Vinte Um

Arquivo : David Griffin

Após 12 anos, Varejão diz tchau para o Cavs. Qual o impacto da troca?
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Giancarlo Giampietro

Anderson Varejão, Cavs

A data final para trocas da temporada 2015-16 da NBA não teve o frenesi do ano passado. Ainda assim, durante a semana, entre terça e esta quinta-feira, mais da metade dos clubes esteve envolvidas em 12 negociações no total, com brasileiro envolvido. Para conferir todas as transações efetuadas, clique aqui. Abaixo, um apanhado do que aconteceu de mais importante. Hoje, vamos nos concentrar no adeus de Anderson Varejão ao Cleveland Cavaliers, certo? Nesta sexta, expandimos o assunto.

Entre os candidatos ao título, o Cavs foi o mais ativo, e de longe, como se esperava. Sobrou para o pivô capixaba, que foi envolvido em um negócio triplo com Orlando Magic (que mandou Channing Frye para Cleveland e recebeu uma escolha de Draft de segunda rodada e o ala-armador Jared Cunningham) e Portland Trail Blazers, sendo enviado para a o Noroeste dos Estados Unidos, para supostamente dar um alô a Damian Lillard. Mas não foi o caso. Ele foi dispensado imediatamente.

Antes de falar do Blazers, porém, vale falar sobre a saída do Cavs. Com 12 anos no clube de Ohio, o pivô era um dos jogadores há mais tempo vestindo uma só camisa. Somente Kobe, Dirk, o trio dourado de San Antonio, Wade e Haslem passaram mais temporadas que ele nessa condição. Por maior que tenha sido o número de lesões e questões médicas de Anderson nas últimas campanhas, o respeito que ele conquistou em Cleveland é dessas coisas únicas nestes dias. Deem uma espiada neste fórum (dica do Flávio Izhaki). Agora, esses torcedores não poderão mais fazer aquela zoeira na famigerada noite das perucas, com todo mundo cabeludo no ginásio – a não ser que a franquia decida fazer a promoção na noite em que o veterano revisitar a cidade.

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Mas como assim ser dispensado? Para um clube que se vê inesperadamente na briga por uma vaga nos playoffs do Oeste, Varejão poderia dar sua contribuição, nem que fosse como uma figura experiente de vestiário. Como um tutor que fosse – ainda que Chris Kaman já esteja por lá para isso. Pois, pensando em quadra, a verdade é que o jogo do brasileiro é uma incógnita hoje. Ele estava sendo pouco utilizado pelo Cavs. Não sabemos se era devido ao excesso de pivôs qualificados da equipe, ou se por ele não ser mais o mesmo, depois de uma lesão no tendão de Aquiles e de tanto desgaste. Ou por um pouco de um e do outro.

Em Portland, Varejão enfrentaria uma concorrência menos prestigiada, mas não são simples assim de se desmontar. Por um motivo: Terry Stotts elaborou uma rotação de grandalhões que se ajeitou bem, tendo Mason Plumlee e o promissor Noah Vonleh no quinteto titular e a dupla Ed Davis (sempre produtivo). Se arranjasse um espaço e produzisse, Anderson teria tudo para conquistar os fãs do Blazers, devido a sua entrega e seu carisma.

Para receber Varejão – e seu salário, de US$ 9,3 milhões na próxima temporada –,  o gerente geral Neil Olshey exigiu uma escolha de primeira rodada do Cavs, de 2018. Pouco? Pelo contrário, na NBA de hoje, a oportunidade de se contratar um jogador jovem e de salário baixo é muito atraente para a construção de um elenco. As escolhas, mesmo no escuro, valem muito na cabeça dos dirigentes. Para Olshey, o preço nem é tão salgado, na verdade, pois o clube tinha uma folha de pagamento tão barata que estava até mesmo abaixo do piso estabelecido pela liga. Se tivessem chegado ao final da campanha “devendo”, teriam de completar a diferença para o piso, dividindo esse montante entre todos do elenco. Isto é: o bilionário Paul Allen teria de assinar um cheque de qualquer maneira, independentemente da chegada e saída do brasileiro.

Varejão ficará disponível por um período de “waiver”, de três dias 48 horas. Dificilmente alguém vai abraçá-lo desta maneira, para não ter de arcar com o restante de seu contrato. Então é muito provável que ele vire um agente livre. A essa altura da carreira, talvez seja o melhor, mesmo. Poderá olhar para o mercado e procurar a melhor situação. Ou a situação que melhor se encaixe com seus objetivos.

Em tese, para um atleta de seu gabarito e rodagem na liga, o mais comum seria assinar com uma equipe com ambição de chegar bem aos playoffs e que também tenha uma vaga no elenco. Lembrando sempre: cada franquia só pode ter 15 jogadores sob contrato. Após a rodada de trocas, clubes como Clippers, Hawks (com a lacuna aberta pelo afastamento de Tiago Splitter, por ironia), Heat e Rockets se enquadram nessa condição. Assim como o Cavs, mas esqueçam um retorno imediato: a regra da NBA afirma que ele só poderia assinar um novato contrato com o clube daqui a seis meses um ano, segundo o acordo trabalhista da liga e a interpretação do especialista Larry Coon. Agora, se for para fechar com um time de ponta, será que ele teria tempo de quadra? Será que não se meteria na mesma situação que estava vivendo em Cleveland? O ideal seria aliar dois fatores: seguir em um time vencedor e ganhar ritmo para as Olimpíadas. Mas e se uma alternativa excluir a outra?

Rubén Magnano, sabemos, prefere que Varejão vá para quadra, que jogue, não importando onde, para ganhar ritmo. Por isso, já havia admitido ao UOL Esporte ter sugerido ao pivô – e a Huertas – que procurasse um novo clube. De alguma forma, teve seu pedido atendido. Mas o desfecho ainda não está 100% de acordo com os seus interesses. O argentino obviamente está com o radar ligado agora, ainda mais depois de ter perdido Splitter (uma baixa imensa para a seleção, em muitos sentidos, assunto o qual tentarei abordar no final de semana, mais em tom de reverência ao catarinense, com calma).

A NBA é assim: interfere, direta ou indiretamente, no cotidiano de seleções, e muito mais. São negócios, afinal, e Varejão foi lembrado a respeito, depois de ter sido adquirido pelo próprio Cavs em uma troca em 2004. Faz tempo. Desde então, marcou época, escoltando LeBron James ao período mais vitorioso do clube, se tornando imensamente popular na cidade. Agora a vida segue, e o capixaba tem decisões importantíssimas para tomar.

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Ele vai chegar para isto

Ele vai chegar para isto

Em tempo: Frye não é o mesmo jogador dos tempos de Phoenix Suns. Em Orlando, sem um armador que realmente chamasse a atenção no pick-and-roll, não conseguiu se encontrar. Não teve consistência. No conjunto da obra, também tem uma carreira inferior à do brasileiro, ao meu ver. Mas, hoje, é uma peça mais proveitosa para o Cavs, devido principalmente à habilidade para acertar os arremessos de longa distância. Sua presença em um quinteto com Love, LeBron, JR e Irving resultaria e estragos gravíssimos às defesas adversárias. E não é que contribua só com o chute: é bom defensor no post up, tem experiência e, segundo todos os relatos que ouvi, exerce excelente influência no vestiário, algo que só pode fazer bem ao time, como David Blatt pode sublinhar.

O Cavs sai ganhando tática e tecnicamente aqui, mesmo tendo pagado por uma peça complementar um preço caro, mas hoje irrelevante para um clube que só pensa, obsessivamente, no sucesso a curto prazo, enquanto LeBron ainda tem perna. Uma observação, no entanto, precisa ser feita em relação ao Warriors. Sempre o Warriors. Numa eventual revanche com Golden State, não sei muito bem como Frye poderia ser útil, uma vez que não poderia marcar de modo nenhum um jogador como Draymond Green, muito menos Andre Iguodala ou Harrison Barnes. Enfim. Por outro lado, a pergunta mais justa talvez seja: quem consegue marcá-los também? Se o adversário for o San Antonio, aí a coisa muda de figura. Antes, porém, precisam chegar lá, claro – mas é inegável que toda e qualquer decisão que a franquia toma nesta temporada tem como objetivo o título, ciente de que, nas finais, o desafio será muito maior. E, com Mozgov caminhando para o mercado de agentes livres, o veterano também serve como uma apólice de seguro.

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Atualizando nesta sexta de manhã: faltou mencionar que, com a troca, Cleveland poupa U$ 9,8 milhões entre salário e multas nesta temporada. É uma boa grana, mesmo para outro bilionário como Dan Gilbert. Vários clubes reduziram seus gastos nesta quinta, aliás.

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Por fim, declaração do gerente geral do Cavs, David Griffin, sobre Varejão, dizendo que foi difícil telefonar para o brasileiro: “Anderson é especial como jogador, companheiro e pessoa. Poucos jogadores conquistaram este respeito, apoio e admiração de toda uma organização, de sua torcida e da comunidade como Andy fez aqui. Tudo isso tornou esta negociação muito difícil de se fazer. Ao mesmo tempo, temos uma obrigação prfounda de fazer aquilo que podemos para alcançar nosso objetivo final, e acreditamos que este negócio melhora nossa equipe e nossa posição para o futuro também. Agradecemos a Andy por seu trabalho duro, dedicação e contribuições ao Cavaliers e nossa comunidade e desejamos a ele e sua mulher, Marcelle, o melhor, realmente o melhor”.

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Desnecessário dizer o quanto LeBron admirava Anderson? O brasileiro chegou a Cleveland apenas um ano depois de o ala ser selecionado como o grande Messias da franquia. Após a vitória sobre o Bulls nesta quinta-feira, o craque admitiu que ainda não havia conversado com o capixaba, porém. “Eu aposto que várias pessoas estão entrando em contato com ele agora. Vou deixar assim, não gosto de procurar imediatamente. Prefiro deixar cozinhar um pouco. Nossa amizade não precisa de uma mensagem de texto”, disse. “Você perde um irmão. Esta é a pior parte do negócio.”

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Um comentário sarcástico inevitável: se o Cavs despachou, num só dia, Varejão e Cunningham (que, segundo os setoristas do Cavs, foi adotado por LeBron nesta temporada), está claro que David Griffin tem autonomia total para conduzir o departamento de basquete e que o camisa 23 não apita nada. Agora não precisa mais de nenhuma prova nesse sentido.

Né?


Warriors detona mais um favorito. Os números da vitória sobre o Spurs
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Giancarlo Giampietro

O duas vezes MVP Curry. Ponto

O duas vezes MVP Curry. Ponto

LeBron James e David Blatt foram dormir nesta segunda-feira com a cabeça um pouco mais leve. Afinal, o Cleveland Cavaliers agora tem a companhia do San Antonio Spurs na lista de times que são evidentemente candidatos ao título, mas que tomaram uma surra do Golden State Warriors que dá a impressão inevitável que, dentro desta lista, o time californiano está em um grupo só seu.

Foi um atropelo desde o tapinha inicial, culminando numa vitória por 30 pontos de diferença, 120 a 90. De qualquer forma, assim como valeu para o Cavs, o discurso é o mesmo para o Spurs: na maratona que é a temporada regular, este foi apenas um jogo, mesmo-que-fosse-um-jogo-altamente-chamativo-com-todo-mundo-olhando.

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Também não dá para comparar exatamente o que se passou com os texanos com a surra tomada por Cleveland, quando um time jogou fora de casa e estava sem um de seus principais jogadores. Pois é: Kawhi Leonard é sem dúvida nenhuma hoje o principal atleta do Spurs, mas Tim Duncan ainda faz muita diferença, especialmente para a sua defesa, não importando que não seja ele aquele a tentar parar Stephen Curry na linha central da quadra. O cara iria comer poeira em uma outra posse de bola, mas também iria fechar espaços ao lado de LaMarcus, inibindo infiltrações, enquanto, no ataque, seria um ponto de estabilidade, dando mais uma referência interna e, principalmente, ajudando a distribuir a bola a partir da cabeça do garrafão, algo que fez falta num jogo de 25 turnovers para seu time.

O resultado poderia ser diferente? Talvez. Mas, dada a disparidade que vimos nesta segunda, pode ser que a diferença aqui signifique apenas uns 10 ou 12 pontos a menos no placar, se tanto, já que os titulares do Warriors nem foram para a quadra no quarto final.

O San Antonio da depressão. Raro de se ver

O San Antonio da depressão. Raro de se ver

Enfim, depois de uma paulada destas, nem mesmo a tão alardeada coleta de informações e impressões de Gregg Popovich faz muito sentido. Vai anotar o quê? Que o oponente é 30% melhor que o time dele? Que o Spurs não teve chance nenhuma? “Foi como se fosse homens contra garotos. Eles nos derrrotaram em todos os aspectos do jogo”, disse Pop. E mais: está muito cedo na temporada para tirar conclusões sobre seu time ou o adversário. Mas a frase mais Popovichiana da noite teve um ataque corrosivo em direção ao Cleveland e David Griffin na verdade: “Só estou feliz que meu gerente geral não estivesse no vestiário. Eu poderia ser demitido”, disse, numa referência clara ao discurso de Griffin na coletiva para justificar a chocante expurgação de David Blatt.

Decorre que, independentemente da intensidade da surra, o efeito não será o mesmo para o Spurs, se comparado com os LeBrons. A questão é a experiência e estabilidade geral da franquia e de seu elenco. O ambiente e o contexto são outros. Dãr, claro que o cargo de Popovich não está ameaçado – e Pop, além de poupar Duncan, pouco lançou Kawhi em direção ao Chef Curry, algo que, num eventual duelo de playoff, quando a corta apertar, vai acontecer sem dúvida. No grande tabuleiro, San Antonio sabe que tem de correr atrás de seu oponente, mas também entende muito bem que não foi o fim do mundo, que eles ainda têm o melhor saldo de pontos da história da liga a essa altura do campeonato, com a melhor defesa da temporada, com folgas. Eles têm bons argumentos para sonhar com um sexto título na era Duncan, mesmo que este saldo e a mesma defesa tenham sido destroçados em sua última derrota.

O quão feia foi a derrota? A ver:

120 – Foi a maior quantia de pontos que o Spurs sofreu nesta temporada, depois dos 112 que tomaram de OKC em sua primeira partida na temporada, perdendo por seis pontos de diferença, também fora de casa. Só dois dos três melhores times do Oeste para chegar a este patamar, mesmo. No geral, a poderosa defesa texana só levou mais de 100 pontos em 7 das suas 45 partidas até aqui. Em termos de eficiência, essa defesa leva apenas 94,0 pontos por 100 posses de bola, 4,6 a menos do que o Boston Celtics. Se for para comparar, os mesmos 4,6 pontos separam o Celtics do Dallas Mavericks, que é o 13º no ranking.

88 – Desde o início da temporada passada, em sua jornada rumo ao título, o Golden State não perdeu nenhuma das 88 partidas em que abriu uma vantagem de 15 pontos no placar. Para eles, não tem essa de altos e baixos num jogo.

37 – Foi o quanto Steph Curry fez contra uma defesa historicamente forte, em apenas 20 arremessos e 28 minutos de ação, redefinindo o significado de eficiência e espetáculo ofensivo. Foi o máximo de pontos que um jogador marcou contra o Spurs nesta temporada. Russell Westbrook havia anotado 33 pontos na noite de estreia. Ryan Anderson chegou aos 30 pontos.

15 – Curry tem agora 15 partidas com mais de 35 pontos na atual campanha, o recorde da liga. James Harden tem ‘apenas’ nove, enquanto Boogie Cousins tem oito, contando os 56 que marcou contra o Charlotte Hornets no verdadeiro grande jogo da véspera, a derrota dolorida para o Charlotte Hornets em dupla prorrogação, em casa. 🙂

39 – Vindo da campanha passada, o Warriors agora soma 39 triunfos consecutivos como anfitrião.

33 – As primeiras seis derrotas que o Spurs havia sofrido na temporada haviam totalizado um déficit de 33 pontos.

30 – Esta foi apenas a sétima vez desde 1997, quando draftou Timothy Theodore Duncan, em que San Antonio perdeu por uma diferença dessas. Nesta temporada, a maior derrota que San Antonio havia sofrido até agora havia acontecido no dia 20 de novembro, em Nova Orleans, por 104 a 90. Menos que o dobro da desvantagem desta segunda-feira.

26,75 – O Golden State venceu seus últimos jogos por 107 pontos de vantagem, ou 26,75 por partida. Se o Indiana Pacers perdeu só por 12, Cavs, Bulls e Spurs foram humilhados. Em oito dias, os atuais campeões impuseram a essas equipes suas piores derrotas na temporada.

Leonard não causou tanto impacto. Mas pouco ficou com Curry

Leonard não causou tanto impacto. Mas pouco ficou com Curry

15 – Quando um dos Splash Brothers marca 15 pontos (ou mais) no primeiro quarto, os caras vencem. Já foram 12 triunfos neste campeonato nessas condições. Curry chegou ao seu 15º ponto a três segundos do fim da parcial, recebendo passe de Andre Iguodala. Parece um dado besta? Mas pense na confiança que o time não ganha quando as coisas começam desta maneira. Não só isso: do ponto de vista da tática, também fica mais fácil para o time como um todo, já que o adversário tem de se preocupar mais com um jogador em específico.

13,5 – O Spurs ainda sustenta, de qualquer forma, o melhor saldo de pontos da liga, contra 12,5 do Warriors. Nunca um time da NBA chegou a esta fase da temporada com uma conta dessas, e as estatísticas mostram que este é um dos tipos de números mais associados a equipes que almejam o título.

13 – Lembremos que o Spurs vinha de 13 triunfos consecutivos até desembarcar em Oakland.

3 – Foi a terceira vez nesta temporada em que Curry marcou 30 pontos em menos de 30 minutos. Ale acerto 12 de 20 arremessos, 6 em 9 de fora, além de todos os seus sete lances livres. Além disso, conseguiu cinco roubos de bola, vários deles no primeiro quarto, num abafa defensivo que desestabilizou o ataque dos visitantes. MVP x 2.

1 – Os jogadores do Warriors erraram apenas um arremesso em dez tentativas quando Kawhi Leonard era o defensor direto. Foi aproveitamento de 90%, impressionante. Por outro lado, foram apenas dez arremessos contra Leonard durante os 25 minutos em que temível ala esteve em quadra. Isso tem a ver com a péssima noite de Harrison Barnes, com quem ele iniciou a partida, mas também com o respeito que o melhor defensor da temporada passada pede.

PS: Número extraoficial, mas estima-se que 200 milhões de vines tenham sido produzidos desde a noite de segunda-feira:



Polêmica demissão de Blatt só aumenta a pressão em cima de LeBron e Cavs
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Giancarlo Giampietro

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Silas, Malone, Brown e, agora, Blatt: todos caíram no Cavs de LeBron

A temporada era 1981-83, e o Los Angeles Lakers havia vencido sete de seus 11 primeiros jogos, elevando seu recorde pessoal para 111 triunfos contra 50 derrotas, com direito a um título. Em quadra e no vestiário, porém, não havia alegria nenhuma. O elenco liderado por Kareem Abdul-Jabbar estava se arrastando num ritmo modorrento, entediado e frustrado com o pulso rígido do técnico Paul Westhead. Nada de showtime.

Em sua terceira campanha pela liga, já considerado uma estrela, Earvin “Magic” Johnson veio, então, a público num belo dia para dizer que não aguentava mais o professor, e que para ele já havia dado: queria que o clube californiano o trocasse. (E imaginem se tivesse sido atendido?)

Coincidentemente, no mesmo dia, o proprietário Jerry Buss anunciou que a era Westhead havia chegado ao fim. Difícil não associar a decisão ao ultimato do armador, por mais que o célebre e falecido proprietário negasse. “A ironia é que eu já havia decidido demiti-lo, e o Magic acabou dando azar de ter falado aquilo. Mas não acho que ninguém vai acreditar nisso”, afirmou.

E quem assumiria o cargo? Seu principal assistente, um certo Pat Riley.

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Tudo isso para dizer que LeBron James não foi o primeiro craque a fritar seu treinador, nem será o último. Isso é rotineiro na NBA. Mas, que suas ações levaram à queda do treinador, acho que não há o que se discutir, por mais que ele e o gerente geral David Griffin digam o contrário, e que alguns veículos de mídia americanos façam coro a eles, tentando amenizar o impacto causado pela demissão de um cara que venceu a Conferência Leste no ano passado, a despeito de tantas lesões relevantes e da chegada de novas peças durante a jornada. O mesmo cara que novamente superou alguns desfalques na primeira metade desta temporada, liderando a terceira melhor campanha da liga, com o time aparecendo na lista dos sete ataques e defesas mais eficientes. O tipo de currículo que torna a decisão da franquia um tanto chocante, por mais que, em Cleveland, muitos já estivessem preparados para tal desfecho.

Apurar se LeBron foi, ou não, informado sobre a demissão desta sexta-feira, aliás, é perda de tempo das mais tolas. Não havia razão para Griffin consultar o astro – ele já sabia qual seria a resposta. A má vontade de LeBron para com Blatt está foi muito bem documentada, de modo que esse tremendo esforço de última hora limpar sua barra soa inútil.

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Aliás, segundo relatos dessa mesma campanha de blindagem, LeBron desde o princípio se mostrou muito pouco receptivo ao treinador, sem o acolher ou ajudar em sua adaptação ao clube e uma nova liga. Pelo contrário. Frases como “Blatt nunca teve chance” também foram escritas a esmo nessas últimas 24 horas. Adrian Wojnarowski publica que o jogador e seu agente/sócio, Rich Paul, queriam a contratação de Mark Jackson. A diretoria disse que seria impossível. E aí que Tyronn Lue virou a solução para dupla. Tudo, menos Blatt.

O que tem sido dito, porém, é que o descontentamento com Blatt não se limitava ao camisa 23.  Tudo leva a crer que, sim, o técnico estava com o filme queimado – com quantos e quem, exatamente, é o que não vamos saber. Agora, só não dá para negar que a postura de LeBron obviamente exerceu forte influência para tanto. Se um cara de sua estatura não é receptivo, fica muito mais fácil para os demais peitarem o técnico. Natural até.

Não que o treinador tenha sido mera vítima e que não tenha contribuído para o motim com algumas atitudes um pouco tolas. Como, na ocasião de sua primeira vitória pelo Cavs, quando mal comemorou com os atletas, estragando a festa deles, dizendo que, caras, tipo, já tinha centenas de triunfos em seu currículo. Ok, ele é realmente um dos profissionais mais vencedores da modalidade, mas, para todos efeitos, para o mundo da NBA, ainda era um calouro. A intenção dos jogadores não era de provocá-lo ou ofendê-lo, nesse caso. Quanta simpatia, né?

Blatt teria perdido o elenco, diz Haywood

Blatt teria perdido o elenco, diz Haywood

Anderson Varejão foi um dos que teve de lidar com a insensibilidade do técnico, segundo o “ESPN.com”. Recuperando-se de uma lesão no tendão de Aquiles, o brasileiro estava disposto a retornar ao time para a série final contra o Golden State Warriors. A diretoria achou que não era o caso. A decisão estava tomada. Quando questionado em uma coletiva, todavia, Blatt não disse que sim, nem  que não, mexendo com os ânimos de todos.

Outro ponto que causava bastante incômodo seria a condescendência de Blatt com LeBron, Kyrie Irving ou Kevin Love, protegendo as celebridades em coletivos e sessões de análise de vídeo. Os mimos aos astros não pegavam bem com o restante do elenco: seria traços de covardia e injustiça por parte do treinador. O agora promovido Tyronn Lue, dizem, se via obrigado a interferir e cobrar as estrelas, na tentativa de apaziguar os ânimos. Mas a relação já estava estremecida demais, algo que Griffin, em seu duro discurso nesta sexta-feira, deixou claro.

“Eu vi os jogadores interagindo entre eles por um longo tempo, em diversas circunstâncias. Sei quando uma coisa não está certa, e acho que tomei a decisão correta. Vou ao vestiário muitas vezes. Falta espírito ali. Nossa campanha de 30-11 foi com uma tabela relativamente fácil. Faltava conectividade do técnico com o time. Falta identidade ao time, que deu dois passos para a frente e um para trás. Quando temos clareza no que queremos como franquia, essas decisões acabam sendo tomadas por conta própria. Não vou deixar um time que tem uma folha salarial sem precedentes  à deriva”, afirmou.

Precisa de ajuda? "Não".

Precisa de ajuda? “Não”.

A inexperiência de Blatt em particularidades da liga também teria chamado a atenção de alguns veteranos, como quando pediu tempo no finalzinho do quarto jogo da série contra o Bulls nos playoffs do ano passado e, por sorte, foi ignorado pela arbitragem. O Cavs já havia esgotado sua cota e, caso percebida, a ação do treinador teria resultado em uma falta técnica. A chance era grande, então, que Chicago abrisse uma vantagem de 3 a 1. Esse tipo de falha teria acontecido seguidas vezes, gerando mais desconfiança no elenco.

O que não dá para acreditar, porém, é que David Blatt fosse um tremendo de um incompetente e que todo o sucesso do time se explicasse pelo talento de LeBron. Nessa campanha de difamação de um e proteção do outro, chegou-se ao cúmulo de fontes anônimas dizerem que o técnico simplesmente não sabia desenhar jogadas na prancheta durante pedidos de tempo. Em entrevista à rádio “Sirius XM”, o pivô Brendan Haywood, reservão do time no campeonato passado e agora aposentado, se sentindo livre para falar o que bem entender, confirmou esse problema. Disse também que o comandante não entendia os padrões de substituição da liga e que cometia “erros óbvios”. Hã… Sinceramente, dá para acreditar nessa? Estamos realmente falando do mesmo técnico cujo Maccabi Tel Aviv ganhou, em 2015, de CSKA Moscou e Real Madrid com um elenco absolutamente inferior? O mesmo que levou a Rússia o bronze olímpico em Londres 2012, derrotando a fraquinha e inexperiente Argentina na disputa pelo terceiro lugar? Enfim…

Até mesmo quando tentam defender Blatt,  seus críticos o tratam com desrespeito. Dizem que Blatt não foi contratado, a princípio, para conduzir um elenco pesado como este, que o título não estava em pauta, antes de saberem que LeBron queria, mesmo, voltar. É um fato, mas esse pensamento já manifesta uma condescendência que beira o ridículo. Algo como: “Coitadinho, não era para ele”. Falando isso de um técnico que ficou a duas vitórias do título em sua primeira campanha pela liga. Ele teve muitos acertos como estrategista. Por mais exuberante que tenha sido LeBron, ele realmente fez tudo sozinho? E o que dizer da boa campanha atual, a despeito da ausência de Irving e Iman Shumpert no início? Seu único tropeço mais custoso foi não ter integrado Love de um modo mais orgânico ao sistema ofensivo – agora, o quanto se pode julgá-lo por isso é uma questão: afinal, se era LeBron quem estava no comando… Não seria tarefa dele? Não dá para dizer que tudo de positivo do plano tático e técnico passa pelo jogador, enquanto a Blatt sobrariam apenas as críticas.

David Griffin chamou a responsabilidade

David Griffin chamou a responsabilidade

Em sua coletiva, Griffin não questionou de modo algum o conhecimento de jogo do demitido. Não há como – a sacolada que a equipe tomou do Warriors na segunda-feira não foi, diz, decisiva para sua decisão. E nem deveria ser: em confrontos anteriores com Golden State e San Antonio, as derrotas foram, respectivamente, por seis e quatro pontos. Não foi a bola que derrubou Blatt. No entanto, a política no vestiário é parte integral da profissão, tão ou mais importante que o riscado, ainda mais numa liga como a NBA, cujos atletas são paparicados desde sempre. Faltou mais jogo de cintura, tato e carisma para Blatt. Características que, ao que parece, sobram para Tyronn Lue.

O baixotinho que levou um baile de Allen Iverson nas finais de 2001, mas que teria longa carreira, agora é, aos 38 anos, o técnico mais jovem da liga. Respeitado no vestiário, constantemente elogiado até mesmo por Blatt, que teria dado a ele o crédito pela fortíssima defesa que o time apresentou nos playoffs de 2015. Uma generosidade que, neste sábado, não foi correspondida por seu antigo subordinado. Repórteres lhe perguntaram o que ele faria de diferente agora que está no comando. Respondeu que diferente não era o termo que ele usaria, mas, sim, que faria “melhor”. Muito elegante o sujeito que, para constar, na reportagem de Wojnarowski, foi retratado como um fiel assistente, que teria feito de tudo para defender Blatt diante do assédio de LeBron e Paul.

Lue pode ser jovem, mas, em termos de NBA, é muito mais calejado que o antecessor. Sabe muito bem o que está em jogo. Que, para o Cavs, é título, ou nada. Título, ou fiasco, e a pressão só aumenta com a demissão de um treinador com aproveitamento de 67,5% (83 vitórias e 40 derrotas) no total e que contava, aparentemente, com apoio da torcida do Cavs. Sabe provavelmente também que será o quinto treinador do time em nove temporadas com LeBron. É um clube de gestão instável, no mínimo – não dá para deixar o proprietário Dan Gilbert distante dessa confusão toda. O chefão, por sinal, era o principal defensor de Blatt e teve de ser convencido por Griffin que a demissão era a melhor solução na tentativa de desbancar o Warriors (ou, claro, o Spurs). Existe ainda a noção de que, removendo Blatt, ele também estaria eliminando uma eventual desculpa para os jogadores em caso de derrota nos mata-matas.

Agora é com ele

Agora é com ele

Daí que não deixa de ser uma ironia que, na mesma noite em que Steve Kerr fez sua estreia na temporada, Blatt acabou demitido. E é uma coincidência que diz muito – os líderes de cada conferência não poderiam ser mais diferentes hoje. Caos x harmonia. Intrigas, traições, imposições x diálogo franco, aberto e constante. Nuvens carregadas x céu aberto. Griffin afirma que demitiu seu treinador em busca dessa sensação de unidade. Mas isso não é algo que se constrói com uma só ação. Não depende apenas de Blatt, e não vai depender só de Lue, embora todo técnico seja uma figura primordial na hora de buscar essa química.

Em 1982, quando Westhead caiu, começou a carreira de um dos maiores treinadores que a NBA já viu. Riley, aquele que, como presidente do Miami Heat, cerceava toda a ambição de LeBron, colocou o Lakers para correr, tal como Magic queria, e deu certo. O resto é história. O time alcançou a final e foi campeão, batendo o Philadelphia 76ers de Julius Erving. Até o ano passado, ele era o único técnico a ser campeão logo em seu ano de estreia. Kerr repetiu a façanha, e David Blatt chegou perto. Numa aposta de risco, o Cavs espera que Tyronn Lue aumente a lista.


Jukebox NBA 2015-16: Cavs, LeBron e os Beatles
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Giancarlo Giampietro

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Vamos lá: a temporada da NBA se aproxima rapidamente, e o blog inicia sua série prévia sobre o que esperar das 30 franquias da liga. É provável que o pacote invada o calendário oficial de jogos, mas tudo bem, né? Afinal, já aconteceu no ano passado. Para este campeonato, me esbaldo com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que sempre acho divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Golden Slumbers/Carry That Weight/The End/Her Majesty”, por eles, The Beatles

Por quê? Antes de mais nada, o blog já se defende de possíveis críticas de que tenha roubado aqui ao escolher quatro faixas para escrever sobre o Cavs, em vez de uma. Mas, calma lá, campeão: é simplesmente ouvir o trecho final de “Abbey Road” e separar uma da outra. Este é um medley de verdade, uma jam session feita para ser ouvido de uma vez. E o título de cada faixa se encaixa quase que perfeitamente para a História do Reencontro do (Autodenominado) Rei e seus Cavaleiros. Só precisa de uma adaptação.

Primeiro lidamos com os os sonhos dourados de LeBron. “Uma vez havia um caminho de retornar para casa”, canta Paul McCartney com leveza, como se fosse um cantiga de ninar. “Os sorrisos acordam quando você se ergue”, também diz. Depois, os Beatles vêm num coro opressor: ah, é? Voltou, mesmo!? Então vai ter de “carregar aquele peso por um tempão“. É, garoto, um peso, e tanto.  Aí que estamos chegando ao fim, como o jogador sabe, como o time sabe. Macca avisa: “E no fim, o amor que você toma é igual ao amor que você faz”. Não pensem em impurezas, meninos, mas na relação de adoração de Ohio/Cleveland ao prodígio, e o que ele pode dar em troca. Para fechar, aí a gente troca o “her” por “him”, embora em português fique tudo na mesma: “Sua Majestade“, o Rei, e não a Rainha, e como cortejá-lo.

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Vai… tem tudo a ver, né? Para além da solenidade que foram as últimas gravações dos Beatles em 1969. Pois tudo o que se passa em Cleveland nesses dias gira em torno de LeBron. De maneira justa, ou não, ele tenta tomar o clube de refém, com o proprietário Dan Gilbert e o gerente geral David Griffin oferecendo resistência pontual aqui (David Blatt infernizado pelo astro) e ali (as negociações arrastadas e ridículas com Tristan Thompson). Agindo desta maneira, pressionando a franquia via redes sociais, e tudo, retomo o que já escrevi em relação ao campeonato passado: enquanto agir desta forma, LeBron vai ter de arcar com as consequências. Se ele quer ser o Rei, déspota, vai ter de se responsabilizar pelo que acontece no final. Se o Cavs perdeu para o Warriors, foi ele que perdeu. Pois não dá para interferir na função dos outros, em algo que não lhe compete, e, no final, com mais um vice-campeonato no currículo, culpar os Deuses ou a família Gilbert.

A pedida: vice-campeonato da Divisão Central!

(“Ha!”, expressaria o Mallandro.)

Cavs, campeão do Leste: muito pouco para Gilbert e LBJ

Cavs, campeão do Leste: muito pouco para Gilbert e LBJ

É título ou nada para os LeBrons, claro. Já poderia ter acontecido no campeonato passado, não fosse a derrocada física do time nos mata-matas, por lances de azar, como o golpe de Kelly Olynyk em Kevin Love e a fratura no joelho de Kyrie Irving durante as finais. A tendência é falar que eles levariam. Mas, com as duas estrelas em forma, talvez o sistema utilizado por Blatt (ou LeBron…) seria diferente. A dinâmica da série seria outra, então vai saber.

Fato é que, com a atual formação, eles têm time para acabar com a maldição de Cleveland. O elenco é balanceado e tem arremesso, bons defensores no perímetro e uma coleção de pivôs para marretar o adversário, mesmo sem Thompson, sejá lá quando a diretoria e a turma de LBJ vá resolver isso.

A negociação com o pivô canadense pode dizer muito sobre o time. Não necessariamente devido aos seus talentos, mesmo que ele seja um defensor extremamente valioso por sua capacidade para frear armadores no pick-and-roll e que também represente um pesadelo no ataque aos rebotes ofensivos. Daí a pedir US$ 94 milhões por cinco anos de contrato (ou o equivalente a essa quantia em três anos), mesmo na nova economia bombada da NBA, é se colocar para além da fronteira do absurdo.

A franquia e o jogador ficam num impasse curioso. Da parte do jogador, se mantiver a pedida, ele e sua agência (que, na prática, gente, tem LeBron como sócio) vão simplesmente ter de torcer para que as coisas no Cavs deem errado, seja pelo acúmulo de reveses ou lesões. Para constar, Mozgov está voltando de cirurgia recente no joelho, Varejão ainda precisa tirar a ferrugem vindo de uma no tendão de Aquiles e mesmo Love também está nos últimos estágios para retornar de operação no ombro. Ah, sim, e Kyrie Irving e Iman Shumpert ainda não têm data prevista para retorno.

Bem legal, não?

Get it done!!!! Straight up. #MissMyBrother @realtristan13

Uma foto publicada por LeBron James (@kingjames) em

Se essa situação se arrastar por mais algumas semanas e o time sofrer em quadra devido aos desfalques, então a diretoria poderia se sentir pressionada a arrefecer nas conversas e dar ao outro lado o que eles pedem, que é uma demanda ridícula. Ou isso, ou Thompson vai ficar o ano inteiro parado, perder alguns milhões para já e voltar ao mercado do ano que vem como agente livre… Mas novamente restrito, com sua cotação muito provavelmente avariada.

Da parte da franquia, existe sempre o risco LeBron. O craque vai continuar pressionando? Seria ele capaz de “entregar” jogos para ajudar seu amigo e cliente? Talvez seja um exagero até mesmo cogitar isso, mas, nos bastidores, o quanto de escarcéu ele poderia fazer? E o restante do time? Conseguiriam ficar alheios ao tumulto? Aqui, de primeira, vejo esse lenga-lenga como a principal – e talvez única – ameaça ao Cavs no Leste.

Em termos de apostas, imaginar o Cleveland campeão da conferência é aquela mais chega perto de uma barbada.  O Atlanta tem um grande desafio que é replicar a química da temporada passada, enquanto confere se é possível jogar desta forma com uma linha de frente mais alta e pesada. O Chicago passa por alterações muito mais drásticas em seu sistema. Para mim, dependendo desses ajustes, seriam os únicos candidatos a aprontar. De resto… o Washington não tem artilharia para aprontar nesse nível, assim como o Toronto Raptors ou os emergentes Boston Celtics e Milwaukee Bucks.

LeBron, é tudo dele

LeBron, é tudo dele

Então creio que ficamos nisso: o maior inimigo do Cavs em sua conferência pode ser seus bastidores, com a relação entre LeBron e Blatt também merecendo atenção.

A gestão: tentando se estabelecer. Aqui, as coisas vão depender muito do comportamento de LeBron e de como Dan Gilbert vai reagir a isso. David Griffin mostrou na temporada passada que, mesmo sob grande pressão, é um grande negociador, fazendo valer os elogios que recebia dos companheiros quando era assistente de Colangelo e Kerr em Phoenix. As trocas que fechou no meio da temporada, com o aval do craque, diga-se, salvaram o time e deram a Blatt mais matéria-prima com que trabalhar, para além do trio de astros e dos amiguinhos do Rei. O processo continuou este ano com a adição de Kaun (excelente finalizador próximo ao aro, forte toda a vida, bom patrulheiro de garrafão, para compor uma rotação russa de pivôs gigantes), Richard Jefferson (experiência, chutes da zona morta e versatilidade num corpo ainda mais ativo que o de James Jones) e, principalmente, Mo Williams (num papel reduzido, vindo do banco de reservas, como lhe cai bem, ao mesmo tempo que serve como uma apólice parcial de seguro para as lesões de Irving).

Inseguro ou ultrajado, Blatt se comportou de modo arrogante em alguns momentos da temporada passada, embora isso deva ser minimizado devido ao contexto ao seu redor. A contratação de LeBron jogou pressão para cima do técnico desde o início e é complicado de se estabelecer um relacionamento com um astro dessa magnitude. Por outro lado, nos playoffs, depois de ser salvo por Tyronn Lue com um pedido de tempo que poderia ser desastroso na série contra Chicago, o treinador deu seguidas provas de como pode ser uma peça valiosa para o time, até que a virada que o Cavs sofreu na final voltou a suscitar relatos preocupantes sobre como ainda estaria sendo destratado pelo seu principal jogador.

O brasileiro: Anderson Varejão só quer uma coisa: ficar saudável e poder completar uma temporada, ou pelo menos chegar à marca de 70 partidas pela primeira vez desde… 2011. São muitas lesões desde, então, o que é a pior coisa que pode acontecer para um atleta. O Cavs, em teoria, mesmo sem Thompson, estaria coberto dessa vez para inserir o pivô aos poucos em sua rotação e preservá-lo para a hora que importa – um controle de minutos, abaixo de 20 por partida, talvez fosse o mais recomendável. O duro é que, no início de campanha, com Thompson fora e a dupla titular em fase de reabilitação, pode ser que seus serviços já sejam exigidos.

Kevin Love, agora de bem com a vida e tudo o mais?

Kevin Love, agora de bem com a vida e tudo o mais?

Olho nele: Kevin Love. Se formos comparar sua produção com a dos tempos de Minnesota, obviamente sua primeira temporada em Cleveland foi inferior. Mas, como terceira opção no ataque, isso era mais que esperado. De qualquer forma, Blatt, LeBron e Irving reconhecem que os diversos talentos do ala-pivô (como referência no garrafão, reboteiro ofensivo e passador a partir do poste alto) não foram aproveitados na medida da certa, com o jogo muito focado nas jogadas de pick-and-roll com os outros dois astros. Ele tem agora um contrato polpudo (U$ 110 milhões por cinco anos) e gente empenhada para que seu jogo se encaixe e deixe a equipe ainda mais perigosa. Quanto melhor ele jogar e quanto mais isso durar, pior fica a situação de Tristan Thompson como agente livre. Com o time completo, tendo Love ao lado de LeBron e Mozgov na linha de frente, simplesmente não sobram tantos minutos para o ala-pivô canadense.

Daniel Gibson, Cleveland, card, 2007Um card do passado: Larry Hughes. Da primeira vez em que LeBron chegou a uma final de NBA pelo Cavs, em 2007, o segundo jogador que mais acumulou minutos em média nos playoffs pela equipe foi o ala-armador draftado pelo Philadelphia 76ers. O cara que havia sido contratado por Danny Ferry para ser o principal comparsa do então jovem astro de 22 anos no perímetro, embora não fosse um bom arremessador de longa distância e precisasse tanto da bola como LBJ para produzir. A passagem do ala por Cleveland não deixou saudade nenhuma, com o arrependido gerente geral se desfazendo de seu contrato assim que pôde, logo na temporada seguinte.

Tudo isso para dizer que, agora veterano, se os acidentes da campanha passada não se repetirem, James tem muito mais ajuda ao seu lado para tentar conquistar o terceiro anel de campeão e dar o troféu pela primeira vez ao clube. Com todo o respeito a Zydrunas Ilgauskas, Drew Gooden, Sasha Pavlovic, Damon Jones, Eric Snow e Boobie Gibson.


Cavs desfalcado pede ajuda aos amigos de LeBron
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Giancarlo Giampietro

Visão de dirigente de LeBron vai ser testada

Visão de dirigente de LeBron vai ser testada

LeBron James tinha um plano, desde o início. Se era virar as costas para um Dwyane Wade em frangalhos, para os arremessos de Chris Bosh e uma liderança como Pat Riley, que fosse para um clube em que pudesse dar as cartas – se não todas elas, mas grande parte do baralho. Se pudesse ser em casa, quanto melhor.

Quando o Rei decide retomar suas raízes, nem toda a ingenuidade de Cleveland vai poder confiar que fosse por mero sentimentalismo e apego a crenças locais. Isso pode até ter influenciado em todo o processo, mas um cara tão inteligente e ambicioso como LeBron não vai seguir um rumo porque o coração mandou. Assim como faz em quadra, sua versão homem de negócios avalia tudo o que está ao seu redor nos mínimos detalhes antes de tomar qualquer, na falta de melhor termo, decisão.

A maior prova disso é sua própria carta publicada na Sports Illustrated, comunicando ao povo de South Beach que estava retornando com os seus talentos para Ohio. Lá, deixou claro que Andrew Wiggins e Anthony Bennett não faziam parte de seus planos, abrindo caminho para a negociação por Kevin Love. O ala exigia um sacrifício do futuro por parte da franquia para instaurar seu reinado imediato. Sabemos o que aconteceu.

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Pois agora Kevin Love está fora de ação. Oficialmente, no caso – uma vez que não possamos dizer que o ala-pivô estava 100% presente de corpo e alma durante uma temporada cheia de pequenos incidentes que, quando agrupados, pintavam um cenário no qual sua saída de Cleveland, como agente livre, era realmente possível. Ninguém sabe ao certo mais depois da cirurgia no ombro esquerdo que vai tirá-lo das quadras por até seis meses.

O que sabemos é que, sem Love, LeBron e todos os seus chapinhas vão ter de realmente jogar muito para combater o Chicago Bulls nas semifinais do Leste. Talvez seja injusto com David Griffin, o gerente geral que merece o prêmio de Executivo do Ano pelo simples fato de ter tornado possível a volta do superastro e ainda realizou duas excelentes trocas em meio a um momento de crise. Mas é notório que algumas contratações do Cavs foram, digamos, sugeridas por James.

Espera-se alguma coisa, qualquer coisa da dupla acima

Espera-se alguma coisa, qualquer coisa da dupla acima. Ambos com 34 anos

Sim, estamos falando de Mike Miller e James Jones, além de, em menor escala, Shawn Marion – que não é dos amigos íntimos, nem nada disso, mas foi recrutado pessoalmente pelo craque. Ainda mais com JR Smith suspenso das duas primeiras partidas em Cleveland, esses veteranos precisam dar alguma contribuição para o Cavs. Mesmo que David Blatt opte por usar Timofey Mozgov e Tristan Thompson ao mesmo tempo e por longos minutos. Mesmo com minutos elevados para LeBron e Irving, que já tiveram, respectivamente, 43,0 e 40,5 minutos contra o Boston Celtics. Love e Smith acumularam mais de 53 minutos em média, que precisam ser absorvidos por alguém.

“A margem de erro contra o Celtics era tamanha que eles poderiam jogar num nível C, que tudo bem. Mas agora essa margem diminuiu consideravelmente. Contra o Bulls, não vai dar nem mais o B”, afirmou o jornalista Brian Windhorst, do ESPN.com, em podcast com Bill Simmons, editor-chefe do Grantland. Windhorst não está mais 100% dedicado ao dia a dia do Cavs, mas é um dos repórteres mais bem conectados dentro da franquia – e também com o círculo mais íntimo de LeBron. Acompanha o ala desde sua adolescência.

Windhorst depois mencionou a necessidade de pelo menos um integrante desse trio parada dura jogar bem em jogos isolados. Tipo: se Jones for bem na primeira partida, Marion, na segunda e Miller, na terceira. Para darem mais opções a David Blatt. Do contrário, as coisas podem se complicar. O técnico também adiciona Kendrick Perkins a essa lista. “Caras que estão no banco e não estavam jogando muito, com Shawn, Mike e Perk, precisam obviamente estar prontos para jogar mais minutos, e sei que eles vão fazer isso por serem profissionais e terem experiência e por terem estado em situações vitoriosas antes”, afirmou.

De fato, são todos trintões com muita bagagem e histórias para contar e que já foram campeões em diferentes momentos de suas carreiras. Estão habituados a momentos de pressão. Blatt (e LeBron) têm de se apegar a esse conceito, mesmo, para contar com os veteranos. Já que, em termos de atividade em quadra, a produção foi praticamente nula durante a temporada.

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Mesmo no caso de uma projeção estatística por 36 minutos, as coisas não melhoram muito. Na maior parte do tempo, os quatro jogaram mais como aposentados do que como peças importantes num time de playoff. Para não falar das dificuldades de Jones e Miller na defesa e as trapalhadas de Perk no ataque, cometendo turnovers sem parar (32,1% das posses de bola na qual foi envolvido). Contra o Celtics, Miller não teve um minuto sequer de ação, enquanto Marion e Perk somaram sete. Jones foi o único que jogou regularmente, com 46 minutos em quatro partidas, acertando apenas 2 de 11 arremessos de três (a especialidade de sua carreira).

Não que seus contratos tenham sido completamente equivocados. Faz bem uma presença reconfortante no vestiário, ainda mais no caso do Cavs, que seria o time mais visado/badalado/atacado/pressionado do campeonato. Não é por acaso que, ao checar o plantel do hegemônico Chicago Bulls de Phil Jackson (e Jerry Krause…), vamos encontrar verdadeiros anciões como James Edwards em 1996, aos 40, acompanhado por John Salley e Jack Haley, e Robert Parish em 97, aos 43. Mas nenhum desses pivôs velhacos teria um papel relevante em quadra. Bem diferente do que se espera em Cleveland agora.

Bicampeão com Miami e um dos melhores amigos de LBJ, James Jones está confiante. Ou mais ou menos confiante: “Uma parte essencial de nosso time foi subtraída, mas acho que temos o suficiente e nós sabemos que temos o suficiente. Então vamos jogar, competir. No final do dia, é questão de dar nosso melhor e esperar que esse melhor seja o bastante”, diz o ala

Essa incerteza gera um suspense tático para lá de intrigante – e deve até mesmo dificultar a vida dos técnicos de Chicago em um primeiro momento. Na hora de preparar o scout da série, eles vão precisar se ater com cuidado aos reduzidos minutos em que Kevin Love – e Smith – estavam no banco e tentar tirar conclusões a partir daí.

Mike Miller teve algumas grandes partidas pelo Miami e pelo Memphis nos playoffs. Conseguirá replicá-las?

Mike Miller teve algumas grandes partidas pelo Miami e pelo Memphis nos playoffs. Conseguirá replicá-las?

(Um parêntese: a contraposição dos talentos gera duelos individuais extremamente interessantes. São todas variáveis que corre-se o risco de ficar muito confuso. Tanto aqui no texto como nas pranchetinhas mágicas. Kyrie Irving x Derrick Rose: quem vai pontuar mais e permitir mais/menos pontos também? Iman Shumpert x Jimmy Butler: foi o ala com o qual LeBron comparou Shump no momento da troca, mas o emergente astro do Bulls é muito mais completo – e forte. Mozgov x Gasol: o russo vai tentar brecar o espanhol, mas tomando o máximo de cuidado com faltas. Thompson x Gibson: o canadense saltitante, cheio de energia contra um combalido e valente ala-pivô. Miller/Jones x Dunleavy Jr.: a corrida dos veteranos. Por aí vamos.)

O que pega é que Chicago também tem seus problemas. Joakim Noah está se arrastando pela quadra, e não é que Taj Gibson esteja correndo muito mais. Nikola Mirotic também se contundiu contra o Milwaukee Bucks, para não falar de todo o drama em torno de qualquer queda de Derrick Rose. A despeito da lavada que sofreu no Jogo 6, o Milwaukee Bucks deu muito trabalho.

Como Zach Lowe destaca em sua análise sempre minuciosa, Jason Kidd não teve problema Noah com jogadores menores, uma vez que o pivô não representava nenhuma ameaça. Marion, mesmo dois ou três passos mais lento que os tempos de Matrix, não teria problema com ele e ainda poderia atrapalhar Butler. Será que Jones e Miller também dariam conta? Talvez não seja necessário usar Thompson e Mozgov, uma dupla atleticamente opressora, ma que pode atrapalhar o ataque, em termos de espaçamento. A não ser que Mozgov acerte seus chutes de dois de longe com muita eficiência. Ainda assim, a quadra estará mais apertada para as infiltrações de LeBron e Irving. “Vamos ter de manter nosso ataque espaçado porque é dessa forma que jogamos”, diz Blatt. “Claro que sem os dois na escalação, algumas mudanças precisarão ser feitas. Mas tivemos muito sucesso neste campeonato e não queremos nos afastar tanto das coisas que deram certo.”

Se Miller e Jones ao menos estiverem acertando seus arremessos, a solução mais prática e recomendável talvez seja colocar LeBron como o ala-pivô efetivo do time, algo que ele fez com maestria em Miami, e apostar no small ball. Usar a flexibilidade que uma aberração atlética como o camisa 23 proporciona. O problema é que, dentre as muitas razões para seu retorno a Cleveland, ter Kevin Love ao seu lado no quinteto inicial era muito atraente justamente para afastá-lo da cesta. “LeBron odeia defender no garrafão, ter de batalhar ali. Para ele, é OK jogar ali no ataque de vez em quando, mas odeia marcar na posição 4”, diz Windhorst.

Por essas e outras que a mera cogitação de LeBron para o prêmio de MVP não parece nem um pouco justa com os outros candidatos. Afinal, estamos falando de um jogador que deliberadamente se esquivou de algumas responsabilidades. O mesmo cara que tirou duas semanas de folga durante a temporada para aliviar o estresse sobre a mente e o corpo. Que falou abertamente sobre como, em algumas partidas, estava no modo “relaxa e goza”.

Contra Chicago, ele sabe que não vai poder se comportar assim – vai precisar se desdobrar, alternando entre Gibson, Noah, Mirotic e, provavelmente, Butler, no caso de o ala estiver massacrando Shumpert ou Smith (quando este retornar). Haja fôlego e resistência.

Mesmo que o Bulls também esteja avariado fisicamente, é um time muito mais forte e calejado que o Boston Celtics. Com um número maior de opções que as da final de conferência de 2011 que o Miami derrubou, mas com um mesmo núcleo sedento por seu primeiro título. Thibs, Noah, Gibson e, principalmente, Rose vão brigar enquanto puderem.

Aí que LeBron vai ter de se expor de acordo com o que sua equipe precisar e o adversário pedir. Se houve um motivo para ele curtir a primeira metade do campeonato, era para poder se desdobrar nos playoffs, algo que a primeira rodada. “Obviamente, Kevin traz muito para o nosso time. É uma grande perda para nós. Ninguém vai conseguir assumir sua função – ele é especial por um motivo. Mas alguns dos nossos caras vão ter de se levantar e fazer mais. Precisamos disso, ainda mais com o JR fora”, afirmou James. Que, dessa vez, não vai ser testado apenas como craque, mas também como dirigente. E amigo.


Do MVP à maior decepção. Uma lista de prêmios da NBA 2014-15
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Giancarlo Giampietro

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O começo dos playoffs também coincide com as diversas coletivas de imprensa que a NBA vai marcar para anunciar os vencedores dos prêmios individuais da temporada. Ao divulgar a sede – Oakland, Atlanta, Houston etc. –, a liga já indicará o escolhido. Como leva um tempo para organizar cada anúncio, há anos em que a cerimônia pode até ser meio indigesta, creiam. Corre-se o risco de entregar o troféu para um jogador que acabou de ser despachado nos mata-matas, como aconteceu em 2007 com Dirk Nowitzki. Seu Dallas Mavericks havia voado na temporada regular, aparentemente se recuperando bem da derrota para o Miami Heat nas finais da temporada anterior. Mas aí eles deram de frente com o Golden State Warriors de Don Nelson, seu ex-mentor, e acabaram entrando na história como mais um cabeça-de-chave número um a ser  eliminado pelo oitavo colocado. Se formos pensar no equilíbrio da atual Conferência Oeste, corre-se um sério risco.

Mas não há o que fazer: os mata-matas começam quase que imediatamente após o final da temporada regular. Técnicos e scouts se apressam em preparar o estudo sobre seu adversário, para dirimir tudo e passar aos atletas. E a raça que atende pela alcunha de jornalistas também está apressada, tentando colocar no papel uma série de artigos que se replicam, mas parecem inevitáveis. Como o tradicional para revelar suas escolhas para a votação (aqui, no caso, imaginária) dos melhores da temporada.

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(Um parêntese, apenas: neste ano vamos ter um interessante contraponto entre as escolhas dos jornalistas e a dos jogadores. A associação dos atletas decidiu promover uma votação própria. “Os torcedores e os técnicos escolhem os all-stars. A mídia vota nos prêmios da liga. Nossos membros querem reconhecer as performances sensacionais de seus companheiros também. Os jogadores não têm votado para os prêmios desde 1980”, afirmou a advogada e diretora-executiva da entidade, Michele Roberts, em comunicado oficial divulgado na quinta-feira. Serão 10 categorias nessa seleção paralela, definidas pelos jogadores durante o intervalo do All-Star. “A nomenclatura exata para cada prêmio e o programa ainda estão sendo definidos”, diz. O estranho é que os votos foram dados antes do final da temporada. Como os atletas votaram para algo cujo nome ainda nem foi definido? Houve caras que se recusaram a participar do processo. Como John Wall, que levantou um ponto necessário: “Como jogadores, sabemos quem é quem, mas pode ser que nosso orgulho e nosso ego interfira. Pode ser que você não queira ver determinada pessoa ganhar um prêmio. Vai haver gente dizendo que é o MVP, ou o melhor jogador, então nunca vai ter uma disputa justa, na minha opinião.”)

Posto isso, vamos nessa, mas sem poder se estender muito sobre cada eleito. Cada um merecia um post próprio, mas há ainda muito o que ser digitado. Xô, tendinite..

MVP: James Harden
A disputa com Stephen Curry é muito torturante. Você tem muitos argumentos a favor dos dois, expostos aqui já, além de outros candidatos. Mas parece claro que, a essa altura, o troféu vai para Harden ou Curry. Steph é o melhor jogador no melhor time da liga. Faz coisas incríveis com a bola, seja arremessando, a ponto de comemorar uma cesta quando ela não cai, ou driblando, para descadeirar um CP3. Supera Harden em termos de índice de eficiência. Se quiser brincar com mais números, tudo bem. Em geral vai dar o líder do Warriors (e aqui que a gente precisa tomar cuidado com as estatísticas avançadas: de modo geral, os dados de Curry serão fora de série. E ele é brilhante, não temos dúvida. Mas, em termos de avaliação numérica, é muito difícil separar o que cada jogador faz do conjunto da obra de sua equipe. E o Golden State detonou a concorrência). Ainda assim, vou com Sr. Barba, pela carga pesada que carregou durante o campeonato para manter o Houston Rockets bem posicionado na Conferência Oeste – sem o seu astro, seria difícil até imaginar uma classificação aos playoffs. Foi aquele que ficou mais minutos em quadra e que mais cobrou lances livres. E melhorou consideravelmente sua defesa, marcando até mesmo gente como Z-Bo e Blake Griffin. Mais de uma bíblia já foi escrita a respeito da disputa dos dois, e geralmente os artigos todos têm terminado da seguinte maneira: “Veja bem, ambos merecem o prêmio, e a distância entre eles é mínima”. Não me parece que exista realmente uma “escolha errada” aqui. Mas deve dar Curry. Gostaria de ver Anthony Davis logo abaixo dos dois, e talvez a briga do Pelicans até o fim pelo oitavo lugar do Oeste o ajude. Os outros dois votos ficariam entre Wesbrook, LeBron e Chris Paul.

Melhor defensor: Draymond Green
Andrew Bogut é quem protege a cesta e vai ter um papel essencial nos playoffs para que seu time controle as batalhas mais importantes: aquelas da zona pintada. Qualquer torção de tornozelo ou lesão de ombro dele pode causar danos sérios ao favoritismo do Warriors, é verdade. Mas quem dá o recado, quem dita a intensidade da equipe na hora de parar o adversário. Ele é daqueles que fala horrores – mas que justifica tudo em quadra. Além disso, devido ao seu pacote de força física, inteligência, determinação e estatura mediana para a posição (2,01 m) permite a Steve Kerr confiar num sistema de trocas na defesa. É curioso isso: o fato de ser considerado baixo ao deixar a Universidade de Michigan State fez com que caísse para a segunda rodada do Draft. Hoje, é algo que joga a seu favor de modo único – com sua envergadura e senso de posicionamento, consegue marcar grandalhões. Ao mesmo tempo, é flexível o bastante para brecar as infiltrações de alas e armadores. Sua consistência durante todo o ano acaba valendo mais que os esforços impressionantes de Kawhi Leonard na reta final da temporada. Tivesse o jovem astro do Spurs disputado toda a temporada neste ritmo, acho que não haveria dúvida em apontá-lo aqui. Rudy Gobert seria outra escolha tranquila.

>> Os prêmios do 21 no meio da temporada: Oeste
>> Os prêmios do 21 no meio da temporada: Leste

Melhor 6º homem: Lou Williams
Nos momentos de crise, com DeMar DeRozan ou Kyle Lowry afastados, foi Williams quem carregou o Toronto Raptors. Sua habilidade para gerar oportunidades de pontuar por conta própria é vital num ataque que contradiz o ‘modelo Spur’: ao mesmo tempo que o clube canadense teve o terceiro sistema ofensivo mais eficiente do campeonato, ele foi apenas o antepenúltimo em cestas assistidas. Seus percentuais de arremesso são baixos, mas mudam de figura quando você vê o tipo de chute que lhe cabe em quadra, batendo adversários no mano a mano com velocidade e agilidade. Geralmente marcado no perímetro, tentando desafogar a vida de Dwane Casey. Basta conferir seu gráfico de tentativas de cesta e perceber que ele é ma ameaça constante, por toda o perímetro, interno e externo. É um perfil parecido com o de Isaiah Thomas, no fim. Agora, se o baixinho ajudou a devolver o Celtics aos playoffs, o simples fato de ele ter finalizado sua campanha em Boston já serve como um ponto contrário a sua candidatura – houve uma razão para o Phoenix Suns o liberar no mesmo dia em que havia trocado Goran Dragic, e ao que tudo indica ele dá trabalho no dia a dia. Dennis Schröder, Rodney Stuckey e o eterno Jamal Crawford também merecem consideração.

Jogador que mais evoluiu: Hassan Whiteside
Na temporada passada, ele estava no Líbano e na segunda divisão chinesa. Hoje, está posicionado entre os dez jogadores mais eficientes da liga. Em termos de custo-benefício, foi a melhor contratação da temporada. Acho que não precisa ir muito além disso – embora o próprio fato de ele nem ter jogado a temporada passada levante uma questão técnica sobre o prêmio: é possível comparar o desempenho atual com o de um passado um tanto distante? Caso o Utah Jazz tivesse se livrado de Enes Kanter mais cedo, Rudy Gobert poderia desbancá-lo aqui. Seu crescimento também foi impressionante, com o jogo desacelerando  para permitir que ele usasse seus atributos físicos de modo intimidador. Com o francês titular, sua equipe teve a defesa mais eficiente depois do All-Star Game, e foi de longe. Outros caras que vão ganhar votos justos estão no topo e participaram da festa em Nova York: Jimmy Butler e Klay Thompson, que trabalharam sério na virada de um campeonato para o outro e se tornaram cestinhas de elite.

Melhor novato: Andrew Wiggins
Nikola Mirotic arrebentou nos últimos meses da temporada, especialmente quando Rose e Gibson estavam fora de ação. Tem os números avançados mais qualificados. Teve um papel importante em uma equipe que disputou jogos relevantes o campeonato todo, com ambição de título. Mas há dois pontos contra o montenegrino naturalizado sérvio, a meu ver: 1) não podemos nos esquecer que foi apenas a partir de março que ele ganhou minutos significativos, devido aos desfalques na rotação de Thibs – em fevereiro, por exemplo, jogou apenas 14,3; 2) não me sinto confortável em tratar o talentoso ala-pivô como “novato” – não quando ele já ganhou o prêmio de MVP do campeonato espanhol e vários troféus pelo Real Madrid. Tecnicamente ele é um calouro, sim. Na realidade, já é um “jovem veterano”. Então vamos de Andrew Wiggins, que teve o ano mais consistente entre todos os estreantes. Aliás, deu para perceber um padrão aqui, né? A preocupação de não se deixar levar apenas pelo que aconteceu nas semanas finais de campanha. Pode não ter tido o ano mais eficiente, mas conseguiu produzir em um nível elevado para um garoto só completou 20 anos em fevereiro e que mal teve a assistência de Ricky Rubio, ou de qualquer outro veterano para facilitar sua transição. É difícil ter uma exuberância estatística quando seu time tem um elenco inexperiente e estropiado. De qualquer forma, mostrou uma evolução regular mês a mês e dá toda a pinta de que vai se tornar a estrela cantada por olheiros há dois, três anos. Por isso, nas minhas contas, fica acima de Nerlens Noel, Jordan Clarkson e Elfrid Payton, calouros que jogaram muito, mas apenas depois do All-Star.

Melhor técnico: Steve Kerr
Tá, aqui vamos apelar sensivelmente aos números. O Golden State se despediu da temporada regular com o segundo melhor ataque;  a melhor defesa, embora jogue com o ritmo mais acelerado da liga; o melhor saldo de pontos, disparado, e essa é uma estatística notoriamente influente no resultado dos playoffs; melhor em percentual de arremessos, sem importar qual a medição usada; o segundo melhor rendimento em jogos apertados – nas raras ocasiões em que não conseguia atropelar os adversários; o segundo em cestas assistidas… Você precisa vasculhar bastante toda a magnífica seção de estatísticas do NBA.com para encontrar um ou outro ranking em que eles apareçam mal posicionados. Então tudo bem: em aproveitamento de rebotes, ocupam apenas o 12º lugar, sendo que, naqueles mais importantes, os defensivos, estão em 19º. Está certo que Kerr já assumiu uma base sólida, um grupo que havia disputado as últimas duas edições dos playoffs e que cresceu muito na defesa sob a orientação de Mark Jackson. Mas o fato é que o clube deu um salto de 16 vitórias na classificação geral, e desconfio que isso não se deve à chegada de Shaun Livingston, Leandrinho, Justin Holiday e James Michael McAdoo. Não obstante, o final de temporada um tanto morno do Atlanta Hawks acaba facilitando a escolha entre ele e Mike Budenholzer. O que não quer dizer que o treinador dos campeões do Leste não mereça um robusto pergaminho de elogios, ao por também ter elevado seu mesmo grupo a outro patamar. Terry Stotts, sempre subestimado em Portland, Kevin McHale, que revolucionou a defesa do Rockets mesmo com Dwight Howard no estaleiro, Brad Stevens, um mago ao ter endireitado um Boston Celtics em cosntante mutação,  e Jason Kidd, com uma rotação única por sua extensão e uma retaguarda sufocante com o jovem Bucks, são outros nomes que merecem atenção.

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David Griffin terminou a temporada sorrindo

Melhor executivo: David Griffin
Os mais chegados a LeBron James garantem que, se fosse para deixar Miami, apenas um retorno para Cleveland seria possível. Não se sabe até hoje o quanto a franquia de Ohio estava informada a respeito disso. E não importa. Quando a possibilidade de acertar a contratação de James se apresentou, o dirigente já havia tomado todos os passos necessários para acolhê-lo, num trabalho nada fácil: saber usar as escolhas de Draft acumuladas durante meses e meses para abrir espaço no teto salarial, tomando cuidado para não sabotar completamente o futuro da franquia se algo desse errado. Está certo que o segundo movimento – a troca por Kevin Love, cedendo uma promessa como Andrew Wiggins – não teve a repercussão (esportiva) esperada, mas não dá para ignorar o fato de que LBJ praticamente exigiu que a transação fosse feita. De qualquer forma, em meio a uma alarmante crise com menos de 50% da temporada disputada, Griffin foi nobre e valente o bastante para chamar uma coletiva e dar um basta aos rumores sobre uma possível demissão de David Blatt. Depois, voltou ao mercado para buscar reforços que salvassem seu treinador e, ao mesmo tempo, satisfizesse os anseios do astro. Agindo sempre sob uma pressão imensurável, tendo um dos proprietários de clube mais impacientes e ativos na sala ao lado. Bravo. O combo Bob Myers-Jerry West-Travis Schlenk-Kirk Lacob também merece aplausos por um entrosamento único na gestão do Warriors, assim como John Paxson e Gar Forman, que estão desgastadíssimos com Tom Thibodeau, mas deram ao técnico um elenco capaz de relevar as constantes lesões de Derrick Rose.

Por fim, alguns itens alternativos:

Melhor jogador sub-23: Anthony Davis, com 22 anos completos em março.  Steph Curry tem 27. Durant e Wess, 26. Harden, 25. Tim Duncan? 38. LeBron? 30. Assimilem isso.

Melhor segundanista: Rudy Gobert. Desculpe, Giannis. : (

Melhor estrangeiro: Pau Gasol, redivivo em Chicago e líder em double-doubles na temporada. Fica acima de seu irmão, que teve dois meses fantásticos na abertura do campeonato, mas depois caiu um tico.

Melhor brasileiro: Leandrinho? A despeito de seu entra-e-sai na rotação do Warriors. Mas convenhamos que não foi uma temporada das mais produtivas para os selecionáveis, com diversas lesões atrapalhando a trinca Splitter-Nenê-Varejão, da mesma forma que Vitor Faverani acabou dispensado por Boston sem poder mostrar serviço. Em Toronto, os caçulas mal jogaram.

Melhor importação da D-League: Whiteside, surrupiado pelo Miami Heat da toca do Memphis Grizzlies, o Iowa Energy. Aliás, Pat Riley foi o executivo que melhor usou a liga de desenvolvimento este ano. Basta ver como Tyler Johnson chegou ‘pronto’ quando foi promovido. Menção honrosa aqui para Robert Covington, um ala de muito potencial por sua habilidade atlética na defesa e o chute de fora no ataque. Veja aqui todos os jogadores que conseguiram elevar consideravelmente sua renda mensal ao serem chamados pela liga maior.

De Tyler Johnson para Whiteside. Dois D-Leaguers

De Tyler Johnson para Whiteside. Dois D-Leaguers

Melhor resultado de troca: se for pensar no curtíssimo prazo, a chegada de Timofey Mozgov ao Cleveland, por propósitos defensivos e também para animar LeBron, que, segundo consta, quase chorou de alegria ao ver o quão gigante o russo é de perto. Vale mencionar também a contratação de Isaiah Thomas pelo Boston. Sim, teve mais impacto que nomes como Rondo, Jeff Green e Goran Dragic. Ou mesmo Quincy Pondexter, que ajudou o Pelicans a estabilizar sua defesa e ainda recuperou seu arremesso de três pontos. Pensando longe, tudo vai depender de renovações de contrato. Dragic vai ficar em Miami, presumimos. Será que Rondo vai se encontrar em Dallas durante os playoffs? Como o Phoenix vai aproveitar tantas escolhas futuras de Draft? Será que Philly vai descolar o pick do Lakers já neste ano? Enfim, tudo em aberto.

Time mais azarado: Oklahoma City e Indiana Pacers têm uma alta conta hospitalar para competir aqui.

Maior decepção: New York Knicks. Phil Jackson prometeu os playoffs em setembro e terminou o ano falando que enfim tinha um plano para reerguer a franquia. O Los Angeles Lakers não fica muito atrás.

O jogador mais desmiolado: Nick Young, com seus devaneios de grandeza. Você quer acreditar que tudo não passa de uma grande piada, mas, quando percebe o conjunto da obra, começa a duvidar disso. Byron Scott não quer reencontrá-lo de modo algum na próxima temporada.

O dirigente mais intempestivo: Vivek Ranadive, dono do Kings, que demitiu Michael Malone depois o melhor início de campanha da equipe em muito tempo, efetivo Tyrone Corbin (um desastre), depois pressionou Chris Mullin a assumir o cargo durante a temporada para depois frustrar seu “consultor” ao contratar George Karl. Se não fosse o bastante, ainda trouxe Vlade Divac de volta para ser o novo chefão das operações de basquete. Com tudo isso, conseguiu sabotar DeMarcus Cousins de uma forma inacreditável, justamente no primeiro ano que o pivô se comportou do início ao fim. Aliás, Boogie também precisa ser incluído na lista de jogadores que mais evoluíram – e talvez seja hoje o jogador mais subestimado, por isso. Loucura geral.

A notícia que pode ter maior impacto a longo prazo: a NBA, depois de sua última reunião com os proprietários das franquias, indicando que o teto salarial pode passar dos US$ 100 milhões em 2017-18.


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