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Arquivo : Klay Thompson

LaVine, as enterradas e a parte 2 de um fim de semana com as estrelas
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Giancarlo Giampietro

Zach LaVine salvou o torneio de enterradas.

(Ok… Podem discordar por um tempo. Momento de desabafo, simbora.)

O que o garoto do Minnesota Timberwolves fez neste sábado no Barclays Center é tudo o que se cobrava nos últimos anos malfadados da disputa, em teoria, mais nobre do fim de semana das estrelas da NBA. Conseguiu executar alguns movimentos inéditos, só não beijou o aro porque não quis, agitou o ginásio todo. E fez tudo isso com a pressão de favorito para o concurso, sem frustrar as expectativas.

O problema é que já são 31 anos de concurso. Chega uma hora que é difícil encontrar um meio de surpreender. Se a gente espera sempre o novo, aí tem de conviver com os erros de Victor Oladipo na etapa final – o cara tentou coisas impensáveis, improváveis e acabou pagando o preço por isso.

Paciência, e muito bem.

Agora LaVine tem um desafio pela frente: carregar o oba-oba pela conquista nas cravadas para a continuação de sua carreira. Algo que não acontece tão frequentemente assim, desde que a liga passou a ter dificuldade para convencer seus principais nomes ou apostas a participar da disputa, desde a virada dos anos 90 para a década passada – excluindo aqui Dwight Howard (já consagrado) e Blake Griffin (a verdadeira exceção, quando calouro).

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Além disso, Howard e Griffin já integram outro grupo, que é o dos grandalhões que triunfaram nas enterradas. Na lista os vencedores na história, a maioria esmagadora é de alas. Muitos deles capazes de lances mirabolantes com a quadra limpa, sem oposição do outro lado que não a pressão psicológica, mas que, num ambiente de cinco x cinco, se revelam limitados.

Terrence Ross ainda está nessa luta em Toronto. Jeremy Evans voltou a ser enterrado no banco de Utah. Gerald Green precisou rodar o mundo todo até reencontrar seu espaço, e nem dá para garantir que, terminado seu contrato com o Phoenix Suns, vá ter um grande emprego na próxima temporada. Fred Jones, Desmond Mason foram competentes no que lhes foi pedido, mas só. De 2000 e Vince Carter para cá, talvez só mesmo Jason Richardson se enquadre na categoria de atleta que foi além das dunks e fomentou uma reputação maior como jogador, para além de sua capacidade atlética – com bom chute de três pontos, boa defesa, mas um arsenal ofensivo um tanto reduzido. Ainda assim, ainda tem em suas cravadas de 2002 e 2003 como os melhores momentos de sua carreira.

LaVine, pelo pouco que vimos nesta temporada, tem muito potencial para derrubar essa suposta barreira, com bom controle de bola e arranque incrível. Mas ainda tem uma longa jornada pela frente, na qual nada é garantido. O ponto positivo para ele, nesse sentido, é que o presidente/técnico Flip Saunders, antes um rabugento com calouros, tem se esforçado para encontrar tempo de quadra para o adolescente de apenas 19 anos, independentemente da forma física de Ricky Rubio ou das estripulias de Mo Williams, que acabou trocado para Charlotte.

Se o seu desenvolvimento acontecer da forma esperada, o Wolves terá mais uma peça para compor um futuro brilhante – desde que, claro, na hora de chegar a hora de renovar os contratos de tantas promessas, consiga convencê-los a ficar em uma terra gélida e pacata.

Mais algumas notas, observações:

– É uma balança difícil, uma discussão que talvez não tenha fim, a procura pelo equilíbrio entre o que é “certo” e “puro” com o que seja “espetacular”, numa conotação que, para alguns, singifica “espalhafatoso”. Sempre que um jogador for encarar a cesta para tentar suas acrobacias, esse debate vai ser resgatado, para tentar entender o que poderia estar dando errado, ou certo, no basquete.  Uma coisa realmente exclui a outra? São poucos os que chiam, se é que eles existem, sobre o concurso de arremessos de três pontos. Afinal, o ato do chute seria algo legítimo da modalidade, sua finalidade. A glamorização das cravadas já significaria a corrupção. Por outro lado, é claro que também há quem só saiba valorizar acrobacias na quadra e ignore tantos outros elementos ricos e decisivos do jogo. A melhor solução não é tentar sempre conciliar as coisas, encontrar o meio termo nesse tipo de – sério, mesmo!? – polêmica? Hoje essa coisa de bola ao cesto já envolve muita gente, digamos, grandinha, em todos os sentidos. Enterrar faz hoje parte do jogo.

– Victor Oladipo, o vice-campeão de LaVine, acabou levando o prêmio de revelação artística da noite, com duas sacadas bacanas: primeiro cantou “New York, New York” em sua entrada na quadra, depois aproveitou as presenças ilustres de beira da quadra para autografar uma bola.  Quem diria: três anos atrás, o ala-armador era apenas mais um na Universidade de Indiana. Um prospecto bem cotado por sua defesa e nada muito além disso – supostamente, era para ele ser um jogador ‘sério’, gente…

– Na disputa dos chutes de três, a final esperada entre os Splash Brothers do Golden State. O problema foi a desconcentração de Klay Thompson na hora de tentar bater o companheiro Stephen Curry. A exibição do armador, tendo acertado 13 bolas em sequência, claro, contribuiu para tanto. Mas há também outro caminho que a gente pode seguir nessa, falando sobre a transmissão americana original. As interações de Reggie Miller, Kenny Smith, Charles Barkley etc.  passaram, em tempo real, também no telão e no sistema de som do ginásio do Nets. Fico imaginando se a matraca de Miller não acaba sendo um obstáculo ainda maior para os arremessadores hoje do que um Tony Allen ou Kawhi Leonard.

– James Harden  não foi nada bem nessa competição, mas não tem do que reclamar: tem sido, consistentemente, um dos mais aplaudidos durante todo o final de semana. O ala-armador, entendemos, já é uma estrela oficial da liga, e não só para os nerds. Missão cumprida: foi por um belo cheque, mas também por esse motivo que ele deixou OKC. Ele e sua barba merecem.

– Mais reverenciado que Harden só, mesmo, Paul McCartney, que estava perdido pelo Barclays Center, com cara de que não entendia nada quando flagrado no telão. O Beatle superou as candidatas a rainhas pop Rihanna, sua surpreendente companheira de gravação, e Nicki Minaj, a trinitina responsável por Anaconda, a música. Isso, no mesmo dia em que fez um show quase que intimista em NYC. Show ao qual não fui. Rrrrrghhh.

– No desafio das habilidades, é muito irônico que Patrick Beverley, justamente aquele que leva a bola por menos tempo em seu time, tenha sido o campeão. Escolta de Harden no dia a dia do Houston Rockets, acabou prevalecendo na final contra Brandon Knight. Um feito e tanto para um jogador que foi draftado pelo Lakers em 2009 e nem teve chance com Phil Jackson, sendo trocado para Miami, aonde também foi ignorado. Depois, o aguerrido Beverley defendeu o Olympiakos brevemente na Grécia e ainda passou pelo basquete russo antes de ser contratado pela franquia texana, forçando, nessa, a dispensa do armador Scott Machado. É por sua atitude e pressão que coloca na defesa que foi valorizado. Neste sábado, conseguiu mostrar que vai um pouco além disso. (PS: Kyle Lowry confessou para os jornalistas que estava esquecendo de que era um dos inscritos no evento, de tão empolgado que estava com sua seleção para o All-Star Game).  

– Impressionante a qualidade do sinal wireless dentro do Barclays Center. Compartilhado com milhares de pessoas, e, mesmo assim, melhor que o de casa. O mundo, porém, não é dos Nets, infelizmente.

– Vou escrever com mais detalhes neste domingo ou segunda, mas o armador Guilherme Santos vai mandando muito bem no camp Basketball without Borders, da NBA, que ocorre em Nova York de modo paralelo ao All-Star. Podem anotar o nome do jogador de 17 anos, recém-contratado pelo Bauru, ex-Barueri. Bons papos sobre Bruno Caboclo e Georginho também saíram do ginásio do Baruch College, onde passei boa parte deste sábado, botando o papo em dia também com o chapa Jonathan Givony, do DraftExpress. Aguardem.

– Agora, a grande festa nos espera no Madison Square Garden. O jogo das estrelas da NBA tem transmissão do Canal Space no Brasil, com direito a comentários de Magic Paula.


All-Star só evidencia a enorme engrenagem do marketing em torno da NBA
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Giancarlo Giampietro

NBA, marketing, adidas, nyc, all-star

Peça promocional no corredor de entrada do MSG

Todo mundo sabe que, dentre tantas as coisas que a NBA conduz com maestria, o marketing aparece no topo da lista. Até o intelectual mais introvertido ou esnobe, que tem ojeriza ao esporte, seja qual for a modalidade, deve ter tomado nota a respeito disso.

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Em Nova York, a liga obviamente botou as manguinhas de fora para promover o espetáculo do All-Star Weekend, seu final de semana das estrelas. Afinal, as atividades oficiais para o evento já começaram nesta quinta-feira. Sem contar que, além de italianos, chineses, gregos, egípcios, paquistaneses, coreanos, porto-riquenhos e, sim, brasileiros, muito brasileiros, a metrópole mais legal do mundo dá abrigo também a Adam Silver e sua turma. Devidamente acomodados na avenida Madison.

(Parêntese: se a nossa Avenida Brasil fez estrondoso sucesso no Plim-Plim, chegou a hora de uma série americana dar conta de Madison Avenue. É um baita nome, convenhamos, rivalizando com Melrose Place. De qualquer forma, pensando bem, talvez nenhuma série vai fazer mais justiça a essa vizinhança do que Mad Men nos ofereceu nos últimos anos. Fim de digressão.)

O próprio fato de termos um Fim de Semana das Estrelas, em vez de um isolado Jogo das Estrelas, é uma das tantas evidências desse tino comercial arrojado e bem sacado. Para que se limitar a duas, três horas de um domingo, se a quinta, a sexta e o sábado estão por aí para fazer companhia?

Na sexta, ocupa-se do antigo jogo dos novatos, hoje jogo das Estrelas Ascendentes, colocando mais gente no pedaço, com o atrativo de separar estrangeiros e americanos – algo que muitos torcedores e jornalistas já sonharam e especularam, mas que, por ora, não dá para fazer na competição principal. Desnível absurdo, mesmo que Tim Duncan e Kyrie Irving fossem para o lado dos gringos. Kevin Durant também poderia dar uma força, se tivesse em sua ficha sua verdadeira origem marciana. A sexta, aliás, será dividida em duas frentes, com a rapaziada mais nova em Brooklyn e as celebridades no Madison Square Garden.

Essa é a novidade, aliás. A liga ocupando dois ginásios sensacionais para fazer sua festa. A casa do Brooklyn também verá as competições de enterradas e arremessos, enquanto o Garden recebe O Jogo, mesmo. Mas não fica nisso: a Long Island University e o Baruch College também cedem quadras para treino. Hotéis são ocupados para eventos e propósitos administrativos. E por aí vai.

Se você for circular pelas ruas de Manhattan e Brooklyn – desde que com muito cuidado, pois é gelo para tudo que é lado –, não terá como ignorar o evento. São cartazes e telões por toda a parte, sempre dando um jeito de incluir Michael Jordan, que não faz mal nenhum.

MJ nasceu no Brooklyn, como nos relembra o cartaz do outro lado da Flatbush avenue, de frente para a entrada principal do Barclays Center. Sua Alteza, porém, cresceu na Carolina do Norte e se formou como jogador por lá, antes de se mudar para Chicago e curtir a vida

MJ nasceu no Brooklyn, como nos relembra o cartaz do outro lado da Flatbush avenue, de frente para a entrada principal do Barclays Center. Sua Alteza, porém, cresceu na Carolina do Norte e se formou como jogador por lá, antes de se mudar para Chicago e curtir a vida

Mas aqui chamo a atenção para algo mais profundo que as piadinhas de sempre: a NBA não está sozinha nessa. Diversas marcas também pegam carona nessa e transformam os veículos de marketing da liga em um grande comboio. E não são necessariamente apenas os parceiros oficiais, gente. Todo mundo quer estar perto disso. Não só por ser a maneira de se envolver como o produto geral que é a liga, mas também para valorizar suas próprias marcas, mesmo que elas não possam comparecer ao evento, seja por corte devido a lesões (é, Blake Griffin e estimado Monocelha, já estão fazendo falta…), seja por exclusão da lista, mesmo (Joe Johnson até hoje circula pelos ônibus, todo deslocado).

Nesse ponto que é bom relembrar que, no discurso dos dirigentes da NBA no momento do anúncio de parceria com a LNB, marketing e setor comercial foram as prioridades. Por outro lado, na hora de avaliar a liga brasileira, é sempre bom tomar cuidado ao fazer paralelos. Nos Estados Unidos, temos toda uma cadeia produtiva construída. É uma engrenagem enorme em movimento. No Brasil, nem mesmo o futebol faz as coisas dessa forma.

Você pode imaginar que, em meio a toda essa divulgação, maior batalha envolve as gigantes de material esportivo. A adidas acompanha o campeonato em tempo integral. A Nike se vê obrigada a comer pelas beiradas, investindo nos jogadores. Mas vocês também veem diariamente como as duas operam, né? Nenhuma vai se dar por vencida facilmente, proporcionando sempre uma boa briga. O swoosh, inclusive, ocupa uma loja em espaço nobre ao lado da entrada principal do Garden que é de fazer cair o queixo. City of Hoops, se chama. A Penn Station e o Atlantic Terminal também estão envelopados pela companhia. Em briga de gente grande, melhor não mexer.

Os jogadores são arrastados para o meio dessa saudável confusão. Lucro na certa. E não estão limitados a pôsteres. Também tem ação ao vivo para eles. Então que tal uma sessão de autógrafos de cards com Trey Burke numa loja gigante no centro de Manhattan, que já está toda tomada por produtos do All-Star Game? E uma aparição de Mason Plumlee e o do Zach LaVine na loja do Barclays Center? E o Klay Thompson? E um bate-bola entre Tobias Harris e Giannis Antetokounmpo em outro canto da cidade?

Sim, os personagens periféricos ganham espaço, divulgados como gente grande – enquanto LeBron James consegue se promover (e fazer boas ações) por conta própria, renovando centros esportivos para a criançada. A comercialização pode ser agressiva demais, mas, na verdade, ganham todos nessa, incluindo os torcedores, que têm a chance de entrar em contato com os jogadores, mesmo que não tenham os valiosos ingressos. Torcedores, mas pode chamar de consumidores.


Derrick Rose, o heroísmo e as boas e más notícias de Chicago
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Giancarlo Giampietro

Derrick Rose: não estava fácil. Assim como o jogo todo

Derrick Rose: não estava fácil. Assim como o jogo todo

Se tem um velho recurso narrativo, usado pelo vovô, pela vovó, pelo padre e até pelo delegado, um recurso de que não abro mão, que, creio, jamais vai perder a graça, é a quela história da boa e da má notícia. Qual você quer primeiro?

Depois do jogaço transmitido pelo Sports+ na madrugada desta quarta-feira, com a edificante vitória do Bulls sobre o Golden State Warriors por 113 a 111, na prorrogação, essa pergunta funciona perfeitamente para os torcedores do Chicago – e, por isso, admiradores irredutíveis de Derrick Rose. O armador teve uma das atuações mais estranhas, malucas e polarizadoras da temporada.

Primeiro vamos com a boa? Tá, tudo bem: Rose marcou 30 pontos e marcou a cesta decisiva no tempo extra. A má: ele precisou de 33 arremessos para chegar a essa contagem, acertando apenas 13 desses chutes. Também cometeu 11 turnovers e deu apenas uma assistência. É ou não é uma linha estatística bizarra – e imaginem se fosse Russell Westbrook a praticá-la?

Essa combinação suscitou um debate inflamado durante a madrugada, o que me admira muito.  Acho incrível que, a essa altura do campeonato, em 2015, o hero ball ainda seja considerado tão importante assim, a ponto de uma cesta ser considerada brilhante o bastante para ofuscar 20 tentativas de cesta em vão e 11 desperdícios de posse de bola. Da minha parte, acho que a melhor notícia, na real, foi o simples fato de o atleta estar em quadra, passando da marca de 43 minutos numa partida pela primeira vez em quase três anos, considerando tudo que ele já enfrentou. Ou que, juntos, os pivôs titulares somaram 36 pontos, 31 rebotes e 14 assistências, mataram 14-24 nos arremessos e terminaram o jogo 100% nos lances livres, dominando o garrafão do Warriors sem Andrew Bogut.

Tom Thibodeau obviamente se colocou entre os defensores do heroísmo – afinal, foi seu jogador e esperança de superestrela a protagonizar a discussão toda. O técnico usou aquele argumento de sempre: “Ele não permitiu que os arremessos perdidos… o afastassem da confiança de que ainda poderia tentar e acertar um chute decisivo”.

Mesmo que o chute não caia, Derrick Rose segue arremessando. A torcida do Bulls na expectativa

Mesmo que o chute não caia, Derrick Rose segue arremessando. A torcida do Bulls na expectativa

Olha, se fosse para ler a frase sem nenhum contexto, não há como contestá-la. A força mental para não se abalar pelos erros e tentar a vitória é uma grande virtude. Agora, depois de o cara desperdiçar 31 posses de bola (entre bicos e tropeços), certeza de que um arremesso como o que ele tentou era a melhor decisão?

A jogada de Rose no último ataque do Bulls, diante dos braços compridos e da boa marcação de Klay Thompson não é nada fácil de se fazer, especialmente quando você dá o passo para trás e tem um defensor equilibrado na sua cola. Requer habilidade atlética. Mas não vá me dizer que, além da confiança, também não tem sorte envolvida nesse tipo de jogada, especialmente quando estamos falando de um armador jamais elogiado pelo poder do arremesso de média para longa distância, e que não alterou tanto assim o seu desempenho na atual temporada. Thibs – sobre quem os rumores andam bem intensos, mesmo – não se importa: “Isso é um sinal de sua grandeza e de que ele está trabalhando para voltar a ser o jogador que todos sabemos que pode ser”, afirmou.

Dá para dizer que, além do técnico, 99,5% das pessoas envolvidas com o Bulls estavam aguardando com ansiedade um lance como esse por parte do armador, algo que justificasse toda a expectativa pelo retorno. Digo: um lance que comprovasse seu retorno. Até mesmo os repórteres dedicados a cobertura do clube não viam a hora de escrever a respeito. Nick Friedell, setorista do ESPN.com, listou todas as falhas de Rose no embate com o Warriors, mas diz que a cesta final supera tudo isso, mesmo que os 11 turnovers tenham sido um recorde pessoal.

“Esta terça-feira ofereceu mais um aviso de que o Bulls só vai chegar aonde Rose e seus joelhos reconstruídos possam levá-los”, cravou o jornalista. “Joakim Noah, Pau Gasol e Butler são importantes, mas Rose ainda é o cara que pode fazer mais diferença devido a sua habilidade de dominar os jogos no final e responder nas situações de maior pressão. Ele tem o tipo de habilidade de uma superestrela da qual seus companheiros podem se alimentar a cada noite. Quando o jogo está na mesa, eles tentam encontrar o antigo MVP em quadra, não importando o quão pobre tenha sido seu jogo até então.”

Certamente Friedell não foi o único que saiu com essa linha de argumentação. Suas frases saem diretamente da teoria de que só os times com craques transcendentais podem lutar por títulos na NBA. A mesma teoria que impede muita gente de aceitar o Atlanta Hawks como favorito. Concordar ou discordar dela é uma coisa. Outra, bem diferente, é incluir Rose nesse grupo só por causa de um arremesso certeiro, não?  Nada contra o armador ou o repórteres, mas, se já esperamos todos por um longo tempo, mais de dois anos, que custa dar mais algumas semanas de jogo para ver se a estrela está realmente na trilha para reassumir a velha forma?

Vamos descontar a temporada 2013-2014 aqui, já que ela rendeu apenas 10 partidas para ele, totalmente fora de ritmo. Então, se formos comparar a atual campanha do armador com o restante de sua carreira, nota-se que ele jamais cometeu tantos turnovers por jogo (seja na média por minutos ou por posse de bola). Seu aproveitamento nos arremessos, de 41,6%, também é a pior marca. Isso poderia se explicar pelo fato de ele nunca ter chutado tantas bolas de longa distância assim. Mas mesmo as medições que englobam tanto o rendimento nos tiros de fora e até dão mais valor para eles comprovam a dificuldade que vem tendo para pontuar. Em termos de eficiência, apenas seu ano de novato fica para trás. Que tal um pouco de calma?

A temporada de Rose em arremessos

A temporada de Rose em arremessos

Muita coisa já passou e ainda passa pela cabeça de Rose, claro. A cesta da vitória contra o Warriors pode ser um passo importante para a recuperação de seu jogo – uma vez que confiança nunca foi um problema para o atleta, que, por exemplo, se recusava a recrutar agentes livres no mercado. “Como jogador, eu quero esse tipo de momento”, disse Rose, sobre a chance de matar uma partida. “Quero este arremesso. Meus companheiros me deram a bola para assumir a responsabilidade, e não vou fugir disso, não vou abrir mão disso. Se meus companheiros vão me dar a bola para isso, é algo que me faz sentir muito bem.”

De novo: é bacana ele enfrentar esse tipo de situação e sair bem com ela. Cabe uma pergunta, porém: o Bulls realmente depende de um Rose a 90, 100% para sonhar alto na Conferência Leste? Dizer que Rose é o único talento que realmente faça a diferença neste elenco não é menosprezar o quanto Noah batalhou enquanto o camisa 1 estava fora? O que dizer de Pau Gasol, um dos maiores pivôs de sua geração? E a ascensão fantástica de Jimmy Butler?

Bem, o torcedor mais atento vai poder apresentar alguns contrapontos para cada uma dessas alternativas: há jogos em que Noah está se arrastando pela quadra; Gasol tem números fantásticos, mas, aos 34 anos, é perigoso depender dele, mesmo que tenha números que se equivalem aos de cinco anos atrás; Butler caiu muito de rendimento neste mês. Check, check, check. De qualquer forma, qual a diferença entre apostar neles e esperar que Rose volte de forma messiânica? O que parece mais implausível hoje? E mais: o clube precisa, mesmo, desse salvador?

A contratação de Gasol e de Nikola Mirotic já tornava, em teoria, este elenco do Bulls como o mais talentoso da era Thibodeau. Ninguém jamais poderia prever tamanha evolução de Butler, o que supera qualquer decepção gerada pelas lesões e péssimas partidas do badalado calouro Doug McDermott. Essa guinada em recursos técnicos se traduziu num ataque bem mais respeitável: o nono mais eficiente da NBA, acima de Spurs, Blazers e Rockets, por exemplo. Na temporada passada, você precisava usar bastante o scroll para encontrá-los nessa relação (antepenúltimo lugar). Em 2013, terminaram em 24º.

Mesmo que não tenha muitos arremessadores, Thibs consegue desenhar jogadas criativas que espalha bem os jogadores pela quadra e abre boas oportunidades para os pivôs trabalharem em dupla e para que Butler (e Rose) descolem bons ângulos para atacar o aro. Neste mês, mesmo sem os 41,7% de Mike Dunleavy Jr nos arremessos., o Bulls ainda aparece com o décimo ataque mais eficiente.

O problema é que os ganhos no ataque coincidem com perdas do outro lado da quadra. Se a temporada terminasse hoje, a equipe teria apenas a 12ª melhor defesa e terminaria fora do top 10 pela primeira vez desde… 2009! Ano em que tinham John Salmons, Ben Gordon, Tyrus Thomas, Brad Miller e Tim Thomas. Faz tempo, mesmo.

Aaron Brooks, arma nem tão secreta assim

Aaron Brooks, arma nem tão secreta assim

O Bulls precisa, quem diria, melhorar na hora de proteger sua cesta. Para entender isso, o desgaste de alguns atletas tanto do ponto de vista psicológico como físico não deve ser relevado – as rotações pesadas de Thibs geram calafrios em Chicago. Resgatar a intensidade, tapar os buracos não seja tão simples assim. Gasol não era uma figura comprometedora em Los Angeles só pelo fato de que estava pê da vida com os Mikes. Butler ataca mais hoje, então vai sentir um pouco as pernas na hora de tentar parar LeBron ou seja lá qual cestinha. Noah é fundamental no sistema e não é nem sombra do jogador da temporada passada. Gibson ficou um tempo fora. Mirotic está se adaptando. Kirk Hinrich ainda luta ferozmente na marcação fora da bola, mas está um ano mais velho. Etc. Etc. Etc. Há vários pontos individuais que possam explicar isso. Mas é só

Thibodeau ainda tem tempo para fazer alguns ajustes na rotação. Seu quinteto mais utilizado até o momento (Rose-Butler-Dunleavy-Gasol-Noah) tem saldo de 5,6 pontos em média por 100 posses de bola, em 271 minutos. O segundo, porém, trocando Rose por Hinrich, despenca para -7,0, em 118 minutos. O terceiro, com Hinrich no lugar de Dunleavy e Gibson na vaga de Noah, sobe para 3,7, em 116 minutos.  Uma curiosidade é que, das seis melhores combinações, cinco têm o baixinho Aaron Brooks em quadra, perdendo apenas para um quinteto com Rose-Hinrich-Butler-Mirotic-Gasol. Todas essas formações, no entanto, ganharam muito pouco tempo de quadra e apresentam um saldo de cestas irreal. Outro padrão detectado: Hinrich teria de jogar ao lado de Mirotic e/ou Brooks, para compensar no ataque.

Vale a pena prestar a atenção em Brooks, de todo modo. É engraçado isso, mas ele está repetindo, mesmo, aquilo que aconteceu com DJ Augustin e Nate Robinson, fazendo a melhor temporada da sua vida como reserva do Bulls, seja em eficiência como em produção por minuto. Com o ligeirinho em quadra, o Bulls vence seus adversários por +6,2 pontos/100, quase o dobro de sua média na temporada. Apenas três dos dez quintetos em que ele aparece dão saldo negativo. Por outro lado, ele só ficou ao lado de Rose por 35 minutos. Tiveram tremendo sucesso juntos. Talvez pelo fato de Brooks aliviar a pressão em Rose como força criadora. Outro que merece mais minutos: Mirotic.

São diversas as opções de troca para o técnico fazer o time decolar, enquanto Rose vai se redescobrindo em quadra. Para o armador se consagrar, é preciso primeiro que o time esteja pronto, posicionado para realizar grandes façanhas, como aconteceu contra Golden State – e que ele renda muito mais do que fez na metade inicial do campeonato, claro. Num cenário ideal, com muito território para ocupar e um grande potencial a ser explorado, o Bulls não precisaria de atos salvadores do astro: venceria os jogos antes disso. Agora, se for preciso e ele entregar, seria, sem dúvida, a notícia mais empolgante para a torcida Chicago.


Em números e frases: o jogo insano e flamejante de Klay Thompson
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Giancarlo Giampietro

Você acorda no meio da madrugada – e dessa vez o calor nem foi desculpa, deve ser coisa da idade, mesmo –, e acaba pegando o celular para ver que horas são. Aí abre o aplicativo Game Time da NBA para ver como havia terminado a rodada que acontecia depois de Mavs x Bulls. Na hora de conferir o último resultado do dia, mais uma lavada do Golden State Warriors em que eles passam dos 120 pontos, pumba: 52 saíram só na conta de Klay Thompson!

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Daí você abre o Twitter, e os Estados Unidos da América estão inteiros em ebulição: afinal, o que a box score não contava é que, de 52 pontos, 37 o ala do Warriors marcou num só quarto, o terceiro. Foi um recorde da liga – nem Wilt, nem MJ chegaram perto disso. Ixemaria. E para dormir novamente, como fica? Demorou um pouco, mas consegui. Postar blog 4h01 da madruga também não ajudaria ninguém, né? De todo modo, com algumas horas de atraso, seguem alguns dados sobre a estarrecedora noite do cestinha:

52 – Mo Williams não está mais sozinho nessa luta, amigos. Thompson igualou o igualmente especial recorde da temporada estabelecido pelo armador do Timberwolves contra o Indiana Pacers na semana passada. O Indiana Pacers, por outro lado, precisou de todo o primeiro tempo para marcar 37 pontos contra o Miami Heat.

Klay Thompson põe fogo na folha de estatísticas

Klay Thompson põe fogo na folha de estatísticas

42 – Tirando o Golden State, dãr, apenas o Cleveland Cavaliers conseguiu marcar mais que 37 pontos num quarto na rodada desta sexta-feira: foram 42 contra o Charlotte Hornets, no segundo período. O Lakers fez 38 contra o Spurs na primeira etapa.

38 – O recorde pessoal de Mychal Thompson, ex-pivô do Blazers e do Lakers, bicampeão pela franquia angelina, foi de 38 pontos pelo Portland, justamente contra sua futura equipe, em 1981. Também pelo Blazers, ele marcou 37 pontos em outras três partidas.

33 – Esse era o recorde de pontos em um só período até, então, obtido por Carmelo Anthony com a camisa do Denver Nuggets em 2008 e por George “Iceman” Gervin, o primeiro grande ídolo do Spurs. David Thompson, o ala-armador explosivo do Denver Nuggets e que inspirou Jordan muito mais que você imagina, já fez 32 pontos em uma parcial.

32 – Thompson chegou aos 52 pontos em 32 ou menos minutos, se juntando a Kobe Bryant como o único atleta da liga a conseguir tamanha produção em tão pouco tempo de quadra. Kobe anotou 62 pontos em três períodos contra o Dallas Mavericks em 2005, pouco antes de alcançar 81 contra o Toronto Raptors. Vocês lembram, né? Phil Jackson manteve o ala sentado durante todo o quarto final contra os texanos e nem deu bola. A diferença é que ao seu lado, no time titular, ele tinha Smush Parker, Brian Cook, Chris Mihm e, ufa, Lamar Odom.

26 – Foi o total de pontos de todos os outros atletas, de Warriors e Kings, em quadra durante o terceiro período. Perderam de Klay por 11.

As estatísticas do terceiro período

As estatísticas do terceiro período

25 – Klay Thompson precisou de apenas 25 arremessos para marcar 52 pontos. Média de 2,08 para cada chute de quadra. Ele converteu 64% de seus chutes de quadra. Em três pontos, ficou em 73,3%. Nos lances livres, 90%.

11 – O ala foi selecionado no Draft de 2011 na 11ª colocação. Em décimo, o… Sacramento Kings, claro, escolheu Jimmer Fredette, hoje reserva do New Orleans Pelicans. Jornalistas da capital californiana juram que havia muita gente na diretoria do clube que preferia Thompson naquela ocasião.

9 – Foram nove chutes de longa distância para Thompson apenas no terceiro período, sendo que oito deles estavam marcados. Em quatro desses arremessos ele saiu de corta-luz, enquanto outros três vieram em transição. No geral, ele matou 11 tiros de fora, ficando a um do recorde individual em uma partida (compartilhado por Kobe e Donyell Marshall).

O quadro de arremessos de KT no terceiro período

O quadro de arremessos de KT no terceiro período

5 – Thompson ainda encontrou espaço no jogo para dar cinco assistências.

2 – Excluindo James Michael-McAdoo, que acabou de vir da D-League, dois companheiros de time de Thompson não conseguiram fazer nem 37 pontos durante toda a temproada: Brandon Rush, que tem 18 pontos em 21 jogos, e o pivô sérvio Ognjen Kuzmic, que soma 20 pontos em 15 jogos. Ao menos, juntos, os dois conseguem superar o ala, né?

-48 – Thompson, todavia, ainda ficou devendo 48 pontos para o recorde individual da franquia: os 100 pontos de Wilt Chamberlain, claro, como jogador do Warriors, mas ainda na Philadelphia. A segunda maior contagem do clube foi de Stephen Curry, que fez 54 contra os Knicks em 2013.

No vestiário, Stephen Curry assiste aos 37 pontos de Thompson no terceiro quarto

No vestiário, Stephen Curry assiste aos 37 pontos de Thompson no terceiro quarto

* * *

Klay Thompson é pop. A NBA mal dormiu de sexta para sábado. Seguem, então, algumas das declarações mais legais sobre a tempestade promovida pelo ala do Golden State:

“Foi meio que um vulto. Gostaria de poder voltar no tempo e curtir isso um pouco mais, pois em momentos como esse passam realmente muito rapido. Foi maluco, eu nem sei o que aconteceu”, Thompson, o próprio.

“Fui um dos jogadores sortudos por ter atuado ao lado de Michael Jordan, Tim Duncan, David Robinson e alguns dos maiores da história. Mesmo com tantas coisas espetaculares que Michael fez, e ele fazia noite a noite, nunca o vi fazer algo assim”, Steve Kerr, técnico do Warriors. Demais.

“Vocês (repórteres) estão todos me fazendo parecer como se não soubesse, mesmo, o que dizer para a mídia. Eu honestamente não sei o que dizer para vocês”, Draymond Green, o faz-tudo do Warriors.

“Isso é lixo. Se não acreditávamos nisso antes, agora todos acreditamos”, Green novamente, quando questionado sobre a ideia de que não existe o conceito de mão “quente”, confiante no basquete.

“Você não esquenta dessa maneira nem no NBA 2K. Aquele videogame agora já é real. O que Klay fez não foi real”, Green, definitivamente o melhor entrevistado desse timaço do Golden State.

“Cheguei agora depois de ter visto um filme chamado Klay Thompson. Pegou fogo!”, Shaun Livingston, armador reserva do Warriors.

“Foi o melhor filme que já assisti! Obrigado pelo show, Klay”, Marreese Speiths, o sexto homem da equipe, seguindo na mesma temática de Livingston.

“Voando de volta a Chicago e acompanhando Klay Thompson surtando contra o Kings… 37 pontos no terceiro período é algo insano!”, Pau Gasol, no Twitter.

“Se o Klay Thompson não for um All-Star, desisto do basquete de vez”, Anthony Tolliver, ala do Detroit Pistons.


Steve Kerr e Golden State Warriors ignoram a pressão
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Giancarlo Giampietro

Kerr de roupa nova: grandes expectativas

Kerr de roupa nova: grandes expectativas

O mais comum, quando um técnico acaba de assumir o cargo, é pregar paciência. Que ele vai conhecer o elenco, estudar e preparar o terreno. Colocar em prática seus conceitos, e que leva tempo para isso. Ainda mais no caso de alguém que nunca exerceu a profissão antes. No caso de Steve Kerr e o Golden State Warriors, no entanto, as expectativas são as mais altas possíveis, e não há nenhum desconforto a respeito disso.

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Por quê? O que acontece aqui de tão especial?

Bem, em primeiro lugar, estamos falando de um clube que não vem fazendo a menor questão de falar baixo, desde que o especulador financeiro Joe Lacob assumiu o controle da franquia em novembro de 2010, em sociedade com Peter Gruber. Lacob, porém, é quem tem a voz mais ativa no dia-a-dia da franquia. No ano seguinte, prometeu, por exemplo, aos torcedores que a equipe voltaria aos playoffs e que teria um all-star. Nenhuma das duas aconteceu. Não tirou o pé do acelerador, no entanto. Tentou tirar DeAndre Jordan do Clippers, apostou em Mark Jackson como treinador, contratou Jerry “O Logo” West como consultor, acertou com o ex-agente Bob Myers para ser seu gerente geral, despachou Monta Ellis para Milwaukee em troca de um Andrew Bogut desacreditado por lesões etc. Deu uma bela sacudida na estrutura do clube, com ambições desmedidas. Hoje, não vai se contentar com derrotas nem mesmo para potências como Spurs e Clippers nos playoffs.

Do outro lado, o currículo de Kerr é impressionante. O cara foi um vencedor inconteste como jogador – não era protagonista, mas foi peça importante e decisiva em diversas conquistas, tendo sido pentacampeão da NBA, pelo Bulls e pelo Spurs. Ele se aposentou em 2003 e logo virou um popular comentarista de TV nos EUA. Retornou ao Phoenix Suns, o clube que o draftou lá em 1988, como gerente geral em 2007 e ajudou a formar um grande elenco. Desgastado em sua relação com o proprietário Robert Sarver, deixou o clube em 2010 e voltou a trabalhar na TV. com grande sucesso, explicando o jogo com facilidade, humor e vasto conhecimento dos meandros dos bastidores da liga.

Com uma trajetória e personalidade dessas, fora o vínculo do passado, virou o alvo primordial de Phil Jackson para o comando do New York Knicks nesta temporada. O namoro foi longo. O Mestre Zen o queria de qualquer maneira e até já dava o acordo como certo, na verdade. Mas os dias antes da assinatura do contrato acabaram sendo longos demais. O Golden State Warriors se apressou em demitir Mark Jackson e foi com tudo em sua direção. Lacob afirma que eles tinham amigos – e o golfe – em comum. Além do mais, o Warriors tem um elenco muito mais promissor e um dono que consegue suas manchetes, mas está bem distante do patamar de James Dolan.

Ao aceitar o cargo, Kerr fez a lição de casa. Já pegou no batente logo em julho ao dirigir a equipe do Warriors na liga de verão de Las Vegas, para quebrar o gelo. Depois, seguiu num périplo ao redor do mundo para encontrar alguns de seus jogadores, com direito a visitinha a Andrew Bogut na Austrália – onde encontraria também o ex-companheiro de Bulls, Luc Longley, primeiro australiano a jogar na NBA. “Ele inclusive trouxe um iPad para o almoço e me mostrou alguns clipes do Longley fazendo a mesma função que espera de mim, como um facilitador no sistema de triângulos e que gostaria que eu fosse um pouco mais agressivo ofensivamente, com mais jogadas passando por mim, então isso é sempre bom de ouvir”, afirmou o pivô, do tipo de atleta contestador, inteligente, que não vai aceitar qualquer coisa dita em sua direção.

Ter um Jerry West ao lado nunca faz mal

Ter um Jerry West ao lado nunca faz mal: mudança nas estruturas da franquia

Ao que tudo indica, o contato de Kerr com os jogadores foi um sucesso, com habilidade no trato com pessoas e a autoridade que seu histórico no basquete inspira. E era uma aproximação essencial para o técnico, ainda mais depois da polêmica saída de Mark Jackson, outro ex-armador que estreou como treinador também pelo Warriors, vindo da TV e que virou uma figura realmente venerada pelo atual elenco – embora não fosse uma unanimidade, com Bogut sendo uma exceção declarada. Jackson, por outro lado, criou muitos problemas internos, ganhando a fama de personalista.

De qualquer forma, não era uma decisão fácil de se ter tomada. Após a derrota para o Clippers pelos playoffs passados, Curry, por exemplo, saiu em defesa do antigo mentor de modo enfático. “Amo o treinador mais do que qualquer um. Ele estar numa situação em que seu trabalho passa por escrutínio e questionamento é totalmente injusto, e seria definitivamente um choque para mim se algo como uma demissão acontecer”, disse o superastro da franquia.

Mark Jackson ficou no passado. Já?

Mark Jackson ficou no passado. Já?

Pois a guilhotina desceu. Para lidar com uma situação dessas, apenas um nome tão badalado como Kerr poderia dar aos diretores a chance de ao menos tentar convencer o armador a rever sua opinião inicial. O contato com Kerr parece já ajudar para isso. “Ele participou de equipes vencedoras. Já jogou para dois técnicos de Hall da Fama e duas grandes organizações. Ele vai trazer um monte dessas lições, sabedoria e QI de basquete para a mesa”, afirmou Curry. De quebra, o craque ainda lembrou que se trata de outro legendário arremessador da liga – e que talvez pudesse ensinar um truque ou outro para ele também. Opa.

Na hora de sugerir Andre Iguodala como um reserva do time, de modo que ele jogue como o segundo armador da rotação da equipe quando Curry estiver descansando, o novo técnico também mostrou destreza. “Não sei se ele vai começar os jogos por nós, mas sei que ele vai estar em quadra no final”, assegurou.

São todos ótimos indícios de tino para a coisa que Kerr vem apresentando. Em quadra, o time fez ótima pré-temporada e iniciou o calendário oficial também com apresentações convincentes. A pressão fica para outro.

O time: para um plantel com Curry, Thompson, David Lee, o mais comum de se presumir é que a defesa fosse um problema e que o ataque, moleza. Certo? Acontece que, para o Warriors 2013-2014, foi quase o inverso. Com Mark Jackson, o time chegou a evoluir a ponto de ter a terceira defesa mais eficiente da liga, atrás apenas de Indiana e Chicago. Algo chocante. Por outro lado, seu sistema ofensivo foi apenas o 12º mais produtivo. Kerr vai tentar encontrar mais equilíbrio ao time. A ideia, no ataque, é trocar muito mais passes e apostar menos em  lances individuais com seus cestinhas, tendo em vista sua experiência com Phil Jackson e Gregg Popovich no passado.

A pedida: sucesso nos playoffs e… título.

Olho nele: Leandrinho. O brasileiro já está em sua 12ª temporada. O tempo passa, de fato. E passa ainda mais rápido quando estamos falando do ala-armador que jogou por tanto tempo no Phoenix Suns, mas agora chega a seu quinto clube nas últimas quatro temporadas. O ligeirinho assinou um contrato sem garantias com o Warriors, no qual reencontra Steve Kerr. Sua presença no elenco, todavia, era praticamente certa. Vindo do banco, ele assume o papel que era de Jordan Crawford no campeonato passado. A função é a de sempre, aquela que o consagrou na década passada: reforçar o ataque da segunda unidade com tiro de três pontos e velocidade, sendo ainda bastante efetivo. Mas com menos responsabilidades, com algo em torno de 16 minutos por partida. Um ótimo complemento para Shaun Livingston e Andre Iguodala entre os reservas.

Leandrinho reencontra ex-chefe do Suns na Califórnia

Leandrinho reencontra ex-chefe do Suns na Califórnia

Abre o jogo: “É um saco sair do banco. Vou ter uma longa conversa com o treinador. Estou cansado disso, e não dá mais para aguentar isso”, Iguodala, sobre seu novo papel de sexto homem do time. Mas, calma: era tudo em tom de brincadeira.

O veterano aceitou numa boa sua nova posição e já disse inclusive que isso lhe permitiria ajudar os companheiros a marcarem mais pontos e ganharem uma graninha maior. “O Draymond está num ano de contrato vencendo, então vou cuidar de dar a ele um pouco mais. Ele vai fazer um pouco mais de cestas jogando ao meu lado”, disse. “Estou chocado”, avaliou Leandrinho. “Não acho que Andre já tenha ficado nesta posição antes em todo esse tempo em que está na NBA.”

Você não perguntou, mas… as medições avançadas de estatísticas que vão tomando conta da NBA encontraram um modo de comprovar que Curry é, sim, o arremessador mais temido destes tempos. É o cara que mais preocupa as defesas fora da bola, segundo aponta o sistema de câmeras que monitoram o comportamento dos atletas em quadra, o SportVU. Os dados avaliados: “pontuação de gravidade”, que quantifica o quanto um defensor fica grudado ao seu adversário, quando ele não tem a bola em mãos, e “pontuação de distração”, que mostra o quanto o marcador se distancia de seu oponente para fazer a dobra em cima do atleta que está com a bola. A partir da distância calculada pelas câmeras, o analista Tom Haberstoth, do ESPN.com, fez uma média dos dois índices, e o resultado foi o gatilho do Warriors na ponta, acima de Kyle Korver, Kevin Martin, Kevin Durant e James Harden, pela ordem. “Sempre ouvimos que você precisa respeitar o arremessador. Agora podemos identificar isso cientificamente”, escreve. “A ideia não é catalogar os melhores chutadores da NBA, mas, sim, ver quais jogadores puxam mais a defesa fora da bola. O que é fascinante é que essa métrica ignora as estatísticas computadas no jogo e depende somente da medição óptica. Assim está a NBA em 2014.”

latrell-sprewell-wariors-card-1997Um card: Latrell Sprewell. O ala foi um grande cestinha, com um dos primeiros passos mais explosivos que a liga já viu, batendo seus defensores mesmo que eles soubessem que a infiltração era seu carro-chefe, enquanto o chute de três nunca assustou muito. Fora de quadra, se tornou, digamos, um dos personagens mais controversos. No Golden State, ele começou num time promissor. Uma série de lesões e de trocas desastradas – de técnicos e jogadores – e o completo desarranjo da direção, porém, levaram o clube ao fundo do poço na gestão do proprietário Chris Cohan, de 1995 a 2010, período no qual só chegaria aos playoffs em duas ocasiões. O episódio mais triste e assustador dessa era aconteceu em 1997, protagonizado por Sprewell, quando o veterano, descontrolado,  decidiu esganar o técnico PJ Carlesimo durante um treinamento. Literalmente. Carlesimo é daqueles treinadores que não aliviam na hora de apontar erros e correções. Agora imaginem o tamanho da frustração de Sprewell com ele. O pior: depois de agredir o técnico e passar cerca de 20 minutos para o vestiário, o atleta tentou novamente atacá-lo. Ele acabou suspenso por 68 jogos, perdendo US$ 6,4 milhões. O que ela achou excessivo. Em entrevista ao tradicional programa 60 minutes, soltou uma de suas célebres e infelizes pérolas. “Não o estava enforcando tão forte assim. Ele estava respirando”, afirmou. Esse era o tipo de história que rondava a franquia. Ainda que o lateral fosse aprontar muito mais.

Sprewell nunca mais jogaria pelo Warriors e seria trocado para o Knicks. Em 1999, foi uma das peças fundamentais do time que venceu a Conferência Leste de modo improvável e perderia para o Spurs na decisão. Depois, seria negociado com o Minnesota Timberwolves, ajudando Kevin Garnett a avançar pela primeira vez nos playoffs em 2004. Quando recebeu uma proposta de renovação contratual por US$ 21 milhões em três temporadas, a recusou e disse que “tinha uma família para alimentar”. Em 2005, acabou se aposentando forçosamente. As ofertas que tinha eram apenas de salário mínimo. Os times ainda se sentiam atraídos por seu talento, mas afugentados pela personalidade. Spurs e Mavericks estavam entre os interessados. Nunca tiveram uma resposta. Em março de 2006, o repórter Chris Sheridan, então do ESPN.com, decidiu ir atrás do ala. O astro o recebeu de cara fechada na porta de sua casa em Milwaukee e simplesmente ameaçou soltar os cachorros para cima do jornalista.


EUA x Sérvia: 10 fatores para ficar de olho na final
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Giancarlo Giampietro

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Os Estados Unidos lutam pelo bicampeonato mundial e pelo quarto ouro seguido nos torneios internacionais da Fiba. A Sérvia quer seu primeiro grande título como um país balcânico solitário – sem ser Iugoslávia ou Sérvia & Montenegro, nem nada disso. Seguem dez perguntas que servem como um guiazinho para a decisão da Copa do Mundo de basquete. Foi bom enquanto durou:

Os Estados Unidos são os favoritos?
São, sim. Depois de arrasar Grécia e Brasil e de passar pela França, a Sérvia tem chance, mas os americanos precisam ser considerados muito favoritos. Em seus oito jogos pelo Mundial, o time venceu com média de 32,5 pontos por partida. Mesmo que sua tabela tenha sido bem mais fácil que a dos sérvios, esse saldo de cestas é de um time que vem trucidando a oposição. É algo que impressiona ainda mais considerando todos os desfalques na lista de Mike Krzyzewski. (Para quem não sabe ou já perdeu a conta: LeBron, Carmelo, Durant, Westbrook, Paul, Love, Griffin, Aldridge e George.)

O que a Sérvia precisa fazer para tentar equilibrar as ações?
Primeiro de tudo, dominar os rebotes defensivos. Anthony Davis e Kenneth Faried atacam a tábua com muita voracidade e elasticidade. São 14,9 rebotes ofensivos em média para o Team USA durante o torneio – a terceira melhor marca, atrás apenas de Angola e Nova Zelândia –, mantendo a bola viva em quadra e criando segundas chances para seus companheiros. Quer dizer: se é que eles já não vão cravá-la direto na cesta, ou ajeitá-la com um tapinha. Do seu lado, os sérvios não lutam muito pelas rebarbas. Contra, os Estados Unidos, ainda mais em arremessos longos, é recomendável que realmente abram mão desse tipo de bola e voltem o quanto antes para a defesa, como medida preventiva, uma vez que o contra-ataque é a melhor arma de seu adversário.

Se for marcar por zona, não pode descuidar do Klay "Splash Brother" Thompson

Se for marcar por zona, não pode descuidar do Klay “Splash Brother” Thompson

Espere também muitas “faltas táticas” por parte dos europeus, um dispositivo que eles usaram sem o menor pudor contra o Brasil, nas quartas de final. São as faltas em que os atletas evidentemente usam para brecar os rivais, parando o lance. O risco é pendurar seus titulares: os Estados Unidos correm muito mais que os brasileiros, em dois sentidos: são mais explosivos e também buscam mais o jogo em transição. Uma vez estabelecida a defesa, é de esperar marcação por zona ou pelo menos uma zona mista, que não pode dar liberdade para Curry e Thompson. Aqui está a dureza: Harden e Irving também incomodam no perímetro. São muitos chutadores para o time americano.

Os sérvios também devem a segurar bastante a bola no ataque, procurarem arremessos nos dez segundos finais. Milos Tedosic vai chamar o jogo de pick-and-roll sem parar e criar e finalizar a partir daí. Ajuda o fato de ter ao seu lado diversos bons arremessadores, com exceção do outro armador do time, Stefan Markovic, que tem um dos chutes mais feios que você vai ver. Markovic, porém, é muito estável com a bola. Alto, forte e habilidoso, comete poucos erros. Quando ele está driblando, Teodosic e Bogdan Bogdanovic vão se mexer bastante no perímetro para tentar receber o passe em condições de finalização. A ideia geral do time será de abrir espaços na defesa americana, tentando confundi-los, e deixar a partida lenta-quase-parando. A Turquia conseguiu complicar a vida dos Estados Unidos por três períodos fazendo esse tipo de jogo enroscado. Depois, foi atropelada no quarto final. Os turcos têm um garrafão mais físico e atlético que o da Sérvia – Asik tem uma presença marcante nos rebotes e na proteção de cesta –, mas no geral o talento dos sérvios é muito superior.

O que os EUA farão para controlar Milos Teodosic?
No segundo tempo da semifinal, Nicolas Batum mostrou para o Coach K como (tentar) marcar o armador sérvio. Pressionando  muito o drible do sérvio com sua envergadura e agilidade, combatendo os bloqueios, sem deixar que ele escapasse também nas ações fora da bola. O sérvio marcou apenas seis pontos na volta do intervalo, depois de 18 na primeira etapa.  Para os americanos, porém, faz falta um Andre Iguodala, de perfil atlético bem semelhante ao do ala francês, para repetir um abafa desses, né? Klay Thompson é o marcador que vem sendo destacado pelo treinador nesse tipo de missão, de pressionar o atacante.

Deixar Stephen Curry e Kyrie Irving com ele seria bastante perigoso. O armador sérvio sabe usar muito bem os formidáveis e brutais corta-luzes de Raduljica e Krstic para se desmarcar. A partir daí, é mortal: arremessa com tranquilidade em movimento, até mesmo da linha de três pontos. Também tem visão de jogo muito acima da média, podendo abastecer o grandalhão da vez no corte para a cesta. Tudo devagar, sem explosão física alguma, controlando a bola com muita cabeça. Brasileiros e gregos concordam, tristemente.

E o Teodosic conseguiria jogar na NBA?
Este embate também serve para matar um pouco da vontade de ver o genial sérvio na liga norte-americana. Provavelmente nunca vai acontecer: na Europa, ele é tratado como um reizinho, tendo defendido Olympiakos e CSKA Moscou nas últimas temporadas. Ganha muito bem e pode dar aquele migué na defesa, com a certeza de que, no ataque, seus rompantes decisivos lhe garantem com a torcida – e dirigentes e técnicos, embora estes últimos possam sofrer bastante com sua combatividade zero. Seu contrato é de US$ 7 milhões por três anos – 7 milhões limpos de impostos, tenha em mente. Mais carro, apartamento e todo mimo que a diretoria do CSKA julgar necessário na capital russa.

Qual americano talvez assuma a torcida pela Sérvia?
Ryan McDonough, gerente geral do Phoenix Suns, desde que o garoto Bogdan-Bogdan seja O Cara da partida. O cartola selecionou o prodígio no Draft passado da NBA, em 27º. Uma exibição primorosa do ala-armador não só deixaria McDonough com ainda mais moral no Arizona, como elevaria, e muito, a cotação do jogador. Obviamente o plano é aproveitá-lo, assim que Bogdanovic, a jovem estrela sérvia, decida a hora de deixar o Fenerbahçe. Se for necessário, contudo, os direitos sobre o jogador virariam um ótimo trunfo na manga do dirigente, para uma eventual megatroca na liga americana.

Bogdan-Bogdan manda algum francês ficar em silêncio. Trunfo do Suns

Bogdan-Bogdan manda algum francês ficar em silêncio. Trunfo do Suns

Será que ainda dá tempo de Miroslav Raduljica assinar com a NBA novamente?
Acho difícil. Para os que não sabem: o pivô não tem mais contrato com nenhum clube da liga americana, embora insistam em dizer o contrário durante todo o Mundial. Do Bucks, ele foi repassado para o Clippers, que o dispensou prontamente. Aparentemente, o sérvio tem algumas ofertas da liga americana, mas nada muito interessante: provavelmente aqueles contratos sem garantia para a temporada. É mais provável que algum clube europeu decida lhe propor mais dinheiro e uma situação mais promissora em termos de tempo de jogo. Nos Estados Unidos, o jogo mecânico e lento de Raduljica não se encaixa muito bem. Sem contar o fato de que não conseguiria parar nenhum armador da liga quando envolvido em jogadas de pick-and-roll. No mundo Fiba, ele pode recuar na defesa e se comportar como se estivesse numa defesa por zona o tempo inteiro.

Por falar em Raduljica, ele não vai machucar o Anthony Davis, né?
O gerente geral do New Orleans Pelicans, Dell Demps, do seu lado, certamente vai assistir ao jogo decisivo com muito mais apreensão. Ver seu jovem craque, a base esportiva e comercial do clube encarar o brutamontes ex-Milwaukee Bucks, em um jogo valendo tudo ou prata, não deve ser nada agradável. Quando ele descansa, ainda vem o Nenad Krstic, que tem o físico de um irmão Klitschko mais descuidado, mas com 2,10 m de altura. Na NBA, Davis e Raduljica já se encontraram assim:

Qual duelo chama mais a atenção?
Tirando Curry x Teodosic nos primeiros minutos de jogo? Bjelica x Faried!!! São dois jogadores que não poderiam ser mais diferentes. O sérvio é todo elegante com a bola. Alto, de passadas largas, muito habilidoso, é daqueles pivôs que pega o rebote em sua tabela e pode sair com a bola em pestanejar. Joga bastante afastado da cesta em geral no ataque, com bom arremesso de longa distância. Por isso, faz também um bom uso da finta, iludindo seus defensores mais precipitados, cortando para a cesta com eficácia. Foi algo que fez bastante contra o Brasil. Do outro lado, agora vai enfrentar alguém que realmente responde pelo apelido de “Manimal”. Faried passa eletricidade para todo o ginásio. Ainda que tenha refinado bastante seu jogo na última temporada, ele se impõe mesmo com sua capacidade atlética absurda e uma força de vontade difícil de se igualar. Para cosntar: Bjelica já foi selecionado no Draft da NBA pelo Minnesota Timberwolves, mas tem um contrato bastante lucrativo com o Fenerbahçe, com mais três anos de duração. As multas rescisórias não foram divulgadas.

Harden em foco: o maior peladeiro do mundo?

Harden em foco: o maior peladeiro do mundo?

E quem tem o arremesso mais bonito em quadra?
Olha, o esquerdista do basquete vai dizer que os grandes arremessadores estão na Europa e bla-bla-bla – acredite, ainda hoje há quem acredite que a NBA é só um produto de marketing, uma liga de “peladas” que conquistou o mundo graças ao capital diabólico norte-americano. Teodosic e Bogdan-Bogdan chutam que é uma beleza, mas em termos de forma e mecânica, não vai ter quem supere os “Splash Brothers” do Golden State, Curry e Thompson.

James Harden vai marcar quem?
A plateia da Fiba já assimilou  algo que é mania na NBA: aloprar a defesa do Mr. Barba. Até o mítico Wlamir Marques entrou na onda. No ar na ESPN, disse o seguinte sobre o astro do Rockets, com ternura: “Acho que hoje é o maior peladeiro do basquete internacional”. Nesse sentido, ele e Teodosic vão se amar. Talvez o ala-armador americano leve a preguiça do ídolo sérvio a outro patamar. Há momentos do jogo que ele realmente desencana de tentar marcar alguém. É batido no primeiro drible e já vira de costas para a cesta, como quem não quer nada. Contra a Sérvia, provavelmente ele comece o jogo como par de Nikola Kalinic, um ala atlético e bem mais alto que não chega a ter prioridade no ataque sérvio. Ele vive das sobras e de cortes por trás da defesa. Se o técnico Sasha Djordjevic estudar bem os americanos como fez contra gregos e brasileiros, acho que não vai ter problema em pedir mais jogadas que envolvam Kalinic. O duro é que, quando enxerga a Luz, Harden se comporta como um defensor decente até. Caso os sérvios encontrem um meio de equilibrar o jogo até o fim, será curioso monitorar como ele vai se comportar.


Sobrando, EUA vencem 1ª semi e vão atrás do 4º ouro seguido
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Giancarlo Giampietro

O Manimal Faried somou só 9 pontos e 6 rebotes na semi. Irving foi o cestinha com 18

O Manimal Faried somou só 9 pontos e 6 rebotes na semi. Irving foi o cestinha com 18

A Turquia venceu o primeiro tempo, enquanto a Eslovênia pelo menos se manteve perto. A Ucrânia estava acima no placar no início do segundo período. A concorrência faz o que dá, mas os Estados Unidos não se incomodam muito. Nesta quinta-feira, eles viram a Lituânia terminar o primeiro tempo apenas oito pontos atrás, mas fizeram mais um segundo tempo demolidor para assegurar vitória tranquila (96 a 68) e se classificar para a final da Copa do Mundo

Mesmo com todos seus desfalques, praticamente um time inteiro que Mike Krzyzewski poderia ter escalado para o torneio, o Team USA segue em frente, muito bem, obrigado, com 62 vitórias seguidas. Sob o comando do Coach K, são 74 triunfos, em jogos oficiais ou amistosos, e apenas um revés – a semifinal do Mundial de 2006 no Japão, contra a Grécia de Theo Papaloukas. Pense bem nisso: 62 vitórias seguidas. Isso vale lugar em alguma edição do Guinness Book, certamente.

Curry: 13 pontos em 13 minutos, com quatro faltas, e foi tudo bem até aqui

Curry: 13 pontos em 13 minutos, com quatro faltas, e foi tudo bem até aqui

LeBron, Durant, Melo, Westbrook, Love, Griffin, Aldridge, Paul, Kobe e George estão fora (apesar que é preciso levar em conta que outros times também estão sem alguns de seus principais nomes). No primeiro quarto da semi, Davis, Harden e Curry cometeram muitas faltas e foram sacados. E nem isso influenciou de modo decisivo o jogo. O elenco ainda é muito talentoso e atlético, oprimindo seus adversários até o momento.

Alguns times conseguiram complicar o ataque norte-americano com marcação por zona, alternando com mista e individual. O pesado garrafão da Turquia, com Omer Asik e Oguz Savas, assessorados por ótimos reboteiros como Furkan Aldemir e Keren Gonlum, também deu um baita trabalho, conseguindo empatar a disputa nas duas tábuas, ajudando seus times a desacelerar o jogo. Mas ainda não apareceu na Espanha quem pudesse sustentar qualquer sustentar um equilíbrio por mais de 30 minutos, que foi o caso dos turcos. Perdiam só por seis pontos quando o quarto período começou, até levarem 32 a 17 naquela parcial.

A Lituânia, na semifinal, arrefeceu na volta do intervalo, tomando 33 a 14 de cara. Foi a oitava parcial em que os norte-americanos bateram a marca de 30 pontos. Na verdade, até agora, dos 32 quartos que jogaram, eles ficaram abaixo dos 20 pontos em apenas em cinco ocasiões, incluindo os dois primeiros contra Asik & Cia.  Em termos defensivos, o melhor desempenho aconteceu na estreia contra a Finlândia, quando venceram o segundo período por 29 a 2.

Com a Espanha vendo tudo de fora agora, o favoritismo dos Estados Unidos fica mais acentuado. A França tem capacidade atlética e possibilidades defensivas para complicar. A Sérvia tem mais balanço: pode jogar de modo físico na defesa e atacar com leveza, dentro e fora. A certeza é que, quem sair da segunda semi, nesta sexta-feira, vai precisar fazer um jogo praticamente perfeito para evitar o quarto ouro em quatro grandes competições seguidas para os Estados Unidos.

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Ao se recusar a levar adiante as negociações com o Minnesota Timberwolves por Kevin Love, a gestão do Golden State Warriors deu prova do quanto eles gostam de Klay Thompson. Flip Saunders exigia a presença do ala em um pacote por seu astro e ouviu não atrás de não (de Steve Kerr, Bob Myers, Jerry West e Stephen Curry). Então não é que Thompson vá precisar de um forte lobby para a hora que iniciar as negociações de renovação de seu contrato. Se as conversas se estagnarem, por algum motivo, ele certamente terá o apoio do Coach K. Thompson fez um primeiro tempo sensacional contra os lituanos, carregando o ataque sem Harden e seu parceiro Stephen Curry ao lado. Os dois estavam com problemas de falta. Durante o torneio, o ala tem sido o jogador com mais tempo de quadra, agradando não somente pelo arremesso de três pontos que é uma pintura, mas também pelo seu poderio defensivo (16 pontos, 2 tocos, 3 rebotes e 3 assistências em 25 minutos).

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Um dado apresentado pelo estatístico Mr. Chip, bastante interessante para se por em perspectiva esta equipe americana:

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Mindaugas Kuzminkas, ala do Unicaja Málaga, foi um dos destaques do primeiro tempo, conseguindo 12 pontos em 11 minutos, naquele que talvez seja o melhor momento de sua carreira. Acompanhei o lituano durante a temporada da Euroliga e foi difícil ver algo mais que cinco minutos consistentes do lateral, que é bastante alto e magro. Sem querer pegar no pé: Kuzminskas tem seu apelo, sim. Joga bem fora da bola, se posiciona bem para receber os passes e tem bons instintos na tábua ofensiva, mas, aos 24 anos e 11 meses, ainda está tomado por altos e baixos. Nas Olimpíadas, já ficou fora de duas partidas e recebeu 9 minutos em média, apenas. Contra os americanos, somou 15 pontos e 9 rebotes. O agente gostou.

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Tá certo que, em boa parte de suas investidas, o lituano estava marcado por ninguém menos que o Mr. Barba. Saco de pancadas da mídia americana durante toda a temporada, James Harden conseguiu expandir a zoação para a Europa com seu primeiro tempo pavoroso na defesa. Foi levado para passear no parque um ataque atrás do outro, até ser sacado pelo Coach K. Daí que…

 


Este é o Tyrece Rice, armador americano que foi MVP do Final Four e campeão da Euroliga 2013-14 pelo Maccabi Tel Aviv. Dizendo que, basicamente, a mãe dele consegue fazer cesta contra o Harden, e que não é piada. Além disso, ele fala que a única razão pela qual sua avó não conseguiria é porque a pobre velhinha está com alguns problemas no pé. Agora. Saudável, também faria a cesta. Afe, hein?

Curioso o jeito desbocado de Rice. Ele acabou de assinar com o Kimkhi Moscou, e não deve ir para a NBA tão cedo. Aí também fica fácil para aloprar. Bem, no segundo tempo, Harden voltou disposto a calar tudo e todos. Segurou bem Jonas Maciulis, que é um ala muito mais gabaritado que Kuzminskas, e deslanchou no ataque, para terminar com 16 pontos. Deve ter conferido o celular no intervalo.

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Boogie não gostou do modo como Valanciunas usa os cotovelos

Boogie não gostou do modo como Valanciunas usa os cotovelos

DeMarcus Cousins não vai ter a chance de brigar por rebotes e pontos contra os irmãos Gasol neste Mundial, mas ao menos foi bastante útil na semi. Jonas Valanciunas deixou Anthony Davis pendurado de faltas no primeiro período, e aí o Boogie veio para a quadra para oferecer mais músculos ao Team USA e, digamos, administrar essa situação. Na medida do possível, né? Difícil falar em Cousins e “administrar” na mesma frase.  No primeiro tempo, ele foi punido com uma falta técnica ao partir em direção de Valanciunas (ele havia tomado um safanão do lituano no gogó). Ao final do jogo, alguns jogadores se estranharam em quadra na hora de se cumprimentarem, talvez com resquício desse entrevero. Vou checar e atualizo aqui. Tanto Davis como DeMarcus foram excluídos com cinco faltas.


As semifinais da Copa do Mundo em números
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Giancarlo Giampietro

Gente, vocês querem números? Faltam apenas quatro jogos para o sonho de uma Copa do Mundo de basquete de verão terminar. Com quatro times em disputa, sendo que um vai sair de mãos abanando, assim como aconteceu com Brasil e Espanha. Mas, isso, claro, vocês já sabiam. Vamos com outros dados, então:

No poderoso ataque americano, tem até para DeRozan. Dale, cravada

No poderoso ataque americano, tem até para DeRozan. Dale, cravada

102,3 – Os EUA têm o melhor ataque da Copa, e o restante não chega nem perto. Com 102,3 pontos por jogo, abriram quase 20 de vantagem para a Espanha, que agonizou diante da defesa sufocante dos franceses nesta quarta. Entre os que ainda estão no páreo, a Sérvia aparece em segundo, com 80,1, ajudada pela sacolada que deram no Brasil. A Lituânia anotou 76 pontos em média, enquanto a França tem 72,9 (apenas a 14ª no geral).

68,8% – Sérvia e França estão empatados com este fraco aproveitamento em seus lances livres, valendo as 17ª e 18ª posições no ranking geral. Os EUA, com 71,3%, aparecem em 13º. A Lituânia tem 75,2%, em quarto. Por curiosidade, as Filipinas lideraram o quesito, com 79,6%.

44 – Este a gente colocou no primeiro dessa texto dessa série estatística, mas, depois da tragédia espanhola, vale o reforço: foi em 1970, há 44 anos, a última vez em que o país anfitrião viu sua seleção comemorar o título: a Iugoslávia. O que, nos tempos de hoje, nem vale: eram vários países em um, sendo que três deles disputaram a atual edição: Croácia, Eslovênia e Sérvia.

A vitalidade de Jonas Valanciunas, estrela lituana de apenas 22 anos e o quinto reboteiro do Mundial, com 8,6

A vitalidade de Jonas Valanciunas, estrela lituana de apenas 22 anos e o quinto reboteiro do Mundial, com 8,6

28 – É a média de idade da Lituânia, o time mais velho entre os semifinalistas. O restante? França e Sérvia empatam com 26 anos, enquanto os Estados Unidos têm 24. Este talvez seja o dado mais relevante para colocar em perspectiva a campanha brasileira, com uma seleção de 31 anos. Todas essas quatro potências já têm uma base armada para o próximo ciclo olímpico.

23,8 – Surpreendentemente, o ala Klay Thompson é o jogador americano que mais tempo fica em quadra no Mundial, com 23,4 minutos, contra os 23 cravados de Kyrie Irving. No total, isso representa apenas três minutos a mais (164 a 161). O pivô Andre Drummond, convocado basicamente como apólice de seguro num eventual embate com a Espanha que agora jamais vai acontecer, somou 38 minutos, quase uma partida de Fiba inteira (6,3 por partida).

22,1 – O quanto a França arremessa de três pontos por jogo, o maior número entre os quatro semifinalistas, mesmo que eles tenham, de longe, o pior aproveitamento (ridículos 31,6%). EUA, Lituânia e Sérvia estão todos na casa de 19 chutes de longa distância por rodada, com os lituanos, claro, tendo a melhor pontaria: 40%. Culpa do pivô Darjus Lavrinovic, que tem acertado surreais 62,5% de seus arremessos, e do armador Adas Juskevicius (57,1%). O Brasil se despediu do torneio com 16,9 tentativas e 37,3% de acerto.

20 – Erros para a Espanha em arremessos de três pontos em sua derrota para a França, tendo tentado 22 disparos. Ok, é um número que pertence muito mais fase anterior, mas, nestes tempos de redes sociais em ebulição por conta desse processo chamado “Festa da Democracia”, todo mundo parece acreditar que jornalismo é manipulação, né? Então tomem aqui a prova mais clara. (Na verdade, o número é fundamental para explicar a classificação francesa, com uma linha defensiva assustadora, que arrepiou os espanhóis: um time desse nível acertar apenas 9,1% de seus chutes de fora? #sacrebleu).

13,9 – Dos 48 jogadores que ainda podem jogar o Mundial nesta reta final, Miroslav Raduljica, quem diria, é o cestinha, com 13,9 pontos. Logo em sua cola vem o Anthony Davis, mas pode chamar de Monocelha, com 13,7. Passaram quatro equipes que não dependem tanto assim de um jogador para carregar o ataque. Verdade seja dita: era o mesmo caso do Brasil. Entre os 20 principais pontuadores, em média, do torneio, apenas Kenneth Faried, com 13,0, se junta ao sérvio e a seu compatriota nessa. Desta forma, José Juan Barea ao menos pode acrescentar esta linha em seu currículo: “*Cestinha da Copa do Mundo de basquete 2014, com 22,0 pontos – só não perguntem, por favor, qual foi a campanha do meu time”.

Batum está com cara de que queria fazer pelo menos uns 15 pontinhos por jogo, vai...

Batum está com cara de que queria fazer pelo menos uns 15 pontinhos por jogo, vai…

9,9 – Por falar em cestinhas, esta é a média de pontos de Nicolas Batum no torneio. O ala do Blazers, acreditem, lidera a seleção francesa nesse quesito. Joffrey Lauvergne tem 9,4, Thomas Heurte, 8,4, Boris Diaw, 7,9, e por aí vamos… Incrível.

4 – A França falhou em marcar que 70 pontos em quatro de seus sete jogos na competição. Se formos descartar os dados computados contra Egito e Irã, restaria apenas uma partida, então, em que cruzaram essa… Nada fantástica marca. E foi contra quem? Justamente a Sérvia, seu adversário das semis, vencendo por 74 a 73. Mas, ‘bora lá repetir todo mundo: “Cada jooooogo é uma históooooria”.

1 – Apenas um time não tem sequer um atleta com contrato de NBA em seu elenco: a Sérvia. Raduljica jogou o campeonato passado pelo Bucks, foi trocado para o Clippers e acabou dispensado, como já foi amplamente divulgado, embora a turma em geral insista em ignorar isso. O ala Bogdan Bogdanovic foi draftado pelo Phoenis Suns neste ano, em 27º, mas vai seguir sua carreira na Europa, pelo Fenerbahçe, talvez por mais dois anos, antes de pensar numa transferência. No clube turco, terá a companhia de Nemanja Bjelica, jogador já selecionado pelo Minnesota Timberwolves. Quem sabe Flip Saunders não decide dar uma chance para o ultratalentoso ala-pivô num futuro próximo? Sem Kevin Love, há vagas. E aqui vale um destaque importante: é muito tentador escrever que a Sérvia não tem sequer um jogador de NBA. Porque, a julgar pela cobertura geral do Mundial, só importa quem joga nela, né? Só o selo de aprovação da liga atestaria a qualidade de um atleta. Aí vem a Sérvia, e… Pumba.

0 – Nenhum jogador naturalizado vai disputar as semifinais. Quem chega mais perto disso é o Kyrie Irving, que nasceu na Austrália, mas se mudou com o pai, mais um desses ciganos e jogadores americanos, aos dois anos de idade. Sábia decisão a dele, já que os Boomers têm dono: Patty Mills, e ninguém tasca. Sem contar que, em 2020, será a vez de Dante Exum. Ah, a França tem suas importações também, mas em outras circunstâncias. Tanto Florent Pietrus como Mickael Gelabale procedem de Guadalupe, que fica no Caribe, mas ainda é território francês. O ala reserva Charles Kahudi é de Kinshasa, no Congo, mas fez toda a sua carreira no país latino, algo mais que recorrente.


O 7º dia da Copa do Mundo: Zebras de folga
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Giancarlo Giampietro

Uma, duas, três e quatro franquias da NBA representadas na foto. EUA também têm torcida na Espanha

Uma, duas, três e quatro franquias da NBA representadas na foto. EUA também têm torcida na Espanha

Ufa. Depois da maratona em sua primeira semana, neste sábado a tabela da Copa do Mundo pegou bem mais leve com esses pobres jornalistas. Quatro joguinhos, nada simultâneo, e a chance de apreciar melhor o que se passa em quadra. Embora, quem esteja tentando enganar? Aquela avalanche de jogos dos grupos era divertida pacas e nos deixa com abstinência. Difícil até digitar aqui, de tanto tremelique. Mas vamos lá: depois de alguns sustos na fase de grupos, não temos nada de surpresas por ora nas oitavas. Os grandes favoritos, Espanha e Estados Unidos, passaram com tranquilidade, para agora enfrentarem, respectivamente, Eslovênia e França nas quartas de final.

O jogo do dia: França 69 x 64 Croácia
Um segundo tempo redentor nos livrou daquele que poderia ter sido o primeiro duelo com menos de 100 pontos no placar. No caso, com os dois ataques somados! A primeira etapa, para se ter uma ideia, teve 48 pontos anotados. Um inacreditável: 23 a 22 a favor dos Bleus, que haviam anotado apenas 7 pontos no primeiro período – quantia igualada pelos balcânicos no segundo quarto. Uma tristeza que só, uma batalha do jogo feio. Na volta do intervalo, para alívio geral, os ataques desafogaram, permitindo que Ucrânia 64 x 58 Turquia ficasse com o justíssimo título de partida mais sonolenta do campeonato.

A vitória francesa ganha este espaço devido aos 20 minutos finais, na disputa mais equilibrada da jornada, e também pela quantidade de jogadores talentosos de ambos os lados. Dario Saric, Ante Tomic, Bojan Bogdanovic, Boris Diaw, Nicolas Batum e mais. Todos de NBA ou em grande parte em potência europeias. Entre eles, Bogdanovic foi quem se destacou, com 27 pontos em 35 minutos, exibindo todos os seus fundamentos que poderiam perfeitamente ilustrar um manual. No ataque, o croata é uma maquininha de cestas, e com um estilo mais classudo impossível.

Bogdanovic deixa pirulão Gobert para trás: rumo a Brooklyn o cestinha croata

Bogdanovic deixa pirulão Gobert para trás: rumo a Brooklyn o cestinha croata

Num tiro de três a 52 segundos do fim, o ala diminuiu uma vantagem francesa que chegou a ser de 11 pontos para apenas dois. No ataque seguinte, Antoine Diot errou um chute de fora na zona morta, e os croatas tinham a chance de virada. Foi aí que a apareceu a outra faceta do “hero ball”, com Bogdanovic se precipitando com uma bola de fora, de muito longe, restando mais de 10 segundos de posse no cronômetro. Nos lances livres, os adversários definiram o placar. Olho neste jogador na próxima temporada da NBA: vai jogar pelo Brooklyn Nets. É um dos principais cestinhas da Europa, mas é preciso ver como irá se a ajustar, já que está habituado a jogar com a bola em mãos, como referência primária (e secundária, hehe) de seus times. Um tanto fominha.

De resto, é de se lamentar o fogo que Batum tem com a bola em diversos momentos, abrindo mão das infiltrações para cômodos disparos de longe (0/6 para ele hoje nos três pontos, 5/7 de dois). Também fica a dúvida sobre como a Croácia demorou para abastecer Tomic no garrafão durante todo o campeonato. No quarto período, hoje ele foi o grande responsável pela reação de seu time, com 17 pontos em 25 minutos (7/10 nos arremessos). O pivô do Barcelona, mesmo assim, ficou no banco nos últimos três minuto.

Quem fez falta: as Filipinas… 🙁
O esforço da atlética seleção de Senegal contra a Espanha foi formidável, especialmente primeiro tempo, mas é difícil de fugir de um devaneio sobre como teria sido o confronto dos anfitriões com as Filipinas nestas oitavas de final. Antes que me acusem de pirado: não, os filipinos não venceriam, não causariam a maior surpresa da história. Mas pode ter certeza de que eles proporcionariam alguns instantes de pura diversão em quadra, deixando Pau Gasol atônito.

Blatche e as Filipinas já partiram, cada um para o seu lado

Blatche e as Filipinas já partiram, cada um para o seu lado

Um causo
Não chega a ser um dramalhão mexicano, mas Gustavo Ayón ainda está desempregado. A despeito de suas diversas qualidades, o pivô não tem contrato para a próxima temporada. Que vergonha, NBA. Neste sábado, contra os Estados Unidos, ele mostrou que tem bola. A melhor vitrine. Será o suficiente para levantar uma proposta? Vejamos. Só não foi suficiente para evitar uma derrota por 86 a 63.

Curry acertou 16 de seus últimos 25 arremessos de 3 pontos no Mundial. Melhor marcar o craque

Curry acertou 16 de seus últimos 25 arremessos de 3 pontos no Mundial. Melhor marcar o craque

Alguns números
35 –
Os “Splash Brothers” do Golden State Warriors anotaram juntos 35 pontos na vitória contra o México.  Stephen Curry foi o cestinha, com 20. Klay Thompson anotou 15. Juntos, eles mataram nove de 18 arremessos de longa distância.

33 – A vitória por 89 a 56 sobre Senegal, por 33 pontos, foi a mais larga da Espanha em um jogo de mata-mata de Mundiais, EuroBasket ou Olimpíadas.

18 – O cestinha da Eslovênia contra a República Dominicana foi um Dragic. Mas Zoran dessa vez. O ala-armador não permitiu que um jogo abaixo do esperado de seu irmão derrubasse a equipe, marcando 18 pontos com 8/15 nos arremessos. Goran ficou com 12 pontos e 6 assistências – mas também cometeu seis desperdícios de posse de bola. Curioso que o astro do Phoenix Suns tenha se atrapalhado contra uma equipe que não é muito conhecida por sua pressão defensiva. Duro agora é se preparar para um embate com os Estados Unidos.

11,1% – Os irmãos Gasol não deixaram Gorgui Dieng se despedir da Copa da melhor maneira. Uma das sensações do campeonato, o pivô senegalês terminou as oitavas de final com 6 pontos, 7 rebotes e 2 assistências, acertando apenas 1 de 9 chutes de quadra (aproveitamento de 11,1%). No geral, ele teve médias de 16 pontos, 10,7 rebotes, 2 assistências e 1,5 bloqueio.

4 x 5 – Para Ricky Rubio, que preencheu a tabela estatística hoje, com pelo menos cinco incidências em quatro categorias diferentes: 7 pontos, 5 rebotes, 6 assistências e 5 roubos de bola em apenas 20 minutos. O armador já não tem a mesma badalação dos tempos de adolescente, mas ainda é um jogador bastante singular quando em forma.

Andray Blatche: acabou a contagem
Vocês sabem, né? O pivô mais filipino da Copa liderou a primeira fase em total de arremessos de quadra. Foi bom enquanto durou. Agora ele já está de volta aos Estados Unidos. Destino: Miami. Para assinar com o Heat, ou simplesmente por que vive lá? A Internet não responde com clareza. Consta apenas que ele não será reaproveitado pelo Brooklyn Nets.

O que Giannis Antetokounmpo fez hoje?
Treinou com seus amigos gregos e estudou o comportamento dos alas da Sérvia. Simples assim.

Tuitando:

O técnico Vincent Collet vem sendo cobrando por muita gente neste torneio sobre os parcos minutos que o ala-armador Evan Fournier, agora do Orlando Magic, vem recebendo no torneio. Contra a Croácia, ele saiu do banco para anotar 13 pontos em apenas 16 minutos, sendo fundamental na reação francesa no segundo período. Mas o treinador não fica muito impressionado, não, depois de ver o jovem atleta arrriscar uma bola de fora precipitada contra marcação por zona. “Ele não conhece o jogo de basquete, pelo menos não o bastante”, disse. Ouch.

Fair play, a gente se vê por aqui. Depois de seus pivôs anularem Gorgui Dieng, o armador entra em contato com seu companheiro de Minnesota Timberwolves com algumas palavras de incentivo.

É com esse espírito que a torcida espanhola vai para as quartas de final.


Mas nem todo mundo é só sorrisos no basquete espanhol. Para vocês verem que não é só jornalista brasileiro quem chateia. ; )


Após Curry, Thompson aparece para atormentar Spurs, e Warriors apronta de novo
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Giancarlo Giampietro

Klay Thompson aterroriza San Antonio

É isso aí, o Klay Thompson também pode pelo Golden State!

 

“Viu só? Eu também consigo fazer ISSO. Nhém!”, é o que parece que o Klay Thompson resolveu dizer para toda a NBA, nesta quarta-feira, para desespero de Gregg Popovich em San Antonio.

Depois do espancamento promovido pelo Miami Heat para cima do Chicago Bulls, invertendo o conceito de quem desceria a marreta nesta série, o Golden State Warriors resolveu aprontar de novo contra o San Antonio Spurs. Mas dessa vez quem comandou a traquinagem foi este ala esguio e igualmente perigoso nos tiros de três pontos.

Relegado ao papel de coadjuvante durante a arrancada rumo ao estrelato de Stephen Curry nos playoffs, Thompson deu provas de seu seriíssimo potencial no Texas para deixar a experiente turma de Tim Duncan desconcertada. Em dois jogos, temos um confronto empatado, com o mando de quadra roubado por parte do Warriors. E não só isso: o que assusta é que a equipe dirigida pelo surpreendente Mark Jackson poderia estar facilmente com uma vantagem de 2 a 0, não fosse a patinada feia que deram na primeira partida, perdendo uma liderança de duplo dígito no quarto final, caindo na segunda prorrogação.

Se tomarmos como parâmetro o que Curry vinha produzindo até aqui, o Spurs até que conseguiu atrapalhar sua vida no segundo jogo, limitando-o a apenas sete conversões em 20 arremessos no total e a quatro assistências para dois turnovers. Ainda assim, ele marcou 20 pontos, mas tudo bem.

Klay Thompson x Kawhi Leonard

Leonard tenta o toco, mas a alta elevação no chute de Thompson não permite

E aí que me entra em cena o Thompson aproveitando os espaços oferecidos pela marcação mais concentrada em Curry e arrebenta com o Spurs, sem dó nem piedade: 34 pontos, com 13 em 26 chutes de quadra e impossíveis oito bolas de três certeiras em nove tentadas – ao mesmo tempo em que Curry, para se ter uma ideia, chutou 6/9 na linha de lances livres. Segura!!!

O curioso é que, no quarto final, o ala ficou zerado. Problema resolvido para as próximas partidas, então, por parte de Pop?

Nada: porque Curry e Jarret Jack assumiram a bronca e marcaram os últimos nove pontos do Warriors para proteger mais uma grande vantagem no placar que estava indo para o buraco – o primeiro tempo terminou com 19 pontos para a fedelhada; a 4min22s do fim da partida, o Spurs estava a apenas seis pontos de um empate.

Só que o raio não caiu de novo no mesmo lugar. Vejam essa declaração de Manu Ginóbili: “O que aconteceu no jogo 1 não é sobre inexperiência. É apenas um desses jogos que acontece muito raramente, algo como uma vez em mil. Não era para termos vencido aquele jogo. E eles vieram ainda mais famintos, mais determinados. E claro que eles são mais jovens e mais atléticos que nós. Mas eles também foram mais físicos. Apenas fizeram um trabalho muito melhor que o nosso. Eles mostraram que queriam mais. Eles provavelmente pensaram que mereciam a vitória no jogo 1 e queriam mais uma oportunidade para vencer”.

É preciso respeitar o astro argentino pela sinceridade, franqueza de seu comentário. Um raciocínio que entrega como está o espírito do Spurs no momento: de não saber o que fazer, de ser pego de surpresa por um time que supostamente não só não deveria estar competindo com seus veteranos, como parecia inimaginável que pudessem ser simplesmente omelhor time na série.

Em Oakland, os ávidos torcedores do Warriors já devem estar fazendo o gargarejo para preparar a garganta. Vai explodir aquele ginásio, e o jovem Warriors está em uma posição para satisfazê-los.

*  *  *

Thompson, um exímio arremessador de três, havia matado apenas 34,3% na série contra o Denver Nuggets e havia errado seus últimos dez chutes de longa distância, incluindo os quatro que tentou na primeira partida contra o Spurs.

*  *  *

Esta é daquelas notícias que nenhuma das partes vai confirmar oficialmente, mas já virou senso comum nos bastidores da liga; quando o Thunder decidiu no ano passado que não poderiam renovar com James Harden, o primeiro clube a receber uma ligação de Sam Presti foi o Golden State Warriors. A franquia de Oklahoma City queria saber se dava para fazer algum negócio por… Thompson, de 23 anos. Foram recusados de cara.

*  *  *

O pai de Klay Thompson, Mychal, foi o número um do Draft da NBA em 1978, pelo Portland Trail Blazers. Ele teve uma carreira produtiva em seus primeiros anos sob o comando do legendário Jack Ramsay em Portland, mas não chegou a ser dominante em um time que demorou a se recuperar da perda de Bill Walton. Foi, no entanto, uma peça fundamental para o Lakers no final dos anos 80, reforçando o banco da equipe que ganhou o bicampeonato em 1987-88. Showtime!

*  *  *

Na última vez que o Warriors havia triunfado em San Antonio – em 14 de fevereiro de 1997 –, Stephen Curry tinha apenas oito anos e Tim Duncan estava na faculdade.