa, é muito vulnerável quando  deslocado para longe da zona pintada.

Jimmy Butler x Khris Middleton: Jimmy Butler deu um salto impressionante nessa temporada. Poucos imaginavam que ele poderia funcionar como arma primária no ataque, e em vários jogos do Bulls isso aconteceu, com sucesso. O maior volume de jogo no ataque resultou em queda na defesa – algo que o adversário do Bucks já faz muito bem. Ambos têm uma trajetória parecida como profissionais. Eram destaques universitários que entraram na liga com projeções modestas, mas, quietinhos, foram construindo uma reputação sólida. Mais jovem, Middleton pode usar uma boa atuação nos playoffs para inflar ainda mais sua cotação, sendo já considerado uma opção interessante no mercado de agentes livres que se aproxima.

Ranking de torcidas
1 – Toronto. A torcida mais radical da NBA, que perturba cada jornalista que coloque um mero senão na hora de falar sobre o clube. Lotam a praça Maple Leaf, do lado de fora do ginásio, com hordas e hordas de “nortistas” para assistirem ao jogo num telão. Não existia isso no mundo da liga americana. Os caras já estavam exaltados, e aí veio o gerente geral Masai Ujiri novamente com um clamor incendiário. Um ano depois de mandar Brooklyn se f*#@, subiu ao tablado neste sábado para dizer que não dá a mínima para Paul Pierce, de uma forma menos amorosa, claro. (Mais abaixo.)

2 A – Chicago. Na semana passada, gravamos eu e o chapa Marcelo do Ó, no Sports+, uma série de transmissões com jogos clássicos da liga. E como fazia barulho a galera dessa metrópole blue collar. Há que se entender uma coisa: por maior que seja a cidade, sempre se colocaram numa situação de inferioridade em relação a Nova York, por exemplo. O clima do povo de lá, em geral, ainda é de cidade pequena, tentando mostrar seu valor. Nesse contexto, adotam as franquias locais de um modo especial. Se Rose aprontar, o ginásio explode. Afinal, é o garoto da casa. Teve a maior média de público na temporada.

#OsLoucosDoNorte

#OsLoucosDoNorte

2 B – Boston. Se é para falar em tradição… Bem, esses caras aqui já comemoraram 17 vezes. Imagino a festa que farão neste retorno aos mata-matas após um ano sabático. Só ficam um degrau abaixo, ou meio degrau abaixo pelo  fato de que a equipe não ter lá muita chance. O estilo de jogo é divertido, há jovens valores para se adotar, mas ainda estamos muito distantes dos tempos de Pierce, Garnett e Rondo, caras venerados.

4 – Cleveland. Um público agraciado pelo retorno de LeBron, ainda vivendo uma segunda lua de mel, com a segunda maior média do campeonato. Fora dos playoffs desde 2010, vão muito provavelmente botar para quebrar. Só não vão ter as trombadas de Anderson Varejão para aplaudir. Outros pontos a favor: a belíssima apresentação de seus atletas com projeção 3D na quadra e um DJ dos mais antenados.

5 – Washington. Um grupo um tanto traumatizado por seguidos fracassos na construção de times promissores que acabam não chegando a lugar algum. Agora, têm um legítimo jovem astro por quem torcer, John Wall, e outra aposta em Bradley Beal, além de uma série de veteranos.

6 – Milwaukee. É a segunda pior média do campeonato, mesmo com um time jovem, cheio de potencial, e já fazendo boa campanha. Mas há um fator importante para se ponderar aqui: a ameaça de que a equipe deixe a cidade, devido ao lenga-lenga na aprovação/construção de uma nova arena. Os proprietários pressionam, divulgando na semana passada como seria o projeto. Só não há muito entusiasmo na população local para o investimento de dinheiro público na empreitada. Tendo isso em vista, talvez queiram ao menos conferir os garotos nos playoffs, com a sensação de que “foi bom enquanto durou”. De qualquer forma, a Squad 6 sozinha para superar as duas abaixo.

A possível nova arena de Milwaukee ficaria assim

A possível nova arena de Milwaukee ficaria assim

7 – Atlanta. A despeito da temporada maravilhosa que a equipe fez, sua torcida foi apenas a 17ª torcida no ranking de público.  O tipo de ginásio que precisa da intervenção do DJ para emular o barulho de torcida, na hora de se pedir coisa básica: como “defesa”. Por essas e outras, também a despeito da tradição da franquia, se fosse para escolher arbitrariamente um time para ser realocado para Seattle, apontaria na direção do Hawks. A pasmaceira já vem de longa data.

(…)

15 – Brooklyn. Mas não tem público mais desanimado e desconectado que esse. O que é um contrasenso, se a gente for pensar da relevância do bairro nova-iorquino para a história do jogo. A marca ainda não colou por lá, e esse tipo de coisa demora, mesmo. Não havia Jay-Z que pudesse acelerar o processo.

Meu malvado favorito: Paul Pierce. O ala do Wizards não está mais nem aí. A cada entrevista, solta um comentário cada vez mais raro de se escutar num mundo excessivamente controlado pelas relações públicas. Em bate-papo recente e imperdível com a veterana repórter Jackie MacMullan, falou algumas verdades sobre Deron Williams e Joe Johnson, questionou a paparicação em torno das jovens estrelas da liga. Também disse que não botava fé no Raptors, seu adversário. Depois, disse que não era bem assim. Como se realmente se importasse com a repercussão – deve estar se divertindo com o papel de antagonista a seita #WeTheNorth. Amir Johnson mordeu a isca e retrucou: “É um cara velho, sabe? Ele precisa de algo para se motivar, e acho que é para isso que esses comentários servem. É como quando você usa viagra, para dar uma animada”. A torcida também prestou suas homenagens.

Para não deixar passar batido
Gerente geral do Nets, Billy King vai ter de se concentrar muito no que se passa em quadra agora. Se for pensar no futuro, vai doer a cabeça. Afinal, ao mesmo tempo em que seu time deve se esforçar para não tomar quatro surras do Hawks, sabe que a escolha de Draft deste ano vai ser endereçada ao adversário, mesmo que o time de Mike Budenholzer tenha sido o melhor da conferência. Ainda é um reflexo da famigerada troca por Joe Johnson, na qual o mais correto fosse que Atlanta pagasse a Brooklyn algumas considerações de Draft, já que o time nova-iorquino estaria fazendo um favor ao assimilar o salário mastodôntico do ala, que ainda mata uma ou outra bola decisiva, mas está longe de justificar o salário de mais de US$ 20 milhões. Ao menos, com a classificação aos playoffs, o Nets evitou a cessão de uma escolha de loteria. Imagine o Hawks saltando para as três primeiras posições nesse cenário? Desastre.