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Arquivo : Avery Bradley

Celtics está fora. Mas tem cenário otimista para voltar a lutar pelo Leste
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Giancarlo Giampietro

Brad Stevens ainda não sabe qual equipe terá em mãos em 2017. Mas é uma boa incerteza

Brad Stevens ainda não sabe qual equipe terá em mãos em 2017. Mas é uma boa incerteza

De todos os times que poderiam se despedir dos playoffs do Leste logo pela primeira rodada, o Boston Celtics é o que teria uma saída mais confortável. Ninguém gosta de perder. Isaiah Thomas estava com os olhos marejados no vestiário da equipe após a dura derrota sofrida contra o Atlanta Hawks nesta quinta-feira, para definir o segundo classificado às semifinais da conferência, para enfrentar o Cavs. Brad Stevens certamente esperava estender a bela série que fizeram contra o Hawks para um Jogo 7 em Atlanta. Com cara de bom moço, sempre calmo na lateral da quadra, o técnico é na verdade mais uma dessas figuras supercompetitivas, que não lida muito bem com as derrotas. Ainda assim, ele se sentiu obrigado a dizer como essa eliminação estava bem longe de significar o fim do mundo.

“É difícil pensar nisso agora por causa da emoção do momento e por termos perdido do modo como perdemos estes últimos dois jogos, mas acho que, olhando a longo prazo, tendo isso em mente, me sinto bem sobre nosso progresso. E também temos ótimas oportunidades para seguir adiante com nossa flexibilidade”, afirmou.

Esse termo já apareceu em diversos artigos aqui no blog: fle-xi-bi-li-da-de. É a palavrinha-chave para a gestão moderna da NBA, enquanto as atuais regras trabalhistas vigentes, de contratos mais curtos firmados nos últimos anos e que se tornarão bem baratos quando confrontados com os acordos que estão prestes a serem assinados em julho, quando o teto salarial será elevado consideravelmente.

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É difícil vasculhar a liga e encontrar uma situação mais promissora que a do Celtics, num trabalho impecável de Danny Ainge. O chefão do departamento de basquete do clube conseguiu conduzir um trabalho de reformulação após a era Pierce-Garnett sem chafurdar como um Philadelphia 76ers. Foi um ano de mergulho, no primeiro ano de Brad Stevens, carregando um Gerald Wallace. Nas últimas duas temporadas, já voltaram aos playoffs. Com o brinde: o direito de projetar uma escolha alta no próximo Draft justamente por causa da troca de PP e KG ao Brooklyn Nets, sem proteção alguma.

Okafor já foi especulado como alvo de Ainge. É mais promissor que Smart? Mesmo vencendo, Celtics se reconstruiu com muito mais rapidez que o Sixers

Okafor já foi especulado como alvo. Mais promissor que Smart? Mesmo vencendo, Celtics se remontou com muito mais rapidez

Hoje, voltando a cabeça exclusivamente para o recrutamento de novatos, com o time nova-iorquino tendo terminado com a terceira pior campanha, o Celtics tem 15,6% de chances de ganhar a primeira posição. Na pior das hipóteses, fica em sexto. O Philadelphia 76ersm que escapou novamente por pouco de registrar a pior campanha da história, tem 25%. Quase 10% a mais, algo significativo, mas qual caminho você preferiria: vencer dez jogos e ter 25% de chances para a escolha número um, ou ganhar 48 jogos e ter 15,6%? Para ser justo, quando Sam Hinkie assumiu o Sixers, ele não tinha veteranos do gabarito de Garnett e Pierce para seduzir e surrupiar um time desesperado por luzes, com o Brooklyn Nets. Tá certo. Mas que o Celtics tenha conseguido aproveitá-los desta forma e já veja o Boston beirando a marca de 50 vitórias, diz muito sobre a visão de Ainge. Não é sorte isso.

Hoje, o cartola olha para o seu elenco, anota o que tem de salários garantidos para a próxima temporada e todos os trunfos em termos de Draft que tem em mãos e sabe que tem diversas trilhas para seguir daqui para a frente. É incrível até:

1) se o teto salarial for de US$ 90 milhões, o Boston vai ter um mínimo de US$ 23,7 milhões para investir em agentes livres. Se decidir renunciar aos direitos de Amir Johnson, Jonas Jerebeko e Tyler Zeller, pode chegar a US$ 49,4 milhões, permitindo a contratação, por exemplo, de dois salários máximos para atletas de até seis anos de experiência, sobrando um troco, ou um contrato máximo para alguém de sete a nove anos (Kevin Durant, por exemplo) e mais US$ 24 milhões para propor a um alvo ou diversos alvos.

(Quer saber a situação de seu time? Vale checar o estudo de Eric Pincus, do Basketball Insiders, referência no assunto.)

Thomas, Jae Crowder, Marcus Smart, Avery Bradley, Kelly Olynyk, Terry Rozier, ames Young, RJ Hunter e Jordan Mickey são os atletas com salário garantido. O detalhe: Thomas, Crowder e Bradley vão ganhar, juntos, pouco mais de US$ 20 milhões. Na economia da NBA, isso é mixaria, especialmente para três veteranos tão produtivos. Para comparar, David Lee, sozinho, embolsou US$ 15 milhões do time.

Amir Johnson e Jonas Jerebko, contratados no ano passado, têm cláusulas que Ainge pode ativar, ou, não valendo US$ 12 milhões e US$ 5 milhões, respectivamente. Zeller e Sullinger dão agentes livres restritos. Evan Turner estará disponível, tendo se valorizado nesta campanha, e não estranhe se receber oferta de Phil Jackson.

Thomas vai receber ajuda de alto nível, cedo ou tarde

Thomas vai receber ajuda de alto nível, cedo ou tarde

2) em termos de Draft, chega a ser ridículo: só neste ano, o Celtics tem três escolhas de primeira rodada e cinco (!?) de segunda. São oito no total. Uma das escolhas de segunda, na real, vale como uma de primeira, por ser a 31a.

A mais valiosa é a do Nets. Além disso, o time tem a do Dallas (número 16! Numa cortesia de Rajon Rondo) e sua própria (número 23). Obviamente, não há espaço para oito novos calouros na equipe. No mínimo, Ainge vai escolher diversos atletas que não façam questão de jogar na liga de imediato, os chamados stash picks. Gringos ou universitários que topem jogar na D-League, na Europa, na Austrália (como o ala-armador Marcus Thornton neste ano) ou em qualquer lugar. O mais provável, porém, é que ele faça pacotes. Que acumule escolhas e tente subir no Draft a partir de uma posição mais avantajada. Por exemplo: três escolhas de segunda e a 16a. pela 10a. Coisa do tipo. Ou trocar por escolhas futuras também.

A cesta, de todo modo, não vai ficar vazia após 23 de junho, data do recrutamento. Em 2017, o clube tem o dirigente de trocar sua escolha com a do Brooklyn e possui mais três escolhas extra de segunda rodada. Em 2018, nova escolha do Brooklyn. Em 2019, tem uma escolha de primeira do Memphis (valeu, Jeff Green). É muita munição: todas essas seleções podem ser envolvidas em negociações.

Com tudo isso na mesa — imagine um jogador de poker que até some atrás de seu monte de fichas –, Ainge certamente vai ser agressivo, mas podendo agir com paciência. Como tem feito. Dependendo do que acontecer com Cleveland nestes mata-matas, voltará à carga por Kevin Love. Outros nomes aos quais o clube já foi vinculado: Boogie Cousins e Jimmy Butler. E será que Blake Griffin vai estar disponível? Carmelo Anthony toparia? Por aí vai.

Danny Ainge: conjugando agressividade e paciência ao mesmo tempo

Danny Ainge: conjugando agressividade e paciência ao mesmo tempo

A opinião geral da NBA é de que, para o Celtics conseguir uma superestrela, uma troca seria a via mais provável. Historicamente, seja pelo clima frio ou, infelizmente, por questões raciais da cidade (válidas ou não), a franquia não tem muito sucesso na contratação de agentes livres. Dominique Wilkins topou uma oferta em 1994, mas já aos 35  e ficou apenas uma temporada por lá. No ano passado, Amir Johnson foi o grande prêmio. O prestígio crescente de Stevens e a competitividade da equipe seriam fatores para ajudar nessa empreitada.

Mas aí voltamos à flexibilidade. Ainge pode tentar de tudo em trocas, com jogadores valiosos e baratos e múltiplas possibilidades de Draft, com um escritório de excelente aproveitamento no assunto. Ao mesmo tempo, tem espaço salarial para insistir em reforços de mercado. Não precisa se precipitar.

O cenário ideal seria receber uma das duas primeiras escolhas deste ano, aguardando a loteria do dia 17 de maio. Isso valeria um dos pródigos mais elogiados pelos scouts: os alas Ben Simmons ou Brandon Ingram. Qualquer um dos dois seria sensacional para Stevens: Simmons poderia ser o armador do time, ou no mínimo aliviar a pressão em cima de Thomas. Dá para imaginar facilmente um quarteto com Thomas, Smart/Bradley, Crowder e Simmons correndo pela quadra. Já Ingram ofereceria aquilo que é uma carência: arremesso de fora e a capacidade para criar suas próprias situações de pontuação.

Ou isso, ou seriam moedas de troca muito atraentes. Entre os oito times do Leste classificados para os playoffs neste ano, o Celtics tem o segundo elenco mais jovem, ficando acima apenas do Pistons. Vale adicionar mais um garoto à rotação?  Ou é melhor buscar veteranos? O objetivo é voltar à briga pelo topo da conferência, algo que não acontece desde aquela grande série contra o Miami em 2012, quando chegaram a abrir 3-2. O último título do Leste, para lembrar, saiu só em 2010. Claro que seus fanáticos torcedores e Ainge estão cientes disso. Chega uma hora que esses trunfos futuros têm de ser traduzidos em realidade, em algo concreto. Parece que chegou a hora de capitalizar, mas nem sempre é tão fácil assim. No ano passado, por mais que tenha tentado, o clube não viu cenário algum que lhe favorecesse.

Simmons cairia como uma luva no sistema de Stevens, acelerando e passando

Simmons cairia como uma luva no sistema de Stevens, acelerando e passando

“Amo o que Boston tem feito na sua reconstrução: acumular ativos que podem um dia gerar um ‘home-run’, enquanto, simultaneamente, construíram uma equipe competitiva, disciplinada. Eles têm um dos baús de tesouro mãos ricos da liga para investir (qualquer combinação de escolhas de Draft e bons jogadores jovens com contratos amigáveis)”, disse Amin Elhassan, analista do ESPN.com e ex-dirigente do Phoenix Suns. “Mas é aí que reside a piada cruel da NBA: todos esses ativos não significam nada se você não pode comvertê-los em um negócio valha a pena. Então, basicamente o Celtics tem duas possíveis armadilhas para contornar: fechar uma troca por um jogador que não necessariamente vá fazer o programa avançar, ou não fechar nada, ficar estagnado e ver o valor desses ativos eventualmente cair. Recomendo uma atuação agressiva, que assuma riscos quando apropriado, mas o presidente Ainge tem de fazer seus ativos valer.”

Ainge é daqueles cartolas que sabendo manipular a mídia como bem entende, para plantar informações, mandar recados e tal. Só não abre o jogo ao falar sobre seus principais alvos e intenções. Ninguém sabe se ele prefere um dos calouros top ou uma jovem estrela. O fato se ter passado por julho e, agora, em fevereiro sem fechar grandes negócios indica que ele tem sido exigente em suas investidas. Nesse sentido, a evolução apresentada neste ano lhe dá mais segurança, amparo, esperando o negócio certo. Boa parte da liga adoraria estar nessa posição. Pensando longe, talvez até mesmo o Atlanta Hawks, que acabou de passar à semi do Leste.

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Prévia dos playoffs da Conferência Leste da NBA: Parte 1
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Giancarlo Giampietro

 1-MIAMI HEAT x 8-MILWAUKEE BUCKS

A história: os caras de Miami venceram 37 de suas últimas 39 partidas. Seus adversários? Venceram 38 em todo o campeonato. Precisa dizer mais?

O jogo: o Bucks… Bem, o Bucks tem dois armadores extremamente fominhas em Brandon Jennings e Monta Ellis, que podem ganhar um jogo por conta, mas perder muitos também da mesma maneira – com chutes descabidos restando 15 segundos de posse de bola, em flutuação, na cabeça do garrafão. Enquanto isso, Mike Dunleavy Jr. e JJ Redick, extremamente eficientes, correm o risco de ficarem apenas como espetacores. O duro é que, contra uma defesa tão ágil e atlética como a do Heat, talvez não haja escapatória além das investidas de seus dois pequenos. O que mais? Seu elenco é composto por 340 pivôs interessantes, mas que roubam uns dos outros o tempo de quadra, impedindo qualquer consistência. Um dos melhores defensores do campeonato, Larry Sanders vai ter de se virar no perímetro contra Chris Bosh. Luc Richard Mbah a Moute, caso estivesse bem fisicamente, poderia se meter no caminho de LeBron algumas vezes. Ersan Ilyasova se recuperou de um início de campanha calamitoso para justificar a bolada que recebeu na hora de renovar seu contratos, embora não cause tanto impacto assim no destino da equipe. Enfim, estamos procurando aqui mais e mais motivos que pudessem animar os anti-Heat, mas está complicado. Ao menos, Ellis e Jennings estrelaram o comercial mais legal da NBA em muito tempo, embora seja bizarro falar de união justamente sobre esses dois fominhas:

De dar nos nervos: Shane Battier é tão ingeligente, mas tão inteligente numa quadra de basquete, que pode dar raiva, sim. Estamos falando de um verdadeiro cdf. O ala conhecido como Sr. Presidente na China – isso vem dos tempos em que era companheiro de Yao no Rockets – ganhou ainda mais notoriedade no vestiário do Heat com seus discursos pré-jogo durante a sequência de vitórias histórica da equipe. Mas seus serviços mais importantes acontecem em quadra, cumprindo um posicionamento defensivo impecável, que compensa seu jogo, digamos, terreno. Battier é daqueles que sempre dá o passo à frente, para fora da área restrita ao redor da cesta. Daqueles que quase nunca salta diante da primeira tentativa de finta de seu adversário, mantendo os pés plantados, o braço erguido, forçando o oponente a tomar outra decisão. Forte, com estatura mediana, casou muito bem com LeBron na defesa, numa combinação vital para o aprofundamento do “basquete sem posição” planejado por Spoelstra. Não é à toa que, no ano em que se tornou agente livre, foi recrutado de imediato por LeBron e Dwyane Wade para juntar forças no Miami. Os astros sabiam o que era jogar contra ele.

Olho nele: depois do título, muitos davam a carreira de Mike Miller por encerrada. O ala mal conseguia celebrar direito na saída de quadra, totalmente travado nas costas. Os jogadores do Heat, mesmo, brincavam que ele estava precisando de uma cadeira de rodas ou, no mínimo, um andador para as férias. Aí que Pat Riley encontoru um meio de roubar Ray Allen de Boston, e o papel do ala parecida cada vez mais secundário. Em fevereiro, ele disputou apenas um jogo. Em março, só foi ganhar tempo de quadra significativo a partir do dia 24. Em abril, porém, quando Spo começou a descansar seus titulares, especialmente Wade e LeBron, Miller se apresentou surpreendentemente como um jogador que ainda pode ser relevante para o time: arremessando mais de seis bolas de três pontos em média durante nove partids, ele matou 51,8% delas. Suas médias foram de 12,1 pontos, 5,1 rebotes e, melhor, 3,7 assistências em apenas 27,2 minutos. Nos playoffs, com a tendência de jogos mais amarrados, apertados, ter um atirador de longa distância – e ótimo passador – disponível nunca é demais.

Palpite: Bucks 4-2.

(Brincadeira, é que por um minuto o Brandon Jennings hackeou minha máquina).

Miami 4-0, fora o baile.

 2-NEW YORK KNICKS x 7-BOSTON CELTICS

A história: Spike Lee espera muito mesmo por uma grande campanha dos Bockers nos playoffs. Mas muito mesmo. Dá para imaginar as capas dos tabloides nova-iorquinos todas pintadas de azul e laranja, e o Garden bombando. A expectativa é tanta que qualquer coisa abaixo de uma final de conferência seria considerada um fracasso. Agora, vá você tentar convencer os orgulhosos Paul Pierce, Kevin Garnett e Doc Rivers disso. Eu? Tou fora.

O jogo: resta saber apenas se KG terá condições de batalhar em quadra. O mesmo vale para Tyson Chandler do outro lado. Sem os pivôs, essa pode ser a primeira série na história pós-George Mikan a ter um jogador de 2,06 m de altura – Jeff Green, no caso, em registros oficiais… Vai saber se chega a isso – como o mais alto em quadra. O plano tático de Mike Woodson de small-ball ficou ainda mais aprofundado depois dos problemas físicos de Tyson Chandler (um baque) e Rasheed Wallace, Marcus Camby e Kurt Thomas (nenhuma novidade aqui). E toca tiro de três pontos: seu time foi o que mais arremessou de longa distância na temporada (2371, dois a mais que o Rockets, e 981 a mais que o Celtics!!!). A ideia é espaçar ao máximo a quadra para deixar Carmelo operar, o que quer dizer que Jeff Green terá um trabalhão danado. O ala enfim justificou a panca de superestrela, num grande campeonato. Por mais que Paul Pierce tenha os nova-iorquinos como suas vítimas preferidas, fica difícil de imaginar que ele possa, a essa altura, se equiparar ao potente cestinha do Knicks. Se JR Smith mantiver o ritmo das últimas semanas, o tempo fecha de vez.

De dar nos nervos: Raymond Felton, Pablo Prigioni, Jason Kidd… Respirem fundo, amigos, porque o Avery Bradley é uma peste que só na pressão quadra inteira, 3/4 ou meia quadra. Não importa onde e como o armador adversário drible a bola: contra Bradley, está correndo risco de ser desarmado. Sua movimentação lateral – ou “jogo de cintura” – é inigualável. Veja este clipe aqui:

Ou, se quiser, este:

 Como se diz mesmo? “Monstro”?

Olho nele: era para ser Leandrinho, mas a lesão no joelho tirou o brasileiro da temporada. Então vai de Jordan Crawford, glup. O ala ex-Wizards foi contratado de última hora para assumir as atribuições antes designadas ao brasileiro: carregar a bola vindo do banco e pontuar. Agora, nem sempre é bonito. Ou melhor, raramente é bonito de se ver. Porque Crawford realmente pode conduzir a bola, mas quem disse que ele é obrigado a passá-la? Um jogador muito talentoso, mas extremamente individualista. Observem e esqueçam, depois, por favor.

Palpite: Knicks em seis (4-2).

*PREVIA DO OESTE: Thunder x Rockets e Spurs x Lakers.
* PREVIA DO OESTE:
Nuggets x Warriors e Clippers x Grizzlies.


Reforços não vingam, e Boston Celtics tenta sair do limbo para chegar bem aos playoffs
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Giancarlo Giampietro

Rajon Rondo carrega o Boston Celtics

Rondo não recebeu a ajuda esperada das apostas de Danny Ainge

Por Rafael Uehara*

O retorno de Avery Bradley era visto como principal esperança para que o Boston Celtics pudesse engrenar e começar a se estabelecer como ameaça perigosa ao topo da conferência nos playoffs. Courtney Lee tem tido dificuldade em entender os fundamentos defensivos do time e Jason Terry não está sendo o substituto perfeito para Ray Allen que muitos esperavam. Em Bradley, o time tem o seu melhor defensor no perímetro e um par perfeito para Rajon Rondo no ataque, devido a sua capacidade de arrancar velozmente em contra-ataques, acertar tiros de três dos cantos e cortar para a cesta intuitivamente.

Bradley retornou, o time venceu seis jogos seguidos (entre eles contra Knicks e Pacers) e deu a entender que estava a caminho de se tornar uma força a ser levada a sério novamente. Mas o time de Doc Rivers falhou a arrancar mais uma vez. Perdeu domingo pela terceira vez seguida, chegando a um recorde de 20-20, praticamente no ponto médio da temporada. E essas derrotas vieram contra Hornets e Bulls em casa e Pistons fora. Chicago e Boston sempre fazem confrontos acirrados, e esse jogo foi para a prorrogação, mas sofrer nas mãos de New Orleans e Detroit se qualifica, sim, como tropeço.

As expectativas eram de que o time fosse um pouco menos limitado e dependente de Rondo no ataque este ano, com as adições de Terry, Courtney Lee, Jared Sullinger e Leandrinho Barbosa, além da retenção de Brandon Bass e Jeff Green. Mas isso não se materializou. O time tem um dos 10 piores aproveitamentos em pontos por posse. Paul Pierce tem postado os mesmos números da temporada passada, mas seu “jumper” vem perdendo efeito – ele tem acertado apenas 38% destes, de acordo com basketball-reference.com.

KG x Varejão

Garnett ainda combate Varejão e quem mais vier pela frente na defsa

Do mesmo modo que o time é dependente de Rondo no ataque, é dependente de Kevin Garnett na defesa. Mesmo em idade avançada, o pivô permanece um dos jogadores de maior impacto em toda a associação. Com ele em quadra, o time permite uma taxa de pontos por posse menor que a defesa do Los Angeles Clippers – a terceira melhor da liga. Mas, com ele no banco, o time só não permite mais pontos que Cavaliers, Kings e Bobcats – as três piores equipes em prevenção.

O fato é que todas as apostas que o gerente geral Danny Ainge fez na janela de verão, exceto talvez por Sullinger – que tem jogado melhor nos últimos 10 jogos – não têm rendido. Terry tem sido muito decepcionante, Green dificilmente impacta alguma partida, Bass não tem jogado tão bem quanto na temporada passada, quando lutava por uma extensão contratual, Lee também não vem bem e Leandrinho apenas ganhou minutos quando requisitou uma troca. A performance tão abaixo das expectativas de quase todos eles e seus contratos com vários anos sobrando ainda os fazem difícil de trocá-los para reformular o time ao redor de Rondo, Pierce e Garnett.

Já fica difícil de prever mudança em pessoal. Piora: a tabela também não ajudará muito os veteranos. Antes da parada para o jogo das estrelas, o time terá sua parcela de Cleveland, Sacramento, Orlando e Charlotte, mas também terá pela frente Miami, Nova York (os dois), Los Angeles (idem) e Chicago. E depois da parada, irá á Costa Oeste para cinco jogos na casa do adversário e, depois de voltar para tomar um café em casa, irá a Filadélfia (que talvez possa ter Andrew Bynum de volta até lá) e Indiana. Em outras palavras, o desafio para engrenar será ainda mais difícil.

Logo, o Celtics está num limbo. Não há muito que fazer a não ser confiar que mais tempo a Bradley proporcione mais estabilidade, que as apostas de Ainge comecem a render na segunda metade da temporada (ou pelo menos no próximo mês, para que se tornem moedas de troca decentes) e que Garnett siga proporcionando o mesmo valor quando Doc Rivers estender os seus minutos nessa reta final. Esses pontos todos precisam ser conjugados para que o time possa finalmente engrenar em direção aos playoffs.

*Editor do blog “The Basketball Post” e convidado do Vinte Um. Você pode encontrá-lo no Twitter aqui: @rafael_uehara.


Palavra-chave para Leandrinho na temporada 2012-2013: eficiência
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Giancarlo Giampietro

Leandrinho em Boston

Tirando logo do caminho: para jogar no Boston Celtics, Leandrinho terá de fazer sua melhor temporada defensiva na NBA. É um pré-requisito. Lapsos de posicionamento fora da bola, pouca movimentação lateral e falta de combatividade são coisas que não serão aceitas por Doc Rivers e seu estafe, e o ala-armador tem toda o talento atlético do mundo para cumprir um bom papel na retaguarda. Não precisa virar um Ron Harper, mas vai ter de quebrar o galho, pelo menos.

Agora, o que precisa fazer a diferença para o ligeirinho é seu ganha-pão: colocar a bola na cesta. Foi como um explosivo pontuador saindo do banco de reservas que ele conseguiu construir uma sólida e duradoura carreira na liga norte-americana. É para isso que foi contratado e é isso que vai ter de fazer muito bem, com eficiência. Algo que ele vem perdendo nos últimos três anos.

Atrapalhado por uma insistente lesão no pulso direito, sentindo dificuldade para se adaptar após as mudanças para Toronto e Indianápolis, Leandrinho viu seus números caírem em diversas categorias ofensivas desde sua campanha de despedida em Phoenix. Foi um dos motivos para entender sua demora para encontrar um novo emprego.

Mesmo que não tenha muitos minutos para se soltar, o ala-armador precisa se concentrar em sua seleção de arremessos, não confundir velocidade com afobação e buscar seus pontos preferidos em quadra sem perder de vista o que se passa ao seu redor e sem trombar com Jason Terry. Nos mais diversos estudos avançados de estatísticas (Basketball Reference e John Hollinger, por exemplo), dois pontos em comum nas métricas do brasileiro são sua propensão cada vez menor para as assistências e uma curva consistentemente ascendente em desperdícios de posse de bola.

É bom que ele dê um jeito de remediar essas tendências negativas, tendo agora o amparo de uma aclamada comissão técnica e companheiros que cobram e apoiam bastante também, no time mais casca grossa destes tempos. Pois seu tempo de quadra regular pode ter prazo de validade – outra possível palavra-chave para o título seria “janeiro”, aliás.

O primeiro mês de 2013 deve ter o retorno de Avery Bradley, o ala-armador que tornou a defesa do Celtics ainda mais sufocante na temporada passado. A partir do momento em que o jovem ganhou a vaga de Ray Allen no time titular, o time melhorou num todo em sua contenção, sofrendo muito menos pontos por minuto. Da mesma forma ele causou um impacto individual: frequentemente os atletas que ele marcou perderam em rendimento, valendo isso até mesmo para um Dwyane Wade.

Quando Bradley voltar de sua recuperação de uma cirurgia no ombro, deve ser para jogar. Não importam seus 21 anos, no caso. Na verdade, a pouca idade é mais um fator complicador para o brasileiro na disputa por minutos, já que seu concorrente faz parte dos planos do presente e do futuro da franquia, em dupla com Rondo.

Tudo isso não é uma questão de mera descrença em Leandrinho. Para chegar ao ponto em que está, o cara precisou batalhar muito. A luta agora só continua. Em termos de capacidade atlética, seu potencial ainda é incrível.  Acontece apenas que, em Boston, seu pacote técnico-tático será bastante exigido. E o que ele fizer nesta temporada terá, obviamente, impacto no prolongamento de sua carreira na NBA.


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