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Arquivo : Raptors

Mercado da Divisão Nordeste: Boston está chegando lá
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Giancarlo Giampietro

Quem já leu os textos sobre a Divisão Central, a Divisão Pacífico, a Divisão Sudeste e/ou a Divisão Noroeste pode pular os parágrafos abaixo, que estão repetidos, indo direto para os comentários clube a clube. Só vale colar aqui novamente para o marujo de primeira viagem, como contexto ao que se vê de loucura por aí no mercado de agentes livres da NBA

As equipes da NBA já se comprometeram em pagar algo em torno de US$ 3 bilhões em novos contratos com os jogadores, desde o dia 1º de julho, quando o mercado de agentes livres foi aberto. Na real, juntos, os 30 clubes da liga já devem ter passado dessa marca. Cá entre nós: quando os caras chegam a uma cifra dessas, nem carece mais de ser tão preciso aqui. Para se ter uma ideia, na terça-feira passada, quarto dia de contratações, o gasto estava na média de US$ 9 mil por segundo.

É muita grana.

O orçamento da liga cresceu consideravelmente devido ao novo contrato de TV. O teto salarial subiu junto. Se, em 2014, o teto era de US$ 63 milhões, agora pode bater a marca de US$ 94 milhões. Um aumento de 50%. Então é natural que os contratos acertados a partir de 1o de julho sejam fomentados desta maneira.

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Vem daí o acordo acachapante fechado entre Mike Conley Jr. e Memphis Grizzlies, de US$ 152 milhões por cinco anos de duração, o maior já assinado na história. Na média anual, é também o mais caro da liga. O que não quer dizer que o clube o considere mais valioso que Durant e LeBron. É só que Robert Pera concordou em pagar ao armador o máximo que a franquia podia (no seu caso, com nove anos de carreira, 30% do teto salarial), de acordo com as novas regras do jogo.

Então é isto: não adianta ficar comparando o salário assinado em 2012 com os de agora. Se Stephen Curry, com US$ 12 milhões, ganha menos da metade de Conley, é por cruel e bem particular conjuntura. Quando o MVP definiu seu vínculo, estava ameaçado por lesões aparentemente crônicas e num contexto financeiro com limites muito mais apertados. Numa liga com toda a sua economia regulamentada, acontece.

O injusto não é Kent Bazemore e Evan Turner ganharem US$ 17 milhões anuais. O novo cenário oferece isso aos jogadores. O que bagunça a cabeça é o fato de que LeBron e afins não ganham muito mais do que essa dupla, justamente por estarem presos ao salário máximo. Esses caras estão amarrados de um modo que nunca vão ganhar aquilo que verdadeiramente merecem segundo as regras vigentes, embora haja boas sugestões para se driblar isso.

Feito esse registro, não significa que não exista mais o conceito de maus contratos. Claro que não. Alguns contratos absurdos já foram apalavrados. O Lakers está aí para comprovar isso. Durante a tarde de sexta-feira, recebi esta mensagem de um vice-presidente de um dos clubes do Oeste, envolvido ativamente em negociações: “Mozgov…  Turner…  Solomon… Sem palavras”. A nova economia da liga bagunça quem está por dentro também. As escorregadas têm a ver com grana, sim, mas pondo em conta o talento dos atletas, a forma como eles se encaixam no time, além da duração do contrato.

Então o que aconteceu de melhor até aqui?

Para constar: o blog ficou um pouco parado nas últimas semanas por motivo de frila, mas a conta do Twitter esteve bastante ativa (há muita coisa que entra lá que não vai se repetir aqui). De qualquer forma, também é preciso entender que, neste período de Draft e mercado aberto, a não ser que você possa processar informações como um robô de última geração como Kevin Pelton, do ESPN.com,  o recomendável não é sair escrevendo qualquer bobagem a cada anúncio do Wojnarowski no Vertical. Uma transação de um clube específico pode ser apenas o primeiro passo num movimento maior, mais planejado. A contratação de Rajon Rondo pelo Chicago Bulls no final de semana muda de figura quando o clube surpreende ao fechar com Dwyane Wade, por exemplo. No caso, fica ainda pior.

Agora, com mais de 20 dias de mercado, muita coisa aconteceu, tendo sobrado poucos agentes livres que realmente podem fazer a diferença na temporada, deixando o momento mais propício para comentários:

Boston Celtics

Atlanta Hawks v Boston Celtics

Quem chegou: Al Horford e Jaylen Brown.
Quem saiu: Jared Sullinger (Raptors) e Evan Turner (Celtics).

O clube teve sua chance. Kevin Durant, no final das contas, realmente pensou na possibilidade de jogar em Boston. Mesmo que tenha optado pelo Warriors, para choque geral da liga, a mera consideração pelo Celtics deveria deixar o gerente geral Danny Ainge ainda mais encorajado com seu longo plano de reconstrução. Afinal, times como Lakers e Knicks não conseguiram nem mesmo marcar uma reunião com o ala.

E tem outra: não é que Al Horford seja um frustrante prêmio de consolação. Muito pelo contrário. O pivô dominicano se soma a uma base de jogadores competitivos, inteligentes e bem treinados e, sozinho, já vai fazer o produto de Brad Stevens melhorar consideravelmente em quadra, de tantos fundamentos e versatilidade em geral que oferece. Um time que venceu 48 partidas está basicamente trocando Sullinger por um All-Star. Nada mal.

Já a perda de Evan Turner não é algo para se lamentar tanto. A equipe perdeu, sim, seu condutor da segunda unidade, mas acho que dá para acreditar em um salto de qualidade para Marcus Smart e até mesmo para Terry Rozier, compensando. Além disso, a rotação ganha toda a vitalidade e capacidade atlética do número três do Draft, Brown. O jovem ala não está nada pronto como atacante, dependendo basicamente de investidas explosivas rumo ao aro para pontuar, mas já pode ajudar na contenção no perímetro, dando uma força para Jae Crowder contra alas mais altos e fortes.

De todo modo, Ainge não deve parar por aí. O gerente geral ainda busca mais um ou dois negócios, na forma de trocas, tendo ainda uma dúzia de ativos. A franquia obviamente aguarda o que OKC e Russell Westbrook pretendem da vida. Não custa insistir com Vlade Divac sobre DeMarcus Cousins também. Ou quiçá Cleveland já não se importe mais em segurar Kevin Love, precisando de reforços no perímetro devido ao fator Durant. Vai saber. Há sempre um negócio para se fechar por aí, desde que pelo valor certo – esta tem sido a filosofia paciente de Ainge, mesmo depois de um Draft no qual foi obrigado a selecionar seis atletas.

Uma eventual troca vai decidir o futuro de alguns desses jovens jogadores. É certo que Ante Zizic seguirá na Europa. De resto, ninguém sabe ainda o seu destino. O trator francês Guerschon Yabusele impressionou durante as ligas de verão e parece preparado para jogar na liga para já. Por ora, porém, não há espaço no elenco.

Brooklyn Nets

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Quem chegou: Jeremy Lin, Trevor Booker, Luis Scola, Greivis Vasquez, Randy Foye, Anthony Bennett, Justin Hamilton, Joe Harris, Caris LeVert e Isiah Whitehead.
Quem saiu: Thaddeus Young (Nets), Jarrett Jack (Hawks), Willie Reed (Heat), Wayne Ellington (Heat), Sergey Karasev (Rússia), Donald Sloan (China).

Não dá para dizer que Sean Marks esteja recomeçando o projeto do zero, mas é quase perto disso, hein? Considerando o estado em que estava a franquia ao final da temporada passada, é bastante compreensível essa chacoalhada toda. O neozelandês tinha dinheiro para gastar, mas o clube não atrairia grandes nomes. Então optou por apostas em jogadores que ainda teriam potencial para ser explorado, na expectativa de que evoluam com mais tempo de quadra e possam formar um núcleo mais interessante daqui a dois anos, eventualmente. Sim, Jeremy Lin ainda se encaixa nesse perfil, ainda mais agora que ai reencontrar o técnico Kenny Atkinson, uma das principais figuras por trás das semanas de Linsanidade que viveu pelo Knicks há quatro anos.

Outros jogadores nessa linha: Hamilton, um pivô que jogou muita bola pelo Valencia na temporada passada e pode ser considerado um stretch 5, com bom chute da cabeça do garrafão; Bennett, um dos maiores fiascos da história do Draft, mas que ainda é jovem o bastante para não ser descartado de vez; e Harris, que entrou na liga com a reputação de ser um grande chutador de três pontos, mas que não impressionou a serviço do Cavs. Não são nomes que comovem tanto, mas vale a prospecção.

Lembrando também que a ideia inicial de Marks nem era contratar tanta gente assim. Acontece que, quando o Miami Heat e o Portland Trail Blazers decidiram cobrir suas polpudas (e um tanto ousadas) ofertas, respectivamente, por Tyler Johnson e Allen Crabbe, lhe restou dinheiro e poucos alvos no mercado. Aí ele optou pela contratação de veteranos como Scola, Vasquez e Foye, que são caras muito respeitados dentro do vestiário. Pensou em química. Mas será que tantos veteranos assim não podem roubar minutos preciosos dos mais jovens? Caras como Rondae Hollis-Jefferson, Chris McCullough, Sean Kilpatrick e os calouros LeVert e Whitehead deveriam ter a prioridade. Ou Brooklyn acreditaria que um quinteto Lin-Foye-Bogdanovic-Booker-Lopez seria competitivo no Leste?

New York Knicks

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Quem chegou: Derrick Rose, Joakim Noah, Courtney Lee, Willy Hernángómez, Brandon Jennings, Justin Holiday, Mindaugas Kuzminskas, Maurice N’Dour e Marshall Plumlee.
Quem ficou: Lance Thomas e Sasha Vujacic.
Quem saiu: Robin Lopez (Bulls), José Calderón (Bulls/Lakers), Jerian Grant (Bulls), Arron Afflalo (Kings), Derrick Williams (Heat), Langston Galloway (Pelicans) e Tony Wroten (Grizzlies).

É, Phil Jackson também trabalhou bastante nas últimas semanas. Quantas canetas foram necessárias para assinar tanta papelada? Desde a troca surpreendente com o Bulls por Derrick Rose (análise aqui) a contratações de veteranos com histórico de lesão, passando pela busca por talento na Europa, o Mestre Zen fez de tudo um pouco para tentar conduzir o Knicks de volta aos playoffs. Carmelo Anthony não aguentava mais. Agora está empolgadão com os nomes que chegaram. Deveria?

Em tese, Noah e Lee fortalecem bastante a vulnerável defesa da equipe. O Knicks pagou um preço caro por um dos marcadores mais inteligentes e aguerridos do basquete. Ele tem tudo o que Jackson ama em um jogador. Precisa ver apenas se o pivô – um dos meus cinco jogadores prediletos em toda a liga, acreditem – vai ter condições físicas para jogar a temporada toda em alto nível. Do contrário, vai ter de apelar a Hernángómez e Plumlee, que até são mais maduros que a média entre calouros, mas não estão à altura da missão. O espanhol tem força, munheca e movimentos para pontuar, mas não é um grande defensor. Já Plumlee vem com a grife Dukep-Coach K, joga pesado, não vai inventar onda nenhuma, reconhecendo todas as suas limitações com a bola. E bota limitação nisso.

O temor pela enfermaria naturalmente se estende aos armadores. Rose terá a companhia de Jennings, que tentará mostrar que a ruptura no tendão de Aquiles ficou no passado. Registre-se aqui uma curiosidade quase mórbida: vamos ver se os dois vão conseguir passar da marca de 70 jogos e de 40% nos arremessos.

Já Lee acrescenta muito na contenção do perímetro. É um defensor muito mais intenso e capaz que Afflalo, que hoje só tem fama. Também arremessa bem e sabe jogar coletivamente, se movimentando pelo ataque, abrindo espaços, acostumado a jogar em função secundária. Definitivamente não vai brigar com Melo e Rose por arremessos. Baita contratação.

Por fim, completando o elenco, Kuzminskas é um ala que vive de oportunismo no ataque. Não é um cara que cria situações de cesta por conta própria, mas sabe aproveitar muito bem as rebarbas em rebotes ofensivos e cortes para a cesta pelo fundo da quadra. Imagino muitas assistências de Noah e Jennings para ele. Na defesa, é uma negação, e talvez seja superado por Holiday na rotação justamente por isso. N’Dour, o atlético senegalês que mal jogou pelo Real Madrid, deve passar mais tempo com o time da D-League do que com as estrelas.

Se estivéssemos em 2010, as contratações de Phil Jackson seriam bombásticas. Mas o calendário, salvo engano, aponta 2016. Se tirarmos o Warriors da dicsusão, talvez o Knicks seja o time mais interessante para se acompanhar na temporada que vem, pela combinação perigosa de egos, pelo simples fato de Rose e Noah estarem fora de Chicago e pela situação de Carmelo – mais um ano de fracasso, e o ala muito provavelmente vá forçar uma troca.

Philadelphia 76ers

Quem chegou: Ben Simmons, Dario Saric, Sergio Rodríguez, Jerryd Bayless, Gerald Henderson e Timothy Luwawu.
Quem saiu: Ish Smith (Pistons), Isaiah Canaan (Bulls) e Christian Wood (Hornets)
Quem chegou e nem ficou: Sasha Kaun

Pela primeira vez desde 2013, o Sixers vai abrir uma temporada em que o objetivo não são as derrotas. O Processo de Sam Hinkie foi abortado abruptamente na campanha passada, com o Clã Colangelo afanando todos os seus ativos, e agora o metódico, cultuado (por uns) e ridicularizado (por muitos) dirigentes tem de se contentar, de alguma forma, com o fato de que pelo menos a franquia conseguiu uma estrela em torno da qual pode se fortalecer, que é Simmons. Mesmo que ele já não esteja mais por lá para curtir esse desenvolvimento.

O novato australiano já encantou durante as ligas de verão com sua visão de quadra especial, lembrando muito um Jason Kidd de 2,08m de altura. Tal como era o caso do armador, porém, em seus primeiros anos de profissional, Simmons não representa absolutamente nenhuma ameaça como chutador, e isso vai ter um preço em seu ano de novato. Enquanto ele não der um jeito nesse fundamento, não deve entrar na pauta de um All-Star Game, por exemplo.

Com Saric e Rodríguez vindo da Europa, de todo modo, o Sixers certamente será um dos times mais divertidos da liga nas trocas de passe e jogo em transição. Depois de sofrer com armadores abaixo da linha da mediocridade, Brett Brown agora pode chorar de alegria no banco. Ele merece.

Fora isso, Henderson vai contribuir com profissionalismo, defesa e chutes de média distância, jogando em casa, enquanto o francês Luwawu se encorpa e se ajusta a um jogo no qual não será mais a figura mais atlética em quadra, como acontecia na Sérvia.

A missão de Colangelo agora deveria ser encontrar uma nova casa para Jahlil Okafor, cujos talentos ofensivos não se encaixam com o restante do elenco – independentemente, inclusive, do que acontecer com Joel Embiid. A rotação da linha de frente com Robert Covington, Jerami Grant, Simmons, Saric, Nerlens Noel e Richaun Holmes já é interessante o bastante.

Toronto Raptors

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Quem chegou: Jared Sullinger, Jakob Poetl e Pascal Siakam.
Quem ficou: DeMar DeRozan.
Quem saiu: Bismack Biyombo (Magic), Luis Scola (Nets) e James Johnson (Heat).

Masai Ujiri teve a chance de acrescentar Serge Ibaka ao finalista da Conferência Leste, mas não aceitou o preço cobrado por OKC (que era a nona escolha do Draft + Patrick Patterson + Cory Joseph + Norman Powell). Os dois reservas são figuras muito queridas no vestiário e compuseram uma segunda unidade que foi um dos pontos fortes do time canadense na última temporada. Joseph também é adorado em Toronto, um queridinho local. Powell deixou claro seu potencial nas últimas semanas do campeonato. Ainda assim… Por mais salgada que fosse a pedida, se o Raptors pretendia melhorar nessa temporada, talvez valesse a aposta. Ibaka seria um parceiro perfeito para Jonas Valanciunas e ainda supriria a inevitável ausência de Biyombo como protetor de aro.

Outra opção badalada que o clube vislumbrou foi Pau Gasol. Aparentemente, se não fosse a aposentadoria de Tim Duncan em San Antonio, o pivô espanhol estava muito disposto a fechar com Toronto. Taj Gibson também foi cortejado, mas as reviravoltas de mercado em Chicago impediram o negócio. Aí restou ao nigeriano a contratação de Jared Sullinger, por US$ 6 milhões.

Considerando os alvos primários, o ala-pivô não empolga muito. Não é ele que vai aproximar o Raptors do Cavs. Mas foi uma alternativa razoável e barata, para assumir os minutos de Luis Scola. Uma evolução. Sullinger é um reboteiro muito mais eficaz, também sabe passar a bola, embora seja um arremessador no mínimo irregular. Como ele vai se encaixar na equipe depende basicamente de seu condicionamento físico. Em Boston, teve constantes embates com a balança.

Já os calouros Poetl e Siakam entram no programa de desenvolvimento da franquia, que agora está lotado. Para um time que briga para se manter no topo da conferência, são diversos os jovens jogadores que não devem receber muita atenção de Dwane Casey na próxima temporada. Talvez o austríaco possa brigar por posição com Lucas Bebê, valendo a vaga de reserva imediato de Valanciunas.

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Raptors está eliminado, mas tem muitas decisões pela frente
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Giancarlo Giampietro

Raptors tem time competitivo para já e peças para o futuro. Como isso vai afetar os minutos de Caboclo?

Raptors tem time competitivo para já e peças para o futuro. Como isso vai afetar os minutos de Caboclo?

Enquanto o Cleveland Cavaliers espera, sossegado, a definição do Oeste e de seu adversário em mais uma decisão da NBA, o Toronto Raptors já se concentra em ooooutros tipos de decisões. Enquanto Kyle Lowry e DeMar DeRozan preparam as malas para curtir as férias e digerir a eliminação, a diretoria chefiada por Masai Ujiri começa o período mais agitado de suas profissões.

Ujiri e seus assistentes precisam decidir o futuro do técnico Dwane Casey, se aprofundar no estudo dos prospectos do Draft, que vai rolar daqui a menos de um mês, e, depois, ainda mapear todo o mercado de agentes livres, no qual seu cestinha, inclusive, será um dos atletas mais cobiçados. Você acha que é fácil a vida de cartolada? Por mais que eles tenham de pensar primordialmente a longo prazo, para o clube canadense, na condição de vice-campeão do Leste, esse tipo de questão fica muito mais interessante. Dependendo dos movimentos que coordenarem, que pode afetar diretamente o futuro de Bruno Caboclo e Lucas Bebê, podem oferecer resistência de verdade aos LeBrons na próxima temporada já.

Demorou, mas este núcleo do Toronto fez enfim uma boa campanha nos playoffs, até esbarrar em um adversário bastante inspirado. Ao confronto derradeiro, até conseguiu dar uma graça ao vencer os Jogos 3 e 4. Pela temporada regular, teve uma grande chance de desbancar este mesmo Cavs do topo da conferência, ficando a apenas uma vitória do mando de quadra. Imaginem o quanto isso poderia ter sido relevante. Mas não aconteceu. Fora de casa, perdeu todas, mas perdeu de monte, por 31, 19, 38 e 26 pontos, com média de 28,4 por jogo. As que venceu, como anfitrião, foram por 21 pontos, saldo de 10,5. No geral, o que dá para ver é que a equipe foi presa fácil para o Cleveland.

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Está claro que, para esta formação do Raptors, a distância para competir com um Cavs no auge é muito maior ainda do que o avanço que fez em relação a Miamis, Charlottes e Indianas. Mesmo que DeMarre Carroll, um jogador valioso por ser efetivo dos dois lados da quadra, estivesse em uma forma deplorável, com dores no cotovelo, pulso, quadril, tornozelo e, claro, no joelho operado. Esse deu despesa ao departamento médico e de preparação física. Se tivesse inteirão, poderia tentar incomodar mais LeBron James na marcação individual, e talvez os marcadores do Raptors pudessem ter prestado mais atenção nos companheiros do Rei, sem que tivessem liberdade para chutar tanto nas primeiras duas partidas. Ainda assim, suponho que não seria o suficiente para compensar um déficit de 28,4 pontos.

DeRozan vai ficar? Que tipo de companhia Lowry vai ter no ano que vem?

DeRozan vai ficar? Que tipo de companhia Lowry vai ter no ano que vem?

É nessas horas que me vêm à cabeça o dia 18 de fevereiro, que era o prazo para os clubes da NBA fecharem trocas nesta temporada. Na ocasião, Ujiri preferiu não fazer nada. A única alteração feita: dispensou Anthony Bennett (que simplesmente não consegue paz) para contratar Jason Thompson, o homem que o Warriors cortou para abrir espaço para Anderson Varejão. Se o brasileiro não vem produzindo muito pelos atuais campeões, Thompson também não fez quase nada pela equipe canadense. Ficou apenas 55 minutos em quadra. Segundo o que se comenta nos bastidores, o Raptors não teria recebido nenhuma oferta que tenha agradado. Por outro lado, é de se questionar se o gerente geral não poderia ter sido mais agressivo e buscado .

Em termos de reputação, o gerente geral nigeriano se tornou uma das figuras mais respeitadas — e temidas — da liga. Como principal gestor, está em seu segundo trabalho, e até agora praticamente tudo o que ele tentou deu certo. Muito certo. Em três anos em Denver, viu seu time somar 145 vitórias e 85 derrotas (63,0%). Em Toronto, também em três anos, são 153 vitórias e 93 derrotas (62,1%).

Basta checar sua lista de negocicações, para entender como se chega a um aproveitamento desses. As principais, claro, foram as trocas com o Knicks de Carmelo Anthony, na qual se viu forçado a se livrar do astro e descolou um pacote muito bom com Gallo, Chandler, Felton, Mozgov, Koufos e mais uma escolha de primeira rodada de Draft, e a de Andrea Bargnani, por uma escolha de primeira rodada, duas de segunda e alguns contratos para fechar as contas. Também levou Andre Iguodala para Denver em troca por Arron Afflalo, Al Harringston e uma escolha de primeira e outra de segunda. Se for para criticar algum negócio, foi a transação que mandou Nenê para Washington e resultou na avoada chegada de JaVale McGee ao Colorado.

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Talvez essa fama de quem rapela nas trocas possa atrapalhar agora — com os concorrentes receosos. Nem sempre dá para botar James Dolan, o proprietário do Knicks, no telefone. O que sabemos é que o Raptors está cheio de atletas jovens no elenco e ainda vai ter mais quatro escolhas de primeira rodada nos próximos dois Drafts. Neste ano, terá a sua e aquela coletada por Bargnani em uma transação inacreditável. Em 2017, a extra será a do Milwaukee Bucks, no rolo de Greivis Vasquez por Norman Powell (outra muito lucrativa). Para um clube que hoje mira o topo do Leste e pode até sonhar com o título, fica a dúvida do que fazer com tantos ativos assim e também algumas promessas que não conseguem sair do banco, entre eles os brasileiros. Isto é: moeda de troca não faltava.

A média de idade do elenco do Warriors é de 27,5 anos, segundo o Real GM. Já a de OKC é de 27,0. O Cavs é mais velho, com 29,5. O Raptors tem hoje 26,0, mas pode ficar muito mais jovem se for para inserir mais dois calouros no grupo neste Draft, se eles ocuparem vagas de alguns veteranos, para não falar da turma de 2017.  O Raptors terá a nona escolha no dia 18 de junho, com a possibilidade de se contratar, nesta faixa, segundo as projeções dos sites especializados, um pivô de futuro.

Considerando sua lista de agentes livres, é o que faria mais sentido, mesmo, desde que não feche nenhuma negociação antes. Em julho, Bismack Biyombo, ultravalorizado, vai exercer uma cláusula contratual e entrar no mercado. Os contratos de Luis Scola, James Johnson e Thompson vão acabar. Quer dizer: vão abrir quatro vagas no elenco na linha de frente, sendo que duas e meia, digamos, de rotação. Biyombo e Scola jogaram muito. Johnson, em sua relação de amor e ódio com Casey, só foi efetivado na rotação devido à lesão de DeMarre Carroll.

Ainda fica pendente a situação de DeRozan, que vai constar na lista de muitos clubes e vai custar muito. Mais de US$ 20 milhões por ano na NBA de boom nos investimentos, graças ao revigorado acordo bilionário de TV. Podem ter certeza disso, independentemente do quanto o ala-armador sofreu durante os playoffs. O ala afirmou no sábado, em sua entrevista de encerramento de temporada, que não se vê com outra camisa na próxima temporada. Nem com a do Lakers, seu time do coração, da sua cidade. Já Ujiri afirmou que sua prioridade absoluta é renovar o contrato do cestinha, e acho que não há muito o que discutir, mesmo. A não ser que Kevin Durant indique que sonhe em jogar em Toronto, o cartola assumiria um risco enorme em negociar com outros atletas do porte de Al Horford e Nicolas Batum, ouvir “não” (como o histórico da franquia indica) e ainda perder um de seus All-Stars.

Renovar com DeRozan e Biyombo seria difícil. A não ser que o mercado não se mostre tão entusiasmado assim com o pivô congolês. A expectativa de scouts e cartolas é de que ele possa assinar um contrato na faixa de US$ 12 a 15 milhões anuais, se não mais. Qualquer oferta nessa linha inviabilizaria sua permanência em Toronto, que vai ter menos de US$ 30 milhões para gastar. Ujiri teria menos de US$ 10 milhões para buscar reforços.

E aí? O que fazer? Investir pensando longe ou ‘sacrificar’ algumas dessas peças em busca de veteranos que possam fazer a diferença agora? Por melhor que possa ser seu programa de desenvolvimento de jovens atletas, qual seria o ponto de sobrecarga?

Sem Biyombo, seria a vez de Bebê?

Sem Biyombo, seria a vez de Bebê?

Procuraria um substituto para Biyombo ou confiaria no progresso de Lucas Bebê como reserva de Jonas Valanciunas? Com rodagem na Espanha e a mesma idade do lituano, já era supostamente a hora de o carioca assumir um posto no time. (Claro que isso depende do quão satisfeitos os técnicos estão com seu desenvolvimento e amadurecimento.) Peguem também o caso do armador Delon Wright. Com Kyle Lowry e Cory Joseph sob contrato, quando ele terá chances de verdade? Lembremos que ele completou sua campanha de calouro, mas já tem os mesmos 23 anos de Lucas.

Bruno Caboclo ainda não estava pronto para participar de um jogo de playoff ao final de sua segunda temporada como profissional, e pode ser que leve um pouco mais de tempo. Ainda vai pedir muita atenção dos treinadores do clube. Ele tem mais um período de férias para avançar em sua trilha, mas, depois do que Norman Powell fez nos mata-matas, o calouro, que é dois anos mais velho que o brasileiro, está à frente na fila de entrada no time. Já não sobram muitos minutos na rotação, que tem DeRozan (eventualmente), Carroll e Terrence Ross, além da dupla armação com Lowry e Joseph, algo que funcionou bem demais neste campeonato.

(Um parêntese extenso sobre Bruno, então. Em suas últimas semanas pela D-League, o caçula brasileiro deu sinais de progresso. Foram 37 jogos, uma experiência muito valiosa. Ele terminou com média de quase 14,7 pontos em 36 minutos, mas foi progredindo mês a mês. Quando o Raptors B entrou em seu melhor momento, numa sequência de 18 vitórias e 9 derrotas, ele teve 15,7 pontos e 43,9% nos arremessos. Em março, no encerramento da temporada, subiu para 18,4 pontos e 44,7%, estabelecendo seu recorde pessoal em três noites diferentes. O ano não começou bem para o ala, e os indícios de imaturidade ainda preocupavam. A oportunidade de jogar com regularidade pela liga menor fez bem, porém. O técnico Jesse Mermuys observa como seu comportamento melhorou no decorrer do campeonato quando era substituído e criticado por sua seleção de arremessos. Em vez de fechar o bico e se alienar no banco, seguia envolvido com o jogo e com seus companheiros.

“A parte mental do jogo é extremamente importante na NBA porque essa liga é muito, muito dura, com seus altos e baixos. Se você tiver força para lidar com isso, é realmente importante. Essa maturidade fora de quadra foi quase mais importante do que no jogo. Ele ainda está correndo atrás do jogo, mas os avanços que ele fez foram consideráveis e muito maiores do que seriam se não tivéssemos dado essa oportunidade (de criar uma filial)”, afirmou. “No período em que vivemos, este é o único modo de vencer e desenvolver atletas ao mesmo tempo. Se você não tem seu próprio time de D-League, é como se tivesse de fazer uma escolha entre um e outro. Mas temos essa sorte de fazer ambos e desenvolver importantes ativos para o futuro de nosso clube.”)

O Toronto Raptors está numa situação um tanto parecida com a do Boston Celtics, nesse sentido, de fazer as contas entre investir sem perder o futuro de vista, mas também pressionado a progredir de imediato, curtindo um bom momento com a torcida e de confiança no elenco. A diferença é que o Raptors venceu nove partidas a mais na temporada e foi muito mais longe nos mata-matas — e não tem oito escolhas no próximo Draft. Mas a concorrência do Leste vai prestar muita atenção no que Ujiri vai fazer nos próximos meses. Até mesmo a diretoria do Cavs, dividindo sua atenção com o que acontece pela final da NBA, claro.

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Com astros de volta e boa defesa, Raptors dá graça ao Leste
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Giancarlo Giampietro

Lowry fez grande jogo para ajudar Biyombo

Lowry fez grande jogo para ajudar Biyombo

Havia duas premissas ainda pendentes pelos #NBAPlayoffs do Leste:

– Uma hora a bola de três pontos do Cleveland Cavaliers iria parar de cair. Pelo menos com aquela frequência que castigou o Atlanta Hawks, com a segunda melhor defesa da liga, pelas semifinais.

– Uma hora Kyle Lowry e DeMar DeRozan iriam reencontrar o rumo pelo Raptors, de preferência juntos. Nem que fosse na próxima temporada (risos).

Calhou que, para dar graça à final de conferência, ambas se realizaram nos últimos dias em Toronto, com o time canadense empatando a série em 2 a 2 ao bater o Cavs por 105 a 99, nesta segunda-feira, num jogão. A primeira era realmente inevitável. A segunda? Sinceramente, um enorme mistério para mim, de tentar entender como a dupla de All-Stars pudesse cair tanto assim.

*   *   *

O Cavs converteu 50,7% de suas 152 tentativas de longa distância, em quatro partidas, pela varrida. Dá para dizer até que seria impossível sustentar um rendimento desses por uma longa sequência. Contra o Toronto, nestes mesmos quatro jogos, a mira já caiu para 33,3% em 123 chutes. Isso tem um pouco a ver com sorte, como naqueles em que a bola gira, gira e espirra. Mas não acontece só ao acaso.

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Numa liga com o nível da NBA, há grandes arremessadores, claro. Se eles ficarem sozinhos em quadra, o aro nem será incomodado. É justamente esse o problema: há grandes arremessadores, mas também existem excelentes defensores do outro lado, que, durante os playoffs, são abastecidos de relatórios de scouting ultradetalhados.

Os jogadores da casa estavam bem informados para este Jogo 4. Não é só uma questão de empenho, embora sem movimento, não há como parar nenhum adversário da liga. Que os jogadores correram muito, não há dúvida, em movimentos muito bem sincronizados. Mas também souberam contra quem é quando correr. Que LeBron James e Kevin Love tenham tido mais liberdade, relativamente, em relação a Kyrie Irving e JR Smith, é plano. Dos males, o menor. Os dois melhores chutadores do time titular de Cleveland foram obrigados a por a bola no chão em diversas ocasiões devido à atenta aproximação e contumaz contestação dos defensores pelo perímetro.

Cercando LeBron nos arredores do garrafão, com Biyombo vindo na dobra. Só cuidado com o pick-and-roll

Cercando LeBron nos arredores do garrafão, com Biyombo vindo na dobra. Só cuidado com o pick-and-roll

Isso só foi possível também pelo fato de Dwane Casey, que em 2011 havia lidado com LeBron como coordenador defensivo do Mavericks, ter maneirado nas dobras ostensivas para cima do craque. Parece arriscado, depois de o veterano, mesmo cinco anos mais velho, ter feito estragos nas duas primeiras partidas. O ataque do Cavs, porém, fica muito mais perigoso quando o bombardeio de três funciona. O elenco vai te punir se você fizer a dobra com frequência, devido à artilharia ao seu redor. Não tem jeito.

Você obviamente não vai deixá-lo operar no mano a mano sempre, especialmente quando recebe a bola de costas para a cesta, na entrada do garrafão. Aí tem de vir a ajuda, mesmo, de preferência quando LBJ já tenha iniciado o movimento, para tentar no mínimo anuviar sua visão de quadra.

No geral, porém, o melhor é designar um marcador para o camisa 23 (DeMarre Carroll, mesmo baleado, e o indisciplinado James Johnson), e manter os demais atletas posicionados entre seu caminho para a cesta, sendo Bismack Biyombo a referência aqui, e a linha de passe para os chutadores. É um modo de montar uma espécie de parede em torno da zona pintada, sem perder de vista a linha perimetral. Não precisa ser tão apertado assim :

Com esse bloqueio bem armado e coordenado em suas coberturas, o time canadense levou 16 pontos de LeBron, mas só deixou que uma só cesta de quadra ocorresse após passe direto do astro. O Cavs, como um todo, só matou 3 em 22 chutes de fora. Nos dois jogos em casa, o Raptors levou apenas 91,5 pontos e permitiu ao Cavs apenas 41,4% nos arremessos e 32,9% de fora.

*   *   *

Do outro lado, talvez o segredo tenha sido que o aro estava bem mais largo que o normal. Só assim para entender. Lowry e DeRozan se tornaram os primeiros companheiros de equipe a passar da marca de 30 pontos e 60% de aproveitamento pelas finais de conferência desde Charles Barkley e Dan Majerle pelo Suns em 1993.

Técnica ou taticamente, podemos falar de alguns ajustes. Patrick Patterson e Luis Scola capricharam nos corta-luzes para liberar seus cestinhas. Lowry, no primeiro tempo, foi acionado mais vezes fora da bola, deixando a criação com DeRozan. O ala-armador, por sua vez, fez de tudo para poder partir à cesta contra JR Smith, em vez de LeBron. Mas, obviamente, isso não explica tanto.

Assim como Lowry fez durante a série contra o Miami, DeRozan resolveu dar uma esticada em suas atividades em quadra, arremessando até tardão, para ver se recuperava seu ritmo. O horário era tão estranho que chegou a ser barrado por uma segurança do ginásio. Foi isso que virou o jogo? Como fato isolado, claro que não. Aí tem aquela coisa de confiança, momento, uma zona cinzenta em meio à qual nem mesmo os atletas conseguem se expressar com precisão. Só sabemos que, por uma noite, tudo voltou a funcionar como antes, como na temporada regular.

“Tem uma coisa sobre nós: convivemos com o que tem de mau e bom em qualquer dia. Isso é a vida. Não dá para ficar muito cabisbaixo quando as coisas não estão funcionando, mas você entende que o treino que faz durante as férias, durante toda a temporada,  é para momentos como este. Você tem de estar pronto”, filosofou DeRozan, sobre quem Toronto tem o seguinte dado: nos seis jogos em que o ala fez 25 pontos por estes playoffs, a equipe está invicta. “Sempre disse a este cara (Lowry) que, enquanto tivéssemos uma oportunidade de seguir jogando, temos uma oportunidade de nos redimir. E acho que chegou a hora. Tudo acontece por um motivo.”

Foram 35 pontos para Lowry e 32 para DeRozan. Ambos fizeram 14 cestas de quadra e, juntos, erraram apenas 15 chutes em 43 tentativas. É só ver o quadro abaixo e ver também que eles não alteraram tanto assim sua seleção de arremessos:

Mesmo nos minutos funcionais, não teve pane, histeria, nem nada.  Os dois cestinhas conseguiram controlar a situação, em ataques individualistas, da mesma forma como fizeram em todo o campeonato.

Quem precisa, de todo modo, tomar um pouco de cuidado com a sanha no ataque é DeMarre Carroll. O ala forçou a barra na vitória desta segunda-feira, terminando com mais arremessos (12) do que pontos (11, quantia que poderia até ser menor se não tivesse sido brindado com uma falta de JR Smith quando tentava um de seus sete chutes de longa distância). Não que o ala esteja proibido de olhar para a cesta. Não pode ser mais um Andre Roberson. Mas houve um momento no terceiro período em que ele decidiu que era o caso de ralar com Kyrie Irving por quatro posses de bola seguidas, e essa não foi uma boa ideia. Foi num momento em que o time da casa perdeu a concentração, se desarranjou em quadra e quase pôs tudo a perder.

*    *    *

De tão habilidoso, Irving dá um jeito de driblar e converter seus disparos mesmo pressionado e desequilibrado. Se for de dois pontos, porém, o Raptos tem de conviver com isso, e aconteceu diversas vezes com Cory Joseph, por exemplo.

Nesse terceiro quarto, causou estragos por toda a quadra, ajudando a reduzir a larga vantagem de 18 pontos do Raptors pela metade. Depois, a segunda unidade com Channing Frye, Richard Jefferson e Matthew Dellavedova terminou o serviço.

Frye, por sinal, é o chutador que manteve o embalo desde o duelo com Atlanta. O veterano pivô está acertando 57,5% de seus disparos. Nos dois jogos em Toronto, ele matou 7 em 12 chutes de três, dando toda a razão à decisão de David Griffin de contratá-lo para o lugar de Anderson Varejão.

Sua presença em quadra foi fundamental para o Cavs até mesmo assumir a liderança do placar pelo quarto final, no qual os visitantes acertaram seus primeiros 11 arremessos, de modo incrível. O primeiro erro aconteceu só a 4min12s do fim. Sete desses arremessos foram de Frye, na zona morta, e Jefferson, se aproveitando dos espaços abertos, resultando em 17 pontos dos 27 pontos da equipe.

A presença de um pivô com esse tipo se habilidade pode bagunçar toda uma defesa. Mas Casey também falhou em fazer algum ajuste aqui. Mesmo depois de pedidos de tempo e de mais de sete minutos levando cesta após cesta, manteve Bismack Biyombo como o marcador de Frye, o que significava que estava muito longe da cesta, deixando a defesa interior do Raptos órfã, desguarnecida. Era o caso de colocar o congolês em LeBron na meia quadra ou em Jefferson, para ficar mais próximo do garrafão. Steve Kerr já fez muito disso com Andrew Bogut.

Nesta sequência quase demolidora para as pretensões de Toronto, o ataque do Cavs se alternou em duas jogadas simples que não encontravam simplesmente nenhuma resistência, devido ao afastamento do pivô africano no perímetro.

O pior, quando Biyombo foi enfim deslocado, era ver os defensores de Toronto ainda dando liberdade ao pivô nos minutos finais, ignorando não só a mão quente como sua altura. Para contestar um cara de 2,11m de altura, não dá para sair atrasado. De modo que foi irônico que o primeiro chute errado do Cavs tenha saído justamente de suas mãos.

Casey precisa mudar sua abordagem nesse tipo de situação para o decorrer da série. Mesmo que seu time tenha sobrevivido e levado apenas três pontos nos últimos 4min12s de jogo (1-10 nos arremessos). Uma questão nesse sentido envolve Biyombo: neste momento, o congolês está empolgado pacas, tendo coletado 40 rebotes e dado sete tocos nas últimas duas partidas . Mas é de se pensar quanto ele tem de gás sobrando para encarar a resposta dos oponentes em termos físicos. Fato é que o Toronto, se quiser avançar, vai precisar vencer ao menos um jogo em Cleveland – na temporada, clube canadense leva melhor no confronto direto por 4 a 3, mas ainda não triunfou na condição de visitante.

Da parte do Cavs, depois de belas apresentações e 10 vitórias seguidas, agora é a hora de administrar dois reveses consecutivos. Poderia ser muito pior, convenhamos, se o Raptors tivesse completado sua lavada. Se existe algo que esse elenco nos ensinou nos últimos dois anos, é que não têm as melhores cabeças para enfrentar adversidades. Dessa vez souberam lidar com os problemas de imediato, reagindo já em quadra. De zum-zum–zum, só rola algo em torno de Kevin Love, mesmo, pelo fato de o ala-pivô ter ficado no banco durante todos os 12 minutos do quarto período. Estava com o pé direito colorido ao pisar sobre o de um árbitro (!), mas o técnico Tyronn Lue disse que não foi esse o motivo pelo chá de cadeira. Love errou alguns arremessos completamente livre no primeiro tempo, mas seguiu agressivo na segunda metade, ainda que pouco efetivo (10 pontos em 14 arremessos e 31 minutos).

Não vale individualizar nada aqui, todavia. Os problemas no retorno a Cleveland passam mais por um acerto coletivo. O Cavs arremessou 41 bolas de longa distância neste Jogo 4, mesmo contra uma defesa mais ligada. Se vão insistir no bombardeio, precisarão encontrar outros ângulos e possibilidades. Sorte não é tudo nessa vida. Ou, sei lá, de repente Lowry e DeRozan voltam a amassar o aro. Aí fica tudo mais fácil, claro, para LeBron jogar sua sexta final seguida pelo Leste.

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Biyombo faz a limpa no garrafão para encerrar série invicta do Cavs
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Giancarlo Giampietro

Biyombo sobe para contestar e coletar tudo perto do aro

Biyombo sobe para contestar e coletar tudo perto do aro

Sabe quanto Bismack Biyombo está recebendo pelos serviços prestados ao Toronto Raptors nesta temporada? Coisa de US$ 2,8 milhões. Uma boa grana para quem não tem média nem de 6,0 pontos por jogo, certo?  Mas uma pechincha para quem pode pegar 26 rebotes numa partida de playoffs e ainda dar quatro tocos para levar o Toronto Raptors a uma vitória por 99 a 84, encerrando a série invicta do Cleveland Cavaliers pelos playoffs da NBA.

Contra adversários do Leste, os LeBrons não perdiam há 17 partidas. Dessa vez o astro supremo da conferência e seus comparsas esbarraram na muralha Biyombo e numa defesa surpreendentemente consistente em geral do único time canadense da liga. O pivô congolês está se sentindo tão bem como patrulheiro de garrafão que decidiu adotar aquele célebre (ou infame?)  gesto de Dikembe Mutombo Mpolondo Mukamba Jean-Jacques Wamutombo ao bloquear um arremesso, balançando o dedo indicador enorme de um lado para o outro: “Não vem, que não tem, mermão”.

(Para constar, Mutombo autorizou o compatriota a fazer essa galhofa toda. Para quem andava sumido, este parece ser o ano de revival para o aposentado pivô, que já havia dado às caras em jogos do Atlanta pelos playoffs e ainda ‘adivinhou’ que o Sixers ganharia a primeira escolha do Draft na semana passada.)

Neste sábado, os atacantes do Cavs só decidiram encarar a marcação direta de Biyombo em oito ocasiões. Em 39 minutos de ação, muito pouco. Isso se chama intimidação. Destas oito tentativas, só conseguiram a cesta duas vezes. Todos os arremessos foram contestados.

Não à toa, os visitantes só anotaram 20 pontos no garrafão. Segundo um dado impressionante da ESPN, essa foi a menor quantia para Cleveland desde que LeBron retornou na temporada passada. Nos primeiros dois jogos, o craque havia feito praticamente o que bem quisesse, e seu time teve avassaladora média de 53 pontos na zona pintada. Em 19 tentativas de infiltração, o Cavs conseguiu apenas uma (!) cesta, contra 17-29 pelos Jogos 1 e 2.

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Você fecha o garrafão, não deixa LBJ criar tanto assim (cinco assistências em 38 minutos) e, assim, impede que chova bolas de três na sua cabeça. O Cleveland errou 27 se 41 arremessos de fora (34,1%). Pela primeira vez nestes mata-matas, saiu de quadra com menos de 100 pontos e 40% de aproveitamento nos chutes – e foi bem abaixo disso, na real, com 35,4%.

Primeiro o africano contestou, inibiu. Depois, tratou de fazer a coleta do que sobrou. No caso, seus 26 rebotes, igualando Dwight Howard e Hakeem Olajuwon pela maior marca dos playoffs nas últimas 30 temporadas. Foram 18 defensivos. Sozinho, Biyombo pegou apenas dois a menos que todos os seus companheiros juntos ou três a menos que o time titular do Cavs, que conta com dois excepcionais reboteiros como Tristan Thompson e Kevin Love (médias de 11,5 e 8,5 pela carreira). Foi um esforço fundamental para o Raptors se recuperar na tábua, depois de perder as duas partidas anteriores por uma média de 15 rebotes.

O congolês foi tão dominante que o veterano Dahntay Jones, 15º homem da rotação do Cavs, tentou desestabilizá-lo no quarto período com um gesto no mínimo estranho. Para sorte de Dwane Casey, seu pivô manteve a calma.  O técnico reclamou: “Não estão dando faltas nele. Ele tem sido atingido. Teve uma jogada em quase tivemos uma briga, e foi numa jogada de matar. Não sei se isso está acontecendo pelo modo tão físico duro como ele joga, mas ele está apanhando. Mérito para ele, pois achei que ia perder a cabeça quando recebeu a falta técnica, mas seguiu jogando. Para tentar empatar a série, provavelmente ainda sem Jonas Valanciunas, Casey não poderia perder o congolês de modo nenhum, mesmo que ele ainda não incomode muito no ataque (o que levou o Charlotte e Michael Jordan a desistirem dele muito cedo).

Não tem muito como dar voltas aqui: desde a época pré-Draft, há boas suspeitas entre os scouts sobre a real idade de Biyombo, de 23 anos. Haveria tempo para ele progredir como arma ofensiva, em tese. Mas não parece que ele tenha instintos e habilidades para avançar tanto assim, e isso já nem importa mais. Sua força defensiva já é o suficiente para lhe sustentar em times ambiciosos da liga, como provou durante toda a temporada, como uma das grandes pechinchas da liga. Para pontuar, depois de a dupla Kyle Lowry e DeMar DeRozan somarem 52 pontos, com 51% de aproveitamento de quadra, a equipe canadense só espera que seus All-Stars produzam com um mínimo de qualidade e consistência nas próximas partidas – algo que, de modo até perplexo, não vem acontecendo.

Dessa vez, contra o Cavs, Biyombo contou com uma força de DeMarre Carroll e da turma do perímetro nesta empreitada. Um pivô atlético, determinado, confiante pode fazer a diferença no centro do garrafão, mas não vai cuidar de tudo sozinho. Não foi ele quem limitou Kyrie Irving e Kevin Love a 4-28 (14,3%) se quadra. Foi um esforço de sua equipe, do qual foi parte essencial.

Biyombo sai de pivô menosprezado em Charlotte para peça importante em final de conferência

Biyombo sai de pivô menosprezado em Charlotte para peça importante em final de conferência

Com salário de US$ 15 milhões – cinco vezes mais, aliás, que o congolês –,  o ala foi contratado justamente para isso: atrapalhar os LeBrons, Carmelos e Georges do Leste. Acontece que não se recuperou devidamente de uma lesão no joelho sofrida nos playoffs do ano passado. Há momentos em que parece se arrastar em quadra, sem a agilidade que o levou ao sucesso em Atlanta. Contra Carroll, James acertou apenas duas de sete tentativas. Contra os demais defensores, teve aproveitamento de 70% (7-10). De acordo com a ESPN, em Cleveland, LBJ não havia tomado conhecimento de Carroll, convertendo 9-10 contra ele.

Ainda pensando em custo x benefício, Amir Johnson, o jogador substituído por Biyombo na rotação de Casey, saiu de Toronto para embolsar US$ 12 milhões em Boston, mais de 400% a mais que o africano. Spencer Hawes, que chegou ao Charlotte em troca por Lance Stephenson, ganha quase o dobro. Já escrevi aqui, mas o gerente geral Masai Ujiri acertou tanto na contratação de Biyombo, que talvez seja difícil mantê-lo no elenco para a próxima temporada. O Raptors vai atrás de reforços, assim como qualquer outro clube que precise de ajuda na defesa. Independentemente do desfecho da série contra o Cavs, o pivô está muito valorizado.

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Cavs destroça a Conferência Leste, e não há do que duvidar aqui
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Giancarlo Giampietro

Tem sido um atropelo

Tem sido um atropelo

À medida que Stephen Curry vai acertando os parafusos em confronto com o Oklahoma City Thunder, a grande pergunta que fica no ar para os #NBAPlayoffs é sobre o Cleveland Cavaliers e sua assustadora dominância. O quanto isso tem mais a ver com o alto nível de rendimento que os LeBrons têm apresentado ou com a fragilidade de seus adversários? Parece ser o tópico mais intrigante por aí. Depois de o time espancar o Toronto Raptors pelo segundo jogo seguido, por 108 a 89, nesta quinta-feira, talvez já não seja mais relevante questionar isso.

A equipe se tornou apenas a quarta na história a somar dez vitórias em seus dez primeiros jogos. Se for pensar apenas em duelos com times da conferência, já são 17 triunfos seguidos desde o ano passado, que é a maior sequência da história dos mata-matas. Abrir um placar de 2 a 0 pelas finais de conferência não é algo tão raro assim de acontecer: 11 já haviam feito. Todos os 11 saíram vencedores rumo à decisão da liga. Quando reúne LeBron James a Kevin Love e Kyrie Irving, o Cavs também está invicto, com 14 vitórias.

Esse sucesso todo, acho que está claro, passa pelo sistema ofensivo, que é o mais eficiente destes playoffs, e de longe. Na média, são 116,9 pontos por 100 posses de bola, contra 112,7 do Golden State Warriors, o segundo colocado. A defesa não é tão de elite assim. Entre os 16 times classificados para a segunda fase, estão apenas em nono. Mas quer saber? Não está fazendo a menor diferença. Seu ataque tem trucidado a oposição.

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Em dez partidas até aqui, apenas três jogos foram decididos por menos de 10 pontos de diferença, dois deles contra o Detroit Pistons pela primeira rodada (106 a 101 pelo Jogo 1, bem parelho do início ao fim, e 100 a 98 pelo Jogo 4, quando o time da Motown lutava contra a varrida) e um contra o Altanta Hawks (100 a 99 pelo Jogo 4, também com os anfitriões lutando em vão para evitar o 4-0). Isto é: dois desses duelos mais equilibrados aconteceram quando já estava tarde demais nas respectivas séries.

Tem muita gente dizendo que isso se deve à fragilidade da conferência. Não acho que seja mais o caso de bater nessa tecla — e, se for para irritar o torcedor do Cavs, é só ficar falando sobre isso sem parar. O aproveitamento de seus concorrentes dos playoffs do Leste nesta temporada foi de 58,7%, com uma média de 48,1 vitórias. No ano passado, tiveram, respectivamente, e 56,4% e 46,2. Vale lembrar que dois times chegaram aos mata-matas em 2015 tiveram rendimento abaixo dos 50%, como o Boston Celtics, derrotado na primeira rodada. O oitavo colocado deste ano foi o Detroit Pistons, já com 44 vitórias. E outra: se os números lhe parecem similares, é porque houve a influência do excepcional rendimento do Hawks de 2014-15, de 60 triunfos. Tudo para ser varrido por Cleveland na final regional, com quatro de seus titulares jogando no sacrifício.

Irving está acertando 56% de seus arremessos em situação de pick-and-roll. A média da NBA é de 40%

Irving está acertando 56% de seus arremessos em situação de pick-and-roll. A média da NBA é de 40%, segundo o Synergy

Essa é a ironia: pela segunda temporada seguida, os LeBrons pegam um adversário completamente desestabilizado na hora de disputar o troféu do Leste. Se é para falar de fraqueza do adversário, ao contrário daquele Hawks, as mazelas do Toronto Raptors são no momento técnicas e/ou psicológicas — por mais que Jonas Valanciunas faça falta, não dá para imaginar que só o lituano faria tanta diferença assim para compensar um saldo negativo de 50 pontos em duas partidas. Após uma belíssima campanha, a equipe canadense  se esfarelou em questão de semanas. Kyle Lowry e DeMar DeRozan já erraram, juntos, 374 arremessos em 16 partidas (23,3 por jogo). Estão acertando apenas 36,3% no total. Isso não é número para uma dupla de All-Stars.

Mas o Cavs não tem nada com isso. E, mesmo que Lowry e DeRozan estivessem jogando o máximo, o Raptors não seria páreo para o que o seu adversário vem apresentando. Um tipo de basquete que não tomou conhecimento nem mesmo da segunda melhor defesa da liga, a do Atlanta, pelas semifinais. Nem mesmo os hiperativos marcadores de Mike Budenholzer puderam impedir que o Cleveland chegasse aos 100 pontos em todas as suas partidas, incluindo contagens de 123 e 121 pelos Jogos 2 e 3 da série. Que isso fique claro: o Atlanta era um oponente em ascensão, que prometia dar trabalho graças a seu empenho na contenção, mas não teve chance nenhuma.

Não há quem tenha feito mais splash do que o Cavs. Em termos de aproveitamento efetivo dos arremessos de quadra (eFG%, que dá mais valor aos tiros de três), eles têm 56,2%, acima dos 54,8% do Golden State. O Spurs se despediu com 51,9%. O Thunder tem 51,1%. O Raptors, só 45,4%. Cheio de confiança, o Cavs vem arriscando 33,1 chutes de fora nos playoffs, acertando 44,7%, contra 40,8% do Warriors, para comparar.  É o segundo time que gera mais assistências por posse de bola, aí atrás dos atuais campeões, e o quarto em percentual de assistências para cestas de quadra.

Dando uma boa olhada nos números dos playoffs — com a devida ressalva de que eles são um pouco desequilibrados, pelo simples fato de que os times não têm se enfrentado entre si, mas só contra alguns adversários específicos –, houve algo que me surpreendeu, em relação ao que vemos em quadra. Sabe aquele papo de que Tyronn Lue queria ver seu time acelerando geral? Esqueça. Nos playoffs, eles só têm o quinto ritmo mais lento dos mata-matas, só correndo mais que Raptors, Pacers, Grizzlies e Pistons. Ainda assim, estão destroçando os oponentes, com este aproveitamento altíssimo.

A excelência coletiva ao mesmo tempo passa por e gera a excelência individual. E aí tudo começa com LeBron James, né? Embalado, com 23 pontos, 11 rebotes e 11 assistências nesta terça-feira, o ala passou Magic Johnson no ranking histórico de triple-doubles pelos playoffs, ocupando a liderança agora, e também deixou Shaquille O’Neal para trás na lista de cestinhas, assumindo o quarto lugar. Seu desempenho contra o Raptors é digno de um MVP e de quem não quer se distanciar da chata conversa sobre quem-é-o-melhor-do-mundo:

É, são 69,2% na conversão dos arremessos de quadra, algo devastador. O mais legal, porém, é entender como ele está chegando a esse aproveitamento. O departamento de estatísticas da ESPN levantou dados curiosos sobre o rendimento de LBJ e Stephen Curry após dois jogos pelas finais de conferência. Cada um converteu 18 arremessos de quadra. Ao medir a distância do ala para o aro quando fez suas cestas, você acumula até agora apenas 8,8m. Para Curry? São 105,4m. Demais o contraponto, né? Não dá para ter abordagens mais diferentes. Na área restrita, o trator do Cavs converteu 17 de 19 tentativas. Não tem Bismack Biyombo que o atrapalhe.

As coisas caminham juntas também. LeBron só consegue chegar à área restrita para castigar o aro por ter grandes chutadores ao seu lado, espaçando a quadra. E esses chutadores também se beneficiam da atenção que o craque chama, ganhando alguns instantes valiosos para receber o passe e olhar para a cesta — ou fazer a bola girar, como tem acontecido constantemente nesta fase decisiva, num avanço que chega a ser até milagroso, quando comparado ao que vimos na temporada regular. E aqui você tem de elogiar o trabalho de Tyronn Lue, conseguindo convencer seus astros a reparar o estrago, mas também não dá para não criticar a postura do elenco nos tempos de David Blatt.  

Channing Frye está com um aproveitamento efetivo de 85% nos arremessos com os pés plantados. Impressionante, e não é nem mesmo o maior do time. O inabalável (!?) JR Smith está com 87%. No geral, Frye tem convertido 78,3% na soma de chutes de dois e três, enquanto JR tem 67,9%. Para termos uma ideia do que isso significa, Curry teve 64,3% durante a temporada regular. Klay Thompson, 56,9%. Isso para não falar de Irving e Love. Então chegou a hora de marcar LeBron individualmente, o tempo integral, e ver no que dá. Não pode dobrar mais. O problema do Raptors é que, debilitado, DeMarre Carroll não dá conta disso. OKC e Warriors estariam mais bem equipados. Mas obviamente é um risco a ser corrido. Hoje, com o Cavs acertando tanto nos disparos de fora, você tem de assumi-lo. Seria a sexta final seguida para LeBron, aliás.

Das três equipes anteriores que venceram seus dez primeiros jogos pelos playoff, só uma chegou ao título — o Lakers de 2001, com Shaq e Kobe arrancando cabeças para muito perto de concluir sua campanha pelo mata-mata com 100% de aproveitamento, sofrendo apenas um revés na abertura das finais contra Allen Iverson. Sim, aquele jogo pelo qual Tyronn Lue é lembrado até hoje. O Lakers já havia vencido 11 jogos seguidos em 1989, mas ficaria com o vice-campeonato ao ser superado pelo Detroit Pistons na decisão, com lesões limitando seu poder de fogo na hora decisiva. O outro caso foi o do San Antonio Spurs, em 2012, quando o esquadrão de Gregg Popovich estava barbarizando desde as últimas semanas da temporada regular até esbarrar no Oklahoma City Thunder numa das séries mais emocionantes da década.

Quer dizer, aqueles que não foram campeões só pararam em adversários especiais.  Acho que ninguém imagina que o Cleveland vá atropelar qualquer time que saia do Oeste, por mais desgastante que possa ser o confronto entre Warriors e Thunder.  Mas parece claro que aquela equipe que está jogando o basquete mais eficiente, bonito e, caceta, avassalador é o Cavs.

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De Colangelo a Caboclo, quem levou a melhor na loteria do Draft da NBA?
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Giancarlo Giampietro

Dessa vez não teve surpresa. O Minnesota Timberwolves não pôde reunir as últimas três primeiras escolhas do Draft. Chega, né? E dessa vez o Cleveland Cavaliers nem estava por ali para roubar a cena também. Para os dois, chega, né? Tá bom, já deu. Na verdade, sabe o que aconteceu? A ordem do top 3 do Draft da NBA deste ano seguiu precisamente a das piores campanhas da temporada regular, com Philadelphia 76ers em primeiro, Los Angeles Lakers em segundo e Boston Celtics em terceiro, num ato de cortesia do Brooklyn Nets. Foi o resultado mais provável de todos, com uma chance de… 1,9%!

Para quem ficou sem conexão na Sibéria, aqui estão:

nba-draft-lottery-results-2016

Se quiser ver a ordem completa, clique aqui.

O sorteio da loteria da NBA é um dos eventos mais absurdos que você vai encontrar no mundo esportivo. São mais de 14 torcidas envolvidas — pensando em clubes que tenham trocado suas escolhas –, botando fé num sorteio que acaba recompensando, em geral, a incompetência, ou premiando quem sabe se aproveitar dos deslizes dos concorrentes. E, tá certo que, para alguns times, também poderia ser um remédio contra o azar, para indesejadas lesões e tal, como aconteceu com o New Orleans Pelicans. Ao mesmo tempo, é muito divertido. Já que são 1.001 combinações possíveis de sorteio, podendo influenciar realmente o destino de uma franquia.

O clima é tanto de final de campeonato para os clubes ali representados, que é só ver, no vídeo abaixo, o nível de nervosismo de Brett Brown, o técnico-mártir do Philadelphia 76ers, Mitch Kupchak, o quase eterno gerente geral do Lakers, e Isaiah Thomas, a formiguinha atômica do Celtics. Eles mal conseguiram sorrir, mesmo que o pior já tivesse passado para dois deles — Sixers e Lakers. Thomas depois disse que se sentiu tão nervoso quanto no dia em que foi draftado, em 2011:

Neste momento, os três tradicionalíssimos clubes já sabiam que dividiram as três primeiras escolhas do recrutamento. Mas havia um segundo filtro aqui, segundo a opinião da vasta maioria dos olheiros da liga: ficar entre os dois primeiros, para ter a chance de selecionar os alas Ben Simmons e Brandon Ingram, considerados os dois grandes prospectos do ano, alguns degraus acima dos demais candidatos, como apostas, hã, certeiras de “franchise players”.

Mas é claro que ninguém pode trabalhar com certezas absolutas neste ramo. O que se pode constatar apenas é um consenso. Cada dirigente, treinador e olheiro tem sua opinião, mas eles não deixam de ser influenciados pelas opiniões que circulam por aí. E erros de avaliação acontecem aos montes. Há casos de escolhas altíssimas que não dão em nada, por lesões (Greg Oden) ou não (Wesley Johnson, Michael Beasley, entre tantos. E há também diversos jogadores subestimados demais por esse senso comum. Basta lembrar o próprio episódio de Isaiah Thomas. O tampinha, hoje um All-Star, foi selecionado apenas na última posição há cinco anos. Se não é um talento salvador como Anthony Davis ou Karl-Anthony Towns, joga o suficiente para influenciar muito positivamente o nível de um time. E cada equipe tem suas necessidades.

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Neste ano, segundo Jonathan Givony, chapa que chefia o DraftExpress, principal referência no assunto, há uma grande massa cinzenta em torno dos candidatos deste ano. “Há muito pouco de consenso entre os times sobre quais são os melhores jogadores, especialmente quando passamos de um grupo de cerca de 15 atletas pensados para a loteria. O que é especialmente difícil é que vários jogadores são descritos prospectos legítimos por alguns times e o exato oposto por outros. Você pode perguntar para os 30 clubes da liga sobre um mesmo jogador e receber 30 opiniões diferentes, com um alcance que varia demais”, afirmou. Quer dizer: a vida dos especialistas que tentam projetar o recrutamento dos novatos não será nada fácil. Boa sorte a eles.

O que a gente sabe, hoje: dificilmente algum atleta vai desbancar Simmons e Ingram das duas primeiras escolhas. A dúvida fica para quem sairá em primeiro, e acho que não vai ter furo de Marc Stein ou Adrian Wojnarowski que solucione este impasse antes do dia 23 de junho. Se o Sixers ou o Lakers vão aceitar trocar essas escolhas? Duvido muito. A não ser que astros do porte de Blake Griffin e Carmelo Anthony entrem na conversa, não teria por que seus diretores ouvirem muitas propostas. A não ser que não sejam fãs de nenhum desses promissores alas. Improvável.

Mas vamos lá. Ainda em meio a incertezas, quem saiu sorrindo da loteria? Quem saiu frustrado?

POR CIMA

A pose de Brown ao lado do número 2 da NBA, Mark Tatum, é de quem quase teve um treco

A pose de Brown ao lado do número 2 da NBA, Mark Tatum, é de quem quase teve um treco

Brett Brown: dos 321 técnicos de NBA registrados na base de dados do Basketball Reference, o ex-treinador da seleção australiana e ex-assistente de Gregg Popovich tem o pior aproveitamento, excluindo técnicos interinos ou aqueles que tenham trabalhado em apenas uma temporada como head coach, com escabrosos 19,1%. E não dá para julgar sua competência no cargo. Não quando o melhor armador com quem ele pôde trabalhar em Philadelphia até agora tenha sido Ish Smith. Depois de tantas derrotas, de tantas surras, se há alguém que merecia uma boa notícia nesta terça-feira, era Brown, que, segundo consta, é uma das pessoas de convívio mais agradável que você vai encontrar pela liga.

Bryan Colangelo: ele mal chegou e já vai colhendo os frutos do trabalho impopular e radical de Sam Hinkie. Enquanto vai fazendo alterações no departamento de basquete do Sixers, pode se preparar para fazer uma escolha difícil entre Simmons e Ingram. Difícil, mas é aquele tipo de problema que todo gerente geral gostaria de ter no dia 23 de junho.

Sam Hinkie: é, pois é. Pelo menos algum cantinho da alma do cara que foi meio que forçado a pedir demissão deve estar sorrindo. Mas, mesmo que seja para se autoenganar, pode dizer para os mais chegados que, no final, o plano dele seria agraciado pela sorte. Além disso, pode gravar o clipezinho abaixo e entregá-lo para seu agente. Em Philly, ainda há uma forte crença n’O Processo:

Lakers: Mitch Kupchak mal deve ter dormido de segunda para terça-feira. Estava obrigado a dar a cara a tapa na loteria e poderia ser humilhado caso o clube californiano não ficasse entre os três primeiros do Draft (as chances estavam na casa de 45%). Se acontecesse, seria obrigado a conceder sua escolha para o Philadelphia 76ers.  Agora, está numa posição confortável: receber quem quer que sobre entre Simmons e Ingram. A outra certeza que tinha: “Não quero estar aqui no ano que vem”. Sabe por quê? Porque o time será submetido ao mesmo drama, caso não chegue aos playoffs, com Philly à espera. O cartola tem de pensar positivamente, mesmo, mas, para escapar da loteria, o Lakers teria de vencer cerca de 30 jogos a mais na temporada 2016-17. Complicado, mesmo que seu badalado calouro já produza como estrela no primeiro ano, algo também que não se pode cobrar.

Celtics: não, o Boston não conseguiu entrar no top 2. Por outro lado, não foi ultrapassado por ninguém na ordem, e a probabilidade para que isso acontecesse era maior que 50%. Além do mais, para um time que venceu 48 partidas, nem deveria estar aqui. Tudo o que viesse seria lucro, graças à negociação com o Brooklyn Nets envolvendo Paul Pierce e Kevin Garnett.

Bruno Caboclo: para o Toronto Raptors, vale o mesmo raciocínio do Boston Celtics. Na noite em que abriu a disputa das finais do Leste (tomando uma pancada do Cavs, é verdade), o clube canadense também tinha uma pequena chance, de 9,2%, de conseguir o direito de selecionar Ingram ou Simmons. Este foi o legado deixado por Andrea Bargnani em sua troca para o New York Knicks. Não aconteceu, e o caçula brasileiro da NBA agradece. A chegada de Simmons ou Ingram seria um tremendo empecilho para seu aproveitamento e desenvolvimento no Canadá.

POR BAIXO

Simmons e D'Angelo Russell campeões pelo Lakers? Talvez no futuro, assim como pela Montverde Academy

Simmons e D’Angelo Russell campeões pelo Lakers? Talvez no futuro, assim como pela Montverde Academy

– Sam Hinkie: bem… Ele entra aqui também, e, se fosse para evitar a brincadeira, só teria lugar nesta lista. Seu plano de entrega-entrega, enfim, gerou sorte no Draft. Mas são os Colangelos que vão desfrutar.

Ben Simmons:  o cenário ideal para o prodígio australiano era que o Lakers tivesse a primeira escolha. Pois os rumores do momento indicam que o ala de 20 anos e seu agente, Rich Paul (o comparsa de LeBron) têm apenas o clube angelino na mira para este Draft. Entre outros motivos, como a badalação de L.A. e o peso da camisa, o que talvez seja mais importante é que este casamento poderia valer milhões em um contrato com as gigantes dos calçados. Com o Lakers em segundo, isso ainda pode acontecer, claro. Mas Simmons, badalado há muito tempo, perderia o status de número um do Draft. Então já ficam as dúvidas: estariam dispostos, jogador e agente, a boicotar o Sixers e se recusar a fazer entrevista e exames? Teriam coragem para peitar uma figura tão proeminente como Jerry Colangelo? (Talvez não seja necessário, já que Ingram, em tese, combina melhor com o atual elenco de Philly, oferecendo muito mais capacidade como arremessador.)

– A juventude de Boston: sem poder alcançar Simmons ou Ingram, cresce a possibilidade de que Danny Ainge vá tentar trocar sua escolha. Mas é pouco provável que ela, sozinha, renda ao time um jogador veterano que possa fazer a diferença para a equipe de Brad Stevens. Então o que se deduz é que o gerente geral vá tentar montar um pacote em torno desta seleção com alguns outros trunfos de Draft e, sim, alguns jogadores para tentar um superastro. Então é de se esperar que a rapaziada fique inquieta até o final de junho. Se for para manter o terceiro lugar, Ainge afirmou que a ideia é escolher o melhor jogador disponível. Segundo os scouts, as opções seriam o croata Dragan Bender, ala-pivô que enche os olhos, mas é o atleta mais jovem do Draft, os armadores Kris Dunn e Jamal Murray e o ala Buddy Hield. O histórico do Boston não é tão profundo assim com jogadores europeus. Por outro lado, com Marcus Smart, Isaiah Thomas, Avery Bradley, Terry Rozier e RJ Hunter no elenco, haveria espaço para mais um ‘guard’?

– James Dolan: o bilionário dono do Knicks deve ter mentido para todo mundo, dizendo que ia se retirar para seus aposentos para tocar guitarra quando, na real, estava acompanhando o Draft pela TV, só para saber se as trapalhadas que ele autoriza (e muitas vezes força!) renderia algo de positivo a quem estava do outro lado do telefone, tal como nos desastrados tempos de Isiah Thomas. Para lembrar: a escolha do time foi endereçada ao Toronto Raptors em troca por Andreeeea Bargnani. O engraçado disso? É que, quando percebeu que seu clube havia sido surrupiado por Masai Ujiri, ele proibiu que seus dirigentes fechassem uma nova transação com o Raptors no ano seguinte, quando o nigeriano estava pedindo mais uma escolha futura de Draft para poder ceder Kyle Lowry, um legítimo All-Star.

– Sean Marks: quando aceitou o cargo, o novo gerente geral do Brooklyn Nets já sabia que não haveria o que fazer quanto a sua escolha de Draft deste ano. Com o Boston Cetics ficando em terceiro, o neozelandês ao menos não tem de conviver com a ideia de que Simmons e Ingram poderiam ser alicerces na reconstrução do time. Mas, que deve doer, deve. Dragan Bender seria um ótimo projeto de longo prazo para a franquia.

– Wizards e Markieff Morris: caso tivesse saltado para o Top 3, o time da capital poderia manter sua escolha. Era difícil de acontecer, e, ao ficar no número 13, teve de cedê-la ao Phoenix Suns. É bom que o ala-pivô bote a cabeça no lugar e ajude John Wall numa campanha de reação do Wizards. Ou isso, ou ele e o gerente geral Ernie Grunfeld vão ter de secar seja lá qual for o calouro que Ryan McDonough selecionar aqui.

TROLLER GERAL

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Dikembe Mutombo causou nesta terça. No tweet acima, quatro horas antes do sorteio em Nova York, o ex-pivô do Philadelphia resolveu ir ao Twitter para parabenizar o clube pela vitória na loteria. Imagine a barulheira feita pelos torcedores do Sixers, comemorando — e dos demais envolvidos com o evento, reclamando e acusando a liga de manipular os resultados. Desde que, em 1985, o New York Knicks venceu a primeira loteria promovida pela NBA, ganhando o direito de escolher Patrick Ewing, as teorias da conspiração em torno desse processo. Mutombo só atirou gasolina nas mãos dos chutadores de três pontos do Cavs destes playoffs: virou um fogaréu que só. Quando questionado sobre o significado de seu tweet, o pivô disse que havia se confundido com as regras do Draft, ao ver que seu antigo clube tinha as maiores chances de chegar ao primeiro lugar. Apagou o tweet e garantiu não ter dom premonitório nenhum. A pergunta que fica agora é a seguinte: quem acredita? : )

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Por uma noite, pelo menos, o pesadelo de Kyle Lowry acabou
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Giancarlo Giampietro

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Kyle Lowry mal podia acreditar no que acontecia em Miami. Era final de primeiro tempo, e o aro parecia tão vedado como o do Air Canada Centre. Ele seguia para o vestiário ainda cabisbaixo, com quatro pontos anotados em seis chutes, tendo desperdiçado todas as três tentativas de longa distância, sem nenhum lance livre batido. Continuava seu pesadelo pelos #NBAPlayoffs 2016.

Até aquele momento, o armador e líder do Toronto Raptors havia acertado apenas 43 de 139 arremessos de quadra, ou 30,9%. Se for para ficar apenas com os tiros de fora, estava encarando o fato de que 51 dos 60 havia tentado pelos mata-matas haviam dado aro, se tanto. Mesmo nos lances livres a coisa não estava tão boa assim, com 68,8%. Tudo isso lhe dava média de 13,5 pontos por partida.

Não podemos confundir Lowry com um Stephen Curry de jeito maneira. Mas não é que ele estivesse no nível de um Rafer Alston ou Mike James também. Pela temporada regular, suas médias foram de 21,2 pontos, 42,7% nos arremessos, 38,8% de fora e 81,1% nos lances livres. Um All-Star e com cartaz para ser eleito para um dos três quintetos ideias da temporada. Mais que justo.

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Daí que era muito complicado de entender o que se passava nestes playoffs. Ninguém conseguia dar uma explicação razoável. Nem ele, nem seus companheiros ou técnicos. Até que, na volta do intervalo, de repente alguém se lembrou de ligar a chavinha. Em um segundo tempo espetacular, o armador acertou 9 de 13 tentativas de cesta no geral, com 100% nos chutes exteriores (5-5!), somando 29 pontos no segundo tempo, o mesmo que um Dwyane Wade. Era como se, do nada, de lacrado, o aro tivesse ganhado a vastidão de todos os mares pelos quais passam os navios de Micky Arison, proprietário do Miami Heat e também da maior operadora de cruzeiros marítimos do mundo. Era tão inexplicável quanto o período de seca.

“Kyle voltou a ser o Kyle”, disse Dwane Casey. “Este é o Kyle que conheço”, disse DeMar DeRozan. “Eu não duvido de mim. Não existe essa coisa de duvidar de si mesmo”, afirmou o astro do Raptors.

Ah, então é simples assim? Que uma hora a maré tinha de virar a seu favor.

Acho que foi o Paulo Cleto que inventou o termo: confiatrix. Como se fosse uma das poções mágicas dos quadrinhos de Asterix que o atleta pudesse tomar entre um jogo e outro e aí desembestar a ganhar. Para o tênis, seu metiê, isso fica muito claro. Afinal, os tenistas estão por conta em quadra, encarando o jogo que considero o mais exigente, em termos de precisão técnica, desgaste físico e, principalmente, força mental.

Mas essa coisa de crise de confiança, ou excesso de, vale para qualquer esporte, claro, inclusive o basquete. Se a tal da poção existisse, e não fosse doping, Lowry muito provavelmente não hesitaria em pagar um ano inteiro de seu salário para usá-la. No seu caso, seriam US$ 12 milhões. Tudo para poder reencontrar a boa forma durante os playoffs. Até sexta-feira, o cara vinha com o terceiro pior aproveitamento de quadra dos mata-matas entre jogadores que arriscam pelo menos dez chutes em média, acima apenas de Jae Crowder e Trevor Ariza. Nenhum desses alas já foi considerado um cestinha de mão cheia, e Crowder jogou sua série contra o Atlanta Hawks com o tornozelo estourado. Se fosse para ampliar o escopo, o departamento de estatísticas da NBA havia encontrado um dado ainda mais estarrecedor. Com um mínimo de 100 arremessos realizados, Lowry tinha o pior aproveitamento dos últimos 50 anos:

Estava sofrendo. Acredite, é possível ver um esportista milionário sofrer. Por isso, na madrugada de terça para quarta-feira, estava de volta à quadra do Air Canada Centre para ficar arremessando por conta própria, sem nenhum membro do estafe do Raptors, com uma escada embaixo da tabela, e o ranhido de seu tênis e a batida da bola no tablado ecoando pela arena.  Só deixou o ginásio depois da 1h, pouco depois da derrota para o Miami pelo Jogo 1 das semifinais — de novo a franquia canadense abria uma série em casa com revés, repetindo o que havia acontecido contra Brooklyn em 2014, Washington em 2015 e Indiana pela primeira rodada este ano. Lowry estava ouvindo música e chutando, sem ninguém por perto. A explicação: queria voltar às raízes, quando passava hora e horas com a bola, por conta, arremessando em algum parque ou quadra de Philly, se divertindo, sem distração ao redor — ou justamente para se distrair. Quem nunca? (O mais cínico vai falar em golpe de marketing, já que os jornalistas ainda estavam presentes, despachando seus textos em altas horas. Mas não faz muito o estilo do baixinho.)  

Quando alguém se envolve com um jogo, pressupõe-se que esteja lá para ganhar, competir, fazer dinheiro e, sem problema, se divertir também, seja lá qual dor a ordem de prioridades aqui. Pela NBA, haaaaja competição, amigo. São 82 partidas de temporada regular, 3.936 minutos. O atleta, então, supostamente encara essa maratona para só cumprir tabela. Essa briga toda é para chegar aos playoffs, a não ser que jogue pelo Philadelphia 76ers. Para a maioria alguns times, disputar a fase final já é gratificante o suficiente: esportivamente, com a sensação de missão cumprida, e financeiramente, com mais ingressos vendidos a um preço elevado, a renovação de carnês e patrocínios.

Para Lowry, o que está em jogo é a reputação em quadra. Grana não é problema: ele tem mais um ano de contrato com a franquia canadense, valendo mais US$ 12 milhões, e vai entrar no mercado de agentes livres em 2017 preparado para receber mais uma bolada. A não ser que seu desastroso desempenho pelos playoffs se estendesse à temporada seguinte, o que seria impossível, né? “Estou apenas tentando reencontrar meu caminho, meu toque. Não sei por onde ele anda, é algo que está mexendo com minha cabeça. É frustrante”, disse, mesmo depois da vitória pelo Jogo 2, quando voltou a patinar. “É maluco. Quando estou sozinho, sem ninguém, arremesso bem. É muito diferente. Jogar mal assim quando todos os olhos estão em mim me enche, porque sei que sou muito melhor que isso. Só tenho de dar um jeito nesta m…”, afirmou, completando também que não se tratava mais da bursite no cotovelo que o incomodou na reta final da temporada. O repórter Josh Lewenberg, setorista pelo grupo TSN, porém, postou uma imagem supostamente destes playoffs que apontaria o contrário, todavia. Aí o armador se sai com algo ambíguo: “Sempre digo a verdade para vocês, caras, na maioria das vezes… Exceto quando estou contundido”, disse, sorrindo.

Neste sábado, aparentemente num intervalo de cerca de 20 minutos, se havia algum incômodo no cotovelo, desapareceu. Era como se as mais de 19 mil pessoas presentes à American Airlines Arena também tivessem sumido. Só estavam ele e Dwyane Wade por ali, ralando, para ver quem conseguia desempatar a série. (Em termos de confiatrix, também, convenhamos que Wade vivia algo inexplicável também. Depois de acertar apenas 7 de 44 chutes de fora durante a temproada regular, ele converteu 4 de 6 pelo Jogo 3 em Miami, chegando a 8 de 11 pelos playoffs em geral. Quem explica isso?)

Como que num estalo, Lowry desembestou a fazer cestas e terminou a partida com 33 pontos, o máximo desde o dia 14 de março — desde então, haviam se passado 23 partidas. Já os 58% de quadra e as cinco bolas de três pontos foram seu recorde desde 18 de março, com 20 jogos.

“Não fiz nada diferente. As pessoas mais próximas vieram até a mim, me procuraram. Mas, na maior parte, o que diziam era para ir para a quadra e seguir jogando. Tenho um cara aqui (apontando para DeRozan, no vestiário), que é provavelmente aquele que mais me apoia, e ele disse isso, para seguir em frente. Ele sempre vai me seguir minha liderança, não importa como, assim como meus companheiros de time. Apenas fui lá e tentei os mesmos arremessos que tentei o ano todo.”

Dessa vez caiu, e, se Lowry conseguiu ignorar as tentações de South Beach, pôde ir para a cama muito mais cedo.

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Paul George volta a colocar Toronto em estado de choque
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Giancarlo Giampietro

George foi o All-Star que mandou em quadra pela abertura dos playoffs

George foi o All-Star que mandou em quadra pela abertura dos playoffs

Recordar é sofrer.

O ginásio do Raptors estava novamente tomado por clima de estádio de futebol. Lá fora, uma multidão acompanhando a partida na praça. Bandeiras, cantos fortes. O time deu mais um salto durante a temporada regular, chegou a incomodar o Cleveland Cavaliers na disputa pela primeira colocação da conferência. Tudo seria diferente dessa vez.

Mas… Não. Novamente essa atmosfera festiva seria mais uma vez silenciada nos minutos finais da abertura dos #NBAPlayoffs2016 para Toronto por um ala chamado Paul. Sai Pierce, entra George como sobrenome. O ala do Pacers foi a grande estrela da primeira partida dos mata-matas. Boa parte desses times classificados pelo Leste podem até não ser muito badalados, sem as chamadas superestrelas  — mas os jogos prometem bastante, de todo modo. Só não vale incluir o Indiana nesse grupo. Seu ala camisa 13 pertence ao primeiro time de craques da liga.

Com 33 pontos e uma defesa sufocante frente no perímetro, George provou que é uma estrela de verdade, que joga dos dois lados da quadra, comandando o cabeça-de-chave número sete numa grande vitória por 100 a 90, neste sábado, que já rouba o mando de quadra para os forasteiros.

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Do outro lado, dois de seus companheiros na seleção All-Star, Kyle Lowry e DeMar DeRozan, tiveram atuações beeeem diferentes, sentindo dois tipos de pressão: a primeira, mais importante, que foi a de seus marcadores, mesmo. A segunda tem a ver com os recentes fracassos em jogos pela fase decisiva. Dava para ver na cara de Lowry. George, sozinho, anotou oito pontos a mais do que a dupla do Raptors. Pior ainda para o time canadense foi checar o aproveitamento de quadra destes caras: um abismal 8-32, ou meros 25% de acerto. Eles tiveram mais turnovers (nove) do que cestas de quadra. Nem um fominha descontrolado como Monta Ellis (5-12, um turnover, 15 pontos e 5 assistências) aprova números como esses.

A sorte de DeRozan é que o jogo foi realizado bem cedo, na hora do almoço. Diminui, assim, as chances de ele ter pesadelos com seu conterrâneo californiano. Apenas um ano os separam. Talvez tenham até se cruzado em quadras pelo circuito AAU ou colegial no imenso estado. Desde cedo, o ala do Raptors sempre foi considerado uma futura estrela, enquanto o líder do Pacers se desenvolveu mais lenta e discretamente, sendo recrutado pela tímida Universidade de California State, por exemplo. Hoje, com suas carreiras profissionais bem encaminhadas, há uma enorme distância entre um e o outro. Devido ao histórico californiano, estamos falando de dois alas que, volta e meia, estiveram associados ao Los Angeles Lakers, como possíveis reforços. Agora que Kobe Bryant se aposentou, há uma clara lacuna para ser preenchida na rotação de perímetro do time, de fato. DeRozan será agente livre ao final da campanha. É bom que Mitch Kupchak tenha assistido a esta partida, para ver quem exatamente merece um salário máximo…

George é um jogador de salário máximo. DeRozan, segundo costuma ditar o mercado, também vai se tornar. E deve ganhar ainda mais, devido ao aumento nos rendimentos da liga. Para o Lakers, não seria um bom investimento, se o objetivo é voltar ao topo da liga...

George é um jogador de salário máximo. DeRozan, segundo costuma ditar o mercado, também vai se tornar. E deve ganhar ainda mais, devido ao aumento nos rendimentos da liga. Para o Lakers, não seria um bom investimento, se o objetivo é voltar ao topo da liga…

Sendo justo, DeRozan fez a melhor temporada de sua carreira. Só James Harden foi mais vezes à linha de lance livre do que ele. Também mostrou muito mais visão de quadra, criando para os companheiros. Foi eleito pela segunda vez para o All-Star, merecidamente. Neste sábado, porém, foi barrado no baile. Não havia corredor para ele passar. Com a infiltração removida de seu repertório, teve de apelar para o arremesso de média para longa distância, sempre contestado. Por mais que tenha melhorado um pouquinho neste fundamento, ainda é o seu ponto fraco. Ainda mais quando perturbado. O jogo não foi dos mais bonitos ou emocionantes, mas vale a pena revê-lo só para conferir a atuação defensiva de George. Não basta ter capacidade atlética, com explosão e agilidade nos pés. É preciso saber o que fazer com esses recursos, e o cara foi simplesmente impecável nesse sentido, se deslocando lateralmente com precisão impressionante. Também chamaram a atenção seus botes certeiros, quase kawhi-leonardianos, para terminar com quatro roubos de bola e dois tocos em 37 minutos. Dois desses roubos foram sensacionais, para consertar bobagens de seus companheiros no ataque, freando de imediato o contragolpe dos anfitriões.

Sobre Lowry, lembremos que ele já encerrou a temporada regular em baixa. Desde o All-Star, em casa, seus números despencaram. Para comparar, em fevereiro, ele anotou 23,6 pontos com 50,3% nos arremessos e 39,7% de três. Em março, produziu 21,9 pontos, mas com 40,4% e 37%, respectivamente. Em abril, em cinco jogos, teve 17,0 pontos, com 39,5% e 41%. O número de lances livres pelo baixinho também caiu consideravelmente na reta final. O armador está sofrendo com dores e inflamação no cotovelo direito desde janeiro, na verdade, e chegou até mesmo a fazer uma drenagem semanas atrás. Uma preocupação que Casey admitiu publicamente. Enfrentando outro excelente defensor como George Hill — que é mais alto e também tem braços longos toda a vida –, as coisas ficam ainda mais complicadas.

Se Lowry, devido a esta limitação física, não vai ser eficiente como no início da temporada, aumenta a carga de responsabilidade sobre DeRozan. Talvez seja o caso de Dwane Casey rabiscar mais jogadas para que seu cestinha seja acionado em movimento, em vez das manjadas investidas em mano a mano. O problema é que, mesmo nessas situações, não é garantia que o cestinha terreno, já que George é mais alto e mais comprido, sendo um terror nas linhas de passe. Ainda assim, forçando-o a encarar corta-luzes de Valanciunas, Scola e Patterson, ao menos você pode tentar desgastar o oponente.

Para o Jogo 2, ainda não é para entrar em desespero. Você não vai jogar no lixo o trabalho que resultou em 56 vitórias na temporada regular. De toda forma, o ataque excessivamente individualizado do Raptors precisa ganhar em diversidade. Já havíamos registrado aqui: seu sistema ofensivo esteve entre os mais eficientes da liga, mas o jogo de playoff é outra história. Os adversários estão mais preparados, o scout fica muito mais detalhado. Os vícios se tornam mais evidentes em quadra. Você precisa de diversidade. Basicamente, tudo o que se cobra de Oklahoma City há anos, com a diferença de que eles atacam com Kevin Durant e Russell Westbrook. Com todo respeito aos a Lowry e DeRozan, mas os All-Stars podem até ser iguais, mas uns são mais iguais do que os outros.

No caso de Raptors, se for para apostar tão somente no repertório técnico de estrelas, é bem provável que o Pacers aceite o desafio, com Paul George ao seu lado. Se o ala puder ser dominante desta forma,  a série pode virar mais uma grande encrenca para o clube canadense, para tristeza de uma torcida que

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Batalha de Valanciunas com pivôs de Indiana promete

Batalha de Valanciunas com pivôs de Indiana promete

Jonas Valanciunas foi um leão no garrafão. Fato: pegou 19 rebotes em 21 minutos, sendo 11 ofensivos, ambos valendo como recordes para o Toronto em playoffs. Ainda anotou 12 pontos. Bacana, né? E, como assim o cara consegue números tão expressivos como esses e fica em quadra só por 21 minutos!? Dwane Casey pirou? Segue implicando com o lituano?

Não. É que ele cometeu seis faltas, mesmo. E uma consulta mais atenta à planilha estatística do pivô somada às ações que vimos em quadra nos passa um contexto mais complexo. Se Valanciunas apanhou 11 rebotes na tábua de ataque é porque ele, mesmo, desperdiçou diversas oportunidades ali embaixo. Errou 10 de 14 arremessos, tendo dificuldade para finalizar jogadas diante de dois pivôs que protegem muito bem a cesta: Ian Mahinmi  e Myles Turner. Foi um espetáculo (ou quase isso…) o embate entre os grandalhões.Juntos, cometeram 15 faltas, com cinco para o francês e quatro para o calouro.

Fisicamente, o titular do Raptors se impôs na busca pela bola. O problema era o  que fazer com ela depois. Ele obviamente tem munheca. Mas seus movimentos ficaram muito lentos e mecânicos a partir do momento que o Toronto bombou seu corpanzil. O cara se tornou um pivô sólido, competente, mas não está no primeiro escalão. Aos 23 anos, talvez possa melhorar ainda, mas isso está longe de ser uma certeza. Lembremos que ele joga em alto nível há um bom tempo já. Em 2010, já estava jogando a Euroliga. Quiçá o Raptors possa espaçar mais a quadra para que ele ganhe uns segundos preciosos para realizar suas jogadas. Mas não vejo muito para seu jogo possa se expandir agora.

Do outro lado, o contraste com Turner é gritante. O novato tem um potencial absurdo. Hoje, mesmo, já foi influente. Com ele em quadra, o Pacers teve saldo de 15 pontos. Por não tenha base para aguentar os trancos do lituano ou de Bismack Biyombo, o rapaz conseguiu causar impacto em quadra graças a sua envergadura e agilidade. Em 26 minutos, terminou com 10 pontos, 5 rebotes e, mais importante, 5 tocos. Dois foram em seu oponente direto. Mas também houve quase uma dezena de chutes que ele intimidou ou alterou, devido a sua presença bastante ativa. Logo mais, vai deixar a vida de Paul George muito mais feliz em Indiana.

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Caboclo bate recorde pessoal pela D-League. Aprecie com moderação
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Giancarlo Giampietro

Caboclo vai para a cesta: sua melhor atuação pela D-League

Caboclo vai para a cesta contra filial do Pistons: sua melhor atuação pela D-League?

É realmente muito tentador. Você assiste a uma partida dessas, vê os números e já quer sair por aí batendo o tambor, passando a mensagem: Bruno Caboclo, Bruno Caboclo e Bruno Caboclo.  Nesta segunda-feira, o jovem ala brasileiro voltou a jogar pelo Raptors B pela D-League e marcou um recorde pessoal de 31 pontos em vitória tranquila sobre o Grand Rapids Drive, a filial do Pistons, por 136 a 105.

Independentemente do contexto – nível do oponente, intensidade defensiva, estilo de jogo da liga –, foi uma atuação para se tomar nota, mesmo, com o sorriso armado. Provavelmente sua melhor nesses dois anos de profissional nos Estados Unidos, o que causa um certo frisson na internet basqueteira brasileira. Mas é aí que você tem de tirar o pé e recomendar algo básico. Não tem problema se animar com o progresso do rapaz de 20 anos. Só aprecie com moderação, no entanto:

Antes de falarmos sobre o apanhado diversificado de cestas acima, parece ser mais importante discutir as ressalvas. Não é porque Bruno anotou 31 pontos em 36 minutos em Grand Rapids que, de uma hora para a outra, está pronto para jogar uma Olimpíada. Pelo menos não daqui a pouco, no Rio de Janeiro.

Este foi o ápice do brasileiro com a camisa dos 905s, é verdade, mas que tem de ser avaliado dentro do que vem sendo sua temporada. Vejam só: em suas últimas três partidas pela equipe de Mississauga, ele havia somado exatamente… 31 pontos, amassando o aro, com apenas 10 cestas em 32 tentativas. E o que tiramos disso tudo, entre pontos e altos? A média, claro: o ala jogou outras 34 partidas neste campeonato, com de 14,4 pontos, 6,3 rebotes, 1,1 roubo, 1,6 toco e 1,7 assistência em 33,7 minutos, com 39,8% de aproveitamento nos arremessos, 33,9% nos tiros de três e 73,3% nos lances livres.

Já muda um pouco de figura, não?

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Na hora de pensar sobre Caboclo, não dá para perder de vista de que este é apenas seu segundo ano efetivo como jogador adulto, e olhe lá. Se formos mais rigorosos, é como se fosse o primeiro, na verdade, já que a temporada passada foi muito mais de aclimatação a um país diferente, ao estilo de vida de NBA, a uma realidade totalmente diferente e que tem suas armadilhas. Ele mal viu a quadra, gente. Estamos falando ainda de um projeto, não de uma realidade técnica.

Isso para não falar da pressão. Caboclo não está apenas desenvolvendo suas habilidades sob a batuta dos técnicos do Raptors. Também está em processo de amadurecimento. Hoje ele pode não travar mais na hora de dar uma entrevista, como aconteceu há três anos, para o SporTV, mas ainda é um garoto nada acostumado a grandes partidas. Quando entra em quadra em Toronto, com o ginásio bombando, o placar já está resolvido, e a torcida está pronta para aplaudir qualquer uma de suas ações.

Não sei o quanto é empolgação com o potencial evidente do garoto, ou quanto se subestima seus concorrentes de seleção brasileira e o mundo Fiba em geral. De todo jeito, bom que se diga: quando as 12 seleções olímpicas se reunirem na Barra da Tijuca, serão pouquíssimos os ‘amadores’ por lá. Até porque a grande maioria dessas equipes vai escalar justamente grandes nomes da NBA, ou de clubes do mais alto nível europeu. Outro nível, ooooooutra história.

Jogar e produzir pela D-League não é pouco. Contra o Grand Rapids, o caçulinha foi marcado em diversas posses de bola pelo veterano Dahntay Jones, um ala que sobreviveu na grande liga americana por mais de 10 temporadas graças a sua tenacidade na defesa. Aos 35 anos, seu físico não é mais o mesmo, mas ainda seria tranquilamente um cara que, se interessado, poderia descer o continente e ajudar algum time venezuelano a ir longe na Liga das Américas, tal como fez Damien Wilkins pelo Guaros de Lara. Caboclo não se importou e fez o que bem entendia. A cada jogo, o ala vai enfrentar atletas com este perfil, ou caras mais jovens que não desistem do sonho de uma promoção. A capacidade atlética da liga menor é de embasbacar, e a sede por um contrato valioso, nem que seja com o Sacramento Kings, implica em uma competitividade traiçoeira.

>> Entrevista Felício aproveita ao máximo aos minutos em Chicago
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Ainda assim, a D-League pode ver a grande maioria de suas partidas descambar para uma pelada, principalmente pelo prevalecimento dos interesses particulares em detrimento do sucesso coletivo de um time. Basta espiar o placar dos jogos em geral para se ter uma ideia (103 a 105…). De modo que a dinâmica dessas partidas não poderia ser mais diferente do que a que a seleção brasileira vai enfrentar no #Rio2016. Se a transição da NBA para a Fiba já pede mais concentração dos veteranos, imagine a da D-League.

Rubén Magnano até poderia chamar o ala para o período de treinos e ver o que dava para tirar dali. O escaldado argentino, porém, já deu a entender, para além das entrelinhas, que essa hipótese tem chance praticamente zero de ser aplicada – para constar, o mesmo raciocínio vale para Lucas Bebê. Difícil discordar dessa lógica, ainda mais para alguém que tem sido tão metódico na formação de seu grupo – com os mais jovens pagando pedágio em um Sul-Americano aqui, outro período de testes ali, antes de serem incluídos em torneios de expressão. Aconteceu com Raulzinho e Rafael Luz. Leo Meindl está passando por isso agora. Lucas Dias, eu ex-companheiro, ao menos já foi para uma Universíade nessa gestão. Caboclo nunca se juntou a time nenhum. (PS: se for para defender a convocação de algum atleta bem mais jovem para o grupo olímpico, estão aí, ao meu ver, as duas possibilidades mais justas. O consistente NBB que Lucas fez pelo Pinheiros vale mais do que a experiência de Bruno neste momento. Mas é pouco provável também que tenha uma chance. Se mantiver sua lógica, Magnano dificilmente convocará alguém de primeira para uma campanha destas.)

Quando selecionou o ala em 2014 na primeira rodada, para surpresa geral, o gerente geral Masai Ujiri se viu obrigado a traçar um plano de longo prazo para desenvolvê-lo. Para a avassaladora maioria dos jogadores em seus contratos de novato, o terceiro ano de NBA já seria de graduação. Eles dificilmente disputam a liga de verão e tal. Já ganham passe livre para conduzir seus treinamentos nas férias do jeito que bem entenderem. Acontece que o ala ex-Barueri e Pinheiros não é um casso corriqueiro desses. Pelo contrário: é um caso especial, com a reputação do prestigiado dirigente envolvida. Eles traçaram um plano de longo prazo, e qualquer que seja a atividade prevista para o verão (setentrional) de 2016, talvez o melhor seja deixar o garoto com eles, mesmo. Em termos de experiência, para reforçar sua confiança, é provável que mais uma liga em Las Vegas seja mais proveitosa do que duas semanas de treino com a seleção.

Enfim, com tudo o que está na mesa, uma Olimpíada não é uma competição para testes e experiência, e aqui voltamos ao jogo desta segunda e ao campeonato de Caboclo em geral. Nesta segunda, sua exibição ofensiva foi uma maravilha, consistentemente atacando o aro. Nesses movimentos, vai lembrar invariavelmente a imagem de Giannis Antetokounmpo, devido ao corpo esticado toda a vida e a uma facilidade impressionante de chegar ao aro. Mal precisa saltar, mal precisa correr. Duas passadas, braço esticado, e pumba, como vemos no vídeo acima. Segue seu quadro de arremessos na noite:

Quando chegou ao garrafão, não houve quem o impedisse de fazer a cesta. De resto, de fora, ele teve muita liberdade para matar seus arremessos, mas não conseguiu, com exceção do cantinho esquerdo da quadra

Quando chegou ao garrafão, não houve quem o impedisse de fazer a cesta. De resto, de fora, ele teve muita liberdade para matar seus arremessos, mas não conseguiu, com exceção do cantinho esquerdo da quadra, sua área preferida há um tempo. O final de sua mecânica de arremesso ainda é inconstante. Há uma ligeira tendência para que suas mãos se abram em direções opostas, alterando a direção do chute, que em diversas ocasiões apenas tocava no aro de raspão

Como fica mais evidente, dá para dizer que os técnicos do Raptors têm trabalhado com Bruno o tipo de ataque que a NBA “dos números” pede hoje: ou você chuta de três, ou vai tentar a finalização lá pertinho da tabela. As bolas “mais eficientes” segundo o cânone recente. Agora, essa opção também tem a ver com as próprias limitações do brasileiro. Vai demorar ainda que apareça um jogo de média distância para ele – este, aliás, já é um tipo de arte perdida na liga. São raros os jovens que chegam com esse tipo de repertório, como o ala TJ Warren, do Phoenix Suns. Para não deixar dúvida, este é o seu quadro de arremessos de toda a temporada:

 No geral, Caboclo ainda tenta mais de 50% de seus arremessos no perímetro (53,1%), quantia bastante elevada. Apenas 7,5% de seus pontos vêm de média distância, enquanto 31,3% saem no garrafão


No geral, Caboclo ainda tenta mais de 50% de seus arremessos no perímetro (53,1%), quantia bastante elevada. Apenas 7,5% de seus pontos vêm de média distância, enquanto 31,3% saem no garrafão, quantia que deve aumentar consideravelmente, se o plano dos técnicos for aplicado, algo que deu muito certo contra o Grand Rapids e, esperamos, passe a virar rotina

Percebem o contraste de cores, certo? O quadro de baixo dá um panorama bem mais honesto sobre o tipo de cestinha que Caboclo é. As diversas manchas vermelhas acima mostram que há muito o que ser feito ainda, e sem pressa. O Raptors 905 não se importa com isso. O que vale aqui é que, no futuro, o brasileiro tenha sido capaz de aprender com seus erros e acertos, assimilar os treinamentos, ganhar cancha e, enfim, contribuir para o time de cima.

Contra o Grand Rapids, Bruno foi quase sempre utilizado numa formação flexível (exceção feita quando a quadra era congestionada pelo imenso Sim Bhullar, que mais parece uma criação de efeitos especiais). O brasileiro era basicamente  um homem na linha de frente, em vez de nos apegarmos a definições como “3” ou “4” – no futuro, para alguém de seu biótipo, poderá marcar praticamente todos os tipos de jogadores.

Para além dos 31 pontos, um ótimo sinal dessa partida foi o fato de que, quando o Raptors B jogou bem, Caboclo foi junto. Isto é: quando a bola girou de mão para mão, com os atletas em constante deslocamento, espaços foram abertos, e o ala soube aproveitá-los com suas infiltrações, em vez de estacionar no perímetro e exagerar na dose em seus arremessos de três pontos. Ele se movimentou com leveza pela quadra e tratou de envolver seus companheiros. Precisamos sublinhar isso: diversos scouts se manifestaram com preocupação ao blog durante a última liga de verão em Las Vegas sobre a “fome” do ala em quadra. Para quem havia jogado tão pouco, achava natural que acontecesse. Durante a temporada da D-League, no entanto, isso voltou a se repetir em diversas ocasiões. Aparentemente, o brasileiro se apresentou dessa vez ao Raptors 905 disposto a atacar de outra forma, e deu muito certo. Foi uma atuação extremamente produtiva, buscando a cesta, mas serenamente, sem forçar a barra. Vamos ver se vai conseguir repetir esse padrão, mesmo sem tanta eficiência assim, nas próximas rodadas.

Apelando à prudência, todavia, um fator importante para se ter em mente é que, tanto para o Raptors, hoje um candidato ao título, como para a seleção, o raciocínio é o mesmo, por ora: o jogador não chegaria para ser cestinha. Suas prioridades mais imediatas são a defesa e a capacidade de executar pequenas tarefas.

Um parêntese estatístico, então, para alertar mais uma vez o perigo de se guiar apenas por números: a linha de Caboclo mostra apenas uma assistência e cinco roubos de bola em 36 minutos. Deduzíramos, então, o quê? Que foi um fominha e um terror na defesa, e não teve nada disso. Vários dos passes do brasileiro resultariam em assistência para um companheiro, assim como boa parte dessas bolas recuperadas vieram em passes interceptados por um seus parceiros também, com o roubo sendo computado a seu favor simplesmente por ter feito o domínio.

Em geral, Caboclo ainda se confundiu muito em posicionamento. Quando envolvido em situações de pick and roll no terceiro período, por exemplo, durante breve reação do adversário, recuou, mas não conseguiu dar conta nem de bloquear o baixinho com a bola em mãos, nem em contestar seu oponente do modo desejado. A impressão que passa é a de que Bruno ainda conta muito com sua envergadura para recuperar terreno e fazer a marcação. As ferramentas estão aí para serem usadas, mesmo, e, com braços dessa extensão, é como se estivesse perto da bola sempre. Mas, se bem posicionado, pode se tornar um defensor realmente implacável, intimidador.

Num jogo tão complexo como o basquete, em que o comprometimento de uma peça pode acabar com toda uma engrenagem. Isso ainda vai pedir um pouco de paciência ainda, e, pensando lá na frente, faz bem ver o quanto ele pode render quando joga solto e confiante como nesta segunda-feira. Sua linha de tempo, no momento, só difere daquela que vale tanto para o Toronto como para a seleção: um time destronar o Cavs no Leste, enquanto o outro sonha com o pódio. Para a temporada que vem, em relação ao seu clube, pode ser que mude, dependendo do que fizerem nos playoffs e de como vão se comportar no mercado de agentes livres. Uma hora essas linhas vão coincidir – pelo menos é o que Masai Ujiri espera. Se tudo der certo, Tóquio 2020 já chega.


Jukebox NBA 2015-16: Raptors, Arcade Fire e um recado geral: eles existem
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “We Exist”, por Arcade Fire

Em 2011, com dez anos de estrada, os integrantes do Arcade Fire subiam ao palco do Grammy para, de modo até chocante, receber o prêmio de Álbum do Ano, superando popstars como Lady Gaga, Eminem e Katy Perry. Ninguém entendeu nada, nem a apresentadora Barbara Streisand, muito menos  mesmo o vocalista e compositor Win Butler, que, ao chegar ao microfone,  soltou: “Que diabos?!”

Aquele grupo de esquisitões, nerds e/ou eruditos reunidos em Montreal já atraía bom público em festivais e havia participado da festa antes, mas concorrendo entre os alternativos. Depois daquela façanha, com “The Suburbs”, se tornariam gigantes. Ou, vá lá, gigantes para os patamares atuais do rock. Mas chegaram lá, ganharam estofo, confiança e voltariam, dois anos depois, com um álbum bem mais ambicioso, “Reflektor”, para pista, com direito até a curta metragem dirigido por um dos Coppola e pontas de astros hollywoodianos. “We Exist” está entre essas faixas.

Ok.

Estaria o Toronto Raptors, então, preparado para dar um salto desses?

Bem, falar em título talvez seja algo impensável, mas esse, na verdade, é um discurso útil que vale para praticamente qualquer time que não se chame Golden State Warriors.

Contudo, se os objetivos forem menores, por que não?

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Ao receber o Cavs na sexta-feira, o Toronto Raptors ratificou que, sim, já existe como ameaça ao time de LeBron James ao título – da Conferência Leste, no caso, de acordo com suas atuais configurações. Cleveland, no papel, ainda é o favorito, mas, enquanto não encontra a paz interna, vai ser mais vulnerável do que a combinação de suas peças sugeriria. E aí entra o clube canadense na jogada, disposto a aprontar, seguindo o líder da conferência bem de pertinho, tendo a vantagem de um eventual desempate.

Havia diversos elementos que já serviriam para colocar Toronto como o principal candidato a azarão na conferência, posto que muitos talvez imaginassem que caberia ao Chicago Bulls no início da temporada, numa ascensão gradual da franquia, basicamente desde a partida de Rudy Gay e Andrea Bargnani. Mesmo que tivesse levado um sacode do Cavs no dia 4 de janeiro, fora por 122 a 100, haviam vencido 17 de 21 partidas incluindo antes do reencontro com os LeBrons. Ainda assim, valeu como tanto como um resultado simbólico, como para dar o troco e jogar pressão para cima dos caras, ajudando, de passagem, a tumultuar mais um pouquinho o vestiário.

(Parêntese: entre as celebridades basqueteiras, o grandão Win Butler é autêntico. No All-Star em Toronto, dominou a pelada da sexta e foi eleito MVP. Drake? Que Drake?!)

(Parêntese: entre as celebridades basqueteiras, o grandão Win Butler, que jogava no high school, é autêntico. No All-Star em Toronto, dominou a pelada da sexta e foi eleito MVP. Drake? Que Drake?!)

Será que Bargnani e Gay poderiam imaginar um cenário desses, em que o Raptors entra em março com a quinta melhor campanha da temporada? E Bryan Colangelo? Talvez todos eles quisessem, mas é improvável que acreditassem que fosse possível que ele surgisse assim tão cedo. Mas não por acaso. Em diversos frentes, o clube canadense vem num processo evidente de crescimento, especialmente no mundo dos negócios, se firmando como um dos queridinhos do Canadá (vide o sucesso do slogan #WeTheNorth). A compra de uma franquia exclusiva na liga de desenvolvimento, em uma ação bem rápida, para acolher Bruno Caboclo e os mais jovens, também mostra isso.

De nada adiantaria uma esperta campanha de marketing se o produto em quadra não tivesse substância para sustentá-la. O técnico Dwane Casey sabe que não tem um time perfeito em suas mãos. Mas também está ciente de que conseguiu formar um conjunto bem equilibrado, com uma identidade bem definida e potencial para melhora, a ponto de voltar aos mata-matas com as maiores pretensões da equipe desde os dias em que Vince Carter decolava.

Os dinos têm o quinto ataque mais eficiente da liga e a 12ª defesa. Na subtração de um pelo outro, chega ao sexto melhor saldo de pontos por 100 posses de bola, superado apenas por, veja bem, Spurs, Warriors, Thunder, Clippers e Cavs. Ficar entre os sistemas ofensivos mais fortes, para esse núcleo, não é uma novidade, tendo ficado em terceiro neste ranking na temporada passada e em nono em 2013-14. Já o sistema defensivo resgatou sua credibilidade, depois de ter sido de um décimo lugar há dois campeonatos e de um esquálido 23º na campanha anterior.

Esse uniforme já viu a 2ª rodada dos playoffs. Mas não com Lowry e DeRozan

Esse uniforme já viu a 2ª rodada dos playoffs. Mas não com Lowry e DeRozan

E há caminhos claros para apertar ainda mais a retaguarda. A prioridade seria a recuperação de DeMarre Carroll, afastado do time desde janeiro, quando sofreu uma artroscopia no joelho direito. Até a virada do ano, por exemplo, com seu caríssimo agente livre contratado, a defesa era a décima melhor, se colocando no cobiçado grupo de times top 10 dos dois lados da quadra. Mas ainda não há data para Carroll retornar, e o escritório de Masai Ujiri não deixa vazar nada. Se ele estiver pronto para os playoffs, será um tremendo reforço.

Outra possibilidade, dói dizer, seria o banimento, ou a redução significativa dos minutos de Scola na rotação. Ao consultar os 20 quintetos mais utilizados por Casey na temporada, vemos que lenda viva argentina está relacionada em nove. O duro é que, destes nove, apenas um tem saldo positivo. Os outros oito estão no vermelho, por mais que o camisa 4 tenha adicionado a seu repertório o chute da moda: tiros de três pontos pontos como um ala-pivô aberto. Scola está convertendo 38,3% de seus disparos de três pontos, e o mais interessante é que isso ocorre com um número elevado de tentativas. Ele saiu de 0,4 por 36 minutos quando defendia o Indiana Pacers para 3,0 neste ano.

A eficiência nos arremessos deixa a quadra mais alargada no ataque, facilitando as infiltrações de Kyle Lowry e DeMar DeRozan. Na defesa, porém, as coisas não funcionam. Em tese, isso poderia se explicar pela parceria com Jonas Valanciunas, com dois pivôs muito técnicos, mas extremamente lentos numa liga que tende a punir esse tipo de marcador. Acontece que, nem com Bismack Biyombo ao seu lado no garrafão, o Raptors tem resistido.

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Daí o estranhamento pela inércia de um gerente geral tão agressivo como Masai Ujiri antes do fechamento da janela de trocas. Só mesmo o nigeriano e seus confidentes sabem ao certo que tipo de negociação e proposta eram atingíveis. Talvez Brooklyn e New Orleans tenham pedido muito por Thaddeus Young e Ryan Anderson. Mas muito quanto? O Raptors está numa posição bem confortável quanto a trunfos para negociações. Tem assegurada todas as suas escolhas dos próximos Drafts, além dos direitos sobre a escolha do Knicks  deste ano (ou do Nuggets, dependendo da ordem, ficando com a mais baixa delas) e mais uma do Clippers. Além disso, o terço final do elenco de Casey é dominado por atletas mais jovens, como Bruno Caboclo e Lucas Bebê, que não serão aproveitados tão cedo.

Moedas de troca Ujiri tinha. Se os negócios oferecidos não eram tão bons, isso não impedia que fosse atrás de outros caminhos. Não dá para criticar tanto alguém que preze pela paciência nos negócios. São vários os clubes que já se colocaram em má situação com uma sequência precipitada de trocas. Mas o clube canadense poderia para assumir riscos moderados, sem o temor de comprometer a sustentabilidade do projeto. Será que Jason Thompson, marginalizado em Sacramento e Golden State e contratado para o lugar do dispensado Anthony Bennett – ô, tristeza! –, pode render no lugar de Scola? Agora não há muito o que se fazer a respeito. Também não é o fim do mundo.

Com Lowry e DeRozan, o ataque conta com dois All-Stars que ditam o ritmo da equipe. Ritmo, por sinal, que é o quinto mais lento da liga, em sintonia com Spurs e Cavs. Isso tem muito a ver com o modo como os dois atacam. São centralizadores, massageam a bola (o Raptors é o segundo que mais arremessa nos últimos quatro segundos de uma posse de bola, com 7,2 por jogo nessas condições), chamam o pick-and-roll, vão para dentro, e dá certo. Juntos, são responsáveis por 56,4% das assistências da equipe. É muito. Mas, comparando com a liga, isso não significa muito, já que o Raptors é o terceiro que menos faz cestas assistidas (14,5%). Como faz, então, para ter um ataque eficiente, sem ser solidário? Não é com o bombardeio de fora. O rendimento de 36,8% nos chutes de três é excelente, o terceiro melhor (Warriors e Spurs). Mas eles não arriscam muito, ficando em 15º em tentativa, no meio da tabela.  Por outro lado, são muitos lances livres para compensar, sendo o terceiro em conversões (Rockets e Wolves). Também se comete poucos turnovers, com 13,2.

Lowry e DeRozan fazem suas melhores temporadas. Depois de um regime durante as férias, o armador se apresentou a Casey em excelente forma, finíssimo. Bacana, certo? Só não deixa de ser engraçado que ele tenha esperado nove anos para chegar a essa conclusão, de que perder alguns quilinhos poderia fazer bem a um armador que adora bater para a cesta e se gabava, antes, de ser um pitbull na defesa. Enfim.

Antes e depois

Antes e depois

Já DeRozan passou a enxergar o jogo com muita inteligência e paciência, para se infiltrar e descolar lances livres. É o segundo que mais converteu chutes na linha nesta temporada, atrás apenas de James Harden. Em seus movimentos rumo ao aro, vem usando cada vez mais o pick-and-roll e também aprendeu a servir aos companheiros. Fica tão confortável com a bola que hoje tem uma taxa de uso maior que a de Lowry.

Além disso, o que vem funcionando muito bem é o banco de reservas. Com Lowry fazendo companhia a Cory Joseph, Terrence Ross, Patrick Patterson e Biyombo, temos um quinteto que vem sendo bastante produtivo, com um saldo de 29,4 pontos por 100 posses de bola. Essa é a quarta melhor marca do campeonato (para um mínimo de 20 jogos e 100 minutos), gente. Outro quinteto que rende bem tem Lowry-Joseph-Ross-Patterson-Valanciunas, mas com uma carga bem menor de minutos (63 contra 201 da outra equipe).

Os bons resultados, aliás, devem gerar um impasse para Casey. Se o time titular não tem rendido conforme o esperado, ao mesmo tempo seria complicado de mexer drasticamente na rotação, já que a segunda unidade tem dado tão certo. Daí que um retorno de Carroll seria providencial. Dependendo de seu estado físico, o veterano poderia ser reinserido naturalmente no lugar de Scola, e vida que seguisse. Se ele não puder jogar, porém, seria a solução estender os minutos de Patterson? Ele manteria sua eficiência com maior carga? Scola daria conta, pelo menos, dos minutos que sobram para a posição? Ou talvez você possa distribui-los entre James Johnson e Ross, com Johnson jogando mais perto do garrafão nesse caso.

Scola produz no ataque. Mas é um problema na defesa

Scola produz no ataque. Mas é um problema na defesa

Diante dessas dúvidas, o argumento por uma postura mais agressiva na busca por trocas ganha mais força. Outro  ponto a ser levado em conta, nesse raciocínio, é a entrada de DeRozan no mercado de agentes livres neste ano e a de Lowry no ano que vem. Os contratos da NBA são cada vez mais curtos, e o prazo de validade de um time competente fica reduzido na mesma medida. Qualquer elevação na produção desse time poderia empurrá-lo com tudo para cima do Cavs, independentemente do estado de espírito dos adversários.Isso, claro, se eles chegarem a esse embate. Por mais que tenham se fixado como o segundo principal time da conferência, não dá para encarar uma série com o Boston Celtics como uma barbada. Isso para não falar, de repente, de um confronto com o Atlanta Hawks logo de cara. Glup.

Num cenário ideal, supõe-se que o clube renove com DeRozan em julho, mesmo que isso os tire de ação no mercado, dando conta do teto salarial nas próximas duas temporadas. Deixar o ala-armador sair seria assumir um grande risco (estamos falando do terceiro jogador do clube em eficiência, com 23,1 pontos, 4,1 assistências, 4,3 rebotes, 6,9 lances livres por jogo e aproveitamento de 83,8%, 26 anos). Para ir atrás de Durant? É realista? Al Horford? Será concorrido. Dwight Howard? Não faz sentido. Há opções mais baratas, que poderiam atenuar uma perda e manter a flexibilidade para manobras. Mas há também como ficaria o relacionamento com a torcida? DeRozan é o Raptor mais longevo desse elenco e acabou de ser eleito All-Star.

Obviamente essas questões todas passam pela cabeça de Ujiri. Como ele mesmo disse a Zach Lowe, do ESPN.com: “Como você passa de bom para excelente na NBA? Isso é realmente muito difícil”. É complicado, mesmo. Cada negócio ou não-negócio tem uma ramificação. A diretoria preferiu apostar na continuidade do time e de seu projeto com os mais jovens. Basta mais uma série desastrada nos playoffs e nova eliminação na primeira rodada, porém, para que essa narrativa seja alterada drasticamente. Pensando no estágio em que o clube estava no início da década, esse tipo de problema não justifica lamúrias. São hipóteses também. Por enquanto, de concreto, o que temos é que o Raptors existe e precisa ser respeitado.

Torcida empolgada geral em Toronto. Querem mais nos playoffs

Torcida empolgada geral em Toronto. Querem mais nos playoffs

A pedida? Final de conferência. Ou, pelo menos, competitividade numa eventual semifinal contra Boston, Miami, Indiana etc. O certo é que chegar aos playoffs já não é o bastante mais. Uma terceira eliminação consecutiva na primeira rodada seria uma tremenda decepção e muito provavelmente poderia resultar na demissão de Dwane Casey, além de chacoalhar as estruturas superiores da franquia.

A gestão: Masai Ujiri é um dos executivos mais bem pagos da liga, por uma razão. Ou várias razões. O New York Knicks que o diga, depois de duas negociações (Carmelo vindo de Denver e Bargnani de Toronto) em que diferentes dirigentes foram rapelados pelo nigeriano. O cara  desfruta de tanta reputação na liga que seus pares deveriam ter receio de iniciar uma negociação com ele. Talvez venha daí, mesmo, a ausência de trocas por parte do Raptors. Vai saber.

O que Ujiri não nega é que, em seu projeto, houve também uma contribuição do acaso, ao tentar arrumar a bagunça deixada pelos últimos anos desesperados de Bryan Colangelo por lá – quando mandou Rudy Gay para Sacramento, jamais imaginaria que essa transação resultaria em uma (r)evolução imediata em seu time, rumo ao topo da conferência.

Claro que há uma contribuição estrutural nessa reformulação. O trabalho com os técnicos do Raptors ajudou DeRozan a virar a ameaça que representa hoje, realizando todo o seu potencial, mesmo que seu arremesso exterior ainda não desperte o horror nas defesas. Se Valanciunas e Ross vão progredir desta maneira, o time ficará em boas condições, uma vez que seus contratos foram firmados em um teto salarial muito mais baixo do que vem por aí nos próximos anos (subindo de US$ 63 milhões na temporada passada para algo em torno de US$ 110 milhões em 2018).

Caboclo: 13,8 pts, 5,8 reb, 1,6 blk, 1,6 ast e 39,1% de quadra pelo Raptors B

Caboclo: 13,8 pts, 5,8 reb, 1,6 blk, 1,6 ast e 39,1% de quadra pelo Raptors B

Ujiri foi promovido de scout gratuito do Orlando Magic no início da carreira a chefão em Toronto por conta de uma vasta rede de relacionamento, mas também pelo trabalho exaustivo na busca por talentos mundo afora, e a história da seleção de Bruno Caboclo, numa articulação (quase) confidencial, é um grande exemplo de sua visão como dirigente.

Naturalmente, o dirigente tratou de buscar atletas mais jovens e conseguiu formar um núcleo bastante homogêno. Tirando Luis Scola, de 1980, todos os outros 14 atletas da equipe nasceram entre 1986 (Lowry e Carroll) e 1995 (Caboclo). Boa parte deles tem a chance de se desenvolver lado a lado, em que pese a curta duração de seus contratos. O problema: Lowry é justamente o segundo mais velho. Agora em março, vai virar trintão. Sem o armador, como essa base se viraria?

A diretoria dos dinos tem de se perguntar o quanto isso tudo vai durar, considerando seu estilo de jogo. Lowry é hoje a grande estrela da turma, tendo se transformado no tipo de jogador que a franquia jamais conseguiu recrutar no mercado de agentes livres. Aliás, pelo contrário: a história diz que estrelas ou candidatos a estrela saem de Toronto rapidamente. Então a linha de questionamento continua: se o armador está no auge, será era a hora do ataque? É legal investir na garotada, mas quando eles serão promovidos para valer? E quantos deles?

Será que Caboclo e Bebê vão conseguir jogar para valer com Lowry no Raptors?

Será que Caboclo e Bebê vão conseguir jogar para valer com Lowry no Raptors?

O time atingiu um nível tão bom em quadra e tem uma rotação estabelecida que torna difícil o aproveitamento dos mais jovens. Ou, vamos colocar assim: mais inexperientes. O armador Delon Wright, irmão mais novo do ala Dorell, pode ser um novato, mas é dez dias mais velho que Valanciunas. Ambos chegarão aos 24 nesta temporada, assim como Lucas Bebê. O ala-armador Norman Powell vai completar 23. Bruno Caboclo é quem ainda pode ser tratado tranquilamente como o caçulinha. Só vai fazer 21 em setembro, pouco antes do próximo “training camp”.

Legal. É boa a base.

Mas com atletas que já estão, ou deveriam estar num estágio de desenvolvimento mais avançado. Preparados para assumir mais responsabilidades, exceção feita a Caboclo. Juntos, eles receberam apenas 476 minutos na temporada. Se fossem apenas um atleta, isso daria 8,2 minutos por partida, e isso só aconteceu devido a lesões de Valanciunas e Carroll, que liberaram boa parte dos 313 minutos de Bebê e Powell. Em suma: é D-League, ou fim da fila no banco de reservas. Se tudo der certo no time de cima, essa é uma condição que deve ser mantida por um bom tempo, a não ser que deem sinal de progresso nos treinos ou na liga menor.

No fim, como Ujiri vai aproveitar esses jogadores é o que pode definir seu trabalho.

Olho nele: Bismack Biyombo.

Biyombo, mas pode chamar de protetor de aro

Biyombo, mas pode chamar de protetor de aro

Se arrumar a defesa era uma prioridade do técnico Dwane Casey, a contratação do centro-africano foi uma dádiva. Se nenhum Rudy Gobert está disponível, se não havia muito espaço na folha salarial para investir pesado além de Carroll, conseguir Biyombo por menos de US$ 3 milhões foi também uma pechincha. Com baixa estatura, mas muita envergadura e força física, o pivô é uma alternativa perfeita a Valanciunas, contra pivôs mais ágeis. Sua verticalidade também funciona muito bem no novo sistema defensivo dos dinos, que tenta empurrar os atletas para o centro do garrafão, para chutes de média distância contestados pelo xerife da vez. Com Biyombo em quadra, fica mais difícil de achar a cesta: os oponentes fazem 5,6 pontos a menos por 100 posses de bola. Suas dificuldades ofensivas ainda o limitam no mercado, mas é provável que ele exerça sua cláusula – não é possível que ninguém lhe pague mais que que os US$ 2,9 milhões previstos em seu contrato. Troque Roy Hibbert por ele, e o Lakers teria um garrafão muito menos acolhedor, certamente, por exemplo.

vince-carter-dunk-elbowUm card do passado: Vince Carter. Muito óbvio? Pois é. Mas, do elenco da temporada 2000-01, a primeira e única vez em que o time venceu uma série de playoff, o então acrobático ala foi o único que sobrou na liga para contar história. Hoje não lembra em nada aquele cestinha de então, explosivo, com um conjunto de ataques enfáticos ao aro praticamente inigualável ou que, no mínimo, só permite que um Jordan, um Wilkins ou um Erving lhe façam companhia. Mas dá sua pequena, esporádica, mas honesta contribuição ao Memphis Grizzlies – o que é curioso, já que estamos falando da franquia que não teve tempo o suficiente para vingar em solo canadense, enquanto, no auge, ajudou o Raptors a se estabelecer comercialmente, enquanto ajudava o basquete a se popularizar por lá.

Para termos uma ideia do quanto valem os 15 anos que se passaram, vamos relembrar do que consistia a rotação do técnico Lenny Wilkens, então: Alvin Williams, Chris Childs, Dell Curry, Morris Peterson, Jerome Williams, Charles Oakley, Antonio Davis e Keon Clark. O último a se aposentar dessa leva toda foi Peterson, em 2011, aos 33, mas sem condições de entrar em quadra por OKC, depois de anos pouco produtivos, com muitas lesões, em New Orleans.

Naquela campanha, Carter tomou uma decisão que se tornaria extremamente controversa e, de certa forma, o empurraria anos mais tarde para fora de Toronto. Em plena semifinal de conferência com o Philadelphia 76ers de Allen Iverson, decidiu viajar para Chapel Hill para receber seu diploma universitário, por North Carolina. Precisamente no mesmo dia de um eletrizante Jogo 7, 20 de maio de 2001. A partida derradeira foi decidida apenas no último segundo, e com posse para o Raptors. Carter pediu a bola, fez a finta e foi para o chute. Deu aro, batendo na parte de trás. Tivesse acertado, seria uma jornada perfeita para qualquer marketeiro da liga: imagine só, você não só estava falando de um superastro em quadra como de um aluno comprometido. Mas não aconteceu, e, de modo inevitável no mundo esportivo, o ala passou a ser questionado com frequência. A equipe ainda voltou aos playoffs em 2002, mas caiu diante do emergente Detroit Pistons que ganharia o título dois anos depois. Seria ladeira abaixo a partir daí, e a amargura da torcida, as derrotas e um ressentimento retribuído por Carter resultaram numa troca do astro com o New Jersey Nets na temporada 2004-05.