Vinte Um

Categoria : Notas

Retorno de LeBron desafia maldição esportiva de Cleveland
Comentários COMENTE

Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015 da NBA

Ele voltou

Ele voltou

Em Cleveland, o burburinho começou em maio, quando o Browns selecionou o badalado – e controverso – quarterback Johnny Manziel no Draft da NFL. Aí que, no dia 11 de julho, três meses depois, chegou a carta de LeBron James, via Sports Illustrated, anunciando O Retorno do Rei. Aí quem iria segurar?

Os torcedores mais fanáticos foram para a rua. As aglomerações não chegaram a atingir o status de passeata, mas foi quase. A causa? Eles estavam confiantes, muito confiantes que estaria chegando perto do fim. Mas o quê?

A mal-di-ção que paira sobre a cidade.

De que seus times não seriam campeões nunca mais na vida.

“Ah, vá. Que história de maldição é essa? Que bobagem!”, pode ser sua recepção. Mas não brinque com, ou duvide dos sentimentos dos outros, cara.  A sensação a respeito é tão grave em Cleveland, que tem seu próprio verbete na Wikipedia, gente. Veja só como o texto começa: “A maldição sobre os esportes de Cleveland é uma superstição envolvendo a cidade de Cleveland, e  todos seus times esportivos”. Todos!

Um artigo que detalha a maldição

Um artigo que detalha a maldição

Desde que o Cleveland Browns ganhou o título do futebol americano em 1964, a cidade, também representada na NBA e no beisebol com o Indians, jamais ganhou um troféu. Se for juntar tudo, dá mais de 150 temporadas de jejum. E eles não aguentam mais conviver com esse fardo. Daí que, quando um LeBron volta parasua  casa – que, veja bem, não é exatamente Cleveland, mas Akron –, eles explodiram em euforia. Era chegada a hora.

Do ponto de vista nacional, a pressão sobre o Cavs vai ser natural. Afinal, é o que ronda toda a carreira do ala, ainda mais depois da chegada de Kevin Love. Estamos diante do novo supertime da NBA. Na cidade, porém, você pode imaginar o nível de tensão quando a equipe se aproximar dos playoffs.

“O campeonato é a nossa meta nesta temporada”, afirma Anderson Varejão, que já vive há 10 anos por lá, e então sabe que tem de tomar cuidado ao abordar o tema, de modo que ele complementa a frase: “Mas há alguns times muito bons lá fora. Espero que dê certo para nós logo de cara, e que vençamos todo mundo, mas as coisas não funcionam desta forma. Vai levar tempo”.

O time: antes de contratar James e Love, o Cavs já havia garantido um grande trunfo para elevar o produto que entrega em quadra: Blatt. O americano-israelense estava merecendo uma chance na NBA. Hoje, existem outros 28 técnicos que trocariam de lugar com ele num piscar de olhos – vamos deixar Pop fora dessa. Mas talvez não haja melhor nome para cumprir essa missão, independentemente de sua condição de estreante na grande liga. A começar pela defesa. Uma das características mais elogiosas de Blatt é sua capacidade camaleônica, de se adaptar ao que tem ao seu redor. E, como ele mesmo conta, no elenco formado pelo gerente geral David Griffin, com uma ajudinha de LBJ, há atletas que vieram de times que praticavam os mais diversos estilos de defesa no ano passado. Isso não é problema.

“Vamos ser versáteis. O fato de ter caras vindo de diversos sistemas só vai nos ajudar”, garante. Versatilidade não falta, realmente, para o treinador usar. Ele pode formar quintetos grandes e, ao mesmo tempo, velozes. Ou times baixos, mesmo, que vão correr ainda mais – ter o melhor jogador do mundo ao seu lado ajuda bastante para isso. Tudo vai depender da química em quadra e do adversário, do jeito que seu treinador gosta. O Cavs também tem um potencial imenso para dominar os rebotes jogo a jogo, com o trio Varejão-Love-Thompson sendo escoltado por Marion e James. Se você assegura os rebotes defensivos, estará bem posicionado para sair no contragolpe. Irving, Waiters e James vão adorar receber os touchdowns de Love, por exemplo. Em situações de meia quadra, arremessadores não faltam para esgarçar a defesa. Enfim, é um time bastante intrigante.

A pedida: o elenco ainda é majoritariamente jovem, considerando as peças principais, LeBron, Blatt e dirigentes vão falar que tudo tem tempo nessa vida, mas é óbvio que a equipe joga pelo título para já.

Linha de frente de Cleveland promete dominância nos rebotes

Linha de frente de Cleveland promete dominância nos rebotes

Olho nele: Tristan Thompson. Quando você observa o pivô canadense e ignora as minúcias do jogo, deve se sentir predisposto a amar o sujeito. É um cara muito rápido e ágil, que sai do chão com facilidade para enterrar ou capturar rebotes. Para ele, essa coisa de capacidade atlética é natural. Os pais eram esportistas, o irmão caçula, também. E o primo. Leia mais. Aqui, Thompson ganha relevância não só por ser aquele que vai revezar com Varejão no garrafão, mas também por causa do futuro. Um futuro bem próximo. O canadense chega a seu quarto ano de NBA, estando sujeito a renovar seu contrato. E vale quanto?

A despeito de suas habilidades como reboteiro, de cobrir espaços defensivamente, em termos de produção ofensiva, o pivô está estacionado, se for para checar sua produção por minuto, ou até mesmo regrediu, em termos qualitativos. No ataque, ele pode ter mudado de mão para arremessar – trocou a canhota pela direita –, mas isso não surtiu pouco efeito em seu aproveitamento de média distância, e com volume reduzido de tentativas. Passar também não consta em seu repertório. Estamos falando um jogador com sérias limitações. Mas que tem o mesmo agente de LeBron: Rich Paul. E a diretoria do Cleveland por acaso gostaria de desagradar o sujeito? A aposta seria que, instruído por Blatt, um professor muito mais gabaritado que Mike Brown e Byron Scott, Thompson progredisse de modo significativo para justificar o salário de mais de US$ 10 milhões que certamente vai pedir.

Abre o jogo: “LeBron vindo para cá não era o suficiente. Fechei o negócio só quando soube do Kevin Love. Isso me convenceu, deixou mais realista a ideia de que teríamos uma chance de vencer o campeonato neste ano”, dele, Shawn Marion, o cara.  Campeão em 2011 pelo Mavs, sendo um dos responsáveis pela marcação em LBJ, “Matrix” foi um dos reforços cortejados pelo craque para complementar o elenco da equipe. Resta saber se o ala seria contratado caso tivesse soltado essa antes de firmar contrato.

Você não perguntou, mas… segundo o repórter Dave McMenamin, do ESPN.com, quando Cavs e Lakers discutiram uma possível troca envolvendo Pau Gasol na temporada passada, a diretoria de Los Angeles não arredava o pé e pedia Anderson Varejão no pacote. Não foram atendidos, para sorte do pivô brasileiro. E, sim, chegamos ao dia em que ficar em Cleveland, em vez de vestir a camisa do Lakers, é algo que nem se pensa a respeito.

Brad Daugherty, pick 1, topsUm card do passado: Brad Daugherty. O Cavs ganhou a loteria do Draft pela primeira vez em 1986, 17 anos antes de ser brindado com LeBron James. Naquela ocasião, a franquia viveu talvez o seu grande momento – pelo menos até o dia em que o prodígio decidiu voltar para casa. Além do pivô revelado pela Universidade da Carolina do Norte, a diretoria caprichou nas escolhas de Ron Harper (em 8º) e Mark Price (em 25º), para construir o núcleo de um time que tentaria desafiar do Bulls de Jordan, Pippen e Jackson no início dos anos 90. Que draft! Como tudo que é bom tende a passar rápido para os times de Celveland, contudo, Harper foi trocado para o Clippers e Daugherty teve sua carreira abreviada devido a problemas crônicos nas costas. Ele jogou apenas nove anos na liga, dos 21 aos 28, se aposentando precocemente com médias de 19 pontos e 9,5 rebotes, sendo eleito cinco vezes para o All-Star Game no meio do caminho. A curiosidade é que, aos 30 anos, ele tentou voltar ao esporte. Mas oooooutro esporte: o automobilismo, como dono de uma equipe da série NASCAR de pickups, a mesma que já contou com Nelsinho Piquet em sua linha de largada. No atual elenco do Cavs, são duas escolhas número um de draft: LeBron e Kyrie Irving. Caso não tivessem fechado a troca por Love, teriam mais duas: Andrew Wiggins e Anthony Bennett. Haja sorte. É o carma para compensar a maldição.


Chicago Bulls: a hora é agora para um time reforçado
Comentários COMENTE

Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015 da NBA

Dois novos craques, em diferentes estágios de suas carreiras, para o Chicago

Dois novos craques, em diferentes estágios de suas carreiras, para o Chicago

As enquetes promovidas pelo NBA.com antes de uma temporada começar são imperdíveis. Servem como um belo termômetro sobre a liga, uma vez que os entrevistados são os 30 gerentes gerais das franquias, as (supostas?) cabeças pensantes que movem as engrenagens competitivas do campeonato. Na edição deste ano, na hora de falar sobre os técnicos, Gregg Popovich foi unanimidade. Nenhuma surpresa, até aí: 92,9% dos votos para melhor treinador; 57,1% para melhor motivador; 46,4% para aquele que faz os melhores ajustes dentro de um jogo; por fim, 77,8% para aquele que coordena o melhor ataque.

E o que Popovich tem a ver com o Bulls? Nada. Mas, fora a aclamação ao treinador do Spurs, outro ponto chama a atenção nessa pesquisa: Tom Thibodeau foi o segundo treinador mais mencionado. Em uma categoria, aliás, ele bateu Pop – como aquele que tem, claro, a melhor defesa, recebendo 92,9% dos votos. De todas as perguntas feitas, todavia, apenas em uma Thibs não foi mencionado sequer uma vez. Vocês sabem: aquela sobre sistemas ofensivos. A combinação dessas duas notas diz muito sobre o que se espera – e o que se vai cobrar – do comandante do Chicago para a temporada.

Desde que assumiu o cargo, Thibodeau levou o Bulls a quatro campanhas vitoriosas, com aproveitamento geral de 65,7%. Excelente. Este é o 12º melhor aproveitamento da história da NBA, acima até de Pat Riley e Stan Van Gundy, por exemplo. Entre os técnicos em atividade, só fica atrás de Gregg Popovich (quarto, com 68,6%) e Erik Spoelstra (11º, com 66%). Phil Jackson é o líder, para constar: 70,4%.

Com Rose, Bulls de Thibs ataca bem

Com Rose, Bulls de Thibs ataca bem

Se for para computar apenas os jogos pelos playoffs, seu rendimento cai para 43,6%, com 17 vitórias e 22 derrotas. Em duas ocasiões o seu time foi eliminado na primeira rodada, incluindo o campeonato passado, em que perderam para o Washington Wizards. Em 2011, perderam na final do Leste para o Miami. Em 2013, na semifinal de conferência, para o mesmo rival, a grande potência deste início da década.

Agora, falar sobre todos esses números, sem levar em consideração o contexto, seria absurdo. Especialmente no caso do Bulls de Thibodeau. Afinal, o técnico perdeu seu melhor jogador, Derrick Rose, nos mata-matas de 2012, e, desde então, vem sendo obrigado a usar um plano de contingência atrás do outro para manter sua equipe competitiva. Na última campanha, teve de superar até mesmo o fogo amigo, quando sua diretoria resolveu se livrar de Luol Deng, dando a entender que não compensava brigar por nada. O técnico e Joakim Noah não deixaram. Esse tipo de trabalho não passou despercebido pela concorrência, como a enquete oficial da liga comprova. Trabalhos dignos, de tirar leite de pedra.

Para o campeonato que começa na semana que vem, a história é diferente. Rose está de volta. Depois de disputar o Mundial, sem sustos, vem jogando a pré-temporada também sem acusar nenhum problema. Suas estatísticas são relativamente ruins, mas não dava para esperar algo diferente, para alguém que ficou basicamente dois anos sem jogar. Pau Gasol substitui Carlos Boozer na rotação, e não dá nem para calcular o quanto isso é melhor para a equipe. O espanhol é mais habilidoso, mais alto e protege o aro, mais experiente em jogos decisivos e, a julgar pelo que vimos durante  a Copa, está em grande forma. Splitter, Nenê e Varejão podem dar seu testemunho. O banco ficou bem mais forte com a chegada dos calouros Nikola Mirotic e Doug McDermott, dois excepcionais arremessadores, e com a constante evolução de Taj Gibson – sem contar o promissor ala Tony Snell.

É um conjunto muito rico, com peças valiosas para a defesa – e também para o ataque. Há mais opções de troca, para que os principais atletas não sejam exauridos pelo técnico. E aí que o bicho pega. Se nenhum acidente (toc, toc, toc) acontecer, Thibs tem em mãos um dos melhores plantéis da liga, justamente no ano em que o Miami Heat se desfez e que, em Cleveland, LeBron ainda está formando seu novo supertime. Para esta versão do Bulls, a hora é agora.

A linha de frente ficou mais forte; e não se esqueçam de Gibson

A linha de frente ficou mais forte; e não se esqueçam de Gibson

O time: com Thibodeau, o Bulls teve a melhor defesa de 2011 e 2012. Em 2013, acreditem ou não, ele permitiu que o time derrapasse para quinto. Em 2014, tomaram vergonha na cara e terminaram com a segunda mais eficiente, atrás apenas do extinto Indiana Pacers. Temos um padrão aqui: a rapaziada sofre demais contra Chicago. Do outro lado da quadra, porém, o panorama é bem diferente. Na temporada passada, o ataque do Bulls foi simplesmente o antepenúltimo em eficiência. Em 2013, o 24º. Um horror: jamais uma equipe tão boa na retaguarda, mas tão fraca para pontuar conseguiu chegar perto do título. Mas nem tudo é caos. Em 2012, ainda com Rose em plena até os playoffs, tiveram o quinto melhor índice ofensivo. Em 20122, o 12º. A expectativa, então, é que a volta de Rose (mesmo um Rose a 70%, ou quase) e a chegada de Gasol e dos calouros ajudem sensivelmente nesse quesito. O espanhol é fundamental para isso: tem uma versatilidade impressionante, mesmo com idade mais avançada. Pode atacar de frente e de costas para a cesta, é um exímio passador e tem tudo para formar uma dupla de pivôs eletrizante com Noah. São fatores que sugerem possibilidades infinitas para seu treinador. A bola está com ele, por enquanto, e os dirigentes da liga esperando uma confirmação.

A pedida: Derrick Rose prega paciência, diz que ainda há uma longa trilha pela frente. Mas o torcedor do Bulls está pensando em título, sim, este ano. Ou pelo menos deveria estar.

Mirotic passa por processo de adaptação. Thibodeau será conservador com ele, ou vai dar liberdade?

Mirotic passa por processo de adaptação. Thibodeau será conservador com ele, ou vai dar liberdade?

Olho nele: Nikola Mirotic. Rose vai chamar quase toda a atenção da mídia que for cobrir Chicago. Aí vem Gasol. Depois dos astros, o que sobrar pode ficar para o calouro McDermott, um dos queridinho nacionais nos tempos de NCAA. Tudo merecido, aliás, todos talentosos. Mas creio que Mirotic possa ter um impacto muito maior que o do jovem americano, por ser multifacetado. Algo que seus companheiros passaram a tomar nota no training camp. “Ele é muito bom, realmente bom. Ele adiciona uma dimensão diferente ao jogo… É muito mais que apenas um arremessador. Quando você pensa nesses pivôs abertos, não imagina caras que possam dar tocos, correr bem pela quadra, e ele consegue: ele é um puta de um jogador”, afirmou Noah, mais inspirado e eloquente do que nunca. Para os que viram o montenegrino naturalizado espanhol nos últimos anos pelo Real Madrid, não é surpresa. Mirotic era um dos melhores atletas da Europa. Em Chicago, encara uma rotação pesada, com  JoJo, Gasol e Gibson. Assim como aconteceu com Splitter, Scola, Teletovic, e outros, deve passar por um período de adaptação. Pensando longe, porém, seria prudente da parte de Thibs dar minutos regulares ao ala-pivô.

Abre o jogo: “Acho que da última vez que ele veio para cá como jogador do Lakers, estava rolando aquela coisa polar, ártica, aquele vórtice polar. Foi brutal. Quando você está acostumado a ir para a praia todo dia, escolher o vórtice polar diz muito”, Noah, sobre Pau Gasol, que trocou a Califórnia por Chicago, uma das metrópoles congelada no último inverno.

Você não perguntou, mas... o armador Aaron Brooks gosta de chamar o calouro McDermott de Ray. Por que ele é um bom chutador, tipo o Ray Allen? Nada. “Achei que era o nome dele. Quando decobri que não era, o continuei chamando de Ray”, afirmou o baixinho, abusando do calouro. Sim, a NBA está cheia de gente biruta. Em Chicago, Brooks tenta beber da mesma fonte que DJ Augustin, CJ Watson, John Lucas III, Nate Robinson… todos armadores que reviveram ou impulsionaram suas carreiras vindo do banco, sob a orientação de Thibs.

toni-kukoc-bulls-rookieUm card do passado: Toni Kukoc. O astro croata chegou ao Bulls em 1993, aos 25 anos, dois anos mais velho que Mirotic hoje, e com um currículo impressionante: tricampeão europeu pelo KK Split (na época chamado de Jugoplastika e Pop 84), três vezes MVP do Final Four europeu, tetracampeão iugoslavo, campeão mundial pela Iugoslávia em 1990, vice-campeão olímpico pela Iugoslávia em 1988 e pela Croácia em 1992, bicampeão do EuroBasket pela Iugoslávia em 1989 e 1991 e bronze no Mundial de 1994 pela Croácia. Ufa, né? Então não era definitivamente um calouro qualquer que o Bulls recebia em seu primeiro ano sem Michael Jordan. O ala já chegou ganhando uma fortuna, despertando a ira de Scottie Pippen, que estava preso a um contrato subvalorizado. Essa discrepância salarial gerou um dos episódios mais baixos da história do time e da carreira magnífica de Pippen, quando ele se recusou a voltar para a quadra num jogo de playoffs contra o Knicks, em 1994, com 1s8 restando no cronômetro. A jogada de Phil Jackson havia sido desenhada para Kukoc. Pior: com Pippen servindo como isca, que o craque americano, que havia jogado uma barbaridade durante toda a temporada, não aceitou. Claro que a frustração era muito maior que isso. Detalhe: o croata fez a cesta da vitória.


Charlotte Hornets: Michael Jordan de volta na briga
Comentários COMENTE

Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015 da NBA

Não, Jordan não precisou voltar para o ex-Bobcats competir

Não, Jordan não precisou voltar para o ex-Bobcats competir

Não precisa ficar falando muito aqui sobre a obsessão que Michael Jordan tinha por essa coisa que, no esporte, a gente chama de vitória. Vencer, vencer, vencer. No pôquer, no golfe, na bolinha de gude, tudo: o sujeito era compulsivo, a ponto de esmurrar Steve Kerr num treinamento. Então como faz quando alguém com um DNA desses vê sua equipe terminar o campeonato da NBA com aproveitamento de 10,6%, 25,6% e 52,4%? Haja charuto cubano para compensar tanta frustração.

Jordan assumiu o controle da franquia em 2010. Desde então, essas foram as campanhas da equipe, com um salto considerável na temporada passada, quando Sua Alteza se cansou de tanta sacolada. Sua gestão abortou os planos de perder, perder e perder, para coletar escolhas altas no draft, seguindo o modelo que deu tanto certo para o Oklahoma City Thunder. A sorte, porém, não esteve ao lado do finado Bobcats. Em 2012, por exemplo, em vez de Anthony Davis, tiveram de se contentar com Michael Kidd-Gilchrist, que jura hoje ter reconstruído seu arremesso.

Daí que o clube achou por bem sair gastando no mercado de agentes livres, apostando no renegado Al Jefferson, que fez talvez a melhor temporada de sua carreira – pelo menos em termos de sucesso da equipe. Junto com o pivô, acertou na mosca ao contratar Steve Clifford, homem tem a benção do clã Van Gundy. Com Clifford, o time se tornou surpreendentemente a sexta defesa mais eficiente e chegou aos playoffs. Melhor momento para essa guinada não tinha, uma vez que o clube havia sido brindado pela direção com o resgate do apelido Hornets, tão popular na cidade nos anos 90 e largado de canto pelo Pelicans.  Agora, com o moral elevado dentro e fora de quadra, Charlotte quer mais, quer avançar nos mata-matas. Entra em cena Lance Stephenson, o grande e controverso reforço da equipe. Um cara de talento indiscutível, que já sabe o que é ir longe nos playoffs. Será que vai agora? MJ conta com isso. Charuto, só se for celebratório.

(PS: o leitor desde já precisa assinar um termo de compromisso: saio aqui em defesa da classe de jornalistas para que qualquer Charlotte Bobcats que escapar não seja válido para errata, ok? A confusão mental ainda é grande.)

É, Gasol, Al Jefferson dá trabalho

É, Gasol, Al Jefferson dá trabalho

O time: se o agora Hornets conseguir manter sua marcação coesa, já tem meio caminho andado. Clifford adotou táticas mais conservadoras, que deram resultado. A ordem era abandonar a disputa do rebote ofensivo, para qual apenas o hiperatlético e arrojado MKG tinha autorização, aqui e ali. Na tábua defensiva, o contrário: todos bem postados para coletar qualquer rebarba (quesito em que foram os melhores). Na hora de defender a cesta, a ordem era recuar os pivôs e fechar o garrafão,  tentando inibir a infiltração, empurrando os adversários para uma das laterais. São princípios que andam em voga na liga e devem ser mantidos, se não sofisticados. Do outro lado, o clube acabou perdendo um de seus atletas mais criativos: o ala-pivô Josh McRoberts, quase um armador na posição de pivô e que contribuía de modo significativo para um ataque já pouco eficiente (o sétimo pior). A expectativa é que Marvin Williams ao menos replique o tiro exterior de quem está substituindo e que Stephenson não emperre a movimentação da bola, que precisa chegar a Jefferson, um pontuador de primeira, cheio de movimentos e com uma munheca de causar inveja e que jogou a melhor temporada de sua produtiva carreira.

A pedida: não há outro cenário admissível que não a classificação entre os oito primeiros. De preferência, entre os quatro, para ter mando de quadra. E quem diria que estaríamos falando de Charlotte nestes termos…

Olho nele: Stephenson, claro. Talvez ele não queira mais soprar na orelha de ninguém. Na verdade, o que Clifford precisa dele é de um sopro de criatividade com a bola. Por outro lado, com o foco do ataque voltado prioritariamente para Jefferson, é preciso ver como o temperamental ala vai reagir. No melhor dos cenários, Stephenson vai saber a hora de agredir e de acionar o pivô em situações de pick and roll, aliviando também a pressão em cima de Kemba Walker, um armador veloz, energético, mas que não tem tanta categoria assim como os torcedores de Connecticut pensam – sua média de conversão no garrafão é uito baixa. Stephenson, nesse sentido, pode chamar mais defensores e dar um pouco mais de liberdade e descanso ao tampinha.

O que vai ser de Stephenson em Charlotte: história para seguir

O que vai ser de Stephenson em Charlotte: história para seguir

Você não perguntou, mas… o time de Charlotte não resgatou apenas o nome Hornets para esta temporada. No pacote, veio também todo o registro histórico da antiga franquia da cidade, de 1988 a 2002, quando aquela encarnação do time foi alocada para Nova Orleans. Esses números se fundem, então, com o do Bobcats, que foi lançado em 2004. Desta forma, o maior cestinha da franquia é o ala Dell Curry, pai do Stephen, com 9.839 pontos marcados.

Abre o jogo: “Jordan é um fã de Lance. Ama sua competitividade, e falou para ele candidamente sobre como o enxergava como um encaixe perfeito para nossa franquia e sobre as coisas… Que Lance poderia controlar melhor”, Steve Clifford, técnico do Hornets, falando sobre o impacto da participação de Jordan na reunião que selou a contratação de Stephenson. Demais a hesitação no meio da frase, né? Na hora de falar sobre as bobagens que o ala aprontou em Indiana, precaução nunca é demais. Além disso, a declaração também mostra o quanto ainda pesa o nome de Jordan, como um atrativo para o clube, compensando o tamanho diminuto do mercado.

Kelly Tripuca, e que cabelo

Kelly Tripuca, e que cabelo

Um card antigo: depois de viver grandes anos com o Detroit Pistons, pelo qual foi inclusive eleito duas vezes para o All-Star Game, o ala Kelly Tripucka foi trocado para o Utah Jazz e rapidamente virou um desafeto de Karl Malone. De modo que, em 1988, ficou disponível para o draft de expansão e acabou selecionado. Em Charlotte, ele teve o privilégio de ser o primeiro cestinha da história da equipe, com 22,6 pontos por jogo. Ele se aposentaria da NBA em 1991, defendendo o Limoges, da França, atual clube de JP Batista, na temporada seguinte.  Tripucka foi um belo cestinha nos seus melhores tempos, mas nunca foi reconhecido como um bom defensor. Então que diabos ele estava pensando ao tentar dar um toco em Michael Jordan!? Pelo menos, merece aplausos pela coragem:


Brooklyn Nets: grandiosidade tem limite
Comentários COMENTE

Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015 da NBA

Três caras talentosos. Mas e a saúde? E a grana gasta?

Três caras talentosos. Mas e a saúde? E a grana gasta?

Quando comprou o então New Jersey Nets, o russão Mikhail Prokhorov afirmou que sua meta era a conquista de um caneco da NBA até o quinto ano. Simples assim. Cá estamos entrando nesta quinta temporada, e a sensação é a de que o time já esteve muito mais preparado para isso. E, não, isso não tem nada a ver com a saída de Jay-Z do grupo de proprietários.

O clube concluiu sua mudança para o Brooklyn com sucesso. Tem um ginásio maravilhoso, acompanhado por belos uniformes e logotipo. Em quadra, até conseguiu se recuperar de alguns anos de miséria, mas… Nunca esteve tão perto do título como a versão do time no início dos anos 2000, liderada por Jason Kidd a dois vice-campeonatos. Eles só não tinham ninguém para marcar Shaquille O’Neal e Tim Duncan. E quem tinha?

Jason Kidd agora é realmente passado para o New Jersey Nets

Kidd agora é realmente passado para o Nets

Por falar em Kidd, o ex-armador promovido a técnico imediatamente estrelou um dos causos mais interessantes das férias. Não está muito claro a gênese da tentativa de golpe, mas o cara tentou derrubar o gerente geral Billy King para assumir pleno controle das operações de basquete do clube, algo que poucos têm no momento: Popovich em San Antonio (em parceria com RC Buford, é verdade), Stan Van Gundy em Detroit e Doc Rivers com o Clippers. Muito cedo para pensar nesse tipo de coisa, né? Se bem que, em se tratando de destronar King, talvez toda iniciativa seja válida.

O cartola montou um time competente, mas sacrificou o futuro para isso. Tudo teria mudado caso tivesse fechado com Dwight Howard? Pode ser. Mas ele perdeu essa, e o que restou foi um time de veteranos que, somados, não apresentaram o suficiente nem mesmo para ganhar incomodar no Leste. A contratação de Deron Williams, pelo preço pago, se mostra uma bomba: de supetão assim, já não dá para colocá-lo nem mesmo na lista dos dez melhores armadores da liga. Joe Johnson viveu suas noites de herói na última campanha, mas é outro que não justifica o salário – e cuja negociação custou uma penca de escolhas de draft. O mesmo procedimento foi adotado na hora de fechar com Garnett e Pierce – sendo que metade da dupla de veteranos nem está mais por lá.

Brook Lopez voltou a sentir o pé já na pré-temporada – foi só uma torça, ufa! Mas ainda assim… A enfermaria já está personalizada. Kirilenko teve problemas nas costas. Então ficaram nesse ponto: se as lesões, ou a velhice permitirem, o Nets até vai chegar aos mata-matas com tranquilidade. Uma vez lá, está destinado a cair na primeira ou na segunda rodada.

A boa notícia? Em 2016, quando vencem os contratos de Johnson e Lopez, o time terá mais uma vez espaço na folha salarial para recrutar estrelas para Brooklyn. A má? É só ver no que deu a última vez que isso aconteceu.

Sem palavras

Sem palavras

O time: é uma incógnita. A equipe que deu mais certo no ano passado com Jason Kidd era única. Os quintetos empregados pelo treinador noviço tinham composições híbridas: você não poderia apontar exatamente que fulano era isso, ou sicrano aquilo, se aproveitando da versatilidade de caras como Shaun Livingston, Paul Pierce, Andrei Kirilenko e Andray Blatche, por exemplo. Com Hollins, a abordagem deve ser mais tradicional. Supostamente, ele teria pivôs ao seu dispor para emular o sistema de Memphis, embora nenhum deles seja tão grande ou inteligente como Marc Gasol. Só precisa ver quem ele terá para jogar de fato: quantos jogos Deron, Lopez e Garnett aguentam? Com quem ele pode contar, na certa: Mason Plumlee. O pivô campeão mundial foi criticado injustamente por sua escolha para o Team USA. Falaram que só estava lá por ter sido atleta do Coach K em Duke, que ele jogar na vaga de Andre Drummond era insano. Bobagem: para construir um time, nem sempre os melhores talentos são necessários, mas, sim, aqueles que combinam mais. E o Plumlee II se encaixa em qualquer sistema e time, devido a sua capacidade atlética (salta muito, se move com a agilidade de um ponta de vôlei e, ao mesmo tempo, é muito forte), além da leitura de jogo avançada pelos quatro anos de universidade.

A pedida: menos lesões, por favor. E playoffs. Título? Pfff. Só em caso de uma hecatombe em Cleveland e Chicago.

Bojan Bogdanovic: mecânica

Bojan Bogdanovic: mecânica

Olho nele: Bogdan Bogdanovic. O croata é visto pelo basquete europeu como um astro em potencial desde a adolescência. Muito antes de entrar no radar da NBA, o ala já havia assinado um contrato de cinco anos de duração com o Real Madrid, sabiam? O gigante europeu, no entanto, nunca o aproveitou para valer. Entre passagens curtas pelos times juvenis e empréstimos, Bogdanovic não desenvolveu laços na capital espanhola e rompeu o vínculo na reta final para voltar para casa. Mandou seu recado pelo Cibona Zagreb e aí fechou seu primeiro polpudo acordo com o Fenerbahçe, que defendeu por três temporadas.

Assisti a muitos jogos do ala nas últimas Euroligas, e o que posso passar é o seguinte: é, de fato, um grande cestinha. Grande arremessador e bandejeiro oportunista.  Quem o viu na Copa do Mundo já sabe: o cara tem um estilo classudo. Parece que seu jogo foi moldado pelos programadores de videogame mais atenciosos, com base no Manual do Jogador de Basquete.  Não é dos caras mais explosivos – ainda mais para os termos da NBA, na qual vai sofrer um pouco até saber o que pode e o que não pode fazer. A ideia é que ele vá compensar isso com seus diversos fundamentos, a boa estatura e tino para a coisa. O que falta: mais vontade de passar e servir aos companheiros. Na temporada passada, teve sua maior média de assistências no torneio europeu, e isso quis dizer 1,8 por partida. Para alguém que tinha a bola por tanto tempo em mãos e que evidentemente é inteligente com a bola, esse número chama a atenção, ainda mais quando levamos em conta que seu time estava tomado por atletas de seleção nacional. Não era uma questão de Bojan-contra-o-mundo.

Abre o jogo: “Claro. É o quarto treinador em três anos, então, tomara, que ele seja a voz certa para nós”, Deron Williams, sobre Lionel Hollins, já um tanto desiludido com mais uma franquia? Desde que chegou ao Nets, o armador foi dirigido por Avery Johnson, PJ Carlesimo e Jason Kidd.

Você não perguntou, mas… quando chegar 2016, talvez Prokhorov não seja nem mais o dono do Nets. Durante as férias já começou a especulação de que o bilionário russo teria cansado da brincadeira. Ou melhor: estaria disposto a lucrar horrores com uma eventual venda – se o Clippers vale US$ 2 bilhões, quanto custaria o time nova-iorquino? Multiplicar as verdinhas é o que esses caras mais sabem fazer, lembrando que ele pagou pela franquia US$ 223 milhões em 2010. Por ora, os aliados de Prokhorov afirmam que ele só estaria interessado em vender uma fração de suas ações – com o grupo Guggenheim já oficialmente envolvido em tratativas. Além disso, a oposição ao líder supremo russo Vladimir Putin espera que o magnata retome a linha de frente do partido Plataforma Civil, para tentar mais uma investida pelo poder no país.

Drazen Petrovic, Nets, card, New JerseyUm card do passado: Drazen Petrovic completaria nesta quarta-feira, 22 de outubro, 50 anos, não tivesse morrido num acidente de carro na Alemanha em 1993, numa das mortes mais trágicas da modalidade. Depois de brilhar muito jovem na Europa, a estrela croata chegou aos Estados Unidos em 1989, para jogar pelo Blazers. Era uma equipe muito forte, brigando pelo topo no Oeste, e que não lhe deu muito espaço. Para um craque já consagrado, a situação era inadmissível. Em 1991, então, conseguiu mudar de clube, trocado para o New Jersey Nets. Na vizinhança de Nova York, o ala mostrou do que era capaz. Em sua última campanha, ele anotou 22,3 pontos por jogo, chegando aos playoffs como protagonista. Acabaram perdendo do Cleveland Cavaliers por 3 a 2 na primeira rodada. Mas era um time se desenhava promissor, contando com jovens emergentes como Kenny Anderson e Derrick Coleman, embora Petrovic, de seu canto, não se estivesse se sentindo tão confortável assim. Seu relacionamento não era dos melhores com o restante do elenco, acreditando ser alvo de inveja/preconceito, pelo fato de ser o europeu brilhando fora de casa. O futuro do croata, de 28 anos, estava novamente no ar. Ele poderia até mesmo deixar a liga americana. Nunca saberemos: no dia 7 de junho de 1993, o craque morreu num acidente de carro, na Alemanha, depois de encontrar seus companheiros de seleção na Polônia. A batida aconteceu na Autobahn 9, quando seu carro bateu em um caminhão atravessado na pista. Petrovic estava dormindo no banco de passageiro, sem cinto de segurança. Sua namorada, modelo e jogadora, Klara Szalantzy, também morreu. PS: o Nets, nos anos 80, também tentou contar com outra estrela internacional: Oscar Schmidt. A gente sabe no que deu essa história.


Boston Celtics: Alguém vai atender o telefone?
Comentários COMENTE

Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015 da NBA

Stevens e Rondo: juntos para sempre ou até quando?

Stevens e Rondo: juntos para sempre ou até quando?

Danny Ainge não vai parar, disso todos sabemos. O irrequieto chefão do Celtics é daqueles que torra dólares em contas telefônicas. A orelha de seus contatos no Skype já está cansada. E lá está ele ligando para aquele pobre gerente geral novamente, em busca de mais escolhas de Draft, de mais trunfos para poder apostar alto depois. É isto: o cartola não vai sossegar, enquanto não conseguir fechar mais uma supertroca que dê ao tradicionalíssimo time mais um grande craque, aos moldes do que obteve em 2007 com Ray Allen e Kevin Garnett.

Quando Kevin Love visitou o Fenway Park, do Red Sox, nas férias, você imagine como a cidade, doente por esportes, ficou. Em polvorosa? É pouco até, especialmente depois de David “Big Papi” Ortiz se empenhar no recrutamento. Um torcedor sortudo até mesmo flagrou um encontro do ala-pivô com Rajon Rondo:


Acontece que o flerte durou pouco. Flip Saunders, presidente, gerente geral, técnico, roupeiro e segurança do Timberwolves, não se empolgou tanto assim, não, com o que Ainge lhe ofereceu, o contrário de Kevin McHale, todo camarada com seu ex-companheiro, tempos atrás. Obviamente LeBron James ficou bastante satisfeito com essa decisão.  Já Rondo… Por mais que o armador fale em público, e que a diretoria do Celtics sublinhe cada palavra – está tudo bem, estão todos felizes –, fato é que o astro e a franquia estão em pontos diferentes da curva, neste momento. O time está em fase de reconstrução, ainda sem identidade. O atleta, em último ano de contrato, voltando de lesão no joelho e de uma fratura na mão, acostumado a lutar pelo título, a brigar nos playoffs. Vai demorar para acontecer isso em Boston. A não ser que alguém diga sim a Ainge. Sempre levando em conta que, no fim, Rondo é aquele poderá ser trocado. Senta, que lá vem história, viu?

 Marcus Smart arranca elogios por onde passa. Por ora, aguarda se Rondo vai ou fica

Marcus Smart arranca elogios por onde passa. Por ora, aguarda se Rondo vai ou fica

O time: que o Celtics vai estar bem preparado, bem treinado, disso não há dúvida. Brad Stevens impressionou em seu primeiro campeonato profissional e agora chega mais experiente. O jovem técnico é elogiado por todos em sua habilidade para fraturar o jogo em pequenos detalhes, repassando-os de modo claro para seus jogadores. Esses relatórios são acompanhados de toda e qualquer estatística disponível.  O problema é que, em quadra, o elenco é bem inferior ao da maioria de seus concorrentes: faltam arremessadores de primeira linha e um defensor que proteja o aro. São carências que Vitor Faverani poderia suprir, desde que consiga jogar: além de uma segunda cirurgia no joelho, o pivô ainda teve dificuldades com a língua e a cultura do basquete americano, segundo Ainge. A defesa ao menos conta com armadores ágeis e implacáveis, que podem atormentar os adversários. No geral, cabe a Stevens desenvolver os novatos Marcus Smart (badalado por onde quer que passe, até em treinos contra o Team USA) e James Young (um mês e cinco dias mais velho que Bruno Caboclo), além do segundanista Kelly Olynyk.

A pedida: se a troca por um atleta de ponta não acontecer, a direção do Celtics não vai fazer força nenhuma, nem torcer para que a equipe renda bem em quadra. Nos planos de longo prazo, mais vale uma escolha alta no próximo Draft, do que uma campanha beirando a mediocridade.

Sullinger, o novo atirador

Sullinger, o novo atirador

Olho nele: Jared Sullinger. No geral, o Celtics não tem muitos chutadores, mesmo, em seu plantel. Mas bem que o ala-pivô tem trabalhado para aumentar essa lista. Na pré-temporada, o rapaz de 22 anos converteu 14 de 22 disparos de longa distância nos primeiros sete jogos de pré-temporada. Vejam só. Seu apetite (sem trocadilhos, por favor) para os chutes de fora vem sendo incentivado por Stevens. Na temporada passada, ele tentou 208 arremessos em 74 partidas, mesmo que tenha convertido apenas 26,9% deles. O interessante é que Sullinger consegue combinar esse maior volume (de novo: sem trocadilhos!!) no jogo exterior com uma presença relevante na briga por rebotes: tem média de 10 por partida nesses mesmos amistosos, com direito a 19 num duelo com o Brooklyn Nets. Se o treinador preferia ter Kevin Love cumprindo esse tipo de papel? Ô. De todo modo, o jovem Sullinger ao menos vai se esforçando para deixar sua marca.

Você não perguntou, mas… o Celtics está prestes a dispensar um de seus jogadores, sendo obrigado a pagar o salário dessa figura na íntegra. O mais cotado é o armador Will Bynum, recém-adquirido em uma troca por Joel Anthony, que foi para Detroit. Cada franquia só pode levar 15 contratos garantidos para a temporada regular. Acontece que, em sua volúpia para fechar transações, a diretoria acabou juntando um plantel com com peças uma peça sobressalente. Bynum chegou de última hora, com US$ 2,9 milhões por receber – muito mais que o calouro Dwight Powell (US$ 500 mil). Mas preferiram apostar no potencial do ala-pivô canadense, mesmo arcando com a diferença: é como se estivessem assinando um cheque de US$ 2,4 milhões para nada. Pense nisso.

Abre o jogo: “Cara, estamos assistindo a muito basquete europeu. Não… o jogo é que está crescendo, e essa é a direção que todos estão tomando”, Brandon Bass, experiente ala-pivô que também vai adicionando o chute de três pontos ao seu arsenal, sob insistência de Stevens. Para Bass, porém, o arremesso se restringe a zona morta, e só. Resta saber se a parada no meio da frase, para mudar o tom, tem a ver com ironia ou reclamação.

Danny Ainge, beisebol, MLB, Blue JaysUm card antigo antigo: antes de entrar na NBA para ganhar dois títulos pelo histórico Celtics dos anos 80, Danny Ainge primeiro jogou na liga profissional de beisebol, a MLB, pelo Toronto Blue Jays.  Ao mesmo tempo em que estudava na BYU, o segunda-base estreou pelo time canadense no dia 21 de maio de 1979 e se despediu da modalidade em setembro de 1981, optando pelo basquete. Ainda hoje, o armador tem um recorde nos campos: é o mais jovem atleta a ter conseguido um home run pelo Blue Jays, com 20 anos e 77 dias. Detalhe: nos tempos de colegial, o cara era também um craque no futebol americano, com direito a dois títulos estaduais no Oregon. Quem pode, pode, né?


Atlanta Hawks: comentário racista deixa time indefinido
Comentários COMENTE

Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015 da NBA

Se for para comparar o que ele estava fazendo em Atlanta com a operação que conduziu em Cleveland, Danny Ferry era um homem completamente diferente. O gerente geral do Hawks se livrou do supercontrato de Joe Johnson e ainda recebeu escolhas de Draft nessa – quando o inverso parecia necessário –, limpando sua folha salarial. Deixou Josh Smith ir embora, com todo o seu talento, mas toda a dor-de-cabeça que causa também. Contratou Paul Millsap por uma pechincha, conseguiu tirar Mike Budenholzer da sombra de Gregg Popovich. Tudo parecia muito promissor, um processo arrumadinho, à espera de mais uma grande contratação, ou de mais alguns bons negócios que pudessem levar a franquia para o topo no Leste.

Até que… Bomba.

Ferry e o Hawks: agora no limbo

Ferry e o Hawks: agora no limbo

O cartola usou a maldita frase: “Luol Deng tem um quê de África nele” (numa tradução livre, insinuando que havia algo de mentiroso por trás da boa imagem do ala) em conversa com os proprietários do clube, em teleconferência antes de abrir negociações com agentes livres, e a gravação vazou. Depois do escândalo envolvendo Donald Sterling, era tudo o que a NBA menos queria, de que menos precisava. O comentário lamentável forçou seu afastamento por tempo indeterminado – embora, pasme, não tenha causado sua demissão. E o Hawks, um dos times com maior dificuldade para encher seu ginásio e consolidar sua marca, despencou nos rankings de afabilidade da liga. Se é que isso era possível, e por mais que muitas fontes tenham saído em defesa de Ferry, dizendo que ele nunca foi conhecido como alguém de ideias ou comportamento racista. Até mesmo Deng. Mas não tinha jeito, o estrago estava feito.

“Quando fui trocado para o Hawks, não queria vir para cá porque, por tudo o que sabia e ouvia, falava sobre o ambiente ruim, sem torcedores, sem empolgação nenhuma na cidade. Fiquei muito chateado ao sair de Chicago. Mas depois aceitei renovar meu contrato. Depois de ver o que o Danny estava falando, as pessoas que ele estava trazendo”, disse Kyle Korver. “Estava ficando mais atraente, e eu realmente acreditava no projeto, com um potencial enorme na cidade. E aí acontece isso. Espero que, quando a poeira abaixar, que esse projeto continue. Qualquer um que conheça o jogo e tenha visto nossa transformação vai concordar. Mas é triste que isso tenha acontecido. Isso me deixa bem chateado.”

O time: em quadra, o Hawks vai tentar se livrar dessa frustração com um conjunto bem entrosado e, esperam, que possa desenvolver as ideias de Budenholzer, na segunda temporada sob sua orientação, com muita movimentação de bola e pick and rolls. Podem esperar ainda mais arremessos de três pontos, depois da segunda colocação no campeonato passado nesse fundamento. Que o diga Paul Millsap, por exemplo. O ala-pivô saiu de 39 chutes de fora em 2013 para 212 em 2014 (mais de 5 vezes mais) Com Pero Antic em quadra, o técnico pode escalar até cinco chutadores abertos, sem pestanejar. Para a defesa, Thabo Sefolosha e Kent Bazemore chegam para ajudar DeMarre Carroll, deixando a rotação mais vasta e forte. Fica a dúvida, porém, sobre a forma física de Al Horford. O pivô dominicano já sofreu bizarramente duas rupturas musculares no peito, tendo disputado apenas 11 jogos em 2011-12 e 29 na campanha passada. Com Horford, o Hawks teve 16 V e 13 D (55,1%). Sem ele,  22 V e 31 D (41,5%).

A pedida: essa é difícil de responder, não só devido ao afastamento de Ferry, mas porque o clube está à venda. O ex-jogador e comentarista Chris Webber já se candidatou a comprá-lo, apoiado por investidores. Supostamente, a atual configuração do Hawks vai jogar para entrar nos playoffs e tentar fazer um estrago. Se o vestiário estiver tumultuado, se Horford não se recuperar bem, porém, as coisas ficam bem mais complicadas numa conferência que ficou mais forte.

Al Horford, e sua lesão complicada no peito

Al Horford, e sua lesão complicada no peito

Olho nele: Dennis Schröder. O alemão abre sua segunda temporada, disputando os minutos de reserva de Jeff Teague com Shelvin Mack. Seu progresso é importante por diversos fatores. Não só porque Ferry (se ele ainda apitar alguma coisa, claro) não é dos maiores fãs do armador titular, mas porque o Hawks bem que poderia usar um atleta promissor como peça valiosa em uma eventual troca. Durante a pré-temporada, Schröder teve algumas boas exibições. Ainda precisa melhorar consideravelmente seu arremesso e ter um pouco mais de calma com a bola. Mas, aos 21 anos, segue um prospecto intrigante, com muita velocidade, envergadura e visão de jogo.

Você não perguntou, mas… O ala Mike Scott tem “muito mais de 20 tatuagens em seu corpo” (já não conta mais…), das quais ele estima que “80% ou 85% sejam emojis” – os emoticons que usamos no dia a dia de teclar. “É que uso muito os emojis quando estou trocando mensagens. Isso sou eu. É original”, disse ao Mashable. As pessoas agora estão usando, mas ninguém fazia dessas antes de eu entrar nessa”, afirmou o reserva, que, vez ou outra, causa um estrago no ataque.

Curtir ou descurtir

Curtir ou descurtir

Abre o jogo: “Fica sempre na sua cabeça, mas, no final do dia, você tem de ir para a quadra e jogar basquete, independentemente de sua situação. Tenho de me concentrar neste ano, em um jogo de cada vez, sem olhar muito adiante. É ficar no presente” – Paul Millsap. O ala-pivô vai cumprir seu último ano de um curto contrato com o Hawks. Se Ferry, por um lado, acertou com o veterano por um preço muito abaixo do mercado, por outro assinou um vínculo curto.

Sergey Bazarevich, Hawks, rookie, EuroUm card do passado: hoje o Atlanta Hawks é uma das franquias de mente mais aberta para a contratação de estrangeiros. Para o lugar do assistente Quin Snyder – uma baixa bastante importante, diga-se –, por exemplo, foi contratado o croata Neven Spahija. Há 20 anos, porém, o armador Sergei Bazarevich era um peixe fora d’água ao chegar a Atlanta. O russo havia acabado de ganhar a medalha de prata no Mundial do Canadá, perdendo para a prespeira segunda versão do Dream Team, aos 29 anos. Então poderia ser um rookie de NBA, mas já era uma figura experimentada em basquete de alto nível. Sua passagem, porém, não foi das mais memoráveis: durou apenas 10 partidas, com 30 pontos e 14 assistências acumulados. Hoje, Bazarevich dirige o Lokomotiv Kuban, um dos times emergentes do basquete russo, que conta com o indomável Anthony Randolph em seu elenco.


Exclusiva com JP Batista: na Euroliga, seguindo em frente
Comentários COMENTE

Giancarlo Giampietro

JP Batista, agora em ação pelo campeão francês

JP Batista, agora em ação pelo campeão francês

Prestes a completar 33 anos, o pivô João Paulo Batista apenas segue em frente. Ao que parece, vai sempre pelas beiradas, mas construindo uma carreira única para os padrões brasileiros. Ele acabou de abrir sua nona temporada seguida na Europa, agora defendendo o Limoges, campeão francês, com direito a mais uma participação na Euroliga.

“Olha, é difícil de responder, pois fica um pouco fora do meu controle. Quem me conhece sabe de onde eu vim e o caminho que tive que percorrer pra chegar onde estou”, afirmou ao VinteUm, em generosa entrevista por email.

O pernambucano já está mais que acostumado a batalhar e ser, de certa forma, relevado. Acontece desde cedo, vindo de uma região que ainda está muito afastada dos principais centros de captação de talentos no país. Até chegou a jogar em São Paulo, por Paulistano e São José do Rio Preto, mas nada que prometesse muito. Resolveu, então, pegar as malas e embarcar em busca de um literal “sonho americano“.

É aquilo: você chega a uma cidade no interior dos Estados Unidos, sem saber exatamente o que te espera, sem falar inglês fluente – e “sem nada no bolso”, lembra –, apenas empenhado em fazer as coisas acontecerem. Que tal um junior college em Western Nebraska? Ou, quiçá, o Barton County Community College? Foi a rota que o pivô tomou, mesmo, até entrar no radar de times de ponta da NCAA. Entre um punhado de propostas, escolheu a de Gonzaga, na qual teria a companhia de um certo Adam Morrison – além do armador Jeremy Pargo, que a torcida do Flamengo conheceu tão bem neste mês e quem reencontrou recentemente:

Com seu cabelo desgrenhado, bigode ralo e meiões estendidos, Morrison havia virado uma coqueluche jogando pelos Bulldogs, com aparições regulares em ESPN, Sports Illustrated, New York Times e afins. Em 2006, a equipe estava debaixo do holofote nacional, mas não quer dizer que JP estivesse dominando o noticiário. De qualquer maneira,  era uma das peças mais importantes do time e ao menos ganhou a atenção de quem mais valia. “Ele é o nosso herói anônimo”, afirmou, na época, o técnico Mark Few, sobre o atleta de médias de 19,3 pontos e 9,4 rebotes. “Ele segue entregando, entregando e entregando todas as noites para nós.”

Em Gonzaga, luzes, ainda que para outro, e o serviço sujo bem feito

Em Gonzaga, luzes, ainda que para outro, e o serviço sujo bem feito

Gonzaga acabou caindo precocemente naquele torneio, perdendo na terceira rodada para uma UCLA de eventuais cinco jogadores de NBA (Arron Afflalo, Jordan Farmar, Luc Richard Mbah a Moute, Darren Collison e Ryan Hollins). Com o pessoal de sua turma, está sempre em contato. “Todas as férias vou para lá treinar”, afirma. Neste ano, encontrou Morrison, que está concluindo seus estudos e estudando a possibilidade de virar técnico.

No Draft de 2006, João Paulo passou batido. Disputou uma liga de verão pelo Minnesota Timberwolves, mas foi se profissionalizar, mesmo, apenas na Europa, pelo Lietuvos Rytas, da Lituânia. Está na Europa desde então, numa carreira bastante sólida – e incomum para brasileiros, ainda que poucos deem bola. Já são oito anos por lá.

Sobre a seleção? Neste longo intervalo, foi chamado por Lula Ferreira em 2007, sendo campeão pan-americano. Participou também do fatídico Pré-Olímpico de Las Vegas 2007, assim como da campanha do Pré-Olímpico mundial em 2008, já com Moncho Monsalve, num elenco dizimado por desfalques. Seguiu no time para ser campeão da Copa América de 2009. Na gestão de Rubén Magnano, porém, só foi lembrado em duas ocasiões e sempre de última hora, em situações emergenciais. Em 2010, foi o substituto de Nenê, cortado por lesão. Em 2013, para mais uma Copa América, teve de interromper suas férias no Recife para novamente socorrer o argentino. O time foi um desastre, mas, nos poucos minutos que teve, o massa-bruta rendeu.

Mas precisamos entender: aos 32 anos, JP continua bastante produtivo em quadra, mesmo sem nunca ter sido um dos pivôs mais atléticos – pelo contrário. Forte toda a vida, joga com os pés no chão, um jogo terreno, de feijão com arroz, que dificilmente vai gerar lances de arromba, que virem sucesso no YouTube. E não tem problema: o basquete não seria feito só de acrobatas ou velocistas. Não se trata de um jogador perfeito, claro. Sua movimentação limitada pode ser explorada na defesa. Com pouca envergadura, também não é o protetor do aro mais temido. Por outro lado, com discrição, inteligência e seriedade, porém, começa sua terceira campanha de Euroliga, pelo Limoges, após jogar seis temporadas pelo Le Mans.

Dois pontos de João Paulo pelo campeão francês Limoges

Dois pontos de João Paulo pelo campeão francês Limoges

Na entrevista abaixo, ele nos conta sobre sua experiência no basquete francês, mas não se sente tão confortável em falar sobre a baixa popularidade em sua terra, para a qual pensa em voltar o quanto antes. Aliás,  o pivô revela ter entrado em negociações sérias com o Flamengo neste ano e que estava preparado para fechar um contrato, só para ver o negócio desfeito na última hora. Assinou, então, por mais duas temporadas com Limoges. Confira:

21: Depois de seis anos no mesmo clube, você chega ao Limoges, atual campeão francês. Como tem sido sua adaptação? Há muita diferença no estilo de jogo de um time para o outro?
JP: Minha adaptação tem sido muito boa. Sou um jogador de mente aberta e com facilidades de me adaptar rapidamente. O sistema do meu novo treinador é muito parecido com o que eu joguei os últimos seis anos, facilitando ainda mais.

Qual a sua expectativa para a Euroliga deste ano? A meta é chegar ao Top 16? Dá para sonhar mais alto? O clube chega para brigar nas duas frentes: continente e defesa do título nacional?
Acho que Maccabi é CSKA são os gigantes no nosso grupo. Muito superiores devido ao seu maior orçamento etc. Estamos com um time muito interessante neste ano e podemos surpreender. Não tem muita gente acreditando em nossa equipe, mas temos confiança e vamos brigar por uma vaga no Top 16, que é o nosso objetivo na Euroliga. Sem dúvida temos um time forte e vamos brigar pelo título francês.

A posição de pivô é a mais concorrida do basquete brasileiro há muito tempo. São vários grandalhões na NBA, outros jovens que surgiram nos últimos, e tudo o mais. Você acha que, nesse contexto, acabou ficando um pouco esquecido ou subestimado em seu país, embora tenha uma carreira bastante sólida na Europa?
Olha, é difícil de responder, pois fica um pouco fora do meu controle. Quem me conhece sabe de onde eu vim e o caminho que tive que percorrer pra chegar onde estou. Devido à pouca popularidade do basquete no Brasil acho que a mídia sempre deu muito foco a NBA, Euroliga e ACB e pouco ao resto.

No ano passado, JP e a seleção não renderam em fiasco na Copa América

No ano passado, JP foi chamado de última hora para a Copa América

Saindo de Olinda, longe dos grandes centros de basquete do Brasil… Depois fazendo sua trilha nos Junior Colleges até chegar a Gonzaga… Pelos Bulldogs, era um dos coadjuvantes do Adam Morrison… E agora vai tocando sua carreira na Europa, na França, indo sempre pelas beiradas, seguindo em frente. Essa, digamos, discrição seria algo que te ajudou?
Sem dúvida. Acho que passei um pouco despercebido pelo Brasil, quando joguei pelo Paulistano e São José do Rio Pardo. Agarrei com unhas e dentes quando a oportunidade de ir pros EUA apareceu, e hoje agradeço a Deus todos os dias por estar vivendo o que sempre sonhei quando criança.

Você ainda mantém contato com seus companheiros de Gonzaga? Quando falou pela última vez com o Morrison?
Sim, mantenho um pouco de contato com a maioria. Todas as férias eu volto para lá para treinar. Vi Morrison em julho, quando estive pela universidade. Ele está terminado seus estudos e fazendo parte da comissão do time masculino de Gonzaga como voluntário, para ganhar experiência.

Daqueles tempos do basquete universitário americano, qual a lembrança mais forte que tem? O jogo em que foram eliminados no Torneio Nacional? Ou  as coisas mais corriqueiras, dos tempos de estudante, como o esforço de chegar aos EUA sem saber direito o que seria de sua vida por lá?
Sem dúvida a eliminação do torneio da NCAA doeu um pouco. Mas foram muitos obstáculos no caminho, ainda mais por ir para os Estados Unidos sozinho, sem saber o que esperar, sem nada no bolso. Tinha somente a fé e a determinação de vencer como pessoa e como atleta, e isso vai sempre marcar mais.

Você começou sua carreira profissional pelo Lietuvos Rytas, num verdadeiro “país do basquete”. Como foi sua experiência num país desses?
Na Lituânia realmente foi uma experiência única. É um lugar onde o povo respira basquete. É como o futebol no Brasil. Sem palavras.

JP quase fechou com o Flamengo. Mas joga de alviverde, mesmo, este ano

JP quase fechou com o Flamengo. Mas joga de alviverde, mesmo, este ano

Sabemos que, embora o orçamento dos clubes não esteja entre os maiores da Europa, a liga é muito bem organizada do ponto de vista financeiro. O que mais você pode nos contar nesse sentido, em relação ao que se faz no restante da Europa? Já teve problemas com salários atrasados, por exemplo? Que tipo de lição a Liga Nacional Brasileira poderia tirar daí?
Uma das razões pelas quais estou aqui por tanto tempo é devido a essa estabilidade da liga e do país. Nunca recebi um salário atrasado aqui na França. O basquete aqui é muito bem divulgado, e a cobertura pela TV, muito boa e organizada. Os ginásios estão muito bem estruturados e limpos. E o campeonato tem cinco divisões. Acho que o basquete tem evoluído muito no Brasil, mas, num país dominado pelo futebol, a exposição é muito pouca. Futebol é muito popular aqui, mas, mesmo assim, tem transmissão de jogos de basquete quase todos os dias na TV.

Em termos de resultado de seleção, o basquete francês talvez viva seu melhor momento na história. Qual o impacto das recentes conquistas para a liga francesa, em termos de investimento e público?
O basquete sempre foi um esporte de boa popularidade aqui na França. Estes últimos resultados só têm ajudado ainda mais a valorizar o investimento que sempre foi feito, com mais eventos envolvendo torcedores etc. As grandes empresas estão investindo sem medo, e a criançada, se interessando cada vez mais.

Os times franceses estão constantemente revelando talentos, em geral muito atléticos. Tanto que o país é aquele que tem hoje o maior número de estrangeiros na NBA. Como acontece essa integração dos garotos da base? Existe alguma obrigação nesse sentido, ou é algo que acontece mais devido a circunstâncias de mercado?
O campeonato juvenil acontece paralelamente ao adulto. E todos os times da primeira divisão fazem um trabalho de base espetacular. Todas equipes fornecem alojamento, educação e alimentação a todos jogadores do cadete e juvenil. E aí os jogadores de talento do juvenil são integrados à equipe profissional para treino e jogo. Geralmente uns dois ou três. A maioria acaba sendo revelada desta forma.

Para fechar: seu contrato com o Limoges é de dois anos, né? O segundo ano é totalmente garantido? Você tem algum tipo de plano para quando o vínculo se encerrar? Pensa em jogar o NBB?
Sim, assinei um contrato garantido de dois anos. Quero muito voltar ao Brasil. Fui sondado pelo Flamengo em junho quando meu contrato em Le Mans terminou. Infelizmente não conseguimos entrar em acordo e ao mesmo tempo tinha a proposta do Limoges com um prazo para dar uma resposta. Confesso que estava pronto pra fechar com o Flamengo, mas infelizmente não deu certo.


Na turnê do Flamengo, potencial de Felício atrai a NBA
Comentários COMENTE

Giancarlo Giampietro

cristiano-felicio-flamengo

O Flamengo apanhou do Memphis Grizzlies, mas, em geral, conseguiu competir durante sua viagem pelos Estados Unidos. Enquanto teve pernas, o time carioca jogou de igual para igual com adversários muito mais fortes, ainda que em início, mesmo, de temporada. De qualquer forma, serviu como boa medição para o talento que está em quadra vestido de rubro-negro. Caras como Marquinhos e o veterano Walter Herrmann vão jogar em qualquer lugar, contra qualquer um.

Do ponto de vista dos clubes da NBA e deste blogueiro, porém, o mais interessante foi observar como um prospecto como Cristiano Felício segurou a bronca em jogos contra Phoenix Suns, Orlando Magic e Memphis Grizzlies, ratificando seu potencial. Aos 22 anos, o jovem pivô ainda tem muito o que desenvolver, mas já possui ferramentas físicas e algumas habilidades para se virar entre gente grande – em todos os sentidos.

“Felício mostrou um tanto de habilidade e potencial nesses jogos: ele se virou, na maior parte do tempo, contra caras de NBA”, afirmou um scout da liga norte-americana ao blog, cujo nome e time ele pediu para não serem identificados. Posso apenas dizer que se trata de um clube de ponta, acostumado a jogar os playoffs, e que estive em contato com esse olheiro durante toda a estadia flamenguista no quintal do Tio Sam. “Sua força, sua habilidade nos rebotes e seu tamanho são interessantes.”

Foi surpreendente até: se formos considerar os três amistosos, talvez Felício tenha sido o atleta mais consistente do Fla. Quem esperava por isso? Talvez nem mesmo sua comissão técnica, que achou por bem investir na contratação do americano Derrick Caracter antes da Copa Intercontinental, crendo ter carências na sua rotação de garrafão. No final, aconteceu o que muitos esperavam: Caracter foi um fiasco. Reflexo de uma contratação feita de longe, às escuras e às pressas. Resta saber apenas a bolada que o veterano ganhou por um jogo sólido contra o Maccabi Tel Aviv e quatro partidas totalmente inócuas: em 21 minutos nos Estados Unidos, ele zerou em pontos e pegou apenas um rebote.

Felício, por outro lado, foi bastante produtivo:

Flamengo, Felício, Estatísticas, amistosos, NBANenhum duplo-duplo. Nenhuma vez acima dos dez pontos? Sim, nada disso. Mas em nenhuma ocasião ele jogou mais que a metade da partida tabém. Os minutos foram reduzidos – média de 19 por jornada. No restante, acumulou 7,6 pontos, 6,7 rebotes, 2,3 roubos de bola, 60% nos arremessos e 2,3 turnovers. Se a gente fosse fazer uma projeção por 36 minutos de atuação, se mantivesse esse rendimento, subiria para 14,5 pontos, 12,6 rebotes, 4,4 roubos e 4,4 turnovers.

Agora os asteriscos: isso não quer dizer, de modo algum, que o pivô brasileiro teria números como esse na liga americana. Afinal, ele enfrentou rivais em ritmo de preparação, e, além disso, nem sempre ele duelou com aqueles que os times têm de melhor (contra o Memphis, por exemplo, ele duelou por bastante tempo com Kosta Koufos, um bom pivô, mas nenhum Marc Gasol). Outra: ele nem mesmo conseguiria ficar 36 minutos em quadra, pois, de acordo com esse mesmo cálculo, chegaria a 7,5 faltas. O que não pode, né?

A brincadeira com os números, no final, só serve para sublinhar o quanto o garoto aprontou por lá. Mais que as estatísticas, o que contou mais no seu caso foi a naturalidade ao encarar um desafio desses, meses depois de ser ignorado no Draft, algo que hoje parece ter sido um erro. A julgar pelo que o atleta entregou nos últimos dias, somado ao bom Eurocamp que havia cumprido em junho, uma escolha de segunda rodada teria sido bem gasta. “Ele ainda não é um produto acabado, mas tem potencial para jogar na NBA um pouco mais adiante”, afirma o olheiro, que concorda com a tese. “Há o que crescer ofensivamente, mas no bom sentido: você percebe que ele tem para onde crescer.”

A LDB já não é mais para Felício

Os amistosos deixam evidentes esses pontos que precisam ser trabalhados de modo prioritário, até para que ele possa ganhar mais tempo de quadra. Primeiro, as faltas, mesmo: de tão ágil para alguém de seu tamanho, também com mãos velozes – reparem no número elevado de roubadas –, o jogador se precipitou em muitos lances ao tentar dar o bote para cima de alas e armadores, provocando contato desnecessário.

Contra o Memphis, nesta última sexta, houve um lance exemplar no segundo tempo nesse sentido: Quincy Pondexter iria sair com a bola no fundo de quadra e, depois de um ataque frustrado, o pivô saiu para o combate ali, mesmo. Embora tenha bloqueado a saída pela direita do ala do Grizzlies, com excepcional movimentação lateral, acabou esticando o bração e cometeu a infração óbvia e desnecessária.

Muitas das faltas marcadas contra o pivô brasileiro também aconteceram no ataque, com bloqueios em movimento, o que ajuda a entender seu número elevado de desperdícios de posse – uma vez que tem uma habilidade subestimada para o passe, tanto de frente como de costas para a cesta, esperando pacientemente a aproximação de um Marquinhos na zona morta para um tiro de três, cruzando a bola da lateral do garrafão para a outra quina, no perímetro, para um chute livre… Ele pode ser envolvido no ataque de diversas maneiras.

Para esse dado também vale um asterisco do asterisco, e nessa, estou com o Zé Boquinha: se não for o caso de um corta-luz completamente atabalhoado, apressado, destrambelhado, a arbitragem deveria maneirar nesse tipo de marcação. Independentemente do jogador e da competição envolvidos. Pois estamos falando daquele tipo de falta que, no basquete, se equivale ao puxão na grande área do futebol: você nunca sabe o que o homem do apito quer ver e marcar.

Esses são pontos que podem ser trabalhados com tranquilidade. Detalhes, que podem ser elucidados já com um bom estudo de vídeo. Outro item que consta na lista e que pede maior carga horária em quadra são os treinos para desenvolver seus movimentos individuais no ataque. De frente para a cesta, Felício, por ora, só se aventura nos tiros de média distância. É praticamente impossível vê-lo colocar a bola no chão e partir para uma bandeja. Perto da cesta, seus pontos acontecem basicamente em cortes de pick-and-roll sem a bola e em rebotes ofensivos. Com a velocidade e as mãos que têm, dá para fazer muito mais.

Num time de ponta como o Flamengo, que vai entrar em todo campeonato com um só objetivo de título, talvez não se encontre o cenário mais adequado para o refinamento dos atletas mais jovens, para que eles ganhem cancha. A LDB está aí para isso, é verdade. Para um talento como Felício, contudo, já não rola – chega a ser até covardia colocá-lo nesse tipo de competição. Ele precisa de mais, muito mais depois do que fez nos Estados Unidos. No retorno para a casa, os rubro-negros estão empolgados, com muitas histórias para contar e experiências para assimilar. Entre tantos assuntos, não dá para fugir do potencial de Felício. Em seu canto, espera-se que o pivô e aqueles que estão ao se redor também tenham se dado conta disso. A NBA já reparou, sim.


Fla conclui giro pelos EUA com sua pior derrota
Comentários COMENTE

Giancarlo Giampietro

O novo e bem mais magro Marc Gasol: outro nível de desafio para o Fla

O novo e bem mais magro Marc Gasol: outro nível de desafio para o Fla

A turnê de NBA do Flamengo não terminou da mesma forma que começou. Depois de fazer dois bons jogos, competitivos, contra Phoenix Suns e Orlando Magic, o time carioca levou uma surra nesta sexta-feira do Memphis Grizzlies: 112 a 72.

O atual campeão intercontinental conseguiu equilibrar as coisas no primeiro quarto, mas teve muita dificuldade para lidar com o time titular do Grizzlies em geral. Com Mike Conley e Marc Gasol em quadra, o adversário tem uma das defesas mais fortes da liga norte-americana. Uma retaguarda muito mais forte que as de Phoenix e Orlando. Isso faz diferença.

Conley, por exemplo, azucrinou com a cabeça de um já desligado Nico Laprovíttola. Além do mais, pode colar no adversário sabendo que, na sua cobertura, está um dos pivôs mais inteligentes – e imponentes – do mundo, o ex-Big Marc Gasol. Impressionante como está afinado o gigante espanhol. Sua temporada regular promete, e muito.

Além disso, Tony Allen é um animal na pressão em cima da bola e na perseguição de seus alvos do lado contrário. Courtney Lee dosa um pouco da velocidade de Allen, mas sem se arriscar muito atrás de roubadas ou tocos. É uma combinação ingrata, que o ataque do Fla sentiu logo de cara, depois de ter aberto de modo surpreendente uma vantagem de 10 a 2 em menos de três minutos.

Aí o técnico Dave Joerger pediu tempo, e a coisa mudou de figura. Embora de um modo curioso. Ainda com seus titulares, empatou o jogo rapidamente em 12 a 12 e chegou a abrir 27 a 12. Já com os reservas em quadra, os brasileiros voltaram a apertar, empatando em 36 a 36. A partir desse ponto, porém, desandou: o Grizzlies já voltaria para o vestiário com uma vantagem de 62 a 41. Fim de jogo.

Ainda mais que Laprovíttola estava numa jornada completamente desastrada. O armador cometeu sete turnovers apenas na primeira metade da partida. Além do mais, o argentino precisa tirar de seu arsenal – ou reduzir drasticamente o volume de tentantivas –  esse tiro de três pontos depois do drible. Essa é uma bola para poucos, em qualquer nível, seja em amistoso contra time de NBA, ou em playoff do NBB. Ainda mais quando se está pregado em quadra. Não havia explosão nenhuma em seu jogo nesta sexta. Já que foi até Memphis, todavia, o armador ao menos tem a chance de visitar a antiga residência do Elvis Presley. Graceland é logo ali.

O jovem Gegê foi bem melhor nesta sexta. Por outro lado, encarou por muito mais tempo o esloveno Beno Udrih, em vez de uma peste como Conley. Udrih está há 10 anos na NBA, mas muito mais por sua habilidade e visão de quadra no ataque do que pelo empenho ou agilidade na defesa, sabemos.

Marquinhos teve sua melhor atuação individual neste giro, combatendo na defesa, matando seus chutes de fora e correndo bem a quadra. Cristiano Felício voltou a bater de frente com pivôs de ponta, como Kostas Koufos, e segurou a bronca.

*   *   *

Bem, agora é ouvir diretoria, comissão técnica e jogadores do Flamengo na volta para saber que tipo de lição, experiência eles tiram dessa viagem marcante. Com a relação de NBA e LNB se estreitando, é de se imaginar que esse tipo de oportunidade vá se repetir no futuro para outras equipes daqui.

*   *   *

Um lance engraçado aconteceu logo no início de partida, quando Marcelinho Machado matou uma bola de três na zona morta na cara de Tony Allen. Foi ali que Joerger parou o jogo. E ficou aquele medo na massa rubro-negra: seria um verdadeiro teste de imortalidade para o camisa 4 flamenguista, uma vez que o pitbull do Memphis certamente voltaria para quadra querendo devorá-lo vivo. Felizmente nada de mais grave aconteceu.*   *   *

E Marcelinho, aos 39 anos, terminou sua turnê de NBA com 13-27 nos seus chutes de três pontos, ou 48% de aproveitamento. Contra o Grizzlies, foi de 4-7, depois de 6-12 contra o Suns.

 


Euroligado: 1ª rodada confirma Grupo da Morte
Comentários COMENTE

Giancarlo Giampietro

Já escrevi durante a Copa do Mundo sobre como essa coisa de Grupo da Morte pode ser meramente um recurso (leia-se “truque) jornalístico fácil para ganhar manchetes, driblar a falta de informação, ou qualquer coisa do tipo. No caso da Euroliga 2014-2015, porém, é impossível escapar deste clichê ao avaliar as equipes emparelhadas no Grupo C. C de morte, mesmo. Na rodada que abriu a temporada, com jogos espalhados entre quarta e sexta-feira, dois dos melhores confrontos aconteceram justamente por esta chave: Fenerbahçe x Olimpia Milano e Barcelona x Bayern de Munique. A eles se juntam o Panathinaikos e o estreante polonês Turów Zgorzelec, este correndo por fora, mas bem por fora, mesmo. De resto, o que temos é o seguinte: um grande time de basquete vai ficar fora do torneio logo na primeira etapa. A julgar pelos elencos e pelos primeiros 4o minutos de ação para o sexteto, os alviverdes gregos, com toda a tradição de seis títulos continentais, que se cuidem. Ao menos, venceram o Turow por sete pontos na estreia. A conferir o desenrolar desta sangria.

O jogo da rodada: Fenerbahçe 77 x 74 Olimpia Milano

Fenerbahçe comemora o triunfo como se fosse até um título

Fenerbahçe comemora o triunfo como se fosse até um título

Dá para advogar a favor do triunfo do Nizhny Novgorod, da Rússia, sobre o Dínamo Sassari, da Itália, por 88 a 86? Claro que dá. Fora de casa, o clube italiano teve uma largada fulminante ao abrir uma vantagem de até 19 pontos no primeiro tempo (26 a 7), mas viu todo esse montante ser derrubado rapidamente. Daí que os anfitriões conseguiram a virada no segundo tempo e pularam eles com dez pontos na frente no princípio do quarto período. Havia tempo, porém, para uma reação dos italianos, que chegaram a ter a última bola em mãos para o empate ou virada. Não rolou.

De qualquer forma, considerando o nível dos times que se enfrentaram em Istambul – dois clubes com pretensões de título na temporada –, comparando com dois estreantes em solo russo, fica-se confortável em seguir este caminho. Depois de o Fener vencer o primeiro quarto com facilidade (26 a 15), o Milano reagiu pelas mãos improváveis do pivô Niccolo Melli (grandalhão que protege o aro na defesa e, no ataque, é basicamente um chutador em evolução de média para longa distância), as equipes travaram uma batalha duríssima. O segundo tempo foi realmente como uma luta franca de boxe, sem que nenhum oponente abrisse uma larga vantagem. Foram incontáveis trocas de liderança entre ambos. Como no finalzinho da terceira parcial em que uma cesta de três do Fener foi respondida por jogada de fal-e-cesta para cima do jamaicano Samardo Samuels, deixando o time visitante na frente por 58 a 57.

O confronto seguiu nesse ritmo até o último minuto quando o armador cestinha americano Andrew Goudelock matou uma bomba de três pontos – daquelas em que você se consagra ou ouve “anta” em turco vindo da arquibancada –, para levar o placar a 76 a 71 para o Fener, com menos de 50 segundos no cronômetro. Falaremos mais a respeito de Goudelock abaixo. Foi, em suma, uma partida já em alto nível, com grandes personagens em quadra (entre draftados e atletas com experiência de NBA em quadra, eram 10), com muita intensidade logo de cara.

JP teve de se virar contra Schortsanitis em seu retorno a um palco de Euroliga

JP teve de se virar contra Schortsanitis em seu retorno a um palco de Euroliga

Os brasileiros
Marcelinho Huertas: em uma vitória bastante dura sobre o Bayern, por 83 a 81, não teve a jornada mais feliz na conclusão de seus tiros em direção ao garrafão (1-6 em chutes de dois pontos), mas conduziu bem o ataque do Barça nos 25 minutos em que esteve em quadra. Foram computadas apenas duas assistências, mas o armador  deu estabilidade ao ataque, alimentando bem o jogo interior para Ante Tomic (15 pontos, 6-7 nos arremessos). Com o tcheco Tomas Satoransky de fora, Juan Carlos Navarro fez as vezes de armador reserva, terminando com oito passes para cesta e 2-10 em bolas de longa distância. Figura.

JP Batista: foi uma estreia bastante produtiva para o pivô com a camisa do Limoges, campeão francês, em jogos de Euroliga, contra o Maccabi Tel Aviv tão bem quisto pelos flamenguistas. O pernambucano marcou 15 pontos em apenas 19 minutos, convertendo 7-16 arremessos, porém. Esta é a terceira edição da competição para João Paulo, que não a disputava desde 2009. O time israelense venceu por 92 a 76, em casa, com um show de sua torcida.

Lembra dele?
Andrew Goudelock (Fenerbahçe)
O torcedor do Los Angeles Lakers mais nerd certamente guarda um espaço em seu coração para este chutador de mão cheia. Revelado pela universidade de Charleston, ele estreou pela franquia angelina na temporada do lo(u)caute, 2011-2012, já sob o comando de Mike Brown. No campeonato seguinte, depois de incendiar a D-League, foi novamente contratado pelo Lakers na reta final. Depois da lamentável lesão de Kobe, acabou recebendo minutos de playoff inesperadamente contra o Spurs, sendo um dos poucos atletas do time capaz de criar alguma coisa por conta própria no perímetro. Com 1,90 m, se tanto, porém, é considerado muito baixo para a posição, a despeito de seu talento ofensivo. Na Europa, isso não foi problema. Jogou demais pelo UNICS Kazan na campanha passada e acabou contratado a peso de ouro pelo Fener. Em seu primeiro jogo de Euroliga, marcou 19 pontos, quatro rebotes e quatro assistências, com 8-16 nos arremessos em 36min53s – o sargentão Zeljko Obradovic simplesmente não conseguia tirá-lo de quadra.

Um vídeo: Berrante
Agora, se Goudelock está com moral com o piradaço e octocampeão da Euroliga sérvio, o mesmo não se pode dizer de Ricky Hickman. Depois de lidar com David Blatt em Tel Aviv, o americano agora vai precisar de protetor auricular. Vejam o esculacho que ele tomou do treinador antes de um pedido de tempo nos minutos finais contra o Milano:

(Outro vídeo: insanidade em Belgrado
A torcida do Estrela Vermelha está que não se aguenta: seu clube disputa a Euroliga, enquanto o arquirrival Partizan, o time hegemônico da Sérvia e da Liga Adriática na última década, vê tudo de fora. Na estreia contra o Galatasaray, os caras sacudiram a Kombank Arena desde 30 minutos antes de a bola subir. Durante o aquecimento, o ginásio estava assim. Imagine quando eles venceram por 29 a 10 no segundo período, para assegurar a primeira vitória? Transmiti o jogo no Sports+ ao lado do chapa Maurício Bonato, e foi de arrepiar.

)

Em números

78,5%– Foi o aproveitamento de quadra do gigante Boban Marjanovic, de 2,21 m, para demolir a defesa do Galatasaray. O sérvio anotou 22 pontos, acertando 11 de seus 14 arremessos, em 27 minutos. Também pegou 10 rebotes. É impressionante a evolução do pivô nos últimos anos. Inicialmente, a tendência era tirá-lo apenas como um herói cult do basquete, por razões óbvias de estatura (aquela coisa de enterrar e dar toco sem saltar etc.). Mas Marjanovic trabalhou duro para se tornar uma arma extremamente perigosa no garrafão.

Boban Marjanovic foi companheiro de Lucas Bebê no time de verão do Atlanta do ano passado e ficou fora da seleção sérvia da Copa do Mundo

Boban Marjanovic foi companheiro de Lucas Bebê no time de verão do Atlanta do ano passado e ficou fora da seleção sérvia da Copa do Mundo

29 – Mardy Collins, ala-armador ex-New York Knicks e Los Angeles Clippers, atingiu este índice de eficiência pelo Turow em duelo com o Panathinaikos. O norte-americano nunca deixou tão feliz o torcedor do Olympiakos, seu clube no campeonato passado, como nesta sexta, ao somar 23 pontos, 9 rebotes e 5 assistências em 29 minutos contra o arquirrival dos Vermelhos.

22 – Dario Saric foi titular e recebeu 21min59s – 22 minutos, vai? – de tempo de quadra do técnico Dusko Ivkovic, pelo Anadolu Efes, na primeira rodada. Por que isso é relevante? É que, durante a semana, o pai do promissor ala-pivô croata, havia esperneado publicamente para reclamar das poucas chances que o garoto vinha recebendo no princípio de temporada. Foi simplesmente bizarro: o clube estava disputando apenas amistosos e uma rodada pelo campeonato turco, e o sujeito já estava sem paciência alguma, ameaçando inclusive tirar Saric de lá. O detalhe: antes do Draft da NBA, o Papai Saric havia comprado uma briga com os antigos agentes do atleta, dizendo que seria a maior burrada da história se o atleta deixasse o Cibona Zagreb direto para a liga norte-americana. Que o melhor era ele primeiro trabalhar em um grande clube europeu, primeiro, para ganhar cancha, se desenvolver.

10 – Muito confiante depois da conquista da medalha de bronze na Copa do Mundo, substituindo Tony Parker, o armador Thomas Heurtel teve uma exibição magnífica na primeira partida do campeonato, quarta-feira, em vitória contra o Neptunas. Foram dez passes para cesta, além de 13 pontos e quatro roubos de bola. Em seu último ano de contrato, Heurtel recebeu proposta do Anadolu Efes, mas optou por ficar no País Basco.

4 x 4 – A primeira partida de Euroliga para Gustavo Ayón deixou claro, mais uma vez, seu talento, sua versatilidade. O Real Madrid adorou. Em um jogo muito mais apertado do que o esperado contra o jovem elenco do Zalgiris, em Kaunas, o mexicano teve um mínimo de quatro tentos em quatro estatísticas diferentes: 10 pontos, 6 rebotes, 4 assistências e 4 roubos de bola, em 24 minutos.

Tuitando

Este é o armador Tyrese Rice, MVP do Final Four da temporada passada pelo Maccabi, elogiando o ala Lucca Staiger, do Bayern de Munique. Nesta sexta, com o apoio de seu ex-companheiro de clube, o alemão matou quatro em oito tiros de três contra o Barça. Staiger, que tem de fato uma bela mecânica, acertou 44,2% na temporada passada – mas apenas 28,8% em três campanhas de Eurocup (a Liga Europa do basquete) pelo Alba Berlim.

Aqui temos o encontro do legendário Sarunas Jasikevicius, hoje assistente do Zalgiris, talvez o melhor armador europeu de sua geração, com o atual melhor armador do continente, Sérgio Rodríguez, o Señor Barba. Tudo de acordo com a nada modesta opinião de um blogueiro, ok.

Recuperado de um glaucoma, que o tirou da Copa Intercontinental contra o Fla, Sofoklis Schortsanitis está de volta. E o pivô grego, um dos nobres protagonistas da Dinastia Baby Shaq, já fez toda a diferença pelo Maccabi, anotando 11 pontos em 11 minutos de jogo, usando óculos – impossível não olhar para ele.

Pesic foi campeão europeu pelo Barcelona em 2003, e os catalães não vão esquecê-lo. A nota bacana para o basquete brasileiro é a presença de Anderson Varejão naquele plantel.