Vinte Um

Arquivo : Londres-2012

Como não? Brasil reencontra Argentina; veja o retrospecto
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Giancarlo Giampietro

Flamenguista Laprovíttola e a duplinha Scola e Prigioni. De novo

Flamenguista Laprovíttola e a duplinha Scola e Prigioni. De novo

Sí, sí. É isso, mesmo. Deu Brasil x Argentina novamente.

Para que o clássico sul-americano se repetisse logo de cara nos mata-matas da Copa do Mundo de basquete, era necessária pelo menos uma combinação de três resultados no Grupo B: que as Filipinas lavassem a alma com pelo menos uma vitória sobre a outra zebra do torneio, Senegal; que a Croácia afastasse os rumores sobre autocombustão (mais uma!?) e vencesse Porto Rico; e que a Grécia provasse sua consistência redescoberta para derrotar nossos vizinhos do Sul, para que  eles terminassem em terceiro. Check, check, check. Confere, e cá estamos em mais um jogo decisivo entre os dois rivais.

Em competições intercontinentais, o confronto acontece pelo terceiro evento consecutivo. Sem brincadeira: rolou no Mundial passado, em 2010, e também nas Olimpíadas de Londres 2012. Vocês me deem licença, então, para resgatar e editar um texto de dois anos atrás, recuperando o retrospecto – já nem mais tão recente assim – entre as duas gerações que vão se reencontrar no domingo (17h, horário de Brasília). Uma experiência dolorosa para muita gente, eu sei. Mas esse histórico, que vem de 2002 para cá, é um componente emocional inegável, que tem de ser enfrentado nas próximas 40 e poucas horas.

Desde o torneio de Indianápolis, 12 anos atrás, muitas figuras fundamentais se despediram das quadras. Deu tempo de Marcelinho Machado, por exemplo, anunciar em duas ocasiões que não jogaria mais pela seleção brasileira, para reconsiderar prontamente. Do outro lado, Walter Herrmann também alternou bastante: foi, voltou, foi, voltou. De constantes, mesmo, temos Luis Scola e seu vasto arsenal ofensivo, que continua superprodutivo e eficiente (21,6 pontos por jogo no atual campeonato, mais 8,8 rebotes, 2,2 assistências e 52% nos arremessos).

Splitter, Leandrinho, Huertas e muito mais: Brasil dessa vez é quem tem força máxima

Splitter, Leandrinho, Huertas e muito mais: Brasil dessa vez é quem tem força máxima

A diferença é que dessa vez são os argentinos que entram com desfalques. Manu Ginóbili e Carlos Delfino fazem uma falta danada no perímetro: não só como pontuadores, mas também como criadores e defensores. Já o Brasil surge com força máxima. A primeira vez em muito, muito tempo, com todos os seus atletas apresentados, fisicamente bem (ao menos segundo as aparências e os relatos oficiais). Esse é um fator que deve passar obrigatoriamente mais confiança para os rapazes de Rubén Magnano – algo que compense de alguma forma o desequilíbrio emocional gerado por tantas derrotas no decorrer da última década (pensando apenas em grandes competições, ok? Sul-Americano, isto é, excluído). Vamos lá, passo a passo:

Varejão x Oberto

O jovem Anderson Varejão disputa rebote com Fabricio Oberto – Rogério Klafke também estava lá

– Os argentinos conseguiram sua primeira grande vitória em clássico pelo Mundial de 2002, em Indianápolis, onde seriam vice-campeões. A seleção ainda era treinada por Hélio Rubens, havia dois irmãos Varejão no garrafão, Tiago Splitter estreava com 17 anos, Nenê já estava fora (havia acabado de ser draftado pelo Nuggets), e a armação era dividida por Helinho e Demétrius, hoje assistente de Rubén Magnano. Que, na época, trabalhava para seu país natal. O primeiro tempo terminou empatado em 29, mas os caras abriram boa vantagem no terceiro quarto e triunfaram por 78 a 67.

– Eles repetiram a dose no Pré-Olímpico de 2003. Um ano depois, se consagrariam como campeões olímpicos em Atenas. Em San Juan, Porto Rico, ajudaram a empurrar ladeira abaixo a seleção braileira, agora com Lula Ferreira no comando e bastante renovada. Os ainda garotos brasileiros sofreriam mais três reveses – até para o México de Nájera! – e seriam eliminados. Aquele foi um jogo feio, arrastado e equilibrado do início ao fim, com 35 (!!!) desperdícios de posse de bola.

– Avançamos no tempo consideravelmente agora, ignorando a esvaziada Copa América de 2005, e chegamos a Las Vegas, 2007. Só jogatina e ressaca: o Brasil sem Anderson Varejão, mas com Splitter já bem crescido na Europa e Nenê retornando após quatro anos, e a Argentina sem: 1) Ginóbili, 2) Nocioni, 3) Oberto e 4) Herrmann. Foram duas derrotas para os campeões olímpicos: uma pela segunda fase e a outra, valendo vaga nos Jogos de Pequim, pelas semifinais. Este blogueiro aqui estava lá, ganhou muitos pontos na escala de animosidade com boa parte do atual grupo, em uma cobertura de ambiente tumultuado, extremamente tenso. Luis Scola jogou uma barbaridade, Delfino acertava tudo de fora, Kammerichs tinha o bigodão mais legal do basquete, e foram duas pauladas bem doloridas que custaram a demissão de Lula. What happens in Vegas, stays in Vegas, baby!

Marcelinho x Delfino

Em Las Vegas-2007, Marcelinho viu a Argentina de Delfino vencer mais uma vez

– Agora estamos em 2009, com o tiozão Moncho Monsalve no comando, bem piradão, e voltamos a San Juan, pela Copa América, para enfim derrotar uma Argentina que tenha escalado o tal do Scola. Foi pela primeira fase, não tinha vaga em jogo, nem nada. Das principais peças, eles tinham apenas o ala-pivô número 4 e Prigioni, enquanto o Brasil jogou com Varejão, Splitter, Huertas, Leandrinho, Alex e, sim, Duda. Injusto? O trauma era tão grande, que não importava.

– Em 2010, Mundial de Istambul, ainda ouvindo instruções em espanhol, mas com um sotaque argentino: Magnano foi contratado para o lugar de Moncho. A seleção apresenta uma defesa combativa de um modo nunca visto nesta geração, quase derrota os Estados Unidos, mas é eliminada pelos caras nas oitavas de final. Foram 37 pontos de Scola, santamãe, com um quarto período, infelizmente, inesquecível. Para completar, Delfino e Jasen (lembra dele!?) mataram juntos 21 pontos de longa distância. Nocaute.

– Que tal lavar, um pouco, da alma, então, derrotando os arquirrivais logo na casa deles, em Mar del Plata-2011? Foi o que fez a seleção de um Marcelinho Huertas dominante na armação e de um Hettsheimeir surpreendente, não importando que os grandes ícones da Geração Dourada estivessem reunidos por ali. Foi um triunfo que encaminhou a equipe nacional para a primeira vaga olímpica desde Atlanta-1996. Já classificados, os dois times se enfrentaram, então, na final: de moicano, e ressaca das brabas, a trupe tupiniquim perdeu por cinco pontos.

– Em Londres 2012, depois de a Espanha supostamente manipular a tabela, o Brasil terminou em segundo em seu Grupo A. E quem estava em terceiro no B? Sim, a Argentina, numa repetição do atual cenário. As duas equipes contavam com seus grandes nomes, e isso pesou a favor do time que já tinha duas medalhas olímpicas (o ouro de Atenas e um Bronze em Pequim). Os argentinos abriram vantagem de até 15 pontos, viram os brasileiros reagirem, mas ganharam no final. Um drama particular daquele jogo? Os lances livres…

Passando por tantas derrotas assim, não dá para dizer, mais uma vez, que o jogo deste domingo sirva de tira-teima, né? Apenas valeria se nos limitássemos aos confrontos deste ano, em que já se enfrentaram em dois amistosos, com uma vitória para cada lado, cada um vencendo em casa. Mas eram apenas amistosos, bem no início da fase de preparação. No primeiro, no Rio, o Brasil venceu bem, explorando seus pivôs, mas Luis Scola não estava do outro lado. No segundo, em Buenos Aires, um bombardeio de três pontos desarmou a defesa de Magnano. Dois jogos que provavelmente não dizem nada.

Agora, com tanta história envolvendo os rivais, é impossível relevar o retrospecto geral. Os brasileiros vão precisar de toda a maturidade que puderem acessar para encarar esses diversos tropeços, erguerem a cabeça e partirem para mais um clássico para se acrescentar neste relato. Em 2016, vai ter mais?


Presidente da CBB expõe Hortência e fala em contratar australiano para a seleção feminina
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Giancarlo Giampietro

Tom Maher, coach

Tom Maher dirigiu a Grã-Bretanha e, para Nunes, deveria assumir a seleção

Nada como uma organização bem azeitada, em que sua cúpula fale a mesma língua. Ou que, pelo menos, não se exponha tanto publicamente, que guarde os debates para seus QGs, né?

Só tirem a CBB (Confederação Brasileira de Basquete) dessa.

Em passagem – desastrada, para variar – por João Pessoa, em campanha por sua reeleição na presidência da entidade, Carlos Nunes falou novamente mais do que deveria. Geralmente funciona assim mesmo: o presidente mal aparece em público. Quando fala aos microfones, só sai rojão. Dessa vez ele expôs uma de suas profissionais de confiança, Hortência, diretora do departamento feminino.

“Como opção minha, e esta é uma responsabilidade que trago para mim, eu entendi que era Hortência quem tinha as condições necessárias para levar o time a uma posição melhor nas Olimpíadas. No fim, acabou acontecendo o que aconteceu. Cabe-nos agora avaliar o que deu errado”, afirmou o cartola em entrevista ao GloboEsporte.com.

Tipo… “Deu no que deu”. É até engraçado. Mesmo.

Mas, calma lá: Nunes afirma que, “a princípio”, sua diretora continua no cargo, mas que “novos nomes devem se juntar ao grupo”.

Se Hortência continuar mesmo na administração, vai ter de batalhar para manter sua escolha da vez de técnico, Luís Claudio Tarallo, no cargo. Segundo o presidente da CBB, ela defende a continuidade no comando da seleção adulta, depois de uma campanha pífia em Londres-2012.

Não seria agora, afinal, que ela trocaria um treinador, né?

Oooops.

Bem, voltando: se Hortência continuar e se optar por seguir com Tarallo, pode ter sua opinião contrariada pela hierarquia e ter de engoliar a seco. Enamorado pela proteção que Rubén Magnano lhe dá em seu cargo, Carlos Nunes defende a contratação de um treinador estrangeiro também para dirigir as meninas. O nome seria o australiano Tom Maher, que dirigiu a Grã-Bretanha nos Jogos Olímpicos e já fez grandes campanhas nos últimos 20 anos.”Sou muito simpático à ideia de trazer o treinador australiano”, afirmou.

Entre nós, é um grande técnico.

Também aqui entre nós todos: precisava jogar as coisas no ventilador assim mesmo?


Falatório olímpico: a Espanha, a ira francesa, os amados argentinos e um Ingles
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Giancarlo Giampietro

“Este torneio não é nenhuma despedida”, Luis Scola, ainda vivinho da silva.
>> A próxima geração argentina não chega perto da que se acostumou a derrotar a Seleção Brasileira na última década, mas isso não quer dizer eles vão embora, de uma vez, desde já. O cabeludo, que já se virou muito bem “sozinho”, insiste que ainda joga. Valeu, Scola, amigão.

Manu de saída?

Manu Ginóbili de saída?

“Morro por Manu. Manu morre por mim. Sei que disse durante a temporada da NBA que seria nossa última vez, mas, se ganharmos uma medalha, estou certo de que vamos tentar mais uma vez. Isso é como as drogas. É incrível”, Andrés Nocioni, viciado em vitórias.
>> O Chapu acabou não ganhando a medalha. Mas, se o seu raciocínio valer também para correr atrás do prejuízo, esse guerreiro pode cruzar o caminho brasileiro em novas ocasiões. A ver.

“Ferida bem funda… Não vou dormir… Gosto amargo… Trabalhei por dez anos para este jogo…”, Manu Ginóbili, deprimido.
>> Palavras usadas pelo craque do Spurs para comentar a derrota na disputa do bronze para a Rússia. Aos 35 anos, esse, sim, pode ter se despedido da seleção argentina. Detalhe: os jogos da Argentina bombaram em San Antonio.

“Seria um pouco arrogante se eu dissesse que somos um modelo para a USA Basketball. Mas acho que fizemos um baita trabalho durante uma década e estou muito orgulhoso do que conquistamos. E muitas equipes começaram a manter um grupo de jogadores, uma base, para atuarem juntos”, Ginóbili.
>> Desafio de Magnano CBB agora é manter sua base, com uma troca ou outra…

“Gosto de ver a Argentina jogar. Na verdade, usamos algumas de suas jogadas ofensivas no Celtics”, Doc Rivers, observando tudo atentamente em Londres.
>> Pensando em Rajon Rondo como um Pablo Prigioni 10.0, só pode dar certo.

“Queria dar uma boa razão para ele se jogar no chão”, Nicolas Batum, num ato de fúria.
>> Pirado na derrota da França para a Espanha pelas quartas de final, o ala do Blazers deu um soco nas partes baixas de Juan Carlos Navarro nos segundos finais e, com a cabeça ainda pelando, ainda bancou a agressão nas entrevistas seguintes. Na verdade, ele usa o termo “flop” no fim, que seria o nosso “cavar falta”, fazer teatro para iludir a arbitragem. E pensar que Batum sempre foi criticado por ser um rapaz muito quietinho em quadra.

“Pergunte a Rudy Fernández o que ele fez com o Tony Parker no Eurobasket”, Vincent Collet, técnico da França.
>> Olho por olho, dente por dente (admitam, há quanto tempo vocês não ouviam essa?). O desprezo – e baita frustração, claro – dos franceses após a derrota atingiu até mesmo o treinador, que em nenhum momento censurou o soco de Batum em Navarro ou o tranco de Ronny Turiaf em Fernández, segundos antes. Rivalidade é pouco.

“Mais uma lição de vida. Pessoas honestas nem sempre vencem”, Kevin Seraphin, o prodígio da seleção francesa.
>> Mais tarde, no Twitter, foi a vez de o ala-pivô do Wizards dar sua estocada. Imagino que o garotão e Nenê terão uma coisa ou outra para fofocar quando se reencontrarem nas vizinhanças da Casa Branca.

­“O que é um pouco assustador e injusto sobre os torneios europeus é que você tem todas essas táticas de jogar por um saldo de pontos ou jogos. Na NBA, como existem as séries, não há nada disso. Mas aqui as coisas estão acontecendo em tempo real, num ambiente de competição, e não gostamos de ver isso. Diria que a maioria não faz, mas existem aqueles que jogam com o regulamento. Nunca faria isso sob nenhuma circunstância. Mas alguns fazem”, David Blatt, técnico da Rússia.
>> As pitadas do experiente e vitorioso treinador, formado no basquete universitário do seu país, mas que construiu sua carreira na Europa, já calejado de resultados suspeitos.

“Vou para a cama porque me deixa triste ler alguns dos comentários. Para aqueles que acreditam em nós, OBRIGADO!”, Rudy Fernández, via Twitter.
>> Não vou disfarçar, tá? No QG 21, a combinação “Rudy” + “Fernández” caiu muito de cotação, podendo agora significar muitas vezes “chorão” ou “chato pra caraca”. Durante as Olimpíadas, no mesmo jogo, o ala Fernández variava entre vítima e valentão com uma velocidade e cara-de-pau impressionantes, com seu topete de astro pop, caras e bocas.Vejam sua atuação dramática na final contra os norte-americanos:

“Muchas gracias! Mais uma medalha de prata!”, José Calderón, armador espanhol.
>> A Espanha lutou tanto por essa medalha de prata, que vale a euforia. Calderón, na verdade, não faz parte do time dos vilões, assim como Pau Gasol. Segundo consta, por diversas fontes, é um tremendo boa praça. Os desdobramentos olímpicos não podem encobrir toda a trajetória da geração igualmente dourada do país, como defendeu o “Fantasy-maníaco” Julio Gomes Filho no domingo. Mas, para muita gente, blogueiro incluso, o que se passou entre a primeira fase e os mata-matas de Londres-2012 compõe mais que uma notinha de rodapé.

“Nunca vou esquecer de que lugar eu vim, mas estou orgulhoso de vestir o uniforme da Espanha e representar este país”, Serge Ibaka, aquele que usa a camiseta de “Air Congo” em torneio de enterradas da NBA.
>> Vamos discutir mais a respeito durante a semana. Aguardem.

Brett Brown e Joe Ingles

Brett Brown faz campanha por Ingles

“Mesmo que eu tenha crescido nos Estados Unidos, sempre estive ao lado de nigerianos. Cresci numa comunidade nigeriana. Quando estou em casa, meus pais não falam comigo em inglês. Nós comemos comida nigeriana”, Ike Diogu, cestinha do time africano.
>> De novo, mais adiante. Mas não creio que Ibaka fale em espanhol com seus familiares congoleses.

“Agora sou parte da fábrica da sociedade do basquete. Essa boa gente me deu a maior honraria para técnicos na Rússia, e nenhum estrangeiro jamais ganhou uma ordem dessas. Isso diz tudo”, David Blatt, novamente.
>> Blatt construiu um time muito interessante na Rússia, explorando ao máximo as características e talentos de seus atletas. Como publicou o jornalista Adrian Wojnarowski, do Yahoo norte-americano, pode ser que chegue o dia em que ele ganhe sua chance na NBA.

“Acho que a NBA vai prestar atenção em Joe, especialmente depois destas Olimpíadas. Joe tem um corpo parecido com o de Tayshaum Prince. É longo, canhoto, multifacetado como um ala, evoluiu na defesa e agora tem orgulho em marcar as pessoas. Vocês viram seu espírito competitivo aqui. Ele só vai subir”, Brett Brown, técnico da Austrália e assistente do Spurs, sobre o ala Joe Ingles.
>> Ingles não chega a ser um Nemanja Bjelica, mas… Já tinha uma predisposição para gostar do ala, observando-o aqui e ali pela Liga ACB: seu estilo é muito vistoso, versátil, do tipo de cara que cai nas graças por cá. O nome ajuda também, obviamente. Mas parece claro que o futuro do australiano é jogar na NBA. Não estranharia, aliás, se fosse fazer companhia a Mills no próprio Spurs, por razões óbvias

PS: como os brasileiros não falaram após a derrota para a Argentina, não vamos peneirar nada a respeito deles. Não faria sentido ter um começo, um meio, mas sem fim nesta seção. A cobertura do Bruno Freitas em Londres e do UOL Esporte dá conta do recado.


Falatório olímpico: a volta da hegemonia norte-americana
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Giancarlo Giampietro

A campanha olímpica na boca dos protagonistas. Amanhã voltamos com declarações de argentinos, espanhóis, franceses e um canhoto bom daqueles.

“É o coração que primeiro é provado,  e estou feliz que temos um monte de grandes corações na nossa equipe”, LeBron James, bicampeão olímpico.
>> Um tanto cafona, ok, mas só mostra a reviravolta por que passou a vida deste sujeito. Em agosto de 2011, era a pessoa mais achincalhada do esporte. Agora pode falar com propriedade sobre como ser campeão, coração de guerreiros, física nuclear, sistema público de saúde norte-americano etc.

LeBron, no auge“Ele é o melhor jogador e o melhor líder. Não tem jogador mais esperto que ele no basquete hoje em dia”, Coach K, sobre LeBron.
>> Nada bobo o técnico norte-americano, reforçando seu vínculo com aquele que deve dominar a NBA não apenas nos próximos dois anos, como no terceiro, quarto, quinto… 😉

“Sou jovem! Só tenho 28”, Carmelo Anthony, sobre a possibilidade de jogar no Rio-2016.
>> LeBron está em dúvida, mas contem com o Melo, que disputaria um recorde de quatro Olimpíadas caso marque mesmo sua passagem para a Cidade Maravilhosa. O ala do Knicks certamente é um dos astros da NBA que mais se diverte nos torneios da Fiba.

“Já deu para mim. Quatro anos é muito tempo. Os caras mais novos vão assumir no Rio e talvez eu esteja lá para torcer por eles”, Kobe Bryant, ancião.
>> O Laker terminou o torneio jogando bem, depois de algumas apresentações questionáveis, que criaram histeria entre os setoristas norte-americanos no Twitter. Na NBA desde 1996 (!!!), com uma rodagem nos joelhos (costas, tornozelos, pulso, dedo, cotovelo…) de Brasília amarela modelo 1981, é hora do bom e velho Kobe dar uma descansada mesmo e fazer aquilo que ele curte, e muito: prestigiar os compatriotas nas arquibancadas, voltando de trem para casa.

“Grande jogo… A Espanha sempre nos empurra até o limite, mas os EUA são os melhores”, Dwyane Wade, em tweet imediato ao bicampeonato olímpico.
>> A lesão no joelho tirou o jogador de Londres, mas ninguém ia reparar. Com muitos desfalques, a equipe norte-americana ainda é uma força evidentemente superior.

“Chegamos perto, mas você tem de jogar praticamente uma partida perfeita contra eles para poder vencê-los em 40 minutos. Eles são talentosos, têm muitas habilidades e podem fazer cestas sem aos montes”, Pau Gasol, duas vezes prata nas Olimpíadas.
>> O pivô espanhol não tem muito a ver com Rudy Fernández e é um dos caras mais legais do basquete. Jogou barbaridades na final, mas ainda assim não foi o suficiente para desbancar os americanos, apesar do susto.

“É pesada, é uma medalha grande”, Andre Iguodala, com o peito dourado.
>> O (agora) ala do Denver Nuggets nos abre a possibilidade de resgatar a metáfora clássica do mundo dos quadrinhos, reforçada no primeiro Homem-Aranha de Sam Raimi: “Grandes poderes, grandes responsabilidades”. O ouro é pesado para carregar, mas o Team USA parece bem encaminhado para lutar pela extensão de sua hegemonia

Kobe e Oscar Schmidt

Kobe jogou na Europa, admirando de perto um Oscar Schmidt no auge

“Não” e “Não estou certo se sei tudo do jogo, mas eu sei mais que eles”, Kobe Bryant.
>> Duas respostas tipicamente de um Kobe Bryant ao ser questionado se 1) ele poderia aprender alguma coisa com os companheiros mais novos e 2) se, no fim, ele já manjava tudo de basquete, mesmo. Sensacional. Velha guarda, com orgulho.

“Sou extremamente sólido em meus fundamentos. Isso vem de ter crescido fora dos Estados Unidos. Se você olhar para a maioria dos caras aqui, eles fazem as coisas a partir do drible. Eu fico muito confortável numa posição em que possa atacar de três maneiras diferentes. É muito confortável para mim fazer fintas, usar o passes de jab e trabalhar com os pés. Quando estava crescendo, no meu clube nós tínhamos treinos em que você literalmente não poderia fazer o drible durante toda a sessão”, Kobe Bryant.
>> Sem mais. Ou melhor: é sempre legal lembrar essa infância e adolescência diferentes que Kobe viveu, seguindo a carreira do pai pela Europa, onde idolatrou o armador Mike D’Antoni e babou pelas cestas de Oscar.

“É difícil explicar. Se você nunca fez isso em quadra, não saberia do que e eu estaria falando”, Carmelo Anthony.
>> Sobre os 37 pontos que marcou em mágica noite contra a Nigéria, recorde olímpico norte-americano em apenas 14 minutos de ação. Este número é realmente estarrecedor, e para sempre. Lembro de já ter feito uns 30 pontos num jogo de meia-quadra que durou aproximadamente umas 19 horas. (E isso vale para aqueles que acham que o blogueiro é o mauricinho que nunca pisou na quadra. Tenho provas! Hmpf!)

Coach K

Coach K não fez nada, claro

“Não estamos acostumados a ficar livres na NBA. Então, quando isso acontece a quem… É, tipo… Uau”, Kevin Durant.
>> Durant é um dos meus prediletos. Idade de moço, cara de moço, frases de moço. E ainda falta um apelido que faça jus ao seu talento e carisma. Força, Greg Oden.

“Nenhum. Você sacou tudo. Absolutamente nenhum. Saio todas as noites com minha família, bêbado feito um gambá. Espere só para me ver hoje de noite. Volto umas 6 da manhã e você está convidado para sair comigo. Nós apenas deixamos a bola rolar. É isso. Não sei como você descobriu isso”, Coach K.
>> Pê da vida e cheio de ironias, respondendo a uma pergunta bem deselegante – para dizer o mínimo – sobre se o seu trabalho não seria muito fácil com tanta gente boa seu dispor. Afe.

PS: como os brasileiros não falaram após a derrota para a Argentina, não vamos peneirar nada a respeito deles. Não faria sentido ter um começo, um meio, mas sem fim nesta seção. A cobertura do Bruno Freitas em Londres e do UOL Esporte dá conta do recado.


Na final, não tinha como evitar: ouro para os Estados Unidos
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Giancarlo Giampietro

Kevin Durant e LeBron James

Kevin Durant e LeBron James: “We’re togetha!”

A Espanha guardou tudo o que tinha para o fim. Juan Carlos Navarro, enfim, soltando bombas nas Olimpíadas – até que Kobe Bryant o vigiou no segundo tempo. Rudy Fernández estava para todos os rebotes ofensivos, trombando com os astros norte-americanos, tentando fazer cara de mau, cometendo 87 faltas. Seus atletas aprontaram um escarcéu danado com a arbitragem, reclamaram de tudo o que era marcado ou deixava de ser marcado. Queriam o ouro de qualquer jeito, naquele confronto que tanto esperavam – e evitavam. Mas na final não tinha para onde fugir.

Eles jogaram, enfim, o que sabiam, de acordo com o que se esperava a caminho do torneio, como a segunda grande força do basquete mundial e candidata a destronar os norte-americanos. Deixaram o ginásio estranhamente silencioso – quando o locutor histérico da arena permitia, claro –, tenso, irrequieto, com muito suspense: quem venceria??? Jogão.

Acontece que, do outro lado, o talento reunido era enorme, além de muito determinado e bem treinado. Uma artilharia incomparável, com três, quatro ou até cinco atletas espalhados pela quadra com potencial de acabar com a partida em um instante.

São 30 pontos de Kevin Durant, que nunca arremessou livre de três pontos tantas vezes em sua carreira, 19 de LeBron James, 17 de Kobe Bryant e, na hora de desafogar, mais 11 para Chris Paul, todos no segundo tempo. E pensar que ainda faltaram cestinhas como Dwyane Wade, Derrick Rose e Chris Bosh.

17 pontos para Kobe

17 pontos para Kobe

Com tanta gente boa, a defesa adversária não sabe muito o que fazer. Cobre de um lado, descobre o outro, e convive com um aproveitamento de 41% nos tiros de fora, com 45 pontos produzidos desta maneira. Abre sua defesa e permite as infiltrações dos mesmos atletas versáteis, com um aproveitamento de 58% no jogo interno. Chumbo grosso.

O que faltou aos Estados Unidos na final só foi uma defesa mais eficiente, mais intensa, a qual seus superatletas poderiam conduzir – ou será que até eles se cansam numa temporada extenuante dessas? Pode ser. Eles só conseguiram a separação no placar no início do quarto período depois de encaixarem seguidamente boas defesas que resultaram em desarmes. E, de todo modo, não se pode subestimar quem estava do outro lado, porém: a Espanha escalou muita gente habilidosa e experiente para cuidar da bola – foram apenas 11 desperdícios de posse.

Essa estabilidade ofensiva ajudou a alimentar o excepcional Pau Gasol. Que os torcedores do Lakers tenham assistido a esse jogo atentamente, para não se esquecerem do talento formidável de seu pivô. Firme, sem fugir do contato e, melhor, sem perder a cabeça, terminou com 24 pontos, 8 rebotes e 7 assistências. Sete assistências do pivô! Mais do que LeBron e Paul juntos.

Gasol tentou de tudo, mas não contou com a ajuda de seu irmão – esse, sim, mais desequilibrado no jogo, cometendo quatro faltas em 15 minutos de partida, privando a Espanha de sua cartada supersize. No fim, foram os Estados Unidos que venceram a batalha por rebotes, mesmo com Tyson Chandler limitado a oito minutinhos. Palmas aqui para Kevin Love (9 rebas), Durant (mais nove) e LeBron (com sete).

Jogando com esta gana e preparação, vai ser difícil que alguém os derrote. Agora são 62 vitórias e uma derrota na gestão de Coach K, e apenas uma derrota, a da semifinal para a Grécia de Theo Papaloukas e Sofoklis Schortsanitis. O técnico não segue mais com a equipe para o próximo ciclo olímpico, mas Jerry Colangelo fica por lá, com a estrutura mantida. Aí fica difícil de competir, não importando os atalhos que queiram tomar.

O Coach K se despede do Team USA

O Coach K se despede do Team USA

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LeBron James é o primeiro jogador desde Michael Jordan a vencer o título da NBA, com os prêmios de MVP da temporada e das finais, na mesma temporada em que conquista o ouro olímpico. Um ano incrível e redentor para o fenômeno, realmente.

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Kevin Durant terminou as Olimpíadas com 156 pontos em oito jogos, sendo o cestinha (no total) do torneio, batendo um recorde. Em média, Patty Mills foi o melhor, com 21,2 por partida, contra 19,5 do americano, que dessa vez não precisou carregar o time nas costas como aconteceu no Mundial de 2010.

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Na disputa do bronze, não deu o terceiro pódio seguido para nossos vizinhos. Ginóbili e Scola foram até o fim também (37,4 pontos por jogo para os dois, somados), mas não deu. Medalha para Rússia, e um talento como Andrei Kirilenko merecia a dele. Assim como o técnico David Blatt. Se temos nosso técnico argentino, precisou um norte-americano para reformular a seleção russa, realizando o potencial do país.

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A carreira de Anthony Davis, 19, começou bem, não? Um título universitário, quatro meses depois o ouro olímpico. Simbolicamente, a bola terminou em suas mãos. Que venha o futuro.


Semifinais têm histórico apimentado. E segue o torneio olímpico
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Giancarlo Giampietro

A agenda olímpica está bem apertada no QG 21, o ritmo está um pouco mais lento do que deveria, mas… Mas… É isso, tá?

Bem, o Brasil está eliminado, mas isso não quer dizer que a graça acabou. Para quem curte o basquete, não importando as cores do uniforme, tem muito mais o que se assistir em Londres-2012.

Nocioni e Scola para o rebote

A semifinal histórica de Atenas-2004

A Argentina vai fazer de tudo para catimbar e pressionar os Estados Unidos. Um time é claramente superior ao outro. Mas as vitórias históricas – de dez, oito anos atrás, vá lá –, a milonga, a experiência, o orgulho reforçado pelo triunfo sobre os arquirrivais… Todo esse pacote pode dar aos nossos vizinhos pelo menos a chance de sonhar. Chance mínima, improvável, mas quem vai dizer que é impossível?

A questão para o Team USA é apenas como encarar as provocações e golpes baixos já desferidos na primeira fase e nos amistosos: servem de mais combustível ou podem atrapalhar de alguma forma?

Na outra semifinal, temos a amada, venerada e respeitada Espanha.

Ou nem tanto.

Rússia, campeã do Eurobasket-2007

Título russo em Madri. Isso aí

Sempre que eles pisarem em quadra neste torneio – e, pela repercussão, deve durar pelo menos mais um ano –, os irmãos Gasol & cia. de craques serão cobertos sobre a suposta entrega de jogo contra o Brasil. E, na verdade, a partir deste post, a tentação é de abrir mão de qualquer pudor a respeito. Tirando os espanhóis, não há quem venha a público para defender/desmentir o papelão que fizeram. No fim, uma geração vitoriosa dessas pode ser marcada por uma tremenda de uma bobagem.

Sobre o confronto em si com os russos, há muito em jogo. Em 2007, já com David Blatt no comando, os ex-comunistas chocaram a Espanha inteira vencendo os anfitriões na final do Eurobasket, em pleno Palacio de Deportes de Madri, não se esqueçam. Foi uma vitória heróica e dramática por 70 a 69, com o decisivo norte-americano JR Holden. Os espanhóis venceriam as duas edições seguintes do torneio, mas algo me diz que eles trocariam as duas taças por aquela perdida. E, vejamos, na primeira fase, deu Rússia novamente, né? Derrota que empurrou os ibéricos a tomarem aquela decisão supostamente fatídica e lamentável.

Pimenta não falta.


Argentina vence o Brasil novamente, e dessa vez não há um carrasco ou vilão. Foi só o jogo
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Giancarlo Giampietro

Nenê x Juan Gutiérrez

Nenê e Varejão tiveram juntos os mesmos 11 pontos de Gutiérrez

Por muito tempo, uma crítica predominou sobre a seleção brasileira: a de que basquete da seleção brasileira era por vezes muito destrambelhado. Nesta quarta-feira, o time foi bastante cuidadoso – foram somente oito bolas desperdiçadas de graça em 40 minutos, um fato raro. O problema é que essa passividade atingiu a equipe do outro  lado da quadra também. Por três períodos, faltou a combatividade na defesa que vinham apresentando até então na competição.

Era como se o time de Magnano estivesse esperando que a Argentina se cansasse no fim, para que aí, sim, desse o bote. Se foi isso mesmo, quase deu certo.

Quase.

Com 1min45s para o fim, uma larga diferença de até 15 pontos caiu para três, 74 a 71.

Os brasileiros conseguiam, a essa altura, enfim defender, liderados por Nenê, que, no sacrifício, brecou Luis Scola, impedindo que o argentino fosse acionado. Quando os adversários conseguiam envolver o pivô brasileiro em simples trocas, o pivô também foi bem, mesmo quando atacado frontalmente por Carlos Delfino.

O problema é que… Uma vez feito o “serviço sujo”, uma vez tendo o time voltado ao jogo, as precipitações voltaram, e com tudo, no ataque. Primeiro, Alex, com uma falta de ataque atropelando Manu Ginóbili, e Marcelinho Huertas, com um chute de três pontos mesmo tendo um Scola carregado de faltas à sua frente. No fim, com Leandrinho abaixando a cabeça e se deixando encurralar na lateral da quadra. Entre o primeiro erro e o terceiro, foram três pontos para o ligeirinho, dois para Nocioni e quatro lances livres convertidos por Ginóbili, Scola e Delfino (dois cada). O placar pulava para 80 a 71, restando 30 segundos. Aí já era.

A ideia aqui não é apontar culpados.

Chegando a esse ponto, a seleção penava para alcançar a marca da medíocridade, 50%, nos lances livres. Foram 12 desperdiçados em 24 batidos. Se pelo menos seis amais tivessem caído… Os argentinos também erraram seus chutes parados na linha (9 em 28, 68%), mas saíram com sete pontinhos preciosos a mais no fundamento.

Mas podemos ir além. Splitter e Nenê sempre se atrapalharam com lances livres, mesmo. Então talvez fosse injusto colocar esse fardo em seus ombros, ainda mais com os argentinos fazendo faltas descaradamente.

Então, o que falar daquela velha coqueluche? Os tiros de três pontos. Depois de duas partidas atípicas diante de chineses e espanhóis – convenhamos, galera, não dá nem para comparar a intensidade desses dois duelos com os três primeiros do grupo –, a seleção caiu na arapuca: voltou a atirar desenfreadamente de fora.

Foram apenas 7 convertidos em 23 tentativas, resultando em anêmicos 30% de aproveitamento. Se lembrarmos que duas dessas caíram em chutes no desespero de Leandrinho no finzinho, é provável que a seleção tivesse uma pontaria de apenas 25% até os minutos finais. Um número pífio, que foi cultivado durante todo o torneio e acaba, no fim, jogando contra, sabotando seu próprio empenho defensivo. E, ainda assim, superior aos 29% dos oponentes. Creiam.  Mas não que a falha de um redima a do outro.

De novo o Brasil teve chances, mas não soube capitalizá-las. Pesa a experiência de nossos vizinhos, o maior talento individual de dois jogadores, mas contam também erros que se repetem com uma frequência que acaba sendo implacável.

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O Bala havia cantado a pedra já no primeiro tempo, o Murilo, que cobriu o torneio in loco, só reforçou: a Argentina propôs ao Brasil, especialmente no primeiro tempo, a mesma armadilha do confronto das oitavas de final do Mundial de Istambul-2010. Pablo Prigioni estava claramente com sua movimentação debilitada, não conseguia e nem tentava acompanhar Huertas, mas Júlio Lamas não se mostrava nada preocupado. Manteve em quadra seu veterano, que perdeu dois jogos devido a cólica renais, e só usou o novato Campazzo por dois minutinhos na etapa inicial. Que o armador chutasse todas, mesmo, privando o jogo interno do Brasil de mais algumas investidas. Lembrando que o jogo com os pivôs funcionava muito bem no primeiro quarto, com Splitter e Varejão, forçando inclusive as duas faltas em Scola.

No fim, muitos jogadores foram alienados: enquanto o Brasil teve 22 pontos de Huertas e outros 22 de Leandrinho, fora a dupla, só Alex passou teve dois dígitos na pontuação (11). De resto, foram 2 pontos de Machado, 2 de Larry, 4 de Varejão, 7 de Nenê, 2 de Giovannoni e 6 de Splitter.

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Dessa vez não houve um “carrasco”, um “algoz”, um super-herói argentino que tenha esmigalhado. Com um ataque mais solidário, nossos vizinhos contaram com 17 pontos de Scola, 16 de Ginóbili, 16 de Delfino, 12 de Nocioni e 11 de Juan Gutiérrez. Creiam: o pivô reserva argentino, sozinho, marcou o mesmo número de pontos de Nenê (7) e Varejão (4) somados.

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Terminar os Jogos de Londres em quinto lugar não é o fim do mundo, claro. No fim, a seleção mais venceu (quatro) do que perdeu (duas). Para quem não participava da competição há 16 anos, parece algo satisfatório. E aí você que tem de decidir em qual grupo se enquadrar: numa faixa mais condescendente e/ou conformada, está de bom tamanho a campanha. O Brasil competiu em alto nível, fez o que dava e parabéns. Se for mais minucioso, inevitável também a sensação de que dava, sim, para buscar mais neste torneio.

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O basquete volta a ser discutido. As pessoas voltam a torcer por basquete no Brasil. Mas estamos bem distantes de presenciar uma massificação do esporte. A CBB contratou um ótimo técnico, ok, mas este é apenas um paliativo, um movimento de curto prazo. Podem elogiar a seleção pela campanha londrina, mas as palavras não podem ser usurpadas por quem não é de direito.

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O discurso de que o Brasil ao menos resgatou um pouco de seu prestígio internacionalmente se justifica até a segunda página. A seleção foi elogiada, jogou no pau contra um time duas vezes medalhista olímpico, e tal. Inegável. A dúvida que fica é: até que ponto esse prestígio vai ser levado adiante? Em breve, venho  as datas de nascimento com mais calma (vocês podem checá-las aqui), mas exsiste  a possibilidade de que a participação em Londres pode ter sido a primeira e última de muitos dos jogadores do Magnano.


Após murro e derrota, furioso Batum detona seleção da Espanha
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Giancarlo Giampietro

Batum acerta soco em Navarro

Golpe baixo de Batum em Navarro

Quando você está perdendo a partida e resolve dar um soco (veja animação) em um de seus adversários, com golpe baixo, isso não estaria exatamente de acordo com o ideal espírito olímpico, não? O ala Nicolas Batum não está nem aí, porém: “Se perde você um jogo de propósito, isso é espírito olímpico?”, respondeu já perguntando o francês, ao ser questionado se a agressão em Juan Carlos Navarro feria a cartilha do Barão de Coubertin.

Foi um ataque, então, em todos os sentidos, e com raiva, contra os espanhóis, que teriam, digamos, facilitado a vida do Brasil no complemento da primeira fase olímpica para enfrentar os franceses nas quartas de  final e, principalmente, escapar dos Estados Unidos nas semis.

A essa altura, a imprensa internacional e a própria mídia do país assumem que a Espanha entregou a partida para a seleção de Magnano. Já dissemos que pouco importava.

Para Batum, no entanto, importou, e muito.

 Na mesma entrevista ao intrépido Adrian Wojnarowski, superjornalista do Yahoo! norte-americano,  o jogador do Portland Trail Blazers foi além ao comentar seu murro em Navarro: “Queria dar uma boa razão para ele se jogar”. (Na verdade, ele usa o termo “flop”, que seria o nosso “cavar falta”, fazer teatro para iludir a arbitragem.)

Pegou pesado o francês, que, ironicamente, muitas vezes é criticado na NBA por sua suposta passividade em quadra.

 Não ficou só nisso, aliás: durante a entrevista coletiva posterior ao jogo, o técnico francês Vincent Collet se recusou a responder uma pergunta de um repórter espanhol… Justamente pelo fato de ele ser espanhol.


Nada de entregar: Espanha batalha no segundo tempo e está na semifinal
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Giancarlo Giampietro

Marc Gasol vibra contra a França

Marc Gasol entrou um pouco mais cedo no quarto final e decidiu

O quarto período avançava equilibrado, e lá estavam Marc Gasol, Rudy Fernández e Juan Carlos Navarro novamente enterrados no banco de reservas. Mas dessa vez dá para cravar: a Espanha não entregou a vaga nas semifinais para a França.

😉

Os campeões europeus fizeram mais uma partida apática no primeiro tempo, com problemas defensivos tanto como ofensivos. Vai ver que, ao justificar a derrota para o Brasil no encerramento da primeira fase, alegando que tem em seu elenco uma série de jogadores avariados fisicamente, o técnico Sergio Scariolo não estivesse blefando tanto assim. (E, de novo: se estava, a seleção não tinha nada com isso, embora não tenha se esforçado tanto assim.)

Ou estava, mesmo. No segundo tempo, sua equipe apertou o cerco, permitiu apenas 22 pontos em 20 minutos – tendo levado no quarto período apenas seis. Foi um desempenho bem  mais de acordo com o que a Espanha mostrou nos últimos anos.

Pois era difícil de entender: eles estão com o time completinho, incluindo o contratado Serge Ibaka pare formar, teoricamente, o melhor garrafão de Londres-2012. Sua base atua junto há mais de uma década. Nunca faltou intensidade para esta seleção, que, quando escalou Pau e Marc Gasol, se habituou a dominar os adversários nas últimas temporadas, esbarrando apenas nos Estados Unidos em Pequim-2008.

Neste torneio, no entanto, estavam correndo o risco nesta quarta de se despedirem com três vitórias e três derrotas, o que só faria crescer a frustração olímpica de seu país, que tanto precisa de glórias na capital inglesa para amenizar (naquelas) sua penúria financeira.

Supostamente, Navarro e Marc Gasol não estão disputado o torneio na melhor forma – daí os minutos poupados no início do quarto final? Rudy Fernández também passou por uma cirurgia nas costas no último mês de março. Seriam, então, três titulares baleados. Mas a grande força da equipe era justamente o volume de seu plantel, podendo selecionar 12 atletas que jogam nas duas principais ligas nacionais do mundo, a NBA e a ACB, oras.

Sergio Llull tratou de provar essa força no segundo tempo, perseguindo e anulando Tony Parker, sem aceitar o corta-luz de Boris Diaw. O armador zerou no quarto período, limitado a apenas quatro chutes, todos errados.

Nos minutos finais, a envergadura dos irmãos Gasol também fez a diferença. A França buscou as infiltrações, mas suas investidas eram contestadas pelos dois gigantes. Do outro lado, Marc foi quem apareceu para o desafogo. Uma bandeja sua a 40 segundos do fim abriu uma vantagem de cinco pontos. Num jogo tão equilibrado como esse, com duas defesas muito intensas, os cinco pontos eram uma enormidade, de modo que o destempero de Ronny Turiaf e Nicolas Batum só veio para confirmar o triundo daqueles que enfim jogaram como campeões.

Agoram, com muito custo, a Espanha conseguiu o que queria: está na semifinal, sem ter os Estados Unidos pela frente. Revanche marcada contra a Rússia.


Um Kirilenko exuberante para encerrar a série de semifinais da Lituânia
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Giancarlo Giampietro

Kirilenko arrasa a Lituânia

Foram 19 pontos, 13 rebotes, 3 assistências, 3 tocos e 3 roubos de bola de Andrei Kirilenko. Tá bom para você?

O ala russo teve mais um jogo daqueles em que levou o dinamismo ao extremo em uma quadra de basquete e foi a figura estabilizadora, ao lado do comparsa Viktor Khryapa, na vitória da Rússia sobre a Lituânia, por 83 a 74, nesta quarta-feira, na primeira partida pelas quartas de final do torneio olímpico.

Foi umembate bastante estressante no quarto período, com uma avalanche de erros por parte das duas seleções, especialmente nos dois minutos finais. De modo sintomático, o técnico norte-americano David Blatt, da Rússia, terminou o jogo com o nariz sangrando. Haja pressão!

Alexey Shved, a revelação russa, fez um monte de bobagem na partida, somando quatro desperdícios de posse de bola e apenas duas cestas de quadra em 12 tentativas. Um horror.

Para livrar a barra do jovem armador, foi necessária a atuação magistral de AK47. Na fase em que ele está, deve ser difícil encontrar um jogador que faça seu treinador tão feliz em quadra: sem precisar da bola em suas mãos, o ala desequilibrou o jogo, aparecendo sempre bem colocado para finalizar próximo ao aro, apanhar rebotes ofensivos e desarmar o ataque adversário. Seu tempo de bola é impecável.

Já Khryapa não pratica tantas acrobacias assim. Pelo contrário: está quase sempre com os pés no chão. O que veio bem a calhar no confronto com os lituanos: se Shved não conseguia dar ritmo nenhum a sua equipe, o ala assumiu o controle e distribuiu oito assistências por conta, que se somaram aos seus seis rebotes e 12 pontos.

Juntos, os dois alas também ajudaram a limitar o cestinha lituano, Linas Kleiza, a míseros quatro pontos, 11 abaixo de sua média no torneio.

Depois de se classificar para as semifinais nas últimas cinco Olimpíadas, a Lituânia agora está fora. Com república solitária, a Rússia alcança esta fase pela primeira vez em sua história.