Vinte Um

Arquivo : Flamengo

Chega ao fim a carreira de Kammerichs, o operário argentino e xodó do Flamengo por um ano
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Pesquisando sobre a seleção alternativa da Argentina que Júlio Lamas vai trabalhar para a Copa América, me deparei com esta manchete aqui o site do diário Olé, nosso bom e velho companheiro de tiração de sarro:

La extinción del Yacaré

 

Não é possível!

O jacaré?!

Sim, o jacaré Federico Kammerichs. O bigodudo que conquistou a torcida do Flamengo por uma temporada de NBB decidiu se aposentar neste ano, precocemente aos 33 anos. Convocado por Lamas, até pensou em fazer sua saideira em Caracas, mas optou por parar já, deixando o grupo dos atuais quarto colocados das Olimpíadas – e precisava lembrar!? – ainda mais inexperiente na busca pelo título continental e por uma vaga na Copa do Mundo.

Kammerichs, barba completa

O gesto característico de um Yacaré

Sem muita velocidade ou impulsão, mas com inteligência e coração, o ala-pivô teve uma carreira formidável, ainda que não à altura de seus companheiros de geração muito mais laureados. Ficando à sombra de Nocioni, Delfino e Herrmann, não teve lá muitos momentos brilhantes pela seleção, com exceção daquele fatídico Pré-Olímpico de Las Vegas 2007 – e precisava lembrar de novo, cazzo!? –, em que fez todo o serviço sujo necessário, limpando a quadra para Scola brilhar.

De qualquer forma, quando ele ficou aqui pertinho de nós, respirando os ares cariocas, Kammerichs mostrou o quanto podia ser especial em quadra.

Segue abaixo  um texto de nossa encarnação passada, tentando compreender o sucesso que ele desfrutava pelo Flamengo – pontuando bastante, somando double-doubles–, de certa forma surpreendente, para quem o conhecia apenas como um mero operário pela seleção argentina. Para não correr o risco de autoplágio, reproduzo na íntegra, já que não haveria muita coisa para acrescentar a respeito do cara, que fez sua última temporada pelo Regatas, em casa.

Foi publicado em 10 de janeiro de 2012, o que obviamente o inviabiliza desde já a concorrer à categoria de clássico da literatura esportiva nacional, logo depois de uma derrota rubro-negra para o Uberlândia, em dia inspirado do americano Robert Day.

Vamos lá:

“Robert Day acabou roubando a cena. A pauta prévia do VinteUm era assistir ao duelo entre Flamengo e Uberlândia no sábado com olhos fixos (bem, na medida que o enquadramento da TV permitir) em Federico Kammerichs, que vem arrebentando no campeonato nacional. Desviamos um pouco a atenção, mas cá estamos com ele.

Para os que acompanham o bigodudo por anos e anos de confronto com a Argentina, não surpreende que o medalhista olímpico contribua positivamente para o clube carioca e que seja um sucesso no NBB. Só não dava para esperar tamanho êxito, che: Kammerichs vai sustentando médias de 13,9 pontos por jogo, algo que jamais contentaria um Oscar Schmidt, mas é de se destacar num clube que já reuniu na mesma quadra gatilhos como Machado, Leandrinho e David Jackson, em um contexto de salve-se-quem-puder. Nos rebotes, está ainda melhor, com 10 por partida, liderando toda a liga. Além disso, seu aproveitamento nos arremessos de dois pontos é de 69,47%, convertendo basicamente seis por jogo a cada oito ou nove tentativas. Seus números defensivos não são de outro mundo, num reflexo de seu posicionamento correto, em detrimento de  precipitações em busca de roubos de bola ou tocos. Na somatória, noves fora, temos o segundo jogador mais eficiente (estatisticamente) do campeonato.

Aquela noite inesquecível de Las Vegas 2007

Kammerichs, naquela dolorida vitória argentina em Vegas

Um quadro que não condiz, que não bate com o que aprendemos a admirar – ou lamentar, dependendo do grau de envolvimento emocional – em suas partidas pela seleção argentina, na qual é valorizado por sua atenção aos pequenos detalhes do esporte, e, não, como um carro-chefe da equipe, daqueles com volume de jogo (mucho gusto, Scola, Delfino, Nocioni, Ginóbili, Quinteros, Prigioni etc).

Em toda a sua carreira em torneios FIBA com a albiceleste, só teve duplo digíto em pontuação no Sul-Americano de 2003, lá em Campos dos Goytacazes, com 11,2 por partida – época em que sua massa capilar ia muito além do bigodón, compondo um visual setentista daqueles –, e na Copa América de Santo Domingo-2005. Fora esses dois torneios, em competições de alto nível (ou não), ele teve médias de: 3,8, 3,7, 4,4, 0,5, 2, 7,3 e 4,4 pontos. Em quatro ocasiões, teve mais rebotes do que pontos, na verdade.

(Agora uma pausa nem tão breve para rodar o relógio para trás: era 2003 em Campos de Goytacazes, e naqueles dias a cidade fluminense tinha seu próprio clube na elite do basquete brasileiro, dirigido por Guerrinha, usando um modesto ginásio, onde este palpiteiro aqui ficou enfurnado para as finais do Sul-Americano, sentado nas tímidas arquibancadas ao lado de alguns scouts perdidos da NBA – o argentino Lisandro Miranda, do Dallas Mavericks, e dois (vai entender…) do Houston Rockets, BJ alguma coisa, um gigante figuraça, e Melvin Hunt, mais calado e hoje assistente técnico preferido de George Karl no Denver Nuggets, em ascensão notável, depois de ter trabalhado no banco do Cleveland Cavaliers. O principal alvo da trupe era o então jovem Carlos Delfino, que, na decisão, saltou para uma enterrada frontal, no meio do garrafão, diante do imponente Estevam: por alguns segundos, a respiração coletiva do ginásio parou e os olheiros da liga norte-americana levaram as mãos para a cabeça; o tempo se descongelou quando o pivô brasileiro, corajoso e ainda vigoroso, acabou fazendo a falta no ala, que seria selecionado no Draft um ano mais tarde pelo Detroit Pistons. Neste mesmo jogo, num domingo bem quente, Walter Herrmann, um cracaço que fazia a bola parecer de tênis em suas mãos, só não fez chover dentro de quadra. No time brasileiro, lembro que André Bambu havia rendido algumas notas para esses deslocados visitantes da NBA).

Kammerichs e Leandrinho tipo NBB

Leandrinho disparou, e Kammerichs vem atrás de qualquer sobra

Agora voltando: estávamos falando de como Kammerichs construiu sua carreira internacional muito mais como um operário do que como chefe da companhia. E o que acontece, então, para este veterano argentino se sobressair no NBB?

O ala-pivô nunca foi um jogador conhecido por sua capacidade atlética. Mas descolou seu nicho pela capacidade de leitura de jogo. Quase sempre aparece no lugar certo na hora certa para recuperar uma bola perdida, para fazer uma cobertura defensiva, se sacrificar em corta-luzes, capturar um rebote ofensivo, bloquear um pivô por trás. Ele sabe se aproveitar de quebras no sistema, de alguma interrupção no fluxo da partida para dar o bote. E, nos jogos frenéticos e desorganizados que temos visto durante o campeonato nacional, esse tipo de lapso ocorre aos montes, e há poucos concorrentes interessados nesse tipo de ação.

Kammerichs também é daqueles que joga duro o tempo todo. Pode ser lento e não sair do chão, mas  seus rivais não se podem deixar levar pela falsa impressão de estarem diante de um molenga. Especialmente quando confrontado com jogadores pouco móveis ou atléticos, que não consigam se aproveitar de suas deficiências – como Lucas Cipolini e Luis Felipe Gruber fizeram no sábado, aliás –, seu tino pela bola e dedicação podem colocá-lo em vantagem com facilidade. Ele vai correr o contra-ataque e receber a assistência do armador velocista que disparou primeiro. Vai atacar o rebote ofensivo. Vai se posicionar em um buraco defensivo e ter toda a liberdade do mundo para matar seu arremesso de média distância, embora não seja nenhum Léo Gutiérrez em termos de precisão.

Daí o volume maior ofensivo, ainda que nenhuma jogada seja propriamente desenhada para sua prestação de serviços. A cada cesta que faz, ele tem o hábito de cerrar o punho, com o braço flexionado, vibrando consigo de um modo um tanto desengonçado. Nunca em sua vida foi tão fácil atacar assim, então é hora de comemorar e aproveitar mesmo.

Só fica registrada aqui, no fim, a expectativa de que esse esforçado operário possa exercer qualquer tipo de influência em seus concorrentes brasileiros que não pelos seus supostos dotes ofensivos.”

*  *  *

Sabia? Kammerichs também foi draftado na NBA, o Portland Trail Blazers, lá nos idos de 2002, o mesmo ano de Nenê. Ele saiu na posição 51, cinco postos acima de… Luis Scola!. O bigodudo foi testado algumas vezes pela franquia do Oregon, mas nunca assinou contrato.

Na época, ele havia acabado de sair do modesto clube Ourense, hoje na LEB Oro, para o Valencia, ex-clube de Faverani e Splitter (por umas semanas de lo(u)caute). Jogou na Espanha sem muito destaque até 2008, quando retornou para casa, pelo Regatas. Aqui, sua ficha técnica de quando jogou a Eurocup, como se fosse a Liga Europa do futebol, em 2004-2005.


Draft: como está o status dos brasileiros que se candidatam à NBA
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Passada esta final eletrizante e memorável, é hora de nos dedicarmos ao próximo passo da NBA. Porque o show não pode parar.

É hora do Draft! Um dos meus períodos favoritos do ano, acreditem.

Não deu para comentar isso durante os últimos dias malucos – do ponto de vista pessoal –, mas as três brasileiros que se candidataram este ano decidiram manter a inscrição no processo de recrutamento de novatos da liga: Lucas Bebê, Raulzinho e até mesmo o ala Alexandre Paranhos. O que surpreende, bastante.

(Lembrando que Augusto Lima não pode ser incluído neste grupo em específico porque sua participação, devido ao ano de nascimento, já é automática. Assim como todo brasileiro que veio ao mundo em 1991.)

Lucas Bebê em Treviso

Bebê está subindo nas tabelas…

Desta forma, fazendo as contas, são pelo menos quatro os brasileiros tentando ingressar na liga efetivamente, restando agora menos de uma semana para a cerimônia do dia 27 de junho, no ginásio do Brooklyn Nets.

Agora estamos no ponto desse processo em que os prospectos vão cruzando os Estados Unidos de costa a costa para treinar em privado pelas equipes. Essas sessões podem alternar: há jogadores que se recusam a duelar com outros em quadra e são avaliados individualmente ou apenas entrevistados e examinados. Há aqueles que estão sedentos para esse tipo de batalha, para provar que têm condição de subir nos rankings de um time em específico.

Esse tipo de treinamento produz muitas vezes causos e causos.

Nunca vou me esquecer dos relatos que vieram de Memphis no ano de 2003, quando Leandrinho seguia a trilha de Nenê. Há dez anos já! Caraca.

Pois bem, o ala-armador brasileiro havia acabado de fazer toda uma preparação especial sob a tutela de Ron Harper, em Cleveland. Aos poucos, começou aquele burburinho que aumentou consideravelmente num treinamento pelo Grizzlies, ainda gerido por Jerry West naquela época. Ali, Leandro bateu de frente, literalmente, com um prospecto vindo de Marquette, um certo Dwyane Wade. Segundo consta, o pau comeu nas atividades em quadra, e o hoje superastro do Miami Heat teria reclamado para West sobre o excesso de agressividade de seu adversário. Velha Escola, o Logo teria sorrido maliciosamente, se divertindo com o que via.

Um ano depois, em 2004, quem estava em turnê pré-Draft era o Rafael “Baby” Araújo. Formado por BYU, seu jogo não era nenhum mistério para os scouts e dirigentes. “Hoffa” (nos EUA) era cotado como um dos melhores pivôs daquela safra – pensem nisso: ele foi draftado em oitavo pelo Raptors, enquanto Anderson Varejão saiu apenas em 30º, via Orlando Magic, depois trocado para o Cleveland Cavaliers. Ainda assim, precisava provar seu valor nesses testes. E, para todo lugar que ia, parece que se cruzava com outro grandalhão, David Harrison, da universidade do Colorado. Dizem que chegou um momento em que os dois já não se aturavam mais, de tanta pancada que haviam trocado em um curto período. Até que saíram no tapa, mesmo.

 É por isso que passam os brasileiros agora.

Das notícias que temos, Lucas Bebê já treinou por Utah Jazz (14ª e 21ª escolhas) e Minnesota Timberwolves (9ª e 26ª). O brasileiro é visto hoje como um candidato certeiro ao primeiro round do Draft, e há quem já o coloque entre os 20 mais bem cotados depois da ótima exibição no camp de Treviso.

Em Utah, ele duelou com Mason Plumlee, jogador formado pelo Coach K em Duke, muito mais polido e três anos mais velho. Interessante que o Jazz esteja olhando para grandalhões também, quando o mais lógico seria buscar um armador . Talvez porque saibam que dificilmente vão manter Millsap e Al Jefferson, precisando preencher a rotação em torno dos ultratalentosos Enes Kanter e Derrick Favors. Já em Minnesota o carioca competiu com outro “marmanjo”, Jeff Withey, de Kansas, também com três anos a mais de cancha.

Augusto, por sua vez, lutaria por uma vaga no segundo round. Por isso, já foi testado pelo Wolves (que tem também as 52ª e 59ª escolhas), pelo Golden State Warriors (que, curiosamente, não tem nenhuma escolha de Draft, mas sempre pode se envolver em alguma troca ou simplesmente comprar uma, algo mais fácil na segunda rodada) e pelo Indiana Pacers (23ª e 53ª). Nas duas últimas sessões, o brasileiro concorreu com o iraniano  Arsalan Kazemi, prospecto da universidade de Oregon.

Sobre Paranhos, as informações são escassas. O ala ex-Flamengo, de potencial físico incrível, mas que mal jogou pelo clube carioca nos últimos dois NBBs, está sendo promovido nos Estados Unidos por Artur Barbosa, o irmão mais velho de Leandrinho. Artur enviou um email ao jornalista Henry Abbott, do blog ThrueHoop, da ESPN, para falar sobre o garoto. Em seu texto, revela que o ala foi testado pelo Houston Rockets. O Milwaukee Bucks foi outro que o observou de perto.

*  *  *

Sobre Raulzinho, não há relatos de que esteja treinando nos Estados Unidos, mas tenho uma pequena informação: há um time da Conferência Oeste bastante interessado pelo armador. Seu estafe ficou impressionado com sua exibição em Treviso, onde foi eleito o MVP do camp.


Adaptado, Flamengo domina Uberlândia no garrafão e é campeão do NBB
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Título rubro-negro

O Flamengo abriu o NBB 5 como um trovão, com um basquete extremamente veloz, atlético e agressivo. Venceu seus primeiros 20 segundos desta maneira. Na final do campeonato em jogo único, com dois desfalques importantes, se adaptou: parecia outro time, superando o Uberlândia na base de tamanho e força física. Vitória por 77 a 70.

Sem poder contar com Vitor Benite, de ultima hora, e Marcelinho, durante todo o ano, o técnico José Neto teve de mudar por completo sua proposta de jogo para a decisão, apostando numa equipe de maior estatura, a começar pela presença do paraguaio Bruno Zanotti na escalação titular, mas passando muito pela dominância de Caio no garrafão. A equipe mineira não soube como lidar com isso.

Lucas Cipolini e Luis Gruber, carregado precocemente com faltas, tiveram muita dificuldade para conter o jogo interior, especialmente no embate dos ex-pinheirenses Cipolini e Caio. Lucas é mais baixo e mais fraco, mas bem mais atlético e explosivo. Decidiu marcar seu oponente, porém, pelas costas, em vez de tentar se posicionar pela frente, para cortar a linha de passe. Cliquem aqui para ler uma explanação sempre elucidativa do professor Paulo Murilo a respeito dessa técnica, relembrando a marcação do francano Douglas Kurtz sobre Paulão, do Brasília.

Como destac0u no twitter o técnico Gustavo de Conti, do Paulistano e da seleção brasileira, o Uberlândia só equilibrou a partida quando teve em quadra seus postes, como Estevam e Léo, no segundo período. Porque essa dupla, ao menos no físico, dava conta do grandalhão adversário. Eles ficaram em quadra por apenas 17 minutos. Sem esse combate e adotando uma estratégia de marcação simples, básica com pivôs menores, o time de Hélio Rubens foi destroçado no garrafão. (Para piorar, do outro lado, não conseguiram explorar a maior mobilidade, perdendo por completo o jogo de xadrez.)

Caio Terminou com 23 pontos e 10 rebotes, um estrago danado. Matou oito de dez arremessos, com tranquilidade e eficiência incrível, e ainda bateu oito lances livres, convertendo sete deles. Para somar, Olivinha, com a garra de sempre,  somou 10 pontos e 12 rebotes. No total, o Flamengo converteu 22 de 29 bolas de dois pontos, para um aproveitamento de 75,9% – contra 14/36 e horrendos 38,9% de aproveitamento dos mineiros. Uma diferença brutal.

Daria para dizer aqui, olhando os números finais, que “o Uberlândia só conseguiu se manter relativamente próximo no placar graças ao seu bom rendimento na linha de três pontos: 11/27 e 40,7%”. Porém… Se você for descontar o excelente primeiro tempo de Gruber (5/7, 71,4%!!!), a pontaria dos vice-campeões despencaria para 30%.

Mérito aqui para a contestação dos defensores do Flamengo, que ficaram grudados em seus alvos, com pegada forte, se aproveitando também da energia de um ginásio cheio e entusiasmado. Vale aqui o destaque para o próprio Zanotti, uma revelação nesse quesito. Lidando de modo alternado com um dos Roberts – Day ou Collum –, foi muito bem, disciplinado, com postura exemplar. Os dois gringos tiveram uma manhã para ser esquecida: cada um converteu apenas dois chutes em oito de longa distância. Fica, então, uma provocação: precisa vir um paraguaio a nos ensinar a marcar no perímetro?

No fim, a vitória rubro-negra só não foi mais elástica devido a sua própria insistência nos disparos de fora (6/26, 23,1%) – com o garrafão escancarado? Precisava, mesmo? Duda (1/6, o de sempre) e Marquinhos (1/5, uma bobagem, quando é muito, mas muito mais efetivo quando parte para a cesta – vide os 6/6 em dois pontos) não foram nada bem aqui. Seu ataque, apenas com Kojo na armação e o jovem Gegê para dar algum descanso ao titular, também se apresentou de modo destrambelhado em algumas sequências.

Mas isso não foi uma exclusividade dos rubro-negros. No segundo quarto em especial, vimos o caos em quadra, ainda que, na estatística oficial, apenas 11 turnovers tenham sido computados – algo em que realmente é bem difícil de acreditar. A partida se perdeu em diversos momentos, com várias posses de bola que terminavam, basicamente, em nada, sem arremessos de dentro ou fora.

Quando conseguiu se assentar em quadra, porém, invadindo o garrafão com força e volúpia, o Flamengo se impôs. E, no fim, venceu a melhor equipe do campeonato. Ainda que não tenha sido exatamente aquela que dominou a temporada regular.

*  *  *

Uberlândia não teve pernas também. Valtinho (37min09s) e Collum (36min08s), estavam exaustos e não conseguiam bater nem mesmo os pivôs do Fla quando havia uma inversão na marcação. Fizeram falta aqui os minutos que seriam destinados a Helinho, aparentemente sem condições de jogo depois de ter sofrido uma cotovelada na face durante um treino em abril.

*  *  *

Hélio Rubens segurou Gruber por muito tempo no banco de reservas, depois de seu ala-pivô cometer a terceira falta no segundo quarto. Voltou para o segundo tempo com Leo em quadra e demorou para acionar o titular, que, quando voltou, estava completamente frio, fora do jogo. Ele marcou 18 pontos em uma atuação brilhante na etapa inicial, mas somou apenas dois depois do intervalo.

*  *  *

A final com o ginásio lotado, o Flamengo comemorando título em rede nacional, no plim-plim… Certamente foi o melhor momento do NBB em termos de exposição e marketing. Vamos aguardar a audiência. A Globo ter segurado a transmissão ao final por alguns minutos preciosos pode é um bom indício.

*  *  *

Lula Ferreira falou e disse: a arbitragem foi boa na decisão, discreta, sem aparecer. Como assim deve ser. Ufa.


Garotos do Bauru assumem o comando em vitória sobre o Flamengo
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Bauru campeão

Garotada do Bauru, campeão da LDB 2013, pede passagem

Há um aspecto interessante na vitória do Bauru sobre o Flamengo por 89 a 74 neste sábado pelo NBB 5: o rubro-negro perdeu definitivamente sua aura de imbatível construída durante um primeiro turno memorável. Isso não quer dizer também que não seja um dos favoritos ao título, como sempre foi. Significa apenas que, nos playoffs, um adversário mais confiante poderá acreditar em chance de vitória.

Mas o principal ponto, pensando no basquete brasileiro de um modo geral, além do campeonato, é o modo como se desenvolveu a divisão de tarefas na equipe paulista. Acomodados em demasia durante boa parte da temporada em torno de sua tropa de veteranos americanos, ela dessa vez venceu liderada por dois de seus jovens talentos nacionais, o ala Gui Deodato e o armador Ricardo Fischer, dois campeões da Liga de Desenvolvimento, nosso campeonato de aspirantes como avaliou dia desses o Guilherme Tadeu, do Basketeria.

Vamos abordar em breve com muito mais profundidade essa questão, levantando alguns dados interessantes, mas, de supetão assim, é claro que os times de elite no país não vêm se esforçando muito em integrar jovens talentos em elencos com a necessidade de acumular uma vitória depois da outra – exceção, clara, feita a Franca, ao progresso do menino Lucas Dias no Pinheiros e… Bem, aguardem.

Contra o Fla,  foi a vez de a molecada virar protagonista, ainda que, talvez, de modo involuntário, uma vez que Jeff Agba e o Fischer mais velho foram desfalques. “Foi uma vitória diferenciada por todo potencial do time do Flamengo e pelas nossas dificuldades por não contarmos com alguns jogadores”, disse Guerrinha.

Gui anotou 21 pontos, seguido pelos 20 de Ricardo. Melhor ainda: os dois descansaram pouco mais de 1min30s, numa prova de sua relevância na partida, castigando a defesa adversária do perímetro. Juntos, converteram 9 de 15 disparos de três pontos, sendo responsáveis apenas neste fundamento por 30% da pontuação total de sua equipe.

(Agora pausa para um longo parêntese…

O quanto isso é saudável, entretanto? Vale matutar: Guilherme é um dos jogadores mais explosivos que você vai encontrar no campeonato e não pode ficar tão estacionado assim na linha de três pontos. Em 38min25s de ação, ele arremessou dez vezes de fora e não cobrou sequer UM lance livre, num saldo lamentável. Um jogador atlético feito ele deveria ser – e usado de modo – muito mais agressivo, em vez de se tornar apenas um spot up shooter. Lembrem-se de que estamos falando do bicampeão do torneio de enterradas!

É preciso saber o que acontece: se o plano de jogo não proporciona jogadas de maior eficiência para o garoto, se o ala ainda se sente inibido, desconfortável em usar o drible em direção ao aro, ao garrafão… Uma não necessariamente exclui a outra. Mas é uma situação que pede um reparo urgente. Imaginem se Bauru entrasse em quadra com um Guilherme atuante em infiltrações? O quão difícil seria para os oponentes estabelecer uma defesa equilibrada diante de Larry, Ricardo, Pilar e Gui levando a bola, atacando de todos os lados?

Em entrevista ao Fernando Hawad Lopes, do Bala na Cesta, para constar, Guerrinha disse o seguinte: “Quanto ao Gui, com certeza vai ser um dos grandes jogadores do Brasil. Estamos fazendo um trabalho progressivo com ele e ele está crescendo muito”.

Enfim, chega de digressão. As bolas de três pontos dessa vez caíram de montão, os garotos brilharam, e segue o texto…)

Ricardo, atuando em dupla armação ao lado de Larry, ainda contribuiu em outros aspectos, com seis rebotes e três assistências, sendo o jogador mais eficiente de seu time, com 22 de índice, um a mais que o sempre subestimado Henrique Pilar (13 pontos, 6 rebotes, 4 assistências e 4 roubos de bola).

Legal também ver Andrezão, outro campeão de nossa D-League, herdando alguns minutos de Agba. Com média de apenas 8,4 no campeonato, o jovem pivô dessa vez passou quase 22 minutos em quadra, com sete pontos e seis rebotes, quatro deles preciosamente ofensivos, e acertou três dos quatro arremessos  que lhe delegaram. Ativo na defesa, também tomou a bola duas vezes de seus oponentes.

É claro que, quando voltar, Agba tem de ser explorado – ele causa estragos por aqui. Claro que o principal homem do time ainda é Larry, seu jogador mais completo e qualificado. Mas vencer o Flamengo no Rio de Janeiro com atuações expressivas da trinca do “Expressinho” mostra que o momento de se abrir passagem para os rapazes esteja bem próximo.

*  *  *

Podem ter certeza de que tanto Gui como Ricardo estão nos planos de Rubén Magnano para esta temporada. Resta saber para qual grupo: o da seleção de novos que será formada para a disputa de amistosos na temporada, ou o principal, que vai encarar a Copa América. Tudo vai depender de quem se apresenta da NBA e da Europa, além do grau de confiança do argentino especificamente nesses dois garotos. Gui jogou o Sul-Americano ano passado, enquanto Ricardo foi pinçado para treinar diariamente com os pesos pesados.


Análise: Brasília vence jogo tresloucado com defesa sufocante de Alex sobre Marquinhos
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

 Olivinha x Isaac

Algumas notas sobre o clássico entre Flamengo e Brasília, aparentemente as duas melhores equipes do basquete brasileiro. Uma vitória dos candangos por 82 a 70, impondo a segunda derrota do rubro-negros na atual edição da liga nacional:

– É claro que vai irritar muita gente, mas não dá para evitar a sugestão: se isso é o que há de melhor hoje no basquete brasileiro, então a coisa está feia, mesmo. Ficando evidente que os times participantes do NBB não conseguem dar aquele salto técnico tão aguardado.

(Pausa para que se digira essa colocação por alguns cucos…)

(Pronto.)

Que o ginásio borbulhando influencia no comportamento dos atletas decididamente – afinal, eles, por mais experientes que sejam, não estão nada habituados a entrar em quadra com tanta gente assim na plateia, mesmo que haja todo aquele espaço azul nas laterais da quadra para separá-los.

Que a rivalidade também contribui para tanto nervosismo. Havia muita tensão no ar, claro.

Mas chega uma hora que você espera que as coisas se assentem em quadra. Que os atletas tenham se aclimatado e passado a se concentrar tão somente no que precisavam executar em quadra, canalizando toda a energia do confronto de modo positivo.

Não foi o que aconteceu, e o que vimos foi um jogo sem ritmo algum: é de atordoar a facilidade para se alternar entre sequências infindáveis de ataques e contra-ataques tresloucados, com um festival de decisões equivocadas, e um jogo travado pelo excesso de faltas duplas, reclamações e tantas explanações didáticas (bem didáticas, tudo explicadinho, direitinho, em prol do basquete, sabe? Bem direitinho mesmo e didático, tintim por tintim, não se enganem). Foram muitos erros de bandeja e em finalizações no garrafão.

– Na NBA, já é recorrente a discussão sobre a eficiência do famigerado “hero ball”: quando o sujeito põe a bola debaixo do braço nos segundos finais, pede para limpar a quadra e parte para o abraço, para as glórias. É ele contra a rapa. Já não é realmente o cenário mais indicado. No confronto desta quinta, vimos isso acontecer muitas vezes: individualismo exacerbado. Com uma diferença: muitas vezes apenas no início de uma posse de bola qualquer no segundo quarto. Ou no primeiro. Ou no fim do terceiro. Enfim…

– O resultando de tanto nervosismo e tentativa de heroísmo na frieza dos números: um aproveitamento muito baixo nos arremessos de quadra. O Brasília matou 30 em 70 tentativas de cesta (42,8%). O Flamengo foi de 22 em 66, o clássico 33,3%. Ugh. E não me venham dizer que foi por causa de duas muralhas defensivas. Muralha, mesmo, tem um nome. Vamos a ele…

– Também não chega a ser novidade, mas é preciso reconhecer mais um esforço louvável de Alex para conter seu companheiro de seleção brasileira, Marquinhos. Não dá para dizer que existe uma rivalidade pessoal entre os dois. Mas ambos sabem que é um duelo diferente, envolvendo dois jogadores de ponta, de seleção. E nós sabemos que esse é o tipo de jogo que Alex adora também. Pois o “Brabo” usou todo o seu vigor físico, aplicação e fundamento para anular um dos jogadores mais talentosos ofensivamente do campeonato.

Alex ainda terminou com 11 pontos, boa parte deles anotados no quarto final, mas a grande influência que ele exerceu sobre a partida foi na marcação, mesmo, se dedicando a arrancar o flamenguista de sua zona de conforto.

– Sobre Marquinhos, realmente foi um jogo bastante decepcionante. O ala não conseguiu reagir contra a defesa sufocante de Alex, se perdendo em quadra. Em vez de encarar o desafio, buscar mais infiltrações – já que o tiro de fora não caía… –, o ala fez o contrário: sucumbiu, recuou em quadra e insistiu em chutes de probabilidade muito menor de acerto. Encerrou sua participação com apenas uma cesta de quadra em dez tentativas.

Quando não brecava para buscar o arremesso, procurava rodar a bola. Mas, aturdido, cometeu uma série de erros. Foram cinco desperdícios no total, sem contar outros passes forçados quase interceptados pelos oponentes. Seria um jogo para esquecer, não fosse a necessidade de rever seu desempenho e tentar tirar uma lição disso.

– Fica a expectativa para que o pivô Paulão consiga dar um jeito em seu físico. Porque do jeito que está não dá. Naturalmente, vocês vão achar que o blogueiro ficou maluco, já que o rapaz somou 17 pontos e 10 rebotes no triunfo, sendo o jogador com melhor índice de eficiência da partida. Agora, tivesse o Flamengo um pivô mais ágil, como ficaria Paulo Prestes em quadra?

– Aliás, esse é um ponto constantemente destacado pelo professor Paulo Murilo em suas análises no Basquete Brasil (leitura obrigatória para avaliar o que se passa, ou não, com a tática no NBB) e que ficou evidente: lentos, Caio e Paulão ficam bastante deslocados em seus elencos, com um estilo que não combina com a vocação do restante dos companheiros. E, por falar em Paulo Murilo, fica uma dica para os basqueteiros cariocas de plantão, ou aqueles que possam dar um pulinho no Rio de Janeiro: o professor vai coordenar uma oficina imperdível de 28 a 31 de março.

– Nezinho: 4 acertos em 11 tentativas de três pontos. Onze. Algumas delas horrorosos, daquelas de tirar as crianças da sala.

– Impressão, ou Alex está saltando ainda mais? O mesmo vale para Giovannoni, que, nos segundos finais, saiu com bastante facilidade do chão para dar duas raras cravadas.

– Sobre a transmissão: ponto para o SporTV por ter enviado sua equipe para o ginásio, dando a chance para que os telespectadores pudessem captar toda a pressão exercida pela torcida. Só uma observação: será que não dava para caprichar mais no cronômetro apresentado na tela? Dependendo do tempo de jogo, a visualização é extremamente difícil – e, sim, meus óculos estão com a lente correta. 🙂

PS: Siga o Vinte Um no Twitter: @vinteum21.


Após mudanças, calendário do basquete brasileiro segue totalmente bagunçado
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Nunca antes na história deste país foi tão difícil agendar um jogo de basquete. Ou melhor: três ou cinco, dependendo do quanto vai se estender a final do Campeonato Paulista masculino.

São José x Pinheiros, segundo round

São José, de Laws, faz revanche contra o Pinheiros em final tardia do Campeonato Paulista

A federação divulgou nesta sexta as datas dos duelos entre Pinheiros e São José dos Campos: dias 20 e 21 em São Paulo, 23 em 24 no Vale do Paraíba e, se necessário, no dia 26 retornando para a capital. Concluída, então, a semifinal na quinta-feira passada, todo mundo que espere mais de dez dias para a decisão começar.

Que espécie de tabela é essa? Não há regularidade, continuidade nenhuma. Quando a final começar, o Pinheiros, por exemplo, terá aguardado 19 dias desde o desfecho de sua série contra o Paulistano. São duas semanas e meia, gente. Algo inadmissível. Péssimo para fazer qualquer competição pegar fogo, como deveria ser numa fase dessas. É o guia básico de como esculhambar seu próprio produto.

No fim, de nada valeu o adiamento do hexagonal semifinal da Liga Sul-Americana por parte de Abasu e Fiba Américas. O Grupo E, que reúne o trio brasileiro, ficou agora para os dias 27 a 29 de novembro, em vez de 13 a 15 ou 14 a 16, como incialmente previsto e que poderiam encavalar com o defescho do Paulista, segundo a lógica. Mas que nada. As datas ficaram vagas e poderiam muito bem ser aproveitadas não fosse a pasmaceira que domina a FPB na hora de acertar sua tabela. Com a demora por parte da federação, pode ser agora que o Pinheiros jogue uma quinta partida num dia e, no outro, já tenha de encarar uma potência nacional em uma competição muito importante.

Pior: as datas dos dias 24 e 26, se utilizadas pelo estadual, coincidiriam com as duas primeiras rodadas do NBB.

Como se esse fosse o único problema para a LNB contornar – porque, convenhamos, obviamente haveria mais de um problema nesta zona toda.

Lançado o NBB 2012-2013

Lançado o NBB 2012-2013, mas já com eventuais mudanças na tabela para se fazer

A terceira jornada do campeonato nacional também já corre o risco de ser desfalcada, já que está toda programada para o dia 29 deste mês. O que implica em mais jogos adiados, uma vez que Brasília, Flamengo e Pinheiros estarão concluindo sua participação no torneio continental neste dia.

É até difícil entender ou explicar. Basicamente: entre os dias 24 e 29 de novembro, estão programados dois jogos finais do Paulista, três rodadas iniciais do NBB e um quadrangular de Liga Sul-Americana. Inacreditável:

Com qual frequência se dá o diálogo entre clubes e a sopa de letrinhas formada por Abasu, Fiba Américas, FPB, LNB (que gere o NBB) e CBB? Há quanto tempo já se faz todas essas competições regularmente? Qual a dificuldade de se organizar um calendário que possa acomodar datas específicas para cada uma delas?

O Campeonato Paulista é forte, tradicional, e tal, mas até quando a FPB vai causar tanto problema assim com seu prolongamento? É impossível definir as datas de antemão? E mais: caso houvesse começado mais cedo, tudo já poderia estar resolvido, e a Abasu e a LNB que se decidissem sobre suas rodadas. Da mesma forma seria se o número de competidores fosse reduzido – um raciocínio que, ok, pode ser despropositado, quando vemos a dificuldade que outras federações tem para catar na rua ao menos quatro inscritos.

Algo, porém, precisa ser feito para acabar com essa bagunça.


Jogos na Argentina sinalizam Marquinhos como ponto de desequilíbrio do Flamengo
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Marquinhos sobe para mais dois pontos

Marquinhos, de visual novo, em seu início de trajetória rubro-negra

Se tem algo que chama bastante a atenção quando você assiste a um jogador como Marquinhos ao vivo, de pertinho, em quadra, é como o jogo vem fácil para ele. Como, com 2,05m de altura, muitas vezes ele se mostra mais criativo e habilidoso do que um armador na hora de bater para a cesta. Como seu arremesso parece sair sem força alguma, acima da cabeça, mesmo que a mecânica não seja a mais bonita disponível no mercado.

Enfim, basquete fica parecendo a coisa mais legal do mundo – na verdade, é a coisa mais legal, não? 😉

Não estava em Mar del Plata para ver o Flamengo e o ala em ação tão de perto assim pela Liga Sul-Americana, mas deu para espiar os três jogos aqui do QG 21, mesmo. E arrisco a dizer: o time rubro-negro vai chegar até aonde o ala ex-Pinheiros puder liderá-lo.

No elenco de prestígio que o clube rubro-negro montou para a temporada, Marquinhos é quem tem os melhores predicados para desequilibrar, com facilidade para chegar ao aro, um tiro de média distância raro de se ver e as bolas de três pontos. Além disso e, talvez mais importante, também é um bom e disposto passador – para quem duvida, pergunte ao Olivinha, que já foi o receptor de várias assistências de seu fiel companheiro dos últimos anos. São capacidades raras de se unir num só atleta, ainda mais nos clubes sul-americanos, e, se bem aproveitadas, podem abrir a quadra para os chutes de Marcelinho e Benite e cestas fáceis dos pivôs no garrafão.

São habilidades também que podem fazer um estrago no contra-ataque.  O Bala, nosso vizinho, já havia relatado que o técnico Neto estava dando muita atenção para as saídas em velocidade, forçando o ritmo. Na Argentina, quando puderam, foi isso o que os flamenguistas tentaram mesmo: sair em disparada com três ou até quatro homens, um cenário em que Benite e Kojo podem render bastante, explosivos que são. Mas faz toda a diferença neste plano alguém como Marquinhos. Quando um ala com sua mobilidade e tamanho recebe o último passe na corrida, é complicado para a defesa parar. Ou sai a bandeja, ou vem a falta. Difícil escapar disso.

Agora… Tudo isso aqui não quer dizer que o ala seja um super-homem ou um jogador irrefutável. Não é sempre que ele entra em quadra com a mentalidade agressiva, usando suas habilidades para ser dominante no ataque. Pudemos ver esta oscilação na cidade argentina.

Marquinhos e os novos companheiros

Marquinhos tende a envolver os companheiros quando controla a bola no ataque

No primeiro jogo contra a Hebraica uruguaia, o ala fez um primeiro tempo arrasador – se não me engano, com 16 ou 18 pontos de cara nos 20 minutos iniciais. Ele atacou a cesta com voracidade, intensidade e foi fundamental para garantir uma boa vantagem. A segunda partida contra o chileno Deportes Castro não conta lá muito, mas Marquinhos fez sua parte. Quando entrou em quadra, por fim, contra o Peñarol argentino, tinha já 43 pontos somados. Acabou fechando a primeira fase com 50, tendo anotado apenas sete no principal confronto, agredindo pouco a defesa adversária, e os argentinos viraram o placar no segundo tempo.

Não é questão de incentivar o individualismo. Especialmente no caso de Marquinhos, que realmente compartilha a bola.  O ponto é que, quando ele decide entrar no jogo e tentar domá-lo, a vida de seus parceiros tende a ficar mais fácil. Tenham isso em mente na hora de acompanhar o Fla durante a temporada.

*  *  *

Marcelinho Machado mordeu a isca novamente: contra o Peñarol, enquanto Leo Gutiérrez viva uma noite de folião do outro lado, o veterano brasileiro terminou com péssimo aproveitamento de 11% nas bolas de longa distância, com apenas uma conversão em nove tentativas. Na primeira fase em geral, foram apenas 25%. Uma velha história que fica ainda mais complexa de se assimilar quando levamos em conta que ele foi o jogador que mais deu assistências pelo cube carioca (10), quem mais roubou bolas (7, ao lado de Benite) e o quarto reboteiro (ao lado de Marquinhos, com 15, apenas um a menos que Shilton e dois a menos que Olivinha, mesmo jogando muito mais tempo no perímetro).

*  *  *

Até agora são três confrontos diretos entre brasileiros e argentinos e três vitórias para nossos vizinhos. Um jogo foi em campo neutro (Obras Sanitarias 88 x 81 Pinheiros), um foi na nossa capital federal (Regatas Corrientes 93 x 91 Brasília) e agora o terceiro foi na quadra deles, com o triunfo do Peñarol. O São José, em meio a suas batalhas pelo Campeonato Paulista, tenta quebrar a série na semana que vem, tendo o Libertad Sunchales pela frente, pelo Grupo D.


Cinco motivos para entender por que Leandrinho ainda não tem clube na NBA
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Leandrinho, pelo Indiana Pacers

Passam as semanas, o Vinte Um esteve em ritmo de férias por alguns dias preciosos e justíssimos, não caía nem goteira de ar-condicionado em São Paulo até esta terça-feira, as pesquisas eleitorais já assombram grandes e pequenas cidades, mas nada de Leandrinho assinar um contrato para a próxima temporada da NBA.

Entre os agentes livres disponíveis estão veteranaços em declínio como Tracy McGrady, Gilbert Arenas, Michael Redd, Mike Bibby, Kenyon Martin, Derek Fisher e jovens pouco provados como Donte Greene, DJ White, Derrick Brown, Armon Johnson e Solomon Alabi.

Não daria para enquadrar o ala-armador brasileiro em nenhuma dessas categorias. Ele nunca mais rendeu como nos tempos de correria com Mike D’Antoni, mas ainda pode ser um bom pontuador para o banco de reservas e teoricamente ainda estaria fisicamente no auge.

Então… Que diacho!?

Juntando alguns pauzinhos por aqui, vamos tentar entender o que se passa com o momentâneo desemprego de Leandro Barbosa:

Ray Allen, do Miami Heat

Ray Allen assina por menos com o Heat, não se aposenta e ‘rouba’ emprego na liga

1) Aposentar para quê?
Com a evolução das técnicas de preparação física, novos recursos medicinais, maior atenção com a alimentação e regras que inibem um contato mais forte – ou maldoso –, a NBA testemunhou em sua última década uma evolução atlética impressionante. Compare os vídeos de hoje com os da era dourada dos anos 80, e o impacto visual é mais ou menos o mesmo que temos ao colocar lado a lado o futebol de hoje com o de ontem. Inevitável no esporte.

Agora, atletas mais bem preparados tendem a ganhar em longevidade também. Não só eles se mantêm em atividade por mais tempo como ainda conseguem produzir de modo adequado. Peguem os casos de Grant Hill e Jason Kidd, que dividiram o prêmio de novatos do ano lá atrás em 1995 (!!!) e ainda são cobiçados hoje por clubes que brigam pelo título. Os dois, aliás, vão completar 40 anos durante a próxima temporada. Assim como Kurt Thomas, Juwan Howard (que pode virar assistente técnico do Miami Heat). Steve Nash e Marcus Camby começam o campeonato com 38 anos. Ray Allen e Jerry Stackhouse têm 37. Andre Miller, Kevin Garnett, Chauncey Billups, Antawn Jamison e Tim Duncan, 36.

Nem todos esses caras concorrem por posição com Leandrinho, mas o raciocínio aqui é válido na medida que estes vovôs todos estão ocupando vagas em elencos – basicamente, empregos – que, em outros tempos, já teriam sido entregues a outras gerações. Ainda mais aqueles que ainda conseguem ser bem pagos.

2) A fila anda, de todo modo
Por mais que os velhinhos estejam durando, aguentando, a NBA também abastece seus elencos anualmente com calouros, alguns deles adolescentes, via Draft. São 60 novos possíveis jogadores por ano – dependendo do que acontece com as escolhas de segundo round ou com europeus que por vezes são escolhidos no primeiro, mas demoram um tico para deixar seus países.

Orlando Johnson, Pacers

Orlando Johnson foi selecionado pelo Pacers na segunda rodada do Draft e já tem seu contrato

Aqui a gente pode se concentrar apenas em jogadores que batem de frente com Leandrinho em termos de tempo de quadra, fazendo as contas de atletas que poderiam ser escalados como shooting guards ou aproveitados como combo guards ou somente guards pelos clubes da NBA.

E a má notícia: nos últimos três anos, o Draft de 2012 foi o que mais forneceu concorrentes diretos para Leandrinho, com 14 caras já sob contrato e com equipes diferentes. São eles: Bradley Beal (Wizards), Dion Waiters (Cavs), Austin Rivers (Hornets), Terrence Ross (Raptors), Jeremy Lamb (Rockets), Evan Fournier (Nuggets), John Jenkins (Hawks), Jared Cunningham (Mavs), Tony Wroten (Grizzlies), Orlando Johnson (Pacers), Will Barton (Blazers), Doron Lamb (Bucks), Kim English (Pistons) e Kevin Murphy (Jazz). Reparem em Ross e Johnson, dois que foram contratados justamente pelos ex-clubes do ligeirinho.

Em 2011, foram dez que ainda estão na liga. Em 2010, 12. Somando, temos 36 empregos a menos para a função de Leandrinho. Não quer dizer que esses calouros sejam melhores que o brasileiro. Mas eles ganham menos, seguindo a escala salarial para os novatos. Como diria o Capitão Nascimento: o sistema é f***.

3) New Deal
O locaute dos proprietários das franquias pode não ter freado a tendência de composição de novos supertimes na liga, mas certamente mudou a economia e seu modelo de gestão. Ainda é tudo muito novo, agentes e cartolas entraram nas negociações deste ano estudando, se testando, mas muita gente perdeu dinheiro.

Quem sofreu mais foi o pelotão intermediário, especialmente aqueles que não conseguiram renovar contrato com suas equipes  – para estender seu vínculo com um atleta, uma franquia em geral tem a chance de pagar mais que as outras 29 – e caíram no mercado. Justamente o caso de Leandrinho, depois que o Pacers fechou com Gerald Green por US$ 3 milhões, além de ter draftado Orlando Johnson.

Com as restrições das chamadas “exceções de mercado”, que os clubes poderiam usar para reforçar seus elencos sem se estreparem com o teto salarial, maiores penas para quem estourar o teto e o consenso de que não dá mais para gastar tanto assim a não ser que você trabalhe para o Lakers, ficou muito mais fácil para os atletas com demanda salarial mais baixa se encaixarem – paga-se muito para os astros e complementa-se os elencos com o que sobrar. Como o armador E’Twaun Moore, que acabou de assinar com o Orlando Magic depois de ser trocado pelo Boston e dispensado pelo Houston.

Vale o mesmo para muitos caras que passaram batido pelo Draft, mas conseguiram alguma reputação na Europa e agora estão de volta aos Estados Unidos, só para dizer que são, enfim, atletas de NBA: James White e Chris Copeland (Knicks), Jamar Smith e Dionte Christmas (Celtics), Brian Roberts (Hornets), PJ Tucker (Suns) e Reeves Nelson (Lakers).

4) Não era um bom mercado
De todo modo, vários jogadores de sua posição conseguiram mudar de clube neste ano: Ray Allen, Jason Terry, Courtney Lee, Nick Young, Lou Williams, Jamal Crawford, Randy Foye, Marco Belinelli e Jodie Meeks, por exemplo. Era muita gente concorrendo com Leandrinho, e vale a lei da oferta e procura.

Jason Terry

Até que Terry ficou bem de verde e branco

Deste grupo, Lee, Terry, Williams e Crawford fecharam por cerca de US$ 5 milhões anuais. Young fechou com o Sixers por uma temporada e US$ 6 milhões. Allen, para ingressar no campeão Miami Heat, aceitou ganhar menos: US$ 3 milhões, assim como Mayo fez com o Mavericks (US$ 4 milhões). Foye acertou com o Utah por US$ 2,5 milhões. Belinelli é quem vai ganhar menos neste grupo: US$ 1,9 milhão pelo Bulls. Meeks será o reserva de Kobe por US$ 1,4 milhão na vaga que um dia já foi bem cotada para Barbosa.

Precisa ver quais são – seriam? – as demandas salariais de Leandrinho. Avaliando o grupo acima, está claro que seu valor de mercado ficaria enquadrado em uma dessas faixas salariais. Será que ele pediu mais? Será que ofereceram menos? Na última temporada por Raptors e Pacers, ele embolsou US$ 7,1 milhões – no último ano de um contrato de US$ 25 milhões por quatro anos. É o tipo de contrato que hoje realmente não está mais disponível para jogadores de seu calibre. Com esta grana, hoje você contrataria um Jason Terry e Belinelli por exemplo.

Não ajudou o fato de o brasileiro ter jogado as Olimpíadas. É claro que os dirigentes esperariam a conclusão do torneio londrino para negociar para valer com seus agentes – tanto para avaliar seu jogo como pelo temor de alguma lesão. (E aqui, depois de tantas críticas que o cara recebeu nos últimos anos pela suposta falta de patriotismo, é importante notar que ele pode ter sacrificado um bom punhado de dólares para defender seu país. Alguém vai elogiar agora?).

5) E, no fim, sua produção já não é a mesma
Não é, contudo, apenas uma conspiração maligna dos astros ou das forças de mercado que deixa Leandrinho nessa situação complicada. Nos últimos campeonatos, o brasileiro simplesmente não foi o mesmo jogador que aterrorizava defesas sob o comando de Mike D’Antoni no Suns do “Seven Seconds or Less”.

Leandrinho, no auge pelo Suns

Cora, Leandrinho, corra: produção pelo Suns

Pode parecer cruel, mas é assim que as coisas funcionam nas negociações da NBA: não importam os problemas no pulso, na munheca que infernizaram a vida do ala por meses e meses. Também ninguém do outro lado da mesa vai pesar se as mudanças de cidade mexem com a cabeça do jogador, dificultam seu entrosamento etc.

Na hora de barganhar, os dirigentes vão apontar que sua média de pontos vem caindo. Sua pontaria foi de apenas 39,9% nos chutes de quadra pelo Pacers e de 42,5% no geral (contando os jogos pelo Raptors). A pior da carreira, igualando sua sabotada campanha de 2009-2010 devido a lesões.

Mas a queda não acontece apenas em números absolutos. Numa projeção de pontos por minuto, se ele tivesse jogado 36 minutos por partida nas últimas duas temporadas, seu rendimento cairia de 19,8 pelo Raptors em 2010-2011 para 16,2 pelo Pacers no último campeonato. Essa média chegou a ser de 21 por jogo pelo Suns em 2008-2009. E Leandrinho é reconhecido na liga como um cestinha e pouco mais. Fato.

No caso das métricas mais avançadas, a coisa também não é muito boa. Não dá para explicar e detalhar todos estes números aqui – pois o post já está gigantesco o bastante –, mas, basicamente, dá para dizer que, no ano passado, o brasileiro teve sua pior atuação desde as duas primeiras temporadas de adaptação ao Suns, quando era usado muito mais como um armador, seja como reserva de Stephon Marbury ou de Steve Nash. O único fundamento que ele teria melhorado seria o rebote.

Tudo isso para…?
Segundo um informante do Bala, Leandrinho teria de procurar algum time mais fraco neste ano, em busca de números e exposição. Ele cita Cavs, Magic e Bobcats como alternativas. Acontece que os três clubes já estão acima do teto para a próxima temporada e, além disso, acabaram de se reforçar em sua posição, respectivamente com Dion Waiters, Arron Afflalo e Ben Gordon. Ele não teria tanto tempo de quadra assim, de qualquer jeito.

De julho para cá passou muito tempo, os clubes já estão com o planejamento avançado, elencos praticamente fechados. É como se não tivesse mais espaço para Leandrinho. Essa é a impressão que fica aqui de fora e a que seus representantes estão tendo de enfrentar.

A mesma fonte assinala que o ligeirinho agora teria de se contentar hoje com o salário mínimo para alguém com sua experiência, algo em torno de US$ 1,2 milhão. Caso seus agentes consigam algo além disso, merecerão uma medalha.

Desta forma, não seria estranho realmente se o ala desse prosseguimento a seus treinamentos com o Flamengo para jogar o NBB. Ou que tentasse a Europa – caso o estilo de jogo combinasse e caso não tivesse questões particulares que o afastassem de lá.

Porque tá russo, gente.