Vinte Um

Arquivo : abril 2015

Georginho encara semana pré-Draft crucial com a concorrência aumentando
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Giancarlo Giampietro

Foi legal ver Georginho, 18, duelando com Guilherme Santos, 17. Talentos que pedem toda a atenção possível

Georginho mostrou serviço pela LDB durante toda a temporada. Agora, chega a Portland para impressionar

Ele já foi observado por pelo menos dez clubes da NBA no Brasil, em quadras brasileiras. Agora, porém, tendo chegado a Portland para a disputa do Nike Hoops Summit no próximo sábado, o jovem armador do Pinheiros vai muito provavelmente ser observado por executivos, treinadores e scouts de todos os clubes da liga norte-americana. “O evento vai ser crucial para ele”, afirma ao VinteUm o executivo de uma equipe, que já o vem observando, mas ainda não o assistiu ao vivo.

Para encarar uma semana dessas, o armador passou um tempo na badalada academia IMG, na Flórida, ao lado do ala Lucas Dias. Teve treinamento do bom e do melhor – e dos mais exigentes –, além de, tão ou o mais importante, fazer um intensivão de inglês. Está preparado. Agora é hora de ir para a quadra e mostrar seus talentos bastante promissores (força física, altura, envergadura e uma fluidez com a bola avançada para alguém de sua idade – características apresentadas já aqui no blog) e os reflexos desse período de treinamento. A expectativa é a de que, concluída as atividades, que ele tenha consolidado e, quem sabe, catapultado seu status como escolha de primeira rodada no próximo Draft da NBA.

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Para o alto e avante?
Segundo múltiplas fontes consultadas, gente em constante contato com os treinadores da IMG, as duas semanas de treinos puxados de Georginho foram um sucesso. O brasileiro até mesmo surpreendeu o experiente estafe da academia. A sensação desses treinadores é que sua cotação vai crescer rapidamente após o Hoop Summit. “Ele jogou partidas de 5 contra 5 por lá com alguns americanos já formados e outros atletas de alto nível do high school e era o melhor em quadra”, afirmou um scout da NBA. Em relação ao inglês, a sensação é de que George entende tudo o que é passado para ele, mas que tem dificuldade na hora de se expressar. Lembremos, todavia, que, até mesmo em sua língua nativa, o armador é um garoto de poucas palavras, que costuma ir direto ao ponto.

Sobre Lucas Dias? O ala também pleiteava uma vaga no prestigiado evento para categorias de base, mas a organização limitou toda a América do Sul para uma só vaga. Aí ficou difícil. De qualquer forma, a jovem promessa do Pinheiros também está na mira dos olheiros, fez barulho na Flórida e volta ao clube paulista muito mais confiante e preparado para ajudar o time do técnico Marcel de Souza nos playoffs. Depois, há diversos caminhos a serem seguidos: treinos com as equipes nos Estados Unidos, o adidas Eurocamp em Treviso. Tudo ainda indefinido.

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O importância do Hoop Summit
De um lado, agrupam jogadores dos Estados Unidos. Do outro, a gringaiada – mas também com diversos atletas que já atuam por lá, ainda no High School. George Lucas Alves de Paula entrou nesse grupo, o que já é um privilégio e tanto. A semana de treinos em meio à elite de sua geração será fundamental para as pretensões do versátil atleta de apenas 18 anos. Mais até que a partida do sábado, dizem os scouts.

O diferencial: a turma da NBA é proibida de acompanhar as sessões práticas dos jogadores americanos, devido a regras estabelecidas pela própria liga no contato com jogadores abaixo do limite de idade permitido para o Draft. Os chamados underclassmen. Essa restrição não vale para os europeus, asiáticos, australianos etc. Nem para Georginho, que, desta forma, vai ser analisado em tempo integral por muitos tomadores de decisão dos clubes.

A desenvoltura nos exercícios, nos coletivos, a linguagem corporal, a dedicação e a comunicação com os companheiros… São muitos os fatores para serem avaliados, que você pode sacar muito mais no dia-a-dia de atividades do que em minutos limitados no jogo. Muitos olheiros já o conhecem também desde a Copa América Sub-18 do ano passado, realizada em Colorado Springs, ou do Nike Global Challenge, disputado em Chicago. Mas o contato e a exposição em Portland serão muito maiores, a apenas dois meses e meio do Draft.

Jamal Murray deve ser uma das referências no time internacional

Jamal Murray deve ser uma das referências no time internacional

Em Portland, Georginho vai ter os seguintes garotos como concorrentes diretos na posição de armador: Jamal Murray (Canadá/Athlete Institute, 1,95 m, 1997), um armador que brilhou no Basketball without Borders de Nova York, Federico Mussini (Itália/Reggio Emilia, 1,80m, 1996) e Stefan Peno (Sérvia/Barcelona, 1,98m, 1997). É esse o grupo de atletas que, basicamente, vai dividir as tarefas de armação, criação de jogadas na seleção internacional. O interessante é que esta não será a primeira vez que o brasileiro enfrenta jogadores de ponta internacional. Como ele próprio disse ao VinteUm, a experiência contra os canadenses na Copa América serviu para abrir, e bem, os olhos. Vai estar bem mais preparado – e o período na IMG só facilita essa transição, num trabalho bastante inteligente por parte de seus agentes – Eduardo Resende, da EW Sports, e Alex Saratsis, da Octagon.

Dependendo do grau de sucesso que tiver em quadra, o brasileiro pode se fixar de vez na primeira rodada do Draft e, quiçá, entre os 15, 20 primeiros, ou até mesmo ter que adiar os planos de ingresso na liga norte-americana. Sim, as coisas podem variar a esse ponto. Esses são os extremos, porém. Em meio aos sites especializados, a cotação de Georginho ainda não é consistente. O DraftExpress, referência no segmento, o coloca como o 31º melhor candidato deste ano. Em sua projeção, porém, exclui dois atletas que estariam acima na tabela e não se alistariam neste ano, fazendo com o que ele suba para 29º. Isto é, estaria na chamada “bolha” da primeira rodada.  O ESPN.com, com Chad Ford, o lista apenas como o 74º prospecto.

Porém, basta que um só clube se encante pelo jogador, assim como aconteceu com o Toronto Raptors e Bruno Caboclo no ano passado,  para que tudo mude. Não há dúvida que Georginho tem potencial de monte e existe sempre com a possibilidade de uma “promessa” para acontecer – quando um dirigente se compromete com jogador e agente de que vai selecioná-lo de qualquer forma no recrutamento de calouros. As coisas são muito voláteis e dependem de uma série de outros fatores, porém: se Georginho e seus agentes só vão aceitar uma proposta de primeira rodada; se preferem a segunda ronda, com maior flexibilidade de contrato, podendo optar por uma equipe que até mesmo tenha um plano mais adequado para o garoto; se o time vai querer usá-lo já na próxima temporada em vez de mandá-lo para a Europa ou mantê-lo no Brasil. Etc. etc. etc.

Jerian Grant, quatro anos mais velho que Caboclo e "concorrente"

Jerian Grant, quatro anos mais velho que Caboclo e “concorrente”

Concorrência aumentando
Para se ter uma ideia, contudo, da volatilidade do Draft, basta ver a classe de armadores que deve se candidatar este ano. Se você fosse conversar com os executivos da liga no início da temporada, ou até mesmo há uns quatro meses, poucos se mostrariam animados com as perspectivas de selecionar um ‘baixinho’ neste ano. Isso pesava a favor de Georginho, um garoto cheio de talento para ser explorado e bastante jovem. Acontece que, agora em abril, o cenário mudou bastante. “Exatamente”, diz um scout da liga. “A posição está muito melhor do que parecia antes de a temporada começar.”

Jerian Grant (Notre Dame), Kris Dunn (Providence), Tyus Jones (Duke), Delon Wright (Utah), Cameron Payne (Murray State) e Terry Rozier (Louisville) são os universitários que ganharam (mais) fama. Quem é quem? Esse mesmo scout, que trabalha para uma equipe da Conferência Oeste, nos ajuda a entender quem são os caras mais falados no momento, para a metade da primeira rodada e as posições finais – sobre Emmanuel Mudiay e D’Angelo Russell, nem precisamos nos entender muito, já que são candidatos até mesmo para pick número um.

“Tanto Grant como Wright são seniors já provados e testados, controladores de jogo estáveis que vão ser valorizados por clubes que estejam vencendo neste momento. São meio que apostas seguras”, disse. “Dunn é um nome que está na moda hoje devido a sua capacidade atlética. Já a cotação de Payne está decolando neste momento: ele passa a bola tão bem como qualquer outro armador no Draft”, avalia. O tampinha Tyus Jones está tendo uma grande vitrine no Torneio Nacional da NCAA, ao lado de Jahlil Okafor e Justise Winslow, ambos praticamente garantidos como escolhas top 7 no Draft. Se Duke vencer o título, não teria muito incentivo a retornar para um segundo ano. Já Rozier, bastante explosivo e de pouca leitura de jogo, também foi longe no mata-mata e, segundo Rick Pitino, vem de uma situação familiar muito difícil, que força sua entrada no Draft, ainda que pudesse usar um ano a mais para crescer.

Na opinião de outro scout da Conferência Oeste, não podemos nos concentrar apenas em armadores – afinal, claro, há times que ignoram necessidades em seu elenco e simplesmente optam pelo melhor talento disponível. “A classe em geral deste Draft é muito forte. Talvez melhor que a do ano passado”, avisa. Para ele,  porém, o potencial de Georginho ainda pode fazer a diferença. “Há diversas opções de prospectos para a posição de armador, sim, mas acho que os treinos do Georginho ainda podem impulsioná-lo para uma vaga na faixa entre as 15ª e 30ª posições”, afirmou. “Ele vai para uma equipe com tempo para desenvolvê-lo.”

Efeito Caboclo?

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Estou apurando por aqui, mas não dá para cravar nada. Ainda. Tenho ouvido de fontes envolvidas com o Draft, tanto agentes como scouts, que podemos ter um elevado número de brasileiros declarados neste ano. A contagem pode ser de até cinco – três além de Georginho e Lucas Dias, no caso. Para eles, seria um ‘efeito Bruno Caboclo’, depois de o Raptors ter surpreendido a liga no ano passado ao escolhê-lo na 20ª posição. Não convém ainda divulgar estes nomes, até por não ter nada garantido. Dois deles seriam representados pelo WMG, o Wasserman Media Group, a maior agência no que se refere ao basquete americano.

Fora a especulação, creio que o mais relevante aqui é que o Brasil voltou a entrar no radar da NBA. Os clubes da LDB já se acostumaram com a visita dos olheiros por aqui durante a temporada. É um tema que merece ser explorado em mais detalhes aqui. Vamos esperar a lista oficial de candidatos.

Para constar: apenas os jogadores nascidos entre 1996, como no caso de Georginho), e 1994 podem se inscrever no recrutamento de novatos da NBA. Aqueles que nasceram em 1993, como Leo Meindl e Henrique Coelho, têm participação automática nesse processo, já que vão completar 22 anos agora, que é o limite para os atletas estrangeiros. Leo Meindl, de Franca, e Henrique Coelho, de Minas, se enquadram nesse grupo, por exemplo. A exceção, entre os garotos do NBB, é o pivô Lucas Mariano, que se candidatou no ano passado, mas acabou não sendo selecionado.


NBB 7 termina 1ª fase com líderes mais poderosos e nota de corte menor
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Giancarlo Giampietro

É, amigos, chegamos.

Chegamos à aquela fase do ano em que você fica maluco. Tem muita coisa acontecendo, é difícil dar conta. É mata-mata para tudo que é lado – algo que já vem, claro, das Loucuras de Março. NBA, NBB, Euroliga, Liga ACB, brasileiros se preparando para o Draft… Se o namorado ou a namorada forem novos, melhor avisar com cuidado. Se a relação é de longa data, bem, a fiel companhia, presume-se, sabe o que lhe espera. É um período de reclusão social, conversa com a TV, que provavelmente faz mal à saúde. Ao menos para o coração. No caso de jornalistas, a incidência de tendinite tem um aumento de 870%. Salve-se quem puder.

Então é hora de respirar fundo. Aqui, vamos nos concentrar um pouco no que se passa com o NBB.

O Bauru, de Hettsheimeir, terminou na ponta, com a melhor campanha da história do NBB

O Bauru, de Hettsheimeir, terminou na ponta, com a melhor campanha da história do NBB

A rapaziada ao menos tem, imagino, o resto do feriadão para descansar um pouquinho. Aí é usar a semana para treinar e estudar o adversário. Que, no fim de semana, começam os playoffs, com a interessante forma de dar uma folga prolongada aos quatro melhores da tabela, ao passo que mais times têm sua temporada estendida: os confrontos decisivos começam com cruzamento entre os times situados entre as 5ª e 12ª posições, pela ordem: Minas, Paulistano, Pinheiros, Franca, Palmeiras, Brasília, São José e Macaé. Bauru, Limeira, Flamengo e Mogi das Cruzes vão assistir a tudo.

Ao batermos o olho na classificação final, nota-se, primeiro de tudo, que a nota de corte caiu. O Macaé, com um projeto bonito, que vai muito além adulto, tem de comemorar muito a chance de participar da fase final do NBB pela primeira vez. Mas a verdade é que avançou um aproveitamento baixo, de 30%, com 21 derrotas em 30 jogos. Na edição passada, foram eliminados em 13º, mas 40,6%. Se tivesse mantido o ritmo, neste ano, teriam terminado acima do Brasília, em 10º.

Essa queda de rendimento acompanha os três clubes que estão acima da tabela, aqueles que, num formato mais tradicional, nem teriam jogado a fase decisiva. Os nomes mudaram, mas os 9º, 10º e 11º lugares passaram, respectivamente, de 46,9% para 43,3% e 40% no caso dos últimos dois. Juntos, esses caras haviam conseguido 45 triunfos na sexta edição do campeonato nacional. Dessa vez, ficaram em 37. E, ok: sabe-se que a temporada 2013-2014 teve um clube a mais – por tanto, um adversário a mais para ser batido. Se formos descontar, então, eventualmente, uma derrota de cada um desses três classificados, ainda seriam 42.

Para onde foram essas vitórias? Naturalmente, lá para o topo da tabela. Os ponteiros ficaram mais fortes, capitaneados pela campanha incrível do Bauru, a melhor da história do NBB, com 28 vitórias e 2 derrotas (93,3%). Aliás, aqui também cabe um asterisco: uma dessas derrotas aconteceu na rodada de estreia, para o Brasília, aconteceu com o elenco de ressaca pela conquista da Liga Sul-Americana. Não obstante, o time de Guerrinha ainda estabeleceu um recorde de 25 vitórias seguidas pela competição. Contando a conquista da Liga das Américas, são, na real, 33 jogos de invencibilidade.

O Flamengo viu a concorrência no topo aumentar. Limeira termina em 2º. Crédito: Gilvan de Souza

O Flamengo viu a concorrência no topo aumentar. Limeira termina em 2º. Crédito: Gilvan de Souza

Mas não foram apenas os bauruenses a elevar o patamar. O Limeira, segundo colocado e a segunda equipe a ter batido os líderes, encerrou sua primeira fase com 83,3%, acima dos 71,9% do Paulistano do ano passado. O terceiro lugar subiu de 65,6% do Brasília para 76,7%, do Flamengo, enquanto o quarto foi também dos 65,6% do Limeira para 70% do Mogi. O que isso dá a entender? Que as equipes que passarem pelas oitavas de final vão ter vida muito complicada na fase seguinte.

Esta é uma boa hora, aliás, para  registrar aqueles que mais cresceram de uma temporada para a outra. Reforçado, com excelente química em quadra, o Bauru elevou em 37% seu aproveitamento (para constar: estou comparando aqui diretamente o número final das campanhas, subtraindo 56,3% de 93,3%. Também com um orçamento muito mais robusto, Mogi deu um salto significativo, de 26,2%. O time de Paco García até foi um dos semifinalistas do ano passado, mas lembrem-se que isso aconteceu de modo surpreendente, derrubando favoritos nos mata-matas, para o qual havia se classificado na última posição. Já o Minas retorna aos playoffs com um ganho de 25,4%.

E quais foram os clubes que caíram? O Brasília, tricampeão, despencou 25,6%. O São José, semifinalista do NBB 6, perdeu 19,4%. O Paulistano, 15,2%. Ainda assim, avançaram. O Basquete Cearense, porém, com menos verba, perdeu 20,2 pontos percentuais e flertou com o rebaixamento – o que seria um duro golpe para o campeonato, levando em consideração seu posicionamento estratégico no Nordeste.

O Brasília de Giovannoni se viu numa incômoda posição. Crédito: Brito Júnior

O Brasília de Giovannoni se viu numa incômoda posição. Crédito: Brito Júnior

Em termos de localização geográfica, a galera de São Paulo prevaleceu, assegurando seis dos primeiros oito lugares, com Flamengo e Minas sendo os penetras, e três dos quatro primeiros. Por outro lado, viu a Liga Sorocabana rebaixada. É bom lembrar que nunca um clube paulista foi campeão nacional na fase do NBB, tendo amargado três vices com Franca, São José e Paulistano, respectivamente, em 2011, 2012 e 2014. Nas versões anteriores do campeonato nacional, o estado havia conseguido mais que o dobro de todos os seus concorrentes juntos, com 33 x 15. O último título foi o de Ribeirão Preto, em 2003. Agora vai?

O Bauru é claramente o favorito agora e tem grandes chances de acabar com esse jejum, ainda mais com a final sendo disputada em uma série melhor-de-cinco, em vez de um jogo único. Mas vocês sabem, né? O jogo é jogado, como já disseram os outros. Até lá, tem muita coisa pela frente. Em breve voltamos com uma passarada sobre as primeiras séries.

Isso se a Senhora 21 e a tendinite permitirem.


Rumo ao Draft, Georginho e Lucas Dias treinam intensamente nos EUA
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Giancarlo Giampietro

Em meio a treinos puxados, ainda pode rolar um mimo ou outro para George e Lucas

Em meio a treinos puxados, ainda pode rolar um mimo ou outro para George e Lucas

Tem hora que você sai de quadra exausto, pregado. Mas sabe que, logo mais, daqui a algumas horinhas, vai começar tudo de novo. Você vai repetindo as sessões diariamente, até que chega uma hora que o corpo acostuma e você passa a notar a diferença. Entende para onde está processo está te conduzindo, num momento muito importante, que pode até definir sua carreira.

Se tudo der certo, deve ser isso que passa pela cabeça de qualquer prospecto candidato ao Draft da NBA. A concorrência, todos sabem, é duríssima. Para encarar essa disputa, então, é preciso dar um duro danado. Tem de abraçar a causa, e foi justamente o que Georginho e Lucas Dias fizeram nos últimos dias nos Estados Unidos, acelerando sua preparação para o recrutamento de calouros da liga norte-americana.

As duas revelações do Pinheiros foram liberadas pelo clube para um período de treinamento específico na badalada academia IMG, localizada na Flórida, para fazer um trabalho completo. Seja no aprimoramento de fundamentos, na desenvoltura atlética e também em aulas intensivas de inglês a qualquer hora que estiverem fora de quadra ou da academia. É o tipo de treinamento que conta muito para o Draft – mas que, se bem executado, tem um efeito duradouro para a carreira também.

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Não se trata de mágica. Não é que obrigatoriamente os atletas se alistem ao programa e saiam de lá evoluídos. A ideia é que eles recebam instruções valiosas, sim, e reflitam e trabalhem em cima de carências. No mínimo, contudo, o que os jovens jogadores aprendem é sobre o quanto seus limites podem expandir, em termos de intensidade e resistência. Essa nova perspectiva foi o que mais chamou a atenção dos garotos brasileiros em treinos aplicados por um estafe experiente, dirigido por Kenny Natt, técnico de vasta experiência na NBA, e outros treinadores, com destaque para Dan Barto, que, segundo fontes muito qualificadas para falar do processo, é reconhecido como um dos melhores do ramo no desenvolvimento de fundamentos.

As sessões começaram no dia 23 de março e vão durar até este sábado. No domingo, então, vão tomar rumos diferentes. George seguirá para Portland, aonde vai disputar o Nike Hoop Summit, rodeado por alguns dos melhores jogadores de sua geração. Já Lucas pegará o voo de volta a São Paulo para se reintegrar ao Pinheiros e se preparar para os playoffs.

(Antes de mais nada, acho normal a liberação do clube paulistano. É um investimento, na verdade: se os jogadores forem draftados, podem render, juntos, mais de US$ 1 milhão em multa contratual, uma bela grana com o câmbio do jeito que anda. Caso declarem seus nomes e retornem, no mínimo voltarão com uma bagagem maior. Além disso, não é que os dois atletas sejam, hoje, peças integrais na rotação de Marcel de Souza. Pelo contrário. A baixa provavelmente influencia mais na rotina de treinos. Fora isso, não vejo no que a equipe sairia perdendo.)

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Em seu site, a IMG conta um pouco sobre a rotina geral pela qual os prospectos passam: duas sessões de treinos por dia, específicas para a posição e também gerais; um treino mais voltado para a performance atlética; um programa nutricional bem monitorado; psicólogos prontos para trabalhar com os atletas em ‘detalhes’ como concentração e confiança, ajudando-os a encarar a carga pesada de exercícios; análises posteriores de vídeos de suas sessões, para maior didatismo na correção de seus movimentos. Tudo o que você poderia pedir. Sem contar a infraestrutura com duas quadras oficiais de NBA, tanto em termos de medida como em qualidade de piso, divididas em 12 estações para ensino.

Desnecessário dizer que Georginho e Lucas ficaram maravilhados com essa nova realidade, mas sem se deslumbrar. Até porque não dá tempo. A carga é realmente pesada. É intencional, uma vez que, caso precisem passar por sessões privadas com os clubes, os dois jogadores vão ser exigidos realmente ao máximo – no caso, um máximo que desconheciam. Depois de penarem nos primeiros dias, foram respondendo aos poucos, num progresso natural aos aspirantes, mas que nem sempre acontece. Deram duro e colheram os frutos e, ao mesmo tempo surpreenderam os experientes técnicos.

Passar por esse programa, no ano passado, rendeu resultados. Seis ‘alunos’ da IMG foram draftados em 2014 – o que equivale a 10% das vagas abertas. Destaque para o ala Rodney Hood, do Utah Jazz. Claro que isso não serve como garantia e que pode ser mera coincidência. O Draft é muito volátil. Depende de uma série de fatores. Mas é fato que os brasileiros tiveram do bom e do melhor para cumprir mais essa etapa.

Aqui, só uma graça que a IMG postou. Mais uma palinha, mesmo:

PS: aguarde mais sobre o Hoop Summit e o cenário pré-Draft dos brasileiros nos próximos dias.


Escondido dos scouts, Hezonja vira trunfo do Barça em vitória sobre o Real
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Giancarlo Giampietro

Hezonja, a surpresa do clássico. A NBA viu?

Hezonja, a surpresa do clássico. A NBA viu?

No sábado passado, o Barcelona recebeu no Palau Blaugrana o Sevilla, em jogo pelo returno da Liga ACB. Na plateia, foram avistados ao menos os seguintes times da NBA: Grizzlies, Hawks, Kings, Knicks, Lakers, Nets, Pacers, Pelicans, Rockets e Spurs. Todos com representantes para assistir ao três prospectos bem cotados para o próximo Draf: o letão Kristaps Porzingis e o espanhol Wily Hernangómez, pelos visitantes, e o anfitrião Mario Hezonja.

Acontece que, num triunfo por 99 a 83, o técnico Xavier Pascual mal tirou o talentoso croata do banco de reservas. O garoto jogou por apenas 6 minutos e tentou apenas um arremesso e deu uma assistência. Você pode imaginar a frustração dos gringos, né? Ainda mais que o ala tem média de 25 minutos durante a temporada e que o ala espanhol Alejandro Abrines não estava necessariamente pegando fogo em quadra, com 3 pontos em 14 minutos, enquanto Brad Oleson tinha 7 pontos. Ao menos a viagem não foi totalmente em vão, uma vez que Porzingis terminou com 18 pontos e 5 rebotes em 22 minutos, enquanto Hernangómez teve 20 minutos de ação. Paciência.

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Adiantamos a fita, então, para esta quinta. Se algum observador da liga norte-americana decidiu esticar sua estadia na belíssima cidade catalã, se deu bem. Num confronto de muito maior ressonância – justamente o Superclássico espanhol contra o Real Madrid, transmitido no Brasil com exclusividade pelos chapas Rafael Spinelli e Ricardo Bulgarelli, do Sports+ –, Hezonja foi bem aproveitado. E correspondeu para arrebentar com a defesa merengue, anotando 15 pontos em 17 minutos, com direito a cinco arremessos de três pontos.

Isto é: de repente todo mundo entendeu errado. Talvez Pascual não estivesse escondendo o croata dos olhares de John Hollinger, o vice-presidente do Grizzlies que estava na arena, ou de outro dirigente e scout. Talvez a intenção fosse desviar a atenção de Pablo Laso e toda a comissão técnica do Real. ; )

As habilidades de Hezonja não são um segredo na Espanha, claro, muito menos na Europa, aonde é badalado desde os 15, 16 anos como um dos maiores prospectos do continente. No ataque, ele tem basicamente o pacote completo: habilidoso com a bola, bastante atlético e um excelente arremessador. Quando entra em ritmo, melhor sair da frente. Quer dizer: melhor ficar na sua frente e contestá-lo sempre que puder. Os atletas do Manresa podem atestar isso, depois de terem visto o rapaz converter todas as suas oito tentativas de três pontos em confronto pela 19ª rodada da liga espanhola, um recorde.

A defesa do Real, no entanto, não estava preparada para a participação do croata nesta quinta, pela penúltima rodada do Top 16 da Euroliga. Hezonja acertou seus dois primeiros tiros de longa distância nos minutos finais do primeiro tempo, ajudando a virar o marcador a favor da equipe da casa, se tornando seu cestinha com pouco mais de quatro minutos de jogo. Na volta do intervalo, Pascual não seria louco de segurá-lo no banco. Deu mais 12 minutos para o atleta e seu aproveitamento seguiu elevadíssimo, com mais três cestas em quatro bolas (aproveitamento de 83%). Laso obviamente não estava contando com isso – e, numa partida tão equilibrada, decidida apenas nos dois minutos finais com triunfo por 85 a 80, acabou fazendo a diferença.

Hezonja entrou com vontade e respondeu no clássico

Hezonja entrou com vontade e respondeu no clássico

Outra contribuição inesperada? A de Maciej Lampe. Se fosse para os merengues temerem algum de seus ex-jogadores agora barcelonista, 97% falariam, com toda a razão, de Ante Tomic, o habilidoso gigante que, segundo tudo indica, deve dar as caras no Utah Jazz na próxima temporada. Afinal, o grandalhão talvez seja o mais perigoso no jogo interno europeu há um bom tempo, eleito para a seleção da Euroliga nas últimas duas temporadas. Mas, não. O polonês roubou a cena, anotando 12 pontos e 6 rebotes em em 15 minutos bastante agitados, se aproveitando de toda a atenção voltada para Tomic, claro. O croata deu quatro assistências. Para constar, Huertas foi bastante discreto, zerado em 12 minutos.

Na hora de decidir, porém, Lampe ficou no banco. Os técnicos partiram para um duelo de formações bastante baixas, o que ajudou o Barça a acomodar Juan Carlos Navarro e Hezonja no perímetro, deslocando o norte-americano DeShaun Thomas (cujos direitos na NBA pertencem ao Spurs) para o garrafão ao lado de Tibor Pleiss (outro vinculado ao Utah Jazz, coincidentemente, repassado por OKC na troca por Enes Kanter).

A ironia: no fim, o fato de Pascual ter limitado os minutos de Hezonja contra o Sevilla teria apenas aguçado ainda mais o interesse dos scouts. Mas é claro que eles preferiam ver o jogador em quadra, produzindo para eles verem de perto, como aconteceu para frustração do Real.

*   *   *

O placar de Real x Barça nesta temporada? Temos 3 a 2 para o time da capital, por enquanto. A diferença é que, entre essas três vitórias, duas valeram título – Supercopa e Copa do Rei.  Será que vão se enfrentar novamente no Final Four da Euroliga, em Madri? Se acontecer isso e caso repitam a decisão nacional, podemos ter 11 confrontos.

*   *   *

Na era de Xavier Pascual e Pablo Laso, o merengue leva a melhor por 18 a 15. O triunfo desta quinta foi o primeiro de Pascual em um jogo de Euroliga, após três derrotas. De qualquer forma, na tabela do Grupo E, o Real ainda aparece na liderança, devido ao maior saldo de pontos que fez em sua última vitória, pelo primeiro turno (97 a 73).


Por onde anda Scott Machado? Desbravando as quadras da Estônia
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Giancarlo Giampietro

Peraí: Estônia?!?!

Sim, a Estônia.

Vamos dar alguns segundinhos para você digerir a informação e, se quiser, checar exatamente no Atlas qual a sua posição geográfica.

(Tic-tac, tic-tac, tic-tac.)

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Pronto: o que achou?

Para mim, de primeira assim, posso dizer que qualquer coisa colada à Lituânia é bom negócio se estamos falando de basquete, não? Pois, então, se for assim, Scott Machado está muito bem. Em sua segunda temporada europeia, após breve passagem pela França, o mais gaúcho dos armadores nova-iorquinos foi parar no BC Kalev/Cramo, na capital Tallinn – e isso, a despeito do clima, não significa necessariamente uma fria. Em termos práticos, obviamente parece um tremendo retrocesso se for para comparar com Houston Rockets e Golden State Warriors, os times com os quais teve contrato na NBA. Mas vamos com calma. O Kalev pode não ter tanta tradição de glórias e conquistas e ídolos mil para além das fronteiras estonianas, mas tem agenda cheia e disputa três campeonatos nesta temporada, sendo que um deles é dos mais interessantes da Europa: a Liga VTB.

Para quem não está familiarizado, é uma competição engloba alguns dos melhores clubes dos países da antiga Cortina de Ferro, no Leste Europeu, com proeminência para os russos – a começar pelo CSKA Moscou, que venceu cinco de seis edições e descarta maiores apresentações, ao passo que o Nizhny Novgorod também se colocou entre os 16 melhores da Euroliga deste ano, em sua estreia, e que UNICS Kazan e Khimki Moscou estão nas semifinais da Eurocup, a segunda principal liga do continente. Quer dizer, se fosse apenas um campeonato russo, já seria difícil. Mas entram outros no páreo, numa simples e ótima ideia, e é nesse grupo que se encaixa a agremiação estoniana do brasileiro. Apenas os lituanos decidiram pular fora nesta temporada, desfalcando o campeonato de Zalgiris Kaunas, Lietuvos Rytas e Neptunas Klaipeda.

É um campeonato forte e mais rico que a média europeia, com direito a 28 jogadores que já atuaram na NBA, como Andrei Kirilenko, Victor Khryapa, Nando De Colo, Derrick Brown, James White e Anthony Randolph. Sem contar, claro, caras como Milos Teodosic, Sasha Kaun, Taylor Rochestie (cestinha da Euroliga), Petteri Koponen e Tyrese Rice, nomes evidentemente de elite, mas que nunca deram as caras na liga americana, por uma ou outra razão.

Scott Machado, BC Kalev, VTB League, armador, EuropaEm meio a tanta gente boa, o que Scott Machado anda aprontando? Em 26 partidas, tem 14,1 pontos, 7,9 assistências (mas com 4,2 turnovers, diga-se), 4,1 rebotes e 1,2 roubo de bola, em 33 minutos. Em termos de ranking geral, ele é o quarto em passes para cesta. Para além dos úmeros básicos, porém, há o que se destrinchar, pensando no que a gente já sabia a respeito do jogo do brasileiro. É o segundo em posses de bola que terminam em assistência, mas o sétimo nas que acabam com desperdício. Isso tem a ver com o fato de o ser 17º da liga em taxa de uso, daqueles que mais se envolvem com o que o time faz no ataque.

Uma deficiência que o atrapalhou bastante em sua tentativa de afirmação na NBA foi básica: nos arremessos. Se o jogo chama bola ao cesto, fica difícil, né? Bem, lá no Leste europeu, não dá para dizer que ele tenha sanado esse problema. No geral, tem convertido apenas 42,1% de suas tentativas de dois pontos e 30% de três. Quando você fatia a quadra, para saber exatamente de onde estão saindo esses chutes, vai perceber que Scott ao menos evita as bolas longas de dois pontos contestadas, uma boa medida (apenas 33 de seus 341 chutes, menos de 10%).

Acontece que, quando ganha o garrafão, buscando situações supostamente de maior probabilidade de acerto, o rendimento tem sido apenas de 38,4% (28/73) diante da cesta e de 47% nos tiros em flutuação dentro da zona pintada (54/115). No perímetro, porém, ele acaba arriscando muito mais em uma posição frontal ao aro (23/78, 29,5%), do que pelas alas, especialmente na zona morta, onde a distância encurta (13/42, 30,9%). Nota-se que o brasileiro fixou bem o padrão de jogo que lhe ensinaram em Houston, buscando arremessos mais eficientes. Resta convertê-los, o que não é mero detalhe.

Agora, não é só fazendo cesta que se influencia um jogo de basquete. Sinto que, mesmo num 1º de abril, isso já pode ser tratado como uma verdade absoluta entre nós, né? Ainda mais para um armador. Nesse ponto, pouco se discute em relação a sua capacidade de comandar uma equipe, devido a sua visão de quadra, altruísmo e disposição positiva em geral. Era o que apresentava em Iona, sua universidade nos Estados Unidos, e foi justamente isso que o levou a bateu à porta da NBA.

(Aliás, aqui um parêntese: pegamos muito no pé do jogador quando insistiu em buscar a liga norte-americana mesmo que poucas boas oportunidades surgissem, causando angústia. Com mais distanciamento, dá para pensar no outro lado: 1) é basicamente o sonho de qualquer jogador; 2) Houston, Oakland ou Salt Lake City, sua última escala, estão muito mais próximas de sua casa, de sua família do que a Tallinn, e dá para perceber que isso tem um baita peso para o jogador, ainda mais depois da trágica morte de seu pai; 3) são poucos os atletas que chegam ao estágio que ele alcançou, de ser bom o suficiente para ser considerado um prospecto para a liga americana, enquanto milhares de universitários não passam nem perto disso. De qualquer forma, mantenho: uma vez fora do Rockets, jogar na Europa seria a melhor via, mesmo.)

E Scott está liderando o Kalev em uma campanha de recuperação nas últimas semanas que pode garantir o time nos mata-matas, algo que seria inédito e uma façanha e tanto. Para se ter uma ideia, na temporada passada, quando os 20 participantes ainda eram separados em dois grupos, o time caiu ainda na primeira fase, com apenas 5 vitórias e 31 derrotas no geral.

O clube estoniano vem numa ascensão, com quatro vitórias seguidas, que coincidem precisamente com a melhor fase de seu armador. Em três dessas vitórias o gaúcho nova-iorquino terminou com double-doubles: 12 pontos e 11 assistências contra os Bisons, da Finlândia, 15 pontos e 12 assistências contra o Nymburk, da República Tcheca, e 13 pontos e 12 assistências contra o Tsmoki, da Bielorrússia, nesta quarta-feira. Só para não deixar passar batido: pode não ter garantido um duplo-duplo contra o Krasny Oktyabr (tradução: Outubro Vermelho, claro!), mas não está nada mal uma linha com 21 pontos e 9 assistências em um triunfo apertado por 82 a 80, no qual jogou todos os 40 minutos.

Scott Machado, Kalev Cramo, VTB League

O fato é que Machado carrega uma grande responsabilidade como principal força criativa do elenco, e aí que se precisa dar um desconto em seu elevado número de turnovers – nessa sequência positiva, foram 3,5, número ainda alto, mas já abaixo de sua média na temporada. Os adversários sabem que precisam pará-lo. Com todo o seu dinamismo em quadra, não dá para dizer que os desperdícios de posse de bola sejam um mal necessário. Sempre é bom evitá-los. Mas eles vêm num pacote geral do qual o Kalev está claramente se beneficiando com 15,2 pontos, 11,0 assistências, 5,5 rebotes e 3,0 roubos de bola, com mais palatáveis 36,8% nos tiros de três pontos e 51,8% nos arremessos de dois. Ainda mais quando registramos que, de 160 minutos de jogo, ele só descansou por pouco mais de 17 no total.

Importante dizer que as quatro vitórias vieram contra times que estão na parte baixa da tabela. De qualquer forma, foi feito o dever de casa. Observando um trecho mais complicado da tabela, entre os dias 5 de janeiro e 1º de fevereiro, no qual enfrentou CSKA, UNICS, Lokomotiv Kuban, Kimkhi e Nizhny, as estatísticas caíram um pouco: 11,8 pontos, 9,6 assistências, 6,0 assistências, 1,2 roubada, além de 3,6 turnovers (com direito a 9 contra o CSKA), com 31,5% de três pontos e alarmantes 37,1% de dois. No geral, todavia, a produção do armador aumentou em 2015, na segunda metade da temporada, e dá para dizer que isso tem a ver com o entrosamento com os companheiros e um entendimento maior sobre os adversários, sem contar a tal da adaptação. Hoje, até dá aula de culinária gratuita:

O legal aqui é que Scott está, ao seu modo, desbravando um território um tanto inóspito redescobrindo um território que andava recebendo poucos brasileiros – do basquete. No futebol, são vários os boleiros por lá, é verdade. Nas quadras, porém, que me lembre, o único que esteve recentemente por estas bandas foi Marcelinho Machado, quando vestiu a camisa do histórico Zalgiris Kaunas – mas isso já leva oito anos. Murilo Becker também deu uma passada pela Bulgária, na mesma época. E só?

(Atualização: reponsável pelo área técnica no escritório da NBA no Brasil, Daniel Soares deu uma contribuição mais que valiosa aqui, demonstrando como a memória do blogueiro anda fraca. É o que dá escrever na correria. Daniel recuperou a bem-sucedida passagem de Rafael “Baby” Araújo pelo Spartak St. Petersburg, além de outros selecionáveis como Guilherme Giovannoni, que também jogou muito bem na Ucrânia, pelo BC Kiev, e JP Batista, que disputou Euroliga pelo Lietuvos Rytas. Outros: Jefferson William e ele próprio na Hungria e o pivô Michel na República Tcheca. No Twitter, o pessoal do Basquete Alviverde citou o pivô Átila dos Santos, o último a vir de lá. “Só”.)

No fim, mesmo que Scott agora a 6600 km de Nova York, é esse o tipo de trilha que o armador deveria seguir, mesmo, para tentar voltar para a casa com um contrato de NBA, algo que ainda trata como obsessão. O próximo passo, porém, seria sair do BC Kalev para um clube europeu maior, usando a campanha de certa forma surpreendente da equipe como chamariz no CV. Mas ainda há uma escalada boa pela frente.

“Sua visão de quadra e habilidade no passe não são o suficiente para compensar a falta de capacidade atlética. Tem os pés lentos, mas uma mente rápida. Dá para notar que ele entende as rotações, consegue lê-las, e passa sempre de modo preciso. Controla o jogo e a bola. Penso que ele é mais um jogador para competições intermediárias. Para a Euroliga, sendo um estrangeiro, você precisa ou infiltrar e passar para fora (o famoso drive and kick, no caso) ou ser um arremessador. No momento, ele não faz nenhuma das duas”, afirmou um scout internacional que assistiu ao brasileiro neste ano.

Outro olheiro, bastante familiarizado com o jogo do brasileiro, segue a mesma linha. “Ele tem limitações para um alto nível na Europa. Provavelmente eu o contrataria como um cara para sair do banco. Acho que ele precisa melhorar a maneira de encarar as coisas e jogar de acordo com suas capacidades. Ele sempre achou que era melhor do que era, e acaba não se concentrando nas coisas que precisa melhorar”, afirmou. “Há ainda há uma chance, mas vai depender de sua mentalidade.”

No fim, Scott precisa do máximo de minutos que puder, refinando seu jogo. A visão de jogo é praticamente inata, mas o restante precisa vir com o tempo e com treino, para aí poder deixar a Estônia – e a estabilidade que aparentemente conseguiu por lá – por algum lugar de maior expressão, visibilidade. Que você encontre no mapa mais fácil.


Vitória sobre Mogi: mais uma prova de como será duro derrubar o Bauru
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Giancarlo Giampietro

Alex barbarizou contra o Mogi no segundo tempo e passou da marca de 4 mil pontos no NBB

Alex barbarizou contra o Mogi no segundo tempo e passou da marca de 4 mil pontos no NBB

Não tem como baixar a guarda: mesmo que um ou outro direto tenha passado em meio ao combate, quem estiver do outro lado vai precisar assimilar o golpe com rapidez. Vai ter de, literalmente, manter a cabeça no lugar, e a cuca pensando naquilo que mais importa em sua estratégia. Não dá para esquecer o que foi combinado na sala de vídeo.

Do contrário, se você decidir partir para o confronto franco, a troca de sopapos no muque, mesmo, a tendência é que o esquadrão do Bauru o leve a nocaute. Foi o que o Mogi das Cruzes percebeu nesta quarta-feira, no Panela de Pressão, na reta final da temporada regular do NBB. Por 24 minutos, o time de Paco García estava plenamente ciente do que fazer em quadra. Quando o cronômetro apontava 6min19s para o fim, os visitantes tinham vantagem de seis pontos (47 a 41). A partir daí, perderam as estribeiras, permitindo uma chuva de bolas de três pontos. Tentaram reagir na mesma moeda muitas vezes. E um jogo que se desenhava bastante equilibrado foi terminar com o placar de 97 a 75.

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Isto é: nos últimos 16 minutos de partida, deu 56 a 34 para os líderes do campeonato nacional, que alcançaram agora a marca de 24 triunfos consecutivos apenas pela competição – igualando recorde do Flamengo na campanha 2008-2009. Se você for por nessa conta as vitórias para a conquista da Liga das Américas, aí chegará a 32 rodadas de invencibilidade. Algo realmente especial, que faz a confiança subir a um nível estratosférico já.

Nesse embate com Mogi, o terceiro quarto terminaria em 65 a 54. Já uma vantagem considerável, mas não impossível de se tirar. O problema foi como aconteceu a virada bauruense. Daquela marca de 6min19s até o estouro da buzina, foram seis bolas de três convertidas pelo time da casa. Sabe quantas haviam caído nessa mesma parcial até então? Nenhuma.

Alex, com 46% nos chutes de 3? Pois é

Alex, com 46% nos chutes de 3? Pois é

Pior: quem foi o cara que fez o maior estrago nesse momento de reviravolta? O veterano Alex. O ala-armador que, convenhamos, nunca foi notório por seu aproveitamento nos tiros exteriores – a média de sua trajetória pelo NBB neste fundamento é de apenas 32,8%. Acontece que, num ataque bem espaçado como o da equipe paulista, com múltiplas armas ofensivas, o Brabo nunca teve tanta facilidade assim para arremessar, tendo, disparado, o melhor aproveitamento da carreira, com elevadíssimos 46,2%. Então, no scout de qualquer oponente, se faz necessária a observação de que ele precisa ser vigiado de perto. Nesta terça, acertou absurdos 7-10, igualando sua melhor marca individual.

No caso específico do Mogi, porém, não dá para espernear muito sobre uma desatenção defensiva em relação a Alex. Duas das quatro bolas que ele converteu nesse terceiro quarto foram de trás da linha da NBA, a partir do drible, com uma confiança desmedida. Os chutes caíram que nem uma bomba psicológica para cima dos forasteiros, que errariam três arremessos de longa distância e nove de quadra no geral, além de cometer um turnover. As coisas descambaram.

No quarto período, foi a vez de Rafael Hettsheimeir queimar a redinha com as conversões do perímetro. E aqui, sim, o sistema defensivo adversário falhou bastante. O pivô é outro que está embalado no fundamento e acabou tendo muita liberdade para chutar de longe – seja com Paulão em quadra (conforme o esperado, neste caso), ou com uma dupla mais ágil como Gerson e Tyrone. Estava tão tranquilo lá fora que chegou a arriscar impensáveis 14 bolas, matando seis delas.

Quer dizer, juntos, os companheiros de seleção garantiram ao Bauru 39 pontos na linha perimetral. Baixou o santo para a dupla, é verdade. Não será todo dia assim. Mas aí Guerrinha pode dizer que, no seu time, sempre vai ter um podendo desembestar, na mais pura verdade. No total, foram 31 pontos para Alex e 28 para Rafael.

Agora: este foi o terceiro duelo entre os dois clubes na temporada, contando aí também a final da Liga Sul-Americana. Coincidentemente, nas três partidas Bauru tentou 38 bolas de fora. Um volume exagerado, mas que também não enfrentou resistência dos oponentes, tendo convertido 50 no geral, com um rendimento de mais de 16 por partida e 43,8%. Então já estamos falando mais de acaso. Se voltarem a se cruzar no mata-mata do NBB, Garcia vai ter de rever sua cobertura e/ou fixá-la na cabeça de seus atletas. Foi mais uma sacolada daquelas.

Potencial para o Mogi não falta, pensando numa eventual semifinal contra um rival que já garantiu a condição de cabeça-de-chave número nos mata-matas. O espanhol tem ao seu dispor um elenco que, em teoria, pode funcionar tão bem num jogo acelerado, com uma formação mais atlética e dinâmica – explorando  Tyrone ao lado de Gerson, mantendo o vigor físico ainda assim –, como num ritmo mais cadenciado, compondo uma linha de frente pesada, talvez com Tyrone, Gerson e Paulão juntos. Essa versatilidade pode ser mais explorada nos playoffs, no jogo de gato-e-rato, ainda que não tenha surtido efeito nesses primeiros três embates. Também não será todo dia que Shamell vai ficar limitado a 9 pontos, com 4/12 nos arremessos. Guilherme Filipin, com 23 pontos em 21 minutos, foi quem assumiu o papel de cestinha. Foi o único a pontuar em dois dígitos, o que é muito pouco, mas não necessariamente algo essencial para se remediar.

Pois não será num tiroteio, num jogo de ataques livres, que a equipe conseguiria fazer frente ao Bauru. Essa é uma mensagem, aliás, que fica mais e mais clara para os concorrentes a meros dias do início dos mata-matas. Ainda mais numa série melhor-de-três: invariavelmente, você vai ficar grogue após ataques fulminantes bauruenses. Vai acontecer, não tem muito jeito. Resta saber apenas qual o seu nível de resistência.